microcrédito e investimento para a agricultura urbana
Transcrição
microcrédito e investimento para a agricultura urbana
Primeira edição fevereiro 2003 No. 4 ORIENTAÇÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS MUNICIPAIS PARA A AGRICULTURA URBANA ad -E Quatro bons motivos que destacam a importância da Agricultura Urbana Desafios A fome aumenta Tanto a legitimidade política como a financeira, são essenciais para garantir o êxito e a geração das experiências de Agricultura Urbana (AU). Muitos produtores urbanos não têm acesso a programas de credito e investimento, fato que limita sua capacidade de investir em tecnologias mais Banc ru o C o m u n al P u n e – Pe sustentáveis, novos cultivos, melhores raças, e adquirir melhores equipamentos que permitam aumentar os níveis de produção e suas rendas, elevando assim os níveis de segurança alimentar. Na América Latina, em menos de 30 anos, o número de pessoas que vão dormir com fome teve um aumento de 20% , perfazendo um total de 60 milhões de pessoas. Alimentar toda a população é uma meta que todas as cidades tem o dever de alcançar. Medicina natural ao alcance de todos O povo gasta de 40% a 60% de seus baixos ganhos com alimentação e quase 15% com saúde e remédios. A produção de plantas medicinais e derivados como infusões, extratos e essências facilitam o acesso a saúde dos mais pobres e excluídos. Os resíduos e águas tratadas em prol da saúde alimentar Apenas 2% dos resíduos produzidos nas cidades da região são tratados adequadamente. Milhares de metros cúbicos de águas residuais são desperdiçados ou tratados a um custo muito elevado. Todavia podem transformar-se em excelentes fontes de adubo, água para irrigação e também complemento alimentício animal. É necessário que os governos locais: • Mobilizem recursos garantidos no orçamento municipal para a execução da AU. Emprego de baixo custo e geração de renda • Fomentem e facilitem o acesso dos/das mais pobres ao capital, promovendo a inclusão social e condições compatíveis com as características técnico-produtivas da AU. A Agricultura Urbana (AU) gera empregos cujo custo de investimento é muito baixo em relação a custos estimados para outros setores produtivos. Criar emprego em AU custa menos de 500 dólares, e seu investimento pode ser recuperado com microcréditos. od Boas colheitas urbanas! Y.C. “Os governos locais devem se comprometer decididamente com o desenvolvimento da AU, mobilizando os recursos locais existentes, institucionalizando-a e procurando sua ampliação em nível nacional”; garantindo recursos nos orçamentos municipais para a execução de praticas de Agricultura Urbana”. o d e cr é d it o im A série atual dá orientações é o fruto dos últimos avanços científico-tecnológicos e das práticas inovadoras experimentadas pelas cidades da Região, quais constituem a inspiração a qual os convidamos a compartilhar e enriquecer. O presente documento aporta orientações para a formulação e implementação de programas de credito e investimentos local para a AU. a Estes beneficios nas áreas de alimentação, saúde, ambiente e criação de empresas explicam porque cada vez mais municipios querem desenvolver e modernizar seu agricultura urbana. • Complementem os programas financeiros com atividades de fortalecimento da organização social, assistência técnica, capacitação e apoio à comercialização. o ic r o c r éd it o s, C E P E S it o aib de m Qu IU, rac o, M a e ir a pact anc zuel o qu stã fin –V ene Ge or MICROCRÉDITO E INVESTIMENTO PARA A AGRICULTURA URBANA l Av a iaç ã Declaração de Quito, assinada por 40 cidades. Quito, Equador. Abril 2000. Seis orientações para a formulação de políticas A partir do enfoque de microcrédito e investimento para AU 1. Definir uma Política de Inclusão ia O governo local deve desenvolver um sistema de financiamento e promoção de microcrédito, o investimento (por exemplo: subsídios) e a poupança para potencializar a produção, a transformação e a comercialização da AU nos setores mais liv Bo vulneráveis. O esquema seguinte é um – az exemplo de como promover a inclusão dos La P , o t i R ece b e n d o cré d pobres no setor formal da