Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular
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Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular
Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular com Agonistas do Receptor GLP-1 Johan H. Jendle, MD, PhD Suportado por uma bolsa de formação independente da WebMD Global, LLC Este documento destina-se apenas a fins de formação. Não serão concedidos créditos pela leitura do conteúdo deste documento. Para participar nesta actividade, visite http://www.medscape.org/viewarticle/775826 ou http://theheart.medscape.org/viewarticle/7758268 Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular com Agonistas do Receptor GLP-1 http://www.medscape.org/viewarticle/775826 ou http://theheart.medscape.org/viewarticle/7758268 Audiência Alvo Esta actividade de formação destina-se a uma audiência internacional de profissionais de saúde, excluindo os profissionais de saúde dos EUA. Esta actividade destina-se a diabetologistas, endocrinologistas, internistas, cardiologistas, médicos de cuidados primários e outros profissionais de saúde envolvidos na gestão de doentes com diabetes tipo 2. Objectivo O objectivo desta actividade é proporcionar uma revisão abrangente das últimas descobertas clínicas e avanços terapêuticos relacionados com a utilização de agonistas do receptor GLP-1 em sujeitos com diabetes tipo 2. Objectivos de Aprendizagem Ao concluir esta actividade, os participantes devem ser capazes de: • Reconhecer o aumento do risco cardiovascular em doentes com diabetes tipo 2, ao identificar de forma adequada factores de risco cardiovascular e rever os mecanismos envolvidos na patogénese de complicações macrovasculares na diabetes tipo 2 • Descrever a importância de um controlo glicémico rigoroso, juntamente com o tratamento dos riscos cardiovasculares associados, para prevenir ou atrasar complicações cardiovasculares e avaliar dados de ensaios clínicos com agonistas GLP-1, visando compreender o seu papel neste âmbito Para questões relacionadas com o teor desta actividade, contacte o prestador acreditado desta actividade CME/CE, em [email protected]. Para assistência técnica, contacte [email protected] Autores e Divulgação ESPECIALISTA Johan H. Jendle, MD, PhD Professor Associado, Universidade de Örebro, Suécia; Consultor Sénior, Centro de Endocrinologia e Diabetes, Hospital Central de Karlstad, Karlstad, Suécia Divulgação: Johan H. Jendle, MD, PhD, divulgou as seguintes relações financeiras relevantes: Foi consultor ou conselheiro para as empresas: Boehringer Ingelheim Pharmaceuticals, Inc.; Eli Lilly and Company; Medtronic, Inc.; Novo Nordisk; Pfizer Inc Foi orador ou membro do painel de oradores para as empresas: AstraZeneca Pharmaceuticals LP; Eli Lilly and Company; Merck Sharp & Dohme Corp.; Novo Nordisk; Pfizer Inc O Dr. Jendle não pretende discutir a utilização fora da indicação terapêutica de fármacos, dispositivos mecânicos, produtos biológicos ou diagnósticos aprovados pela Agência Europeia do Medicamento. O Dr. Jendle não pretende debater fármacos de investigação, dispositivos mecânicos, produtos biológicos ou diagnósticos não aprovados pela Agência Europeia do Medicamento. Pg.2 http://www.medscape.org/viewarticle/775826 ou http://theheart.medscape.org/viewarticle/7758268 EDITOR Thomas Rohban, MD Director Científico, WebMD Global, LLC Divulgação: Thomas Rohban, MD, divulgou as seguintes relações financeiras relevantes: Foi consultor para as empresas: Abbott Laboratories; BioAlliance; Celgene Corporation; Ethypharm; Ipsen; LFB Biomédicaments; Novo Nordisk; Novartis Pharmaceuticals Corporation e sanofi-aventis Anne M. Sendaydiego, PharmD Directora Científica, WebMD Global, LLC Divulgação: Anne M. Sendaydiego, PharmD, não divulgou quaisquer relações financeiras relevantes. REVISOR DE CONTEÚDOS Nafeez Zawahir, MD Director Clínico CME Nafeez Zawahir, MD, não divulgou quaisquer relações financeiras relevantes. Pg.3 Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular com Agonistas do Receptor GLP-1 Sabe-se que a diabetes é um factor de risco independente para complicações macrovasculares e microvasculares.[1] A maioria dos doentes com diabetes mellitus tipo 2 (T2DM) tem um elevado risco de eventos cardiovasculares (CV) futuros, com o risco a ser aproximadamente o dobro do que na população sem diabetes.[2] As complicações CV são uma das principais causas da morbidade e mortalidade relacionada com a diabetes. Há muitos anos que se sabe que a glicemia de referência, medida como glicose do plasma em jejum (FPG) ou hemoglobina glicada (A1c) e excursões de glicose, prevê futuros eventos CV e que esta relação se estende à gama glicémica não-diabética.[3-5] A hiperglicemia contribui de forma significativa para a doença cardiovascular (CVD) e as complicações microvasculares. O controlo glicémico, o ponto de partida para a terapêutica da diabetes, visa reduzir e estabilizar os níveis A1c sem induzir a hipoglicemia.[6,7] Vários estudos de referência confirmaram a eficácia do controlo glicémico na gestão da T2DM.[6,8] Está provado que o controlo glicémico reduz o risco de eventos maiores de CV, mas também aumenta o risco de hipoglicemia grave[9-12]; no entanto, embora o controlo glicémico seja crucial para a gestão da diabetes, também é fundamental controlar outros factores de risco de CVD e complicações microvasculares. Uma declaração de posicionamento de 2012, sobre o controlo glicémico, por parte da American Diabetes Association (ADA)/European Association for the Study of Diabetes (EASD) destacou a necessidade de individualizar as metas glicémicas do doente num quadro multifactorial de redução do risco. Isto deve-se ao maior risco de morbidade e mortalidade CV entre doentes com T2DM. A gestão precoce e intensiva de factores de risco CV (por ex., aumento da pressão sanguínea, dislipidemia, tabagismo) deverá resultar em maiores benefícios do que somente o controlo glicémico.