A falácia da Licença Compulsória
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A falácia da Licença Compulsória
A falácia da Licença Compulsória POR ALEC VAN GELDER E PHILIP STEVENS A falácia da licença compulsória Novembro 2010 International Policy Network Rooms 200–205, Temple Chambers 3–7 Temple Avenue London EC4Y 0HP Reino Unido t: +4420 3393 8410 f: +4420 3393 8411 e: inquiries – at – policynetwork.net w: www.policynetwork.net Publicado por International Policy Press, uma divisão da International Policy Network © 2010 International Policy Network Todos os direitos reservados. Sem limitar os direitos reservados acima, fica vedada a reprodução desta publicação, bem como seu armazenamento ou introdução em sistema de catalogação digital e sua transmissão, de qualquer forma e por quaisquer vias (eletrônica, mecânica, fotocópia, registro ou outras) sem a expressa permissão prévia tanto do detentor dos direitos quanto da editora. Design e composição em Latin 725 por MacGuru Ltd [email protected] Sobre a International Policy Network A International Policy Network (IPN) é uma organização não-governamental, educacional e apartidária cuja missão é incentivar um melhor entendimento público acerca do papel das instituições da sociedade livre no desenvolvimento social e econômico. Para tanto, a IPN interage com pensadores e comentaristas de diversos países e disciplinas. A IPN conduz, encomenda e dissemina pesquisas, direta e indiretamente com organizações parceiras, nos campos da saúde, meio-ambiente, comércio e desenvolvimento. A IPN espera que, como resultado de seus programas, os indivíduos sejam mais capazes de atingir suas aspirações, independentemente de raça, cor, credo, nacionalidade ou condição humana. www.policynetwork.net Sobre os autores Alec van Gelder é diretor de projetos do programa de comércio e desenvolvimento, e Philip Stevens é pesquisador Sênior da International Policy Network. Publicado em parceria com: Bangalore Management Academy, Índia Instituto Cathay para Assuntos Públicos, China Centro de Investigação de Instituições e Mercados (CIIMA), Argentina Free Market Foundation, África do Sul Pensadores do Governo Mínimo, Filipinas Institute of Public Affairs, Austrália Instituto Liberdade, Brasil Sumário Executivo A batalha global contra o HIV/AIDS e os problemas de saúde nos países pobres passou por uma grande guinada na última década. Depois de ser uma “doença negligenciada” nos anos 1990, os gastos em HIV/AIDS transformaram-se, com dezenas e bilhões de dólares gastos na extrapolação da produção e distribuição de tratamentos. Esses recursos vêm de uma combinação de esforços bilaterais, organizações multilaterais, parcerias público-privadas, filantropos e empresas farmacêuticas. Isso contribuiu para um aumento de doze vezes no número de pessoas recebendo tratamento regular. Ainda assim, muitas pessoas que poderiam ser beneficiadas pelo tratamento continuam sem ter acesso a ele. Para abordar essa necessidade não atendida, alguns ativistas da saúde dizem que é preciso enfraquecer os direitos de propriedade intelectual. Em especial, eles argumentam que as “flexibilidades” do acordo TRIPS ou ADPIC, que permite que os governos emitam “licenças compulsórias” são restritivas demais, e impedem que os governos empreguem tais licenças. Em especial, é alvo de críticas a “solução do Parágrafo Seis” – regras que permitem que os governos em países sem indústria farmacêutica local emitam uma licença compulsória para importar medicamentos. O presente artigo argumenta que o processo de licenciamento compulsório através da Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma distração desnecessária. Embora seja verdade que poucas licenças compulsórias foram emitidas na última década, o acesso aos medicamentos aumentou rapidamente. Argumentamos que, embora ainda haja consideráveis barreiras ao acesso, elas pouco têm a ver com os DPI. Os padrões dos Direitos de Propriedade Intelectual (DPI) têm melhorado em muitas regiões -e isso pode efetivamente ter melhorado o acesso aos medicamentos em geral e aos antiretrovirais (ARV) em especial. São pertinentes os seguintes fatos: - 65% dos medicamentos antiretrovirais são hoje produzidos por fabricantes genéricos; - muitos ARV de segunda e terceira linha que estão protegidos por direitos de patente estão sendo produzidos na Índia e em outros países em desenvolvimento com consentimento dos detentores dos direitos. Esses acordos resultam em parcerias úteis que transferem tecnologia e know-how a economias em desenvolvimento. - muitos outros medicamentos de primeira, segunda e terceira linha protegidos por patentes estão sendo fabricados na Índia sem o consentimento dos detentores dos direitos, no entanto tais empresas ainda não tomaram as providências legais contra essa produção. Muitos desses medicamentos são para exportação, o que questiona a necessidade de revisitar o sistema do Parágrafo Seis. - Finalmente, o setor privado está explorando opções para promover acesso e incentivar P&D sustentável a jusante através de preços diferenciados. Todos esses desenvolvimentos sugerem que esse aumento no acesso vem sendo resultado de uma notável flexibilidade por parte do sistema global de DPI. Revisitando o debate sobre as flexibilidades do TRIPS mais uma vez representa uma má priorização de recursos, e desviaria a atenção do debate muito mais importante sobre a melhoria do acesso global à saúde nos países pobres. Aqui, mais uma vez, as evidências são inequívocas: Uma combinação de falta de profissionais de saúde preparados, infraestrutura erodida e sucateada e má governança permanecem sendo os principais fatores que inibem o acesso a uma melhor assistência médica. A falácia da licença compulsória Introdução As regras globais de comércio administradas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) há muito incluem a proteção dos direitos de propriedade intelectual (DPI), mas também incorporam flexibilidades para os direitos que buscam um equilíbrio entre a exigência dos inovadores de obterem um retorno sobre seu investimento e a necessidade de acesso aos medicamentos por parte dos países pobres. Como tais, os estados membros reservaram o direito de emitir licenças compulsórias sobre medicamentos patenteados quando o acordo dos aspectos de DPI relacionados ao comércio (TRIPS) foi firmado, em 1994. Os aspectos de saúde pública desse direito foram esclarecidos pela Declaração Doha da OMC, em 2001, e mais uma vez em agosto de 2003. Ao longo dos últimos quinze anos, essas flexibilidades raramente foram utilizadas. Uma coalizão flexível de empresas de genéricos, ativistas da saúde e estados-membros está agora fazendo pressão para revisitar as emendas da OMC no que tange às licenças compulsórias. Em parte por causa desse ativismo, a OMC ainda não tem a maioria necessária para ratificar permanentemente as emendas ao Artigo 31 (f) do TRIPS, no que diz respeito à licenças compulsórias em países que não possuem indústrias farmacêuticas locais. 