aa.Nota Técnica sobre os debates recentes sobre os

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aa.Nota Técnica sobre os debates recentes sobre os
CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL – CDES
Brasília, novembro de 2013.
Nota Técnica Grandes Eventos
A partir das discussões ocorridas nas recentes reuniões do Grupo de Acompanhamento dos
Grandes Eventos1, voltadas à preparação de contribuições a serem encaminhadas à
Presidencia da República, na oportunidade da próxima Reunião Plenária do CDES, diversas
preocupações foram levantadas pelos Conselheiros participantes deste Grupo.
Coube à SEDES o levantamento de informações que pudessem subsidiar as discussões e as
contribuições deste Grupo. Diversos documentos foram consultados e disponibilizados2, e
algumas reuniões e entrevistas específicas foram realizadas em busca de esclarecimentos
adicionais. Esta Nota pretende sistematizar brevemente as principais informações e análises
que foi possível levantar nesse processo, sempre organizadas a partir dos alertas apontados
pelos Conselheiros.
1. Gastos com a construção de estádios da Copa 2014
Uma das principais preocupações apontadas se referia ao volume de recursos investidos na
construção e reforma dos estádios da Copa 2014. Foi lembrado que os orçamentos ao final do
processo eram frequentemente muito superiores aos orçamentos iniciais. Discutiu-se a
possibilidade de realizar um trabalho de análise das contas e contratos, com o objetivo de
preparar um documento que pudesse comunicar melhor essa questão, com alguma
credibilidade adicional junto à opinião pública, por ter sido preparado pela sociedade civil.
Por outro lado, foi considerado também que as instituições de controle – TCU e TCEs, CGU,
Ministério Público, etc – atuaram de modo intenso em todo esse processo, apurando e
ajustando problemas quando estes surgiram. Nesse sentido, dado a exiguidade de tempo e de
1
2
Ver material disponível em http://goo.gl/RsBN9i e http://goo.gl/owWZCm
http://www.cdes.gov.br/grupo/1530/acompanhamento-dos-grandes-eventos.html
Original em www.cdes.gov.br
recursos3, seria difícil realizar algum trabalho de análise das contas que pudesse agregar
contribuições novas ao que já havia sido feito pelas instituições de controle.
Documentos e relatórios do TCU relatam uma trajetória bastante exaustiva. A atuação do
Tribunal apontou atrasos e sobrepreços em alguns casos, que foram sendo corrigidos. Nesse
sentido, as contas em geral são consideradas adequadas até o momento, e teriam sido
evitados gastos da ordem de R$ 200 milhões nas obras dos estádios4.
De fato, o orçamento inicial dos estádios era de R$ 2,1 bilhões na proposta entregue à Fifa, em
junho de 2007. Em setembro de 2007 – ou seja, apenas dois meses após a candidatura – o
orçamento apresentado à FIFA já havia sido recalculado para R$ 4,3 bilhões, para os estádios
das 17 candidatas a cidades-sede5. Em janeiro de 2011, o orçamento para os estádios de 11
das 12 cidades-sede (a Arena Itaquera ainda estava em fase de projetos) somava R$ 5,6
bilhões6. Atualmente, no segundo semestre de 2013, o orçamento dos estádios está em cerca
de R$ 7,1 bilhões7.
Entretanto, esse grande aumento no custo dos estádios pode ser atribuído, ao menos em
parte, a uma subestimação dos valores iniciais. A proposta inicial orçava o volume de recursos
necessário para as obras dos estádios em cerca de US$ 1,1 bilhão. A maioria das outras
propostas recentes8, para as Copas de 2018 e 2022, apresentaram propostas entre 2,5 e 3,0
bilhões de dólares9 – valores mais próximos do nosso orçamento atual para os estádios.
Um estudo da KPMG10 estima o custo por assento das arenas europeias construídas desde
2005 entre 2 e 6 mil euros – entre 6 e 18 mil reais, aproximadamente. A comparação direta
não se aplica, pois cada arena tem as suas peculiaridades de localização, terreno, fundação,
3
Instituição que congrega auditores independentes foi convidada a participar, mas não pôde aceitar o
convite.
4
TCU – O TCU e a Copa do Mundo de 2014: relatório de situação – abril de 2013. Tribunal de Contas da
União, Brasília, 2013a.
(disponível em http://goo.gl/dGO45j)
O TCU atuou apenas sobre os estádios com financiamento do BNDES, o que exclui as obras de
reconstrução do Mané Garrincha, em Brasília.
5
Guimaraes, Alexandre – Copa do Mundo FIFA 2014: da subestimação ao superfaturamento? Boletim
do Legislativo, n. 4. Núcleo de Estudos e Pesquisas do Senado, Brasília, junho de 2011.
6
COPA 2014: 1º balanço das ações do governo brasileiro para realização da Copa do Mundo FIFA 2014.
Ministério dos Esportes/GECOPA, Brasília, janeiro de 2011.
7
Ver Box 1.
8
Para a Copa 2018, o orçamento da candidatura da Rússia (que se sagrou vitoriosa) estimou gastos de
US$ 3,8 bilhões para a reforma de 3 estádios e construção de 12 novos; a candidatura da Inglaterra
estimou US$ 2,5 bilhões para reformar 5 estádios e construir 5 novos, além de aproveitar outros 7 que
já estariam no chamado “padrão FIFA”.
