A busca do Brasil por um futuro sustentável

Transcrição

A busca do Brasil por um futuro sustentável
Sol
e Sombra
A busca do Brasil por
um futuro sustentável
Sol e
sombra
sobre
o verde
eo
dourado
Se o Brasil conseguir explorar
– e proteger – seus vastos
recursos, poderá ser uma
potência do século XXI.
Conor Foley e Jonathon Porritt
analisam as possibilidades
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Green Futures abril de 2010
www.greenfutures.org.uk
O
S brasileiros com frequência brincam
dizendo que seu país tem um futuro promissor – “e sempre
terá”. Entretanto, mais recentemente tem havido um
sentimento de otimismo genuíno de que o País poderia novamente estar
assumindo o que se percebe como o seu lugar de direito no planeta.
Por mais de um século, até a década de 1980, o Brasil teve
uma das mais altas taxas de crescimento econômico, comparável
à de qualquer país de grande importância no mundo. O País se
transformou de uma sociedade predominantemente rural para uma
nação principalmente urbana no espaço de poucas décadas, com um
dos maiores e mais rápidos movimentos populacionais já vistos em
tempos de paz. Por volta da década de 1950, o País se encontrava
em uma trajetória para ultrapassar os Estados Unidos, e foi o Brasil –
e não a China – que fascinou os formuladores de políticas ocidentais.
O presidente Juscelino Kubitschek prometeu que sua nação realizaria
“50 anos em cinco” e criou uma nova capital, Brasília, no coração do
território. A terra da bossa nova, do samba, do carnaval e dos gênios
do futebol também se tornou o destino favorito para a temporada
de férias de astros do cinema como Ginger Rogers e Fred Astaire.
Mas isso não duraria muito. Um golpe militar, erros crassos
de gestão econômica e as crises do petróleo e da dívida externa da
década de 1970 atingiram duramente o Brasil, resultando no que
com frequência é denominado a “década perdida”. O crescimento
econômico entrou em marcha à ré e a criminalidade e a pobreza
aumentaram em uma espiral fora de controle. A democracia voltou,
de modo claudicante, mas, em meados da década de 1990, o Brasil
era praticamente sinônimo de violência urbana e destruição rural.
Esquadrões da morte integrados por agentes policiais matavam
crianças de rua nas cidades, enquanto pistoleiros – assassinos
pagos pelos barões do gado – despachavam ativistas ambientais
e trabalhadores sem-terra para o mesmo destino no meio rural. O
Brasil havia se tornado uma das sociedades mais violentas e desiguais
do mundo, enquanto a corrupção desgastava suas instituições
governamentais.
Mas o pesadelo finalmente chegou ao fim. Os militares foram
obrigados a voltar para a caserna e uma democracia vibrante passou
a vigorar. A Bolsa de Valores brasileira de hoje opera a pleno vapor,
a inflação está baixa e o real, forte. Milhões foram erguidos da
pobreza por uma combinação de crescimento econômico, a criação
de 8 milhões de novos empregos e programas sociais inovadores,
tais como o Bolsa Família, um benefício de renda mínima que é
disponibilizado a 11 milhões de famílias.
O Brasil superou a crise financeira mundial – o popular
presidente Lula ficou famoso por culpar os “banqueiros de olhos
azuis” pela crise – e o Ministro da Fazenda, Guido Mantega,
recentemente previu que a economia brasileira será a quinta
maior do mundo até 2026. O País tem uma indústria agropecuária
altamente lucrativa, em acentuado contraste com os agricultores
subsidiados de boa parte do mundo rico, e tem se beneficiado do
recente aumento dos preços das commodities agrícolas. E quando
o Rio de Janeiro foi escolhido, em outubro de 2009, para sediar os
Jogos Olímpicos, Lula declarou, em tom triunfante: “Deixamos para
trás um país de segunda classe para nos tornarmos uma nação de
primeira classe”.
“Há muito que podemos aprender com o Brasil”
Sue Cunningham Photographic/Alamy
O ministro do Meio Ambiente do Reino Unido, Hilary Benn,
apresenta Sol e Sombra e os Diálogos sobre Desenvolvimento
Sustentável.
Como ministro de Estado do Reino Unido responsável pelo desenvolvimento
sustentável, é um grande prazer apresentar o suplemento especial sobre o Brasil
da revista Green Futures – o último de uma série de publicações sobre as principais
economias emergentes. Durante minha recente visita, vi o grande potencial que o Brasil
tem de mostrar liderança global em matéria de desenvolvimento sustentável. É um país
em movimento, dinâmico, com uma crescente reputação e presença internacionais.
Fiquei impressionado com a liderança brasileira em mudança do clima, enfatizada por
seus avanços recentes e significativos na redução do desmatamento.
O Diálogo sobre Desenvolvimento Sustentável entre o Brasil e o Reino Unido, que
se iniciou em 2006, avança com firmeza a cada dia. O Brasil tem muito conhecimento
e expertise e há muito que podemos aprender um com o outro. Nosso trabalho
conjunto envolve uma ampla gama de parceiros nas instâncias nacional e regional e
abarca um vasto leque de temas que vão desde mudança do clima, biocombustíveis, florestas e biodiversidade,
passando por segurança alimentar, consumo e produção sustentáveis, até governança ambiental internacional.
Atualmente estamos apoiando projetos desenvolvidos por parceiros brasileiros para avaliar o valor dos serviços
prestados pelos ecossistemas, fortalecer o direito ambiental e ajudar os governos estaduais a adquirir bens e
serviços sustentáveis.
O Brasil possui verdadeiras riquezas ambientais: sua biodiversidade é uma das mais ricas do mundo e suas
florestas atuam como importantes sumidouros de carbono. O País também tem uma agricultura próspera e
sua inovação e sua pesquisa em segurança alimentar e biocombustíveis são muito impressionantes. Há grandes
desafios que se apresentam a todos os países, mas, em nosso mundo interligado, temos aprendido que as nações
não podem alcançar a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável sozinhas. O Reino Unido antecipa
com interesse mais oportunidades de atividades conjuntas com o Brasil, principalmente por ocasião dos Jogos
Olímpicos: uma oportunidade ímpar de promovermos o desenvolvimento sustentável em prol dos próprios
Jogos e das gerações futuras.
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Conectando-se com o futuro: será que o Brasil conseguirá fazer a transição de uma economia baseada no desperdício de recursos
para um modelo de desenvolvimento renovável no século XXI?
O Brasil também está se tornando um ator cada vez mais
significativo no cenário internacional, nas Nações Unidas,
na Organização Mundial do Comércio, no Fundo Monetário
Internacional e no G-20. Os brasileiros esperam e merecem respeito
internacional por suas conquistas.
Como esta publicação deixa claro, os líderes brasileiros no
governo, no setor empresarial e nas comunidades estão convergindo
para construir um futuro melhor e mais sustentável de diversas formas.
Nós a intitulamos Sol e Sombra para ilustrar o potencial do Brasil
de ser um líder em sustentabilidade e destacar algumas atividades
inspiradoras que já estão em andamento, ao mesmo tempo que se
reconhecem os obstáculos que se apresentam à frente.
O Brasil atualmente é o líder mundial na produção de
biocombustíveis e o maior exportador de etanol a partir da canade-açúcar – um dos biocombustíveis mais competitivos do planeta.
Porém, mais de 30 anos após o País ter descoberto o etanol como
meio de diminuir sua dependência das importações de petróleo –
e justamente quando o resto do mundo está se empolgando em
torno da nova geração de biocombustíveis lignocelulósicos mais
sustentáveis –, o Brasil descobriu as reservas de petróleo da camada
pré-sal. Esses enormes campos de petróleo cru leve ao largo da
costa de São Paulo deverão colocar o Brasil entre os maiores atores
em matéria de combustível fóssil do mundo, tendo levado Lula a
dizer, em tom de gracejo, que “Deus deve ser mesmo brasileiro”
(“Futuro com petróleo”, na pág. 14).
Sucessos financeiros como esse impulsionaram o Brasil para
a vanguarda do debate sobre como o desenvolvimento econômico
pode ser compatibilizado tanto com a preservação do meio
ambiente quanto com a redução da pobreza. No cerne desse debate
está a floresta tropical úmida da Amazônia.
A busca de soluções duradouras
Nos idos de 1989, o ex-vice-presidente norte-americano
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Green Futures abril de 2010
Al Gore enfureceu a nação brasileira com seu comentário de que:
“Ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia não é
propriedade deles, ela pertence a todos nós”. Para muitos, essa
declaração infeliz reforçou suspeitas de que o ecocolonialismo
estava em ascensão. Mas o comentário também expressava
frustração com relação à aparente indisposição do governo
brasileiro de combater uma catástrofe em vias de aceleração
de consequências verdadeiramente globais.
A Amazônia é uma das regiões mais pobres do Brasil
e ninguém que a conhece pode duvidar da necessidade de
investimento sustentado em sua infraestrutura de transporte.
Mas existe um vínculo direto entre desmatamento e novas
estradas, considerando o acesso que elas propiciam a lugares
previamente não transtornados para madeireiras, mineradoras
e empresas de monocultura. Um olhar de relance no padrão
“espinha de peixe” das estradas que já estão se ramificando para
fora das principais rotas e entrando na floresta oferece uma visão
amedrontadora do futuro.
A exemplo de muitos dos problemas sociais e ambientais
do Brasil, o desmatamento é, em parte, um legado da ditadura.
A colonização da Amazônia era considerada uma necessidade
estratégica pelos militares, cujo governo também exacerbou os
padrões de propriedade de terra já acentuadamente desiguais no
País. Quase 50% das terras brasileiras são controladas por apenas
1% da população, e a concentração fundiária na Amazônia é ainda
mais alta, uma vez que 82% dos maiores latifundiários do Brasil
têm propriedades no estado. Em contraste, a maioria das pessoas
pobres que foram incentivadas a se estabelecer na floresta não
tem direitos fundiários, nem, na melhor das hipóteses, escrituras
bem forjadas.
A falta de segurança e de estabilidade fundiária torna
praticamente impossível que os agricultores pobres invistam em
técnicas modernas. Em vez disso, eles simplesmente abrem novas
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Galen Rowell/Mountain Light/Alamy. Cynthia Brito/ddbstock. Sue Cunningham Photographic/Alamy
áreas cortando e queimando a floresta. Madeireiras e agricultores
trabalham em conjunto, num sistema em que os primeiros pegam
as melhores madeiras – muitas vezes ilegalmente – e os últimos
semeiam grama para criar gado. A área semeada logo fica coberta
de gramíneas nativas, que são inadequadas para pastagem, e assim
os fazendeiros avançam, derrubando áreas de floresta adjacentes,
deixando faixas de ermo por onde passam.
O presidente Lula prometeu atacar o desmatamento quando
tomou posse em 2003. Estima-se que 20% da Amazônia já haviam
sido perdidos àquela altura e que 16 mil quilômetros quadrados
haviam desaparecido somente nos dois anos anteriores. O
presidente nomeou então uma forte defensora da conservação,
Marina Silva, para o Ministério do Meio Ambiente e, em agosto
de 2007, anunciou euforicamente que a taxa de destruição havia
caído em quase um terço – um sucesso atribuído à repressão da
extração madeireira ilegal. O governo prendeu 600 pessoas por
crimes ambientais e também processou os assassinos da religiosa
Dorothy Stang, a ambientalista norte-americana assassinada em
2005.
O governo Lula aumentou a proteção dada aos direitos fundiários
dos povos indígenas e enfrentou protestos de alguns pecuaristas
e agricultores.
Mas a ministra Marina Silva renunciou em 2008, alegando
que tinha “perdido a força para continuar”. Durante sua gestão à
frente da pasta, ela colidiu repetidas vezes com outros ministros,
inclusive com a ministra-chefe da Casa Civil e candidata a disputar
a sucessão de Lula, Dilma Rousseff. A bancada ruralista representa
praticamente um quarto do Congresso brasileiro e Lula está
cortejando seu apoio para Dilma nas eleições presidenciais. Suas
atitudes foram muito bem resumidas por Blairo Maggi, governador
do estado de Mato Grosso e um dos maiores sojicultores do
mundo, que, seis anos atrás, disse que “um aumento de 40% do
desmatamento não significam nada... não há nada com que se
preocupar”. Desde que recebeu o prêmio “Motossera de Ouro”
do Greenpeace, em 2006, por sua contribuição para a destruição
ambiental, Maggi tem liderado o estado de Mato Grosso no
desenvolvimento de estratégias de combate ao desmatamento e
na criação de planos de zoneamento para a produção agrícola.
Existe um reconhecimento crescente de que o melhor meio
de interromper o desmatamento é tornar a preservação das árvores
mais valiosa do que a sua derrubada (Green Futures 74, à pág.
26). E, no ano passado, o Brasil lançou um fundo amazônico de 20
bilhões de dólares para fazer justamente isso. O fundo se destina
a financiar tudo, desde atividades de monitoramento da extração
madeireira ilegal até o desenvolvimento de meios de subsistência
alternativos para agricultores e pecuaristas na Amazônia. A
Noruega já se comprometeu a doar 1,1 bilhão de dólares para o
fundo ao longo de dez anos, condicionados ao desempenho do
governo, e conclamou outros países a seguirem o seu exemplo.
Ao anunciar o fundo, Lula declarou: “O Brasil tem políticas
destinadas a conservar a Floresta Amazônica e seu patrimônio
natural inestimável. Mas a floresta também é o local onde vive
uma população culturalmente diversa de 25 milhões de pessoas,
inclusive cerca de 170 povos indígenas, bem como centenas de
comunidades de seringueiros, caçadores, coletores e ribeirinhos.
As abordagens preservacionistas, por si, são ineficazes para se
combater o desmatamento – uma das causas do aquecimento
global. Precisamos encontrar soluções duradouras. É por isso
que estamos investindo no manejo sustentável da floresta, que
proporcionará um meio de vida decente para os seus habitantes”.
