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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PERFIL DAS INFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO NUM HOSPITAL DE CURITIBA PROFILE OF SURGICAL SITE INFECTIONS IN A CURITIBA’S HOSPITAL César Augusto Broska Júnior1 Augusto Bernardo De Folchini1 Marcelo Bettega1 André Luiz Benção1 Gustavo Baggio Furiatti1 Eduardo Ribas1 Alessandro Yugo Yoshyasu1 Luiz Cláudio Ribeiro Boese1 Maria Lúcia da Silva Germano Jorge2 RESUMO Objetivos: conhecer a taxa de infecção, proporção de diagnóstico clínico e cirúrgico e microorganismos encontrados nas infecções de sítio cirúrgico. Método: estudo quantitativo descritivo retrospectivo realizado entre janeiro e outubro de 2008 através da coleta de dados do serviço de infecção hospitalar do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba. Resultados: realizados 1527 procedimentos entre janeiro e outubro de 2008 dos quais 1,9% apresentou infecção de sítio cirúrgico. A proporção de diagnósticos clínicos e cirúrgicos foi parecida e os microorganismos mais encontrados foram as bactérias em especial a pseudômonas sp. e a E. coli. Conclusão: pode haver um risco de subnotificação das infecções, as quais empregam de modo parecido métodos clínicos e laboratoriais para o diagnóstico. Os microorganismos encontrados em sua maior parte fazem parte da flora do homem. Descritores: infecção hospitalar, cirurgia geral, bactérias ABSTRACT Objectives: to know the infection rate, proportion of clinical and surgical diagnosis and microorganisms found in surgical site infection. Method: A retrospective descriptive quantitative study conducted between January and October 2008 by collecting data from the service of infection hospital of the Hospital Universitário Evangélico de Curitiba. Results: 1527 procedures performed between January and October 2008 of which 1.9% had surgical site infection . The proportion of clinical diagnoses and surgical procedures was similar and the more prevalent microorganism was the bacterias, in special Pseudomonas sp. and E. coli. Conclusion: There may be a risk of underreporting of infections, which employ in a similar clinical and laboratory methods for diagnosis. The microorganism found mostly belong to the flora of man. Keywords: cross infection, general surgery, bacteria 1 Acadêmicos de Medicina da Faculdade Evangélico do Paraná 2 Professora de metodologia científica e orientadora. Aprovado em: 10/09/2012 Autor para correspondência: César Augusto Broska Júnior Contato: [email protected] Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.3, p.67-71, jul./set. 2012. 67 PERFIL DAS INFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO NUM HOSPITAL DE CURITIBA INTRODUÇÃO Durante o ato operatório cria-se uma solução de continuidade entre o meio externo e tecidos do corpo, permitindo a entrada de microorganismos que, dependendo das condições do paciente, podem levar a uma infecção.(1) Locais comuns de infecção são o tecido celular subcutâneo, ferida operatória e cavidade peritoneal.(2) Define-se infecção hospitalar como sendo aquela adquirida após a entrada no hospital, cujo período de incubação seja desconhecido ou menor que o tempo de internamento. A infecção de sítio cirúrgico (ISC) é uma infecção hospitalar contraída durante o ato cirúrgico. O risco de infecção aumenta conforme a contaminação da cirurgia. De acordo com a contaminação, a cirurgia pode ser classificada como operação limpa, potencialmente contaminada, contaminada ou suja, sendo recomendado a profilaxia antibiótica ou a antibioticoterapia de acordo com o grau de contaminação.(1,3) A taxa de ISC no Brasil fica em torno de 11%,(4) sendo a maior parte de origem endógena.