INTELIGÊNCIA EMOCIONAL EM CRIANÇAS

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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL EM CRIANÇAS
João Miguel Abreu de Sousa e Silva
Inteligência Emocional em Crianças
JOÃO MIGUEL ABREU DE SOUSA E SILVA
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL EM CRIANÇAS
Orientador: Professor Doutor Américo Baptista
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Faculdade de Psicologia
Lisboa
2009
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia
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João Miguel Abreu de Sousa e Silva
Inteligência Emocional em Crianças
JOÃO MIGUEL ABREU DE SOUSA E SILVA
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL EM CRIANÇAS
Dissertação apresentada para a obtenção de Grau
de Mestre em Psicologia, Aconselhamento e
Psicoterapias no Curso de Mestrado em Psicologia,
Aconselhamento e Psicoterapias, conferido pela
Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias.
Orientador: Professor Doutor Américo Baptista
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Faculdade de Psicologia
Lisboa
2009
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia
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João Miguel Abreu de Sousa e Silva
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Agradecimentos
Primeiramente, e mais que tudo, agradecer aos meus pais que sempre me transmitiram
as competências pessoais necessárias para um dia poder ser alguém neste mundo e não apenas
mais um, e que me dão toda força, motivação e afectividade que necessito para superar
qualquer adversidade.
Aos meus irmãos que me incentivam quando mais preciso.
Aos meus amigos nos quais filtro toda minha emocionalidade negativa.
Aos meus colegas pela solidariedade demonstrada nos momentos menos positivos
nesta caminhada.
À Escola Básica Pedro de Santarém pela disponibilidade e amabilidade demonstrada
na recolha da amostra para este estudo.
Ao meu tio, José Pio Abreu pelo ponto de referencia que simboliza para mim nesta
ciência de incertezas.
Ao meu Orientador Professor Doutor Américo Baptista.
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Resumo
Com o objectivo de investigar a influência das Competências sociais e a Afectividade na
Inteligência Emocional em crianças, através da auto-percepção individual, foi estudada uma
amostra de 304 crianças, 159 do sexo masculino e 145 do sexo feminino com uma média de
idades de 10.49 (DP= 1.28). Foi também analisado o TEIQue-CF - Trait Emotional
Intelligence Questionnaire – Children Form (Mavroveli, Petrides, Shove, Whitehead, 2008),
medida de auto-relato de Inteligência Emocional, investigando a sua estrutura factorial. Os
Resultados demonstraram que uma maior Afectividade Positiva e Comportamento Pró-Social
se associaram com um alto índice de Traço de Inteligência Emocional. Demonstrou-se
também que uma maior Afectividade Positiva se associou com uma Auto-Estima elevada.
Avaliada a diferença entre géneros, os resultados demonstraram que as raparigas possuem
índices mais elevados de Comportamento Pró-Social ao nível das Competências Sociais
comparativamente com os rapazes que relataram um índice mais elevado de Problemas de
Relação com os pares e Problemas de Conduta.
Palavras-chave: Competências Sociais, Afectividade, Inteligência Emocional, TEIQue-CF.
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Abstract
In order to investigate the influence, in children, of social competences and emotional
affectivity in emotional intelligence, through individual self-perception, it was studied a
sample of 304 children, 159 boys and 145 girls with an average of 10.49 years old (SD =
1.28). It was also examined the TEIQue-CF - Trait Emotional Intelligence Questionnaire Children Form (Mavroveli Petrides, Shove, Whitehead, 2008) self-reported measure of
emotional intelligence, investigating its factor structure. The results showed that a greater
Positive Affectivity and Prosocial behavior were associated with a high level of Trait
Emotional Intelligence. It was also demonstrated that greater affectivity was associated with
high self-esteem. Evaluated the gender differences, the results showed that girls have higher
rates of Prosocial behavior at the level of Social Competences compared to boys who reported
having a higher degree of Relationship problems with peers and Conduct Problems.
Key-Words: Social Competences, Affectivity, Emotional Intelligence, TEIQue_CF
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Abreviaturas
DP- Desvio Padrão
M- Média
TEIQue_CF- Trait Emotional Intelligence Questionnaire_ Children Form
SDQ – Strengths and Difficulties Questionnaire
PANAS-N – Positive and Negative Affect Schedule
SPSS- Statistical Package for Social Sciences
CPEN- Consciência das Próprias Emoções Negativas
AE- Auto-Estima
CEO – Consciências das emoções dos outros
AEf – Auto-Eficácia
AC- Auto-Controlo
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Índice
Introdução
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Aspectos Neuropsicológicos das Emoções
10
Natureza da Inteligência Emocional
11
Modelos de Inteligência Emocional
13
Traço de Inteligência Emocional
15
Competências Sociais
18
Afectividade
20
Método
23
Participantes
23
Medidas
23
Procedimento
24
Resultados
25
Discussão
35
Conclusão
38
Referências
40
Apêndice
I
Anexos
IX
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Índice de Tabelas
Tabela 1- Análise factorial exploratória em componentes principais aos itens do TEIQue_CF
26
Tabela 2- Análise da fidelidade das dimensões do TEIQue_CF
30
Tabela 3- Diferenças entre géneros para a Inteligência Emocional
31
Tabela 4- Tabela das correlações entre os factores do TEIQue_CF
32
Tabela 5- Diferença entre géneros para a Afectividade
33
Tabela 6- Diferença entre géneros para as Competências Sociais
33
Tabela 7- Correlações das Competências Sociais e Afectividade na Inteligência Emocional
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Este tema, a Inteligência Emocional que constitui uma variável exponencialmente em
ascensão, devido à sua falta de objectividade e unanimidade na literatura, a alguns anos a esta
parte tem surgido alguma exploração sobre os dois padrões fundamentais de inteligência. São
estes a Inteligência Padrão e a Inteligência Emocional, havendo bastante especulação em
torno do Coeficiente de Inteligência, Q.I, no que diz respeito ao facto de este ser ou não um
forte indicador do futuro do indivíduo ao nível de sucesso pessoal e profissional,
nomeadamente, em comparação com a Inteligência Emocional.
Algumas investigações foram elaboradas nesta área, sobretudo Snarey & Vaillent
(1995), que referiram que o Q.I tinha pouca relação com o modo como indivíduo atinge êxito
no futuro. Isto é, o que se revelava determinante era a capacidade de lidar e gerir as emoções,
nomeadamente a nível do domínio da frustração e controlo emocional. Houve quem sugerisse
que o sucesso na vida não é apenas explicado pela capacidade cognitiva medida pelos testes
de Q.I (Cherniss, 2002).
Sendo as emoções o cerne da Inteligência Emocional, é importante mencionar que esta
variável tem gerado alguma incoerência, principalmente ao nível das diferenças individuais.
Ekman (1973) foi de encontro aos fundamentos de Darwin, revelando-se como um dos
pioneiros nesta matéria, na medida em que, para este autor, a expressão emocional tem
evoluído aos longos dos tempos, paralelamente com a evolução das espécies. Com isto e
através destes fundamentos é pertinente afirmar que a informação emocional poderá exibir
alguma universalidade no ser humano e até mesmo uma relação com a espécie mamífera.
As emoções foram também caracterizadas, no âmbito dos relacionamentos, como uma
resposta mental associada a um evento ou ocorrência que por seu turno, inclui aspectos
empíricos, psicológicos e cognitivos na medida em que as emoções contêm informação acerca
do relacionamento das pessoas com o meio ambiente e às modificações inerentes (Lazarus,
1991) e consideradas, em termos da sua funcionalidade ao longo da vida, como elementos
básicos na interacção social. Por um lado, as emoções funcionam como uma fonte
significativa de informação, isto é, tanto para o comunicador remetente, como para o
comunicador destinatário. Por outro lado, podemos encarar as emoções como processos
dinâmicos que se criam e são criados pelas relações com os outros, sendo parte integrante das
interacções sociais (Halberstadt, Denham & Dunsmore, 2001).
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Aspectos Neuropsicológicos das emoções
Devido à habitual ambiguidade que é gerada neste sentido, é importante apurar a
verdadeira essência a nível neuropsicológico da emoção na medida em que esta pode ser
muitas vezes confundida com o termo sentimento. Com o intuito de desmistificar este
assunto, a literatura, ao nível dos processos neuropsicológicos das emoções, nomeadamente
por Adolphs, Tranel & Damasio (1998), sugere que a Amígdala tem um papel crucial nas
emoções, desencadeando, de um ponto de vista social e emocional, a informação relevante em
resposta aos estímulos visuais humanos. Esta descoberta foi enfatizada por estudos que
revelaram que o comportamento social e emocional estava relacionado com o medo e a
agressão, paralelamente ao nível dos animais. Na mesma medida, a Amígdala humana é
essencial para o julgamento social dos outros indivíduos com base na sua aparência facial.
Lesões na amígdala, nomeadamente no hemisfério direito, comprometiam a tomada de
decisão, e assim influenciavam negativamente o funcionamento social e emocional (Bar-On,
Tranel, Denburg, Bechara, 2003).