Lula argumenta que a experiência do Brasil mostra como os
países em desenvolvimento podem contribuir para combater a
mudança do clima em escala global. Com efeito, uma vez que os
países mais pobres deverão sofrer mais duramente em decorrência
dos transtornos climáticos do que o mundo rico, eles têm um forte
incentivo para contribuir. Lula observa, acertadamente, que foram
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AFP/Stringer/Getty
Doce como o açúcar? A vasta indústria de etanol do Brasil tem
o potencial de cortar as emissões de transporte, mas persistem
dúvidas sobre o uso da terra.
os padrões de consumo insustentáveis dos países mais ricos que
em grande medida causaram o problema e, assim, tais países não
podem evitar suas responsabilidades centrais ao lidar com
o problema.
Mas, em se tratando de estilos de vida contrastantes, poucos
outros países exibem extremos comparáveis de consumismo
e riqueza. São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo,
também é a capital mundial dos helicópteros, à frente até mesmo
de Nova York e Tóquio. Para os super-ricos de São Paulo, o
helicóptero é o veículo de escolha para o transporte diário. O Brasil
também possui a maior frota de aviões particulares do mundo,
mas existem lugares na Amazônia onde tribos indígenas nunca
tiveram qualquer contato com as pessoas de fora. Enquanto isso,
as pequenas cidades do interior, com seus rodeios, chapéus de
caubói e música country, têm um clima que se assemelha a nada
menos do que o Meio-Oeste dos Estados Unidos.
O Brasil é o quinto maior país do mundo, tanto em massa
territorial quanto em tamanho da população. Também é um dos
locais mais diversos do mundo e pode ser descrito como uma terra
de diferentes continentes, onde a Europa e a África se encontram
na América do Sul. Cerca da metade de sua população tem
sangue africano nas veias e a população de Salvador, sua primeira
capital, é 80% negra. Entretanto, a maior parte da população de
pele clara de Curitiba e Porto Alegre, no Sul, veio da Alemanha,
da Itália e da Polônia. Partes de São Paulo têm o clima dos bairros
típicos das colônias italianas das grandes cidades. Existem mais
descendentes de japoneses no Brasil do que em qualquer outro
lugar fora do Japão, e mais árabes do que também em qualquer
outro lugar fora do Oriente Médio.
Com um país tão complexo e diverso como tema, este
suplemento só pode examinar uma amostra representativa
dos desafios ambientais que o Brasil enfrenta e apresentar
Ambição de CO2
O Brasil parece determinado a constranger os Estados
Unidos e outras nações desenvolvidas a adotarem
cortes de carbono mais profundos. Após a crítica
feita pelo ministro do Meio Ambiente brasileiro,
Carlos Minc, à falta de ambição dos Estados Unidos, o
presidente Lula anunciou metas desafiadoras para as
próprias emissões de gases de efeito estufa (GEE) do
Brasil, com um corte de 36% a 39% abaixo dos níveis
projetados para 2020, o que significa a economia
total de 1 gigatonelada de carbono. Os detalhes da
meta incluem a redução do desmatamento em 80% e
novas abordagens à agricultura, geração de energia
hidrelétrica e energia de biomassa. A meta foi
sancionada pelo presidente Lula em 20 de dezembro
de 2009 e lança o desafio para que outros países em
desenvolvimento – e os desenvolvidos – estabeleçam
metas mais desafiadoras para si mesmos.
– Ben Tuxworth
um breve relato para dar ao leitor uma ideia da criatividade,
da engenhosidade e da determinação das respostas que
estão sendo empreendidas. O Brasil possui, dentro de suas
próprias fronteiras, exemplos de praticamente todas as grandes
questões que enfrentam os formuladores de política do mundo
preocupados com o desenvolvimento sustentado. O modo como
o País consegue lidar com tais questões acabará tendo enormes
implicações para todos nós e para o mundo em que vivemos.
Conor Foley é consultor para direitos humanos e desenvolvimento
e vive no Brasil há seis anos.
Jonathon Porritt é diretor-fundador do Fórum para o Futuro.
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Em busca do verde,
em busca do ouro
Sumarioexecutivo-galeria-provi_03. David Silerman/Staff/Getty
Rali social
O que começou como uma iniciativa de treinamento
de voleibol no estado do Paraná tornou-se um amplo
programa de transformação social sustentável em todas
as principais cidades brasileiras. Com 46 centros em
São Paulo, no Paraná e no Rio de Janeiro, o programa
Esporte Cidadão Rexona-Ades treinou mais de 4 mil
professores e estimulou 72 mil crianças a desenvolverem
valores e habilidades sociais por meio do esporte e de
atividades em equipe.
O programa teve início em 1997 mediante parceria
entre a marca Rexona, da Unilever, e o governo do
estado do Paraná, liderada pelo técnico da Seleção
Brasileira de Voleibol, Bernardo Rocha de Rezende,
o Bernardinho. O programa utiliza o esporte para
promover a valorização social dos professores e criar um
sentimento de comunidade e responsabilidade entre os
jovens de famílias de baixa renda em áreas urbanas.
Com a escolha do Rio para sediar os Jogos
Olímpicos de 2016, o esporte está atuando como um
poderoso catalisador em prol de mudanças econômicas
e sociais. A meta de transformar uma cidade com
reputação de drogas e violência em um lugar seguro
e próspero foi o aspecto vitorioso na candidatura do
Rio. Conforme disse o prefeito Eduardo Paes durante a
apresentação oficial: “As Olimpíadas no Rio, em 2016,
propiciarão muitos anos de inspiração, de mudanças
sociais e desenvolvimento esportivo, que farão uma
diferença para as gerações por vir”. – Lottie Butler
A candidatura do Rio às Olimpíadas de 2016
enfatizou suas credenciais ambientais. No Dia
Nacional da Árvore, 3.580 árvores foram plantadas
em um esforço para neutralizar as emissões de
carbono da campanha. A visão para os “Jogos
Verdes” exposta na proposta inclui o plantio de
mais de 3 milhões de árvores em áreas estratégicas,
projetos de restauração no Parque Nacional Pedra
Branca e nos manguezais da Barra da Tijuca,
bem como projetos no âmbito do Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo em comunidades
próximas ao local. O secretário-geral dos Jogos
Olímpicos Rio 2016, Carlos Roberto Osório,
também prometeu que todas as instalações a ser
construídas para as Olimpíadas terão um plano
para utilização a longo prazo.
Força de alavancagem: os Jogos Olímpicos poderiam
levantar recursos para apoiar uma ampla gama de
iniciativas sociais
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De volta
do limiar?
Após anos de destruição aparentemente incessante, o Brasil parece
estar virando o jogo na fronteira amazônica. Será apenas uma
calma induzida pela recessão antes da tempestade ou o início de um
reavivamento da floresta tropical úmida?, pergunta Martin Wright
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N
A EUROPA, É RARO poder dirigir por uma hora
através de uma floresta maciça, ininterrupta. Exceto,
talvez, na zona rural profunda no norte da Suécia, ou em
uma estrada particularmente lenta e sinuosa através da cadeia de
montanhas dos Cárpatos, na ala oriental da Europa.
No Brasil, por contraste, aviões 747s voam por pelo menos
esse tempo sobre um mar de florestas aparentemente infindável.
Se você tiver sorte o bastante e viajar em um assento de janela,
poderá olhar para baixo e ver uma sólida laje de cobertura verde,
de horizonte a horizonte, um verde cortado unicamente pelos
caminhos sinuosos de abundantes rios azuis e pelas eventuais
clareiras circulares minúsculas – sem qualquer estrada que leve a
elas ou delas para outro lugar –, que marcam as aldeias indígenas.
Até que se chega às margens da floresta, onde começam
as estradas, bem como as queimadas. Através do véu de fumaça,
é possível ver como a floresta está sendo sistematicamente
desgastada, retalhada em pedaços de terra e, em última análise,
destruída por completo, à exceção da faixa avulsa remanescente
que corre ao longo de um sulco formado pela água. A simples
escala visível – tanto da destruição quanto do que resta – é de tirar
o fôlego. Trata-se de uma das maiores esperanças do Brasil, bem
como um de seus maiores desafios.
Roberto Smeraldi, fundador dos Amigos da Terra – Amazônia
Brasileira e um dos ambientalistas mais influentes do País, resume:
“O Brasil ocupa o terceiro lugar na lista dos países que mais
contribuem globalmente para a mudança do clima, e dois terços de
suas emissões de gases de efeito estufa ao longo dos últimos cinco
anos decorrem de mudanças do uso da terra, principalmente o
desmatamento”.
Depois da energia, a destruição das florestas tropicais é de longe
o fator que mais contribui para a mudança do clima, emitindo
dez vezes mais que o setor de aviação. Conforme destacado
em outra edição da Green Futures (Forest Futures, GF74, pág.
26), a destruição das florestas pelas queimadas produz um tipo
particularmente grave de efeito duplamente adverso e que serve
de advertência. À medida que queimam, as florestas emitem
grandes colunas de gases de efeito estufa para a atmosfera. E uma
vez destruídas, não podem absorver o carbono emitido de outras
fontes, tais como a atividade industrial, os carros e as usinas de
energia.
No entanto, o outro lado da moeda é que a conservação das
florestas é uma das ferramentas mais efetivas para o controle da
mudança desregrada do clima. E, uma vez que não envolve grandes
cortes nas emissões industriais ou de transporte, também pode ser
uma das ferramentas mais simples. No caso do Brasil, diz Smeraldi,
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O corte mais simples
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“isso significa que nosso histórico de emissões passado e atual não é
fortemente associado a atividades indispensáveis à geração de empregos
e ao crescimento econômico – pelo menos em comparação com outras
‘superpotências de gases de efeito estufa’. Esta é uma excelente notícia
para qualquer pessoa que esteja se esforçando para mitigar a mudança
do clima, uma vez que, para nós, pode ser muito mais barato fazer
reduções radicais das emissões do que será para outros países”.
Algumas boas notícias específicas vieram com o anúncio, em
novembro de 2009, de que o Brasil havia reduzido o desmatamento
ao seu nível mais baixo em mais de duas décadas. Pouco mais de 7.000
quilômetros quadrados da Amazônia foram perdidos entre agosto de
2008 e julho de 2009 – quase metade da área perdida nos 12 meses
anteriores – e o total anual mais baixo desde que registros confiáveis
começaram a ser mantidos em 1988. Um dos fatores responsáveis por
esse sucesso, afirmam as autoridades, foi a decisão de tornar o governo
como um todo responsável por fazer valer a legislação florestal, em vez
de isolar essa função unicamente no Ministério do Meio Ambiente.
Isso resultou em drásticas melhoras no monitoramento por satélite em
tempo real, que permite que a Polícia Florestal responda imediatamente
a provas de extração madeireira ou queimadas.
Partes significativas da Amazônia estão passando à proteção
federal oficial. Entre 2004 e 2008, cerca de 50 milhões de hectares foram
convertidos em unidades de conservação e mais 10 milhões tornaram-se
terras indígenas.
A notícia também foi bem recebida pelos ambientalistas. “Temos
de reconhecer os grandes esforços do governo federal, juntamente
com os governos estaduais, que proporcionaram essa queda no
desmatamento”, disse Cláudio Maretti, chefe de conservação do
WWF-Brasil. Mas ele advertiu que ainda há uma necessidade premente
de fortalecer a aplicação das leis de conservação das florestas e ampliar
outros programas governamentais destinados a oferecer àqueles
que moram perto da floresta alternativas econômicas viáveis, em vez
da derrubada da floresta. “Isto é indispensável para o Brasil assumir
compromissos claros com relação às emissões de carbono e para
realmente assumirmos um papel de liderança na nova economia verde.”
Os fatores econômicos também podem ter contribuído para a
drástica queda do desmatamento, diz seu colega do WWF, o diretor
de conservação Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza. “Temos
de reconhecer que isso está relacionado com a recessão global,
principalmente com a redução da demanda por commodities, o que
significou menos pressão sobre a floresta em pé. À medida que essa
demanda se aquecer, isso testará o compromisso do governo em
alcançar mais reduções”, adverte.
Uma medida fundamental agora, dizem os ambientalistas, é o
governo aplicar apropriadamente – e fortalecer – o Código Florestal,
que estipula que os proprietários devem preservar como floresta
80% de qualquer terra na região amazônica. A lei é notoriamente mal
aplicada e as esperanças diminuíram quando o governo recentemente
adiou para 2011 um plano destinado a iniciar a instauração de
processos judiciais contra aqueles que não cumprirem a lei. Talvez,
convenientemente, isso transfira a responsabilidade para o sucessor de
Lula, que tomará posse em janeiro de 2011.
Tasso Azevedo, consultor especial do ministério do Meio
Ambiente para Florestas e Mudança do Clima, concorda que o trabalho
árduo ainda está pela frente. “Na verdade, fizemos a maior parte
das coisas baratas e simples – aplicação básica da lei, reestruturação
do sistema de monitoramento, e assim por diante. Agora estamos
no segundo nível – colocar limitantes e desincentivos no caminho de
qualquer investimento que envolva desmatamento.”
Algumas ações estão em andamento para eliminar os incentivos
econômicos ao desmatamento. O governo investiu em iniciativas de
extração madeireira sustentável e alguns estados estão até pagando
às pessoas um pequeno auxílio para manterem suas terras com
cobertura florestal. E, perceptivelmente, existe menos relutância
por parte do governo federal em se ater à instância municipal.
