via sacra - CVX-S

Transcrição

via sacra - CVX-S
VIA SACRA
19 FEVEREIRO DO ANO DA GRAÇA DE 2013
21H
Igreja de São João Baptista
LUMIAR* LISBOA
(meditações elaboradas, a pedido do Santo Padre, João Paulo II, pelos jornalistas acreditados no Vaticano,
para a Via Sacra do Coliseu em 2002)
VIA SACRA 2013
1
J.S. Bach: Christus, der uns selig macht (Cristo, que nos abençoas, que mal fizeste tu?) (Coral da
Paixão segundo S.João - BWV 245)
ORAÇÃO INICIAL
22
Faz, Senhor, que,
como as piedosas mulheres que foram de madrugada ao teu túmulo com bálsamo
e unguentos,
venhamos também nós ao teu encontro
com os aromas e perfumes do nosso pobre amor.
Todos:
Pai Nosso que estais nos Céus,…
PRIMEIRA ESTAÇÃO
Jesus em agonia no Horto das Oliveiras
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
J.S. Bach: O Traurigkeit, o Herzeleid! (Oh sofrimento, Oh Mágoa!) (Coral BWV 336)
Evangelho segundo São Marcos14, 32-36
Chegaram a uma propriedade chamada Getsémani. Jesus, tomando consigo a Pedro, Tiago e
João, começou a sentir pavor e a angustiar-Se. E disse-lhes: «A minha alma está numa tristeza
de morte; ficai aqui e vigiai». Adiantando-Se um pouco, caiu por terra e orou para que, se fosse
possível, passasse d'Ele aquela hora.
E disse: «Abba, Pai, tudo Te é possível, afasta de Mim este cálice! Contudo não se faça o que Eu
quero, mas o que Tu queres».
ORAÇÃO DE CONCLUSÃO
Que a tua bênção, Senhor e nosso Pai, desça com abundância sobre este povo que contemplou o
caminho da cruz do teu Filho com a esperança da sua Santa Ressurreição. Desça sobre ele o teu
perdão, concede-lhe o teu consolo, faz crescer a sua fé, e consolida nele a redenção eterna. Por
Cristo, nosso Senhor. Ámen.
MEDITAÇÃO
O jardim com as suas oliveiras não dá alívio, nesta noite.
Mete pena o rosto macerado contra a terra,
dilacera a dúvida que fortemente preme sobre o coração.
Dormem os amigos escolhidos como companheiros,
os mesmos que prometeram:
Estaremos sempre convosco, Jesus.
Até as promessas, agora, dormem.
Há pouco, depois da ceia, Pedro gloriava-se:
Ainda que todos fujam, eu ficarei.
Mas agora ele não consegue sequer ter os olhos abertos.
Estes últimos passos, Jesus devia percorrê-los sozinho.
O longo caminho de palavras e milagres,
um caminho tão povoado de gente,
trouxe-O até aqui:
um canto rochoso de terra,
J.S. Bach: Ach Herr, lass dein lieb' Engelein (Oh meus senhores, deixem o meu querido anjinho, no
momento derradeiro, guardar a minha alma no seio de Abraão)
(Coral Final da Paixão segundo S. João - BWV 245)
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José de Arimateia, depois de comprar um lençol, desceu o corpo da cruz e envolveu-o nele. Em
seguida, depositou-O num sepulcro cavado na rocha e rolou uma pedra contra a porta do
sepulcro.
MEDITAÇÃO
Após o terrível trovão no instante da morte,
o grande silêncio.
Os discípulos da noite,
que, temerosos, seguiam furtivos o Mestre,
agora já não temem.
À luz do dia,
pedem a Pilatos o corpo de Jesus para a sepultura.
A Virgem do grande silêncio,
que trouxe no seu ventre o Fruto bendito
- Aquele a quem o universo não pode conter acolhe novamente no seu seio
o corpo de Jesus descido da Cruz:
contempla-O adorando, venera-O na sua imensa dor.
O Rei dorme, mas a sua Esposa vigia:
é o dia do descanso de Deus.
Junto com o Rei, também dorme a criação
à espera do despertar.
O Filho de Deus desce à mansão dos mortos
para resgatar aqueles que a morte retém.
A Sua luz transtorna as trevas do Inferno.