As emoções, no geral, independentemente da emoção em causa, resultam de uma
resposta química e automática produzida pelo cérebro aquando a presença de um estímulo
emocionalmente competente, seja esta uma qualquer situação ou simplesmente um objecto
(Damasio, 2001). No que diz respeito à lateralidade no âmbito da dominância cerebral,
nomeadamente no contexto do desenvolvimento da aprendizagem, durante largos anos
considerou-se que os indivíduos ambidextros teriam mais probabilidade de revelar problemas
de aprendizagem escolar (Caldas, 2000). Contudo, ponderou-se que o foco problema não
consiste na população dos canhotos, mas sim, na população dos dextros, na qual o canhotismo
assume um papel patológico, isto é, a operacionalização preferencial pela mão esquerda por
alguma impossibilidade de a fazer com a direita devido a alguma lesão cerebral contraída. È
importante salientar que a lateralidade resulta de uma distribuição inter-hemisférica dos
mecanismos de dominância motora que, por um lado, prende-se com o segmento do corpo
utilizado para a função ou por outro lado, com a natureza do acto motor (Caldas, 2000).
Também, paralelamente com a amígdala, o córtex pré-frontal assumiu um papel
extremamente importante na área das emoções, isto é, aquando a contracção de uma lesão
nessa área cerebral, o processo de tomada de decisão e as relações interpessoais seriam
afectados, o que de certo modo, estava associado a um escassez de Inteligênciasocial e
emocional (Bar-On, Tranel, Denburg, Bechara, 2003). A área pré-frontal abrange também a
memória de trabalho que se revela crucial para a interpretação e compreensão de estímulos
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externos, isto é, operacionaliza como uma capacidade de captar e manter a atenção a qualquer
informação relevante (Goleman, 1999).
Natureza da Inteligência Emocional
De um ponto de vista geral a Inteligência Emocional actua, de um modo abrangente,
na capacidade de a pessoa se motivar a si mesma e persistir a despeito das frustrações, de
controlar os seus impulsos, adiar a recompensa e também de regular o seu próprio estado de
espírito e impedir o desânimo subjugue a faculdade de pensar. Não menos importante, é o
facto de que os principais instrumentos da Inteligência Emocional serem a empatia e o
optimismo em prol do êxito relacional. (Goleman, 2006).
Vários estudos foram consumados na área da Inteligência Emocional no âmbito das
diferenças individuais no que diz respeito à gestão das emoções no funcionamento do
quotidiano, surgindo estas como das mais patentes variáveis em investigações, nas duas
últimas décadas nesta temática. (Matthews, Zeidner, & Roberts, 2007).
Uma das lacunas na literatura ao nível da análise dos processos cognitivos prende-se
com o facto de desprezarem, em certa medida, a essência das situações na resolução de
problemas do dia-a-dia e também as habilidades sociais e interpessoais em diferentes áreas
específicas do desempenho, centralizando toda a atenção, ao invés, para os aspectos
intelectuais da Inteligência (Almeida, Guisande, Ferreira, 2009).
Nos últimos anos, a Inteligência enquanto constructo tem vindo a atingir uma maior
relevância na sociedade no que ao homem diz respeito. Cada vez mais é estritamente
importante classificar e diferenciar os vários padrões de Inteligência.
Muitos são os investigadores que têm trabalhado afincadamente nesta área. Gardner
(1993), através de o seu modelo da Inteligência múltipla, definiu este constructo como sendo
decomposto em oito factores de Inteligência, ou melhor, oito tipos de Inteligência:
Linguística; lógico-matemática; espacial; interpessoal; intrapessoal; musical; somatocinestésica; naturalista. Nesta medida, este autor pretendeu no fundo, demonstrar que a
Inteligência não manobra nem engloba apenas os aspectos intelectuais e cognitivos, mas
também, opera com os processos de gestão de relacionamentos entre indivíduos.
Mais tarde, Sternberg (1997) patenteou a sua abordagem sobre a Inteligência padrão
classificando-a como um sistema complexo que no seu todo, operacionaliza diversas
capacidades tais como a análise das diferenças e semelhanças entre os objectos, a capacidade
de analisar as partes e as relações, entre estas e sobre a perspectiva de um todo. De um modo
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geral, surge aqui uma capacidade de raciocinar acerca dos conteúdos dos domínios nas mais
diversas perspectivas o que revela como um importante passo no âmbito desta temática.
Foi também manifestada a estrita importância da Inteligência no dia-a-dia, no sentido
de adaptação e modelagem dos indivíduos ao meio ambiente na resolução de problemas
(Sternberg, 2000).
Pode-se dizer, nos dias de hoje, que o sucesso em todos os domínios da vida está, de
um modo geral, intimamente ligado à Inteligência Emocional. Isto é, a criança, jovem, ou
adulto, ao conseguir controlar os seus próprios sentimentos e/ou emoções, e de certo modo
percepcionar e gerir as emoções dos outros, revela-se na plenitude das suas competências
interpessoais o que é fundamental para saber superar qualquer adversidade da sua vida
quotidiana (Goleman, 1995).
A Inteligência Emocional abrange a capacidade de percepcionar, avaliar e expressar
emoções, bem como a capacidade de aderir ou gerar sentimentos facilitadores do pensamento
e a capacidade de regular emoções para promover o desenvolvimento emocional e intelectual.
Nesta medida, a Inteligência Emocional ao nível da sua operacionalização na capacidade de
decifrar os significados das emoções e as suas relações, emprega toda essa informação de
duas maneiras, como uma base de raciocínio e na resolução de problemas e conflitos no dia-adia (Mayer & Salovey, 1997, 1999).
Efectivamente, alguns indivíduos diferenciam-se positivamente pelo facto de
possuírem a capacidade de processarem a informação, bem como a estimulação emocional no
sentido de esquematizarem as suas acções em prol de uma boa adaptação às situações novas
ao nível dos seus comportamentos e pensamentos o que poderá predizer em parte uma boa
Inteligência Emocional. (Mayer, Salovey e Caruso, 2008). Uma pessoa que acredita que a
raiva é uma emoção negativa, mas todavia, perante uma situação adversa utiliza como
recurso, constantemente um comportamento dominado pela raiva, poderá dizer-se que é uma
pessoa com baixa Inteligência Emocional (Mayer & Salovey, 1995).
Sendo a Inteligência Emocional uma variável bastante abrangente, várias são as
dimensões operacionalizadas por esta avaliando a diversidade de modelos existentes.
Zigler e Trickett (1978), numa investigação, num período em que a Inteligência
Emocional dava os primeiros passos enquanto ferramenta essencial para o sucesso do
indivíduo, distinguiram que tanto a Auto-Estima, como a Auto-Eficácia são ferramentas
essenciais na Competência Social, cruciais para o desenvolvimento da pessoa na interacção
com o meio.
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Outra competência fundamental foi explorada por Bell-Dolan, Reaven & Peterson
(1993) que demonstraram através da sua investigação que os sentimentos negativos que de
certa forma dizem respeito a uma emocionalidade negativa por parte do sujeito ou uma
consciência das emoções negativas no próprio, através de avaliação de auto-relato,
associaram-se negativamente com a sociabilidade.
Foi também sugerido e demonstrado que quando o indivíduo possui um alto índice de
regulação emocional e um nível reduzido de emocionalidade negativa, mais elevado será o
comportamento Pró-Social e a sua relação com os seus pares (Eisenberg, Fabes, Karbon,
Murphy, Wosinski, Polazzi, Carlo & Juhnke ,1996).
Também ao nível do conhecimento emocional, especificamente no que diz respeito à
percepção emocional ou conhecimento das emoções é sabido, há largos anos, que existe uma
associação desta variável com o comportamento Pró-Social e as relações com os pares na
interacção entre as crianças. (Denham, 1986).
Um dado pertinente, fundamentado por Cole (1991) tem a ver com o facto de a criança
quando possuía uma consciência das próprias emoções, resultantes do feedback negativo
recebido nos demais domínios das suas vivencias sociais resultaram em baixos níveis de
Auto-Estima e por sua vez em factores depressivos.
Também Roberts & Strayer (1996) demonstraram que um Conhecimento das próprias
emoções, bem como a sua aceitação, aliado com um Auto-Controlo de emoções como a raiva,
promovia a simpatia e o comportamento pró-social.
Modelos de Inteligência Emocional
Nos modelos de Traço de Inteligência Emocional foi-se averiguando, através dos autorelatos de auto-percepção emocional, que existem no geral, quatro factores chave interrelacionados: Maneira de ser, well-being; Auto-controlo, self-control; emocionalidade,
emotionality; sociabilidade, sociability. O primeiro factor relaciona-se com as variâncias de
humor que o indivíduo experimenta. O Auto-controlo prende-se com a capacidade de regular
as emoções e os impulsos. A Emocionalidade tem a ver com o facto de percepcionar e
expressar as emoções. Por último, a sociabilidade que opera essencialmente com o
aproveitamento interpessoal e gestão das emoções (Mikolajczak, Luminet, Leroy & Roy,
2007; Petrides, Pita & Kokkinaki, 2007). De referir pessoas com elevados níveis de AutoControlo gerem os seus sentimentos impulsivos e as suas emoções angustiantes de forma
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adequada, apresentando igualmente uma postura serena perante novos momentos e
normalmente lidam muito bem com a pressão exercida pelos factores externos (Golema,
1999).
