Apocalipse - Concílios 99 - Estudo Introdutório de Apocalipse

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Apocalipse - Concílios 99 - Estudo Introdutório de Apocalipse
Igreja Evangélica Luterana do Brasil - Concílios 1999
Cristo para Todos - Esperando com Fidelidade a Deus
Apocalipse - Estudo Introdutório
Introdução
O estudo do livro de Apocalipse freqüentemente está associado a um interesse com as coisas referentes ao fim dos tempos.
Muito naturalmente identifica-se Apocalipse como um livro texto de Escatologia. A IELB mesmo faz isto, quando ao chegar perto do
ano 2000 - ao qual estão associadas tantas expectativas escatológicas no mundo - com um destaque escatológico (“Esperando com
fidelidade a Deus”) dedica um espaço especial para o estudo deste livro. Justifica-se tal abordagem? Somente um estudo do livro
poderá responder. A justificativa para o estudo do livro, no entanto, está no próprio fato da Igreja estudar o livro como texto de Deus,
para orientação e consolo, como mensagem de lei e evangelho.
No entanto, “Apocalipse” não vem sendo tratado como assunto da Igreja. O próprio nome “Apocalipse” e alguns aspectos
ligados ao livro têm sido explorados de forma a transmitir uma mensagem distante do propósito cristão normalmente atribuído ao
texto bíblico. Alguns exemplos mostram isto. Filmes com roteiros tão distintos, enfocando assuntos tão distantes, como “Apocalypse
Now” (o macabro domínio de um militar enlouquecido) e “Armageddon” (a ameaça de destruição do planeta Terra por um asteróide),
têm seus nomes associados ao livro de Apocalipse. O que une os filmes é o assunto - horror e destruição. Mais um exemplo: no
exemplar de 22 de Fevereiro de 1999 da revista Época encontramos um artigo sob o título “À Espera do Apocalipse.” O termo
“Apocalipse” é empregado como sinônimo de “fim do mundo” (entenda-se, planeta Terra, não o Universo).
As observações acima parecem indicar que, ao ouvirem falar de Apocalipse, as pessoas pensam em desgraças e fim.1 Vale
perguntar se tal abordagem respeita a mensagem do livro bíblico.
Ao darmos início a este estudo sobre Apocalipse, queremos dar atenção ao primeiro parágrafo do mesmo, ressaltando uma
frase:
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele,
enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo,
quanto a tudo o que viu. Bem-aventurados aqueles que lêem (lit.: aquele que lê [em voz alta]) e aqueles que ouvem as palavras da
profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo.” (Apocalipse 1:1-3 Almeida RA)
O livro inicia identificando-se como uma revelação de Jesus e atesta que são felizes, tanto o que lê (uma alusão à leitura
pública, no culto), como os que ouvem e guardam as palavras aí contidas. Tal observação, apesar de sua simplicidade, aponta para um
propósito evangélico, edificante, consolador do livro. Além disso, fica evidente que o enfoque escatológico não é estranho a
Apocalipse. A questão é como se articula tal ensino na mensagem transmitida por João.
1. Autoria e Data da Escrita
O autor se apresenta como "João", servo de Jesus Cristo. A tradição mais antiga o identifica com o apóstolo João, escritor do
Evangelho e das três Epístolas. Assim testemunham: Justino, o Mártir; Irineu (discípulo de Policarpo, bispo de Esmirna e que fora
discípulo de João, o apóstolo, em Éfeso); Clemente da Alexandria; Tertuliano; Cânone de Muratori; Hipólito de Roma. Vale lembrar
que já no 3o século houve quem questionasse a autoria apostólica (Dionísio de Alexandria).
No que se refere à data da escrita de Apocalipse, Eusébio relata, em sua História Eclesiástica, que João foi levado ao exílio na
ilha de Patmos no quinto ano do imperador Domiciano (governou entre 81 e 96 A.D.), portanto, no ano 85 ou 86.2 Depois, também
conforme Eusébio, ao entrar Nerva (ano 96) como imperador, este ordenou que as pessoas injustamente condenadas por Domiciano
devessem voltar a suas casas.3
Conforme os dados acima e a palavra do próprio João em Ap 1.9 (de que ele estava em Patmos) o livro deve ser datado entre
85 e 95 A.D.4
2. Propósito e Importância de Apocalipse
1
Mesmo sem ter uma fundamentação científica para tanto, podemos supor que boa parte dos membros da Igreja não diferem
fundamentalmente desta abordagem escatológica (e até negativa) do livro de Apocalipse. Com certeza, os pastores e líderes presentes
a este estudo terão elementos para se manifestar a respeito de tal suposição.
2
Ecclesiastical History, 101.
3
Ibid., 103.
4
Para uma proposta muito diferente, de que João teria escrito o Apocalipse entre 68 e 70, ver: John A. T. Robinson, Redating the New
Testament (London: SCM Press, 1976), 221-253.
Diversos aspectos favorecem uma data no final do 1o século. Há quem sugira que tenha sido no tempo de Nero. No entanto, em seu
tempo, a perseguição aos cristãos ficou restrita a Roma. O primeiro imperador a tentar compelir os cristãos ao culto ao imperador foi
Domiciano. Este, ao final de seu governo, chegou ao ponto de exigir ser tratado como “dominus et Deus noster’ (senhor e deus nosso).
Os judeus haviam recebido, tempos antes, liberação de tais exigências. A princípio, os romanos consideraram o cristianismo como
uma seita do judaísmo. Com o tempo, porém, notando serem religiões diferentes, impuseram sobre os cristãos dura perseguição. Além
disso, outros fatos levam para uma data ao final do 1o século. Em Ap 2.8-11 é dito que Esmirna passava, já a algum tempo, por
perseguições. Policarpo, porém, bispo em Esmirna na primeira metade do 2o século, diz que a igreja naquela cidade iniciou depois do
tempo de Paulo (após os anos 60, portanto). Em Ap 3.17 a igreja de Laodicéia é descrita como sendo rica. No entanto, esta cidade foi
quase que totalmente destruída por um terremoto em 61 A.D. (Bruce M. Metzger, Breaking the Code - Understanding the Book of
Revelation, Nashville, Abingdon Press, 1993, p. 16)
1
"... o Apocalipse ... constitui um final glorioso para o NT. Os Evangelhos relatam como na plenitude dos tempos Jesus trouxe a
salvação prometida de Deus aos homens. O livro de Atos relata como os apóstolos trouxeram as Boas Novas de Jerusalém para Roma.
