A POLÍTICA DISCRETA DA MAÇONARIA(1822/1964): UMA

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A POLÍTICA DISCRETA DA MAÇONARIA(1822/1964): UMA
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
A POLÍTICA DISCRETA DA MAÇONARIA(1822/1964):
UMA PERSPECTIVA
COMPARADA
MARCUS VINÍCIUS SOARES GALINDO
Brasília
2011
Marcus Vinícius Soares Galindo
A POLÍTICA DISCRETA DA MAÇONARIA(1822/1964):
UMA PERSPECTIVA COMPARADA
Monografia apresentada ao Instituto de
Ciência Política da Universidade de Brasília
para obtenção do título de bacharel em
Ciência Política.
Orientador: Profº. Paulo C. Nascimento
Marcus Vinícius Soares Galindo
A POLÍTICA DISCRETA DA MAÇONARIA(1822/1964): UMA
PERSPECTIVA COMPARADA
Monografia apresentada ao Instituto de
Ciência Política da Universidade de Brasília
para obtenção do título de bacharel em
Ciência Política.
Orientador: Profº. Paulo C. Nascimento
Professor Paulo Cesar Nascimento
(Universidade de Brasília)
Resumo:
A presente monografia é uma pesquisa sobre a articulação política da
instituição conhecida como Maçonaria. A Maçonaria, tanto no Brasil como no
mundo, é uma instituição que se envolveu em questões políticas em diversos
períodos, apesar disso, a Maçonaria é muito diferente de partidos políticos,
pois é detentora de vários conhecimentos místicos e filosóficos, sendo
caracterizada como uma sociedade secreta. A pesquisa traz informações sobre
os diversos tipos de sociedades secretas possíveis, e a categorização da
Maçonaria em um desses tipos. Posteriormente a pesquisa parte para analise
de dois eventos em que a Maçonaria supostamente se envolveu: A
Independência do Brasil e o Golpe de 64. A construção desse cenário ajudará
a compreender umas das instituições mais misteriosas e influentes do mundo.
Palavras Chave: Maçonaria, Sociedades Secretas, Iniciação, Revolução,
Golpe de Estado.
Abstract
The present paper is a research about politic articulation of the institution known
as the Masonry. The Masonry, in Brazil, as well as in the world, is an institution
that got involved in political issues in diverse times; however Masonry is very
distinct from political parties, because it holds various mystical and
philosophical knowledges, being characterized as a secret society. The
research brings information about kinds of secret societies, and the
categorization of Masonry in one of these societies. Afterward the research
boards
two
events
that
Masonry
supposedly
got
involved:
Brazil’s
Independence and the Military coup of 64.The construction of this scenario will
help to understand one of the most mysterious and influent institutions of the
world.
Key Words: Masonry, Secret Societies, Initiation, Revolution, Coup d’état.
Sumário
1. Introdução................................................................................7
2. Metodologia.............................................................................8
3. Capítulo 1: As Sociedades Secretas..................................11
3.1 Distinções entre as sociedades secretas...............................12
3.2 O sigilo...................................................................................15
3.3 Sociedades secretas religiosas..............................................16
3.4 Sociedades secretas iniciáticas..............................................18
3.5 Sociedades secretas criminosas............................................20
3.6 Sociedades secretas políticas................................................21
3.7 Enquadramento da Maçonaria...............................................25
4. Capítulo II: A Maçonaria e as luzes no Brasil...................27
4.1 Origem .................................................................................28
4.2 Doutrinas, simbolismo e aceitação........................................34
4.3 Origem da Maçonaria no Brasil.............................................39
4.4 Primeiras tentativas...............................................................41
4.5 Maçonaria e Emancipação.....................................................46
5 Capítulo III: Maçonaria e ditadura militar.............................58
5.1 Maçonaria e o golpe..............................................................59
5.2 Maçonaria e o período ditatorial.............................................62
5.3 A elite “orgânica”....................................................................65
5.4 A opinião dos maçons............................................................68
5.5 Considerações finais.............................................................74
6. Referências bibliográficas........................................................81
7. Anexos.....................................................................................85
ANEXO 1- Fotos........................................................................85
ANEXO 2- Documentos.............................................................88
1-Introdução
A Maçonaria é caracterizada como uma sociedade discreta, mas
geralmente é vista como uma sociedade secreta por grande parte dos autores,
tal instituição se tornou a mais famosa de um rol de sociedades que se
distinguem no espaço, tempo, objetivo e modos de atuação.
Apesar de os maçons identificarem a Maçonaria como uma sociedade
filantrópica, e de que atualmente seja proibido falar de temas políticos em suas
reuniões, sabe-se que os maçons tiveram papel preponderante em eventos
decisivos da política mundial como a Revolução Francesa, a Independência
Norte Americana, e nas lutas pela emancipação de diversos países latino
americanos, inclusive do Brasil.
Apesar de tal sociedade adotar os lemas da Revolução Francesa:
Liberdade, igualdade e fraternidade. O grupo, ainda hoje, é vítima de diversas
acusações que incluem desde pactos com o diabo até o domínio secreto dos
rumos da política mundial, acusações vindas de grupos de ideologia diversa.
Mesmo sendo conhecidos os ritos de iniciação e várias práticas serem de fácil
acesso aos não iniciados, o caráter secreto e seletivo da Maçonaria não
contribui para a rápida limpeza de sua reputação.
Contudo, esse trabalho de conclusão de curso busca identificar o que é
falso e o que é verdadeiro sobre a história maçônica, tendo como principal foco
de analise a atuação do grupo no Brasil. Para tanto, esse trabalho foi dividido
em três capítulos, onde o primeiro visa explicar o conceito de sociedade
secreta, abrangendo os diferentes tipos de associação ligados a esse nome,
para posterior categorização da Maçonaria. O segundo capítulo pretende
discorrer sobre a atuação da Maçonaria nos diversos movimentos a favor da
7
emancipação do Brasil. Enquanto o terceiro capítulo busca situar o grupo no
passado recente de nosso país, abordando a questão da ditadura militar e a
posterior redemocratização de nosso país.
Portanto esse trabalho busca esclarecer alguns fatores da instituição
maçônica como: história, ideologia, estrutura e atuações políticas no Brasil.
Partindo da premissa de que a Maçonaria é um grupo elitista que geralmente
seleciona seus membros entre as camadas econômicas mais altas da
sociedade, pretende se descobrir qual foi a influencia da instituição no passado
longínquo (1822) e no passado recente (1964). Busca se entender se
houveram grandes mudanças na Maçonaria no decorrer desses dois períodos,
e se confirmada a hipótese, almeja se conhecer que tipo de mudanças
ocorreram. Conhecendo o passado da instituição é possível compreender um
pouco da influencia que os maçons exerceram e o tipo de influencia que eles
exercem atualmente.
2-Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida essencialmente por meio da técnica de
pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa1. O trabalho foi desenvolvido por
meio de fontes primárias e secundarias e foi desenvolvido em três etapas.
A primeira etapa foi desenvolvida pelo levantamento de dados sobre
sociedades secretas em geral. As informações apresentadas na primeira etapa
vêm tanto de fontes primárias (Livros de autores que participam ou
1
Pesquisa bibliográfica como descrita por Linda Reis. REIS, Linda G. Produção de Monografia:
Da Teoria à Pratica. Ed: SENAC, 2010, p. 110
8
participaram de sociedades secretas) como fontes secundárias, como artigos
de pesquisadores do assunto. Para a composição da primeira etapa foram
usados livros, artigos em periódicos e matérias da internet encontradas em
sites de assuntos esotéricos e de história. A primeira etapa tem o objetivo de
apresentar o tema das sociedades secretas, visto que a Maçonaria se encaixa
nesse tema. Como existem diversos tipos de sociedades secretas, a primeira
etapa serve para descobrir que tipo de sociedade secreta é a Maçonaria.
A segunda etapa também foi feita por meio de pesquisa bibliográfica.
Nessa etapa foram usadas tanto fontes primarias como secundarias2, visto que
foram usadas fontes secundarias em relação ao período, já que o capítulo trata
de um tema antigo, apesar de aparecerem supostas falas de personagens da
época, as principais informações usadas vêm de autores não contemporâneos
ao assunto . Mas pode se dizer também que foram usadas fontes primarias,
pois muitas informações foram extraídas de textos criados por autores
pertencentes à maçonaria, com acesso aos documentos do período. Também
foram usadas fontes secundarias de autores não maçons que escreveram
sobre a maçonaria e de autores que escreveram especificamente sobre a
independência do Brasil. Visto que o trabalho busca evitar a parcialidade, seria
inviável uma pesquisa somente com fontes maçônicas. Para a pesquisa foram
analisados livros sobre a Maçonaria e a Independência e sobre os dois
assuntos em separado. Essa etapa tem o objetivo de apresentar um panorama
sobre a Maçonaria a nível geral e sobre a origem da instituição no Brasil, além
das primeiras atuações políticas maçônicas no nosso país.
2
Uma fonte pode ser primaria e secundaria ao mesmo tempo, visto que pode ser primaria sobre um
termo e secundaria sobre outro. BENJAMIM, Jules R. A Student’s Guide to History. Ed: Bedofrd/St.
Martin’s, 2006, p. 46.
9
Assim como as duas primeiras, a terceira etapa foi feita por meio de
levantamento bibliográfico. Para terceira etapa notou se certa dificuldade em
encontrar informações sobre o assunto, apesar de se tratar de um tema mais
recente, as informações sobre as ligações entre a Maçonaria e o golpe de 64
ainda são escassas. Também nesse capítulo foram usadas fontes primarias e
secundarias, como informações de maçons contemporâneos ao período e
pesquisa fundamentada por autora não maçom. No final, em anexo, estão
contidas fotos e documentos sobre os principais personagens e eventos
tratados nessa monografia.
10
Capítulo I
As Sociedades Secretas
11
3.1 Distinções entre as sociedades secretas
As sociedades secretas são quase tão antigas quanto à própria
sociedade. Segundo a autora Shelley Klein3, desde que o homem conseguiu se
comunicar com outros homens, e consequentemente criar hierarquias sociais e
organizações de ajuda mútua, ele ficou fascinado pela criação e presença de
sociedades secretas. O desejo de pertencer a uma sociedade secreta viria de
dois motivos principais: a exclusividade, ou seja, pertencer a um grupo
exclusivo de pessoas, e a curiosidade, que todo homem têm de conhecer o
desconhecido. 4
O protótipo das sociedades secretas, segundo uma grande gama de
autores, vem do desejo do aperfeiçoamento moral dos adolescentes. Desde
tribos tecnologicamente primitivas até sociedades mais complexas, vemos ritos
de iniciação que marcam a passagem do jovem para a idade adulta5, como o
Bar Mitzvah dos judeus ou do ritual de esquecimento da infância por meio da
poderosa substância alucinógena conhecida como wysoccan, realizado pela
tribo indígena canadense dos índios algoquinos6. O ideal de aperfeiçoamento
da moral pode ser encontrado em diversas sociedades iniciáticas como a
Maçonaria, a Rosa Cruz7 e as associações gnósticas8.
3
KLEIN, Shelly. As Sociedades Secretas Mais Perversas Da História. Ed. Planeta. 2007, p. 02.
4
RABELO, Carina. Por dentro das sociedades secretas.Istoé. Edição: 2073.05 de agosto de 2009.
5
COUTO, Sergio Pereira. Seitas Secretas. Ed: DigeratiEditorial.2007, p. 37.
Para mais informações sobre os índios algoquinos e outros rituais de passagem, consultar:
http://listverse.com/2009/12/28/10-bizarre-rites-of-passage/. Em inglês. Acessado em 04 de maio de
2011.
7
Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz. Para mais informações: www.amorg.org.br
6
12
Existem sociedades secretas dos mais diversos tipos. Alguns autores
como o escritor inglês Charles Hecketorn9 adotam sete categorias, incluindo:
religiosas, como as escolas dês mistérios egípcias, militares, como os
Cavaleiros Templários; justiceiras, como a Santa Vehme10, científicas, como os
alquimistas, civis como os franco maçons, políticas, como a Carbonária11 e
antissociais como os Thugs. Os limites entre as categorias não são sempre
bem definidos (IBIDEM), visto que sociedades como a Antiga e Mística Ordem
Rosa Cruz (AMORC) atuam tanto no campo religioso como científico, e além
da clara influência da Maçonaria na política mundial, podemos ainda citar a Ku
Klux Klan que apesar de ter agido por meios criminosos usava uma ideologia
política
como
justificativa,
mesmo
essa
ideologia
sendo
bastante
detestável.(HECKETORN, 1966,p.3).O historiador maçom A. Tenório de
Albuquerque12 prefere um método dualista, e em classifica as sociedades como
fechadas ou clandestinas, sendo que a primeiras seriam as sociedades
iniciáticas onde é necessário ser membro para que se saiba o que acontece
nas reuniões e os ensinamentos são acessíveis mediante uma hierarquia,
enquanto a segunda categoria abrange as sociedades que agiriam à sombra
da lei e usariam o sigilo como modo de passarem despercebidos, tais como a
8
Gnose ou Gnosis pode se referir a diversas doutrinas antigas geralmente místicas e cristãs. Hoje em
dia, existem diversos ramos que tentam adaptar esses conhecimentos para a nossa época, o mais
conhecido no Brasil foi fundando pelo colombiano Victor Manuel Gómes Rodriguez, conhecido pelo
pseudônimo de SamaelAunWeor.
Para mais informações sobre a gnose samaeliana: http://www.ageacac.org.br/
9
HECKETORN, Charles. The Secret Societies Of All Ages And Countries. Ed. University Books, Inc.
1966[1965], p. 03.
10
Santa Vehme foi uma espécie de tribunal clandestino que atuou secretamente, durante a Idade
Média, em alguns países da Europa Central, principalmente na Alemanha. FARIA, Américo. Dez
Sociedades Secretas. Ed: Livraria Clássica. 1955
11
Carbonária foi uma sociedade secreta revolucionária que atuou na Itália, França, Portugal e Espanha.
Foi fundada na Itália na década de 1810. http://pt.wikipedia.org/wiki/Carbon%C3%A1ria
12
ALBUQUERUQUE, A. Tenório. Sociedades Secretas. Ed. Aurora, Ltda. 1970, p. 21.
13
Máfia italiana e o grupo terrorista Al Qaeda. Nesse trabalho preferiu-se usar a
categorização de Jean-François Signier e Renaud Thomazo13, que classificam
as sociedades secretas como de quatro tipos: religiosas, iniciáticas, criminosas
e políticas. Tal classificação apesar de não eliminar totalmente a ambiguidade,
se mostra mais dinâmica e evita algumas confusões causadas pelas
classificações anteriores.
Há de se notar que nem todas as sociedades secretas seguem o mesmo
padrão de atuação durante toda a sua existência, visto que algumas são
extintas e ressurgem em épocas diferentes, e consequentemente com novos
membros e com atitudes e ideias diferentes. Este é o caso dos druidas, que
segundo Couto, era uma seita que realizava assassinatos rituais violentos e
que foi exterminada em uma luta selvagem contra soldados ingleses. Bem
diferente dos druidas modernos14 que realizam rituais pacíficos em lugares
como o Stonehenge e são ligados com o movimento da Nova Era (New Age) 15.
