gCbr04 - Metro Mondego
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INTERVENÇÃO DE ARQUEOLOGIA PREVENTIVA Sistema de galerias Subterrâneas de Coimbra (SANTA C RUZ , C OIMBRA, C OIMBRA) direcção técnico-científica: M IGUEL ALMEIDA FILIPE GONÇALVES colaboração: M ARIA JOÃO N EVES SORAYA ROCHA gCbr’04 Miguel ALMEIDA Arqueólogo R ELATÓRIO FINAL D RYAS A RQUEOLOGIA, L DA. 2005 01 1. RELATÓRIOS DRYAS 45 * * * JANEIRO DE 2005 imprimiram-se 6 exemplares deste relatório, distribuídos a: § AlpVertical, Lda. (2 exs.) § IPA — Instituto Português de Arqueologia § IPPAR — Instituto Português do Património Arquitectónico § Câmara Municipal de Coimbra § Dryas Arqueologia, Lda. gCbr04 ÍNDICE índice ......................................................................................................................................................................................................2 Resumo..................................................................................................................................................................................................3 Quadro de conteúdos ...........................................................................................................................................................................4 Ficha técnica..........................................................................................................................................................................................5 Enquadramento da intervenção arqueológica........................................ 6 Descrição do processo: enquadramento legal e contratual, financiamento da intervenção e procedimentos administrativos preparatórios........................................................................................................................................................6 Descrição de trabalhos anteriores de arqueologia realizados no local ............................................................................................6 Condição do(s) sítio(s) intervencionado(s) antes do início dos trabalhos de arqueologia .............................................................7 Descrição do local e áreas envolventes: geografia e geologia .........................................................................................................9 Fontes históricas e bibliográficas .......................................................................................................................................................10 Resenha histórica................................................................................................................................................................................10 Objectivos, estratégia e metodologia da intervenção arqueológica........14 Descrição dos objectivos da intervenção ..........................................................................................................................................14 Descrição da estratégia e metodologia dos trabalhos .....................................................................................................................14 Descrição da intervenção arqueológica ...............................................16 Direcção dos trabalhos e constituição da equipa de arqueologia ..................................................................................................16 Meios utilizados ...................................................................................................................................................................................16 Datas e duração dos trabalhos de campo ........................................................................................................................................17 Descrição dos trabalhos de campo ...................................................................................................................................................17 Memória descritiva das galerias visitadas ........................................................................................................................................17 Resultados da intervenção de arqueologia...........................................19 Miguel ALMEIDA Descrição de pormenor de cada uma das galerias visitadas..........................................................................................................19 Arqueólogo Elementos para a interpretação da história das galerias ................................................................................................................28 Ensaio de enquadramento das estruturas subterrâneas na história do urbanismo da cidade de Coimbra ...............................29 Descrição e interpretação do espólio arqueológico .........................................................................................................................34 Avaliação de riscos arqueológicos e patrimoniais ...........................................................................................................................34 Determinação de medidas de minimização de impacto patrimonial e arqueológico ....................................................................34 Programa ulterior de trabalhos............................................................35 Previsão do programa ulterior de trabalhos e medidas provisórias de protecção e conservação ..............................................35 Local de depósito do espólio ..............................................................................................................................................................35 Local, data e forma de publicação .....................................................................................................................................................36 Bibliografia........................................................................................37 cartografia ............................................................................................................................................................................................37 Lista de figuras..................................................................................38 Anexo I..............................................................................................40 resumo Anexo II ............................................................................................42 ficha do IPA 2. 45 gCbr04 RESUMO Miguel ALMEIDA Arqueólogo A preparação da construção do futuro Metro do Mondego justificou a realização de um trabalho prévio de descrição do sistema de galerias subterrâneas da cidade de Coimbra, que se realizou por ocasião dos trabalhos de levantamento topográfico destas galerias conduzidos pela empresa AlpVertical. Estes trabalhos, cujos objectivos principais consistiam na caracterização das galerias no que respeita aos materiais de construção e soluções técnicas adoptadas e na compilação de elementos relevantes para a atribuição cronológica, compreensão da história evolutiva e integração destas estruturas no quadro mais geral da história da cidade de Coimbra, revelaram um conjunto de condutas, cuja planta actual resulta de um processo poligenético complicado e provavelmente de importante profundidade histórica, em que o sistema de galerias conheceu fases sucessivas de alargamento e reformulação, ao sabor das necessidades momentâneas dos seus construtores ou de quem detinha a sua gestão. A conjugação das observações de campo com os resultados dos trabalhos de análise bibliográfica e documental permite-nos propor uma história de evolução deste sistema e da sua relação com a história da cidade pelo qual perpassam fundamentalmente todas as opções relativas ao abastecimento de água e ao urbanismo de Coimbra, mas também algumas das tensões mais significativas da história social da cidade. Nestes termos, a consideração da hipótese de uma origem (pelo menos de parte) do sistema ainda em época romana e a compreensão do papel da água nas relações estabelecidas entre o Mosteiro de Santa Cruz e a cidade merecem especial atenção deste trabalho. 3. 45 gCbr04 Q UADRO DE CONTEÚDOS O presente relatório resulta dos trabalhos de arqueologia preventiva decorridos no âmbito da Intervenção de acompanhamento arqueológico das Galerias Subterrân eas de Coimbra, de que consiste num relatório final, e foi elaborado de acordo com o DL 270/99, de 15 de Julho (Regulamento dos trabalhos arqueológicos), cumprindo integralmente a determinações deste diploma legal a respeito dos prazos de entrega (artº 7º), conteúdo (artº 13º) e anexos (artºs 13º e 15º) do relatório: Ficha técnica √ √ √ √ √ √ √ √ Designação da intervenção Acrónimo da intervenção Designação do sítio Localização administrativa do sítio: lugar, freguesia, concelho, distrito Localização do sítio: coordenadas e altitude Cartografia: folha da carta militar 1/25.000 e outra cartografia relevante § Extracto da Carta Militar de Portugal 1/25.000 Acessos ao sítio § Croquis do acesso ao sítio Tipo de sítio Período cronológico Estado de conservação Uso do solo Ameaças Responsáveis científicos Equipa técnica Duração dos trabalhos de campo: datas de início e fim Projecto de investigação Proprietário / Promotor Classificação Legislação Protecção/Vigilância √ √ √ √ √ √ √ √ na √ na na na Enquadramento da intervenção arqueológica √ Descrição do processo: enquadramento legal contratual e procedimentos administrativos √ Descrição do local e áreas envolventes: geografia e geologia √ Descrição do local e áreas envolventes: património e arqueologia √ Descrição de trabalhos anteriores de arqueologia realizados no local √ Condição do sítio ou sítios intervencionados antes de iniciados os trabalhos √ § Imagens gerais do sítio antes de intervencionado Objectivos, metodologia e de scrição da intervenção √ √ Descrição dos objectivos da intervenção Descrição da estratégia e metodologia dos trabalhos Descrição da intervenção arqueológica √ √ √ √ √ √ √ Direcção dos trabalhos e constituição da equipa de arqueologia Meios utilizados Datas e duração dos trabalhos de campo Descrição dos trabalhos de campo § Planta geral do sítio, com indicação das zonas intervencionadas § Imagens gerais do sítio e das zonas intervencionadas § Imagens ilustrando as diferentes fases de trabalho Resultados da intervenção Miguel ALMEIDA na na na √ √ Arqueólogo na na na √ Descrição e interpretação da estratigrafia § Plantas e perfis de pormenor das zonas escavadas § Matriz de Harris Descrição e interpretação das estruturas arqueológicas § Planta geral do sítio, com implantação das estruturas descobertas § Plantas, alçados e perfis de pormenor das estruturas descobertas Descrição do espólio § Imagens do espólio mais significativo § Listagem dos bens móveis a inscrever no Inventário Geral dos Bens Arqueológicos Móveis Avaliação de riscos arqueológicos Programa ulterior de trabalhos √ √ na √ Previsão do programa ulterior de trabalhos e medidas provisórias de protecção e conservação Medidas de protecção, conservação e restauro Local de depósito do espólio Local, data e forma de publicação Anexos e outros documentos √ √ √ √ na √ 4. 