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Nº 64 - jul/ago/set de 2013 - ANO XV Associação de Deficientes Visuais e Amigos ADEVA e Sabesp, juntas mais uma vez Em foco pág. 7 FILME: Tanta Água CENA: DATA: Inclusão 17/07 EXIBIÇ ÃO: Adeva Holambra: a capital das flores da América Latina Estive lá e gostei pág. 3 Mariana Baierle: jornalista, professora e blogueira Profissão: pág. 8 e Sab e sp O ônibus da inclusão Um ônibus para na minha frente. É o ônibus da inclusão? Que maravilha! Subo. É confortabilíssimo: poltronas macias, ar condicionado na temperatura ideal, música a bordo... O veículo parte. Mas há algo estranho. Parece que está andando para trás! O ônibus para em frente a uma escola. Desço e vou visitá-la. Logo descubro que não há salas de recurso para pessoas com deficiência e não há também rampas e elevadores para cadeirantes. Entro numa sala. As crianças leem, menos as com deficiência visual. Não há livros em braile nem em tamanho ampliado para elas. Mas aquele não é o ônibus da inclusão? Por que parou numa escola que exclui? Volto para o ônibus. Retomamos a viagem. E de novo a sensação de estar indo para trás. O rádio anuncia que o Estatuto da Pessoa com Deficiência deverá ser votado ainda este ano. Como? Um estatuto para nos tutelar? Um estatuto que contém brechas para a flexibilização da Lei de Cotas? Como assim? A Constituição de 1988 e a Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência já garantem nossos direitos. Nova parada. Dessa vez, no aeroporto. Ao visitá-lo, vejo que há três pessoas com deficiência visual impedidas de embarcar no mesmo voo. Por quê? Simplesmente por terem deficiência visual? Mas eu mesmo já voei na companhia de pelo menos quatro deficientes visuais. Mais uma vez o ônibus da inclusão me mostrou uma situação em que o deficiente é discriminado. Volto ao coletivo e continuo o passeio. Chego agora à Prefeitura de São Paulo. Lá, descubro que o prefeito quer acabar com o Atende, que presta serviços a pessoas com deficiência física severa. E onde estão os táxis acessíveis? Novamente no ônibus, sigo agora para a universidade. Chegando lá, me deparo com uma jovem indignada por não existirem cursos de especialização na área da deficiência visual. Como formar novos profissionais se não há cursos para isso? Espero acordar dessa realidade e realizar meu grande sonho de viver num mundo de condições mais justas e igualitárias, um mundo melhor! Markiano Charan Filho e Sandra Maciel, diretor-presidente e diretora-vice-presidente da ADEVA Doe sua nota fiscal para a ADEVA A ADEVA está realizando uma campanha para arrecadação de notas fiscais sem CPF ou CNPJ (no caso de empresas). Para participar, basta solicitar a sua Nota Fiscal Paulista sem CPF no ato de qualquer compra e doá-la para a ADEVA. Mas, para ajudar, as notas têm de ser cadastradas no sistema do site da Secretaria da Fazenda no máximo 20 dias depois da data da compra, senão perdem a validade. Colabore com a gente doando a sua. A ADEVA agradece! Jornalista responsável: Rafael Brandimarti (MTb 62.567). Colaboradores: Ivan de Oliveira Freitas, Laercio Sant’Anna, Opinião|Editorial............................p. 2 Lazer|Estive lá e gostei..............p. 3 Sandra Maciel, Sidney Tobias de Souza. Correspondência: rua Adeva|Talentos...........................p. 4 Em foco............................p. 5 Parceiros..........................p. 7 São Samuel, 174, Vila Mariana, CEP 04120-030 - São Paulo Mercado de Trabalho|Profissão:.........................p. 8 Liane Constantino, Lothar Bazanella, Lucia Maria, Lúcia Nascimento, Markiano Charan Filho, Miguel Leça (fotos), (SP) - telefones: 11 5084-6693/6695 - fax: 11 5084-6298 - e-mail: [email protected] - site: www.adeva.org.br. Diagramação: Fernanda Lorenzo. Revisão: Célia Aparecida Ferreira. Fotolitos e impressão: cortesia Garilli Artes Gráficas Ltda. - tel.: 11 2696-3288 - e-mail: [email protected]. Tiragem: 1.000 exemplares. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. 2 | Conviva | 64 | Tecnologia|Convivaware....................p. 10 Na rede............................p. 11 Literatura|Outros olhares.................p. 11 Espaço poético................p. 12 Mais|Para seu lazer..................p. 12 A fazenda que se tornou a capital das flores da América Latina De 30 de agosto a 29 de setembro, Holambra realiza a tradicional Expoflora, este ano em sua 32ª edição Quando pensamos na primavera ou em presentear alguém que amamos, pensamos em flores. Mas de onde vem as flores? 