Para a Copa 2022, o orçamento da candidatura do Catar – vitoriosa – estimou US$ 3 bilhões para
reformar 3 estádios e construir 9; a candidatura conjunta Portugal/Espanha orçou US$ 2 bilhões para
construção de 5 novos estádios e adaptações e reformas em diversos outros – Portugal sediou
recentemente uma Eurocopa e a Espanha conta com vários estádios já no “padrão Fifa”. A candidatura
do Japão 2022 apresentou um orçamento comparativamente baixo – entre US$ 700 milhões e US$ 1,3
bilhões – para a reforma de 12 estádios e construção de apenas 1 novo. Mas o Japão sediou a Copa de
2002 em parceria com a Coreia, de modo que seus estádios são relativamente recentes e adequados às
exigências da FIFA. (Guimarães, 2011)
9
Guimarães, 2011.
10
KPMG International - European Stadium Insight 2011: Prospects for football stadium development
and commercialisation across Europe. Zurich/Budapeste, 2012. (disponível em http://goo.gl/UwFSUG)
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infraestruturas, benfeitorias e equipamentos etc. Seria necessário comparar os projetos em
detalhe para, de fato, poder afirmar se os custos de cada estádio, individualmente, estão
compatíveis com os custos das arenas europeias. Mas, em um olhar inicial sobre os estádios
novos, cabe notar que mesmo o Mané Garrinha, que apresenta o maior custo por assento,
está dentro desse intervalo: Arena Pantanal, 12 mil reais por assento; Arena Amazônia, 13,2
mil reais; Arena das Dunas, 9,7 mil reais; Arena Pernambuco, 10,8 mil reais; Arena Fonte Nova,
10,7 mil reais; Arena Itaquera, 12,6 mil reais; Castelão, 7,7 mil reais; Mané Garrincha, 17 mil
reais.
Box 1 - Resumo das características e custos de cada Estádio
11
a. Belo Horizonte, Mineirão, 64 mil lugares.
i. Orçamento em jan/2010: R$ 426,1 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 683,6 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$ 695 milhões.
iv. R$ 400 milhões em financiamento do BNDES para o concessionário da PPP; R$
254 milhões recursos próprios do concessionário.
b. Brasília, Mané Garrinha, 70 mil lugares.
i. Orçamento em jan/2010: R$ 745,6 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 701,9 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$ 1,2 bilhões.
iv. Recursos próprios do governo distrital.
c. Cuiabá, Arena Pantanal, 43 mil lugares (18 mil removíveis).
i. Orçamento em jan/2010: R$ 454,2 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 593,7 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$ 519,4 milhões.
iv. R$ 331 milhões em financiamento do BNDES para o governo estadual; R$ 188
milhões recursos próprios do governo estadual.
d. Curitiba, Arena da Baixada, 41 mil lugares.
i. Orçamento em jan/2010: R$ 184,5 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 184,6 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$ 234 milhões.
iv. R$ 131 milhões em financiamento do BNDES para o proprietário do estádio
(Clube Atlético Paranaense); R$ 90 milhões recursos próprios do proprietário;
R$ 14 milhões recursos próprios do governo municipal.
e. Fortaleza, Castelão, 67 mil lugares.
i. Orçamento em jan/2010: R$ 623,0 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 452,0 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$ 518,6 milhões.
iv. R$ 351 milhões em financiamento do BNDES para o governo estadual.
f. Manaus, Arena da Amazônia, 44 mil lugares.
i. Orçamento em jan/2010: R$ 515,0 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 533,3 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$583,4 milhões.
11
Dados do Portal da Transparência, (http://www.portaltransparencia.gov.br/copa2014/home.seam)
consulta em 17 de outubro de 2013. E do relatório: COPA 2014: 1º balanço das ações do governo
brasileiro para realização da Copa do Mundo FIFA 2014. Ministério dos Esportes/GECOPA, Brasília,
janeiro de 2011.
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iv. R$ 400 milhões em financiamento do BNDES para o para o governo estadual;
R$183,4 milhões recursos próprios do governo estadual.
g. Natal, Arena das Dunas, 43 mil lugares (10 mil removíveis).
i. Orçamento em jan/2010: R$ 350,0 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 413,0 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$417,0 milhões.
iv. R$ 396,5 milhões em financiamento do BNDES para o concessionário; R$ 17
milhões recursos próprios do governo estadual.
h. Porto Alegre, Beira-Rio, 51 mil lugares.
i. Orçamento em jan/2010: R$ 130,0 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 154,0 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$ 330,0 milhões.
iv. R$ 275,1 milhões em financiamento do BNDES, Banrisul e Banco do Brasil (três
parcelas iguais de R$ 91,7 milhões) para o proprietário do estádio (Sport Club
Internacional)
i. Recife, Arena Pernambuco, 46 mil lugares.
i. Orçamento em jan/2010: R$ 529,5 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 491,1 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$ 500,2 milhões.
iv. R$ 400 milhões em financiamento do BNDES ao governo estadual, e R$ 100,2
milhões em recursos próprios do governo estadual.
j. Rio de Janeiro, Maracanã, 79 mil lugares.