(COUTO, 2007, p. 46). Outras sociedades seriam desviadas do seu propósito
inicial, como foi o caso da sociedade indiana dos Thugs16, que era uma
sociedade de assassinos que sacrificava pessoas inocentes em nome da
Divindade hindu Kali, e acabou se tornando um grupo que roubava apenas
para o ganho pessoal (KLEIN, 2007, p.07), ou o caso da organização Mau
13
14
SIGNIER, Jean-François e THOMAZO, Renaud. Sociedades Secretas. Editora: Larousse. 2008.p. 5
Para maiores informações sobre o Neo Druidismo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Neodruidismo
15
O movimento Nova Era possui muitas subdivisões, mas é geralmente atribuído como a fusão de
ensinamentos
metafísicos
de
influência
oriental
com
crenças
espiritualistas
e
animistas.http://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Era
16
Fraternidade criminosa secreta de assassinos e ladrões viajantes que atuou na Índia a partir do século
XVI. http://pt.wikipedia.org/wiki/Thugs
14
Mau17 no Quênia, que começou como um grupo de resistência contra a
colonização européia, mas passou a exterminar também os negros que
trabalhavam para os brancos, passando assim, a ser temida pela população
local.18
3.2 O sigilo
A. Tenorio de Albuquerque tenta explicar o motivo do sigilo na
Maçonaria e entre outras sociedades secretas. O autor se queixa do medo que
as pessoas têm do termo sociedade secreta, medo esse gerado pela já vista
confusão entre sociedade secreta e sociedade clandestina. Algumas
sociedades secretas como a Sociedade Teosófica19, a AMORC e a própria
Maçonaria têm site na internet, universidades, CPNJ e a localização de seus
templos são conhecidos do público, portanto seriam mais discretas do que
secretas.(ALBUQUERQUE, 1970, p. 23)
Portanto o segredo em torno da Maçonaria é um fator comum,
encontrado em outras organizações como os bancos que não expõem
informações sobre seus clientes a terceiros, ou as associações comerciais que
têm a liberdade de manter confidencial o preço dos custos das mercadorias.
(IBIDEM)
Em relação à linguagem especial usada pelos maçons, não seria muito
diferente de qualquer linguagem especial usada por uma determinada classe,
17
Mau Mau foi uma sociedade secreta queniana que se revoltou contra do domínio colonial nas décadas
de 50 e 60.
18
FARIA, Américo. Dez Sociedades Secretas. Ed: Livraria Clássica, 1957, p. 155
19
Para maiores informações sobre a Sociedade Teosófica. www.sociedadeteosofica.org.br/
15
como os advogados que usam muitos termos em latim ou os termos técnicos
encontrados em várias ciências como a Geografia e a Engenharia
(ALBUQUERQUE, 1970, pg.25). O acesso ao conhecimento conseguido
mediante hierarquia tão comum nas sociedades iniciáticas encontraria paralelo
com as escolas e universidades, onde o estudo e o empenho permitiriam que
os iniciados e os calouros pudessem ter acesso aos outros níveis.
3.3 Sociedades secretas religiosas
Pode se dizer que essa categoria abrange as mais antigas sociedades
secretas. A religião é difundida por meio de duas vias: a exotérica e a
esotérica. A primeira representa a mensagem de fácil acesso, encontrada de
maneira explícita, como os versos dos livros das religiões monoteístas, como a
bíblia do cristianismo ou o alcorão do islamismo. A segunda via a esotérica,
abrange o caráter elitista e está disponível apenas a poucos “eleitos, que
considerariam o restante das pessoas como “profanos”, e não aptos a receber
as mensagens de revelação divina20·. (SIGNIER; THOMAZO, 2008, p.12)
Essas sociedades fechadas que pregavam a via esotérica, muitas vezes
foram perseguidas pelas religiões oficiais das quais derivariam em parte
(IBIDEM), como o caso dos gnósticos que se consideravam guardiões dos
segredos revelados por Jesus após a ressurreição ao apostolo João e, e que
consequentemente foram perseguidos pelo cristianismo, dos praticantes de
macumba e candomblé que até pouco tempo atrás tinham seus locais de culto
20
O termo que designa o iniciante na sociedade secreta é neófito.
16
destruídos por ordem do governo brasileiro21, ou das igrejas sufi22, que ainda
hoje sofrem represálias de membros mais tradicionalistas do Islamismo.
O autor Charles Heckerton afirma que as sociedades secretas religiosas
são as guardiãs naturais do verdadeiro conhecimento natural, segundo o autor
“O que é conhecimento natural em uma época, se torna mitologia na seguinte,
e romance em uma terceira”. (HECKERTON, 1966, p. 09). Como no caso da
personificação do Sol, que segundo o autor teria dado origem a alguns Deuses
como Krishna na Índia, Quetzalcóatl no México, e Jesus na Palestina.23
O fato é que muito antes de existirem sociedades secretas que
desafiavam a versão oficial da religião, a classe sacerdotal sempre foi a
guardiã do conhecimento e, além disso, ditava os rumos da sociedade. Tanto
no Egito antigo como na China antiga, os sacerdotes se organizavam por meio
de sociedades secretas para preservação da escrita sagrada(ALBUQUERQUE,
1970, p. 32). Albuquerque também cita os adivinhos e profetas da Grécia
antiga, que eram consultados pela classe política e guerreira antes de qualquer
decisão importante, ou dos sacerdotes astecas e incas que realizavam
sacrifícios e holocausto em nome dos Deuses. (IBIDEM). No próprio Vaticano,
pode-se enxergar a influência da Ordem Opus Dei, cujo fundador Josemaría
Escrivá morreu em 1975, foi beatificado em 1992 e santificado em 2002 por
João Paulo II, processo de extrema rapidez, levando em conta a demora de
outras beatificações e santificações e à indesejável má fama da ordem
21
SCHREIBER, Hermann. História e Mistérios das Sociedades Secretas: No mundo antigo e Moderno.Ed:
Instituto Brasileiro de Difusão Cultural, São Paulo, 1967. P. 35.
22
O sufismo pode ser considerado uma via mística e esotérica baseada no Islã. Para maiores
informações:http://www.vopus.org/pt/gnose/gnose-gnosticismo/o-sufismo.html
23
A teoria de que diversas divindades representam o sol e suas histórias devem ser enxergadas de um
ponto vista astronômico é explorada no filme Zeitgeist. Zeigeist, O Filme. Produção: Peter Joseph,
2007(160 min)
17
(SIGNIER; THOMAZO, 2008, p. 72). O romance O nome da rosa24do escritor
Umberto Eco exemplifica bem o papel dos sacerdotes como guardiões de
segredos, na história um grupo de monges faz de tudo para manter em
segredo algumas obras que não tinham interesse que caíssem nas mãos do
público.
3.4Sociedades secretas iniciáticas
Esse tipo de sociedade apesar de pertencer a categoria de sociedades
secretas, se diferencia dos outros tipos. Enquanto as sociedades secretas
políticas dissimulam sua atividade e os nomes de seus membros, agindo à
margem dos organismos oficiais e muitas vezes contra o poder existente, as
sociedades secretas iniciáticas não guardam segredos sobre sua história
doutrina e locais de reunião25, a não ser quando sofrem perseguições, como foi
o caso da Maçonaria na época do Terceiro Reich na Alemanha, ou no Reinado
de D. João VI no Brasil. De fato, esse tipo de sociedade apenas oculta suas
cerimônias, os sinais de reconhecimento e seus ritos de iniciação. Apesar
disso, alguns membros das sociedades iniciáticas acabam usando das
reuniões para propor a busca de objetivos políticos.
As sociedades iniciáticas propõem o melhoramento do homem ou da
sociedade, seus adeptos são os iniciados, do latim "in itium", isto é, "no
caminho", e os não membros são denominados profanos, do latim profanum,
que significa "diante do templo". (SIGNIER; THOMAZO 2008, p.82). O fato das
cerimônias serem realizadas em segredo teria o objetivo de que os
24
25
ECO, Humberto. O Nome Da Rosa. Ed: Record, 1980.
HUTIN, Serge. Las Sociedades Secretas. Ed: Universitaria de Buenos Aires. 1979[1952]
18
ensinamentos não caíssem nas mãos de profanos, que poderiam usá-los para
ganhos pessoais.26 De fato, um profano pode vir a participar de uma sociedade
iniciática como a Rosa Cruz ou a Sociedade Teosófica, se demonstrar boa fé e
um necessário grau de maturidade, além de uma taxa monetária. Já no caso
da Maçonaria, ainda é necessário que o aprendiz seja indicado por algum
membro interno. O segredo dessas sociedades é somente revelado mediante a
frequentação dos templos, como já dizia o maçom veneziano Casanova: “O
segredo da Maçonaria é inviolável por natureza, uma vez que o maçom não o
aprendeu de ninguém. Descobriu-o à força de ir à loja, de observar, de
raciocinar e de deduzir”. (SIGNIER; THOMAZO 2008, p. 83)
A iniciação, é um processo destinado a realizar psicologicamente o
indivíduo de um estado reputado inferior à um estado superior.(HUTIN, 1979,
p.06). A transformação do profano em iniciado, diante de testes morais e
físicos, ocorre em uma forma de morte e renascimento simbólicos, ou renascer
alquímico, na linguagem dos gnósticos. Apesar de as sociedades iniciáticas
terem em comum o aperfeiçoamento moral e espiritual do homem e da
sociedade, elas o alcançariam por meio de caminhos diferentes, como se pode
ver pelo exemplo da Maçonaria que tentou alcançar esses objetivos por meio
de atuação no campo político em diversos momentos históricos, enquanto a
Rosa Cruz preferiu o isolamento nos estudos esotéricos e de arte. (RABELO,
2009, p.39)
26
CALLE, Ramiro A. Grandes Misterios De Las Sociedades Secretas. Ed: Martínez Rocha, Barcelona, 1974,
p. 120.
19
3.5 Sociedades secretas criminosas
Esse tipo de sociedade é um dos mais perigosos. Essas sociedades
secretas têm o segredo como condição essencial de sua sobrevivência e
longevidade. Algumas delas optam pelo assassinato, roubo, tráfico de drogas,
mas é comum que adotem vários tipos de estratégias ilegais ao mesmo tempo.
Ao contrário das sociedades secretas iniciáticas, onde o principal segredo diz
respeito às cerimônias, nas sociedades secretas criminosas o sigilo dos locais
de encontro e da identidade de seus membros é importante, visto que as
atividades praticadas por esses grupos são altamente repreensíveis.
(SIGNIER; THOMAZO 2008, p.136) Apesar disso, alguns chefões do crime
organizado como o gangster Al Capone e o narco traficante Pablo Escobar
eram conhecidos pelas autoridades, que tão pouco dispunham de provas
contra eles, tanto que Capone foi preso por fraude fiscal enquanto era
investigado por tráfico ilegal de bebidas, assassinatos e outros crimes mais
bárbaros.
Outro segredo importante para essas sociedades é em relação à
extensão de suas atividades. É comum que esses grupos adotem estritos
códigos de honra, onde cada membro do grupo fica encarregado de proteger
seu superior na hierarquia, como pode ser visto na Máfia Siciliana ou na
Yakuza.(SIGNIER; THOMAZO 2008, p.136). Às vezes algumas sociedades
criminosas optam por um modelo de divisão de tarefas análogo ao da
administração fordiana27, onde diferentes grupos não sabem sobre as
27
O Fordismo foi um modelo de produção que permitiu a criação de grande quantidade de automóveis
em um curto espaço de tempo, através de um artifício conhecido como linha de montagem. A
comparação feita se faz possível, pois no fordismo, cada funcionário se especializava na construção de
uma peça específica para a composição do todo. Em algumas máfias, existe uma estrutura piramidal,
onde cada individuo se encarrega de um trabalho específico sem necessariamente saber quem são as
20
atividades dos outros grupos que compõem a organização e assim o segredo é
mantido. Tal estratégia é usada principalmente pela Máfia Russa.
A máfia (com letra minúscula) é usada hoje em dia para descrever
qualquer organização criminosa, mas a Máfia original possivelmente surgiu no
sul da Itália na Idade Média. Segundo Couto, um grupo de lavradores que
alugavam terras de senhores feudais tinham a intenção de dividir essas terras,
e começaram a depredar o gado e as plantações dos proprietários, e a cobrar
dos proprietários que não quisessem que suas posses fossem vandalizadas,
iniciando assim um esquema de proteção forçada que se espalhou pelo
mundo. O autor ainda explica o sentido da palavra Máfia, que teria surgido do
grito de resistência Morte Alla Francia, ItaliaAnela (Morte à França, Itália
Avante) contra a ocupação do reino de Nápoles pela Dinastia Francesa dos
Bourbon, a primeira letra de cada palavra forma a sigla M.A.F.I.A.(COUTO,
2007, p. 42)
3.6 Sociedades secretas políticas
As sociedades secretas políticas parecem ser o tipo de sociedade
secreta que mais influencia os rumos sociais e políticos de um povo ou uma
nação. Segundo Signier e Thomazo, um antigo provérbio chinês afirma “As
autoridades oficiais têm o seu poder da lei, o povo das sociedades secretas”,
tal era a influência desse tipo de associação no país, onde em 1911, Sun
Yatsen liderou um movimento revolucionário que derrubou a dinastia dos Qing
outras pessoas envolvidas e qual é o objetivo real de sua tarefa. Para maiores informações sobre o
Fordismo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fordismo
21
e estabeleceu a república, com o apoio da “Sociedade dos mais velhos e dos
antigos”, filiada à Tríade28, a mais antiga sociedade secreta política chinesa.
(SIGNIER; THOMAZO, 2008, p.171)
As sociedades secretas costumam agir por meios violentos, como
faziam os niilistas russos do século XIX, que organizavam atentados mortais
contra a burguesia em nome da emancipação dos camponeses, ou como a
Mão Negra, grupo nacionalista sérvio que desencadeou o atentado que matou
o arquiduque austríaco Francisco Ferdinando, fato considerado o estopim para
a 1ª Guerra Mundial. (SIGNIER; THOMAZO 2008, p.190). Uma das condições
que favorece o surgimento desse tipo de sociedade é a existência de uma
autoridade repressiva, que não tolera críticas, e obriga seus opositores a
agirem na clandestinidade. O extremo oposto também contribui para a
ascensão desse tipo de associação, como foi o caso da Sainte-Vehme,
confraria que surgiu durante a Idade Média na Alemanha, e atuou como
tribunal oculto e implacável frente a um poder imperial enfraquecido. (HUTIN,
1979, p. 40) Há de se destacar o papel da Sociedade Thule29, sociedade
mística que se inspirava na mitologia nórdica e que teve papel relevante para o
desenvolvimento do pensamento nazista
Hutin estabelece uma diferença entre os ritos e dos símbolos das
sociedades secretas iniciáticas e o das sociedades secretas políticas, se esses
forem de profundo valor filosófico, moral ou religioso pertencem às sociedades
religiosas, se ao contrário, eles não têm nenhum valor intrínseco e servem
28
A Tríade original era a “Sociedade dos Três Elementos Reunidos”. A partir do século XVI, surgiu
também na China, uma organização criminosa com o mesmo nome.
29
O nazismo foi um sistema fortemente influenciado por idéias esotéricas e ocultistas. Além da
Sociedade Thule, outra sociedade secreta ligada ao nazismo era a Sociedade Vril. Para maiores
informações sobre o misticismo nazi: HELSING, Jan Van. As Sociedades Secretas e Sua Influência no
Século XX. Ed: Ewertverlag. 1998.
22
apenas para impressionar a cabeça do neófito, eles pertencem a uma
sociedade secreta política (HUTIN, 1979, p.42). Apesar disso, há de se notar o
fanatismo e a determinação de alguns membros dessas seitas, como na seita
oriental dos assassinos, que segundo Signer e Thomazo, é descrita por Marco
Polo, em seu Livro das Maravilhas do mundo, como um grupo de jovens
devotados a matar em nome de um lendário “Velho da montanha”, que os
apresentava aos “jardins do paraíso”, local onde desfrutariam de mulheres e
haxixe. Esses jovens deveriam obedecer às ordens do tal “Velho da
montanha”, caso quisessem voltar a desfrutar desses prazeres. A história dos
assassinos não é muito diferente do que nos é dito sobre os terroristas da Al
Qaeda, que estão dispostos a sacrificar suas vidas pela recompensa de um
paraíso repleto de várias virgens.
Hutin afirma que esses tipos de sociedade têm duração limitada,
enquanto as sociedades iniciáticas têm seus ensinamentos passados de
geração para geração, as sociedades políticas só duram enquanto o objetivo
não é alcançado. No caso de um golpe bem sucedido, a sociedade passa de
oposição a poder dominante e não tem mais necessidade de agir
clandestinamente, elas também podem ser destruídas por forças policiais antes
que seus objetivos sejam alcançados. (HUTIN, 1979, p.43) O segredo é a
condição sinequa non para a eficácia das ações dessas sociedades. Os
ataques quando realizados parecem surgir do nada, mas logo aparece um
grupo que reivindica a autoria. (SIGNIER; THOMAZO, 2008, p.170), Como
vistos em ações de grupos como nacionalistas como IRA e ETA. O segredo
acaba assim sendo um fator que desencadeia o medo da população, e talvez
seja responsável pela difamação de certas sociedades.