60% do abastecimento do mercado nacional e 40% da exportação brasileira de flores e plantas ornamentais são produzidas em Holambra. Se você fizer como eu e visitar essa cidade, cujo nome origina-se da combinação de Holanda, América e Brasil, a 140 km da capital paulista, de costumes tipicamente holandeses, terá uma agradável surpresa. Fui a Holambra durante a 31ª Expoflora, uma exposição anual de arranjos florais. Aliás, o tema deste ano é “Flores, Contos e Lendas”. Paisagistas, decoradores e designers de interiores criaram belos ambientes para a admiração dos visitantes e, em especial, para os amantes da fotografia. Depois de conhecer a exposição, assisti a uma bela manifestação cultural da imigração holandesa, danças típicas dos Países Baixos. O ritmo, marcado com aqueles tamanquinhos de madeira, é agradável, e o público quase dança junto. De fato, os imigrantes holandeses que deram origem à estância turística de Holambra deixaram suas marcas por todo o município. Cito algumas: o maior moinho típico holandês da América Latina, belas praças e lagos espalhados pela cidade, os famosos campos de flores de Holambra, a arquitetura neerlandesa e as tulipas, símbolo dos Países Baixos, estampadas nas calçadas. Já a culinária local é um show à parte. Quando a fome bateu, escolhi um prato holandês bem típico, o “stampotwortel” (purê de batata com cenouras e carne de porco e molho de cerveja) acompanhado com chucrute e arroz com ervas. Enquanto o prato não vinha, provei e aprovei um “zure haring”, arenque cru em conserva com vinagre natural, sal, pimenta, cebola, junípero e várias outras especiarias. Acompanhado de uma cerveja bem gelada, este peixe cru é uma delícia. A sobremesa pode ser saboreada em uma das muitas confeitarias típicas que existem na cidade, onde, sem culpa, podemos degustar doces como: “stroopwafel” (waffle recheado com caramelo de melaço de cana), “violtje” (doce de violeta), “bloempot” (semelhante a uma torta holandesa, servida como vaso de flor), Vlaai de Damasco (waffle recheado com damasco) e o delicioso sorvete de rosas. Quem ainda quiser desfrutar mais do ambiente tranquilo de Holambra, pode fazer um passeio a cavalo, pescar em um dos lagos ou visitar a criação de jacarés de papo-amarelo do Sítio Arurá. Já no fim da tarde, pude assistir à tradicional chuva de pétalas da Expoflora, na qual são utilizados 150 quilos de pétalas por apresentação, equivalente a 18 mil botões de rosas. Compras Encerrando o passeio, fui às compras, onde encontrei boas opções, como moda, artesanato, decoração e souvenirs holandeses. Mas o que chama a atenção é o Shopping das Flores – amplo espaço para a venda de mais de 200 espécies e duas mil variedades de flores e plantas ornamentais de produtores locais. Fora a experiência aprazível, voltei para casa com uma muda de planta aquática num vaso de vidro, com um peixinho beta. Enfim, reserve um fim de semana na sua agenda para visita a capital brasileira das flores nesta primavera. Como chegar De carro: siga pela rodovia Anhanguera até o km 86; pegue a saída de mesmo número e siga adiante, atento às placas que indicam Mogi Mirim. Na rodovia SP-340 (que liga Campinas a Mogi Mirim), você encontrará placas indicando Holambra. Se preferir outra opção, siga pela rodovia dos Bandeirantes até Campinas. Ao chegar no entroncamento com a rodovia Anhanguera (km 103), entre na rodovia D. Pedro I e siga até o km 134 (saída 134), onde você entrará na rodovia SP-340, sentido Mogi Mirim. Preste atenção ao chegar no km 141: é a partir daí que começam a aparecer as placas indicando quantos quilômetros faltam para chegar a Holambra. Serviço de atendimento ao turista: (19) 3902-4013. | Conviva | 64 | 3 FOTOS: ateliedanoticia Por Sidney Tobias de Souza [email protected] Empregada doméstica, cozinheira de mão cheia, secretária e supermãe Conheça Marilza Nascimento, braço direito da vice-presidente da ADEVA Por Lúcia Nascimento [email protected] “A Sandra tem um gênio forte, mas um grande coração.” A afirmação não poderia ser de outra pessoa senão de Marilza Aparecida Araújo Nascimento, 46, que há 20 anos é empregada doméstica e braço direito da vice-presidente da ADEVA, Sandra Maciel. Além de estar presente em quase todas as atividades da patroa, “Mariza”, como é chamada, compartilha muitas