Remédios em excesso - Paraiba
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Remédios em excesso - Paraiba
ISSN 2358-2340 Setembro/2014 Nº 07 - ANO II www.associacaomedicapb.com Remédios em excesso A interação medicamentosa pode agravar ou provocar enfermidades Pag. 18 O que é importante saber sobre dermatite atópica? Pag. 6 A caixa preta da Medicina Pag. 8 A saúde e o álcool motivam avaliações por cientistas em várias partes do mundo Pag. 22 Canabidiol gera debate sobre a liberação do uso em tratamentos médicos Pag. 36 Clóvis Beltrão, o grande professor Associação Médica da Paraíba Entrevista: Romildo Montenegro, um dos fundadores da Unicred-JP 1 2 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 Prezado leitor, A Revista da AMPB, em sua sétima edição vem, novamente, recheada de assuntos atualizados e palpitantes, por uma única razão: satisfazer os anseios dos nossos patrocinadores, que querem ver as suas divulgações em todos os rincões do nosso estado. Destacamos alguns artigos como Progressos no Tratamento do Câncer com “micro RNA “, o Uso do Canabinol ( derivado da maconha ) como medicamento, os Mitos e Verdades Sobre o Efeito do álcool na saúde, tendo como vilão, o vinho, além de duas importantes entrevistas: uma com o decano da Anestesiologia da Paraíba, Dr. Clovis Beltrão e outra com o Dr. Romildo Montenegro, o responsável maior pelo sucesso e solidez da UNICRED. Destacam-se também matérias relacionadas com a Dermatite Atópica, com o Tabagismo, e com o Uso Indiscriminado de medicamentos. Como reconhecimento por uma vida dedicada à Neurologia Pediátrica do Brasil, dedicamos esta edição ao Pioneiro da Neuropediatria, o inesquecível Dr. Jairo Rodrigues Valle. Por fim, mais vantagens para quem é sócio da AMPB,é que foi firmado convênio com os hotéis Cabo Branco Atlântico e Pipa Atlântico oferecendo oportunidades de lazer a preços reduzidos. Antes de agradecer aos autores dos selecionados artigos aqui apresentados, voltamos a lembrar, que a Revista é mais um espaço para que os colegas médicos e demais profissionais da saúde possam expressar suas experiências e novos conhecimentos de interesse para nossa saúde. Para finalizar deixamos dois segredos: Desvendar os Mistérios da “Caixa Preta” da Saúde e Descobrir as belezas de um passeio pelo Chile. Boa leitura! Roosevelt C. Wanderley Editor Associação Médica da Paraíba 3 ÍNDICE Tempos de mudança 18 Conselho Editorial: Joaquim Paiva Martins Marcus A. Sodré Roosevelt C. Wanderley (Editor) Débora Eugênia Braga Nóbrega Cavalcanti Luciana Trindade Jefferson Carvalho Martins Na prescrição dos remédios, médico deve estar atento à possível interação de medicamentos 06 08 10 16 20 4 Em destaque Caixa preta da saúde: a central de denúncias Diálogo com o médico Pelo Brasil Teste do olhinho 28 30 32 Entrevista Romildo Montenegro, presidente do Conselho de Administração da Unicred fala sobre a evolução da cooperativa Artigos Entendendo a dependência tabágica 22 A saúde e o álcool 24 O que é preciso saber sobre dermatite atópica AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 Presidente: Fábio Antônio da Rocha Souza Vice-presidente: Otávio Sérgio Lopes Secretário geral: Wilberto Silva Trigueiro 1º Secretário: José Alberto Campos Júnior Tesoureiro: Jefferson Carvalho Martins 1º Tesoureira: Maria das Neves Guedes Cavalcanti Bezerra Arte e Cultura: Joaquim Paiva Martins Departamento de Convênios: Luciana Cavalcante Trindade Departamento Científico: Marcus Alexandre Sodré Defesa Profissional: Cláudio Orestes Britto Filho Departamento Social e de Marketing: Débora Eugênia Braga Nóbrega Cavalcanti Diretor de Informática: Roosevelt de Carvalho Wanderley Diretor de Patrimônio: Márcio de Holanda Guerra Diretor de Ações Institucionais de Saúde Púbica: Francisca Estrela Dantas Maroja Consultor de Marketing: Carlos Trigueiro 36 39 História para contar Clóvis Beltrão, o pioneiro da anestesia na Paraíba Vida Social Médico destacado com honraria De malas prontas São Paulo e Chile são boas opções de passeio Visão Científica Endereço para contato: Associação Médica da Paraíba Av. Camilo de Holanda, 821 Centro - João Pessoa –PB A Revista AMPB é uma publicação trimestral da Associação Médica da Paraíba. @Copyright – Associação Médica da Paraíba – Todos os direitos reservados à AMPB www.associacaomedicapb.com PRODUÇÃO EDITORIAL SUPERMÍDIA PRODUÇÃO Parque Solon de Lucena , nº 530,sala 402, Centro João Pessoa-PB Canabidiol: contra ou a favor? CEP 58013-130 | Tele: (83) 3512-5111 O que é o micro RNA? Diretor: Victor Castro D. de Almeida Coordenação Editorial: Naná Garcez Corrigindo Fotógrafo: Olenildo Nascimento O cargo correto do Dr. Alexandre Magno é presidente da Unimed-JP e não superintendente como foi colocado. Contato comercial: Thiago Xavier Diagramação: Thiago Gomes Publicidade: [email protected] Impressão: Gráfica Moura Ramos Tiragem: 3.000 exemplares Associação Médica da Paraíba 5 Sabe o que é a Caixa-preta da saúde? E m março deste ano, a Associação Médica Brasileira (AMB), Sociedades de Especialidade, Associações Médicas Regionais e outros parceiros lançaram o Caixa Preta da Saúde, um espaço colaborativo, na internet, com a “finalidade receber e compilar denúncias do caos em que se encontra a saúde no Brasil”. Embora, desde 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS), pela Constituição, deva assegurar aos brasileiros assistência gratuita e universal para questões de saúde, os pacientes ficam anos na fila de espera para cirurgias e exames. Não há infraestrutura e faltam medicamentos e até materiais básicos para atender a população. Segundo as informações divulgadas no evento de lançamento, o SUS desativou quase 42 mil leitos nos últimos sete anos Ranking: mais de 3.200 denúncias em cinco meses O site Caixa-Preta da Saúde possui um ranking de estados e municípios que recebem o maior número de denúncias. Até o mês de agosto, São Paulo está na frente, com 1.096 denúncias, seguido de Minas Gerais, com 343; Bahia, com 335; Rio de Janeiro, com 311 e em quinto lugar se encontra o Rio Grande do Sul, com 171 denúncias. A Paraíba está em 14º lugar, com 45 denúncias registradas. 6 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 e o Ministério da Saúde deixou de utilizar R$ 17 bilhões em 2012, no setor, afirmando que não tem recursos para investir em melhorias. Assim, a Associação Médica Brasileira (AMB), junto às Sociedades de Especialidade, Associações Médicas Regionais e parceiros, decidirammapear os problemas da saúde pública do Brasil e estimular a população a denunciar as condições encontradas nos hospitais, postos de atendimento e demais unidades de saúde. De fácil utilização, basta clicar no mapa e enviar a denúncia. A equipe do projeto caixa-preta da saúde fará a análise do material e, após esta análise, a denúncia entrará na web. A AMB e parceiros não pretendem resolver os problemas do setor somente com o Caixa-Preta da Saúde, mas sim mostrá-los como realmente são, dando voz aos que mais precisam – os usuários do sistema público de saúde. “Nosso interesse maior é mostrar a realidade do que está acontecendo no país. Em postos de saúde, hospitais, UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento)”, disse o presidente da AMB, Florentino Cardoso. “Queremos possibilitar que a população do país inteiro se manifeste”, completou, na época. Quem fizer uso do site CaixaPreta da Saúde, no entanto, deve ler o termo de uso e cessão de direitos, para estar ciente das normas estabelecidas para a sua utilização, para envio de informações, reclamações, sugestões, fotos, vídeos, etc, relativas às situações vivenciadas. O usuário vai declarar dados pessoais verdadeiros, pois informações falsas ou de terceiros sujeitará a pessoa a penalidades legais. A ECO CONSTRUÇÕES INFORMA: EM BREVE O MAIOR CENTRO MÉDICO DO ESTADO ESTARÁ EM PLENO FUNCIONAMENTO Todas as especialidades médicas em um único lugar. Muito mais praticidade, comodidade e acessibilidade para cuidar da saúde. v 07 Andares de estacionamento rotativo Hospital Dia para cirurgias de baixa e média complexidade 06 elevadores com drive regenerativo de energia Cafeteria e lojas no térreo Miramar: Entre a Av. Ruy Carneiro e Epitácio Pessoa UM EMPREENDIMENTO DA www.ecoconstrucoes.com.br (83) 2246.1242 | 3022.7100 Investimentos sólidos, compromisso com você Associação Médica da Paraíba 7 Diálogo com o médico Nossa sede própria: um sonho e uma realidade que começa a ser construída E m outubro de 2007, quando assumi a presidência deste sindicato junto com uma diretoria experiente, no momento que sentei na cadeira de presidente da nossa sede alugada em frente à UNICRED/JP, um dos primeiros pensamentos que me veio à cabeça era porque ainda não tínhamos uma sede própria? Mas naquele momento o desafio era outro, resgatar o sentimento de importância que o SIMEDPB tem a frente da nossa categoria, obstáculos que foram enfrentados por todos os presidentes e diretorias que já passaram por nossa entidade. Trazido para o movimento sindical com muita honra pelo meu amigo pessoal Dr. José Demir, presidente do SIMEDPB, em 2003/2006, em que muito espelho nas horas difíceis de encarar a tão difícil missão. O sonho da sede própria já começara na sua gestão e tenho certeza que na dos que lhe antecederam também. Enfim, toda entidade tem que ter sua sede própria e hoje o SIMEDPB dá mais um grande passo para esta conquista, que não é mérito de um presidente ou de uma diretoria, mas, sim, de um quadro social que contribui, mensalmente, para que possamos ter um sindicato forte. Nosso lema sempre será “SINDICATO FORTE SÓ COM VOCE SINDICALIZADO”. Em 2012 conseguimos adquirir o terreno para construção da sede, o local é estratégico, já que fisicamente irá unir as três maiores entidades representativas da categoria médica: SINDICATO, CONSELHO E ASSOCIAÇÃO. Sem dúvida alguma, mais do que nunca, estas três entidades terão uma missão grandiosa: a de 8 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 evitar que nossa profissão continue sendo aviltada pelas grandes mídias que, na maioria das vezes, estão a serviço dos governos de plantão. Não queremos o confronto, pelo contrário, sempre buscaremos o diálogo para resolver as diferenças de opiniões sobre os males que afligem a saúde da população e as condições de trabalho da profissão médica. A realidade que se inicia este ano, com a construção da nossa sede própria, mostra que estamos no caminho certo, trabalhamos com os pés no chão e sem vaidade. O mais importante é que todos os médicos compreendam que, para termos um sindicato forte, é preciso participar e contribuir de todas as formas, não só financeiramente, mas, principalmente fortalecendo a união de toda a categoria. Porque, quando dois ou mais sonham juntos, esse sonho tem grande chance de se tornar realidade. Agradeço em nome desta diretoria “Avançando na União da Categoria Médica”o apoio de todos que confiaram em nosso trabalho e conclamamos para o médico que ainda não é sócio a se sindicalizar e desfrutar dos benefícios de serem sócios. Mais informações acesse nosso site:www.simedpb.org.br Feliz Dia do Médico e que São Lucas continue nos guiando na nossa missão e que DEUS, na sua infinita bondade, continue protegendo os médicos, médicas e as nossas famílias. Médico Forte, só sindicalizado! associe-se ao siMed/PB Fortaleça seu sindicato e tenha benefícios, como assessoria contábil e jurídica, além de outras vantagens. www.simedpb.org.br Atenciosamente, Av. Camilo de Holanda, nº 821 João Pessoa/PB Telefone: (83) 8832 8278 Tarcísio Campos Saraiva de Andrade Presidente do SIMEDPB Apoio: conheça nossos seguros de vida e previdência ASSOCIATIVISMO AMPB Unida em defesa dos médicos, elege nova diretoria Quando assumiu a Associação Médica da Paraíba (AMPB), o patologista Fábio Rocha buscou dar um novo ritmo à entidade, num processo de recuperação administrativa, estabelecendo uma gestão compartilhada. Outro importante ponto foi o apoio à luta pela valorização da classe médica, inclusive, no tocante à garantia de melhor remuneração salarial, além de atrair cursos de pós-graduação, ministrados na sede da entidade. “Conseguimos tornar a AMPB menos dependente financeiramente, buscando caminhos para ter a sua autonomia financeira. Participamos ativamente do momento nacional, discutindo situações que determinam um verdadeiro massacre da classe médica pelo governo federal e pelos convênios. A luta por uma carreira de Estado para os médicos é uma realidade. A quebra do cartel das operadoras de saúde do País também gratifica os dirigentes médicos”, afirma o médico acrescentando