23
É inegável a temível influência que exerceu e ainda exerce um livro
chamado Os Protocolos dos Sábios de Sião. O livro supostamente descreve
um complô de um grupo de judeus para domínio do mundo, esse grupo teria se
misturado a Maçonaria para passar despercebido. Esse livro acabou sendo
traduzido para diversos idiomas, e geralmente possui um prefácio reivindicando
sua autenticidade, sendo que a versão mais conhecida no Brasil é a de 1936
traduzida pelo historiador Gustavo Barroso30. Segundo o site Mídia Judaica
Independente31, além de inúmeros autores como o escritor judeu de histórias
em quadrinhos Will Eisner32, tal documento é um embuste forjado pela
Okrhrana,a polícia secreta do Czar Nicolau II.Tal documento seria uma
adaptação do livro “Diálogos no inferno entre Montesquieu e Maquiavel” o livro
em si, foi escrito pelo escritor satírico francês Maurice Joly, e criticava o
governo de Napoleão III, não havendo nenhum conteúdo anti semita ou anti
maçônico. Os protocolos foram publicados privadamente em 1897 e tornado
público em 1905 por Serguei Nilus, e teriam o objetivo de reforçar a posição
política de Nicolau III contra seus oponentes. Em uma Rússia prestes a entrar
na revolução bolchevique, o livro punha a culpa de tal evento em uma
conspiração judaico maçônica internacional. Mais tarde, esse livro foi usado por
Adolf Hitler para propor a matança indiscriminada de judeus, a Maçonaria
alemã também foi proibida durante seu governo.33
30
Anônimo. Os Protocolos dos Sábios de Sião. Tradução: Gustavo Barroso. Ed: Revisão. 1977
Portal Mídia judaica
http://www.angelfire.com/journal2/midiajudaica/especiais/protocolos/protocolos.htm acessado em 24
de maio de 2011
32
Will Eisner publicou um livro no formato de arte sequencial sobre a história dos protocolos. Para
maiores informações: EISNER, Will. Complô: A História Secreta dos Protocolos dos Sábios de Sião. Ed:
Companhia das Letras. 2006.
33
IBIDEM.
31
24
O livro Os Protocolos dos Sábios de Sião é um exemplo clássico de
como as sociedades secretas ficam expostas a todo o tipo de acusação,
justamente pelo caráter secreto desses grupos, eles são alvos fáceis em
situações onde não se conhece o culpado, e alimentam a idéia de pessoas que
acham que grande parte dos acontecimentos são controlados por pessoas que
agem nas sombras e controlam ou descontrolam a história oficial. A Maçonaria
muitas vezes foi acusada de diversas outras conspirações, algumas foram
confirmadas.
Outras
são
difundidas
por
teóricos
da
conspiração
e
desacreditadas pela mídia oficial.
3.7 Enquadramento da Maçonaria
A Maçonaria tem os principais elementos que caracterizam uma
sociedade iniciática, visto que os principais segredos da instituição são
referentes aos seus ritos de iniciação, cerimonias e sinais de reconhecimento.
(HUTIN, 1979) A Maçonaria é carregada por forte simbolismo, e os segredos
são revelados ao iniciado mediante frequentação ao templo e desempenho,
características centrais das sociedades iniciáticas.
Contudo, a Maçonaria se envolveu em diveros eventos políticos no
mundo todo, portanto contêm algumas características de sociedades secretas
políticas. Segundo Signier e Thomazo, as sociedades secretas políticas
costumam agir por meios violentos. (SIGNIER; THOMAZO, 2008, p.171) Caso
que não aconteceu com a Maçonaria no Brasil, nos casos em que maçons se
envolveram em conflitos violentos, como na Revolução Francesa e na
Independência Norte Americana, esses eventos tiveram características de
guerras, que envolveram as nações participantes como um todo, ao contrário
25
de atentados terroristas usados por sociedades secretas políticas como IRA,
ETA ou Al-qaeda.
Em relação à diferenciação proposta por Hutin sobre os símbolos e ritos
das sociedades iniciáticas e das sociedades politicas, onde os símbolos e ritos
das sociedades iniciáticas possuem grande valor moral e filosófico, enquanto
os símbolos das sociedades políticas servem apenas para impressionar a
cabeça do neófito (HUTIN, 1979, p.42), optou se por classificar a Maçonaria na
primeira opção, visto que a Maçonaria sempre foi frequentada pela elite
intelectual nos países em que se instalou, elite essa, que provavelmente não
deixaria se influenciar por um simbolismo vazio e sem sentido. Além disso,
Hutin considera as sociedades secretas políticas como de duração limitada,
geralmente se desfazendo quando o objetivo é alcançado (HUTIN, 1979, p.43),
coisa que não aconteceu com a Maçonaria que mesmo em períodos de menor
agitação política, se resguardou nos estudos esotéricos e filosóficos.
26
Capítulo II
A Maçonaria e as luzes no Brasil
27
Quando se fala de sociedades secretas, a Maçonaria sempre é
lembrada como a mais famosa e mais influente dentre elas. Apesar de ser
considerada uma sociedade iniciática, como já visto anteriormente, é inegável a
influencia que exerceu em eventos políticos importantes por todo o mundo,
portanto figura como um foco de estudo importante da Ciência Política, e talvez
tenha exercido mais influência no campo político do que a maioria das
consideradas sociedades secretas políticas. A origem da Maçonaria, sua
filosofia e os principais eventos em que o grupo se envolveu no Brasil serão
temas desse capítulo.
4.1Origem
Apesar de não haver um consenso sobre a data exata da origem da
Maçonaria, há um consenso entre os autores que ela teria surgido na Idade
Média, como um grupo de pedreiros, isso é o que diz diferentes autores como
Albuquerque (1970), Hecketorn(1966[1965]) e Hutin(1979).
Além de sua origem histórica, a Maçonaria, como muitas outras
sociedades iniciáticas adota um mito fundador místico, que apesar de não
haver provas de sua existência, ao menos serve para explicar a ideologia e os
principais graus adotados pelo grupo: aprendiz, companheiro e mestre34.
34
A Maçonaria é composta por diversos ritos, que são conjuntos sistemáticos de cerimônias e
ensinamentos, que variam de acordo com o período histórico, localização geográfica, objetivos e
influências de outras seitas esotéricas que porventura adentrem a ordem. Os graus básicos e
fundamentais são o de aprendiz, companheiro e mestre, mas cada rito pode adotar um número de
graus específico, como o Rito de York que adoto 13 graus ou o Rito Escocês Antigo e Aceito que adota 33
graus. O Rito Escocês Antigo e Aceito é o mais praticado no Brasil, mas o país possui ritos próprios como
o Rito Adonhiramita e o Rito Brasileiro. Para maiores informações sobre os ritos, consultar:
http://www.solbrilhando.com.br/Sociedade/Maconaria/Os_Ritos.htm
28
O mito fundador da Maçonaria conta a história de Hiram Abbif35 e a
construção do Templo Salomão. Segundo Martha Follain, Davi, da tribo de
Judá36, queria construir um templo para guardar a arca da aliança, objeto que
supostamente continha a tábua dos dez mandamentos. Davi não teria
conseguido completar a tarefa em vida, portanto, passou para Salomão a
missão de concluir o templo37. Salomão solicitou que Hiram, rei de Tiro (na
Fenícia) fornecesse operários para o projeto. O Rei Hiram então designou o
mestre de obras Hiram Abiff como líder do empreendimento.
Segunda Follain, a lenda diz que Hiram Abiff conduziu o projeto sem o
uso de martelos, e mesmo assim os blocos se encaixavam perfeitamente.
Hiram dividiu os pedreiros em três categorias segundo suas habilidades:
Aprendiz, Companheiro e Mestre.38
Durante a construção do templo, Hiram foi assassinado por três
Companheiros, Jubela, Jubelo e Jubelum, que ressentidos por ele não ter os
elevado ao grau de Mestre, o emboscaram para roubar seus segredos. Hiram
não os revelou os segredos da categoria mais alta e consequentemente foi
assassinado. Os assassinos esconderam o corpo sob um ramo de acácia.
Posteriormente os assassinos teriam sido condenados e Hiram teria
ressuscitado. (HECKERTON, 1966, p.10)
Segundo Follain,o assassinato em si, revela vários simbolismos
maçônicos. O primeiro golpe desfeito em Hiram foi à garganta, com uma régua
oque significa o estrangulamento da liberdade de expressão, o segundo no
35
Não confundir com o homônimo Hiram, rei da cidade fenícia de Tiro, também personagem do mito.
Essa história contém alguns personagens descritos na Bíblia.
37
FOLLAIN, Martha. Templo de Salomão e Maçonaria. 2010. Disponível em:
http://filhosdehiran.blogspot.com/2010/11/templo-de-salomao-e-maconaria-por.html
38
IBIDEM.
36
29
coração, com um esquadro, que representa a matança da fraternidade entre os
homens, o terceiro, na cabeça com um maço, representa a destruição da
liberdade de pensamento. Os três assassinos representam a ignorância, o
fanatismo e a tirania, coisas que o maçom deve combater. (FOLLAIN, 2010).
Desde a morte de Hiram, o templo permanece inacabado, e cabe ao maçom
reconstruir o templo simbólico, em busca das palavras do mestre, através de
um aperfeiçoamento de si mesmo. (SIGNIER; THOMAZO, 2008, p. 213)
Apesar de muitos autores buscarem origens remotas para a Maçonaria,
Albuquerque afirma que isso é um erro por parte dos escritores maçônicos que
acabam baseando a história da instituição no seu simbolismo, e que devido ao
fato de alguns atributos da Maçonaria terem semelhanças com os de outras
sociedades antigas, esses autores acabam atribuindo a origem da Maçonaria a
períodos remotos. (ALBUQUERQUE, 1970, P.420) O pastor George Oliver
chega a afirmar que a instituição maçônica é contemporânea da criação do
mundo.39 A chamada Maçonaria Primitiva abrange o conhecimento herdado do
passado mais remoto da humanidade, como os mistérios romanos, os mistérios
persas, os mistérios dos essênios, entre outros.40 A maioria dos autores afirma
que o período denominado Maçonaria operativa abrange a real origem da
instituição.
A Maçonaria operativa surgiu na idade média. Nessa época a
arquitetura era considerada a “Arte Real”, portanto os construtores se reuniam
em grupos e revelavam os segredos das construções de lindos palácios e
magníficas catedrais somente àqueles que se mostravam dignos. (HUTIN,
39
OLIVER, George. The Antiquities of Freemansonry.Ed: Kessingir Publishing.1993
http://www.ocultura.org.br/index.php/Ma%C3%A7onaria_Primitiva, Acessado em 13 de maio de
2010.
40
30
1979 p.31) Segundo o maçom José Castellani,maçom significa pedreiro em
francês. O autor afirma que a partir do século VI que a arte da construção ficou
restrita aos conventos que abrigavam os artistas e arquitetos que não queriam
seus segredos perdidos na arbitrariedade e na barbárie da Europa medieval.41
Os construtores formavam uma espécie de aristocracia entre as demais
profissões, tal classe era beneficiada pelas autoridades eclesiásticas, com
regalias como isenções de impostos, tribunais especiais, entre outros.
Castellani lembra que o século XII foi o período mais importante para a
Maçonaria operativa, quando surgiriam os Ofícios Francos (ou Franco
Maçonaria), tais associações eram formadas por artesões e arquitetos
privilegiados que estavam isentos de obrigações e impostos reais ou
eclesiásticos.(CASTELLANI, 2007, p. 15) Esses construtores tinham privilégios
concedidos pela igreja, e dispunham de enorme influência e poder político.
Depois da fase operativa começou a fase especulativa, onde o trabalho
passou a ser menos operativo e mais simbólico, de acordo com Hutin ao invés
de construírem templos eles passaram a defender a construção de um templo
interno e filosófico, o templo de Salomão, o templo ideal das ciências. (HUTIN,
1979 p. 28); Essa mudança começou a partir do século XVII, quando a
Maçonaria começou a aceitar pessoas que não estavam relacionadas com o
ramo da construção.
De acordo com o maçom C.W. Leadbeter, a Maçonaria operativa
começou a perder prestígio devido à reforma protestante e a consequente falta
de procura por construções eclesiásticas.42 Com a queda da Maçonaria
operativa surgiu a Maçonaria especulativa, e os trabalhos físicos das lojas
41
42
CASTELLANI, José. A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial. Ed: Landmark , São Paulo. 2007.
LEADBEATER, C. W. Pequena História da Maçonaria. Ed: Pensamento. São Paulo, 1968.
31
começaram a se tornar simbólicos. As pessoas que ingressavam à Maçonaria
sem pertencer ao ramo da construção eram chamadas “maçons aceitos”, em
contraponto com os “maçons antigos”, que também eram pessoas influentes e
de prestígio social e/ou político. Foi nessa época que os alquimistas e os rosa
cruzes começaram a frequentar a Maçonaria e levaram seus conceitos
esotéricos e símbolos herméticos para a instituição, que passou a contar com
mais maçons aceitos que maçons antigos e consequentemente se tornou uma
sociedade de caráter religioso e espiritual.(CALLE, 2010, p.125)
No dia 24 de junho de 1717 quatro lojas de Londres se reuniram para a
formação da primeira grande loja. Esse foi um fato importante, que resultou na
implantação de um poder central que as outras lojas deveriam obedecer, visto
que antes as lojas eram livres de subordinação externa, segundo o autor esse
foi um fato histórico que culminou no fim da Maçonaria operativa e na ascensão
da Maçonaria especulativa. (CASTELLANI, 2007, p. 19) O encarregado de
redigir a constituição da Maçonaria foi James Anderson que supervisou o
documento intitulado Constituição dos Maçons livres, que foi publicado em
1723.43 Tal documento, segundo Albuquerque, foi dividido em duas partes: a
primeira conta a história legendária da Maçonaria desde a origem do mundo, a
segunda parte trata dos estatutos, semelhantes às antigas corporações de
construtores, mas permitindo membros de fora desde que fossem religiosos. A
constituição, em pouco tempo se tornou o principal documento regente da
43
ANDERSON, JAMES. The Constitutions of the Free-Masons.1734. Uma versão online editada e
reproduzida pelo maçom e líder da revolução estadunidense Benjamin Franklin, pode ser encontrada no
endereço eletrônico:
http://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1028&context=libraryscience
Acessado em 10 de julho de 2011
32
Maçonaria, e propagava uma doutrina humanitária, deísta e espiritualista que
moldou a instituição. (ALBUQUERQUE, 1970, p.425)
A partir do século XVIII, a Maçonaria passou a desenvolver seu
pensamento político, e no fim desse século e no começo do século XIX, a
instituição passou a combater o status quo e os governos absolutistas por todo
o mundo. A Maçonaria possui uma filosofia liberal e individualista que pode ter
sido influenciada e ter influenciado a filosofia da Ilustração do século XVIII e o
movimento iluminista44. A instituição preza pela liberdade de pensamento e
pelo racionalismo, e apoiou diversos eventos de caráter liberal ao redor do
mundo como a Revolução Francesa, a Independência dos Estados Unidos e a
emancipação de diversos países latino americanos, inclusive do Brasil.
A história da Maçonaria converge com a teoria das elites, proposta pelo
sociólogo italiano Vilfredo Pareto. Pareto acreditava que em todas as áreas de
atuação humana existem indivíduos que se destacam do restante da
população, isso é uma elite. Para Pareto elite não significava apenas
aristocracia, e sim qualquer grupo que se destaque em alguma atividade
específica, portanto pode haver uma elite econômica, uma elite intelectual, uma
elite de guerreiros, uma elite de pedreiros, entre outras45. A fase da Maçonaria
denominada operativa representa bem esses conceitos, visto que nessa época
a instituição era restrita à elite dos pedreiros. Pareto acreditava que as elites
não são eternas e que existe uma espécie de renovação, denominada
circulação das elites, para o autor, quando não ocorre tal circulação a elite se
44
BARRETO, Célia de Barros. Ação das Sociedades Secretas. In: História Geral da Civilização Brasileira.