No sentido de clarificar este constructo, foi desenvolvido por Mayer & Salovey (1997)
o modelo “The Four – Branches of Emotional Intelligence”. Este modelo pressupôs que a
InteligênciaEmocional se dividia em quatro ramos. O primeiro diz respeito à gestão das
emoções no sentido de atingir objectivos específicos. O segundo ramo designa-se pela
compreensão das emoções, a linguagem emocional, bem como os sinais transmitidos pelas
emoções no âmbito da interacção. O terceiro ramo tem a ver com a utilização das emoções
com o intuito de facilitar o pensamento. E por último, o quarto ramo, que se prende com a
interpretação das emoções, isto é, as nossas próprias emoções e as emoções dos outros. De
modo que cada ramo explora um conjunto de competências referentes à Inteligência
Emocional no geral.
Por seu turno, Goleman (1999) apresentou um notável modelo de Inteligência
Emocional que engloba cinco dimensões principais: auto-consciência, auto-regulação,
motivação, empatia e competências sociais. No cerne de cada dimensão existem algumas
aptidões associadas a modelos comportamentais. A primeira, a auto-consciência abrange a
auto-consciência emocional, isto é, a auto-avaliação e a auto-confiança. No âmbito da autoregulação, existe o autodomínio, a capacidade para inspirar confiança, o ser consciencioso, a
adaptabilidade e a inovação. Quanto à motivação, existem padrões como: vontade de triunfar,
empenho, iniciativa e optimismo. No que diz respeito à empatia, esta abarca a compreensão
pelos outros, o desenvolver os outros, orientação para o serviço, potenciar a diversidade e a
consciência política. Por último, a quinta dimensão, as competências sociais, é caracterizada
pela influência, comunicação, gestão de conflitos, liderança, catalisador de mudança, o criar
laços, colaboração e cooperação e por último as capacidades intra-grupais de equipa.
O modelo apresentado por Bar-On (1997), relativamente a uma primeira versão,
identifica cinco habilidades, proveniente das 15 competências emocionais e sociais propostas
anteriormente, são elas: Intrapessoais, Interpessoais, Adaptação, Gestão do Stress e Gestão de
Humor Geral. Este modelo é inspirado na teoria de Gardner, já anteriormente mencionada
neste estudo. Numa segunda versão (Bar-On, 2000), apresenta dez competências sociais e
emocionais, provenientes das quinze primeiras que se designam como facilitadores. As dez
competências deste modelo apresentadas são: auto-conceito, auto-consciência emocional,
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assertividade, tolerância ao stress, controlo dos impulsos, sentido da realidade, flexibilidade,
resolução de problemas, empatia e relações interpessoais.
Traço de Inteligência Emocional
Neste estudo, a Inteligência Emocional foi operacionalizada através do Traço de
Inteligência Emocional, ou Trait Emotional Intelligence, que em termos de definição, foi
descrito por Petrides, et al. (2007) como “uma constelação de emoções relacionadas entre si,
através de auto-percepções, localizadas nos baixos níveis das hierarquias da personalidade e
deverá ser investigado no âmbito de estabelecer taxonomias da personalidade”.
O Traço de Inteligência Emocional está então intimamente ligado a permutações dos
traços de personalidade (Vernon, Petrides, Bratko, Schermer, 2008) e fundamentalmente
associado aos aspectos afectivos da personalidade (Petrides, Sangareau, Furnham &
Frederickson, 2006), assumindo-se como independente da capacidade cognitiva, mas
convergente com os critérios sociais e emocionais (Mavroveli, Petrides Sangareau, Furnham,
2009).
Neste campo de acção, tem havido uma preocupação cautelosa em diferenciar dois
constructos importantes da Inteligência Emocional. O Traço de Inteligência Emocional,
presente neste estudo, e a Habilidade de Inteligência Emocional, Ability Emotional
Intelligence. Isto é, os resultados nas dimensões do Traço de Inteligência Emocional não
reflecte as habilidades cognitivas, estando estas associadas ao Q.I, mas na sua essência
espelha as habilidades de auto-percepção e disposições comportamentais. Por outras palavras,
esta distinção diz respeito, fundamentalmente, ao método utilizado para operacionalizar esta
variável, isto é, o Traço de Inteligência Emocional ou Traço de Auto-Eficácia Emocional,
como também é conhecido, atende á natureza subjectiva da experiencia emocional e
compromete a busca para desenvolver uma vasta gama de habilidades da Inteligência
Emocional que podem ser cotadas com critérios altamente objectivos através de relatos de
auto-percepção. Por outro lado, a Habilidade de Inteligência Emocional ou Habilidade de
Cognição Emocional reconhece explicitamente a subjectividade inerente das emoções e pode
ser aferida através de teste de alta performance (Petrides & Furnham, 2000,2001,2003;
Petrides, et al. 2006; Mavroveli, Petrides, Rieffe, Bakker, 2007; Mavroveli, Petrides, Shove,
Whitehead, 2008). Ambos produzem, deste modo, diferentes resultados apesar de o modelo
conceptual ser o mesmo (Mavroveli, Petrides, Sangareau, Furnham, 2009).
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Partindo da ideia de que o Traço de Inteligência Emocional foi classificado como um
constructo da personalidade, não foram encontradas correlações deste constructo com
medidas de habilidade de Inteligência Emocional, bem como com as habilidades ou
capacidades cognitivas (Mavroveli, et al. 2008).
No que diz respeito à diferença entre géneros, no âmbito do Traço de Inteligência
Emocional, adolescentes com um alto índice de Traço de Inteligência Emocional foram
caracterizados por cooperantes, e no que diz respeito somente ao sexo feminino, estas foram
qualificadas por líderes, através das nomeações dos seus colegas. Com esta investigação, no
sentido de apurar o impacto das auto-percepções e alienações na relação entre pares, bem com
a psicopatologia e o bem-estar psicológico, apurou-se que o Traço de Inteligência Emocional
se relacionou de uma forma negativa com a Depressão e Queixas Somáticas, ou por outras
palavras, com a Afectividade Negativa e por outro lado, relacionou-se positivamente com as
Competências Sociais ao nível da relação entre pares. Portanto, foi pertinente afirma-se que o
Traço de Inteligência Emocional actua como um factor protector contra as perturbações
psicológicas. (Mavroveli, et al. 2007). De referir que os rapazes foram caracterizados como
serem mais susceptíveis a obter expulsões da escola, devido a Problemas de Conduta ou
outros problemas (Mavroveli, et al. 2008)
O Traço de Inteligência Emocional está associado ao comportamento das crianças e
adolescentes que frequentam a escola, no sentido de que as diferenças individuais no Traço de
Inteligência Emocional se relacionaram com o facto de os alunos serem compreendidos, pelas
demais maneiras, pelos seus pares. (Petrides, Furanham, Frederikson, 2004). Existem também
fracas correlações entre o Traço de Inteligência Emocional e o rendimento académico, mais
especificamente, na escola secundária e na universidade, o que pôde manifestar-se como um
indicador de que os efeitos do Traço de Inteligência Emocional poderão variar nos níveis
educacionais, paralelamente aos efeitos de outros traços de personalidade. (Parker, Creque,
Bernhart, Horris, Majeski, Wood, Bond & Hogan 2004).
Do mesmo modo, Petrides et al. (2004), demonstraram que os estudantes com baixas
capacidades académicas, mas todavia possuem um alto índice de Traço de Inteligência
Emocional a par de uma rede social alargada, tinham facilidade na redução do impacto
negativo da ansiedade no desempenho individual. Isto é, quando existe um alto Traço de
Inteligência Emocional há uma redução da ansiedade. Em contrapartida, um baixo índice de
Traço de Inteligência Emocional por parte dos estudantes, estava associado a dificuldades em
lidar e gerir factores de stress, susceptibilidade em presenciar défices no apoio social e
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porventura um impacto negativo da ansiedade no seu desempenho individual, portanto, um
aumento significativo da ansiedade. Esta investigação mostrou também até que ponto o Traço
de Inteligência Emocional modera o efeito negativo da baixa capacidade cognitiva no
rendimento académico.
Além disso, uma elevada pontuação no auto-relato de auto-percepção do Traço de
Inteligência Emocional, esteve relacionada negativamente com o absentismo e também pelas
exclusões da escola por parte dos alunos que a frequentam. De tal forma que, crianças com
altos valores de Traço de Inteligência Emocional foram designadas, no geral, por serem mais
cooperantes assumindo comportamentos de liderança e nomeadas como menos agressivas e
dependentes dos pares. Por outro lado, em crianças que manifestavam um baixo índice de
Traço de Inteligência Emocional constatava-se o oposto. Em suma, as diferenças individuais
das crianças, no que diz respeito ao Traço de Inteligência Emocional, estiveram
fundamentalmente relacionadas pela forma como estas são percebidas pelos seus pares
(Petrides, et al. 2006).