que tem convicção que a nova diretoria fará muito pela classe. O dermatologista Otávio Sérgio Lopes, eleito presidente da AMPB, assume com a disposição de resgatar a credibilidade da entidade frente aos médicos paraibanos e a sociedade a partir de um plano de metas que será perseguido e cita como exemplo, a política de valorização profissional, a oferta de serviços aos associados como escritório jurídico, cursos de educação continuada e pósgraduações stricto e lato sensu. Segundo ele, o médico paraibano vive, talvez, a pior fase da vida profissional, pois está inserido no contexto de graves problemas no sistema de saúde pública e suplementar, enfrenta sucessivas perdas políticas como a lei do Ato Médico, que foi aletrada pela presidente Dilma, o Mais Médicos, o excesso de escolas médicas, a intransigência dos entes de governo federal, estadual e municipal em abrir um canal de diálogo com as entidades. Fabio Rocha destaca a gestão participativa que realizou com os demais diretores Otávio Sergio pretende fazer uma administração com serviços para o sócio “A uma luz no fim do túnel é a união de todas entidades médicas, com o propósito de levantar a autoestima dos nossos colegas e resgatá-los para uma participação firme em nossas entidades”, observa o médico que entende ser a atribuição maior da AMPB a educação médica, assim como a política de honorários na saúde suplementar. Mas, essas ações passam pela participação dos associados. “Pedimos aos colegas que venham participar conosco e construamos juntos uma entidade forte e de credibilidade”, conclui. Associação Médica da Paraíba 9 Teste do Olhinho O exame é simples, rápido e indolor, fazendo a identificação de um reflexo vermelho, que aparece quando um feixe de luz ilumina o olho do bebê. O fenômeno é semelhante ao observado nas fotografias. Para ver o reflexo o eixo óptico deve estar livre, sem obstáculo à entrada e à saída de luz pela pupila. O teste detecta a alteração que causa obstrução no eixo visual, como catarata, glaucoma congênito e outros problemas. A identificação precoce permite o tratamento no tempo certo e o desenvolvimento normal. Desde junho de 2010, o pagamento do “Teste do Olhinho” pelos planos de saúde é obrigatório, segundo decidiu a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) Imagem: prefeitura-itaborai.blogspot.com PELO BRASIL http://www.sbp.com.br/show_item2.cfm?id_categoria=17&id_ detalhe=1728&tipo=D Cartilhas educativas Febre Reumática, também A Sociedade Brasileira de Reumatologia desenvolveu cartilhas com orientações especializadas que refletem o parecer de suas Comissões. Uma delas trata da Artrite Psoriásica. A psoríase caracteriza-se pelo aparecimento de lesões avermelhadas, escamosas, que acometem principalmente joelhos, cotovelos e couro cabeludo, mas podem surgir em qualquer parte do corpo. Alguns lembretes são recomendados aos pacientes: respeite o limite de sua dor, evite carregar muito peso, realize suas atividades com boa postura; divida as tarefas não realizando tudo de uma vez, faça sempre suas atividades, lembrando-se de conservar energia para a próxima A Febre Reumática é uma doença inflamatória que pode comprometer as articulações, o coração, o cérebro e a pele de crianças de 5 a 15 anos. É uma reação a uma infecção de garganta por uma bactéria conhecida como estreptococo. A infecção é caracterizada clinicamente por febre, dor de garganta, caroços no pescoço (gânglios aumentados) e vermelhidão intensa, pontos vermelhos ou placas de pus na garganta. A criança, geralmente maior de três anos de idade, poderá apresentar a infecção como qualquer outra criança e, geralmente, de uma a duas semanas depois começa a se queixar da Febre Reumática. O risco dela sofrer o comprometimento do coração aumenta na medida em que outros surtos ocorrem. Assim, tarefa, proteja suas articulações do esforço desnecessário; não fique por muito tempo na mesma posição, movimente-se e; por fim, não fique acima do peso ideal. Fonte :http://www.reumatologia.com.br/PDFs/Cartilha_Artrite_ Psoriasica.pdf 10 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 o agravamento deste comprometimento, pode levar à cirurgia para troca da valva cardíaca. A cada surto novo de Febre Reumática o coração irá piorar. Fonte: http://www.reumatologia.com.br/PDFs/Cartilha_Febre_ Reumatica.pdf Associação Médica da Paraíba 11 Alimentos x diálise A Sociedade Brasileira de Nefrologia oferece orientações nutricionais à pessoa que faz diálise, a partir de uma alimentação saudável “planejada com alimentos de todos os tipos, de procedência conhecida, preferencialmente natural, preparada de forma a preservar o valor nutritivo e os aspectos sensoriais”. Os alimentos devem ser aqueles que a família tem o hábito de comer, em quantidade e qualidade para suprir as necessidades nutricionais e calóricas. Para pessoas que fazem diálise, a correta alimentação interfere no tratamento dialítico.Quando os rins não funcionam, substâncias como potássio, fósforo, uréia, só- dio e água vão se acumulando no sangue. A maior quantidade destas substâncias causa problemas como fraqueza nas pernas, diminuição do crescimento, palidez da pele, coceira no corpo todo, cansaço fácil, inchaço e diminuição da urina. A diálise ajuda muito, mas não trabalha como o rim saudável. Então, não dá para tirar o excesso desses nutrientes A alimentação fornece os nutrientes em quantidades adequadas para manter um bom estado nutricional. É recomendável conversar com o médico para saber como estão os exames de sangue e depois falar com o nutricionista para obter uma orientação nutricional. http://sbn.org.br/publico/orientacoes-nutricionais Como saber? Algumas pessoas se indagam como saber se têm risco de ter doença renal crônica. Perguntas básicas ajudam a encontrar a resposta. São elas: Você é diabético? Tem pressão alta? É obeso (a)? Sua mãe, pai, irmão(s) ou irmã(s) têm ou tiveram insuficiência renal? Algum médico já lhe disse que você tem proteinúria? Responder sim a alguma dessas perguntas indica risco de ter doença renal e o melhor caminho é procurar o médico de sua confiança, fazer o exame de urina com dosagem da creatinina no sangue. Caso tenha doença renal, o tratamento deve ser iniciado imediatamente, para manter os rins funcionando. http://sbn.org.br/informacoes-doenca-renal Como saber? Esquecer de cuidar dos pés com as temperaturas baixas é comum, porém os descuidos facilitam a descamação, o ressecamento e as fissuras, que contribuem para a incidência de doenças dermatológicas, como micoses (frieiras e doenças das unhas), machucados com infecções secundárias por bactérias (piodermites) e calosidades por traumas ou doenças virais, com episódios de sangramentos. Quadros graves podem ocorrer em diabéticos ou portadores de hanseníase, paralisias dos membros inferiores ou com dificuldades de locomoção. Por isso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica recomenda: 1) Hidratação adequada: é importante o uso de cremes para manter a maciez dos pés – preferencialmente após o banho; 2) Exame minucioso da planta dos pés: devem ser realizados pelo paciente, por um familiar ou um especialista; 3) Calçados e meias apropriados: para que não machuque ou agrave lesões préexistentes nos pés. Calçados apertados ou que mantenham grau de umidade e temperatura mais altos que o recomendável podem induzir a problemas infecciosos; 4) Corte aprimorado das unhas. .Saiba mais em: http://www.sbcd.org.br/noticia/2599 12 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 Associação Médica da Paraíba 13 ENTREVISTA Romildo Montenegro Presidente do Conselho de Administração da UNICRED/JP Por Naná Garcez Unicred JP é uma das maiores cooperativa de crédito do país ‘‘Eu lembro que quando a gente procurava um colega, se dizia que médico não sabe administrar dinheiro, que não ia dar certo...” 14 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 Fundada há 21 anos, entidade tem 10.500 cooperados e está em expansão. O cardiologista Romildo Montenegro é um dos seus fundadores. Ele foi do conselho fiscal, da comissão de crédito, exerceu a diretoria executiva. Agora, é presidente do Conselho de Administração, que define a estratégia de atuação da entidade. O conselho se reúne todo mês para analisar os resultados, as ações, a carteira de crédito e inadimplência. O médico formou-se em 1977, na UFPB.Depois fez residência e especialização em São Paulo. Ao voltar, em 1982, montou o consultório e passou a trabalhar no Hospital Universitário, com exames não invasivos, teste ergométrico e perícia médica. Como foi a formação da Unicred-JP? A Unicred é de 1989, mas começou a funcionar mesmo em 1993, que foi quando o Banco Central liberou para funcionar. Quando abrimos, ela tinha apenas 27 cooperados, mas três eram funcionários da Unimed de João Pessoa e como não eram médicos, o Banco Central não aceitou, porque tinha que ser uma cooperativa específica da especialidade, dos médicos. Na realidade, começamos mesmo a funcionar a 1993, mas, em 1990, já estava constituída. Hoje, temos 10.500 cooperados e a área de atuação vai de João Pessoa até a Alagoa Grande, ou seja, vamos do Litoral e até Brejo, no limite de Alagoa Grande, porque, de Alagoa Grande até Campina Grande já é área da Unicred Campina Grande. Unicred tem. Temos taxas excelentes e isso atrai muito. O que é preciso para ser cooperado? É preciso ser indicado por outro cooperado. Depois, tem que passar por uma análise, ver se tem o trabalho direito, ver se não tem pendência na Serasa e se a parte para o cadastro. Recolhemos todos os documentos necessários e levamos para reunião no Conselho de Administração, onde é liberado o ingresso. Agora, a pessoa tem que fazer um aporte, que pode ser de R$ 770,00 por mês. Esse é o r mínimo, podendo chegar a um valor mais elevado de R$ 2.000,00, R$ 3.000,00, porque as pessoas sabem que o capital aqui é bem remunerado e tem um retorno importante. A nossa conta corrente é remunerada, através de nossas sobras, porque a gente sabe que é um dinheiro que não tem custo” A carteira de operações financeiras é diversificada? Sim. Temos previdência privada, LDC, pode fazer aplicações com restituições importantes. A nossa sobra é devolvida. A nossa conta corrente é remunerada, através de nossas sobras, porque a gente sabe que é um dinheiro que não tem custo, então, a gente remunera. E, isso já chegou até duas vezes a caderneta Mas, atualmente, a Unicred-JP aceita pessoas que não são mais da especialidade médica? É, em 2001, foi quando comecei como gestor e existia um projeto para tornar a cooperativa aberta. Então, levamos para a assembleia, foi aprovado e abrimos para a área de Odontologia. Em 2002, quando levamos o nosso resultado para assembleia ,como aumentou bem com a Odontologia e se abriu para toda a área de saúde. Depois, em 2009, fizemos a solicitação para o Banco Central para fazer uma cooperativa de livre admissão e o Banco Central liberou. Assim, a Unicred-JP, foi a primeira das Unicreds de uma capital a ser aberta para todas as pessoas que se quiser admitir. Quais são, então, as outras categorias? Temos engenheiros, temos um trabalho importante na área da Justiça, com os magistrados, advogados, promotores, desembargadores. Visitamos todos os tribunais e estamos trabalhando em todos eles, principalmente com o empréstimo consignado. A Unicred João Pessoa tem uma boa fatia do mercado de empréstimo consignado, por conta dos tribunais e da Universidade Federal da Paraíba. Quais os serviços financeiros prestados? Tudo o que uma instituição financeira tem, nós temos. Financiamos Toda a parte de residência, consultórios, reformas, a Associação Médica da Paraíba 15 ENTREVISTA de poupança. Isso cria um grau de satisfação enorme perante os cooperados. É por isso que os cooperados ficam ansiosos pela assembleia do final do ano, porque sabem que vai ter uma distribuição de sobras muito importante e que vai remunerar todos os produtos que têm aplicados na Unicred João Pessoa. Quantas unidades tem a rede de atendimento para saques e outros serviços? Temos a sede, no bairro da Torre, uma agência muito confortável no Mag Shopping e que já está pequena. Por conta disso, estamos construindo uma agência Como é o atendimento no interior do Estado? Temos um escritório em Guarabira e alugamos uma sala no shopping de Guarabira, que, em outubro/ novembro estará pronto. Nessa área ficará a Unicred JP, Casa da Cidadania, Lojas Americanas e Supermercado Bonanza. É um shopping com uma praça da alimentação muito grande e numa parceria com o sr. Ivanildo, da Guaraves, vamos atuar em Guarabira. Ele cedeu uma área fora do shopping para a gente fazer uma reunião com empresários, jantar com todos os empresários da cidade e cidades vizinhas, porque os habitantes das cidades próximas Aqui, pelo menos 70% dos cooperados, se conhece um a um, pois se eu não conheço, outro conselheiro ou diretor conhece’’ e a Caixa econômica, que são milhões de conta, isso é difícil. Aqui, pelo menos 70% dos cooperados, se conhece um a um, pois se eu não conheço, outro conselheiro ou diretor conhece. Romildo Montenegro já está aposentado como médico do Hospital Universitário no Retão de Manaíra, que ser a Agência Praia, que vai ter perto de 90 vagas no estacionamento. Ali em Manaíra tem um movimento muito grande de construtoras, consultórios, clínicas, comércio, lojas da Edison Ramalho, que trabalham com a gente. Em 2015, vamos inaugurar essa agência. Temos no Hospital da Unimed e no Hospital Universitário e vamos começar a construir uma agência, no Campus Universitário na área de Saúde, para atender melhor, também, o pessoal da UFPB, que tem um empréstimo consignado muito importante conosco. 