DOI: 10.4025/4 INVENTÁRIO DA COLEÇÃO ARQUEOLOGICA

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DOI: 10.4025/4 INVENTÁRIO DA COLEÇÃO ARQUEOLOGICA
DOI: 10.4025/4CIH.PPHUEM.063
INVENTÁRIO DA COLEÇÃO ARQUEOLOGICA BENEDITO ALVES DE ALMEIDA
(CABAA) DO MUSEU HISTÓRICO DE SANTO INÁCIO – MHSI: UM PATRIMÔNIO
ARQUEOLÓGICO DA REDUÇÃO JESUITICA DE SANTO INÁCIO
Josilene Aparecida de Oliveira
Arqueóloga do LAEE-UEM /MHSI
As primeiras pesquisas arqueológicas realizadas no município de Santo Inácio que
evidenciaram a importância da preservação do patrimônio arqueológico representado pelas
ruínas da Redução Jesuítica de Santo Inácio, fundada em 1610, pelos padres da Companhia de
Jesus e destruída em 1632 pelos bandeirantes paulistas, foram realizadas na década de 1960
pelo arqueólogo do Museu Paranaense Oldemar Blasi.
Blasi, baseado em informações sobre a topografia da área realizada pelos irmãos
Keller no final do século XIX, realizou um novo levantamento topográfico e pesquisas
arqueológicas sistemáticas com prospecções e escavações que evidenciaram a existência de
estruturas arquitetônicas e a ocorrência de materiais cerâmicos e líticos no local (BLASI
1966, 1971, 1977).
Em princípios de 1970, Igor Chmyz, arqueólogo do Centro de Pesquisas
Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná (CEPA/UFPR), dentro do Programa
Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), também efetuou levantamentos no vale
do Paranapanema registrando em seus relatórios os restos da Redução (CHMYZ 1974, 1977).
A definição da estratigrafia de ocupação humana da região de Santo Inácio em uma
faixa temporal situada entre o 6165 a.C. e o século XVII, se deu mais tarde, nas décadas de
1980 e 1990, com as pesquisas arqueológicas realizada por Chmyz, antes da construção do
lago do reservatório da Usina Hidrelétrica de Rosana Taquaruçu que resultou no mapeamento
e registro oficial junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) de
treze sítios arqueológicos quatro históricos entre eles o PR-AP-53, correspondente a Redução
Jesuítica de Santo Inácio e nove pré-históricos (CHMYZ 1984, 1990).
Os restos arquitetônicos da antiga Redução, assim como fragmentos de telhas e metal,
após a leitura da documentação histórica existente sobre a região do Guairá, foram atribuídos
pelos pesquisadores aos padres jesuítas e o material cerâmico a populações Guarani antes de
depois do contato com os jesuítas. O material lítico foi atribuído a sítios pré-cerâmicos,
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datados de 6.165 a.C., a tradição Humaitá(BLASI 1966, 1971, 1977, CHMYZ, 1974, 1977,
1984, 1990).
A grande quantidade de material arqueológico que foi retirada das ruínas da Redução
Jesuítica de Santo Inácio pelos arqueólogos foi levada para Curitiba, para ser analisada nos
laboratórios e hoje fazem parte dos acervos do Museu Paranaense e do CEPA/UFPR.
Assim, as peças cerâmicas e líticas que compõem a coleção arqueológica do antigo
Museu Histórico de Santo Inácio, não provêm de pesquisas sistemáticas, em sua maioria,
foram coletadas e reunidas pelo pesquisador amador, Benedito Alves de Almeida,
paralelamente as pesquisas arqueológicas realizadas nas ruínas Redução Jesuítica de Santo
Inácio, a partir da década de 1960 pelo Museu Paranaense e CEPA/UFPR.
Mas, segundo (SCATAMACCHIA, DEMARTINI, BUSTAMANTE, 1996) “qualquer
seja a sua origem, cabe a arqueologia preservar e dar um significado as coleções
museológicas” e, este acervo deve ser somado aqueles provenientes de pesquisas
arqueológicas sistemáticas, pois segundo as autoras, podem complementar lacunas e dar
informações sobre aspectos atualmente perdidos.