45 Bibliografia do sítio Listagem de figuras Resumo de 250 palavras (para publicação na Internet) Ficha de sítio / trabalhos arqueológicos Resultados de análises do espólio pela aplicação de métodos físico-químicos ou das ciências naturais Suporte digital do relatório, resumo e imagens Outros documentos gCbr04 FICHA TÉCNICA designação da intervenção acrónimo da intervenção designação do sítio localização administrativa coordenadas geográficas altitude média folha da carta militar extracto da CMP 1/25.000 outra cartografia relevante acessos ao sítio Miguel ALMEIDA Arqueólogo tipo de trabalho área total da intervenção tipo de sítio período cronológico estado de conservação uso do solo ameaças responsáveis científicos equipa técnica data e d uração dos trabalhos projecto de investigação proprietário / promotor classificação categoria/tipologia legislação protecção / vigilância 5. 45 Intervenção de acompanhamento arqueológico do Sistema de galerias Subterrâneas d e Coimbra GCbr’04 Sistema de galerias Subterrâneas de Coimbra Santa Cruz, Coimbra, Coimbra 40º12'39”N; 8º 24'57"Wg (ponto central aproximado ) 75 metros (altura aproximada do ponto central) 230 – Coimbra --A galeria da Rua Pedro Monteiro é acessível a partir de uma entrada com porta fechada sita naquela rua; a galeria do talude tem entrada por uma abertura no muro do parque de estacionamento da Casa Municipal da Cultura, junto ao edifício do Centro de Juventude e, no extremo oposto, através de uma caixa de visitação no próprio tapete de alcatrão da rua; as diversas galerias existentes sob o Parque de Santa Crua têm vários acessos em aberturas localizadas noutros tantos pontos daquele parque, assim como a própria galeria de Sá da Bandeira, à qual se pode aceder, a montante, a partir de várias entr adas localizadas na zona mais baixa do Parque de Santa Cruz e ao longo do seu percurso através de algumas caixas de visitação ainda activas. Acompanhamento --Aqueduto Romano (?) / Medieval (?) / Moderno / contemporâneo Regular Urbano Construção civil Miguel Almeida e Filipe Gonçalves Miguel Almeida, Filipe Gonçalves, Maria João Neves e Sor aya Rocha 06-09-2004 / 10 -09-2004 (3 dias) --Público / Alpvertical, Lda. --------- gCbr04 ENQUADRAMENTO DA INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA DESCRIÇÃO DO PROCESSO: ENQUADRAMENTO LEGAL E CONTRATUAL, FINANCIAMENTO DA INTERVENÇÃO E PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS PREPARATÓRIOS O presente texto consiste num relatório final dos trabalhos de acompanhamento arqueológico do levantamento topográfico do sistema de galerias subterrâneas de Coimbra realizado pela empresa AlpVertical e localizado 1. 2. 3. 4. 5. gal eri a gal eri a gal eri a gal eri a gal eri a da R ua Pedro Montei ro do tal ude da fonte do escadóri o de Sá da B andei ra no subsolo da área urbana desta cidade (fig. 01). Estes trabalhos decorreram no âmbito de um contrato de prestação de serviços firmado entre a AlpVertical e a Dryas Arqueologia, que disponibilizou para o efeito a equipa de técnicos do ramo específico da Arqueologia indispensável à boa execução dos trabalhos de campo, 5 levantamento bibliográfico e interpretação dos dados 1 2 resultantes da intervenção. Nestes termos, a área 43 abrangida pelos nossos trabalhos de acompanhamento fig. 01 — Localização da área de implantação das estruturas subterrâneas interessadas pela intervenção de acompanhamento arqueológico do Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra (extracto da CMP 1/25.000, fl. 230 - Coimbra). restringe-se também aos troços efectivamente incluídos no levantamento topográfico das galerias subterrâneas cuja realização justificou esta intervenção de acompanhamento arqueológico. Miguel ALMEIDA Previamente à execução de quaisquer trabalhos de campo, foi remetido ao Institu to Arqueólogo Português de Arqueologia (IPA) um pedido de autorização para realização de trabalhos de arqueologia em nome dos dois signatários e acompanhado da documentação necessária, de acordo com o Regulamento dos trabalhos arqueológicos (DL 270(99, de 15 de Julho), que mereceria o acordo expresso daquele Instituto (ref. IPA: S-4794). A intervenção designou-se pelo nome Intervenção de acompanhamento arqueológico do Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra, abreviado pelo acrónimo gCbr’04. DESCRIÇÃO DE TRABALHOS ANTERIORES DE ARQUEOLOGIA REALIZADOS NO LOCAL Este sistema terá sido parcialmente caracterizado no âmbito de um projecto de 6. 45 gCbr04 construção de um parque de estacionamento na Praça de Republica pela arqueóloga Maria da Conceição Sousa, permanecendo contudo os resultados deste trabalho ainda inéditos segundo as informações disponibilizadas na base de dados do IPA (Endovelico, 2005). CONDIÇÃO DO(S) SÍTIO(S) INTERVENCIONADO(S) ANTES DO INÍCIO DOS TRABALHOS DE ARQUEOLOGIA Em virtude da curta duração e natureza expressamente não intrusiva quer da presente intervenção de arqueologia, quer dos próprios trabalhos de levantamento topográfico do sistema de galerias subterrâneas de Coimbra que a motivam, as condições dos sítios interessados pela intervenção à data do início dos trabalhos não foram objecto de quaisquer alterações durante o período da intervenção, salva a colocação no solo ou nas paredes das condutas de alguns pontos de apoio das tarefas de topografia. Refira-se que estes pontos, materializados por meio de marcas colocadas no interior das condutas, foram preferencialmente instalados em juntas de união do aparelho de construção destas condutas e sempre segundo Miguel ALMEIDA critérios de minimização do impacto sobre a Arqueólogo estrutura (fig. 02). Por outro lado, como a descrição pormenorizada fig. 02 — Pormenor da colocação de um ponto material de apoio topográfico. das estruturas existentes no local consistia precisamente numa das tarefas fundamentais da equipa de arqueologia, as condições em que encontrámos os locais visitados decorrem em grande parte das descrições enunciadas infra. Ainda assim, para além dessa descrição das estruturas — que se debruçará mais atentamente sobre os aspectos relevantes para a interpretação histórico-arqueológica da estrutura —, cumpre assinalar uma situação generalizada de alguma degradação dos 7. 45 gCbr04 materiais de construção utilizados (fruto da antiguidade e humidade ambiente do local), que estará na base de algumas intervenções pontuais de reparação muito recentes (incluído o revestimento a betão de algumas partes das paredes das galerias e a impermeabilização do solo com cimento), assim como a abertura de poços de acesso a partir da superfície actual da Av. de Sá da Bandeira. Como se disse, a profusão de remodelações do espaço interno das galerias, testemunho da sua longa história de utilização, será objecto de referência específica infra. Por fim, pese embora o seu carácter efémero, não pode deixar de referir-se como testemunho actual do fig. 03 — Aspecto da acumulação de lixos urbanos actuais no solo das condutas (topo da galeria da fonte). funcionamento do sistema a acumulação de lixos urbanos em diversos pontos das condutas, com especial relevo para a galeria situada sob a Praça da República e a Av. de Sá da Bandeira, mas também Miguel ALMEIDA Arqueólogo presentes noutros pontos do sistema (fig. 03). Do mesmo modo, merece ainda referência a existência na zona das condutas localizadas sob a actual Praça da República das marcas pintadas de um recente trabalho anterior de topografia do sistema (fig. 04). 8. 45 gCbr04 fig. 04 — Aspecto do interior das condutas: remodelações do espaço interno e pontos topográficos pintados (galeria de Sá da Bandeira). fig. 05 — Aspecto de algumas das entradas para as diferentes galerias visitadas: galeria da Fonte, galeria da Rua Pedro Monteiro; galeria de Sá da Bandeira. DESCRIÇÃO DO LOCAL E ÁREAS ENVOLVENTES: GEOGRAFIA E GEOLOGIA A área abrangida pela intervenção resumiu-se, como se disse supra, aos troços de galerias incluídos nos trabalhos de levantamento topográfico levados a cabo pela AlpVertical. Estes consistem nos tramos de galerias conservados sensivelmente entre a Rua Pedro Monteiro e o quartel dos Bombeiros Municipais na Avenida Sá da Bandeira (cfr. fig. 01). Os acessos às diversas galerias fazem-se hoje através de várias caixas de visitação sitas na Rua Pedro Monteiro e na Av. Sá da Bandeira, assim como de algumas caixas de entrada com tampas pétreas e pequenas aberturas construídas para o efeito localizadas no jardim de Santa Cruz e, em dois casos (galerias da Rua Pedro Monteiro e da Fonte) através de aberturas laterais com portas fechadas (fig. 05). Miguel ALMEIDA Arqueólogo Situando-se a área em questão em pleno centro urbano de Coimbra, as múltiplas transformações topográficas e arquitectónicas resultantes da longa ocupação do local (ocorridas em especial durante a Época Contemporânea) mimetizam e dificulta m a percepção do ambiente geomorfológico do local, elemento que, como se verá adiante, surge da maior relevância para a interpretação das opções tomadas ao longo da história de Coimbra acerca do aproveitamento dos recursos hídricos da cidade e zona envolvente. Sabe-se contudo, através das fontes bibliográficas, cartográficas e documentais que a actual avenida Sá da Bandeira corresponde ao antigo Vale da Ribela, onde corria um 9. 