16 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 fluem para Guarabira para fazer negócios e a Unicred João Pessoa não poderia estar de fora disso. Futuramente, pensamos na área de Cabedelo e Santa Rita. Tem inadimplência? Não pode uma instituição financeira não ter inadimplência. Tem, mas é muito pequena em relação às outras instituições financeiras. Isso cabe ao critério que usamos em termos de concessão de empréstimo e ao conhecimento que nós temos com os cooperados. Numa instituição financeira como o Banco do Brasil De quem foi a ideia de fazer uma cooperativa de crédito para os médicos? Foi do dr. Azevedo, do Rio Grande do Sul. Ele criou a Unicred, dentro da Unimed, na cidade de Cascas. Depois, diante do sucesso que obteve, ele percebeu que poderia desenvolver esse trabalho em nível de Brasil. Foi uma pessoa muito atuante no cooperativismo, já está bastante idoso, mas, ainda participa de reuniões e vem recebendo prêmios. O dr. Azevedo veio a João Pessoa e, por coincidência, eu era diretor financeiro da Unimed João Pessoa, em 1989, então, através de Reginaldo Tavares, ele nos procurou - eu, Wilson Morais e Aucélio Gusmão. Tivemos dificuldade de juntar 20 médicos. Foi muito difícil no começo, porque para abrir uma cooperativa tem que juntar 20 cooperados. Eu lembro que quando a gente procurava um colega, se dizia que médico não sabe administrar dinheiro, que não ia dar certo, mas, juntamos 20 médicos, entre eles José Eymard Medeiros, Reginaldo Tavares, eu, Wilson Ribeiro de Morais, João Gomes Batista e Teotônio Santa Cruz Montenegro. Então, a cooperativa é surgiu dentro da Unimed João Pessoa? Criamos a cooperativa, que começou a funcionar numa sala, O município sede de João Pessoa e as cidades de Alagoa Grande, Alagoinha, Alhandra, Araçagi, Baía da Traição, Bayeux, Belém, Caaporã, Cabedelo, Caiçara, Caldas Brandão, Capim, Conde, Cruz do Espírito Santo, Cuité de Mamanguape, Cuitegí, Curral de Cima, Duas Estradas, Guarabira, Gurinhém, Itabaiana, Itapororoca, Jacaraú, Jacumã, Juarez Távora, Juripiranga, Lagoa de Dentro, Logradouro, Lucena, Mamanguape, Marcação, Mari, Mataraca, Mogeiro, Mulungú, Pedras de Fogo, Pedro Régis, Pilar, Pilõezinhos, Pirpirituba, Pitimbu, Riachão do Poço, Rio Tinto, Salgado de São Félix, Santa Rita, São José dos Ramos, São Miguel de Taipu, Sapé, Serra da Raiz, Sertãozinho, Sobrado e Tacima. dentro da Unimed João Pessoa. Mudamos para uma casa que ficou pequena logo. Para se ter uma idéia, eram três mesas de diretores, numa sala de 3 x 4 metros quadrados. Não existia uma reserva, um sigilo, porque tem pessoas que não querem que você saiba quanto tem na cooperativa, quanto está trazendo de dinheiro. E, quando construímos essa sede, muita gente achou que era grande e, hoje, é pequena. Qual a situação da Unicred João Pessoa, em termos nacionais? Temos aqui uma coisa importante, que é a sede da Unicred Regional e está no nosso estado, sendo o presidente o dr. Wilso Ribeiro de Morais, que foi o primeiro presidente da Unicred João Pessoa. Hoje, são 28 cooperativas de crédito vinculadas à Unicred Regional, que vai até o Pará. A atuação é Norte e Nordeste. Temos cooperativas Hoje, são 28 cooperativas de crédito vinculadas à Unicred Regional, que vai até o Pará. A atuação é Norte e Nordeste” importantes, como a de Fortaleza, de Recife, de Campina Grande e a de João Pessoa, que, modéstia a parte, é a melhor cooperativa do Nordeste! Inclusive, recebemos uma relação do Banco Central, em termos de cooperativas de crédito do País, estamos entre as 50 maiores. O nosso capital gira acima de R$ 100 milhões e, em ativos, temos perto de R$ 600 milhões. A nossa carteira de crédito está perto de R$ 450 milhões. Temos depósito a vista, a prazo, etc. Dentro do Sistema Unicred, a de João Pessoa fica sempre entre o primeiro, o segundo e o terceiro lugares. Aliás, já ocupou o primeiro lugar várias vezes. E, a Medicina? Em nenhum momento desde que estou na Unicred eu deixei de atender aos meus clientes. Reservo a manhã à Unicred até às 13 horas, mais ou menos. E a partir daí vou para o consultório. Sou cardiologista clínico. Tenho uma clientela muito boa. Dentro de João Pessoa já passo de 20 mil clientes. Trabalho no mesmo local desde 1982. Sou consciente de que esse trabalho na Unicred é passageiro. Outras pessoas estão sendo formadas, fazendo parte dos conselhos de administração, fiscal e da comissão de crédito. É um grupo unido, interage muito bem. Existe uma confiança e credibilidade entre todos e daí o sucesso da cooperativa. Associação Médica da Paraíba 17 prevenÇÃO Tempo de Mudanças C omo saber se analgésico, antiinflamatório, hipotensor, diurético, ansiolítico, antidepressivo, antibiótico, qualquer outro medicamento, que tencionamos prescrever ao nosso paciente vai dar certo? Na verdade nenhum medico no mundo que consulta um paciente pela primeira vez, tem segurança de que não ocorrerão reações adversas. Medicina não é uma ciência exata. Ao contrario “É uma ciência de incertezas e uma arte de probabilidades”, afirmou o grande médico canadense Sir William Osler (1849-1919). Uma dessas reações conhecidas como “efeitos colaterais” podem ser previsíveis e geralmente dependem da dose (superdosagem), do prolongamento do efeito farmacológico não monitorado (hemorragia com anticoagulantes, hipoglicemia com antidiabéticos, sonolência dos ansiolíticos, hipotensão com hipotensores, hemorragia digestiva pelo uso demorado de aspirina etc.) e de Interações Medicamentosas (InMed) incompatíveis ou seja reações indesejáveis quando duas ou mais drogas são prescritas ao mesmo tempo ou quando a àquele doente que já está tomando um ou mais fármacos acrescentarmos outro(s). Os não previsíveis ocorrem por hipersensibilidade ou alergia como o choque anafiláctico, idiossincrasia (sensibilidade peculiar a um determinado produto) e intolerância (reação mais branda que não depende da exposição previa). Alertamos que muitas mortes que já ocorreram à noite durante o sono nem sempre tiveram como causa o que muita gente imaginou, “infarto ou aneurisma” e sim “uso de drogas” por qualquer Hipersensibilidade a medicamentos afeta 12% da população. Analgésicos e antiinflamatórios são os campeões de reações desagradáveis que podem ser fatais se ocasionarem choque anafilático com edema de glote e parada cardiorrespiratória” via até mesmo instilação nasal se o desditoso costumava ingerir muitos comprimidos por dia. Sejamos prudentes, se necessário for medicar um idoso em atendimento pela primeira vez cujas funções cardio-circulatorias, hematológicas, hepáticas e renais forem desconhecidas. Devemos iniciar com doses baixas e em monoterapia. Evitar associações de inicio. Nunca dar um tiro de “doze” para acertar o alvo. Recebo com muita freqüência em meu consultório pacientes em idade avançada, sobrecarregados de medicamentos, que tomam cerca de 10 a 20 18 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 comprimidos diariamente. Um deles aos 78 anos de idade não se detinha em pé. Entrou no consultório nos braços de filhos e netos. Depois de avaliá-lo constatei que a grande maioria de suas queixas estava relacionada a InMed incompatível. Tudo começou ao procurar um colega devido ao “esquecimento”. Por conta desta queixa recebeu uma receita de um medicamento em dose “respeitável” que provocou alguns efeitos adversos entre estes “irritabilidade” e “tontura”. Seu medico foi comunicado, mas os interpretou como “novos sintomas” e incontinenti lhe prescreveu dois fármacos a mais. A partir daí, qualquer queixa do paciente era acompanhada de novas prescrições. Continuou piorando e os familiares resolveram procurar outro especialista que achou conveniente receitar mais dois fármacos ao seu já “pesado” regime terapêutico. Um terceiro colega foi consultado e deu prosseguimento a POLIFARMACOTERAPIA (PFT) já instituída e bastante avançada. Nesta altura o paciente já tinha atingido a “incrível” marca de 20 comprimidos por dia. Essa historia vem se repetindo com muita freqüência Conclusão: esse senhor estava tomando medicamento para tratar efeito adverso de medicamento! Por sorte ele era resiliente, pois seu sistema cardiocirculatório, fígado e rins estavam em bom estado. O que me deixou perplexo foi que nenhum dos colegas “parou para pensar” e fazer a suspeita de “intoxicação medicamentosa” devido às múltiplas drogas, superdosagem e incompatibilidade farmacológica, pelo simples fato de ignorar estas reações. Diante deste quadro iniciei a suspensão gradual dos fármacos que estavam provocando as reações indesejáveis, interpretada por eles como “sintomas de doenças” mantendo apenas os essenciais até atingir duas drogas diárias apenas. A melhora foi tão evidente que retornou ao consultório andando com seus próprios pés. Qual a origem desse fenômeno que há muito tempo vem incomodando e prejudicando a tantos pacientes? Onde estão as raízes desse procedimento, habito ou comportamento medico de prescrever medicamentos desenfreadamente, incontrolavelmente? Poderíamos responder em forma de um conto: “Era uma vez... nas antigas escolas medicas... os organizadores da estrutura curricular que não tiveram professores que os despertassem para a necessidade da disciplina de Farmacologia clinica e que por isso lhes faltaram os alicerces para dedicar o devido valor a essa matéria no curso medico e assim proporcionar uma carga horária suficiente para que os futuros médicos prescrevessem medicamentos com segurança para seus pacientes... Portanto a explicação para esse comportamento está nos primórdios do ensino medico, na eterna deficiência na grade curricular da matéria que nos ensina a medicar, a Farmacologia Clinica. A Farmacologia Clinica que pode ser chamada também de Farmácia Clinica tem como objetivo proporcionar conhecimentos científicos e práticos de Farmacologia relacionados aos mecanismos fisiopatológicos das doenças, a maneira de atuação dos medicamentos com seus possíveis riscos e promover o uso racional deles. Esse conto que não é de Trancoso, essa história que não é surreal e sim verdadeira continua se repetindo, mesmo nas tradicionais Faculdades publicas. Se acontece nestas, o que dizer das escolas sem qualquer compromisso com o ensino eficiente que estão tendo seu funcionamento autorizado irresponsavelmente pelo MEC? Esta falha do ensino não é apanágio só da graduação, mas também na pós-graduação. Suponho que essa imperfeição da estrutura curricular já tenha sido percebida, mas não exposta dessa maneira. A solução de hoje em diante, seria a contratação pelas escolas medicas de professores dessa área de atuação. Ou então, todo medico durante a graduação deveria fazer um curso paralelo ou após ser diplomado, uma pósgraduação nessa disciplina. Aí sim completaria sua formação. Do jeito que está não pode continuar. Não somos alertados para o grau de complexidade das terapias medicamentosas, em estágios, residência médica, mestrado e acredito até mesmo no doutorado. Em alguns países do primeiro mundo como a Inglaterra o “ATO DE MEDICAR” é tão relevante que existe o Farmacologista Clinico que trabalha em parceria com o medico no difícil e nobre ato de prescrever. Quando iremos atingir este nível acadêmico-científico-cultural em nosso País? Deveríamos proceder assim como no Reino Unido ter o farmacêutico clinico como parceiro, encaminhando-o o paciente para avaliação dos medicamentos que prescrevemos. Precisamos de humildade, reconhecer nossa deficiência e pedir ajuda. Já dizia Francisco Candido Xavier “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”. Como estamos em pleno exercício profissional atuando em clinicas, consultórios, ambulatórios e hospitais com serias dificuldades para um recomeço, proponho uma saída: “tentar recuperar essa irregularidade do aprendizado, pelo menos nos tornando autodidatas”. A Internet está aí para substituir a ausência do professor de Farmacologia clinica. Estou já há algum tempo nessa missão de cobrar uma postura dos recém-formados e dos mais experientes. O pensador Eduardo Galeano nos dá uma força: “Somos o que fazemos, mas somos muito mais o que fazemos para mudar o que somos”. Vamos dar inicio a uma mudança. Provérbio chinês diz: “Longa viagem começa com simples passo”. Podemos começar pelo menos consultando a bula convencional ou eletrônica, antes de prescrever. Não se envergonhe deste ato. Muito pelo contrario, considere-o uma atitude de humildade, um reconhecimento de que não sabemos medicar porque não aprendemos. Esta ação demonstra seu respeito à vida humana. Você esta praticando “Humanismo em Medicina”. Vamos derrubar de vez o mito: “Quem lê bula não toma remédio”. Partindo do principio de que sabemos as indicações, vamos procurar nos inteirar da InMed na bula a nossa frente, porque na maioria das vezes recebemos o paciente polimedicado (não esqueça de fazer uma lista dos seus fármacos com as dosagens). Já é um bom início. Termino com uma poesia de Fernando Teixeira de Andrade: Tempo de Mudanças “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas... Que já tem a forma do nosso corpo... E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares... É o tempo da travessia.... E se não ousamos fazê-la.... Teremos ficado.....para sempre.... À margem de nós mesmos...” Marco Aurélio Smith Filgueiras Neurologista CRM 1368 Marco Aurélio Smith Filgueiras Filho Estudante de Medicina Associação Médica da Paraíba 19 ARTIGO Entendendo a dependência tabágica Tratar o tabagismo não se restringe apenas à redução da vontade de fumar O hábito de fumar não se resume ao prazer fugaz produzido pela ação dopamínica da nicotina. Ele é, essencialmente, um novo comportamento inserido na rotina de vida do fumante. O tabagismo envolve duas dependências: 1 - Física, de natureza biológica, que está ligada aos sintomas da Síndrome de Abstinência da Nicotina quando o tabagista tenta largar o cigarro. 2 - Psicossocial Está relacionada ao mecanismo de adaptação para lidar com situações como solidão, frustração, pressões sociais; associada à hábitos de comportamento com o fumar( fumar e dirigir, pós cafézinho e refeições, álcool, fumar e trabalhar); ligada ainda ao aumento do consumo nas ansiedades, distonias e depressões; vinculada à situações de ruptura da harmonia emocional produzida pelos estresses do dia a dia. Tratar o tabagismo não se restringe apenas à redução da vontade de fumar (abordagem medicamentosa). O sucesso de um programa de cessação do tabagismo está na sua capacidade de romper com a dependência psicossocial, objetivo essencial da terapia cognitivo-comportamental (TCC). As muitas frustrações no tratamento medicamentoso estão conectadas 20 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 com a ausência de uma intervenção na dependência psicossocial. Estudo realizado por Vasquez&Becoña conclui: “Em termos de estabilidade, 48,9% dos que participaram do tratamento com TCC permaneceram sem fumar após seis anos, enquanto apenas 28,8% do grupo controle continuavam abstêmios”. A nossa experiência com o Programa de Cessação do Tabagismo que alia a TCC à abordagem medicamentosa nos estimula a afirmar que, em cada grupo de dez tabagistas, oito permanecem sem fumar durante um ano. Considerando a facilidade de acesso a um tratamento competente, largar o cigarro tornou-se uma mera questão de decisão do fumante. Sebastião Costa Pneumologista CRM -1630 ARTIGO As afecções vasculares cerebrais na infância A s afecções cerebrovasculares em crianças e adolescentes usualmente são diagnosticadas em Serviços de Pronto-Socorro, de Pronto Atendimento, em Unidades de Terapia Intensiva Infantil e em berçários de risco. Porém, o encaminhamento dessas crianças para hospitais terciários, com recursos laboratoriais diferenciados e dinâmico serviço de imagens, tem permitido o diagnóstico de acidente vascular cerebral (AVC) com caracterização do tipo: isquêmico ou hemorrágico, bem como a extensão do comprometimento estrutural. No lactente normal, o fluxo sanguíneo cerebral é 60 a 80 ml/100g de tecido cerebral, por minuto. Em condições anormais, no transcorrer de súbita redução do fluxo, ocorre isquemia regional cerebral associada a um conjunto de modificações metabólicas, edema citotóxico, alterações de neurotransmissores excitatórios, inibitórios, comprometimento da homeostase do cálcio e dos radicais livres. Na criança, o quadro clínico inaugural pode se caracterizar por súbito comprometimento motor, de linguagem, com ou sem manifestações convulsivas, seja no acidente vascular cerebral isquêmico arterial (AVCI), ou no hemorrágico (AVCH). O AVCI arterial predomina em crianças com idade inferior a quatro anos, em particular naquelas abaixo de um ano, sendo os sintomas e sinais frequentemente subvalorizados pelos profissionais que fazem o atendimento inicial. O diagnóstico deve sempre ser confirmado com exames por imagens, complementados por estudos cardiológicos e laboratoriais, visando a identificação dos fatores de riscos. Recentemente, o International Pediatric Stroke Study-IPSS divulgou uma mensagem, alertando que: AVC pode ocorrer em qualquer idade, chamando atenção para os fatores de riscos associados a condições genéticas ou adquiridas e, mesmo indeterminadas, em crianças com diagnóstico de AVC. Valorizam as anormalidades cardíacas, as protrombóticas, as infecções prévias, traumas de cabeça e pescoço, anemia falciforme e erros inatos do metabolismo. Na verdade existe possibilidade de serem identificados diversos fatores de risco concomitantes, em especial, em determinadas doenças pediátricas sob tratamento prolongado, e com possibilidade de ocorrer trombose sinovenosa. Recentes estudos têm reconhecido eventos cerebrovasculares ocorrendo: 1-no feto (14ª semana de gestação até o desencadear do parto); 2- neonato, com elevada frequência (28ª semana de gestação a 28 dias de vida pós natal); 3- na criança; 4- em adolescente. No feto, o AVC pode ser reconhecido pelo US fetal, no último trimestre da gravidez, sendo importante identificar fatores de risco maternos, drogas ilícitas, fatores placentários, gemelaridade, síndrome do roubo, etc. No neonato, o quadro clínico agudo se manifesta após 24-48 horas do nascimento, com apneia, hiperexcitabilidade, crises convulsivas, letargia, sucção diminuída e hipotonia, sendo o território da artéria cerebral media, frequentemente acometido. Qual o impacto do AVC nos familiares de crianças envolvidas? Diante da comprovação, as repetitivas perguntas desses familiares esperam uma resposta que sugira a possibilidade de recuperação total da criança. Porém, essa resposta envolve conhecimento da estrutura comprometida, o território e a extensão da lesão, aliada às condições de maturidade do cérebro em desenvolvimento. Nessa perspectiva, os profissionais observando e avaliando a evolução clínica da criança, devem priorizar a curto, médio e longo prazo, ações de reabilitação motora fonoaudiológicas, neuropedagógicas, comportamental. Esses questionamentos precisam ser respondidos com certa objetividade frente às angústias dos familiares. Na evolução, as crianças podem apresentar anormalidades sensório-motoras, comprometimento neuropsicológico, associada ao maior ou menor risco de epilepsia. A trajetória de vida dessas crianças deve envolver atividades que beneficiem o aprendizado adequado para aquisição do autocuidado e independência apropriados. Maria Valeriana Leme de Moura Ribeiro Professora Titular de Neurologia Infantil FCMUNICAMP. Professora Associada de Neurologia, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -USP Associação Médica da Paraíba 21 Atualidade A saúde e o álcool Por Joaquim Paiva Martins N a mitologia grega Baco é o deus do vinho e da fecundidade. Ainda hoje se denominam bacanais as orgias regadas a muito álcool, mulheres e sexo. Na Roma antiga também havia festins licenciosos em homenagem a Baco de três em três anos. Os séculos se passam, e o álcool continua na crista da onda em quase todas as comemorações da era moderna e a sociedade uma parceira sempre incentivando o seu consumo que se espraia por todos os recantos do mundo com raras exceções. O álcool é motivo de avaliações e investigações por cientistas e investigadores mundo afora, examinando as pistas deixadas pelo seu consumo exagerado ou não. Apesar de ser uma poderosa droga que induz dependência também a outras drogas e a doenças graves quando 22 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 consumido em excesso, o álcool continua um lenitivo para muita gente com a complacência das autoridades.Face às controvérsias, os viciados que adoram as duvidas continuam apegados às incertezas com argumentos para manter a depravação (o réu usufrui da dúvida). O tema álcool é abordado em vários textos da Bíblia. Em Provérbios 20:1 encontramos: “o vinho é escarnecedor, e a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio” Em Isaias 5:11: “ai dos que se levantam de manhã, e seguem a bebedice, e se demoram até a noite, até que o vinho os esquenta”. Em Salmos 104:15, no entanto, há uma passagem que diz: “é o vinho que alegra o coração do homem mortal”. Embora a Bíblia não proíba o consumo de bebidas alcoólicas, isto não significa que podemos ingeri-las à vontade. Nos tempos bíblicos não havia o uísque nem a cerveja, a bebida era o vinho. Fica evidente que a Bíblia não condena o consumo de bebidas alcoólicas, mas o seu consumo exagerado. Os beberrões não herdarão o reino de Deus (Coríntios 6:9). Beber vinho fazia parte da celebração da Páscoa, e Jesus promoveu o vinho quando realizou a Refeição Noturna do Senhor. Estendeu um copo aos seus discípulos dizendo: “bebei dele todos vós”. Na singular festa em que faltou vinho, Jesus obrou um milagre transformando água em vinho e, segundo João 2:9, 10 o “diretor da festa” em conversa com o noivo elogiou a água milagrosamente feita vinho dizendo: “todo homem põe primeiro o vinho bom, e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho”. Pesquisas recentes mostram que isoladamente o álcool oferece o mesmo grau de proteção ao coração que a atividade física. Imaginem as duas normas usadas em conjunto? Uma publicação semanal de grande circulação nacional publicou recentemente um estudo feito na Dinamarca com mais de 10 mil homens e mulheres. Durante duas décadas eles foram divididos em grupos: os que ingeriam álcool e os abstêmios. Algumas conclusões confirmaram o que se sabia empiricamente: 1) o álcool aumenta a concentração do colesterol HDL, o colesterol bom que compete com o colesterol LDL, o ruim; 2) o álcool aumenta a proteção cardiovascular que o exercício físico proporciona; 3) o álcool contribui para a redução da hipertensão arterial. Os resultados ainda não são definitivos e carecem de novas comprovações. Infelizmente não podemos estimular pacientes ao consumo de bebidas alcoólicas, mesmo nas doses recomendadas, isto é, uma dose de uísque ou um copo de vinho tinto ou duas latinhas de cerveja por dia, por exemplo. Atualidade O álcool inebria, extasia e pode deixar dependência. Há outras razões para se abster de álcool. Um ex-alcoólatra sabe que até mesmo uma única dose de bebida pode ser perigosa. Uma mulher grávida não deve tomar bebidas alcoólicas para evitar danos ao feto. A lei seca está aí para evitar os resultados trágicos e funestos que podem ocorrer quando se dirige alcoolizado. Está provado e documentado que graves doenças hepáticas são decorrentes do consumo exagerado e às vezes até moderado do álcool. A Bíblia recomenda moderação em todos os sentidos. Em Corintos 10:31: “quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa faça todas as coisas para a glória de Deus”. A conceituada e prestigiada revista de medicina americana “New England Journal of Medicine” publicou há pouco tempo um editorial sobre os benefícios e malefícios do álcool do qual transcrevemos alguns tópicos. “O álcool ocupa um lugar exclusivo em muitas sociedades humanas: é droga amplamente usada, tolerada social e fisiologicamente, tem destaque em muitos cerimoniais religiosos, em rituais, em celebrações espontâneas e em transações comerciais de alto nível, mas também contribui de maneira concreta