Fig. 1

Transcrição

Fig. 1
Técnicas e sinais em semiologia dermatológica
Catarina Marques1, Paulo Morais2
1Interna
do Ano Comum, CHTV, Viseu; 2Assistente de Dermatologia, CHTV, Viseu
INTRODUÇÃO. A semiologia dermatológica adquire a sua máxima expressão na inspecção de lesões que
ocorrem ao nível do tegumento cutâneo. Embora muitas dermatoses possam rapidamente ser reconhecidas pela
sua aparência clínica característica, simples procedimentos auxiliam no diagnóstico e constituem muitas vezes o
método definitivo para diferenciar entre doenças cutâneas morfologicamente semelhantes. O objetivo deste
trabalho consistiu na elaboração de uma revisão bibliográfica das principais técnicas semiológicas e sinais
cutâneos de interesse na prática clínica, descrevemos a sua utilidade e as hipóteses de diagnóstico a colocar
perante cada um deles.
MATERIAL. Em contexto de consulta externa de Dermatologia de um hospital nível III foram efetuadas
manobras semiológicas e recolhidas fotografias ilustrativas de sinais cutâneos com recurso à câmara fotográfica.
Fig. 1
Fig. 2
Fig. 3
Fig. 4
Fig. 5
Fig. 6
RESULTADOS. São descritas técnicas e sinais dermatológicos clássicos:
Diascopia ou vitropressão: consiste na visualização através do vidro. Procede-se à compressão de uma lesão
cutânea com uma lâmina de vidro transparente e observa-se a lesão antes e depois de ser comprimida. Permite
distinguir uma mancha eritematosa (a lesão desaparece com a vitropressão) de uma petéquia (a cor permanece)
(Fig. 1 – erupção purpúrica na vasculite leucocitoclásica).
Observação com luz de Wood: consiste na observação da pele com recurso a luz ultravioleta de comprimento de
onda de 365nm com filtro de óxido de níquel. Auxilia no diagnóstico de micoses superficiais. Quando há a
presença de tinha a luz azulada torna-se esverdeada; na presença de pitiríase versicolor, pode visualizar-se uma
coloração rósea dourada. As hipocromias e as hipercromias tornam-se mais evidentes com a lâmpada de Wood. A
porfiria apresenta uma urina vermelha que à luz de Wood adquire cor alaranjada; na presença de melasma dérmico
epidérmico, visualiza-se uma intensificação da cor; na presença de CEC, visualiza-se uma fluorescência vermelho
brilhante em brasa decorrente da presença de proto e de coproporfirina, o que não ocorre no CCB.
Técnica de dermografismo: efetua-se um risco na pele com a extremidade romba de um objeto ou até mesmo
com a unha. Em pele previamente normal, surge em poucos minutos um traço eritematoso que em seguida é
rodeado lateralmente por edema mal definido. Na presença de urticária, o traço central adquire relevo edematoso,
a resposta tripla de Lewis. Em dermatite atópica, verifica-se uma resposta sem urticação decorrente da constrição
arteriolar, que se designa por dermatografismo branco (Fig. 2).
Sinal de Darier: pesquisa-se pelo atrito de uma mácula ou pápula. Na presença de mastocitose cutânea, o atrito
de uma mácula ou pápula desencadeia uma lesão ponfosa com eritema, edema e prurido, que traduz a libertação
de histamina verificada com a desgranulação dos mastócitos (Fig. 3).
Sinal de Zireli: consiste no estiramento da pele. Evidencia a descamação fina e farinácea presente na pitiríase
versicolor (Fig. 4).
Fig. 7
Sinal de Besnier ou da unhada: efetua-se com a unha. Evidencia a descamação fina e farinácea presente na
pitiríase versicolor (Fig. 5).
Sinal de Leser-Trélat: foi considerado indicador de malignidade interna durante anos apesar de existir
controvérsia a respeito. Carateriza-se pelo surgimento de angiomas e pelo aparecimento de forma eruptiva de
queratoses seborreicas (Fig. 6 – Sinal de Leser-Trélat em contexto de carcinoma gástrico).