As Epístolas aplicam suas verdades aos multiformes problemas da vida diária no mundo. Mas há ainda uma nota no 'novo cântico' que
precisa ser ouvida em sua plenitude e Apocalipse supre isto. Pois a nota final vem das trombetas do céu e o NT termina com um
'Coral de Aleluia' - com o som da grande multidão dos redimidos cantando seus hinos de redenção na presença de Deus e do
Cordeiro".5
Quanto ao propósito do livro, ressaltamos os seguintes pontos:
a) Apocalipse não apresenta doutrinas novas, além daquelas do restante do Novo Testamento. Por isso, não deveríamos buscar nele
algo de diferente da mensagem da Escritura. Assim como toda a Escritura foi dada para “tornar-nos sábios para a salvação pela fé em
Cristo Jesus”, o mesmo vale para Apocalipse. Por isso, é bem-aventurado quem lê e ouve sua mensagem (Ap 1.3).
b) Mostra que a luta entre o bem e o mal já tem um vencedor, Cristo, e com ele, todos os que crêem. Apesar de descrever o conflito
entre as forças do mal e a igreja, mostrando a fúria e poder de Satanás, Apocalipse não deixa dúvidas de que é só uma questão de tempo
para que o Vencedor manifeste plenamente Sua vitória. Daí a insistência em se chamar os cristãos de vencedores (2.7,11,17,26; 3.5,12,21).
c) Não permite que tenhamos uma visão pessimista sobre a vida, pois Cristo é vencedor e reina. Este é um fato consolador: o
vitorioso não é um governante ímpio e cruel, mas o nosso amado Salvador. É o mesmo que nos redimiu na cruz e agora governa os
acontecimentos tendo em vista a salvação do Seu povo. Isto fica marcado no cântico jubiloso no céu: “Digno és de tomar o livro e de
abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação.” (Ap
5.9)
d) É um livro com um propósito consolador para o povo de Deus, pois é uma mensagem escrita para um tempo de crise. Os
primeiros leitores de Apocalipse - as sete igrejas da Ásia, no 1o século - viviam em um ambiente hostil à fé cristã. Não raro, em situações
assim, há quem se pergunte: vale a pena suportar tudo isto? A assim chamada “teologia da glória” (hoje muito presente sob a forma de
“teologia da prosperidade”) apela para o conceito de sucesso como prova de que Deus está com Seu povo. Apocalipse, no entanto, traz a
teologia da cruz. Deixa claro que as provações são reais. A vida dos fiéis não está imune aos ataques do maligno. No entanto, apesar dos
sofrimentos (perseguições, provações), a igreja desfruta do consolo do Senhor. Afinal, “os que vêm da grande tribulação, lavaram suas
vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7.14). Além disso, a igreja tem a garantia de que o Senhor julga sua causa contra as
forças do mal (Ap 18.20).
e) Mostra que o céu é real e vale a pena o povo de Deus seguir na batalha contra as forças do mal. Apocalipse nos dá uma visão
que vai além do que é visível e perceptível. Nos aponta a eternidade e assim não deixa que nossa vida esteja escravizada a uma visão de
mundo limitada ao que temos diante de nós. A perspectiva escatológica não aponta simplesmente para um fim, mas para um cumprimento.
O grande assunto, por isso, não é o fim do mundo, mas a concretização do reino de Deus na sua plenitude, com o novo céu e a nova terra,
isto é, o novo mundo criado por Deus para os Seus (Ap 21).
f) Dá-nos força para esperarmos com confiança a manifestação final da vitória de Jesus. Assim, nos move para vivermos cada dia
com alegria e a participarmos da missão de Deus neste mundo, esperando com fidelidade a Deus, proclamando Cristo para todos. Há uma
porta aberta para a igreja; convém, por isso, guardar a palavra e não negar o nome do Senhor (Ap 3.8).
Apocalipse é livro de Deus para Seu povo. Como toda a Escritura, utiliza a “obra estranha” de Deus - a Lei - a fim de proclamar
Sua ‘obra própria” - o Evangelho da salvação. Assim sendo, Apocalipse é um livro que anuncia um terrível julgamento e, por isso, causa
terror e medo. Mas o faz para aqueles que neste mundo estão contra Cristo e Sua igreja. Para os cristãos, o Apocalipse é mensagem
consoladora, de fortalecimento e de ânimo. O julgamento e condenação não se aplicam aos cristãos, pois em Cristo têm prometida a glória.
Este livro deve ser lido, como toda a Escritura, com temor. De Deus não se zomba. Ele é terrível no Seu justo juízo contra o pecado. A
mensagem de Apocalipse nos chama ao arrependimento, confrontando-nos com a ira de Deus. Mas, para nós, cristãos, Apocalipse é,
acima de tudo, um livro de profundo consolo, para ser lido com alegria e certeza de que a salvação aí descrita já é nossa pela fé em Cristo.
3. Métodos de Interpretação
A questão que temos diante de nós agora é: como interpretar Apocalipse? A que se refere a sua mensagem? Dirá ela respeito às
pessoas que viviam na época da sua escrita e os acontecimentos se referem a coisas que ocorreram naquele tempo? Ou o livro trata
unicamente do fim do mundo?
Existem diversas maneiras de interpretar o livro. Apresentaremos algumas das interpretações mais utilizadas:
a) Preterista
Entende o Apocalipse do ponto de vista de seu cenário histórico do 1º século. O livro trataria unicamente dos acontecimentos
contemporâneos a João. As profecias teriam se cumprido na queda de Jerusalém (70 A.D.) ou na queda de Roma (476 A.D.).
O mérito de uma tal abordagem está em que leva a sério o contexto histórico de João e de seus primeiros leitores. Este método
interpreta o livro à luz da crise que cercou a Igreja no 1º século, sendo então Apocalipse um escrito de consolo para a Igreja em meio à
tribulação. A fraqueza está em que não explica como a vitória decisiva mostrada nos capítulos finais de Apocalipse nunca foi
alcançada.
b) Historicista
O intérprete historicista entende o Apocalipse como uma previsão do curso da história até chegar ao seu próprio tempo. Pouca
importância é dada aos ouvintes originais. Quem utiliza tal método costuma ver, por exemplo, nas sete igrejas, sete fases da Igreja
cristã na história, de modo que a última fase seria representada pela situação de Laodicéia (esfriamento na fé).
5
Archibald Hunter, Introducing the New Testament, 2ª edição, Revisada e Ampliada, Philadelphia: The Westminster Press, 1957, p.
186.
2
O principal ponto negativo do método é sua subjetividade, ou seja, a interpretação depende de quem está lendo. Não haveria
um sentido básico para o livro. Cada pessoa, na sua própria época, interpretaria o livro à luz dos acontecimentos contemporâneos. É
preciso cuidar para não incorrermos neste erro, especialmente comum na proximidade de um novo milênio (algumas pessoas tendem a
pensar que tudo o que está escrito em Apocalipse vai se cumprir agora, simplesmente devido ao número do ano).
O mérito desta explicação é notar que a filosofia de História revelada pelo Apocalipse tem encontrado cumprimento durante a
história do homem (e, particularmente, da Igreja) até os dias de hoje. Ou seja, aquilo que é um ponto negativo tem, na verdade, seu
aspecto positivo, de que o Apocalipse não é um livro unicamente para o passado ou para o futuro, mas também para o tempo presente,
em que estamos vivendo.
c) Futurista (escatológica)
Esta explicação vê Apocalipse enfatizando a vitória final de Deus sobre as forças do mal. A ênfase de Apocalipse estaria na
segunda vinda de Jesus.
O aspecto negativo nesta explicação, como na anterior, é o fato de deixar o livro sem significado importante para aqueles a
quem ele foi originalmente endereçado (as sete igrejas da Ásia, no final do 1º século).
O acerto deste método é notar que a mensagem central do Apocalipse é escatológica, mostrando que esta era chegará a um fim,
quando Satanás e suas hostes serão derrotadas e o povo de Deus receberá a vitória plena. Não há como negar que este aspecto é
central em Apocalipse.
d) Idealista (atemporal ou alegórico)
Tal abordagem diz que o Apocalipse não deve ser entendido como referindo-se a qualquer época ou acontecimento específicos,
mas que seria a expressão dos princípios básicos com os quais Deus age na História. Esta explicação segue, em linhas gerais, a
interpretação alegórica que dominou a igreja no período medieval.
