S.A.X. Magazine EDIÇÃO 29

Transcrição

S.A.X. Magazine EDIÇÃO 29
1
S.A.X. Magazine EDIÇÃO 29
viagem
|
gastronomia
|
BEBIDAS
|
bem-estar
Røros
Celeiro gastronômico na Escandinávia
TE X TO E F OTOS J o h n n y M a z z i l l i
No interior da Noruega, a pequena Røros, uma
antiga vila de mineração de cobre, preservou seu
aspecto original, tornou-se um charmoso destino
turístico e está no centro de uma região produtora
de excelentes insumos de gastronomia.
3
TIME OFF
viagem
Sorvetes na Galavold
Pudim de baunlha
com cloudberry
Erzscheidergården
Café da manhã no
Erzscheidergården
Bergstaden restaurant
A pacata rua principal
de Røros
4
C
om pouco mais de cinco mil
habitantes, a vila soube aproveitar
seu aspecto pitoresco de 300 anos
atrás, com seu casario de madeira com
portas decoradas, pintadas com cores vibrantes
e a marca registrada: os telhados gramados.
Além da exuberância da natureza ao redor,
com florestas, lagos e belos rios de corredeira,
a região tem um histórico de produção de
alimentos que atrai cada vez mais as atenções
do mundo. Em 1980, a Unesco alçou Røros a
condição de Patrimônio Mundial.
A exploração do minério de cobre se encerrou
em 1972, e deixou sinais peculiares na cidade
e no entorno, como a interessante Olavsgruva,
uma caverna originada da extração do minério,
com 500 metros de extensão e 50 metros de
profundidade. Turistas que a visitam empreendem
uma viagem ao passado, através de um vislumbre
da mineração de cobre desde os seus primórdios,
em 1650. Na parte alta da cidade, precisamente
ao lado da antiga fundição, hoje convertida em
um curioso museu da mineração, montanhas
de pequenos fragmentos de ferro fundido,
subproduto descartado da separação do cobre,
formam uma grupo de dunas negras e íngremes,
que no inverno se cobrem de branco e parecem
um grupo de montanhas nevadas que assomam
no flanco da cidade.
Já no longínquo ano de 1771, a realeza da
Noruega percebeu que a região era de alto
valor estratégico para a produção de alimentos,
e criou o que se conhece até hoje como The
Circumference – a Circunferência, um limite
circular em torno de Røros, e seu interior
foi declarado área de especial interesse real.
Hoje, a produção destes insumos torna-se
cada vez mais expressiva. Renas são criadas
Bergstaden restaurant
Algo de Magritte na paisagem
5
TIME OFF
viagem
A famosa Sleggveien,
rua tombada pela Unesco
Kjerkgata, ou “rua
da igreja”, a rua
principal de Røros
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livremente pelas montanhas, com as
quais são produzidos cortes, embutidos e
defumados. Na Galavold, uma bela fazenda
nos arredores, são produzidos queijos
estilo Gouda, e ovos e leite biológicos
transformam-se em deliciosos sorvetes
naturais, de sabor e textura incomuns. No
verão, turistas saem da cidade e pedalam
até a fazenda para se fartar de sorvete. Nos
rios da região, entremeados de corredeiras,
cresce o Pike, um peixe predador (Esox
lucius), cuja carne branca, firme e saborosa
é muito apreciada. Além das corredeiras, o
pike também é criado em lagos adjacentes
aos rios, e sua carne é exportada para
restaurantes da Europa, notadamente para
estabelecimentos em Londres, onde caiu
no gosto dos comensais. Pelas florestas,
alces e javalis procriam livremente, e a
caça é praticada dentro dos limites das
cotas estabelecidas pelo governo, e os
restaurantes da cidade estão sempre bem
abastecidos de seus cortes. Pelos campos,
faisões são abundantes e também abastecem
os restaurantes. Frequentemente, os próprios
chefs locais vão à caça, e durante os meses
do verão, aproveitam estas saídas para se
abastecerem de cogumelos porcini, que
crescem em profusão nos campos úmidos.
