Moda e Sustentabilidade – reuso de jeans para o desenvolvimento
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Moda e Sustentabilidade – reuso de jeans para o desenvolvimento
20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil Moda e Sustentabilidade – reuso de jeans para o desenvolvimento de produtos comerciais com valor agregado do Design Santos Silva, C.M.1 1 Universidade Federal do Piauí – UFPI - Piauí – Brasil – 01534-020 – [email protected] Resumo O presente artigo resulta do estudo abordado na disciplina Design de Detalhes e Acessórios à luz do Desenvolvimento Sustentável. A conscientização dos problemas ambientais tem levado à orientação para novos comportamentos sociais. É premente a necessidade de uma nova educação, com posturas dentro da nova ética: a sustentabilidade. Assim, realizam-se projetos em diferentes âmbitos com o fim de minimizar o impacto ambiental, e igualmente, na esfera da Moda. Não obstante, ser paradoxal Moda no cenário da Sustentabilidade, aquela que é atrelada ao consumismo, tem na sua produção elevadíssimo custo à natureza, como a utilização demasiada de matérias-primas; elevado gasto energético na produção dos produtos; e a geração de resíduos químicos e sólidos depositados no meio ambiente, contaminando-o, confirma a discrepância das duas áreas. Contudo, uma pode favorecer a outra. Moda, enquanto fenômeno exerce um poder de influência sobre a sociedade, portanto, pode ajudar a manter a sustentabilidade em toda a sua dimensão e, moda, enquanto produto, necessita dos alicerces da Sustentabilidade para fabricar produtos ecologicamente corretos, ajudando dessa forma, uma postura mais consciente. Neste trabalho, o Design bem projetado no reuso do jeans, vem tornar-se uma ferramenta de sustentabilidade. O Design é um ‘agente transformador’, posto que tem um papel fundamental na transformação de materiais em produtos. Do mesmo modo, ele tem o poder de transformar também os valores de uma sociedade, pois além de determinar funções estéticas, determina também funções simbólicas, quer seja em produtos, quer seja em serviços ao tratar de novidades que afetam o modo de vida dos consumidores. Logo, o Design dever contribuir para a conscientização da sociedade voltada às questões ambientais ao projetar de forma a minimizar os impactos ao ambiente, o que pode e deve acontecer através de objetos concebidos com o propósito de tecer uma nova relação entre o homem e a natureza. Palavras chaves: Design de acessórios, jeans, Moda e Sustentabilidade. Abstract This present article results from a study approached in the discipline Details and Accessories Design enlightened by the Sustainable Development. The awareness on environmental problems has brought guidance to new social behaviors. It is pressing the need of a new education, with postures according to the new ethic: the sustainability. This way, projects are made in different ambits on purpose to minimize the environmental impact, and also, in the sphere of Fashion. Nevertheless, it is paradoxal Fashion on the sustainability scenery, the one which is linked to the consumption has on its own production really high costs on the environment, with the overuse of raw material, high energetic cost on the products manufacturing; and the generation of chemical residues 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil and solids laid up on the environment, infecting it, confirms the discrepancy of both areas. However, they can be supported by one another. Fashion, as a phenomenon has a great influential power on society, thus, it can help to keep the sustainability in all of its dimension and, fashion, as a product, needs the foundation given by Sustainability to make products in a right ecologically manner, helping to develop a more aware manner. In this paper, the well-projected Design on the reuse of jeans turns itself in a tool of sustainability. The Design is a changing agent, once it has a major role on the transformation of materials into products. On the same way, it also has the power to transform the values of a society, besides setting aesthetic functions, it also sets symbolical functions, either on products or on services when it comes to deal with news that have an effect on the consumers lifestyle. Soon, the Design should contribute on warning the society about environmental questions on projecting a way to minimize the impacts on the environment, what can and must happen through the conceived objects on purpose to create a new relation between men and the nature. Keywords: Accessories Design, Jeans, Fashion and Sustainability. Introdução Moda e Sustentabilidade - tema que, dado o seu caráter paradoxal na relação desenvolvimento versus meio ambiente, torna-se instigante e faz da pesquisa uma condição indeclinável na perspectiva do bom equilíbrio desse binômio; exatamente por ser paradoxal, desafia a busca de convergência entre os campos, no contexto sócioeconômico. Moda1, tem na sua lógica, a novidade e a obsolescência planejada e o incentivo ao consumismo. Para produzir moda 2 faz-se necessário retirar da natureza praticamente toda a matéria-prima para a frabricação de seu produtos, que rapidamente são descartados e, quando dos processos de manufatura, consome-se elevada quantidade de energia e descarta-se severas doses de químicos poluindo o meio ambiente. Desse forma, a moda agride a natureza em todo o seu processo de produção. Portanto, produzi-la nos moldes atuais é tudo que a sustentabilidade condena. No entanto, a sustentabilidade deve servir de base com seus fundamentos para ajudar na produção desses arterfatos de maneira menos danosa, pois o ser humano não vai deixar de consumir moda3. Aqui, enveredar-se-ia por outras esferas do conhecimento, onde os campos da Psicologia, Sociologia, Semiótica, dentre outros, trabalham e argurmentam a 1 Grifo nosso - Moda – com eme maiúsculo nos referimos ao fenômeno de comportamento. Grifo nosso - moda – com eme minúsculo nos referimos aos produtos: artefactos que podem ser vestuário e seus acessórios (bolsas, sapatos, joias, adornos em geral). 