A grande fraqueza desta visão é que nega ao livro qualquer cumprimento histórico específico. O livro seria unicamente um
conjunto de idéias teológicas, válidas em qualquer época.
O aspecto positivo é que os eventos históricos de fato dão expressão a princípios básicos. Há uma mensagem teológica nos
fatos apresentados e anunciados no livro e esta mensagem não queremos perder de vista. Cristo é vitorioso e, mesmo em meio a
tribulações, a Igreja pode confiar nele plenamente.
Em conclusão, parece-nos que nenhuma destas abordagens serve para explicar completamente o Apocalipse, ainda que cada
uma delas oferece algum bom subsídio para o estudo do livro. "O próprio autor poderia ser, sem contradição, preterista, historicista,
futurista e idealista. Ele escreveu em vista de sua própria situação imediata; suas profecias viriam a ter um cumprimento histórico; ele
realmente antecipou uma consumação final; e revelou princípios que estavam atuando por detrás do curso da história".6
Desenvolvemos a seguir esta conclusão.
Reconhecemos que Apocalipse fala do tempo de João, no 1o século da era cristã. Isto significa que é importante conhecermos o
contexto histórico, cultural, político e religioso daquela época, para entendermos melhor o livro. Tal constatação é especialmente séria
no caso das cartas às sete igrejas. Há certos textos que, sem dúvida alguma, referem-se ao tempo de João. Por exemplo: Ap 2.13;
17.18.
Entendemos também que Apocalipse refere-se a fatos que ocorrem hoje (e durante toda a história do mundo e da
igreja).Citamos, por exemplo, guerras (Ap 6.4), a proclamação da palavra de Deus (Ap 14.6,7), a morte bem-aventurada dos cristãos
(Ap 14.13) e o sacerdócio dos crentes, que renasceram (“ressuscitaram”) pelo batismo, no tempo da graça (Ap 20.6).
Além disso, consideramos Apocalipse como um escrito escatológico, ou seja, que trata de coisas referentes ao fim deste mundo,
com a segunda vinda de Cristo e a plenitude do reino de Deus. Exemplos de textos escatológicos são muitos: Ap 2.7,11; 3.5; 19.1-9;
21.1; etc.
E, mesmo levando em conta os referentes históricos (no passado, presente e futuro), também consideramos que o Apocalipse
traz consigo princípios teológicos válidos, independentemente da época em que se está. Podemos lembrar: a vitória de Cristo,
manifesta na ressurreição, o conforto para os cristãos, o ânimo para uma vida santificada e de esperança.
4. A Simbologia7
Um dos aspectos que mais chama a atenção daqueles que fazem uma leitura de Apocalipse é a sua linguagem altamente
simbólica. Duas observações se fazem necessárias:
4.1 - Isto faz parte do tipo de escrito (estilo) que é Apocalipse. Ele tem características semelhantes a outros escritos da época,
chamados de “Apocalípticos”. É um estilo próprio de escrita, usado na época e que, por isso, não deve ter causado tanta estranheza
como causa a nós.
Ao inspirar a Escritura, Deus utilizou das características e conhecimento dos autores humanos. Estes não eram robôs ou
marionetes. Deus os inspirou para escreverem exatamente o que Ele queria, mas estes conservaram suas características, e até mesmo
seguiram modelos de escrita da época (exemplos: cartas, como as de Paulo, eram comuns; Histórias, como as de Lucas, também; e
assim os “apocalípticos”).
Falando das semelhanças entre os escritos Apocalípticos judaicos e o livro canônico de Apocalipse, podemos citar:
1. Seu interesse pela Escatologia - as coisas referentes aos tempos do fim (ainda que não exclusivamente).
2. Sua origem, em situação de perseguição e ameaça contra o povo de Deus.
3. Seu uso de linguagem simbólica e, por vezes, fantástica.
No entanto, há também diferenças significativas, entre as quais:
6
7
Robert H. Mounce, The Book of Revelation, NICNT, 44.
A explicação abaixo é baseada no texto de Martin Franzmann, The Revelation to John, St. Louis, Concordia, 1975, pg. 24-28.
3
1. Apocalipse, quanto ao seu conteúdo, e também no uso de simbologia, baseia-se no Antigo Testamento, não na literatura
apocalíptica judaica.8
2. Obras apocalípticas são normalmente pseudônimas (não apresentam o nome do autor) e pseudoepigráficas, isto é, os autores
se escondem por detrás do nome de alguma figura importante do passado de Israel (Enoque, Baruque, etc), que teriam profetizado
acerca das coisas relatadas pelo autor. João, no entanto, escreve em seu próprio nome.
3. Os apocalípticos têm interesse especulativo e tentam calcular tempos e épocas do fim do mundo. João não tem interesse
especulativo; ele não tenciona satisfazer a curiosidade humana, mas trazer esperança e coragem ; e João não tenta calcular os tempos
do fim.
4. As visões dos apocalípticos revelam um aspecto de sua origem: são fantasias de homens. As visões de João têm em si a
estampa de uma experiência visionária genuína. Não são produtos de estudo e reflexão. Os apocalípticos podem ser considerados
reflexões literário-teológicas sobre temas proféticos. O Apocalipse é profecia genuína, uma profecia que usa de motivos e formas
apocalípticas até certo ponto, até o ponto em que sejam explicações legítimas de temas proféticos do Antigo Testamento e condizentes
com a proclamação centrada em Cristo.
5. O tempo da escrita: nos Apocalípticos é difícil determinar a época; no Apocalipse não há segredo quanto à origem e destino.
As circunstâncias das 7 Igrejas praticamente determinam a data.
6. O Apocalipse é cristão - está longe da área com que os apocalípticos judaicos se ocuparam (esperanças nacionalistas). O
Cristo do Apocalipse não é o Messias judeu dos apocalípticos.9
4.2 - Os símbolos revelam verdades para alguns e as escondem de outros. Os símbolos são como linguagem de taquigrafia - a
escrita através de sinais, que algumas pessoas conhecem, tanto para redigir, como para ler. Somente vai entender quem está dentro do
grupo ao qual o texto é dirigido. Apocalipse foi escrito em uma época em que a Igreja sofria perseguições. A mensagem era dirigida à
Igreja, para lhe trazer consolo. Só os cristãos poderiam, então, entender a mensagem. Os símbolos não têm a intenção de esconder a
verdade, mas, como diz o título do Livro, revelar! Eles, na verdade, escondem a verdade àqueles que não estão dispostos a vir para
dentro do grupo a quem o texto é dirigido. Como alguém vem para dentro? Há certas portas, que o próprio livro fornece:
1) o Evangelho do Cristo crucificado. Cristo e sua obra ocupam um papel hermenêutico (interpretativo) fundamental no livro.