A terra treme e os sepulcros abrem-se:
Jesus vem para libertar os justos
e devolvê-los à luz da ressurreição.
Ele foi tragado pela escuridão da morte,
mas para ser devolvido à plenitude da luz e da vida:
como a baleia reteve Jonas no seu ventre,
para o devolver depois de três dias,
assim a terra abrirá as suas fauces
para libertar o corpo luminoso do Vivente.
uma solidão imensa, que mete medo.
Face por terra: nada há de majestoso nesta cena
senão a sinceridade dum homem que confessa:
«A minha alma está numa tristeza de morte».
Ele que acalmava as águas agitadas pelo vento,
agora não pode dar a paz a Si mesmo.
A tempestade é a dúvida
que lhe agita a mente e o peito,
como agita o espírito de milhões de homens e mulheres
ontem, hoje e amanhã.
A luta pode prolongar-se
e neste jardim terminará só
quando o Filho disser ao Pai:
«O que Tu queres».
Uma paz profunda
virá depois da oração.
ORAÇÃO
Jesus, Tu que entraste no Getsémani cheio de angústia
e saíste com o espírito decidido e pacificado,
conforta quem geme com medo ou é atormentado pela dúvida.
Tu que experimentaste a nossa fraqueza,
concede a fortaleza e esperança
a todos os desesperados da terra.
Fica junto de cada um de nós, passo a passo.
Todos:
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: Was Mein Gott Will, Das G'scheh Allzeit (Que se cumpra sempre a vontade do meu
Senhor) (Coral da Paixão segundo S.Mateus - BWV 244)
ORAÇÃO
SEGUNDA ESTAÇÃO
Jesus, fizeste-Te o menor de todos os homens,
deixaste-Te cair na terra como um grão de trigo.
Agora, deste grão brotou
a árvore da Vida, que abraça o universo.
Jesus, atraiçoado por Judas, é preso
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
2
3
Evangelho segundo São Marcos14, 43.45-46
Apareceu Judas, um dos doze, e com ele uma grande multidão com espadas e varapaus, da
parte dos príncipes dos sacerdotes,dos escribas e dos anciãos. Aproximou-se de Jesus,
dizendo: «Rabbi», e beijou-O. Os outros deitaram-Lhe as mãos e prenderam-No.
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aceita o projecto do Pai.
Sabe que sem o dom da Sua vida
a nossa morte seria sem esperança;
as trevas do desespero
não se transformariam em luz;
a dor não resultaria na consolação,
na esperança da eternidade.
MEDITAÇÃO
ORAÇÃO
Naquela trágica noite escura do Getsémani,
«a noite em que foi entregue» (1 Cor 11, 23),
o Filho de Deus suscita em nós, com as suas palavras e gestos,
sentimentos vários, às vezes contrastantes:
notamos a riqueza do diálogo espiritual com os discípulos
e sentimos a alegria da ceia em comum;
contemplamos os cimos de intenções puras
e estremecemos com a mesquinhez da traição.
Jesus, sábio e omnisciente,
obedecendo ao desígnio salvífico do Pai,
vai para o sacrifício pela libertação do género humano.
Ao traidor-discípulo, resta o desprezo universal dos séculos,
a «maldição de Judas», a Geena de fogo.
A partir da morte de Cristo, floresce a vida nova,
memória e anúncio duma esperança que não morre:
a salvação universal.
Obrigado Jesus,
por teres vencido a nossa morte,
com a tua:
faz que as cruzes dos que, como Tu,
morrem pela mão de outros homens,
se transformem em árvores da vida.
Obrigado Jesus,
por teres feito da cruz,
lugar de sofrimento e de morte,
o sinal da tua reconciliação com o Pai.
ORAÇÃO
Senhor Jesus,
nas nossas divisões, fruto amargo do pecado,
mostra-nos a estrada para a unidade,
o caminho que conduz à riqueza indescritível do
Evangelho e da Redenção.
Deve chegar o tempo estabelecido pelo Pai,
em que se manifeste o amor que perdoa e une.
Tu, Mestre sapiente de vida,
dá-nos, neste dias de violência inaudita
e de brutal contraposição entre os homens,
um raio da tua calma e serenidade.
Dá-nos a capacidade da paz e do perdão,
porque não há paz sem perdão,
não há perdão sem compaixão.
