Património Cultural Imaterial UNESCO

Transcrição

Património Cultural Imaterial UNESCO
Património Cultural Imaterial de países que tem cidadãos a viver em Tavira
Segundo dados estatísticos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras em Agosto de 2011, vivem em Tavira cidadãos vindos dos
seguintes 62 países: África do Sul, Alemanha, Angola, Argélia, Argentina, Arménia, Austrália, Áustria, Bangladesh, Bélgica,
Bielorrússia, Brasil, Bulgária, Cabo Verde, Canadá, Cazaquistão, China, Colômbia, Congo (República Democrática), Cuba,
Dinamarca, Egipto, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos da América, Filipinas, Finlândia, França, Geórgia, Guiné Bissau,
Holanda, Índia, Irão, Iraque, Irlanda, Itália, Letónia, Líbano, Lituânia, Luxemburgo, Marrocos, México, Moçambique, Moldávia,
Nepal, Noruega, Paquistão, Paraguai, Polónia, Reino Unido, República Checa, Roménia, Rússia, São Tomé e Príncipe, Síria,
Suécia, Suíça, Tailândia, Tunísia, Ucrânia, Venezuela, Vietname.
Uma boa forma de conhecer melhor esses países será conhecer o seu patrimônio cultural material ou imaterial. Alguns desses
países possuem tradições que são reconhecidas como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.
A própria cidade de Tavira neste momento representa Portugal na candidatura da Dieta Mediterrânica portuguesa a Património
Cultural Imaterial.
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O termo “patrimônio cultural” para além de monumentos ou objectos (patrimônio tangível) inclui tradições ou expresses vivas,
herdadas de nossos ancestrais e que transmitiremos aos nossos descendentes, tais como tradições orais, espectáculos, práticas
sociais, rituais, eventos festivos, saberes e práticas que digam respeito à natureza e ao universo, ou o conhecimento e habilidade
para produzir artesanato tradicional.
Apesar de frágil, o Património Cultural Imaterial é um importante factor na manutenção da diversidade cultural face à crescente
globalização. A compreensão do patrimônio cultural intangível de diferentes comunidades ajuda-nos no diálogo intercultural e
encoraja o respeito mútuo por diferentes formas de vida.
A importância do Património Cultural Imaterial não está nas manifestações culturais propriamente ditas, mas na riqueza de
saberes e habilidades que através delas se transmite de geração a geração. Os valores económicos e sociais dessa transmissão de
conhecimento são relevantes para os grupos minoritários e para os grupos maioritários dentro de um dado país, e é tão importante
para países desenvolvidos como para os países em desenvolvimento.
Para conhecer alguns patrimónios culturais intangíveis de países que tem cidadãos a viver em Tavira, escolha o país e clique nos
links.
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ÍNDICE
Argélia
Espanha
Ahellil de Gourara
Flamenco
Torres Humanas
Argentina
A Dieta Mediterrânica
Tango
Filipinas
Bangladesh
O Épico Darangen do Povo Maranao do Lago
Canção Baul
Lanao
Bélgica
Os cânticos Hudhud do Ifugao
Lithuania
Sutartinės, canções múltiplas da Lituânia
Luxemburgo
A procissão aos saltos de Echternach
Marrocos
O espaço cultural de Jemaa el-Fna Square
O Moussem de Tan-Tan
Desfile de Gigantones e Dragões na Bélgica e
França
A Dieta Mediterrânica
na França
Compagnonnage, rede para a transmissão de
Carnaval de Aalst
Mexico
conhecimento e identidades
Bielorrússia
Ritual dos Kalyady Tsars (Czares do Natal)
A arte da confecção artesanal de renda em
Alençon
A Festa dos Mortos
Cerimónia ritual dos Voladores
Música P'urhepecha
Desfile de Gigantones e Dragões na Bélgica e
Brasil
na França
Mozambique
Samba de Roda do Recôncavo Baiano
O Canto em paghjella: uma tradição litúrgica
secular da Córsega
Chopi Timbila
Geórgia
Zambia)
Canto Polifónico da Geórgia
Pakistan - Azerbaijan – India – Iran –
Expressões Gráficas e Orais dos índios Wajapi
Bulgária
Bistritsa Babi – Polifonia Arcaica, Danças e
Rituais da Região Shoplouk
Índia
Nestinarstvo, mensagens do passado: O Elogio
Dança Chhau
dos Santos Constantino e Helena na cidade de
Canções de danças folclóricas Kalbelia do
Bulgari
Rajasthan
China
Meshrep
Kutiyattam, Teatro Sânscrito
Ramlila – o espectáculo tradicional de
Ramayana
Ópera de Pequim
Colômbia
Música de Marimba e cantos tradicionais da
região da Colômbia no Pacífico Sul
Carnaval de Negros e Brancos
Irão
A música dos Bakhshis de Khorasan
Os rituais Pahlevani e Zoorkhanei
A arte dramática ritual de Ta‘zīye
O Radif da música Iraniana
Carnaval de Barranquilla
Cuba
Iraque
O Maqam Iraquiano
A Tumba Francesa
Egipto
Poema Épico Al-Sirah Al-Hilaliyyah
Eslováquia
O Fujara e a sua Música
Italy
O Canto a tenore, Canções Pastorais da
Gule Wamkulu (Moçambique Malawi,
Kyrgyzstan – Turkey – Uzbekistan
Novruz, Nowrouz, Nooruz, Navruz, Nauroz,
Nevruz – em nome de deus
República Checa
Slovácko verbŭnk, a dança dos recrutas
Procissões e Máscaras Shrovetide na área de
Hlinecko
Romenia
La Doïna
Căluş Ritual
Russia
Olonkho, o Épico Heróico de Yakut
O Espaço Cultural e a Cultura Oral de
Semeiskie
Viet Nam
Cantares Ca trù
Sardinha
Opera dei Pupi, Marionetas Sicilianas
A Dieta Mediterrânica
Letónia
Espaço cultural Suiti
As celebrações de Cantos e Danças do Báltico
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Argélia
Ahellil de Gourara
Apresentado durante cerimónias colectivas, o Ahellil é um género poético e musical emblemático da população Zenete de
Gourara. Esta região no sudoeste da Argélia inclui cerca de cem oásis populados por mais de 50.000 habitantes de origem Berber,
Árabe e Sudanesa. O Ahellil, que é específico da parte de Gourara que fala a língua Berber, é regularmente apresentado nos
festivais religiosos e peregrinações assim como em celebrações seculares, tais como casamentos e eventos comunitários. O Ahellil
está ligado ao modo de vida Zenete e sua agricultura de oásis, simbolizando a coesão da comunidade que vive num ambiente
hostil e, ao mesmo tempo, transmitindo os valores e história da população Zenete numa língua que está em risco de extinção.
Interpretado simultaneamente como poesia, canto polifónico, música e dança, este gênero é interpretado por um tocador de bengri
(flauta) um cantor e um coro de cerca de cem pessoas. De pé ombro a ombro num círculo em torno do cantor, movem-se
vagarosamente à sua volta batendo palmas. Um espectáculo de Ahellil consiste de uma série de canções numa ordem que é
decidida pelo instrumentista ou pelo cantor, e segue um padrão muito antigo. A primeira parte, chamada lemserreh, inclui todos os
participantes que interpretam cânticos curtos e bem conhecidos, que se canta noite dentro. A segunda parte, chamada aougrout, é
realizada apenas por executantes mais velhos, que continuarão até a madrugada. A terceira parte termina com o nascer do dia, e
nele actuam apenas os performers mais experientes de todos. Esta estrutura tripla também se reflete no canto, que começa com um
prelúdio pelo instrumentista, é seguido por um coro, que interpretam alguns versos, e termina com um canto sussurrado, que
lentamente constrói um todo harmonioso e poderoso.
Esta tradição está ameaçada por conta do número cada vez menor de ocasiões onde é realizada. Esse declínio está ligado à
raridade das festividades tradicionais. A migração de jovens para as cidades grandes, e a preferência de se ouvir às gravações
existentes do Ahellil ao invés de se participar das interpretações ao vivo.
Argentina
Tango
A tradição Argentina e Uruguaia do Tango, agora conhecida em todo o mundo, desenvolveu-se nos bairros mais pobres de Buenos
Aires e Montevideu, na bacia do Rio da Prata. No seio da miscelânea de imigrantes Europeus, descendentes de Africanos que
foram para essa região e nativos da região, os chamados criollos, mesclaram-se muitos costumes, crenças e rituais, que geraram
uma identidade cultural distinta. A música, dança e poesia do tango como a encarnação mais reconhecida dessa identidade, ao
mesmo tempo incorpora e encoraja a diversidade e o diálogo cultural. Praticado nos salões de baile mais tradicionais de Buenos
Aires e Montevideo, o tango vem espalhando o espírito dessas comunidades ao redor do globo, enquanto se adapta a novos
ambientes e aos tempos de mudança. Tal comunidade hoje em dia compreende músicos, dançarinos amadores e profissionais,
coreógrafos, compositores, cançonetistas, professores da arte e os tesouros nacionais que representam a cultura do tango. O Tango
está incorporado e é celebrado como património nacional tanto na Argentina quanto no Uruguai, refletindo a adopção alargada
desta forma de música popular e urbana.
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Bangladesh
Canção Baul
Os Bauls são trovadores místicos que vivem na área rural de Bangladesh e a Oeste de Bengala, na Índia. O movimento Baul, que
teve seu seu pico no século XIX e princípios do séc. XX, voltou a ganhar popularidade entre a população rural de Bangladesh. A
sua música e forma de vida influenciaram um largo segmento da cultura Bengali, particularmente as composições do Prémio
Nobel Rabindranath Tagore.
Os Bauls vivem ou nas proximidades de vilarejos ou aldeamentos urbanos, ou viajam de um lado para o outro ganhando a vida a
cantar acompanhados por suas ektara, o instrumento de uma única corda chamado dotara, e um instrumento de percussão chamado
dubki. Os Bauls pertencem a uma tradição devocional que é influenciada pelo Budismo, Hinduísmo, Bengali, Vasinavismo e
Islamismo Sufi, embora distintamente diferente dessas religiões. Os Bauls neither identify with any organized religion nor with
the caste system, special deities, temples or sacred places. Their emphasis lies on the importance of a person’s physical body as
the place where God resides. Bauls are admired for this freedom from convention as well as their music and poetry. Baul poetry,
music, song and dance are devoted to finding humankind’s relationship to God, and to achieving spiritual liberation. Their
devotional songs can be traced back to the fifteenth century when they first appeared in Bengali literature.
Baul music represents a particular type of folk song, carrying influences of Hindu bhakti movements as well as the shuphi, a form
of Sufi song. Songs are also used by the spiritual leader to instruct disciples in Baul philosophy, and are transmitted orally. The
language of the songs is continuously modernized thus endowing it with contemporary relevance.
The preservation of the Baul songs and the general context in which they are performed depend mainly on the social and
economic situation of their practitioners, the Bauls, who have always been a relatively marginalized group. Moreover, their
situation has worsened in recent decades due to the general impoverishment of rural Bangladesh.
Bélgica
Desfile de Gigantones e Dragões na Bélgica e na França
Os desfiles tradicionais de efígies gigantescas representando pessoas, animais e dragões cobre um conjunto de manifestações
populares e representações rituais festivas. Tais efígies apareceram primeiramente em procissões religiosas urbanas em finais do
século XIV em muitas cidades Europeias, e continuam a ser emblemáticas da identidade de certas cidades Belgas (Ath, Brussels,
Dendermonde, Mechelen e Mons) e Francesas (Cassel, Douai, Pézenas e Tarascon), onde a tradição é mantida viva. Os gigantones
e os dragões são modelos em grande escala, podendo medir até nove metros e pesar até cerca de 350 quilos. Eles representam
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heróis míticos ou animais, figures locais contemporâneas, ou personagens históricos, bíblicos ou lendários. São Jorge lutando
contra o dragão é apresentado em Mons; Bayard, o cavalo da lenda de Charlemagne desfila em Dendermonde; e o Pai Reuze e a
Mãe Reuze personagens familiares populares, desfilam em Cassel. Os espectáculos, que frequentemente misturam procissões
seculares com cerimónias religiosas, variam de cidade para cidade, mas seguem sempre um ritual muito preciso, no qual os
gigantones relatam a história, lendas ou vida da cidade.
Gigantones e dragões dão vida a festivais populares, onde eles são os principais atores, pelo menos essa uma vez ao ano, pois cada
efígie tem seu próprio dia festivo. Eles apresentam as cenas históricas e dançam pelas ruas, acompanhados por fanfarras e pessoas
fantasiadas. A multidão segue a procissão, e muitos participantes ajudam nas preparações em diferentes estágios do festival. A
construção dos gigantones e sua manutenção requer meses de trabalho e conhecimento de diversas técnicas na utilização de
grande variedade de materiais. Embora estas expressões não estejam ameaçadas de extinção, já sofrem muitas pressões, tais como
as mudanças de porte que vem acontecendo nos centros das cidades, e o turismo crescente, que é prezado em detrimento da
natureza popular espontânea do festival.