O Traço de Inteligência Emocional, de um ponto de vista associativo para com a
Afectividade, demonstrou-se associado com a depressão e tomada de decisão no espectro
afectivo. (Mavroveli, et al. 2007; Mavroveli, et al. 2009).
Uma das principais dimensões do Traço de Inteligência Emocional, e da Inteligência
Emocional em geral é a Auto-Estima. Esta surgiu associada de uma forma fortemente negativa
com o Neuroticíssimo e Afectividade Negativa e relacionou-se moderadamente de uma forma
positiva com a Extroversão e Afectividade Positiva (Lonigan, Hooe, David & Kistner, 1999;
Watson, Suls & Haig, 2002). Houve também quem demonstrasse que quando um indivíduo
patenteia um baixo nível de Auto-Estima, de certa forma, este aspecto estava relacionado com
problemas de conduta, reflectindo-se em agressividade e também numa baixa adaptação
psicossocial em anos anteriores do seu desenvolvimento (Barry, Frick & Killian, 2003). Tal
como a Auto-Estima, o Auto-Controlo é uma arma fundamental na Inteligência Emocional.
Nos modelos de Traço de Inteligência Emocional, este aparece como um dos factores
relacionados com a maneira de ser, sociabilidade e emocionalidade, isto é, está associado com
a maneira como o indivíduo lida com as outras pessoas, ou com a relação entre pares, e com
as emoções positivas e negativas, dizendo respeito a traços que têm como funcionalidade
regular as emoções e os impulsos (Mikolajczak, Petrides & Hurry, 2009).
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17
João Miguel Abreu de Sousa e Silva
Inteligência Emocional em Crianças
Competência Sociais
Em termos de definição, competência social, pode ser determinada como um conjunto
de comportamentos num contexto interpessoal, no sentido de revelação de sentimentos,
atitudes, desejos, opiniões, direitos, entre outros. No global, um leque de variáveis que
promovem a gestão e resolução de problemas adversos com vista a uma minimização ou
alastrar de problemas futuros. (Matos, 1997).
Analisando o processo de aprendizagem normal da criança, a relação entre pares
assume um papel providencial, que segundo investigações anteriores, nomeadamente num
estudo realizado por Parker e Asher (1987), relacionou-se o impacto significativo destas no
desenvolvimento da criminalidade e abandono escolar em anos posteriores assim como outras
problemáticas.
Estas competências sociais, bem como as competências pessoais, poderão ser
trabalhadas através de programas de competências pessoais e sociais e programas de
prevenção (Cherniss, 2002) do ponto de vista impeditivo de situações como as descritas
anteriormente, nomeadamente nas escolas que se caracteriza como o epicentro do
desenvolvimento da criança, na medida em que é nesta que as crianças passam a maioria do
seu tempo. Vários estudos suportam esta ideia e foi outrora demonstrado que a qualidade das
interacções com os pares e adultos está positivamente correlacionada com a capacidade de
compreensão global das emoções, na medida em que, crianças consideradas como mais
populares entre os seus pares revelavam uma melhor compreensão e diferenciação emocional
no geral. Ao invés, crianças rejeitadas por os seus pares manifestavam problemas ao nível do
comportamento (Pons, Harris, Doudin, 2002). Também crianças e adolescentes referenciadas
por possuírem problemas de conduta, demonstraram patentear escassez de auto-compreensão
individual (Edens, Cavell & Hughes, 1999).
De um ponto de vista metódico é também pertinente salientar a diferença entre social
skills, denominadas por habilidades sociais, e social competences, ou Competênciais Sociais.
As habilidades sociais, de um modo sucinto, dizem respeito a uma manifestação dos
comportamentos particulares exteriorizados aquando a realização de uma tarefa desenvolvida
pelo indivíduo (McFall, 1982). Por outro lado, Gresham (1983), explicou esta variável como
sendo parte integrante das competências sociais no sentido em que se trata de um complexo
constructo e implica uma operacionalização destas ferramentas adequada ao contexto em que
são manifestadas. A competência social foi definida como um conjunto de variáveis
interligadas que englobam as diferenças individuais com o intuito de empregar a capacidade
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18
João Miguel Abreu de Sousa e Silva
Inteligência Emocional em Crianças
para atingir os resultados desejáveis nas situações sociais, apesar de ser importante ter em
conta o facto de a componente cognitiva inerente à Competência Social implicar, a prior, que
o sujeito possua conhecimento sobre as formas correctas de comportamento nas demais e
diversas situações avaliando similarmente o significado do modo como os outros se
comportam (Morrison, 2005).
Nesta medida, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas no sexo
feminino, ou seja, entre o grupo das raparigas designadas como populares e o grupo das
raparigas rejeitadas pelos seus pares, no âmbito da relação entre pares ao nível das
Competências Sociais. Foi demonstrado que as raparigas, quando sofrem rejeição pelos seus
pares, comparadas com outras raparigas, manifestam mais afectos negativos e menos
competências sociais, nomeadamente ao nível do comportamento Pró-Social. Este grupo de
raparigas e os seus pares revelaram fraca capacidade de resolução de conflitos e também
menos maturidade ao nível da personalidade. Em suma, verificou-se que o comportamento
individual das raparigas rejeitadas pelos pares diverge do comportamento das raparigas
consideradas populares ou aceites pelos pares, no que diz respeito ás relações interpessoais
(Landsford, Putallaz, Grimes, Schiro-Osman, Kupersmidt, Coie, 2006 ).
No geral, o comportamento Pró-Social pode ter uma base emocional de um ponto de
vista de adaptação positiva. Crianças caracterizadas pelos seus pares como detentoras de um
comportamento Pró-Social propendem a serem livres de emoções negativas (Eisenberg, et al.
1996).
Num estudo longitudinal realizado na China, com crianças inicialmente de doze anos
de idade que frequentavam o 6º ano de escolaridade, demonstrou-se que a sociabilização e a
orientação Pró-Social, apesar de dois factores que se sobrepõe do ponto vista teórico, se
revelam como distintas dimensões ao nível competência social. Especificamente, a orientação
Pró-Social estava relacionada, de um ponto de vista individual, com o ajustamento social,
escolar e a problemas de externalização. Por outro lado, a sociabilização relacionava-se com o
ajustamento emocional e problemas de internalização. De referir que estas duas dimensões
das competências sociais divergiam, segundos os autores deste estudo, em função dos factores
culturais a que as crianças estão expostas. Deste modo, a orientação Pró-Social relacionou-se
positivamente com a preferência dos pares, somente em crianças que possuem problemas com
os seus grupos de pares e por outro lado, negativamente com o isolamento social e a
depressão, nas crianças com problemas de espectro psicológico e factores de stress,
principalmente no grupo das raparigas (Chen, Li, Li, & Li, Liu, 2000).
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19
João Miguel Abreu de Sousa e Silva
Inteligência Emocional em Crianças
As raparigas, em investigações realizadas, revelaram em norma, exibir níveis mais
elevados de empatia e Comportamento Pró-Social comparativamente com os rapazes
(Hoffman, 1997; Eisenberg, et al. 1996; Boxer, Tisak, & Goldstein, 2004). Por outro lado, os
rapazes considerados agressivos e com problemas de conduta manifestando baixos índices de
comportamento Pró-Social e mais egocentrismo (Willner, 1991).
Ainda no que respeita à diferença entre géneros, ao nível das Competências Sociais, as
investigações sugerem que as raparigas, no âmbito escolar, depositavam mais energia nas
tarefas escolares, trabalhos de casa, e manifestavam-se mais atentas nas aulas entre outros
aspectos positivos, enquanto, ao invés, os rapazes revelaram problemas de conduta e
comportamentos agressivos, isto é, atitudes mais negativas na escola (Davies & Brember,
2001)
Num curioso estudo levado a cabo por Ollendick, Weist, Borden, Greene (1992),
constatou-se que neste âmbito, das Competências Sociais ao nível das crianças, que 25% das
crianças que foram rejeitadas pelos seus grupos de pares, consequentemente numa fase
posterior, abandonaram a escola, em comparação com os 8% de crianças que não foram
vítimas de rejeição pelos pares que prosseguiram dentro da normalidade a sua actividade
escolar.
Afectividade
No âmbito da Afectividade, esta surge nesta esfera, na literatura, dissociada em afecto
positivo e afecto negativo. De um modo sucinto e abrangente pode-se afirmar que o afecto
negativo estende-se a experiencias de humor negativo, isto é, medo, raiva, tristeza, entre
outras emoções negativas. Por outro lado, o afecto positivo deriva de experiencias de humor
aprazível, tais como, o interesse, entusiasmo ou alegria.
È importante desde já, estabelecer as diferenças entre afecto e humor. Neste sentido
Stone (1997) ofereceu uma interessante perspectiva ao realizar a distinção entre estas duas
variáveis, fazendo uma analogia entre estas e a estabilidade temporal em que ocorrem. Deste
modo, considerou-se que o afecto estava associado a estados emocionais mais curtos e o
humor, por seu turno, a estados emocionais mais duradouros.