Em uma nova iniciativa denominada Mutirão Arco Verde, Brasília
enviou centenas de funcionários aos 43 municípios responsáveis
por mais da metade do desmatamento na região, a fim de ajudar os
agricultores e as autoridades locais a “entender melhor” e cumprir a
legislação ambiental. Embora isso possa não ter sido exatamente uma
Arrocho pecuarista
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South American Pictures/Tony Morrison
A agropecuária intensiva pode ter uma má cobertura na imprensa
europeia, mas, no Brasil, ela pode ser fundamental para salvar faixas
de floresta. Intensiva, entenda-se, em termos relativos. Conforme
destaca Roberto Smeraldi, “na Amazônia, temos 71 milhões de cabeças
de gado em 74 milhões de hectares de pasto” – ou seja, mais de um
hectare por vaca. Aumentar as taxas de lotação para três vacas por
hectare ainda deixaria muita terra para pastagens, ao mesmo tempo
que retiraria a pressão da floresta.
Smeraldi argumenta que “investimentos no aumento da
produtividade devem ser seguidos por investimentos na restauração
da floresta”. O financiamento de carbono deveria desempenhar um
papel importante aqui, diz ele, ajudando a bancar a intensificação
agropecuária, que, ao permitir que a floresta se recupere,
indiretamente resultaria em maior sequestro de carbono.
Produtos como carne bovina ou couro produzidos em fazendas
assim “intensificadas” poderiam ser certificados como tais, sugere
ele. Isso lhes daria uma vantagem de mercado entre os compradores,
que estão cada vez mais procurando evitar produtos associados à
destruição da floresta tropical úmida.
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Simone van den Berg /hutterstock. Gustavo Jonovich/CIWEM Environmental Photographer of the Year competition
Apoiando
o boicote
O poder do consumidor está começando a desacelerar a
destruição da floresta. Grupos ambientalistas liderados
pelo Greenpeace realizaram campanhas contra os principais
produtores de soja, carne bovina e couro. Com base em
um acordo assinado em 2006 pela Associação Brasileira
das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e vários grupos
ambientais, importantes atores no comércio da soja –
inclusive gigantes da indústria de alimentos, tais como Cargill
– acordaram não comprar o produto de áreas do bioma
amazônico desmatado após julho daquele ano.
O WWF está trabalhando com essas e outras empresas
em um sistema de monitoramento, a fim de garantir que
todos possam cumprir seus compromissos. “O resultado tem
sido realmente positivo, com a construção de novas relações
de trabalho entre ONGs e o setor privado”, diz Scaramuzza.
Mas ele adverte que o foco na “soja livre da Amazônia”
pode estar ajudando a fomentar a destruição do Cerrado.
“Foi relativamente fácil para as empresas fazerem esse
compromisso, porque apenas 8% da soja vem da Amazônia”,
afirma ele. “Então, agora é a vez de as empresas elevarem o
padrão e demonstrarem para com outras regiões o mesmo
compromisso que têm com a Amazônia.”
Enquanto isso, a “moratória da soja”, que foi prorrogada
até pelo menos julho de 2010, está sendo mantida como
um possível modelo para a indústria de carne bovina. É a
combinação da demanda por carne bovina, soja e etanol do
Brasil que está por trás de boa parte do desmatamento no
País, dizem os ativistas da campanha. Os pecuaristas vendem
terra no Sul para produtores de soja e cana-de-açúcar e usam
o dinheiro para comprar áreas mais baratas na Amazônia, que
eles, então, devastam para transformar em pastos para criar
seus rebanhos.
Um estudo do Greenpeace divulgado em junho de
2009 alegou que empresas como Walmart, Carrefour, Nike,
Adidas, Clarks e Tesco compravam carne bovina e couro de
empresas brasileiras que criavam gado em terras desmatadas.
Na ocasião, mostrou o estudo, até mão de obra escrava estava
envolvida. O relatório causou furor e, preocupadas com uma
reação adversa dos consumidores, essas e outras empresas
de alto valor comercial deram aos fornecedores um prazo
até 2010 para implementarem um sistema de rastreabilidade
sério que lhes permita identificar de onde provêm a carne
bovina e o couro que lhes são vendidos.
Até que ponto o boicote será eficaz é questionável.
Existem cerca de 5 milhões de pecuaristas no Brasil e apenas
uma minúscula porcentagem deles tem qualquer sistema
de rastreabilidade confiável devidamente implementado.
Especialistas estimam que serão necessários dois anos só para
montar os sistemas de monitoramento apropriados para a
pecuária. Para o couro, a questão é ainda mais complexa, uma
vez que ele é vendido no mercado de commodities aberto e
bem mais difícil de se rastrear.
No entanto, a chamada moratória da carne está
sendo anunciada como mais um passo na direção certa.
“Essas empresas estão se comprometendo a dizer aos seus
fornecedores que elas esperam ver desmatamento zero ou
deixarão de comprar deles”, disse Tatiana Carvalho, ativista da
campanha Amazônia do Greenpeace. “Isto é um grande salto
adiante.”
“A indústria da carne bovina havia se mostrado muito
resistente à mudança”, diz Scaramuzza. “Mas agora eles
estão começando a vir à mesa.” O WWF está trabalhando
com um grupo de pecuária sustentável – uma expressão que
seria um paradoxo há alguns anos. “Existe muita margem
para melhorar, mas eles estão começando a reconhecer o
problema – e querem fazer parte da solução.”
– Andrew Downie / Martin Wright
Ambição atlântica
Nem todas as empresas esperam uma reação adversa
para agir. No litoral leste, várias empresas, entre elas
a Michelin e a Veracel, estão adotando medidas para
preservar e ampliar as últimas áreas remanescentes
de Mata Atlântica, que abriga o mico-leão-dourado
(foto). Essas empresas estão combinando plantações
sustentáveis de árvores de eucalipto, seringueira
e cacau com corredores ecológicos que ligam
fragmentos de bosques sobreviventes. A outrora
vasta Mata Atlântica encolheu para 10% de sua área
original, mas tem uma capacidade de regeneração
incomparável. Assim, projetos como esses podem
fazer uma grande diferença, dizem os especialistas.
Green Futures abril de 2010
11
12
Green Futures abril de 2010
agricultura latino-americana – possam ser “monetizados” (para mais
informações, ver Forest Futures, GF74).
Azevedo defende um sistema simples, no qual as áreas que
reduzirem suas taxas de desmatamento seriam recompensadas com base
no “pagamento por resultados”. O Brasil poderia usar o financiamento de
carbono internacional para investir em toda uma gama de iniciativas para
ajudar na preservação da floresta. Ele está particularmente empolgado
com o potencial do monitoramento por satélite. Essa tecnologia está
alcançando rapidamente um tal nível de sofisticação que alguém com um
laptop ou mesmo com um iPhone poderia usar uma ferramenta do tipo
Google Earth para obter imagens pormenorizadas da cobertura florestal
com até 0,2 hectare de detalhamento. O radar ajudará a “enxergar” o
que acontece debaixo da cobertura das nuvens, superando assim um
dos obstáculos ao monitoramento efetivo. Os resultados, promete ele,
“serão totalmente disponíveis ao público. As pessoas poderão baixar a
informação em seus computadores”.
No entanto, nada disso terá êxito, adverte Smeraldi, sem uma
participação efetiva daqueles de quem a floresta mais depende para
sobreviver: as pessoas que vivem dela e nela. “Isto é particularmente
o que acontece aqui no Brasil, dada a
governança muito limitada nas áreas de
O que eles têm a
floresta e nas suas margens”, diz ele, que
ganhar com isso?
identifica dois desafios centrais. Primeiro,
estabelecer mecanismos financeiros
práticos para recompensar os atores locais
diretamente. Em segundo lugar, resolver o
emaranhado das escrituras de terra – ou,
em muitos casos, da falta delas. Não será
fácil. “Nos casos onde se tem uma clara
legitimidade, ou seja, terras indígenas
legalmente estabelecidas, reservas
extrativistas e assim por diante, geralmente
existe relutância política, senão franca
resistência à proposta de remuneração às
comunidades locais. Nos casos onde há
pecuaristas e assentados com forte apoio político, é raro haver direitos
fundiários estabelecidos.”
Smeraldi reconhece o recente avanço alcançado na contenção do
desmatamento na Amazônia, mas adverte que a situação geral continua
frágil. E, no que se refere ao desempenho do Brasil em matéria de
mudança do clima de um modo mais geral, pode haver um retrocesso
com as recentes descobertas de petróleo (Futuro com petróleo, na pág.
14). “Precisamos manter um olho atento para a consistência geral das
políticas nacionais”, diz ele – e isso significa estabelecer limites claros
para o total das emissões de carbono. “O estado de São Paulo deu um
exemplo positivo nesse particular, com sua meta de um corte de 20%
no total das emissões até 2020”, lembra Smeraldi.
Scaramuzza, por sua vez, está cautelosamente otimista que o
Brasil pode, com efeito, ter puxado suas vastas florestas de volta do
limiar da destruição – e acredita que a política desempenhou o seu
papel. “O governo quer exercer uma forte posição de liderança, quer
realmente estabelecer-se como um grande ator na ONU. Assim, o
presidente Lula está assumindo muitos compromissos públicos nessa
área. Já temos uma política nacional de mudança climática que inclui a
meta de redução de 80% do desmatamento.”
Tasso Azevedo também acredita que já se passou por um ponto
de guinada. “Acredito que, no Brasil, as pessoas finalmente estão
acordando.”
Martin Wright é editor-chefe da Green Futures. Reportagem adicional
por Andrew Downie.
www.greenfutures.org.uk
Eye Ubiquitous /Alamy
intervenção bem-vinda (conotações do tipo “somos da sede central,
estamos aqui para ajudar!”), o governo insistiu que a meta era ajudar
os municípios a planejar o desenvolvimento econômico – entenda-se,
do tipo sustentável.
Grupos de consumidores também estão começando a aumentar
a pressão (quadro Apoiando o boicote). Mas, enquanto isso, tem havido
um crescente foco de atenção no Cerrado – a grande extensão de terras
com vegetação do tipo savana que margeia a floresta a leste e ao sul.
O desmatamento no Cerrado está aumentando e acredita-se que
chegue a duas vezes a taxa de desmatamento na Amazônia. De acordo
com Smeraldi, o desmatamento no Cerrado representa cerca de 30%
das emissões resultantes de toda a destruição das florestas no Brasil,
logo “precisa ser mais bem medido e levado em conta.”
Scaramuzza concorda: “O Cerrado na verdade está muito mais
em risco de extinção do que a Amazônia, porque é foco de uma grande
expansão de soja, milho e outras commodities agrícolas.”
Estabelecer metas duras para um bioma enquanto se ignora o
outro poderia piorar as coisas, diz Smeraldi. “Isso poderia criar incentivos
perversos, estimulando os atores do desenvolvimento a deslocar suas
atividades destrutivas para o Cerrado.”
Incentivos de natureza positiva são cada
vez mais vistos como a chave para a preservação
das florestas. Andrew Mitchell, Fundador
do Global Canopy Programme e um dos
pensadores de política florestal mais experientes
do mundo, resumiu o desafio quando falou
para a Green Futures em 2009 (GF74, à pág.
27): “No momento, só se pode ganhar dinheiro
com as florestas quando elas são convertidas
em outra coisa – madeira ou carne bovina, soja
ou óleo-de-dendê. Então, em mercados globais,
as florestas valem mais mortas do que vivas. É
isso que precisamos reverter. A filantropia e os
governos não o farão. É preciso se voltar para
os mercados para reverter o que é de fato uma
falha de mercado. O que recebemos gratuitamente não pagamos”.
Conforme disse Azevedo, a menos que as pessoas sejam
remuneradas para não fazer alguma coisa, elas continuarão praticando
o que fazem. “Digamos que você queira fechar uma madeireira ilegal.
Você pode fazer isso em cinco minutos, basta enviar a polícia ou o
Exército e fechar tudo. Mas 50 pessoas perderão seus empregos. Mas,
a menos que você crie alternativas com melhor remuneração, elas logo
voltarão a cortar árvores, lá ou em outro lugar. Precisamos colocar outra
coisa no lugar para manter a circulação do dinheiro. Precisamos criar
uma nova economia.”
Ele acredita que o manejo florestal sustentável – modelo
no qual as concessões para extração madeireira são outorgadas
e renovadas com base unicamente nas boas práticas sociais e
ambientais, em vez de dinheiro – poderia estar no cerne da questão.
No estado do Acre, o WWF está trabalhando com as comunidades
locais para implementar um projeto nesses moldes, o qual permitiria
a extração não só de madeira cuidadosamente selecionada de
alto valor, mas também de outros produtos, tais como castanhas,
borracha e óleos essenciais, contanto que seja possível demonstrar
que a floresta como um todo permaneceu com boa saúde.
Todos esses projetos, naturalmente, também são
potencialmente elegíveis para financiamento de carbono – daí o
crescente entusiasmo do Brasil por um acordo internacional sobre
a questão. E também pode haver formas pelas quais os outros
enormes benefícios regionais das florestas em pé – principalmente
a sustentação do ciclo da água, do qual depende grande parte da
Daniel Beltra /Getty
Dando significado
ao termo ‘proteção’
Uma rara combinação de supermercados,
bancos e ação governamental determinada
está fazendo valer as leis de proteção florestal
Entre os rios Xingu e Tapajós, na Terra do Meio,
encontram-se 3 milhões de hectares de floresta protegida.
As áreas de conservação foram criadas em 2005, após
o assassinato da religiosa Dorothy Stang, que era uma
porta-voz eloquente contra a extração madeireira
ilegal e em defesa dos agricultores campesinos que
procuravam sobreviver sem desmatar. Mas as autoridades
estão lutando para proteger a terra rica em mogno e
o seu povo. De acordo com o relatório elaborado pelo
instituto de pesquisa amazônica sem fins lucrativos
Imazon, com o apoio da Embaixada Britânica no Brasil, a
má administração e a morosidade crônica dos processos
judiciais significam que a exploração ilegal da terra muitas
vezes passa impune.