45 pequeno curso de água com este nome, cuja nascente se situava nas colinas de Celas, gCbr04 e cuja alimentação seria também comparticipada pelas águas fluviais procedentes das colinas que ladeiam o vale (Alarcão, 1979). FONTES HISTÓRICAS E BIBLIOGRÁFICAS O nosso conhecimento do sistema de abastecimento de água em Coimbra sustenta-se nalgumas fontes históricas escritas e cartográficas que indirectamente o documentam. Estas fontes são na sua maioria de cronologia moderna, centrando-se em especial na querela entre a população de Coimbra e os frades crúzios em que os primeiros acusam os segundos de desviarem e roubarem a água da cidade. Entre estes documentos incluem-se a: § A.H.M.C. Notícia chorografica do edifício do extincto Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra com designação da parte que actualmente é ocuppada pelos paços do Concelho Municipal da mesma cidade, sem data. § A.H.M.C. Diversos. Maço I, nº6. § J.P. Loureiro. Antigas dependências do Mosteiro de Santa Cruz, Petição e fundamentos. In: Arquivo Coimbrão, vol. XV. § A.G. Rocha Madail. Inventário do Mosteiro de Santa Cruz à data da sua extinção em 1834. Esta questão é também referida aquando da repartição dos bens do mosteiro em 1839 na sequência da desamortização dos bens do Clero (Araújo, 2002), sendo nesta data tornado público o acesso à água do mosteiro. Aqui é mencionado e descrito o sistema de Miguel ALMEIDA abastecimento de água, composto por diferentes tipos de canos, que recolhiam as águas Arqueólogo das nascente s de Celas, da Ribela e das linhas de água que afluíam nos terrenos dos crúzios (Araújo, 2002). Os testemunhos escritos de época medieval os testemunhos são muito menos abundantes e prolixos. Porém sabemos através deles que no espaço que viria a ser ocupado pelo mosteiro de Santa Cruz teria existido um balneário alimentado pela Ribela, então denominada torrente de balneis regis (Loureiro, 1960). É possível que a água que alimentava este balneário se encontrasse já encanada, uma vez que num documento datado de 1130 (Carta de doação do Infante D. Henrique ao Arcediago D. Telo) se refere que estes terrenos cum sua fonte et aqueductum, sicut fuit in diebus 10. 45 alvazil domini Sisnandi (apud Loureiro, 1960). gCbr04 RESENHA HISTÓRICA O SISTEMA DE ABASTECI MENTO ORIGINAL (DE ÉP OCA ROMANA?) Nestes termos, o primeiro sistema de abastecimento de água que a cidade de Coimbra terá conhecido datará já muito provavelmente (senão mesmo seguramente) da época da presença romana, sistema que terá posteriormente sido reparado e reaproveitado por diversas vezes ao longo da história, de que ressaltará a reformulação moderna de D. Sebastião. Este sistema original recolhia eventualmente as águas nas nascentes localizadas na área de Celas (a uma cota superior), sendo depois a água conduzida até à acrópole urbana encanada numa conduta subterrânea que alimentava o aqueduto aéreo que vencia a depressão entre a zona da actual penitenciária e a alta da cidade. Segundo Vasco Mantas (1 992) o percurso a partir de Celas passaria pela actual Rua Pedro Monteiro (antiga Rua das Arcas de Água) e pela actual Cadeia Penitenciária, seguindo a partir daí pelo dito aqueduto aéreo. Vencida a depressão que coincide com a localização actual da Praça dos Arcos do Jardim, este aqueduto seria substituído logo por uma galeria subterrânea, junto ao que é hoje o Departamento de Antropologia desaguando no Largo da Feira. Arqueologicamente há poucas evidências de que fosse de facto este o trajecto, uma vez que a construção das novas faculdades nos anos 40, 50 e 60 conduziria (entre outras desventuras para o património de Coimbra, diga- se!) a uma destruição significativa ou Miguel ALMEIDA Arqueólogo condenação dos vestígios aqui existentes e à obliteração de grande parte dos depósitos estratigráficos relevantes para a compreensão deste trecho da história da cidade. Do mesmo modo, também no que respeita ao percurso extra-muros a evolução posterior do urbanismo da cidade — alterações provocadas pela construção do Colégio de Tomar, primeiro, e da actual penitenciária de Coimbra, posteriormente, e abertura de ruas e intensa urbanização das áreas de Celas e em torno do Parque de Santa Cruz — dificultam substancialmente o nosso conhecimento acerca do abastecimento de água à antiga cidade de Aeminium. 11. 45 gCbr04 O SISTEMA DE ABASTECI MENTO MEDIEVAL E AS “ QUESTÕES” DA ÁGUA Do que porém já não restam dúvidas é de que este percurso corresponde à opção dos mestres modernos que, em 1570, fizeram a reabilitação deste sistema aquando da falta de água que assolou a cidade em consequência da seca prolongada (Araújo, 2002) e que, seguindo uma ordem régia, procuraram e restabeleceram os antigos pontos de abastecimento de água (Loureiro, 1960, Mantas, 1992). O aqueduto foi feito à custa de serviços lançados ao povo do concelho sobre a superintendência do desembargador Heitor Borges Barreto, que coordenou os trabalhos de procura de água perto de várias nascentes da quinta do Mosteiro de Santa Cruz. O abastecimento de água foi feito a partir de Celas, sendo edificado um sistema de galerias e de arcas de águas (que deram o nome à antiga Rua das Arcas de Água), que levavam a água até ao antigo aqueduto, então reconstruído (Loureiro, 1960: 143). As arcas correspondem a pequenas torres de alvenaria situadas na estrada de Celas junto do colégio de Tomar (hoje Cadeia penitenciária de Coimbra), que ainda hoje subsistem no local (pelo menos parcialmente). Os monges do Mosteiro de Santa Cruz tentaram impedir a construção do aqueduto (Loureiro, 1960), tendo porém perdido a contenda face à acusação de terem ido buscar a água das fontes do Rei e da Rainha, desviando as águas que “em tempos antigos sempre vieram ao chafariz de Sansão” (Loureiro, 1960). Na verdade, o investimento feito logo desde os séculos XII/XIII pelos frades crúzios na Miguel ALMEIDA Arqueólogo recuperação destas águas, objecto já então de disputas de longa data com as gentes da cidade, objectivara-se entretanto no progressivo encanamento da Ribela (Araújo, 2002), curso de água que corria no vale com o mesmo nome, desde Celas até à Rua da Moeda, onde em época medieval várias azenhas que utilizavam como força motriz esta água que os frades se esforçavam por controlar (Alarcão, 1979). Dessa data, temos já notícia do desvio das águas da fonte da cerca e do lago, por “canos parciaes”, para o “cano geral”, desaguando por fim nos chafarizes do convento (Araújo, 2002). Com efeito, há muito que a população da acrópole se queixava da falta de água, desviada pelos monges de Santa Cruz: em Coimbra havia “muita falta de água (…) 12. 45 gCbr04 porque os Crúzios a tinham usurpado quase toda (…) sem que a lei quizessem ceder” …“pois o convento e a cerca encontravam-se cobertos de profusão de fontes” (Leal, 1874). Apesar de verem reduzida a sua cota de água, os crúzios continuaram a ter acesso a amplos mananciais de água, utilizados copiosamente no parque de Santa Cruz, construído entre 1723 e 1752, existindo no seu interior abundantes fontes, cascatas e um lago artificial, que os frades utilizavam para fins recreativos (Araújo, 2002). Estes pontos de água eram abastecidos através de uma complexa rede de canos e galerias (que visitámos) e que terão sido conectados aquando da sua construção com o “cano geral” da Ribela, obra que corresponde eventualmente à última fase de galerias construídas sob o solo de Coimbra. O CONTROLO DA RIBELA E A QUESTÃO DOS BAN HOS PÚBLICOS / BANHOS RÉGIOS Refira-se que a Ribela devia fornecer caudais importantes e água de qualidade. Alguns investigadores (Alarcão, 1979; Mantas, 1992; Mantas, 1996), na senda de Vergilio Correia (1946) têm argumentado que em época romana este curso de água abasteceria os banhos públicos, situados no local que viria a ser ocupado pelo Mosteiro de Santa Cruz. Estes banhos romanos teriam subsistido até à época da reconquista, sendo referidos num documento datado 1080 — publicado por Rocha Madail (apud Alarcão, 1979) — como balneum civitatis. Posteriormente no documento em que é delimitado o mosteiro, datado de 1137, são Miguel ALMEIDA Arqueólogo mencionadas as ruínas de balneis regis em cuja zona se ergueria o mosteiro. Este balneário daria inclusive o nome à Ribela, aqui mencionada como torrente balneis regis (Alarcão, 1979; Mantas, 1992). UM SISTEMA COMPLEXO E IMBRICADO Assim, e antes mesmo do início do acompanhamento arqueológico propriamente dito, a avaliação resultante dos simples trabalhos de preparação bibliográfica e cartográfica preliminar da intervenção de campo denunciava já uma situação de significativa complexidade das realidades arquitectónicas em apreço (desde a época romana e até à época contemporânea, foram erigidas uma série de estruturas destinadas ao 13. 45 abastecimento e escoamento de água, que comunicam entre si, se interceptam e se gCbr04 cortam), face, paradoxalmente, a uma escassez evidente do conhecimento actual deste sistema subterrâneo, cuja complexidade e imbricação traduzirão os ritmos da evolução, mas também as próprias tensões sócio-políticas da história secular de Coimbra. OBJECTIVOS , ESTRATÉGIA E METODOLOGIA DA INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA DESCRIÇÃO DOS OBJECTIVOS DA INTERVENÇÃO Motivada pela necessidade de minimização de um projecto de intervenção urbana e, consequentemente, contida nos limites apertados da arqueologia preventiva, a presente intervenção permitiu, porém, contribuir para a superação desta lacuna do conhecimento da história da cidade. Assim, procurámos, quer em fase preliminar de preparação prévia da intervenção, quer durante os trabalhos de campo, reunir elementos relevantes para a caracterização e atribuição crono-cultural do sistema subterrâneo das galerias de Coimbra, através do de um estudo sintético das fontes bibliográficas e documentais, do reconhecimento do seu percurso e da caracterização in loco das técnicas e materiais de construção utilizados, da tipologia da construção, da sua funcionalidade. Naturalmente, contudo, o referido carácter preventivo da intervenção determinaria o carácter apenas parcelar (desde logo do ponto de vista da sua extensão) dos resultados obtidos, cuja validação definitiva dependerá da realização — eventualmente em contexto diferente do da arqueologia preventiva e de emergência — de um programa de trabalhos Miguel ALMEIDA arqueológicos que tenha por objectivos a caracterização global e detalhada da extensão, Arqueólogo arquitectura, topografia e funcionalidade do sistema de galerias subterrâneas de Coimbra. DESCRIÇÃO DA E STRATÉGIA E METODOLOGIA DOS TRABALHOS Em virtude ainda da natureza de acompanhamento da presente intervenção de arqueologia preventiva e das características específicas dos próprios trabalhos a acompanhar — no caso apenas uma intervenção de topografia —, a estratégia adoptada para a realização dos trabalhos de arqueologia consistiu apenas no registo e descrição exaustiva, incluída a localização exacta na planta das galerias, de todos os indícios acerca das técnicas e 14. 