1 O debate sobre o TRIPS e as licenças compulsórias como forma de promover acesso aos medicamentos ainda está acalorado, sobretudo em relação ao HIV/AIDS. Uma influente empresa de genéricos descreveu o processo criado pelas emendas de agosto de 2003 como intransponível (ver box). O Alto Comissário da Tanzânia no Canadá, Sua Excelência Ombeni Sefue, falou, acerca das flexibilidades do TRIPS em 2006: “Não é que não queiramos fazê-lo. Ainda não fizemos apenas porque...todas as exigências burocráticas, administrativas e legais consomem muito tempo... O sistema é complicado demais"2 Os ativistas da saúde também reclamaram sobre o fato de que é burocrático demais para os governos africanos beneficiarem-se das flexibilidades do TRIPS, uma vez que elas exigem a emissão de licenças compulsórias a cada caso.3 Essas preocupações sobre as flexibilidades que se desviam das exigências do TRIPS são justificáveis? O acesso aos ARV foi obstruído pela natureza supostamente complicada das flexibilidades do TRIPS? O presente artigo busca responder a essas questões examinando o acesso aos ARV em países de baixa renda, especificamente no que tange à propriedade intelectual. O artigo começa examinando as taxas de acesso a ARV nos países menos desenvolvidos, e então detalha alguma das estratégias adotadas pelos fabricantes de medicamentos para aumentar o acesso a seus produtos. O artigo é concluído por considerações sobre outras barreiras de acesso aos medicamentos, não-relacionadas à propriedade intelectual. Flexibilidades do TRIPS e exemplos de seu uso Na conclusão da Rodada Uruguai de negociações do antigo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), os estados-membros concordaram em formalizar a proteção global aos direitos de propriedade intelectual. O acordo, conhecido como TRIPS, exige que os estadosmembros da OMC forneçam aos detentores das patentes, certos direitos exclusivos mas temporários, incluindo o direito de evitar que pessoas não-autorizadas fabriquem, utilizem, ofereçam para venda ou importem o produto patenteado ou que utilizem um processo patenteado. O surgimento do HIV/AIDS como grande problema de saúde nos países em desenvolvimento, nos anos 1990, deu vazão a preocupações sobre o impacto adverso desse Acordo sobre a saúde pública, uma vez que a proteção dos DPI permite aos detentores da patente direitos exclusivos de fabricação e comercialização sobre medicamentos patenteados de HIV/AIDS, ou medicamentos antiretrovirais (ARV). O medo de que isso levaria a preços proibitivamente altos para os ARV em países pobres já surgira sob forma de ações judiciais contra empresas farmacêuticas na África do Sul, que eventualmente tiveram fim em 2001. Essas preocupações foram levadas à OMC durante as negociações da assim chamada rodada de “desenvolvimento” em Doha, e resultou na “Declaração de Doha”.4 A declaração de Doha esclareceu questões de saúde pública levantadas pelo acordo TRIPS. Os estados-membros da OMC “reconhecem que a proteção da propriedade intelectual é importante para o desenvolvimento de novos medicamentos,” “o Acordo TRIPS não impede e não deve impedir que os Membros tomem medidas de proteção da saúde pública.”5 Em essência, isso permite aos estados-membros “flexibilidades” para anular os direitos de propriedade intelectual em certas circunstâncias de saúde pública, que são detalhadas no Artigo 31 do TRIPS. Os governos podem emitir “licenças compulsórias” permitindo que fabricantes produzam legalmente produtos farmacêuticos sob patente com uma taxa mínima de royalties pagos aos detentores dos direitos. Embora as flexibilidades já embutidas no TRIPS permitissem licenças compulsórias para o fornecimento do mercado interno do país-membro que emitisse a licença, a Declaração de Doha levantou preocupações quanto ao fato de que muitos dos países mais atingidos pelo HIV/AIDS não possuíam capacidade de produção interna. Para abordar essa questão, o Conselho Geral da OMC posteriormente criou uma emenda ao TRIPS conhecida como solução do “Parágrafo Seis” em agosto de 2003,6 que permitia aos estados-membros da OMC sem capacidade de produção interna a emissão de uma licença compulsória para importar medicamentos com royalties mínimos. O processo para empregar o "sistema" do Parágrafo Seis é bastante direto. O estado-membro deve informar ao Conselho TRIPS sua intenção de proceder, e registrar os detalhes para cada licença compulsória. Especificamente, o país importador deve registrar as condições ligadas à licença compulsória que está sendo emitida, incluindo o nome e endereço do licenciado, os produtos e volume da produção licenciada, e o país (ou países) para o(s) qual(is) os produtos serão fornecidos, bem como a duração da licença. O estado-membro que exporta os remédios também devem registrar detalhes de cada pedido que deseja atender.7 Para garantir que a entrega seja feita, e não desviada para outro local, o conteúdo do pedido deve ser claramente rotulado como tal. Sob o Artigo 31 (h), os royalties que são comensurados com o valor da licença compulsória no país importador, não no país exportador, devem ser pagos pelo fabricante exportador ao detentor original dos direitos. Em suma, as flexibilidades acrescentadas ao TRIPS em Doha permitem ampla interpretação, e os mecanismos legais e exigências regulatórias para emitir uma licença compulsória, para consumo doméstico ou exportação, não são especialmente complicados. Por exemplo, os critérios para determinar o que constitui uma “emergência de saúde” estão abertos para interpretação interna. Dado que os ativistas da AIDS sempre alegaram que os direitos de propriedade são uma barreira significativa para o tratamento da AIDS, a Declaração de Doha deveria ter resultado na adoção em massa de licenças compulsórias por parte dos países pobres. A realidade, no entanto, mostrou-se diferente, uma vez que poucos governos exerceram o direito de produzir ou importar cópias genéricas de ARV patenteados: - A África do Sul anunciou em 2001 que emitiria licenças compulsórias para os ARV usados no tratamento de HIV/ AIDS, patenteados pela GlaxoSmithKline (GSK) e Boehringer Ingelheim (BI).8 - Em maio de 2002, o Zimbábue declarou um período de emergência (subsequentemente estendido até 2008) que permitiu a revogação das patentes existentes de ARV. O Zimbábue começou a produzir localmente ARV através da empresa genérica Varichem Pharmaceuticals (Privada) Ltd. A facilidade da empresa foi inspecionada pela OMS para Boas Práticas Industriais em maio de 2010 e seu primeiro produto foi oficialmente pré-qualificado pela OMS em setembro de 2010.9, 10 - Em 2003, a Malásia emitiu uma licença compulsória para uso governamental para importar os genéricos combavir, didanosina e zidovudina de um fabricante de genéricos Indiano. O pedido foi atendido pela Cipla. - Em 2004, a Indonésia emitiu uma licença compulsória para uso governamental sobre lamivudina e nevirapina até a expiração da patente em 2011 e 2012, respectivamente. Desde