[7,13] A necessidade de adoptar uma abordagem mais intensiva para reduzir o risco de complicações CV da diabetes é fundamentada pelos resultados positivos de recentes ensaios clínicos. O controlo rigoroso da pressão sanguínea, bem como o tratamento com fármacos hipolipemiantes (por ex., estatinas), demonstrou contribuir de forma significativa para a redução do risco da DCV em doentes com T2DM, e estes tornaram-se abordagens de padrões de cuidado para gerir o risco de DCV nestes doentes, a par da terapêutica antiagregante e de programas de modificação de estilo de vida, como perder peso e deixar de fumar.[1] Em 2011, o número de pessoas com diabetes (tipo 1 e tipo 2) foi calculado em 366 milhões, e 280 milhões estavam em risco de a desenvolver. Para 2030, estas estimativas prevêem um aumento para 552 milhões de pessoas com diabetes e 398 milhões em risco.[14] O controlo da diabetes epidémica requer uma abordagem global para a prevenção e a gestão que vise a hiperglicemia e outros factores de risco CV. Intervenções no estilo de vida, como deixar de fumar e aumentar a actividade física, revestem-se de uma importância fulcral na redução do risco de DCV.[13] Encontrar abordagens para prevenir e tratar complicações CV em doentes com T2DM é uma área importante da investigação. Um dos principais desenvolvimentos nos últimos anos tem sido a emergência de terapêuticas baseadas em incretinas, inibidores de DPP-4 e RAs GLP-1 que efectivamente baixam os níveis de A1c e FPG sem induzir a hipoglicemia. Estes também induzem a perda de peso ou são neutros em termos de peso, tendo demonstrado efeitos ligeiros, mas benéficos na pressão sanguínea e nos perfis lipídicos, bem como potenciais efeitos de protecção cardíaca.[15] Factores que Contribuem para o Aumento do Risco CV em Doentes com T2DM Na doença macrovascular, o mecanismo patológico central é a aterosclerose, conduzindo ao estreitamento da parede arterial.[16] A aterosclerose é uma condição inflamatória crónica que é iniciada no endotélio, em resposta à lesão da parede arterial no sistema vascular periférico ou coronário. Desenvolve-se através de interacções entre lipoproteínas modificadas, macrófagos e constituintes da parede arterial.[16,17] A associação entre a T2DM e a formação de placa aterosclerótica é muito forte, embora os mecanismos precisos, através dos quais a T2DM aumenta o risco de placa, ainda não estejam completamente definidos.[16] Múltiplos mecanismos contribuem para a aceleração da aterosclerose e o aumento de risco CV entre doentes com T2DM.[18] A T2DM resulta de interacções entre uma variedade de anomalias metabólicas, mais especificamente a resistência à insulina nos músculos e no fígado e a falha progressiva de células beta.[19] A T2DM ocorre tipicamente no contexto de síndrome metabólico, embora não para todos os doentes.[16,20] Os doentes sofrem, comummente, de obesidade abdominal, hipertensão, elevada glicose do plasma em jejum (FPG), hiperlipidemia, anomalias nas vias inflamatórias e de coagulação, e comorbilidades, como a doença renal crónica. As estratégias para tratar a T2DM têm de se focar nos factores de risco modificáveis que englobam o síndrome metabólico.[19] Pg.4 http://www.medscape.org/viewarticle/775826 ou http://theheart.medscape.org/viewarticle/7758268 Dados experimentais sugeriram que a hiperglicemia pós-prandial pode levar a complicações vasculares através dos elevados níveis de glicose, conduzindo à produção de produtos finais de glicação avançada e ao aumento do stress oxidativo, causando inflamação. O óxido nítrico é um potente dilatador da parede endotelial e a diminuição da actividade do óxido nítrico, associada ao stress oxidativo, pode levar ao aumento da pressão sanguínea, frequência cardíaca, agregação de plaquetas e actividade das mesmas.[18,21,22] Isto, por sua vez, pode acelerar o desenvolvimento da aterosclerose. Foi demonstrado que elevadas concentrações de glicose estimulam a proliferação e migração de células do músculo liso vascular, o que desempenha um papel na aterosclerose.[18,23] A função endotelial comprometida e o aumento do stress oxidativo, que se considera desempenharem um papel chave no desenvolvimento da aterosclerose,[22] estão associados à T2DM e também estreitamente ligados à resistência à insulina.[23-25] A hiperlipidemia e a obesidade abdominal em doentes com T2DM foram atribuídas à resistência à insulina.[26] As alterações no número e tamanho das partículas de lipoproteína foram associadas ao aumento do risco de DCV.[26] A dislipidemia mais comum em doentes com T2DM é caracterizada por elevados níveis de triglicerídeos (TG) e pela diminuição dos níveis de colesterol (HDL) por lipoproteína de alta densidade (também conhecido como dislipidemia diabética).[24] Em doentes com T2DM, um maior tecido adiposo visceral está associado a um perfil de lipoproteína que aumenta o risco de aterosclerose e DCV.[27] Um estudo de 2007 reportou um aumento de 2% no risco relativo de um evento CV para um aumento de 1 cm no diâmetro da cintura.[28,29] A hipertensão é comum em doentes com T2DM e pode ser uma consequência da resistência à insulina e à hiperinsulinemia.