para o desenvolvimento de doenças, de violências, de desordens sociais e também contribui para a mortalidade. A humanidade tem consumido o álcool regularmente nos últimos 10000 ou 15000 anos. Como a gordura e o açúcar, o álcool é raro “em natura” e não existe um mecanismo biológico que iniba o seu consumo excessivo”. A alegria da embriaguez e da abstinência tem produzido uma verdadeira confusão de pensamentos através da história da humanidade. Alguns destes pensamentos têm sido para louvar as saudáveis conseqüências do consumo do álcool: “Tome um litro de vinho por amor ao seu estômago” (Saint Paul). “Há mais velhos alcoólatras do que velhos doutores” (provérbio Francês). Somente recentemente foram descobertos dados, comprovados cientificamente, do impacto do álcool na saúde pública. A American Câncer Society fez uma correlação entre as causas de morte associadas ao consumo do álcool em um enorme grupo de homens e mulheres. Apesar dos índices reduzidos de morte por doenças cardiovasculares entre aqueles que consumiam álcool, um efeito aparentemente não relacionado à quantidade, os benefícios globais em termos de mortalidade atingiram um pico máximo entre aqueles que consumiam um drink por dia. Aqueles com mais de 60 anos tiveram o risco aumentado. Aquelas pessoas com alto risco de doença cardiovascular o álcool seria uma terapia preventiva de escolha quando associada a um regime apropriado de exercício e dieta adequada. Finalmente chegou-se a conclusão que o resultado final só nos fornecia dados acerca do consumo moderado de álcool. Apesar da convicção de que existe um mecanismo de proteção entre aqueles com aumentado risco de doença cardiovascular, o consumo do álcool aumenta consideravelmente a probabilidade de acidente, violência e vários tipos de câncer em todos os consumidores de bebida alcoólica. Fridman e Klatsky em 1993 já haviam publicado que o consumo regular de quantidade exagerada de álcool é prejudicial a qualquer pessoa, porém o consumo baixo ou moderado pode reduzir os riscos de doença, dependendo das características individuais. A morte por doença cardiovascular pode até ser adiada, mas o limite para o consumo benéfico ainda não pode ser estabelecido. Não existe um freio biológico para o consumo do álcool. Ainda mais, quando consumido exageradamente, o individuo perde a capacidade de avaliar as doses que está ingerindo. A conclusão de Freidman e Klatsky: o controle humano do consumo do álcool é social e cognitivo (capacidade de percepção e entendimento). Finalizando, os antecedentes familiares sempre devem ser valorizados, pois existe uma predisposição familiar para o alcoolismo. O assunto é complexo e merece novos textos com novos enfoques. Joaquim Paiva Martins CRM - 482 Nefrologista Associação Médica da Paraíba 23 ARTIGO Imagens: atlasdermatologico.com.br (publicado com autorização do autor) Dermatite atópica: o que é importante saber? A dermatite atópica, também conhecida como eczema atópico, caracteriza-se como processo inflamatório da pele de curso crônico com períodos de crise e de acalmia. Encontra-se freqüentemente associada à asma e/ou rinite alérgica e, eventualmente, à urticária. Pode ocorrer na infância, na adolescência e na idade adulta. Na infância, fase mais comum desta doença, manifesta-se inicialmente como lesões de pele na face. Em adolescentes e adultos é mais comum o acometimento de dobras, como as dos antebraços, dos joelhos e do pescoço. A dermatite atópica apresenta como sintoma coceira, que piora com a transpiração, além de secura e lesões vermelhas na pele, que podem apresentar bolhinhas, crostas e escoriações, que funcionam como porta de entrada para bactérias. Na dermatite atópica há alterações da sudorese e do manto de gordura que protege 24 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 Recomendações gerais: Identificar os fatores de risco que ajudam a desencadear as crises para evitá-los. A prevenção é a melhor forma de combater a dermatite atópica; Tomar banhos rápidos, frios ou mornos, de preferência, e usar pouco sabonete. Além disso, o dermatologista pode indicar sabonetes mais específicos para cada caso que ajudam a preservar a barreira cutânea; Aplicar hidratantes (especialmente após o banho em casa ou de piscina) para impedir o ressecamento da pele; Preferir as roupas de algodão às de lã ou fabricadas com tecido misto ou sintético; A parte mais importante em relação ao tratamento da dermatite atópica encontra-se justamente nos cuidados com a pele que, em geral, é seca por deficiência de uma parte da gordura natural que protege nossa pele. Desse modo, é importante tomar banhos rápidos, frios ou mornos, com pouca aplicação de sabonete e aplicar cremes hidratantes após o banho e com maior frequência. A evolução da dermatite atópica varia de pessoa para pessoa, mas tende a melhorar com o crescimento da criança” Manter abertas as janelas e portas para que o ar circule pelos ambientes; Procurar assistência médica tão logo surja algum sintoma para evitar que o quadro se agrave. a superfície da pele, o que determina uma pele mais seca que o normal e, portanto, mais desprotegida. A pele do atópico também tem um limiar de coceira mais baixo que o de pessoas não atópicas, portanto, os atópicos apresentam uma coceira mais intensa e duradoura e em áreas mais extensas. Ambientes secos, frio ou calor excessivos, assim como fatores ambientais (substâncias irritantes, poeira domiciliar, conservantes, produtos de limpeza, produtos usados na lavagem das roupas, tecidos de lã e sintéticos), alimentares e psicológicos (conflitos emocionais) contribuem para piora dos pacientes. O diagnóstico é clínico, levando em consideração os sintomas, a história familiar e a associação com outras atopias (rinite alérgica, asma e urticária, por exemplo). A evolução da dermatite atópica varia de pessoa para pessoa, mas tende a melhorar com o crescimento da criança. Caso necessário, e a critério do médico que acompanha o caso, podem ser indicados cremes para o corpo e medicamentos antialérgicos. Antibióticos só devem ser utilizados quando houver infecção bacteriana e, por vezes, há a necessidade de medicamentos imunossupressores, que acalmam o sistema de defesa do nosso organismo. O dermatologista é o médico mais indicado para o acompanhamento destes pacientes. Dra Flávia Estela Maroja Marinho CRM PB 6430 - RQE 4191 Médica graduada pela Universidade Federal da Paraíba Membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia Associação Médica da Paraíba 25 ROTA DO CONHECIMENTO OUTUBRO Programe-se Na agenda de seminários, simpósios, congressos, existem vários eventos científicos. XXXI SBR 2014 Congresso Brasileiro de Reumatologia Data: 01 a 04 de outubro Local: Minas Centro – Avenida Augusto de Lima, 785 Informações: www.reumato2014.com.br 18º Congresso Brasileiro de Infectologia Pediátrica Local: Gramado/RS Data: 15 a 18 de outubro Informações: www.infectoped2014.com.br 18/10/2014 - XVII Curso Internacional de Atualização em Terapia Intensiva Adulto, Pediátrica e Neonatal – Medicina, EnFermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia e Odontologia. Data: 18 e 19 de outubro de 2014 Local: Hotel Maksoud Plaza Informações: www.sopati.com.br NOVEMBRO Hemo Congresso Brasileiro de Hematológia, Hemoterapia e Terapia celular Data: 6 a 9 de novembro de 2014 Local: CentroSul – Sala Sambaqui 5 - Florianópolis, SC Mais informações: www.hemo.org.br 1º Congresso Brasileiro de Nutrologia Pediátrica 4º Simpósio Internacional de Nutrologia Pediátrica Data: 13 a 15 de novembro Local: Florianopólis, SC Informações: www.nutroped2014.com.br 22º Congresso Brasileiro de Perinatologia Data: 19 a 22 de novembro Local: Brasília/DF Informações: www.perinato2014.com.br 26 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 www.associacaomedicapb.com Associação Médica da Paraíba 27 Clóvis Beltrão, O grande professor Dr. Clóvis foi professor assistente de Farmacologia na então Faculdade de Medicina da UFPB na década de 1970 Por Mabel Dias Fotos: Olenildo Nascimento A história da anestesiologia como especialidade médica, na Paraíba, tem início com o Clóvis Beltrão de Albuquerque. Mas, a escolha por esta especialidade aconteceu por acaso. Ele era interno – algo como um médico residente hoje, na Maternidade da Encruzilhada, em Recife, e foi convidado pelo diretor clínico Iremar Falcone, para ser o anestesista da casa. “Aceitei com a condição de ficar morando na maternidade, aí já economizava o dinheiro da pensão onde morava”, conta. Devido a sua dedicação a Medicina, foi recomendado pelo médico Newton Lacerda para receber uma bolsa de estudos, em Anestesiologia, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). 28 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 Então, viajou para a capital paulista, mas não conseguiu a vaga no HC, que já estava preenchida. O médico Reinaldo de Figueiredo, na época, diretor do Hospital das Clínicas, percebeu a dedicação do jovem anestesista, e lhe fez uma proposta: ficar em São Paulo e se preparar para um concurso de interno no serviço de Anestesiologia da USP. Clóvis Beltrão topou e conseguiu ser aprovado em 2º lugar (só tinham duas vagas). Ele trabalhou no HC por um ano e meio e, ao mesmo tempo, cursava Farmacologia. “Esta é uma disciplina fundamental para um anestesiologista”, afirma o médico, que concluiu o ensino fundamental no Pio X e o médio no Lyceu Paraibano. Natural de Alagoinha, na época distrito de Guarabira, chegou em João Pessoa em 1936. Mesmo recebendo convites para trabalhar em outras cidades, Clóvis Beltrão decidiu retornar à Paraíba. Chegando a João Pessoa, trouxe novidades que começariam a mudar o cenário da Anestesiologia no estado. O ano era 1954 e, naquela época, os pacientes eram sedados com éter, colocado em uma máscara de Ombredanne. Ele conta que muitos ficavam sufocados pela substância e acabavam morrendo e talvez por isso, talvez deva vir daí o medo das pessoas de cirurgias e da própria anestesia. Graduado pela Faculdade de Medicina do Recife, quando retorna a João Pessoa, começa a atuar profissionalmente no Hospital Santa Isabel. Com 28 anos, foi convidado pelo professor Guilhardo Martins Alves para ser assistente na disciplina de Farmacologia da Faculdade de Medicina da UFPB. Com a transferência de Guilhardo para disciplina Terapêutica, Clóvis Beltrão foi contratado como professor catedrático, e depois, titular. Lecionou na UFPB por 30 anos e depois se aposentou. A evolução da anestesia na Paraíba Até meados da década de 50, a maioria das anestesias na Paraíba era aplicada por cirurgiões, atendentes de enfermagem e freiras. Usava-se clorofórmio, como éter, pelo método gota a gota sob máscara, como a de ombredanne. As técnicas foram se aperfeiçoando, a partir dos pioneiros da Anestesiologia, como Clóvis Beltrão. A partir daí, as cirurgias passaram a ser mais seguras. O éter deu lugar aos medicamentos, como a procaína e chegaram os aparelhos imprescindíveis para manter estável o paciente, durante os procedimentos cirúrgicos. A anestesia era aplicada de maneira intravenosa. Entre estes equipamentos estava o oxímetro, o de pressão e o eletrocardiógrafo. Os hospitais de João Pessoa não tinham os aparelhos, e então, os anestesistas os portavam sempre com eles. Além da procaína, havia também o curare, substância extraída das plantas, e que os franceses sintetizaram criando a golamina, outro medicamento utilizado pelos anestesiologistas nas cirurgias. Dr. Clóvis Beltrão é entusiasta da anestesia de bloqueio, como a raquianestesia, mais conhecida como rack. Ele conta que criou uma nova modalidade da rack, a “rack saci”. A anestesia é aplicada na coluna, porém, o paciente é colocado em uma posição que faz com que o liquido seja direcionada apenas para a perna que será amputada, deixando-a dormente. Esta técnica Clóvis Beltrão aprendeu em São Paulo. Em março de 1964, com a chegada de Jurandyr Marques, João Pessoa contava com seis anestesiologistas: Clóvis Beltrão, Ferdinando Paraguay, José Moura, João da Silva, Clócio Beltrão (irmão de Clóvis) e Antônio de Araújo Ramos, para dar cobertura a cerca de dez hospitais. Era desproporcional a quantidade de profissionais para o número de hospitais e Clóvis Beltrão era um dos mais requisitados anestesistas da cidade. “Eu estava na fazenda, em Alagoinha, com a família e o telefone tocava me chamando para uma cirurgia, a qualquer hora”, conta. O cansaço era frequente. Por isto, ele decidiu começar a preparar seus alunos do curso de Medicina da UFPB para o acompanhar nas cirurgias. Fundação do Instituto de Anestesiologia Fundou com