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R E V I S T A C O M E M O R A T I V A O Centenário de O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 1 14/07/2015 14:05:31 Moacyr Brondi Daiuto: um dos principais protagonistas da história do Basquete Uma vida dedicada à Educação Física, ao Esporte e ao Basquetebol, fez do Professor Moacyr Brondi Daiuto um dos ícones do nosso esporte e um exemplo para aqueles que tiveram a chance de conviver com ele dentro e fora das quadras. Formador por excelência, o Professor Daiuto teve sob sua guarda milhares de jovens que se espelharam em sua competência e experiência para se tornarem grandes atletas, técnicos e professores. Esta revista traz a público um pouco da história deste que foi um dos maiores personagens do Basquete brasileiro, exatamente no ano em que comemoramos seu centenário. Nela, são destacados fatos de sua gloriosa carreira, culminando com um material que traz à tona detalhes da primeira conquista de uma medalha olímpica em esportes coletivos, que ocorreu nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948. Eles mostram a realidade esportiva do País naqueles Jogos; a falta de apoio; a necessidade de o técnico assumir outras funções, como preparador físico, fisioterapeuta, nutricionista e enfermeiro, trabalhando com recursos escassos, cujos resultados só apareceriam depois de o Brasil classificar-se para as fases finais. Os momentos de apreensão, dúvidas, certezas, dificuldades, frustrações e alegrias são relatados em uma linguagem simples e revestida de ocasiões de muita emoção. Além do resgate de um momento histórico do nosso Basquetebol, a revista O Centenário de Moacyr Daiuto também traz depoimentos de alunos, colegas, técnicos e atletas que tiveram a honra de compartilhar a companhia e os ensinamentos do Professor Moacyr Daiuto. Portanto, desfrute deste momento! Aproveite esta oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a gloriosa história da Educação Física, do Esporte, do Basquete brasileiro e da vida daquele que foi um dos principais protagonistas desta história. Boa leitura! Dante de Rose Júnior O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 2 14/07/2015 14:05:33 Um acemista de Alma, Corpo e Mente Ao discorrer sobre o Basquete no Brasil, é praticamente impossível não mencionar a dedicação, o comprometimento e o amor de Moacyr Brondi Daiuto e da Associação Cristã de Moços de São Paulo para com a modalidade esportiva, ambos responsáveis pela disseminação do esporte em solo nacional. Assim, para compreender a importância do eterno acemista Daiuto na missão de colocar o Basquete e a atividade física como destaques para a manutenção da saúde, bem-estar e qualidade de vida, é necessário estudar ambas as biografias, uma vez que elas se complementam e ajudam a explicar o pioneirismo esportivo inato em cada um. Ao passo que o Movimento Acemista criou o Basquete, em 1891, trazendo-o a São Paulo em 1912, sendo o Brasil o primeiro país da América do Sul a conhecê-lo, Moacyr Daiuto iniciava suas atividades físicas na ACM, em 17 de março de 1928, prestes a completar 13 anos de idade. Na época, foram os educadores que instigaram Daiuto a praticar o Basquete. Dessa forma, a paixão por esta modalidade foi certeira e rendeu frutos ao ex-atleta, que conquistou sua primeira medalha em 1929, na ACM / YMCA São Paulo, unidade Centro. A Associação Cristã de Moços foi quem transmitiu o amor pela atividade esportiva ao saudoso Moacyr Brondi Daiuto. Ao longo desses anos, Daiuto, sempre exercendo sua vocação de líder, integrou o Departamento de Menores e Jovens; participou de cursos de liderança; ministrou palestras sobre esportes; atuou como diretor executivo da unidade Centro, em 1945 e 1946; administrou toda a área de Educação Física durante os anos de 1966 a 1969; e continuou como acemista de coração, dedicando-se, incansavelmente, à Instituição, até o seu falecimento, em 29 de julho de 1995. Ele merece todas as honras, porque é sinônimo de vitória e orgulho para a ACM. Não por ter conquistado a primeira medalha olímpica para o Brasil, mas por ser exemplo de um profissional que sempre colocou amor em tudo o que se propôs a fazer. Expediente: Autoria e Redação: Prof. Dante de Rose Júnior Jornalista responsável: João Paulo Barbosa (MTB 54.268-SP) Revisão: Fernando Piovezam Direção de Arte e Diagramação: Patricia Medrado e Victor Felix Fotos: Prof. Dante de Rose Júnior Tiragem: 500 exemplares ACM / YMCA São Paulo: Departamento de Comunicação (R. Nestor Pestana, 147- 11º andar Consolação / SP - CEP: 01303-010 Tel.: 11 3138 3143 / E-mail: [email protected] / Site: www.acmsaopaulo.org O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 3 14/07/2015 14:05:33 Uma vida dedicada ao Ensino, Esporte e ao Basquete M oacyr Brondi Daiuto nasceu em 19 de julho de 1915, na cidade de Freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Mato Grosso dos Batatais, posteriormente denominada Altinópolis, a 377 quilômetros de São Paulo. Seus pais, João Daiuto e Maria Brondi Daiuto, eram professores e foram transferidos para Brodoski. Nesta cidade, onde lecionou em um grupo escolar da cidade, João Daiuto teve a honra de ter sido professor do renomado pintor Cândido Portinari. A carreira esportiva de Moacyr teve início em 1928, quando começou a praticar esportes na Associação Cristã de Moços de São Paulo (ACM), unidade Centro, onde, mais tarde, se tornaria Professor de Vôlei e Basquete, Diretor Executivo, Administrador de Educação Física e associado “Número 01” da Instituição. Desta mesma ACM, Daiuto recebeu, em 1977, a maior condecoração: a Comenda de Mérito Acemista. Em 1934, entrou para a então Escola Superior de Educação Física do Estado de São Paulo, na qual se formou na primeira turma com a lendária nadadora Maria Lenk e com pessoas que se tornariam, como ele, importantes professores da mesma escola, como Alaor Pacheco, Cyro de Andrade, Dimas de Almeida e Mário Nunes de Souza. Desta turma, também fazia parte Wally Thielle, que se tornaria sua esposa. Na Escola de Educação Física, Daiuto passou por praticamente todos os cargos: docente nas disciplinas de Voleibol e Basquetebol, tanto na graduação como nos cursos de especialização; Chefe de Departamento; e Diretor, cargo que exerceu de 1976 a 1979. Daiuto permaneceu na Escola de Educação Física da USP até 1985, ano de sua aposentadoria. Em sua gestão, ele foi um dos maiores responsáveis pela implantação do primeiro programa de Pósgraduação em Educação Física do Brasil. Foto da primeira turma da Escola Superior de Educação Física do Estado de São Paulo Moacyr Daiuto é o terceiro rapaz da direita para a esquerda. 4 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 4 14/07/2015 14:05:33 Com a equipe feminina de Basquete da Escola Superior de Educação Física do Estado de São Paulo (ESEF), Daiuto foi tetracampeão paulista em 1940, 1941, 1942 e 1943, torneio promovido pela Federação Paulista de Basketball. Ele também dirigiu a equipe masculina, obtendo vários títulos universitários em São Paulo. Além desses títulos, no âmbito do esporte universitário, o Professor Daiuto foi várias vezes campeão dos campeonatos promovidos pela Federação Universitária Paulista de Esportes (FUPE), dirigindo as equipes da Escola Superior de Educação Física e da Seleção Paulista Universitária entre 1938 e 1954, além de ter sido técnico da seleção brasileira universitária, nos Jogos Universitários Mundiais em Turim (Itália) e que, em 1962, obteve o vice-campeonato dos Jogos Latino-Americanos, disputado em Cuba, e campeão da “Universíade”, disputada em Porto Alegre, em 1963. Moacyr Brondi Daiuto Diretor da Escola de Educação Física da USP Equipes Basquetebol da ESEF em 1938 Nomeação de Moacyr Brondi Daiuto como Professor Catedrático na Escola de Educação Física do Estado de São Paulo Seleção Brasileira Universitária, nos Jogos Mundiais Universitários de Turim – Itália. Daiuto é o segundo em pé, da esquerda para a direita 5 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 5 14/07/2015 14:05:33 Daiuto também contribuiu, decisivamente, para a consolidação da profissão, por ser um dos fundadores, em 1936, da Associação dos Professores de Educação Física do Estado de São Paulo. No serviço público, exerceu cargos no Departamento de Esportes do Estado de São Paulo e no Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo (antigo