coisas que só os amigos mais íntimos conhecem. No período em que está com Sandra, cadeirante, a dedicação é total: banho, refeições, o remédio na hora certa... tudo que a vice-presidente da ADEVA precisa para ter uma boa qualidade de vida. “Eu conheci a Sandra por intermédio de um tio, ex-taxista dela. Lembro que ela tinha uma empregada chamada Luzia. Comecei como diarista, mas, hoje, trabalho para ela direto”, explica. Mariza é também muito querida pelos amigos e colaboradores da ADEVA. Para quem participa das reuniões na casa da vice-presidente, a chegada é quase sempre uma festa. A doméstica recebe a todos com muita simpatia, bom humor, um forte abraço e uma comida que só ela sabe fazer. “Eu amo fazer feijão, com bastante alho. E muita gente me fala que vem à casa da Sandra especialmente para comer o meu feijão”, orgulha-se. Em 2004, Mariza monitorou um dos cursos de culinária oferecidos pela ADEVA. “Foi uma época muito boa. Eu me divertia demais ensinando os deficientes visuais a cozinhar.” Mas se na casa da Sandra a correria é grande, na sua, o trabalho também é intenso. Viúva há um ano, Mariza tem duas filhas, Viviane e Dayane; três netas: as pequenas Andiara, Sofia e Ester; além de Marcos Eduardo, de nove anos, com o qual protagoniza uma emocionante história de “mãe e filho”, que começou quando ele tinha pouco mais de dois meses. “Eu levanto bem cedo para lavar o quintal. Numa manhã bem fria de garoa fina, o pai dele passou na rua com ele e a irmãzinha, de um ano e dez meses. As duas crianças sem blusa ou qualquer outro agasalho. Quando vi a cena, falei: ‘Eduardo [seu vizinho na época], esses meninos estão com Jogo rápido com Marilza Nascimento Signo: Sagitário | Cor preferida: Preto | Hobby: Colecionar chaveiros | Um filme: “Titanic” (1997), com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet | Um livro: “O Pequeno Príncipe”, do francês Antoine de Saint-Exupéry | Um estilo de música: Sertaneja | Uma música: “Coração de Estudante”, de Milton Nascimento | Cantora preferida: Fafá de Belém | Cantor: Milton Nascimento | Sobre a deficiência: Deveria ter menos discriminação | Religião: Deus | Deus: Em primeiro lugar | Amigos: Poucos, mas verdadeiros | Amor: Minha família | Esporte preferido: Futebol | Time do coração: Corinthians | Um sonho: Voltar para Minas | O que fazer para viver melhor? Dar mais atenção aos necessitados | Uma frase: Sejam felizes! 4 | Conviva | 64 | frio’. Ele, então, me pediu que cuidasse deles enquanto ia buscar roupas. Foi e nunca mais voltou”, conta Mariza, que acolheu os rebentos. Com a ajuda de vizinhos, conseguiu roupas e mamadeiras. Mas Marquinhos, que estava bastante doente, precisava de muito mais. “Ele não havia tomado nenhuma vacina, a pele estava tão assada que dava pena. A bronquite também era brava”, relembra ela que, por várias vezes, precisou levar, às pressas, o bebê ao posto de saúde. “Como ele não era nem registrado, eu ia com a cara e a coragem”, revela. Posteriormente, Mariza passou a pagar um convênio médico para o pequeno. Vinte dias depois de o pai ter sumido, a mãe, que era vizinha de Mariza, reapareceu. Mariza, então, foi com ela a um cartório e fez questão que ela registrasse a criança. “Fez o registro de qualquer jeito e disse: Toma, se vira”, relembra. De posse da certidão de nascimento da criança, Mariza procurou um advogado, que a aconselhou a devolver o bebê para a mãe ou acionar o Conselho Tutelar. Mas Marquinhos já havia conquistado a família, o que fez com que Mariza fosse pedir instruções na Vara da Infância de Guarulhos (SP), onde mora. “Eu fui com a mãe dele ao Conselho Tutelar para provar que ele não estava sendo ‘sequestrado’. Um ano depois, ganhei a guarda provisória e, mais tarde, conquistei a definitiva.” Quanto à menina, ficou com a mãe. Mineira de Francisco Badaró, filha de João e Maria José e irmã de Alaércio, Mariza diz que teve uma infância muito feliz. “Morava na roça e brincava de boneca feita com sabugo de milho. Pintava a boca, o nariz e os olhos com carvão”, diverte-se. Hoje, devido às inúmeras atividades em casa e no “lar-escritório” da vice-presidente da ADEVA, Mariza vai pouco à sede da entidade, na Vila Mariana, mas considera o trabalho realizado pela ADEVA fundamental para os deficientes visuais. Quanto a Markiano, presidente da ADEVA, Mariza não poupa elogios: “O Markiano é especial, pela sua educação e maneira de tratar as