Direção: Sérgio Buarque de Holanda. Vol II: O Brasil Monárquico. O Processo de Emancipação. Ed: DIfel
São Paulo/ Rio de Janeiro,1976.
45
GRYNSZPAN, Mário. Ciência política e trajetórias sociais: uma sociologia histórica da teoria das elites.
Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, 1999.
33
degenera e de qualquer jeito acaba caindo46. A circulação das elites aconteceu
na Maçonaria, na fase conhecida como especulativa, quando a instituição
começou a aceitar a entrada de outras profissões e consequentemente a
influencia dos pedreiros foi diminuindo. Pareto não concordava com o conceito
de luta de classes proposto pelos marxistas, para ele o que sempre ocorria era
uma luta de elites, portanto uma revolução socialista poderia ser encarada
como a substituição de uma elite burguesa por uma elite socialista47, o que de
fato ocorreu, por trás de uma roupagem igualitária e ideológica.
4.2 Doutrinas, simbolismo e aceitação
Albuquerque afirma que a Maçonaria é uma instituição essencialmente
filantrópica, filosófica e progressiva, que busca a verdade, o estudo da moral e
a prática fraternal. Trabalha para a evolução da moral e social da humanidade.
Tem como princípios a igualdade, a liberdade e a fraternidade, e como lema
justiça, verdade e trabalho.(ALBUQUERQUE, 1970, p. 323) Segundo o autor, o
maçom deve dedicar se a prática do bem e a solidariedade humana. O maçom
deve tratar os outros maçons como irmãos, ajudando os em momentos de crise
e os protegendo das injustiças dos homens. Apesar de existirem diferentes
ritos na Maçonaria, eles não se hostilizam, portanto cabe aos maçons tratarem
seus semelhantes de maneira fraternal não importando o rito a que pertencem.
(IBIDEM). Segundo Hutin, os meios que a Maçonaria emprega para o
melhoramento da humanidade são: a execução de atos simbólicos através dos
ritos, o mútuo ensino, a cultura intelectual e a prática de fraternidade e
solidariedade.(HUTIN, 1979, p. 40)
46
47
IBIDEM.
IBIDEM.
34
Como já visto anteriormente, não é qualquer pessoa que pode participar
da Maçonaria, é necessário alguns pré requisitos. Cabe ao candidato a maçom
ser um homem livre e de bons costumes. Entende-se por homem livre, aquele
que não seja subordinado a ninguém e nem impossibilitado de exercer sua
vontade e manifestar suas idéias, portanto solados e policiais não podem ser
maçons. Em relação aos bons costumes, o candidato deve ter certas atitudes
como ausência de vícios e devoção à família, além de ter certa cultura que lhe
permita entender o simbolismo e os objetivos da instituição. (ALBUQUERQUE,
1970, p. 216). Além disso, existem outros pré requisitos para a aceitação na
instituição, como ser do sexo masculino, maior de vinte e um anos, ter
condição financeira para o próprio sustento e da família. O candidato deve
acreditar em um princípio criador, não importando qual seja. Um fator
importante é que não basta querer ingressar na Maçonaria, é necessário ser
convidado por um membro de alguma loja maçônica, havendo uma
investigação da vida do pretendente, para que seja averiguado se este possui
as qualidades necessárias para pertencer à instituição48. Apesar disso a
condição financeira parece representar muito mais do que apenas condições
de auto sustento e sustento familiar, visto que a Maçonaria é uma instituição
elitista, geralmente a influencia econômica e política dos candidatos é um fator
preponderante para o ingresso na instituição.
48
NETO, Antonio Onias. Maçonaria. Disponível em: http://www.metaportal.com.br/P81N/WASIST.htm .
Acessado na sexta feira, 10 de julho de 2011.
35
49
O símbolo acima é considerado o principal símbolo da Maçonaria, entre
tantos outros símbolos usados pela instituição, aliás, são três símbolos que
formam um símbolo composto. Segundo o maçom Joaquim Gervásio de
Figueiredo, o esquadro representa equidade, justiça e retidão, é um
instrumento que permite o desenho do angulo reto, representa também o
equilíbrio entre o ativo e o passivo, o mundo e o eu inferior com seus desejos e
paixões subjugadas e lembra aos maçons que eles devem buscar se unir com
à sua fonte de origem e se desprender das ilusões terrenas.50 O compasso é
um instrumento que pode traçar círculos, a circunferência produzida por ele é
utilizada para representar o infinito que podemos associar com o espírito.
Representa também o pensamento nos diversos círculos que percorre a
abertura e o fechamento de seus braços são referencia aos diversos modos de
raciocínio que devem variar de acordo com as circunstancias.51A letra G
representa o Macrocosmos, o grande arquiteto do universo. G é a letra de
Deus em inglês (God), em sírio (Gad), em alemão (Gott), e em outras línguas.
Representa gravitação, geração, gênio e gnosis(conhecimento). Em relação a
49
Imagem disponível em: http://www.espada.eti.br/n1986.asp . Acessado na sexta feira, 10 de julho de
2011.
50
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria Ed: Pensamento. 1996, p. 56.
51
Ibidem.
36
Deus, cabe lembrar que a Maçonaria não prega a crença em um Deus
específico, podendo participar da instituição pessoas de diferentes credos.
Contudo, a crença em um princípio regente é fundamental para a participação
na instituição52. A Maçonaria evoca o nome de G.A.D.U, ou o Grande Arquiteto
do Universo, que segundo Hutin é a força que rege a matéria, não é o Deus
criador do catolicismo, o grande arquiteto organiza a matéria que ele não criou,
é onipotente e representa o principio condutor e conservador.(HUTIN, 1979,
p.41) Apesar de o trinômio compasso, esquadro e G ser o principal símbolo da
Maçonaria, ela adota outros como: o delta luminoso, que representa a luz e a
sabedoria divina e é um triangulo com um olho dentro, e a espada flamejante
que representa a purificação e a proteção do conhecimento, além de muitos
outros que não serão abordados nesse trabalho.
Delta Luminoso.53
52
IBIDEM
Imagem disponível em: http://www.ictys.kit.net/Maat/templo.htm Acessado na sexta feira, 10 de
julho de 2011.
53
37
Espada Flamígera.54
Delta Luminoso na nota de um dólar55.
Apesar de a Maçonaria ser uma sociedade que não pretende discutir
política em suas reuniões, sabe-se que parte dos maçons usou a instituição
como meio de intervenção em diferentes momentos políticos em grande parte
do mundo. A influência da Maçonaria em momentos históricos no Brasil será
tema das próximas partes, particularmente: A Proclamação da Independência e
a ditadura militar.
54
Imagem disponível em: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-197361220-espada-da-maconariaflamgera-produto-para-macons-_JM. Acessado na sexta feira, 10 de julho de 2011.
55
Imagem
disponível
em:
http://asextaonda.com.br/post/Maconaria-Simbolos-SimbolismoSimbologia.aspx. Acessado na sexta feira, 10 de julho de 2011.
38
4.3 Origem da Maçonaria no Brasil
João Ferreira Durão afirma que se deve conhecer o contexto histórico do
Brasil durante os primeiros 250 anos a partir do descobrimento para que se
possa compreender como a Maçonaria surgiu no país. Segundo o autor,o nível
de conhecimento e informação do Brasil e de outras colônias de Portugal e
também da Espanha era muito inferior do que em países como Inglaterra,
Alemanha, França e suas respectivas colônias, visto que devido às guerras
entre os países europeus, a condição social de cada nação refletia em seus
territórios conquistados, assim sendo o nível cultural do Brasil era precário e a
maioria das pessoas era analfabeta.56A partir da segunda metade do século
XVIII, o nível cultural do Brasil começou a aumentar, supostamente isso foi
devido ao fato dos filhos dos ricos colonos brasileiros começarem a estudar em
universidades européias. Nessas universidades os jovens brasileiros tiveram
contato com as idéias do iluminismo, que nessa época, começavam a penetrar
na Maçonaria Esses jovens burgueses foram iniciados na Maçonaria européia
e voltaram ao Brasil notando o contraste entre a falta de respeito às liberdades
individuais na colônia e os ideais iluministas e maçônicos que haviam
aprendido no exterior. (Durão, 2008, pg. 17.). De fato se não existia Maçonaria
no Brasil nesse primeiro momento, há de se notar que existiam maçons no
país.
Não há consenso entre os historiadores sobre a primeira loja maçônica
instalada no país. Segundo Curtis Masil existem relatos da instituição no país
desde o final do século XVII, quando, viajantes franceses teriam entrado em
contato com lojas maçônicas no Rio de Janeiro. No começo do século XIX na
56
DURÃO, João Ferreira. Pequena História da Maçonaria no Brasil. Ed: Madras. São Paulo. 2008. P. 16
39
Bahia, o viajante francês Lindley supostamente conseguiu diminuir seus
sofrimentos na prisão por intermédio de irmãos maçons e ainda por cima teria
escapado no navio de um indivíduo pertencente à ordem.57. Já Castellani
afirma que no início de 1797 ocorriam reuniões da loja “Cavaleiros da Luz” a
bordo da Fragata “La Preneuse”, ancorada na povoação da Barra, em
Salvador, a tal Loja foi fundada em 14 de julho de 1797(CASTELLANI,2007,p.
46). Contudo, Castellani reitera que a loja documentada como mais antiga do
Brasil é a “Reunião”, fundada em 1801, em Niterói, Rio de Janeiro; essa loja
era filiada ao Grande Oriente da França (IBIDEM). De acordo com Alexandre
Mansur Barata, em 1804, o Grande Oriente Lusitano ao tomar conhecimento
da existência da loja “Reunião” nomeou três delegados para que submetessem
a loja à jurisdição portuguesa, a não submissão da Reunião resultou na criação
das lojas “Constância” e “Filantropia”58 (BARATA, 1999, ps. 59-60).
De fato, as lojas citadas acima foram as primeiras lojas maçônicas
oficiais do Brasil, contudo Castellani afirma que existiam outras sociedades
secretas
de
caráter
maçônico
como
clubes
e
academias
(CASTELLANI,2007,pg. 46). Segundo o autor, o Areópago de Itambé, fundado
pelo ex-frade carmelita Arruda Câmara em 1796 na fronteira de Pernambuco e
Paraíba, é considerado por muitos o marco inicial da Maçonaria brasileira,
contudo não era uma loja maçônica, visto que o integrante do Areópago padre
João Ribeiro teve que ser iniciado em uma loja em Lisboa. (IBIDEM) Durão se
queixa da inexistência de documentos sobre a Maçonaria no referido período,
quando as sociedades secretas e a instituição maçônica eram proibidas e seus
57
MASIL, Curtis. O que é a Maçonaria. Ed: Tecnoprint S.A,1986, p. 51.
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: A Ação da Maçonaria Brasileira (1870-1910). Editora da
UNICAMP. 1999, os. 59-60
58
40
membros quando capturados pela autoridade colonial eram condenados pelo
crime de “lesa majestade”
59
e tinham seus bens confiscados e locações e
documentos queimados (DURÃO, 2008, p. 13). Segundo o autor, a proibição
fez com que os maçons se reunissem em Sociedades Literárias e Culturais,
que tinham a função de criar peças literárias e debater assuntos de interesse
cultural, mas que eram usadas secretamente para conspirar a favor da
libertação do Brasil ante o julgo português (DURÃO, 2008, p. 13).
Assim como na Europa, no Brasil foi criada uma obediência nacional.
Em 17 de junho1 822 foi fundado o Grande Oriente Brasílico, pela união das
lojas “Comércio e Artes”, “União e Tranquilidade” e Esperança de Niterói. O
Grande Oriente Brasílico foi fundado com a intenção de apoiar a emancipação
do Brasil.(CASTELLANI, 2007, p. 47)
4.4 Primeiras tentativas
É certo que a Maçonaria teve papel de destaque na Independência de
nosso país, contudo não é claro se a instituição agiu de forma direta em
conjurações frustradas anteriores ao sete de setembro. Apesar de não
comprovada à participação da Maçonaria em movimentos insurgentes, como a
Inconfidência Mineira, a Revolta dos Alfaiates e a Conjuração Fluminense, é
certo que esses movimentos foram influenciados por ideais democráticos, mas
o difícil é saber se essas idéias chegaram aos insurgentes por meio da
Instituição maçônica ou pelo próprio prestígio que essas ideias possuíam.
(BARRETO, 1976, p.198).
59
O crime de lesa majestade foi definido dentro das Ordenações Filipinas e abrangia variadas situações.
Para maiores informações: http://pt.wikipedia.org/wiki/Crime_de_lesa-majestade
41
Em relação à Inconfidência Mineira, é certo que o inconfidente José
Alves de Maciel era maçom, mas enquanto aos outros inconfidentes fica a
dúvida. Segundo Masil, Tiradentes provavelmente era maçom, apesar de que
não existem provas de tal afirmação (MASIL, 1986, p. 51). Barreto afirma que
alguns estudiosos acreditam que existiam lojas maçônicas em Minas Gerais,
desde quando essa era uma capitânia, outros como Domingos de Abreu dizem
que toda a Inconfidência Mineira era uma conspiração maçônica, fato que fica
difícil de ser comprovado devido às intensas perseguições que existiam contra
as sociedades secretas na época, e a consequente aura de segredo que
pairava sobre a transição de documentos (BARRETO, 2006, p.199). Segundo
Castellani, a inconfidência mineira foi promovida principalmente por interesses
pessoais dos principais participantes, que com muitas dívidas, esperavam que
estas não precisassem ser pagas se a revolta fosse vitoriosa. (CASTELLANI,
2007, p. 49). Ainda segundo o autor, Tiradentes ingressou no regimento militar
dos Dragões de Minas Gerais, e aderiu à Inconfidência, pois não conseguiu
progredir na carreira nem no salário e se queixava que os únicos que
conseguiam esse feito eram os que tinham parentes influentes no meio político
e financeiro. (CASTELLANI, 2007, p. 50). Durão concorda com Castellani, ao
afirmar que existiam alguns integrantes da conjuração mineira movidos por
interesses pessoais e endividados, muito deles maçons, mas ressalta que
havia uma grande revolta dos negociantes de ouro e pedras preciosas frente
aos impostos absurdos que eram cobrados. (DURÃO, 2008, p.36). O próprio
Castellani afirma que havia um subgrupo ideológico no movimento, a missão
desse grupo era elaborar as leis e a constituição de um estado independente,
42
apesar de agirem por motivos altruísticos, não participavam da parte ativista e
formavam a minoria no grupo. (CASTELLANI, 2007, p.50)
Em relação aos movimentos de cunho popular como a Revolta dos
Alfaiates e a Conjuração Fluminense, Barreto afirma que essas insurgências
não continham elementos com níveis intelectuais e econômicos suficientes
para pertencer a Maçonaria, mas é provável que tenham sido assessorados
por alguma intelligentzia de cunho liberal. (BARRETO, 1976, p. 198). A Revolta
dos Alfaiates teve apoio de três maçons pertencentes à sociedade de caráter
maçônico Cavaleiros da Luz: Cipriano Barata,Hermógenes e Aguiar Francisco
Muniz Barreto. Com a dissolução da revolta seus principais líderes, os mulatos
Manuel Faustino de Lira e João de Deus do Nascimento foram condenados à
morte por enforcamento e executados, alguns outros envolvidos foram
condenados à prisão perpetua ou exílio na África, enquanto os maçons
supostamente
envolvidos
foram
absolvidos.
(DURÃO,
2006,
p.41).
Aparentemente o julgamento foi baseado nas condições sociais dos
envolvidos, mas não há provas concretas de que a Revolta dos Alfaiates teve
liderança ou mesmo participação direta da Maçonaria. Barreto, afirma, contudo
que Cipriano e Francisco Muniz possuíam obras de autores liberais como
Rousseau e Voltaire, e podem ter levado inspiração ideológica ao movimento.