então, a produção desses medicamentos foi assumida pela PT Kimia Farma. - Em 5 de abril de 2004, Moçambique emitiu uma licença compulsória para a lamivudina, stavudina e nevirapina. A licença foi concedida à Pharco Moçambique Lda. De acordo com Tenu Avafia, do programa de desenvolvimento das Nações Unidas, o preço dos princípios ativos farmacêuticos (PAF) inviabilizava a produção local.11 - Em 21 de setembro de 2004, a Zâmbia emitiu uma licença compulsória para a lamivudina, stavudina e nevirapina. A licença foi concedida à Pharco Ltd, uma fábrica local. Até setembro de 2010, o remédio ainda não fora pré-qualificado pela OMS ou aprovado pelo FDA americano. - Em junho de 2005, a Eritrea evocou a declaração de Doha ao emitir uma licença compulsória para a importação de ARV.12 - Em 2005, o Ministério da Saúde brasileiro ameaçou uma licença compulsória para Kaletra, um ARV de propriedade da Abbott, mas não levou adiante a ameaça uma vez que o detentor dos direitos concordou em reduzir o preço. - Em outubro de 2005, Gana emitiu licenças compulsórias de uso governamental para importar para Gana os ARV genéricos da Índia. - Em 2007, Ruanda anunciou sua intenção de evocar o Parágrafo Seis para a importação de um genérico de dose fixa combinando zidovudina, lamivudina e nevirapina. O fabricante de genéricos canadense Apotex atendeu a um pedido em 2009, sob os auspícios do Regime Canadense de Acesso a Medicamentos, mas recusou-se a produzir os carregamentos subsequentes (ver box). - Em 2007, o Brasil emitiu uma licença compulsória para o efavirenz, da Merck.13 - Em 2007, a Tailândia emitiu licenças compulsórias para efavirenz, combinação de lopinavir+ritonavir e clopidogrel (para doenças cardíacas), que foram subsequentemente produzidos pela estatal GPO. - No fim de 2009, o Presidente Correa, do Equador, evocou a declaração de Doha ao assinar um decreto permitindo licenças compulsórias. Em abril de 2010, um distribuidor local da Cipla foi contemplado com uma licença para fabricar o Ritonavir, cuja patente é detida pelo Abbott Laboratórios. É notável que muitas licenças compulsórias não foram realmente implementadas em sua totalidade. Muitas dessas instâncias são usadas erroneamente como exemplos de licenças compulsórias pelos defensores dessa abordagem.14 Por exemplo, o governo da Índia estava sendo pressionado pela NATCO, uma fabricante nacional de genéricos, a anular a patente da Pfizer para um medicamento de câncer, Tarceva, para exportar versões mais baratas para o Nepal. No entanto, a licença compulsória nunca foi realmente emitida, uma vez que a própria Pfizer atendeu a essa necessidade.15 Figura 1 Pacientes recebendo tratamento para HIV/AIDS, 2002–9 Nota: Para referência, nesse período o investimento em intangíveis foi de cerca de 11,7% do PIB e o investimento em tangíveis foi de 8,5% do PIB. Fonte: Corrado et al. (2009). O regime de acesso aos medicamentos do Canadá – grande promessa, mínima entrega O Canadá tornou-se o primeiro membro da OMC a incorporar a resolução do Conselho Geral, de setembro de 2003, à lei nacional, semanas depois da resolução de agosto de 2003 do Conselho Geral do TRIPS. Conhecido como Regime Canadense de Acesso aos Medicamentos, (CAMR), essa atitude foi amplamente elogiada pela comunidade de ativistas da saúde no Canadá e no mundo, que lançaram uma campanha “Não deixe que a Pharma sequestre a luta de Jean Chretien na África", para gerar apoio emotivo do público para a aprovação dessa proposta.16 Ruanda anunciou sua intenção de usar o sistema do Parágrafo Seis em 2007 para encontrar ARV baratos.17 Mas apenas em 2008 conseguiu localizar um fornecedor de genéricos disposto. Apotex, uma fabricante canadense de genéricos, só conseguiu atender ao pedido (de Apo-TriAvir, uma terapia combinada de dose fixa) em 2009 e então, subsequentemente, declinou de atender a um segundo pedido do governo de Ruanda. A resposta da Apotex e de seus aliados na comunidade de advocacia foi taxar o CAMR de “inviável” e excessivamente burocrático. Como alternativa ao CAMR, eles apoiam a aprovação de duas novas Leis (C-393 e S-232) que, segundo eles, tornaria o sistema mais viável. Entre outras coisas, essa proposta sugere que os genéricos canadenses produzidos sob o CAMR sejam eximidos de regulamentação, o que teoricamente poderia acelerar o tempo de aprovação de seus produtos, mas abre a possibilidade de um controle de qualidade dúbio. 18 No entanto, o pesquisador legal canadense Amir Attaran observa que a Apotex registrou sua inscrição no órgão de patentes canadense em 10 de setembro de 2009 e recebeu sua aprovação apenas uma semana mais tarde. 19 Attaran observa que as origens da dificuldade e atraso da Apotex para atender ao pedido de Ruanda tem menos a ver com o CAMR e mais a ver com a falta de competitividade global da indústria canadense de genéricos. De fato, a Apotex admitiu isso quando optou pelo preço mais baixo possível, de 39 centavos por comprimido, entre 2006-2008, um preço que não era competitivo em comparação ao praticado por fabricantes da Índia, Finlândia e Estados Unidos. O pedido só pode ser completado quando a Apotex cortou os preços em 50%, para 19,5 centavos. Mas este preço era economicamente inviável para a Apotex e portanto o segundo pedido não foi entregue. 20 Esforços filantrópicos e governamentais para promover acesso aos medicamentos para HIV/AIDS Embora tenha sido infrequente a utilização das flexibilidades do TRIPS, o número de pacientes tratados para HIV/AIDS aumentou mais de doze vezes entre 2003 e 2010 (Figura 1). Em 2003, apenas 50.000 pacientes estavam em tratamento com ARV. Em janeiro de 2005, esse número aumentara para 1,57 milhões de pacientes, atingindo a marca de 5.2 milhões de pacientes em dezembro de 2009. 21 A vasta maioria dos pacientes que ganharam acesso aos medicamentos para HIV/AIDS o fizeram através de programas como o Plano de Emergência do Presidente dos EUA no Combate à AIDS (PEPFAR) e o Fundo Global de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária, bem como outras parcerias público-privadas e programas do setor privado. No fim de 2009, o PEPFAR era responsável pelo tratamento de 2.485.300 pessoas em tratamento nos países em desenvolvimento. Em junho de 2010, outros 2,8 milhões de pessoas recebiam tratamento oferecido pelo Fundo Global, um aumento de 22% em relação ao ano anterior. 