3 Grifo nosso. 2 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil ‘necessidade’ de Moda/moda para a individuação4 dos sujeitos. A moda diz respeito a uma questão essencial para nossos contemporâneos, talvez a mais essencial de todas: a sua identidade. Sendo assim, interpretar este fenômeno como sinal suplementar do materialismo do Ocidente apenas leva a torná-lo incompreensível.5 Todavia, esse conteúdo não é o objetivo deste trabalho, mas que pode explicar o porquê do consumo exagerado de moda. O consumo é essencial à vida. Necessitamos de alimentação, habitação, saneamento, instrução, energia, dentre outros, para que possamos “gozar de dignidade, auto-estima, respeito e outros valores fundamentais.” 6 Portanto, o consumo faz parte crescimento, do progresso de cada ser humano. O consumo contribui claramente para o desenvolvimento humano, quando aumenta suas capacidades, sem afetar adversamente o bem-estar coletivo, quando é tão favorável para as gerações futuras como para as presentes, quando respeita a capacidade de suporte do planeta e quando encoraja a emergência de comunidades dinâmicas e criativas .7 A compreensão do consumo na contemporâneidade está longe de ser alcançada. Existe uma desigualdade muito grande entre as nações, em que, países desenvolvidos “equivalente a 20% da população mundial, totalizam 86% das despesas de consumo privado, e os 20% mais pobres, um minúsculo 1,3%%.” 8 Ainda sobre os países, a título de exemplo, “o quinto mais rico da população consome 45% de toda a carne e peixe (o quinto mais pobre, 5%). O quinto mais rico […] “tem 74% de todas as linhas telefônicas (o quinto mais pobre 1,5%)9, […] e “possui 87% da frota de veículos a nível mundial (o quinto mais pobre, menos de 1%).” 10 Ademais, os efeitos da globalização, com razoável nível de aceitabilidade, tem contribuido para a: 4 Individuação é o termo que Carl Jung criou para designar o processo de autoconscientização e auto-realização do indivíduo no sentido do conhecimento do seu verdadeiro eu e da concretização da personalidade total. Individuar-se significa completar-se, tornar-se uno e inteiro, sem divisões internas, um “indivíduo”, unido em si mesmo e com toda a humanidade. Um processo holístico por natureza, tão inerente à espécie e tão importante que pode-se dizer que o futuro da humanidade depende directamente da quantidade de pessoas que conseguirem individuar-se. (SANTOS SILVA, 2009, p. 3). 5 ERNER, 2005 apud BERLIM, 2010, p. 26. 6 FELDMANN, 2008, apud TRIGUEIRO, 2008, p. 148. 7 Relatório de Desenvolvimento Humano/PNUD, 1999. P.38 apud TRIGUEIRO, 2008, p.148. 8 Ibid., p. 148. 9 Ibid., p. 148. 10 Ibid., p. 148. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil “universalização”11 de estilos de vida, cartacterizada pela fixação de uma cultura baseada em pesquisa de mercado, que se concretiza através de objetos como vídeos, músicas, automóveis, jeans, enfim toda uma parafernália voltada para atender desejos e necessidades criados por uma sociedade que depende dessa economia para continuar existindo (FELDMAN, 2008, apud TRIGUEIRO, 2008, p. 148-149). Isto só evidencia o quão complexo é o consumo na pós-modernidade. Aliás, complexidade é um termo que pode ser usado também para ajudar na compreensão do fenômeno Moda e da dimensão de Sustentabilidade. Nessas esferas antagônicas encontramos algo em comum, o termo complexo, que será abordado mais adiante, sob a perspectiva do filósofo e sociólogo Edgar Morin. Na mesma direção de complexidade, podemos incluir um produto que é tão ‘querido’ pelo consumidor contemporâneo: o jeans. Este, é o produto do vestuário de moda mais hegemônico dos últimos tempos, sua permanência já dura mais de 150 anos. Sua capacidade de se reiventar vem confirmar esta supremacia de tal maneira que nenhum outro produto conseguiu sobreviver às diversas mudanças de estilos e socioculturais. Como infere Catoira (2007), o jeans, é uma roupa que vai além da moda, “ultrapassa a idade, a religião, a sociedade, a cultura sem perder a função original de cobrir o corpo.”12 Como artigo de consumo, o jeans, tem grande aceitação no mercado, visto que veste todos os segmentos – feminino, masculino e infantil, como também, todas as classes sociais. Sem distinção de classe e de gênero, é considerado um produto democrático, pois veste da massa à elite e, ainda, vai além das fronteiras do vestuário visto que a sua matéria-prima, o denim, também é utilizado na fabricação de acessórios tais quais: bolsas, calçados, joias, como também, na decoração de interiores, dentre outros. É importante esclarecer que, jeans13 são peças confecionadas a partir do tecido denim14. Este, tem o fio urdume na cor azul intenso, tinto com o corante índigo 15 e sua trama é de algodão na cor natural, o que o caracteriza muito bem, distinguindo o direito do tecido que é sempre mais escuro do que o avesso. O corante índigo não tem boa afinidade quando do tingimento dos fios, pois tem baixa solidez quando exposto à luz e ao atrito, por isto desbota facilmente. Em geral, o padrão do tecido é em sarja, mas 11 Grifo do autor CATOIRA, 2006, p. 11. 