pessoas. Quem fala mal dele merece castigo!” MEMÓRIA A ADEVA registra com tristeza a partida do amigo e companheiro Marco Antonio de Queiroz, o MAQ, que faleceu no dia 2 de julho de 2013. Grande parte dos seus 56 anos de vida, MAQ trabalhou pela acessibilidade na web, sendo um desbravador desse tema e de temas como usabilidade e tecnologias assistivas no Brasil. “Acesso Digital”, “Acessibilidade Legal” e “Bengala Legal” (www.bengalalegal. com) são projetos com a sua assinatura. A homenagem que lhe prestamos é o compromisso de continuar sua tarefa, de incentivar, conscientizar e garantir a acessibilidade na web por meio do nosso projeto “Acesso para Todos”. Tudo tem sua primeira vez Por Marco Antonio de Queiroz, MAQ (01/11/2006) O maior incentivo que tive em estudar e aprender desenvolvimento de sites com acessibilidade foi a fascinação de como eu, e pessoas com a minha deficiência, poderíamos facilitar nossas vidas caso tivéssemos um acesso fácil à web. Eu já era um entusiasta da Internet quando, em 1995, comecei a trocar e-mails com colegas com deficiência visual de todo o Brasil. Era uma loucura saber que estava escrevendo e obtendo respostas de cegos contando suas vivências de tão longe. No entanto, meu maior deslumbramento foi quando, em 1999, entrei no site de um conhecido jornal carioca e, com absoluta autonomia, sem precisar que alguém o fizesse para mim, li uma notícia! A princípio, dei um sorriso satisfeito e meio bobo, mas, logo depois, a emoção me tomou totalmente. Minha liberdade! Após isso, por ser dia de aniversário de uma pessoa amiga, comprei um livro e o enviei de presente sem sair de minha cadeira em frente ao micro. A amiga recebeu o presente em casa e telefonou, agradecendo a lembrança e dizendo que eu não precisava me preocupar e ter tanto trabalho em deslocar alguém para fazer o que fiz. Disse-lhe que eu tinha feito tudo sozinho e ela começou a chorar. Para não estragar a emoção dela com “todo o trabalho que tive”, calei-me sem contar que não necessitei me deslocar com minha bengala até a livraria e muito menos tinha ido ao correio. Mas, lá do fundo, minha emoção veio brotando novamente, ao ter a sensação de que eu estava, graças à internet, me tornando um sujeito mais comum. Eu e outros curiosos íamos espalhando as novidades pela lista de colegas com deficiência. Todos se entusiasmavam! No entanto, começamos a perceber que “nem tudo eram flores”, e que existia uma tal de inacessibilidade, que havia páginas nas quais quase nada podíamos fazer, ou mesmo onde éramos totalmente barrados. Assim, fui pesquisar a causa disso. Parte desse conhecimento está nesse capítulo, e para todos. Leia os capítulos seguintes em www.bengalalegal.com/capitulomaq#301. | Conviva | 64 | 5 Festa Julina da ADEVA No dia 13 de julho, um sábado, aconteceu a 3ª Festa Julina da ADEVA. Amigos, colaboradores e associados compareceram ao arraial na sede da entidade, que contou com muita comida gostosa, brincadeiras e brindes, música e, como não poderia deixar de ser, uma animada quadrilha. ADEVA celebra 35 anos com show de Ângela Maria A ADEVA faz 35 anos em 2013 e, como de costume, a data será comemorada no tradicional jantar de aniversário da entidade no Bar Brahma, na esquina das avenidas Ipiranga e São João. Neste ano, a personalidade escolhida para abrilhantar a noite é nada mais, nada menos que a “rainha do rádio” Ângela Maria, dos clássicos “Babalu”, “Cinderela” e “Gente Humilde”, entre muitos outros. Reserve a data na sua agenda e venha celebrar com a gente! Virtual Vision, 15 anos A ADEVA foi uma das homenageadas no jantar que celebrou os 15 anos do Virtual Vision, software de leitura de telas criado pela empresa parceira MicroPower. Desenvolvido em 1997 a partir de pesquisas com modelos de processamento de linguagem natural, o Virtual Vision é hoje o único leitor de telas desenvolvido no Brasil capaz de funcionar com os programas mais populares da Microsoft (Windows, Word, Excel, Internet Explorer, Outlook, Skype, entre outros). Saiba mais sobre o Virtual Vision no site www.virtualvision.com.br. Markiano Charan Filho (5º da esquerda para direita), presidente da ADEVA, durante o jantar em comemoração aos 15 anos do Virtual Vision 6 | Conviva | 64 | ADEVA e Sabesp, juntas mais uma vez Sessão inclusiva do filme “Tanta Água”, no Cine Sabesp, teve casa cheia | Conviva | 64 | 7 FOTOS: DIEGO (Sabesp) No dia 17 de julho, a