DEFE), como Inspetor Regional de Educação Física, Auxiliar Técnico e Chefe do Serviço de Esporte. Também foi Diretor do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa em São Paulo de 1987 a 1989. No âmbito dos clubes, sua carreira iniciouse em 1948, no Clube de Regatas Saldanha da Gama (Santos). Depois disso, ele dirigiu as equipes do Tumiaru de São Vicente (1951), Tênis Clube Paulista (1951), Esporte Clube Pinheiros (1951 a 1959), Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba (1960), Sociedade Esportiva Palmeiras (1961 e 1962), Sport Clube Corinthians Paulista (1964 a 1970) e Esporte Clube Sírio, seu último clube antes de ingressar definitivamente na carreira acadêmica (1971). Além disso, ainda esteve na direção das equipes de Campinas e Piracicaba, nos Jogos Abertos do Interior. Daiuto obteve um número infindável de títulos pelos clubes que dirigiu: Campeão Estadual pelo XV de Piracicaba (1960), pela S.E.Palmeiras (1961) e pelo E.C. Sírio (1971); Campeão do Torneio Metropolitano de São Paulo e Campeão Sul-Americano pelo E.C. Sírio (1971). Mas, sem dúvida, o grande destaque da carreira de Daiuto, como técnico de clubes, aconteceu em sua passagem pelo S.C. Corinthians Paulista. Nos sete anos em que esteve naquele clube, foram sete títulos do Campeonato Metropolitano da Cidade de São Paulo; dois títulos do Torneio Luciano Marrano (1966 e 1968); dois títulos do Torneio Rumi de Ranieri (1969 e 1970); cinco Campeonatos Estaduais (1964, 1965, 1966, 1968 e 1969); três títulos brasileiros (1965, 1966 e 1969); tricampeão Sul-Americano (1965, 1966 e 1969); Vicecampeão Mundial de Clubes (1965); e bronze no Campeonato Mundial de Clubes (1970). Sua trajetória em seleções brasileiras adultas masculinas também foi repleta de glórias e grandes conquistas. A primeira delas foi o bronze olímpico obtido em Londres, em 1948, cujos detalhes serão descritos nas próximas páginas. Em 1950, voltou a dirigir a Seleção Brasileira no primeiro Mundial realizado na Argentina, no qual obteve o quarto lugar. Como Assistente Técnico, Daiuto conquistou a medalha de prata no Sul-Americano de 1963 e do Pan-Americano, no mesmo ano. Ainda nesse ano, veio a grande consagração com a conquista do Campeonato Mundial realizado no Rio de Janeiro. Sua última participação como Assistente, em seleções brasileiras, se deu no Mundial de 1970, disputado na antiga Iugoslávia, quando o Brasil ficou com a medalha de prata. Sport Clube Corinthians Paulista, equipe que dominou o Basquete brasileiro nos anos 1960 6 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 6 14/07/2015 14:05:34 Seleção Brasileira Bicampeã Mundial – 1963. Daiuto é o primeiro em pé, da direita para a esquerda Em função da conquista do título mundial, em 1963, Daiuto recebeu, com toda a equipe brasileira, o Diploma de Mérito Esportivo Nacional. Mas não foi somente no masculino que Moacyr Daiuto brilhou em seleções brasileiras. Em 1962, conquistou a medalha de bronze no Sul-Americano feminino. Fora das quadras, ele também teve importante papel no desenvolvimento do Basquetebol paulista e brasileiro. Em 1946, exerceu o cargo de Diretor Técnico da Federação Paulista de Basketball, ministrando diversos cursos aos técnicos daquela geração. Em 1976, criou a Associação Brasileira de Técnicos em Basquetebol (Brasteba), da qual se tornou presidente até 1985. Foi também VicePresidente da Associação Mundial de Técnicos de Basquetebol de 1977 a 1982. Sua carreira também foi pautada pelas diversas publicações de artigos e livros, publicados no Brasil e no exterior, sobre organização esportiva, história e evolução do Basquete, preparação física e pedagogia do Basquetebol, com destaque para o livro “Metodologia do Ensino do Basquetebol”, que teve seis edições e, durante muito tempo, foi a “bíblia” de professores de Educação Física e técnicos desta modalidade esportiva. Moacyr Brondi Daiuto ainda recebeu duas significativas homenagens: seu nome está eternizado no Bosque da Fama da Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação da cidade de São Paulo e, em praça pública, na zona leste da Capital paulista. As iniciativas para eternizar o querido Professor Daiuto, em logradouros públicos, foram, respectivamente, do Panathlon e do Vereador Toninho Paiva. 7 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 7 14/07/2015 14:05:35 Praça Moacyr Brondi Daiuto, na Vila Ré, zona leste da cidade de São Paulo Bosque da Fama – Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação da Cidade de São Paulo Além dessas duas homenagens, a viúva, sra. Loyde del Nero Daiuto, doou, com carinho, todo o acervo de medalhas, prêmios e troféus para a Associação Cristã de Moços de São Paulo (ACM), instituição na qual permaneceu como associado “Número 01” por mais de 60 anos e atuou, de forma exemplar, como educador e voluntário. Aos interessados em conhecer o Memorial Moacyr Brondi Daiuto, visite a unidade Centro, no endereço: Rua Nestor Pestana, 147 – Consolação – São Paulo / SP - 5º andar. Medalha de Ouro do Campeonato Mundial de 1963 Medalha de Bronze dos Jogos Olímpicos de 1948 Acervo do Memorial ACM / YMCA São Paulo É válido ressaltar que, em 13 de junho de 2001, a então prefeita Marta Suplicy decretou e promulgou a Lei nº 13.144, a qual instituiu, oficialmente, no calendário da Capital paulista, o Dia do Basquetebol, comemorado, anualmente, em 19 de julho, data de nascimento do Professor Moacyr. Este breve relato sobre a vida esportiva do mestre Daiuto demonstra sua importância para com o esporte nacional. Todos os que puderam conviver com ele nas quadras, ou nos bancos escolares, devem se sentir privilegiados por terem compartilhado de seu conhecimento, experiência e simpatia. 8 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 8 14/07/2015 14:05:35 A primeira medalha de um esporte coletivo Os Jogos Olímpicos de Londres marcaram o Basquete brasileiro de forma indelével, pois foi lá que o Brasil conseguiu conquistar sua primeira medalha em esportes coletivos. Seria a segunda participação da modalidade em Jogos Olímpicos. Em 1936, houve uma campanha muito discreta, que culminou com um nono lugar, em decorrência da vitória de apenas duas partidas (sendo uma por WO contra a Hungria) e três derrotas. A volta do Basquetebol brasileiro aos Jogos Olímpicos foi pautada por muitas dificuldades. A princípio, foram convocados 15 atletas. Mas, por imposição do Comitê Olímpico Brasileiro, somente dez poderiam viajar. Em função da falta de recursos e da incerteza da participação brasileira, os treinamentos foram protelados e poucos amistosos foram realizados para a preparação da equipe. Definido o técnico – Moacyr Brondi Daiuto – e os 15 convocados, mais um problema deveria ser resolvido: conseguir as dispensas do trabalho de alguns dos atletas para que pudessem seguir em treinamento. Solucionado, todos viajaram ao Rio de Janeiro para um período de 30 dias de treinamento. Esses atletas foram submetidos a exames médicos e odontológicos e, pelo fato de alguns terem se apresentado sem suas melhores condições, o grupo foi reduzido a 11 atletas. Durante a competição, por problemas de contusões já na fase de treinamento em Londres, o grupo ficou reduzido a praticamente oito atletas com condições imediatas de jogo, ficando os outros dois em constante tratamento para jogar no decorrer da competição. treinos e as competições. Apesar da distância, os alojamentos eram bem arrumados, mesmo sendo de madeira, pois eram antigos centros de treinamento dos pilotos da Real Air Force (RAF). Nesse mesmo alojamento, também ficaram Iugoslávia, Portugal, Áustria e África do Sul. Os treinos anteriores à competição foram realizados, em sua maioria, em um gramado do próprio alojamento, restringindo-se a trabalho físico ou à ginástica, como se referia o Prof. Daiuto. Essa situação acabou por provocar a contusão de dois atletas logo nos primeiros treinamentos, o que dificultou, por alguns jogos, o aproveitamento deles em suas plenas condições. A distância também comprometia a alimentação dos atletas, principalmente nos dias de jogos, por incompatibilidade de horários, o que fez com que, em muitas oportunidades, os jogadores se alimentassem somente de sanduíches. As visitas ao centro de Londres também eram comprometidas devido à distância, e, o que ainda se via na cidade, eram os destroços causados pelos bombardeios e o racionamento de