Carnaval de Aalst
O início dos três dias do Carnaval de Aalst, todos os anos no domingo anterior ao início da Quaresma, é o culminar de um
processo de preparação de um ano inteiro, pelos habitantes desta cidade do Leste de Flandres, no norte da Bélgica. Exuberante e
satírica, a celebração conta com um Príncipe do Carnaval, que torna-se simbolicamente o presidente da câmara e recebe a chave
da cidade em uma cerimónia marcada pela ridicularização dos políticos locais; um desfile de gigantones e o cavado Bayard das
lendas de Charlemagne, uma dança de vassouras no mercado central para afugentar os fantasmas do inverno; uma parada de
rapazes vestidos de mulheres com espartilhos, empurrando carrinhos de bebés e carregando guarda-chuvas quebrados, e a queima
ritual da efígie do carnaval – acompanhado de vozes aos berros a insistir que a festa continue por mais uma noite. Além dos carros
alegóricos cuidadosamente construídos por participantes oficiais, grupos informais unem-se às festividades oferecendo
interpretações que parodiam os acontecimentos locais e mundiais do ano que passou. Este ritual com 600 anos de idade, que atrai
cerca de 100.000 espectadores, é um esforço colectivo das classes sociais e um símbolo da identidade da cidade na região.
Recriado constantemente por novas gerações, o divertimento colectivo e o ambiente ligeiramente subversivo deste antigo carnaval
celebra a unidade de Aalst.
Bielorrússia
Ritual dos Kalyady Tsars (Czares do Natal)
O Kalyady Tsars (Czares do Natal) é um evento ritual e festivo celebrado na cidade de Semezhava na região Minsk da
Bielorrússia Estas celebrações típicas do Ano Novo acontecem de acordo com o antigo calendário Juliano, e são combinadas com
diferentes artes do espectáculo vivo. Cerca de 500 homens participam anualmente do evento, e sete são escolhidos para interpretar
os papeis ‘Kalyady Tsars’ no drama histórico-religioso intitulado ‘Tsar Maximilian’. Alguns personagens cómicos como o dzad
(velho senhor) e a baba (velha senhora) são adicionados à peça, interpretados por um jovem rapaz e uma jovem rapariga,
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interagindo com a audiência. Durante o drama os czares visitam casas onde moram raparigas solteiras apresentando pequenas
peças cómicas pelas quais recebem bons desejos ou algumas prendas. A procissão continua noite adentro, iluminada por tochas. A
incorporação de alusões dramáticas a aspectos da vida moderna, bem como às comunidades étnicas, grupos ou indivíduos faz
deste drama um exemplo vívido da diversidade cultural. Actualmente a cerimónia, embora ainda muito popular nas camadas mais
velhas da população, vai perdendo popularidade perante às jovens gerações. Isso pode resultar numa lacuna na transmissão de
conhecimentos ligados à produção dos figurinos, instrumentos e decoração interior, e também aos pratos associados ao evento –
um património imaterial que talvez não sobreviva à actual geração de residentes.
Brasil
Samba de Roda do Recôncavo Baiano
O Samba de Roda, que envolve música, dança e poesia, é um evento festivo popular que se desenvolveu no Estado da Bahia, na
região do Recôncavo Baiano, durante o século XVII. Está fortemente ligado às tradições culturais e dança dos escravos africanos
trazidos para a região. O evento também inclui elementos da cultura Portuguesa, tais como a língua, a poesia e alguns dos
instrumentos musicais. No início um componente importante da cultura popular entre Brasileiros de origem Africana, o Samba de
Roda acabou por ser adotado por migrantes que vinham do Rio de Janeiro, onde acabou por influenciar o desenvolvimento do
samba urbano, que tornou-se um símbolo da identidade nacional brasileira no século XX.
A dança é interpretada em diversas ocasiões, tais como as festividades populares católicas ou cerimónias religiosas afrobrasileiras, mas também se canta samba de roda em situações mais espontâneas. Todos os presentes, incluindo os iniciantes, são
convidados a participar da dança e aprender através da observação e imitação. Uma das características que define o Samba de
Roda é a junção dos participantes num círculo, referido como roda. O canto é geralmente interpretado apenas por mulheres, cada
uma delas ocupando seu lugar no centro do círculo, rodeada pelos dançarinos que batem palmas e cantam. A coreografia é
frequentemente improvisada e baseada no movimento dos pés, pernas e ancas. Um dos movimentos mais típicos é a umbigada,
uma espécie de empurrão com a barriga, um testemunho da influência Bantu, usado pelo dançarino no centro para convocar o seu
sucessor a tomar seu lugar no centro do círculo. O Samba de Roda também se distingue por passos de dança específicos como o
miudinho, o uso da viola Machete – um instrumento de cordas de pequeno porte originário de Portugal, e do reco-reco, e canções
responsarias.
A influência massiva dos meios de comunicação e a competição da música popular contribuíram para a subvalorização deste
Samba aos olhos dos mais jovens. O envelhecimento dos praticantes e o número decrescente de artistas capazes de fabriacar
alguns dos instrumentos, colocam ainda mais em risco a transmissão desta tradição.
Expressões Gráficas e Orais dos índios Wajapi
A tribo Wajapi, do grupo cultural e linguístico dos Tupi-guarani é formada por indígenas do norte da região Amazónica. Cerca de
580 Wajapi vivem em 40 aldeias num território especialmente designado no Estado do Amapá. Os Wajapi têm uma longa tradição
no uso de tinturas de origem vegetal para adornar seus corpos e objectos com motivos geométricos. Ao longo dos séculos eles
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desenvolveram um sistema único de comunicação – uma rica mistura de componentes gráficos e verbais – que reflecte a sua visão
do mundo, e lhes permite transmitir conhecimento sobre a vida comunitária.
Esta arte gráfica, conhecida como kusiwa, e seus desenhos são aplicados com uma tinta feita de vegetais vermelhos, extraída da
planta chamada roucou, e misturada com resinas perfumadas. Os Wajapi consideram que a proficiência técnica e artística
requerida para se dominar a técnica do desenho e preparação das tinturas não pode ser alcançada antes dos quarenta anos de idade.
Os motivos comummente recorrentes incluem a onça, a cobra anaconda, a borboleta e o peixe. Os desenhos kusiwa referem-se à
criação do homem, e concretizam-se através de um conjunto de mitos. Esta arte corporal, estreitamente ligada às tradições orais
Ameríndias, possui múltiplos significados a nível sociocultural, estético, religioso e metafísico. Sem dúvida o kusiwa constitui a
verdadeira contextualização da sociedade Wajapi, e é dotado de significado que se estende muito além de seu papel de arte
gráfica. Este repertório codificado de conhecimento tradicional está evoluindo perpetuamente na medida em que os artistas
indígenas estão constantemente reconfigurando os motivos e inventando novos padrões.
Embora os Wajapi vivam em territórios protegidos, o seu estilo de vida tradicional, incluindo a prática do kusiwa, está ameaçado
de perder seus significado simbólico e pode até simplesmente desaparecer. Tal perda alteraria drasticamente os pontos de
referência cosmológicos e sociais da comunidade. Os principais perigos vêm do desinteresse por parte das novas gerações e o
número cada vez menor de indígenas Wajapi proficientes no repertório kusiwa.
Bulgária
Bistritsa Babi – Polifonia Arcaica, Danças e Rituais da Região Shoplouk
Inscrita em 2008 na Lista Representativa do Património Cultural Intangível da Humanidade (proclamada originalmente em 2005)
As danças tradicionais e o canto polifónico, originários da região Búlgara de Shoplouk, ainda são interpretados por um grupo
senhoras, as Bistritsa Babi. Esta tradição inclui a diafonia, ou o que é conhecida como a polifonia shoppe, antiga forma de dança
chamada horo e a prática ritual do lazarouvane, uma cerimónia de iniciação de jovens mulheres.
A diafonia é um tipo específico de polifonia no qual uma ou duas vozes constroem uma melodia que consistirá de izvikva, que são
gritos estridentes, e bouchi krivo que são como rugidos ribombantes, enquanto outros cantores produzem um zumbido mono tonal,
que é dobrado ou triplicado para produzir uma sonoridade mais forte, que acompanhara os solistas. Os dançarinos, com roupas
tradicionais, seguram-se uns aos outros pela cintura enquanto dançam em círculos, com passos leves e a mover-se no sentido
contrário ao relógio. Existe diversas variantes dentro desta mesma estrutura, que são executadas dependendo da música e dos
propósitos rituais da apresentação.
Embora a função social do canto polifónico tenha mudado ao longo do século XX, uma vez que hoje é executado primariamente
em palco, as Bistritsa Babi são vistas como componente importante da vida cultural das regiões, promovendo as expressões
tradicionais entre as gerações mais jovens. As mulheres estão entre as poucas remanescentes dessa polifonia tradicional e a cidade
de Bistritsa é uma das últimas áreas na Bulgária onde esta expressão cultural se tem mantido ao longo dos séculos.
Dada a sua proximidade à capital, Sofia, que oferece um vasto leque de atracções culturais, o interesse dos jovens quanto às
tradições comunitárias vem declinando. Ao longo dos anos, o rico repertório de canções e danças foi reduzido apenas aos temas
mais populares para apresentação em palco.
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Nestinarstvo, mensagens do passado: O Elogio dos Santos Constantino e Helena na cidade de Bulgari
O ritual da dança no fogo de Nestinarstvo é o clímax do ritual Panagyr nos dias festivos dos Santos Constantino e Helena (3 e 4 de
Junho) em Bulgari, na região de Mount Strandzha no sudeste Bulgária. Este ritual é realizado para garantir o bem-estar e
fertilidade na aldeia. Durante a manhã, os rituais consagrados e cerimoniais são acompanhados uma procissão solene com os
ícones sagrados que representam os dois santos, seguida por tambores e gaitas-de-foles, que sai da vila na direcção de uma fonte
de águas santas. Uma vez na fonte velas e água benta são distribuídos por todos os presentes com votos de boa saúde. O festival
culmina à noite com a dança do fogo, como a mais alta forma de veneração aos Santos. As pessoas formam um círculo silencioso
ao redor de brasas, lideradas pelo toque do tambor sagrado, e os Nestinari, que são os líderes espirituais e físicos através dos quais
os santos expressam seus desejos, começam a entrar no círculo pisando as brasas ardentes. Antigamente o ritual era celebrado em
cerca de trinta vilas Búlgaras e Gregas, mas hoje em dia o Nestinarstvo só é realizado em Bulgari, uma aldeia de apenas cem
habitantes. Durante o Panagyr, entretanto, milhares de pessoas invadem a aldeia, incluindo, mais recentemente, muitos gregos que
querem participar do ritual.
China
Meshrep
O evento intitulado Meshrep, é encontrado entre o povo Uygur largamente concentrado na Região Autónoma Xinjiang Uygur da
China, e constitui o mais importante representante das tradições culturais Uygur. Um evento Meshrep completo inclui uma rica
colecção de tradições e espectáculos, tais como música, dança, drama, artes folclóricas e jogos de entretenimento. A chamada
Uygur muqam é a forma de arte mais abrangente incluída no evento, integrando música, dança e entretenimento. O Meshrep
funciona tanto como uma “corte” onde o anfitrião faz a mediação de conflitos e assegura a preservação de padrões morais, quanto
como uma “sala de aulas” onde as pessoas podem aprender sobre suas próprias tradições e costumes. O Meshrep é transmitido e
herdado principalmente pelos anfitriões que compreendem seus costumes e conotações culturais, pelos intérpretes virtuosos que
participam, e pelo povo Uygur que assiste ao evento. Há entretanto inúmeros factores que colocam em risco a sua viabilidade, tais
como as mudanças sociais resultantes da urbanização e industrialização, a influência de culturas nacionais e estrangeiras, e a
migração dos jovens Uygur para as cidades grandes à procura de trabalho. A frequência das ocorrências e o número de
participantes vem diminuindo, e o número de transmissores que entendem as regras tradicionais e os ricos conteúdos do evento
caiu drasticamente de centenas para dezenas apenas.
Ópera de Pequim
A Opera de Pequim é um espectáculo que incorpora canto, poesia, atuação e artes marciais. Embora praticada largamente por toda
a China, seus centros estão em Pequim, Tianjin e Shanghai. A Opera de Pequim é cantada e recitada, usando principalmente o
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dialecto de Pequim, e os libretos são compostos de acordo com regras estritas que valorizam a forma e a rima. Canta-se a história,
a política, a sociedade e a vida diária, com a intenção de divertir e informar ao mesmo tempo. A música da Opera de Pequim é
decisiva no estabelecimento do ritmo do espectáculo, criando uma atmosfera particular, moldando os personagens, e guiando o
curso da história. As “peças civis” enfatizam instrumentos de corda e sopro, tais como o jinghu e a dizi de tonalidade alta,
enquanto as “peças militares” utilizam mais os instrumentos de percussão como o bangu e o daluo. A interpretação é caracterizada
por um estilo simbólico e estereotipado onde atores e atrizes seguem uma coreografia rigidamente estabelecida parta os
movimentos de mãos, olhos, torsos e pés. Tradicionalmente os cenários e adereços são mínimos. Os figurinos são extravagantes,
as maquilhagens exageradas usam símbolos concisos, cores e padrões que retratam as personalidades e identidades sociais das
personagens. A Opera de Pequim é transmitida largamente através da relação mestre-aprendiz, com a passagem de conhecimento
feita através da instrução oral, observação e imitação. É vista como uma expressão do ideal estético da opera na sociedade
tradicional Chinesa, e mantêm-se como elemento largamente reconhecido do património cultural do país. It is regarded as an
expression of the aesthetic ideal of opera in traditional Chinese society and remains a widely recognized element of the country’s
cultural heritage.