Todos:
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: Wenn Ich Einmal Soll Scheiden (Quando Eu tiver de partir, não Te afastes de Mim) (Coral
da Paixão segundo S.Mateus - BWV 244)
DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO
Jesus é colocado no sepulcro
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
Evangelho segundo São Marcos15,46
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Todos:
Todos:
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: Er nahm alles wohl in acht (Na hora derradeira, Ele teve todas as precauções) (Coral
da Paixão segundo S.João - BWV 245)
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: Durch dein Gefängnis, Gottes Sohn (Por esta prisão, Filho de Deus, virá a nossa
salvação) (Coral da Paixão segundo S.João - BWV 245)
TERCEIRA ESTAÇÃO
DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO
Jesus é condenado pelo Sinédrio
Jesus morre na Cruz
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
Evangelho segundo São Marcos15,34.36-37
E à hora nona Jesus exclamou em alta voz: Eloì, Eloì, lemà sabactàni?, que quer dizer: Meu
Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste? Um deles correu a embeber uma esponja em
vinagre, pô-la numa cana, deu-lhe de beber dizendo: «Esperemos, a ver se Elias vem tirá-Lo
dali. Soltando um grande brado, Jesus espirou».
MEDITAÇÃO
Jamais,
como na hora da Sua morte,
a hora mais importante da história da humanidade,
Jesus esteve tão perto de nós.
No instante final, como um de nós,
Jesus é, na impotência, invadido pela angústia.
Morre sozinho.
Os cravos trespassam Sua carne,
mas sobretudo o Seu espírito.
Será que o Pai O abandonou?
Sofre com o tormento de sua Mãe,
escolhida para dar à vida um Filho
que verá morrer.
No entanto Jesus, no amor e na obediência,
Evangelho segundo São Marcos14, 55.60-62.64
Os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um testemunho contra
Jesus, para Lhe dar a morte, mas não o encontravam. O Sumo Sacerdote ergueu-se no meio
da assembleia e interrogou Jesus: «És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?» «Sou»respondeu Jesus. E todos sentenciaram que Ele era réu de morte.
MEDITAÇÃO
A máquina da justiça pôs-se em movimento.
Aquela que condena sem provas, acusa sem motivo,
julga sem apelo, esmaga o inocente.
Justiça sumária,
abreviada das ditaduras modernas
e das situações de guerra.
Justiça aplicada às vezes - suprema blasfémia em nome daquele Deus que perdoa e indulta.
Jesus no tribunal.
Como todas as vítimas do arbítrio,
os presuntos culpados de delitos de consciência.
Eles resistem, recusam sujeitar-se ao jogo do sistema,
da imposição que esmaga
e despedaça a personalidade e a identidade.
Controle da identidade: «Quem és?».
Cada homem que chega à prisão recebe um número.
A todo o momento deve mostrar a sua matrícula,
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apresentar a etiqueta.
Na hora do arbítrio,
missão e glória da Igreja é dizer-lhe
que não é um número,
que todo o homem tem direito a ser chamado pelo seu nome.
«És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?»(Mc 14, 61).
A resposta é iluminante: «Sou» (Mc 14, 62).
Deixar a própria identidade e anunciar a sua fé
às vezes são actos passíveis de morte.
Mas quantos são os que procuram Deus?
Quantos O procuram atrás das grades?
Quantos na prisão da sua vida, dos seus sofrimentos?
Quantos no escárnio suportado e na tortura sofrida?
Homens e mulheres de todas as prisões,
perseguidos, apontados, feridos,
sem resposta às questões essenciais:
sobre o sentido da vida e sobre o mal,
sobre o arrependimento, sobre o perdão e sobre a salvação,
sobre o mistério da Cruz e da Redenção.
Povo de carne e de sangue.
Terra de encontros, de rostos, de vozes, de gritos.
Terra Evangelho.
ORAÇÃO
Jesus, basta que digas «Eu Sou»,
para acorrermos a Ti.
Nas prisões, homens e mulheres imploram-Te.
Vigiam e rezam durante a noite.
Ensinam-nos o ar que lá se respira,
o mal que oprime,
a liberdade que se procura.
Escuta a sua súplica.
Se não se sentem perdoados, amados por Ti e por nós,
se lhes é negada a esperança,
são duplamente condenados, fechados no braço da morte.