alimentos, devidos à Segunda Guerra Mundial. As compras também eram controladas, pois havia um sistema de cupons que permitia que cada cidadão tivesse um limite para tal. A viagem, uma verdadeira odisseia, durou cerca de 24 horas, teve escalas em Recife, Dakar e Lisboa, até chegar a Londres. Durante o trajeto, os atletas tiveram a oportunidade de apreciar lindas paisagens, que incluíam vistas do Rio Tejo (em Portugal) e castelos na Costa Francesa. Outro fator que dificultou a equipe brasileira foi a falta de um serviço médico para o tratamento adequado das lesões dos atletas. No local do alojamento da Seleção Brasileira (e da de outros países), havia somente um médico designado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Além disso, não havia equipamento suficiente e apropriado para atender à demanda de todos os países lá alojados. Na delegação brasileira, por exemplo, havia um médico para o atendimento de todas as modalidades esportivas presentes nos Jogos Olímpicos. O Brasil ficou alojado em West Drayton, distante cerca de 45 km do local dos jogos, o que dificultava muito o traslado da equipe para os Somente após uma solicitação realizada ao embaixador brasileiro, em Londres, é que a equipe foi “presenteada” com dois aparelhos de 9 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 9 14/07/2015 14:05:36 infravermelho para o atendimento imediato dos atletas, no próprio alojamento. Ressalte-se que as máquinas foram enviadas depois de o Brasil ter se classificado para a semifinal do torneio. Ou seja, após seis jogos realizados. Todas essas situações, que poderiam provocar um desânimo nos atletas e técnico, apenas serviram para motivá-los e levá-los a uma campanha memorável, apesar da grande frustração pela perda do jogo da semifinal contra a França. E para que o ânimo do grupo fosse mantido em alto nível, foi fundamental o comando do Prof. Moacyr Brondi Daiuto. Sempre sereno e crente nas possibilidades de sua equipe, ele fez com que os jogadores brilhassem, demonstrando ao mundo a qualidade do Basquetebol brasileiro e a raça do grupo. Essa participação fundamental de Daiuto, para o sucesso da equipe brasileira, é assim descrita na página dez do Relatório Oficial elaborado pelo sr. Antônio dos Reis Carneiro, Chefe da Delegação de “Basketball” Brasileira ao Comitê Olímpico Brasileiro: “Referência especial merece Moacyr Daiuto, técnico que teve a responsabilidade da seleção e preparo dos atletas que integraram nossa delegação. Disciplinado e disciplinador, compreensivo e competente, foi, sem dúvida, um dos grandes fatores que contribuíram para o sucesso alcançado. Recomenda-se, portanto, o nosso reconhecimento e a nossa admiração”. O Brasil fez parte do Grupo A, considerado pelos atletas e técnico como muito difícil, que ainda tinha: Canadá, Itália, Inglaterra, Hungria e Uruguai. Os demais ficaram assim compostos: Grupo B: Filipinas, Iraque, Coreia, Chile, China e Bélgica; Grupo C: EUA, Suíça, Tchecoslováquia, Argentina, Egito e Peru; Grupo D: México, Cuba, Irlanda, França e Irã. Antes do início da competição oficial, o Brasil fez jogos-treinos contra a Tchecoslováquia e Irã, equipes consideradas muito fracas, mas que serviram para que a equipe pudesse se exercitar em quadra e colocasse em prática seu jogo. O Brasil estreou vencendo a Hungria na prorrogação (45 x 41 – com 39 x 39 no tempo normal). A Hungria era uma equipe muito alta e pesada, e vinha com o título do vice-campeonato europeu. A equipe-base para este primeiro jogo foi: Ruy, Alex, Algodão, Braz e Pacheco. A seguir, a equipe brasileira venceu o Uruguai (36 x 32), depois de um início muito ruim, que dava a vitória parcial aos uruguaios por 07x01. A equipe-base naquele jogo foi: Braz, Pacheco, Massinet, Algodão e Ruy. A delegação do Basquete brasileiro nos Jogos Olímpicos de Londres foi composta pelos seguintes membros: Chefe: Antonio Carneiro dos Reis Delegado: Adolpho Schermann Técnico: Moacyr Brondi Daiuto Atletas: Affonso de Azevedo Évora Alberto Marson Alexandre Gemignani Alfredo Rodrigues da Motta João Francisco Braz Marcus Vinícius Dias Massinet Sorcineli Nilton Pacheco de Oliveira Ruy de Freitas (Capitão da Equipe) Zenny de Azevedo (Algodão) Seleção Brasileira Bronze nos Jogos Olímpicos de 1948 – Londres (Acervo do Memorial Moacyr Brondi Daiuto ACM / YMCA São Paulo) 10 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 10 14/07/2015 14:05:36 O jogo contra a Inglaterra foi o mais fácil da campanha. Vitória por 76 x 11. Para essa partida, o Brasil começou com Alfredo, Algodão, Massinet, Pacheco e Ruy. Na sequência, a vitória contra o Canadá (57 x 35), em um jogo no qual o Brasil utilizou de forma impecável sua grande arma: o contra-ataque. Ao final, os técnicos canadenses cumprimentaram os brasileiros e declararam que perderam porque “não tinham jogo para nos enfrentar”. Faltava somente o jogo contra a Itália para sagrar a classificação em primeiro lugar do grupo. E a vitória veio: 47 x 31. Nele, a equipe já demonstrava certo cansaço e algumas contusões que preocupavam Daiuto, mesmo porque a estrutura para tratamento dos atletas não era a das mais adequadas. Mas o Brasil estava classificado para as quartas de finais e, quando todos esperavam um jogo contra a Argentina, os tchecos surpreenderam os portenhos e venceram a partida colocando-os no caminho do Brasil. Assim sendo, as quartas de finais estavam definidas: EUA x Uruguai; México x Coreia; Brasil x Tchecoslováquia; e Chile x França. O confronto entre Brasil e Tchecoslováquia foi difícil. Vários atletas não estavam em suas melhores condições, o que limitou bastante a ação de Daiuto, sobretudo nas substituições. Mas o Brasil venceu (28 x 23) e estava entre os quatro melhores do mundo. Os demais resultados das quartas de finais foram os seguintes: a França derrotou o Chile na prorrogação (53 x 52 – 42 x 42 no tempo normal); o México venceu a Coreia (43 x 32); e os Estados Unidos derrotaram o Uruguai por 63 x 28. Apesar de todos os problemas, a Seleção Brasileira, motivada pelo sempre otimista Daiuto, fez um jogo perfeito e derrotou os mexicanos por 52 x 47, após um primeiro tempo que deixou a equipe em desvantagem: 25 x 17. Dessa forma, o Brasil obteve sua primeira medalha olímpica em esportes coletivos. Na final, os norte-americanos confirmaram sua superioridade e venceram os franceses por 65 x 21. A campanha brasileira: Brasil 45 x 41 Hungria (39 x 39 no tempo normal) Brasil 36 x 32 Uruguai Brasil 76 x 11 Grã-Bretanha Brasil 57 x 35 Canadá Brasil 47 x 31 Itália Brasil 28 x 23 Tchecoslováquia Brasil 33 x 43 França (semifinal) Brasil 52 x 47 México (disputa do terceiro lugar) Resumo: 07 jogos, 06 vitórias e 01 derrota 374 pontos a favor e 246 pontos contra A atuação de cada um dos atletas brasileiros: Évora – 04 jogos, 09 pontos Marson – 04 jogos, nenhum ponto Alexandre – 07 jogos, 10 pontos Motta – 08 jogos, 115 pontos Braz – 08 jogos, 49 pontos Marcus Vinícius – 08 jogos, 18 pontos Massinet – 08 jogos, 33 pontos Pacheco – 07 jogos, 36 pontos Ruy – 08 jogos, 37 pontos Algodão – 08 jogos, 67 pontos A França seria nossa adversária nas semifinais. E a derrota por 43 x 33 trouxe muita frustração para a equipe brasileira, pois o Brasil era o melhor e, se não fosse o grande número de problemas físicos com vários jogadores, poderia ter vencido. Mas restava a honra de obter a medalha de bronze. E ela veio contra o México, que havia perdido na outra semifinal dos Estados Unidos por 71 x 40. 