13 Jeans – acredita-se que se trata do sotaque francês para o nome - Genoese ou Genes - calças dos marinheiros italianos da cidade Genova (SANTOS SILVA, 2009, p. 66). 14 Denim – significa a corruptela de Serge De + Nimes – cidade francesa cujo tecido vestia os marinhos de Gênova . Ibid., p. 66. 15 Índigo - Corante a partir de plantas orientais – Indigosfera e Isati tinctoris. Sintetizado pela BASF desde 1897. Ibid., p. 66. 12 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil pode ser fabricado em outras variedades, tela e seus derivados, entre outras padronagens de tecido plano. Sua gramatura é dada em oz - onças16 . Existem várias gramaturas, porém a mais comercial é 12oz para calças podendo ir até 14oz. O tecido em geral é 100% CO, pode também apresentar-se com fibra elastômera – de 1% a 2%, muito aceito pelo mercado, é possível vir na sua composição fibra de poliéster ou poliamida, além de fibra de lyocell17 e de seda. A grande aceitação do jeans, por um público bem diversificado, legitima a quantidade de metros fabricados pelas indústrias têxteis brasileiras que coloca o “Brasil como 2º produtor e 3º consumidor”18 no ranking mundial do tecido denim, sua matériaprima. Esse fato se deve a “nossa produção de algodão, que é, em média, de 1,5 milhão de toneladas anuais.”19 Como nos informa Vera Santiago e Nathália Chanton (2014), da ADS Comunicação Corporativa, o jeans, é uma peça-chave em qualquer guarda-roupa, pois permite ínumeras combinações e se faz presente durante todo o ano na tendência de moda de qualquer estação. As autoras nos informa que o jeans: É o segmento que mais cresceu dentre todos os artigos de vestuário produzidos no país, nos últimos anos. De 2008 a 2012 a produção de jeanswear no Brasil apresentou forte crescimento em volumes de peças confeccionadas, em ritmo superior a 6% ao ano, o que gerou expansão acumulada de 27% no período. “A partir desses dados foi possível concluir que esse crescimento superou a expansão da produção de vestuário em geral no País, que acumulou, no mesmo período, expansão acumulada de 4,1% em peças, ou 1% ao ano”, afirma Marcelo Prado, diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), especializado em pesquisas e análises do setor têxtil e de vestuário, que acaba de lançar um estudo inédito sobre o jeanswear intitulado “Estudo do Mercado Potencial de Jeanswear no Brasil.20 Com efeito, o jeans é um produto perene, transitou por vários segmentos nos quatro cantos do mundo. Começou sua trajetória pelas minas de ouro estadunidenses, como roupa de trabalho, em 1853. No século XX, vestiu vaqueiros, ferroviários, dentre outros trabalhadores. Foi roupa de artistas e intelectuais, foi símbolo de rebeldia vestindo os manifestantes da contracultura. Tornou-se uniforme da ideologia ‘paz e amor’, vestiu 16 OZ - lê-se onças (do italiano onzas) – peso de medida inglesa equivalente a 28,34 gramas. 1m2 de denim 12 oz = 28,34X12 resulta em 340,08 g. (OLIVEIRA, 2008, p.24). 17 Lyocell – fibra artificial fabricada a partir de madeira reflorestada. Utiliza químico biodegrdável. 18 BERLIM, 2010, p. 28. Ibid., p.28. Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI). 19 20 http://www.maxpressnet.com.br/Conteudo/1,629183,IEMI_lanca_estudo_com_dados_ineditos_do_segmento_de_je answear_no_Brasil_,629183,5.htm Acesso 24.10.13. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil várias tribos, as massas, chefes de Estado. Subiu às passarelas, adornou a nobreza e, inclusive, a realeza. Mesmo com uma aparência de “uniforme”, o jeans, tem o seu espaço garantido nos guarda-fatos, pois essa peça de roupa carrega uma simbologia, é um signo. O jeans, actualmente, é mais que um produto, é uma cultura, é identidade, é sinónimo de juventude. A sua versatilidade é incólume, visto que ele está presente em vários ambientes ao vestir as pessoas em vários estilos. É democrático, veste todas as raças, de todos os credos. Nasceu na cultura ocidental, mas muitos jovens da cultura oriental já o adoptaram com a mesma paixão que os ocidentais. Portanto, é cosmopolita, pois sua “linguagem” é universal (SANTOS SILVA, 2009, p.68). Não obstante a grande aceitação pelo mercado consumidor, a fabricação do produto jeans passa por um grande fluxo produtivo o qual é bastante agressivo ao meio ambiente, o que justifica a reutilização desse produto. Problema de Pesquisa e Objetivo Desde a sua matéria-prima - o tecido denim, os artigos jeans, perfazem um longo caminho até a sua cormercialização. Segundo Kazaziam (2005, p. 61), cerca de 65 mil quilômetros21 são percorridos na obtenção dos componentes para a confecção de uma calça jeans até o dia de sua venda, gerando poluição local em cada uma das etapas de sua fabricação. “Assim, em Tsumeb, na Namíbia, a extração do cobre que serve à fabricação dos