Associação de Deficientes Visuais e Amigos (ADEVA) e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) promoveram, no Cine Sabesp, em São Paulo, a terceira edição do “Cinema Inclusivo”, projeto iniciado em dezembro do ano passado como parte da programação da Virada Inclusiva. O filme escolhido para a sessão especial, que contou com audiodescrição da jornalista e colaboradora do CONVIVA Lucia Maria, foi o longa “Tanta Água”, produção do Uruguai, México e Alemanha que trata das relações familiares e afetivas a partir do ponto de vista de uma adolescente em férias. A chuva, uma constante na narrativa, marca a viagem do pai divorciado Alberto (Néstor Guzzini) e seus dois filhos, Lucía (Malú Chouza) e Federico (Joaquín Castiglioni), aos banhos de Arapey, no Uruguai. “Tanta Água”, das cineastas uruguaias Ana Guevara e Leticia Jorge, conquistou o prêmio da crítica no Festival Internacional de Cinema de Cartagena (Colômbia), o prêmio de melhor obra de diretor estreante no Festival de Guadalajara (México) e o grande prêmio do júri no Festival de Miami (EUA). Também integrou a programação do 8º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, de 11 a 18 de julho, com patrocínio da Sabesp. Após a sessão no Cine Sabesp, que contou com uma plateia de quase 250 pessoas, houve o sorteio de dois iPods Shuffle, dez sacolas com livros e uma camiseta promocional do 8º Festival de Cinema Latino-Americano, mais o sorteio de dois vales-convites para o jantar de aniversário da ADEVA (com direito a acompanhante), no Bar Brahma, no próximo dia 13 de novembro. Que venha a próxima! ADEVA e ADVF: unindo forças pela cidadania Entidades firmam parceria para a capacitação das pessoas com deficiência visual de Fernandópolis Por Liane Constantino [email protected] Fotos de atividades e amigos da ADVF 8 | Conviva | 64 | No começo do ano, a ADEVA iniciou uma parceria com a Associação dos Deficientes Visuais de Fernandópolis (ADVF), entidade que presta serviços às pessoas cegas e com baixa visão desse município paulista situado a 554 km da capital. A ADVF foi fundada em 2000 e, ainda hoje, é a única instituição na cidade e naquela região que atende pessoas com deficiência visual. Em seus 13 anos de funcionamento, ampliou de oito para 60 o número de participantes nas atividades que oferece: cursos de escrita e leitura braile, orientação e mobilidade, informática, canto coral, aula de violão, teclado, percussão e teatro, programações de lazer, turismo e cultura. Oferece também três refeições diárias aos alunos que ali permanecem em tempo integral. A parceria faz parte da meta de ampliação de atendimentos do Programa Via Rápida Emprego, projeto do governo de São Paulo lançado em 2011. A ADEVA, por sua experiência de mais de três décadas na capacitação profissional de pessoas com deficiência visual, foi a entidade selecionada pelo governo paulista para atuar junto a esse público-alvo. O curso de auxiliar de escritório foi um acréscimo a este rol de opções e vai ao encontro da proposta do Via Rápida Emprego de abastecer o mercado de trabalho com pessoas minimamente qualificadas por meio de cursos básicos de capacitação profissional, conforme as demandas regionais. Para Célia Aparecida Fontes Lopes Mafra, diretora e fundadora da ADVF, a parceria com a ADEVA supre de maneira exemplar as necessidades de Fernandópolis. “Nossa cidade é pequena e com poucas alternativas para as pessoas com deficiência de modo geral; portanto, o trabalho conjunto com a ADEVA está dando aos nossos alunos um recurso a mais para sua inclusão na sociedade e, principalmente, no mercado de trabalho. E vem reforçar os princípios éticos que movimentam nossa entidade, entre os quais se destaca o de reconhecer e respeitar o direito de oportunidades iguais perante a diversidade humana”, ela acrescenta. No decorrer deste ano, o curso de auxiliar de escritório, com carga horária de 300 horas, e que inclui habilidades gerais e introdução à informática, será oferecido a três diferentes turmas, de 20 alunos cada. A primeira turma iniciou as atividades em 24 de junho, após a capacitação dos instrutores locais pelo Via Rápida Emprego. Todo o material didático, impresso em braile, em tipos ampliados e disponível em áudio, foi produzido pela ADEVA e distribuído gratuitamente aos alunos. Cada um dos inscritos receberá também uma mochila contendo uma calculadora sonora, lupa, reglete e caderno com pautas largas, de acordo com sua acuidade visual. 