45 gCbr04 ritmos de construção, evolução e funcionamento da estrutura em apreço. Assim, teve-se naturalmente um cuidado especial na identificação e localização exacta de todos os elementos relevantes para a reconstituição destes ritmos construtivos, nomeadamente no que respeita às soluções fig. 06 — Galeria de Sá da Bandeira: aspecto de um troço do percurso da galeria apresentado diferentes soluções técnicas de cobertura justapostas. técnicas utilizadas, por vezes evidentemente diacrónicas e reveladoras de trabalhos de recuperação ou de remodelação do sistema (fig. 06), zonas de contacto de diferentes técnicas construtivas (fig. 07), que poderão denunciar também diferentes fases de construção, e integração na estrutura de elementos arquitectónicos reaproveitados de edifícios anteriores (fig. 08), testemunho da relação da estrutura com a evolução fig. 07 — Galeria da Fonte: pormenor e uma zona de contacto entre dois aparelhos distintos de construção, em pedra e em tijolo. urbana da cidade. Toda a topografia do local foi realizada pela equipa especializada da AlpVertical, que também procedeu ao registo fotográfico da intervenção e dos elementos arqueológica e patrimonialmente relevantes, neste caso sob coordenação dos técnicos da Dryas Arqueologia. Miguel ALMEIDA Arqueólogo fig. 08 — Galeria de Sá da Bandeira: pormenor de um elemento arquitectónico decorativo reaproveitado 15. 45 de um edifício anterior e hoje integrado na galeria de Sá da Bandeira, um pouco a jusante da Fonte Monumental do Parque de Santa Cruz. gCbr04 DESCRIÇÃO DA INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA DIRECÇÃO DOS TRABALHOS E CONSTITUIÇÃO DA EQUIPA DE ARQUEOLOGIA A equipa constituída pela Dryas para esta intervenção de arqueologia preventiva teve em atenção tanto os requisitos técnicos que a sua execução exigia (nomeadamente a exploração da bibliografia da especialidade e a caracterização de estruturas técnicas construídas), bem como as especificidades impostas pelo tipo de meio em que se realizariam os trabalhos de campo. A intervenção decorreu sob a responsabilidade técnico-científica dos dois signatários deste relatório final, Miguel Almeida e Filipe Gonçalves, que também realizaram pessoalmente a totalidade dos trabalhos de campo. A equipa incluiu ainda a participação de Maria João Neves e Soraya Rocha, que realizaram todos os trabalhos preparatórios de pesquisa bibliográfica e documental que permitiram a integração das observações realizadas durante os trabalhos de campo em hipóteses relevantes para a compreensão da história do urbanismo da cidade de Coimbra. MEIOS UTILIZADOS Para a execução dos trabalhos apenas teve de utilizar-se o material necessário para a descrição e registo das estruturas subterrâneas visitadas. Estas visitas, não obstante, exigiam, pelas características do meio confinado e húmido Miguel ALMEIDA em que decorria a intervenção, a utilização de equipamentos de protecção individual que Arqueólogo incluíam o capacete munido de frontal, o vestuário impermeável e calçado apropriado e lanternas, para garantir a melhor luminosidade possível. Sendo o registo topográfico e fotográfico do sistema da responsabilidade da equipa de topografia da AlpVertical, não nos foi necessária a utilização de qualquer equipamento de fotografia ou de topografia, sendo todos os elementos destas naturezas utilizados para a interpretação dos dados recolhidos no terreno e incluídos neste relatório fornecidos à equipa de arqueologia directamente pela AlpVertical. As deslocações para o local foram feitas em viatura TT Mitsubishi Strakar L200 4x4. 16. 45 gCbr04 DATAS E DURAÇÃO DOS TRABALHOS DE CAMPO Os trabalhos de campo da intervenção a que se refere o presente documento foram realizados nos dias 6, 7 e 10 de Setembro de 2004 DESCRIÇÃO DOS TRABALHOS DE CAMPO Sendo esta uma intervenção de acompanhamento arqueológico de um trabalho de levantamento topográfico do sistema de galerias subterrâneas de Coimbra — cujo impacto sobre a estrutura se reduzia à instalação de alguns pontos de apoio à topografia (cfr. supra), no que respeita à intervenção de campo, os trabalhos específicos da equipa de arqueologia consistiram exclusivamente na integração em todas as equipas de topografia de um arqueólogo a fim de proceder à descrição pormenorizada dos diferentes troços das condutas e coordenar a realização do registo fotográfico do local, também a cargo da AlpVertical (fig. 09). Na inexistência de plantas topográficas de pormenor (cuja produção consistia fig. 09 — Aspecto dos trabalhos de levantamento topográfico do Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra. precisamente no objectivo dos trabalhos em curso no local), durante a intervenção de campo recorreu-se à realização de plantas esquemáticas com vista à posterior localização de pormenor das descrições e registos fotográficos produzidos in loco (fig. 10). As áreas intervencionadas correspondem em absoluto com os traçados incluídos na topografia produzida pela equipa da AlpVertical. Miguel ALMEIDA MEMÓRIA DESCRITIVA DA S GALERIAS VISITADAS Arqueólogo As galerias de Coimbra estudadas integram uma rede de aquedutos enterrados de escoamento de águas pluviais e abastecimento de água à cidade de Coimbra, que abrange parte significativa da urbe de raiz histórica. Por força da referida natureza preventiva da presente intervenção de arqueologia, esta restringe-se apenas às galerias localizadas na zona de afecta ção prevista do projecto do Metro de superfície de Coimbra, onde a equipa de topografia que acompanhámos no terreno realizou o levantamento topográfico das condutas em causa, nomeadamente: 17. 45 gCbr04 Miguel ALMEIDA Arqueólogo fig. 10 — Exemplo de uma das plantas esquemáticas utilizadas para orientação e localização dos diferentes troços descritos das condutas durante a intervenção de campo. 18. 45 38 gCbr04 § a z o n fig. 11 — Implantação geográfica e a localização relativa das diferentes galerias mencionadas no texto. d o Jardim da Sereia, parte integrante da antiga cerca dos Crúzios; § a zona da praça da República e da Avenida Sá da Bandeira; e § a zona da Rua Pedro Monteiro, em direcção à zona de Celas. Por razões de lógica de apresentação optamos por fazer a análise das várias galerias em separado, dividindo a descrição pelas cinco galerias onde decorreu a intervenção (fig. 11): § A galeria da Rua Pedro Monteiro; § A galeria do Talude; § A galeria da Fonte; § A galeria do Escadório; e § A galeria de Sá da Bandeira. Miguel ALMEIDA Arqueólogo RESULTADOS DA INTERVENÇÃO DE ARQUEOLOGIA DESCRIÇÃO DE PORMENOR DE CADA UMA DAS GALERIAS VISITADAS Como se referiu acima, eram objectivos fundamentais desta intervenção: § a caracterização das galerias de Coimbra no que respeita aos materiais de construção e soluções técnicas adoptadas; e § a compilação de elementos relevantes para a localização cronológica, compreensão da história evolutiva e integração destas estruturas no quadro mais geral da história da cidade de Coimbra. 19. 45 gCbr04 A localização geográfica de pormenor de toda a estrutura, factor indispensável para a concretização destes objectivos específicos da intervenção de arqueologia, decorria já dos trabalhos de levantamento topográfico da responsabilidade da AlpVertical que nos competia apenas acompanhar. Assim, todas as informações relativas à planta e georeferenciação da estrutura que incluímos neste relatório foram produzidas pela equipa técnica da AlpVertical. Os documentos cartográficos que aqui incluímos foram produzidos pela Dryas, sempre com base naqueles dados fornecidos pela AlpVertical, tal como se referiu em cada caso. Dos trabalhos realizados resultam como notas dominantes: § a observação da coincidência da galeria de Sá da Bandeira com a localização da antiga Ribela de Coimbra, e fig. 12 — Galeria da Fonte, diversidade de soluções técnicas: pormenor do tecto em abóbada de berço. § a evidência da diacronia importante da vida útil do sistema, plasmada em diferentes momentos de construção, reconstrução, mudança de funcionalidade, desmantelamento e condenação de condutas, culminando na reutilização das diferentes galerias para os sistemas actuais de escoamento de águas pluviais e saneamento da cidade de Coimbra. A descrição que se segue, realizada de forma independente para cada uma das galerias discriminadas, não segue nenhuma outra ordem do que a mera sequência Miguel ALMEIDA Arqueólogo cronológica dos trabalhos de campo que dão origem a este relatório. Trata-se aqui exclusivamente de um resumo descritivo das estruturas observadas, reservando-se a discussão dos elementos para uma sua articulação e integração na história da cidade para parágrafo ulterior. GALERIA DA F ONTE O conjunto é formado por quatro diferentes troços que comunicam entre si, observando-se ao longo da galeria, de extensão relativamente curta, uma variabilidade assinalável das técnicas utilizadas, quer de revestimento das paredes, quer de construção da cobertura da galeria. Assim, se logo após a entrada na galeria (que se faz por meio de uma pequena porta de 20. 