rebites é realizada em condições tão deploráveis que provoca uma acidificação por doenças respiratórias.” Importa informar que tanto a extração de matéria-prima, quanto ao uso da mão de obra em países em desenvolvimento é feito de forma insustentável - explorando a natureza de forma injusta, quer seja nos recursos naturais, quer seja na utilização do capital humano, na qual se dá de maneira análoga à escrava (BERLIM, 2010; FLETCHER, 2011; LEE, 2009). O panorama do trabalho em subcondições no Brasil é dramático. Embora ainda não figuremos nas pesquisas, vem crescendo a localização de pequena e médias confecções movidas por trabalhadores emigrantes (colombianos, chilenos e chineses) trabalhando em subcondições e sem 21 1. Benim - Cultura do algodão para os fios/tecido; 2. Alemanha - fabricação do corante índigo; 3. Irlanda do Norte - fabricação do fio; 4. Espanha - tintura do fio; 5. Itália - fabricação do tecido; 6. França - produção de fitas em fibras de poliéster para os zíperes; 7. Japão - material metálico paras os zíperes e fibra de poliéster para o fio; 8. Paquistão - cultura de algodão para os bolsos; 9.Tunísia confecção das calças jeans; 10. Turquia - pedra-pomes vulcânica utilizada nos desbote da cor; 11. Namíbia - cobre para os rebites e botões; 12. Austrália - zinco para os rebites e botões; 13. Inglaterra - venda dos jeans. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil nenhum contrato legal de trabalho.22 Ante o exposto, o presente trabalho tem como principal objetivo apresentar produtos de moda estritamente comerciais desenvolvidos a partir do reaproveitamento de peças jeans obsoletas. Revisão Bibliográfica As catástofes ambientais jamais foram tão difundidas. Percebemos que desde o início do século, o mundo vem passando por um importante processo de reorganização e, as questões ambientais têm sido o escopo, o foco da atenções. Preocupados com o caos em que o planeta se encontra, os povos, por meio de algumas ações/medidas tentam resgatar a relação da sociedade com a natureza. Estamos em plena Era Planetária – “onde tudo deve contribuir à formação da consciência humanista e ética de pertencer à humanidade, que deve ser completada pela consciência do caracter de matriz que tem a Terra para a vida e, por sua vez, daquele que tem a vida para a humanidade.”23 Entretanto, as inquietações com as questões ambientais vêm de longe. Logo após a 2ª Grande Guerra, a Humanidade mostrou a preocupação com a sua capacidade tecno-científica destrutiva ao usar a bomba atômica no ataque às cidades de Hiroshima (66 mil mortos) e Nagasaki (39 mil mortos).24 De forma crítica, bem enfatizada para a época, as catástrofes ambientais foram anunciadas ainda na década de 50, onde se deu o processo de tomada de consciência ecológica com o caso na cidade de Minamata no Japão, que após a instalação da indústria Chisso Corporation, a baía foi envenenada. “A fábrica continuou poluindo, matando e deformando gente e animais por mais de dez anos.” 25 O lançamento dos livros The Limits of the Earth, de autoria de Osbon em 1953 e, Spring Silent, da bióloga Rachel Carson, em 1962, fazem um alerta sobre “crescimento populacional e contaminação química da água e do solo,”26 repectivamente. Entre numerosos outros 22 23 24 25 26 BERLIM, 2010, p. 30. MORIN, 2007, p. 20. BERNARDES E FERREIRA, 2007 apud CUNHA E GUERRA, 2007, p. 30. Ibid., p. 30. CUNHA E GUERRA, 2007 apud SANTOS DA SILVA E SILVA AGUIAR, 2013, p.2. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil casos ocorridos, não menos importante, surgiram várias ações 27 que resultaram em diversos documentos28 no sentido de alertarem às autoridades/chefes de Estado para a situação caótica em que a Humanidade estava imergindo. A começar pelo documento do Clube de Roma: A preocupação inicial com a questão ambiental dizia a respeito a um possível esgotamento futuro dos recursos naturais disponíveis para o crescimento econômico, mas a dinâmica da econômia, que aumentou a eficiência do uso e na prospecção dos recursos naturais, inclusive reduzindo o seu preço, dasautorizou previssões pessimistas como as feitas pelo Clube de Roma (BERSSEMAN, 2008 apud TRIGUEIRO, 2008, p. 93). No entanto, foi desde a Revolução Industrial, que a relação do homem com a natureza, transformou-se em uma relação predatória e de submissão sem precedentes. Cabe registrar que, mas precisamente, partiu das sociedades ocidentais –“sociedade capitalista, urbana, financeira, industrial, globalizada – em seu projeto de mundo baseado em um modelo desenvolvimentista.”29 A natureza que outrora fora respeitada, reverenciada, passou a ser explorada de forma brutal. E hoje, a Humanidade vê-se na condição de ‘algoz’ da própria existência. Tudo em nome da ciência, do conhecimento, do poder. Ainda em “1627, no romance intitulado Nova Atlântida, Francis Bacon, filósofo e chanceler da corte da Inglaterra, concebe o primeiro manifesto moderno para uma organização e socialização da ciência”30. O desejo de conhecer os mistérios da natureza, o porque das causas fez o homem avançar de forma violenta contra àquela que lhe dá sustento, que lhe permite a vida. Mas, a filosofia da época era investir em busca do saber. O pensamento naquele tempo era: “a ciência pode e deve ser organizada e aplicada à indústria para melhorar e transformar as condições de vida”31 e agiam com hostilidade e dominação. Para Bacon, a “natureza devia ser “perseguida em seus erros”32 e impôs a seguinte meta aos sábios, estes deveriam: “arrancar dela seus segredos, pela tortura se necessário.” 