10% de visão e 100% de disposição Conheça Mariana Baierle, jornalista, professora, palestrante e blogueira Por Lúcia Nascimento [email protected] certa forma, um blog ou jornal nos preserva mais”, opina. “Na TV, eu falo com as câmeras, mas não sei quem está me assistindo. Prefiro dar aulas, porque sei que tem alunos me ouvindo e eu estou falando e interagindo diretamente com eles.” Na internet, Mariana é editora do blog Três Gotinhas (tresgotinhas. com.br/author/mariana). “O blog tem a proposta de registrar ‘gotinhas’ do meu pensamento, não necessariamente três, mas quantas forem surgindo ao longo de cafezinhos, cervejinhas, vinhos e conversas com os amigos.” Desde os tempos de escola, a jornalista Mariana Baierle Soares, 27, já dava sinais de que ingressaria no mercado das artes e da cultura. Formada em Jornalismo pela PUC-RS e mestre em Letras pela UFRGS, nem os apenas 10% de visão (ela nasceu com uma má formação na retina) impediram essa gaúcha de Porto Alegre de produzir textos e se apaixonar pela literatura. “Eu lia com lupa, colava o rosto nos livros e ampliava tudo. Como era uma escola regular, não tinha nada adaptado. Meu pai, que é engenheiro químico, me dava aulas de matemática, física e química, e eu passava por causa dele”, A primeira experiência de Mariana recorda ela, que iniciou suas atividades como professora foi monitorando jornalísticas estagiando em jornais de aulas de literatura na UFRGS, parte do bairro e fazendo assessoria de imprensa. seu mestrado em Letras. Foi quando Seu primeiro emprego foi como conheceu o Programa Incluir, que atende redatora e repórter de educação e os alunos com necessidades especiais acessibilidade no jornal “Correio do da universidade. “Comecei a pesquisar Povo”, de Porto Alegre, em 2008, época e a conhecer pessoas ligadas à acessiem que assumiu, definitivamente, o bilidade. Foi um ‘start’ para eu trabalhar uso da bengala, pois trabalhava no dando cursos e palestras na área.” O período da noite e enxergava ainda mais recente é o Educação, Cultura menos. Atualmente, Mariana é e Acessibilidade, para professores e repórter e apresentadora do quadro demais funcionários da UFRGS, no qual “Acessibilidade”, do programa de Mariana dá sugestões de entrevistas Cidadania, como tornar os espaços da TVE do Rio Grande da universidade mais do Sul. “É um programa acessíveis. ao vivo, de meia hora, Batalhem (...) Com um grupo às segundas, quartas e de mais seis comunivocês podem sextas-feiras. No meu cadores, Mariana criou quadro, de três ou fazer de tudo! a empresa de consultoria quatro minutos, falo Tagarellas Audiodescrição de serviços e acessi(tagasblog.wordpress. bilidade”, explica. com), que tem como Embora goste objetivo tornar a cultura muito de trabalhar em TV, Mariana mais acessível para todos. Um exemplo revela que a telinha nunca foi o seu do seu trabalho pode ser visto, ou principal objetivo. “Fico espantada por melhor, ouvido na audiodescrição do estar me saindo tão bem. TV não era filme “Colegas”, vencedor do último o meu plano. Não sei se é bom ser Festival de Cinema de Gramado. “Na reconhecida na rua, tira a privacidade. De Acessibilidade Tagarellas, eu faço um trabalho de divulgação. E ser jornalista, nesse meio, só acrescenta”, afirma. Em parceria com o historiador Felipe Mianes, também com baixa visão, ela produziu, em 2012, o documentário “Olhares”, que retrata o acesso à cultura de pessoas cegas e com baixa visão. Os dois também coordenaram, no primeiro semestre deste ano, o curso de extensão “Audiodescrição e suas Intersecções com a Educação”, ministrado na Faculdade de Educação (Faced) da UFRGS para profissionais de educação, comunicação e cultura. Surpresa com o rumo que a sua vida tomou nos últimos dois anos, Mariana diz que pretende conciliar as aulas na Faced com o jornalismo e lembra que, devido à sua baixa visão, já enfrentou muita resistência das empresas de comunicação. “Mesmo com a minha formação em jornalismo e o mestrado em Letras, além da minha experiência na área, só me ofereciam emprego de telefonista ou de atendente de telemarketing.” Felizmente, ela não desistiu dos seus sonhos, como muitos profissionais perfilados neste espaço, e encerra a entrevista com um chamado às pessoas com deficiência visual que sonham com um lugar de destaque no mercado de trabalho: – Batalhem muito e jamais se