Colômbia
Música de Marimba e cantos tradicionais da região da Colômbia no Pacífico Sul
A música de marimba e os cantos tradicionais da região Colombiana do Pacífico Sul, são patrimónios herdados dos grupos AfroColombianos nos distritos de Valle del Cauca, Cauca e Nariño. O canto interpretado por mulheres e homens, (cantadoras e
chureadores) mistura-se com instrumentos acústicos, que são construídos à mão usando-se materiais locais: as Marimbas são
feitas de madeira de palmeiras, os tambores e baixos de madeira e couro, e os chocalhos de bambu e sementes. Essa música é
executada principalmente durante quatro rituais: Arrullo, Currulao, Chigualo e Alabao. Arrullo é um ritual de devoção aos santos
liderado pelas mulheres, que preparam os santos, velas e altares enquanto interpretam cânticos acompanhados de tambores e, em
algumas ocasiões, por Marimbas. O Currulao (ou dança da Marimba) é uma ocasião festiva. Os homens tocam a Marimba e
cantam canções profanas enquanto os participantes cantam, dançam, comem, bebem e contam histórias. O Chigualo é o velório de
uma criança. O corpo é coberto com flores e um canto a cappella interpretado ao redor do caixão. O Alabao é o velório de um
adulto, onde se cantam canções extremamente tristes, também a cappella. O conhecimento musical nessas tradições é passado
oralmente, de geração em geração, sendo os jovens intérpretes orientados pelos músicos mais experientes, Apesar de uma larga
proporção de população Afro-Colombiana ter-se mudado para áreas urbanas nas últimas décadas, sua herança musical mantém-se
uma importante fonte de identidade comunitária, seja nas suas aldeias natais ou nas grandes cidades.
Carnaval de Negros e Brancos
Tendo surgido das tradições Andinas e Espanholas, o Carnaval de negros e brancos na aldeia de San Juan de Pasto no sudoeste
Colombiano, é uma grande celebração que acontece todos os anos entre os dias 28 de Dezembro e 6 de Janeiro. A celebração tem
início com o Carnaval de Água – joga-se água pelas ruas e casas para iniciar o ambiente festivo. Na noite de Ano Novo acontece a
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parada do Ano Velho, onde os participantes carregam figuras satíricas representando celebridades e eventos, e culmina com a
queima ritual do ano que findou. Os principais dias do carnaval são os dois últimos, quando as pessoas de todas as origens étnicas
pintam-se de negro no primeiro dia e cobrem-se de talco branco no Segundo, para simbolizar a igualdade e integração de todos os
cidadãos numa celebração das diversidades étnicas e culturais. O Carnaval Branco e Negro é um período de intensa comunhão,
quando as casas privadas tornam-se oficinas colectivas para a exibição e transmissão das artes do carnaval, e quando muitas
pessoas se juntam para expressar seus pontos de vista sobre a vida. O festival é especialmente importante como expressão de um
desejo mútuo por um futuro de tolerância e respeito.
Carnaval de Barranquilla
Todos os anos, durante quatro dias que antecedem a Quaresma, o Carnaval de Barranquilla oferece um repertório de danças e
expressões musicais que se origina de diferentes subculturas Colombianas. Por causa de sua localização geográfica, situada na
costa do Caribe, e de seus desenvolvimentos comerciais durante o período colonial, a cidade Barranquilla tornou-se um dos mais
activos centros comerciais e um lugar para onde convergiam os povos e culturas indígenas, Europeus e Africanos. A mescla das
várias tradições locais permeia numerosos aspectos do carnaval, particularmente as danças (exemplificada pela dança “mico y
micas” das Américas, o Congo Africano, e o paloteo de origem Espanhola), géneros musicais (predominando a cumbia com
variantes tais como a puya e o porro) e instrumentos folclóricos (como os instrumentos de percussão tambora e allegre, as
maracas, claves, etc.). A música de Carnaval é geralmente executada por conjuntos de percussão ou grupos que tocam uma
grande variedade de instrumentos de sopro. A componente material deste património cultural inclui objectos artesanais, carros
alegóricos, figurinos, ornamentos para a cabeça e máscaras de animais. Grupos de dançarinos mascarados, atores, cantores e
instrumentistas deliciam a multidão com espectáculos teatrais e musicais baseados em eventos históricos ou actuais. A vida
política contemporânea e seus personagens são satirizados através de discursos zombeteiros e as letras das músicas emprestam ao
carnaval uma atmosfera burlesca.
Com um sucesso crescente durante o século XX, o carnaval de Barranquilla começou a se enredar nas armadilhas da
profissionalização, recebendo larga cobertura mediática. Esse desenvolvimento gera benefícios económicos para muitas famílias
de baixa renda, mas a crescente comercialização por ao mesmo tempo constituir um risco para as muitas expressões mais
tradicionais do evento.
Cuba
A Tumba Francesa
A música, as canções e estilo percussivo conhecido como Tumba Francesa foi levado para Cuba pelos escravos Haitianos que
foram realojados na região leste daquela ilha, após as revoltas no Haiti durante a década de 1790. A Tumba Francesa incorpora
uma das mais antigas e tangíveis ligações às heranças Afro-Haitianas na provincial oriental de Cuba, e desenvolveram-se a partir
da fusão que aconteceu no século XVIII, entre a música Dahomey da África Ocidental e as danças tradicionais Francesas. Depois
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da abolição da escravatura em Cuba, em 1886, e a consequente migração de antigos escravos para as áreas urbanas à procura de
trabalho, foram criadas associações dedicadas à Tumba Francesa em diversas cidades.
Os espectáculos de Tumba Francesa têm início, em geral, com um solo cantado em dialecto Espanhol ou Francês, chamado o
composé. Segue-se a deixa do composé o catá, quando um idiofone de madeira de grandes proporções dá início a uma batida
pulsante reforçada por três instrumentos de percussão conhecidos como tumbas. Esses instrumentos tocados com as mãos,
semelhantes às modernas congas, são construídos a partir de uma peça única de madeira escavada, que é decorada com baixosrelevos e motivos pintados. As danças são realizadas sob o comando do chamado Mayor de Plaza. O coro predominantemente
feminino de cantoras e dançarinas, vestidas com vestidos longos do período colonial, complementados com lenços e xailes
coloridos. O ritmo do canto é marcado com chocalhos de metal chamados chachás. Os espectáculos consistem em diversas séries
de canções e danças com cerca de 30 minutos cada, cuja apresentação pode durar uma noite inteira.
Hoje em dia apenas dois dos estilos associados à Tumba Francesa são ainda dançados regularmente: o masón, uma paródia leve
das danças de salão francesas, e o yubá, uma dança improvisada acompanhada pelo ritmo sempre crescente dos tambores. A
popularidade da Tumba Francesa alcançou seu pico em finais do século XIX. Hoje em dia apenas três grupos comunitários
continuam a manter viva a Tumba Francesa.
Egipto
Poema Épico Al-Sirah Al-Hilaliyyah
Este poema oral, também conhecido como o épico Hilali, conta a saga da tribo Beduína de Bani Hilal e sua migração da
Península Arábica da África do Norte no século X. Essa tribo dominou um vasto território na área central do norte da África por
mais de um século, antes de começar a ser aniquilada pelos rivais Marroquinos. Como um dos principias poemas épicos que se
desenvolveram dentro da tradição folclórica Árabe, o Hilali é o único que ainda é apresentado integralmente na sua forma musical
original. Embora tenha sido muito conhecido no Médio Oriente, hoje ele desapareceu completamente de todo o território, menos
do Egipto.
Desde o século XIV o Hilali tem sido apresentado por poetas que cantam seus versos enquanto tocam um instrumento de
percussão ou uma espécie de violino de duas cordas (rabab). As apresentações acontecem em casamentos, cerimónias de
circuncisão e festas privadas, e podem durar muitos dias. No passado os praticantes eram treinados dentro do círculo familiar e
apresentavam o épico como forma de ganhar algum dinheiro. Esses poetas profissionais começavam seus aprendizados aos cinco
anos de idade, e demoravam 10 anos até dominar a arte. Até hoje os estudantes recebem treino especial para desenvolver
habilidades de memória e para se tornarem virtuosos dos seus instrumentos musicais. Hoje em dia eles precisam aprender a
improvisar comentários que tornem as apresentações relevantes para o público contemporâneo.
O número de intérpretes do Épico Hilali está escasseando por conta da competição dos meios de comunicação contemporâneos e
do número decrescente de jovens capazes de se submeterem ao rigor do processo de treinamento. Pressionados pela lucrativa
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indústria do turismo Egípcia, os poetas tendem a abandonar o repertório Hilali completo, a favor de breves passagens do mesmo
que são apresentadas como parte de shows folclóricos.
Eslováquia
O Fujara e a sua Música
A Fujara, é uma flauta extremamente longa, com três orifícios para os dedos, e tradicionalmente tocada pelos pastores Eslovacos.
É vista como parte integrante da cultura tradicional da Eslováquia central. Ela é não apenas um instrumento musical, mas um
artefacto de grande valor artístico graças à sua ornamentação individual e altamente elaborada. O tubo principal da flauta mede
160 a 200 cm, e está ligada a um tubo menor, de 50 a 80 cm. O instrumento caracteriza-se pelos tons graves “balbuciantes”,
emitidos por seu registo mais grave, combinados com sons de muito alta frequência, conseguidos graças ao cumprimento do
instrumento. A música rapsódica e melancólica varia de acordo com o conteúdo das canções, relacionadas com a vida e o trabalho
dos pastores. O repertório musical baseia-se em melodias determinadas pelos aspectos técnicos do instrumento e sons que imitam
a natureza, tais como o gorgolejar de um riacho ou fonte.
Durante os séculos XIX e XX, o Fujara tornou-se conhecido e apreciado para além do uso que lhe davam os pastores. Através da
apresentação em festivais, o instrumento tocado por músicos da região de Podpol’anie ganhou reconhecimento e popularidade em
toda a Eslováquia. O Fujara é tocado em várias ocasiões ao longo do ano, mas principalmente na primavera e no Outono, por
músicos profissionais e alguns poucos pastores que se apresentam nos festivais. Durante as mais recentes décadas o Fujara é
tocado cada vez mais em eventos especiais. A era comunista e os desenvolvimentos políticos de 1990 causaram mudanças
significativas na área social, cultural e económica. Além disso os jovens estão cada vez mais dissociados da arte folclórica.
Iniciativas individuais entretanto, vem tentando proteger o Fujara e todo o conhecimento relacionado com ele.
Espanha
Flamenco
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O Flamenco é uma expressão artística que junta o canto, (cante), a dança(baile) e o acompanhamento (toque). A Andaluzia, no sul
da Espanha, é o centro nevrálgico do Flamenco, embora também tenhas suas raízes em regiões como a Múrcia e a Estremadura.
Cante ou canto, é a expressão vocal do flamenco, cantada por voz masculina ou feminina, preferencialmente sentados, sem
cantores de acompanhamento. A gama de sentimentos e estados de alma – tristeza, alegria, tragédia, júbilo e medo - podem ser
expressos através de poemas expressivos e sinceros, caracterizados por sua brevidade e simplicidade. O baile Flamenco, é uma
dança de corte apaixonado, expressando um largo espectro de situações que vão da tristeza à alegria. A técnica é complexa,
diferindo dependendo do gênero do intérprete, caracterizando-se a dança masculina por um uso mais intenso ou pesado dos pés, e
o feminino por movimentos mais gentis e sensuais. O toque ou a arte de tocar a guitarra, superou desde há muito o papel original
de simples acompanhamento. O Flamenco é executado durante festivais religiosos, rituais, cerimónias religiosas e celebrações
privadas. É o cartão de identidade de numerosas comunidades e grupos, em particular das comunidades étnicas Ciganas (Roma)
que desempenharam papel decisivo no seu desenvolvimento. A transmissão acontece através de dinastias, famílias, grupos sociais
e clubes de Flamenco, os quais desempenham um papel fundamental na sua preservação e disseminação.
Torres Humanas
Castells são torres humanas construídas por membros de grupos amadores, usualmente como partem das festividades anuais em
cidades e vilas da Catalunha. O cenário tradicional é a praça, em frente ao balcão da câmara municipal. As torres humanas são
formadas pelos chamados castellers que sobem aos ombros uns dos outros numa sucessão de patamares (entre seis a dez). Cada
patamar do tronc, nome dado à formação do Segundo patamar acima, geralmente é formado por dois a cinco homens mais
pesados que sustentam rapazes mais jovens e leves, ou raparigas. Chamados pom de dalt – os três patamares junto ao topo da
torre, são formados por crianças mais novas. Qualquer pessoa é bem-vinda para formar a pinya, a multidão que suporta a base da
torre. Cada grupo pode ser identificado pela roupa, particularmente pelas cores das camisas, enquanto a faixa na cintura serve para
proteger as costas e serve para os castellers agarrarem na medida em que vão subindo na torre. Antes, durante e depois das
apresentações, músicos tocam variadas melodias tradicionais em instrumentos de sopro chamados gralla, marcando o ritmo para
a construção da torre. O conhecimento requerido para se construir os castells é tradicionalmente transmitido de geração a geração
dentro de um mesmo grupo, e só pode ser aprendido com a prática.