33 Consequentemente, as sociedade ocidentais investiram em busca de atingir o seu 27 Comissões – Comisão Brundtland, Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas; Conferências – Conferência de Estocolmo, Cúpula de Joanesburgo, Comitês e Convenão de Viena, dentre outros. 28 Relatórios, Dossiês que originaram as Agendas – Agenda 21 – Nacional e Local; Agenda Azul, Marron e Verde; Carta da Terra, dentre outros. 29 GUIMARÃES, 2007 apud SANTOS DA SILVA e SILVA AGUIAR, 2013, p. 6. 30 KAZAZIAN, 2005, p. 12. 31 Ibid., p. 12. 32 Ibid., p. 12. 33 Ibid., p. 12. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil fim. E obtiveram êxitos, muitos inventos, grandes descobertas, mas quase que, literalmente, estamos chegando ao fim – várias castástrofes assolaram e continuam a assolar à Terra, com isto, perderam-se muitas vidas humanas e de outras espécies tanto da fauna, quanto da flora; vários recursos naturais entraram em esgotamento, sabendo-se que alguns já se esgotaram, inclusive, espécies que jamais foram conhecidas/catalogadas. Assim, uma destruição irreparável do patrimônio natural em busca de conhecimento e poder sem se dar conta das questões relacionadas ao meio ambiente - perda da biodiversidade, crescimento econômico desigual nos países do norte em relação aos países do sul, onde a pobreza extrema é alarmante, muitos sobrevivendo em condição sub-humana. Com relação à crise de biodiversidade, a situação ainda é mais grave. O desaparecimento de espécies nos afeta não só pela perda irreversível de recursos para a medicina, agricultura, etc., mas, principalmente, porque ignoramos a profundidade dos desequilíbrios ecológicos que poderão surgir frente à extinsão em massa de espécies que está em andamento. Considerando a gravidade da ameaça, é inaceitável a extensão da nossa ignorância atual. 34 O crescimento/conhecimento e o poder vieram a um preço bastante elevado. Admitamos que tanto a Ciência, quanto a Tecnologia, sem querer condená-las, foram as ‘ferramentas’35 do capitalismo, mola propulsora para nos colocar na situação atual. Todavia, com tamanho conhecimendo adquirido, espera-se que seja possível que a Ciência na busca do conhecimento e, a Tecnologia, na utilização/aplicação dessa Ciência, ambas, possam juntas ajudar a minimizar os malefícios causados ao planeta. Atualmente, as duas esferas obtiveram uma evolução sem igual, e hoje, as pesquisa têm se voltado para a busca de soluções que ajudem o homem tirar proveito da natureza de forma mais justa, sem explorá-la demasiadamente, Contudo, “controlar a produção daria também uma nova legitimidade à ciência”36. Como muita propriedade, Ibsen Gusmão Câmara, vice-almirante reformado, que se dedica aos estudos da natureza desde 1940, presidente da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação, entre outras atividades no Ibama e CNPq voltadas ao meio ambiente, nos informa que: A Tecnologia não é, em si, boa ou má; depende da utilização que dela se faz. Tenho dito, com plena razão, que o homem é extremamente capaz de 34 35 36 BRESSERMAN, 2008 apud TRIGUEIRO, 2008, p. 96. Grifo nosso. MORIN, 2007, p. 126. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil imaginar e gerar novas tecnologias, mas pouco sábio em sua aplicação. Esse pensamento sensato explica a existência de múltiplos problemas ambientais do mundo atual (CÂMARA, 2008 apud TRIGUEIRO, 2008, p. 161). A despeito de estarmos aprendendo a um custo alto, legado da ação antrópica, escontramo-nos, hoje, em um processo civilizatório. É premente o uso de uma consciência crítica, inteligente, de saber fazer uso da razão e da sensibilidade para tomar atitudes que minimizem e auxiliem a reverter alguns dos prejuízos causados por tamanha ambição, porque apesar de ser assustador, é verdadeiro afirmar que as nossas decisões do dia a dia37, podem estar compromentendo o futuro dos nossos filhos e netos, ao decidirmos a simples aquisição de produtos, o meio de transporte, o tipo de lazer, umas férias, dentre outras atividades habituais. O ponto de inflexão está no fato de que o resultado da ação da Humanidade, pela primeira vez, ameaça a sua condição de sobrevivância, e ela se vê obrigada a reconhecer seus próprios limites e a sua vulnerabilidade diante de uma realidade complexa, em relação à qual possui uma inegável interdependência (FELDMANN, 2008 apud TRIGUEIRO, 2008, p.146). Eis aqui um instante de reflexão: “a crise que vivemos, enquanto Humanidade, oferece uma oportunidade única de revisão de valores, de atitudes por ela praticados em todos os momentos, desde os atos mais simples do cotidiano, nos quais o consumo se insere.”38 Neste contexto, praticamente em todas as áreas de conhecimento, estão sendo desenvolvidas pesquisas e, tem se usado de esforços com o intuito de buscar a sustentabilidade do planeta. Amplamente propagada no mundo – no âmbito acadêmico, institucional e, na mídia, a sustentabilidade, nos últimos anos, tem protagonizado diferentes papéis e servido a interesses diversos. “Por ser um vocábulo polissêmico, tem se prestado a inspirar discursos políticos e ocupado o centro de debates envolvendo as mais distintas áreas do conhecimento.”39 Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável são termos comumente utilizados nos dias de hoje, e algumas vezes até confundidos. Entretanto, é oportuno esclarecer que conforme Silva e Mendes (2005) apud Santos Silva e Silva Aguiar (2013, p. 8) que: 37 Grifo nosso - significa dia após dia. Contudo, poderíamos usar também a expressão hifenizada dia-a-dia que equivale ao cotidiano, visto que devemos nos preocupar com as atitudes do cotidiano dia após dia. 38 FELDMAN, 2008 apud TRIGUEIRO, 2008, p. 156-157. 