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ISSN 2179-4413
Volume 4 / Número 1/ Jan/Mar – 2013
TERAPIA GÊNICA: TRATAMENTO COM INTRODUÇÃO DE MATERIAL
GENÉTICO
GENE THERAPY: TREATMENT WITH THE INTRODUCTION OF GENETIC
MATERIAL
Priscila Elaine de Carvalho SANTOS; Juciara Viegas GALVÃO; Iranilde do Nascimento
Silva ARAÚJO; Giselle Medeiros da Costa ONE
RESUMO: Na atualidade, a expectativa de curar doenças genéticas repousa sobre a
identificação de genes responsáveis por sua patogênese e sobre o avanço das
tecnologias de DNA recombinante, que permitem a manipulação do genoma de forma
cada vez mais eficiente e segura. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi aprofundar
o conhecimento sobre terapia gênica e sua utilização no tratamento de doenças. O
presente estudo foi do tipo bibliográfica com base em artigos científicos e livros
específicos da área. Observa-se que no Brasil, a realização de ensaios clínicos de
terapia gênica depende de aprovação prévia por comitês de ética locais e nacionais,
como a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Desta forma, afirma-se
que a Terapia Gênica ainda está dando os primeiros passos de uma longa caminhada.
Riscos existem, especialmente no que diz respeito aos efeitos adversos que podem
ocorrer no paciente, mas estudos e pesquisas têm avançado no sentido de aumentar a
segurança dos ensaios clínicos.
Palavras-Chave: Doenças Genéticas, Terapia Gênica, DNA Recombinante.
ABSTRACT: Currently, the expectation of cure genetic diseases rests on the
identification of genes responsible for its pathogenesis and the advancement of
recombinant DNA technologies that allow the manipulation of the genome of
increasingly efficient and safe manner. In this context, the aim of this study was to
deepen the knowledge of gene therapy and its use in treating diseases. This study was
the bibliographical based on scientific articles and books specific area. It is observed
that in Brazil, conducting clinical trials of gene therapy depends on prior approval of
local and national ethics committees, such as the National Research Ethics Commission
(CONEP). Thus, it is stated that Gene Therapy is still taking the first steps of a long
journey. There are risks, especially with regard to adverse effects that may occur in the
patient, but have advanced research and studies in order to improve the safety of
clinical trials.
Keywords: Genetic Diseases, Gene Therapy, Recombinant DNA.
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SANTOS, P. E. C.; GALVÃO, J. V.; ARAÚJO, I. N. S; ONE, G. M. C. Terapia gênica: tratamento com
introdução de material genético. Revista Brasileira de Informações Científicas. v. 4, n. 1, p. 32-36.
2013. ISSN 2179-4413.
ISSN 2179-4413
Volume 4 / Número 1/ Jan/Mar – 2013
1 INTRODUÇÃO
Fundada pelo monge Johann Gregor Mendel no século XIX, a genética obteve
grande evolução, conquistando um lugar de destaque entre as ciências. Recentemente,
no ano de 2000, foi completado o sequenciamento do genoma humano, um feito
grandioso que promete acelerar o progresso da biologia e da medicina do século XXI.
A expectativa de curar doenças genéticas repousa sobre a identificação de
genes responsáveis por sua patogênese e sobre o avanço das tecnologias de DNA
recombinante, ou “engenharia genética”, que permitem a manipulação do genoma de
forma cada vez mais eficiente e segura.
Terapia gênica é a introdução de genes nas células para o tratamento de
algumas doenças, especialmente as hereditárias. Ela consiste em identificar pelas
técnicas da biologia molecular, o gene com a enfermidade e visa suplementar com
alelos funcionais aqueles que são defeituosos.
Desta forma, o objetivo deste estudo foi aprofundar o conhecimento sobre
terapia gênica e sua utilização no tratamento de doenças.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi do tipo bibliográfica com base em artigos científicos e livros específicos
da área.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As terapias gênicas são procedimentos novos que ainda se encontram em fase
experimental. O conhecimento básico vem sendo adquirido em laboratórios de
pesquisa fundamental por meio de testes em modelos experimentais e ensaios préclínicos. Esses estudos validam o potencial de eficácia de uma estratégia terapêutica,
bem como permitem detectar potenciais riscos a seres humanos, antecipando
modificações dos vetores e outros componentes da estratégia terapêutica que
aumentem a segurança para uso humano. A pesquisa fundamental em terapia gênica é
intensa e crescente no mundo.
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SANTOS, P. E. C.; GALVÃO, J. V.; ARAÚJO, I. N. S; ONE, G. M. C. Terapia gênica: tratamento com
introdução de material genético. Revista Brasileira de Informações Científicas. v. 4, n. 1, p. 32-36.