Já no início ele é saudado como aquele “que nos ama e nos libertou dos nossos pecados” (1.5), e se apresenta, dizendo: “estive morto,
mas eis que vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno.” (1.18) Depois, no capítulo 5, cuja visão inaugura
a profecia do livro, Jesus é apresentado como o Cordeiro e celebrado como Aquele que é digno para ter nas Suas mãos o destino da
humanidade, pois “foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação.” (5.9)
Considerando este último texto, vale lembrar que “Cordeiro’ é o nome mais freqüente com que Jesus é chamado no Apocalipse (28
vezes). Tal título evoca Sua obra de cruz, Seu sacrifício vicário e o cumprimento do Antigo Testamento. Para ler Apocalipse com
entendimento, a mensagem da salvação em Cristo é fundamental. O propósito maior do livro - trazer consolo aos cristãos - encontra
seu fundamento na obra de Jesus em redimir a humanidade e preparar, com Seu sacrifício, um povo santo para Deus.
2) o Antigo Testamento (especialmente Salmos, Isaías, Ezequiel e, sobretudo, Daniel) - várias das figuras encontram explicação
quase que imediata a partir do conhecimento do AT. Alguns exemplos de linguagem do AT empregada em Apocalipse: o arco-íris em
volta do trono de Deus e sobre a cabeça do anjo que tinha na mão em pequeno livro (Ap 4.3;10.1,2; cf. Gn 9.11-13; Ez 1.28); os
juízos de Deus anunciados pelas trombetas, semelhantes às pragas sobre o Egito (Ap 8.7; cf. Ex 9.13-25; Ap 8.8; cf. Ex 7.20,21); o
êxodo dos servos de Deus, que entoavam o “cântico de Moisés e do Cordeiro” (Ap 15.2-4; cf. Ex 15); cavalos de diversas cores,
executando os propósitos de Deus (Ap 6.1-8; cf. Zc 1.8-17; 6.1-8); o profeta comendo um livro (Ap 10.8-11; cf. Ez 3.1-3); a prostituta
Babilônia, que oprime o povo de Deus (Ap 17; cf. as freqüentes menções da Babilônia como inimiga do povo de Israel, no AT).
3) o conhecimento do contexto em que João viveu, ao final do século I (perseguições, culto ao imperador, literatura
apocalíptica). A título de exemplo, pode-se lembrar que como cidadão do império romano João sabia - e assim seus leitores - que
Roma era a cidade dos sete montes (Ap 17.9).
Dentro da rica simbologia de Apocalipse, os números ocupam uma importância especial, seja pela freqüência com que são
empregados, seja pela sua associação com temas importantes do livro.
3 - é o número de Deus, lembrando a Trindade.
4 - número da criação e das criaturas de Deus. Quatro cantos da terra; quatro ventos; quatro seres viventes.
7 - é o número da soma dos números de Deus e da criação. É Deus com o homem - é o número da Igreja, o povo de Deus.
Também representa algo completo - assim era usado nos tempos do AT. Há várias vezes séries de 7 coisas no relato. Alguns exemplos
do uso do número sete: sete candelabros, sete estrelas, sete tochas, sete espíritos de Deus, sete olhos, sete selos, sete anjos, sete
trombetas, sete trovões, sete cabeças no dragão, sete flagelos, sete taças, sete montanhas, sete reis. Ainda, sem diretamente numerar,
João traz sete bem-aventuranças (1.3; 14.13; 16.15; 19.9; 20.6; 22.7,14) e sete pontos no louvor ao Cordeiro (5.12). Cada uma destas
séries sugere perfeição que pertence a Deus, ou que é pretendida pelo Anticristo. É o número mais importante no Apocalipse.
Aqui se pode comentar o número 6, que só aparece no 666 (Ap 13.18). Se 7 é o número da comunhão de Deus com os homens,
no 6 falta esta ligação. Representa a falta da comunhão com Deus. Como é o número mais próximo do 7, pode também denotar que as
forças do mal tentam imitar a ação de Deus, mas só o fazem imperfeitamente.
8
“Fica claro que João estudara o Antigo Testamento muito profundamente. Dos 404 versículos que formam os 22 capítulos de
Apocalipse, 278 versículos contêm uma ou mais alusões a alguma passagem do Antigo Testamento.” (Bruce M. Metzger, Breaking the
Code, p. 13).
9
Martin Franzmann, The Revelation to John, 28,29; Henry Swete, The Apocalypse of St. John, xxix.
4
10 - número da perfeição e totalidade na criação de Deus. São dez os mandamentos de Deus (a totalidade da lei). Daí que os
“mil anos” de Ap 20.2 devem ser entendidos como uma representação de todo o tempo em que o evangelho está sendo proclamado. É
o tempo da graça. Satanás está amarrado, no sentido de que não pode impedir que o evangelho seja anunciado, ouvido e crido.
12 - o número dos eleitos de Deus. Lembra as doze tribos de Israel - o povo de Deus no AT; e os doze apóstolos, o princípio
da Igreja do NT. Assim os 144.000 de Ap 7.4; 14.1 não devem ser entendidos como um número literal, mas simbólico. 144.000 é o
mesmo que 12x12x10x10x10, ou seja, sendo uma combinação do número da totalidade com o número dos escolhidos. Seu significado
é: todos os crentes, de todas as épocas, cujo número, de fato, só Deus sabe.
Uma observação se faz necessária. É preciso ter um cuidado quando se fala nos símbolos do Apocalipse, que em grande parte
refletem a simbologia usada no Antigo Testamento. Isto vale especialmente no que tange aos números e cores. O objeto (a coisa) em si
não traz em sua essência um conteúdo. Ou seja, não é que o número ou a cor tenha um significado mágico, que se possa verificar no
seu uso. São símbolos - simbolizam algo; não são algo.
Assim, o número “3” não é, em si mesmo, mais sagrado que o número “6”. O número “6”, em si, não é um número que traga
consigo o mal. Apenas representa isto no contexto do livro do Apocalipse.
5. Esboço do Livro10
Tema: A vitória e desvendamento de Cristo - sê fiel!
I. Introdução
A. O profeta é comissionado a escrever (1.1-20)
B. A mensagem às sete igrejas (2.1 - 3.22)
C. A visão inaugural do céu (4.1 - 5.14)
II. A Profecia
A. Os sete selos (6.1 - 8.5)
B. As sete trombetas (8.6 - 11.19)
C. Cristo, o dragão e as bestas (12.1 - 14.20)
D. Os sete flagelos (15.1 - 16.21)
III. O Fim
A. O julgamento e destruição das forças de Satanás (Babilônia) (17.1 - 18.24)
B. Celebração da vitória (19.1-21)
C. Prisão e destruição de Satanás (20.1-10)
D. Ressurreição, Juízo Final, Novo Céu e Nova Terra (20.11 - 22.5)
E. Epílogo - Promessa da volta de Cristo (22.6-21)
Um aspecto fundamental a notar é que o livro de Apocalipse, diferentemente da maioria dos livros, não relata a história de
forma cronológica, mas cíclica. Ou seja, a história do mundo vem relatada diversas vezes. Por isto mesmo o fim do mundo aparece no
relato mais de uma vez, mesmo antes de se chegar ao fim do livro (por exemplo, em 11.15-19; 19.1-9).