39 OMENA, SOUZA, SOARES, 2012 apud BITENCOURT, ALMEIDA E OMENA, 2012, p. 19. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil A relação entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável não é exatamente sinônima, porém, formada por um processo e um fim, no qual o primeiro consiste no desenvolvimento sustentável e, o segundo, na sustentabilidade. Para eles o desenvolvimento diz respeito ao modo como determinada atividade é realizada, ao meio que será utilizado, de forma a alcançar um determinado fim ou objetivo, a sustentabilidade. Nesse sentido, para se alcançar a sustentabilidade faz-se necessário desenvolver-se de forma sustentável. envolve a questão temporal, No entanto, “o conceito de sustentabilidade pois a sustentabilidade de um sistema só pode ser observada a partir da perspectiva futura, de ameaças e oportunidades.” 40 Cabe registrar que o termo sustentabilidade envolve dimensões como “social, cultural, ecológica, ambiental, territorial, econômica, política (nacional e internacional)” 41 “e institucional, entre outras. A sustentabilidade deve ser vislumbrada sob uma perspectiva sistêmica e interdependente,”42 conquanto, “poucos de nós tem noção da interdependência entre os nossos hábitos cotidianos e os recursos planetários.” 43 A exemplo, entre muitos outros que ocorrem na área da Moda, citamos um evento para ilustrar essa interdependência e as graves consequências que o desequilíbrio de um sistema pode acarretar. Trata-se do uso das penas púrpuras da Íbis, uma ave pernalta do vale do Nilo, ocorrido na Belle Époque: Para seguir a moda, os chapeleiros se entusiasmam com as penas púrpuras de reflexos ondulados da Íbis. Naturalmente ignoram que esse pássaro pertence uma cadeia alimentar que existe há muito tempo: a Íbis se alimenta de pequenos répteis, cuja a alimentação é composta por batráquios que, por sua vez, comen gafanhotos. Certamente, eles não imaginam que querendo satisfazer a mania fulgaz da capital francesa por essas penas vermelhas, vão acabar provocando fome no Egito. E de fato. Com a perseguuição da Íbis, cresce a população de répteis. Os répteis devoram as rãs, deixando os gafanhotos sem predador: os insentos vão destruir as culturas de cereais e espalhar a miséria entre os camponeses (KAZAZIAN, 2009, p. 10). Para compreender a dimensão ecológica, desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, devemos entender que nós somos parte da natureza e que todos os seres estão interligados como em um grande organismo. É preciso perceber, alcançar essa dimessão de interdependência, para assim podermos reavaliar nossas atitudes, nossos valores e estilos de vida e, dessa forma, conseguir interagir em equilíbrio com o ambiente, pois as questões ambientais são constituídas de realidades complexas. 40 41 42 43 BITTENCOURT, CARVALHO, BISPO, 2012 apud BITENCOURT, ALMEIDA, OMENA, 2012, p. 42. SACHS, 2008, p. 87. OMENA, SOUZA, SOARES, 2012 apud BITENCOURT, ALMEIDA, OMENA, 2012, p. 19-20. FELDMANN, 2008 apud TRIGUEIRO, 2008, p. 152. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil Morin (2007), defendendo a teoria da complexidade, nos ensina que o pensamento complexo é constituído de interconecções. Este novo paradigma tem a propriedade de religar partes que pareçam distintas, interliga-las para a compreensão do total, para “perceber o complexus – o tecido que junta o todo.”44 Segundo o autor, a Ciência criou uma metodologia fragmentária, decompondo a realidade em campos de estudos e, assim, fomos educados aprendendo a separar, a isolar as coisas. “A problemática ambiental tem a particularidade de ser tão ampla, e seus elementos estrarem tão interconectados, que sua delimitação se torna difícil.”45 Assim, “nada existe fora da relação. Tudo se relaciona com tudo em todos os pontos.”46 Por conseguinte, o pensamento complexo defende a interconexão, de forma não linear, mas cíclica homem-sociedade-natureza. Nesse contexto, em total consonância com o pensamento complexo, o Design, cujo campo trabalha multidisciplinaridade e numa lógica de: complexidade, transversalidade, interdisciplinaridade, tem competência para atuar de forma especial/sublime/justa, para contribuir com a sustentabilidade no desenvolvimento de novos produtos a partir do reaproveitamento de peças jeans. “Design is when designers design a design for the production of a design.”47 O Design, enquanto área, pode ser definido com uma atividade projetual na qual planeja e desenvolve produtos, processos e/ou serviços. Ou seja, determina as propriedades formais dos objetos, ou sequências de ações operacionais no caso de processos e/ou serviços. Design é também a configuração do produto, equivale ao resultado do projeto ainda em nível de instruções, aquilo que é entregue à produção tais quais: desenhos, modelos e protótipos. “É a própria estrutura, a composição de formas, cores, materiais e superfícies.”48 Aqui temos as funções estéticas e as simbólicas.”49 E, design também refere-se ao produto. “Tanto o design quanto a moda atuam na relação entre as esferas do objetivo e do subjetivo. Essas esferas contêm níveis diferenciados de complexidade conforme cada projeto e proposta e compõem a linguagem que constitui esses campos. ”50 Autores como Barthes (1999), Lobach (2000), Escorel (2004), dentre outros, “que refletem e discutem 44 MORIN, 1997, apud GUIMARÃES, 2007, p. 99. FOLADORI, 1999 apud GUIMARÃES, 2007, p. 96. 