11 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 11 14/07/2015 14:05:36 DEPOIMENTOS A seguir, confira uma série de depoimentos de atletas, técnicos, alunos e colegas de trabalho do Professor Moacyr Brondi Daiuto. Além do registro dos nomes, será(ão) identificado(s) o(s) local(ais) onde os depoentes tiveram contato com ele. AMAURY ANTONIO PASOS Escola Superior de Educação Física do Estado de São Paulo S.C. Corinthians Seleção Brasileira “Prof. Moacyr Brondi Daiuto, esse era seu nome. Já o conhecia como técnico do E. C. Pinheiros e eu jogava na equipe de aspirantes do Club de Regatas Tietê, no longínquo ano de 1953. Naqueles tempos, o Basquetebol paulista era dominado pelo S. C. Corinthians onde jogava o “pai da bola”, como era conhecido o Ângelo Bonfietti (Angelim), armador e capitão da Seleção Brasileira. O Pinheiros tinha grande dificuldade em atuar contra o Corinthians, pois, naquela época, por força do regulamento técnico vigente, não havia tempo limitado de posse de bola, podendo a equipe conservá-la durante todo o jogo. O Corinthians, livrando uma vantagem de apenas dois pontos, segurava a bola o máximo possível, sofrendo seguidas faltas do adversário, conseguindo aumentar, aos poucos, a vantagem inicial. Creio que, apesar de contar com valores individuais de expressão, como Abrão Haddad, Wilson Bombarda, Milton Santos Marques, Newton Lobo, Gedeão, Marson e outros que não recordo, jamais o Pinheiros conseguiu vencer o Corinthians. Mas o Prof. Daiuto conseguiu o melhor resultado de expressão internacional até então quando, por ocasião dos Jogos Olímpicos de Londres, quando era o técnico de nossa equipe, obteve o terceiro lugar, conquistando a medalha de bronze, a primeira das três que nossa representação obteve desde a primeira Olimpíada da era moderna até hoje. Resultado consagrador com o qual perpetuou seu nome como integrante de seleto grupo de grandes expressões de nosso Basquetebol. Posteriormente, como assistente técnico de Togo Renan Soares, o “Kanela”, que, segundo minha opinião, é a maior personalidade do Basquete brasileiro de todos os tempos, teve atuação destacada ao proporcionar importante contribuição para a conquista do campeonato mundial de 1963, bem como do vice-campeonato pan-americano daquele ano. Em rara manifestação, Kanela o elogiou abertamente por seu comportamento como assistente técnico. Durante quatro anos, fui seu aluno na Escola de Educação Física do Estado de São Paulo (USP), onde me formei e conclui o curso de especialização. Tive estreita relação com o Prof. Daiuto e gozei de sua confiança, já que, em várias oportunidades, sendo ainda aluno do segundo ano, o auxiliava, a seu pedido, ministrando as aulas de Basquete aos alunos do primeiro e terceiro anos e aos do curso técnico. Fui seu jogador no Corinthians, quando este constituiu uma equipe quase imbatível. Joguei sob sua direção durante dois anos. A sua educação de nível superior e didática, sem contar com seus conhecimentos técnicos, foram legados que deixou. Nós o chamávamos de “O professor”. Obrigado, professor!” 12 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 12 14/07/2015 14:05:36 ANTONIO CARLOS SIMÕES Escola de Educação Física e Esporte USP “Moacyr Brondi Daiuto, entre outros mestres, foi quem contribuiu, decisivamente, para a construção de minha carreira profissional. Ensinou-me a encontrar o caminho certo entre as barreiras que existem no caminho do aprender e do ensinar modalidades esportivas, mais especificamente, o seu Basquetebol, em vários níveis, quer participativo, quer competitivo. Essa receita selou particularmente minha vida que, com dedicação, tornou meu nome uma referência na sociedade do esporte, mais especificamente na modalidade de Handebol. Daí termos uma grande dívida intelectual para com o professor Moacyr Daiuto. Muitas coisas que aprendemos com ele contribuíram para testar nossas convicções sobre a importância da vida acadêmica e esportiva competitiva, que promoveram ativamente e aperfeiçoaram nosso conhecimento durante todo o tempo em que tivemos a honra de compartilhar de sua companhia na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. Moacyr Brondi Daiuto, como um homem sábio e exemplar, que conquistou e influenciou várias gerações, deixou-nos a importância do papel de ser professor, ser educador e de ser treinador, junto a crianças, jovens e atletas de alto desempenho. Outra contribuição, que nos foi oferecida por Moacyr Daiuto dentro da sala de aula e nos corredores da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, era estar sempre chamando a atenção para problemas estruturais que o Basquetebol tinha no contexto dos esportes em níveis nacional e internacional. Também merecem menção especial as coisas que o Professor Daiuto escreveu no seu diário sobre as Olimpíadas de 1948, das conquistas que teve como treinador da Seleção Brasileira de Basquetebol e no Sport Club Corinthians Paulista, onde conquistou sete títulos consecutivos, treinando grandes nomes do Basquete brasileiro, como Wlamir Marques, Ubiratan, Amaury, Rosa Branca, entre outros. Lembro-me do Mestre que sempre expandiu cultura e conhecimento acerca das temáticas ligadas à Educação Física e Esporte. Aqui devemos lembrar da expressão usada por Henrique Nicolini, em seu livro Moacyr Brondi Daiuto - um “Globe Trotter” da Cultura, revelando e intercambiando práticas de ensino e aprendizagem e experiências com os grandes estudiosos do esporte, especialmente do Basquetebol. Enfim, quem conviveu e compartilhou ideias e experiências com o Professor Doutor Moacyr Brondi Daiuto, sempre lembrará daquela pessoa simples e sempre presente para auxiliar nas dificuldades encontradas no transcorrer da vida acadêmica e da vida no mundo dos esportes, onde foi mestre e doutor, participando e transmitindo de forma teórica e prática conhecimento sobre o Basquetebol. Agradeço pelo convite para pronunciar a respeito de uma pessoa que contribuiu decisivamente para a formação de muitos profissionais formatados pela Escola de Educação Física e Esporte da USP; de um profissional que, sem medir esforços, contribuiu com conhecimento técnico-científico, o que faz de Moacyr Brondi Daiuto ficar perpetuado na memória de todos aqueles que o conheceram: seus alunos, amigos e companheiros de academia, onde suas ideais e contribuição literária se tornaram marcos claros e precisos que nos conduzem a momentos - ora de alegrias e de tristezas – por saber que o ‘Globe Trotter’ da Cultura Esportiva não está mais entre nós.” 13 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 13 14/07/2015 14:05:36 DANTE DE ROSE JÚNIOR Escola de Educação Física e Esporte USP “Na minha adolescência, conheci o Basquetebol, e ele me levou a acompanhar uma boa fase da chamada geração de ouro do nosso esporte. Também acompanhei a incrível equipe do Corinthians, da década de 1960, que tinha jogadores espetaculares e que eram dirigidos por um homem sereno e muito carismático. Às vezes, vestindo um pulôver xadrez, este homem dava verdadeiras aulas em quadra. Em 1972, ao ingressar na então Escola de Educação Física da USP (atualmente, Escola de Educação Física e Esporte), deparei-me com aquela figura que eu admirava somente a distância. De repente, eu estava frente a frente com um mito do esporte nacional. Na verdade, tive poucas aulas com ele na graduação e algumas no curso técnico. Mas sua presença era sempre muito marcante. E alguns anos depois, tornei-me seu colega. Meu Deus! Que orgulho e que responsabilidade, principalmente por ter que ministrar aulas do esporte que aquele homem dominava como ninguém. Seus livros sempre me encantaram e, o principal deles,“Basquetebol, Metodologia do Ensino”, foi o marco para que meu grande parceiro Lula Ferreira e eu nos atrevêssemos a escrever nosso primeiro livro sobre o Basquete. Já no final de sua carreira universitária, convivi com ele na Brasteba, associação que ele criou e que eu tive a honra de ser um de seus colaboradores, e, posteriormente, presidente. Ele me proporcionou uma das grandes oportunidades de minha carreira ao me conceder o privilégio de ir a um congresso em Roma, com outros dois astros do Basquetebol nacional: Wlamir Marques e José Edvar Simões. E hoje, cá estou eu, novamente, me atrevendo a escrever esta revista especial. Uma obra sobre uma das mais importantes pessoas do esporte nacional. Exemplo de profissionalismo, competência, carinho e humanidade. Valeu, Mestre Daiuto! Você sempre estará presente em minha memória e coração.” HÉLIO RUBENS GARCIA S.C. Corinthians Seleção Brasileira “Com respeito ao professor Moacyr Brondi Daiuto, tenho a honra de dizer que ele foi um dos protagonistas da implantação de um novo conceito no Basquete, ou seja: relacionamento de pai para filho com seus jogadores, sempre à disposição para ajudar ou aconselhar sobre qualquer dificuldade. Tive a honra de ser dirigido por ele, defendendo o Corinthians em um campeonato mundial, sagrando-nos vicecampeões mundiais de clubes. Ele era querido por todos, inclusive pelos adversários, pelo seu idealismo na prática do seu trabalho. Tenho certeza de que ele está muito bem no plano espiritual, porque cumpriu muito bem sua missão na terra. Que Deus o abençoe, sempre.” 