22 Os setores privado e filantrópico também foram responsáveis por uma grande proporção desses aumentos de acesso aos ARV, muitas vezes em parceria com o setor público. Dois exemplos pioneiros são o programa de AIDS da Fundação Bill e Melinda Gates -Merck na Botsuana e o Programa “Assegurando o Futuro” da Bristol Myer-Squibb em dez estados sulafricanos, ambos iniciados em 1999. A parceria Gates-Merck permitiu que a Botsuana fosse o primeiro país da África subsaariana a fornecer tratamento com ARV a todos os pacientes necessitados. A partir desses sucessos, a ONU/programa de Iniciativa de Acesso e Aceleração da Indústria (AAI) foi lançado em 2000, e até 2006 era a maior plataforma para a distribuição mundial de ARV. Apesar da exploração mínima das flexibilidades do TRIPS pelos estados-membros da OMC, os medicamentos genéricos hoje constituem a maioria (65%) dos medicamentos ARV de primeira linha utilizados na África subsaariana.23 Agências multilaterais, como o Fundo Global e órgãos filantrópicos como a Fundação Clinton buscaram políticas pró-genéricos sem a necessidade de implantação de flexibilidades do TRIPS por parte dos estados-membros da OMC. No entanto, insistir na qualidade dos medicamentos é ainda uma condição essencial no esforço para extrapolar o acesso aos medicamentos. A distribuição de ARV copiados de baixa qualidade pode ser mais nociva que benéfica, acelerando a emergência da resistência aos remédios ou aumentando as chances de falha clínica. Para tanto, há diversas iniciativas em curso que incentivam a aprovação e disseminação de genéricos de alta qualidade que são rigorosamente testados e certificados como verdadeiramente equivalentes ao remédio original. Um exemplo notável é o programa de pareceres expressos do FDA americano, que desde 2004 emite pareceres para certificar a qualidade de ARV genéricos fabricados em outros países, sem qualquer custo. Isso permite que programas de compras públicas e privadas garantam a mais alta qualidade de seus remédios. 113 dos 185 ARV e terapias contra Infecções Oportunistas na lista autorizada da OMS foram aprovados como verdadeiros genéricos pelo FDA.24 De acordo com o Comissário do FDA, esse sistema de aprovação permitiu o investimento extra de 150 milhões de dólares em medicamentos para distribuição, só em 2009.25 Tabela 1 Seleção de PPPs para o tratamento da AIDS Parceria País PEPFAR / Societe des Caoutchoucs de Costa do Marfim Resumo Oferecer educação sobre o HIV, serviços de prevenção da transmissão do HIV de mãe para filho (PMTCT) e acesso a serviços de assistência e tratamento ao redor das comunidades Grand Bereby África do Sul Criar um centro de saúde comunitário que oferece serviços básicos de saúde a preços acessíveis e diagnóstico e tratamento gratuitos para HIV/AIDS, tuberculose e malária PEPFAR / Virgin Unite, Anglo Coal, Ndlovu Medical Trust PEPFAR / Accenture Development Partners,GSM Association Development Fund, Motorola, MTN, Voxiva Ruanda e outros 9 países apoiados PEPFAR Ajudar a atender à necessidade de uma infraestrutura de saúde que aborde adequadamente a pandemia de HIV/AIDS e disponibilizar informações relevantes e pontuais para gestores do programa e prestadores de serviços USAID / Pfizer África Diversos projetos, entre eles o programa mothers2mothers (m2m) na Cidade do Cabo, na África do Sul, focado na assistência de mães soropositivas USAID / Standard Bank (largest bank in Africa), NamDeb (subsidiary of DeBeers), Namíbia Fornecer sachês de iogurte nutritivo para crianças, junto com educação sobre a prevenção do HIV/AIDS. O iogurte Namibia Business Coalition on AIDS oferece às crianças pelo menos um suplemento nutricional saudável por dia, ajudando a torná-las menos vulneráveis. Governo da Botsuana / the Bill & Botsuana Melinda Gates Foundation, Merck Alavancar as perspectivas e experiências do setor privado para resolver questões sociais em resposta à pandemia de HIV e AIDS através de uma abordagem abrangente à prevenção, cuidado, tratamento e apoio. Ministério da Saúde da China/ Merck China Esta parceria com o Ministério da Saúde da China, firmada em 2005, oferece prevenção do HIV/AIDS, assistência, tratamento e apoio aos pacientes. O projeto é focado em uma gama de intervenções, entre elas: educação, aconselhamento, testes, redução de danos e serviços de saúde, incluindo tratamento e assistência para pessoas vivendo com HIV e AIDS. Cambodian Ministry of Health/Roche Cambodia Em 2007, a Roche comprometeu-se a financiar totalmente os custos operacionais da clínica do CTAP em Phnom Penh por mais um ano. O Ministério da Saúde do Camboja está identificando outras fontes de financiamento, tanto nacionais quanto internacionais para ajudar a clínica a tornar-se plenamente independente Roche Tabela 2 Versões genéricas de patentes de retrovirais que receberam aprovação da OMC ou do FDA Abbott Lopinavir/ ritonavir Aurobindo, Índia Matrix Laboratories, Índia Nevirapine Aurobindo, Índia Cipla, Índia Hetero, Índia Huahai, China MacLeods, Índia Ranbaxy, Índia Strides, Índia Gilead Tenofovir GlaxoSmithKline Abacavir Cipla, Índia Aurobindo, Índia Cipla, Índia Matrix Laboratories, Índia Combivir Apotex, Canadá Aurobindo, Índia Cipla, Índia Emcure, Índia Hetero, Índia Trizavir MacLeods, Índia Ranbaxy, Índia Aurobindo, Índia Cipla, Índia Emcure, Índia Hetero, Índia Efavirenz Merck Matrix Laboratories, Índia Ranbaxy, Índia Strides, Índia Essa expansão de acesso foi garantida por um enorme aumento no nível de programas financiados por governos e doações filantrópicas em termos de dinheiro e produtos, totalizando mais de 48 bilhões de dólares entre os os anos de 2004 – 2008. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reporta que apenas os gastos com AIDS totalizaram 8 bilhões de dólares em 200426; a OMS relata que em 2005, o valor foi de 8,3 bilhões de dólares em 2005, e o UNAIDS diz que o valor chegou a pelo menos 9 bilhões de dólares em 2006. O Conselho Global de Saúde estima que os gastos tenham aumentado em 2007 para 10 bilhões, e aumentado ainda mais, para 13,7 bilhões em 2008.27 Embora sejam mais baixos, os gastos com tuberculose e malária são estimados em 6–7 bilhões ao longo desse mesmo período. A indústria farmacêutica também fez investimentos significativos em esforços de pesquisa com e sem fins lucrativos para doenças tropicais e para revitalizar a infraestrutura de saúde sucateada dos países pobres. Alguns exemplos específicos, entre tantos outros, são: o primeiro hospital pediátrico de AIDS e o primeiro laboratório de AIDS na África28, ambos em Botsuana, construídos pelo Bristol Myer-Squibb29; o primeiro instituto de doenças infecciosas construído pelo Pfizer em Uganda, responsável pelo treinamento de metade dos postos de AIDS da África30; o Instituto Novartis de Doenças Tropicais (NITD) em Cingapura 31 . O primeiro hospital pediátrico de AIDS da Tanzânia foi construído pelo Abbott Laboratórios32; um centro de pesquisa em vacinas sem fins lucrativos operado pelo Novartis em Siena, Itália, desde 200733 e o centro de pesquisa do GlaxoSmithKline, Tres Cantos, exclusivamente equipado para a investigação de tratamentos melhorados, considerados “essenciais” pela OMS. Uma seleção de parcerias público-privadas para o tratamento da AIDS é mostrada na Tabela 3. Tabela 3 Licenças voluntárias entre empresas de P&D e fabricantes de genéricos nos países em desenvolvimento. Empresa Med. Boehringer Ingelheim Nevirapine Licenciado Aspen, África do Sul Cosmos, Quênia Bristol Myers Squibb Didanosine Stavudine Aurobindo, Índia Aspen, África do Sul Aurobindo, India Gilead Tenofovir Aspen, África do Sul