A alguns quilômetros da cidade, antílopes
são criados para a produção de embutidos
finos. Pelos campos, crescem em abundância
algumas variedades de berries, pequenas
frutas características das regiões de clima
temperado frio, com as quais são elaboradas
saborosas geléias de cores vibrantes.
No Noma, o celebrado restaurante
dinamarquês situado na capital Copenhagen,
eleito três vezes o melhor do mundo, a
manteiga utilizada na cozinha é produzida
em Røros, cuja pequena fábrica produz
também um saboroso queijo cottage.
No Erzscheidergården, nome difícil de um
pequeno e acolhedor hotel e restaurante
local, o café da manhã já foi premiado
como o melhor da Noruega – o que
definitivamente não se traduz em dezenas
de opções, e sim em oferecer um set
irresistível de delícias típicas, elaboradas
com produtos frescos locais.
Tamanho envolvimento com a
gastronomia só pode ser possível através
de muita dedicação continuada - em Røros,
7
TIME OFF
viagem
Bergstaden restaurant
fevereiro, com quatro dias de duração.
O mercado – Røros Martnan, com o
tempo tornou-se o principal evento
do calendário turístico da cidade, com
mais de 200 expositores e que atrai
anualmente mais de 20 mil visitantes. Os
expositores e produtores rurais vendem
suas artesanias, geléias, ovos, embutidos,
manteigas, peixes e carnes defumadas,
presuntos de rena e de ovinos, queijos e
cogumelos.
Espetáculos de dança e shows com
bandas de rock e blues se sucedem
noite adentro. Como o evento acontece
no fim do inverno, o frio faz os pubs
e restaurantes ficarem literalmente
abarrotados de gente, que atravessa a
noite bebendo, comendo e dançando. •
Prato de Mikael Forselius
Criação de cervos para
produção de embutidos
Chef Mikael Forselius
Erzscheidergården
Hotel & Restaurant
as crianças estudam gastronomia no ensino
fundamental, com ênfase na produção local.
O resultado é que as pessoas têm uma espécie
de orgulho cívico de seus destacados insumos
locais. Além disso, qualquer pessoa na cidade
sabe precisar de imediato onde se situam os
produtores dos mais variados insumos.
Além da gastronomia, que atrai cada vez mais
turistas, a cidade também tem expressiva
produção artística. No pitoresco e muito bem
preservado centro histórico, encontram-se
diversas lojas e oficinas de artesãos, dos quais
o maior expoente é, sem dúvida, o escultor
Per Sverre Dahl, com suas curiosas e bem
humoradas peças de argila. Em 1853, um
decreto real determinou que todos os anos
tenha lugar em Røros um mercado público
festivo de rua, sempre na segunda quinzena de
Sleggveien, a rua tombada
Fazenda de cervos para
produção de embutidos finos
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9
TIME OFF
viagem
Como chegar
Acima, pratos de Mikael Forselius. Abaixo, café da manhã no Erzscheidergården
Quem Leva
A SWISS tem voos diários de
São Paulo a Zurich, e de lá a
Oslo. Do aeroporto de Oslo
são três horas até Røros em
um confortável trem.
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www.swiss.com
Onde Ficar
Vertshuset Hotel
www.vertshusetroros.no
Onde Comer
Vertshuset
www.vertshusetroros.no
Erzscheidergarden
www.erzscheidergaarden.no
Bergstaden
www.bergstadenshotel.no
Quando ir
Fevereiro – No fim do longo
inverno escandinavo, tudo
está inteiramente nevado
e o frio é ameno. A cidade
torna-se mais bucólica e
acolhedora, com muita neve
e luzinhas acesas em toda
parte. São populares os
passeios de trenó e de esqui,
e é a época do festival Røros
Martnan.
Junho a agosto – Nos
meses de verão a paisagem
é verdíssima e exuberante.
Há atividades para todos os
gostos, como caminhadas,
pedaladas, descidas de
rios em caiaque, pesca de
pike e salmões, visitas a
produtores variados, caçada
de cogumelos, degustações e
festivais gastronômicos.