46 BOFF, 2000 apud GUIMARÃES, 2007, p. 88. 47 Design é quando designers projetam (1) um design (2) para a produção de um design (3). Sendo: (1) = Projeto; (2) = configuração do produto e (3) = produto – resultado da produção (MAGALHÃES, 2000, p17, 18, 19, 21). 48 MAGALHÃES, 2000, p. 19. 49 LOBACH, 2000, p. 64. 50 MOURA e CASTILHO, 2012, p 10-11. 45 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil design concordam que este campo se estabelece como linguagem, e seus objetos, sejam produtos informacionais ou de uso, são produções de linguagem.” 51 Conforme Moura e Castilho (2012, p. 10-11), a linguagem que constitui as áreas Moda e Design são: 1. Conceituais e referenciais: mote ou partido projetual (interferências criativas); 2. Objetivas, verbo-visuais, formais, estéticas, espaciais; 3. Funcionais, multifuncionalidade, acessibilidade, customização; 4. Bio fisiológicas: relação com o corpo, sinestesia entre sujeito e objeto, ergonomia; 5. Psicológicas: subjetividades, construção de identidades, emoção; 6. Sociológicas: sistemas políticos, econômicos e simbólicos (interferências contextuais);7.Ideológicas: culturais, filosóficas (interferências contextuais); 8.Tecnológicas: sistemas produtivos, materialidades; 9. Mercadológicas: sistemas de comercialização e consumo. Como se verifica, a partir das linguagens supracitadas, “o Design denota preocupação com a qualidade de nossas vidas hoje, e amanhã, pois trabalha pensando no ambiente dos anos futuros”52 e, […] “os produtos resultado do design dão forma a cultura material e imaterial, influenciam no nosso ambiente e nosso cotidiano.” 53 Portanto, o Design interliga o objeto, o homem e o ambiente. Nesse contexto, o Design vem como proposta para agregar valor na reutilização de peças jeans “pós-consumo”54 que irão para o descarte. “É nessa altura que o designer se distingue, porque seu papel pode ser transversal, integrador e dinâmico entre ecologia e concepção de produtos, inovações econômicas e tecnológicas, necessidades e novos hábitos.”55 Como enfatiza Kotler (2006) apud Santos Silva (2009, p. 65), “a inovação baseada no design multiplica o público-alvo de um determinado produto ou serviço ao atrair compradores sensíveis a novos estilos e diferentes posicionamentos”. Isto, pode ser visto como a mais-valia do Design para o Desenvolvimento Sustentável. No nosso projeto, o Design foi utilizado para o desenvolvimento de acessórios de moda de cunho comercial, tais quais: bolsas, calçados, roupas, bijuteirias, dentre outros, produzidos a partir de peças jeans em desuso. 51 52 53 54 55 Ibid., p. 10. FIELL, & FIELL, 2005 apud SILVA, 2009. p. 65. Ibid., p. 65. Termo usado pelo autores MANZINI E VEZOLLI, 2008, p.94, explicando o Ciclo de Vida do Sistema Produto. KAZAZIAN, 2005, p.27. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil Metodologia Inicialmente valeu-se de pesquisa bibliográfica para conhecer e compreender os problemas da questão ambiental e, dessa forma, poder contribuir com desenvolvimento sustentável. Posteriormente, definiu-se pela reutilização de peças de jeans fora de uso, que iriam para o descarte. A escolha pelo jeans se deu por esse produto ser desejado por um público abrangente, mas que tem na sua fabricação um forte agravante ambiental. Assim, a reutilização vem aumentar a vida útil do jeans. Colocando-nos na fase de descarte dentro do Life Cycle Design defendido por Manzini e Vezolli (2008), o designer é responsável por encontrar solução para tornar cíclico o desenvolvimento de produto. Na sequência utilizamo-nos da metodologia de Baxter(2000), para o desenvolvimento de projeto. O autor nos ensina que devemos seguir as etapas: identificação da oportunidade, projeto conceitual, geração de ideias, idealização e modelo. Na Identificação da Oportunidade – definimos por desenvolver um produto a partir do reaproveitamento, mas um produto estritamente comercial com valor agregado do Design, primando pelo conforto psicológico, ergonômico e tátil. No Projeto Conceitual – defendemos o design ético, buscando atender a necessidade de um consumidor consciente preocupado com a questão ambiental. O projeto foi individual, assim, a fase de Geração de Ideias, demandou mais tempo por ter orientação particular. A partir das ideias do aluno é que fomos direcionando-o a um caminho de acertos. Foi uma etapa de muitas descobertas – possibilidades e impossibilidades, o que a tornou muito rica, prazerosa e de muitas expectativas. Na fase da Idealização definimos então o shape do produto (após a pesquisa de tendências), em função dos materiais – da quantidade de jeans e outros tipos de tecidos e aviamentos para agregar valor, tais quais: renda, couro, miçangas, metais, zíperes, dentre outros. A etapa final, Modelo, deu-se à confecção/fabricação do produto. É oportuno enfatizar que a criação foi do aluno, mas a fabricação foi feita em centros de produção56, em função tanto do tipo de produto, sejam eles: bolsas - Fig.1 e Fig. 2; calçados – Fig.3; bijuterias – Fig.4; acessórios e roupa, quanto do tipo de matérias-primas, ambos, exigem equipamentos específicos. Contudo, o aluno acompanhou todo o processo de fabricação, interveio quando houve necessidade de tomar alguma decisão e, registrou todas as etapas dessa produção. 