O Dr. Johannes Rottmann concorda com esta forma de ler o Apocalipse: "Achamos, como o único método aceitável de
interpretar as grandes visões e revelações, uma espécie de história da igreja de Cristo, aqui na terra e no mundo hostil, desde o Gólgota
até o fim do mundo e depois; história essa, no entanto, não contada consecutivamente ou cronologicamente, mas
fenomenologicamente: blocos de fenômenos não-consecutivos aparecem como em projeção de eslaides ou diapositivos em quadros de
medidas colossais; história da existência da igreja de Cristo, igreja essa que, no entanto, não só existe na terra mas também no céu
como expressão do reino do Deus eterno. Por isso, os grandes quadros, que mostram a igreja na terra atingida por acontecimentos
neste mundo, sempre de novo são intercalados com quadros que mostram a existência contemporânea da igreja no céu; história da
igreja que termina na absoluta glória, quando o reino de Deus - depois da condenação e do afastamento definitivo de todos os inimigos
- se torna realidade no novo céu e na nova terra".11
W. Hendriksen também reconhece este caráter cíclico no esboço de Apocalipse. Enfatiza que as diversas partes do livro tratam do
mesmo período, mas, acrescenta: "... são arranjadas numa ordem ascendente, climática. Há um progresso na ênfase escatológica: o
Julgamento Final é primeiro anunciado, então introduzido; finalmente, é descrito. Da mesma forma, os Novos Céus e Nova Terra são
descritos mais completamente na seção final do que naquelas que a precedem". Esta concepção do Apocalipse pode ser denominada
“paralelismo progressivo”.12
Tendo em mente este arranjo cíclico dos fatos no livro, fica claro que a leitura do Apocalipse precisa ter sempre em mente o
todo. Cada texto tem seu sentido mais facilmente encontrado na medida em que se pode relacioná-lo ao todo, à grande mensagem do
livro.
Gerson Luis Linden
Anexo 1 - Esboço de Apocalipse (Dr. Brighton)
Tema: A vitória e desvendamento de Cristo - sê fiel!
I. INTRODUÇÃO
10
Este esboço é baseado em material de autoria do Dr. Louis Brighton, professor no Concordia Seminary, em St. Louis, EUA. O
esboço mais completo é fornecido em anexo, ao final deste estudo.
11
Johannes H. Rottmann, Vem, Senhor Jesus, 27.
12
W. Hendriksen, More than Conquerors, Grand Rapids, Baker, 1978, pp. 47,48.
5
O Apocalipse desvenda a vida celestial de nosso Senhor, assim como os Evangelhos mostram Sua vida terrena. Assim como
os Evangelhos nos contam sobre a humilhação de nosso Senhor, o Apocalipse nos conta da glorificação do Cordeiro, estando Ele
agora governando sobre todo o universo até a vitória nos céus.
A. O profeta é comissionado a escrever.
1. O prólogo (1.1-8)
2. A visão do comissionamento recebido do Cristo ressurreto e assunto (1.9-20)
B. Preparação para recepção da mensagem profética.
3. Mensagem às 7 igrejas (2.1-3.22)
C. A visão inaugural do céu.
4. A visão do trono de Deus e Sua corte celestial (4.1-11)
5. O rolo selado e o Cordeiro digno de abri-lo (5.1-14)
Os capítulos 4 e 5 são a visão inaugural que introduz toda a mensagem profética seguinte. Esta profecia diz respeito às coisas
que hão de acontecer antes do fim. Estas coisas são vistas de diferentes pontos e através de ciclos e com diferentes ênfases; mas é
sempre o mesmo período de tempo que está sendo descrito.
II. A PROFECIA
Deve-se entender que cada ciclo terreno cobre o mesmo período, ou seja, eles se repetem. Isto vale também para as duas
visões cósmicas. Cada ciclo terreno e cada visão cósmica cobrem acontecimentos desde a Ascensão de Cristo até o fim. Quando um
ciclo terreno ou visão cósmica está completo, começa o próximo ciclo ou visão cósmica no mesmo ponto de partida e sempre
terminando no mesmo ponto do tempo, no fim.
A. Coisas que hão de acontecer na forma de tribulações entre a humanidade O PRIMEIRO CICLO TERRENO
6. A abertura dos primeiros quatro selos - Os quatro cavaleiros (6.1-8)
7. A abertura do 5º selo - O sofrimento dos santos (6.9-11)
8. A abertura do 6º selo - A descrição do fim e seu terror (6.12-17)
9. O selar dos 144.000 (7.1-8)
10. A multidão celestial vitoriosa (7.9-17)
11. A abertura do 7º selo - Introdução ao 2º Ciclo (8.1-5)
B. Coisas que hão de acontecer na forma de tribulações e sua associação com o mal O SEGUNDO CICLO TERRENO
12. As quatro primeiras trombetas - Tribulações na natureza (8.6-13)
13. A 5ª trombeta - As forças do mal vindas do abismo (9.1-12)
14. A 6ª trombeta - Destruição varre a humanidade (9.13-21)
15. O evangelho ainda é proclamado (10.1-11)
16. Os santos dão testemunho (11.1-14)
17. A 7ª trombeta - Descrição do fim e o júbilo por causa dele(11.15-19)
A'. A batalha cósmica entre Cristo e Satanás - entre os santos de Deus e as forças de Satanás O PRIMEIRO CICLO CÓSMICO
18. O sinal da mulher com bebê e o Dragão que os persegue (12.1-18)
19. A Besta que vem do mar (13.1-10)
20. A Besta que vem da terra (13.11-18)
21. O Cordeiro vitorioso e os 144.000 no monte Sião (14.1-5)
22. A derrota do Dragão e de suas Bestas é anunciada (14.6-13)
23. A visão da colheita no fim de tudo (14.14-20)
C. Coisas que hão de acontecer na forma de terror e mal O TERCEIRO CICLO TERRENO
24. Preparação para as últimas pragas (15.1-8)
25. Os primeiros 5 flagelos da ira de Deus (16.1-16)
26. O 7º flagelo - o fim - o mal é destruído (16.17-21)
III. O FIM
As coisas agora estão prontas para o fim. Tudo está preparado para a vinda do glorioso Filho de Deus para reclamar a vitória,
executar o julgamento e levar Seus santos para o céu.
A. O julgamento e destruição das forças do Dragão
27. O julgamento da Meretriz (17.1-18)
28. A queda de Babilônia (18.1-19)
29. O júbilo dos santos (18.20-24)
B. Celebração da vitória
30. O cântico de vitória nos céus (19.1-4)
31. A festa das bodas do Cordeiro (19.5-10)
32. A visão do Vitorioso coroado indo receber a vitória (19.11-21)
B'. A batalha cósmica entre Cristo e Satanás - entre os santos de Deus e as forças de Satanás - a vitória de Cristo e
Seu povo - A destruição de Satanás SEGUNDO CICLO CÓSMICO
6
33. O milênio (20.1-6)
34. A destruição de Satanás (20.7-10)
C. O novo mundo
35. A visão da ressurreição e do juízo final (20.11-15)
36. A visão dos novos céus e nova terra (21.1-22.5)
37. Epílogo - a promessa da volta de Cristo (22.6-21)
7
Igreja Evangélica Luterana do Brasil - Concílios 1999
Cristo para Todos - Esperando com Fidelidade a Deus
Apocalipse - Estudos em Grupos: Hans Schwarz, o Mistério das Sete Estrelas.