Informações sobre Røros
www.roros.no
Turismo na Noruega
www.visitnorway.com/us
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TIME OFF
viagem
Itália
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em
tempos
Cenários maravilhosos, a deliciosa
culinária italiana, vinhos incríveis e
muita história num percurso
inesquecível através de cinco
regiões da Itália
TE X TO E F OTOS J o h n n y M a z z i l l i
naquele passadiço de piso de tijolos, ouvindo o
barulho incessante do mar abaixo, de repente
me passou pela cabeça quantas conversas não se
desenrolaram ali ao longo dos séculos. A noite
se aproximava e o twilight acentuou a atmosfera
de acolhimento. Na cozinha do The Cesar, o
restaurante do hotel, premiado com uma estrela
Michelin, o chef Michelino Gioia preparava um
surpreendente menu degustação centrado em
pescados e frutos do mar, servido com diferentes
vinhos provenientes do próprio Lazio, uma região
de ótima viticultura mas pouco conhecida.
O dia amanheceu nublado, com vento forte e
incessantemente. Passei a maior parte da manhã
e o começo da tarde fotografando os arredores.
No meio da tarde, deixei o hotel rumo a Toscana,
duas horas ao norte dali.
L azio
A viagem começou no Lazio, região ao redor
de Roma, na pequena Ladispoli, a pouco
menos de 50 km da capital. Lá me instalei no
La Posta Vecchia, um casarão construído no
século 17 como residência de verão de uma
família de aristocratas. Fechado por décadas,
foi posteriormente restaurado e transformado
em hotel de luxo. Em seu subsolo, durante
uma obra, foram descobertas ânforas, vasos,
pisos em mosaicos ricamente elaborados e
outros artefatos com dois mil anos de idade.
Hoje, é um museu aberto aos hóspedes, onde
eventualmente são servidos jantares exclusivos
para pequenos grupos. Poucos lugares têm uma
atmosfera tão singular e acolhedora como o
La Posta Vecchia. Situado defronte ao mar, em
toda a extensão do prédio há um longo terraço.
A visão da construção em terracota, banhado
pela luz dourada do fim da tarde e diante de
um mar chapado e cinzento, com um castelo
fechado ao fundo, emprestava um ar de mistério
à cena. Quase não havia hóspedes nesse dia e
a tarde estava tranquila e luminosa. Sentado
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The Cesar
Artefatos de dois milênios
de existência
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TIME OFF
viagem
Toscana
Nos dias anteriores, fortes tempestades
causaram inundações que acarretaram sérios
problemas em algumas áreas.
Mas o dia nublado e de vento deu lugar
a uma tranquila tarde de sol quando eu
chegava ao meu destino, o L’Andana Hotel,
na charmosa Castiglione della Pescaia,
região toscana de Maremma, célebre pelas
excelentes vinícolas lá instaladas e seus
cobiçados Brunellos de Montalcino.
A colheita das uvas já estava encerrada,
e nos vinhedos as folhas ganhavam
rapidamente tons avermelhados, realçados
pela luz do sol que atravessava a folhagem.
Na manhã seguinte, visitei a belíssima
vinícola Petra, em Suvereto, a 40 minutos
de distância. Lá passei algumas horas
conversando com o diretor de produção,
que me guiou pela propriedade, explicando
as particularidades dos vinhedos, o caráter
dos solos e os métodos de produção.
Por fim, experimentei os ótimos vinhos lá
produzidos e tomei o caminho de volta, onde
assim que cheguei emendei outra degustação
na Tenuta La Badiola, situada junto ao hotel,
onde Alain Ducasse tem um restaurante
premiado com duas estrelas Michelin, mas
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Vinhedo de Sangiovese
L’Andana
Tenuta La Badiola
que infelizmente naquele dia encontravase fechado. Voltei ao hotel a tempo de
fotografar o cair da noite, com o céu azul e
as luzes se acendendo.