Watson, Clarck e Carey (1988), com a finalidade de diferenciar, do ponto de vista
teórico, a Afectividade Positiva e a Afectividade Negativa, por intermédio de um estudo com
uma amostra do tipo clínica, evidenciaram que a Afectividade Negativa estava, de algum
modo, relacionada com a sintomatologia e diagnóstico da Ansiedade e Depressão e de um
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Inteligência Emocional em Crianças
ponto de vista mais específico assumia-se como um forte indicador de Perturbações
Psicológicas. Ao invés, a Afectividade Positiva, demonstrou uma relação negativa somente
com os sintomas e diagnóstico de Depressão.
Para consumar esta relação, foi levado a cabo um estudo com o objectivo de medir a
Afectividade Negativa e Afectividade Positiva, com crianças e adolescentes, e a relação destas
variáveis com os sintomas de ansiedade e depressão. Foi constatando que a Afectividade
Negativa estava significativamente associada com a ansiedade e a depressão, enquanto a
Afectividade Positiva se associou de uma forma mais significativa com a depressão do que
com os sintomas de ansiedade, convergindo com fundamentos anteriores (Lonigan, et al.
1999).
Watson & Tellegen (1985), através da estrutura bi-factorial do Afecto demonstraram,
de um modo complexo e perceptível, a relação entre o afecto positivo e afecto negativo com
outras emoções, de um ponto de vista hierárquico. O Afecto positivo e o afecto negativo
subdividem-se em Afecto Positivo Elevado ; Afecto Positivo Reduzido; Afecto Negativo
Elevado e Afecto Negativo Reduzido, constituindo os dois eixos principais deste modelo. Os
eixos secundários são constituídos pelo Prazer-Deprazer e o Forte e Fraco Desempenho. Em
suma, os termos, ou emoções, que se situam no octógono adjacente estão moderados e
positivamente correlacionados enquanto os termos situados no octógono oposto estão alta e
negativamente correlacionados. È importante salientar que o afecto positivo e o afecto
negativo não se correlacionam entre si, isto é, um aumento de um deles não significa
consequentemente a diminuição do outro.
Por outro lado, para uma melhor compreensão da relação entre a ansiedade e as
perturbações depressivas e os seus sintomas, Clarck e Watson (1991), desenvolveram um
modelo bastante elucidativo, denominado por modelo tripartido, tripartite model. Segundo
este modelo, a depressão caracteriza-se por um baixo nível de Afectividade Positiva, Positive
Affect, a ansiedade está associada a um elevado nível de excitação fisiológica, Physiological
Hyperarousal e nesta ordem de ideias, a depressão e a ansiedade no seu conjunto, formam um
factor não especifico caracterizado por Afectividade Negativa, Negative Affect. Com isto pôde
afirmar-se que a Afectividade Negativa prende-se essencialmente na sua essência com a
Depressão e Ansiedade, isto é, a ausência de sentimentos positivos, enquanto por outro lado, a
Baixa Afectividade Positiva relaciona-se com factores somente de Depressão.
Em suma, a Afectividade Negativa surgiu como um indicador de um possível
desenvolvimento de sintomas de perturbações de internalização, enquanto a Afectividade
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Inteligência Emocional em Crianças
Positiva emergiu como um indicador de um provável desenvolvimento de sintomas de
depressão. Isto é, as crianças com baixa Afectividade Positiva, porém com elevados níveis de
Afectividade Negativa predizem os sintomas de depressão, ao invés de crianças que
manifestam alta Afectividade Positiva, neste caso, a Afectividade Negativa não está associada
com possíveis sintomas de depressão (Joiner & Lonigan, 2000; Lonigan, Philips & Hooe,
2003).
As crianças emocionalmente negativas foram classificadas como menos aceites pelos
seus pares (Fabes & Eisenberg, 1992)
Enfatizando a relação entre o afecto positivo e as competências socais, numa
investigação com o objectivo de focar a qualidade dos afectos expressados entre os pais e a
criança e também as competências sociais da criança com os seus pares, no âmbito da sua
interacção, foi demonstrado que as crianças que expressam afectos positivos perante os seus
pais foram classificados pelos seus professores e pelos seus grupos de pares como sendo mais
competentes socialmente, efectivamente, é de realçar a importância dos afectos na interacção
entre os pais e filhos, de tal forma que o afecto parental está intimamente associado ao
funcionamento social das crianças com os seus pares (Isley, O´Neil, Clatfelter & Parke, 1999)
Partindo do modelo do Traço de Inteligência Emocional que refere que o Traço de
Inteligência Emocional está ligado a permutações dos traços de personalidade (Vernon, et al.
2008) e fundamentalmente associado aos aspectos afectivos da personalidade (Petrides, et al.
2006), assumindo-se como independente da capacidade cognitiva, mas convergente com os
critérios sociais e emocionais (Mavroveli, et al. 2009), no qual adolescentes com um alto
índice de Traço de Inteligência Emocional no geral, através dos relatos de auto-percepção,
foram caracterizados por possuírem comportamento Pró-Social (Mavroveli et al. 2007;
Petrides, et al. 2004; Petrides, et al. 2006), existindo também correlações com a Afectividade,
nomeadamente com a depressão no espectro afectivo (Mavroveli, et al. 2007; Mavroveli, et al.
2009) o objectivo deste estudo é investigar a influência das competências sociais e a
afectividade, na Inteligência Emocional em crianças.
È esperado que o Traço de Inteligência Emocional no geral, não na soma dos seus
factores mas no seu conjunto, seja influenciado pela Afectividade Positiva e pelo
Comportamento Pró-Social. Espera-se também que crianças com uma maior Afectividade
Positiva possuam uma Auto-Estima elevada, e ao nível das Competências Sociais, as
raparigas sejam caracterizadas por possuírem um Comportamento Pró-Social ao invés dos
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Inteligência Emocional em Crianças
rapazes em que é esperado manifestarem através dos seus auto-relatos, Problemas ao nível do
Comportamento e de Relação com os pares.
Método
Participantes
Neste estudo participaram 304 crianças de ambos os sexos, com uma média de idades
de 10.49 (DP= 1.28), 159 do sexo masculino e 145 do sexo feminino, as quais constituíram
uma amostra de conveniência.
De acordo com os dados sócio-demográficos todos os inquiridos são estudantes, sendo
que aproximadamente 12% frequentam o 3º ano de escolaridade (N=35), 11% frequentam o 4º
ano de escolaridade (N=33), a maioria frequenta o 5º ano de escolaridade, 52% (N= 159) e
25% frequentam o 6º ano de escolaridade (N=77).
Quanto à Lateralidade, constatou-se que a grande maioria dos inquiridos escreve com
a mão direita, 91% (N= 277), e os restantes são ambidextros na escrita, 9% (N= 27).
Medidas
È parte constituinte deste protocolo um pequeno questionário demográfico, no qual
pretendo avaliar variáveis como: Sexo; Idade; Lateralidade; ano de escolaridade.
Inteligência
Emocional.
Avaliada
pelo
Trait
Emotional
Intelligence
Questionnaire_Children Form, Questionário de Traço de Inteligência Emocional para
crianças (TEI-Que - CF) que é um questionário de auto-relato e foi desenvolvido por
Mavroveli, Petrides, Shove & Whitehead (2008). Provém do original TEIQue.
O TEIQue-CF é composto no seu total por 75 itens, com resposta do tipo Likert de 5
pontos, cujas categorias de resposta variam entre 1 (“Discordo Completamente”) até 5
(“Concordo Completamente”). O TEIQue-CF apresenta 9 subescalas: Adaptabilidade;
Carácter Afectivo; Expressão Emocional; Percepção Emocional; Regulação Emocional; Baixa
Impulsividade; Relação com os pares; Auto-Estima e Auto-Motivação.
No que diz respeito às qualidades psicométricas, no geral, apresenta valores de
consistência interna de .76 e de estabilidade temporal .79, acima do limiar de normalidade,
revelando-se assim aceitáveis.
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Afectividade positiva e negativa. Avaliada pelo Positive and Negative Affect Schedule para
Crianças e Adolescentes (PANAS-N; Sandin, 1997), uma medida de auto-avaliação da
afectividade positiva e negativa em crianças e adolescentes. O PANAS-N é composto por 20
items, com um formato de resposta numa escala de Likert de três pontos, cuja resposta varia
de 1 (Nunca) até 3 (Muitas vezes), os quais se agrupam em duas dimensões, constituídas por
10 itens cada: afectividade positiva (20, 7, 4, 18, 15, 8, 11, 2, 6, 13) e afectividade negativa
(19, 9, 12, 14, 1, 5, 10, 17, 1, 3). Esta medida permite obter dois resultados que variam entre
10 e 30, dados pelo somatório das respostas aos itens relevantes para cada dimensão, variando
os resultados no sentido de um índice mais elevado de afectividade positiva e afectividade
negativa.
Quanto às suas qualidades psicométricas, a análise da fidelidade das dimensões
obtidas evidenciou valores α de Cronbach iguais a .83 e .76 para a afectividade negativa e
para a afectividade positiva, respectivamente. Os valores de correlação média entre items
obtidos estiveram compreendidos entre .20 e .40, e os valores da amplitude da correlação
entre o item e o total foram superiores a .30, demonstrando a consistência interna e a
homogeneidade dos constructos.