[25] Contribui para a patogénese da doença vascular em doentes com T2DM, a par da aceleração da aterosclerose, da trombose e da hiperlipidemia. A disfunção endotelial também pode estar envolvida em cada uma destas anomalias vasculares.[24] Além disso, os doentes com diabetes que fumam apresentam maior risco de DCV, e verificou-se que deixar de fumar reduz significativamente esse risco; no entanto, não foi encontrada qualquer diferença no risco CV entre fumadores, com e sem diabetes.[30] Os factores que contribuem para o risco cardiometabólico em doentes com T2DM são apresentados na Figura 1. Figura 1. O risco cardiometabólico em doentes com T2DM. BP = pressão sanguínea; DCV = doença cardiovascular; LDL = lipoproteína de baixa densidade; ApoB = apolipoproteína; HDL = lipoproteína de alta densidade; TG = triglicerídeos Adaptado de: American Diabetes Association (ADA). DOC News. 2006;3(7):1-19.[31] Pg.5 Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular com Agonistas do Receptor GLP-1 Controlo da Hiperglicemia e seus Efeitos na DCV na T2DM Evidência da Eficácia do Controlo Glicémico O Grupo de Estudo Prospectivo sobre Diabetes UK (UKPDS) demonstrou uma relação directa entre a hiperglicemia e as complicações microvasculares e macrovasculares em doentes com T2DM ao longo do tempo, tendo apurado que as reduções nos níveis A1c estiveram associadas a reduções no risco de enfarte do miocárdio (EM); contudo, o controlo glicémico teve um maior efeito nas complicações microvasculares do que nas macrovasculares.[6,8,32] Um estudo de acompanhamento do UKPDS apurou que a redução do risco de complicações microvasculares e macrovasculares, associadas ao rigoroso controlo glicémico em doentes com T2DM, pode estender-se para além do período finito de controlo glicémico intensivo. Conhecido como efeito de legado, salienta a importância de efectuar o controlo glicémico tão cedo quanto possível, ao invés de esperar a ocorrência de complicações.[33] Isto tem implicações na gestão da T2DM entre os doentes mais jovens. Com a incidência da T2DM a aumentar entre os jovens, estes deverão beneficiar do efeito de legado do controlo glicémico precoce, através da redução do risco de futuros eventos CV. Mais recentemente, o estudo da Acção em Diabetes e Doença Vascular - Avaliação Controlada da Libertação Modificada de Preterax e Diamicron (ADVANCE) apurou que, quando o controlo glicémico intensivo baixou os níveis de A1c para 6,5%, tal conduziu a uma redução de 10% nos resultados combinados de eventos macrovasculares e microvasculares maiores; contudo, a redução deveu-se, sobretudo, a uma redução relativa de 21% no risco de nefropatia. Os autores concluíram que esse controlo intensivo não teve um efeito significativo no risco de eventos macrovasculares; contudo, sugeriram que uma redução de 0,7% em A1c poderia reduzir a taxa de eventos macrovasculares em 16,7%.[34] No estudo da Action to Control Cardiovascular Risk in Diabetes (ACCORD),[35] cada aumento de 1% no nível de A1c esteve associado a um aumento de 20% na mortalidade por todas as causas; contudo, o estudo foi concluído devido às preocupações com as maiores taxas de mortalidade, associadas ao controlo glicémico intensivo. Um estudo de acompanhamento detectou que factores associados a níveis de A1c persistentemente elevados, ao invés de baixos níveis de A1c por si, deverão ter contribuído para o aumento do risco de mortalidade, associado ao controlo glicémico intensivo.[36] O estudo Veterans Affairs Diabetes Trial (VADT) detectou que o controlo glicémico intensivo em doentes com T2DM pouco controlada não teve efeitos significativos nas taxas de eventos CV maiores, morte ou complicações microvasculares, à excepção da progressão de albuminúria[37]; contudo, é possível que, em doentes com T2DM, com menor duração da doença e sem aterosclerose estabelecida, o controlo glicémico intensivo possa trazer benefícios CV.[38] Uma série de meta-análises e revisões recentes de grandes estudos sobre mortalidade/morbilidade concluiu que, embora o controlo glicémico intensivo não afecte a morte cardiovascular ou a mortalidade por todas as causas, conduz a reduções significativas (14%-15%) no risco de EM não-fatal, de 4,4 para 5,4 anos (Figura 2). [9,11,39] Um regime de controlo da glicose mais intensivo foi associado a um aumento de 2 vezes no risco de hipoglicemia, tendo sido sugerido que o balanço do risco de hipoglicemia em relação aos benefícios CV do controlo glicémico intensivo pode variar entre grupos de doentes. Estas análises contribuem para a evidência crescente de que os regimes baixos em glicose precisam de ser personalizados para cada doente individual. As características de referência dos participantes podem ser encontradas nos estudos originais.[11,13] Pg.6 http://www.medscape.org/viewarticle/775826 ou http://theheart.medscape.org/viewarticle/7758268 Figura 2. Efeitos do controlo mais ou menos intensivo em eventos CV maiores e no EM. ACCORD = Acção para o Controlo do Risco Cardiovascular na Diabetes; ADVANCE = Acção em Diabetes e Doença Vascular - Avaliação Controlada da Libertação Modificada de Preterax e Diamicron; UKPDS = Estudo Prospectivo sobre a Diabetes UK; VADT = Veterans Affairs Diabetes Trial; eventos CV maiores = morte CV, AVC não-fatal ou EM não-fatal; o EM inclui não-fatal e fatal. A redução geral de eventos CV maiores foi de 9%, e a redução geral no EM foi de 15%. Adaptado de: Turnbull FM, et al. Diabetologia. 2009;52(11)2288-2298.