Festa dos Discípulos de NPS Bento: Mauro e Plácido 15 de janeiro

Transcrição

Festa dos Discípulos de NPS Bento: Mauro e Plácido 15 de janeiro
Festa dos Discípulos de NPS Bento:
Mauro e Plácido
15 de janeiro de 2016.
Caríssimos irmãos:
A festa de São Mauro e São Plácido, discípulos de
NPS Bento – jovens monges da comunidade nascente de
Subiaco – cuja memória celebramos a 15 de janeiro, nós
beneditinos, a chamamos de “Dia dos Noviços”.
Há muitos anos, nessa festa do noviciado, temos
acentuado um aspecto do relato de São Gregório Magno
sobre a vida de São Bento com o episódio de Mauro e
Plácido da seguinte forma: o Mosteiro de São Bento se
compõe de Mauros, Plácidos e o Abade.
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Os Mauros representam os monges já consagrados
que sabem o que significa o “bem da obediência”
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e os
Plácidos, os formandos, aqueles que ingressam nas fileiras
fraternas para aprender “a humildade da renúncia que faz
parte da essência do amor”.2 Ambos sob o olhar terno e
pedagogo do Abade, que deve ter o “pio afeto de um pai e
a severidade de um mestre” 3. Este é o ideal de uma comunidade de monges que se põe na “sequela Christi” , sob
a Regra de São Bento.
Um ideal, como bem o sabemos, é como um ímã,
com sua força de atração indomável. Portanto, perder, desfigurar ou obnubilar um ideal como este – monges de São
Bento na Igreja – é reagir à força de atração natural e sobrenatural que o Cristo e seu Evangelho exercem sobre
todos os decididos a viver o Sacramento do Batismo no
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Regra de São Bento, Cap 71,1
PP Bento XVI, Homilia da Noite de Natal de 2006
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Regra de São Bento, Cap 2,24
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2
espaço que a Igreja lhes oferece: a vida monástica de seu
mosteiro.
Quando um ideal é límpido e indiscutivelmente aceito
como vital e sem restrições, erros e fragilidades poderão
atrasar os passos numa caminhada, mas jamais desviá-los
do percurso a ser percorrido e à meta a ser atingida.
A tentação, muitas vezes, ao longo da peregrinação
desta vida de amor a Deus e ao próximo é mudar de ideal,
até para apaziguar a consciência. Adequamos o ideal à
nossa vida e não nossa vida ao ideal. O resultado dessa
realidade é desânimo, desesperança, mundanidade, orgulho
empedernido e, até mesmo, heresia na profissão de fé.
Por conseguinte, dada a suma importância do ideal
de vida monástica cristã – e isso não é tão óbvio assim,
pois uma comunidade poderá viver sem esse ideal ou substitui-lo por outros – o Abade com seus monges deverá, por
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todos os meios, mantê-lo, apesar das dificuldades e desafios constantes e inéditos. Sua comunidade subsistirá no
tempo, qual barca agitada pelos ventos e tempestades deste mundo, se custodiá-lo qual precioso tesouro herdado de
seus Maiores, qual pérola manchada pelo sangue de tantos
que o defenderam até a morte; qual frasco de cristal, que
ao longo dos séculos soube manter a fragrância do perfume de seus inúmeros santos.
Quando deixamos de acreditar nesse tesouro – o ideal da vida monástica – então, o perigo nos ameaça a todos.
Vivendo de juros da glória de nossos antepassados nos
valemos desse fato para um status na sociedade e na Igreja, e, em comunidades economicamente abastadas, legitimar
por um pseudo direito, o mau uso de seus recursos, existentes também para, conforme a Tradição, o auxílio dos
pobres, acolhimento dos hóspedes, disponibilidade de tempo
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e investimento num qualificado conhecimento para atendimento espiritual, estudo, ensino e responsável beneficência
social.
Contando com o apoio e a dedicação dos Mauros, o
Abade, aberto à graça de Deus, saberá passar a Tradição
Monástica aos Plácidos com um elemento imprescindível
nesse empreendimento: a vibração.
Uma comunidade monástica que não educa os Plácidos para o verdadeiro ideal de vida monástica com vibração, porque seus membros não sabem ou se recusam a
aceitar ser ele um dom e privilégio de poucos estar nesse
espaço eclesial, estará fadada à agonia dos irrecuperáveis
nobres agarrados a seus títulos e brasões. Que Deus nos
proteja desse trágico e insano destino.
Formar novos Plácidos não é apenas informá-los sobre nossa história nem dotá-los de graus acadêmicos, por
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mais necessários que possam ser. Muito menos adestrá-los
em refinadas etiquetas e minuciosas rubricas. É, sem dúvida alguma, despertar sempre mais em seus corações o
amor a Cristo, ao qual nada deve ser anteposto 4; é conduzi-los à loucura da obediência, que, se preciso for, os fará
correr pelas águas do aparente impossível e do ridicularizado possível. É fazê-los descobrir a alegria da continência
para ter um coração indiviso, fazendo valer seu nome de
monge que vem do grego “mónos”, ou seja, aquele que
não divide nem seu corpo nem seu coração com ninguém,
para ser como Cristo, um homem de amor universal. É, em
suma, estimulá-los sempre e firmemente a viver as exigências e consequências do seu Batismo, num espaço muito
preciso da Igreja, a vida monástica de seu mosteiro.
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Regra de São Bento, Cap IV,21
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Não basta, queridos irmãos, suplicar ao Senhor da
messe pelas vocações aos nossos mosteiros se não pedirmos, igualmente, que a graça divina venha em socorro de
Abades e Mauros. Precisam eles viver com responsabilidade, honestidade, alegria e intensa vibração o ideal monástico; um tesouro que NPS Bento, herdando de seus Maiores
e iluminado pelo Espírito Santo, nos transmitiu sabiamente
através de sua Santa Regra.
O Plácido que bate à nossa porta tem o direito de
encontrar homens consagrados a Deus com muita lucidez e
vibração na busca verdadeira do verdadeiro Deus; sem
grande esforço visualizar confrades “solícitos para com o
Ofício Divino, a obediência e os opróbrios”;5 sem surpresa
alguma constatar que irmãos de extensa caminhada não
fogem das “coisas duras e ásperas pelas quais se vai a
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Regra de São Bento, Cap. 58,7
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Deus”.6 E, mais que um dever, o direito de se preparar para, estimulado pelos “exemplos de seus Maiores”,
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não
nadar nem remar, mas correr, assim como o fizeram o
apóstolo Pedro e Mauro em Subiaco, sobre todas as águas
que parecem ser obstáculo para uma vida de profunda,
apaixonada e prazerosa intimidade com Deus.
Deus nos abençoe a todos!
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Regra de são Bento, Cap 58,8
Regra de São Bento, Cap. VII, 55
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