Cacho de Viogner a caminho da colheita
tardia, para a produção de Vin Santo
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TIME OFF
viagem
Brescia
Na manhã seguinte, deixei o L’Andana e segui
para Florença, ao norte, onde prossegui de trem
a Milão, mais ainda ao norte. Lá, continuei para
o terceiro destino, o L’Albereta Relais Chateaux,
um SPA médico situado em meio aos vinhedos
da vinícola Bellavista, o maior produtor de
Franciacorta da região.
A região da Brescia é célebre por seus excelentes
espumantes produzidos pelo método clássico,
denominados Franciacorta. A Bellavista
possui 190 hectares de vinhedos, divididos
em 109 parcelas de cultivo. Cada parcela é
vinificada separadamente, num processo árduo
e meticuloso. Depois de encerrada toda a
vinificação, Mattia Vezolla, o premiado enólogo
chef da vinícola, eleito esse ano pela segunda
vez o melhor enólogo da Itália, seleciona quais
parcelas comporão os blends de quais vinhos, e
tem início a alquimia que resultará nos deliciosos
espumantes da vinícola.
Se o hotel da Toscana tinha uma atmosfera
mais tranquila e intimista, o L’Albereta, por sua
vez, tem uma pegada mais jovem e dinâmica,
movimentado com muitos hóspedes em busca de
tratamentos médicos e emagrecimento.
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Franciacorta no remouage,
vinícola Contadi Castaldi
Escultura em ferro
na vinícola Bellavista
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TIME OFF
viagem
O luxuosíssimo Villa F
O imperdível Vini al Bottegon
Veneza
Após dois dias desfrutando da hospitalidade
do hotel, de sua excelente gastronomia e de
muito Franciacorta, peguei um trem rumo a
Veneza. Ao chegar à estação de trens de Santa
Lucia, um acqua taxi me levou direto ao Il
Pallazzo Bauer, onde me hospedei por dois dias.
Eu já havia estado em Veneza há dois anos,
mas assim como da primeira vez, caminhei
incansavelmente pelas vielas, pontes, becos
e canais. A cidade não estava tão cheia, como
de costume, o que tornou a caminhada mais
desimpedida e prazerosa.
Infelizmente, navios gigantescos de cruzeiro tem
visitado Veneza diariamente, levando hordas
com milhares de turistas que desembarcam e
causam tsunamis humanos, o que vem causando
protestos e discussões acaloradas.
A visão daqueles gigantes atravessando o Grand
Canal não parece uma coisa conexa com o lugar.
Independente dos grandes cruzeiros, o fluxo
de turistas do mundo inteiro em Veneza é algo
desconcertante e ininterrupto.
Desta vez, encontrei a cidade envolta numa
névoa seca e esbranquiçada, que esmaece
qualquer cor, então a maior parte do tempo eu
fotografei pensando em preto e branco.
Nos dois dias que fiquei em Veneza, eu almocei
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Petiscos matadores no
Vini al Bottegon
e jantei numa pequena trattoria chamada
Piccolo Martini, a curta distância da
Piazza San Marco, onde comia pizzas e
massas deliciosas a preços mais baixos
que em São Paulo.
Veneza pode ser muito cara, mas há ótimos
estabelecimentos bons e baratos, onde se
come muitíssimo bem. No segundo dia, um
passeio de barco através de áreas menos
visitadas da cidade possibilitou outro
vislumbre de Veneza, que eu não havia
tido anteriormente. Finalizei o passeio
diante de um pequeno alimentari e loja
de vinhos, o Vino al Bottegon, afastado
do burburinho principal, onde me deliciei
com porções generosas de bocados, picles,
queijos e taças de vinho.
De noite, encarei um jantar no hotel. Na
varanda do hotel, vendo o Grand Canal e
após muitos vinhos, permaneci absorto,
escutando uma música indistinta ao longe
e fragmentos de conversas que pareciam
chegar a mim em câmera lenta. •
Il Pallazzo Bauer
19
TIME OFF
viagem
do Alto Ádige, em pequenos vinhedos de cinco
hectares em média, a partir de uvas típicas de
clima frio, como a tinta nativa Lagrein, o Pinot
Grigio e a Gewürztraminer. Após o agradável
step da adega com um papo entusiasmado sobre
a viticultura local, um delicioso jantar seguido de
um descontraído bate papo na acolhedora sala
encerraram com chave de ouro um longo dia de
uma longa e surpreendente viagem.