[11] Agentes Anti-hiperglicémicos Utilizados para Tratar Doentes com T2DM Antigos agentes anti-hiperglicémicos. Estão disponíveis muitos tratamentos para hiperglicemia em doentes com T2DM, com diferentes perfis farmacológicos e mecanismos de acção. O tratamento de primeira linha mais comum, quando a doença é diagnosticada, é a metformina, agente antidiabético oral. É muito eficaz para reduzir os níveis de A1c (1%-2%), sendo neutra em termos de peso[13,40] ; contudo, é menos eficaz em doentes com elevados níveis de referência de A1c (≥ 9%) e menos eficaz à medida que a doença progride.[7,41] As orientações de tratamento recomendam a progressão para a terapêutica dupla combinada, se as metas de A1c não forem atingidas depois de 3 meses de monoterapia com metformina.[13,40] As opções recomendadas na declaração de posicionamento 2012 EASD/ASA são a inclusão de um segundo agente oral anti-hiperglicémico, um RA GLP-1 ou insulina basal[13]; contudo, os antigos agentes anti-hiperglicémicos têm limitações, incluindo aumento de peso e hipoglicemia. O risco e o receio de aumento do peso podem impedir os doentes de iniciar ou aderir ao seu tratamento.[42] Mesmo os eventos hipoglicémicos menores podem ter um maior efeito na gestão da diabetes.[43] Outra limitação com agentes tradicionais é a eficácia reduzida em atingir metas glicémicas, à medida que a T2DM progride. Com um declínio contínuo na função das células beta, a monoterapia com sulfonilureia (SU), metformina ou insulina torna-se menos passível de apresentar um controlo glicémico rigoroso, à medida que a função das células beta diminui. 3 anos após o diagnóstico com T2DM, metade dos doentes precisa de múltiplas terapias para conseguir A1c < 7%.[44] Entre os agentes anti-hiperglicémicos orais, a SU é eficaz ao reduzir os níveis A1c, mas induz frequentemente a hipoglicemia e o aumento de peso.[41] Em estudos de observação, também estiveram associados a um aumento do risco de hospitalização CV ou mortalidade, quando utilizados em terapêutica combinada com metformina.[45] Outros estudos mais recentes não suportaram esta associação, e esta continua a ser uma área controversa.[46] Não obstante, não existem dados firmes que suportem um benefício CV directo da SU. A tiazolidinediona (TZD) também é eficaz na redução dos níveis de A1c e não induz hipoglicemia; contudo, é associada ao aumento de peso e ao aumento do risco de insuficiência cardíaca congestiva.[41,47] A rosiglitazona, um TZD, foi retirado em vários países, por indicações de um aumento do risco de eventos CV.[41,48] Embora a insulina seja o tratamento mais eficaz para reduzir os níveis de A1c, está associada à hipoglicemia e ao aumento de peso. É apresentado um resumo dos efeitos dos agentes anti-hiperglicémicos tradicionais na Tabela 1. Pg.7 Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular com Agonistas do Receptor GLP-1 Tabela 1. Agentes Anti-hiperglicémicos Tradicionais DCV = doença cardiovascular; PO = por administração oral; SC = por administração subcutânea; SU = sulfonilureia; TG = triglicerídeos; TZD = tiazolidinedionas Adaptado de: Drucker DJ, et al. Diabetes Care. 2010;33(2):428-433.[49] Novos agentes anti-hiperglicémicos. Foram desenvolvidos vários agentes anti-hiperglicémicos para tratar de alguns dos desafios associados aos antigos agentes. As terapêuticas à base de incretina emergiram na década passada e estabeleceram-se como importantes opções de tratamento para doentes com T2DM. Estão disponíveis duas classes de agentes: (1) inibidores de DPP-4, que são administrados oralmente e incluem sitagliptina, saxagliptina, vildagliptina e linagliptina; e (2) RAs GLP-1, que são administrados por via subcutânea e incluem exenatida duas vezes por dia, exenatida uma vez por semana e liraglutida.[50] Os inibidores do co-transportador de sódio glicose 1 e 2 constituem outra classe de novos agentes anti-hiperglicémicos. Inibem a reabsorção da glicose dos túbulos renais e causam glicosúria, e os inibidores do co-transportador de sódio glicose 1 também conduzem à redução da absorção da glicose pelo intestino delgado. Inúmeros inibidores do co-transportador de sódio glicose 2 estão a ser utilizados em ensaios pré-clínicos e clínicos, com o dapagliflozina a concluir os ensaios da fase 3. Ficou demonstrado que reduz A1c, reduz os níveis de glicose no sangue e está associado à perda de peso.[51] O Efeito da Incretina O efeito da incretina é a potenciação da secreção da insulina por parte das células beta pancreáticas, em resposta a uma refeição. Duas hormonas – polipeptídeo insulinotrópico dependente da glicose (GIP) e GLP-1 – são as responsáveis por este efeito e desempenham um papel importante na regulação dos níveis de glicose pós-prandial.[19,52] O papel do GLP-1 é demonstrado na Figura 3. As suas 2 principais acções são estimular a secreção da insulina das células beta pancreáticas e inibir a secreção de glucagon das células alfa pancreáticas. O GLP-1 também regula o apetite e a ingestão de alimentos, ao retardar o esvaziamento gástrico, e demonstrou um papel de protecção cardíaca in vivo.[53-55] O GIP e o GLP-1 são rapidamente desactivados pelo DPP-4, pouco depois de serem segregados pelas células intestinais.[19] Pg.8 http://www.medscape.org/viewarticle/775826 ou http://theheart.medscape.org/viewarticle/7758268 Figura 3. O papel fisiológico do GLP-1.* O aumento da proliferação de células beta e a apoptose reduzida das mesmas foram reportados apenas em estudos com animais. Adaptado de: Baggio LL, et al. Gastroenterology. 2007;132(6):2131-2157.[53] * Em doentes com T2DM, o efeito da incretina é significativamente reduzido ou ausente, o que contribui para a regulação afectada da insulina e da secreção de glucagon.[52,55] O desenvolvimento de terapêuticas com base em incretina visa restaurar a função fisiológica do GLP-1 em doentes com T2DM (ver Figura 4).