Aquicultura como promotora de desenvolvimento local

Transcrição

Aquicultura como promotora de desenvolvimento local
Aquicultura como promotora
de desenvolvimento local
Aquaculture as promoter
of local development
Por/Text Professora Silvia Conceição Reis Pereira Mello
MSc,PhD, UNISUAM;
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Sumário
A aquicultura, criação e cultivo de organismos aquáticos, forneceu
em 2009, 55% do pescado destinado à alimentação da população
mundial ultrapassando a pesca extrativista. De acordo com os últimos levantamentos relativos ao ano de 2009, publicados pela “Food
and Agriculture Organization of the United Nations” (FAO), a produção
de pescado oriundo da aquicultura foi de 55 milhões de toneladas e
da pesca foi de 90 milhões de toneladas, mas vale lembrar que um
montante significativo obtido na pesca não foi destinado à alimentação humana. A produção de peixes, algas, moluscos, crustáceos, tartarugas, rãs, entre outras espécies, cresce a cada ano. A produção
de peixes de água doce se destaca na aquicultura mundial, seguida
pela produção de moluscos e crustáceos. A China destaca-se mundialmente na aquicultura como o maior produtor: 63% da produção
mundial. Mais da metade dos aquicultores do mundo encontra-se na
China, 1.741.000 sendo que, 70,4 % da produção em 2008 foram
oriundos do sistema de policultivo em viveiros (tanques escavados
no solo), o rendimento alcançado foi de 6,8 toneladas de peixe por
hectare e a carpa destacou-se como a espécie mais criada. A produção familiar nos arrozais alcançou 0,79 tonelada por hectare e
contribuiu com 1,2 milhões de toneladas.
Summary
Aquaculture, breeding and cultivation of aquatic organisms provided, in 2009, 55%
of fish for feeding the world’s population surpassing extractive fishing. According
to the latest surveys for 2009, published by “Food and Agriculture Organization of
the United Nations (FAO)”, the production of fish from aquaculture was 55 million
tons and that of fishing was of 90 million tons, but it is worth remembering that a
significant amount obtained by fishing was not intended for human consumption.
The production of fish, algae, mollusks, crustaceans, turtles, frogs, among other
species, is growing yearly. The production of freshwater fish stands out in the world’s
aquaculture, followed by the production of mollusks and crustaceans. China stands
out worldwide in aquaculture as the largest producer: 63% of the world’s production.
More than half of the world’s fish farmers are in China: 1,741,000, of which 70.4% of
the production in 2008 came from the polyculture system in tanks (ponds dug into
the ground); the yield achieved was of 6.8 tons of fish per hectare and carp stood
out as the main bred species. Family production in rice paddies reached 0.79 ton per
hectare and contributed with 1.2 million tons.
A produção de tilápia cresceu em praticamente todas as regiões do
mundo, Filipinas se destacou na produção e, em 2008, foi responsável por 34,7%, seguida da Indonésia 19,54% e a Tailândia 14,3%. Por
muitos anos, a tilápia foi a promessa do peixe de excelente qualidade
e custo baixo e que poderia se transformar no frango da água, porém
a crise econômica e a desvalorização do dólar contribuíram para o
aumento do preço dos insumos e do custo de produção da tilápia.
Nos últimos anos, a produção do peixe Pangasius spp. cresceu aceleradamente no Vietnam e este vem sendo oferecido no mercado
mundial com preços bastante reduzidos, preocupando aquicultores
de outros países, que colocam em dúvida a qualidade desse produto.
Por outro lado, dados divulgados pela Revista Panorama da Aquicultura informaram que em 2012 a “Vietnam Association of Seafood
Exporters and Producers” (VASEP) irá incentivar a exportação do Pangasius vietnamita que deverá alcançar o montante de dois bilhões
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“A produção aquícola marinha nacional
(em 2010), foi de 85.058 toneladas. O
Nordeste ocupa o topo nessa modalidade
por meio da criação do camarão”
de dólares e, que a União Européia, um tradicional
mercado do Vietnã, está às voltas com dificuldades
econômicas, o que permitirá que o pescado com
boa qualidade e preço bastante razoável seja mais
competitivo frente aos alimentos populares, como
o frango, e ainda que a World Wildlife Fund (WWF)
tenha confirmado que o Pangasius produzido no
Vietnã é seguro para consumo humano.
Dados da FAO divulgaram que o Brasil encontrase no 16º lugar no ranking mundial. A produção
aquícola nacional em 2008 foi de 416.000 toneladas. O Chile lidera a produção na América do Sul
ocupando a 10ª posição. A produção de salmões
em tanques-rede (Figura1) e de moluscos em espinheis, com destaque para as vieiras (Figura 2)
contribuem de maneira significativa no volume de
produção chileno.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Pesca
e Aquicultura (MPA), a produção de organismos
aquáticos continentais passou de 81,2% em 2009
para 82,3% em 2010 e o montante total da produção brasileira foi de 479.399 toneladas. A região
Sul lidera a produção de espécies de água doce,
com destaque para a tilápia e a carpa criada em
condições de policultivo, ou seja, a criação em conjunto no mesmo viveiro de peixes de espécies diferentes, além da adoção do consórcio com outras
espécies de animais. A produção nacional de tilápia em 2010 foi de 155.500 toneladas e de carpa
de 94.600 toneladas.