A Dieta Mediterrânica
A dieta Mediterrânica constitui uma série de capacidades, saberes, práticas e tradições que vão do cultivo da terra à mesa e
incluem as culturas, a colheita, a pesca, a conservação, o processamento, a preparação e, particularmente, o consumo do alimento.
A Dieta Mediterrânica caracteriza-se por um modelo nutricional que tem-se mantido constante no tempo e no espaço, consistindo
principalmente de azeite de oliva, cereais, frutas e vegetais frescos ou sêcos, uma quantidade moderada de peixe, lacticínios e
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carne e muitos condimentos e temperos, acompanhados por vinho ou infusões, sempre respeitando as crenças das diferentes
comunidades. Entretanto, a dieta Mediterrânica (do grego diaita, ou forma de vida) compreende mais do que apenas o alimento.
Promove a interacção social, sendo as refeições comunitárias a pedra angular dos costumes sociais e eventos festivos. A dieta vem
originando um repositório considerável de conhecimentos, canções, máximas, contos e lendas.
O sistema está enraizado no
respeito pelo território e pela biodiversidade, e assegura a conservação e desenvolvimento de actividades e artesanatos tradicionais
ligados à pesca e ao cultivo em comunidades Mediterrânicas das quais são bons exemplos Soria na Espanha, Koroni na Grécia,
Cilento na Itália e Chefchaouen no Marrocos. As mulheres têm um papel particularmente vital tanto na transmissão da
experiência, do conhecimento dos rituais, dos gestos tradicionais e das celebrações, como também na salvaguarda das técnicas.
Filipinas
O Épico Darangen do Povo Maranao do Lago Lanao
O Darangen é um cântico épico que abrange uma grande riqueza de conhecimentos do povo Maranao que vive no Lago people
Lanao na região do Mindanao. Essa ilha no extremo sul do arquipélago Filipino é a terra natal do povo Maranao, uma dos três
principais grupos Muçulmanos no país.
O Darangen compreende 17 ciclos num total de 72,000 linhas, e celebra episódios da história Maranao e as tribulações dos seus
heróis míticos. Além de um conteúdo narrativo convincente, o épico explora os temas subjacentes de vida e morte, corte, amor e
política, através de símbolos, metáforas, ironia e sátira. O Darangen também codifica as leis mais costumeiras, os padrões de
comportamento social e ético, noções de beleza estética, e valores sociais específicos dos Maranao. Até hoje os mais velhos
referem-se a este texto, consolidado no tempo, na administração da sua legislação básica.
Significando literalmente “narrar em música”, o Darangen já existia antes da Islamização das Filipinas no século XIV e é parte de
uma cultura épica mais alargada, ligada às antigas tradições Sânscritas que se estendem pelo norte do Mindanao. Embora o
Darangen tenha sido transmitido fundamentalmente oralmente, partes do épico foram gravadas em manuscritos usando um antigo
sistema de escrita baseado nos caracteres Arábicos. Intérpretes especializados, homens e mulheres, cantam o Darangen durante as
cerimónias de casamento, que podem durar muitas noites. Os intérpretes possuem memórias prodigiosas, habilidades de
improvisação, imaginação poética, conhecimento das leis consuetudinárias e de genealogia, além de uma técnica vocal elegante e
sem falhas, e a habilidade de envolver o público durante as longas horas da apresentação. Música e dança por vezes acompanham
o canto. Hoje em dia o Darangen é realizado com menos frequência, dado seu rico vocabulário e forma linguística arcaica, que só
podem ser compreendidos pelos praticantes mais velhos e pelos estudiosos académicos. Não há dúvida de que a tendência
crescente de se abraçar modos de vida dominante da actual sociedade Filipina poderá colocar em risco a sobrevivência deste
antigo épico.
Os cânticos Hudhud do Ifugao
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O Hudhud consiste em cantos narrativos tradicionais interpretados pela comunidade Ifugao, bastante conhecida por suas
plantações de arroz que se estendem pelas terras altar das ilhas ao norte do arquipélago Filipino. São apresentados durante as
épocas das semeadura e da colheita do arroz, nos velórios e rituais. Pensa-se que teve origem antes do século XVII e compreende
mais de 200 cânticos, cada um deles dividido em 40 episódios. Uma récita completa pode durar muitos dias.
Uma vez que a cultura Ifugao é de linhagem maternal, a mulher geralmente desempenha papel principal nos cânticos, seu irmão
ocupando uma posição mais elevada que seu marido. A linguagem das histórias contém uma abundância de expresses figurativas
e repetições, e emprega a metonímia, a metáfora e a onomatopeia, o que dificulta muito a transcrição das mesmas. Por isso
existem muito poucas expresses escritas desta tradição. Os cânticos contam histórias dos heróis ancestrais, das leis
consuetudinárias, crenças religiosas e práticas tradicionais, e refletem a importância do cultivo do arroz. Os narradores, na sua
maioria mulheres mais velhas, têm uma posição chave na comunidade, tanto como historiadoras como pregadoras. O épico
Hudhud é cantado alternadamente pelo narrador, seguido do coro, empregando uma única melodia para todos os versos.
A conversão do Ifugao ao Catolicismo enfraqueceu a sua cultura tradicional. Além disso o Hudhud está ligado às colheitas
manuais do arroz, que está agora mecanizada. Embora os terraços de arroz estejam listados como Património Mundial, o número
de culturas vem decrescendo com constância. Os poucos narradores que ainda restam, e que são já bastante idosos, precisam de
apoio nos seus esforços para transmitir seus conhecimentos, e sensibilizar os mais novos para a sua arte.
França
Compagnonnage, rede para a transmissão de conhecimento e identidades
O sistema de Companheirismo Francês é uma forma única de passar o conhecimento e metodologias ligadas ao trabalho com
pedra, Madeira, metal, cabedal, têxteis e alimentação. Baseia-se originalmente na síntese de vários processos de transmissão de
conhecimento: viagens nacionais e internacionais (conhecidas como o período ‘Tour de France’), rituais de iniciação, aprendizado
escolar, aprendizado regular e técnico. O do Companheirismo movimenta quase 45.000 pessoas, que pertencem a um dos três
grupos de companheiros. Os maiores de 16 anos que quiserem aprender o Desenvolver seus conhecimentos numa dada profissão
podem candidatar-se a membros das comunidades de Companheirismo. O treinamento durará em média cinco anos, durante os
quais os aprendizes irão, de cidade em cidade, tanto em França quanto no exterior, descobrir tipos de conhecimentos e
metodologias de passagem dos mesmos. Para se tornar elegível como transmissor de conhecimento, o aprendiz deverá apresentar
uma obra-prima, que será examinada e avaliada pelos companheiros. O Companheirismo é popularmente entendido como o
ultimo movimento que permite a prática e o aprendizado de certas antigas técnicas artesanais, que permitirão atingir a excelência
no treinamento daquele ofício, de forma a integrar o desenvolvimento pessoal e o treinamento profissional do trabalhador, e o
último que utiliza ritos de iniciação às profissões.
A arte da confecção artesanal de renda em Alençon
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O ponto d’ Alençon é uma rara técnica para se fazer renda com agulha. É praticada na cidade de Alençon na Normandia no
noroeste da França. A renda de agulha de Alençon é única por causa do alto grau de perfeição artesanal requerida e o longo tempo
necessário para se produzir as peças (sete horas por centímetro quadrado). As peças de renda têxtil que usam esta técnica são
feitas para fins decorativos na vida civil e religiosa. A peça é feita a partir de um desenho básico que é rodeado por uma rede
finamente bordada, O processo de produção compreende estágios sucessivos: desenhar o padrão, perfurá-lo em pergaminho, criar
a base do desenho e a rede que o envolve, e em seguida executar o bordado típico dos padrões, sombreando o desenho com ponto
cheio, decorando com desenhos e rebordando para criar relevos. Depois o bordado é retirado do pergaminho base com o uso de
uma fina lamina, é aparado, as áreas de ponto cheio são polidas com a traseira de uma unha de lagosta. Todas as rendeiras que
usam o ponto de Alençon sabem como completar todos os estágios deste processo. O conhecimento só se pode transmitir através
do aprendizado prático. Para dominar a técnica da renda de agulha de Alençon são precisos de sete a dez anos de treinamento. O
método de aprendizagem assenta numa relação estreita entre a rendeira experiente e seu aprendiz, e é totalmente baseada em
transmissão oral e técnicas práticas.
Desfile de Gigantones e Dragões na Bélgica e na França
Os desfiles tradicionais de efígies gigantescas representando pessoas, animais e dragões cobre um conjunto de manifestações
populares e representações rituais festivas. Tais efígies apareceram primeiramente em procissões religiosas urbanas em finais do
século XIV em muitas cidades Europeias, e continuam a ser emblemáticas da identidade de certas cidades Belgas (Ath, Brussels,
Dendermonde, Mechelen e Mons) e Francesas (Cassel, Douai, Pézenas e Tarascon), onde a tradição é mantida viva. Os gigantones
e os dragões são modelos em grande escala, podendo medir até nove metros e pesar até cerca de 350 quilos. Eles representam
heróis míticos ou animais, figures locais contemporâneas, ou personagens históricos, bíblicos ou lendários. São Jorge lutando
contra o dragão é apresentado em Mons; Bayard, o cavalo da lenda de Charlemagne desfila em Dendermonde; e o Pai Reuze e a
Mãe Reuze personagens familiares populares, desfilam em Cassel. Os espectáculos, que frequentemente misturam procissões
seculares com cerimónias religiosas, variam de cidade para cidade, mas seguem sempre um ritual muito preciso, no qual os
gigantones relatam a história, lendas ou vida da cidade.
Gigantones e dragões dão vida a festivais populares, onde eles são os principais atores, pelo menos essa uma vez ao ano, pois cada
efígie tem seu próprio dia festivo. Eles apresentam as cenas históricas e dançam pelas ruas, acompanhados por fanfarras e pessoas
fantasiadas. A multidão segue a procissão, e muitos participantes ajudam nas preparações em diferentes estágios do festival. A
construção dos gigantones e sua manutenção requer meses de trabalho e conhecimento de diversas técnicas, dada a variedade de
materiais utilizados. Embora estas expressões não estejam ameaçadas de extinção, já sofrem muitas pressões, tais como as
mudanças de porte que vem acontecendo nos centros das cidades, e o turismo crescente, que é prezado em detrimento da natureza
popular espontânea do festival.
O Canto em paghjella: uma tradição litúrgica secular da Córsega
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A paghjella é uma tradição de canto masculino Corso. Combina três registos vocais que sempre entram na canção na mesma
ordem: a segonda, que começa, estabelece o tom e a melodia; o u bassu, que se segue, acompanha e dá apoio, e finalmente a terza,
o tom mais alto, que enriquece a canção. A paghjella faz uso substancial do eco, e é cantada a cappella numa grande variedade de
línguas, incluindo o corso, sardenho, latim e grego. Como tradição oral tanto secular quanto litúrgica, é apresentado em ocasiões
festivas, sociais ou religiosas; no bar ou na praça da cidade, como parte das missas e procissões litúrgicas e durante feiras de
agricultura. O modo principal de transmissão é oral, e também através da escuta e observação, imitação e imersão, começando
como parte dos ofícios litúrgicos diários dos jovens rapazes, e mais tardem na adolescência, através do coro da Igreja. Apesar dos
esforços dos praticantes para revitalizar os repertórios, a paghjella vem perdendo vitalidade, por conta de um declínio drástico da
transmissão inter-geracional, causada pela emigração das novas gerações e o consequente empobrecimento do repertório. Se não
forem tomadas medidas, a paghjella deixará de existir na sua forma actual, sobrevivendo talvez apenas como um produto turístico
dissociado dos laços comunitários que lhe dão real significado.
Geórgia
Canto Polifónico da Geórgia
A canção popular é altamente valorizada na cultura da Geórgia. O canto polifónico, em Georgiano, é uma tradição secular num
país cuja linguagem e cultura tem constantemente sido oprimidas por invasores. Há três tipos de polifonia na Geórgia: a polifonia
complexa, comum na região de Svaneti; o diálogo polifónico construído sobre o som do baixo, que prevalece na região de Kakheti
na Geórgia de Leste; e a polifonia de contraste, com três partes cantadas parcialmente improvisadas, características do oeste da
Geórgia. A canção Chakrulo, que é cantada em cerimónias e festivais e pertence à primeira categoria, distingue-se por seu uso da
metáfora e do canto yodel, chamado krimanchuli e um som chamado “canto do galo”, que é executado por homens com voz de
falsete. Algumas dessas canções estão ligadas ao cultivo das vinhas e muitas datam do século oitavo. As canções tradicionalmente
permeiam todas as áreas da vida diária, desde músicas para o trabalho no campo (o Naduri, que incorpora à música sons de
esforço físico) a canções para curar doenças, ou canções de Natal (Alilo). Os hinos da liturgia Bizantina também incorporam a
tradição polifónica da Geórgia, a tal ponto que tornaram-se uma significante expressão dessa polifonia.