Aurobindo, Índia Ranbaxy, Índia GSK Combivir Aspen, África do Sul Merck Trizavir Efavirenz Aurobindo, Índia Adcock Ingram, África do Sul34 Aspen, África do Sul Aurobindo, Índia Cipla Medpro, África do Sul O acesso a ARV genéricos está aumentando fora do TRIPS Um dos principais fundamentos das flexibilidades esclarecidas na Declaração de Doha é a noção de que os DPI representam uma barreira à fabricação e exportação de remédios patenteados para um país estrangeiro passando por uma emergência de saúde. No entanto, grande parte dessas exportações acontece sem a ajuda de mecanismos como o Parágrafo Seis, especialmente para ARV. Muitas versões das drogas patenteadas são fabricadas (sobretudo por empresas indianas) para exportação para países da África subsaariana e outros locais (ver Tabela 2). Até o momento, nenhum desses casos sujeitou-se a ações judiciais por parte dos detentores dos direitos, apesar de a Índia ter entrado em conformidade com o TRIPS em 2005. Além disso, muitos desses produtos vêm sendo aceitos pelo Programa de Pré-qualificação da OMS ou aprovados como seguros pelo FDA americano, assim como diversas “combinações de dose fixa” que envolvem vários ARV patenteados. Além disso, oito empresas indianas estavam produzindo cópias genéricas da Lamivudina da GSK antes que sua patente expirasse em fevereiro de 2010, mais uma vez sem que o detentor dos direitos tenha entrado com qualquer ação judicial. O Boehringer Ingelheim e o Bristol Myers Squibb fizeram declarações de “nãoasserção”/“imunidade processual” que substituem ou complementam as atividades de licenciamento. Além disso, há diversos exemplos de empresas de genéricos que fabricam produtos não licenciados que não foram permitidos pela lista de Pré-qualificação da OMS ou tampouco aprovados por uma autoridade regulatória rígida. Entre esses, destacam-se as versões do Cipla e do Hetero do saquinavir, do Roche, e a versão do Varichem no Zimbábue, do combivir do GSK. Licenças voluntárias Além disso, muitos detentores de patentes para ARV entraram em licenças voluntárias com fabricantes de genéricos em países em desenvolvimento, para aumentar o acesso a esses produtos. Tipicamente, o detentor dos direitos concorda em transferir a tecnologia ao parceiro genérico em troca por um valor de royalty, permitindo ao parceiro produzir e comercializar o remédio localmente. Em muitos casos, isso acontece sem fins lucrativos. A maioria desses acordos é negociada sobre a condição de que os produtos licenciados não devem ser desviados para outros mercados, mais abastados. Alguns exemplos de ARV que foram Préqualificados pela OMS e/ou aprovados pelo FDA americano são listados na Tabela 3. Outro ponto de destaque, na Tabela 4, é o fato de que muitas licenças voluntárias não resultaram em produtos fabricados, indicando que dificilmente as licenças voluntárias por si só serão uma solução mágica para melhorar e aumentar o acesso aos medicamentos. Tabela 4 Licenças voluntárias entre empresas de P&D e fabricantes de genéricos que ainda não resultaram em produtos Empresa Boehringer Med. Nevirapine Ingelheim Licenciado Cipla MedPro, África do Sul Cosmos,Quênia Gemini, EUA Memphis, Egito Universal, Quênia Bristol Myers Squibb Gilead ATV ddl TVA TDF Aspen, África do Sul Emcure, Índia Aspen, África do Sul Aspen, África do Sul Alkem, Índia Emcure, Índia Hetero, Índia Unique Pharma, Índia Matrix, Índia Medchem, Índia Shasun, Índia GSK CBV Strides, Índia Cipla, Índia Cosmos, Quênia Feza, África do Sul Sonke, África do Sul AZT Cosmos, Quênia Feza, África do Sul Sonke, África do Sul Roche SQV Addis, Etiópia Alkem, Índia Aspen, África do Sul Beximo, Bangladesh CAPS, Zimbábue Cosmos, Quênia Regal, Quênia Universal, Quênia Varichem, Zimbábue Preços diferenciados As licenças voluntárias ou a fabricação de genéricos não-licenciada são duas formas de aumentar o acesso aos medicamentos. No longo prazo, no entanto, esses métodos fazem pouco para apoiar P&D futuros, uma vez que tipicamente recuperam apenas uma fração (na melhor das hipóteses) dos custos irrecuperáveis do inovador. Outro método para aumentar o acesso sem deixar de recuperar esses custos – incentivando assim P&D futuros – é a venda dos produtos a diferentes preços para diferentes consumidores, por parte das empresas. Isso permite às empresas garantir que seus produtos atinjam o máximo de consumidores possível sem deixar de maximizar sua receita, dado um certo grau de exclusividade. Se uma empresa é capaz de segmentar os mercados com precisão de acordo com o que cada indivíduo está disposto a pagar, cada consumidor disposto a pagar pelo menos o curso marginal de produção do produto deverá ser capaz de adquirir esse produto. Isso maximizaria tanto o número de pessoas que se beneficiam do produto quanto a receita da empresa, que em princípio poderia investir mais em P&D. Empresas inovadoras vêm perseguindo essa estratégia há muito tempo, através da venda de ARV para os mercados africanos e para outros países pobres a preços muito abaixo dos praticados no mundo desenvolvido. Essa prática foi introduzida mais amplamente em 2000, com a Iniciativa de Acesso Acelerado, uma parceria entre sete empresas farmacêuticas e cinco órgãos da ONU. Esse programa envolve a venda de ARV de marca em mercados mais pobres a preços mais baixos, em muitos casos abaixo dos oferecidos pelos concorrentes genéricos. Essa prática torna-se sustentável através da venda por um preço relativamente mais alto em mercados mais abastados, como os EUA. Embora essa prática fosse inicialmente focada em HIV/AIDS, ela está atualmente se expandindo para incluir uma ampla gama de doenças. Em 2008, a fabricante de remédios GSK anunciou planos para preços diferenciados em todo seu leque de produtos. Em 2009, suas vendas nos mercados emergentes aumentaram em 20%,35 sugerindo volumes de vendas maiores – e, por implicação, maiores números de pacientes com acesso aos seus produtos. Segmentar o mercado dessa forma depende do respeito aos direitos de propriedade intelectual, sobretudo patentes e marcas registradas. Se os direitos de propriedade intelectual e contratos são respeitados, as firmas podem operar livremente dentro do mercado sem correr o risco de ter mercados nacionais ou internacionais comprometidos pela revenda dos medicamentos de preço mais baixo em mercados onde os preços são relativamente mais altos (a assim chamada "importação cinza”). No entanto, infrações contra os direitos de propriedade intelectual impedem que as firmas controlem seus próprios esquemas de preço, o que traz consequências sérias. Não apenas isso tira o incentivo para que as empresas vendam seus produtos ou invistam em sistemas de cadeia de fornecimento em países pobres, mas também pode inibir a inovação futura. A estratégia dos preços diferenciais ou graduados depende da capacidade dos fabricantes de reter controle sobre suas patentes e impor restrições contratuais sobre a revenda ou acordos internacionais relativos à expiração da patente, para que