O relatório constatou que, devido a uma escassez de
advogados e ao uso ineficiente de seu tempo, somente 3%
dos casos chegaram a qualquer conclusão, e que a grande
maioria ficou presa em trâmites recursais infindáveis. Além
disso, das poucas decisões judiciais tomadas, somente 10%
das multas foram coletadas, e que o instituto de proteção
ambiental Ibama somou R$ 11,8 bilhões em penalidades
pendentes.
Essas falhas permitiram que cerca de 40 milhões
de hectares fossem tomados e usados ilegalmente,
tornando o desmatamento bem mais lucrativo para os
exploradores do que investimentos destinados a melhorar
a produtividade da terra fora da área protegida. Em junho
de 2009, o governo interveio com um projeto de lei para
regularizar as propriedades de terra e um programa para a
sua implementação. Porém, uma análise do projeto de lei
feita pelo Imazon levantou preocupações de que o baixo
preço oferecido pelos direitos às áreas menores – algumas
até foram entregues gratuitamente – poderia fomentar o
desmatamento, em vez de interrompê-lo.
Ainda assim, apesar do campo minado do ponto de
vista legal, existe esperança e uma série de incentivos
efetivos para o cumprimento está começando a surgir.
Entre eles, embargos acordados por três grandes
supermercados – Walmart, Carrefour e Pão de Açúcar
– e três gigantes do setor de calçados – Adidas, Clarks
e Timberland – para a carne e o couro provenientes de
fazendas localizadas em terras desmatadas ilegalmente.
Talvez impulsionadas por tais ações comerciais, as
autoridades governamentais estão começando a ficar
mais duras também. Gado encontrado pastando em
terras protegidas foi apreendido e leiloado. O confisco
de 3 mil cabeças em 2008 levou à retirada voluntária de
outras 30 mil. E restrições à concessão de crédito foram
impostas pelo governo federal a qualquer pessoa que
tenha mais de 400 hectares de terra sem escritura. Em
decorrência dessas medidas, as taxas de desmatamento
começaram a cair, mesmo enquanto os preços das
commodities sobem.
De acordo com o Imazon, agora existe um claro
caminho à frente. A organização espera fomentar a
pressão pública sobre os proprietários de terras para que
adotem práticas mais sustentáveis, por meio de embargos,
regulação de compras e instauração de ações judiciais
públicas. Se essa força civil avançar em paralelo a uma taxa
de condenação mais alta por delitos praticados e uma
aplicação adequada de penas compatíveis com o crime,
então a “proteção” oferecida à Terra do Meio no papel
poderá vigorar também na prática.
– Anna Simpson
Green Futures abril de 2010
13
Futuro com pe
E
M 9 De novembro DE 2007, as autoridades
brasileiras convocaram uma entrevista com a imprensa e,
finalmente, confirmaram o que a maioria das pessoas há
muito suspeitavam: que Deus era mesmo brasileiro.
Após anos de testes e perfuração em águas profundas, a
gigante estatal da indústria petrolífera, Petrobras, havia anunciado a
descoberta de novas reservas – de grandes proporções – de óleo cru
leve, localizadas milhares de quilômetros abaixo do Oceano Atlântico,
sob uma espessa camada de sal. As reservas eram tão grandes que
mudariam o País para sempre, disseram os políticos. Tão grandes, com
efeito, que o presidente da República, Lula, insinuou que a intervenção
divina, bem como a geologia, deve ter contribuído.
Imediatamente após o anúncio da descoberta, a ministra-chefe
da Casa Civil da Presidência, Dilma Rousseff, afirmou que a descoberta
poderia elevar a riqueza petrolífera do Brasil “para os níveis de Arábia
Saudita e Venezuela”, e ajudar a tirar milhões de brasileiros da pobreza.
O carnaval havia chegado mais cedo.
Dois anos mais tarde, o nível de empolgação continua em alta. O
presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, recentemente declarou: “Se
alcançarmos 5,7 milhões de barris por dia, estaremos produzindo mais do
que a metade de todas as outras empresas do mundo juntas”.
Ele não é o único a sonhar grande. “Em termos conservadores, eu
diria que nos tornaremos o oitavo maior produtor de petróleo do mundo”,
diz Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE) e um dos principais arquitetos da política energética nacional.
Ainda assim, em meio à euforia, há vozes de preocupação. Alguns
temem que a nova legislação que está sendo debatida no Congresso –
concebida para assegurar que a riqueza do petróleo seja distribuída com
justiça em todo o País – sufoque a campanha de exploração do pré-sal,
reduzindo as oportunidades de empresas estrangeiras.
14
Green Futures abril de 2010
Outros, no entanto, estão mais alarmados com as implicações
ambientais da descoberta. Para Roberto Smeraldi, diretor-fundador dos
Amigos da Terra–Amazônia Brasileira, a perfuração da camada pré-sal
representa “uma verdadeira bomba de carbono, liberando quatro
vezes mais a quantidade de gases de efeito estufa por unidade do que
a perfuração convencional”. Juntamente com o novo investimento
para energia a carvão, ele argumenta, “isso neutralizaria os ganhos que
poderiam ser obtidos com o desmatamento reduzido a zero”.
Sergio Leitão, diretor de campanhas do Greenpeace Brasil,
concorda. “Estima-se que o total das emissões provenientes das
reservas pré-sal poderiam chegar a 56 bilhões de toneladas de CO2.
Isso significa que, ao longo dos próximos 40 anos, o Brasil emitirá cerca
de 1,3 bilhão de toneladas de CO2 por ano por meio de atividades
de refino e queima de petróleo. Isso dobraria o total das emissões,
tornando o Brasil um dos três maiores emissores de CO2 do mundo.”
Também existe a preocupação quanto ao que essa bonança
petrolífera poderia significar para a tão ostentada revolução de fontes
renováveis do País. Nos últimos anos, o Brasil tem sido apresentado
como um exemplo internacional, líder no uso de fontes de energia de
baixo carbono, principalmente energia hidrelétrica e etanol de canade-açúcar em larga escala.
As enormes barragens do Brasil fornecem cerca de 90% da
eletricidade do País, mas não sem controvérsias (ver Quanto vale uma
hidrelétrica?, à pág. 19). Como consequência, a geração de energia
no Brasil é, em grande medida, livre de combustível fóssil, apesar de
os impactos mais amplos da hidroeletricidade em termos de florestas
alagadas e deslocamento de povos indígenas despertarem sérias
dúvidas sobre a sua sustentabilidade.
Praticamente, a mesma coisa acontece com o combustível
para transporte. Investimentos de larga escala no programa de
www.greenfutures.org.uk
tróleo
Novas e enormes descobertas de
“ouro negro” ao largo do litoral
brasileiro estão desencadeando
empolgação e preocupação em
igual medida, diz Tom Philips
Luis Veiga /Getty. DanDriedger/istock
Questão inflamável: o Brasil conseguirá manter suas metas
de redução de carbono ao mesmo tempo em que explora
sua riqueza recém-descoberta?
etanol brasileiro por parte do regime militar na década de 1980
estabeleceram os fundamentos para o desenvolvimento futuro.
Atualmente, de todos os veículos fabricados no Brasil, 90% são
bicombustíveis – projetados para rodar tanto com etanol quanto
com gasolina. O investimento em biocombustíveis continua em
alta e os líderes do setor estão trabalhando com ONGs e com
o governo em um esforço para assegurar que a demanda
crescente por terras agricultáveis adequadas não promova o
desmatamento ou limite a produção de alimentos (Cabana
de açúcar, à pág. 16).
Outras fontes de energia renovável ainda têm um importante
papel a desempenhar. Existe uma economia eólica pequena,
porém crescente, com cinco novas fazendas que elevarão a
capacidade total para 341 MW. As instalações de energia solar
fotovoltaica também estão começando a explorar os 280 dias de
luz solar por ano do Brasil, levando eletricidade a comunidades
remotas não atendidas pela rede de transmissão, principalmente
na Amazônia. Mas o potencial de longe excede as realizações
alcançadas até o momento. Uma análise da indústria feita em 2009
identificou um mercado de energia renovável futuro de 25 bilhões
de dólares, incluindo biomassa, solar fotovoltaica, solar térmica,
hidrelétrica e eólica.
É possível, naturalmente, que a riqueza petrolífera recémdescoberta venha a liberar mais recursos para fontes renováveis.
A Petrobras tem enfatizado o seu compromisso para com fontes
mais limpas de energia, inclusive biocombustíveis.
Mas os ambientalistas estão céticos. Leitão argumenta que
o foco do governo na nova legislação para o petróleo da camada
pré-sal já “desviou a atenção de tentativas de elaborar um novo
arcabouço regulatório para energia renovável”. Isso, teme ele,
Quantas árvores em
troca de cada usina?
Energia e plantio de árvores
O governo brasileiro deverá impor metas de plantio
de árvores às usinas de energia. O Ministério do Meio
Ambiente está propondo que as usinas que queimam
petróleo, gás ou carvão deveriam plantar enorme
quantidade de árvores para obter suas licenças
operacionais. Isso ajudaria a neutralizar suas emissões e
contribuiria para o esforço nacional de reflorestamento.
A proposta poderia resultar em mais 3 milhões de árvores
plantadas até 2017. Mas os críticos argumentam que nem
isso mitigaria as 14 milhões de toneladas de gás de efeito
estufa emitidos pelo atual parque de usinas de energia a
cada ano, muito menos as emissões das 82 novas usinas
a carvão planejadas para ser construídas ao longo dos
próximos oito anos. – Ben Tuxworth
“impedirá que o Brasil dê um salto tecnológico em sua matriz
energética, investindo em fontes limpas e renováveis que poderiam
revolucionar os padrões de consumo e a produção em todo o
mundo”.
Tolmasquim discorda. “O Brasil continuará com um alto nível
de combustíveis renováveis. Em termos de transporte, o etanol
continuará a desempenhar um papel fundamental no mercado”,
insiste ele, destacando que 75% dos proprietários de carros
bicombustíveis escolhem usar etanol. Mas ele admite que, em se
tratando de demanda global, o etanol “não substitui” o petróleo.
Gabrielli, da Petrobras, também não prevê uma “mudança
significativa” nos padrões globais de consumo de energia ao
longo dos próximos 30 anos. “O carvão, o petróleo e o gás serão
usados na mesma proporção”, prediz ele, e acrescenta: “Qualquer
mudança será a longo prazo. Mas isso não significa que não haverá
mais energia sustentável, mais biocombustíveis”. “O petróleo será
fundamental para a humanidade por muito tempo”, concorda o
ministro de Minas e Energia do Brasil, Edison Lobão.
E é essa relutância em conceber um mundo sem petróleo que
alguns entendem que atrasa o Brasil. “Da mesma forma que a Idade da
Pedra não chegou ao fim por causa de uma escassez de pedras, a era do
petróleo também não acabará por causa da falta de petróleo, mas em
consequência da corrida tecnológica para substituí-lo”, comenta Leitão.
Ao colocar todos os seus ovos de energia em uma única cesta,
o Brasil poderia ficar em defasagem em relação a outros países em
pesquisa, investimento e infraestrutura para energia sustentável. E isso
não seria boa notícia para os brasileiros – mesmo com Deus do seu lado.
Tom Phillips é jornalista e produtor de documentários britânico que vive
no Rio de Janeiro. Ele escreve para The Guardian.
Green Futures abril de 2010
15
de Goiás, onde a longa estação seca já se instalou e
a colheita da cana-de-açúcar, que se estende de abril
a novembro, está a pleno vapor. Mas não se vê um
cortador de cana tradicional ou um campo de queima da cana. Em vez
disso, grandes máquinas surgem sobre os campos, sugando as plantas
espessas e altas e cuspindo a cana.
Essa conversão da colheita de técnicas predominantemente
manuais para 100% mecânicas tem um impacto sobre muito mais do
que a paisagem, melhorando as condições de segurança para aqueles
que trabalham na colheita. Também é uma das muitas melhoras de
eficiência da Tropical BioEnergia – um empreendimento conjunto que
envolve as empresas brasileiras Santelisa Vale e Grupo Maeda e
a empresa internacional de energia BP – que têm ajudado a aumentar
a produção de cana-de-açúcar de 500 mil toneladas por ano para mais
de 2,4 milhões. E mais inovações destinadas a melhorar a eficiência,
tais como a utilização de GPS para permitir maior precisão no plantio,
na colheita e na aplicação de fertilizantes, contribuirão para uma
produção total prevista em cerca de 5 milhões de toneladas no futuro.
Para a comunidade local, essa maior capacidade significa criação de
empregos que demandam um conjunto de habilidades mais variado,
desde o manejo de máquinas e da frota de caminhões até a supervisão
das operações.
Quatro vezes mais
Como maior exportador mundial de etanol de cana-de-açúcar e
segundo maior mercado interno, é importante para o Brasil assegurar
que boas colheitas sejam viáveis e sustentáveis por muito tempo no
futuro. O governo brasileiro recentemente anunciou as “agrozonas”
– áreas onde a produção da cana-de-açúcar deve ser limitada,
com a proibição de plantações próximas da Amazônia e do litoral.
Reconhecendo a importância de preservar as florestas brasileiras e a
dependência da indústria da cana-de-açúcar tanto da estação chuvosa
quanto da seca, o negócio de biocombustíveis da BP concentra-se
na produção de biocombustíveis em pastos degradados mantidos
por meio da irrigação de sequeiro. Isso pode parecer limitante, mas,
mesmo em condições tão difíceis, o Brasil poderia quadruplicar sua
área de cultivo de cana-de-açúcar em comparação com o número de
hectares plantados hoje.
A BP também está examinando o ciclo de vida do processo
de produção de etanol, a fim de ajudar a minimizar os resíduos. As
refinarias de etanol, por exemplo, muitas vezes geram eletricidade
a partir do bagaço, o resíduo que sobra quando a cana-de-açúcar é
16
Green Futures abril de 2010
esmagada, e vendem qualquer eletricidade excedente para a rede.