i. Orçamento em jan/2010: R$ 600,0 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 828,0 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$ 882,9 milhões.
iv. R$ 400 milhões em financiamento do BNDES ao governo estadual, e R$ 482,9
milhões em recursos próprios do governo estadual.
k. Salvador, Fonte Nova, 55 mil lugares (5 mil removíveis).
i. Orçamento em jan/2010: R$ 591,7 milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ 591,7 milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$ 591,7 milhões.
iv. R$ 326,7 milhões em financiamento do BNDES ao governo estadual, e R$
268,1 milhões em recursos próprios do governo estadual.
l. São Paulo, Arena Itaquera, 65 mil lugares (17 mil removíveis).
i. Orçamento em jan/2010: R$ - milhões.
ii. Orçamento em jan/2011: R$ - milhões.
iii. Orçamento em dez/2012: R$ 820,0 milhões.
iv. R$ 400 milhões em financiamento do BNDES ao proprietário do Estádio (Sport
Club Corinthians Paulista) e R$ 420 milhões em recursos próprios do
proprietário.
2. Falta de perspectivas concretas de utilização dos estádios
Outro ponto de preocupação se refere à efetiva utilização e sustentabilidade dos estádios,
após a Copa. É considerado grande o risco de que alguns dos novos estádios se tornem
“elefantes brancos”, por estarem localizados em cidades onde não existem equipes de futebol
fortes a nível nacional. E nem sempre há um mercado de porte suficiente para acolher a
realização de grandes shows e eventos musicais.
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Várias possibilidades e oportunidades devem ser consideradas a respeito da utilização
posterior dos estádios da Copa 2014. Estádios novos, mais bonitos e seguros, com visibilidade
e conforto no “padrão FIFA”, podem atrair maior número de torcedores e gerar maior receita
com venda de ingressos. Propiciam também a exploração como arenas “multiuso”, ou seja,
sediando não apenas jogos de futebol, mas também espetáculos musicais, rodeios, e outros
tipos de eventos esportivos e culturais. E podem, ainda, agregar outras utilizações comerciais
dos seus amplos espaços, como museus, restaurantes, “shoppings”, salas e auditórios para
convenções de negócios, repartições públicas para atendimento ao cidadão, dentre outras
possibilidades de serviços permanentes12.
Todas essas oportunidades13, entretanto, exigem uma gestão bastante profissional e criativa
dos estádios, por parte dos seus responsáveis, sejam eles os concessionários, os clubes de
futebol, ou o poder público. Por exemplo, a receita auferida em dias de jogo não guarda,
necessariamente, proporção com o maior número de assentos do estádio, sendo influenciada
por diversos vetores14. Nos gráficos a seguir15, é perceptível como, dentre os maiores clubes
de futebol da Europa, os espanhóis, ingleses e alemães conseguem maior receita com
bilheteria em dias de jogo, frente aos rivais italianos e franceses.
No caso dos grandes clubes do futebol brasileiro, a situação é muito distinta. Apenas cerca de
8% a 11% do total das receitas vem da bilheteria em dias de jogo16, enquanto que em
Inglaterra, Alemanha e Espanha, essa parcela fica entre 22 e 30%17. A parcela originada pelos
direitos televisivos vem crescendo, chegando a 36% em 2011 – um patamar compatível com as
principais ligas europeias, excetuando França e Itália, que por terem menor renda com
bilheteria são mais dependentes das receitas de TV.
12
A arena do clube inglês Arsenal, o Emirates Stadium, considerado um caso de sucesso, oferece 150
salas executivas, serviços de buffet, e uma área de 1.000 m2 com lojas que vendem produtos vinculados
ao esporte.
KPMG – Futebol: paixão e negócios. KPMG Business Magazine, n. 26. São Paulo, dezembro de 2012.
13
Em um sentido mais simbólico e menos tangível a curto prazo, podem também cumprir o papel de
“construções icônicas”, estimulando o turismo e atividades culturais, recreativas e comerciais no seu
entorno. Esta também é uma característica interessante a ser explorada no caso do legado dos
equipamentos olímpicos.
14
O Giuseppe Meazza, estádio da Prefeitura de Milão que recebe os jogos em casa do Milan, tem
capacidade para 80 mil torcedores. A Allianz Arena, do Bayern Munich pode receber até 69 mil
torcedores; o Emirates Stadium, do Arsenal, até 60 mil.
Entretanto, em 2010 a receita com bilheterias em dias de jogo do Arsenal foi de 115 milhões de euros;
do Bayern Munich, 67 milhões de euros; e do Milan, 31 milhões de euros.
15
KPMG International - European Stadium Insight 2011: Prospects for football stadium development
and commercialisation across Europe. Zurich/Budapeste, 2012.
16
BDO RCS Brasil – Finanças dos clubes de futebol do Brasil em 2011. BDO RCS: São Paulo, 2012.
17
KPMG International, 2012.