possam estabelecer preços em diferentes segmentos do mercado. O uso indiscriminado de mecanismos que anulam os direitos de propriedade impede que isso aconteça. Em suma, a diferenciação de preços permite que as empresas atendam pessoas que, de outra forma, não poderiam adquirir seus produtos. Isso permite que os países que não são capazes de arcar com os custos de P&D consigam adquirir medicamentos caros. Isso permite também uma maior produção do que a que ocorreria caso não houvesse qualquer diferenciação. Além disso, o inovador é capaz de gerar mais receita, obtendo um melhor conjunto de recursos para investir no desenvolvimento de novos remédios. Uma vez que o produto vendido traz a marca registrada da empresa que o criou, há também fortes pressões em termos de reputação que garantem sua qualidade. As barreiras reais para o acesso Até aqui, está claro que nos últimos anos houve um aumento significativo de acesso aos medicamentos de HIV/AIDS, em grande parte devido à intervenção em massa de órgãos assistenciais e novos órgãos multilaterais de financiamento. No entanto, para além do HIV/AIDS, a assistência de saúde primária mais ampla permanece em um estado deplorável em muitos países, devido à falta de investimento, corrupção e falta de profissionais, entre outros fatores. Essas determinantes fundamentais da boa assistência médica não têm relação com os debates em curso acerca do TRIPS e propriedade intelectual; no entanto, foram fortemente negligenciados dentro do debate até pouco tempo atrás. Estima-se que 30% da população mundial não tem acesso regular aos remédios existentes, e esse número chega a 50% nas partes mais pobres da África e Ásia. A grande maioria dos medicamentos essenciais já teve sua patente expirada, o que sugere que a falta de acesso aos medicamentos se dê, em grande parte, devido a outros fatores que não propriedade intelectual e patentes.36 Menos de 5% dos medicamentos na Lista de Medicamentos Essenciais da OMS, que forma a espinha dorsal das compras públicas em países pobres, são atualmente protegidos por patentes.37 Paradoxalmente, muitos dos medicamentos ainda protegidos por patentes são ARV de segunda e terceira linha, cuja distribuição tornou-se muito mais ampla ao longo da última década, devido ao resultado do esforço já mencionado para controlar a epidemia de HIV/AIDS nos países pobres. O exemplo da Índia reforça essa noção. Desde 1975, o país enfraqueceu as leis de propriedade intelectual, acreditando que isso faria cair os preços dos medicamentos. Embora isso realmente tenha acontecido para alguns remédios, não foi associado a uma melhora nos resultados de saúde. Mesmo o acesso aos mais básicos medicamentos permanece inaceitavelmente baixo na Índia. As crianças não recebem as vacinas de rotina. Antibióticos não patenteados e relativamente baratos estão fora de alcance para a maioria da população rural pobre. Embora o país venha produzindo medicamentos genéricos baratos contra a AIDS há anos, apenas 123.000 dos 2,5 milhões de doentes de AIDS da Índia recebiam os remédios no fim de 2007.38 O preço da vasta maioria dos medicamentos não era a barreira mais relevante para os a população rural pobre da Índia. Para eles, a questão mais impactante era, e permanece sendo, o estado de sua infraestrutura de saúde. Os sistemas de assistência médica do estado são subfinanciados e irregulares, marcados pela ineficiência e pela corrupção. O número de instalações de saúde pública é seriamente inadequado. Estima-se que a Índia necessite de 74.150 postos de saúde comunitários por milhão de habitantes, mas o número atual é menos da metade disso. Além disso, pelo menos 11 estados indianos não possuem laboratórios para testar remédios, e mais da metade dos laboratórios existentes não possuem equipamento e pessoal adequados.39 Muito embora o país tenha número relativamente altos de farmácias e farmacêuticos, os padrões do cuidado farmacêutico ainda são ruins. Os pacientes, muitas vezes, recebem má assistência e apoio em relação à compra e ao uso de medicamentos. A rede de transporte é tão porosa, sobrecarregada em parte pelas barreiras comerciais impostas pelo governo interno, que a população rural tem dificuldade em chegar a um ambulatório, mesmo que haja um a menos de um dia de viagem de suas casas. Enquanto isso, a água suja e a queima de combustíveis são responsáveis por uma terrível taxa de doença entre a população pobre. Assim, quando o governo da Índia reforçou suas leis de DPI para cumprir com as exigências do TRIPS, isso foi possível devido ao fato de que não havia qualquer conexão de política interna entre as leis de patente internacionais e a realidade da assistência médica local. Há similaridades com muitos outros países. Nas Filipinas, por exemplo 40% da pópulação passará a vida inteira sem ver um médico. Ambulatórios e hospitais são raridade. PhilHealth, o sistema de saúde estatal, oferece uma cobertura extremamente básica apenas para cerca de metade da população. As alternativas privadas estão tornando-se cada vez mais disponíveis nesses e em outros países pobres, mas as atuais regulamentações e outras políticas tornam proibitiva a extrapolação dessas opções.40 Na verdade, a maioria dos países de baixa renda não possui a infraestrutura básica necessária para distribuir medicamentos de forma bem-sucedida. As malhas viárias são muitas vezes pouco confiáveis ou inexistentes, dificultando a garantia de fornecimento constante de medicamentos em áreas remotas.41 A eletricidade está muitas vezes indisponível, especialmente nas áreas rurais; quando há eletricidade, é comum que seu fornecimento seja irregular. Isso aumenta o custo e a dificuldade de manter sistemas de refrigeração em ambulatórios e hospitais. O resultado disso é que as vacinas muitas vezes não são mantidas a temperaturas suficientemente baixas para garantir a estabilidade do produto. Muitos remédios, como inibidores de protease (usados nos tratamentos de ARV de segunda linha) precisam ser refrigerados, mas devido ao fornecimento irregular de energia e outras questões, é impossível garantir a refrigeração constante nos países mais pobres do mundo.42 Um problema adicional é o fato de que todos os países da África subsaariana sofrem com a falta de pessoal qualificado na área da saúde, muitos dos quais emigraram para países mais ricos (ver Tabela 5). Gana, por exemplo, tem apenas 0,09 médicos por mil habitantes, e manda médicos para o Reino Unido, que possui 18 vezes mais médicos per capita.43 Os Estados Unidos, com 5% da população mundial, empregam 11% dos médicos do planeta. Um estudo mostra que mais de 23% dos 771.491 médicos nos EUA receberam seu treinamento médico fora do país, a maioria (64%) em países de baixa ou média renda. Desse total, 5.334 médicos vêm da África subsaariana, um número que representa mais de 6% dos médicos em atividade na África subsaariana no momento.44 Tabela 5 Médicos por 100.000 habitantes, África Subsaariana, 1990–200445 Guinea Equatorial 30 Namíbia 30 Sudão 30 Gabão 29 Madagascar 29 Nigéria 28 Congo 20 Camarões 19 Djibouti 18 Suazilândia 16 Comores 15 Gana 15 Quênia 14 Costa do Marfim 12 Guinea-Bissau 12 Zâmbia 12 Rep Dem Congo 11 Gâmbia 11 Guinea 11 Mauritânia 11 Angola 8 RepCentro-Africana 8 Mali 8 Uganda 8 Senegal 6 Burkina Faso 5 Eritrea 5 Lesoto 5 Ruanda 5 Benin 4 Chade 4 Somália 4 Togo 4 Burundi 3 Etiópia 3 Libéria 3 Moçambique 3 Serra Leoa 3 Malawi 2 Níger 2 Tanzânia 2 Zimbábue 1 A corrupção é outro problema que obstrui o acesso aos medicamentos. A corrupção na saúde toma muitas formas, desde o desvio de verbas direto, em nível ministerial, até a equipe médica vendendo remédios "gratuitos" no mercado cinza, absenteísmo institucionalizado e pagamentos ilegais para funcionários, que permitem que os pacientes "furem" a fila para obter tratamento.46 Mais de 20% dos medicamentos fornecidos para instalações estatais nos países menos desenvolvidos são roubados e revendidos pelos funcionários. 