Na manhã seguinte muito cedo deixei o lodge,
e uma jornada de carro, seguida de uma de
ônibus e outra de trem me levaram a Turim,
onde cheguei exausto, para no dia seguinte,
participar do Salone Internazionale Del Gusto,
do Movimento Slow Food. De lá segui para mais
uma semana no bucólico Piemonte – mas isso
são outras histórias.
A lto Á dige
(Dolomitas)
Dia seguinte, após descansar um pouco mais
e me recompor dos excessos do dia anterior,
fotografei um pouco e de tarde deixei Veneza
rumo a Cortina, uma pequena cidade no
maravilhoso Alto Ádige, Sudtirol, região mais
conhecida como Dolomitas, junto à fronteira
com a Áustria, no extremo norte da Itália. A
paisagem de colinas e vinhedos verdejantes
do Veneto deu lugar a um cenário escarpado e
imponente, pontuado por centenas de grandes
montanhas rochosas e glaciares. Uma região
onde os italianos falam primeiro alemão, e
depois, italiano. Onde ainda se fala o Ladino,
um idioma quase extinto. Lá, me abriguei no
San Lorenzo Lodge, uma propriedade com uma
história muito interessante e peculiar. De um
casario datado do século 16, abandonado e em
ruínas, foi completamente restaurado, mantendo
seus aspectos de época. Os proprietários, Stefano
e Georgia, são anfitriões magistrais. Stefano
cuida de receber e entreter os hóspedes e Geórgia
cozinha magnificamente bem. Stefano me levou
a conhecer sua adega, na parte de baixo da casa,
muito bem abastecida com rótulos célebres do
mundo todo. Mas ele se orgulha mesmo é de
sua coleção de vinhos locais, todos produzidos
lá mesmo por “fazendeiros”, como ele se refere,
20
Stefano fala entusiasticamente
sobre os vinhos do Alto Ádige
Dicas & By Yourself
San Lorenzo Lodge
Quem Leva
A Swiss tem voos diários de São Paulo à Zurich,
e de lá à Roma (e também à Milão e Florença)
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www.swiss.com
Onde Ficar
Ladispoli: La Posta Vecchia – www.lapostavecchia.com
Toscana: L’Andana – www.andana.it
Brescia: L’Albereta – www.albereta.it
Veneza: Il Pallazzo Bauer – www.ilpalazzovenezia.com
Alto Ádige (Dolomitas): San Lorenzo Lodge
www.sanlorenzomountainlodge.com
Tour de barco por Veneza
A guia veneziana Giordana Losi
conhece a cidade como poucos
+39 34 5397 9803
[email protected]
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TIME OFF
viagem
Masmorra do Castelo de Chillon
Auberge de l’Onde,
em St-Saphorin
Próxima parada:
Suíça
O
Lac Lèman, os vinhedos históricos de Lavaux com suas
vinícolas centenárias, o célebre festival de jazz de Montreux,
o charmoso centro de Vevey, seus surpreendentes chocolates,
a gastronomia do lago, a onipresença dos queijos, vinhos
e embutidos locais e a proximidade com a glamourosa estação de
esqui de Gstaad, a uma hora de distância num percurso encantador
de trem, são um verdadeiro deleite para os turistas mais descolados.
Descolados porque geralmente quem viaja a Suíça já conheceu outros
destinos turísticos mais convencionais na Europa e está em busca de
novos horizontes. E que horizontes! O grande lago domina a paisagem,
estendendo-se pelo fundo do vale por 72 km.