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Agrava essa questão a percepção de que os novos estádios já inaugurados apresentam uma
aparente “elitização” da torcida, e também que as médias de público não estão altas. É preciso
que se faça um diagnóstico sobre os obstáculos que se apresentam à elevação da ocupação
dos estádios. Vários fatores vêm sendo apontados, e deveria ser apurada a real
responsabilidade cada um deles. O preço dos ingressos está elevado? O horário dos jogos,
quando realizados à noite, é compatível com a realidade do transporte público e dos
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torcedores que precisam trabalhar no dia seguinte? Que outros obstáculos inibem que o
torcedor possa levar a família ao estádio? O número demasiado de jogos compromete a
qualidade do espetáculo? E qual a disponibilidade e interesse do torcedor para comparecer
tantas vezes aos estádios, 8 ou 9 jogos por mês? São diversas questões que precisam ser
abordadas.
3. Impacto econômico dos grandes eventos
Foi lembrado pelos Conselheiros a questão dos impactos econômicos, principalmente em
termos da geração de empregos e da qualificação de mão-de-obra, que a realização de um
evento desse porte proporciona.
A esse respeito, constata-se que há uma tendência em superestimar esses impactos nas
análises “ex-ante”, e que o impacto efetivamente medido nas análises após a realização do
evento são bem mais modestas – embora significativas. Relatório produzido durante as
preparações para as Olimpíadas de Londres 201218 recupera e sintetiza avaliações sobre as
edições de Barcelona, Atlanta, Sidney e Atenas, apontando que, como regra geral, a geração
mais forte de empregos é na construção civil, na preparação para o evento; empregos
temporários são gerados no comércio, hotelaria e outros serviços durante o evento; também
há significativa utilização de trabalho voluntário em atividades de apoio ao evento.
Com relação às Copas da Alemanha e da África do Sul, Proni e Silva (2012) recuperam
informações interessantes. Na Copa de 2006, na Alemanha, avaliações posteriores ao torneio
apontaram impactos econômicos bem menores do que os estimados pelas avaliações ex-ante.
Os investimentos da Copa teriam sido apenas em torno de 0,4% do total de investimentos da
economia alemã, enquanto teriam sido gerados entre 25 e 50 mil empregos, parcela pequena
frente a um mercado de trabalho com 40 milhões de pessoas. O setor hoteleiro verificou uma
redução de 2,7% nas suas taxas de ocupação em relação ao mesmo mês do ano anterior,
embora com faturamento maior devido as tarifas maiores e o movimento no aeroporto de
Frankfurt teve um crescimento de apenas 1,7% no número de passageiros. Ainda assim, teriam
sido importantes os benefícios em termos do fortalecimento da identidade nacional e do
orgulho cívico, bem como no posicionamento da imagem do país no exterior. A “marca”
Alemanha passou de quinto lugar em 2005 para segundo lugar em 2006, logo após a Copa.
Em relação à Copa de 2010, na África do Sul, o impacto adicional no PIB foi calculado entre
0,2% e 0,3%, tendo sido gerados quase 700 mil empregos. Porém, a expectativa de que ao
menos 280 mil postos de trabalhos seriam mantidos após a Copa não se cumpriu, e houve a
perda líquida de 620 mil empregos logo após a Copa. Foram atraídos à África do Sul durante o
evento cerca de 310 mil turistas, que gastaram quase 400 milhões de euros. Há grande
preocupação em relação aos estádios - dos 10 estádios construídos, apenas o de Johanesburgo
seria capaz de operar sem déficit -, mas há um importante legado em mobilidade e transporte
18
London East Research Institute - A Lasting Legacy to London? Assessing the legacy of the Olympic
Games e Paralympic Games. Londres, 2007.
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público, além de ganhos na imagem internacional do país e no sentimento de orgulho nacional
da população19.
Estimativas “ex-ante” sobre o impacto econômico da Copa 2014 no Brasil variam bastante. Em
uma linha mais “conservadora” estudo realizado pelo Cedeplar/UFMG20 em 2011 estimou que
a realização da Copa no Brasil deixaria o PIB maior em 0,7% ao final do período 2007-2014, e o
nível de emprego maior em 0,5%, sendo gerados cerca de 160 mil postos de trabalho.
Especificamente nas cidades-sede, o crescimento adicional do PIB municipal e do mercado de
trabalho local será da ordem de 1,2% no período. Em uma linha mais “otimista”, estudo
realizado pela Ernst&Young21 em 2010 estimou um crescimento adicional acumulado no
paríodo de 2,17% no PIB, com a geração de 3,6 milhões de postos de trabalho e a arrecadação
de R$ 18,1 bilhões em tributos.
Especificamente em termos turísticos, a Embratur estima que 600 mil visitantes estrangeiros
visitarão o Brasil durante a Copa, realizando gastos da ordem de R$ 7 bilhões22. E dados
recentes da FIFA já começam a corroborar tais estimativas: na primeira fase foram vendidos
cerca de 890 mil ingressos, dos quais pouco mais de 250 mil para não-residentes no Brasil, em
180 países. Destacam-se os Estados Unidos, 66.646 ingressos; Inglaterra, 22.257; Alemanha,
18.019; Austrália, 15.401; Canadá, 13.507; França, 11.628; Colômbia, 11.326; Suíça, 8.082;
Japão, 5.021; e Argentina, 4.493. Ainda restam 228 mil ingressos para venda na próxima fase23.
O aumento de visibilidade gerado pela sequencia de grandes eventos tem propiciado elevação
ano a ano do número de turistas estrangeiros no Brasil, de 5 milhões em 2010 para 5,7 milhões
em 2012 e 6 milhões em 2013. Espera-se entre 7 e 7,5 milhões em 2014.