Concede-lhes o mesmo que nos deste:
a fé em Ti e na tua presença,
o amor à vida,
a esperança num mundo novo.
Dá-nos os meios para Te procurar,
para aceitar a espera e para Te encontrar.
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V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
Evangelho segundo São João19, 26-27
Ao ver Sua mãe e junto dela, o discípulo que Ele amava, Jesus disse a Sua mãe: «Mulher, eis
aí o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis aí a tua mãe». E, desde aquela hora, o
discípulo recebeu-A em sua casa.
MEDITAÇÃO
Maria, estás de pé junto à Cruz;
o discípulo mais jovem está ao teu lado.
No meio do fragor dos soldados e da multidão,
levantais, tácitos, o olhar para Cristo.
Tu, desde o início,
meditaste no teu coração,
no silêncio e no abandono,
na paz e na confiança,
o que vias e ouvias.
Agora ofereces o teu Filho ao mundo
e recebes o discípulo que Ele amava.
A partir deste instante, João acolhe-te
na morada do coração e na sua vida,
e a força do Amor nele se difunde.
Ele é agora, na Igreja, a testemunha da luz
e com o seu Evangelho revela o Amor do Salvador.
ORAÇÃO
Jesus, que da Cruz diriges o olhar
à Mãe e ao Discípulo,
dá-nos, no meio dos sofrimentos,
a audácia e a alegria de Te acolher
e seguir com confiante abandono.
Cristo, fonte da vida,
de toda graça e beleza,
faz-nos contemplar a tua face sorridente,
a face de quem salva o mundo e o conduz ao Pai.
Senhor, a Ti se eleva o nosso louvor,
guiado pela Igreja e por tua Mãe:
concede-nos entrever na loucura da Cruz
a promessa da nossa ressurreição.
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Todos:
que Jesus pronuncia no Evangelho.
Ainda mais consolador é o facto
de que a dirija a um malfeitor.
O bom ladrão certamente tinha matado,
possivelmente mais de uma vez,
e de Jesus nada sabia,
a não ser aquilo que escutou gritar pela multidão.
Mas eis que escuta as palavras de perdão
que o Nazareno dirige aos que O crucificaram
e intui, num instante,
de que Reino tinha falado aquele «profeta».
Em seguida defende-o do desdém do outro malfeitor
e invoca logo a salvação.
Um sentimento de solidariedade
e um grito de ajuda bastaram para salvá-lo.
Aquele ladrão somos todos nós.
ORAÇÃO
Jesus,
que prometeste o paraíso
ao malfeitor que Te falava desde a cruz junto à tua,
lembra-Te também de nós, agora que estás no teu Reino.
Faz chegar, consoladora,
a tua promessa de vida eterna e de eterno amor
a cada mulher e cada homem
que enfrenta a circunstância da morte.
Todos:
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: O Wir Armen Sünder (Oh nós pobres pecadores) (Coral BWV 336)
DÉCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO
Jesus na Cruz, a Mãe e o Discípulo
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: Wer Hat Dich So Geschalgen (Quem Te golpeia assim, meu Salvador, e quem te ultraja
com os mais cruéis tormentos?) (Coral da Paixão segundo S.Mateus - BWV 244)
QUARTA ESTAÇÃO
Jesus é renegado por Pedro
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
Evangelho segundo São Marcos14, 72
Pela segunda vez um galo cantou. Pedro recordou-se, então, do que Jesus lhe havia dito:
«Antes de o galo cantar duas vezes, ter-Me-ás negado três vezes». E desatou a chorar.
MEDITAÇÃO
O galo canta pela segunda vez,
e as lágrimas de Pedro rolam até ao chão.
Que aconteceu a Cefas, a Rocha?
Renegou o seu Redentor,
não uma nem duas, mas três vezes.
Tal como a sua fé vacilara
quando procurou caminhar sobre a água,
do mesmo modo, uma vez mais, Pedro revela a sua fraqueza.
Tinha temerariamente prometido antes morrer
que renegar o seu Mestre.
No fim, bastou uma criada para se envergonhar
da sua amizade com Jesus.
Mas logo que o olhar de Jesus se cruza com o de Pedro
o Apóstolo reconhece o seu triste erro.