economia a partir de uma colaboração entre o governo local e a instituição financeira formal, sob um conceito de economia solidária. Ciclo Poupança Subsídio Capital Juros 1º 2º 1 2 2 1 3 3 0 0 3º 2 0 4 Sim Observações Inclusão Governo local Autonomia Instituição Formal pa ra aut ocon s u m o, F ort al B eza – ras il As cifras do quadro são apenas um exemplo. Nos dois primeiros ciclos, se promovem a inclusão favorecendo os/as microprodutores/as, mediante a poupança, o subsidio e o incentivo (créditos com obrigação de pagamento, mas, sem juros). No primeiro ciclo, para cada dólar de poupança, destinam-se US$ 2 de subsídios e US$ 3 de microcrédito (US$ 6 dólares no total). é o cr M icr dit O sistema promove a poupança e o aumento de capital, diminuindo os subsídios. No terceiro ciclo, é atingida a autonomia do crédito (cobrando-se juros), possibilitando a inclusão de novos/as beneficiários/as. A duração dos ciclos é variável, dependendo do processo de acumulação de capital. As pessoas com mais condições de pagamento financiam, através dos juros (que constituem o fundo de subsídios e incentivos), para aqueles que não estão em condições de pagar o serviço creditício. Entre 1997-2000, a Prefeitura de Texcoco (México) financiou projetos produtivos utilizando o denominado “Ramo 33”, que institucionaliza recursos que a Federação transfere para Estados e Municípios. O Ramo é integrado por vários fundos como: O Fundo de Infraestrutura Social Municipal e o Fundo de Contribuições para o Fortalecimento dos Municípios. Conseguir maior participação de instituições financeiras É fundamental, comprometer a participação de instituições financeiras privadas e formais, para diversificar o portfolio de recursos disponíveis e potencializar ações. 3. Seleção dos usuários Para viabilizar e garantir o acesso ao microcrédito por parte dos produtores e produtoras de pequenos recursos e dos grupos mais vulneráveis (ex. mulheres ou jovens), deve-se definir critérios de seleção que privilegiem a inclusão social. Pode-se pensar em: a) critérios econômicos (a renda gerada pela atividade financiada permite cobrir as necessidades do/da produtor/a e sua família ?) ; b) sociais (a atividade ajuda a melhorar as relações dentro da família e entre os produtores/as e a comunidade?); e, c) ambientais (a atividade é uma pratica ambientalmente sustentável?). Na Argentina, o Programa Social Agropecuário facilita créditos somente para quem: a) não tem outras fontes de renda adicionais, para o produtor/a e sua família, salvo algumas eventualidades, e b) cuja renda familiar mensal não supera o valor de dois salários de um operário agropecuário (aprox. (560 pesos ou 78 dólares “novembro/2002”) 4. Definição de delineamentos de base financeira operativa Para mobilizar os fundos necessários, deve-se dar ênfase na: Contar com critérios de seleção específicos não assegura a participação nem a inclusão social. É necessário que as garantias, juros, montantes e prazos previstos permitam pleno acesso ao capital e sejam compatíveis com as características técnicoprodutivas da AU. Incorporação de Capital Incorporar capital para a formação de “fundos semente” é um aspecto chave. Tipos de garantia Ao invés de exigir garantias reais, existem alternativas solidárias que permitem cobrir o risco o 2. Mobilização e gestão de fundos da o– 6. Avaliação do impacto do programa Sob um enfoque integral de desenvolvimento, é importante implementar um sistema de monitoramento e avaliação que permitam identificar tanto impactos econômico-financeiros como aspectos qualitativos de melhoria da qualidade de vida dos beneficiários. Exemplos de indicadores a medir: • A inclusão econômica: é demonstrar a variação nos ativos patrimoniais e rendas familiares antes de receber o crédito e depois de liquidá-lo e o acesso a novas fontes de capital e recursos financeiros. • A inclusão cidadã: que supõe a variação ao acesso a educação, saúde, direitos e tomada de decisões por parte dos diferentes membros da família. • A inclusão física: que supõem a variação ao acesso a moradia e serviços básicos. • A sustentabilidade financeira do sistema de crédito: a