É importante notar, entretanto, que há diferenças entre os turistas normalmente atraídos pelo
potencial turístico do país e de cada cidade-sede, e os que vêm para um grande evento24. O
perfil de gastos pode ser maior, mas os seus interesses não são necessariamente os mesmos
que os do turista tradicionalmente atraído e já conhecido pela economia local. E há diversos
movimentos complementares que devem ser mais bem compreendidos, como o dos turistas
que viriam à cidade normalmente - mas a evitam durante a realização do evento; e o dos
residentes que fogem da cidade nos dias do evento para evitar as esperadas complicações. Se
estas questões não forem consideradas, podem levar a expectativas frustradas nos setores de
hotelaria, comércio e entretenimento – o que pode ser particularmente traumático para
microempresas e microempreendedores, que podem realizar investir além das suas
capacidades, acreditando em oportunidades de negócio propiciadas por um grande evento.
19
PRONI, Marcelo, SILVA, Leonardo – Impactos econômicos da Copa do Mundo de 2014: projeções
superestimadas. Texto para discussão, n. 211. IE/Unicamp: Campinas, 2012.
20
DOMINGUES, BETARELLI JR. E MAGALHAES, 2011, apud Proni e Silva,..., 2012.
21
Ernst & Young - Brasil sustentável: Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo 2014. Ernst &Young:
São Paulo, 2010.
22
Embratur prevê que despesa de turistas compensará investimentos na Copa. Portal Terra, 12 de
outubro de 2013. http://goo.gl/hIRq4s (Consultado 18 de outubro de 2013.)
23
Sorteio da Fifa destina 889.305 ingressos para a Copa do Mundo. Globoesporte.com, 05 de novembro
de 2013. http://goo.gl/5Y4vyW (Consultado 5 de novembro de 2013)
24
London East Research Institute,..., 2007.
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;
4. Necessidade de planejamento para potencializar os Legados.
Os Conselheiros foram unanimes em afirmar que a real oportunidade proporcionada pela
realização de um evento desse porte não consiste apenas nos 30 dias em que o evento se
concretiza, mas fundamentalmente na adequada exploração dos legados nos anos
subsequentes. Pode-se pensar esses legados como sendo de duas ordens, um tangível,
concreto; e outro intangível, simbólico. Ambos se complementam e interagem, entretanto,
para gerar os ganhos econômicos, sociais e culturais almejados pelos países e cidades que
sediam um grande evento25.
Os legados tangíveis normalmente destacados são: avanços no transporte público e
mobilidade urbana; revitalização de espaços urbanos; ampliação da infraestrutura turística e
hoteleira; disponibilização de modernos equipamentos desportivos; fortalecimento da
infraestrutura de telecomunicações; e, no caso das Olimpíadas, aproveitamento da Vila
Olímpica como novo bairro residencial ou centro comercial.
Os legados intangíveis normalmente destacados são: reafirmação da identidade e do orgulho
nacional; avanços na capacidade de gestão e governança de instituições locais e nacionais;
recolocação e modernização da imagem do país não apenas em termos turísticos, mas
também em termos de pujança econômica, capacidades e ambiente de negócios26; na mesma
linha, é uma oportunidade para cada uma das cidades-sede se reposicionarem em âmbito
25
London East Research Institute,..., 2007; Proni e Silva,…,2012; Ernst & Young,…, 2010.
Um alerta interessante feito por London East Research Institute, 2007: o sucesso ou falha nessa
recolocação da imagem internacional do país está desproporcionalmente sob a responsabilidade do
trabalho dos jornalistas. Então, proporcionar a melhor experiência possível para este público-alvo é
fundamental. Além disso, a Austrália, por exemplo, empreendeu nos anos imediatamente anteriores e
posteriores aos Jogos de Sidney um ativo programa de visitação orientada de jornalistas, que trouxe
cerca de 2 mil jornalistas ao país entre 1999 e 2001.
26
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nacional e internacional. Por fim, nos relatórios consultados há bastante ceticismo em relação
aos legados de disseminação de práticas desportivas e de incentivo ao trabalho voluntário,
frequentemente destacados nas estimativas “ex-ante” e justificativas dos organizadores, mas
raramente observadas de fato no período pós-evento.
Em suma, ao amplo portfólio de investimentos mobilizado durante a preparação para o evento
– estádios e ginásios, mobilidade urbana, aeroportos, turismo e hotelaria, telecomunicações –
corresponderá sempre uma nova capacidade instalada de grande potencial. A realização desse
potencial, entretanto, não se dá naturalmente: todo um novo esforço de gestão e
planejamento começa no dia seguinte ao encerramento do evento. Na verdade, o período pósevento precisa começar a ser planejado bem antes.
Mesmo no caso de Barcelona, que é considerado o maior exemplo de sucesso na
potencialização dos legados de uma olimpíada, o desemprego aumentou no imediato pósJogos, com o fechamento de postos na construção civil e em turismo e hotelaria. Apenas à
medida que as estratégias planejadas para o legado foram amadurecendo – e novas
estratégias de modernização da cidade e do país foram surgindo e sendo agregadas ao plano
original - é que os postos de trabalho em um moderno setor serviços foram sendo criados ou
recuperados.
