Quarto Domingo da Páscoa - 21 de Abril de 2013

Transcrição

Quarto Domingo da Páscoa - 21 de Abril de 2013
Quarto Domingo da Páscoa - 21 de Abril de 2013
Atos 13:14-52; Sl 100; Ap. 7:9, 14b-17; Jo. 10:27-30
Tema: “Somos seu povo, as ovelhas de sua pastagem” (Sl 100:3)
A leitura do Evangelho de hoje aparece numa passagem maior que retrata Jesus num ambiente muito judaico (o templo),
no contexto de uma festa judaica (“a festa da Dedicação”, i.e., Hanukkah), como um judeu entre os judeus, caminhando
no pórtico de Salomão, de acordo com Josefo, o único vestígio remanescente do primeiro templo (Ant. 20.221). No
entanto, mantendo a prática habitual do evangelista joanino, “os judeus” que questionaram Jesus sobre sua identidade—
“Quanto tempo ainda nos manterá em suspense? Se você é o Messias, dize-nos claramente” (10:24)— são retratados tanto
como obtusos quanto como hostis a Jesus, que responde:: “Já vos disse e não credes. As obras que eu faço em nome do
meu Pai dão testemunho de mim; mas não acreditais, porque não sois minhas ovelhas” (10:25-26). Diferente dos
Evangelhos sinópticos, que normalmente distinguem entre líderes judaicos opostos a Jesus e a multidão mais receptiva,
João tende a retratar “os judeus” como um coletivo indiferenciado, antagônico a Jesus, e neste caso, intencionando pegálo; “por que os Judeus já tinham concordado que qualquer um que confessasse Jesus como o Messias seria colocado para
fora da sinagoga” (9:22). O breve excerto que compõem a leitura de Domingo (10:27-30) amputa a condenatória “mas
não acreditastes, porque não pertence a minhas ovelhas” (10:26), camuflando, assim, o contexto do discurso de “Bom
Pastor” (10:1-18, 26-30), que distingue “minhas ovelhas” — membros da comunidade joanina — de “os judeus”, que
parecem ser identificados com os “ladrões” e “bandidos” que quebram o curral das ovelhas com má intenção (10:1, 8; cf.
8:44; veja Reinhartz, 178). O rescaldo das belas palavras de Jesus em 10:27-30 é que “os judeus” tentaram apedrejar
Jesus a morte por blasfêmia (10:31-33; cf. Lv 29:16; m. Sanh. 7.4), talvez porque as “declarações de Jesus, aqui e em
outros lugares (e.g., 5.17) sejam vistas pelos judeus joaninos como uma violação do monoteísmo” (Reinhartz, 179).
A negatividade do retrato de João dos “judeus” nesta passagem. E por todo o evangelho, é explicável contra o contexto da
comunidade joanina, que, de acordo com as hipóteses bem aceitas de Raymond E. Brown (1979), foi feita de cristãos
judeus que tinham sido recentemente banidos da sinagoga por causa de sua crescente exaltação das crenças sobre Jesus
(9:22), ilustradas pelos dizeres como “O Pai e Eu somos um” (10:30). Ou seja, “os judeus” do evangelho de João
carregam o peso da rejeição e do ressentimento sentido pelos membros da igreja joanina, cujas altas doutrinas
cristológicas foram vistas pelos outros judeus como uma afronta a “crença fundamental no um, único Deus de Israel”
(Reinhartz, 180). Brigas de família são frequentemente mais amargas, e, apesar da intenção do evangelho não ser
antissemita no sentido racial, ela pode ser considerada como anti judaica “na medida em que declara que os judeus não
acreditam em Jesus como o Cristo e como Filho de Deus renunciando assim, da sua relação de aliança com Deus (8.47)”
(Reinhartz, 156). A primeira leitura (Atos 13:14-52), transmite uma mensagem semelhante: embora os judeus em
Antioquia da Pisidia inicialmente receberem entusiasticamente as mensagens dos apóstolos (13:42-43), quando Paulo e
Barnabé visitam a sinagoga no próximo Sabbath, eles são rejeitados pelos “judeus”, que por sua vez são declarados “não
dignos da vida eterna” pelos missionários (13:44-46). Para cristãos, é importante lembrar que historicamente, este tipo de
retórica pertence ao processo dos autores da “auto definição, de distinguir os seguidores de Jesus da sinagoga e assim dos
judeus e do judaísmo” (Reinhartz, 156), e que, parafraseando o Salmista, somos todos — ambos judeus e gentios — povo
de Deus, e as ovelhas da pastagem de Deus (Sl 100:3).
Reflexão: [1] Você acha que a excisão do Evangelho deste Domingo de seu contexto maior é deliberada? Você acha que
é justificado? [2] Quais as implicações para o diálogo cristão-judaico da declaração “brigas de família são as mais
amargas”? [3] Adele Reinhartz observa que “As multidões que comem o ‘pão da vida’ (Jo 7) são judeus, ainda que eles
não estejam dispostos contra Jesus. Além disso, Jesus diz em sua conversa com a mulher samaritana no poço que a
‘salvação vem dos judeus’ (4.22). Estes exemplos mostram que referências específicas de hoi Ioudaioi dentro da
narrativa varia conforme seu contexto literário” (155). Será que esta percepção atenua a negatividade de João em relação
aos “judeus”? [4] Como podem declarações como “O Pai e Eu somos um” (Jo 10:30), “Eu sou o Filho de Deus” (10:36),
e “o Pai está em mim e Eu estou no Pai” (10:38) serem compreendidas como as declarações de um profeta judeu?
Bibliografia: Brown, Raymond E., The Community of the Beloved Disciple (New York: Paulist, 1979); Reinhartz, Adele,
“John,” The Jewish Annotated New Testament, ed. Amy Jill Levine and Marc Zvi Brettler (New York/Oxford: Oxford
University Press, 2011), pp. 152-96.
O comentário desta semana foi preparado por
Dr. Mary Ann Beavis, Canada, Alumna 2004, 2006, 2102
email: [email protected]
e traduzido por
Maria Cecília Piccoli, Colégio Nossa Senhora de Sion – Curitiba, Brasil Bat Kol Alumna, 2006, 2007
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