[56,57] O GIP e o GLP-1 não são adequados para uso clínico, devido à sua degradação rápida, pelo que os RAs GLP-1 foram desenvolvidos para restaurar a função natural de GLP-1. Também conhecidos como miméticos das incretinas, os RAs GLP-1 proporcionam níveis farmacológicos de estimulação do receptor GLP-1 superiores ao que a hormona natural oferece. Estes ligam-se ao receptor GLP-1, activando-o, e produzindo efeitos glucoreguladores similares ao GLP-1 natural.[54] Outra estratégia foi desenvolver inibidores orais de DPP-4, também conhecidos como intensificadores da incretina. Os inibidores de DPP-4 inibem a degradação do GLP-1 e do GIP, prolongando a sua meia vida e restaurando, deste modo, a função natural do GLP-1.[19,54] Apesar dos RAs GLP-1, não se ligam aos receptores de GLP-1. Ambas as classes de agentes reduzem os níveis de A1c e têm um baixo risco de hipoglicemia, mas os RAs GLP-1 parecem estar associados a maiores reduções em A1c e FPG. Os inibidores de DPP-4 são neutros em termos de peso, enquanto os RAs GLP-1 induzem a perda de peso.[52,58,59] Pg.9 Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular com Agonistas do Receptor GLP-1 Figura 4. Duas estratégias actualmente disponíveis para aumentar a secreção de GLP-1 em doentes com T2DM. GLP-1 = peptídeo tipo glucagon 1; DPP-4 = dipeptidil peptidase-4; RA = agonista de receptor Adaptado de: Drucker DJ, et al. Lancet 2006;368(9548):1696-1705.[56] Os RAs GLP-1 devem ser considerados como uma opção de tratamento para doentes com T2DM, quando a hipoglicemia é particularmente indesejável, quando a perda de peso é uma consideração importante ou quando a terapêutica actual de um doente não está a controlar eficazmente a hiperglicemia pós-prandial.[13,19,59] Neste momento, estão comercialmente disponíveis três RAs GLP-1 – exenatida duas vezes por dia, exenatida uma vez por semana e liraglutida (ver Figura 4).[50] Outros RAs GLP-1 sob investigação incluem lixisenatide, um tratamento uma vez por dia, e os tratamentos uma vez por semana de dulaglutide, albiglutide e semaglutide.[60,61] Exenatida Duas Vezes por Dia A exenatida, duas vezes por dia, é injectada por via subcutânea, em doses de 5 µg a 10 µg. Uma revisão sistemática de 2012 e uma meta-análise detectaram que reduz os níveis de A1c em 0,68% para a dosagem de 5-µg e em 0,99% para a dosagem de 10-µg.[62] Em estudos comparativos, as reduções nos níveis de A1c e FPG, com exenatida duas vezes por dia, foram inferiores do que com liraglutida (-0,79% vs -1,12%; -11 mg/dL vs -29 mg/dL, respectivamente), mas as reduções em glicose do plasma pósprandial (PPG) foram significativamente maiores com exenatida duas vezes por dia.[52,63] A exenatida duas vezes por dia é eficaz na monoterapia e na terapêutica combinada. Na terapêutica dupla, pode ser adicionada à metformina ou à SU e, na terapêutica tripla, pode ser adicionada à metformina e à SU ou à metformina e às TZD.[64] É segura e bem tolerada. O risco de hipoglicemia é baixo, embora o risco de hipoglicemia suave a moderada aumente na terapêutica dupla com uma SU.[64,65] Os efeitos secundários mais comuns com exenatida duas vezes por dia incluem náuseas transitórias (suaves ou moderadas), vómitos e diarreia.[64] Foi reportada pancreatite aguda, mas a sua ocorrência é rara.[66] Exenatida Uma Vez por Semana A exenatida, uma vez por semana, é administrada por injecção subcutânea com uma dosagem de 2 mg uma vez por semana. Os ensaios clínicos DURATION demonstraram que conduz a maiores reduções em A1c do que as obtidas com exenatida duas vezes por dia (média de 1,9% vs 1,5%).[67,68] Um estudo de 2011 reportou melhorias mais significativas no controlo glicémico após 2 anos de tratamento com exenatida uma vez por semana, comparado com exenatida duas vezes por dia – 60% dos doentes tiveram um A1c de < 7%, e 39% ≤ 6,5%.[69] A exenatida uma vez por semana está associada a melhorias clinicamente relevantes nos níveis de FPG e PPG.[70-72] Pg.10 http://www.medscape.org/viewarticle/775826 ou http://theheart.medscape.org/viewarticle/7758268 A exenatida, uma vez por semana, é segura e bem tolerada, com baixo risco de hipoglicemia (similar à exenatida duas vezes por dia).[67] As náuseas ligeiras e transitórias são o efeito secundário mais comum. Outros efeitos secundários incluem vómitos, diarreia, obstipação e cefaleias, mas a incidência de efeitos adversos graves é baixa.[69] Liraglutida A liraglutida é administrada por via subcutânea, com uma dose diária de 0,6 mg, 1,2 mg ou 1,8 mg. Tem uma duração de acção > 24 horas.[73] Os ensaios clínicos do Efeito da Liraglutida e da Acção em Diabetes (LEAD) – 6 estudos controlados aleatorizados envolvendo mais de 4000 doentes com T2DM em 40 países – demonstraram a eficácia e a segurança da liraglutida.[63,74-79] É segura e eficaz para utilização em monoterapia, em terapia dupla com metformina ou TZD, ou em terapia tripla, tanto com metformina e TZD, como com metformina e SU. A redução média em níveis de A1c em todos os 6 ensaios foi de 1,13%.[80] As reduções de A1c foram maiores do que com um número de comparadores, independentemente dos níveis de referência.[81] Numa nova abordagem ao tratamento de doentes com T2DM com A1c elevado, um estudo de 2012 detectou que a adição de liraglutida (1,8 mg) à metformina, seguida da adição de insulina basal (detemir), resultou num bom controlo glicémico, com quase dois terços de doentes a atingirem níveis de A1c < 7% (as reduções médias em A1c foram de 1,3%)[82]. A liraglutida melhora o PPG, para além de reduzir os níveis de FPG.