A constituição de um setor Serviços melhor qualificado, tanto em termos de mão-de-obra
quanto em termos de gestão e governança, é em si um legado importante, mais forte em
casos de sucesso como Barcelona e Sidney, e menos claro, embora presente, em outros casos
como o de Atlanta. Em 1986, cerca de 40% dos empregos em Barcelona eram no setor
serviços, que passou a responder por 82% dos empregos nesta cidade em 2006 - enquanto a
média espanhola chegava a 67%. Nesse sentido, o período pós-evento é fundamental para a
efetiva consolidação desse potencial, de constituição de um maior e mais moderno setor
serviços nas cidades-sede, e é importante ressaltar que esta trajetória não é explicada apenas
pelo fortalecimento do setor turístico – integram esse processo a atração e o crescimento de
outros setores como finanças, serviços de apoio empresarial, administração pública, saúde e
educação27.
Portanto, para a adequada exploração do potencial dos legados dos próximos eventos de
grande porte sediados no Brasil, é fundamental iniciar desde já esforços de planejamento
estratégico.
Em relação aos novos estádios para a Copa, e ao temor de que alguns deles se tornem
“elefantes brancos”, é necessário ressaltar – conforme já abordado no item anterior - que a
exploração adequada das arenas irá exigir muito mais do que a realização de jogos de futebol
ou grandes shows28, e isso é importante tanto para a sustentabilidade econômica dos estádios
quanto para a sensação de apropriação e acolhimento desses espaços pela sociedade civil em
geral. Independentemente do gestor da arena ser uma empresa concessionária, um clube de
futebol, a prefeitura ou o governo estadual, os desafios serão grandes, exigindo criatividade na
gestão e articulação com diversas instituições públicas e privadas.
27
28
London East Research Institute, 2007.
KPMG International, 2012.
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Para além do que estiver sendo planejado para a utilização dos novos estádios, cada cidadesede precisa planejar como potencializará a utilização de outros legados importantes. As novas
estruturas de transporte público, por exemplo, exigem a continuidade de um planejamento de
ocupação e revitalização desses espaços urbanos. Na ausência de uma coordenação ativa por
parte do poder público, esse papel será exercido pela especulação imobiliária.
Os preços de imóveis e aluguéis costumam se manter mais aquecidos nas cidade-sede do que
no país como um todo. Em Sidney, Atlanta e Atenas os aluguéis cresceram de 10 a 15 pontos
percentuais acima das respectivas médias nacionais, no período de 5 anos imediatamente
posteriores aos Jogos. No caso de Barcelona, essa diferença a superior chegou a 50 pontos
percentuais. Além da elevação média, este processo será ainda mais contundente em algumas
áreas da cidade. Isto pode gerar a expulsão de moradores causada pela valorização dos
espaços – e então essas famílias se sentirão excluídas dos legados proporcionados em seus
antigos bairros29.
A expansão na oferta de leitos pelo setor hoteleiro – em torno de 19 mil novos leitos previstos
para a Copa 2014 - exigirá estratégia arrojada de exploração dos potenciais turísticos de cada
cidade-sede, indo do eco-turismo ao turismo de negócios. Caso contrário, o excesso de
capacidade ociosa gerará uma crise no setor hoteleiro local, causando danos à economia da
cidade como um todo. Preocupação semelhante pode ser levantada em relação aos
aeroportos de algumas cidades-sede e seus respectivos projetos de expansão.
E, em termos das responsabilidades de cada esfera de governo frente ao processo de
consolidação dos legados, ao contrário do que possa parecer, a participação da prefeitura da
cidade-sede na estratégia de potencialização desses legados nem sempre é hegemônica. Nos
casos de Barcelona e Sidney, os esforços dos governos regionais e nacionais respondem por
parte igual ou maior do processo30.
No caso brasileiro, onde o dinamismo das economias regionais e a capacidade fiscal e gerencial
dos governos locais é bastante heterogêneo, o papel das instituições do governo federal será
importante. O esforço de investimento e endividamento de cada cidade-sede é
frequentemente desproporcional frente às suas respectivas capacidades fiscal e econômica.
Por exemplo, embora o conjunto dos investimentos em curso no Rio de Janeiro e em São Paulo
alcance cerca de R$ 4,2 bilhões em cada cidade – ações em mobilidade urbana, aeroportos,
portos e estádios – isto representa apenas entre 1 a 2% dos seus respectivos PIBs municipais.
Outras cidades apresentam orçamentos menores em valores absolutos, porém mais
significativos em termos de esforço e impactos frente ao seu PIB municipal: os investimentos
de R$ 2,2 bi em curso em Cuiabá representam cerca de 20% do seu PIB municipal – apenas o
seu estádio, cerca de 5%; os R$ 1,5 bi investidos em Natal, cerca de 16% do PIB; e mesmo
cidades-sede maiores, como Belo Horizonte, Salvador e Recife, tem a respectiva carteira de
investimentos vinculados à Copa alcançando 6% do seu PIB municipal31.
29
Segundo London East Research Institute (2007), esse é um complicador para o legado de Atlanta.
London East Research Institute, 2007.
31
Proni e Silva, 2012.