acomodem. Não pensem que as coisas são impossíveis só porque vocês têm uma deficiência. Com certas adaptações, vocês podem fazer de tudo. | Conviva | 64 | 9 O fim de uma era para os smartphones Symbian sai de cena, mas sistemas operacionais de Apple e Google são ótimas alternativas Por Laercio Sant’Anna [email protected] Na última década, o leitor de tela Nuance Talks foi soberano, e cegos do mundo inteiro puderam adentrar o universo dos smartphones graças a esse software. No entanto, com o lançamento do Nokia 808 PureView, no fim do ano passado, a fabricante finlandesa anunciou a morte do Symbian e, por consequência, do Talks (compatível com este). O Symbian surgiu no início de 1998, como “uma solução que atenderia a várias companhias”. Como a parceria entre as grandes fabricantes de smartphones não deu certo, somente a Nokia apresentou celulares com esse sistema. Com o lançamento do iPhone, em 2007, e o advento de diversos aparelhos com o sistema Android, a participação de mercado do Symbian caiu consideravelmente. Segundo dados da consultoria IDC, no terceiro trimestre de 2012 o Android era líder com 75% de participação de mercado de smartphones; o iOS, da Apple, possuía 14,9%; o Symbian, 2,3%; e o recém-chegado Windows Phone, 2%. De acordo com a International Data Corporation, no primeiro trimestre de 2013 foram vendidos 418,6 milhões de celulares no mundo (41,6% a mais do que no mesmo período de 2012). Desses, 51,6% (216,2 milhões) foram smartphones, superando a barreira dos 50% pela primeira vez na história. A partir de 2013, a Nokia passou a trabalhar com o Windows Phone, sistema operacional que, infelizmente, até o momento, não oferece nenhuma acessibilidade. Mas, como já comentamos nos Convivaware 58 e 59, os sistemas iOS (Apple) e Android (Google) têm trazido alternativas muito interessantes para as pessoas com deficiência visual. Mobiles em alta O aumento da capacidade de processamento dos aparelhos, aliado à melhora do acesso à internet e à “nova” maneira de comercialização de softwares através das respectivas lojas virtuais compõem o cenário ideal para fazer de um dispositivo com Android ou iOS um sonho de consumo. 10 | Conviva | 64 | Graças à grande oferta de aplicativos gratuitos ou de baixo custo, independente do perfil do usuário, ter um smartphone recheado de bons aplicativos à mão quase sempre é vantajoso. Não raro encontrarmos pessoas querendo comprar um smartphone só para fazer uso de determinado aplicativo. Em relação às pessoas com deficiência não é diferente, é já possível encontrar produtos desenvolvidos especificamente para esse público. Para ter uma ideia, com menos de R$ 500 pode-se adquirir um smartphone com Android e baixar gratuitamente da Google Play (loja de aplicativos do Google) o leitor de tela TalkBack e adquirir uma voz sintética em português do Brasil de alta qualidade por menos de R$ 10. Ou, se dispuser de um dinheirinho a mais, presentear-se com um iPhone da Apple, que já vem com o leitor de tela nativo. O certo é que, de posse de uma tecnologia dessas, o usuário com deficiência consegue se comunicar com muita independência. Vale lembrar que, na época do Symbian, o Talks custava – e ainda custa, afinal, continua à venda uma licença desse leitor de tela para aparelhos Nokia remanescentes dessa plataforma – R$ 495. Isso sem considerar o preço do aparelho, que, hoje, não sai por menos de R$ 400. Compartilhe seus aplicativos É muito comum, nas rodas de conversa, o tema girar em torno das novas descobertas para os smartphones. Por isso, para permanecermos antenados e tirarmos o melhor proveito dos nossos aparelhos, voltaremos em breve a este tema no Convivaware, trazendo dicas de aplicativos para as pessoas com deficiência visual. Para tanto, caso você, leitor(a), entenda que determinado aplicativo é imprescindível, por favor, escreva um e-mail para [email protected]. Terei o maior prazer em compartilhar sua experiência neste espaço. Até a próxima! Oceano De olho em Brasília Em tempos de manifestações e protestos, o site Congresso em Foco é uma ótima dica para o eleitor se informar sobre os principais fatos políticos da capital federal e acompanhar o que se passa no Congresso Nacional, como, por exemplo, o desempenho de cada um dos “representantes do povo”. http://congressoemfoco.uol.com.br Gostoso é pagar pouco Criado em 2012, o P.F. Week toma emprestado o nome do Restaurant Week