(5). Esse valor é bem maior que a taxa dos Estados Unidos, que fica em torno de 3% (média realizada entre 1986 e 1996) mas ainda assim três vezes maior que o recomendado pela OMS para países desenvolvidos, em torno de 1%.(6) Num hospital do México, a taxa ficou em torno de 1,84%.(7) Valores baixos de ISC também foram encontrados em alguns hospitais brasileiros,(2,8) mas deve-se ter cautela com esses valores uma vez que eles podem estar subestimados.(9) O presente estudo objetiva estabelecer a taxa de infecção de sítio cirúrgico de um hospital universitário de Curitiba, identificar a forma mais prevalente de diagnóstico (clínico ou laboratorial) e os microorganismos mais prevalentes na ISC. Esses dados podem ser de interesse para o hospital onde será realizada a pesquisa por permitir um melhor conhecimento da flora infectante e a taxa geral de ISC no serviço de clínica cirúrgica. MATERIAL E MÉTODOS Realizado um estudo quantitativo descritivo retrospectivo com 1527 cirurgias realizadas entre janeiro e outubro de 2008. As informações foram coletadas a partir do banco de dados do SCIH (serviço de controle de infecção hospitalar) de um hospital universitário de Curitiba. Foram coletados dados referentes ao total de infecções de sítio cirúrgico, o modo como o diagnóstico foi realizado (clínico ou com o auxílio de exames laboratoriais) e o microorganismo que infectou a ferida operatória. Os dados foram analisados e discutidos através de tabelas gerados pelo software Excel 2003. Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.3, p.67-71, jul./set. 2012. 68 PERFIL DAS INFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO NUM HOSPITAL DE CURITIBA RESULTADOS Entre janeiro e outubro de 2008, foram realizadas 1527 cirurgias do setor de clínica cirúrgica, ocorrendo ISC em 29 procedimentos resultando numa taxa de 1,9% de ISC. Foi observado que 55% dos diagnósticos das ISC (16 pacientes) se deram através de dados clínicos, enquanto que nos outros 45% (13 pacientes), para o diagnóstico, foram utilizados meios laboratoriais e identificado o agente. Dentre os pacientes cujo agente causal foi identificado (13 pacientes), 7 deles (53,8%) possuíam infecção polimicrobiana e 6 (46,2%) por uma espécie. Ao todo foram encontradas 11 espécies diferentes de microorganismos, sendo 10 espécies bacterianas (90,9%) e 1 espécie fúngica (9,1%). Dentre as bactérias 30% eram gram negativas e 70% gram positivas. As espécies encontradas podem ser observadas na tabela 1. Tabela 1. Microorganismos encontrados na análise laboratorial Microorganismo Nº % Cândida albicans 1 5 Acinetobacter boubansii Morganella morganii Proteus mirabilis Escherichia coli 2 1 1 3 10 5 5 15 Pseudomonas sp Klebsiella pneumoniae Staphylococcus coagulase negativo Enterobacter aerogenes 3 1 2 3 15 5 10 15 Enterococos fecalis Staphylococcus áureos Total 1 2 20 5 10 100 DISCUSSÃO A taxa média de infecção de sítio cirúrgico (ISC) em hospitais brasileiros é de 11%(4) podendo em alguns ficar entre 3,1% a 9%.(2,8,10,11) Pequenas taxas de ISC podem ser decorrentes da perda de acompanhamento dos pacientes durante o pós operatório, resultado de grande número de procedimentos pouco invasivos com alta hospitalar precoce. Como a maioria das ISC podem demorar algum tempo até sua manifestação, ela acaba sendo subdiagnosticada, como mostrado por Oliveira AC et al, que encontrou na alta 6,2% de ISC mas durante o acompanhamento rigoroso no pós operatório, as ISC acometiam 28% dos procedimentos realizados.(9) O diagnóstico de uma ISC é clínico e como o agente infeccioso em sua maioria faz parte da flora da pele, o tratamento é instituído de modo empírico. A confirmação laboratorial se faz em um menor número de casos, numa média de 32% em outros hospitais.