V. também Portal da Transparência (http://www.portaltransparencia.gov.br/copa2014/home.seam).
30
Original em www.cdes.gov.br
São esforços consideravelmente distintos de investimento, concentrados em período de
tempo relativamente curto, e cujo retorno não é necessariamente proporcional ao custo
original dos investimentos. Nesse sentido, renovar a missão e as tarefas de grupos como o
GECOPA para a potencialização dos legados no período pós-evento precisa constar como vetor
em uma estratégia de médio e longo prazos; bem como a renovação e aprimoramento das
soluções de gestão, coordenação e governança instituídas até aqui.
Outro movimento interessante seria o de envidar esforços para aproximar a sociedade civil e
os movimentos sociais desse processo de definição das estratégias de consolidação,
exploração e apropriação dos legados – que se torna tanto mais fundamental quando
consideramos a parcela da opinião pública que se apresenta, neste momento, bastante
desfavorável a todo esse processo de realização dos próximos grandes eventos. Por falta de
comunicação e diálogo apropriados, a Copa 2014 deixou de ser vista como uma “realização”,
uma “oportunidade”, e passou a ser um “algoz” – como se fosse responsável ou cúmplice dos
problemas enfrentados pelo país em diversos setores. É necessário recuperar o conteúdo de
autoestima e identidade nacional que a realização de um evento desse porte costuma trazer,
até para que sejam viabilizados os esforços necessários para a consolidação dos legados.
5. Olímpiadas 2016 no Rio de Janeiro
Embora a discussão tenha se focado mais nos assuntos vinculados à Copa 2014, os
Conselheiros também demonstraram preocupação especificamente em relação à realização do
Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. Foi lembrado que a opinião geral sobre os legados
dos Jogos Pan-americanos de 2007 não é positiva. A Vila do Pan apresentou muitos problemas,
mesmo tendo sido inicialmente muito bem absorvida pelo mercado imobiliário. Há diversos
equipamentos desportivos subutilizados e/ou já com problemas estruturais, como é o caso do
estádio Engenhão, que foi interditado neste ano.
Além disso, preocupa também o fato de que as instalações olímpicas se concentrarão em
locais distantes uns dos outros, com os principais núcleos estando nos bairros da Barra da
Tijuca e de Deodoro, o que problematiza ainda mais as questões da mobilidade urbana e do
aproveitamento das oportunidades turísticas e comerciais durante os Jogos.
Original em www.cdes.gov.br
Fonte: TCU, 2013b.
No núcleo Maracanã, serão disputados: Tiro com Arco e chegada da Maratona, no
Sambódromo; no Engenhão, as provas de Atletismo; no Maracanã já reformado para a Copa
2014, as finais do Futebol e as cerimonias de abertura e encerramento; no Maracanãzinho,
Voleibol. No núcleo Copacabana serão disputados Vôlei de Praia, Maratona Aquática, Triatlo,
Ciclismo de Estrada, Maratona e Marcha Atlética, que exigem equipamentos temporários; os
Saltos Ornamentais serão disputados no Forte de Copacabana, também em estruturas
temporárias; Vela, Remo e Canoagem serão disputados em estruturas parte temporárias parte
permanentes, no Lagoa Rodrigo de Freitas e na Marina da Glória.
Fonte: TCU, 2013b.
Original em www.cdes.gov.br
Fonte: TCU, 2013b.
No Núcleo Barra da Tijuca será construída a Vila dos Atletas – 3.604 unidades de 2, 3 ou 4
quartos distribuídos em 31 torres. A área do Rock in Rio será adaptada para ser o Parque dos
Atletas – área de convivência e entretenimentos da Vila Olímpica. O Riocentro receberá
instalações temporárias para sediar as competições de Badminton, Boxe, Halterofilismo e
Tênis de Mesa. Alguns legados do Pan 2007, o HSBC Arena, o Velódromo Municipal e o Parque
Aquático Maria Lenk serão reformados ou adaptados para as competições de,
respectivamente: Ginástica Artística, Ginástica Rítmica e Trampolim; Ciclismo de Pista e
Patinação; Pólo Aquático. No Parque Olímpico serão construídos ginásios, quadras e piscinas,
permanentes e temporários, para treinamento dos atletas e para as competições de Tênis,
Basquetebol, Handebol, Lutas, Judô e Taekwondo.
Fonte: TCU, 2013b.
No núcleo Deodoro serão disputadas as competições de Esgrima, Hóquei sobre Grama, Rugby,
Hipismo, Tiro, Pentatlo, BMX, Mountain Bike e Canoagem Slalom, em estruturas temporárias e
permanentes. Entre as permanentes, destacam-se o Estádio de Hóquei; a Arena Deodoro ginásio multiuso -, e o Parque Radical – que abrigará a pista de “mountain bike” e as
corredeiras artificiais customizáveis para canoagem slalom;
Original em www.cdes.gov.br
Fonte: TCU, 2013b.
Nesse sentido, além do que já foi mencionado nos itens anteriores sobre exploração do
potencial dos legados de grandes eventos, cabem alguns comentários adicionais específicos
sobre as Olímpiadas.