Tendo sofrido previamente os inconvenientes das políticas culturais, a música tradicional da Geórgia é agora ameaçada pelo
êxodo rural e pelo crescente sucesso da música pop. Em muitos arquivos encontram-se gravações de música polifónica do começo
do século XX; essas gravações não são, entretanto, seguras o suficiente para garantir uma preservação de longo prazo.
Índia
Dança Chhau
A dança Chhau é tradicional do leste da Índia e encena episódios dos épicos que incluem o Mahabharata e o Ramayana, folclore
local e temas abstratos. Seus três estilos distintos são oriundos das regiões de Seraikella, Purulia e Mayurbhanj, sendo que as duas
primeiras fazem uso de máscaras. A dança Chhau está intimamente ligada aos festivais regionais, notadamente o festival da
primavera, Chaitra Parva. Pode-se traçar a sua origem a formas indígenas de dança e práticas marciais. Seu vocabulário de
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movimentos inclui técnicas que imitam combates, o andar estilizado de aves e animais, e movimentos moldados nas tarefas das
donas de casa das aldeias. A dança Chhau é ensinada a dançarinos masculinos de famílias tradicionais de artistas das comunidades
locais. A dança é executada à noite, em espaços abertos, ao som de melodias folclóricas tradicionais, que são tocadas com as
flautas de bambu chamadas mohuri e shehnai. O toque reverberado de uma variedade de tambores domina o acompanhamento
musical. A dança Chhau é parte integrante da cultura dessas comunidades. Ela junta pessoas de diferentes estratos sociais e
origens étnicas, com diferentes práticas sociais, crenças, profissões e línguas. Entretanto a crescente industrialização, as pressões
económicas e os novos meios de comunicação tem levado à decadência da participação colectiva com as comunidades se
desconectando de suas raízes.
Canções de danças folclóricas Kalbelia do Rajasthan
Danças e canções são uma forma de expressão das tradições da comunidade Kalbelia. Tendo sido domadores profissionais de
serpentes, os nativos de Kalbelia evocam hoje sua antiga ocupação com música e dança que evolui em novas e criativas formas.
Hoje as mulheres, em saias negras esvoaçantes, dançam e giram replicando os movimentos da serpente, enquanto os homens as
acompanham com o instrumento de percussão chamado khanjari e com as flautas de madeira originalmente usadas para capturar
as serpentes, chamados poongi. As bailarinas usam as tradicionais tatuagens, jóias e adereços ricamente bordados com pequenos
espelhos e fios de prata. As canções Kalbelia disseminam conhecimentos mitológicos através de histórias, enquanto as danças
tradicionais são apresentadas durante o festival das cores, chamado Holi. As canções também demonstram a perspicácia poética
dos Kalbelia, que são reputados por compor letras espontaneamente, e improvisar canções durante as apresentações. Transmitidas
de geração a geração, as canções e danças fazem parte das tradições orais para as quais não existem textos ou manuais de
orientação. Danças e canções são questões de orgulho para a comunidade Kalbelia marca da sua identidade num tempo em que o
seu estilo de vida tradicional de viajantes e seu papel na sociedade rural está a diminuir. Eles demonstram as tentativas de sua
comunidade para revitalizar este património cultural e adaptá-lo às condições socioeconómicas em mutação.
Kutiyattam, Teatro Sânscrito
Kutiyattam, o teatro Sânscrito praticado na provincial de Kerala, é uma das mais antigas tradições teatrais vivas da Índia. Iniciado
há mais de 2.000 anos, o Kutiyattam representa uma síntese do classicismo Sânscrito, e reflecte as tradições locais de Kerala. Nas
suas formas estilizadas com uma linguagem teatral codificada, são proeminentes as expressões dos olhos (neta abhinaya) e a
linguagem dos gestos (hasta abhinaya). Eles concentram-se nos pensamentos e sentimentos da personagem principal. Os actores
passam por um treinamento rígido que pode durar cerca de 15 anos, até serem considerados intérpretes de pleno direito, com um
sofisticado controle da respiração e total domínio dos subtis movimentos musculares do corpo e da face. A arte do ator está na
elaboração de todos os pormenores de uma situação ou episódio. Pode portanto levar dias para se apresentar um único acto, e uma
peça completa pode durar até 40 dias.
O Kutiyattam é tradicionalmente apresentado em teatro chamados Kuttampalams, localizados em templos Hindus. Originalmente
o acesso às apresentações era restrito, dada o seu carácter sagrado, mas as peças vem progressivamente abrindo-se para um
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público mais alargado. Ainda assim o papel do actor mantém uma dimensão sagrada, como se pode atestar pelos rituais de
purificação e o uso de uma lâmpada de óleo a queimar no palco durante toda a apresentação, simbolizando a presença divina. Os
atores passam aos seus aprendizes manuais detalhados de representação, os quais, até recentemente, era propriedade secreta e
exclusive de algumas famílias seleccionadas.
Com o colapso do patronato e da ordem feudal do século XIX, as famílias que mantinham os segredos das técnicas de actuação
passaram por sérias dificuldades. Com o seu renascimento no início do século XX, o Kutiyattam confrontou-se mais uma vez com
falta de fundos, o que levou a uma severa crise na profissão. Face a esta situação, os diferentes responsáveis por passar a tradição
juntaram-se num esforço de assegurar a continuidade deste teatro Sânscrito.
Ramlila – o espectáculo tradicional de Ramayana
Ramlila, literalmente “encenação do Rama”, é um espectáculo que conta o épico Ramayana numa série de cenas, que incluem
canção, narração, recital e diálogos. Ele é representado por todo o norte da Índia durante o festival de Dussehra, que acontece
anualmente de acordo com o calendário ritual do Outono. Os mais representativos Ramlilas são os de Ayodhya, Ramnagar e
Benares, Vrindavan, Almora, Sattna e Madhubani.
Esta encenação do Ramayana baseia-se na Ramacharitmanas, uma das mais populares formas de conto do norte do país. Este
texto sagrado, dedicado à glória de Rama, o herói da Ramayana, foi composta por Tulsidas no século XVI, numa forma de Hindi
que permitia tornar o épico em Sânscrito acessível para todos. A maioria das Ramlilas conta episódios das Ramacharitmanas
através de uma série de representações que podem durar de dez a doze dias, mas algumas, como a Ramnagar, pode durar um mês
inteiro. São organizados festivais em centenas de vilarejos, aldeias e cidade, durante a temporada de festivais de Dussehra, onde se
celebra a volta de Rama do exílio. A Ramlila relembra a batalha entre Rama e Ravana e consiste de uma série de diálogos entre
deuses, sábios e fiéis. A força dramática da Ramlila deriva de uma sucessão de ícones que representam o clímax de cada cena. O
público é convidado a cantar e participar na narração. A Ramlila junta toda a população, sem distinção de casta, religião ou idade.
Todos os aldeãos participam espontaneamente, representando papéis ou tomando parte numa série de actividades colaterais tais
como a confecção de figurinos ou máscaras, a preparação das maquilhagens, efígies e luzes. Entretanto o desenvolvimento dos
meios de comunicação, particularmente as novelas televisivas, vem causando uma considerável diminuição das audiências dos
espectáculos Ramlila, que estão, consequentemente, deixando de cumprir seu principal papel de promover o convívio das pessoas
das várias comunidades.
Irão
A música dos Bakhshis de Khorasan
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Na Província de Khorasan, os Bakhshis são conhecidos por suas habilidades musicais com o dotār, um instrumento com duas
cordas num braço longo. Os Bakhshis recitam poemas e épicos islâmicos e gnósticos, com temas mitológicos, históricos ou
lendários. Sua música, conhecida como Magham, consiste em peças instrumentais ou vocais, cantadas em Turco, Curdo,
Turcomano e Persa. Navāyī é a magham mais conhecida: diversa, vocal, sem ritmo, a acompanhar poemas gnósticos. Outros
exemplos incluem os maghams Turcos, Tajnīs e Gerāyelī, os temas religiosos Shākhatāyī, e o Loy, um antigo e romântico
magham, que pertence aos Curdos Kormanj do Norte de Khorasan. Os Bakhshis consideram uma das cordas do dotār como
masculina e a outra como feminina; a corda masculina permanece num tom, enquanto a feminina é usada para tocar a melodia
principal. A música Bakhshi é transmitida através to treino tradicional professor aluno, que é restrito aos membros masculinos da
família ou vizinhança, ou através de métodos mais modernos, nos quais o mestre treina um grande número de alunos de ambos os
géneros, e de diversas origens. A música transmite história, cultural, e fundamentos éticos e religiosos. Assim, o papel social dos
Bakhshis excede o de meros narradores, e os define como juízes, mediadores e curandeiros, tanto quanto como guardiães do
património cultural da sua comunidade.
A arte dramática ritual de Ta‘zīye
Ta'zīye (ou Ta'azyeh) é um ritual em arte dramática que conta eventos religiosos, eventos históricos, míticos e contos folclóricos.
Cada representação tem quarto elementos, poesia, música, canção e movimento. Algumas peças chegam a ter 100 personagens
que podem ser religiosos, políticos, sociais, sobrenaturais, reais, imaginários e de fantasia. Cada drama Ta'zīye é individual, com
seu próprio tema, figurinos e música. As representações são ricas em simbolismo, convenções, códigos e sinais que são
compreendidos pelo publico Iraniano, e acontecem em palcos com ou sem iluminação ou cenários. Os intérpretes são sempre
homens, que também interpretam as personagens femininas, e muitos são amadores que ganham a vida com outras profissões mas
actuam pela recompensa espiritual. Enquanto o Ta'zīye tem um papel proeminente na cultura, literatura e arte Iranianas, também
os provérbios do dia a dia vem dessas peças rituais. A sua representação ajuda a promover ou reforçar os valores religiosos
espirutuais, o altruísmo e a amizade, enquanto preserva antigas tradições, a cultura nacional e a mitologia Iranianas. O Ta'zīye
também desempenha papel significativo ao preservar os artesanatos que lhe são associados, como a confecção de figurinos,
caligrafia e construção de instrumentos musicais. A sua flexibilidade faz torna essa tradição uma espécie de linguagem comum
para diversas comunidades, promovendo a comunicação, a unidade e a criatividade. O Ta'zīye é transmitido pelo exemplo e
oralmente de tutor a aluno.
O Radif da música Iraniana
O Radif da música Iraniana é o repertório da música clássica do Irão que forma a essência da cultura musical Persa. Mais de 250
unidades melódicas chamadas gushe, são arranjadas em ciclos, como uma base modal provendo o fundo ou cenário musical sobre
o qual se constrói uma variada gama de motivos melódicos. Embora a prática mais importante de representação da música
tradicional Iraniana se desenvolva a partir de improvisações de acordo com o estado de espírito do intérprete, e como resposta a
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uma audiência, os músicos levam muitos anos aprendendo a dominar os radif como uma coleção de ferramentas musicais p+ara
suas apresentações e composições. O radif pode ser vocal ou instrumental, executado numa variedade de instrumentos usando-se
diferentes técnicas. Esses instrumentos incluem os instrumentos de corda de braço alongado (cítaras) chamados tār e setār, e
também os santur cítara percutida a martelo, kamānche uma espécie de violino apoiado em um pino longo, e o ney uma gaita de
bambu. Passado de mestre para discípulo através da instrução oral, o radif dá incorpora a prática estética e a filosofia da cultura
musical Persa. Aprender o radif pode levar uma década ou mais de devoção, durante a qual os estudantes memorizarão o
repertório radif e se envolverão mi, processo de ascetismo musical que tem a intenção de abrir os portões da espiritualidade. Este
rico tesouro é o cerne da música Iraniana e reflete a identidade cultural e nacional do povo Iraniano.
Iraque
O Maqam Iraquiano
http://www.youtube.com/watch?v=NOrqQKL99eo&feature=player_embedded
Largamente reconhecida como a tradição musical clássica predominante do Iraque, o Maqam compreende um vasto repertório de
canções, acompanhadas por instrumentos tradicionais. Além disso este género popular proporciona uma riqueza de informação
sobre a história musical da região e sobre a influência Árabe que manteve ao longo dos séculos.
O Maqam Iraquiano está estreitamente ligado, na sua estrutura e instrumentação, à família de formas musicais praticadas no Irão,
Azerbaijão e Uzbequistão. O Maqam Iraquiano abarca numerosos géneros e modos melódicos primários. Apresenta segmentos
vocais improvisados que algumas vezes usam acompanhamentos métricos e frequentemente levam a uma mistura de canções em
estrofes. As hábeis improvisações do vocalista principal (qari) criam uma intrincada interacção com a orquestra (tshalghi) que faz
o acompanhamento de todo o espectáculo. Os instrumentos típicos incluem a cítara de mesa, santur, um cordafone de quarto
cordas, (jawzah), um tambor de mão de baixa tonalidade, (dumbak) e um pequeno tamborim (daff). Os espectáculos Maqam em
geral acontecem em encontros privados, cafés ou teatros. Com um repertório enraizado na poesia Árabe clássica e coloquial, o
Maqam é altamente reverenciado pelos músicos e estudiosos, mas também pela população Iraquiana como um todo,
Enquanto muitos dos estilos musicais Árabes da região ou desapareceram ou se ocidentalizaram, o Maqam do Iraque permaneceu
intacto, retendo em particular os ornatos vocais e o carácter de improvisação.