Nos meses de verão, a incidência do sol em sua superfície cria uma
enorme reflexão de luz nas encostas repletas de vinhedos, incendiando
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A placidez do cenário, a atmosfera
contemplativa e uma gastronomia
tão refinada como pouco conhecida
marcam duas surpreendentes cidades
vizinhas, Montreux e Vevey, situadas
no próspero sul da próspera Suíça
TE X TO E F OTOS J o h n n y M a z z i l l i
Lac Léman, ou
Lago de Genève
a paisagem e dando uma mão no amadurecimento das uvas.
Em Vevey, no boulevard do lago, turistas e locais vão e vem em
tranquilas caminhadas, o mesmo vai e vem que Charles Chaplin fazia
todas as manhãs após se mudar para lá, onde viveu até o fim de seus
dias. Nos pubs e cafés a beira do lago, o clima é de tranquilidade e
contemplação. Do outro lado do lago, a França, Évian-le-Bagnes.
Pela manhã, vale uma visita ao Castelo de Chillon, o mais famoso
da Suíça, em Veitaux, uma pequena cidade ao lado de Montreux.
Não é possível datar com exatidão sua construção, mas os primeiros
escritos são do distante ano de 1150. O castelo serviu durante séculos
como posto militar de controle de pessoas e mercadorias entre a
Riviera Vaudesa e a Planície do Ródano, na Itália. A dez minutos
do castelo e a cinco minutos de carro do centro de Vevey, estão
os célebres vinhedos históricos de Lavaux, alçados a condição de
Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, em 2007. Nas
encostas inclinadas defronte o grande lago, esparramam-se 850
hectares de vinhedos em pequenas propriedades, meticulosamente
esculpidos em terraços de pedra de todos os tamanhos, com mais de
800 anos de existência e pontuado por vilas medievais, com suas
adegas, tabernas e restaurantes. De setembro a outubro é a época da
colheita das uvas e a folhagem nos vinhedos começa a ganhar tons
avermelhados, antes de cair no início de inverno.
Vinhos de Louis Bouvard, um dos produtores
mais inovativos de Lavaux
Oficina de relojoaria de Lionel Meylan,
no centro de Vevey
St-Saphorin, uma das vilas medievais de Lavaux
23
TIME OFF
viagem
Barcos de pesca
no Lac Léman
Deliciosos queijos de massa mole da
Fromagerie Fleurette, em Rougemont
Brechó & antiguidades
em Vevey
Chocolates da Confiserie Poyet
O acolhedor vagão vintage do clássico Golden Pass,
o trem que faz a rota Montreux - Gstaad
Restaurant des Trois Sifflets
Vilas medievais nos
vinhedos de Lavaux
Após uma agradável exploração
pelas vielas estreitas e tortuosas
entre os vinhedos empoleirados
nos terraços, almoce no tranquilo
e acolhedor Auberge d l’Onde,
na pequena vila de SaintSaphorin, detentor de uma estrela
Michelin, onde se serve pratos
tradicionais da culinária suíça,
harmonizados com os vinhos
locais. De sobremesa experimente
o Vermicelle, um delicioso purê de
chest nut (castanhas portuguesas).
Ou pule a sobremesa, volte a
Vevey e vá direto à um autêntico
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templo do chocolate artesanal,
a Confiserie Poyet.
Blaise Poyet foi eleito, em
2010, o mestre chocolatier
do ano. Algumas de suas
surpreendentes criações são
plenas de significados, como um
chocolate “chilli”, em homenagem
aos colhedores de pimenta de
Sichuan, na China, que leva
o ingrediente na composição,
ou uma iguaria especialmente
criada para a visita do Dalai
Lama a Suíça, que recebe
infusão de flor de lótus e outros
Centro de Vevey
Vevey
Vinhedos de Lavaux
ingredientes inusitados, como a Tsampa, a farinha de cevada
torrada dos tibetanos. Um de seus hits são os sapatinhos de
Charles Chaplin, vendidos em réplicas de latas de filme ou
em miniaturas de caixas – de sapato, claro. Merecem ser
saboreados calmamente, de preferência apreciando a vista do
lago Lemán e o vai e vem preguiçoso dos cisnes.