[83] A liraglutida é segura e bem tolerada, com baixo risco de hipoglicemia.[64,74,82] O seu efeito secundário mais comum são as náuseas transitórias (ligeiras a moderadas), embora seja menos pronunciado do que com exenatida.[63] Outros efeitos secundários incluem diarreia e vómitos, embora os últimos sejam menos prevalecentes do que com exenatida duas vezes por dia.[63,64,73] Também foi reportada pancreatite, mas a sua ocorrência é rara.[49,66] A liraglutide é contra-indicada em doentes com um historial familiar de cancro da tiróide medular ou no síndrome da neoplasia endócrina múltipla tipo 2, já que foi demonstrado causar cancro da tiróide em estudos com animais[84]; contudo, a US Food and Drug Administration determinou como sendo baixo o risco de cancro da tiróide.[64] É apresentado um resumo dos dados de eficiência para exenatida duas vezes por dia, exenatida uma vez por semana e liraglutida, na Tabela 2. Pg.11 Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular com Agonistas do Receptor GLP-1 Tabela 2. Efeitos da Exenatida Duas Vezes por Dia, Exenatida Uma Vez por Semana e Liraglutida em A1c, Peso Corporal, SBP e LDL*† placebo subtraído Duração média do estudo de 26 semanas, excepto exenatida BID + TZD ± MET (16 semanas) e monoterapia com liraglutida (16 semanas). Esta tabela é uma compilação de uma série de estudos individuais. BID = duas vezes por dia; LDL = lipoproteína de baixa densidade; MET = metformina; n/a=não disponível; QW = uma vez por semana; SBP = pressão arterial sistólica; SU = sulfonilureia; TZD = tiazolidinediona * † RAs GLP-1 e Risco CV—Para Além do Controlo Glicémico Para além de serem muito eficazes no controlo da hiperglicemia, os RAs GLP-1 têm uma série de efeitos não-glicémicos favoráveis, incluindo a preservação de células beta e efeitos positivos nos factores de risco CV, como o peso corporal, a pressão arterial e os perfis lipídicos (ver Tabela 2).[60,85] Têm sido demonstradas múltiplas acções de protecção cardíaca dos RAs GLP-1 em modelos animais pré-clínicos da função CV, como a redução potencial da aterogénese e efeitos benéficos na insuficiência cardíaca.[15,86] Os estudos a curto prazo em humanos com doença cardíaca isquémica, EM ou insuficiência cardíaca demonstraram acções ligeiras, mas benéficas, na função cardíaca.[60,85,86] Nesta secção, são descritos os efeitos não-glicémicos de exenatida e liraglutida, comercialmente disponíveis, de RAs GLP-1 nos factores de risco para a DCV. Preservação das Células Beta A T2DM caracteriza-se por um declínio progressivo na função das células beta. A exenatida e a liraglutida parecem ter efeitos benéficos na função das células beta, que tem o potencial de reduzir a variabilidade da glicose e, talvez indirectamente, o risco de complicações macrovasculares e microvasculares. Proteger as células beta de um maior declínio na função e da eventual falha tem o potencial de alterar o avanço da T2DM, se realizado de uma forma suficientemente precoce.[73] Estudos pré-clínicos suportam a hipótese de que a liraglutida e a exenatida podem ter um efeito protector na massa de células beta na T2DM. A liraglutida e a exenatida estão associadas a um aumento significativo na massa das células beta e na diferenciação em ratos, e à redução da apoptose das células beta em células pancreáticas humanas isoladas.[73] Foram realizados vários estudos clínicos para investigar os possíveis efeitos directos da exenatida na função da célula de ilhota. Foram detectadas melhorias significativas nos índices da função de células beta com exenatida.[87] Num ensaio clínico de fase 3, a liraglutida foi associada ao aumento da secreção da insulina e a uma melhor função das células beta[74]; contudo, não estão actualmente disponíveis dados humanos para sugerir que o efeito da exenatida ou da liraglutida na função das células beta seja duradouro.[52] Pg.12 http://www.medscape.org/viewarticle/775826 ou http://theheart.medscape.org/viewarticle/7758268 Peso Corporal A obesidade está associada a um aumento do risco de T2DM – 60%-90% da T2DM está relacionada com a obesidade, e o risco de diabetes entre adultos obesos pode ser 90 vezes maior do que em adultos sem excesso de peso.[60,88] A obesidade também é um factor de risco independente para a DCV em doentes com T2DM.[88] Conforme previamente descrito, vários antigos agentes antihiperglicémicos induzem o aumento de peso, mas as terapêuticas à base de incretina são neutras em termos de peso (inibidores DPP-4) ou induzem a perda de peso (RAs GLP-1).[89,90] A exenatida duas vezes por dia tem sido associada à perda de peso em vários ensaios clínicos, em monoterapia e em terapia dupla e tripla com metformina, SU ou TZD.[62,65,91-94] A perda de peso com uma dosagem de 10 µg variou entre 0,7 kg e 2,5 kg (ajustado para placebo) (ver Tabela 2). A perda de peso foi demonstrada como constante durante 1,4 anos.[60] Na série de ensaios DURATION, a exenatida uma vez por semana foi associada à perda de peso, na monoterapia e na terapia dupla e tripla com metformina, SU ou TZD (Tabela 2). A perda de peso com uma dosagem de 2 mg variou entre 2,3 kg e 3,0 kg (ajustado para placebo).[67,68,95-97] A liraglutida está associada a uma perda de peso significativa, conforme demonstrado nos ensaios LEAD (Tabela 2). Foi utilizada em monoterapia, e em terapia dupla e tripla com metformina, SU ou TZD. A perda de peso parece estar dependente da dosagem, com uma dosagem de 1,8 mg a conduzir a maiores perdas do que uma dosagem de 1,2 mg.[60] A perda de peso com 1,8 mg de liraglutida variou entre 0,2 kg e 3,2 kg, ajustada para placebo (ver Tabela 2).