Competências Sociais. Avaliadas pelo Questionário de Capacidades e Dificuldades
(SDQ), que é um questionário de auto-relato, desenvolvido por Goodman (1997) e engloba 25
itens que se referem a atributos positivos e negativos. A resposta é do tipo Likert de 3 pontos,
cuja categoria de resposta varia entre 1 (“Não é verdade”) até 3 (“é muito verdade”). Os 25
itens dividem-se em 5 escalas, são estas: Sintomas Emocionais (5 items); Problemas de
conduta (5 items); Hiperactividade/Défice de atenção (5 items); Problemas de relação de
pares (5 items); Comportamento Pró-Social (5 items).
No âmbito das qualidades psicométricas, coeficientes encontrados são satisfatórios e
encontram-se no geral acima do limiar de normalidade: Total de Dificuldades .80; Sintomas
Emocionais .66); Problemas de Conduta .60; Hiperactividade/ Défice de Atenção .67;
Comportamento Pró-Social .66; Impacto .81, Problemas de Relação com os Pares .41.
A estabilidade temporal apresentou valores satisfatórios para a hiperactividade /défice
de atenção, na ordem dos .62 e .60 respectivamente.
Procedimento
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Inteligência Emocional em Crianças
Depois de o devido consentimento, autenticado pelos progenitores das crianças
participantes neste estudo, no qual foi explicado a natureza, objectivo e finalidade deste
estudo, bem como a confidencialidade e anonimato dos intervenientes e todas as questões
éticas inerentes a este processo, realizou-se a aplicação do protocolo. O Protocolo foi
constituído por um pequeno consentimento informado, no qual transmiti o objectivo do
estudo, a confidencialidade das respostas, o facto de não haver respostas certas nem erradas e
pedi aos inquiridos que respondessem com sinceridade.
Com isto, foi realizado um estudo correlacional, pretendendo-se estudar as relações
entre as vaiáveis associadas, e Transversal, porque todas as avaliações serão feitas num único
momento, não existindo, portanto, período de seguimento dos indivíduos.
Resultados
Os dados foram introduzidos numa base de dados, tendo os procedimentos estatísticos
sido efectuados através do Statistical Package for Social Sciences (S.P.S.S.) 17.0 para o
Windows.
Com o objectivo de analisar a estrutura factorial do TEIQue_CF, foi efectuada uma
análise factorial exploratória em componentes principais, com rotação varimax, incluindo
todos os itens que compunham a medida.
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Inteligência Emocional em Crianças
Tabela 1 - Análise factorial exploratória em componentes principais aos itens do TEIQue_CF
Consciência
das próprias
emoções
negativas
63 – Habitualmente estou de mau humor
.71
21 – Fico frequentemente perturbado
.62
59 – Zango-me com muita facilidade
.62
22 – Frequentemente penso coisas más acerca do futuro
.60
44 – Habitualmente digo coisas que não quero
.60
31 – Estou muitas vezes confuso em relação ao que sinto
.60
29 – Não consigo controlar a minha irritação
.59
51 – Frequentemente, não estou feliz comigo
.58
68 – Sinto-me muitas vezes zangado
.57
72 – Muitas vezes faço coisas sem pensar
.54
71 – Penso que vou ficar triste quando crescer
.54
47 – Entro frequentemente em brigas
.51
37 – Frequentemente sinto-me triste
.48
61 – Não sou muito bom a controlar o modo como me sinto
.48
53 – Tenho dificuldades em compreender o que os outros sentem
.47
65 – Não sei como falar acerca dos meus sentimentos
.46
67 – Não gosto de ir para lugares onde nunca estive
.44
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Auto-Estima
26
Consciência Autodas
Eficácia
emoções
dos outros
AutoControlo
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41 – Faço o que me apetece sem pensar muito
.43
26 – Não gosto de me esforçar muito para atingir algo
.41
9 – Se não faço bem, não gosto de tentar fazer as coisas outra vez
.41
56 – Não gosto de tentar fazer coisas novas
.40
3 – Fico irritado sem saber porquê
.39
18 – Tenho dificuldade em começar um ano lectivo novo
.38
24 – Não gosto de ajudar os outros
.35
19 – Sou um jovem muito feliz
.68
35 – Habitualmente estou feliz
.65
40 – Gosto muito de mim
.63
57 – Os meus colegas na escola gostam de jogar comigo
.62
23 – Tenho muitos amigos
.61
46 – Dou-me bem com todos
.55
58 – Gosto da minha aparência
.54
32 – A maioria das pessoas gosta de mim
.54
10 – Sinto-me bem comigo
.51
14 – Faço novos amigos com facilidade
.40
2 – Tenho facilidade em mostrar como me sinto
.38
27 – Tento sempre estar de boa disposição
.37
66 – Habitualmente não discuto com outros jovens
.31
1 – Quando me sinto triste tento manter-me ocupado
.31
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16 – Habituo-me facilmente a coisas novas
.31
4 – Quando alguém me irrita digo-lhe alguma coisa
.13
62 – Consigo ver quando alguém está zangado
.57
49 – Compreendo muito bem como as outras pessoas se sentem
.57
55 – Se estou feliz com alguém digo-lhe
.54
60 – Acostumo-me rapidamente a novas pessoas
.53
30 – Consigo ver quando um amigo meu está triste
.48
20 – Interesso-me pelos problemas dos meus amigos
.45
48 – Sei como mostrar aos outros quanto gosto deles
.45
36 – Gosto de estar com outras pessoas
.45
64 – È fácil para mim compreender como me sinto
.44
45 – Habituo-me facilmente a locais novos
.40
17 – Gosto de conhecer novas pessoas
.39
38 – Habitualmente sei exactamente o que estou a sentir
.39
54 – Quando me sinto triste faço algo para alterar a minha disposição
.38
43 – Sou bom na maioria das coisas que faço
.38
50 – Se estou triste tento pôr uma cara alegre
.34
70 – Gosto de trabalhar com outros colegas
.29
52 – Se um teste não corre bem, esforço-me mais na próxima vez
.60
33 – Tento fazer os meus trabalhos de casa o melhor que consigo
.60
25 – Tento fazer o meu melhor nos testes e nos exames da escola
.58
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6 – Não gosto muito de estudar
-.57
7 – Tento sempre melhorar na escola
.57
15 – Não gosto de falar com jovens que não conheça
.43
42 – Evito actividades e jogos perigosos
.41
75 – Não gosto de estar em casa
-.40
39 – Quero fazer tudo bem
.37
5 – Se fico zangado com alguém, tento não pensar nisso
.34
74 – Não arranjo palavras para dizer aos outros o que sinto
.34
28 – Consigo facilmente mostrar os meus sentimentos
-.28
69 – Habitualmente penso cuidadosamente antes de falar
.64
11 – Penso com muito cuidado antes de fazer algo
.56
8 – Quando tenho de fazer algo, sei que consigo fazer muito bem
.37
13 – Não me preocupo se tiver que dormir uma noite fora de casa
-.37
73 – Acho fácil falar acerca dos meus sentimentos
.31
12 – Quando quero alguma coisa, quero-a logo na altura
-.31
Valores Próprios
7.294
6.136
4.803
4.118
2.640
Variância Explicada
9.725
8.182
6.404
5.490
3.521
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Através da análise dos componentes principais e com base na regra de Kaiser foi
retida uma solução de cinco factores, teoricamente interpretáveis, que explicaram
aproximadamente 33% da Variância Total.
A Tabela 1 revela a saturação dos itens nos respectivos factores. O primeiro factor
ficou composto por 25 itens que avaliaram a Consciência das próprias emoções negativas,
com uma variância explicada de cerca de 9.725. O segundo factor ficou composto por 16 itens
que avaliaram a Auto-Estima, com uma variância explicada de cerca de 8.182. O terceiro
factor, que avaliou a Consciência das emoções dos outros, ficou composto igualmente por 16
itens, com uma variância explicada de cerca de 6.404. O quarto factor ficou composto por 12
itens que avaliaram a Auto-Eficácia, os quais explicaram cerca de 5.490 da variância total. Por
último, o quinto factor ficou desta forma composto por 6 items que avaliaram o AutoControlo, com uma variância explicada de cerca de 3.521.
Tabela 2 – Análise da fidelidade das dimensões do TEIQue_CF
Alpha de
Cronbach
Correlação
Média entre
itens
Amplitude da
Correlação
Item-Total
Consciência das próprias .889
emoções negativas
.24
.03 - .52
Auto-Estima .818
.23
.002 - .50
Consciência das emoções dos .825
outros
.23
.03
Auto-Eficácia .699
.18
.001
- .46
Auto-Controlo .478
.15
.001
- .48
- .50
A Análise da Fidelidade das dimensões obtidas evidenciou valores de α de Cronbach
de .89, para a Consciência das próprias emoções negativas, .82, para a Auto-Estima, .83, para
a Consciência das emoções dos outros, .70, para a Auto-Eficácia e .49, para o Auto-Controlo.
