Ocorrência da mosca-negra-dos-citros (Aleurocanthus woglumi)

Transcrição

Ocorrência da mosca-negra-dos-citros (Aleurocanthus woglumi)
Ocorrência da mosca-negra-dos-citros (Aleurocanthus woglumi) na Paraíba1
Edson Batista Lopes2, Carlos Henrique de Brito3, Jacinto de Luna Batista4
e Aldeni Barbosa da Silva5
1
Recebido para publicação em 16/01/2010
Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador da Embrapa/EMEPA ([email protected])
3
Biólogo, Dr., Professor do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais do CCA/UFPB ([email protected])
4
Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais do CCA/UFPB ([email protected])
5
Biólogo. Dr., Bolsista de Extensão no País/CNPq. Edital 039/2008-Arranjos Produtivos Locais. EMEPA ([email protected])
2
Resumo - O objetivo deste trabalho foi identificar e relatar a ocorrência da mosca-negra-dos-citros (Aleurocanthus woglumi
Ashby) no estado da Paraíba. Material infestado foi coletado em Alagoa Nova, PB, e analisado no Laboratório de
Fitossanidade da EMEPA, em Lagoa Seca, PB, Brasil. Foram feitos exames a “fresco” de folhas com sintomas da praga,
com microscópio bilocular, constatando-se a presença de ovos, ninfas, pupas e adultos, confirmando a sua ocorrência no
Estado. Foram feitas novas inspeções a outros municípios produtores de citros como Lagoa Seca e Matinhas. A praga foi
detectada pela primeira vez no sitio Orique de baixo, em Alagoa Nova, PB, em dezembro de 2009, infestando folhas de
laranja 'Comum' e 'Bahia'. Em Lagoa Seca, ela foi registrada no Sitio Oiti, atacando laranja 'pêra' com alta infestação. Em
Matinhas, o inseto foi registrado infestando a tangerina 'Dancy' no Sitio Geraldo de Cima e a laranja 'Pêra' no Sitio Orange,
onde se observou a mais alta proliferação. No estado, no ano de 2010, existem mais de 1.800 hectares infestados e
distribuídos por quatorze municípios produtores de citros.
Palavras-chave: praga dos citros, frutas cítricas, laranja bahia, tangerina dancy
Occurrence of the citrus black fly (Aleurocanthus woglumi) in Paraiba
Abstract - This work had as objective to identify and report the occurrence of citrus black fly (Aleurocanthus woglumi
Ashby) in Paraiba state. Infested material was collected in Alagoa Nova, PB, and analyzed in the Laboratory of Plant
Protection of EMEPA, in Lagoa Seca, PB, Brazil. Examinations were made on fresh leaves with symptoms of the pest, with a
bilocular microscope, noting the presence of eggs, nymphs, pupae and adults, confirming its occurrence in the State. New
inspections were made in other producing municipalities of citrus as Lagoa Seca and Matinhas. The pest was first detected at
low Orique farm, in Alagoa Nova, PB, in December 20, 2009, infesting leaves of 'Comum' and 'Bahia' orange trees. In Lagoa
Seca, it was recorded in Oiti farm attacking 'pear' orange with high infestation. In Matinhas, the pest has been recorded
infesting the 'Dancy' tangerine, in Geraldo de Cima farm and the 'pear' orange in Orange farm, where was observed the
highest proliferation. In the year of 2010, there are over 1,800 hectares infested and distributed by fourteen producing
municipalities of citrus, in the state.
Keywords: citrus pest, citric fruits, bahia orange, tangerine dancy
Introdução
A produção de frutas cítricas na Paraíba concentra-se na
mesorregião Agreste Paraibano e principalmente na
microrregião Brejo Paraibano. O município de Matinhas
com área plantada em 2007 de 1.812 hectares (IBGE, 2007) é
considerado o principal pólo produtor de tangerina (C.
reticulata v. 'Dancy') da Paraíba e do Nordeste.
A mosca-negra-dos-citros (Aleurocanthus woglumi
Ashby) de origem asiática (Dietz & Zetek, 1920) é uma
importante praga dos citros, encontrando-se disseminada nas
Américas, África, Ásia e Oceania (Oliveira et al., 2001).
Recém introduzida no Brasil, foi detectada pela primeira vez
no estado do Pará, em 2001, na área urbana do município de
Belém (Ronchi-Teles et al., 2009).
O impacto negativo da introdução da mosca-negra-doscitros em regiões produtoras de frutas pode ter
consequências desastrosas, não somente do ponto de vista
econômico e ambiental, devido aos efeitos que as medidas de
controle adotadas podem ter sobre os recursos naturais
quanto ao dano da praga na flora nativa, e ainda a sua
possível adaptação a outras espécies comerciais, no
momento, não consideradas hospedeiras (Barbosa &
Paranhos, 2004).
Inseto de pequenas dimensões, mas devido à sua alta taxa
populacional e à sua disseminação característica (frutas e
folhas podem servir de substrato para o transporte das
posturas da praga), tem a capacidade de provocar um alto
grau de prejuízo às plantas nas quais se instala. Como a
mosca-negra é uma praga altamente danosa e apresenta
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riscos de provocar barreiras fitossanitárias impostas por
países importadores de frutas, devem ser tomadas medidas
emergenciais, para reduzir o risco de entrada e o
estabelecimento desta praga nos pólos de fruticultura
irrigada e de sequeiro do semiárido nordestino.