[63,74-78] Estas reduções no peso corporal parecem manter-se durante, pelo menos, 1 ano.[74] O ensaio LEAD-6 demonstrou que a liraglutida esteve associada a uma maior perda de peso em doentes com T2DM, em comparação com a exenatida duas vezes por dia, quando adicionada à metformina e/ou à SU (3,24 kg vs 2,87 kg).[63] Um prolongamento de 14 semanas no ensaio LEAD-6 permitiu detectar que os doentes que passaram de 10 µg de exenatida duas vezes por dia para 1,8 mg de liraglutida verificaram reduções adicionais no peso corporal de 0,9 kg.[98] Os mecanismos exactos de perda de peso com exenatida e liraglutida ainda não são conhecidos actualmente; contudo, um subestudo de LEAD-2 e LEAD-3 detectou que o aumento de peso associado à liraglutida (em monoterapia ou em terapia dupla com metformina) foi, sobretudo, resultado das reduções em VAT.[93] A perda de peso pode, por si própria, ter um efeito positivo nos resultados CV; contudo, os RAs GLP-1 também podem ter efeitos CV directos que não são atribuíveis apenas à perda de peso.[86] Esvaziamento Gástrico Uma das principais acções biológicas dos RAs GLP-1 é atrasar o esvaziamento gástrico e reduzir a ingestão de alimentos.[15,52,60] A toma de exenatida duas vezes por dia demonstrou abrandar o esvaziamento gástrico e reduzir a ingestão de calorias,[62,98] tal como a liraglutida[83]; contudo, um estudo de 2012 com modelos animais sugeriu que o esvaziamento gástrico pode não ser o principal mecanismo para a perda de peso induzida pela liraglutida.[99] Pressão Arterial e Frequência Cardíaca A hipertensão, definida como SBP > 140 mm Hg e pressão arterial diastólica (DBP) > 90 mm Hg, é frequentemente uma condição de comorbidade de T2DM e contribui para o risco CV. O controlo rigoroso da pressão arterial demonstrou reduzir o risco de mortalidade CV e relacionada com a diabetes.[100,101] A exenatida duas vezes por dia está associada a reduções significativas em SBP (Tabela 2). Uma análise combinada de 6 ensaios clínicos detectou grandes reduções em SBP com exenatida duas vezes por dia, em comparação com a insulina ou um placebo, e a diminuição foi superior em doentes com um SBP de referência ≥ 150 mm Hg.[102] Uma meta-análise detectou que uma dosagem de 10 µg de exenatida duas vezes por dia esteve associada a reduções estatisticamente significativas em SBP e DBP.[63] Pg.13 Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular com Agonistas do Receptor GLP-1 Os ensaios DURATION demonstraram que a exenatida, uma vez por semana, reduziu significativamente o SBP, com reduções médias de 3 mm Hg a 5 mm Hg (Tabela 2).[60,67] Não foram observadas alterações significativas com DBP. No ensaio DURATION-3, a frequência cardíaca média (FC) aumentou em 4 batimentos por minuto (bpm) em doentes que receberam exenatida uma vez por semana.[97] Este é considerado um problema potencial, mas não é claro actualmente se a alteração na FC tem qualquer significado clínico.[60] Foi sugerido que um aumento da FC não tem um efeito desfavorável para o coração, até atingir os 5-10 bpm. Nos ensaios LEAD, a liraglutida foi consistentemente associada a reduções em SBP, e as reduções médias variaram de 2,7 mm Hg para 6,6 mm Hg com dosagens de 1,2 mg e 1,8 mg.[74-78] Não houve redução significativa em DBP. Na extensão ao ensaio LEAD-6, os doentes que passaram de 10 µg de exenatida duas vezes por dia para 1,8 mg de liraglutida observaram reduções em SBP de 3,8 mm Hg.[98] A adição de liraglutida à terapêutica combinada foi associada a aumentos pequenos, mas estatisticamente significativos da FC, variando de 2 a 3 bpm.[74,76-78] É apresentado um resumo dos dados clínicos sobre os efeitos de descida de SBP com exenatida duas vezes por dia, exenatida uma vez por semana e liraglutida (1,8 mg), na Tabela 2. Embora a perda de peso possa ter contribuído para a descida de SBP com exenatida e liraglutida, é improvável que a perda de peso seja a única responsável, já que as alterações de SBP ocorreram cedo nos ensaios clínicos e precederam a perda de peso. [60,65,74] O significado clínico e os mecanismos subjacentes aos efeitos da exenatida e da liraglutida em SBP e na FC em humanos ainda não foram estabelecidos. Foram realizados estudos pré-clínicos, mas são necessários mais dados clínicos.[86] Níveis Lipídicos O aumento dos lípidos no soro é outro biomarcador associado a um maior risco de DCV e inclui o colesterol total (TC), as lipoproteínas de baixa densidade (LDL), HDL, ácidos gordos livres (FFA) e triglicerídeos (TG).[60] Um estudo aleatorizado de 2008 detectou que a exenatida, duas vezes por dia, estava associada a diminuições nos TG (12%), no TC (5%) e nas LDL (6%), em doentes tratados com metformina e/ou SU. Os níveis de HDL aumentaram 24%.[103] Uma meta-análise de 2012 detectou que a dosagem de 5 µg de exenatida, duas vezes por dia, esteve associada a uma diminuição significativa das LDL e a um aumento significativo dos níveis de HDL.[62] Nos ensaios DURATION, a exenatida uma vez por semana demonstrou efeitos favoráveis nos perfis lipídicos, com reduções de TC em 3 dos 4 ensaios, e nenhum efeito significativo no HDL (ver Tabela 2).[67,95,97] No ensaio DURATION-1, conduziu a maiores reduções no TC e nas LDL do que a exenatida duas vezes por dia.[98] A melhoria mais significativa nos lípidos do soro foi observada em doentes com as maiores reduções de peso.[104] A liraglutide está associada a um perfil lipídico favorável em doentes com T2DM (ver Tabela 2). Uma meta-análise dos 6 ensaios LEAD demonstrou que, após 26 semanas de tratamento com liraglutida, os níveis de TC, LDL, FFA e TG diminuíram significativamente em comparação com a referência.