Dada a actual situação política, os concertos Maqam são menos frequentemente promovidos perante grandes audiências, e mais
frequentemente apresentados em locais privados. Entretanto os concertos ao vivo e gravações do Maqam Iraquiano no exterior
continua a fazer sucesso e conquistar popularidade.
Itália
O Canto a tenore, Canções Pastorais da Sardinha
http://www.youtube.com/watch?v=cWVCMvbGcPA&feature=player_embedded
O Canto a tenore desenvolveu-se dentro da cultura pastoral da Sardenha. Representa uma forma de canto polifónico que é cantado
por um grupo de quatro homens usando diferentes vozes chamadas; bassu, contra, boche e mesu boche. Uma de suas
características é o timbre profundo e gutural das vozes de bassu e contra. Os cantores formam um círculo fechado para cantarem,
O solista canta uma peça de prosa ou poema enquanto as outras vozes fazem um coro de acompanhamento. Muitos praticantes
vivem na região da Barbagia e outros na Sardenha Central. Sua arte de cantar está fortemente baseada na vida local das
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comunidades. Frequentemente eles cantam espontaneamente em bares locais chamados a su zilleri, mas também em ocasiões mais
formais como casamentos, tosquias das ovelhas, festividades religiosas ou o carnaval de Barbaricino.
O canto a tenore compreende um vasto repertório que varia no território da Sardenha. As melodias mais comuns sãop a serenata
boche e notte (a voz da noite) e música para dançar como os mutos, gosos e ballos. As letras são ou de poemas antigos ou de
contemporâneas, que falam de questões actuais tais como a emigração, o desemprego e política. Nesse sentido as canções podem
ser vistas tanto como tradicionais ou expressões da cultura contemporânea.
O canto a tenore é especialmente vulnerável às mudanças socioeconómicas, tais como o declínio da cultura pastoral e o
crescimento do turismo na Sardenha. As apresentações em palco especialmente para turistas tende a afectar a diversidade do
repertório e a forma íntima como a música era apresentada no seu contexto original.
Opera dei Pupi, Marionetas Sicilianas
http://www.youtube.com/watch?v=5Ql7DxcWILE&feature=player_embedded
O teatro de marionetas conhecido como Opera dei Pupi surgiu na Sicília no início do século XIX, e fez grande sucesso entre as
classes trabalhadoras da ilha. Os bonecreiros contavam histórias que se baseavam na literatura dos cavaleiros medievais e outras
fontes como poemas do Renascimento Italiano, vidas de santos ou de bandidos notórios. Os diálogos nessas representações eram
na maior parte improvisados pelos bonecreiros. As duas principais escolas de marionetas em Palermo e na Catania distinguiam-se
principalmente pelo tamanho e forma dos bonecos, as técnicas de manipulação e a variedade e colorido dos cenários.
Esses teatros eram frequentemente negócios familiares; esculpir, pintar e construir os bonecos, renomados por suas expressões
muito intensas, eram tarefas realizadas por artesãos que utilizavam métodos tradicionais. Os bonecreiros esforçavam-se para se
superarem mutuamente com suas peças, e exerciam grande influência sobre suas audiências. No passado esses espectáculos
aconteciam ao longo de muitas noites, e eram um pretexto para encontros sociais.
As perturbações económicas e sociais causadas pela extraordinária expansão económica da década de 1950 afectou
consideravelmente esta tradição, ameaçando seus próprios alicerces. Nesse período desapareceram formas semelhantes de teatro
em outros pontos da Itália, e alguns voltaram a aparecer vinte anos mais tarde. A Opera dei Pupi é o único exemplo de tradição de
teatro de marionetas ininterrupta. Devido a dificuldades económicas neste momento, os bonecreiros não conseguem mais viver de
sua arte, procurando profissões mais lucrativas. O turismo contribuiu para a redução da qualidade das representações, que de
início visavam apenas uma audiência local.
A Dieta Mediterrânica
http://www.youtube.com/watch?v=_HZVd7kp3RA&feature=player_embedded
A dieta Mediterrânica constitui uma série de capacidades, saberes, práticas e tradições que vão do cultivo da terra à mesa e
incluem as culturas, a colheita, a pesca, a conservação, o processamento, a preparação e, particularmente, o consumo do alimento.
A Dieta Mediterrânica caracteriza-se por um modelo nutricional que tem-se mantido constante no tempo e no espaço, consistindo
principalmente de azeite de oliva, cereais, frutas e vegetais frescos ou sêcos, uma quantidade moderada de peixe, lacticínios e
carne, e muitos condimentos e temperos, acompanhados por vinho ou infusões, sempre respeitando as crenças das diferentes
comunidades. Entretanto, a dieta Mediterrânica (do grego diaita, ou forma de vida) compreende mais do que apenas o alimento.
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Promove a interacção social, sendo as refeições comunitárias a pedra angular dos costumes sociais e eventos festivos. A dieta vem
originando um repositório considerável de conhecimentos, canções, máximas, contos e lendas.
O sistema está enraizado no
respeito pelo território e pela biodiversidade, e assegura a conservação e desenvolvimento de actividades e artesanatos tradicionais
ligados à pesca e ao cultivo em comunidades Mediterrânicas das quais são bons exemplos Soria na Espanha, Koroni na Grécia,
Cilento na Itália e Chefchaouen no Marrocos. As mulheres têm um papel particularmente vital tanto na transmissão da
experiência, do conhecimento dos rituais, dos gestos tradicionais e das celebrações, como também na salvaguarda das técnicas.
Letónia
Espaço cultural Suiti
http://www.youtube.com/watch?v=R1T6BxnOgls&feature=player_embedded
Os Suiti são uma pequena comunidade de Católicos e Protestantes (Luteranos) do oeste da Letónia. O espaço cultural Suiti
caracteriza-se por um quantidade de traços distintos, que incluem a vocalização que é feita pelas mulheres Suiti (drone), tradições
ligadas às cerimónias de casamento, roupas tradicionais coloridas. A língua Suiti, a cozinha local, as tradições religiosas, as
celebrações dos ciclos anuais e um considerável número de canções, danças e melodias folclóricas reconhecidas nesta
comunidade. As formas mais antigas de estruturas familiares alargadas são ainda comuns ali, e tais famílias são importantes
bastiões do património cultural Suiti, no que diz respeito à transferência de conhecimentos de geração para geração. Uma síntese
de rituais religiosos e tradições pré-cristãs criou na comunidade Suiti uma mistura única de património cultural imaterial. Um pilar
da identidade Suiti, a Igreja Católica, recuperada com sucesso após o período soviético, traz como resultado um renascimento
gradual do espaço cultural Suiti. Entretanto hoje em dia apenas algumas pessoas, na sua maioria já de idade, tem um bom
conhecimento do património cultural Suiti, existindo portanto uma necessidade urgente para disseminar esse conhecimento e
envolver mais pessoas na sua preservação, recuperando elementos mantidos apenas em documentos escritos, filmes, arquivos e
museus.
As celebrações de Cantos e Danças do Báltico
http://www.youtube.com/watch?v=g2lArlrlnbg&feature=player_embedded
Funcionando tanto como repositório e como mostruário para as tradições da representação da arte folclórica, esta expressão
cultural culmina num grande festival que acontece a cada cinco anos na Estónia e na Letónia e a cada quarto anos na Lituânia.
Esses grandes eventos, que duram vários dias, sintam mais de 40.000 cantores e dançarinos. Os participantes, na sua grande
maioria, pertencem a coros e grupos de dança amadores. Os repertórios reflectem uma grande variedade de tradições musicais dos
países Bálticos, das mais antigas canções folclóricas até as composições contemporâneas. Dirigidos por maestros de coro, líderes
de bandas e instrutores de dança profissionais, muitos cantores e dançarinos praticam durante todo o ano em centros comunitários
e instituições culturais locais.
Os coros e conjuntos musicais foram institucionalizados na Estónia durante o século XVIII. Subsequentemente, o canto coral
espalhou-se nas areas urbanas e rurais, impulsionado pela crescente popularidade da música coral, das sociedades de cantores e
festivais de canto na Europa Ocidental. Com a participação da maioria dos coros activos de várias regiões desses estados, as
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Celebrações de Danças e Canções Bálticas foram originalmente organizadas na Estónia em 1869, na Letónia em 1873. A Lituânia
promoveu a sua primeira celebração apenas em 1924. Na medida em que os estados Bálticos tornaram-se independentes da
Russoa depois da Primeira Guerra Mundial, as celebrações adquiriram popularidade alargada como forma de afirmação da
identidade cultural do Báltico. Nos três países construíram-se espaços de festival especialmente para albergar os eventos. Após a
incorporação dos estados Bálticos pela União Soviética, no fim da Segunda Guerra Mundial, as celebrações adaptaram-se à
ideologia comunista prevalecente.
Desde a reconquista da independência em 1991, os Estados Bálticos tomaram várias medidas para assegurar a proteção desta
tradição, embora as importantes mudanças económicas e sociais que acontecem na região tragam sérias preocupações quanto ao
futuro. Os principais riscos actuais prendem-se ao êxodo rural e o consequente desmantelamento dos grupos amadores.
Lithuania
Sutartinės, canções múltiplas da Lituânia
http://www.youtube.com/watch?v=Wij_cgVGOxw&feature=player_embedded
O Sutartinės (da palavra ''sutarti ''—estar de acôrdo) é uma forma de música polifónica interpretada por cantoras no nordente da
Lituânia. As canções tem melodias simples, com de dois a cinco tons, e compreende duas partes distintas: um texto principal cheio
de significados, e um refrão que pode incluir palavras novas. Existem quase quarenta diferentes estilos e maneiras de interpretar o
Sutartinės. Eles podem ser interpretados, principalmente, por dois cantores em segundos paralelos; por três em canos estrito, todos
cantando ambas as frases da melodia a intervalos escalonados: ou por dois grupos de cantores, o cantor principal de cada par
cantando o texto principal, enquanto o seu parceiro canta o refrão, antes que o segundo par repita o conjunto. Os textos poéticos
compreendem muitos temas, incluindo o trabalho, os rituais do calendário, casamentos, família, guerras, histórias e momentos da
vida quotidiana. A coreografia é de movimentos simples e moderados, frequentemente austera, como caminhar formando um
círculo ou uma estrela, juntando os braços e batendo os pés. Os. Sutartinės são apresentados em ocasiões solenes, e também em
festivais, concertos e encontros sociais. A sua representação promove a partilha de valores culturais e proporciona um sentimento
de identidade cultura, continuidade e auto-estima. Os Sutartinės são normalmente cantados por mulheres, mas os homens
interpretam a versão instrumental usando flautas de Pan, trompas, longos trompetes de madeira, apitos e cítaras.
Luxemburgo
A procissão dançante de Echternach
http://www.youtube.com/watch?v=FQ68OFEC_p8&feature=player_embedded#at=35
A cada ano, na terça-feira de Pentecostes (uma festividade religiosa cristã), a procissão dançante de Echternach (Iechternacher
Sprangprëssioun) acontece no centro da cidade de Echternach, a cidade mais antyiga do Luxemburgo. Documentada desde o ano
de 1100, a procissão cultua o Santo Willibrord, monge fundador da Abadia Echternach, reverenciado por suas actividades
missionárias, sua bondade e o dom de curar certas doenças. Apesar da oposição da Igreja, dado os elementos pagãos da procissão,
os banimentos sucessivos não conseguiram fazer com que a mesma se expandisse por toda a região e fosse seguida por toldas as
classes sociais. A procissão começa bem cedo pela manhã no pátio da antiga abadia, na presença das mais altas autoridades
eclesiásticas do país, e do exterior. Cantores recitam litanias e então mais de 8.000 dançarinos assumem comando, divididos em
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45 grupos de acordo com um ritual transmitido de geração em geração. Termina com um serviço religioso na basílica. A actual
procissão é um evento religioso profundamente enraizado na tradição expressa pelas orações, canções e danças – a forma histórica
de adoração. Hoje em dia a procissão é apoiada por autoridades civis e religiosas e é cada vez mais popular, apesar da
secularização, com uma média de 13.000 participantes que vem de todo o país e regiões vizinhas.
Marrocos
O espaço cultural de Jemaa el-Fna Square
http://www.youtube.com/watch?v=vxlAvg3UdOI&feature=player_embedded
A praça de Jemaa el-Fna é um dos principais espaços culturais em Marraquexe, e tornou-se um símbolo da cidade desde a sua
Fundação no século XI. Ela representa uma concentração única das tradições culturais Marroquinas que é representada através de
expressões musicais, religiosas e artísticas.
Localizada na entrada em Medina, esta praça triangular, que é rodeada por restaurantes, barracas e edifícios públicos, propicia as
actividades comerciais quotidianas e várias formas de entretenimento. É um ponto de encontro tanto para a população local como
para os visitantes. Durante todo o dia, e pela noite adentro, é oferecida uma grande variedade de serviços tais como cuidados
dentários, medicina tradicional, leitura de sorte, sermões, tatuagens com henna, carregamento de água, venda de frutas e comidas
tradicionais. Além disso pode-se assistir a muitas representações e espectáculos por contadores de histórias, poetas, encantadores
de serpentes, músicos Berber (mazighen), dançarinos de Gnaoua e intérpretes senthir (hajouj). As expresses orais são
constantemente renovadas pelos bardos (imayazen), que costumavam viajar através de território Berbere. Eles continuam a
combinar palavra e gestos para ensinar, entreter e encantar a audiência. Adaptando a sua arte a textos contemporâneos, eles agora
improvisam sobre um resumo de um texto antigo, tornando seu recitativo acessível a um público mais alargado. Adapting their art
to contemporary contexts, they now improvise on an outline of an ancient text, making their recital accessible to a wider audience.