2013. ISSN 2179-4413.
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Volume 4 / Número 1/ Jan/Mar – 2013
A realização de ensaios clínicos de terapia gênica depende de aprovação prévia
por comitês de ética locais e nacionais, como a Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (Conep) no Brasil ou a Food and Drug Administration (FDA) nos Estados
Unidos. No caso de terapia gênica, no Brasil tem a Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio) e nos Estados Unidos o National Institutes of Health (NIH),
chamado RAC (do inglês Recombinant DNA Advisory Committee), que devem autorizar
procedimentos envolvendo DNA recombinante. No entanto, diferentemente dos
Estados Unidos, ainda não existe no Brasil, regulamentação específica sobre terapia
gênica, a qual precisa, urgentemente, ser elaborada tanto para evitar o uso inadequado
das terapias quanto para controlar a produção e importação de insumos do exterior. No
momento, resta às autoridades sanitárias aplicar normas consagradas no exterior para
examinar eventuais pedidos de licença ou fiscalizar ensaios clínicos e eventuais
produtos de terapia gênica no país.
Em todo o mundo, até junho de 2010 haviam sido compilados cerca de 1.650
ensaios clínicos em terapia gênica na base de dados da revista Journal of Gene
Medicine.
A partir de 2005, começou a ser organizada no Brasil uma Rede de Terapia
Gênica. Essa rede congregou inicialmente 14 grupos de pesquisa de três Estados (Rio
de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul), dedicados à pesquisa na área de terapia
gênica e vacinas de DNA. Os estudos envolvem desenvolvimento de vetores virais,
pesquisa básica e testes pré-clínicos nas áreas de câncer, doenças genéticas, doenças
neurodegenerativas e vacinas de DNA para dengue, doença de Chagas, infecções por
estreptococos e câncer.
A primeira pesquisa com terapia genética foi autorizada em Ashanti DeSilva, de
4 anos de idade. Nascida com uma rara doença genética chamada Imunodeficiência
Combinada Grave. Os médicos recolheram glóbulos brancos do corpo da criança, e
cultivaram as células em laboratório. No segundo momento, inseriram o gene que
faltava nas células e reintroduziram os glóbulos brancos geneticamente modificados na
corrente sanguínea da paciente.
Exames de laboratório mostraram que a terapia fortaleceu o sistema imunológico
de Ashanti; ela parou de contrair resfriados recorrentes e pôde voltar a frequentar a
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SANTOS, P. E. C.; GALVÃO, J. V.; ARAÚJO, I. N. S; ONE, G. M. C. Terapia gênica: tratamento com
introdução de material genético. Revista Brasileira de Informações Científicas. v. 4, n. 1, p. 32-36.
2013. ISSN 2179-4413.
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escola. Esse procedimento não a curou; os leucócitos reintroduzidos só funcionaram
por poucos meses, e o processo teve de ser frequentemente repetido.
Um primeiro ensaio clínico de terapia gênica para revascularização miocárdica
com emprego de vetores plasmidiais contendo o gene do VEGF (Vascular Endothelial
Growth Factor), promovido conjuntamente pelo Instituto de Cardiologia do Rio Grande
do Sul, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul e pela Rede de
Terapia Gênica ocorreu em fevereiro de 2009 em Porto Alegre.
Em relação à forma de transferência do DNA, podem ser utilizados dois
procedimentos distintos para realizar a terapia gênica: in-vivo e ex-vivo.
Com os procedimentos da terapia gênica in-vivo, o DNA é transferido
diretamente para as células do paciente. Já nos procedimentos ex-vivo, o DNA é
transferido para células isoladas de um organismo crescidas em laboratório, onde são
modificadas e introduzidas no paciente.
Existe uma variedade de métodos diferentes para substituir ou reparar os genes
focados na terapia genética. O mais comum seria a inserção de um gene normal em
um local não específico no genoma, substituindo o problemático. Pode ser feito também
a recombinação por meio de troca de um gene defeituoso por outro sadio.
A entrada do DNA puro através da membrana plasmática de células eucariotes é
rara, podendo ser utilizado para fazer a inserção um carreador com vistas a facilitar a
entrada do DNA nas células vivas. Esse carreador é chamado de “vetor”. Os 3
principais vetores existentes em desenvolvimento são: plasmídeos, os vetores virais e
os
vetores
nanoestruturados:
os
Plasmídeos,
vetores
virais,
vetores
nanoestruturados.