14 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 14 14/07/2015 14:05:36 JAMIL JEDEÃO E.C. Pinheiros “Minha participação esportiva junto ao ‘Pinheiros’, sob o comando de “Daiuto”. Em 1953, Aspirante a Oficial do Exército, da Arma de Engenharia, declarado pela AMAN, em 1952, fui servir no 2º Batalhão de Engenharia, sediado em Pindamonhangaba-SP. Na época, tinha sido campeão carioca invicto, defendendo o Flamengo do Rio de Janeiro, onde me projetei no Basquetebol. Fui logo procurado por diretores do Esporte Clube Pinheiros, recebendo o convite para participar do Campeonato Paulista pelo Clube. Após obter a concordância do meu Comandante, sob a condição de não prejudicar os meus serviços no Batalhão, aceitei o convite, desde que não houvesse despesas de minha parte. Os jogos eram realizados às sextas-feiras à noite e, uma vez por semana, participava dos treinos. Foi desse modo que conheci e convivi por um ano, com o grande técnico, Moacyr Daiuto. Fomos vice-campeões paulista, perdendo a final contra o Corinthians, num jogo interrompido nos minutos finais, quando estávamos à frente do placar, devido às chuvas torrenciais, pois jogávamos em quadra aberta, no Pinheiros. Opinar sobre o Daiuto, apesar do pouco tempo que tive o prazer de sua convivência como meu técnico, no Esporte Clube Pinheiros, é gratificante. Ele foi professor, educador, técnico esportivo de mérito incontestável, muito culto e autor de vários livros sobre Educação Física em geral e, especificamente, sobre o Basquetebol, sua especialidade. Guardo até hoje um exemplar de seu livro, que me foi ofertado: “Basquetebol – Metodologia do Ensino”. Tive a felicidade de ser treinado pelos mais famosos técnicos de Basquete da época, como Kanela, Simões Henrique, Mário Amâncio e Ruy de Freitas, cada um com suas técnicas e características pessoais, e o Daiuto, em minha opinião, era completo, pois além do trato fácil com seus comandados, correção e atitudes firmes, conduzia com extrema eficiência os treinamentos e, “muito importante para um técnico”, sabia como ninguém conduzir sua equipe durante os jogos realizados. Nossa confiança nele era total, pois era merecedor. Guardo dele as melhores recordações da minha vida esportiva no Basquete. Era profissional, quer como pessoa, cidadão, técnico e amigo. Que Deus o tenha.” JATYR SCHALL E.C. Pinheiros Palmeiras Seleção Brasileira “Moacyr Brondi Daiuto, meu amigo, professor, técnico e incentivador, é com muito orgulho e prazer indescritível de poder dirigir essas poucas linhas que espero poder resumir aquilo que convivemos. Conheci o “Professor” em 1955, quando estava dando os primeiros passos no Basquete, na equipe juvenil do E.C. Pinheiros. Ele, como treinador da equipe principal do clube, me chamou para treinar com os “cobras” da principal, me dando uma assistência especial para a melhoria técnica do jogo. O Pinheiros desistiu de disputar com a equipe principal e nos encontramos novamente alguns anos depois na S.E. Palmeiras que, em suas mãos, teve uma trajetória brilhante, assim como foi nas seleções brasileiras. Em todas as equipes e seleções que tive a honra de participar sob a sua batuta, convivemos com momento de glória do Basquete brasileiro, com conquistas que ficarão para sempre marcadas nos anais do esporte nacional. Todos os jogadores de equipes e seleções, que conviveram sob a batuta do Prof. Daiuto, sempre tiveram, sem exceção, o maior respeito e carinho por ele. Este foi, sem dúvida, o seu maior legado para as gerações futuras, e tenho certeza de que onde ele estiver, certamente estará ensinando alguém a ser melhor.” 15 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 15 14/07/2015 14:05:36 JOSÉ MEDALHA Escola de Educação Física e Esporte – USP “Devo dizer que fui um dos privilegiados da convivência com o Prof. Moacyr Brondi Daiuto, durante minha trajetória como aluno do curso de Educação Física, docente na mesma instituição em que ele foi titular e diretor (Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo) e mesmo técnico de Basquetebol. Tendo sido um dos seus assistentes na USP, fui um dos beneficiários de seu conhecimento, tanto acadêmico como profissional, na área de Basquetebol, razão pela qual, sinto-me imensamente feliz em acrescentar minhas palavras a esta publicação em homenagem, justamente prestada, pelo seu centenário. Revendo todo o tempo dessa convivência e, tendo sido solicitado a elaborar esse prefácio, fui, aos poucos, deixando a emoção tomar conta de mim, ao relembrar de suas aulas, treinos, palestras e conselhos, sempre didáticos e reveladores, de muito equilíbrio e sabedoria. A área de Educação Física e Esporte deve muito ao grande mestre, mas o Basquetebol brasileiro é muito mais devedor ao pioneiro que tanto se dedicou e acreditou em sua evolução, que tanto contribuiu, para que muitos dos seus alunos dessem continuidade à sua obra de construção de um Basquetebol maior e melhor em nosso País. Muitos dos seus trabalhos, ainda hoje, passados vários anos, podem ser utilizados como referência atualizada para aqueles que estudam e militam no Basquetebol e na pedagogia do esporte. Para resumir o personagem que foi o Prof. Daiuto, sempre se reconhece a figura do educador ético e responsável, ao lado de um grande técnico, o que foi comprovado pelas suas inúmeras conquistas. Pessoalmente, não me esqueço de um conselho que dele ouvi e acatei, quando estava emocionalmente muito envolvido com a possibilidade de seguir carreira de técnico de Basquetebol, de forma exclusiva: ‘Nunca dependa unicamente do emprego de técnico para sobreviver’. Foi um alerta decisivo para que, ao lado da minha vida profissional, continuasse minha vida acadêmica, em busca de titulação e segurança.” JUAREZ ARAÚJO Editor da Revista “Cesta” e assessor de imprensa da Confederação Brasileira de Basketball “Infelizmente, como jornalista de Basquete, não tive o privilégio de ver atuando, como técnico, o Professor Moacyr Brondi Daiuto. Quando o conheci, ele já estava fora das quadras e atuava apenas como diretor da Escola de Educação Física e Esporte da USP. Historicamente, o Professor Daiuto, como era mais conhecido, foi um daqueles monstros sagrados do Basquete brasileiro, uma espécie de Dean Smith. Dirigiu o Corinthians no seu auge, com estrelas como Amaury, Ubiratan, Edvar Simões, Wlamir e tantos outros. Foi técnico-assistente de Togo Renan Soares, o Kanela, e também de Renato Brito Cunha. Pelo que sei, era muito didático e profundo conhecedor de regras, táticas e rela- cionamento humano. Os ensinamentos do Professor Daiuto continuam incentivando a muitos seguidores, como foi no passado para muitos profissionais do Basquete brasileiro, entre os quais destaco o José Edvar Simões, com quem foi jogador e aluno, que falava maravilha do seu trabalho em quadra, e também o Professor José Medalha, com quem dividiu honras de comandar a Educação Física na USP. Além disso, livros e conceitos do Professor Daiuto ainda são usados até os dias de hoje e, quem sabe, para sempre. O Professor Daiuto, sem dúvida alguma, foi um marco para o Basquete brasileiro, como técnico e professor. Tudo o que deixou, jamais seja esquecido.” 16 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 16 14/07/2015 14:05:36 HENRIQUE NICOLINI Panathlon Club São Paulo “Dentre os múltiplos cargos que Moacyr Daiuto ocupou em sua longa carreira esportiva está o de membro do Panathlon Club São Paulo, entidade de cunho internacional, com o objetivo de expandir o ‘fair play’, a amizade e a cultura por meio de três centenas de clubes em cinco continentes. Moacyr foi um dos primeiros esportistas a se associar a esta entidade, que existe há 41 anos em nosso País. Foi ativo, frequente e autor de ideias válidas que, até hoje, repercutem no esporte de São Paulo. Uma delas foi a instituição do “Troféu Fair Play de Futebol”, que corresponde ao Campeonato Paulista da Disciplina, instituído em 1995 e ainda em pleno vigor. Esse evento é constituído pela entrega de um troféu para o clube que tiver o menor número de pontos perdidos na fase classificatória do Campeonato Paulista de Futebol. O critério para a avaliação é a perda de um ponto para cada cartão amarelo e três pontos por cartão vermelho. Essa premiação ganhou a parceria da Federação Paulista de Futebol e, nesses 20 anos de realização, os principais clubes de São Paulo obtiveram essa láurea. Quando o Brasil tornou-se distrito do Panathlon Internacional, em 1977, vieram da Europa, para a solenidade, os