A Praça Jemaa el-Fna é o mair espaço de partilha cultural, e beneficia de proteção como parte do patrimônio artístico de
Marraquexe desde 1922. Entretanto a urbanização, e em particular a especulação imobiliária e o desenvolvimento das infraestruturas para os transportes, são vistos como grandes riscos ao próprio espaço cultural. Enquanto a Praça Jemaa el-Fna tem
grande popularidade, as práticas culturais poderão sofrer aculturação, também causada pelo crescente turismo.
O Moussem de Tan-Tan
http://www.youtube.com/watch?v=Lwk-dy1FjDI&feature=player_embedded
O Moussem de Tan-Tan no sudoeste do Marrocos é um encontro anual dos povos nómadas do deserto do Saara que junta mais de
trinta tribos do sul do Marrocos e outras partes de África. Originalmente era um evento anual no mês de Maio, Parte dos
calendários agrícolas e pastoris dos nómadas, esses encontros eram uma oportunidade de convívio, compra, venda e troca de
alimentos e outros produtos, de organizar competições de criadores de camelos e cavalos, celebrar casamentos e consultar os
ervanários. O Moussem também incluía expressões culturais como espectáculos musicais, canções populares, jogos, concursos de
poesia e outras tradições orais dos Hassanie.
Os encontros tomaram a forma de um Moussem (um tipo de feira com funções económicas, culturais e sociais) em 1963 quando o
primeiro Moussem de Tan-Tan foi organizado para promover tradições locais e propiciar um local para trocas, encontro e
celebração. Diz-se que o Moussem foi inicialmente associado a Mohamed Laghdaf, que resistiu à ocupação Franco Espanhola. Ele
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morreu em 1960 e seu túmulo fica perto da cidade. Entretanto, entre 1979 e 2004 não foi possível promover o Moussem por
problemas de segurança nessa região.
Hoje em dia as populações nómadas preocupam-se particularmente em proteger seu modo de vida. As convulsões económicas e
técnicas na região tem alterado profundamente o estilo de vida das comunidades de nómadas Beduínos, forçando muitos a fixarem
residência. Além disso o êxodo rural e as urbanizações têm contribuído para a perda de muitos aspectos da cultura tradicional
dessas populações, tais como artesanatos e poesia. Por causa desse risco, as comunidades Beduínas confiam fortemente na
renovação do Moussem de Tan-Tan para ajudá-los a assegurar a sobrevivência de seus conhecimentos e tradições.
A Dieta Mediterrânica
http://www.youtube.com/watch?v=_HZVd7kp3RA&feature=player_embedded
A dieta Mediterrânica constitui uma série de capacidades, saberes, práticas e tradições que vão do cultivo da terra à mesa e
incluem as culturas, a colheita, a pesca, a conservação, o processamento, a preparação e, particularmente, o consumo do alimento.
A Dieta Mediterrânica caracteriza-se por um modelo nutricional que tem-se mantido constante no tempo e no espaço, consistindo
principalmente de azeite de oliva, cereais, frutas e vegetais frescos ou sêcos, uma quantidade moderada de peixe, lacticínios e
carne, e muitos condimentos e temperos, acompanhados por vinho ou infusões, sempre respeitando as crenças das diferentes
comunidades. Entretanto, a dieta Mediterrânica (do grego diaita, ou forma de vida) compreende mais do que apenas o alimento.
Promove a interacção social, sendo as refeições comunitárias a pedra angular dos costumes sociais e eventos festivos. A dieta vem
originando um repositório considerável de conhecimentos, canções, máximas, contos e lendas.
O sistema está enraizado no
respeito pelo território e pela biodiversidade, e assegura a conservação e desenvolvimento de actividades e artesanatos tradicionais
ligados à pesca e ao cultivo em comunidades Mediterrânicas das quais são bons exemplos Soria na Espanha, Koroni na Grécia,
Cilento na Itália e Chefchaouen no Marrocos. As mulheres têm um papel particularmente vital tanto na transmissão da
experiência, do conhecimento dos rituais, dos gestos tradicionais e das celebrações, como também na salvaguarda das técnicas.
Mexico
A Festa dos Mortos
http://www.youtube.com/watch?v=GwXMaxfI4As&feature=player_embedded
O Día de los Muertos (Dia dos Mortos) conforme praticado pelas comunidades indígenas do México, comemora o retorno
transitório à Terra dos parentes e amigos mortos. As festividades acontecem todos os anos em finais de Outubro e início de
Novembro. Esse período também marca o fim do ciclo anual do cultivo do milho, a principal cultura agrícola do país.
As famílias facilitam o retorno das almas à Terra com pétalas de flores, velas e oferendas que colocam ao longo do caminho do
cemitério até as casas dos mortos. Os pratos favoritos dos mortos são preparados e colocados num altar na casa, bem como sobre o
túmulo, juntamente com flores e artesanatos como figures de papel. Toma-se um grande cuidado com todos os aspectos da
preparação, pois acredita-se que os mortos são capazes de trazer prosperidade (como por exemplo uma abundante colheita de
milho) para as famílias, de acordo com o grau de satisfação que possam ter com os rituais. Os mortos são divididos em várias
categorias de acordo com a causa da morte, a idade, o sexo, e em alguns casos, a profissão, Um dia de adoração específico para
cada morto é então designado de acordo com cada categoria, Esse encontro entre vivos e mortos afirma o papel do indivíduo
dentro da sociedade e contribui para reforçar o status social das comunidades indígenas do México.
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A celebração do dia dos Mortos tem um grande significado para as comunidades indígenas Mexicanas. A fusão de rituais
religiosos pré-hispânicos e festas católicas juntam dois universos, um marcado pelo sistema de crenças indígena, o outro por
visões do mundo introduzidas pelos Europeus do Século XVI.
Cerimónia ritual dos Voladores
http://www.youtube.com/watch?v=DINkrYj3GpY&feature=player_embedded
O ritual dos Voladores (homens voadores) é uma dança de fertilidade executada por vários grupos étnicos do México e da
América Central, especialmente o povo Totonac no estado oriental de Veracruz, para expressar respeito e harmonia entre os
mundos natural e espiritual. Durante a cerimónia, quarto rapazes sobem um poste de Madeira que tem uma altura que varia entre
os 18 e os 40 metros, recentemente cortado da floresta com o perdão do deus das montanhas. Um quinto homem, o Caporal,
permanece de pé no topo do poste, tocando, com uma flauta e um tambor, canções dedicadas ao sol, aos quarto ventos e aos
quatro pontos cardeais. Depois dessa invocação, os outros, amarrados à plataforma pelos pés, jogam-se no vazio. Atados por
longas cordas, eles ficam ali pendurados e a girar, imitando movimentos de voo, e gradualmente descendo até o chão. Cada
variante da dança traz à vida o mito do nascimento do universo, de forma que a cerimónia ritual dos Voladores expressa a visão de
mundo e os valores da comunidade, facilita a comunicação com os deuses e pede por prosperidade. Para os próprios dançarinos e
par muitos dos que participam na espiritualidade do ritual como observadores, ele encoraja o orgulho e o respeito pelo património
e a identidade culturais.
Pirekua, a Música P'urhepecha
http://www.youtube.com/watch?v=Flt6mPxqdz8&feature=fvsr
A Pirekua é a música tradicional das comunidades indígenas de P’urhépecha do Estado de Michoacán, Mexico, cantada por
homens e mulheres. Sua mescla deiversifucada de estilos vem dos Africanos, Europeus e indígenas Americanos, c9om variações
regionais identificadas em 30 das 165 comunidades P’urhépecha. A Pirekua, que é geralmente cantada a um ritmo suave, pode ser
apresentada também em estilços não vocais, que usam diferentes batidas taos como os sones (tempo 3/8 ) e abajeños (tempo 6/8 ).
A Pirekua pode ser cantada a solo, em duetos e trios, ou acompanhada por grupos-coral, orquestras de cordas ou mistas (incluindo
instrumentos de sopro), Os Pirériecha (como são chamados os intérpretes da Pirekua) são reconhecidos por sua criatividade e
interpretação de canções mais antigas. As letras cobrem uma vasta gama de temas, de eventos históricos a religião, pensamentos
políticos ou sociais e amor e romance, fazendo extensivo uso de simbolismo. O Pirekua actua como um meio efectivo de diálogo
entre as famílias e comunidades P’urhépecha que o praticam., ajudando a estabelecer e reforçar laços. Os Pirériechas também
actuam como mediadores sociais, usando canções para expressar sentimentos e comunicar eventos importantes para as
comunidades P’urhépecha. O Pirekua tem sido tradicionalmente transmitido oralmente, de geração em geração, mantendo-se
como expressão viva, marca de identidade e forma de comunicação artística do povo P’urhépecha por mais de cem anos.
Moçambique
Chopi Timbila
http://www.youtube.com/watch?v=IgZV9nR-m2o&feature=player_embedded
A comunidade Chopi vive principalmente na parte sul da província do Inhambane no sul de Moçambique. E s
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Ap famosos por sua música orquestral. As suas orquestras consistem de cinco a trinta xilofones de madeira, chamados timbila,
com tamanhos e tonalidades variados. As timbilas são finamente manufacturadas e afinadas com a Madeira altamente ressonante
da árvore chamada mwenje (achillea ptarmica) que tem um crescimento muito lento. Sob cada tecla de Madeira é amarrada uma
cabaça, que é selada cuidadosamente com cera de abelha, e temperada com o óleo do fruto do nkuso, que dá à timbila seu rico
som nasalado e vibrações características. As orquestras são compostas de mestres e aprendizes de timbila, de todas as faixas
etárias, com crianças a tocar ao lado de seus avós.
A cada ano novas peças são compostas e apresentadas em casamentos e outros eventos comunitários. Os ritmos dentro de cada
tema são bastante complexos, e muitas vezes o ritmo executado com a mão esquerda difere do ritmo que está a ser executado com
a mão direita. Durando cerca de uma hora, cada apresentação da orquestra de timbila apresenta temas para orquestra e solos,
usando tempos variados. Os grupos de dança timbila podem ter de dois a doze pares, estão em forte conexão com a música que
dançam com exclusividade, sempre na frente da orquestra. Cada apresentação de timbila inclui o tema solene mzeno, que é
dançado enquanto os músicos tocam com vagar e suavemente. Os textos, cheios de humor e sarcasmos, reflectem questões sociais
contemporâneas e servem como crónicas dos eventos comunitários. Os intérpretes mais experientes de timbila são mais velhos.
Embora muitos tenham jovens músicos como aprendizes, e alguns tenham inclusive começado a treinar e incluir meninas nas suas
orquestras e grupos de dança, os jovens vem perdendo contacto com o seu património cultural. Além disso o desmatamento fez
escassear a madeira necessária para se produzir timbilas com a sonoridade particular deste instrumento.
Gule Wamkulu (Moçambique Malawi, Zambia)
http://www.youtube.com/watch?v=H30wcV6-wbw&feature=player_embedded
Gule Wamkulu era um culto secreto envolvendo a dança ritual praticada entre os Chewa no Malawi, Zambia, e em Moçambique.
A dança é interpretada pela irmandade dos Nyau, uma sociedade secreta de homens iniciados. Na sociedade matriarcal tradicional
dos Chewas onde o papel dos homens casados é bastante marginal, o Nyau oferecia maneira de se estabelecer um contrapeso e
solidariedade entre os homens de várias tribos. Os membros do Nyau são ainda responsáveis pela iniciação dos mais jovens na
vida adulta, e pela representação do Gule Wamkulu no final de cada procedimento de iniciação, celebrando a integração dos
rapazes na sociedade adulta.
O Gule Wamkulu é interpretado na temporada que se segue às colheitas de Julho, mas também pode ser apresentada em
casamentos, funerais, e na posse ou na morte de um chefe. Nessas ocasiões os dançarinos de Nyau usam figurinos e máscaras
feitos de madeira e palha, representando uma grande variedade de personagens, tais como animais selvagens, espíritos de mortos,
mercadores de escravos, ou figuras e objectos mais contemporâneos como um Honda ou um helicóptero. Cada uma dessas figuras
interpreta um personagem particular e em geral mau, expressando formas de mau comportamento, para ensinar ao público valores
morais e sociais. As figuras executam danças com uma extraordinária energia, entretendo e assustando a audiência, quando
representam personagens do mundo dos espíritos e dos mortos.
O Gule Wamkulu originou-se no grande Império Chewa no século XVII. Apesar dos esforços dos missionários cristãos para banir
esta prática, ela conseguiu sobreviver sob o domínio colonial Britânico ao adoptar alguns aspectos do cristianismo. Como
consequência os homens Chewa tendem a ser membros da igreja Cristã ao mesmo tempo que pertencem à sociedade Nyau.
Entretanto as apresentações do Gule Wamkulu vão gradualmente perdendo sua função original e significados, reduzindo-se a
entretenimento para turistas ou com propósitos políticos.