A coleção é formada por um acervo de 1093 peças, sendo 198 líticas e 895 cerâmicas
entre fragmentos e peças inteiras. Não estão incluídos aqui, alguns objetos sem classificação e
que serão objeto de estudo em outra ocasião. A analise da documentação museológica,
mantida em condições um tanto quanto precária, pouco contribuiu para que pudéssemos obter
informações individuais precisas sobre as peças, nas fichas catalograficas a procedência do
material aparece como sendo em grande maioria das ruínas da Redução Jesuítica de Santo
Inácio, apenas 15 peças são procedentes de outras localidades.
E, mesmo que essa coleção não possa apresentar mais nenhuma informação sobre o
contexto original das peças, enquanto cultura material, ainda é possível revelar importantes
informações quanto ao grupo responsável pela sua produção, e poder levantar hipóteses sobre
sua datação, pois as pesquisas arqueológicas realizadas paralelamente a criação da coleção,
estabeleceram uma data para o início da ocupação humana na região (OLIVEIRA, 2008).
A tentativa de proteção e valorização do acervo cerâmico e lítico da coleção
arqueológica Benedito Alves de Almeida, levou a realização desse trabalho de curadoria, que
teve como principal objetivo o inventário, limpeza, numeração, documentação e
armazenamento adequado das peças. A organização e o gerenciamento das coleções
arqueológicas são indispensáveis para permitir a divulgação do conhecimento arqueológico a
um público mais amplo a partir de exposições e de ações educativas. A educação patrimonial
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e a participação da comunidade é que garantem a preservação do patrimônio arqueológico,
histórico e cultural.
Para o desenvolvimento deste trabalho, a coleção foi dividida primeiro em duas
classes de artefatos, de acordo com a matéria prima: lítico e cerâmica. Estas classes, por sua
vez, foram divididas em categorias, de acordo com seus atributos morfológicos. Assim
apresentamos a coleção, considerando as categorias mais amplas e já definidas
(SCATAMACCHIA,DEMARTINI,BUSTAMANTE, 1996) O inventário da Coleção
Arqueológica Benedito Alves de Almeida, esta organizado de tal maneira, que as peças
podem ser visualizadas em uma ficha com o numero de registro, descrição e a foto de cada
peça, numa seqüência numeral ordinária 01 a 317.
As tipologias e classificações do material seguiram as metodologias e técnicas
apropriadas, dentre as abordagens disponíveis na Arqueologia (CHMYZ, 1966, 1976, LA
SALVIA e BROCHADO, 1989, LAMING-EMPERAIRE, 1967), não se caracterizando como
um estudo aprofundado de coleção dentro de uma determinada corrente teórica, mas apenas
uma descrição preliminar.
No entanto, entendemos que para a realização de novos estudos devemos considerar
que os contextos culturais e históricos diversos acabam por produzir um material cerâmico
diferenciado decorrente de interações étnicas ou modos de produção distintos. Diante dessa
grande diversidade, segundo, Morales, devemos deixar de lado as generalizações usualmente
empregadas na arqueologia brasileira e buscar obter informações que possibilitem um dialogo
entre vestígios materiais e as fontes textuais (MORALES, 2001).
A coleção Arqueológica Benedito Alves de Almeida foi dividida primeiro em duas
classes de artefatos, de acordo com a matéria prima: lítico e cerâmico. Estas duas classes, por
sua vez, foram divididas em categorias, de acordo com seus atributos morfológicos. Assim
apresentamos a coleção, considerando as categorias mais amplas e já definidas
(SCATAMACCHIA, DEMARTINI, BUSTAMANTE, 1996). O inventário da Coleção
Arqueológica Benedito Alves de Almeida, esta organizado de tal maneira, que as peças
podem ser visualizadas em uma ficha com o numero de registro, descrição e a foto de cada
peça, numa seqüência numeral ordinária 01 a 317.
