Entrevista - Com Dr. Pedro Choy

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Entrevista - Com Dr. Pedro Choy
Entrevista
Entrevista - Com Dr. Pedro Choy
Vice-Presidente da World Federation of Chinese Medicine Societies
Vice-Presidente da Pan-European Federation of Traditional Chinese Medicine Societies
Presidente da Associção Portuguesa de Acupunctura e Disciplinas Associadas
Director da Escola Superior de Medicina Chinesa Dr. Pedro Choy
ShenMen – No nosso país as medicinas
Medicina Chinesa, seja em aprendê-la e
paciente, a Medicina Chinesa em casos,
ditas
alternativas, em particular a
praticá-la, seja a receber tratamentos. As
por exemplo de crianças com atrasos de
Medicina Tradicional Chinesa (MTC),
clínicas que dirijo recebem uma média
desenvolvimento ou asma e nos adultos,
carecem de um marco legal. No entanto,
de 24 mil novos pacientes por ano e
em situações de patologias dolorosas
mesmo
a
todos os anos lectivos o limite de alunos
osteo-musculares.
nível oficial, a MTC é bem aceite pela
não
sendo
reconhecida
que a escola que presido pode aceitar
aceitam
população em geral…
é atingido. Mesmo a população médica
ficam satisfeitos com os resultados e só
recomenda, umas vezes abertamente
costumam lamentar não terem os seus
outras
tratamentos subsidiados pelo Estado.
Dr. Pedro Choy – Portugal tem vindo
vezes
pedindo
discrição
ao
bem
a
Os
portugueses
Medicina
Chinesa,
a ter cada vez mais interessados na
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Entrevista
ShenMen – Neste momento qual á a
e o País beneficiariam grandemente. Já
beneficiar se lhes seguíssemos os
situação da MTC em Portugal?
a comparticipação, por si só, seria uma
passos.
ajuda impressionante.
tomou
Dr. Pedro Choy – A regulamentação
ShenMen – No Brasil a MTC foi
medicinas
recentemente regulamentada e integrada
incluindo
a
Acupunctura, disciplina de grande peso
onde estão representados, de uma
forma dúbia, profissionais do sector.
Os
supostos
representantes
foram
nomeados pela Direcção Geral de Saúde
(DGS), sendo que deveriam ter sido
eleitos, como é suposto num sistema
democrático. Por outro lado, a DGS
não se limitou a escolhê-los pela sua
competência profissional, mas também
pela sua competência política.
Esta comissão, organizada pelo Governo,
inclui ainda representantes ministeriais
e outros, ligados ao lobby nacional da
indústria fármaco-médica. Este lobby
tem tentado que a Acupunctura só possa
ser praticada sob receita de um médico
alopático (como acontece, por exemplo,
com a fisioterapia) e não de um médico de
Medicina Chinesa. Prevê-se igualmente
que um Acupunctor não possa receitar
Fitoterapia. Por tudo isto, a acontecer a
ratificação desta regulamentação à lei,
os portugueses saem a perder, sejam
eles profissionais desta área ou utentes
"a Lei que está
actualmente
a ser
regulamentada
não inclui
a Medicina
Chinesa, mas
antes apenas a
sua disciplina
da Acupunctura.
Consideramos
que isso é
pouco..."
o
Brasil
seguir
a
de Saúde de introduzir esta medicina no
sistema nacional de Saúde, com vista
diminuir os gastos do Estado nesta área,
conforme fica explicíto no prólogo da Lei
brasileira.
Os benefícios a que me refiro estão
relacionados com a vocação natural
da Medicina Chinesa, que é altamente
preventiva
e
também
apaziguadora
dos sintomas. Perante este quadro,
diminuíam-se as tomas de medicamentos
para eliminar sintomas superficiais e
dores, e é isto precisamente que a
indústria farmacêutica pretende evitar,
pois como é do domínio público o
Estado está particularmente endividado
nesta área. Daí que tanto os utentes
beneficiassem de mais saúde como o
Estado poupava dinheiro e diminuía a
dívida pública.
Também não nos podemos esquecer
que com mais saúde menos baixas
pagas existem e mais se produz, o que a
médio e longo prazo, se resume em mais
riqueza para o País.
ShenMen – No dia 18 de Março
do corrente ano, na Catalunha foi
desta medicina.
apresentado o projecto do decreto-lei
A falta de comparticipação do Estado
no Sistema Nacional de Saúde. Quais
ou a inexistência desta medicina nos
são as perspectivas para que aconteça
serviços públicos de saúde, são outros
o mesmo em Portugal?
dois aspectos a realçar quanto ao ponto
da situação da Medicina Chinesa no
nosso País. Se houvesse a inserção no
Sistema Nacional de Saúde de consultas
de Medicina Chinesa e tratamentos de
Acupunctura e Fitoterapia, a população
que
para
a melhorar os serviços de saúde e a
na Medicina Chinesa, está a decorrer
sob os auspícios de uma comissão
atitude
recomendação da Organização Mundial
da Lei 45/03, que legisla sobre algumas
alternativas,
Recordemos
esta
para regulamentação das condições
ao exercício de determinadas terapias,
nomeadamente da MTC. Como surgiu
o convite para integrar o comité criado
Dr. Pedro Choy - Em Portugal não há
pela Fundação Europeia de MTC para
perspectivas para uma regulamentação
defesa dos interesses dos profissionais
e integração no sentido que aconteceu
de MTC?