(BARRETO, 2006, 200)
Se não existem provas que a Maçonaria apoio diretamente os
movimentos citados acima, a participação dessa sociedade é mais aceita em
relação aos movimentos pernambucanos que ocorreram entre 1801 e 1817,
quando surgiram várias sociedades secretas de cunho maçônico como o
43
Areópago de Itambé, existente desde 1798, além da Academia de Suassuna, a
Universidade Secreta, e a Escola Secreta, entre outras. Nas palavras de
Maximiliano Lopes Machado sobre o Areópago (IBIDEM):
“uma sociedade política secreta, intencionalmente colocada na raia das
províncias de Pernambuco e Paraíba, freqüentada(sic)p por pessoas salientes
de uma e outra parte e donde saíam, como um de um centro para a periferia,
sem ressaltos nem arruídos, as doutrinas ensinadas”
“Tinha por fim tornar conhecido o Estado Geral da Europa, os estremecimentos
e destroços dos governos absolutos, sob o influxo das idéias democráticas. Era
uma espécie de magistério que instruía e despertava o entusiasmo pela
república, mais em harmonia com a natureza e dignidade do homem,
inspirando, ao mesmo tempo, ódio à tirania dos reis. Era finalmente a
revolucção(sic) doutrinada que traria oportunamente a independência e o
govêrno;(sic) republicano a Pernambuco.”(IBIDEM)
Durante a conjuração de Pernambuco de 1801, alguns membros da
revolta foram julgados e acusados de fazerem parte do Areópago, que se
desfez logo em seguida. Apesar disso, a Maçonaria já estava bem estabelecida
no Brasil nessa época, o que fez surgir várias lojas maçônicas principalmente
no Norte e Nordeste do país, devido à vinda da corte portuguesa para o Sul do
território e a tendência da sociedade de se manter longe das influencias
absolutistas de Dom João. (BARRETO, 1976, p.201) O surgimento dessas
44
lojas fez com que a Maçonaria portuguesa tentasse influenciar as lojas
brasileiras, contudo devido ao fato do plano de independência da Maçonaria
em relação a Portugal se dar além do âmbito político nacional, abrangendo
também o espectro da própria organização maçônica, logo as lojas
portuguesas foram perdendo sua influência (IBIDEM). Além do fato de
Maçonaria portuguesa não querer a independência do Brasil, a Revolução
Francesa e seus ideais influenciaram a lojas brasileiras a se sujeitarem ao
Grande Oriente Francês. Apesar das lojas latino americanas terem sofrido
maior influencia da Maçonaria inglesa, isso não se deu em nosso país, visto
que a Inglaterra era grande aliada de Portugal, e não podia dar apoio, pelo
menos aparentemente, à emancipação de nossa pátria. O governo inglês
mudou sua posição no momento que percebeu que podia continuar exercendo
seu imperialismo em nosso país.(BARRETO, 2006, p.197). Com a volta de
Dom João para Portugal e o estabelecimento de D. Pedro I como príncipe
regente do país, a Maçonaria passou a atuar mais na região Sul, tendo sua
força política aumentada começa a elaborar um plano de independência.
(Barreto, 2006, 201)
A Revolução Pernambucana de 1817 foi realizada pela inspiração do
líder maçônico Domingo José Martins, que fora iniciado por Hipólito José da
Costa, considerado o “Patriarca da Imprensa Brasileira” e fundador do Correio
Braziliense, jornal que servia como veículo de analise da situação política de
Brasil e Portugal. (CASTELLANI, 2007, p. 56). A revolução triunfou
brevemente, conseguindo depor o governador do Estado Caetano Pinto de
Miranda no dia 06 de março de 1817, mas em pouco tempo os insurgentes
foram repreendidos, quando um exército de aproximadamente 1500 soldados
45
comandados pelo marechal Cogominho de Lacerda armou um cerco contra
Recife. (IBIDEM) No dia 20 de maio, os revolucionários foram derrotados, mais
tarde foram condenados e executados, num total de 43, incluindo militares,
civis, eclesiásticos e maçons. O fracasso da Revolução Pernambucana de
1817 teve resultados pesados para a Maçonaria no país, já que por causa dela,
D. João XI elaborou o Alvará Real de 181860, que proibia o funcionamento das
sociedades secretas, condenando com pena de morte e confisco de bens
qualquer um continuasse filiado a esse tipo de associação. O alvará tinha o
objetivo de proibir novas tentativas de rebelião que fossem incitadas por lojas
maçônicas. (IBIDEM). Depois do Alvará de proibição, a Maçonaria se encerrou
oficialmente no Brasil, mas passou a trabalhar secretamente no chamado
Clube da Resistência, fundado por José Joaquim da Rocha, em sua própria
casa. Em 1821 a loja “Comércio e Artes” voltou a funcionar e passou ser o
principal foco maçônico de atividade política pró emancipação. (CASTELLANI,
2007, p. 61)
4.5 Maçonaria e emancipação
Com o levante do Porto em Portugal, houve um incentivo para as
sociedades secretas no Brasil. Segundo Alex Alprim e Gilberto Schroeder, os
revolucionários portugueses tinham como exigências primarias a recuperação
da condição de sede do reino para Portugal e a volta dos privilégios coloniais61.
O levante do Porto tinha caráter liberal e foi responsável pela convocação de
60
A
mensagem
contida
no
alvará
pode
ser
encontrada
no
http://www.portalcravo.com.br/armando/index.php?view=article&catid=1:historia&id=198:umdocumento-importante-para-a-historia-da-maconaria
site:
61
ALPRIM, Alex e SCHROEDER, Gilberto. Independência: Economia, Política e Cultura no Século 19.
Revista História do Brasil. Ed: Mythos, Ano 1 Número 03. 2011. P.14
46
eleições de deputados para a instalação de Cortes Constituintes, assim, todos
os domínios portugueses deveriam se reunir em Lisboa para elaboração de
novas regras. Em 1821 a pressão da revolução do Porto fez com que Dom
João VI voltasse a Portugal. O levante do Porto acabou ganhando
simpatizantes no Brasil, que mandou deputados para Portugal a partir de
agosto do mesmo ano, os primeiros representantes brasileiros que chegaram a
Lisboa foram os pernambucanos que ainda guardavam rancor sobre a
repressão ao levante de 181762. Em setembro de 1821 foi aprovado o Decreto
de Setembro, que exigia o Retorno de D. Pedro a Portugal além da volta do Rio
de Janeiro à situação de província como qualquer outra e a revogação do
caráter de Reino Unido para o Brasil. (IBIDEM). A situação ficou complicada
em fevereiro de 1822, quando os paulistas chegam à Lisboa com um programa
elaborado por José Bonifácio, que defendia a manutenção do Brasil como
Reino Unido a Portugal e a permanência de Dom Pedro como regente no Rio
de Janeiro, os paulistas também denunciaram o Decreto de Setembro como
uma forma despótica de controlar o Brasil63. Durão ressalta que o levante do
Porto tinha características liberais apenas para Portugal, mas que era
absolutista e colonialista para o Brasil. O autor ainda afirma que além dos
objetivos já citados, o levante pretendia o restabelecimento do pacto colonial,
sistema que impunha exclusividade para com a metrópole em relação às
matérias primas mais importantes das colônias americanas. (DURÃO, 2006, p.
96-101).
62
IBIDEM.
63
IBIDEM
47
Com o estabelecimento da monarquia constitucional portuguesa, as lojas
lusófonas já tinham alcançado parte do seu objetivo e no Brasil iam
aparecendo oportunidades de proclamação da independência. (BARRETO,
1976,
p.203).
As
lojas
maçônicas
passaram
a
buscar
adeptos
da
independência, enquanto os adeptos buscavam as lojas maçônicas como
potenciais meios de disseminação da ideia. Apesar disso, não havia consenso
sobre o modo que se libertaria o país. Existiam aqueles, como Joaquim
Gonçalves Ledo, que acreditavam que a Maçonaria era o melhor lugar para
levar o sonho adiante, e outros, como José Bonifácio de Andrada e Silva, que
não levavam fé na sociedade. Ambos participavam do Grande Oriente do
Brasil. Na ausência de partidos políticos, a Maçonaria era a entidade que mais
se parecia com um. (IBIDEM). Castellani afirma que o grupo de José Bonifácio
defendia a independência dentro de uma união Brasílico lusa, enquanto o
grupo de Ledo almejava um rompimento total com Portugal. (CASTELLANI,
2007, p.63) Alguns autores chegam a afirmar que José Bonifácio era contrário
à independência do país, Kurt Prober64 afirma em todas as suas obras que
José Bonifácio era um “impostor” que desejava a permanência do Brasil como
colônia ou no máximo como um país independente com o regime monárquico,
onde ele poderia desfrutar de sua influência perante a nobreza portuguesa.
(DURÃO, 2006, p 121). Já o autor Frederico Guilherme Costa afirma que tanto
Bonifácio quanto Ledo queriam a independência do Brasil com a manutenção
dos laços com Portugal, segundo o autor, a rivalidade entre os dois era de
poder e não ideológica.65 Segundo Alprim e Schroeder, Bonifácio assim como
muitos homens de sua época, se apresentava como Liberal, mas na prática
64
Segundo informações de José Durão.
COSTA, Frederico Guilherme. Presença Marcante na Independência. Revista História Viva Ano 2
Número 24. 2005, p.47.
65
48
suas atitudes eram conservadoras e beneficiavam os grandes proprietários de
terra. (ALPRIM; SCHOREDER, 2011, p. 28). Já Ledo, como entende Magno P.
de Andrade teria sido um liberal radical que contava com grande apoio das
camadas populares e buscava não somente a independência, mas a
redemocratização da sociedade brasileira66. Há de se notar o destaque que a
Maçonaria exerceu no evento conhecido como “Fico”, quando D. Pedro
desobedeceu às exigências da corte portuguesa que pretendiam que ele
deixasse o Brasil. Segundo Durão, no dia 19 de setembro de 1821, as cortes
extinguiram os tribunais estabelecidos no Brasil por D. João VI e exigiram que
D. Pedro retornasse a Portugal, com o pretexto que ele deveria fazer uma
viagem aos países da Europa para aprimorar sua educação. No dia 9 de
dezembro do mesmo ano, D. Pedro escreveu uma carta para seu pai afirmando
que retornaria à Pátria Lusa. (DURÃO, 2006, p.106). No dia 10 de dezembro do
mesmo ano, os maçons da Loja Comércio e Artes e do Clube da Resistência
se reuniram na sede do clube, a já citada casa de José Joaquim da Rocha para
planejar meios para que D. Pedro continuasse no Brasil. Decidiram, então,
enviar agentes para São Paulo, Minas e para as câmaras de província do Rio
de Janeiro afim de que pedissem a Pedro que não abandonasse o país na
situação precária que se encontrava. (DURÃO, 2006, p.107). O coronel
Gordilho de Barbuda ficou encarregado de avisar ao príncipe do que estavam
fazendo. Pedro ficou receoso no começo, aparentemente temendo represália
de Portugal, mas no dia seguinte concordou que permaneceria no país se os
povos das três províncias lhe enviassem deputações pedindo sua permanência
66
ANDRADE, Magno P. Joaquim Gonçalves Ledo. Disponível em:
http://lmjgledo.com.br/sys/index.php?option=content&task=view&id=219&Itemid=131. Acessado em
18 de julho de 2011
49
no país. Um pouco depois, Gordilho avisou seus companheiros maçons, que se
reuniram no convento de Santo Antônio para elaborar um manifesto da
população da cidade do Rio De Janeiro, cuja redação ficou ao encargo do
maçom e frei Francisco de Sampaio. A declaração de São Paulo foi redigida
por José Bonifácio e em Minas o desembargador José Teixeira da Fonseca
Vasconcelos ficou encarregado de viajar ao Rio para dar a notícia da Adesão
da província mineira ao príncipe. O manifesto do povo redigido no Rio de
Janeiro contava com mais de oito mil assinaturas. (DURÃO, 2006, p.108).
Ainda segundo o autor no dia 9 de janeiro de 1822, Dom Pedro em sessão do
senado depois de ouvir o manifesto do povo do rio e as representações das
outros províncias, teria dito “Como é para o bem de todos e felicidade geral da
nação, estou pronto: diga ao povo que fico” em seguida essa frase teria sido
repetida em voz alta pelo presidente do senado José Clemente Pereira, que do
paço a direcionava ao povo que lotava as praças em pleno êxtase. Alguns
autores discordam desse fato, A. Tenório de Albuquerque afirma que
primeiramente o príncipe tinha dito “Convencido de que a presença da minha
pessoa no Brasil interessa ao bem de toda a nação portuguesa, e conhecido
que a vontade de algumas províncias assim o requer, demorarei a minha saída
até que as cortes e meu augusto pai e senhor deliberem a este respeito, com
perfeito
conhecimento
das
circunstancias
que
têm
ocorrido”.Segundo
Albuquerque essa declaração tinha desagradado tanto a corte portuguesa
como a população do Brasil, poucas horas depois a frase declaração em
questão teria sido substituída pela que ficou mais conhecida67.
67
ALBUQUERQUE. A Tenóriode. A Maçonaria e a Grandeza do Brasil. Ed: Gráfica Aurora Ltda. Rio de
Janeiro, 1973.
50
No dia 13 de maio de 1822, a loja maçônica “Comércio e Artes” outorgou
a D. Pedro o título de “Defensor Perpetuo do Brasil” por influência de
Gonçalves Ledo, que queria que o príncipe aderisse definitivamente à causa da
independência (DURÃO, 2006, p. 114). Segundo Barreto, José Bonifácio se
manifestou contra essa decisão. (BARRETO, 1976, p.205). De acordo com
Durão, D. Pedro rejeitou o título de “protetor”, porque segundo ele “O Brasil se
defendia por si mesmo” (DURÃO, 2006, 114)
Voltando a disputa entre José Bonifácio e Gonçalves Ledo, Bonifácio
não acreditava que a Maçonaria pudesse levar adiante a independência do
Brasil, talvez por pensar que a sociedade deveria manter seu caráter
filantrópico e filosófico, ou por achar que como Ministro do Reino e dos
Estrangeiros tinha mais poder para isso que a própria sociedade ou talvez por
temer uma perda de prestígio perante o príncipe depois de sua iniciação,
contudo ele adentra a Maçonaria para saber o que acontece nas reuniões por
não confiar em alguns de seus membros (BARRETO, 2006, 204). Bonifácio
usava seu cargo para tentar convencer Pedro de suas ideias. Por outro lado,
Ledo acreditava piamente na força da Maçonaria e tentava a todo custo fazer
com que o príncipe regente participasse da sociedade. Pedro, no entanto
transitava entre os dois grupos, assumindo a importância de sua figura para a
independência do Brasil, e consequentemente, dificultando a perspectiva de
uma solução republicana. Ledo, por ter maior influencia entre os maçons,
começou a agir sem o conhecimento de Bonifácio, que nem sempre podia
comparecer as reuniões. (IBIDEM). Há de se notar que a disputa entre
Bonifácio e Ledo não se limitava ao ambiente das lojas maçônicas, chegando a
se estender através da imprensa. No dia 15 de setembro de 1821, Ledo lançou
51
o jornal “Revérbero Constitucional Fluminense” que teve uma influência
considerável no movimento pela emancipação passou a ilustrar o pensamento
liberal da Maçonaria. Já Bonifácio fundou o “Regulador Brasílico-Lúsico” que
combatia o “Revérbero” e tinha caráter mais conservador “(CASTELLANI,
2007, pg. 63)
De acordo com Barreto, no dia dois de junho de 1822, com certa
desconfiança da Maçonaria, Bonifácio criou outra sociedade secreta, porém
não maçônica, o “Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Luz,” e
convidou Pedro, que aceitou fazer parte da sociedade e adotou o nome de
Rômulo, o príncipe ficou com o mais alto cargo, o de Arconte Rei, enquanto
Bonifácio reservou para si o título de cônsul e adotou o pseudônimo de Tibiriçá.
Ledo entrou para o Apostolado com o mesmo objetivo de vigília que Bonifácio
tinha para com a Maçonaria. (BARRETO, 1976, p.205).