47 Isso explica, em parte, a recorrência com que os estoques do sistema de saúde pública se esgotam. E quando alguns dos recursos assistenciais realmente chegam aos ambulatórios locais, normalmente são as classes urbanas mais educadas que se beneficiam, e não os pobres rurais para quem a assistência é realmente direcionada. A intervenção de autoridades de saúde pública e a provisão de verbas públicas não é garantia de que os medicamentos existentes serão efetivamente distribuídos. Um grande estudo de 2009 da OMS tentou medir o impacto dos 196 bilhões de dólares gastos na saúde global nos últimos 20 anos. Embora tenha listado alguns sucessos, como o aumento nos diagnósticos de tuberculose e taxas de vacinação mais altas, o estudo descobriu também que alguns programas da ONU são contraproducentes, pois minam os serviços básicos e ocasional grandes quedas nos gastos internos em saúde (Grupo Colaborativo Maximizando Sinergias Positivas, Organização Mundial de Saúde, 2009). É entristecedora a frequência com que aparecem novos exemplos de fracassos na saúde financiada pelo assistencialismo. Uma investigação de 2009 de um programa de 27 milhões de dólares da UNICEF para reduzir a mortalidade infantil no oeste da África descobriu que as crianças tinham maiores chances de sobrevivência fora da área do programa. Também em 2009, uma avaliação de outro programa de saúde infantil multimilionário da UNICEF/OMS em Bangladesh descobriu que o programa não teve qualquer impacto perceptível. Em 2008, descobriu-se que dezenas de países de baixa renda vinham exagerando nos números de vacinações administradas em crianças para obter mais dinheiro de programas financiados pela ONU. 48 Devido a essa miríade de fracassos, o custo médio de salvar uma vida através de assistência médica estatal nos países menos desenvolvidos é de US$50.000 a $100.000, em contraste aos estimados US$10–4000 para tratamentos eficazes em termos de custo para evitar as maiores causas de mortalidade infantil nos países em desenvolvimento. 49 Enquanto isso, as crianças nesses países não estão recebendo tratamentos baratos e capazes de salvar vidas contra diarreia, Terapia de Rehidratação Oral e outras intervenções básicas como vacinas, que podem salvar vidas por poucos centavos (Black, 2003). Conclusão O acesso aos ARV aumentou rapidamente ao longo da última década, com os medicamentos genéricos constituindo a maioria dos ARV de primeira linha disponíveis na África. Muitos desses medicamentos genéricos são derivados de remédios originais que ainda estão protegidos por patente. Essa transformação na paisagem do HIV ocorreu mesmo que as flexibilidades do TRIPS tenham sido pouco utilizadas. Isso sugere que a propriedade intelectual é, na melhor das hipóteses, um determinante marginal de acesso, e não está claro o quanto uma reforma do sistema TRIPS possa mudar isso. A questão real no acesso aos ARV – e a todos os medicamentos – é a má infraestrutura de saúde. Em uma fala de 2009, Bill Clinton resumiu bem essa situação: “… na minha experiência, quase ninguém no mundo morrerá este ano devido ao custo ou à falta de disponibilidade de medicamentos para AIDS. Mas muitas pessoas morrerão de AIDS este ano devido à ausência de sistemas de saúde efetivos nas áreas rurais dos países mais pobres".50 O gasto de energia política na discussão de assuntos periféricos como o TRIPS é contraproducente quando grande parte dos países da África subsaariana e outros países pobres estão sofrendo com uma crise de infraestrutura de saúde. Esse problema de priorização permite que os líderes políticos locais continuem a ignorar as questões cruciais de investimentos em saúde, culpando fatores fora de seu controle pelo subdesempenho dos sistemas locais de saúde. Em 2001, os governos africanos assinaram a declaração de Abuja, na qual se comprometeram a investir 15% de seus orçamentos em saúde. Um estudo de 2010, publicado pela Lancet, concluiu que apenas quatro países haviam cumprido com essa meta, e em sete países, o investimento ficou abaixo de 5%. A Nigéria, por exemplo, gastou 3,5% de seu orçamento de 2007 em saúde, cerca de 2% menos que em 1999.51 O aumento da assistência internacional para a saúde em geral permitiu que muitos desses governos reduzissem ainda mais seus gastos internos em saúde.52 Sem melhorias significativas na infraestrutura de saúde, a África continuará atrasada em termos de expectativa de vida e mortalidades materna e infantil. O TRIPS, as licenças compulsórias e a solução do Parágrafo Seis consumiram uma grande quantidade de energia política e intelectual. Essa energia teria sido melhor direcionada a questões que realmente fazem a diferença. Notas 1 “Members accepting amendment of the TRIPS Agreement”, disponível em: http://www.wto.org/ english/tratop_e/trips_e/amendment_e.htm 2 “Neither expeditious, nor a solution: the WTO August 30th Decision is Unworkable”, Medecins San Frontieres, Agosto de 2006, disponível em: http:// www.msfaccess.org/fileadmin/user_upload/ medinnov_accesspatents/WTOaugustreport.pdf 3 von Braun, J., “Use of Compulsory Licenses; Selected National Experiences”, UNCTAD, disponível em: http://www.unctad.org/sections/dite_totip/docs/ tot_ip_0018_en.pdf 4 http://docsonline.wto.org/imrd/directdoc. asp?DDFDocuments/t/WT/Min01/DEC2.doc 5 Parágrafos 3 e 4 da Declaração de Doha de novembro de 2001 6 O texto completo pode ser acessado aqui: http://www.wto. org/english/tratop_e/trips_e/implem_para6_e.htm 7 Esses detalhes serão registrados em um website dedicado da OMC: http://www.wto.org/ english/tratop_e/trips_e/public_health_e.htm 8 Para maiores detalhes em relação à África do Sul, ver o briefing da Knowledge Ecology International, aqui: http://keionline.org/misc-docs/recent_cls_8mar07. pdf 9 http://apps.who.int/prequal/WHOPIR/WHOPIR_ Varichem10–14May2010.pdf 10 http://apps.who.int/prequal/query/ProductRegistry. aspx 11 “African Countries use of TRIPs flxiblities”, apresentação em workshop de propriedade intelectual, comércio e acesso a medicamentos, 12 de maio