45 acesso localizada imediatamente à esquerda da dita fonte) a técnica utilizada na gCbr04 construção das paredes inclui o recurso a blocos calcários de média dimensão, tamanho regular e toscamente aparelhados, noutros tramos a construção do aqueduto parece ter-se reduzido à sua escavação nas camadas do substrato geológico, cuja ulterior evolução pedosedimentar e meteorização progressiva — de resto, para além de uma mais do que provável acção mecânica que decorre da sua (presente) situação bastante superficial —, resulta aliás num estado actual de avançada degradação da estrutura. Esta variabilidade de soluções, todavia, é ainda mais evidente no que respeita ao fecho superior do aqueduto . Este varia entre a técnica construtiva da abóbada de berço, executada com tijolos dispostos transversalmente ao sentido da galeria (fig. 12), a escavação directa no afloramento rochoso, procurando-se ainda aqui um efeito de abóbada (fig. 13), e a cobertura da conduta com blocos calcários de grandes dimensões dispostos em “V” invertido (fig. 14). Não obstante nos seja de momento impossível emitir opinião definitiva acerca do significado histórico de tal diversidade de soluções técnicas, esta não deverá deixar de Miguel ALMEIDA Arqueólogo fig. 13 — Galeria da Fonte, diversidade de soluções técnicas: pormenor do tecto da zona integralmente escavada na rocha. fig. 14 — Galeria da Fonte, diversidade de soluções técnicas: pormenor do tecto com lajes fincadas em “V” invertido. 21. 45 gCbr04 ser considerada à hora de uma interpretação global do sistema de galerias subterrâneas de Coimbra e da sua evolução histórica. Tal consideração, refira-se ainda, deverá notar não apenas a relevância cronológica de cada uma das técnicas identificadas, como também os indícios de eventuais ritmos construtivos (e reconstrutivos) denunciados por algumas observações de terreno, e de que poderá constituir um indíc io aquela técnica de cobertura por meio de blocos de grandes dimensões fincados em “V” invertido, que apenas identificámos num percurso relativamente reduzido da galeria e apresentava argamassas aplicadas do exterior, evidenciando assim a construção deste tramo da galeria a céu aberto, por meio de uma vala posteriormente colmatada. GALERIA DO ESCADÓRIO DE SANTA CRUZ Trata-se da mais curta das galerias incluídas na intervenção de topografia. fig. 15 — Pormenor da galeria do escadório: paredes com blocos de calcário e tecto em abobada de berço. Terá sido construída para o abastecimento dos vários espelhos de água ao longo do escadório do jardim de Santa Cruz e da fonte monumental barroca, localizando-se directamente por debaixo das lajes que compõem o escadório. Voltamos a identificar a mesma técnica construtiva para as paredes Miguel ALMEIDA Arqueólogo do aqueduto, efectuada com blocos calcários de média dimensão, embora neste caso se tenham identificado vestígios de argamassas como reboco dos blocos. O tecto é fechado em abobada de berço, constituída por tijolos argamassados (fig. 15). A exiguidade do espaço interior da galeria impede rapidamente a progressão da equipa de topografia no seu interior, não obstante seja evidente que a galeria continua activa, sendo porém a sua actual solução de continuidade com a galeria de Sá da Bandeira inacessível. GALERIA DA AV. SÁ DA BANDEIRA O aqueduto da Praça da República e Av. Sá da Bandeira (para o qual existem diversas entradas actuais, quer na Av. Sá da Bandeira, quer mesmo na zona mais baixa do 22. 45 Jardim da Sereia — fig. 16) consiste na mais longa das galerias visitadas no âmbito deste acompanhamento arqueológico. gCbr04 Esta galeria é também claramente aquela que apresenta maiores dimensões da conduta (que chega a atingir os cerca de três metros de altura por mais de um de lado), pese embora ao longo do seu percurso visitado se tenham identificado inúmeras reconstruções e remodelações da conduta que, em muitos casos, implicaram reduções significativas das suas dimensões originais. A conduta é, por outro lado, ponto de chegada de diversas condutas afluentes de menores dimensões que reúnem as águas pluviais (? — e saneamento?) de ambas as vertentes do vale da Ribela nesta galeria de Sá da Bandeira, que assim desempenha o papel de colector central de um sistema complexo e ramificado de condutas, a maior parte das quais de dimensões insuficientes para permitir a sua visita e que não foram objecto fig. 16 — Vista geral da zona de um dos acessos da galeria de Sá da Bandeira na zona de entrada do Parque de Santa Cruz. de topografia sistemática. Em toda a evidência, a constituição do esquema actual deste sistema terá sido objecto de uma evolução a diferentes ritmos e de longa diacronia, ao longo da qual, de resto, a (re-)utilização da conduta central não terá sempre obedecido a uma estratégia única, nem sempre decorrido dos mesmos objectivos, necessidades e funcionalidade. No que respeita à tecnologia de construção, pese embora se tenha podido observar nesta galeria praticamente todo o inventário de técnicas que identificámos nas demais galerias visitadas, muitas vezes em clara associação com momentos de remodelação da história evolutiva complicada da estrutura, é ainda evidente corresponder a totalidade da galeria (na extensão visitada) a um único momento construtivo original, depois então Miguel ALMEIDA Arqueólogo objecto das sucessivas remodelações ao longo dos séculos. A galeria apresenta, por outro lado, do ponto de vista técnico algumas singularidades que não se observaram nas demais galerias, entre as quais se contam a utilização de arcos a meia altura para consolidação da estrutura (fig. 17) e o isolamento de canais de aprovisionamento de “água limpa” com recurso à construção de caneiros de abastecimento com telhas de meia cana invertidas sobrelevados em relação à base da conduta, onde correriam águas conduzidas com menores cuidados, fosse esta condução destinada ainda a fins de aproveitamento agrícola ou já de mero escoamento da bacia hidrográfica da Ribela. 23. 45 gCbr04 Para evidenciar ainda a originalidade desta galeria face às demais visitadas, a galeria da Praça da República / Sá da Bandeira é aquela em que a utilização do aparelho pétreo como técnica de construção da estrutura é mais fig. 17 — Galeria de Sá da Bandeira: solução arquitectónica de consolidação e contenção do espaço interior da galeria através da utilização de arcos a meia altura. profundamente empregue, observando-se no corpo principal da galeria a utilização de blocos nas paredes e no tecto, formando uma abobada com consolidado aparelho com regular argamassa (fig. 18). fig. 18 — Galeria de Sá da Bandeira: tecto da galeria em blocos calcários aparelhados. Em consequência da longa duração da sua vida útil, a estrutura revela, como já dissemos, várias fases construtivas, que em alguns casos Miguel ALMEIDA Arqueólogo desvirtuaram — por vezes profundamente — a traça das primeiras obras. Assim, pudemos observar troços em que a galeria foi reduzida a pouco mais de meio metro de largura por um metro altura, preservando, pelo contrário, as suas dimensões originais noutros ramos t do seu percurso (fig. 19). Em mais do que uma situação a galeria foi reduzida através da construção de paredes e/ou de novo tecto, resultando a estrutura que chegou aos nossos 24. 45 fig. 19 — Uma das zonas de maior gCbr04 amplitude interior da galeria de Sá da Bandeira. fig. 20 — Galeria de Sá da Bandeira: um exemplo do testemunho da longa história de reparações e remodelações sofrida pela estrutura — aspecto de uma intervenção de redimensionamento da conduta interna. dias num articulado complexo tecido ao longo das necessidades momentâneas de cada uma das épocas em que foi utilizada (fig 20). Obras recentes dotaram a galeria de poços de acesso, que em alguns casos chegam a atingir os quinze metros de altura (fig. 21). De resto, refira-se a este respeito que a existência de diversos antigos poços de acesso condenados a diferentes altimetrias e profundidades em relação à topografia actual da Avenida de Sá da Bandeira consiste ainda em mais um elemento relevante para a compreensão da evolução urbana desta zona da cidade de Coimbra, pelo menos desde fig. 21 — Galeria de Sá da Bandeira: exemplo de um meados de oitocentos. dos poços de acesso activos, localizado na Av. de Sá da Bandeira. Miguel ALMEIDA Arqueólogo A jusante, a galeria foi por nós visitada até ao ponto em que uma intervenção de remodelação de data indeterminada provoca a redução da conduta a dimensões que impossibilitaram a progressão da equipa de topografia. GALERIA DA RUA PEDRO MONTEIRO A entrada na galeria da Rua Pedro Monteiro faz-se por uma porta que ostenta a data moderna, que poderá indicar a data de construção da estrutura que actualmente subsiste ou apenas o momento de uma remodelação de uma estrutura que já então exigisse a realização de uma tal intervenção. 25. 45 gCbr04 Com efeito, pese embora apresente algumas características técnicas compatíveis com uma sua eventual origem na época romana e o seu traçado coincida exactamente com aquele que se infere ter fig. 22 — Galeria da Rua Pedro Monteiro: abobada de berço em tijolo e argamassa. sido o da estrutura romana original, nenhuma observação parece poder hoje fundar uma atribuição inequívoca do tramo de aqueduto que persiste na Rua Pedro Monteiro à época antiga. Na zona da actual entrada — situada no extremo jusante do percurso que ainda se preserva, tendo a conduta sido aqui interrompida pela construção das casas que ainda existem no local — a técnica utilizada implicou a construção de paredes em blocos de calcário de média dimensão e de um tecto em abobada de berço, elaborada em tijolo disposto longitudinalmente ao sentido da galeria, tudo denotando excelente cuidado construtivo (fig. 22). No percurso subsequente, para montante, observa-se um alargamento da galeria, simultâneo com a mudança da técnica de construção da conduta, que aqui é directamente escavada na Miguel ALMEIDA Arqueólogo rocha (fig. 23) até à origem desta galeria. Mais uma vez, não se descarta a possibilidade de a esta diversidade de técnicas poder corresponder fig. 23 — Galeria da Rua Pedro Monteiro — percurso integralmente escavado na rocha: aspecto da solução técnica de cobertura. também uma diversidade de cronologia de construção dos dois tramos identificados, o que, a comprovar-se, poderia constituir testemunho material de algumas notícias históricas acerca das dificuldades sentidas em tempos medievais e modernos na captação destas águas. Não obstante, mais uma vez, os limites apertados da intervenção presente não permitem a produção de uma opinião definitiva a este respeito, a qual exigiria um outro volume de trabalhos, desde logo no 26. 