Tanto os adultos como as formas imaturas de A. woglumi
sugam a seiva das plantas, deixando as plantas debilitadas,
levando-as ao murchamento e, muitas vezes, à morte. A
frutificação fica reduzida e as perdas podem alcançar até
80% dos frutos.
Os hospedeiros primários de A. woglumi são as plantas do
gênero citrus, cajú e abacate nas regiões pantropicais. São
hospedeiros secundários, café na América do Sul, manga na
Ásia e América do Sul, banana nas regiões pantropicais, uva
na Índia, goiaba na China. Porém, em qualquer região,
quando em elevada densidade populacional os adultos se
dispersam para outras plantas hospedeiras próximas das
áreas infestadas, tais como: rosas, maçã, café, manga, figo,
goiaba, abacate, banana, caju, uva, manga, mamão, pêra,
romã e marmelo. No México, 75 espécies pertencentes a 38
famílias botânicas são relatadas como hospedeiras deste
inseto (Sanivege, 2009).
O presente trabalho teve por objetivo identificar e relatar
a ocorrência da mosca-negra-dos-citros na Paraíba.
Figura 1. Postura dos ovos em espiral.
Material e Métodos
Material infestado como folhas de laranja 'comum' e
laranja 'bahia' foi coletado no sitio Orique de baixo,
município de Alagoa Nova e enviado ao Laboratório de
Fitossanidade da Empresa Estadual de Pesquisa
Agropecuária da Paraíba S.A. - EMEPA, em Lagoa Seca,
PB, para estudo.
No laboratório foram feitos exames a 'fresco' de folhas
com sintomas de ataque da praga, com o auxílio de um
microscópio bilocular com aumento de 400x, onde se
constatou a presença de ovos, ninfas, pupas e adultos do
inseto-praga. Posteriormente, foram feitas novas inspeções a
outros municípios produtores de citros como Lagoa Seca e
Matinhas, visando registrar a ocorrência da praga.
Figura 2. Colônias de ninfas e pupas.
Resultados e Discussão
A praga foi detectada pela primeira vez no sitio Orique de
Baixo, no município de Alagoa Nova, no dia 20 de dezembro
de 2009 (Lopes et al. 2009). De acordo com as observações
conduzidas no laboratório de Fitossanidade da EMEPA,
onde foram examinadas folhas com sintomas de ataque da
praga, se constatou a presença da postura de ovos em espiral
(Figura 1), ninfas e pupas (Figura 2) e adultos (Figura 3) do
inseto-praga, ficou patente, assim, tratar-se da praga dos
citros conhecida mundialmente como mosca-negra-doscitros.
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Figura 3. Colônias de insetos adultos.
No município de Lagoa Seca, PB, a mosca-negra-doscitros foi registrada no Sitio Oiti, atacando laranja 'pêra' com
alta infestação. No município de Matinhas o inseto-praga foi
registrado em tangerina 'dancy' no Sitio Geraldo de Cima e,
ainda, no Sitio Orange, em laranja 'pêra', onde se observou a
mais alta proliferação do inseto-praga, inclusive numa
reboleira com mais de 100 plantas atacadas, com folhas e
frutos recobertos com 'fumagina' (Figura 4) que vive
associado aos excrementos do inseto (Lopes et al. 2009).
Sobre a área total infestada no Estado, hoje existem
cadastrados mais de 1.800 hectares infestados espalhados
pelos seguintes municípios: Matinhas, Alagoa Nova, Lagoa
Seca, São Sebastião de Lagoa de Roça, Esperança, Remígio,
Massaranduba, Ingá, Areia, Serra Redonda, Juarez Távora,
Alagoa Grande, Campina Grande e Riachão do Bacamarte.
em 2006 (Jordão & Silva, 2006) e São Paulo em 2008 (Pena
et al., 2008). Raga & Costa (2008) relatam a ocorrência da
mosca-negra-dos citros no município de Artur Nogueira,
Estado de São Paulo atacando plantas cítricas de laranjeiras
'westin', 'hamlin,' e 'pêra' e em outras hospedeiros como
abacateiro, goiabeira, bananeira e caquizeiro.
Conclusão
O inseto-praga identificado ocorrendo em pomares de
laranja 'comum', laranja 'bahia' e tangerina 'dancy' em
Alagoa Nova, Matinhas e Lagoa Seca é a mosca-negra-doscitros (Aleurocanthus woglumi Ashby).
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Figura 4. Folhas recobertas por fumagina.
Apesar de ser um inseto-praga de recente introdução no
Brasil (Oliveira et al., 2001), o primeiro registro no novo
mundo foi na Jamaica em 1913, tendo se propagado para
Cuba em 1916, México em 1935 (Smith et al., 1964). Na
Flórida foi registrada em 1934 (Newell & Brown, 1939). Na
América do Sul foi detectada, em 1965, na Venezuela
(Angeles et al., 1968).
No Amazonas foi detectada em Manaus, em junho de
2004, sobre plantas cítricas e encontra-se disseminada por
toda a área urbana do município de Manaus. Atualmente, é
encontrada também nos municípios de Itacoatiara, Rio Preto
da Eva e Iranduba, registros feitos em visitas nos plantios de
citros (Pena & Silva, 2007).
A mosca-negra-dos-citros foi encontrada no Pará
(Oliveira et al., 2001; Cunha, 2003) e pode ser encontrada
atualmente em mais da metade dos municípios paraenses
(Maia et al., 2005,). Há também registros de ocorrência nos
estados do Maranhão em 2003 (Lemos et al., 2006), Amapá
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