Há ainda a vacina de DNA, onde o paciente recebe o gene que codifica uma
proteína típica do agente agressor, fazendo com que o organismo do paciente fabrique
permanentemente a proteína exógena, estimulando seu próprio sistema imune. Essas
vacinas tem a finalidade preventiva ou curativa, levando o sistema imune a atacar os
agressores já instalados no organismo.
Dentre as centenas de ensaios clínicos de terapia gênica já encerrados, a
maioria destinou-se a testar a segurança do procedimento. Dor ou inflamação leve no
local da injeção, febre baixa transitória, dor de cabeça passageira, sintomas
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SANTOS, P. E. C.; GALVÃO, J. V.; ARAÚJO, I. N. S; ONE, G. M. C. Terapia gênica: tratamento com
introdução de material genético. Revista Brasileira de Informações Científicas. v. 4, n. 1, p. 32-36.
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semelhantes à gripe e outros efeitos suaves são, em geral, toleráveis em vista do
potencial de tratamento de uma doença incurável.
Em 1999, um paciente morreu logo após a injeção de um vetor viral durante um
ensaio clínico de terapia gênica, vitimado por uma síndrome de resposta inflamatória
sistêmica causada pelo vetor adenoviral de primeira geração. Em ensaios clínicos mais
recentes, realizados na França e Inglaterra, de um total de 20 crianças abaixo de um
ano de idade submetidas à terapia gênica para síndrome de imunodeficiência
combinada severa ligada ao cromossomo X (SCID-XL), cinco desenvolveram
leucemias. Dessas, uma foi a óbito e quatro apresentaram remissão completa da
leucemia após quimioterapia. Exames feitos após o aparecimento das leucemias
revelaram que os vetores retrovirais utilizados em ambos os ensaios produziram
mutagênese insercional, ou seja, mutações produzidas pela intromissão do vetor no
DNA, rompendo a continuidade da sequência genética.
Os casos citados constituem graves exemplos efetivamente caracterizados como
efeitos adversos diretos da terapia gênica, tendo origem em características dos vetores
virais utilizados. Porém, a pesquisa fundamental, aliada à observação criteriosa dos
eventos associados ao tratamento e ao curso clínico dos efeitos colaterais, contribuiu
para avanços no desenho e produção de novos vetores, destinados a evitar tais efeitos
adversos.
No caso de vetores adenovirais, em contraposição à primeira geração de vetores
empregada no ensaio clínico que resultou no caso fatal de 1999, já estão disponíveis
vetores adenovirais de terceira geração, construídos com deleção completa de genes
virais e capazes de transdução gênica muito mais segura em seres humanos.
A Terapia Gênica ainda está dando os primeiros passos de uma longa
caminhada. Riscos existem, especialmente no que diz respeito aos efeitos adversos
que podem ocorrer no paciente, mas estudos e pesquisas têm avançado no sentido de
aumentar a segurança dos ensaios clínicos. É preciso também que os órgãos
governamentais competentes definam regras e parâmetros aos procedimentos, dando,
assim, maior segurança para a prática da terapia gênica.
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SANTOS, P. E. C.; GALVÃO, J. V.; ARAÚJO, I. N. S; ONE, G. M. C. Terapia gênica: tratamento com
introdução de material genético. Revista Brasileira de Informações Científicas. v. 4, n. 1, p. 32-36.
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4 CONCLUSÕES
Depois de todas as pesquisas realizadas e o aprofundamento da compreensão do tema,
percebeu-se que a terapia gênica poderá ter aplicações extremamente benéficas no tratamento
das mais variadas doenças. Existem grandes avanços em relação ao tratamento de hemofilia,
de alguns tipos de câncer e de doenças neurodegenerativas, como o mal de Parkinson por
exemplo.
5 REFERÊNCIAS
U. DANI, SERGIO. Terapia Gênica. Bio Tecnologia, Ciência & Desenvolvimento. Disponível
em: <http://www.biotecnologia.com.br/revista/bio12/terapia.pdf>. Acesso em: 18/09/2012.
LINDEN, Rafael. Terapia Gênica: o que é, o que não é e o que será. SciELO Brazil –
Scientific
Eletronic
Library
Online.
Disponível
em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142010000300004>. Acesso
em: 18/09/2012.
O que é Terapia Gênica?. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Disponível
em: <http://med.fm.usp.br/dim/homepage/a106/oquee.htm>. Acesso em: 18/09/2012.
MENCK, CARLOS; VENTURA, ARMANDO. Manipulando genes em busca de cura: o futuro da
terapia gênica. Revista USP. Disponível em: < http://www.usp.br/revistausp/75/05-carlosarmando.pdf>. Acesso em: 07/10/2012.
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introdução de material genético. Revista Brasileira de Informações Científicas. v. 4, n. 1, p. 32-36.
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