Questões para estudo nos grupos
Observações:
1. Este estudo tem como propósito principal permitir que os conciliares reflitam sobre textos específicos de Apocalipse, com o
auxílio do livro de Hans Schwarz. Este, é bom que se diga, está colocado não como uma palavra definitiva a respeito do assunto,
mas como um ponto de partida para as reflexões. Os grupos poderão (deverão!) questionar pontos de vista teológicos do autor,
com o qual nem sempre concordaremos.
2. A proposta do estudo em grupos não contempla um momento de relatório para o grande grupo. Algo do que for falado nos grupos
aparecerá nas Conclusões Finais e Aplicação. Isto significa que valorizar-se-á o estudo do grupo em si, as contribuições para seus
componentes, mesmo que não venham a ser repartidas em plenário. Isso dá liberdade aos grupos para refletirem e debaterem em
temas não contemplados nas questões aqui sugeridas.
3. Será importante que todos os componentes do grupo leiam o texto bíblico com antecedência e, se possível, o capítulo
correspondente do livro de Hans Schwarz.
4. Observe-se que o livro de Hans Schwarz cita os textos bíblicos na Linguagem de Hoje. Será de auxílio se os componentes do
grupo lerem o texto também em outras traduções (Almeida, Bíblia de Jerusalém, etc.).
5. Solicita-se que cada grupo entregue por escrito as respostas às questões abaixo ao dirigente do estudo.
I. Do que Vivem os Cristãos - Ap 1.1-8 (pp. 15-22)
• Observe a diferença na tradução do v. 3 na Linguagem de Hoje, comparada à Almeida. Há algo de significativo no singular
“quem lê” e plural “aqueles que ouvem”? (cf. Cl 4.16)
• É possível falar em presença da Trindade neste texto inicial de Apocalipse?
• p. 17 - 1o parágrafo completo - O que o autor quer dizer com a frase “o olhar no porvir, ao contrário do efeito que causa
sobre outras pessoas, não pode nem paralisar os cristãos tampouco fazer com que explodam em júbilo eufórico.”?
• p. 18 - último parágrafo - “Deus está no comando.”! Pode-se afirmar isto, apesar das situações descritas? Como isto, de
fato, “funciona” na vida das pessoas?
• pp. 19,20 - A importância da ressurreição de Jesus como garantia para nós. Somos uma Igreja da cruz e da ressurreição! O
que isto significa na prática? Perceba-se o vínculo da obra de Jesus e o sacerdócio real de todos os cristãos.
• Do que vivem os cristãos da IELB?
II. A Comunidade Cristã entre o Ideal e a Realidade - Ap 1.19 - 3.22 (pp. 34-48)
• Com qual das sete igrejas da Ásia você mais identifica sua congregação (ou mesmo a IELB)? Por quê?
• p. 39 - 1o parágrafo - A realidade exposta aí pelo autor (a respeito da igreja) se verifica em nosso contexto?
• pp. 39,40 - A igreja tem a vocação de agir no meio do mundo, também no mundo intelectualizado e em metrópoles. O que
isto nos diz como igreja, no limiar do 3o milênio, neste tempo (chamado de) pós-moderno, na era das comunicações, etc.?
• pp. 41,42 - Reflita sobre a “dupla amarração da Igreja” e das implicações disto para a vida diária dos cristãos e da
congregação.
• pp. 44,45 - O perigo descrito pelo autor é atual?
III. Para os Cristãos não Existem os Sete Selos - Ap 5.1,6-10; 6.1 - 7.4 (pp. 49-61)
• O que é o livro com os sete selos (5.1)?
• Por que “para os cristãos não existem sete selos”?
• pp. 52-54 - Note com que o autor identifica os quatro cavaleiros. Os males aí descritos são tribulações trazidas por Deus ou
são atos da maldade humana?
• Perceba que no texto bíblico base para este estudo há um dos poucos textos em que se fala da situação das almas dos
cristãos entre sua morte e ressurreição. Qual é este texto? Que mensagem há aí para a Igreja hoje?
• Qual a importância do fato de ser Jesus aquele que pode abrir os sete selos? O que há de significativo em que Ele apareça
como um cordeiro?
• pp. 59,60 - Há quem use o no 144.000 para trazer insegurança (ex. Testemunhas de Jeová). Qual é a abordagem correta a
este no ?
IV. O Futuro do Mal - Ap 12.1-17 (pp. 62-71)
• A quem simbolizam: o dragão? a mulher? O menino? (12.1-6)
• A que se refere a “batalha no céu”? Com que o autor do livro a identifica? Há alguma outra boa explicação para isto?
• p. 64 - Considere o sub-título “Duas forças cósmicas, mas nenhum dualismo”. O que o autor quer mostrar com isto? Que
consolo isto traz para a Igreja hoje?
• pp. 67,68 - Qual a atuação pela qual o diabo é conhecido, e que foi eliminada por Cristo? Que importância isto traz para a
vida cristã?
• p. 70 - 1o parágrafo - Será verdade que “O sangue dos mártires é a semente da igreja”?
• p. 71 - último parágrafo - Como escatologia (as coisas referentes ao fim) e missão estão relacionados?
V. Uma Esperança que se Torna Realidade - Ap 22.6-21 (pp. 114-123)
8
• Perceba que o v. 7 diz algo semelhante ao que está no início do livro (1.3). Qual a importância disto para a Igreja?
• p. 115 - 1o parágrafo - Note o quão importante é o contexto de culto em Apocalipse. Isto diz alguma coisa para nossa visão
de vida cristã?
• p. 116 - Como o livro nos ajuda a responder para os que apontam para a “demora” no cumprimento da promessa de Jesus?
• p. 117 - Qual o erro comum de Marx (e ideologias totalitárias) e da teologia liberal? Em que isto nos afeta?
• Ap 22.12 ensina salvação por obras?
• A quem se refere o v. 17 (quem é “Espírito”, “noiva”, “Aquele que ...”)?
• p. 123 - 2o parágrafo - “Apesar das visões e imagens pretensamente fantásticas, percebemos que ele [Apocalipse] é um
escrito profundamente sóbrio e realista.” É mesmo? Se é, então o que falta às pessoas em geral para terem esta visão, da
sobriedade e realismo de Apocalipse?
Igreja Evangélica Luterana do Brasil - Concílios 1999
Cristo para Todos - Esperando com Fidelidade a Deus
Apocalipse - Conclusões e Aplicações para a Igreja de Hoje
1. O livro de Apocalipse traz uma mensagem realista.
1.1 - ele não fundamenta uma atitude de paralisia espiritual.
1.1.1 - Nossa sociedade olha com muito temor para o futuro. Neste contexto, cristãos luteranos correm o risco de
perder a perspectiva certa, entregando-se a um pessimismo lamuriento.
1.1.2 - por outro lado, um olhar para o futuro sem o foco certo imprime nos cristãos um senso de preguiça e
descomprometimento com o trabalho a ser realizado hoje.
1.1.3 - É preciso estarmos cientes de que Apocalipse não nos permite tal visão pessimista ou preguiçosa no presente,
tendo em vista o futuro. Seu foco é outro.
1.2 - não pretende acender em nós um ufanismo terreno
1.2.1 - a certeza quanto à vitória final não deve ser confundida com a idéia (mundana) de um paraíso na terra, de um
futuro terreno de paz e prosperidade.