principais membros da Diretoria Internacional. Num dos dias de programação, Daiuto os recebeu para um almoço em sua residência, fato que indica o alto conceito do grande técnico de Basquetebol no panathleismo dos primeiros anos. Nas reuniões de junho, quando é comemorado o Dia Olímpico, Daiuto é sempre um dos principais homenageados por ter sido técnico da equipe brasileira que conquistou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948.” LAERTE GOMES Palmeiras “Tive o grande prazer de ser treinado pelo Prof. Daiuto no Palmeiras, um técnico que nunca gritou com nenhum jogador, falava só quando pedia tempo e com a maior educação possível. Hoje, não tem isso. Eu não sei, mas acho que nunca levou uma falta técnica por qualquer tipo de reclamação.” LUIZ CLÁUDIO MENON Sírio Seleção Brasileira “O grande mestre Daiuto! Em algumas oportunidades, tive a sorte e a satisfação de ter sido atleta do grande Daiuto. Tanto em clubes como pelas Seleções Paulista e Brasileira, pude apreciar sua capacidade como orientador técnico e, sobretudo, como ser humano. Além do enorme conhecimento sobre a matéria, sempre estava disponível para corrigir determinados defeitos nos arremessos, na proteção da bola contra o adversário, na marcação etc. Quando o mestre Daiuto fazia parte da comissão técnica, como assessor do Kanela, em muitas oportunidades chamava os jogadores de lado dando orientações que sempre surtiam os efeitos necessários. Recordo-me muito bem que, em um jogo pela Seleção Paulista no Campeonato Brasileiro de Franca, em 1961, quando eu tinha 17 anos, fui chamado para iniciar a partida contra a seleção de Pernambuco, ao lado de Edson, Rosa Branca, Wlamir e Mosquitinho, da cidade de Catanduva. Na preleção, o grande mestre me chamou, reservadamente, e fez um discurso estimulador, para que eu tivesse a confiança total e desenvolvesse meu jogo como fazia na equipe juvenil. Outro episódio inesquecível transcorreu por ocasião do Campeonato Mundial, na antiga Iugoslávia, em 1970. Jogávamos contra a antiga União Soviética. Jogo dificílimo. A altura dos soviéticos era muito superior à dos nossos jogadores, o que dificultava enormemente nossa produtividade ofensiva. Eu era marcado por um gigante (vale assinalar que tenho 01m98 de altura) e meus arremessos sempre eram feitos sob intensa marcação, o que ocasionavam falhas. Numa pedida de tempo feita por Kanela, o então assessor técnico Daiuto dirigiu-se a mim, indicando a melhor forma de me desvencilhar do marcador. Não deu outra, passei a arremessar com mais facilidade. O Prof. Moacyr Brondi Daiuto deixou uma grande lacuna no Basquete brasileiro, embora seu legado jamais seja esquecido.” 17 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 17 14/07/2015 14:05:36 LULA FERREIRA Escola de Educação Física e Esporte USP “Professor Daiuto: um mestre. O desenvolvimento da humanidade se deve a muitos homens que são diferenciados, que dedicam seu talento e vida para o bem de todos. São pessoas especiais, que possuem uma capacidade ímpar de auxiliar no crescimento das pessoas. Muitas profissões são, sem dúvida, uma alavanca imprescindível na história do homem. Mas se uma só profissão pudesse ser escolhida para representar esses gênios que construíram o mundo, esta seria, com certeza, a de professor. Mas não aquele que se limita a transmitir seu conhecimento e trabalha para repassar as técnicas modernas de sua área de conhecimento. O verdadeiro professor é um mestre, aquele que inspira seus alunos, que dá o exem- plo, que é humilde e desenvolve nas pessoas o que elas têm de melhor. O mestre que jamais deixa que o conhecimento científico esteja à frente da formação do caráter, da cidadania, da fé e do amor. Aquele que reúne todas essas capacidades é o verdadeiro mestre, o que ensina as lições da vida atreladas ao conhecimento técnico e científico. Eu tive o privilégio, a honra, a dádiva de ser aluno de um verdadeiro e inesquecível mestre: Professor Moacyr Daiuto. O maior tributo que posso prestar a esse exemplar professor é dizer que o Basquete, que ele tanto amou, foi a luz que iluminou minha vida, e meu querido mestre acendeu esta chama. Obrigado por tudo, querido mestre, mas, principalmente, por sua generosidade.” MARCOS ABDALAH LEITE – MARQUINHOS Seleção Brasileira “Meu primeiro contato com o Prof. Daiuto foi em 1970, quando ele e o diretor do Corinthians, na época o Grande Ari Fonseca, agendaram uma reunião com meus pais com o propósito de me contratar para jogar no clube. Jogava pelo Fluminense e me lembro de que os presidentes dos dois clubes não entraram num acordo, e minha ida para o Corinthians não foi possível. Logo depois veio a convocação para o Mundial da Iugoslávia. Para minha surpresa, meu nome estava entre os grandes jogadores e, melhor ainda, garantido pelos técnicos Kanela e Daiuto, como nome certo entre os 12 jogadores que viajariam para jogar o Mundial. Minha euforia era enorme, pensava e agia como se fosse um jogador em nível de Menom, Wlamir, Ubiratã, Mosquito, Edwar, só para citar alguns feras. Estava mascarado e meu salto era 15. No dia da apresentação da Seleção, fui muito assediado pela imprensa de todo o País, e meu ego estava nas alturas. Logo depois da apresentação, das entrevistas e de toda a agitação da noite, fui chamado para ter uma conversa com o grande Kanela. Não vou escrever as coisas que ouvi e as broncas que levei. Só sei que do salto 15, passei a usar rasteirinha. Meu ego estava a zero e a realidade era muito diferente daquela que eu imaginava. Logo depois, o Prof. Daiuto veio conversar comigo. Seus argumentos, seus gestos, seu carinho, seus pensamentos, sua calma e seus conselhos, me fizeram refletir e cair na realidade do momento que eu estava passando! Ele me explicou que estavam me levando para o Mundial para que eu pudesse amadurecer, conviver com os grandes jogadores, aprender novos movimentos e, principalmente, seguir os exemplos desses “Monstros Sagrados”. Fomos para o Mundial desacreditados. A equipe teve pouco tempo para treinar e problemas na parte financeira, com a liberação da verba para nossa viagem. Nesse nível de competição, em que só existem jogadores com personalidade, todos querendo jogar e vencer, você descobre a grandiosidade do homem que foi o Prof. Daiuto. Para segurar uma barra como essa, você tem que ter muita personalidade, ter muito conhecimento da parte tática e técnica e, principalmente, tem que ter LIDERANÇA. Na Seleção Brasileira de 1970, foi realmente montada uma EQUIPE, em que todos nós tínhamos um só pensamento, que era o da VITÓRIA! Conversava sempre com o Professor. A paciência e o gostar de me ensinar me faziam um jogador especial e, cada dia, eu aprendia algo diferente. Tive poucos técnicos que marcaram minha carreira. Posso afirmar que Daiuto foi determinante para minha evolução! Não só dentro da quadra, mas, sobretudo, na parte disciplinar e no respeito em relação a tudo o que nos cerca. Professor Moacyr Daiuto, OBRIGADO!” 18 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 18 14/07/2015 14:05:36 MARIA HELENA CARDOSO Seleção Brasileira “Sinto, neste momento, uma mistura de ALEGRIA e SAUDADES! ALEGRIA em ter o privilégio de ser convidada para escrever algumas linhas sobre o Professor Moacyr Daiuto. E SAUDADES do professor, técnico e amigo. Não somente eu, mas todos os do Basquetebol brasileiro que o conheceram, não podem deixar de sentir saudades dele. Como esquecê-lo? Quanto aprendemos com ele! Era realmente uma ENCICLOPÉDIA DO BASQUETEBOL. Eu, particularmente, tive a felicidade de tê-lo como professor, técnico e, mais do que isso, como MESTRE. Fui sua jogadora, na Seleção dos anos 1960. Seus ensinamentos, como técnico, me prepararam para minha carreira de técnica. Mas, o que mais aprendi com ele, além de téc- nica e tática, foi que o técnico de Basquetebol deve ser, em primeiro lugar, PROFESSOR, formador de caráter, orientando seus comandados de maneira clara, segura e respeitando as diferenças individuais. Que o Basquetebol deveria formar antes o cidadão, depois a “máquina de fazer cestas”. Muito aprendi com o Professor Daiuto, assim como costumávamos chamá-lo! Muito mesmo! Seus ensinamentos me acompanharam e me acompanham até hoje, por toda vida. Suas lições foram “Lições de Vida”! Por isso, Professor, onde o senhor estiver, com minhas palavras, quero de público dizer: o Basquetebol brasileiro deve