56 Grupos de pequenos fabricantes unidos por meio de Associações. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil Fig.1-Bolsa em jeans estonado bordada com miçangas Fonte: Acervo Autora Fig. 3 – Calçado jeans couro e strasses Fonte: Acervo Autora Fig. 2 - Bolsa em jeans escuro, renda e couro Fonte: Acervo Autora Fig. 4 - Bijuterias jeans com detalhes dourados Fonte: Acervo Autora Análise dos Resultados Discutir o tema sustentabilidade de forma atraente com o nosso aluno, além de desafiador é também muito interessante, sobretudo, esse aluno que ainda não chegou à disciplina de Ecodesign, que no nosso curso é ulterior e aborda mais enfaticamente conteúdos sobre o ambiente. A nosso favor, no início do semestre, tivemos na universidade uma excelente exposição intinerante da Fiocruz entitulada Nós no Mundo. Este momento de visita à exposição ajudou a sensibilizar os alunos acerca do problema ambiental, fazendo com 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil que eles manifestassem bastante interesse no nosso projeto. Esboçaram muito contentamento quando da escolha do jeans como matéria-prima, declarando o título da futura exposição de seus produtos - We love jeans. O que vem fortalecer o jeans como produto ‘querido’ e muito bem aceito pela cultura jovem. O jeans foi emblemático nesse projeto, pois ele fora ícone da cultura hippie nos anos 60/70. E, os hippies eram verdadeiros amantes da natureza, pregavam paz e amor ao universo. Quando da apresentação dos projetos, foi unânime o sentimento e os depoimentos dos alunos de poderem contribuir para o reaproveitamento de materiais alternativos no desenvolvimento de novos produtos de moda. Houve um misto de emoção e satisfação. Eles sentiram-se vaidosos e confiantes com a capacidade de criar produtos funcionais, estéticos, emocionais e simbólicos. Outro ganho, também muito importante foi a ‘afinação do discurso’ 57 dos alunos com o grupo de produção. Para que se consiga desenvolver produtos com eficência e eficácia, faz-se necessária a coesão da equipe. Nos processos de fabricação existem sempre dificuldades atreladas às técnicas. É preciso ter experiência para tomar a decisão certa e não inviabilizar a produção. Participando do processo de fabricação, os nossos alunos puderam vivênciar o chão de fábrica e tomar decisões pontuais; experiência rica que agregará valor à futura profissão. Conclusão No que concerne à Moda, o Brasil, é um país privilegiado em vários aspectos. Em aproximadamente 200 anos conseguimos possuir um parque industrial têxtil considerado um dos melhores no ranking mundial. Assim, nos colocamos na posição do quarto maior parque industrial de confecção têxtil do mundo. No Ocidente, somos o único país que possui a cadeia têxtil completa e, ainda, somos o segundo produtor e terceiro consumidor de jeans. É sabido que a indústria têxtil é considerada a terceira indústria, na geração de emprego e renda, fator de grande relevância econômica. Ademais, temos o maior número de Escolas de Moda do mundo. Somos um país de dimensão continental, com grande diversidade cultural. Podemos usufruir de todo esse privilégio desenvolvendo produtos de forma justa/correta carregados de valores culturais. Para tanto, faz-se necessário trabalhar a Educação Ambiental de forma mais enfática nos nossos cursos de Moda. Esta, que tem grande poder de expressão e 57 Grifo nosso. 20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil difusão, deve contribuir para a ampliação de informação e consciência das pessoas, na medida em que se coloca no mercado produtos com intensa carga de conteúdos simbólicos dentro da nova ética: a sustentabilidade. É premente usar a Moda para a disseminação de novos valores, certamente, ela pode ajudar na expansão da consciência ambiental. Bibliografia BARTHES, R. Sistema da Moda. 35ª ed. Lisboa: Edições 70. 1999. BAXTER, M. R. Projeto de Produto - guia prático para o design de novos produtos. 2ª ed. São Paulo: Editora Blucher, 2000. BERLIM, Lilyan. Moda e Sustentabilidade: uma reflexão necessária. São Paulo. Estação das Letras e Cores. 2012. BITENCOURT, D.V; ALMEIDA, R.N. de e OMENA, M. L.R. de A. (Org) Perspectiva de Sustentabilidade. São Cristovão: Editora UFS, 2012. CATORIA, Lu. Jeans, a roupa que transcende a moda. Aparecida – SP: Ideias & Letras, 2006. ESCOREL, Ana Luiza. O Efeito Multiplicador do Design. 3ª ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004. FLETCHER, Kate & GROSE, Linda. Moda & Sustentabilidade: design para mudança. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2011. CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. A questão ambiental: diferentes abordagens. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 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