José Gomes, Antônio Ramos e Ferdinando Paraguay, o primeiro serviço de Anestesiologia da Paraíba, que funcionava na Av. Maximiano de Figueiredo e depois, na Av.Pedro II. Dessa maneira, pode oferecer uma maior assistência aos hospitais. Em 1969, a Paraíba dava os primeiros passos para a fundação de um serviço de neurocirurgia, e o médico José Alberto Gonçalves da Silva, da Faculdade de Medicina da UFPB, convidou Clóvis Beltrão para ir com ele até a Universidade de Mains, na Alemanha, fazer um curso de especialização em Anestesiologia em Neurocirurgia. Passou oito meses na Alemanha, e quando retornou ao Brasil, fundou o primeiro Serviço de Neurocirurgia da Paraíba. Clóvis Beltrão de Albuquerque foi pioneiro da Anestesiologia na Paraiba e, após a criação por ele e seus colegas, dos serviços de anestesia no estado, começaram a surgir as cooperativas de anestesistas, como a Coopanest, atual entidade representativa da categoria. Hoje, devido à evolução e estudos, o anestesiologista é o profissional essencial antes e durante uma cirurgia e os riscos que faziam parte deste procedimento são coisa do passado. Ele foi um dos fundadores do Serviço de Anestesia da Paraíba e da Cooperativas de Anestesiologistas da Paraíba Associação Médica da Paraíba 29 VIDA SOCIAL Por Débora Cavalcanti Médico destacado com honraria A Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) homenageou, em junho, o cardiologista Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes com a Medalha Epitácio Pessoa, a mais importante honraria do Poder Legislativo. O deputado Wilson Braga (PV), autor da propositura, elogiou o trabalho do médico, que tem atuado na Paraíba no tratamento das doenças relacionadas ao coração. Débora Cavalcanti, Luciano e Maísa Cartaxo e Mônica Rocha UPA Célio Pires de Sá, no Valentina Figueiredo REGISTRO No dia 21 de agosto último, o prefeito de João Pessoa inaugurou a UPA que tem como objetivo prestar assistência de urgência aos moradores da zona sul. A nova Unidade de Pronto Atendimento tem excelente estrutura física e teve a obra iniciada pelo então secretário de Saúde, Adalberto Fulgêncio (que atualmente responde pela Secretaria de Articulação Política do Município de João Pessoa) e concluída sob o comando da Drª Mônica Rocha, atual secretária de Saúde. 30 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 Dr. Dalvélio de Paiva Madruga e Dr. Norberto Silva Neto foram reconduzidos aos cargos de conselheiros do Conselho Federal de Medicina, eleitos com grande maioria dos votos dos médicos paraibanos. Os Drs. Rosalvo Zózimo e Arlindo de Carvalho Júnior estão no comando da nova faculdade de Medicina, do UNIPÊ. O Dr. Jean Pereira, oncologista clínico, coordena o Grupo Paraibano de Câncer de Mama que reúne mastologistas, oncologistas, patologistas e radiologistas, estudiosos na área. 100 anos de Napoleão Laureano Durante as comemorações do centenário de nascimento do médico Napoleão Rodrigues Laureano, idealizado do Hospital de Câncer Napoleão Laureano, o presidente da Fundação Laureano, dr. Antônio Carneiro Arnaud, foi homenageado na Câmara dos Vereadores de João Pessoa, com o diploma de honra ao mérito. Eleição AMPB No dia 28 de agosto, os associados da AMPB elegeram a nova diretoria para o triênio 2014/2017. Pela primeira vez, em 90 anos de existência, a Associação Médica da Paraíba será presidida por um dermatologista e a vice será ocupada por uma mulher. A chapa eleita foi a seguinte: Presidente: Otávio Sérgio Lopes; Vice-Presidente: Débora Eugênia Braga Nóbrega Cavalcanti; Secretário Geral: Cláudio Orestes Britto Filho; 1ª Secretária: Luciana Cavalcante Trindade; Tesoureiro: Márcio de Holanda Guerra; 1º Tesoureiro: Cássio Virgílio Cavalcante de Oliveira; Departamento de Arte e Cultura: Joaquim de Paiva Martins; Departamento Científico: Gláucio Nóbrega de Souza; Departamento de Defesa Profissional: Ronald de Lucena Farias; Diretor de Patrimônio: Islan da Penha Nascimento; Diretor Social e Marketing: Roosevelt de Carvalho Wanderley; Diretor de Informática: Geraldo de Almeida Cunha Filho; Departamento de Convênios: Fábio Antônio da Rocha de Souza; Diretor de Ações Institucionais e Saúde Pública: Sebastião de Oliveira Costa; Delegados junto à AMB: Wilberto Silva Trigueiro (titular) e Marcus Alexandre Sodré (suplente); Conselho Fiscal: Eurípedes Sebastião Mendonça de Souza, João Modesto Filho, Paulo Sérgio Régis Toscano, Roberto Magliano de Morais e Sandra Maria de Carvalho Barros. LUTO A Medicina Paraibana teve grandes perdas recentemente: Dr. Augusto de Almeida Filho, Dr. José Alberto Gonçalves da Silva, Dr. Leônio Sérgio de Souza, Dr. Ozaes de Barros Mangueira e Drª Maria de Lourdes de Britto Pessoa(foto ao lado), que foi entrevistada na primeira edição da Revista AMPB. Associação Médica da Paraíba 31 DE MALAS PRONTAS São Paulo e Chile, uma viagem diferente Por José Mário Espínola P rezados amigos: para variar, gostaríamos de oferecer nosso singelo relato de uma curta porém rica experiência que vivenciamos, recentemente. O problema era: o que fazer com dinheiro curto e pouco mais de uma semana de férias? Decidimospassar quatro dias em São Paulo, e cinco dias no Chile, país que tínhamos vontade de “conhecer”. Pois a primeira vez que lá estivemos foi em 1976, ainda estudantes, numa viagem de muitas aventuras (um dia eu conto!). Anualmente visitamos São Paulo. Temos muitas afinidades: lá moramos quatro anos. Fizemos residência médica. De lá guardamos uma bela recordação: nosso segundo filho é paulistano.mÉ a oportunidade de assistir filmes italianos e do cinema alternativo, que dificilmente passa por aqui. Também para ir ao teatro, ver belas exposições; e beber chopp escuro! 32 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 Desta vez ficamos num hotel um pouco mais modesto que os que vocês costumam frequentar, porém, muito bem situado: o Hotel Massis, o qual recomendamos. Muito limpo e seguro: não tem baratas, nem piranhas. Fica na primeira paralela da Av. Paulista, ao lado da Rua Augusta, logo atrás do Center 3, olhando para o relógio-termômetro do Conjunto Nacional. Pertinho do metrô Consolação. Como nosso tempo era curto, tivemos que otimizá-lo. Só deu para poucos passeios. Visitamos os museus do Ipiranga, de Zoologia, da Língua Portuguesa, da Casa Brasileira (na Brigadeiro Faria Lima), e o novo e imperdível Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu. Desta vez só deu para assistir dois filmes (o argentino Dois Irmãos, e o italiano Vincere, ambos excelentes); dois documentários (sobre Oscar Niemeyer e Cartola); e três exposições: uma sobre a Jovem Guarda, no metrô Hospital conhecemos o Mercado municipal: bela arquitetura, preste atenção aos vitrais. Lá, comemos muito bem. Provamos do famoso pastel. E tomamos chopp escuro!” das Clínicas; outra chamada “Que Chita Bacana!”, no Museu da Casa Brasileira; e a última sobre Higiene& Asseio, no hall do Conjunto Nacional. Ah, sim: conhecemos o Mercado municipal: bela arquitetura, preste atenção aos vitrais. Lá, comemos muito bem. Provamos do famoso pastel.E tomamos chopp escuro! No Chile, que só conhecíamos Arica, no extremo norte, permanecemos apenas cinco dias. Porém, foram inesquecíveis. Em Santiago ficamos nos hotéis Maria Angola e Neruda, os quais também recomendamos. Ambos são limpos, muito confortáveis, e ficam pertos de estações de metrô. Fizemos um excelente passeio panorâmico pela cidade. Belíssima! Santiago parece asséptica, e tem como pano-defundo a cordilheira (nevada!) dos Andes; porém, esta não é vista com facilidade, devido à névoa de poluição que recobre a cidade. Depois visitamos os museus de História Nacional (excelente!) e da Imagem e do Som (fraco). Jantamos no Restaurante Giratório, aonde apreciamos uma truta, seviche, salmão, e um peixe muito gostoso chamado congrio. Tudo regado a um bom vinho nacional (deles!), da uva carmenère. É melhor no final da tarde/começo da noite. O panorama é belíssimo. E o momento é inesquecível. Fomos também ao Mercado Central (bom, porém, muito inferior ao de São Paulo). Passeamos pelo centro histórico, pela moderna Av. Bernardo O’Higgins, pelo coração financeiro (lá, o cambio é mais vantajoso); o Palácio La Moñeda (aonde assassinaram Salvador Allende); e pelas imediações do Cerro Santa Lúcia, no Centro, aonde apreciamos, por exemplo, a beleza arquitetônica da Academia de Belas Artes. Assistimos a uma retreta na Plaza de Armas, pela Banda dos Carabineros, enquanto piruávamos algumas partidas de xadrez. Zanzamos pelos parques e praças da cidade, conhecendo logradouros maravilhosos, como a Plaza de la Libertad de Prensa, no bairro Concha y Toro, e o Cerro San Cristobal. A Plaza Brasil é passeio imperdível, repleta de crianças, cachorros e brinquedos infantis, tudo multicolorido. Uma alegria! Conhecemos, ainda, o fantástico Parque das Esculturas: área verde repleta de belas e instigantes esculturas modernas, entre árvores representantes de quase todos os países do mundo: cedro do Líbano, jacarandás da Bahia, Ginko e cerejeiras do Japão, sequóias dos Estados Unidos, chorões das beiras dos rios do México, entre outras. E tudo identificado, por placas em suas bases e por uma grande placa na entrada, com um mapa indicativo de cada planta ou escultura, para facilitar a localização pelo visitante. Fizemos um passeio ao litoral: primeiro à cidade-balneário de Viña Del Mar, aonde visitamos o Museu da Ilha da Páscoa, com seu moai. Depois, um parque municipal muito florido, com um amplo e moderno anfiteatro, e homenagens a Pablo Neruda e a Gabriela Mistral, ambos Prêmios Nobel. E, na praia, fomos recebidos por outra retreta, com músicos uniformizados tocando belas marchas e dobrados célebres. Lá, tive meu único contato com o Oceano Pacífico (apenas o dedo, pois estava muito frio!). Havia muitos pelicanos, com ovoo suave e sincronizado. De lá, fomos ao vizinho e importante porto de Valparaíso, conhecer a Casa e Museu de Pablo Neruda, num elevado de onde se pode descortinar uma ampla vista, do porto e do litoral. Neruda tinha três casas: uma em Santiago, outra na Isla Negra, e esta de Valparaíso. Todas mui interessantes. Acreditamos que vocês já conheçam o Chile. Senão, vão A Plaza Brasil é passeio imperdível, repleta de crianças, cachorros e brinquedos infantis, tudo multicolorido. Uma alegria!” conhecer. Depois disso, terão dificuldade para voltar à Argentina, ou mesmo a São Paulo. As diferenças são muitas. O chileno é um povo educado, leve, alegre, espontâneo. Lá, você não encontra machões latinos, nem gente com complexo de grandeza. Nem com complexo de inferioridade, em relação aos brasileiros!O tratamento reservado aos turistas é diferenciado, especialmente a nós brasileiros. O país é rico e progressista, sem no entanto afetar as relações humanas. Lá, tudo é mais barato que aqui. Come-se e bebe-se muito bem. As cidades são MUITO limpas, o metrô parece uma sala de cirurgia!Vimos apenas três mendigos em TODO o nosso passeio. E nenhum flanelinha!! E olha que não visitamos as pistas de esqui, as vinícolas e os lagos andinos! Será um novo destino para nós, pois ao Chile em breve retornaremos. Associação Médica da Paraíba 33 Homenagem Póstuma À augusta alma do dr. Augusto de Almeida Por Por Sebastião Aires de Queiroz Membro da “APP” e da APMED Grande perda, inesperada, Amplamente lamentada, Pela classe e Academia; Por amigos e parentes; Por seus diletos clientes De clínica e de cirurgia. À nossa universidade, E à local sociedade Muitos serviços prestou, E, em nossa capital, Foi fundador de hospital A que a vida dedicou. Foi exímio cirurgião, Com clínica formação, E notável professor. Exerceu a profissão, Com ética e vocação, Com humanismo e com amor. Era devotado ao lar, Pai de família exemplar E amigo dos amigos, A todos tratava bem, Numa fez mal a ninguém, Não cultivou inimigos. Era culto e inteligente, Hábil e proficiente, Em sua especialidade, Que a muito ensinou, E nela, a muitos, formou, Na honrada faculdade. Externamos condolências E a Deus pedimos clemências Para sua augusta alma. A Ele, saudoso adeus, Que no Céu, mansão de Deus, Viva, em paz, em doce calma. Faleceu o fundador da Associação Brasileira de Neuropsiquiatria Infantil Faleceu no dia 04 de julho passado, no Rio de Janeiro, o médico Jairo Rodrigues Valle, que foi presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Associação Brasileira de Neuropsiquiatria Infantil (ABENEPI), além de ser titular das Academias Brasileira de Pediatria, Fluminense de Medicina e Brasileira de Medicina de Reabilitação, bem como membro da Academia Americana de Pediatria e da International Child