[105] Comparado com a insulina ou as TZD, a liraglutida foi associado a uma maior redução do TC e das LDL. Outros Riscos CV O efeito do GLP-1 natural no sistema cardiovascular pode incluir uma acção directa no endotélio. Vários estudos pré-clínicos e clínicos sugeriram potenciais benefícios do GLP-1 no endotélio e no músculo liso vascular.[86,106] Por exemplo, ficou demonstrado que o GLP-1 melhora a disfunção endotelial em doentes com T2DM e Doença Cardíaca (DC).[107] Os efeitos benéficos da liraglutida na disfunção endotelial vascular foram demonstrados em estudos in vitro.[108] A exenatida tem sido associada a uma redução significativa num marcador substituto para a DCV em ratos e a uma melhoria da função endotelial em porcos.[109] Outros biomarcadores de risco CV são a alta sensibilidade à proteína C-reactiva e ao peptídeo natriurético cerebral (BNP). A liraglutida foi associada a uma redução na alta sensibilidade da proteína C-reactiva e no BNP.[105] Pg.14 http://www.medscape.org/viewarticle/775826 ou http://theheart.medscape.org/viewarticle/7758268 RAs GLP-1 e Risco CV: Perspectivas Clínicas A evidência de resultados CV os inibidores GLP-1s e DPP-4 para doentes com T2DM é actualmente limitada; contudo, uma série de ensaios clínicos multicêntricos a longo prazo para determinar esses resultados está, neste momento, em curso (Tabelas 3 e 4). Os estudos sobre inibidores DPP-4 também podem ajudar a compreender os benefícios dos RAs GLP-1 e das terapêuticas à base de incretina de uma forma mais geral. RAs GLP-1 A exenatida uma vez por semana está a ser estudada num ensaio que investiga o evento CV inicial (EXSCEL). O efeito da liraglutida numa série de eventos CV primários (incluindo a primeira ocorrência de morte CV, EM não-fatal ou AVC não-fatal) está a ser investigado no ensaio LEADER. Dois RAs GLP-1 de investigação também estão a ser avaliados em testes clínicos. O lixisenatide está a ser investigado num estudo para avaliar se pode reduzir a mortalidade CV em doentes com T2DM que tenham tido recentemente um evento coronário agudo (ELIXA). O efeito de uma dose semanal de dulaglutide em eventos CV maiores (primeira ocorrência de morte CV, EM não-fatal ou AVC não-fatal) está a ser investigado no ensaio REWIND. Todos os ensaios anteriores são de ocultação dupla e selecção aleatória.[15,61] Tabela 3. Estudos sobre Resultados CV com RA GLP-1 R= em recrutamento; A = activo, mas sem recrutamento; EM =enfarte do miocárdio; T2DM = diabetes tipo 2 Pg.15 Diabetes Tipo 2: Controlo Avançado do Risco Vascular com Agonistas do Receptor GLP-1 Tabela 4. Estudos sobre Resultados CV com Inibidor DPP-4[61] R= em recrutamento; A = activo, mas sem recrutamento; CHF = insuficiência cardíaca coronária; DCV = doença cardiovascular; LVF = função ventricular esquerda; EM = enfarte do miocárdio; T2DM = diabetes tipo 2 Os estudos estão resumidos nas Tabelas 3 e 4, e incluem o número de participantes, se o estudo ainda está em fase de recrutamento e a data estimada para conclusão. Conclusão As terapêuticas à base de incretina – RAs GLP-1 e inibidores DPP-4 – oferecem uma forma segura e eficaz de conseguir o controlo glicémico, o que, por sua vez, reduz o risco de complicações CV associadas à hiperglicemia em doentes com T2DM. Como não induzem o aumento de peso e apresentam baixo risco de hipoglicemia, oferecem uma alternativa a alguns agentes antihiperglicémicos tradicionais. Os RAs GLP-1 induzem a perda de peso, pelo que são particularmente benéficos em doentes para quem reduzir o peso corporal é uma prioridade. O modo único de acção dos RAs GLP-1 permite-lhes restaurar a função natural de GLP-1 que é diminuída em doentes com T2DM. A exenatida (duas vezes por dia ou uma vez por semana) e a liraglutida, os 3 RAs GLP-1 que estão amplamente disponíveis, demonstraram uma série de efeitos favoráveis, para além do seu eficaz controlo glicémico, sobretudo em alguns factores de risco CV. São bem evidentes as provas dos efeitos benéficos dos RAs GLP-1 no peso corporal, na pressão arterial e nos perfis lipídicos. A liraglutida e a exenatida uma vez por semana, em particular, demonstraram reduções significativas no peso e SBP, e melhorias nos perfis lipídicos do soro. Os resultados de estudos pré-clínicos também sugerem que os RAs GLP-1 podem ter um papel de protecção cardíaca directo, incluindo potenciais melhorias na função vascular endotelial. Os potenciais efeitos de protecção cardíaca dos RAs GLP-1 serão investigados nos ensaios clínicos em larga escala que estão actualmente em curso. Os ensaios começarão a produzir dados nos próximos 2 a 5 anos e deverão elucidar sobre o impacto a longo prazo dos RAs GLP-1 numa série de resultados cardiovasculares, incluindo EM não-fatal e morte CV. Pg.16 http://www.medscape.org/viewarticle/775826 ou http://theheart.medscape.org/viewarticle/7758268 Referências 1. Buse JB, Ginsberg HN, Bakris GL, et al. Primary prevention of cardiovascular diseases in people with diabetes mellitus: a scientific statement from the American Heart Association and the American Diabetes Association. Diabetes Care. 2007;30(1):162-172. 2. Emerging Risk Factors Collaboration. Diabetes mellitus, fasting blood glucose concentration, and risk of vascular disease: a collaborative meta- analysis of 102 prospective studies. Lancet. 2010;375(9733):2215-2222. 3. Coutinho M, Wang Y, Gerstein HC, Yusuf S. The relationship between glucose and incident cardiovascular events. Diabetes Care. 1999;22(2):233-240. 4. Selvin E, Coresh J, Golden SH, et al. 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