para divulgar de uma maneira muito descontraída lugares bons e baratos para se comer um bom prato-feito em São Paulo. Porque, como diz o site, gostoso mesmo é comer bem gastando pouco. http://pfweek.tumblr.com Tudo sobre cinema A menina, de biquíni estampado, disparou em direção ao mar pela praia vazia, os cabelos muito loiros e lisos ao sol, que ia e vinha de trás das nuvens, e ao vento quase frio do outono. Devia ter uns seis, sete anos. “Vai, filha!”, gritava a mãe, de maiô escuro e boné vermelho, sobre uma enorme esteira de palha. Era loira também e jovem, mas o que chamava a atenção era a alegria. Lá na frente, pertinho do mar, a menina parou. A água gelada alcançou seus pés, ela deu um gritinho e uns passos para trás. “Vai, Marina!”, insistiu a mãe, enquanto fazia um rabo de cavalo que puxou para cima e escondeu embaixo do boné. “Quer que a mamãe entre com você?”, gritou e foi levantando. “Não, eu vou sozinha, fica aí”, gritou de volta a Marina, com a palma de uma mão estendida para trás. E foi andando firme e entrando na água e cambaleando, caindo e levantando a cada pequena onda que batia na sua cintura. A mãe, em pé, silenciou e ficou olhando. Mas não demorou muito para sair correndo atrás da Marina, entrar aos pulos no mar e agarrar a menina por trás. Agora gargalhavam, os cabelos molhados, uma jogando água na outra, a mãe segurando a filha e as duas saltando cada onda do mar meio cinza. Foi só quando voltaram de mãos dadas e tremendo de frio é que eu pude ver os olhos da Marina e perceber que ela era cega! Soltou a mão da mãe, virou-se e correu de novo para o mar. Lá foi ela, explicando, os braços cruzados no peito: “Aqui fora tá frio, vou voltar lá que tá quentinho!” Vai, Marina... Lucia Maria é jornalista, audiodescritora e autora do blog Outros olhares (outrosolhares.blog.terra.com.br). SHUTTERSTOCK O Internet Movie Database (ou IMDb) é um banco de dados online com todo o tipo de informação sobre filmes, programas de TV e celebridades em geral. Hoje pertencente à Amazon, é praticamente um Google dos filmes, onde o internauta encontra o nome do diretor “daquele filme” ou o nome do filme “com aquele ator”. http://www.imdb.com ADEVA nas redes sociais: twitter.com/adeva1978 facebook.com/Adeva | Conviva | 64 | 11 Um dedo de trova Montanhas se desmanchando... Baixadas virando mar... “Basta!” Diz o homem, quando ele é que tem de parar. Meu coração foi bagual redomão e escarceador. Hoje, manso, lambe o sal da saudade de um amor. Ao roubar da Conceição, um beijinho sorrateiro, tive a nítida impressão de ter beijado um cinzeiro! Meu rio Meu rio, andei sozinho vida fora e volto tão saudoso quão descrente, rever onde brinquei antigamente, até que um sonho meu levou-me embora... Eu, como tu, tive mil afluentes, mas, um a um, se foram... E eis-me agora a recordar contigo as belas horas da infância que não mais se faz presente... Meu rio... Corremos juntos tantos anos... Eu te imitava ao transbordar de planos, porém, por ironia do destino, Hoje, do fundo deste mar de enganos, inda te posso ver, contra oceanos, correndo como eu, quando menino! *Trovas e poema por Lothar Bazanella Cinema em casa: Xingu Passeio: Pinacoteca do Estado Audiobook: Marley & Eu Baseado em uma história real, o filme conta a trajetória dos irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas a partir do momento em que se alistam para a Expedição Roncador-Xingu, parte da marcha para o oeste de Getúlio Vargas, em 1943. Com João Miguel, Felipe Camargo e Caio Blat. Drama. 102 min. DVD com audiodescrição. Oferece acervo e material informativo em braile, áudio e ampliado. Possui audiodescrição, publicação de catálogos em braile e áudio, mediação para visitantes cegos, ambientações, percurso, maquete, mapas e imagens táteis e em alto contraste. Conta ainda com áudioguia da galeria tátil de escultura e guias videntes. Praça da Luz, 2 - tel. 3324-1000. De terça a domingo, das 10h às 18h. Best-seller do jornalista americano John Grogan, o livro, que deu origem ao filme homônimo, conta a história das peripécias do filhote de labrador Marley na vida do autor e sua companheira até o dia em que eles se tornam grandes amigos. Com narração de Luis Melo. 12h /MP3, R$ 32,90. ADEVA - Associação de Deficientes Visuais e Amigos e-mail: [email protected] - site: www.adeva.org.br Correspondência: rua São Samuel, 174, Vila Mariana, CEP 04120-030 - São Paulo (SP)