Humilhado, chora e pede perdão a Deus.
Grande é a lição de Pedro: até os mais íntimos ofenderão Jesus com o pecado.
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O canto do galo não mais será o mesmo para o Príncipe dos Apóstolos: recordar-lhe-á para sempre o
seu medo e a sua fragilidade.
ORAÇÃO
Senhor,
Dá-nos um coração humilde e contrito.
Faz que saibamos chorar pelas nossas culpas,
para regressar ao teu amoroso abraço
sempre que Te voltamos as costas.
Faz que aprendamos de Pedro
a não dar por descontada a nossa fé
nem a presumir de ser melhor que os outros.
Ajuda-nos a conhecer como somos verdadeiramente,
frágeis, pecadores, constantemente necessitados do vosso perdão.
Todos:
que transforma em momentos de graça
as mais simples circunstâncias de cada dia.
Jesus, levantado sobre a cruz,
atrai a Ti os que buscam a tua face;
ajuda os que participam dos teus sofrimentos
a descobrir o sentido da sua misteriosa chamada
a partilhar a tua paixão e a dor do mundo.
Todos:
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: Herr Jesu Christ, Wahr' Mensch Und Gott (Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e
Homem, que sofreste tortura, medo e humilhação) (Coral BWV 336)
Pai Nosso que estais nos Céus,…
DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO
J.S. Bach: Petrus, Der Nicht Denkt Zurück (Pedro, que não se lembra [do que Jesus Lhe dissera],
renega o seu Deus) (Coral da Paixão segundo S.João - BWV 245)
Jesus promete o seu Reino ao bom ladrão
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
QUINTA ESTAÇÃO
Evangelho segundo São Lucas 23,39-43
Jesus é julgado por Pilatos
Um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o
Messias? Salva-te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra,
repreendeu-o: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós,
fez-se justiça pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam, mas Ele nada
praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de mim quando estiveres no Teu
reino». Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás Comigo no Paraíso».
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
Evangelho segundo São Marcos15, 14-15
Eles gritaram ainda mais: «Crucifica-O!» Pilatos, desejoso de agradar à multidão, soltou-lhes
Barrabás e, depois de mandar açoitar Jesus, entregou-O para ser crucificado.
MEDITAÇÃO
Seja crucificado!
MEDITAÇÃO
«Hoje estarás Comigo no Paraíso»(Lc 23,43):
É a palavra mais consoladora
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DÉCIMA ESTAÇÃO
Jesus é crucificado
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
Evangelho segundo São Marcos15,24
Depois crucificaram-n’Oe repartiram entre si os Seus vestidos, sorteando-os para verem o que
levava cada um.
MEDITAÇÃO
Jesus é crucificado.
As Suas mãos e os Seus pés são trespassados por impiedosos cravos.
Despojado das Suas vestes,
cobre-se agora dos pecados do mundo.
Deixa-se crucificar por amor,
no amor o sofrimento humano ganha valor salvífico.
Com esta certeza,
gerações de homens e mulheres, novos e velhos,
seguem o Crucificado nesta radical experiência de amor.
As chagas do Salvador continuam hoje a sangrar,
agravadas pelos cravos da injustiça,
da mentira e do ódio,
dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças.
Nas palmas das Suas mãos trespassadas pelos cravos
está escrito o nome dos que, com Ele,
continuam a ser crucificados.
ORAÇÃO
Jesus,
crucificado no madeiro por nosso amor,
dá-nos a tua liberdade.
Ensina-nos a vencer o medo do sofrimento
com a força que brota da tua cruz.
Faz-nos penetrar neste mistério de amor,
8
Este grito ressoa com força
sempre que um ser humano é maltratado.
Todos os dias, cada um de nós se transforma num juiz.
Pensamos que temos o direito de julgar
e condenar o comportamento dos outros,
mas recusamos ser objecto
de censura ou de juízo alheio.
Encontramos sempre uma justificação
para as nossas culpas e erros.
Jesus responde com o silêncio
ao ver a hipocrisia e a soberba do poder,
a indiferença daqueles
que se subtraem às suas responsabilidades.
Confirma assim o ensinamento dado aos discípulos:
«Não julgueis e não sereis julgados;
não condeneis e não sereis condenados» (Lc 6, 37)
Jesus tem as mãos atadas, mas sente-Se livre.