1.2.2 - quanto ao futuro neste mundo, levamos a sério as palavras de Jesus em seu “Sermão escatológico” (Mt 24;
Mc 13; Lc 21), sabendo que nunca deixarão de existir: guerras, inimizade, catástrofes, apostasia,
perseguição aos cristãos, esfriamento do amor.
1.3 - mostra o mal como ele é: poderoso, decidido, astuto, perverso, mas derrotado
1.3.1 - Apocalipse mostra que o mal não é apenas uma idéia; é um ser pessoal, apresentado com os nomes de
“diabo” (acusador) [2.10; 12.9,12; 20.2,10) e “satanás” (adversário) [2.9,13,24; 3.9; 12.9; 20.2,7]. Seus
nomes falam da sua atuação. Além disso, é apresentado sob a figura de um “dragão”, ser que representa
fúria, poder, intenção malévola.
1.3.2 - Apocalipse também dá pistas de que o diabo busca imitar a Deus, especialmente através das bestas, que se
apresentam com certas características imitando a Cristo.
1.3.3 - A negação da existência do diabo pode ser vista dentro deste esquema astuto de enganar, perverter e afrontar
os filhos de Deus. A Igreja precisa continuar afirmando que o mal é real e pessoal.
1.3.4 - Em nenhum momento no livro, o diabo é apresentado como alguém que tenha alguma chance na guerra
contra Cristo e Sua Igreja. Há batalhas em que ele aparentemente é vitorioso (13.7), mas seu destino de
derrota é absolutamente certo.
1.3.5 - É consolador saber que a batalha final nem mesmo chega a ocorrer com toda a violência que o diabo intenta;
Deus intervém diretamente, defendendo os Seus e julgando definitivamente os poderes do mal (20.7-10).
1.4 - garante que, fundamentados na vitória de Cristo, manifesta na ressurreição, podemos olhar para o futuro com esperança
1.4.1 - Deus está no comando. É significativo que das dez ocasiões onde o Novo Testamento apresenta Deus como o
“todo-poderoso”, nove são no livro de Apocalipse (1.8; 4.8; 11.17; 15.3; 16.7,14; 19.6,15; 21.22). Nestas a
ênfase está em que Deus controla os acontecimentos. Por isso, é temido (e deve ser) pelas forças do mal, mas
glorificado pelos salvos. A Igreja (também a IELB) tem todo o motivo de viver alegremente diante do Seu
Deus, que é todo-poderoso e que se manifesta a Sua Igreja como Pai amoroso.
1.4.2 - A ressurreição é o fato escatológico marcante do NT, incluindo Apocalipse. A ressurreição de Jesus
manifesta Seu domínio sobre a morte e o inferno (1.18). É garantia para os crentes de que a segunda morte (a
morte eterna) não tem domínio sobre eles (2.8,11). Ligada à obra da cruz, a ressurreição identifica Jesus
como Aquele que é o único digno de ter nas mãos o livro do destino do mundo, que Ele administra para o
bem dos Seus (5.1-14).
1.4.3 - A Igreja (também a IELB) encontra na ressurreição de Jesus uma marca da fidelidade e vitória de Deus sobre
o mal. Por isso, valoriza a ressurreição na sua existência neste mundo, particularmente no culto. Os cânticos
da Igreja (militante e triunfante) em Apocalipse manifestam o júbilo dos cristãos diante do fato que o Senhor
vive e reina, com poder e graça. Sem cair em um ufanismo, a Igreja lembra que ainda vive sob a cruz; mas
isto não impede que seu cântico seja celebrativo e sua existência esteja marcada pela alegria da vida em
Cristo.
2. A Igreja vive na tensão do “já - ainda não”
2.1 - As cartas às sete igrejas deixam este quadro claro diante de nós. O “simul iustus et peccator” é a realidade de cada filho
de Deus neste mundo. Assim também a congregação local e a igreja como um todo.
2.2 - Por causa da obra de Cristo, já somos: perdoados, filhos de Deus, consolados pelo Pai, herdeiros do céu.
9
2.1.1 - Isto nos dá a oportunidade de vivermos cada dia, firmados no que já temos por graça. Nossos atos não nos
justificam perante Deus; nossas falhas não anulam a promessa. Podemos viver a vida cristã sem nos
preocuparmos em conquistar o favor de Deus - este é nosso, por causa de Cristo. Podemos viver vida santa,
em meio à cruz e pecado, fraquezas e tentações, amando o próximo e servindo a Deus.
2.1.2 - A Igreja (também a IELB) precisa continuar enfatizando a doutrina da justificação do pecador, graças aos
méritos de Cristo, trazida no evangelho (palavra e sacramentos), recebida pela fé. Pregar santificação sem
justificação é perder a perspectiva da fé cristã e cair no legalismo farisaico, que traz orgulho e desespero.
2.3 - Ainda falta algo para acontecer. Há lugar para a esperança dentro da fé cristã.
2.2.1 - A situação do cristão como “vencedor” sempre aponta para o futuro. Não eternizamos o que temos diante de
nossos olhos. Aguardamos o que Deus tem preparado e prometido aos que nele crêem.
2.2.2 - Isto não implica insegurança quanto ao nosso destino. A graça de Deus nos é suficiente neste mundo. Sua
promessa - o evangelho - vivifica, alimenta e revigora.
2.2.3 - É palavra de alerta para a Igreja (também a IELB), para que não abandone a Cristo, em Sua palavra e
sacramentos. Considerando aqueles que se afirmam cristãos, a pequena participação nos cultos, Santa Ceia e
estudos bíblicos é um dado com o qual precisamos nos preocupar. Urge deixar claras as prioridades no
trabalho pastoral e congregacional. É preciso estar atentos para as pessoas “sem tempo”, algumas vezes
massacradas pela lei da participação. Considerando o “ainda não”, que implica perigo para os que andam
distantes do evangelho, sua situação precisa ser considerada com carinho. É preciso criatividade e boa
vontade para oportunizar situações que atinjam as pessoas nas mais diversas situações.
3. Apocalipse tem uma mensagem especial para a Igreja no contexto do 3o milênio.
3.1 - Apocalipse se dirige para cristãos que não são do mundo, mas vivem no mundo. É, assim, um livro que nos coloca “com
os pés no chão”. Não nos permite sonhar com “como seria bom se o mundo fosse ...”. Chama-nos a viver em um
mundo do jeito que ele é. Faz-nos ver que, apesar de ser um mundo que “jaz no maligno” (1 Jo 5.19), continua sendo
criação de Deus e palco de Sua atuação poderosa e graciosa (Ap 4.11; 15.3,4).
3.2 - A realidade mostrada no livro é de cristãos vivendo em grandes cidades do império romano, sendo expostos diariamente
aos desafios daquela sociedade. As cartas às sete igrejas mostram os cristãos vivendo sua vocação em meio a uma
sociedade que antecipa a “aldeia global” em que vivemos hoje. O império de uma certa forma aproximou as pessoas,
com as comunicações, viagens e a língua comum.
3.3 - A Igreja (também a IELB) precisa aprender a viver no mundo, sem ser do mundo. Isto significa, entre outras coisas,
manter uma “distância estratégica” - “nem tudo convém”. A Igreja utiliza dos recursos que Deus lhe tem dado, através
dos avanços tecnológicos do homem. Assim fala ao homem do 3o milênio com uma mensagem contextualizada.