45 gCbr04 que respeita à investigação directa das fontes históricas conhecidas. Objecto da complexa história de evolução da captação e condução de águas na encosta que domina a margem esquerda da Ribela, esta galeria, entretanto interrompida a jusante, terá sido colocada em conexão com a galeria denominada de galeria do talude — entretanto também ela interrompida em momento bastante recente, por ocasião da construção do edifício actual da delegação em Coimbra do Instituto Português da Juventude (IPJ) (cfr. infra). GALERIA DO T ALUDE A galeria dita “do talude”, consiste naquela que menos informações nos permite hoje recolher, na medida em fig. 24 — Aspecto dos trabalhos na galeria que o interior da conduta — entretanto já parcialmente do talude: notar o reboco integral das paredes e cobertura da conduta e a presença de uma conduta de saneamento posterior que intercepta parcialmente a galeria. interceptada por outras infra-estruturas, nomeadamente de saneamento — se mantém completamente rebocado (fig. 24), não permitindo por isso fazer quaisquer observações relevantes acerca das técnicas de construção utilizadas. A galeria, interrompida imediatamente a jusante da entrada actual, junto ao edifício actual do IPJ em Coimbra, onde também se localiza Miguel ALMEIDA o seu acesso actual (fig. 25), apresenta um percurso monótono e Arqueólogo quase completamente rectilíneo, apenas pontuado pela intercepção parcial da conduta de algumas infra-estruturas (nomeadamente de saneamento) muito recentes. Como se referiu, a preservação integral do revestimento interno da conduta impede a realização de quaisquer outras observações de carácter tecnológico que possam confirmar ou infirmar a inferência que decorre, para além daquele estado geral de conservação, da fig. 25 — Abobada de berço em tijolo e argamassa na galeria da Rua Pedro Monteiro. 27. 45 posição da conduta (integrada no muro de sustentação que ladeia a Rua Pedro Monteiro), de que estaremos aqui provavelmente perante gCbr04 um dos mais recentes tramos de galeria visitados no decurso desta intervenção. ELEMENTOS PARA A I NTERPRETAÇÃO DA HISTÓRIA DAS GALERIAS Do conjunto das observações de terreno que vimos de descrever de modo muito sumário, enquadradas pela exploração da documentação bibliográfica existente, decorrem diversos elementos relevantes para a produção de uma primeira hipótese interpretativa da evolução histórica deste sistema de infra-estruturas, que passamos a enunciar sinteticamente. O primeiro dos resultados patentes da descrição das galerias subterrâneas incluídas neste trabalho reside na diversidade das soluções técnicas usadas na sua construção e das suas dimensões, o que, a par da evidente presença de diferentes momentos de remodelação, reconstrução e reaproveitamento (cfr. supra) testemunha da longevidade histórica do sistema. Para mais, a caracterização tecnológica dos processos de construção inventariados admitiria para algumas destas galerias (vg. a galeria da Rua Pedro Monteiro e, eventualmente, a galeria de Sá da Bandeira) a evocação de uma cronologia localizada na antiguidade clássica, em resultado da sua comparação com outros exemplos conhecidos do registo arqueológico. De resto, como se verá adiante, que a localização geográfica e topográfica destas estruturas surge compatível com as hipóteses formuladas na bibliografia acerca das opções de implantação da ocupação de época romana e os e objectivos prováveis do seu sistema de captação e águas. Miguel ALMEIDA Arqueólogo Porém, a consciência da longa pervivência medieval e mesmo moderna de muitas destas técnicas, que, apesar de uma acentuada diacronia apresentam frequentemente características tipológicas e tecnológicas convergentes, impossibilita a formulação de um juízo definitivo sobre a cronologia exacta com base apenas em trabalhos de descrição de estruturas. Acresce, refira-se, ser — à parte o caso da galeria da Rua Pedro Monteiro — completamente desconhecida qualquer referência histórica ou arqueológica que consubstancie uma atribuição cronológica tão antiga que, ainda assim, as observações feitas agora justificam ser considerada, pelo menos como hipótese a infirmar. Para tanto, importaria, entre outras abordagens, indagar da possível correspondência das 28. 45 diversas técnicas utilizadas com os diferentes períodos cronológicos de utilização das galerias. gCbr04 fig. 26 — Aspecto do pátio de uma das fontes do Parque de Santa Cruz: a fonte é alimentada pela galeria da fonte, procedente da Rua Pedro Monteiro e dela parte, em direcção à zona da Praça da República uma outra galeria (a galeria do escadório) implantada em função da disposição dos percursos de passeio e espelhos de água desenhados no Parque. Outro conjunto significativo de observações é aquele que se prende com a relação das galerias com a topografia do local em que se implantam. Também a observação desta relação permite por vezes inferir da cronologia das galerias em questão: veja-se o caso das galerias localizadas na parte alta do Parque de Santa Cruz (maxime a galeria do escadório), cuja implantação topográfica resulta claramente condicionada pelo arranjo e arquitectura do Parque de Santa Cruz, construído em 1723 (fig. 26). ENSAIO DE ENQUADRAMEN TO DAS ESTRUTURAS SUBTERRÂNEAS NA HISTÓRIA DO URBANISMO DA CIDADE DE C OIMBRA NATUREZA E CONDIÇÕES DE VALIDADE DA HIPÓT ESE INTERPRETATIVA Os elementos recolhidos em resultado dos trabalhos de análise bibliográfica e da intervenção de campo da Intervenção de acompanhamento arqueológico do Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra admitem a produção de uma hipótese interpretativa destas estruturas, sua cronologia, evolução diacrónica e enquadramento na história da cidade de Coimbra. Contudo, dados os condicionalismos referidos decorrentes da natureza e limites desta intervenção, impõe a prudência e rigor científico que se afirme desde já que esta hipótese Miguel ALMEIDA exige naturalmente controle subsequente de outros trabalhos dos âmbitos específicos da Arqueólogo Arqueologia e da História que possam confirmar ou infirmar as proposições que integram esta interpretação dos factos observados e informações bibliográficas recolhidas. Nestes termos, das observações feitas e informações recolhidas pode entrever-se uma evolução complicada do sistema, que subdividimos em seis momentos cronológicos distintos que se descrevem de seguida. A leitura da hipótese de interpretação histórica deve fazer-se acompanhada da cartografia histórica sintética apresentada infra e realizada sobre base ortofotogramétrica produzida pelo Instituto Geográfico, à qual se superimpuseram os resultados do levantamento topográfico do sistema realizados pela equipa da AlpVertical, os dados recolhidos na bibliografia e documentação histórica e a expressão 29. 45 gCbr04 cartográfica das hipóteses relativas aos troços desconhecidos do sistema (fig. 27) Miguel ALMEIDA Arqueólogo 30. gCbr04 fig. 2745— Cartografia sintética da evolução histórica do Sistema de captação de águas da cidade de Coimbra. PROPOSIÇÃO DE ESQUEMA EVOLUTIVO 1. O primeiro destes momentos, anterior mesmo ao início da conformação e condicionamento antrópicos do local, corresponde ao percurso natural de uma linha de água. Este percurso, completamente alterado por força dos condicionamentos impostos pelo aproveitamento das águas ao longo dos séculos, apenas pode hoje deduzir-se da análise da morfologia das vertentes em causa, de resto também esta hoje profundamente ma scarada pela evolução urbana subsequente da cidade de Coimbra. 2. O primeiro esforço de condicionamento e aproveitamento dos recursos hídricos das encostas a Nordeste da alta de Coimbra terá ocorrido em época romana. Deste momento, porém, não dispomos hoje de outras fontes do que os testemunhos indirectos da documentação moderna produzida por ocasião da intervenção de D. Sebastião que, na sequência do episódio de estio de 1570, ordena a reconstrução do aqueduto que ainda hoje se mantém de pé entre o morro da penitenciária de Coimbra e a zona da Alta, conforme consta da inscrição a ele adossada (Loureiro, 1960).. A fazer fé nesta documentação, ter-se-iam nessa altura aproveitado da estrutura original, então já em estado de avançada ruína, apenas parte dos pegões, sendo os arcos completamente refeitos pelos mestres de D. Sebastião. Aceite esta Miguel ALMEIDA localização da entrada romana de água na acrópole, é-nos, todavia, Arqueólogo desconhecido (mais uma vez salvo o testemunho documental indirecto já do séc. XVI) o percurso inicial desta infra-estrutura de abastecimento de água cuja captação, contudo, se supõe ter sido feita na zona actual de Celas (Loureiro, 1969). Aceitando-se esta proposição, resulta natural um percurso semelhante a aquele que seria utilizado no séc. XVI, ao qual parece poder atribuir-se (mas deve ser objecto de confirmação ulterior) o troço que identificámos como galeria da Rua Pedro Monteiro. 3. À parte esta captação e condução de água à zona da acrópole, a ocupação de Coimbra terá exigido, talvez já desde tempos romanos — foi Vergílio 31. 