No dia 17 de junho de 1822, como já dito antes, foi criado o Grande
Oriente Brasil, sendo eleito José Bonifácio como seu Grão Mestre. Essa
decisão se deu pela grande influência de Bonifácio não apenas na política
nacional, mas também na europeia, devido a sua intensa atividade política e
científica durante os anos em que viveu no velho continente. Gonçalves Ledo
foi agraciado com o cargo de Primeiro Grande Vigilante, substituto imediato do
Grão Mestre. (CASTELLANI, 2007, pg. 62) Ainda há certa polêmica sobre a
data certa de criação do Grande Oriente, de acordo com Castellani o G.O.B foi
fundado no 28º dia do 3º mês maçônico, o que segundo o autor corresponde
ao dia 17 de junho de 1822. Para Castellani, estaria errada a afirmação de
alguns autores que interpretam esse dia como se fosse 28 de maio de 1822,
52
confusão gerada pela errada premissa de que o ano maçom começava no dia
1º de março, quando na verdade, o Grande Oriente usava o calendário
equinocial que considerava o dia 21 de março como primeiro dia do ano.
(CASTELLANI, 2007, pg. 62)
Os maçons do grupo de Ledo não desejavam que D. Pedro fizesse parte
apenas do Apostolado, portanto logo eles os convidaram a fazer parte da
instituição maçônica. De acordo com Castellani, o príncipe foi iniciado na Loja
“Coméricio e Artes” no dia 2 de agosto de 1822, e adotou o codinome de
Guatemozim68, nome do último imperador asteca de Anahuac (região do atual
México), que morreu bravamente enfrentando o exército de invasores
espanhóis liderados por Cortez69. (CASTELLANI, 2007, p. 63) Durão afirma
que D. Pedro acreditava que teria muito mais amplo apoio nacional na
Maçonaria do que no Apostolado, além do que se não ingressasse à
instituição, a independência seria proclamada pelos maçons de qualquer forma,
e ele não participaria do evento. (DURAO, 2006 125).
José Bonifácio mal aparecia nas reuniões da Maçonaria, deixando as
formalidades e decisões livres para Gonçalves Ledo e seu grupo.Segundo
Durãp, Bonifácio teria tentado retardar a independência do país e restaurar a
monarquia, onde teria melhores prestígios e privilégios. (DURÃO, 2006, pg.
125) Na sessão do dia 22 de agosto, Gonçalves Ledo propôs o nome de D.
Pedro para Grão Mestre do Grande Oriente, com o intuito de atrair o príncipe
68
Para mais informações sobre Cuauhtémoc. Consultar:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cuauht%C3%A9moc
69
Para mais informações sobre o explorador espanhol Hernán Cortez:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hern%C3%A1n_Cort%C3%A9s
53
para a causa da emancipação e afastar a influência de José Bonifácio, que foi
reconduzido para o cargo de Grão Mestre Adjunto, a proposta foi aprovada por
unanimidade, em uma sessão que tanto Bonifácio como Pedro haviam faltado.
(IBIDEM) Essa decisão acirrou ainda mais o conflito entre Ledo e Bonifácio.
Barreto, contudo afirma que esse evento ocorreu no dia 14 de setembro,
portanto depois da emancipação, e tinha como um dos objetivos eleger o
proclamador da independência e futuro imperador do Brasil para o posto mais
alto da instituição. (BARRETO, 2006, p. 206). Durão afirma que esse erro de
datação é comum e causado pelo calendário primitivo adotado pela Maçonaria.
(DURÃO, 2006, p.125)
De acordo com Alprim e Schoreder ,no dia 7 de setembro de 1822, D.
Pedro voltava de uma viagem à capital paulista para apaziguar disputas
políticas, quando na colina do Ipiranga foi abordado por mensageiros que
traziam mensagens de sua esposa D. Leopoldina e de José Bonifácio. Pelas
cartas ficou sabendo que as Cortes de Lisboa exigiam a demissão dos
ministros nomeados por Pedro, e seu rebaixamento do posto de príncipe
regente para delegado das cortes. De acordo com um dos membros da
comitiva, Padre Belchior, Pedro extremamente chateado tirou do chapéu o laço
com as cores lusitanas e gritou a famosa frase “Independência ou Morte”.
(ALPRIM; SCHOREDER, 2011, pg. 19). De acordo com Durão, no dia 9 de
setembro, em sessão do Grande Oriente, Gonçalves Ledo declarou: “... as
atuais circunstâncias políticas de nossa pátria, o rico, fértil e poderoso Brasil,
demandavam e exigiam imperiosamente que a sua categoria fosse
inabalavelmente firmada com a proclamação de nossa independência e da
realeza constitucional na pessoa do Augusto Príncipe Perpétuo Defensor
54
Constitucional do reino do Brasil”. Esse discurso de Ledo aprovado por
unanimidade foi considerado a declaração de independência do Grande
Oriente do Brasil.(Durão, 2006, pg.128)
D. Pedro tomou posse no cargo de Grão Mestre do Grande Oriente do
Brasil no dia 4 de outubro, surpreendendo assim José Bonifácio. O grupo de
Ledo, que defendia a república, era perseguido tanto por Bonifácio quanto pelo
imperador que adotava medidas absolutistas. (DURÃO, 2006, p.130). Segundo
Castellani, Ledo e Clemente Pereira exigiram que D. Pedro prestasse
juramento à constituição que a assembleia constituinte aprovasse, além de três
assinaturas em uma folha em branco. Como o imperador viu que as exigências
eram prejudiciais a seu governo e diminuíam o seu poder, no dia 21 de
outubro, ele exigiu por carta à Ledo que o Grande Oriente fosse fechado.
(CASTELLANI, 2007, p. 69) Segundo Durão, Gonçalves Ledo não concordou
com a decisão do imperador e preferiu prestar esclarecimentos. D. Pedro teria
reconhecido que foi vítima do ódio de seu ministro José Bonifácio e mandou
reativar as atividades do Grande Oriente no dia 25 de outubro. Essa atitude
aparentemente não agradou Bonifácio que se demitiu do ministério junto com
seu irmão Martin Francisco que também era ministro. D. Pedro não conseguiu
formar outro ministério, e os membros do Apostolado exigiram à volta dos
Andrada ao poder, o imperador acatou as exigências de Bonifácio e ordenou
novamente o fechamento do G.O.B. Durão afirma que na volta de Bonifácio ao
poder, o mesmo determinou a prisão dos que considerava seus inimigos,
fazendo com que muitos maçons aliados de Gonçalves Ledo fossem presos.
Alguns dias depois o Grande Oriente foi novamente fechado. (DURÃO, 2006,
p.131)
55
O apostolado também não durou muito tempo depois do fechamento do
G.O.B. Em 1823, Pedro recebeu uma carta redigida em alemão que
denunciava uma conspiração da sociedade contra sua pessoa. (CASTELLANI,
2007, 69) Durão afirma que no dia 15 de julho do mesmo ano, o imperador
convocou a presença de Bonifácio ao palácio,e enquanto o ministro era retido
em companhia da imperatriz, o imperador foi à sede do apostolado com mais
de cinquenta soldados e fechou a associação. (DURÃO, 2006, 121).
Desde o fechamento do Grande Oriente a Maçonaria passou por um
hiato que durou até 1831, ano da abdicação de D. Pedro. Nesse ano ressurgiu
o Grande Oriente do Brasil e surgiu o Grande Oriente Brasileiro.
(CASTELLANI, 2007, 69) Segundo Francisco Adolfo Varnhagen, a Maçonaria
nessa época se dividiu em duas correntes: A primeira, liderada por Bonifácio,
pregava os valores não políticos da instituição como beneficência, filantropia e
Justiça. A segunda corrente agregava tanto liberais exaltados como
absolutistas, e propunha o uso do segredo da instituição como vantagem para
se opor aos governos.70 Posteriormente a Maçonaria se envolveu em eventos
de caráter liberal importantes da história brasileira como a proclamação da
republica e a abolição da escravatura.
70
VARNHAGEN. Francisco Adolfo. História Geral do Brasil. Ed: Melhoramentos, 1948, p.504
56
Capítulo III
Maçonaria e a Ditadura Militar
57
O presente capítulo busca abordar a atuação da Maçonaria perante o
golpe de Estado que o Brasil sofreu no ano de 1964 e no subsequente regime
ditatorial implantado no país. Em contraste com a luta pela emancipação do
país que exaltou o caráter liberal da instituição sob o lema Igualdade,
Liberdade Fraternidade, o evento ocorrido em 64 mostrou a outra face da
Maçonaria em um contexto mais conservador e repressivo. Partindo dessa
premissa, pretende se analisar esse período da instituição para que se possa
ter uma visão mais geral da mesma.
5.1 Maçonaria e o golpe
O ano de 1964 é considerado emblemático para a história do nosso
país. Foi nesse ano em que os militares tomaram o poder e instauraram um
regime ditatorial que durou aproximadamente duas décadas, marcadas por
censura, prisões arbitrárias e execuções sumárias.
O pano de fundo para essa história se inicia no inicio de 1961 quando
Jânio da Silva Quadros tomou posse para o cargo de Presidente da Republica,
derrotando o marechal Lott e o maçom e ex governador de São Paulo Adhemar
de Barros. Jânio também era maçom e foi iniciado pela loja paulista “Libertas”,
apesar disso, tinha se afastado da loja em 1947 só voltando à atividade
maçônica em 1985.(CASTELLANI, 2007,pg.136).
Jânio Quadros adotou uma política extremamente impopular, pois
precisava tomar as rédeas da economia brasileira. Castelanni destaca que
Jânio implantou várias reformas no meio administrativo e abriu diversos
inquéritos e investigações, prometendo austeridade no serviço público. O
58
presidente sofria forte oposição no congresso, visto que tinha sido eleito por
partidos minoritários, além disso, sofria pressão norte americana devido à suas
atuações internacionais consideradas esquerdistas, como a reatamento de
relações com a União Soviética e a condecoração ao líder guerrilheiro Ernesto
“Che” Guevara. (CASTELLANI, 2007, pg. 137). No dia 25 de agosto de 1961,
Jânio renunciou ao cargo com um discurso confuso e misterioso no qual
acusava “forças ocultas” como responsáveis por sua decisão.
A renúncia de Jânio desencadeou uma grave crise política, pois seu vice
João Goulart, também conhecido como Jango, estava viajando para a Ásia no
momento e os ministros militares não queriam que ele assumisse o poder.
O Grão mestre Cyro Werneck manifestou-se publicamente em nome do
Grande Oriente do Brasil, como a favor à constituição e a posse de Goulart,
apesar disso, vários outros segmentos eram contra a posse de Jango. Jango
acabou tomando posse no dia 7 de setembro de 1961, mas um Ato Adicional à
Constituição instituiu o parlamentarismo no Brasil, por um breve período, já que
em 1963 a população aprovou por plebiscito a volta do regime presidencialista.
(CASTELLANI, 2007,137).
Muitos viam Jango como comunista por suas reformas e idéias de
esquerda. A oposição concordava que reformas precisavam ser feitas, mas
discordava do modo que elas estavam sendo conduzidas pelo presidente, a
divergência aparecia principalmente em relação à reforma agrária, já que a
oposição não concordava com a intenção de pagamento das desapropriações
com títulos da dívida pública.(CASTELLANI, 2007, pg. 138) Outras coisas
também desagradaram os adversários do presidente como a estimulação que
ele fez para a concentração dos trabalhadores, o que foi considerado como
59
uma declaração de legitimidade da pressão que eles exerciam sobre o
congresso. Nessa época os opositores começaram a acusar o presidente de
omissão perante o processo inflacionário, de adoção de uma política de
estatização e de permitir que “comunistas” se infiltrassem nos cargos
administrativos do país. (IBIDEM)
Nessa época o mundo passava pela guerra fria, e o embate entre direita
e esquerda estava bastante acirrado e esse fato refletiu tanto no Brasil quanto
na Maçonaria brasileira. Castellani prefere considerar que existiam duas
tendências opostas dentro da instituição, a primeira composta por indivíduos de
esquerda que haviam se infiltrado na Maçonaria e em outras instituições a
partir dos anos trinta, e a segunda tendência formada por elementos que não
manifestavam tendências radicais de direita, mas eram radicais contra o
envolvimento de esquerdistas na ordem e tradicionalmente contrários à
extremismos. (CASTELLANI, 2007, pg.138).
Tatiana Martins Almeri nota que a Maçonaria por não aceitar
extremismos, não aceitava indivíduos de esquerda, e que ainda por cima
perseguia e delatava esses indivíduos, apesar de isso ser o pensamento oficial
da Ordem maçônica, existiam vários maçons que não concordavam com essa
posição.71
O estranho é que uma instituição que adota como lema “Liberdade,
Igualdade e fraternidade” não aceitava que seus membros professassem
posições ideológicas divergentes, e com o pretexto de não aceitar
extremismos, acabou agindo de forma extrema com seus próprios membros.
71
ALMERI, Tatiana. Raízes Secretas. In: Sociedades Secretas: Maçonaria, Illuminatis, Cavaleiros
Templários. Direção: Sandro Aloísio. Ed: Escala. São Paulo, 2009. P. 104
60
A sociedade brasileira de 1964 começou a acreditar que o clima político
e econômico era de caos, e os militares surgiram como uma alternativa de
salvação para aquele período. Castellan iafirma que o estopim para que a
revolta fosse deflagrada foi à falta de punição ao motim dos marinheiros e o
discurso presidencial do dia 30 de março de 1964, atitudes que segundo o
autor feriram o principio da hierarquia militar.(CASTELLANI, 2007, pg. 139).
No dia seguinte, 31 de março, os militares deflagraram o golpe, que
começou em Minas e se expandiu para o Rio de Janeiro e São Paulo. Goulart
não conseguiu reagir e os militares sabotaram o sistema de comunicação e
cercaram vários pontos em regiões estratégicas do país. Almeri afirma que a
Polícia Civil do governo de Jango foi extremamente ineficiente no sentido de
guardar a ordem política, visto que no dia posterior ao golpe, a entidade iniciou
uma greve.(ALMERI, 2009, pg. 109).
No dia 2 de abril de 1964 Ranieri Mazzilli foi empossado, e o golpe foi
concluído. Um dos primeiros atos de Mazzilli e seu grupo foi à instauração do
Ato Institucional n° 1(AI-1) e a eleição de Humberto de Alencar Castello Branco
para o cargo de Presidente da República. Começava assim no Brasil, um
período ditatorial que duraria mais de vinte anos.
5.2 Maçonaria e o período ditatorial
A maioria dos maçons apoiou inicialmente o golpe, em um contexto que
a situação do país era caótica. Castellani ainda afirma que o apoio da
Maçonaria se deu devido à intenção do presidente de dar um rumo ordeiro à
nação e devolver o governo aos civis, fato que não ocorreu devido a influencia
61
da ala radical do exército.(CASTELLANI, 2007, p. 139)Ao contrário do Estado
Novo, período ditatorial em que o Presidente Getúlio Vargas mandou fechar
quase que todas as lojas maçônicas, o governo instaurado em 64 praticamente
não repreendeu a instituição maçônica, de fato, o autor ressalta que era a
própria Maçonaria que expurgava os membros considerados radicais. Além
disso, existiam aproveitadores na ordem que usavam da tendência política
dominante para perseguir outros maçons considerados adversários e os acusálos de serem comunistas. (IBIDEM).Esse clima tenso fez que com que pessoas
de destaque como o secretário de cultura sofressem pressões da ordem e
fossem julgados como “pessoas de esquerda”, portanto, inadequados de
pertencerem à Maçonaria.(ALMERI, 2009, pg. 110)
A partir de 1968 o sistema ditatorial começou a ficar mais repressivo.
Artur da Costa Silva era o presidente do período, o congresso foi fechado e foi
instaurado o Ato Institucional n° 5(AI 5) que acabava com várias garantias
institucionais e jogava o Brasil em um período de muita censura e repressão.
Devido á tensão da época, a atividade maçônica começou a diminuir, se
restringindo a fatos administrativos internos.
Castellani afirma que no dia 24 de junho de 1969, o Grão Mestre Geral
Moacir ArbexDinamarco escreveu no seu relatório geral a seguinte mensagem:
“(...) Demonstramos o pensamento da Maçonaria sobre a relevância do papel
das forças armadas na defesa do regime democrático. Não nos acomodamos
quanto à crise estudantil e, em declaração incisiva, colocamo-nos como
mediador da mesma, procurando serenar o episódio”.72 Apesar de o Grão
Mestre Moacyr afirmar que defendia um regime democrático, ele fazia
72
CASTELLANI, José. História do Grande Oriente do Brasil: A Maçonaria na História do Brasil. Gráfica e
Editora do Grande Oriente do Brasil. Brasília, 1993. P. 68
62
exatamente o oposto, defendendo em nome da Maçonaria, um regime
ditatorial.