O risco de subutilização dos equipamentos olímpicos é real, uma vez que eles cobrem uma
gama abrangente de esportes, é nenhuma cidade ou cultura conta com praticantes de tantas
modalidades distintas. A experiência das cidades-sede das edições mais recentes dos Jogos
Olímpicos tem apontado para utilização de equipamento temporários quando for oportuno –
modelo que a cidade do Rio tem seguido. Ainda assim, resta a questão do legado dos
equipamentos desportivos permanentes. As cidades-sede consideradas bem-sucedidas
normalmente combinam duas iniciativas: adaptar os novos equipamentos à vocação esportiva
local – rugby, beisebol, hóquei, etc; ou integrá-los a instituições de educação e a uma política
mais intensa de esporte estudantil32.
Ponto chave do legado de uma Olímpiada reside na oportunidade de revitalização de espaços
urbanos proporcionada pela integração da Vila Olímpica à cidade. Logicamente, a consolidação
da Vila Olímpica como novo bairro residencial ou centro comercial exige instalações urbanas
adequadas. Em Barcelona, por exemplo, a Policlínica constituída para atendimento dos atletas
na Vila, foi em seguida integrada à rede de saúde pública; edificações administrativas e de
mídia se tornaram galerias comerciais e prédios de escritório; prédios militares remanescentes
ao processo de revitalização da área sediam hoje a Faculdade de Direito e Economia da
Universidade Pompeu Fabra; além de todas as intervenções de mobilidade urbana que
reintegraram à cidade uma área anteriormente isolada e degradada.
Sobre esses dois pontos – aproveitamento posterior dos equipamentos permanentes, e
integração da Vila Olímpica à cidade – é necessária uma melhor comunicação dos
organizadores dos Jogos, para que os planos e estratégias existentes possam ser melhor
debatidas e aprimoradas.
32
London East Research Institute, 2007.
Original em www.cdes.gov.br
Antes disso, entretanto, é necessário garantir a adequada realização dos Jogos, e a adequada
implementação dos investimentos e obras previstas e tidas como essenciais. Nesse sentido, é
urgente a publicação oficial da Matriz de Responsabilidades dos Jogos Olímpicos de 2016, que
é o instrumento onde a divisão de tarefas entre as várias esferas do poder público e
instituições do setor privado fica transparente, expressa em definitivo, permitindo melhor
gestão e também um melhor controle social.
Box 2 – Utilização posterior dos equipamentos e integração da Vila Olímpica
33
Barcelona
Um dos bons exemplos de Barcelona foi o impacto da Vila Olímpica na vida posterior da cidade.
Construída em uma área portuária e industrial degradada, constituiu-se em nova área residencial e
comercial, com as instalações sendo reconvertidas como universidades, policlínicas, centros comerciais
e prédios de escritórios.
Em um processo gradativo, esse novo bairro foi sendo absorvido/integrado à vida cotidiana da cidade,
missão facilitada pelas novas soluções de transporte disponibilizadas a partir dos Jogos – e pela remoção
de antiga linha férrea que “separava” esta área do restante da cidade.
A recuperação ambiental das águas de região dotou a cidade de uma orla com praias, o que fortaleceu a
atratividade turística e as opções de lazer inclusive para os moradores da cidade – inclusive com
aumento na pratica de esportes aquáticos;
Atlanta
O reforço no posicionamento de Atlanta como centro comercial e destino de “turismo de negócios” é
considerado o principal legado.
O estádio olímpico foi adaptado para se tornar a casa do time de beisebol. Diversos equipamentos,
como o ginásio de basquete, parque aquático, pista de hipismo, etc foram repassados aos governos
locais e às Universidades.
A vila olímpica também foi integrada ao campus de uma Universidade. Não foram construídos muitos
prédios residenciais – boa parte da acomodação dos atletas aproveitou estruturas existentes.
Entretanto, o desenvolvimento do transporte, e de estruturas como parques e praças, impulsionou
expansão imobiliária posterior.
A revitalização dos espaços urbanos catalisada pelas Olimpíadas, porém, implicou também na
realocação de algumas vizinhanças de baixa renda, que foram excluídas do processo de modernização e
valorização das áreas.
Sidney
Equipamentos urbanos, instalações desportivas, e um reposicionamento na imagem turística – de um
“país exótico” para um “país moderno, jovem e acolhedor” constituem o legado dos Jogos de Sidney.
33
London East Research Institute, 2007.
Original em www.cdes.gov.br
Houve grande preocupação com o impacto ambiental nesta edição dos Jogos, de modo que a utilização
do transporte público foi ainda mais intensificada, bem como uma forte iniciativa de reutilização da
água, redução da geração de lixo, reciclagem etc, o que parece ter deixado uma marca na cidade.
As instalações da Vila Olímpica se tornaram um novo bairro de classe média.
Atenas
Investiu na revitalização de uma área degradada de uso industrial e militar; na regeneração do seu
aeroporto internacional; e em iniciativas de mobilidade urbana como anel viário e metrô – que sempre
se tornam um pesadelo ainda maior em cidades históricas.
O legado turístico é de avaliação complicada, pois a Grécia tem uma indústria turística bastante
dinâmica, mas em torno das belas ilhas gregas. O esforço de melhorar a infraestrutura da cidade e assim
poder dinamizar o turismo cultural em Atenas não parece ter sido bem-sucedido.
Original em www.cdes.gov.br

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