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Paquistão - Azerbaijão – Índia – Iran – Quirguistão – Turquia – Uzbequistão
Novruz, Nowrouz, Nooruz, Navruz, Nauroz, Nevruz – em nome de deus
http://www.youtube.com/watch?v=7oStQAMM7WU&feature=player_embedded
Novruz, Nowrouz, Nooruz, Navruz, Nauroz or Nevruz marca o Ano Novo e o começo da primavera em toda a extensão de uma
vasta área geográfica que cobre o Paquistão, Azerbaijão, Índia, Irão, Quirguistão, Turquia e Uzbequistão. É celebrado todos os
anos no dia 21 de Março, uma data originalmente determinada por cálculos astronómicos, O Novruz está associado a várias
tradições locais, tais como a evocação do Jamshid, um mitológico rei do Irão, bem como outros numerosos contos e lendas. Os
ritos que acompanham as festividades variam de local para local, e podem ir desde se saltar sobre fogueiras ou riachos no Irão, até
andar na corda bamba, ou distribuir velas acesas pelas portas das casas, ou realizar corridas de cavalos, ou promover rondas de
luta-livre como a que se pratica no Quirguistão. Danças e canções são comuns em quase todas as regiões, como são as semisagradas refeições familiares ou públicas. As crianças são as primeiras beneficiárias das festividades e participam de muitas das
actividades. As mulheres desempenham um papel primordial na organização e na passagem das tradições do Novruz. Esta tradição
promove os valores da paz e da solidariedade entre gerações e no seio das famílias, como também a reconciliação e a boa
vizinhança, contribuindo assim para a diversidade cultural e a amizade entre os povos das diversas comunidades.
República Checa
Slovácko verbŭnk, a dança dos recrutas
http://www.youtube.com/watch?v=lI5l4p7dQzY&feature=player_embedded
O Slovácko verbŭnk é uma dança improvisada realizada por rapazes e homens que vivem na Morávia do Sul e em Zlín, que são
distritos da República Checa. O nome da dança vem do termo alemão Werbung (transformado em verbŭnk), que significa
recrutamento, e reflete suas origens históricas no recrutamento de dançarinos e soldados para os exércitos do século XVIII. Hoje
em dia são grupos folclóricos que dançam em muitas das aldeias da região Slovácko, em geral em conexão com festividades como
a celebração comunitária anual chamada Hody.
O Slovácko verbŭnk é dançado ao som da música chamada Novas Canções Húngaras, e usualmente consistem de três partes. No
início é cantada uma canção, seguida por duas partes dançadas, uma mais lenta e outra mais rápidas. A dança não se prende a uma
coreografia muito precisa, mas é antes marcada por grande espontaneidade, improvisação e expressão individual, incluindo um
concurso de saltos. É normalmente dançada por grupos, com cada dançarino interpretando a dança à sua própria maneira. Existem
seis diferentes tipos de Slovácko verbŭnk regionais, que contribuem para a grande variedade de figuras coreográficas e ritmos.
Esses tipos evoluíram no início do século XX e continuam a modificar-se. As danças são um component essencial dos costumes
locais, cerimónias e celebrações e são exibidas nos concursos anuais para melhor dançarino no Festival Internacional de Folclore
em Strážnice.
A migração dos jovens e mais velhos para os centros urbanos é considerada o maior risco para a viabilidade dos diferentes tipos
de Slovácko verbŭnk regionais. Outro risco é a dependência dos apoios financeiros, uma vez que os trajes e os instrumentos
musicais tradicionais são feitos à mão e requerem constante manutenção.
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Procissões e Máscaras Shrovetide na área de Hlinecko
http://www.youtube.com/watch?v=3TUC5KBXCTA&feature=player_embedded
As procissões Shrovetide acontecem na cidade de Hlinsko e seis vilas periféricas na área Hlinecko na Boémia de Leste na
República Checa. Esse carnaval popular acontece no final do inverno, durante o Shrovetide – o período logo antes da Quaresma.
Homens e rapazes da aldeia, usando máscaras que representam personagens tradicionais (as mascaras dos meninos e rapazes são
vermelhas e dos homens casados são pretas) vão de porta em porta pela aldeia, acompanhados por uma banda de metais. A
procissão para em cada casa e quatro realizam, com a permissão dos donos da casa, uma dança ritual que tenciona assegurar as
boas colheitas e prosperidade para a família. Em contrapartida os mascarados recebem presentes e cobram uma remuneração. Um
ritual que simboliza a “Matança da Égua” acontece depois da última casa visitada. No ritual a égua é condenada por alegados
pecados cometidos, e são lidos os tópicos bem-humorados do testamento da égua. Após a execução a égua é revivida com álcool,
dando-se início à dança enquanto os mascarados brincam com os espectadores. A procissão Shrovetide – banida pela Igreja
Católica nos séculos XVIII e XIX, e pelo governo socialista no século XX – desempenha importante papel assegurando a coesão
da comunidade da aldeia. Jovens e crianças ajudam com as preparações e os pais copiam as máscaras tradicionais para seus filhos.
Romenia
La Doïna
http://www.youtube.com/watch?v=0260RBOsCOY&feature=player_embedded
Conhecido por diferentes nomes através da Roménia, a doina é um cântico lírico e solene, que é improvisado e espontâneo. Como
a essência do folclore Romeno, até 1900 este era o único gênero musical em muitas regiões do país. Tecnicamente, a doina pode
ser cantada em qualquer contexto (ao ar livre, em casa, no trabalho, durante velórios), sempre a solo, com ou sem
acompanhamento instrumental (que pode incluir a flauta recta, das gaitas de foles e até instrumentos improvisados). Existem
muitas variantes regionais. A doina tem uma paleta expressiva e temática muito vasta que pode abranger alegria, tristeza, solidão,
conflitos sociais, ataques de bandidos, histórias de amor, etc. Expressando como faz, as qualidades pessoais, emoções e
virtuosismo do criador intérprete, a doina também tem um papel social importante na medida em que favorece uma expressão
catártica que fortalece a solidariedade. Ela também favorece o aparecimento de outros géneros artísticos (danças). Hoje em dia a
doina está em risco por causa da interrupção da linha de transmissão de pai para filho. Embora cerca de quinze pessoas tenham
sido identificadas como representantes dos vários tipos de doina, é preciso restaurar um ambiente que favoreça a apresentação e
transmissão dessa tradição para assegurar que esta importante peça de património cultural imaterial Romena continue a florescer.
Căluş Ritual
http://www.youtube.com/watch?v=g7QdQ8R5BUU&feature=player_embedded
Representada na região Olt ao sul da Roménia, a dança ritual Căluş também formava parte do património cultural dos Vlachs of
Bulgária e Sérvia. Embora as mais antigas músicas documentadas usadas nessa dança sejam do século XVII, o ritual
provavelmente deriva de mais antigos rituais de fertilidade e purificação, que usavam o símbolo do cavalo, que era adorado como
uma incorporação do sol. O nome do ritual deriva do Căluş, a peça de madeira no freio dos cavalos. O festival do ritual Căluş
inclui uma série de jogos, sátiras, canções e danças, e era representado por um corpo de dança totalmente masculino de bailarinos
Căluşari que eram acompanhados por dois violinos e um acordeão. Os rapazes eram iniciados no ritual por um mestre (vataf) que
havia herdado o conhecimento dos encantamentos mágicos (descântece) e os passos de dança dos seus predecessores. Grupos de
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dançarinos Căluşari, usando chapéus coloridos, camisas bordadas e calças adornadas com guizos, dançam coreografias complexas,
que combinam o bater de pés e dos calcanhares, saltos e balançar das pernas.
De acordo com a tradição, grupos de cantores e dançarinos Căluşari, que se pensava terem também poderes mágicos de cura, iam
de casa em casa prometendo boa saúde e prosperidade aos aldeões.
Até hoje os Căluşari encontram-se para celebrar suas proezas de dança e música no Domingo de Pentecostes. Testemunho de uma
rica diversidade cultural Roménia, o ritual do Căluş é também largamente promovido em festivais folclóricos tais como o festival
de Caracal na região de Olt, tendo-se tornado um verdadeiro símbolo nacional.
Rússia
Olonkho, o Épico Heróico de Yakut
http://www.youtube.com/watch?v=Lo_YgFu-OsA&feature=player_embedded#at=22
Uma das mais antigas artes épicas dos povos Turcos, o termo Olonkho refere-se às tradições épicas Yakut completas, bem como
ao seu épico central. È ainda hoje representado, incidentalmente, na República Sakha, situada no extreme leste da Federação
Russa.
Seus contos poéticos, que tem um comprimento variável de 10 a 15.000 versos, são representadas pelos cantores e contadores de
histórias Olonkho em duas partes: uma parte cantada em versos alternados, com uma parte em prosa composta de recitativos.
Além de ter que possuir habilidades de actor e cantor, o narrador deve também ser um mestre da eloquência e da improvisação
poética. O épico é composto de inúmeras lendas sobre antigos guerreiros, deidades, espíritos e animais, mas também conta
eventos contemporâneos, tais como a desintegração da sociedade nómada.
Como cada comunidade tinha o seu próprio narrador, cada um com seu rico repertório, circularam inúmeras versões do Olonkho.
A tradição desenvolveu-se no contexto familiar, para entretenimento e como ferramenta para a educação. Reflectindo as crenças
Yakut, essa tradição também é testemunha das várias formas de vida de uma pequena nação que lutava pela sobrevivência em
tempos de agitação política e sob condições geográficas e climatéricas muito difíceis.
As mudanças políticas e tecnológicas da Rússia do século XX ameaçaram a existência desta tradição épica na República Sakha.
Embora tenha existido um crescente interesse no Olonkho desde os anos da perestroika, esta tradição encontra-se ameaçada dado
o pequeno número de praticantes, todos eles já em avançadas idades.
O Espaço Cultural e a Cultura Oral de Semeiskie
http://www.youtube.com/watch?v=Qq8zDnzkHfA&feature=player_embedded
As comunidades Semeiskie são formadas por grupos dos chamados Antigos Crentes, uma comunidade confessional que se origina
nos tempos da Instigação da Igreja Ortodoxa Russa, no século XVII. Sua história é marcada pela repressão e o exílio. Durante o
reino de Catarina a Grande, os crentes do antigo sistema de várias regiões da Rússia tiveram que mudar-se para a região
Transbaikal na Sibéria, onde ainda vivem. Nessa área remota, eles vem preservando elementos das suas respectivas culturas,
formando uma identidade grupal distinta.
O espaço cultural dos Semeiskie, a leste do Lago Baikal, representa um remanescente de expressões culturais do período anterior
ao século XVII na Rússia. A comunidade, com um total de cerca de 200.000 indivíduos, fala um dialecto do sul da Rússia, que
inclui termos emprestados da língua Bielorrussa, do Ucraniano e do Bouryat. Os Semeiskie ainda praticam rituais ortodoxos
antigos e perpetuam suas actividades diárias principalmente baseadas no culto da família – o termo Semeskie refere-se àqueles que
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vivem como uma família – e em forte princípios morais. Caracterizam-se também por suas vestimentas, artesanato, casas,
pinturas, ornamentos e alimentação, e também a sua música. São também notáveis seus coros polifónicos, que apresentam canções
tradicionais em celebrações familiares e festivais populares. Essas canções são conhecidas como cantorias arrastadas, e tem raízes
na música litúrgica Russa da Idade Média.
Marginalizados até o final do período Soviético, as comunidades tiveram que adaptar-se às transformações socioeconómicas,
incluindo as pressões das novas tecnologias que tendem a padronizar alguns elementos de sua cultura. A população de Antigos
Crentes, que é vista como depositários das tradições, está em declínio. Entretanto um real desejo de proteger este patrimônio é
claro em várias iniciativas, em particular com a criação do Centro Cultural Semeiskie na vila de Tarbagatay.
Viet Nam
Cantares Ca trù
http://www.youtube.com/watch?v=XrzGeo8GQX8&feature=player_embedded
Ca trù é uma forma complexa de poesia cantada encontrada no norte do Vietname, que utiliza versos escritos nas formas poéticas
tradicionais Vietnamitas. Os grupos Ca trù são formados por três elementos: uma cantora que usa técnicas de respiração e vibrato
para criar sons ornamentais únicos enquanto toca castanholas ou bate numa caixa de Madeira, e dois instrumentistas que
produzem tons graves a partir de um instrumento de três cordas, e sons mais fortes a partir de um tambor de louvor. Algumas
apresentações de Ca trù também incluem danças. As diferentes formas do Ca trù cumprem diferentes propósitos sociais, que
incluem o canto de adoração, o canto de entretenimento, o canto especialmente apresentado no palácio real, e o canto de
competição. O Ca trù tem cinquenta e seis formas musicais ou melodias, cada uma das quais é chamada de cách. Os artistas
folclóricos transmitem as músicas e poemas do Ca trù oralmente e ensinando as técnicas de execução. Isso costumava acontecer
apenas dentro das famílias de intérpretes do género, mas hoje em dia é ensinado a quem quiser aprender. As contínuas guerras e
insuficiente divulgação levaram ao desuso do Ca trù durante o século XX. Embora os artistas façam um grande esforço para
transmitir o repertório para as novas gerações, o Ca trù ainda se encontra sob risco de extinção dado o número decrescente de
praticantes.
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