São medidas como esta que significam que o etanol produzido a partir
da cana-de-açúcar pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa
(em comparação com o petróleo convencional) mais do que outros
biocombustíveis produzidos hoje.
Seguro, escalável e competitivo
O desafio, de acordo com Philip New, diretor-presidente da BP
Biocombustíveis, é “reunir as duas mais importantes cadeias de valor
da humanidade: a agricultura e a energia”. O etanol tem sido uma
grande fonte de energia no Brasil desde a década de 1970, quando a
principal motivação era superar a dependência do petróleo importado.
Atualmente, o transporte sustentável é a principal motivação. “Os
biocombustíveis são a única solução viável para uma energia com
fins de transporte de baixo carbono, segura, escalável e competitiva
a curto e médio prazo”, diz Mário Lindenhayn, presidente da BP
Biocombustíveis no Brasil. “Isto não quer dizer que os carros elétricos
não venham a desempenhar algum papel no futuro, mas, para
obtermos uma redução significativa das emissões de gases de efeito
estufa, acreditamos que os biocombustíveis sejam a melhor opção.
E já são uma realidade hoje.”
Futuro flexível em combustíveis
A flexibilidade será fundamental para o País se manter à frente do jogo.
A BP já está estudando outras opções além do etanol e considerando
biocombustíveis mais eficientes, tais como o biobutanol – que tem
propriedades mais próximas do petróleo do que o etanol e também
pode ser produzido a partir da cana-de-açúcar – e o etanol celulósico –
que pode ser produzido usando-se toda a planta, inclusive os resíduos
não comestíveis.
Atualmente, mais de 90% dos carros fabricados no Brasil são
bicombustíveis – capazes de rodar com qualquer combinação de
etanol e gasolina – e espera-se que eles representarão 75% do total
da frota até 2020. A Honda já introduziu a primeira motocicleta
bicombustível e há esperanças de se converterem equipamentos
agrícolas, que atualmente usam diesel, para biocombustíveis no futuro.
A combinação de veículos bicombustíveis ainda mais eficientes com
biocombustíveis avançados ajudará a fomentar um futuro de baixo
carbono para o transporte no Brasil e no mundo. – Anna Simpson
Ao lado – Uma colheita mais doce: novas técnicas aumentam a
produtividade e eliminam práticas não sustentáveis, tais como
a queima da cana
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O
sol pesa sobre as planícies no estado
Green Futures abril de 2010
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Revolu
no Sul
Vilson Ascoli: Antes da hidrelétrica,
a gente mal conseguia se virar
N
O SUL PROFUNDO DO BRASIL, na zona
rural de relevo ondulado do Rio Grande do Sul, há uma
revolução em andamento.
Não se trata de agitação política, mas está
transformando vidas. É uma revolução de intensidade bastante física.
Do tipo que acontece quando a água em alta velocidade atinge as
lâminas de uma turbina e a faz girar, gerando eletricidade.
As grandes barragens do Brasil são uma bênção mista, mas
a energia hidrelétrica aqui é de uma escala muito mais humana
– e sustentável. Duas “miniusinas hidrelétricas” – instaladas pela
Cooperativa Regional de Eletrificação Rural do Alto Uruguai Ltda.
(Creral), uma cooperativa gerida pela população local – estão levando
o fornecimento de energia firme e confiável a milhares de famílias de
agricultores por toda a região remota do Alto Uruguai.
Cooperativas locais como a Creral foram criadas nas décadas
de 1960 e 1970 como parte de um esforço destinado a acelerar a
eletrificação de áreas remotas. Elas são responsáveis pela compra e
venda de energia para seus membros.
Mas, em meados da década de 1990, seus membros ficaram
cada vez mais frustrados com os persistentes episódios de escassez
de energia e blecautes. Isso dificultava a tarefa de modernizar suas
casas e fazendas e suas crianças estavam começando a dar as costas
para a vida rural e a procurar melhores oportunidades em outros
lugares. Uma nova liderança foi eleita, sob a gestão do presidente
João Alderi do Prado, com novas ideias: gerar sua própria eletricidade.
Parece que funcionou. Agora que duas miniusinas hidrelétricas, com
uma capacidade conjunta de 1,9 MW, entraram em operação, as
coisas estão mudando. Mais energia significa que existe eletricidade
suficiente para operar tudo, desde ferros elétricos, chuveiros,
refrigeradores e freezers, até equipamentos agropecuários, tais como
máquinas para ordenhar vacas.
Isso não só melhorou a qualidade de vida das pessoas, mas
também a sua renda. Conforme disse o agricultor Vilson Antonio Ascoli,
“foi uma enorme diferença quando chegou a energia hidrelétrica.
18
Green Futures abril de 2010
Antes, a gente mal conseguia se virar. Agora temos o resfriador de leite e
o freezer para a carne, então podemos armazenar mais e, assim, vender
mais. Nossa renda aumentou em pelo menos 50%. Então compramos
mais vacas – agora temos dez”. Sua esposa, Terezinha, acrescentou:
“Temos diferentes coisas acontecendo ao mesmo tempo. Eu posso
tomar banho enquanto ele está assistindo à televisão”.
Um agricultor vizinho, Alcir Bertiol, concorda. “É muito melhor
agora que passei a confiar na geladeira. Isso significa que posso
armazenar o leite até o caminhão-tanque chegar. Antes eu tinha a
geladeira, mas nunca se sabia ao certo se haveria eletricidade ou não. Se
não houvesse energia, você ainda assim teria de ordenhar as vacas, mas
seu trabalho literalmente iria por água abaixo.”
Atualmente, as duas usinas atendem a cerca de um quarto do total
das necessidades de eletricidade dos membros da Creral (o restante é
comprado de fontes convencionais). A cooperativa agora está investindo
em um novo projeto para mais quatro miniusinas hidrelétricas, o que
deverá permitir o atendimento da maior parte da demanda, senão a
toda demanda, proporcionando independência energética efetiva. A
cooperativa está conseguindo isso em moldes puramente comerciais
(sem subsídios). E também já começou a atrair financiamento para
carbono.
Não existe qualquer razão para que outros não sigam o exemplo
da Creral, diz João Alderi, uma vez que as pesquisas evidenciam que
somente essa região possui “centenas” de locais adequados para o
desenvolvimento de projetos de miniusinas hidrelétricas.
As perspectivas de trabalho da Creral foram incrementadas por
uma enchente de publicidade no Brasil e em outros países, quando
a cooperativa ganhou o Prêmio Ashden de Energia Sustentável, em
2008. À medida que os preços da eletricidade aumentam, a lógica
econômica dessa abordagem – e da energia descentralizada em geral
– parece destinada a tornar-se cada vez mais visível. E agora que João
Alderi trabalhou como assessor para o programa governamental Luz
para Todos, há esperança de que essa abordagem também ajudará a
influenciar a política nacional. – Martin Wright
www.greenfutures.org.uk
Martin Wright. South American Pictures/Tony Morrison.
Os agricultores estão tomando iniciativa própria
ção
Energia com baixo impacto
Ao contrário das grandes usinas de eletricidade, as
miniusinas hidrelétricas têm um impacto mínimo sobre
o meio ambiente. Em vez de inundar grandes áreas,
elas funcionam desviando apenas uma pequena parte
da água do rio para um pequeno canal (ou aqueduto),
que corre ao longo dos contornos do monte até que a
diferença de altura entre ele e o vale abaixo seja o bastante
para proporcionar uma potência de água suficiente. A
essa altura, a água cai em cascata por um grande tubo
(comporta de pressão) e entra na usina hidrelétrica, onde
a força da água em queda gira as turbinas. A água então
escapa e entra de volta no rio.
Quanto custa – e quanto vale – uma hidrelétrica?
Ao contrário das grandes
barragens, miniusinas
hidrelétricas como esta em
Abaúna (foto principal)
permitem passagem livre
tanto para o rio quanto
para os peixes.
Existe muita coisa em jogo no rio Madeira. Sendo o maior afluente do Amazonas, o rio é
visto pelos planejadores de energia do Brasil como um recurso vital para a hidroeletricidade.
As usinas gigantescas de Jirau e Santo Antonio, projetadas para fornecer mais de 3 mil
megawatts cada uma até 2013, foram descritas como a prioridade número 1 na busca do
atendimento às necessidades brasileiras de eletricidade. Mas a oposição, é claro, se recusa a
desaparecer.
O deslocamento de povos indígenas da floresta continua sendo um ponto candente,
apesar dos muitos esforços do governo para minimizá-lo. Protestos já paralisaram a
construção de Jirau, onde as estimativas de custos só estão subindo e distanciando-se do
orçamento original de 5,3 bilhões de dólares. As inundações poderiam ser seriamente
agravadas – conforme tem se queixado o governo da vizinha Bolívia – pelo acúmulo de
enormes quantidades de sedimentos que normalmente seriam carreados pelo fluxo a jusante
do rio Madeira.
O transtorno ambiental na fase de construção poderia ser significativo, com os
equipamentos de grande porte e as equipes de trabalhadores que entrarão em cena. As
construtoras contratadas já incorreram em multas e penalidades por incidentes de destruição
ilegal da floresta e matança de peixes pelo uso de dinamite. Mais fundamental ainda é o fato
de que as barragens trazem consigo o risco de transtornar os ciclos de reprodução do bagre –
peixe migratório abundante no rio Madeira – e de outras espécies ao obstruir sua trajetória a
montante do rio.
Também existe outra dimensão que coloca em evidência os diferentes vetores que
nortearão o futuro da região amazônica. Os que se opõem ao plano de construção das
usinas têm pesadelos com o que eles temem ser o sonho dos atores pró-desenvolvimento:
um rio Madeira com usinas hidrelétricas servindo como um curso d’água comercial de
enormes proporções. Um meio economicamente viável de escoar a soja para os mercados de
exportação tornaria a pressão pró-desenvolvimento sobre as florestas circundantes e sobre
a savana tropical ainda mais difícil de resistir. Que preço tem, portanto, a proteção dos seus
povos nativos, da sua rica biodiversidade e do seu papel global vital como sumidouro de
carbono? – Roger East
Green Futures abril de 2010
19
Baixando
o
N
ão existe estrada de acesso
a Suruacá. O rio é a rodovia para pequenos
assentamentos amazônicos tais como esse. Seis horas
inteiras de barco subindo o rio Tapajós a partir da
cidade mais próxima de tamanho considerável não é onde você
esperaria encontrar um modelo de comunidade moderna, conectada.
Ainda assim, as mais ou menos cem famílias de Suruacá são pioneiras
em um projeto que disponibiliza acesso à internet à população local
por meio do primeiro telecentro da região operado com energia solar.
Prover acesso à energia é um dos grandes desafios de
desenvolvimento do Brasil, onde cerca de 12 milhões de pessoas
atualmente vivem fora da faixa de fornecimento de eletricidade. No
entanto, o sol é algo que o País tem em abundância. E, ao longo dos
últimos seis anos, um sistema fotovoltaico de 2 KW instalado em
cima do telecentro em Suruacá tem convertido a luz solar em energia
elétrica. É o suficiente para operar quatro computadores por oito horas
ao dia, bem como um serviço local de rádio que vai ao ar durante
quatro horas por dia, o satélite que conecta tudo isso à internet e um
conjunto de impressoras, scanners e câmeras.
O financiamento inicial veio da agência de desenvolvimento
americana Usaid, que trabalhou juntamente com ONGs locais e a
GreenStar Corporation como fornecedores de tecnologia. A ideia
era que uma rede emergente habilitada pela internet deveria se
tornar cada vez mais autossustentável ao estimular a atividade
20
Green Futures abril de 2010
empresarial local. Assim, o gerente de projeto Bob Bortner ajudou
a criar uma rede de Empoderamento Comunitário para fornecer
assistência contínua, estimular a criação de mais telecentros locais,
promover a conscientização e o desenvolvimento de habilidades
vinculadas à internet e facilitar relações por meio da rede mundial de
computadores.
A comunidade de Xixhua, por exemplo, localizada 500
quilômetros a noroeste, já tem alguma experiência em como o acesso
à net pode abrir um mercado para o ecoturismo, a arte e o artesanato
locais. Assim, os vínculos com Xixhua podem ajudar Suruacá a ver
mais dessas oportunidades – e as ciladas que vêm com elas. Apesar
de todos os benefícios do e-mail e do acesso à internet, a comunidade
quer que a tecnologia sustente seu modo de vida, em vez de destruí-lo.
Parte da própria essência do projeto de Suruacá é que ele seja
dirigido pela comunidade. Foram as pessoas locais que conceberam e
construíram o telecentro, bem ao lado da escola, onde as crianças logo
descobriram que os computadores existiam não só para educação,
mas também para jogos. O acesso à informação pela rede virtual
também tem ajudado enormemente no atendimento à saúde. Além
disso, inspirou o lançamento de um microprojeto de hidreletricidade
destinado a melhorar a disponibilidade de energia elétrica para os
domicílios. E, com o atual gerador de Suruacá ligado somente à
noite, o interesse local por fontes de energia renováveis fora da rede
certamente aumentará. – Roger East
www.greenfutures.org.uk
LOOK Die Bildagentur der Fotografen GmbH/Alamy
sol
Acesso a todas as áreas
Opposite page: BrazilPhotos.com/Alamy. Sue Cunningham Photographic/Alamy
As ruas típicas de São Paulo parecem muito distantes da Amazônia rural,
mas a falta de pontos de energia elétrica nas comunidades pobres é uma
característica em comum. Da mesma forma que é o potencial de soluções
de internet alimentadas pela energia solar. O professor Marcelo Zuffo,
da Universidade de São Paulo, uma potência de inovação no que ele
denomina “eletrônica interativa”, agora propôs “acesso wifi em uma
caixa”. A solução não precisa ser conectada a nada e é suficientemente
barata e pequena para ficar pendurada em um poste de iluminação ou
árvore, mas Zuffo acredita que isso poderia turbinar as iniciativas de acesso
à “TI para todos”, tal como a campanha global Um Laptop por Criança.