Os valores de correlação média entre items obtidos estiveram compreendidos entre .15 e .24, e
os valores da amplitude da correlação entre o item e o total estiveram compreendidos entre
.001 e .52, demonstrando a consistência interna.
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Tabela 3 – Tabela das correlações entre os factores do TEIQue_CF
CPEN
AE
CEO
AEf
CPEN
1
AE
-.337***
1
CEO
-.275***
.645***
1
AEf
-.163**
.222***
.302***
1
AC
-.211***
.348***
.278***
.128*
AC
1
p ≤ .05 *; p ≤ .01 **; p ≤ .001***
CPEN- Consciência das Próprias Emoções Negativas; AE- Auto-Estima; CEO – Consciências
das emoções dos outros; AEf – Auto-Eficácia; AC- Auto-Controlo
A associação entre os cinco factores obtidos através da análise factorial exploratória,
foi estudada através do coeficiente de correlação de Pearson, tendo os resultados obtidos
evidenciado uma correlação negativa mas estatisticamente significativa entre a Consciência
das próprias emoções negativas e a Auto-Estima, r = -.34; p = .000, entre a Consciência das
próprias emoções negativas e a Consciência das emoções dos outros ,r = -.28; p = .000, entre
a Consciência das próprias emoções negativas e a Auto-Eficácia, r = -.16; p = .004, e entre
Consciência das próprias emoções negativas e o Auto-Controlo, r = -.21; p = .000. Foram
também encontradas correlações positivas e estatisticamente significativas entre a AutoEstima e a Consciência das emoções dos outros, r = .65; p = .000, entre a Auto-Estima e a
Auto-Eficácia, r = .22; p = .000, entre a Auto-Estima e o Auto-Controlo, r = .35; p = .000,
entre a Consciência das emoções dos outros e a Auto-Eficácia, r = 30; p = .000, entre a
Consciência das emoções dos outros e o Auto-Controlo, r = .28; p = .000, e por último entre a
Auto-Eficácia e o Auto-Controlo, r = .13; p = .025. (Tabela 3)
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31
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Inteligência Emocional em Crianças
Tabela 4 – Diferenças entre géneros para a InteligênciaEmocional
M
DP
Consciência Masculino 159
das próprias
emoções Feminino 145
negativas
68.2830
16.35064
64.4138
14.65226
Auto-Estima Masculino 159
60.6918
8.14268
145
62.2276
8.50469
Consciência Masculino 159
das emoções
dos outros Feminino 145
60.4403
8.67091
62.6552
7.34316
Auto- Masculino 159
Eficácia
Feminino 145
43.2264
6.59874
45.0828
6.23554
Auto- Masculino 159
Controlo
Feminino 145
18.8050
3.58174
Sexo
Feminino
N
18.4069
t
Sig.
2.175
.310
-1.608
.109
-2.392*
.017
-2.515*
.012
.976
.330
3.52274
p ≤ .05 *
Para estudar a diferença entre os grupos dos rapazes e das raparigas no Traço de
InteligênciaEmocional, Afectividade e Competências Sociais foram comparadas médias
destas variáveis através do teste estatístico de t Student.
No que respeita ao Traço de InteligênciaEmocional, avaliado pelo TEIQue_CF, foram
encontradas diferenças significativas entre o grupo dos rapazes e o grupo das raparigas na
Consciência das emoções dos outros, t (145) = -. 239; p =. 017, e na Auto-Eficácia, t (145) = . 252; p =. 012. As raparigas apresentaram índices mais elevados de Consciência das emoções
dos outros, M= 62.7; DP= 7.34, e na Auto-Eficácia, M= 45.1; DP= 6.24, comparativamente
com os rapazes. Nos restantes factores, Consciência das próprias emoções negativas, AutoEstima e Auto-Controlo não foram encontradas diferenças significativas entre os sexos, p >
.05.
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Inteligência Emocional em Crianças
Tabela 5 – Diferença entre géneros para a Afectividade
M
DP
Afectividade Masculino 159
Positiva
Feminino 145
23.6038
3.44765
24.2000
3.63738
Afectividade Masculino 159
Negativa
Feminino 145
17.2830
4.55783
16.9793
4.05940
Sexo
N
t
Sig.
-1.467
.143
.611
.542
No que diz respeito à Afectividade, avaliada pelo PANAS-N, não foram encontradas
diferenças significativas entre os sexos, p > .05.
Tabela 6 – Diferença entre géneros para as Competências Sociais
Sexo
N
M
DP
Sintomas Masculino 159
Emocionais
145
Feminino
8.5157
2.25819
8.6414
1.99540
Problemas de Masculino 159
Conduta
Feminino 145
8.5346
2.03383
7.7241
2.00168
Hiperactividade Masculino 159
/ Défice de
Atenção Feminino 145
10.3270
1.74841
10.0759
1.87114
Problemas de Masculino 159
Relação com os
Pares Feminino 145
10.6289
1.53257
9.7034
1.52809
Comportamento Masculino 159
Pró-Social
Feminino 145
12.5975
1.86954
13.2483
1.73017
t
Sig.
-.512
.609
3.496**
.001
1.210
.227
5.266***
.000
-3.141**
.002
p ≤ .01 **; p ≤ .001***
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Inteligência Emocional em Crianças
No que diz respeito às Competências Sociais avaliadas pelo SDQ, e para estudar uma
das hipóteses presentes neste estudo, foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas entre os rapazes e raparigas nas escalas Problemas de Conduta (t (159) = 3.496;
p =. 001), nos Problemas de Relação com os pares, t (159) = 5.266; p =. 000, e no
Comportamento Pró-Social, t (145) = -3.141; p =. 002.
Os rapazes apresentaram índices mais elevados nos Problemas de Conduta, M= 8.53;
DP= 2.03, e nos Problemas de Relação com os pares, M= 10.6; DP= 1.53, comparativamente
com as raparigas. As raparigas apresentaram índices mais elevados na escala Comportamento
Pró-Social (M= 13.2; DP= 1.87), comparativamente com os rapazes (M= 12.6; DP= 1.87).
Tabela 7 – Correlações das Competências Sociais e Afectividade na InteligênciaEmocional
Inteligência
Emocional
(TEIQue_CF)
CPEN
AE
CEO
AEf
AC
Afectividade (PANASN)
Afectividade
Positiva
-.391***
.475***
.471***
.183***
.192***
Afectividade
Negativa
.561***
-.305***
-.153**
.031
-.130*
Competências Sociais
(SDQ)
Sintomas
Emocionais
.516***
-.168**
-.040
.133*
-.017
Problemas de
Conduta
.
494***
-.271***
-.148**
.018
-.155**
Hiperactividade /
Défice de Atenção
.288***
.042
.147*
.064
-.032
Problemas de Relação
com os Pares
.381***
-.102
-.029
.057
.006
.378***
.414***
.267***
.235***
Comportamento
Pró-Social
-.289***
p ≤ .05 *; p ≤ .01 **; p ≤ .001***
CPEN- Consciência das Próprias Emoções Negativas; AE- Auto-Estima; CEO – Consciências
das emoções dos outros; AEf – Auto-Eficácia; AC- Auto-Controlo
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Inteligência Emocional em Crianças
Como foi demonstrado na Tabela 7 através do coeficiente de correlação de Pearson
no que diz respeito às correlações entre as três variáveis no que diz respeito à influência da
Afectividade e das Competências Sociais na Inteligência Emocional enquanto Traço de
Personalidade,
a
Consciência
das
próprias
emoções
negativas
correlacionou-se
negativamente com a Afectividade Positiva, r = -.391; p ≤ .001, e com o Comportamento PróSocial, r = -.289; p ≤ .001, e positivamente com a Afectividade Negativa, r = .561; p ≤ .001,
Sintomas Emocionais, r = .516; p ≤ .001, Problemas de Conduta, r = .494; p ≤ .001,
Hiperactividade / Défice de Atenção, r = .288; p ≤ .001, Problemas de Relação com os pares,
r = .381; p ≤ .001.
Avaliando uma das hipóteses presentes neste estudo relacionado a Auto-Estima com
a Afectividade Positiva, os resultados demonstraram que a Auto-Estima se correlacionou
positivamente com a Afectividade Positiva, r = .475; p ≤ .001. Correlacionou-se também
positivamente com o Comportamento Pró-Social, r = .378; p ≤ .001, e negativamente com a
Afectividade Negativa, r = -.305; p ≤ .001, Sintomas Emocionais, r = -.168; p ≤ .001, e com
Problemas de Conduta, r = -.271; p ≤ .001.
O Factor Consciência das emoções dos outros correlacionou-se positivamente com a
Afectividade Positiva, r =. 471; p ≤ .001, Hiperactividade / Défice de Atenção, r = .147; p ≤
.05, e Comportamento Pró-Social, r = .378; p ≤ .001, e correlacionou-se negativamente com a
Afectividade Negativa e Problemas de Conduta, r = -.153; p ≤ .01, r= -.148; p ≤ .01,
respectivamente.
A Auto-Eficácia correlacionou-se positivamente com a Afectividade Positiva, r =
.183; p ≤ .001, Sintomas Emocionais, r = .133; p ≤ .05, e com o Comportamento Pró-Social, r
= .267; p ≤ .001.