de 2009, Pretoria, África do Sul 12 http://www.cptech.org/ip/health/cl/Eritrea.png 13 “Brazil to break Merck AIDS drug patent”, MSNBC, 4/05/2007, disponível em http://www.msnbc.msn.com/ id/18490388/ 14 Para uma discussão expandida sobre licenças compulsórias de produtos farmacêuticos nos Estados Unidos, recomendamos: Epstein, Richard A. and Kieff, F. Scott, Questioning the Frequency and Wisdom of Compulsory Licensing for Pharmaceutical Patents (17 de agosto de 2010). U of Chicago Law & Economics, Olin Working Paper No. 527. Disponível no SSRN: http://ssrn.com/abstract=1660702 15 C.H. Unnikrishnan “Natco withdraws plea on making patented cancer drugs”, Mint, 28/09/2008, disponível em: http://www.livemint. com/2008/09/28214903/Natcowithdraws-plea-on- making.html 16 Ver, por exemplo, “South Africa’s Treatment Action Campaign (TAC) and Aids Law Project (ALP) welcome Canada’s commitment to ensuring access to medicines”, disponível em http://www.tac.org.za/ newsletter/2003/ns02_10_2003.htm 17 Gerhardsen, T., “Rwanda Pioneers Use of WTO Patent Flexibility for HIV/AIDS Medicines”, IP- Watch, 20/07/2007, disponível em http://www.ipwatch.org/weblog/2007/07/20/rwanda-pioneers-use-of-wto-patent-flexibility-forhivaids-medicine/ 18 Em junho de 2009, o FDA escreveu para a Apotex levantando questões de qualidade após uma inspeção de sua fábrica em Etobicoke, Ontário. 19 Ver a Inscrição de 10/09/09: http://www.cipo.ic.gc. ca/eic/site/cipointernetinternetopic.nsf/vwapi/ RCAM2009-CAMR2009-eng.pdf/$file/RCAM2009CAMR2009-eng.pdf e a aprovação de 17/09/09 em: http://www.cipo.ic.gc.ca/eic/site/cipointernetinternetopic.nsf/vwapi/RCAM2009_autorisastions- CAMR2009_authorizationseng.pdf/$file/RCAM_ autorisations-CAMR2009_authorizations-eng.pdf 20 Attaran, Amir, Why Canada’s Access to Medicines Regime Can Never Succeed (12 de fevereiro de 2010). Disponível no SSRN: http://ssrn.com/ abstract=1552091 21 http://www.unaids.org/en/KnowledgeCentre/ Resources/FeatureStories/archive/2010/20100719_ Vienna_PR_WHO.asp 22 http://www.theglobalfund.org/en/ pressreleases/?pr=pr_100608 23 Chien, Colleen V. 2007. “HIV/AIDS Drugs for Sub- Saharan Africa: How Do Brand and Generic Supply Compare?” PLoS ONE 2(3): e278. 24 http://www.fda.gov/InternationalPrograms/ FDABeyondOurBordersForeignOffices/ AsiaandAfrica/ucm119231.htm 25 Kaiser Daily Global Health Policy Report, “FDA Approves 100th Antiretroviral for PEPFAR,” 16 de outubro de 2009. 26 IMF. Peter Heller et al. “Sizeable Boost in HIV/AIDS Assistance Will Challenge Low Income Countries” IMF Survey, July 12, 2004, pg. 202. 27 UNAIDS. What countries need: investments needed for 2010 targets; 2009. 28 Id. 29 Bristol-Myers Squibb – An Introduction to SECURE THE FUTURE, http://www.securethefuture.com/ our_experience/commitment.shtml 30 http://www.pfizer.com/responsibility/global_health/ infectious_diseases_institute.jsp 31 http://www.novartis.com/research/nitd/index.shtml 32 http://www.abbott.com/global/url/content/en_ US/40.20.45.10:10/general_content/General_ Content_00277.htm 33 http://www.novartis.com/research/corporate- research/nvgh.shtml 34 Aprovado pelo Conselho de Controle Médico da África do Sul em janeiro de 2009 para fabricação por sua fábrica indiana-{}35 “GSK sales jump in emerging markets”, Financial Times, 4 de fevereiro de 2010, disponível em http://www. ft.com/cms/s/0/d104345c-1184–11df-9195– 00144feab49a.html 36 Amir Attaran, ‘How do Patents And Economic Policies Affect Access to Essential Medicines in Developing Countries?’, Health Affairs, Volume 23, Number 3, May/June 2004, pp. 155–66 37 16th Essential Medicines List: http://www.who.int/ medicines/publications/essentialmedicines/ Updated_sixteenth_adult_list_en.pdf 38 UNAIDS Country Report, India(2008), available at http://search.unaids.org/Preview. aspx?d=en&u=pub/FactSheet/2008/sa08_ind_ en.pdf&p=%2fcgi-bin%2fMsmGo.exe%3fgrab_ id%3d0%26page_id%3d10676%26query%3dcty%24i nd%26PV%3d1 39 Price Waterhouse Coopers, “Healthcare in India, Emerging market report 2007”, available at http:// www.pwc.com/en_GX/gx/healthcare/pdf/emerging- market-reporthc-in-india.pdf 40 Philip Stevens, “Delivering medicines for chronic diseases in low-income countries: lessons from the response to HIV/AIDS”, International Policy Network, 2010 41 Saleh, K., Ibrahim, M., “Are Essential Medicines in Malaysia Accessible, Affordable and Available?” Pharmacy World & Science, Volume 27, Number 6 pp 442–446 42 Kumarasamy, Nagalingeswaran MBBS, PhD*; Vallabhaneni, Snigdha BA†; Cecelia, Anitha J MSc; Yepthomi, Tokugha MBBS; Balakrishnan, Pachamuthu PhD; Saghayam, Suneeta MSc; Flanigan, Timothy P MD; Carpenter, Charles C. J MD; Solomon, Suniti MD; Mayer, Kenneth H MD, “Reasons for Modification of Generic Highly Active Antiretroviral Therapeutic Regimens Among Patients in Southern India”, JAIDS Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes, 1 January 2006, Volume 41, Issue 1, pp 53–58 43 Organização Mundial de Saúde (OMS). 2008. Global Atlas of the Health Workforce . Geneva: OMS. Disponível online em: http://www.who.int/globalatlas/. 44 Amy Hagopian, Matthew J Thompson, Meredith Fordyce, Karin E Johnson, and L Gary Hart; “The migration of physicians from sub-Saharan Africa to the United States of America: measures of the African brain drain” Hum Resour Health. 2004; 2: 17, disponível em : http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/ articles/PMC544595/ 45 Organização Mundial de Saúde (OMS). 2008. Global Atlas of the Health Workforce . Geneva: OMS. Disponível online em: http://www.who.int/globalatlas/ 46 Maureen Lewis, 2006. “Governance and Corruption in Public Health Care Systems,” Working Papers 78, Center for Global Development 47 Lewis, M., “Governance and Corruption in Public Health Care Systems” Center for Global Development, 26/01/2006, disponível em: http://www. cgdev.org/content/publications/detail/5967/ 48 Lim, Stephen S. et al. 2008. “Tracking progress towards universal childhood immunisation and the impact of global initiatives: a systematic analysis of three-dose diphtheria, tetanus, and pertussis immunisation coverage.” Lancet 372(9655): 2031– 2046 49 Filmer, D., & Pritchett, L., (1999), “The impact of public spending on health: does money matter?” Banco Mundial 50 Discurso no Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC), 23 de fevereiro de 2009, disponível em http://www.un.org/en/ecosoc/phlntrpy/docs/ president%20clinton%20-%20keynote%20address. pdf 51 Lu C, Schneider MT, Gubbins P, Leach-Kemon K, Jamison D, Murray CJ (2010). Public financing of health in developing countries: a cross-national systematic analysis. Lancet; 375(9723),1375–1387 52 Lu, C., Schneider, M., Gubbins, P., Leach-Kemon, K., Jamison, D., Murray, C., “Public financing of health in developing countries: a cross-systematic analysis”, The Lancet Medical Journal, Volume 375, Issue 9723, 17/04/2010, pp 1375 – 1387, disponível em: http://www.lancet.com/journals/lancet/article/ PIIS0140– 6736%2810%2960233–4/fulltext