Basicamente, o que ele fez foi combinar um painel de energia solar
com uma bateria de motocicleta barata para armazenar a carga e circuitos
eletrônicos para executar um miniponto de acesso wifi. Se uma série de
pontos de acesso for montada em uma configuração do tipo colmeia,
cada um prestará serviços de retransmissão aos outros, formando assim
uma rede de área ampla (wan) com as melhores conexões disponíveis
para a net. A parte difícil é o gerenciamento da energia. A solução já é
suficientemente boa para funcionar por dois dias sem luz solar, diz Zuffo,
mas ele quer aumentar esse número para dez dias – o suficiente para uma
autonomia real mesmo nos dias escuros da estação chuvosa. – Roger East
Sol e velocidade
Em posição
de vantagem:
energia solar
leva eletricidade
e autonomia a
comunidades
remotas
“Agora só precisamos das
motocicletas”
A gigante do setor energético Petrobras está dando
um primeiro passo rumo à energia solar para a vasta
frota de motocicletas do País com abertura de seu
primeiro eletroposto no Rio de Janeiro. O posto de
abastecimento elétrico, que usa energia da rede à
noite, é alimentado por placas fotovoltaicas quando
há luz solar. Atualmente existem apenas poucas
centenas de motocicletas elétricas em circulação nas
estradas brasileiras, mas a Petrobras espera promover
a conscientização das pessoas sobre a tecnologia solar
e o potencial de mudança oferecendo infraestrutura
para motocicletas em lugares onde é difícil estacionar,
por exemplo. De acordo com o chefe da divisão
de distribuição da empresa, Edimar Machado, os
eletropostos de abastecimento (com energia) solar
aumentarão a “consciência ambiental mostrando às
pessoas que é possível usar energia sem prejudicar o
meio ambiente”. – Ben Tuxworth
Green Futures abril de 2010
21
“A CRIATIVIDADE COMEÇA
quando você corta um zero do seu orçamento”
Céu azul sobre a cidade verde: Curitiba
abre espaço para várzeas e bosques
“
E
m se tratando de urbanismo,
a regra básica é: cidade = vida, trabalho e mobilidade.”
Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba que se tornou
guru das cidades verdes, sempre tem uma boa frase de
efeito. Elas o ajudaram a ser eleito na década de 1990, quando seu
plano diretor urbano conseguiu transformar boa parte da cidade. E ele
as utiliza com muita habilidade para resumir os vários sucessos que tem
tido desde então – do celebrado sistema de trânsito rápido à superação
dos notórios problemas de enchentes da cidade. Ou, nas palavras de
Lerner:
“Enquanto outras cidades enterraram os rios em concreto, nós
criamos parques ao longo dos nossos.”
E os parques não existem apenas para o prazer. Como várzeas
naturais, eles oferecem uma defesa mais efetiva contra as enchentes
sazonais do que barreiras de concreto, e podem ser usados como lagos
para barcos quando o rio Iguaçu transborda. É uma estratégia que
agora está sendo adotada até em países distantes como a Holanda,
à medida que os governos buscam adaptar-se à mudança do clima.
22
Green Futures abril de 2010
Esse respeito pela paisagem pré-urbana ajudou Curitiba
a manter um recurso em escassez que muitas cidades destroem
e depois são obrigadas a gastar milhões para trazê-lo de volta: o
espaço verde. “Quando começamos o planejamento, tivemos a
ideia de estabelecer uma ‘malha’ para Curitiba e ocupar parte de
suas células com parques. Mas, à medida que o tempo passou,
vimos que uma ideia melhor seria poupar as áreas de florestas
remanescentes, porém ameaçadas. Com essa política, mesmo
à medida que a população triplicou, conseguimos aumentar a
área verde por habitante de 0,5 para 52 metros quadrados”.
A importância do espaço verde para a boa saúde e a
qualidade de vida é inquestionável e “se uma cidade tem
qualidade de vida”, diz Lerner, “naturalmente ela tem um
componente de sustentabilidade muito forte”. A título de
exemplo, ele comenta que, ao morar perto do trabalho, ou
trazer o seu trabalho para mais perto de sua casa, você está não
só melhorando a qualidade de vida, mas também reduzindo a
demanda por transporte.
www.greenfutures.org.uk
David Silerman/Staff/Getty
Jaime Lerner conta à Green Futures como reprojetar
uma cidade, o que as principais metrópoles brasileiras
ainda têm a aprender e por que a acupuntura urbana
é o caminho do futuro
Adriano Valenga Carneiro/Shutterstock. Paulo Fridman/Corbis
Paraíso de vidro: a principal estufa do Jardim Botânico de Curitiba
oferece uma coleção de referência da flora e de plantas tropicais
da Mata Atlântica. Com aparência quase imperial em sua escala
e grandiosidade, mas construída apenas recentemente, em 1991,
a estufa é um símbolo da crescente autoconfiança da cidade e de
seu compromisso com a preservação
Curitiba talvez seja mais conhecida por seu sistema de transporte
extraordinariamente barato e efetivo, o Transporte Rápido por Ônibus
(TRO). Com ônibus triarticulados que circulam em faixas exclusivas,
o sistema transporta 2 milhões de passageiros por dia, o mesmo
número de alguns sistemas de metrô. Mas enquanto uma rede férrea
subterrânea custa até 100 milhões de dólares por quilômetro, o TRO
custa apenas 1 milhão de dólares por quilômetro. “A criatividade
começa quando você corta um zero do seu orçamento”, diz Lerner. As
tarifas dos ônibus são padrão e o crescimento da cidade foi planejado
ao longo das rotas, de modo que ninguém vive ou trabalha mais de
400 metros de distância de uma parada de ônibus.
Naturalmente, reconhece Lerner, esse sistema não pode ser
copiado e transferido para qualquer área urbana. “Toda cidade tem de
fazer o melhor possível de cada modalidade de transporte que ela tem,
quer seja na superfície, quer seja no subterrâneo. O segredo consiste
em não ter sistemas concorrentes no mesmo espaço e usar tudo que a
cidade tem do modo mais efetivo.”
Lerner começou com um sonho simples para Curitiba: saúde,
educação, creches. Mas ele rapidamente reconhece que não poderia
ter mudado nada se os outros não tivessem compartilhado de sua
visão. “Uma cidade é um sonho coletivo”, diz ele, “e é fundamental
construir esse sonho.” É aqui que as habilidades de liderança e de uma
boa comunicação entram em cena. Construir o sonho significa criar
cenários de um futuro possível que sejam “desejados pela maioria”.
Porque, a menos que os habitantes compartilhem do sonho e possam
crer nele, faltará o seu “envolvimento indispensável”.
A desvantagem, brinca ele, é que uma vez que a população
começa a sonhar, é difícil fazê-la parar: “Quanto mais a população se
acostuma com avanços, tanto mais exigente ela se torna. Administrar
Curitiba tornou-se um compromisso com inovação constante.” Em vez
de conter o sonho, Lerner recomenda a “acupuntura urbana” como
cura para todos os tipos de problemas urbanos, desde negligência com
o meio ambiente natural até má gestão econômica.
“É um toque rápido e preciso em um ponto-chave”, explica
Lerner. “Da mesma forma que na abordagem médica, ‘intervenções
pontuais’ estratégicas criam uma nova energia que desencadeará
reações em cadeia positivas, ajudando a curar e melhorar o sistema
como um todo.”
E a cura para danos ambientais em uma escala maior, tais como
a mudança do clima? A mesma regra se aplica, diz Lerner. “Cerca de
75% das emissões globais de carbono são relacionadas às cidades.
E, pouco a pouco, está ficando claro que é nas cidades que podemos
promover mudanças mais eficientes e mais efetivas.”
– Anna Simpson e Ben Tuxworth
Todos a bordo do ônibus articulado
Green Futures abril de 2010
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Mais vida –
Do ouro branco para
o reavivamento
Um tapete de folhas
Quatrocentos anos atrás, os montes e as planícies ao longo
do rio Capibaribe, em Pernambuco, abrigavam mais de 60
moinhos de cana-de-açúcar, que produziam “ouro branco”
para comercialização na Europa. Era um negócio próspero e
lucrativo, mas a elite portuguesa ficou com grande parte do
lucro, deixando pouco com os trabalhadores locais em troca
do seu trabalho.
O tempo passou, mas a indústria da cana-deaçúcar ainda define as condições socioeconômicas na
pequena cidade de Araçoiaba, perto do Recife, a principal
zona industrial e centro comercial de Pernambuco. A
disponibilidade de mão de obra e, muitas vezes, o salário,
dependem da época do ano e do clima. E um ano de seca
pode significar que não há trabalho em absoluto.
Em 2005, o desemprego em alta e os baixos
salários renderam a Araçoiaba o mais baixo Índice de
Desenvolvimento Humano na região metropolitana do
Recife, e um clima cada vez menos confiável tornou as
perspectivas ainda mais sombrias. Então – cabe a pergunta
–, por que nos poucos anos, desde então, a cidade
experimentou um aumento da renda familiar, mais pessoas
tiveram oportunidade de educação do que antes e foram
abertas cinco novas bibliotecas?
Em grande medida isso se deve ao projeto social Mais
Vida, que estimula as famílias locais a assumirem iniciativa
própria por sua saúde, seus direitos e sua qualidade de
vida. Criado pelo Instituto Unilever em parceria com uma
série de associações comerciais, industriais e de artesãos em
2005, o Projeto Mais Vida recruta moradores locais para um
trabalho de conscientização sobre as novas iniciativas e para
fomentarem mudanças em todos os aspectos de suas vidas,
desde saúde e educação até inclusão digital e artesanato.
Entre os casos de sucesso inclui-se um check-up médico
para mais de 4 mil crianças, combinando atendimento
odontológico e testes de diabetes e de sangue, ao mesmo
tempo que se promovem atividades de lazer como a
capoeira. – Anna Simpson
Luca Allegro viu-se no Fórum Econômico Mundial anual
em Davos, na Suíça, com as palavras “empreendedor
social” impressas em seu crachá. “Não parecia exatamente
certo porque, na verdade, sou apenas um agricultor.”
Mas por trás da modéstia de Allegro existe uma
missão. Ele é consultor de assuntos internacionais da
Associação de Pequenos Produtores de Valente (Apaeb),
uma organização de agricultura cooperativa fundada em
1980 para dar apoio a agricultores da região semiárida da
Bahia. A sua principal cultura é a planta nativa suculenta
do gênero agave, ou sisal.
O sisal tem folhas pontiagudas características que
chegam a 2 metros de comprimento e cada uma dessas
folhas contém até mil fibras, que podem ser extraídas e,
uma vez secas, usadas para a fabricação de cordas, papel,
tecido, revestimentos para parede, tapetes e até placas de
jogo de dardos. Trinta anos após sua fundação, a Apaeb
trabalha com 2 mil agricultores locais e tem uma receita
anual de mais de 7 milhões de dólares.
Allegro descreve o empreendimento como uma
iniciativa comercial direta. A cooperativa cultiva, compra
e beneficia o sisal para produzir tapetes acabados de
alta qualidade, agregando valor ao produto antes de
vendê-lo.
E embora as fibras representem apenas 5% do peso
da planta, sobram poucos resíduos. A Apaeb mistura a
matéria vegetal remanescente com a polpa de folhas de
cacto para alimentar caprinos. O resultado é um sistema
integrado que gera matéria-prima para produtos têxteis
e laticínios para a comunidade – tudo isso em uma
terra relativamente infértil que tem poucos outros usos
agrícolas.
O dinheiro proveniente dessas vendas permitiu que
a comunidade montasse uma rádio local e um pequeno
banco, que ajuda a financiar outras atividades de geração
de renda, diversificando, assim, a economia local.
– Arran Frood
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Green Futures abril de 2010
www.greenfutures.org.uk
A & J Visage/Alamy.
Novas iniciativas criativas estão ajudando a ergue
Mas uma reforma agrária efeti
– mais terra?
er os trabalhadores rurais brasileiros da pobreza.
iva continua sendo um desafio
Disputa por campos férteis
Xico Putini/Shutterstock, EVARISTO SA/Staff/Getty, James P. Blair/Contributor/Getty.
Ocupar. Resistir. Produzir. Essa é uma estratégia levada a
cabo pelo maior grupo de pressão social da América Latina,
o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ou
Movimento dos Sem Terra (MST). O grupo organiza mais
de 1,5 milhão de pessoas com a finalidade de conquistar
direitos legais à terra onde trabalham.
E ocupar e produzir é o que de fato eles fazem. Ao
ocupar terras que teriam sido deixadas em pousio, o MST
tem montado fazendas cooperativas e construído casas,
escolas e postos de saúde para as comunidades que nelas
trabalham. Além disso, pelo valor agregado à terra – com as
benfeitorias –, adquiriram propriedade legal para mais de
350 mil famílias.
Até aqui, sem problemas. Mas tudo isso se fez a um
preço, tanto humano quanto ambiental. Em algumas áreas,
as ocupações levaram a conflitos armados letais entre
proprietários de terra e ocupantes (os ocupantes em geral
se saem pior nos conflitos). E os conservacionistas estão
preocupados com o fato de que um movimento que tem
por objetivo reduzir a pobreza também esteja causando
desmatamento.
O Movimento, por sua vez, alega que suas ocupações
não autorizadas estão em conformidade com a Constituição
brasileira, que exige que o governo “desaproprie para
fins de reforma agrária a propriedade rural que não
esteja desempenhando sua função social”. E na gestão do
presidente Lula o governo parece estar respondendo
– até certo ponto. Quando de sua eleição em 2002,
Lula prometeu combater a pobreza rural assentando
400 mil famílias durante o seu primeiro mandato.