Ao aceitar o mistério da Cruz,
indica-nos o verdadeiro amor e a verdadeira justiça.
ORAÇÃO
Jesus,
livra-nos da hipocrisia e da indiferença,
da tentação de lavarmos as mãos
perante a injustiça.
Concede-nos a humildade necessária
para reconhecermos os nossos erros.
Ensina-nos a recusar qualquer compromisso
com a injustiça e a mentira.
Ajuda-nos a fazer silêncio dentro de nós
para ouvir o grito daqueles que sofrem.
Ilumina aqueles que procuram sempre
uma justificação para as suas culpas.
A todos nós,
dá-nos a tua voz,
para a erguermos em defesa dos oprimidos,
dos que sofrem em silêncio,
de modo que se tornem realidade no mundo
a paz, a justiça e o perdão.
MEDITAÇÃO
9
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V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
Um lamento fúnebre acompanha
a caminhada do Condenado à morte.
No caminho que leva ao Calvário
as mulheres choram batendo no peito.
Não sabem que, em troca das suas lágrimas,
receberão a tremenda profecia
dos tempos que hão-de vir.
Não choreis por mim.
Poupai vossas lágrimas
para os anos e os dias que virão,
porque, se assim tratam o Inocente,
que será de vós e dos vossos filhos?
Jesus conhece a resposta à pergunta
que dirige às mulheres de Jerusalém.
Ele, levando a cruz aos ombros,
vacila sob o peso do pecado e da dor dos homens,
a quem quis como irmãos.
Bem sabe como é longa na história
a via dolorosa que leva aos «Calvários» do mundo.
Evangelho segundo São Marcos15, 17-19
ORAÇÃO
Os soldados revestiram-No de um manto de púrpura e cingiram-Lhe uma coroa de espinhos,
que haviam tecido. Depois começaram a saudá-Lo: «Salvé, ó Rei dos judeus!» Batiam-Lhe na
cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante d'Ele.
Jesus,
Tu que conheces a profundidade do nosso coração,
a capacidade de bondade e de maldade
que está em cada homem,
ensina-nos a perdoar
e a pedir perdão,
a ter piedade de nós próprios e dos outros.
Lembra-Te de Jerusalém,
abençoada pelo teu amor,
dilacerada pelo ódio dos homens.
Dá aos homens e às mulheres
daquela Terra Santa
paz e ressurreição.
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Todos:
Pai Nosso que estais nos Céus,…
Todos:
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: Wie Wunderbarlich Ist Doch Diese Strafe! (Que miraculoso é este castigo!) (Coral da
Paixão segundo S.Mateus - BWV 244)
SEXTA ESTAÇÃO
Jesus é flagelado e coroado de espinhos
MEDITAÇÃO
Ó Cristo, és o verdadeiro Rei,
mas os homens troçaram de Ti,
coroaram-Te para Te enxovalhar.
Sofremos contigo porque os homens
são cegos e surdos à tua mensagem de salvação.
O teu Reino não é deste mundo,
mas nós, homens, esperamos favores, poder, sucesso, riquezas:
um mundo sem sofrimento.
E contudo fazemos sofrer os outros.
Com o teu sacrifício,
ensinaste-nos a romper a espiral da violência.
Verdadeiro homem, sofreste dores indescritíveis;
contemplando o teu rosto,
conseguimos suportar as nossas dores,
J.S. Bach: Keinen Hat Gott Verlassen (Deus não abandonou a confiança n'Ele em todos os
momentos) (Coral BWV 369)
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ORAÇÃO
Senhor que disseste
«Se alguém quiser vir após Mim,
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz
e siga-Me»
Como posso fazê-lo?
Ensina-me
e com a tua graça vence em mim
o medo do ódio alheio,
o medo da dor,
o medo de uma morte solitária,
o medo do medo.
Senhor, tem piedade da minha fraqueza.
Todos:
na esperança de ser acolhidos no teu Reino,
o verdadeiro e único Reino.
ORAÇÃO
Ó Jesus, nosso Rei,
perdoa a nossa incoerência:
choramos o teu sofrimento
e ferimos os outros para fazer prevalecer o nosso egoísmo.
Sê para nós, extraviados, guia seguro, fortaleza na prova,
firmeza no seguir-Te..