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Síntese do Acervo da Coleção Arqueológica Benedito Alves de Almeida (CABAA)
Tabela – 1
Tipo
material
Cerâmica
de
Morfologia
Vasilha
guarani
Numero de registro da peça
cerâmica
de
população
Cerâmica
Cachimbos
Cerâmica
Cerâmica
Rodelas de fuso
Fragmento de vasilha cerâmica
Cerâmica
Cerâmica
Lítico
Lítico
Lítico
Telha goiva
Cerâmica guarani com morfologia
não identificada
Virote
Biface
Lâmina de machado
Lítico
Mão de pilão
Lítico
Batedores
Lítico
Rapadores
Lítico
Lascas
Lítico
Lítico
com
identificada
morfologia
não
039-040-041-042-043-044-045-046-047301
063-065-066-067-068-069-070-071-072073-074-075-076-077-078-079-080-081082-083-084-294-295-296-297-302-310313
300-304-307001-002-003-004-005-006-007-008-009010-011-012-013-014-015-016-017-018019-020-021-022-023-024-025-026-027028-029-030-031-032-033-034-035-036037-038-048-049-050-053-054-055-056057-058-059-061-062-064-277-286-287288-289-290-291-292-293-298
060-283-317
299-186-306-312- 314- 315- 316
085
121-122
086-087-088-089-090-091-092-093-094095-096-097-098-099-100-101-102-103104-105-106-107-108-109-110-111-112113-114-115-116-118-119-120-123-124126-127-128-129-130-132-133-134-135136-137-138-139-141-142-143-209
145-146-147-148-149-150-151-152-153154-155-156-157-158-159-160-161-162163-164-165-166-167-169-170-171-172173-174
144-175-176-177-178-179-182-184-187188-189-190-194-195-196-197-207-215
200-202-205-211-212-213-217-220-221224-225-229-234-245-247-251-259-266273-278-285
214-223-226-227-228-231-232-233-235236-237-238-240-241-242-243-244-246248-249-250-252-253-254-255-256-257258-261-262-263-264-265-267-268-269270-271-272-274-275-276-279-280-281282-284
125-131-140-168-180-181-183-185-191192-193-198-199-201-203-208-210-216218-219-222-230-239-260-204-206
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Benedito Alves de Almeida
Benedito Almeida de Almeida, chegou a Santo Inácio com seus familiares em 1932, onde
formaram propriedade agrícola as margens do Rio Paranapanema. Foi o primeiro vereador
eleito, pelo então Distrito e na Câmara de Jaguapitã, funcionário do extinto DGTC, Inspetor
Municipal de Ensino, Delegado de Policia, Escrivão e Juiz de Paz, Diretor da S.A.A.E.
Serviço Autônomo de água e Esgotos e Pesquisador Histórico Oficial do Município de Santo
Inácio por mais 40 anos. Em setembro de 1998, recebeu o titulo de “Cidadão Benemérito de
Santo Inácio” pelos relevantes serviços prestados a comunidade. Faleceu ano de 2002.
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BENEDITO ALVES DE ALMEIDA E O ACERVO DA COLEÇÃO
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INÍCIO DA ORGANIZAÇÃO E INVENTÁRIO DO ACERVO DA COLEÇÃO EM
2005
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AS INSTALAÇÕES DO NOVO MUSEU EM 2009
A estruturação física do Museu representa uma primeira conquista da Secretaria de
Cultura de Santo Inácio em conjunto com a Universidade Estadual de Maringá na busca de
condições adequadas para que os moradores de Santo Inácio possam ter acesso à memória de
ocupação humana do Município. Considerando que as primeiras pesquisas arqueológicas
realizadas no município de Santo Inácio que evidenciaram a importância da preservação do
patrimônio arqueológico representado pelas ruínas da Redução Jesuítica de Santo Inácio,
fundada em 1610, pelos padres da Companhia de Jesus José Cataldino, Simão Maceta e
Antonio Ruiz de Montoya e destruída em 1632 pelos bandeirantes paulistas, foram realizadas
ainda na década de 1960 pelo Prof. Odemar Blasi Arqueólogo do Museu Paranaense.
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REFERÊNCIAS
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