Depois de Costa e Silva, o Brasil foi governado por Emílio Garrastazu
Médici, que inaugurou a época mais dura e repressiva do regime. Essa época
foi marcada por dissidências dentro da Maçonaria, em partes causadas pelo
aumento do número de maçons contrários à ditadura militar. Em 1973 ocorreu
uma cisão na Ordem Paulista, que ficou conhecido como “Cisma Paulistinha”,
esse evento foi causado basicamente por disputas políticas internas referentes
às sucessões de cargos maçônicos. (ALMERI, 2009, p. 111).
Depois da Era Médici, o general Ernesto Beckmann Geisil assumiu o
controle do regime, e foi o principal responsável pelo início da lenta e gradual
abertura política do país. O auge do apoio institucional da Maçonaria aconteceu
no dia 15 de março de 1974, quando o presidente Geisel recebeu em
audiência, o Grão Mestre Geral Osmame Vieira de Resende e o seu Adjunto o
senador do partido situacionista Osíris Teixeira. No referido evento, Teixeira leu
um ofício que reafirmava o apoio do Grande Oriente ao governo instaurado em
1964. De acordo com Castellani esse evento se fez sem consulta ao chamado
“povo maçônico”, que desiludido e não percebendo a volta do regime
democrático, já não apoiava, em sua maioria, o regime vigente.(CASTELLANI,
2007, p. 140),
Em 1979, João Batista Figueiredo assumiu a presidência, em um
governo que se caracterizou por atitudes menos repressivas. No dia 28 de
agosto, o presidente sancionou a lei de anistia, que foi promulgada no dia 1º de
novembro. A Maçonaria apoiou a lei da anistia, apesar de haver maçons que
não concordaram com essa idéia. A instituição também apoiou as eleições
63
diretas para presidente no ano de 1984, o que de fato não ocorreu, visto que
alguns grupos políticos queriam se manter no poder. (CASTELLANI, 2007, p.
140), Pela via indireta foi eleito Tancredo Neves, que morreu antes de tomar
posse, sendo assim o cargo foi entregue a José Sarney. Sarney conduziu o
país em um regime impopular e marcado pela alta inflação, mas que entraria
na história por ter sido o primeiro governo civil depois de duas décadas de
ditadura militar.
5.3 A Elite “Orgânica”
Em artigo de 2007, a socióloga Tatiana Almeri investigou a hipótese de
que o estado de caos que nosso país sofria na época foi um fato
estrategicamente criado e inserido na cabeça da população para que se
justificasse o golpe73. A autora abordou a concretização da “elite orgânica”,
grupo
formado
por
intelectuais
orgânicos
com
interesses
financeiros
multinacionais que eram representados por órgãos como IPES74 e IBAD75. A
elite orgânica era composta por vários maçons e era uma espécie de oposição
ao governo Goulart, foi recebida com grande apoio da mídia e de poderosos
grupos eclesiásticos. A elite orgânica usava do IPES e do IBAD para divulgar
uma
ideologia
anticomunista
e
de
estabelecimento
dos
interesses
multinacionais sobre as forças operarias emergentes. (ALMERI, 2007a, p.40) O
IPES era apresentado com uma entidade que visava analisar a situação e
contribuir para a solução dos problemas brasileiros. A entidade supostamente
73
ALMERI, Tatiana. Guinada Para a Direita: Da Visão Liberal ao Conservadorismo. Revista Leituras da
História. Ano 1 Número: 02. Ed: Escala São Paulo, 2007.
74
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais.
75
Instituto Brasileiro de Ação Democrática.
64
seria dirigida por profissionais liberais com convicção direta, e não por
representantes de uma classe específica. Para representar essa idéia de
fachada, o IPES era apresentado para o grande público como uma organização
educacional que fazia doações para a redução do analfabetismo entre as
crianças pobres76.
Além da parte exposta ao público, o IPES/IBAD possuía o poder de
manipulação de opinião e guerra psicológica, sendo que a elite orgânica era
uma poderosa entidade de classe que opunha seu poder organizado ao poder
do Estado do Bloco populista. A partir desses artifícios, a elite orgânica
conseguia agir tanto secretamente como publicamente, seu objetivo era levar
os interesses multinacionais ao governo através de um golpe de estado. A
doutrina proposta pela elite orgânica foi, por parte, responsável pelo
rompimento das relações brasileiras com Cuba e pelo apoio à intervenção
militar norte americana no país. O Brasil Ditatorial acabou por reafirmar o
benefício às elites brasileiras e estrangeiras.(ALMERI, 2007a, p. 39),
Entre os agentes sociopolíticos da elite orgânica, o mais preparado e
hábil teórica e politicamente era o Coronel Golbery de Couto e Silva. O Coronel
Golbery, que era maçom, teve papel preponderante no golpe militar de 1964.
Golbery usava argumentos fortes sem deixar possibilidade de reflexão, e com o
auxílio da mídia, conseguiu criar um pano de fundo ideológico que instaurou o
medo da ameaça comunista na cabeça da população e condenou o governo de
João Goulart. (ALMERI, 2007a, p.42), Golbery expôs suas idéias no livro de
1955, Planejamento Estratégico, que continha frases como: “Vivemos ainda,
para o bem maior ou a maldição irresgatável da humanidade- em que pese as
76
DREIFUSS, Rene Armand. 1964: A Conquista do Estado. Ed: Vozes. 1981, p.282.
65
profecias pessimistas ou esperanças redentoras- a era do nacionalismo, isto é,
da lealdade máxima do cidadão consagrada à nação”77.
Golbery usava do nacionalismo como uma vontade coletiva e criadora
que levaria a população a tentar salvar os “Objetivos Nacionais Permanentes” a
qualquer preço. (ALMERI, 2007a, p. 42). O coronel alertava a população sobre
a ameaça comunista que pairava sobre os países do oriente e deixava claro
que o Brasil sofria os mesmos riscos, propunha que o Brasil já estava infiltrado
por comunistas que seguiam as doutrinas de Marx de modo disciplinado e
fanático, e convenceu a população de que esses inimigos internos estavam
preparando um golpe de estado (ALMERI, 2007a, p. 47). Golbery, portanto,
parece ter sido o principal articulador teórico do golpe militar, fundamentado em
base de uma suposta teoria da conspiração que propunha que o Brasil seria
alvo de um golpe de estado comunista. Na verdade, é difícil prever o que teria
acontecido se o golpe de 64 não tivesse ocorrido, a hegemonia mundial era
realmente
dividida
entre
duas
potências
econômicas
ideologicamente
divergentes, que influenciaram diversos países a “escolher um lado”. É nítido
que a ideologia dos Estados Unidos influenciou os militares que tomaram o
poder, o império norte americano foi responsável por fornecer treinamento e
tecnologia para os governos ditatoriais da América Latina, e isso fica claro pela
analise de eventos como a Operação Condor entre outros.
Segundo Almeri, a influência das lojas estadunidenses foi fundamental
para as ações da Maçonaria brasileira no período, apesar disso, a autora
afirma que a adoção de uma ideologia conservadorapela instituição vem de
muito antes, desde a época da independência quando o positivismo de August
77
SILVA, Golbery de Couto. Planejamento Estratégico. Cia Editora Americana, Rio de Janeiro, 1995.
66
Comte começou a adentrar as lojas.(ALMERI, 2009,111). Costa, afirma partir
de 1852 a importância da Maçonaria brasileira começou a entrar em declínio e
passou a ser confundida com a do positivismo. (COSTA, 2008, p.47).
O fato é que o golpe de 64 foi fundamentado em uma “doutrina de
paranoia” moldada por elites com tendências direitistas, que continham em
seus quadros vários membros da Maçonaria, e que contavam com o apoio da
mídia, dos Estados Unidos e de grande parte da população brasileira. De fato,
foi instaurado um governo ditatorial que durou duas décadas, ceifou milhares
de vidas, perseguiu opositores, minou a liberdade de expressão, entre outras
atrocidades, tudo isso para “salvar” o nosso país.
5.4 A opinião dos maçons
Tatiana Almeri em sua tese de mestrado intitulada, realizou diversas
entrevistas, no total de onze, com maçons que preferiram não serem
identificados. Nessas entrevistas, realizadas no ano de 2007, a autora
pretendeu identificar o pensamento maçônico na época do golpe de 1964, para
tanto, fez aos entrevistados perguntas, como: “O que é caos para você? E a
ordem?” e “Em qual lado a Maçonaria estava: na tomada do poder ou na
resistência dessa tomada?”, entre outras.78Sendo que as perguntas citadas
serão as analisadas nesse trabalho.
Em relação ao caos, a autora identifica quatro vertentes distintas nas
respostas dos entrevistados, a primeira faz referencia à revolta que contrariava
78
ALMERI, Tatiana Martins. Posicionamentos da Instituição Maçônica no Processo Político Ditatorial
Brasileiro (1964): da visão liberal ao conservadorismo. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2007.
67
as idéias predominantes da alta escala da hierarquia militar. Essa tendência
pode ser observada nos dizeres do entrevistado número 1: “Houve uma revolta
das forças armadas contra essas idéias predominantes, não se admite uma
virada na hierarquia, e começou a haver quebra na hierarquia, isso é uma coisa
que pouca gente percebeu. A quebra de hierarquia levou certos militares a
assumirem uma posição muito forte”. Subsequentemente, “... no dia 31 de
março o pessoal tomou o correio, toda a ligação de Brasília era feita via canais
de rádio, e outros canais via correio. Cortou-se, assim, toda a comunicação de
Brasília, ela ficou completamente isolada do mundo, e essa falha de
comunicação foi outra coisa bárbara, sem comunicação não sai nada”.
(ALMERI, 2007b, p.85). Essa opinião parece convergir com a de José
Castellani que afirma que atos como a falta de punição aos líderes de uma
revolta de marinheiros e o discurso presidencial de 30 de março de 1964 feriam
os princípios da hierarquia militar.(CASTELLANI, 2007, p. 139)
Outra vertente se referiu ao caos como ausência de ordem, ponto de
vista que fica claro na declaração do entrevistado número 2: “O caos se
sintetiza como algo que não está dentro dessas normas jurídicas, porém isso
tem que ocorrer em grandes quantidades” ou nos dizeres do entrevistado
número 7: “Caos é a desordem generalizada, é o completo desentrelaço (sic)
das coisas, a mistura total de causas e efeitos. Uma situação de caos em geral
começa por várias coisas, que vão se adicionando até desembocar numa
grande crise anárquica”. (ALMERI, 2007, p.85)
A terceira vertente analisada compõe os entrevistados que não
acreditam que existia um caos como era apresentado na época, assim, o
entrevistado número 11 afirmou: “Naquela época não havia caos, não havia
68
bagunça nem muito menos inocência; todos estavam engajados politicamente,
com ideais e uma, vamos dizer, boa organização. O movimento social estava
eclodindo, não havia de maneira alguma alienação, a propósito, ela só
aconteceu a partir dos anos 70, quando a ditadura já estava nos seus anos de
“ferro”. Foi por causa dela que a alienação aconteceu, foi um resquício desse
sistema político, mas em seu principio as pessoas eram engajadas
politicamente. ”(ALMERI, 2007b, p.86)
Segunda a autora, a ultima interpretação possível assume caos como
aculturação social, como podemos ver pela resposta do entrevistado número
12: “O caos para mim foi representado pela aculturação, havia distorções da
história. Havia também um monitoramento através do DOPS, mesmo antes do
golpe acontecer. Certos livros como, por exemplo, o de Marx(sic) eram
proibidos, foram queimados para que a população não tivesse acesso Às
teorias existentes dentro deles.” Na interpretação da autora, apesar das
posturas de interpretação serem diferentes elas convergem para um mesmo
ponto. Segundo Almeri, o caos como uma coisa que está fora da ordem como
visto na segunda interpretação não deixa de ser diferente do caos como a
quebra da hierarquia, que representava a ordem estabelecida, como visto na
primeira interpretação (IBIDEM). A terceira vertente acredita na existência de
movimentos sociais com uma boa organização, segundo afirmação da autora
isso não deixa de representar algo que está fora ordem, o que acaba
convergindo com a quarta interpretação, de que o caos existia, mas que ele era
causado pela alienação populacional.
Os achados dessa entrevista podem ser vistos também de outro modo
de interpretação. Neles podemos achar opiniões diferentes entre os maçons,
69
que de certo modo refletem a hipótese de que a Maçonaria na época do golpe
era composta por indivíduos que tinham opiniões e ideológicas divergentes , e
a hipótese de que o apoio ao golpe não foi um consenso na instituição. A
terceira vertente representada principalmente pela resposta do entrevistado
número 11 não parece contribuir para a hipótese de que o estado do país era
de caos, visto que ainda hoje existem movimentos sociais organizados e nem
por isso existe uma tensão e nem um risco grande de golpe, a quarta vertente
parece
contribuir
para
a
hipótese
de
que
o
caos
foi
manipulado
ideologicamente pelo instrumento da aculturação social.
Em relação ao apoio da Maçonaria ao golpe militar, a resposta dos
entrevistados confirmou o apoio que a instituição deu oficialmente ao regime,
as afirmações dos entrevistados mostram uma concordância de que era
preciso dar um rumo ordeiro à nação frente à situação que o país se
encontrava. Isso pode ser visto na resposta do entrevistado número 1:”A
Maçonaria estava buscando uma coisa séria, frente ao caos que estava, o
Jango não (tenha) tinha mais o poder quando aconteceu o comício na Central
do Brasil, foi a coisa mais diferente que eu já vi na minha vida. A gente sentiu
que não tinha mais poder, não existia mais república, não existia mais nada,
ela caiu sozinha se desfez, essa é a verdade. Então é por isso que eu não
aceito muito o termo golpe, eu aceito mais em uma tomada de comando, uma
tomada de controle, então ela (a Maçonaria) estaria do lado de colocação da
ordem, sem interesses de poder pessoal”.(ALMERI, 2007b, p. 99) Outra
afirmação que colabora com a hipótese é a do entrevistado número 7 “... o
cabeça da revolução, a meu ver, foi o Golbery, que possuía muita influência e
era da Maçonaria. Vi também algumas notas da própria Ordem assinada pelo
70
Grão Mestre Geral do GOB nas quais diziam que ao maçons estavam a favor
da nova forma de governo, que além de estar a favor fariam o necessário para
apoiá-la e mantê-la. Isso para mim fica claro a comprovação de que a Ordem
estava a favor dos militares. Não se pode esquecer que é obvio que existam
maçons que eram contra, mas a Ordem em si era a favor. Divergências de
pensamento sempre existem, mas quando você se refere à Maçonaria como
instituição está falando de seu representante”.(ALMERI, 2007b, p. 100) Assim
como o entrevistado número 7, outros maçons confirmaram a hipótese de que
existiam maçons que eram contra o golpe, como podemos ver pela afirmação
do entrevistado número 9: “O respeito maçônico foi se degradando e ficando
sem atuação política, a Maçonaria deixa de propor mudanças e dessa maneira
acaba saindo do jogo político. Um exemplo disso foi em dezembro de 1968
quando Alberto Cury e o ministro Gama Filho anunciaram, no dia 13 de
dezembro, o Ato Institucional número 5. Meu pai, maçom, indignado com a
situação colocou essa pauta em discussão na loja dele e, naquele momento,
percebeu que mais da metade de seus irmãos eram a favor do tal Ato
anunciado, além disso, o venerável, no momento da discussão, anunciou que
se ele descobrisse alguém lá dentro que fosse comunista denunciaria ao
governo.”(ALMERI, 2007, p. 102).