muito ao senhor. Seus livros e ensinamentos serão ETERNOS!” MARIA RUTH PANDOLFI DE QUEIROZ TELLES Escola de Educação Física e Esporte USP “Cumprimento os organizadores desta homenagem ao querido Professor Moacyr Daiuto, possuidor de uma personalidade invejável. Merece, incontestavelmente, todas as palavras enaltecedoras às suas qualidades intelectuais, morais e sociais. Casado com Wally, sua colega de profissão, uma pessoa maravilhosa, comunicativa, sincera e dedicada. Tiveram uma união abençoada por Deus, conquistando amizade de seus companheiros, amigos, alunos e alunas que a eles só têm elogios e palavras saudosas. Professor Emérito da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo e conhecedor de várias áreas educacionais, foi conquistado pelo Basquetebol, que fez dele um grande mestre e técnico de diversas equipes do Estado de São Paulo. Comandou seleções brasileiras em campeonatos nacionais e internacionais, alçando nosso Basquete ao nível das melhores seleções mundiais, obtendo muitas vitórias e trazendo grandes alegrias a nós brasileiros. Ademais, além de ter promovido a difusão desta modalidade esportiva, incentivou consideravelmente a adesão de um número maior de praticantes e admiradores deste esporte. Tive a honra de ser sua aluna e a felicidade de uma convivência mais próxima por fazer parte do time de Basquetebol da Escola de Educação Física e Esportes da USP e das Seleções Paulista e Brasileira, nos idos de 1938. Vivi momentos especiais com o Professor Daiuto, por quem expresso minha eterna gratidão. Jamais esquecerei seus ensinamentos, orientações e conselhos, que muito ajudaram no meu desempenho esportivo, profissional e na conquista do meu ideal. Sinto ainda a necessidade de deixar gravado o imenso carinho que meu marido Aluizio de Queiroz Telles tinha pelo Professor Daiuto. O laço de amizade que os unia começou a ser construído quando iniciaram suas formações. Foram contemporâneos na Escola de Educação Física da USP. E a convivência como professores, nesta mesma instituição, só contribuiu para que cada vez mais a união entre os dois amigos se fortalecesse. De forma irrefutável, faz-se oportuno ressaltar que o valioso legado deixado por esse mestre e seu merecido reconhecimento até os dias atuais, muito se deve à presença atuante de sua atual esposa, Loyde del Nero Daiuto. Sensibilizada pela oportunidade, deixo aqui meu carinho e minhas saudades. Sua aluna e amiga.” 19 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 19 14/07/2015 14:05:36 MARÍSIA DONATELLI Secretária-Geral da ACM / YMCA São Paulo “Moacyr Brondi Daiuto tinha uma paixão e respeito enormes pela ACM / YMCA São Paulo, e sempre depositou sua fé na instituição por acreditar e presenciar, ao longo dos seus mais de 60 anos como Acemista, a seriedade e o trabalho focado na formação e desenvolvimento de pessoas. Ele tinha orgulho de ter crescido dentro da ACM. Inclusive, ficou por muito tempo como associado “Número 01”, mostrando a carteirinha como se fosse um verdadeiro troféu. O educador, associado, voluntário e amigo Daiuto marcou uma época na ACM, sobretudo na formação de programas de Educação Física. Ele tinha autoridade nessa área, que abriu portas para a Instituição, posicionando-a em patamares bastante respeitáveis. Embora fosse um homem de renome no meio esportivo, sempre deixou a vaidade de lado e trabalhou em equipe, contribuindo para montar atividades importantes na época. Para se ter uma ideia, durante muito tempo, quando atuava como Secretário Executivo do Departamento de Programa Geral, constituiu e conduziu uma Comissão de Educação Física muito forte e atuante de profissionais e voluntários, que conduziram diversas atividades em parceria com o SESC e Mackenzie, instituições ligadas ao Basquete. No âmbito pedagógico, em sala de aula e nas quadras, ele sempre dizia que, na Educação Física, o mais importante é a Educação. Então, o que se observa é que Daiuto foi, acima de tudo, um grande educador. Tive o privilégio de ser aluna dele, no Instituto de Preparação de Secretários, e posso atestar isso. Ele era fantástico em sua didática. Envolvia e trazia fonte inesgotável de conhecimento, adotando uma postura de alguém que estava nos fazendo crescer para a vida. Extremamente exigente, instruía-nos para sermos bons como pessoas, como seres humanos e não apenas para a aquisição de bagagem técnica e profissional. Tenho orgulho de dizer que fui aluna e colega de Moacyr Daiuto. Sem dúvidas, foi um dos educadores mais marcantes. Como legado, além das medalhas e conquistas, ele deixa o exemplo de um homem sério, batalhador e comprometido com as causas que abraçava. Vou me lembrar dele como uma pessoa que queria ser protagonista de um mundo melhor e sempre pensava em fazer a diferença para o bem-estar e saúde de todo e qualquer ser humano”. 20 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 20 14/07/2015 14:05:36 MYRIAM DE QUEIROZ TELLES MOSSRI Escola de Educação Física e Esporte USP “Nasci Pandolfi de Maria Ruth e Queiroz Telles de Aluizio. Trouxe na minha essência o prazer e a alegria de movimentar-me. Na educação, aprendi a ter disciplina e dedicação com a prática esportiva. Na profissão, o desejo de seguir o caminho da retidão de comportamento. No aperfeiçoamento dentro da Educação Física, a influência que a convivência entre os amigos de profissão de meus pais me proporcionou. Tenho gravado fortemente as passagens e experiências vividas com cada um. Citar as mais presentes é um mergulho no passado e a constatação no presente de uma profunda gratidão pelas transformações que fizeram em minha formação: Professor Naim Cury de Mello, no comando das demonstrações de Ginástica, no dia do Mackenzie; Professor Simões Camargo, professor de Educação Física do Colégio Mackenzie, por sua amizade aos meus pais e sua dedicação à profissão; Professor Jarbas Gonçalves por sua delicadeza em falar dos assuntos da Educação Física; Professor Antonio Boaventura da Silva, que, com sua firmeza de atitudes, marcou a todos que por ele passou; Professor Doutor Mário Pini, sempre presente e disposto a ajudar dentro de sua área, a Medicina Esportiva; Professor Mário Nunes de Sousa, Diretor da Escola de Educação Física e Esportes da USP, por dois mandatos, que, na grandeza de seus sentimentos, me adotou como filha; Professor José Paiano, também da época do Mackenzie, acabou se tornando meu técnico de Voleibol no Esporte Clube Pinheiros e minha referência maior na área esportiva, meu colega de profissão na Secretaria de Esportes da Prefeitura de São Paulo e meu amigo particular. Contudo, aquele que me abraçou, me pegou pelas mãos e melhor me orientou nos momentos mais difíceis de minhas decisões profissionais, foi meu querido Professor Moacyr Daiuto. Mesmo antes de me decidir pela profissão de Educadora Física, sua figura se fazia presente em minha família. Nas conversas de meus pais, Professor Daiuto era presença marcante. Minha mãe o tinha como orientador e bem feitor de suas oportunidades dentro da Educação Física e no Esporte, e, meu pai, como melhor amigo de profissão. E eu cresci nesse meio, ouvindo e presenciando atitudes de carinho e retribuições de verdadeira união entre eles. E um dia chegou a minha vez de estar ao lado dessa pessoa. Adotou-me como neta, uma vez que já tinha minha mãe como filha. E eu o amava como avô, meu avô na Educação Física. E essa relação nunca mudou, ele sempre procurava fazer com que minhas aspirações e sonhos se realizassem. Todo pedido feito a ele, dentro das possibilidades, era concretizado. Uma grande afeição nos unia e a única forma que vislumbrei em agradecê-lo por tudo, foi convidá-lo, com sua esposa d.Wally, para serem meus padrinhos de casamento. Foi muito emocionante tê-los como testemunhas do início de uma nova fase tão importante da minha vida. Optei por esta linha de relato, uma vez que, em sua maioria, todos os outros estarão enaltecendo o lado pedagógico e profissional do Professor Daiuto. Eu gostaria de que conhecessem esse outro lado da sua personalidade. Obrigada por tudo, VÔ DAIUTO! Da sua Neta.” 21 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 21 14/07/2015 14:05:37 ROSANA CURY Escola de Educação Física e Esporte USP “Meu Mestre Daiuto. Tive a honra de conviver, por longos anos, ao lado do nosso querido Prof. Daiuto, prestando assessoria como sua secretária. Com sua vasta sabedoria e postura profissional, ele me fez acreditar que tudo era possível, usando sempre seu bom humor e suas infalíveis táticas de convencimento. Soube ter paciência e compreensão, sempre me incentivando com dicas otimistas, mas, também, soube ser rígido e exigente! Dificilmente esboçava qualquer tipo de elogio, quando muito: ‘Obrigado, mas poderia ser melhor!’