Neurology Association. Formado, em 1944, pela Faculdade Nacional de Medicina, hoje UFRJ, foi o primeiro médico residente do Brasil, tendo ficado em primeiro lugar no concurso do Instituto Fernandes Figueira. Fez, em seguida, residência no Hospital dos Servidores do Estado (Função de Pediatria). De 1950 a 1951, cursou Neuropediatria na Universidade de 34 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 Chicago (EUA), onde frequentou o Serviço Prof. Douglas Buchanan, no Bobs Roberts Memorial Hospital for Children. Dr. Jairo foi chefe dos Serviços de Pediatria do Hospital dos Servidores (HSE), da Policlínica do Rio de Janeiro e trabalhou como neuropediatra no Hospital São Zacharias (Santa Casa de Misericórdia). Na sua produção científica, destacam-se alguns títulos: “O Coma na Infância”; “Manifestações Neurológicas nas Hemopatias Infantis”, e participação no capítulo “Convulsões” do livro “Pediatria Essencial” do professor Azor José de Lima. Na SBP, fundou o Departamento Científico de Neurologia da SBP. Também escreveu o livro de genealogia “Família Rodrigues Valle” e a biografia do Professor Dr. Luiz Torres Barbosa. Foto: Alexandre Durão Dr. Jairo Rodrigues Valle, ao centro, em 12 de outubro, no encerramento do 1º Congresso de Médicos Residentes em Pediatria, no Rio de Janeiro VISÃO CIENTÍFICA: Regras de publicação Neste espaço publicamos, a cada edição, dois artigos científicos, inéditos, baseados em experiências de consultórios, pesquisas em literatura especializada sobre o tema tratado. Os textos em corpo 12, fonte Times New Roman, estão limitados ao máximo de sete páginas para cada um, incluindo as ilustrações e referências. O objetivo é contribuir para o crescimento profissional dos que se interessam pela questão evidenciada, assim como desmistificar os preconceitos em relação à determinadas patologias. O texto encaminhado será submetido à apreciação do Conselho Editorial para a decisão sobre a sua publicação. Com relação às ilustrações serão excluídas imagens impactantes, pois esta revista vai circular entre leigos, assim como se evitará a publicação de fotografias que violem a privacidade dos pacientes. A divulgação dos artigos é de exclusiva responsabilidade dos seus autores, que automaticamente renunciam a qualquer bônus financeiro advindo desta publicação. Associação Médica da Paraíba 35 VISÃO CIENTÍFICA Canabidiol: contra ou a favor? E ste artigo foi escrito com o objetivo de clarear as ideias a respeito da utilização medicinal do Canabidiol (CBD), substância derivada do Cannabis Sativa, a popularmente chamada maconha. Antes que você, leitor, pergunte se as autoras são usuárias da maconha, já respondo: NÃO. Se nós somos especialistas deste assunto? também NÃO. Este trabalho foi elaborado por uma professora de Odontologia da Universidade Federal da Paraíba e duas alunas do mesmo curso. Você também pode perguntar se somos a favor ou contra da utilização medicinal dessa substância? Não vamos responder ainda. Este tema tem aparecido com tanta frequência nos noticiários, que tivemos a curiosidade de ler e escrever esta pauta, pedindo licença aos leitores de expor nossos pensamentos. Não queremos ser pretenciosas, desejamos apenas que ao final deste artigo você possa conhecer um pouco da história da maconha, seus efeitos e refletir porquê tantas famílias reivindicam, atualmente, o uso medicinal desta substância para melhorar o diaa-dia dos seus. A Cannabis Sativa está dentre as primeiras plantas cultivadas pelo homem. Em latim, Cannabis significa cânhamo, o gênero da família da planta, e sativa quer dizer plantada ou semeada. É uma planta originária da Ásia Central3. 36 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 A primeira evidência do uso da cannabis foi encontrada na China, 4.000 A.C., onde achados arqueológicos e históricos indicaram que a planta, inicialmente, era cultivada para uso das suas fibras6. Países como China e principalmente Índia, usavam amplamente a cannabis como medicamento analgésico, tranqüilizante, anticonvulsivante, anestésico, anti-inflamatório, expectorante, para constipação intestinal e estimulação de apetite. Autores indicam que o uso da cannabis para alterar o estado mental, e não estritamente como remédio, se iniciou na Índia, onde esta erva era considerada sagrada, com presença constante em rituais religiosos6. A cannabis é conhecida na África desde pelo menos o século XV, e seu uso foi introduzido pelos Árabes ligados à Índia. Na África, a planta era utilizada para mordidas de cobra, estimuladores de parto, febre, envenenamento do sangue, asma e desenteria3. Nas Américas, o uso da cannabis começou, provavelmente, na América do Sul. A história da maconha no Brasil tem seu início com a própria descoberta do país, em 1500, desde a estrutura de velas e cordames das caravelas vindas, feitas pelas fibras da cannabis, como pelas plantas trazidas pelos escravos negros, em sua maioria da Angola, sendo denominada de ‘fumo-de-Angola’3. Durante as décadas seguintes, seu uso foi rapidamente disseminado entre os escravos e nossos índios, que passaram a cultivá-la, além de ser estimulado pela Coroa Portuguesa, que enviava as sementes para o Brasil3. Séculos depois, com a popularização da planta entre intelectuais franceses e médicos ingleses do exército imperial na Índia, ela passou a ser considerada em nosso meio, como um excelente medicamento3. A repressão contra o seu uso tomou proporção apenas no século XX, devido aos representantes brasileiros da Conferência Internacional do Ópio, em Genebra, declararem que a maconha era mais perigosa que o ópio. A condenação da planta naquela Conferência repercutiu até 1961, na Convenção Única de Entorpecentes, das Nações Unidas, em que a cannabis foi considerada uma droga particularmente perigosa, e foi incluída junto com a heroína no Cronograma IV daquela convenção. A perseguição policial aos usuários se fez constante e enérgica a partir deste ocorrido3. De acordo com a lei Brasileira, 6.368/1976, o uso médico e recreativo, das substâncias derivadas da planta são proibidos, sendo considerado ofensa criminal, e os usuários podem enfrentar penas de prisão3. Porém, uma nova lei está em discussão no Congresso Brasileiro, defendendo que a posse de certa quantidade do produto não seria mais ofensa criminal3. A legalização da maconha é um assunto que gera polêmica no Brasil, mas em vários países do mundo ela já é legalizada. Holanda, Espanha e Estados Unidos são alguns que já permitem a produção, o cultivo e a sua venda para consumo. Na América do Sul, o Uruguai foi o primeiro país a ter um projeto para controlar a sua comercialização8. A maconha contém cerca de 400 substâncias, 60 delas canabinóides. Dentre estas, o D9 THC (tetra-hidrocanabinol), principal psicotrópico, é o maior responsável pelos efeitos adversos da cannabis1, sendo os mais comumente relatados: ansiedade, pânico, paranoia, psicose aguda, aumento da frequência cardíaca, redução da pressão arterial (vaso dilatação), aumento do apetite, boca seca, tontura; no caso de intoxicação aguda: delírios, alucinações, propriedades psicoativas de euforia e alterações psicomotoras; se associada ao uso crônico: a síndrome amotivacional. Porém, o THC em dosagens terapêuticas pode ser usado no tratamento de várias doenças, como glaucoma e esclerose múltipla2-10. Por outro lado, existem outros componentes, que constitui mais de 40/% das substâncias extraídas do cannabis, o canabidiol (CBD) não possui os efeitos psicológicos típicos da maconha. Pesquisas apontaram que esta pasta extraída, é um ansiolítico extremamente eficaz, além de não causar dependência e efeitos colaterais. Existem uma série de aplicações médicas para o seu uso: crises epilépticas, esquizofrenia, mal de Parkinson, doenças raras, esclerose múltipla, câncer e dores neuropáticas associadas a doenças que afetam o Sistema Nervoso Central, diminuição de transtornos de sono e alívio de dor5. Mesmo assim, a sua utilização como medicamento não é permitida no Brasil pois, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o canabidiol está inserido na lista de substâncias de uso proscrito no Brasil, chamada de F2, por ser derivado da Cannabis sativa5. No entanto, o uso da canabidiol pode ser autorizada pela ANVISA por meio de uma solicitação excepcional de importação para uso pessoal. Para isso, deve-se apresentar prescrição e laudo médicos e um termo de responsabilidade7. Das 59 solicitações de importação feitas à ANVISA, 37 foram aprovadas, desde abril até agosto deste ano. As demais solicitações ainda estão em análise ou com pendências na documentação9. De acordo com a agência, o prazo médio para a liberação da importação, após a solicitação, é de uma semana5. A liberação do uso do canabidiol (CBD) chegou a ser discutida, mas a decisão foi adiada. A discussão sobre a liberação do uso do CBD no país também acontece no Conselho Federal de Medicina (CFM), que aguarda o recebimento de resultados de pesquisas da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, com seu uso, para que se aprove a sua prescrição. É possível que ela seja aprovada em breve, depois disso, o CFM envia um parecer à ANVISA para pedir a liberação do uso no país e a importação1. Recentemente, na Paraíba, foi liberada pela Justiça Federal, por meio do Ministério Público Federal, a importação do canabidiol para realizar tratamento em 16 pacientes portadores de patologias neurológicas com quadro clínico de epilepsia, nos quais já haviam sido feitas tentativas de tratamento com a terapêutica tradicional, sem alcançar êxito. Entretanto, ainda se faz necessário um termo médico de responsabilidade, documento exigido pela ANVISA4. A proposta é que o canabidiol seja reclassificado para a relação de outras substâncias sujeitas a controle especial, chamada de C1. Caso a Diretoria Colegiada da ANVISA aprove, o canabidiol poderá ser importado ou encomendado de qualquer parte do mundo, desde que o comprador tenha em mãos uma receita médica em duas vias4. Os estudos envolvendo propriedades terapêuticas do Canabidiol em humanos começaram em 1982, mostrando suas interações. Desde então, cada vez temse descoberto mais aplicações para o composto, e com a diminuição do tabu científico em cima das propriedades de substâncias derivadas da Cannabis, teremos cada vez mais pesquisas e possíveis novos tratamentos1. Depois de toda explanação, voltamos a pergunta inicial: Somos a favor ou contra da utilização medicinal dessa substância? As autoras possuem opiniões divergentes. Acreditamos que esta pequena amostra com 03 pessoas refletem as discussões que giram em torno da legalização do canabidiol. Uma parte pensa que a liberação pela ANVISA na forma de medicamento, de uso controlado e restrito, para pacientes que necessitam da substância, assim como vem sendo utilizados em outros países, deve ser visto como a preservação ao direito da saúde e da vida, tendo em vista que já é comprovada a melhoria no quadro clínico dos pacientes que possuem, por exemplo, epilepsia grave. No entanto, a grande preocupação é de como este processo irá ser encaminhado e controlado pelo Serviço Público, mas este ponto já merece outro artigo. E você? O que pensa a respeito? Associação Médica da Paraíba 37 VISÃO CIENTÍFICA Referências: 1 BAARS, Tulio. Por que o Canabidiol deve ser legalizado? Brasil Post. Disponível em: http:// www.brasilpost.com.br/tulio-baars/porque-ocanabidiol-deve-ser-legalizado_b_5687707. html?utm_hp_ref=brazil. Abril Comunicações. Publicação em: 18/08/2014. Acesso em: 18/08/2014. 2BRASIL, MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. EDITORA VIDA E CIDADANIA. Brasil é um dos líderes em pesquisa sobre o uso terapêutico da maconha. Disponível em: http://www.obid.senad.gov.br/portais/ CONAD/conteudo/web/noticia/ler_noticia. php?id_noticia=102149. Acesso em: 19/08/2014. 3CARLINI, Elisaldo Araújo. A história da maconha no Brasil. J. bras. psiquiatr., Rio de Janeiro, v. 55, n. 4, 2006. 4 Gl, Paraíba. Justiça libera importação de canabidiol para 16 pacientes da PB. Disponível em: http://g1.globo.com/pb/paraiba/ noticia/2014/08/justica-libera-importacao-decanadibiol-para-16-pacientes-da-pb.html. Globo comunicações. Publicado em: 18/08/2014. Acesso em: 20/08/2014. 5 G1, Bem Estar. Entenda o que é o canabidiol e a possível mudança para importação. Disponível em: http://g1.globo.com/bemestar/ noticia/2014/05/entenda-o-que-e-o-canabidiole-possivel-mudanca-para-importacao.html. Globo Comunicações. Publicado em: 15/08/2014. Acesso em: 17/08/2014. 