(11-12) Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.3, p.67-71, jul./set. 2012. 69 PERFIL DAS INFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO NUM HOSPITAL DE CURITIBA A flora encontrada em geral faz parte da microbiota da pele. Os mais freqüentemente encontrados são o S. aureos e a E.coli, presentes em 21,5% das ISC seguido pela P. aeruginosa e K.pneumoniae com 15,7% de prevalência.(11) Um estudo retrospectivo analisou as ISC desde 1979 até 1999 e durante todo esse tempo o S. áureos foi o mais prevalente dos patógenos encontrados.(13) Estudos semelhantes também foram feitos nos Estados Unidos e México e foi encontrado um perfil de microorganismo parecido com aqueles encontrados no Brasil e no presente estudo. Nos Estados Unidos, S. epidermidis apareceu em 11% das infecções, o S. aureos em 9%, Cândida em 7%, E. coli e Pseudômonas sp em 6%, enterobacter sp em 5% e klebsiella em 4%.(12) No México, a E. coli com 37,6% e S. aureus com 27,8% das ISC são os principais representantes.(7) CONCLUSÃO A taxa de ISC foi de 1,9%, abaixo da média brasileira, mas que pode significar uma perda do seguimento ou subnotificação dos pacientes submetidos a algum procedimento. Os diagnósticos foram em sua maioria clínicos e os patógenos mais encontrados foram as bactérias, sendo Pseudomonas sp, a Escherichia coli e o Enterobacter aerogenes. REFERÊNCIAS 1. Simões JC. Técnica operatória e cirurgia experimental. Curitiba: Editora dos Autores Médicos; 2000. 2. Medeiros AC, Neto TA, Dantas Filho AM, Leite Pinto Jr FE, Costa Uchoa RA, Carvalho MR. Infecção hospitalar em pacientes cirúrgicos de hospital universitário. Acta Cirúrgica Bras.2003; 18 (Supl. 1):15-8. 3. Ribeiro da Rocha JJ. Infecção em cirurgia e cirurgia das infecções. Simpósio fundamentos em clínica cirúrgica. 2008; 41(4):487-90. 4. Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar. (SP). Prevenção da infecção de sítio cirúrgico. São Paulo (SP): APECIH; 2001. 5. Graziano KU. Controle da contaminação ambiental da unidade de centro cirúrgico. Enfoque 1994 janeiro; 1(21):19-22 6. Mitka M. Preventing surgical infection is more important than ever. JAMA 2000;283(1):445. Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.3, p.67-71, jul./set. 2012. 70 PERFIL DAS INFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO NUM HOSPITAL DE CURITIBA 7. Molina RI, Mônica Bejarano MD, Garcia O. Infección del sitio operatorio en un hospital nivel II. Cirugía (Bogotá)2005 abr/jun;20(2):87-96. 8. Oliveira AC, Braz NJ, Ribeiro MM. Incidência da infecção do sítio cirúrgico em um hospital universitário. Cienc Cuid Saúde. 2007;6(4):486-93. 9. Oliveira AC, Ciosak SI. Infecção de sítio cirúrgico no seguimento pós-alta: impacto na incidência e avaliação dos métodos utilizados. Rev Esc Enferm USP. 2004; 38(4):379-85. 10. Guimarães JR, Pires M, Konkevicz L, Fink F, Trois Endres AC, Caye L et al. Sistema informatizado de notificação de infecção cirúrgica pós-alta no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Rev. HCPA 2009; 29(1):18-22. 11. Ribas RM., Freita C, Gontijo Filho PP. Nosocomial bloodstream infections: organisms, risk factors and resistant phenotypes in the Brazilian University Hospital. Braz J Infect Dis 2007; 11(3):351-4. 12. Sawyer RG, Raymond DP, Pelletier SJ, Crabtree TD, Gleason TG, Pruett TL. Implications of 2,457 Consecutive Surgical Infections Entering Year 2000. Ann Surg. 2001; 233(6):867– 74. 13. Ferraz ED, Feraz AAB, Bacelar TS, D’albuquerque HST, Vasconcelos MDM, Leão CS. Controle de infecção em cirurgia geral - resultado de um estudo prospectivo de 23 anos e 42.274 cirurgias. Rev. Col. Bras. Cir. 2001; 28(1):17-26. Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.3, p.67-71, jul./set. 2012. 71
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