A produção aquícola marinha nacional foi de
85.058 toneladas. O Nordeste ocupa o topo nessa
modalidade por meio da criação e comercialização
do camarão Litopneaus Vannamei, que concentra a maior parte da produção nos estados do Rio
Grande do Norte e Ceará. A malacocultura, criação
de moluscos, com produção concentrada no estado de Santa Catarina contribuiu com a segunda
maior produção, incluindo três espécies: mexilhão,
ostra e vieira. Vale ressaltar que no Estado do Rio
de Janeiro, mais precisamente na Baia da Ilha
Grande, encontra-se o maior pólo produtor de sementes da espécie Nodipecten nodosus (Figura 4
Figura 1. Produção de salmão em tanques-rede no Chile
Figura 2. Balsas de manejo das fazendas marinhas de vieiras
no Chile
Figura 3: Viveiros de piscicultura no Sul fluminense - RJ
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fizeram com que a comercialização do produto se
voltasse para o mercado interno.
Maricultura Fluminense e Desenvolvimento Local
Dados levantados pelo SEBRAE/RJ em 2002 apontaram o grande potencial da região da Costa Verde
para a maricultura, destacando-se os municípios
de Angra dos Reis, Mangaratiba e Paraty. Este poFigura 4 – sementes de vieira (Nodipecten nodosus)
Figura 5- vieiras (Nodipecten nodosus) em tamanho comercial
tencial se deve em grande parte às características
ambientais da região, com destaque para a Baía
da Ilha Grande. Outro aspecto relevante que reforça esta posição consiste nas ações de fomento,
capacitação e transferência de tecnologias conduzidas por instituições de governo e não governamentais. Um projeto piloto está em desenvolvimento com os produtores de moluscos de Angra
dos Reis, como uma das ações do projeto Maricultura na Costa Verde, coordenado pelo SEBRAE/RJ
e, executado em parceria com a Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, Associação dos Maricultores da Baia da Ilha Grande (AMBIG), Ministério da
Pesca e Aquicultura (MPA), Fundação Instituto de
Pesca do Estado do Rio de Janeiro (FIPERJ), Instituto de Desenvolvimento da Baia da Ilha Grande
(IED-BIG), além de universidades que atuam na
Figura 6 – Fazenda marinha na Ilha Grande em Angra dos Reis
região e organizações locais. O foco do projeto é
e 5), assim como de vieiras em tamanho comercial tornar as fazendas marinhas empreendimentos
sustentáveis do ponto de vista social, econômico
para atender o mercado.
e ambiental. Com o apoio e orientação do Instituto
O MPA em parceria com a FAO e IBGE iniciaram Estadual do Ambiente (INEA) doze fazendas mariem 2008 o censo aquícola nacional, e informações nhas integradas ao projeto piloto foram licenciadas
preliminares indicam que apenas 29% dos entre- e por meio da assistência e orientação das entivistados têm a aquicultura com atividade principal, dades parceiras, também obtiveram o registro de
por outro lado, 80% dos entrevistados têm como aquicultor no Ministério da Pesca e Aquicultura e
atividade principal o agronegócio inferindo que encontram-se com processo em andamento para
o setor começa a vislumbrar de forma efetiva, a obtenção da autorização para uso das águas da
aquicultura como uma atividade geradora de ren- união para aquicultura. Os maricultores também
da. Quanto ao tipo de empreendimento aquícola estão sendo orientados para legalização de seus
55,4 % estão vinculados à pessoa física e 44,6% negócios, como produtores rurais, para possibilitar
à pessoa jurídica. Foi ainda identificado, o destino a emissão de notas fiscais de venda. O projeto preda produção: 70,8% dos entrevistados praticam a tende fazer com que cada fazenda marinha realize
venda direta no varejo, 23,8% entregam a interme- um povoamento anual com 50.000 sementes de
diário e apenas 0,2% fornecem seu produto para o vieiras. O SEBRAE/RJ acompanha a gestão do nemercado externo, o que aponta a queda das expor- gócio. Órgãos voltados à assistência técnica irão
tações de pescado pelo Brasil. O camarão produzi- acompanhar o manejo da produção. Atualmente,
do no Nordeste, por muito tempo teve como maior os maricultores integrantes do projeto piloto, estão
comprador os Estados Unidos. O ápice ocorreu en- com um total de 200.000 vieiras na água. Esperatre os anos de 2003 a 2008, porém, barreiras im- se que após a obtenção das primeiras safras, os
postas pelo comprador, destacando-se a investiga- mesmos tenham capacidade financeira para invesção antidumping sobre as exportações brasileiras tir nas safras subsequentes e gerenciem seu negóocorridas entre 2004 e 2005 e a queda do dólar cio de forma profissional.
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