Porém, o presidente está em defasagem com relação
à meta. Já passada mais da metade do seu segundo
mandato, o número total de famílias reassentadas é
de apenas 380 mil.
Quanto à questão espinhosa dos assentamentos
na Amazônia, existe algum avanço em andamento
na forma de parcerias que estão florescendo entre
o Ministério do Desenvolvimento Agrário, governos
estaduais e programas tais como o Terra Legal. O
programa tem por objetivo obter direitos fundiários
para 300 mil propriedades rurais ocupadas por
integrantes do MST na Amazônia. Trabalhando
juntos, esperam aproveitar esse cabo de guerra legal
para promover fortes medidas de conservação e
restauração florestal.
Se os assentados puderem conservar a floresta
tropical remanescente, em vez de causar sua
destruição, então o Brasil poderá avançar na tarefa
de conciliar progresso social com sustentabilidade
ambiental. – Arran Frood
Green Futures abril de 2010
25
O enverdecimento dos
A
S empresas no brasil nem sempre são
vistas como um aliado natural do movimento verde.
A maior empresa do País, por exemplo, é a Petrobras,
cuja exploração agressiva de petróleo e reservas de gás
está injetando grande quantidade de carbono na atmosfera. Outras
empresas têm lucrado fartamente com a conversão de florestas
em áreas de pecuária ou sojicultura. Mas o País conhece de perto o
paradoxo: muitas empresas brasileiras mostraram uma disposição de
buscar a sustentabilidade com um zelo sem igual entre outros países em
desenvolvimento.
Vejamos o caso da Petrobras. Sua principal atividade pode ser
fundamentalmente insustentável, mas a empresa é amplamente
reconhecida como líder em se tratando de relatórios de sustentabilidade e
boa governança. Seu relatório de responsabilidade social corporativa ficou
entre os primeiros em um universo de 800 em uma pesquisa dos atores
da indústria realizada pela Global Reporting Initiative (GRI). A empresa
aparece em posição de destaque no Índice de Sustentabilidade Dow Jones,
que rastreia o desempenho financeiro das principais empresas do mundo
orientadas pelo princípio da sustentabilidade. A empresa até ganhou elogios
da Transparency International.
E ela não é a única. Ao todo, cerca de 27 empresas brasileiras
protocolaram seus relatórios de sustentabilidade junto à GRI – um número
impressionantemente alto. Dentre as nações BRIC comparáveis, a China
tem apenas 8 empresas na lista, enquanto a Índia tem 11. Mesmo o Reino
Unido possui um total de apenas 18 empresas na lista. O Brasil também tem
seu próprio índice de empresas sustentáveis, ou Índice de Sustentabilidade
Empresarial (ISE). E a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) introduziu
recentemente a lista Novo Mercado para empresas que voluntariamente
se comprometem a atender às metas de governança corporativa e
transparência além do mero cumprimento mínimo normativo.
Um levantamento de 2008 feito pelos consultores da SustainAbility,
intitulado The Road to Credibility (O Caminho para a Credibilidade),
classificou as empresas brasileiras entre as líderes entre as economias
emergentes em matéria de divulgação de dados corporativos sobre
desempenho sustentável, embora tenha destacado as contínuas
preocupações a respeito da falta de transparência em algumas áreas.
Para Fernando Almeida, presidente-executivo do Conselho
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, nada disso é
26
Green Futures abril de 2010
surpresa. “As grandes corporações sabem que, além das questões éticas,
quando a empresa atua com sustentabilidade, obtém uma melhor cobertura
na mídia, torna-se mais eficiente e mais competitiva e seus clientes são mais
fiéis. São muitas as vantagens, então elas percebem que o caminho para a
sustentabilidade sempre é bom.”
O fato de a economia ter saído rapidamente da recessão significa que
muitas das principais empresas nacionais evitaram algumas das pressões de
custo que arrocharam os orçamentos de sustentabilidade na Europa e nos EUA.
Mas é na camada seguinte que talvez as verdadeiras inovações
estejam acontecendo. Nenhuma empresa reflete isso melhor do que
a Natura Cosméticos, uma empresa de venda direta de cosméticos e
produtos de beleza que talvez seja a mais respeitada entre as empresas
verdes do Brasil. Ela está no topo da lista que reúne todas as corporações
brasileiras na pesquisa da SustainAbility (acima).
Como sugere o seu nome, o foco da Natura incide irredutivelmente
em ingredientes naturais, com uma família de produtos de higiene e beleza
que contêm essências e óleos desde abacate ao maracujá. Foi a primeira
empresa brasileira a utilizar embalagens com refil e se comprometeu a
reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 33% antes de 2011. A
empresa eliminou testes com animais e retirou de seus produtos todos os
ingredientes à base de petróleo e de origem animal.
A Natura emprega um número impressionante de 800 mil
funcionários – mais agentes de venda free lance, oferecendo-lhes
treinamento básico para desenvolverem conhecimentos sobre o meio
ambiente. Seus fornecedores e parceiros são contratualmente obrigados a
manter os mesmos padrões elevados de responsabilidade ecológica e social
adotados pela própria empresa.
Tudo isso faz muito sentido do ponto de vista dos negócios, diz
Marcos Vaz, diretor de sustentabilidade da Natura. “A sociedade prestará
cada vez mais atenção a questões tais como o uso equilibrado dos recursos
naturais, inclusão social e justiça social.” Esse enfoque parece ter servido
muito bem à Natura. A empresa foi fundada como uma pequena firma
em São Paulo em 1979, e cresceu a ponto de se tornar a maior empresa
de cosméticos do Brasil, com ampla rede de agentes que vendem 740
produtos de porta em porta. Atualmente, tem atividades na Argentina,
no Chile, na Colômbia, no México e no Peru. Cerca de 2 bilhões de reais
do faturamento de 4,9 bilhões de reais da empresa em 2008 acabaram
nos bolsos dos seus vendedores.
www.greenfutures.org.uk
SambaPhoto/Araquem Alcantara/Getty
As empresas no Brasil estão surpreendentemente atentas para a
sustentabilidade. Andrew Downie e Martin Wright descobrem por quê.
Bancando o planeta
Nada menos que quatro das sete empresas brasileiras que constam
do Índice de Sustentabilidade Dow Jones (DJSI) são bancos. E isso
não se deve ao fato de usarem papel reciclado ou lâmpadas de baixo
consumo de energia, mas sim, às suas políticas de empréstimos.
É essa, pelo menos, a visão dos funcionários do Itaú-Unibanco,
entidade bancária formada no ano passado quando duas das maiores
instituições financeiras brasileiras se fundiram.
O Itaú-Unibanco valoriza o chamado “resultado tríplice” de
critérios sociais, econômicos e ambientais. Assim, ao decidir a quem
conceder crédito, o banco dá especial consideração às empresas que
reduzem seu rastro de carbono e seus gastos de energia, empresas
que reciclam, contratam minorias e investem no meio ambiente.
O fato de observar esses princípios levou o Itaú a ser reconhecido
como o Banco Mais Sustentável e Ético da América Latina pelos
consultores da Management and Excellence. O banco também figura
no Índice de Sustentabilidade Dow Jones há dez anos, mais tempo
que qualquer outro banco brasileiro. Ambos os fatos são motivo
de orgulho para o presidente do Itaú, Roberto Setubal. “O ranking
confirma nosso trabalho em ampliar continuamente o valor que
geramos para nossos investidores, acionistas e clientes”, declarou.
Enquanto isso, em 2006, o Banco Real, uma subsidiária brasileira
do Grupo Santander, tornou-se a primeira instituição financeira de
uma economia emergente a ser nomeada vencedora geral do prêmio
Sustainable Banking do Financial Times. Os juízes elogiaram sua “visão
radical de sustentabilidade na América Latina: o banco acredita que
uma instituição bancária só pode ser tão saudável quanto a sociedade
a seu redor... Sustentabilidade”, disseram os juízes, utilizando um
clichê, “está no seu DNA”.
Deixando de lado a questão da constituição genética, não há
qualquer dúvida de que, uma vez que as taxas de juro brasileiras estão
entre as mais altas do mundo, os bancos brasileiros são absurdamente
lucrativos. Eles podem usar bem esse dinheiro, disse Fernando
Almeida, financiando tudo, desde reciclagem e regeneração de áreas
verdes até empréstimos do tipo microcrédito para pessoas que vivem
na “base da pirâmide.”
resultados financeiros
“A sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa fazem
parte do DNA da Natura”, diz Ana Luisa Almeida, diretora do Reputation
Institute do Brasil. “Está na cadeia de valores de todos os seus produtos
e no modo como a empresa lida com o consumidor. (A Natura) tem a
responsabilidade escrita em toda a empresa.”
Esses exemplos de sucesso nem sempre foram típicos em um país
com a reputação de uma economia marcada por períodos alternados de
crescimento e recessão. O Brasil cresceu rapidamente durante a maior parte
do século XX, mas foi afetado adversamente pelos choques do petróleo e
pela má gestão fiscal na década de 1970. E, na década de 1980, a década
perdida da América Latina, o País estava atolado em dívidas. As coisas
melhoraram na década de 1990, mas o período ainda se caracterizou por
rápidas fases de crescimento, seguidas por declínios acentuados.
Entretanto, essa incerteza teve a vantagem de forçar os brasileiros a
se tornarem criativos na busca e identificação de soluções para problemas
do dia a dia. Outro exemplo típico é a reciclagem.
Os brasileiros estão entre os recicladores mais assíduos do mundo.
Em garrafas plásticas, por exemplo, somente o Japão recicla mais do que
o Brasil. Os japoneses reciclam quase dois terços de todas as suas garrafas
PET, em comparação com pouco mais da metade disso no Brasil, que está à
frente da Europa e dos Estados Unidos. No alumínio, também, o Brasil está
à frente, reciclando 96,5% de todas as latas vendidas – em 2007, chegouse ao número impressionante de 11,9 bilhões, o equivalente a 1,4 milhão
por hora. O mesmo acontece com o vidro e o aço.
As empresas inteligentes aproveitaram esse entusiasmo e criaram
um modelo de negócios inovador a partir dele. A empresa de eletricidade
Ecoelce, sediada em Fortaleza, é uma delas. A Ecoelce permite que os
moradores troquem produtos reciclados por créditos em dedutíveis de suas
contas de eletricidade. Os cidadãos de Fortaleza e de outros sete municípios
vizinhos separam seu lixo e entregam tudo para reciclagem, desde garrafas
plásticas e papel até latas de óleo de cozinha. Cada quilo ou litro valem um
preço definido nos pontos de coleta especiais montados em toda a região e
este é registrado em um cartão de crédito emitido pela Ecoelce.
Os cidadãos também podem obter cartões em nome de instituições
beneficentes ou serviços comunitários tais como creches. No fim do mês, o
valor registrado é subtraído da conta de eletricidade.
Promessa de protocolo
Para as 30 empresas que, juntas, são responsáveis
por 20% das emissões comerciais de CO2 do País, o
Protocolo de Gases de Efeito Estufa do Brasil é uma
oportunidade para as empresas mostrarem sua
determinação e seriedade em medir, relatar e limpar
suas ações. Lançado em maio de 2008, o Protocolo
torna o Brasil o terceiro país, após México e Filipinas,
a desenvolver um sistema de contabilização de
emissões com base no modelo desenvolvido pelo
World Resources Institute. Petrobras, Ford Brasil,
Walmart Brasil e Whirlpool estão entre as primeiras
companhias a aderir ao esquema. Ao todo, 27
empresas brasileiras atualmente registram suas
emissões anuais em preparação para uma legislação
futura. – Ben Tuxworth
Cerca de 160 mil pessoas aderiram à proposta, diz Odailton Arruda,
gestor do programa. “As pessoas das classes média e trabalhadora podem
pagar todas as suas contas dessa forma e as das classes mais altas usam
o esquema porque querem fazer algo pelo meio ambiente e ajudar as
instituições filantrópicas a pagar suas contas.”
Em menos de três anos, o esquema recebeu 575 toneladas de papel,
520 toneladas de metal, 234 toneladas de vidro e 217 toneladas de plástico.
Embora ainda com pouco tempo de existência, já é autossustentável.
“Hoje, não ganhamos nem perdemos dinheiro com o esquema”, diz
Arruda.
Quando se leva em conta que os governos de outros países
desenvolvidos constantemente se queixam do custo da reciclagem, esta
experiência é uma grande conquista. E também uma homenagem, ao seu
próprio modo, à iniciativa empresarial brasileira.
Green Futures abril de 2010
27
Futuros na
O
amontoamento colorido de habitações
improvisadas sobre as encostas dos morros do Rio de
Janeiro é um símbolo da cidade tanto quanto o Cristo
Redentor ou a praia de Copacabana. Com seu nome
derivado de um arbusto resistente encontrado nos sertões inóspitos
do Nordeste, as favelas abrigam as comunidades mais pobres da
cidade desde o fim do século XIX e atualmente chegam
a 1.020 só no Rio.
As relações entre as autoridades municipais e as comunidades
vibrantes das favelas sempre foram tensas, onde as autoridades em
geral se mostraram relutantes em reconhecer o benefício econômico
que seus moradores trazem para a cidade por meio de serviços mal
remunerados. Mas, embora contidas pelos rótulos de pobreza e
violência, as favelas abrigam uma população que tem aspirações e
está pronta a assumir o seu lugar na sociedade. Iniciativas destinadas
a integrar as favelas à cidade são um passo indispensável em direção
a um Rio sustentável, e empresas de mentalidade progressista estão
começando a acordar para essa realidade.