Fenómeno de Koebner ou isomorfismo: consiste na reprodução de lesões típicas de uma determinada doença no
local de traumatismo. Ocorre com frequência em psoríase, líquen plano (LP; Fig. 7 – lesões de LP pigmentoso na
zona do soutiã; Fig. 8 – lesões de LP induzidas pelo ato de coçar), vitiligo, pênfigo vulgar, vasculite
leucitoclástica (Fig. 9 – lesões na zona do elástico da meia), doença de Kyrle, sarcoma de Kaposi. Não ocorre na
verruga vulgar e no molusco contagioso, embora tal seja descrito em alguma literatura, uma vez que nestes casos
trata-se de inoculação direta do vírus em local previamente traumatizado.
Fig. 8
Fig. 9
Fig. 10
Fig. 11
Fig. 12
Fig. 13
Sinal de Fitzpatrick ou sinal da covinha: permite distinguir dermatofibroma de nevo melanocítico intradérmico.
Consiste na compressão de uma lesão entre os dois dedos. No caso de dermatofibroma surge uma depressão; no
caso de nevo melanocítico intradérmico surge uma procidência (Fig. 10).
Sinal de Hutchinson: consiste na presença de manchas pigmentadas na pele do contorno ungueal. Pode sugerir a
presença de melanoma acrolentiginoso, uma forma rara de melanoma maligno (2-8%), mais comum em doentes
de fototipo mais elevado e que acomete frequentemente as regiões palmoplantares e o leito ungueal (Fig. 11).
Sinal de Nikolsky: técnica de grande valor pois permite pressupor o nível da lesão. Identifica pênfigos, outras
dermatoses bolhosas e necrólise epidérmica tóxica (NET). Executa-se através de tracção tangencial exercida com
um dedo ou objeto rombo sobre a superfície de pele a estudar. A positividade do sinal traduz-se em deslocamento
com rotura da epiderme produzido por arrastamento. Quando o deslocamento é intradérmico (como no caso do
pênfigo), devido à acantólise, o soalho fica discretamente seroso e de tonalidade rósea amarelada. Quando a
clivagem ocorre na junção dermo-epidérmica (penfigóide bolhoso, herpes gestacional), toda a epiderme se
desloca, deixando o soalho hemorrágico e tom róseo avermelhado. Quanto mais superficial for o processo
acantolítico (pênfigo foliáceo) mais facilmente será obtido o sinal (Fig. 12 – NET; Fig. 13 – Pênfigo foliáceo).
Sinal de Asboe Hansen: variante do sinal de Nikolsky. Consiste na aplicação vertical de pressão sobre a bolha,
sendo positivo se a bolha aumentar perifericamente.
Sinal de Filatov: ocorre na presença de escarlatina; consiste em palidez perioral.
Pápulas de Gottron: ocorrem na dermatomiosite. São lesões eritematosas, descamativas, que ocorrem nas
regiões extensoras dos dedos das mãos, sobretudo nas articulações metacarpofalângicas e interfalângicas
proximais. O mesmo padrão de lesão, o sinal de Gottron, pode ser identificado em cotovelos, joelhos e tornozelos
(Fig. 14).
Curetagem metódica de Brocq: consiste na raspagem lenta e pouco agressiva da superfície de uma lesão. Na
presença de psoríase, destacam-se inicialmente, e sem esforço, escamas esbranquiçadas (sinal da vela) (Fig. 15).
Prosseguindo-se com a curetagem, atinge-se o ápice das papilas dérmicas e formam-se finos pontos hemorrágicos
por atingimento das capilares presentes, o orvalho sanguíneo ou sinal de Auspitz (Fig. 16).
Sinal ou aspeto em asa delta (triangular): caraterístico da escabiose (imagem dermatoscópica), representando a
porção cefálica do Sarcoptes scabiei. Pode também observar-se um aspeto de rasto de avião, correspondente ao
sulco acarino (Fig. 17 – aspeto em asa delta [] correspondendo ao ácaro na extremidade de uma galeria []).
CONCLUSÃO: Na prática clínica diária de qualquer profissional médico, a semiologia dermatológica
revela-se uma ferramenta indispensável no diagnóstico de dermatoses. A capacidade para realizar e
interpretar técnicas de diagnóstico e reconhecer sinais característicos deve ser um dos conteúdos da
educação médica.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Ramos e Silva M, Castro MC. Fundamentos de
Dermatologia. Rio da Janeiro. Atheneu. Volume I, 2009. | Rodrigo FG, Gomes MM,
Mayer da Silva A, Filipe PL. Dermatologia. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian,
2010. | Rosa Neto NS, Goldenstein-Schainberg C. Dermatomiosite juvenil: revisão e
atualização em patogénese e tratamento. Rev Bras Reumatol 2010;50(3):299-312.