no Brasil. Os brasileiros inseriram
Medicina
Chinesa
no
Sistema
a
de
Saúde e Portugal, como já referi, iria
Dr. Pedro Choy – O convite vem no
seguimento não só da luta que tenho
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travado para que a Medicina Chinesa
vez feita lei só para a Acupunctura, isto
estar bem informado convém que a
seja alvo de uma regulamentação lógica
é o que se passa na prática jurídica e
regulamentação do Estado exista e
e justa em Portugal como também
legisladora. No caso português este
seja positiva, pois só isso poderá vir a
do trabalho internacional que tenho
cenário torna-se ainda mais negro se
dar garantias a quem procura Medicina
desenvolvido, não só junto da Fundación
não for possível prescrever Fitoterapia,
Chinesa. Hoje em dia, para se ter
Europea de MTC, como também da World
pois coarcta o exercício profissional do
confiança onde se vai há que procurar
Federation of Chinese Medicine Societies
Acupunctor.
quem tem provas dadas.
(WFCMS), da qual sou Vice-Presidente
e agora também representante junto da
Organização Mundial de Saúde para
os assuntos da Medicina Chinesa (ver
notícia na página 47).
ShenMen
–
No
passado
houve
uma proposta de lei apresentada na
Assembleia da República com o intuito de
regulamentar a prática da Acupunctura,
deixando de parte a MTC. O que pensa
sobre este assunto?
a
ShenMen – De certa forma a regula-
associação das Medicinas Tradicional
mentação seria uma “democratização”
Chinesa e Ocidental?
da saúde…
Dr. Pedro Choy – Não só é benéfica
Dr. Pedro Choy – A regulamentação
como é lógica, a maior parte dos
bem feita, sê-lo-ia, aquela que está
hospitais da China já conjugam as duas
a ser congeminada deixa-me sérias
medicinas.
sobretudo
dúvidas face à sua utilidade quer para os
quem recorre aos serviços de saúde, seja
pacientes quer para os profissionais ou
numa emergência seja numa consulta
as escolas que os formam.
ShenMen
–
Considera
Isto
benéfica
beneficia
ambulatória. A opção é um direito, que
neste caso só pode ser observado se
Dr. Pedro Choy- Não se trata de uma
houver essa associação. O que não se
situação do passado, a Lei que está
pode confundir é associar com misturar.
actualmente a ser regulamentada não
A Medicina Convencional não pode,
inclui a Medicina Chinesa, mas antes
porque não sabe, fazer um diagnóstico
Portugal precisava de abrir os seus
horizontes, não ao nível dos seus
cidadãos que já procuram e exigem
bons cuidados de saúde em Medicina
Chinesa,
mas
antes
ao
nível
da
Governação, que se prende com o
apenas a sua disciplina da Acupunctura.
energético, e este diagnóstico é o único
Consideramos que isso é pouco, porque
que serve para prescrever um tratamento
não se pode separar a Acupunctura
de Acupunctura ou de Fitoterapia, por
do seu todo, pois não se pode fazer
isso
Acupunctura
falamos em disponibilizar paralelamente
Se a lei fosse como a que temos estado
as duas medicinas.
a falar em termos de ideal aqui, então aí
ShenMen – Na sua opinião existe um
teríamos uma legislação que iria permitir
sem
um
diagnóstico
energético, que é uma parte integrante
da Medicina Chinesa e não de mais
nada e muito menos da Medicina
Convencional. Cheguei recentemente
quando
falamos
em
associar,
lobby pelo monopólio da MTC, em
poderoso lobby farmacêutico através da
influência que este tem junto dos órgãos
que congregam os médicos.
às pessoas recorrer com segurança e
garantias à Medicina Chinesa, obter
de uma reunião das cúpulas da WFCMS
particular da Acupunctura?
onde um dos temas em debate foram
Dr. Pedro Choy – A Medicina Chinesa,
de qualidade nesta área e ter as listas de
as diversas legislações mundiais sobre
como todas as áreas, tem pessoas que
espera e dívidas do Estado diminuídas
Medicina Chinesa, houve unanimidade
tentam criar esse monopólio, mas a
face ao que hoje se enfrenta.
em considerar errado e grave legislar-se
qualidade prevalece sempre, tornando
apenas sobre a Acupunctura e não sobre
impossível que essa situação se torne
a Medicina Chinesa no seu todo, como
prejudicial aos pacientes. Se não houver
se está a fazer em Portugal. Primeiro
qualidade não há resultados, logo os
porque é eticamente incorrecto, depois
pacientes
porque a experiência desses países é a
desistem do tratamento, se estiverem
de que posteriormente não se consegue
bem
legislar sobre a Medicina Chinesa, uma
prestador do mesmo serviço. Para se
comparticipações, contar com formação
fazem
informados
má
publicidade
procurarão
e
outro
Os profissionais deste sector que estão
na Comissão que está a regulamentar
a lei 45/03 têm boa vontade, mas estão
a prestar um mau serviço à profissão,
sendo que acredito que é preferível não
ter lei nenhuma do que ter uma má lei.
Muito obrigada Dr. Pedro!
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