O quinto factor, Auto-Controlo, correlacionou-se positivamente com a Afectividade
Positiva e com o Comportamento Pró-Social, r = .192; p ≤ .001, r = .235; p ≤ .001,
respectivamente.
No conjunto dos factores do Traço de Inteligência Emocional e avaliando a primeira
hipótese presente nesta investigação, verificou-se que o Traço de Inteligência Emocional
correlacionou-se de um modo bastante significativo com a Afectividade Positiva e com o
Comportamento Pró-Social.
Discussão
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João Miguel Abreu de Sousa e Silva
Inteligência Emocional em Crianças
O Presente estudo tinha como objectivo investigar as influências das Competências
Sociais e Afectividade na Inteligência Emocional em crianças, através do Traço de
Inteligência Emocional. Para o efeito, primeiramente foi analisada a estrutura factorial da
medida TEIQue_CF, Trait Emotional Intelligence Questionnaire_ Children Form, que
originalmente apresenta uma estrutura unifactorial com nove sub-escalas (Mavroveli, et al.
2008).
Pode-se afirmar, em prol dos resultados obtidos neste estudo, nomeadamente na
solução factorial encontrada para o TEIQue_CF, que a Inteligência Emocional enquanto
Traço, ligado a permutações da personalidade, tal como indicam várias investigações
realizadas neste sentido (Petrides, et al. 2007; Vernon et al. 2008; Petrides, et al. 2006),
engloba a percepção emocional, que especificamente se pode atribuir o nome de uma
consciência tanto das próprias emoções como as dos outros, variável presente em alguns
estudos (Mayer & Salovey, 1997, 1999; Bar-On, 2000), sendo que a Consciência das
próprias emoções negativas, converge de certa forma com a emocionalidade negativa ou
humor negativo, variável presente na literatura nesta área (Mavroveli, et al. 2007). O traço de
Inteligência Emocional abrange também, a Auto-estima, variável presente em vários modelos
de Inteligência Emocional (Mikolajczak, et al. 2009; Zigler e Trickett 1978), bem como o
Auto-Controlo (Mikolajczak, et al. 2007; Petrides, et al. 2007; Bar-On, 2000) e a AutoEficácia, podendo esta ultima ser descrita paralelamente como uma Auto-Motivação,
analisando os items desta medida, e defendida por alguns autores como uma dimensão da
Inteligência Emocional (Goleman, 1999; Zigler e Trickett 1978).
Partindo do modelo do Traço de Inteligência Emocional, no qual adolescentes com um
alto índice de Traço de Inteligência Emocional no geral, através dos relatos de autopercepção, foram caracterizados por possuírem um comportamento Pró-Social e redução no
impacto negativo da ansiedade no desempenho individual, demonstrando-se o Traço de
Inteligência Emocional relacionado com a Afectividade nomeadamente com a depressão no
espectro afectivo (Mavroveli, et al. 2007; Petrides, et al. 2006; Petrides 2004), tendo em conta
que crianças com baixa afectividade positiva porém com elevados níveis de Afectividade
negativa poderão contrair sintomas depressivos e por outro lado, quando as crianças
manifestam alta Afectividade Positiva neste caso a Afectividade Negativa não está associada
com a depressão, tal como referem alguns autores (Joiner & Lonigan, 2000; Lonigan, et al.
2003). Com isto, os resultados obtidos nesta investigação foram no geral de encontro a
estudos anteriormente realizados.
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36
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Inteligência Emocional em Crianças
Ao nível das diferenças entre géneros, na Inteligência Emocional, os rapazes
demonstraram que ao nível das Competências Sociais, revelavam Problemas de conduta e
Problemas de Relação com os pares (Davies & Brember, 2001; Willner, 1991),
comparativamente com as raparigas, o que vai de encontro aos estudos realizados nesta área
por vários autores. (Petrides, et al. 2006; Mavroveli, et al. 2008).
As raparigas, por sua vez, em comparação com os rapazes foram caracterizadas por
possuir elevados índices Comportamento Pró-Social, o que foi constatado na literatura
(Hoffman, 1997; Eisenberg, et al. 1996; Boxer, et al. 2004; Landsford, et al. 2006 ).
De um modo geral, o Traço de Inteligência Emocional, na globalidade dos seus
factores, surgiu associado fortemente à Afectividade Positiva bem como ao Comportamento
Pró-Social, isto é, uma maior a Afectividade Positiva e um mais frequente Comportamento
Pró-Social associou-se a um maior Traço de Inteligência Emocional, o que está patente nos
estudos levados a cabo por vários investigadores referentes a esta temática (Petrides, et al.
2006; Mavroveli, et al. 2007; Mavroveli, et al. 2009). De referir que apenas o primeiro factor,
a Consciência das Próprias Emoções negativas, que embora tenha surgido fortemente
associado à Afectividade Positiva e ao Comportamento Pro-Social, a par de todos os outros
factores, mas associou-se de uma forma negativa. Especificamente, os resultados
demonstraram que a Consciência das Próprias emoções negativas estavam associadas
positivamente com a Afectividade Negativa, o que vai de encontro às descobertas de Cole
(1991) que demonstrou que a criança quando tinha uma consciência das próprias emoções
negativas, acentuavam-se os factores depressivos. Também crianças que possuíam Problemas
de relação com os pares tinham uma maior Consciência das próprias emoções negativas
(Fobes & Eisenberg, 1992; Bell-Dolan, et al. 1993; Eisenberg, et al. 1996; Denham, 1986).
Por outro lado, quando o Comportamento Pró-Social estava patente nas crianças, havia uma
baixa Consciência das Próprias Emoções Negativas o que foi fundamentado em paralelo por
alguns autores nesta área da Inteligência Emocional (Eisenberg, et al. 1996).
Ficou também demonstrado neste estudo que a Auto-Estima se associou com
Afectividade Positiva (Lonigan, et al. 1999; Watson, Suls & Haig, 2002) e Comportamento
Pró-Social e por outro lado, com os Problemas de Conduta mas de uma forma negativa, isto
é, estas competências sociais vão influenciar positiva e negativamente, respectivamente, a
Auto-Estima nas crianças (Barry, et al. 2003; Mikolajczak, et al. 2009)
A Consciência das emoções dos outros verificou-se associada com Comportamento
Pró-Social, o que vai de encontro aos fundamentos relatados por Denham (1986).
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Também o Auto-controlo se demonstrou ser influenciado pelo Comportamento PróSocial o que vai de encontro aos fundamentos de Roberts & Strayer (1996) que demonstraram
que o auto-controlo de emoções como a raiva, promovia o comportamento Pró-Social.
Apesar de este estudo poder vir a ser uma ferramenta útil em investigações futuras no
âmbito da Inteligência Emocional, existem várias limitações, entre as quais o facto de este
protocolo ser constituído por medidas de auto-percepção, o que pode constituir um factor de
enviesamento na medida que pode haver distorções nas auto-percepções das crianças, tal
como afirmam alguns autores (Mavroveli, et al. 2008). Outro dado importante realçar, prendese com o facto de que o TEIQue-CF ser uma medida relativamente recente com poucos
estudos realizados, a qual ainda não possui uma estrutura factorial universal e unânime,
possuindo uma estrutura originalmente unifactorial, o que para a amostra deste estudo não se
verificou, encontrando-se uma solução para cinco factores. Também é importante salientar a
escassez de estudos realizados no âmbito da Inteligência Emocional em Portugal, o que não
permite de todo, uma abordagem complexa e objectiva das dimensões desta variável
associadas á população portuguesa de um ponto de vista replicativo.
Neste âmbito em investigações futuras seria pertinente uma amostra mais alargada
para uma análise factorial mais objectiva e precisa com vista a uma correlação mais exacta
com outras variáveis.
Conclusão
O Objectivo deste trabalho consistiu em estudar as influências das Competências
sociais e a Afectividade, na Inteligência Emocional em crianças. Refira-se que a Inteligência
Emocional foi operacionalizada enquanto constructo através do Traço de Inteligência
Emocional como Traço de Personalidade. No âmbito das hipóteses, neste estudo era esperado
que o Traço de Inteligência Emocional no geral, não na soma dos seus factores mas no seu
conjunto, fosse influenciado pela Afectividade Positiva e pelo Comportamento Pró-Social.
Esperava-se também que crianças com mais Afectividade Positiva manifestassem uma AutoEstima elevada, e ao nível das Competências Sociais as raparigas fossem caracterizadas por
possuir um elevado Comportamento Pró-Social e por outro lado, os rapazes manifestassem
através dos seus auto-relatos, Problemas ao nível do Comportamento e de Relação com os
pares.
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Pode-se afirmar que as hipóteses apresentadas foram todas confirmadas, apresentando
alguma consistência em estudos realizados anteriormente por diversos autores.
Em suma, esta investigação poderá constituir uma útil ferramenta nesta área ajudando
a uma melhor clarividência do estudo da Inteligência Emocional enquanto Traço de
personalidade, bem como, clarificar a estrutura factorial do TEIQue_CF, isto devido aos
poucos estudos realizados em Portugal com esta medida de auto-percepção.
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