45 gCbr04 Correia o primeiro a aventar a hipótese, posteriormente retomada por Vasco Mantas com base na disponibilidade de água e na proximidade da via romana de Olissipo-Bracara e do porto de rio (Mantas, 1992) — a utilização das águas recolhidas nas vertentes a Norte e a Noroeste da cidade para a instalação dos banhos públicos. Mais uma vez, a primeira notícia (seja esta de natureza histórica ou arqueológica) de que presentemente dispomos para testemunhar da presença destes banhos é já de época bem posterior à ocupação romana: a documentação medieval relativa à confrontação do Mosteiro de Santa Cruz refere então os banhos d’El Rey, alimentados por uma torrente de balneis regis que se admite hoje poder corresponder à linha de água da Ribela. A confir mar-se também para a época romana esta localização dos banhos públicos (da qual não se duvida para a época medieval, pese embora a sua localização exacta esteja por definir), ela traduziria uma estratégia relativa ao aproveitamento dos recursos hídricos e condições de salubridade da cidade que conhece paralelos evidentes em outros núcleos populacionais da mesma época. A confirmar-se esta possibilidade, por outro lado, ela reforça a necessidade de consideração da hipótese de existência desde tempos tão antigos de uma estrutura de captação (fosse esta exactamente aquela que conhecemos como galeria de Sá da Bandeira ou outra de que já não restem hoje vestígios) que garantisse os volumes necessários de água limpa. A este Miguel ALMEIDA Arqueólogo respeito, refira-se, importaria ainda indagar do percurso a jusante das condutas agora cartografadas, assim como da eventual possibilidade de participação das nascentes da encosta de Montarroio no fornecimento dos caudais necessários. 4. Instalado já o Mosteiro de Santa Cruz, serão recorrentes as questões relativas à utilização das águas procedentes da zona de Celas. Com efeito, dispomos de notícias de diversas queixas da população da alta face ao comportamento dos frades crúzios, que encanam a água a partir de um ponto acima dos seus domínios, subtraindo assim a água necessária ao 32. 45 gCbr04 abastecimento da população civil (cfr. supra). A este momento corresponderá hoje o essencial do troço subterrâneo que identificámos como galeria de Sá da Bandeira. O percurso inicial desta conduta subterrânea seria posteriormente desmontado para a construção do Parque de Santa Cruz, pelo que dele hoje não nos subsistem quaisquer vestígios materiais conhecidos. 5. Como já referimos, a situação só se resolverá com a intervenção ordenada por D. Sebastião em 1568 — ainda assim sob ameaça de excomunhão de todos os mestres que participaram nos trabalhos — com a recuperação integral do sistema antigo, então já completamente desactivado e em estado de completa ruína. A documentação existente explicita, sem margem para dúvidas, o percurso com origem em Celas, através da futura Rua das Arcas de Água (hoje Pedro Monteiro) e da zona da actual penitenciária de Coimbra (onde antes desta estrutura prisional esteve instalado o Colégio de Tomar). Para mais, esta documentação é clara na afirmação de que a ordem régia determina a busca da localização e a recuperação dos pontos de aprovisionamento e da parte enterrada das condutas que conduziam a água de Celas ao percurso aéreo dos “Arcos do Jardim”. Assim, a galeria da Rua Pedro Monteiro poderá corresponder quer a um troço preservado da conduta de origem romana, quer, talvez mais provavelmente, a um troço Miguel ALMEIDA reconstruído no séc. XVI. Arqueólogo 6. O último momento plasmado nas estruturas subterrâneas que são objecto deste trabalho descritivo corresponde à construção do Parque de Santa Cruz, datada de 1723, que implica a destruição completa — ou pelo menos a desactivação e condenação — do sistema anterior na área deste parque, sendo então substituído por uma rede destinada ao abastecimento das diversas fontes e espelhos de água do jardim, abastecida a montante pelas condutas da zona da Rua Pedro Monteiro (sendo aqui também desta época tardia a galeria do talude) e que desaguaria a jusante na parte conservada da galeria de Sá da Bandeira. 33. 45 gCbr04 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DO ESPÓLIO ARQUEOLÓGICO Em virtude da natureza (acompanhamento arqueológico) da intervenção de que agora se produz o presente relatório final e do carácter estritamente não intrusivo dos próprios trabalhos (um levantamento topográfico) cuja realização motiva este acompanhamento, a intervenção de campo do Acompanhamento arqueológico do Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra não resultou na produção de qualquer espécie de espólio arqueológico. AVALIAÇÃO DE RISCOS A RQUEOLÓGICOS E PATRIMONIAIS O risco arqueológico e patrimonial de afectação do Sistema de galerias subterrâneas da cidade de Coimbra que decorre do projecto de construção do futuro Metro de superfície do Mondego dependerá decisivamente dos traçados de pormenor e cotas de escavação que venha a ser determinadas pelo projecto de execução da obra. DETERMINAÇÃO DE MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO DE IMPACTO PATRIMONIAL E ARQUEOLÓGICO Refira-se a este respeito que na consideração das medidas de minimização de impacto arqueológico e patrimonial a implementar em sede da execução deste projecto devem ser consideradas, para além destas cotas de escavação, os efeitos que as diferentes tarefas implicadas por tal execução de projecto podem vir a ter sobre a integridade desta Miguel ALMEIDA estrutura. Arqueólogo Esta consideração, de resto, parece-nos tanto mais importante quanto a correcta avaliação destes efeitos surge da maior relevância não apenas para a minimização do impacto de obra sobre o património histórico, mas até para a própria segurança da obra e qualidade do seu resultado. Por outro lado, não se prevê neste momento, ainda anterior à execução da obra, a necessidade de implementação de quaisquer medidas de protecção ou conservação da estrutura, que se mantém ainda em funcionamento e não apresenta quaisquer indícios de fragilidade eminente. 34. 45 gCbr04 PROGRAMA ULTERIOR DE TRABALHOS PREVISÃO DO PROGRAMA ULTERIOR DE TRABALHOS E MEDIDAS PROVISÓRIAS DE PROTECÇÃO E CONSERVA ÇÃO Nesta fase do estudo prévio para instalação do futuro Metro do Mondego não nos parece justificar-se a realização de mais trabalhos nas galerias já visitadas. Não obstante, da análise histórica produzida acima resulta um conjunto de questões de ordem histórico-arqueológica cuja resposta exigirá a aplicação no futuro de um conjunto adequado de procedimentos analíticos, orientados para a solução das questões em aberto relacionadas com a cronologia e diacronia das várias galerias. Entre as diferentes abordagens possíveis, cumpre-nos mencionar: § O alargamento dos trabalhos de descrição das estruturas aos troços situados a jusante das galerias agora cartografadas; § O estudo do sistema de drenagem natural original das vertentes situadas a Norte e Noroeste da alta de Coimbra; § A análise dos documentos escritos relevantes para a solução destas problemáticas históricas; § A recolha de amostras das argama ssas da estrutura para comparação com outras amostras de edifícios de cronologia conhecida; e § A recolha de amostras para datação radiométrica. Miguel ALMEIDA Arqueólogo Porém, estes trabalhos, indispensáveis para a confirmação ou infirmação das proposições interpretativas enunciadas acima e, consequentemente, para a compreensão do papel desta estrutura na história da cidade de Coimbra relevam já do domínio específico da investigação programada, não parecendo necessária a sua realização em sede de programa de minimização de impacto salvo se preveja a necessidade de afectação directa da estrutura. LOCAL DE DEPÓSITO DO ESPÓLIO Nas condições descritas supra, a presente intervenção de acompanhamento arqueológico não resultou na recolha de qualquer espólio arqueológico. 35. 45 gCbr04 LOCAL, DATA E FORMA DE PUBLICAÇÃO Os resultados arqueológicos da Intervenção de acompanhamento arqueológico no Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra são já objecto de uma pequena notícia no âmbito da página da Dryas Arqueologia na Internet. Para além disto, também se envia agora, como resulta das disposições legais vigentes, um resumo de 250 palavras para divulgação on-line pelo IPA (Anexo I), que, para maior facilidade de tratamento, se inclui igualmente em ficheiro de texto no CD-ROM que acompanha este relatório. Por outro lado, a inclusão dos dados específicos da arqueologia na publicação de um artigo de carácter científico, sempre sob caução de autorização de utilização das informações que são propriedade da Metro do Mondego, está já prevista em publicação da especialidade. Tal não invalida, entretanto, a consideração de outras formas de exploração científica dos dados descritos neste relatório, assim como de outros que no decurso de trabalhos subsequentes de investigação bibliográfica e de interpretação das informações e observações de campo, que poderão motivar por parte dos autores a opção futura por outras modalidades de divulgação destes trabalhos. Miguel ALMEIDA Arqueólogo Coimbra, 205-01-07 36. 45 gCbr04 BIBLIOGRAFIA Alarcão, 1979 • Jorge Alarcão. As Origens de Coimbra, I Jornadas de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra: GAAC, 1979. pp. 23-40. Araújo, 2002 • Yann Aráujo. A Quinta de Santa Cruz (Contributo para o estudo da sua História Contemporânea), Policopiado. Fundação Passos Canavarro, 2002. Correia, 1946 • Vergílio Correia. “Obras”. Acta Universitatis Conimbricensis. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1946. Leal, 1874 • Pinho Leal. “Portugal Antigo e Moderno – Diccionário Geographico, Estatístico, Corographico, Heráldico, Archeologico, Histórico, Biographico e Etymologico”. Lisboa: Ed. Tavares Cardoso & Irmão, 1874. Loureiro, 1960 • J. Pinto Loureiro. “Toponímia de Coimbra”. Tomo I. Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra, 1960. Mantas, 1992 • Vasco Mantas. Notas sobre a estrutura urbana de Aeminium. Biblos nº 68. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1992. pp. 487-513. Mantas, 1996 Miguel ALMEIDA • Vasco Mantas. A Rede Viária Romana da faixa atlântica entre Lisboa e Braga. Policopiado. Tese de doutoramento apresentada à FLUC. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1996. p. 805. Arqueólogo CARTOGRAFIA • Os percursos das condutas existentes foram traçados de acordo com a topografia e planimetria do sistema de galerias subterrâneas de Coimbra produzido pela AlpVertical para a empresa Metro do Mondego, S.A. • A base ortofotogramétrica sobre a qual se procedeu à implantação das galerias existentes e à interpretação histórica da evolução do sistema foi disponibilizada pelo Instituto Geográfico, tendo sido obtida através da página Internet do SNIG – Sistema Nacional de Informação Geográfica • Os extracto do mapa topográfico de Coimbra foram recolhidos da folha 230 – Coimbra (Norte) da Carta Militar de Portugal, publicada pelo Instituto Geográfico do Exército. ABREVIATURAS 37. 45 § A.H.M.C. – Arquivo histórico Municipal de Coimbra gCbr04 Miguel ALMEIDA Arqueólogo LISTA DE FIGURAS § figura de capa — Aspecto dos trabalhos realizados no Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra. § fig. 01 – Localização da área de implantação das estruturas subterrâneas interessadas pela intervenção de acompanhamento arqueológico do Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra (extracto da CMP 1/25.000, fl. 230 - Coimbra). § fig. 02 - Pormenor da colocação de um ponto material de apoio topográfico. § fig. 03 — Aspecto da acumulação de lixos urbanos actuais no solo das condutas (topo da galeria da fonte). § Fig. 04 — Aspecto do interior das condutas: remodelações do espaço interno e pontos topográficos pintados (galeria de Sá da Bandeira). 38. 45 gCbr04 § Fig. 05 — Aspecto de algumas das entradas para as diferentes galerias visitadas: galeria da Fonte, galeria da Rua Pedro Monteiro; galeria de Sá da Bandeira. § Fig. 06 — Galeria de Sá da Bandeira: aspecto de um troço do percurso da galeria apresentado diferentes soluções técnicas de cobertura justapostas. § Fig. 07 — Galeria da Fonte: pormenor e uma zona de contacto entre dois aparelhos distintos de construção, em pedra e em tijolo. § Fig. 08 — Galeria de Sá da Bandeira: pormenor de um elemento arquitectónico decorativo reaproveitado de um edifício anterior e hoje integrado na galeria de Sá da Bandeira, um pouco a jusante da Fonte Monumental do Parque de Santa Cruz. § fig. 09 — Aspecto dos trabalhos de levantamento topográfico do Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra. § fig. 10 — Exemplo de uma das plantas esquemáticas utilizadas para orientação e localização dos diferentes troços descritos das condutas durante a intervenção de campo. § fig. 11 — Implantação geográfica e localização relativa das diferentes galerias mencionadas no texto: § § § § § Galeria da Rua Pedro Monteiro Galeria do Talude Galeria da Fonte Galeria do Escadório Galeria de Sá da Bandeira § fig. 12 — Galeria da Fonte, diversidade de soluções técnicas: pormenor do tecto em abóbada de berço. § fig. 13 — Galeria da Fonte, diversidade de soluções técnicas: pormenor do tecto da zona integralmente escavada na rocha. § fig. 14 — Galeria da Fonte, diversidade de soluções técnicas: pormenor do tecto com lajes fincadas em “V” invertido. § fig. 15 — Pormenor da galeria do escadório: paredes com blocos de calcário e tecto em abobada de berço. § fig. 16 — Vista geral da zona de um dos acessos da galeria de Sá da Bandeira na zona de entrada do Parque de Santa Cruz. § fig. 17 — Galeria de Sá da Bandeira: solução arquitectónica de consolidação e contenção do espaço interior da galeria através da utilização de arcos a meia altura. § fig. 18 — Galeria de Sá da Bandeira: tecto da galeria em blocos calcários aparelhados. § fig. 19 — Uma das zonas de maior amplitude interior da galeria de Sá da Bandeira. § fig. 20 — Galeria de Sá da Bandeira: um exemplo do testemunho da longa história de reparações e remodelações sofrida pela estrutura — aspecto de uma intervenção de redimensionamento da conduta interna. § fig. 21 — Galeria de Sá da Bandeira: exemplo de um dos poços de acesso activos, Miguel ALMEIDA localizado na Av. de Sá da Bandeira. Arqueólogo § fig. 22 — Galeria da Rua Pedro Monteiro: abobada de berço em tijolo e argamassa. § fig. 23 — Galeria da Rua Pedro Monteiro — percurso integralmente escavado na rocha: aspecto da solução técnica de cobertura. § fig. 24 — Aspecto dos trabalhos na galeria do talude: notar o reboco integral das paredes e cobertura da conduta e a presença de uma conduta de saneamento posterior que intercepta parcialmente a galeria. § fig. 25 — Abobada de berço em tijolo e argamassa na galeria da Rua Pedro Monteiro. § fig. 26 — Aspecto do pátio de uma das fontes do Parque de Santa Cruz: a fonte é alimentada pela galeria da fonte, procedente da Rua Pedro Monteiro e dela parte, em direcção à zona da Praça da República uma outra galeria (a galeria do escadório) implantada em função da disposição dos percursos de passeio e espelhos de água desenhados no Parque. § fig. 27 — Cartografia sintética da evolução histórica do Sistema de captação de águas da cidade de Coimbra. 39. 45 gCbr04 Miguel ALMEIDA Arqueólogo ANEXO I resumo de 250 palavras para publicação na internet 40. 45 gCbr04 RESUMO Miguel ALMEIDA Arqueólogo A preparação da construção do futuro Metro do Mondego justificou a realização de um trabalho prévio de descrição do sistema de galerias subterrâneas da cidade de Coimbra, que se realizou por ocasião dos trabalhos de levantamento topográfico destas galerias conduzidos pela empresa AlpVertical. Estes trabalhos, cujos objectivos principais consistiam na caracterização das galerias no que respeita aos materiais de construção e soluções técnicas adoptadas e na compilação de elementos relevantes para a atribuição cronológica, compreensão da história evolutiva e integração destas estruturas no quadro mais geral da história da cidade de Coimbra, revelaram um conjunto de condutas, cuja planta actual resulta de um processo poligenético complicado e provavelmente de importante profundidade histórica, em que o sistema de galerias conheceu fases sucessivas de alargamento e reformulação, ao sabor das necessidades momentâneas dos seus construtores ou de quem detinha a sua gestão. A conjugação das observações de campo com os resultados dos trabalhos de análise bibliográfica e documental permite-nos propor uma história de evolução deste sistema e da sua relação com a história da cidade pelo qual perpassam fundamentalmente todas as opções relativas ao abastecimento de água e ao urbanismo de Coimbra, mas também algumas das tensões mais significativas da história social da cidade. Nestes termos, a consideração da hipótese de uma origem (pelo menos de parte) do sistema ainda em época romana e a compreensão do papel da água nas relações estabelecidas entre o Mosteiro de Santa Cruz e a cidade merecem especial atenção deste trabalho. 41. 45 gCbr04 Miguel ALMEIDA Arqueólogo ANEXO II ficha de sítio do IPA 42. 45 gCbr04 Ficha de Sítio/Trabalho Arqueológico (para acompanhar o relatório) Sítio Designação Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra Distrito Coimbra Concelho Coimbra Freguesia Santa Cruz Lugar - - - C.M.P. 1:25.000 folha nº 230 – Coimbra (norte) Latitude N 40º12'39” Longitude W (Greenwich) 08º24'57” Altitude (m) 412 metros Tipo de sítio** aqueduto Período cronológico** romano (?) / medieval / moderno Descrição do sítio (15 linhas) O sistema de galerias em questão localiza-se em pleno centro urbano de Coimbra, maioritariamente sob o Parque de Santa Cruz, a Rua Pedro Monteiro e a Av. Sá da Bandeira. A estrutura consiste de um conjunto de galerias subterrâneas destinadas ao abastecimento e escoamento de águas que na maioria comunicam entre si. Trata-se de uma estrutura que apresenta um conjunto bastante diverso de técnicas de construção e em que se torna evidente a grande diacronia da utilização e das diferentes fases de remodelação do sistema. Bibliografia Diversos Proprietários - - - Classificação** - - - Legislação** - - - Estado de conservação** regular Uso do solo** Urbano Ameaças** Construção civil Protecção/vigilância** - - - Acessos Diversas entradas no actual Parque de Santa Cruz e através de caixas de visitação localizadas na via pública, nomeadamente na Av. Sá da Bandeira e na Rua Pedro Monteiro. Espólio Descrição --- Local de depósito --- Trabalho arqueológico de 2004 Arqueólogo responsável Miguel Almeida e Filipe Gonçalves Tipo de trabalho Acompanhamento arqueológico Datas: de início 2004-09-06 Datas: de início 2004-09-10 Duração 3 dias Projecto de investigação --Objectivos (10 linhas) Motivada pela necessidade de minimização de um projecto de intervenção urbana a presente intervenção pretendia, quer em fase preliminar de preparação prévia da intervenção, quer durante os trabalhos de campo, reunir elementos relevantes para a caracterização e atribuição crono-cultural do sistema subterrâneo das galerias de Coimbra, através do de um estudo sintético das fontes bibliográficas e documentais, do reconhecimento do seu percurso e da caracterização in loco das técnicas e materiais de construção utilizados, da tipologia da construção, da sua funcionalidade. Resultados (15 linhas) Dos trabalhos realizados resultam como notas dominantes: § a observação da coincidência da galeria de Sá da Bandeira com a localização da antiga Ribela de Coimbra, e § a evidência da diacronia importante da vida útil do sistema, plasmada em diferentes momentos de construção, reconstrução, mudança de funcionalidade, desmantelamento e condenação de condutas, culminando na reutilização das diferentes galerias para os sistemas actuais de escoamento de águas pluviais e saneamento da cidade de Coimbra. Do conjunto das observações feitas no terreno, enquadradas pela exploração da documentação bibliográfica existente, decorrem diversos elementos relevantes para a produção de uma primeira hipótese interpretativa da evolução histórica deste sistema de infra-estruturas, que passamos a enunciar sinteticamente. ** Preencher de acordo com a lista do Thesaurus do ENDOVÉLICO. Essa Lista pode ser consultada no site do IPA: www.ipa.min-cultura.pt TIRAGEM ORIGINAL: 6 exs. RESPONSABILIDADE TÉCNICO-CIENTÍFICA DA INTERVENÇÃO: Miguel ALMEIDA e Filipe GONÇALVES RECOLHA BIBLIOGRÁFICA E DOCUMENTAL: Soraya ROCHA e Maria João NEVES TRABALHOS DE CA MPO: Miguel ALMEIDA e Filipe GONÇALVES FOTOGRAFIAS : AlpVertical, Lda. DEPARTAMENTO DRYAS: Arqueologia Urbana COMPOSIÇÃO E GRAFISM O: departamento de publicações 2004 © dryas arque arqueologia, ologia, lda. CARTOGRAFIA: AlpVertical, Lda. / Miguel ALMEIDA