Segundo Almeri as respostas dos entrevistados mostram uma influencia
clara do positivismo de August Comte, que ressalta a importância de
instituições como autoridade, hierarquia social e família. (ALMERI, 2007, p.90)
De acordo com a autora, os entrevistados queriam a existência de uma ordem
em detrimento do caos que supostamente pairava sobre a sociedade, nas
respostas nota se o destaque da sociologia de reconciliação entre “ordem” e
71
“progresso”, como dois elementos fundamentais para a nova sociedade. A
influencia do pensamento positivista é nítida na resposta dos entrevistados,
como na do número 13 que afirmou “... a ordem nada mais é que o contrário de
caos, é algo que se espera acontecer, algo programado, que logicamente,
tende a algo coerente”(ALMERI,2007,p.91). A sociologia positivista, de uma
forma ou de outra, prima pela manutenção da ordem capitalista, e desse modo
nota se a influencia que os Estados Unidos exerciam sobre a Maçonaria para a
manutenção de um status quo cientificista tecnocrata e conservador, frente à
ameaça de uma suposta subversão comunista.
Pela analise das entrevistas realizadas por Almeri, pode se perceber que
na opinião dos maçons questionados, o estado do país na época pré golpe era
tenso. A opinião dos maçons parece corroborar com a idéia de que existiam
tanto maçons contra como maçons a favor da ditadura. A maioria dos maçons
pareceu concordar que existia um caos na época, e que medidas deveriam ser
tomadas. Contudo, apesar de a Maçonaria ter apoiado oficialmente a ditadura,
resta saber qual foi o tamanho da influência que a instituição exerceu para a
legitimação e sustentação do regime. Ao contrário da participação da
Maçonaria na Independência do Brasil, onde existem diversos documentos e
trabalhos sobre o assunto, a participação da instituição no golpe e no período
ditatorial carece de informações. Portanto, se faz necessária uma pesquisa
mais elaborada e mais trabalhos acadêmicos sobre o assunto.
5.5 Considerações finais
Cabe aqui descrever algumas diferenças fundamentais entre a
Maçonaria da época da independência (1822) e da Maçonaria da época do
golpe (1964). Além da lógica diferença de tempo, cabe ressaltar que a
72
instituição estudada nos dois períodos sofreu mudanças básicas tanto
estruturais como ideológicas.
Primeiro nota-se uma enorme diferença entre a quantidade de material
encontrado sobre o assunto nos dois períodos. Quando se pesquisa sobre a
participação da Maçonaria na independência do Brasil, as informações são
abundantes, e são vindas principalmente da própria Maçonaria. Apesar de a
maioria dos trabalhos sobre o assunto terem sido produzidos por maçons,
existem trabalhos de destaque feitos por “profanos” como o texto Ação das
Sociedades Secretas, de Célia de Barros Barreto, que inclusive foi citado no
decorrer dessa monografia, além do livro História Secreta do Brasil do
historiador e crítico da Maçonaria Gustavo Barroso. Em contraste, quando se
procura informações sobre o papel da Maçonaria no golpe de 64, é nítida a
escassez de trabalhos sobre o assunto, sendo que nessa monografia, foi usado
principalmente o trabalho do maçom José Castellani e da socióloga Tatiana
Almeri. Apesar de existirem outros trabalhos que citam papel da Maçonaria no
golpe, esse assunto geralmente não é tratado como foco de estudo principal,
mas como um tópico para se entender o período ditatorial ou como um episódio
de menor importância na história maçônica. A par disso, pode se elaborar
algumas hipóteses sobre essa disparidade de informações sobre o assunto,
como o fato de que o golpe de 64 é um evento mais recente e que não foi
totalmente compreendido e debatido entre as fontes acadêmicas; ou o fato de a
independência ser considerado um evento mais heróico e que conta com o
apoio da maioria da população, sendo inclusive feriado nacional, em contraste
com o golpe de 64 que apesar de contar com defensores, hoje em dia é
desacreditado pela população em geral. Como a maior parte da historiografia
73
maçônica é escrita pelos próprios maçons, não é de surpreender que existam
bem
mais
relatos
sobre
a
participação
da
instituição
na
“gloriosa”
independência do que no “obscuro” golpe.
Outra diferença que podemos encontrar entre as duas Maçonarias, diz
respeito a como a disputa de poder foi retratada nos dois períodos. Na
Maçonaria de 1822, a disputa de poder é representada principalmente pelo
embate político entre José Bonifácio e Gonçalves Ledo. Apesar de autores
como Kurt Prober considerarem Bonifácio como um impostor que queria a
manutenção dos laços com Portugal, optou se aqui por considerar Bonifácio
como personagem de destaque para o processo emancipatório, visto que é
considerado por muitos como o patriarca da independência. Apesar de
Bonifácio aparentemente não ter concordado que a Maçonaria era o melhor
lugar para se realizar a emancipação, e muitas vezes ter sido considerado
conservador e tradicionalista, em contraste com Ledo, que era visto como
radical e republicano, não se pode afirmar que os grupos liderados pelos dois
maçons eram divergentes, visto que os dois grupos tinham um objetivo em
comum, que era a independência do Brasil. Quando é feita a analise da
Maçonaria brasileira no ano de 1964, os achados são diferentes, nessa época
as opiniões divergentes não foram representadas por líderes em conflito.
Apesar de serem apresentados personagens maçônicos de destaque para os
eventos que antecederam o período ditatorial como: Jânio Quadros e Golbery
do Couto e Silva; não se encontra nenhuma liderança maçônica de destaque
no grupo que era contrário à realização do golpe, sendo que as divergências
nesse período não foram personificadas, ao contrário de 1822. O que se pode
compreender disso, é que nos dois períodos a Maçonaria brasileira tinha um
74
posicionamento político oficial, e apesar de haverem maçons dissidentes, eles
eram minoria. No período ditatorial, os Maçons de esquerda e os que não
concordavam com o golpe, foram perseguidos pela instituição e denunciados
pelos seus próprios “irmãos” ao regime.
As influências externas também contribuíram para que a Maçonaria
passasse a adotar uma ideologia conservadora. Na época da Independência, a
Maçonaria era principalmente influenciada pelo Grande Oriente Francês, e
pelos ideais liberais democráticos do Iluminismo. No referido período, vários
países já tinham declarado a independência, e em todo mundo a burguesia
ascendente combatia os regimes absolutistas. Como já dito anteriormente,
nessa época a Inglaterra era aliada de Portugal e não podia apoiar
abertamente um grupo liberal na colônia, por esses e outros motivos a
Maçonaria inglesa não exercia muita influência nas lojas brasileiras. Na época
do golpe, o contexto era outro, Inglaterra e França já não eram as potências
consideradas mais importantes, e os Estados Unidos e a União Soviética
disputavam a hegemonia global. Cada potência de seu modo exerceu controle
sobre uma área de influência, sendo que os Estados Unidos financiou ditaduras
militares sobre toda a América Latina e essa ideologia influenciou a elite
burguesa que frequentava as lojas brasileiras. Nota se que no espaço de
tempo entre a Independência e o golpe, a ideologia liberal democrática
iluminista, presente na Maçonaria foi substituída por uma ideologia positivista
cientificista, que prezava pela manutenção da ordem. De certo modo, a história
da Maçonaria reflete a história da burguesia no Brasil e em certa parte do
mundo, que passou de oposição aos regimes absolutistas à classe dominante,
e então passou a combater os grupos opositores, que nessa época eram
75
representados pela classe operária (massa de manobra) e pelos subversivos
“comunistas”.
Hoje em dia, a Maçonaria brasileira parece ter se retirado da vida política
e se voltado para a filantropia e para a filosofia, como era o desejo de
Bonifácio. Em outros países parece ter ocorrido o mesmo. Contudo, existem
diversas teorias conspiratórias de que a Maçonaria é dominada por pessoas
que planejam a extinção de todas as religiões e a implantação de uma ditadura
global conhecida como Nova Ordem Mundial79. Essas teorias acabam
misturando a influencia da Maçonaria com a influência de algumas elites como
os banqueiros, os judeus (como já visto nos Protocolos dos Sábios de Sião),
algumas mais exóticas incluem discos voadores e profecias bíblicas. Uma das
mais famosas afirma que existe um 34º grau na Maçonaria que é comandado
por uma sociedade secreta chamada Illuminati80. De fato em 1776, foi criada
uma sociedade denominada Illuminaten,ou os Iluminados, fundada na Bavária
pelo professor de direito Adam Weishaupt, tal sociedade tinha o objetivo de
propor a fé na ciência em oposição não apenas ao dogma católico, mas contra
outras sociedades secretas de caráter religioso como a Rosa Cruz. Os
illuminatis de fato conseguiram adentrar na Maçonaria europeia, mas não
existem provas oficiais de que a seita tenha sobrevivido à chegada do século
XIX.(SIGNIER; THOMAZO, 2008, p. 181). Apesar, disso o padre francês
Augustin Barruel publicou em seu polemico livro Mémoirespour servir à
l'histoire du Jacobinisme,
a teoria de que a Illuminati apoiou a Revolução
79
Para um resumo das principais teorias conspiratórias envolvendo a Maçonaria e a Nova ordem
Mundial, consultar: HODAPP, Cristopher e KANNON, Alice Von. Conspiracy Theories & Secret Societies
for Dummies.Ed: Wiley Publishing, INC.2008.
80
GOMES, Thiago Luiz. MENTIRA N°116 [1° DE MAIO, DIA DO TRABALHADOR]. Disponível em:
http://thiagoguerrad.blogspot.com/2011/06/mentira-n115-1-de-maio-dia-do.html Acessado em 16 de
agosto de 2011.
76
Francesa e que o objetivo do grupo era a destruição de todas as religiões e
governos.(IBIDEM). As teorias conspiratórias sobre a Maçonaria e a Illuminati
ainda existem, e essas instituições são vistas com temor por grupos que
acreditam que o mundo é controlado por forças maiores que os governos.
Apesar de essas teorias terem maior força nos países do norte, existem
algumas histórias no Brasil, Couto afirma que os brasileiros teóricos da
conspiração acreditam que o ramo brasileiro da Illuminati é denominado Os
Aquisitores, esse nome seria devido a prosperidade financeira do grupo,
segundo as teorias conspiratórias era sobre esse grupo que Jânio Quadros se
referiu como as “forças ocultas” que lhe obrigaram a deixar o poder. (COUTO,
2007, p.89).
Na verdade é difícil acreditar numa conspiração tão grande e coesa. No
decorrer desse trabalho vimos que a Maçonaria adotou posturas políticas e
ideológicas diferentes em períodos e lugares distintos. Além disso, a instituição
possui diversos ritos que tem certa independência entre si, não devendo
satisfações a um poder central. Além disso, como afirma Pareto, a história
parece ser movida por uma luta entre as elites do que uma luta entre uma elite
unida e coesa contra uma classe. A conspiração dos Protocolos dos Sábios de
Sião é vista como um embuste, e de fato o apoio a governos esquerdistas é
pouco aceito dentro da Maçonaria. A confusão gerada entre sociedades
secretas e sociedades clandestinas também parece contribuir para a má fama
dos maçons.
Apesar disso, conspirações existem, o jeito de agir pelas sombras da
Maçonaria não deixar uma conspiração. O jeito traiçoeiro de agir de
determinados grupos e governos, por atos denominados operações de
77
bandeira falsa81 parece fomentar as teorias conspiratórias. Operações de
bandeira falsa são atos que aparentam terem sido realizados pelo inimigo de
modo a tirar proveito das consequências resultantes, tais como o atentado do
Riocentro, o incidente de Glewitiz na Polônia, e a Guerra do Iraque,
fundamentada na teoria de que Saddam Hussein escondia armas de destruição
em massa.
De fato, a Maçonaria como qualquer outra instituição está sujeita a
corrupção, sendo que ela pode dominar uma loja inteira, como foi o caso da
loja italiana P282 que continha membros da máfia e esteve envolvida com o
escândalo do Banco Ambrosiano. Além disso, a Maçonaria já aceitou membros
não condizentes com os preceitos éticos da instituição como o ex governador
do Distrito Federal José Roberto Arruda83, envolvido no esquema de corrupção
conhecido como Mensalão do DEM. Mais recentemente o maçom Anders
BehringBreivik84 realizou um atentado que matou cerca de 76 pessoas na
capital norueguesa, Oslo. Em manifesto, Breivik criticou a Maçonaria e outras
ordens que supostamente não preservavam o cristianismo europeu, apesar
disso, Breivik afirmou que os maçons desempenham um papel fundamental na
preservação do patrimônio cultural. A Maçonaria já foi uma instituição
81
Para maiores informações sobre esse tipo de operação:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_de_bandeira_falsa
Acessado em 11 de agosto de 2011.
82
Para maiores informações sobre a loja P2:
CARVALHO, Willian. A loja Secreta “PropagandeDue” P2. Disponível em:
http://www.samauma.biz/site/portal/conteudo/opiniao/lm007p2.html Acessado em 13 de agosto de
2011.
83
Para maiores informações sobre o processo de expulsão de José Arruda da Maçonaria, consultar:
LOYOLA, Leandro e RAMOS, Murilo. A Derrota Secreta de Arruda. Disponível em:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI108736-15223,00A+DERROTA+SECRETA+DE+ARRUDA.html . Acessado em 13 de Agosto de 2011.
84
Pragman, Jiri. Maçons No Manifesto de Breivik. Traduzido por José AntonioFilardo.
http://bibliot3ca.wordpress.com/os-macons-no-manifesto-de-breivik/ Acessado em 13 de agosto de
2011.
78
prestigiada que lutou por ideais democráticos, mas hoje permanece isolada e
eventualmente é apresentada na mídia apenas quando um de seus membros é
alvo de algum escândalo. Por essas e outras, talvez seja hora da Maçonaria
em geral, rever o ingresso de seus membros, priorizando a ética ao invés da
influência política e econômica.
79
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RABELO, Carina. Por dentro das sociedades secretas.Istoé. Edição: 2073.05
de agosto de 2009.
VARNHAGEN. Francisco Adolfo. História Geral do Brasil. Ed: Melhoramentos
83
7. Anexos
Anexo 1- Imagens
Templo Maçônico (Por dentro): Imagem retirada de:
http://www.vigilanciaeresistencia.com.br/ . Acessado em 14 de agosto de 2011
Templo Maçônico( Por Fora). Imagem retirada de:
http://www.genizahvirtual.com/2009/05/igreja-ou-templo-maconico.html
Acessado em 14 de agosto de 2011
84
Pintura de uma iniciação maçônica. Imagem
retirada de: http://erdeirodaviuva.blogspot.com/2010/11/o-valor-tradicional-emistico-da.html Acessado em 14 de agosto de 2011
Avental maçônico traje comumente usado
nas reuniões, as cores variam conforme
o grau e o rito. Imagem disponível em:
http://www.tabernaculonet.com.br/blog/?p=584
Acessado em 14 de agosto de 2011
85
Selo comemorativo de 150 anos da morte
de José Bonifacio, a imagem contêm símbolos
maçônicos e do Brasil Imperial, imagem disponível em:
http://www.construtoresdavirtude.com.br/pag_filatelia.htm
Acessado em 14 de agosto de 2011
Broche com pintura de
Joaquim Gonçalves Ledo:
Imagem disponível em:
http://lmavm1611.blogspot.com/
Acessado em 14 de agosto de 2011.
86
Anexo 2- Documentos
Carta de D. João VI contra a Maçonaria(1823)1ª parte. Disponível
em:
http://sgec.gob.org.br/images/stories/doc_dom_joao/carta_djoao_pg01_web.jpg
Acessado em 15 de agosto de 2011.
87
Carta de D. João VI contra a Maçonaria (1823)2ª parte. Disponível
em: http://sgec.gob.org.br/index.php/pesquisas-historicas-maconicas/48documentos-raros/138-carta-de-dom-joao
Acessado em 15 de agosto de 2011.
88
Ficha Cadastral de Jânio Quadros no Grande Oriente do Brasil (1960)
1ª parte. Disponível em:
http://sgec.gob.org.br/images/stories/doc_raros/janio_quadros/ficha_cadastral_j
anio_quadros_1.jpg
Acessado em 15 de agosto de 2011.
89
Ficha Cadastral de Jânio Quadros no Grande Oriente do Brasil (1960)
1ª parte. Disponível em:
http://sgec.gob.org.br/images/stories/doc_raros/janio_quadros/ficha_cadstra_ja
nio_quadros_2.jpg
Acessado em 15 de agosto de 2011.
90

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