. Percebi, com o passar do tempo, que sua eterna cobrança só me fazia aprimorar, cada vez mais, todos os trabalhos que me eram atribuídos. Incansável e apaixonado pelo Basquete, nitidamente visível em todos os seus livros publicados que, acredito, eram editados em seus horários livres, o Prof. Daiuto não se contentava em se dedicar apenas aos trabalhos administrativos da Escola de Educação Física e Esportes da USP, que já eram exaustivos... não, ele sempre queria mais! Então, me dizia: ‘Estou pensando em realizar...’ e assim aconteceram diversas edições de Clínicas de Basquete, Seminários Nacionais e Internacionais, visando ao aperfeiçoamento dos técnicos e ao desenvolvimento do Basquetebol brasileiro. E, claro, o tempo para a organização ‘impecável’ dos eventos era sempre restrito mas, como de costume, vinha uma frase encorajadora: ‘Calma, mantenha a posse de bola... ainda temos o segundo tempo... você vai conseguir!’. Sorte a minha que sempre pude contar com a imensurável colaboração dos discípulos do Prof. Daiuto e meus grandes amigos, os Professores Medalha, Dante e Lula, pelos quais tenho minha eterna gratidão e admiração. Esse técnico medalhista olímpico, que todos conhecem, foi meu técnico de vida! Sempre ao meu lado nos melhores e piores momentos, me apoiando e ensinando a encarar os desafios com coragem e dignidade. Que fique aqui registrado o mais profundo agradecimento ao meu “MESTRE DAIUTO”, meu chefe e meu grande amigo, por todas as dicas, todas as chances, todas as cobranças, todas as alegrias e todas as frases oportunas... em especial, a que se tornou meu ponto de referência: ‘A arte de vencer aprende-se nas derrotas’.” WASHINGTON JOSEPH (DODI) Sírio “Tenho imensa honra em poder falar algumas palavras para tentar homenagear uma das mais ilustres figuras do desporto nacional. Conheci o Professor, pelo fato de sermos adversários nos grandes confrontos entre Corinthians e Sírio, no final dos anos 1960 e início da década de 1970, sendo o professor técnico da grande equipe corintiana, tendo como jogadores, nada mais nada menos: Amaury Passos, Wlamir Marques, Ubiratã Pereira Maciel, Rene Salomão, Mical, Edward Simões, José Geraldo de Castro (minha geração) e tantos outros. A minha admiração por ele era clara em função da forma como conduzia a sua equipe durante os jogos, sem nunca se alterar, e não me lembro de tê-lo visto reclamar com os árbitros e, consequentemente, nunca ter visto o professor ser punido com alguma falta técnica. Seu conhecimento sobre o Basquete era inegável, tanto isso é evidente por causa dos vários títulos conquistados à frente de sua equipe, como também por ser assistente do grande técnico Kanela e ter participado dos títulos mundiais do Brasil, em 1963. O meu relacionamento até então era de adversário de quadra, sempre com o maior respeito por sua pessoa e brilhantismo. Para minha sorte, pude conviver com ele dentro da equipe do Sírio, onde tivemos a honra de tê-lo como nosso técnico, por pelo menos uma temporada, que foi, creio eu, sua última como técnico de quadra. Para variar, ele nos levou a grandes vitórias e, consequentemente, a alguns títulos, como campeão brasileiro e sul-americano de clubes. O Professor Moacyr Brondi Daiuto foi uma figura do mais alto nível, como pessoa íntegra, e, no âmbito esportivo, um exemplo de postura e correção para com seus comandados e, por isso, merecedor do meu maior respeito. Sabia comandar suas equipes sem sobressaltos e atitudes impróprias para alguém de seu nível. Aprendi muito com ele em termos do jogo de Basquete e também tentando copiar um pouco de sua postura, o que, com certeza, me ajudou em minha carreira como jogador e técnico.” 22 O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 22 14/07/2015 14:05:37 WLAMIR MARQUES S.C. Corinthians Seleção Brasileira “Conheci o Prof. Daiuto, em 1952, por ocasião dos Jogos Abertos do interior, em Ribeirão Preto. Esse foi o primeiro jogo que eu disputei, quando ainda morava em São Vicente. Já era conhecido no meio por ter conseguido o título de campeão brasileiro juvenil por São Paulo, na cidade de Santos. Ali não tive a oportunidade de conversar com ele, apenas fiquei sabendo da sua presença em um dos nossos jogos, quando me disseram que ele foi assistir para me ver jogar. Foi uma grande honra saber disso, quando ali estava o técnico medalhista olímpico em Londres, no ano de 1948. Nesse espaço de tempo, fui me destacando, sendo bicampeão brasileiro juvenil, no ano de 1953, em Florianópolis. Esses títulos, na época, tinham muito valor no Estado, até porque nos anos anteriores, São Paulo não havia ganhado nada.O tempo passou e não vi mais o Prof. Daiuto, apenas sabia que ele era o técnico do E.C. Pinheiros, quando, no final de 1953, me transferi para Piracicaba. No final de 1953, fui convocado, pela primeira vez, para uma seleção brasileira adulta, contando ainda com 16 anos. No mês de abril ou maio de 1954, foi feita uma convocação paulista para enfrentar a seleção da universidade do Havaí, equipe esta acompanhante dos “Globe Trotters”. Eles se exibiam e a universidade jogava a sério contra os adversários indicados pelas federações. O técnico da Seleção Paulista foi o Daiuto, quando fui escalado para ser um dos titulares. Vencemos os norte-americanos com grande destaque na mídia. Em seguida, no mês de julho, fui convocado pelo Kanela para a disputa do segundo campeonato mundial a ser disputado no Brasil, mais especificamente em São Paulo, como homenagem ao quarto centenário de sua fundação. Mas por problemas técnicos (desabamento da cúpula do Ginásio do Ibirapuera ainda em construção), o mundial foi transferido para o Rio de Janeiro. Fiquei um longo tempo sem ter contato com o Prof. Daiuto, quando no ano de 1960 ele foi contratado para ser o novo técnico do XV de Piracicaba. Nesse ano, fomos campeões estaduais, mas não houve continuidade ao seu trabalho, os motivos não me lembro. Em 1962, fui transferido para o Corinthians e voltei a ter contato com o Daiuto em 1963, quando, a meu pedido, ele foi contratado como o nosso novo técnico. A sua história no Corinthians é muito conhecida e reconhecida. Estive também ao seu lado no mundial de 1963, quando ele foi o assistente técnico do Kanela na conquista do bicampeonato mundial. Ficamos juntos no clube até o ano de 1970, quando, mais uma vez, trabalhamos juntos no mundial da antiga Iugoslávia, com o Kanela e o Daiuto, mais uma vez, à frente da nossa Seleção Brasileira, dessa vez conquistando o vice-campeonato mundial. Em 1970, depois da sua saída do Corinthians, não tivemos mais contatos em seleções e clubes. Nossa história sempre foi muito bonita dentro do contexto, havia muito respeito entre nós, e sabíamos muito bem onde começava e terminava o direito de cada um. Essa foi a sua grande marca, um grande pedagogo. Tivemos, em seguida, alguns contatos a mais na Brasteba, nos anos 1970. Eu não jogava mais e ele não era mais técnico. Só posso afirmar que o Prof. Daiuto foi um grande homem, um grande técnico e um amigo inesquecível a quem eu devo muito na minha carreira esportiva.” F O N T E S •Acervo pessoal do Professor Moacyr Brondi Daiuto, autorizado pela sra. Loyde del Nero Daiuto. •COB (2014). Relatório oficial da Confederação Brasileira de Basketball encaminhado ao COB em 5 de outubro de 1948. •Acervo do Memorial Moacyr Brondi Daiuto – Associação Cristã de Moços de São Paulo – unidade Centro. •http://cbb.com.br/Competicoes/Index •Carmona, L; Rodrigues, J.L; Petrik, T. (2000) Brasileiros Olímpicos. São Paulo, Panda Books. •http://vivaobasquetebol.wordpress.com Nicolini, H. (2006). Moacyr Brondi Daiuto: cátedra e quadra. São Paulo: Phorte. •COB (2004). Sonho e conquista: o Brasil nos Jogos Olímpicos do Século XX. Rio de Janeiro: Comitê Olímpicos Brasileiro. Agradecimento pelo apoio: O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 23 14/07/2015 14:05:37 R e a l i z a ç ã o : O Centenário de Moacyr Brondi Daiuto cópia.indd 24 14/07/2015 14:05:37
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