As empresas de telefonia móvel e computação situam-se entre
as que estão assumindo a liderança. Muitas das favelas agora dispõem
28
Green Futures abril de 2010
de acesso wifi gratuito e os moradores estão usando a tecnologia a
seu favor. Uma organização sem fins lucrativos chamada Rede Jovem
recrutou cinco rapazes para registrar e nomear as ruas, as lojas e
os pontos de encontro não mapeados de cinco favelas. O projeto é
financiado por um instituto de pesquisa que pertence à Oi, a maior
operadora de telefonia do País. “As pessoas pensam que não existe
outra coisa aqui além da violência”, diz Aline dos Santos Silva, uma
“wikireporter” da favela Pavão-Pavãozinho. “Mas eu quero mostrar
a elas! As favelas são acima de tudo lugares de vida, de encontros e
reuniões.”
Recados truncados
As favelas também têm outras vantagens. Para muitos, elas oferecem
a opção de habitação de custo mais baixo atualmente disponível. E
a localização central de favelas como a Rocinha alivia o sistema de
transporte público altamente congestionado.
Mas, enquanto as empresas estão reconhecendo o potencial das
favelas, o Estado manda um recado bem diferente.
Em 2009, viu o início da construção de uma barreira de concreto
de 3 metros de altura ao redor de 11 favelas do Rio. As autoridades
www.greenfutures.org.uk
South American Pictures/Tony Morrison
É hora de tornar as favelas do Rio parte
integral do seu sucesso, diz Damian Platt
ackermann/istock
favela
argumentam que o muro ajudará a polícia a combater as gangues
violentas do tráfico de drogas e que protegerá os contornos da Mata
Atlântica que margeia a cidade do desmatamento por causa dos
assentamentos em expansão.
Para muitos moradores, porém, o muro significa mais rejeição
e segregação, incitando comparações com o tão criticado “muro
de segurança” em Israel. Segundo o jornal O Globo, mais de 500
casas serão destruídas para ceder espaço para um muro na zona sul
do Rio.
A construção do muro foi planejada para coincidir com
programas de investimento social destinados aos moradores das
favelas, tais como programas de microcrédito para pequenas empresas.
Embora muitos se refiram a esses programas como tentativas céticas
de conquistar a população local, eles também sugerem que o governo
estadual está começando a reconhecer o valor social e econômico
em potencial das favelas e a investir no seu futuro. Talvez agora seja
necessário que o governo as tranquilize de que não está procurando
isolar as favelas do futuro do Rio.
Fauna e ecotrilhas
Na encosta acima do bairro praiano do Leme, no
Rio de Janeiro, com vista para o oceano e do outro
lado da montanha do Pão de Açúcar, fica a favela de
Babilônia, que abriga 4 mil moradores. Observadores
de pássaros podem contemplar espécies raras, inclusive
o tucano e a jacupemba, e “ecotrilhas” bem projetadas
permitem que os turistas tenham uma visão de perto das
maravilhas naturais, sem qualquer ameaça à fauna.
Nem sempre as coisas foram tão idílicas. Para abrir
espaço para assentamentos informais nas encostas
das montanhas, tais como a favela da Babilônia, o
desmatamento causou uma grave erosão, deixando a
cidade vulnerável a deslizamentos de terra. Mas, em
2001, um grupo de moradores montou a CoopBabilônia,
a Cooperativa para o Reflorestamento da favela
Babilônia. Com apoio financeiro do shopping Rio Sul,
um dos maiores da cidade, a cooperativa emprega 23
funcionários que limpam as ervas daninhas e o mato
das áreas e replantam espécies nativas da floresta
tropical usando ferramentas fornecidas pela prefeitura.
E já começou a se estabelecer como uma empresa,
prestando serviços técnicos a clientes tanto públicos
quanto privados e elaborando projetos ambientais.
Recentemente, a CoopBabilônia começou a
estimular o ecoturismo, organizando caminhadas
abertas ao público três vezes por ano. O projeto e a
manutenção das “ecotrilhas” também têm servido como
meio de definir e proteger os limites das APAs (Áreas de
Preservação Ambiental), com o objetivo específico de
monitorar projetos de construção irregular.
A CoopBabilônia também participou da construção
de um dos primeiros telhados verdes do Rio. A água
da chuva naturalmente filtrada é captada para uso na
escola – um benefício bem-vindo na favela Babilônia,
onde é frequente a escassez de água. Para Carlos
Antônio Pereira, fundador do projeto, esse tipo de
recompensa é mesmo de se esperar: “Quanto mais se
investe em uma comunidade e em seus trabalhadores,
tanto mais benefícios são colhidos para toda a cidade”.
– Damian Platt
Damian Platt é escritor e ativista cultural e vive no Rio de Janeiro.
Green Futures abril de 2010
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De retalhos
às riquezas
P
ERGUNTA: Que resultado
você obtém se juntar alguns
retalhos velhos e uma
cooperativa em uma favela?
Resposta: Uma grife de escala
comercial que enfeitou as páginas
da revista Vogue
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Green Futures abril de 2010
Do lixo para o luxo da moda
de produção. Elas podem optar por trabalhar em casa, o que é
indispensável, uma vez que a maioria tem crianças para cuidar.
Cada uma das mulheres é remunerada com base no número de
peças confeccionadas e a única exigência é que elas cumpram
suas próprias metas.
“A Coopa-Roca permite que as mulheres realizem seu
potencial”, diz Maria Teresa Leal. “Elas podem ganhar dinheiro
sem abandonar seus lares ou suas crianças.”
Em alguns aspectos, a Coopa-Roca é uma exceção. A
indústria de moda no Brasil movimenta 18,9 bilhões de libras por
ano, e continua crescendo. Boa parte desses negócios é voltada
para o fornecimento de roupas baratas, onde pouca ou nenhuma
consideração é dada a questões de sustentabilidade. Mas algumas
empresas estão buscando meios mais inovadores de conceber e
projetar a moda do futuro. Uma dessas empresas é a E-Fabrics,
uma colaboração entre a marca brasileira Osklen e a E-brigade,
uma rede de lojas de varejo que comercializa produtos brasileiros
sustentáveis no exterior. A E-Fabrics utiliza somente materiais
provenientes do comércio justo ou materiais reciclados, inclusive
borracha da Amazônia, algodão tratado que ganha a qualidade
de couro, mas não envolve produtos animais, e até pele de (peixe)
dourado e sapo.
E não se trata apenas de roupas. A marca brasileira Melissa
produz calçados estilizados a partir de plásticos reciclados,
inclusive do estoque não vendido do ano passado. Após um
volume de vendas de mais de 25 milhões de pares de calçados
em todo o mundo, a empresa estabeleceu colaborações de
destaque com a estilista britânica Vivienne Westwood e o
renomado arquiteto iraquiano Zaha Hadid. – Andrew Downie
e Anna May Shamoon
www.greenfutures.org.uk
Stephanie Maze/Contributor/Getty. Paulo Whitaker/Corbis
Pelo menos seria essa a resposta se você for a socióloga carioca
Maria Teresa Leal. Na década de 1980, Maria Teresa encontrou um
potencial inexplorado nas mulheres da Rocinha, uma das favelas
espraiadas do Rio de Janeiro, pendurada no alto dos montes da
cidade. Ela viu que as mulheres reciclavam regularmente retalhos
de roupa para vestir seus filhos e pensou que poderiam ganhar a
vida com suas habilidades sem ter de comprometer suas tarefas
domésticas. Recorrendo ao amor correspondido das mulheres pela
moda, Maria Teresa conseguiu reuni-las em uma cooperativa de
confecção – e assim nasceu a Cooperativa de Trabalho Artesanal
e de Costura da Rocinha, ou simplesmente Coopa-Roca.
Ela convenceu as empresas têxteis a doar seus restos de
tecidos não utilizados e capacitou as mulheres em técnicas tais
como fuxico (bordado com pedaços de tecido), crochê e costura
com retalhos do tipo patchwork, tudo isso usando material
reciclado. Entretanto, o resultado das tentativas das mulheres de
desenhar modelos estilizados não se mostrou tão brilhante quanto
seus trabalhos como costureiras, então elas se concentraram em
imprimir sua marca nas peças de outras pessoas.
Assim, elas fazem crochê, tricô, juntam e costuram peças e
dão o seu próprio toque, que inclui pompons, babados, lantejoulas
e outros acessórios. A simples qualidade das peças acabadas
alterou profundamente as noções ultrapassadas de que o trabalho
das favelas sempre é de baixo padrão. Com 30 anos de existência,
a Coopa-Roca conquistou reputação em todo o mundo por seu
trabalho de confecção e habilidade manual, com uma lista de
clientes que inclui designers internacionalmente conhecidos, tais
como Paul Smith, Todd Boontje e Carlos Miele.
As mulheres da Coopa-Roca fizeram crochê para a capa do
conjunto de 28 CDs de Gilberto Gil e deram os toques finais nas
lingeries Agent Provocateur. Em 2009, elas assinaram seu maior
contrato de todos os tempos: para confeccionar centenas das
camisas polo Lacoste de uma edição limitada. O negócio permitirá
que a Coopa-Roca dobre sua força de trabalho para mais de 200
costureiras em tempo integral ou parcial. “É uma grande expansão
para nós”, diz Maria Teresa.
Embora ela seja o cérebro por trás da organização, a CoopaRoca mantém-se fiel às suas origens cooperativas e as mulheres
votam em todas as grandes decisões e definem suas próprias metas
Salve a floresta:
A imagem do Brasil como terra de sensualidade e descontração
poderia ser aproveitada para ajudar a salvar a Amazônia, diz o
escritor Conor Foley
Gustavo Gilabert/Corbis. Damian Palus/istock
A
familiar e redução da pobreza. Quando o papa Bento XVI visitou
reputação do Brasil como um “país sexy”
o Brasil há dois anos, o presidente Lula aproveitou a oportunidade
remonta à importante obra de Gilberto Freyre, que
para falar franca e firmemente a favor da educação sexual e do
escreveu um relato um tanto idealizado de como o
fornecimento adequado de anticoncepcionais para adolescentes.
passado sensual e promíscuo do País havia produzido
Em 2008, o governo anunciou o início de um novo programa
uma bela população inter-racial. Apesar de os níveis atuais de
destinado a produzir preservativos usando borracha ambientalmente
desigualdade e violência serem chocantes a ponto de refutarem
sustentável, o que diminuirá a dependência do País de meios
frontalmente sua tese central de uma “democracia racial”, a imagem
contraceptivos importados, proporcionará empregos à população
de um “Brasil sexy” continua viva. Ela existe no famoso carnaval
local e ajudará a preservar a maior floresta
do Rio, nos belos corpos de fio-dental que
Eles estão lhe dando proteção
tropical úmida do mundo. O governo abriu
embelezam suas praias e – de um modo mais
uma nova fábrica, localizada no estado
sombrio – como um dos países com as maiores
do Acre, no Norte do País, que produzirá
indústrias de prostituição e tráfico sexual.
100 milhões de preservativos por ano. O
Mas o Brasil também realizou uma
látex vem da reserva Chico Mendes, assim
campanha de combate ao HIV/Aids altamente
denominada em homenagem ao célebre
efetiva, à qual se atribui amplamente o crédito de
conservacionista e seringueiro morto por
ter prevenido o tipo de epidemia que devastou
pecuaristas em 1988.
outros países em desenvolvimento. O País
A extração do látex há muito tem
teve êxito, apesar da ira da Igreja Católica, do
sido um meio de vida tradicional para
governo americano anterior – que condicionou
muitas pessoas na Amazônia. É uma atividade sustentável porque
o financiamento para saúde à assinatura, pelos países recebedores, de
não mata as árvores, mas a borracha é mais cara do que produtos
“compromissos de moralidade” –, bem como das grandes empresas
sintéticos à base de petróleo, que pressionaram os preços para baixo e
farmacêuticas, cujas patentes o Brasil desafiou, a fim de diminuir o
eliminaram a fonte de renda dos seringueiros. Por contraste, o projeto
custo de medicamentos antiretrovirais. Mesmo diante de tantas críticas,
de fabricação de preservativos é sustentável tanto ambiental quanto
as autoridades brasileiras se recusaram a mudar sua abordagem,
economicamente. O projeto proporcionará renda para cerca de 550
argumentando que uma parte fundamental de seu sucesso se deve ao
famílias e reduzirá os incentivos ao desmatamento. O governo afirma
fato de lidar com grupos de alto risco de modo aberto e receptivo.
que os preservativos são os únicos no mundo feitos de látex colhido de
O diretor do Programa de Aids do Brasil ficou famoso por
uma floresta tropical.
rejeitar as restrições do governo americano como
Projetos semelhantes também estão sendo
“teológicas, fundamentalistas e xiitas”.
desenvolvidos para a produção e comercialização de bolsas
O governo brasileiro é o maior
e carteiras feitas de borracha sustentável. A Treetap,
comprador de preservativos do mundo,
por exemplo, patenteou um tipo de borracha, que a
importando cerca de 1 bilhão por ano.
empresa vende com sua própria marca, certificando
O uso de preservativos é promovido por
que seus produtos são fabricados de borracha
meio de anúncios de grande visibilidade
natural e com base no comércio justo. A empresa
e uma série de pontos de distribuição,
colocou a preservação da floresta tropical úmida
tendo como alvo os grupos de alto
no centro de seu plano de negócios e trabalha
risco. Mais recentemente, o governo
em estreita articulação com a Associação de
começou a incluir preservativos na
Seringueiros fundada por Chico Mendes.
cesta básica de bens que distribui
“Brasil Sexy” já é uma marca estabelecida e, se o
gratuitamente a famílias de baixa renda
projeto de fabricação sustentável de preservativos do
como parte de sua estratégia de combate à
governo for bem-sucedido internamente, então eles
fome. Isso atende a um propósito duplo, uma
poderão se tornar um produto para exportação.
vez que existe um claro vínculo entre planejamento
Green Futures abril de 2010
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Editorial: Anna Simpson, Martin Wright
Editor-chefe: Ben Tuxworth
Consultor Editorial (Brasil): Conor Foley
Produção: Katie Shaw
Projeto: Jenny Searle Associates
Tradução: Paulo Liégio, Interlinguae
Publicado em abril de 2010
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