Faz que a violência dos homens
seja vencida pela tua mansidão
e que o sofrimento incompreensível, acolhido com fé,
se torne instrumento de paz e salvação.
Todos:
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: Mach's Mit Mir, Gott, Nach Deiner Gut' (Ao meu lado, Senhor, com a Tua bondade
ajuda-me no sofrimento) (Coral BWV 377)
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: O Haupt, Voll Blut Und Wunden (Oh, Cabeça, cheia de sangue e feridas, cheia de
dor e escárnio) (Coral da Paixão segundo S.Mateus - BWV 244)
SÉTIMA ESTAÇÃO
NONA ESTAÇÃO
Jesus recebe a Cruz aos ombros
Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
Evangelho segundo Marcos15,20
Evangelho segundo São Lucas23,27-28.31
Depois de O terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as Suas
roupas. Levaram-n’O, então para o crucificarem.
Seguiam-n’O uma grande massa de povo/ e umas mulheres que se lamentavam/ e choravam por
Ele./ Jesus voltou-se para elas e disse-lhes:/ “Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim;/ chorai
antes por vós mesmas e pelos vossos filhos./ Porque se tratam assim a madeira verde,/ o que
acontecerá à seca?”
MEDITAÇÃO
Jesus tomou sobre si
aquela cruz que estava destinada
para cada um de nós.
Aos nossos olhos, ela mostra-se
o símbolo do paradoxo e da contradição.
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Não obstante fosse revestido da glória
OITAVA ESTAÇÃO
e do poder que Lhe fora dado pelo Pai,
Jesus aceitou uma morte horrível, inglória,
vergonhosa.
Sabia que a cruz era a única via
para entrar na intimidade do homem;
uma morte violenta, o único meio
para entrar docemente nos nossos corações.
É difícil levar esta cruz paradoxal
no mundo contemporâneo, globalizado,
dominado pelo poder económico, político, militar.
Os poderosos do mundo aliam-se
para cumprir represálias,
para atingir as populações pobres e extenuadas.
Justifica-se até mesmo o terrorismo
em nome da «justiça» e da «defesa» dos pobres.
Também para esta grande parte da humanidade sofredora,
para as vítimas da violência e da injustiça,
Jesus carrega a cruz.
Jesus é ajudado por Simão de Cirene a levar a Cruz
ORAÇÃO
Senhor,
dá-nos a força e a coragem
para partilhar a tua cruz e os teus sofrimentos
na vida quotidiana e no empenho profissional.
Infunde-nos em nós o espírito de serviço e de sacrifício,
para que aspiremos não ao poder e à glória,
mas a sermos instrumento de solidariedade e de paz,
para os que são esmagados pela violência
e pela injustiça dos poderosos do mundo.
Todos:
Pai Nosso que estais nos Céus,…
J.S. Bach: Bin Ich Gleich Von Dir Gewichen (Ainda que me afaste de Ti, voltarei sempre para o
Teu lado) (Coral da Paixão segundo S.Mateus - BWV 244)
V/.Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
Evangelho segundo São Marcos15,21
Requisitaram para levar a cruz, um homem que passava,
vindo do campo, Simão de Cirene,
pai de Alexandre e de Rufo.
MEDITAÇÃO
Um homem que vinha do campo,
entrou em Jerusalém para negociar.
Um estranho desfile impediu-o de prosseguir.
Numa rua estreita e apinhada de gente…
soldados, mulheres que choravam,
alguns fanáticos com olhos carregados de ódio
e um condenado, já sem forças
para carregar sobre os ombros o madeiro da vergonha.
Os soldados procuram alguém
que o livre deste peso.
Não o fazem por piedade:
devem respeitar a hora da execução.
Escolhem o primeiro que encontram,
porque parece bastante robusto.
Um homem que vinha do campo
entrou em Jerusalém para negociar.
Lucrou com isso:
cinco minutos na história da salvação,
uma frase no Evangelho.
Conheceu gratuitamente o peso da cruz.
Eis que se revela o mistério.
A cruz é pesada demais para Deus,
que se fez homem.
Jesus necessita de solidariedade.
O homem tem necessidade de solidariedade.
Foi-nos dito:
«Levai os fardos uns dos outros» (Gal 6,2)
Solidariedade.