Não é fácil deixar a confiserie, mas é chegada a hora de
enveredar pelas ruazinhas ao redor e explorar o pequeno
comércio local, com seus restaurantes, pubs, lojinhas e
brechós curiosos. Para os aficionados em relógios, Lionel
Meylan oferece imersões na intrincadíssima relojoaria suíça,
em atividades que vão desde 3 horas de duração até uma
semana inteira.
Dentre tantas coisas boas da Suíça, destaca-se sua impecável
hotelaria, da qual o belíssimo Trois Couronnes, situado
as margens do Lac Lèman, é um exemplo de excelência.
Sua varanda debruça-se sobre o boulevard do lago, e nos
meses de verão, o Bar Veranda é o lugar perfeito para um
champagne e para curtir tranquilamente a paisagem ao cair
da tarde. No inverno, a atmosfera acolhedora do pub e seus
sofás são um convite para um drink antes do jantar. Próximo
ao Trois Couronnes, fica o casual Restaurant de Trois Sifflets,
que serve deliciosas quiches, saladas e variados pratos
despretensiosos, como porções de Pérche, um peixe saboroso
e abundante no Lac Lèman. O dono do estabelecimento é um
sujeito bem humorado e piadista.
Uma das atividades mais agradáveis é pegar um trem na
Doces artesanais da Confiserie Poyet
Chocolates e
doces artesanais
da Confiserie Poyet
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TIME OFF
viagem
estação de Montreux e subir a Gstaad, num
trajeto de apenas uma hora de duração, onde
o trem atravessa cenários idílicos. No inverno,
a paisagem torna-se ainda mais deslumbrante.
Gstaad é uma estação de esqui muito famosa
e chique, onde os imóveis atingem valores
irreais, estratosféricos. Mas ainda melhor que
a pequena Gstaad é pegar o trem de volta
a Montreux e descer duas ou três estações
abaixo, na pequeníssima Rougemont, para
visitar a Fromagerie Fleurette, uma pequena
produção de queijos artesanais de massa mole,
considerados entre os melhores da Suíça, um
país que goza de enorme reputação mundial em
queijos de qualidade. Tudo é produzido de forma
natural utilizando o leite do gado que vive nas
pastagens ao redor.
Pegando o trem novamente após a visita na
Fromagerie, chega-se de volta ao ponto final, em
Montreux, e então é hora de tomar outro trem
de volta a Vevey, um trajeto de no máximo 10
minutos, regressar ao hotel e se preparar para
um jantar inesquecível no surpreendente Le
Restaurant, dentro do Hotel de Trois Couronnes.
Recentemente premiado com sua primeira
estrela Michelin, sua cozinha refinada, de estilo
contemporâneo, utiliza muitos ingredientes
regionais e é leve e inventiva. Apesar da extensa
carta de vinhos de várias nacionalidades e
procedências, arrisque um vinho suíço, como
por exemplo, um chasselas, variedade branca
símbolo da enologia suíça, bastante consumido
com fondue e raclete, ou opte por um aromático
Petit Arvine, casta de uva branca tipica do Valais.
De Vevey, peguei o trem e segui a Zermatt, no
Valais, um belíssimo vale pontuado por vinhedos
e bucólicas vilas de montanha, onde continuei a
explorar esse pequeno e belíssimo país. •
Trois Couronnes
St-Saphorin, Lavaux
Trois Couronnes
Trois Couronnes
Dicas & By Yourself
Quem Leva
A SWISS tem voos diários de São Paulo a Zurich,
e de lá, de trem a Vevey
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www.swiss.com
Trois Couronnes
Trois Couronnes
De trem pela Suíça
Uma dentre muitas coisas boas de viajar pela Suíça é poder
contar com um eficiente sistema de trens, que funciona a
perfeição. Limpos e confortáveis, rápidos e pontuais, os trens
levam a toda parte no país.
Swiss Travel System – www.swisstravelsystem.com
Onde Ficar
Hotel des Trois Couronnes – www.troiscouronnes.ch
Visite
Oficina de Relojoaria Lionel Meylan – www.lionel-meylan.ch
Turismo na Suíça – www.MySwitzerland.com
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