3.4 - O desafio da Igreja, de evangelizar em grandes cidades, sem ser engolida por elas, está presente entre nós, como o foi
para as sete igrejas da Ásia.
4. A mensagem a ser proclamada é bíblica, cristocêntrica, poimênica e polêmica.
4.1 - João se fundamenta profundamente no Antigo Testamento. Além disso, sua mensagem é substancialmente a mesma do
Novo Testamento. A Igreja não inventa doutrina, mas a confessa, a partir da Escritura.
4.2 - Jesus é apresentado com diversos nomes e títulos em Apocalipse, mas nenhum com tanta freqüência como “Cordeiro”.
A ligação com Sua obra sacrificial é evidente. A Igreja precisa permanecer fiel à proclamação de “Jesus Cristo, e este
crucificado”. Não é incomum falar de Jesus, da parte de grupos pseudo-cristãos, ou claramente pagãos. A Igreja sabe e
enfatiza que “conhecer a Cristo é conhecer Seus benefícios”. Isto implica uma proclamação centrada no evangelho,
com forte ênfase no valor objetivo deste em suas diversas formas, particularmente a pregação e os sacramentos.
4.3 - O propósito de Apocalipse é consolar os cristãos que sofrem perseguições por causa da sua fé. Os cristãos da IELB
precisam ter o mesmo consolo. Mesmo tendo mudado a situação do mundo, ser cristão continua sendo um “remar
contra a maré”. Um cuidado especial precisa ser dedicado aos jovens. Os perigos que se colocam diante deles se
apresentam de forma extremamente agressiva: a vulgarização da pornografia, o confronto com o relativismo moral
(homossexualismo), a ridicularização da mensagem bíblica ante o ufanismo da teoria da evolução, a invasão dos cultos
orientais, etc.
4.4 - Apocalipse tem características polêmicas.
4.4.1 - Com linguagem simbólica denuncia os poderes deste mundo, que se aliam aos poderes do mal, na luta contra
o povo de Deus. A besta que se apresenta como se fora cordeiro, a mulher que seduz os povos, o uso da
força e da propaganda, fazem parte do quadro de batalha estampado no livro.
4.4.2 - A Igreja está em luta contra os poderes espirituais do mal. Sua arma é a proclamação do evangelho. Esta é
uma mensagem positiva, que manifesta o que Deus fez, faz e fará para a nossa salvação. Ao enfatizar tal
mensagem, porém, a Igreja não pode se furtar de denunciar as tentativas diabólicas de confundir os cristãos
com “outro evangelho”.
4.4.3 - “Cremos, ensinamos e confessamos” implica o “rejeitamos”! Anunciar o evangelho é afirmar o escândalo da
particularidade, declarado inequivocamente pelo Senhor: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).
4.4.4 - O sincretismo religioso, a aproximação com as religiões pagãs, o descuido com a doutrina pura são ameaças
sérias para a fidelidade da Igreja ao seu Senhor.
5. Escatologia e missão não se anulam. Na verdade, andam juntas. E a Escatologia, corretamente compreendida e ensinada,
traz ânimo e sentido de urgência para o trabalho missionário.
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5.1 - A opinião popular de que Apocalipse tenha uma ênfase no futuro justifica-se. Ainda que sua mensagem não se esgote na
escatologia, tem aí um dos seus grandes assuntos.
5.1.1 - A escatologia de Apocalipse é evangélica. Acentua a vitória de Cristo e a felicidade futura dos que crêem.
Tem uma função de consolo aos que presentemente sofrem. Não pretende amedrontar, mas orientar.
5.1.2 - O ensino da escatologia é por vezes deixado de lado no dia-a-dia da igreja. Parece ter pouco a dizer a uma
igreja que quer crescer e, por isso, planeja, reúne recursos, prepara pessoal especializado, investe tempo,
dinheiro e trabalho em atividades neste mundo. No entanto, bem compreendido, o ensino sobre as coisas
referentes ao fim trazem um contraponto importante. Lembra que em todos os nossos esforços, Deus continua
sendo o princípio e o fim. Mais ainda, “força” a igreja a vislumbrar no trabalho neste mundo uma perspectiva
eterna, já que os resultados - para aqueles atingidos pelo evangelho proclamado - são eternos.
5.1.3 - Isto relativiza os resultados visíveis, mensuráveis, presentes, frente à importância da qualidade do trabalho
(entenda-se com isto; ênfase no evangelho).
5.2 - Apocalipse tem um enfoque missionário.
5.2.1 - Note-se a ênfase no “testemunho”. João é apresentado como aquele que testemunha o que viu e ouviu (1.2,9;
22.18); o anjo foi enviado por Jesus para dar testemunho às igrejas (22.16); os cristãos são referidos como
aqueles que testemunham a Cristo (2.13; 6.9; 11.3,7; 12.11,17; 17.6; 19.10; 20.4); e o próprio Jesus é
apresentado como “fiel testemunha” (1.5; 3.14; 22.20). Fica evidenciado que a mensagem é para ser
testemunhada, anunciada. Chama a atenção o fato de que o livro não chega a enfatizar a questão do
resultado deste testemunho entre os que o ouvem. Possivelmente se pode entender isto na perspectiva de
que os resultados pertencem a Deus, que conhece a reação dos corações.
5.2.2 - Ao apontar para o fim, e para o destino terrível dos que se colocam ao lado da besta, Apocalipse funciona
como um alerta e chamado ao arrependimento. Tal é a proclamação da Igreja a um mundo que pretende
subsistir sem Deus, e assim cria deuses para si.
5.2.3 - “Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo” (22.10) é um imperativo para
que a Igreja (também a IELB) deixe a palavra ter livre curso. Note-se que tal imperativo liga a expectativa
escatológica com a tarefa de aproveitar a “porta aberta” (3.7,8) que Deus abre para Sua Igreja.
5.3 - A mensagem da Escatologia cristã é missionária, por excelência.
5.3.1 - A Escatologia não se prende unicamente aos fatos do fim. A bem da verdade, a ressurreição de Jesus é um
fato escatológico central na mensagem do Novo Testamento. Ele é o “primogênito dos mortos” (Ap 1.5), o
primeiro entre muitos. Sua ressurreição inaugurou um novo tempo, onde o Espírito Santo é “penhor da
nossa herança” (Ef 1.14). A ressurreição do Senhor é garantia da nossa ressurreição. Desde que Cristo veio
a este mundo, morreu como nosso Substituto e ressuscitou, inauguraram-se os tempos do fim. Vivemos
neste tempo, que é tempo de anunciar a vitória de Cristo. Missão, por isso, não é um peso que está colocado
sobre a Igreja, mas é um privilégio, o de anunciar o Cristo vivo, vitorioso e gracioso.
5.3.2 - A mensagem escatológica nos faz olhar para o futuro, aguardando com expectativa o retorno do Senhor. O
“venho sem demora” nos lembra que o tempo é limitado. Temos de aproveitar as oportunidades. Uma igreja
que espera a volta de Jesus há de usar sabiamente o tempo na proclamação do evangelho a tantos quantos
for possível. Motivada pela graça de Deus, não pela obrigação, a Igreja terá diante de si a urgência em
anunciar o evangelho da salvação, a fim de que muitos possam dizer, com confiança e alegria: “Vem,
Senhor Jesus.” Amém.
Gerson Luis Linden
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