6 GONTIÉS, Bernard; ARAÚJO, Ludgleydson Fernandes de. Maconha: uma perspectiva histórica, farmacológica e antropológica. Rev. Mneme, Rio Grande do Norte, v. 4, n.7, fev/mar 2003. 7 LEPERA, Micaela. USP testará canabidiol em voluntários. Jornal A Cidade. Disponível em: http:// www.jornalacidade.com.br/noticias/cidades/NO T,2,2,980498,USP+testara+canabidiol+em+volunta rios.aspx. Publicado em: 18/08/2014. Acesso em: 19/08/2014. 8 MIRANDA, Juliana. Quais lugares do mundo onde a maconha é liberada? Portal R7. Disponível em: http://www.sitedecuriosidades. com/curiosidade/quais-lugares-no-mundo-ondea-maconha-e-liberada.html. Publicado em: 06/03/2014. Acesso em: 19/08/2014. 9 ZH, Notícias. Anvisa autorizou 37 pedidos de importação do canabidiol em 5 meses. Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/ noticia/2014/08/anvisa-autorizou-37-pedidosde-importacao-de-canabidiol-em-cincomeses-4575123.html. Publicado em: 14/08/2014. Acesso em: 18/08/2014. 10 ZUARDI, A.W. et al. Cannabidiol, a Cannabis 38 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 sativa constituent, as an antipsychotic drug. Braz J Med Biol Res, Ribeirão Preto, v. 39, n. 4, Abril, 2006. 11ZUARDI, Antonio Waldo. History of cannabis as a medicine: a review. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 28, n. 2, Junho, 2006. Patrícia Moreira Rabello Professora de Odontologia da Universidade Federal da Paraíba, Doutora em Odontologia em Saúde Coletiva pela Universidade de Pernambuco Bianca Golzio Navarro Cavalcante Aluna do Curso de Odontologia da UFPB, Aluna bolsista de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) Carolina Vieira Lucena Veloso Aluna do Curso de Odontologia da UFPB, Aluna bolsista de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) O que é o micro RNA? Uma nova perspectiva para o tratamento do câncer A partir da descrição da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick, em 1953, a premissa de que o DNA produz RNA e de que o RNA mensageiro (RNAm) produz proteína norteou a compreensão da biologia celular, as pesquisas em biologia molecular e a engenharia genética.1 Neste contexto, o DNA contém a informação genética que permite à maioria dos organismos vivos funcionar, crescer e reproduzir. Em 1993, os micro-RNAs foram descobertos por Victor Ambros, Rosalind Lee e Rhonda Feinbaum através de um estudo com o gene lin-14 no nematodeo Caenorhabditis elegans.2 Em 2001, uma maior compreensão dos microRNAs no metabolismo celular impulsionou novos estudos, e houve uma maior percepção quanto ao seu real potencial para tratamento de doenças, principalmente o câncer. A atividade dos micro-RNAs está diretamente relacionada ao mecanismo de oncogênese e de supressão tumoral, o que os torna um alvo promissor para intervenção, como na terapia de alvo molecular. Atualmente, diversas pesquisas identificam os micro-RNAs no processo de carcinogênese, progressão, formação de metástases e resistência ao tratamento com antineoplásicos e radioterapia. Definição de Micro-Rnas Micro-RNAs,umaclassedereguladoresgênicos na fase de pós-transcrição do DNA, consistem em sequências curtas de aproximadamente 22 nucleotídeos, apresentando uma estrutura secundária em alça ou grampo. Eles se ligam a sequências complementares no RNAm, geralmente resultando na supressão ou no silenciamento dessa atividade mensageira.10,11 Assim, a expressão de micro-RNAs pode funcionar como fator inibidor da ação de genes supressores de tumor ou de oncogenes, sendo contrária à ação primária do RNAm silenciado. Nomenclatura dos Micro-Rnas O novo micro-RNA recebe o prefixo “MIR”. O ‘mir’ (letra ‘r’ minúscula) refere-se à forma imatura de pré-micro-RNA, enquanto o ‘miR’ (letra ‘R’ maiúscula) refere-se à forma madura. Um hífen e um número seguem esse prefixo, segundo sua ordem de descoberta. Por exemplo, mir-123 e mir-145. Esses números sempre são catalogados após sua descoberta e antes de sua publicação. Os micro-RNAs com estruturas semelhantes recebem ‘letras’ para denotar essa semelhança. Por exemplo, miR-121a e miR121b. Os micro-RNAs com 100% de semelhança estrutural, mas originados de diferentes localizações no genoma, recebem um sufixo com hífen, seguido de um número. Por exemplo, miR-121-1 e miRNA-121-2. Associação Médica da Paraíba 39 VISÃO CIENTÍFICA Biogênese dos Micro-Rnas No núcleo celular, os micro-RNAs são transcritos a partir de íntrons (chamados de minintrons, uma sequência de nucleotídeos) do DNA através da RNA polimerase II.19 Inicialmente são produzidas estruturas de RNA maiores, chamadas de pri-micro-RNAs, que podem conter até seis micro-RNAs.20 Os primicro-RNAs são processados no núcleo pela ribonuclease Drosha (RNase III) em pré-microRNAs.21 Após essa maturação, o pré-microRNA (agora com cerca de 70 nucleotídeos) é exportado ativamente para o citoplasma através do transportador chamado exportin 5.22 No citoplasma, o pré-micro-RNA é processado pela enzima Dicer (RNAse III), eliminando sua alça de nucleotídeos e resultando em dupla fita de micro-RNA (com cerca de 22 nucleotídeos), que caracteriza o micro-RNA imaturo (micro-RNA duplex). Neste momento, o micro-RNA de dupla fita é clivado e incorporado ao complexo miRISC (complexo de indução para silenciamento de RNA), onde apenas uma única fita caracteriza o micro-RNA maduro. A fita única do micro-RNA permanece no miRISC, e esse complexo atuará sobre o RNAm alvo. Mecanismo de Ação O DNA é responsável pelo armazenamento das informações necessárias para a construção das proteínas e do RNA. A produção da proteína se inicia quando o RNAm copia parte da cadeia de DNA (processo chamado de transcrição). Em seguida, essa informação é ‘traduzida’ em proteínas. Isso é necessário para a homeostase celular e a manutenção da espécie. A função dos micro-RNAs está relacionada à regulação da expressão gênica. O micro-RNA exerce seus efeitos regulatórios quando, ligado ao complexo RISC, interfere no RNAm-alvo. Os micro-RNAs impedem a tradução do RNAm pelo ribossomo, seja pela clivagem do RNAm com os quais possui complementaridade, seja pela repressão da tradução pela ligação entre ambos. Estudos apontam que um único complexo miRISC pode se ligar a mais de 200 genesalvo. Estes alvos podem ter funções diversas, tais como fatores de transcrição, receptores e transportadores. Portanto, os micro-RNAs controlam a expressão de cerca de um terço do RNAm humano, e a supressão ou alteração de sua expressão pode contribuir para o desenvolvimento e para a progressão de diversos tipos de neoplasias. Perspectivas A compreensão sobre a existência e o comportamento biológico dos micro-RNAs permitiu o desenvolvimento de diversas linhas de pesquisa em oncologia. Identificar o sítio de biogênese e o mecanismo de ação, mensurar sua expressão, identificar o RNAm alvo e manipular esses processos através de técnicas de silenciamento, por exemplo, são estratégias de interesse quando o objetivo é usar os micro-RNAs como alvos de estudos pré-clínicos e clínicos. Considerando-se que os micro-RNAs inibem a atividade do RNAm, algumas situações são encontradas: 1) quando o RNAm resulta de um oncogene, a atividade do micro-RNA será supressora; 2) quando o RNAm provém de um gene supressor de tumor, seu bloqueio pelo micro- 40 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014 RNA resulta em ação pró-oncogênica. Assim, é possível induzir a superexpressão do micro-RNA para uma maior inibição do RNAm proveniente de um oncogene. Em contrapartida, pode-se silenciar um micro-RNA, favorecendo a atividade do RNAm resultante de um gene supressor de tumor. Os micro-RNAs codificados pela família let-7 foram o primeiro grupo identificado de oncomirs, ou seja, que regulam a expressão de um oncogene, especificamente os genes da família RAS; esses micro-RNAs têm sido alvo de estudos em câncer colorretal e, principalmente, de pulmão.24,25 Já na linhagem de células-B, com superexpressão de MYC, o micro-RNA miR17-92 funciona como um supressor de tumor, porque sua expressão reduz a expressão de E2F1, e portanto, inibe a proliferação celular mediada por MYC.8-11 No carcinoma renal de células claras, foi observada uma correlação entre a expressão de miR-451, miR-221, miR-30a, miR-10b e miR-29a e a ocorrência de estadio metastático ou não metastático.26 Outros estudos buscam definir um perfil de expressão de micro-RNAs e correlacionar esse perfil com a invasão e o prognóstico de diversos sítios de câncer, obtendo uma assinatura de micro-RNAs na intenção de manejá-los de forma preventiva ou terapêutica.27 Estão em andamento diversos estudos com esse objetivo, tanto para neoplasias de alta relevância epidemiológica, como para tumores cujas possibilidades de tratamento ainda são bastante limitadas. Como exemplos, estuda-se o perfil de micro-RNAs em pacientes submetidas à neoadjuvância e adjuvância para câncer de mama localmente avançado e inflamatório, o perfil da expressão de micro-RNAs em câncer de próstata de alto risco e a expressão de microRNAs no carcinoma de células renais.28 Considerações Finais Por quase três décadas, a carcinogênese tem sido atribuída tão somente a alterações nos oncogenes e nos genes supressores de tumor, mas hoje assistimos a uma mudança nos paradigmas. Após o desenvolvimento de novas metodologias, como a técnica do DNA recombinante, a nanotecnologia e as ferramentas de bioinformática, outros horizontes menos explorados, como o dos micro-RNAs, estão se abrindo. O Projeto Genoma Humano sequenciou 99% do genoma humano, e, apesar de aproximadamente 25.000 genes sequenciados, isto constitui pouco mais de 20% do material genético total humano, já que esse material não se restringe ao DNA nuclear. E, de todos os genes que tiveram sua sequência determinada, apenas cerca de 50% codificam proteínas de função conhecida. Nesse projeto, os íntrons foram considerados inicialmente sem função, mas atualmente essas mesmas sequências de nucleotídeos nucleares são compreendidas como as maiores responsáveis pela origem dos micro-RNAs. Estima-se a existência de pelo menos 300 micro-RNAs (e podem ser mais de 1000) no genoma humano. É notória a complexidade genômica do câncer, e há forte evidência de que as moléculas de micro-RNAs atuam na regulação dos genes supressores de tumor e de oncogenes. A cascata de eventos que ocorrem a partir da ativação de uma tirosinaquinase até a efetiva ação em seu alvo pode estar diretamente relacionada com a função de uma grande quantidade de micro-RNAs. Isso coloca os micro-RNAs em evidência como uma importante classe de reguladores gênicos. O desafio translacional atual é não apenas identificar alvos entre os micro-RNAs analisados nas pesquisas básicas, como possíveis fatores preditivos e prognósticos, mas também intervir sobre esses micro-RNAs, buscando alvos terapêuticos para o desenvolvimento de novas modalidades de tratamento contra o câncer a serem validadas em ensaios clínicos. Atingiremos, nesse momento, a terapia de alvo molecular genômica? Somente o futuro, nada longínquo, poderá nos responder. Referências bibliográficas 1. Watson JD, Crick FH. Molecular structure of nucleic acids: a structure for deoxyribose nucleic acid. Nature 1953;171:737-38. 2. Lee RC, Feinbaum RL, Ambros V. The C. elegans heterochronic gene lin-4 encodes small RNAs with antisense complementarity to lin-14. Cell 1993;75:843–54. 3. Brennecke J, Hipfner DR, Stark A, et al. Bantam encodes a developmentally regulated microRNA that controls cell proliferation and regulates the proapoptotic gene hid in Drosophila. Cell 2003;113: 25-36. 4. 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Técnica IPEMED MG ** FACULDADE IPEMED DE CIÊNCIAS MÉDICAS CARDIOLOGIA DERMATOLOGIA ENDOCRINOLOGIA PSIQUIATRIA 32 VAGAS POR CURSO - CURSOS RECONHECIDOS PELO MEC *Os 20 primeiros alunos(as) médicos(as) matriculados, terão direito a uma inscrição gratuita em um curso desenvolvido e ministrado, exclusivamente para os alunos médicos do IPEMED, pela Faculdade de Medicina de Harvard da UNIVERSIDADE DE HARVARD – BOSTON/USA * *Conforme contrato de prestação de serviço educacional. **70.25% de nossos ex-alunos médicos que realizaram as várias provas de título de especialista aplicadas pelas Sociedades Médicas/AMB foram aprovados em 2012 - FONTE: UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais www.ipemed.com.br - 0800 940 7594 IPEMED/BA SALVADOR | Travessa Lydio de Mesquita, 01 - Rio Vermelho - Cep: 41950 420 IPEMED/MG BELO HORIZONTE | IPEMED/SP SÃO PAULO | IPEMED/RJ RIO DE JANEIRO | IPEMED/DF BRASÍLIA IPEMED/USA BOSTON - 00 xx 1 857 241 3880 | IPEMED/FRANÇA PARIS - 00 33 1 53 32 17 27 Associação Médica da Paraíba 43 44 AMPB | Edição 07 | SETEMBRO 2014