porcentagem da carteira vencida (índice de pagamentos de amortização), valor do dinheiro (inflação), a relação entre rendas e custos (a partir de rendas por juros e custos operativos do sistema). ativ • A rentabilidade econômica da atividade financiada. icip p art ad mi e Em Texcoco (México), 164 floricultores formaram uma Cooperativa para construir um Centro de Reprodução de estaca de flor de estufa. A cooperativa opera com contribuições fixas de cada um dos/das sócios/as, que os permite cobrir gastos Al POficina Incentivar a organização social Incentivar e apoiar os produtores a se organizarem (associações, cooperativas) como forma de melhorar a auto-sustentabilidade do programa. Cr Deve-se procurar um marco institucional que permita: il o O microcrédito é apenas um elemento dentro de uma estratégia de desenvolvimento integral. Para minimizar o risco do investimento, deve-se assegurar o fluxo da renda através de: a) a diversificação da produção (ex. cultivos de ciclo curto e longo ou de valor alto e baixo); b) o apoio a processos de agregação de valor e c) o desenvolvimento de estratégias de comercialização. am 5. Complementar as ações financeiras o Prazo de carência Este prazo, no qual o/a beneficiário/a está isento de todo pagamento ou paga apenas os juros do empréstimo, devem ser estabelecidos de acordo com o prazo de retorno da atividade financiada. Em Texcoco (México), foram fixados prazos de carência de 3 a 9 meses, dependendo se a atividade produtiva fosse agrícola ou pecuária. Criar uma normativa facilitadora Deve-se criar uma normativa que garanta a disponibilidade e acesso seguro a terra e aos serviços. A ausência de garantias de posse e o medo de serem expulsos não incentivam investimentos por parte dos/das produtores/as (Ver série de orientações 3). a c ri a ç ã o d e fr a n g o, C Quantias, formas e prazos de pagamento Estes devem ser definidos de acordo com as necessidades de investimento e período de recuperação do capital segundo a natureza do negócio. Algumas políticas privilegiam as políticas sociais, como na Argentina onde o Programa PSA implementa uma linha de credito para autoconsumo que permite aos produtores receber quantias de até 200 pesos (US$ 56 dólares em novembro 2002), cujo valor é devolvido mediante a entrega dos produtos obtidos e/ou trabalhos solidários para uma instituição de bem publico (refeitórios escolares, hospitais). Implementar estratégias de apoio É necessário implementar estratégias especificas de apoio, tanto para o manejo e gestão do crédito como para o processo de produção, transformação e comercialização (capacitação produtiva, tecnológica, gestão empresarial, assistência técnica, assessoria legal, fiscal, promoção e mercado). sp ara Taxas de juros Deve-se criar sistema de crédito com taxas de juros subsidiados ou assistidos com um tratamento especial para assegurar sua sustentabilidade financeira. de manutenção e salários de algumas pessoas que trabalham no Centro. Além disso, a cooperativa foi capaz de gerir recursos externos e complementares para seu Centro com instâncias de Governo Federal e Estatal. éd it de não-pagamento de forma acessível à população de recursos escassos, como os créditos grupais com garantia solidária. Em Brasília (Brasil), o Programa PROVE criou um fundo de garantia não-monetária estadual, na forma de “Agroindústrias Móveis” (construções metálicas que podem ser transportadas de caminhão). Por serem móveis e duráveis, podem ser consideradas como garantia para cada empréstimo. cro cré dito , Qu it o – Equador Arge n tin a “Os programas de microcrédito mostraram ser uma ferramenta eficaz para liberar o povo da pobreza e dirigir sua participação nos processos centrais econômicos e políticos das cidades”. Microcrédito e Investimento para a Agricultura Urbana No. 4 María Fernanda Garcés, Coordenadora, Fundo de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico. Município do Distrito Metropolitano de Quito, Equador. O presente documento foi elaborado a partir de um Texto Base redigido por Teresa Vásquez (Consultora) e Mateo Villalba (Asistente PGU-ALC) Bibliografia seletiva: Editado por: Yves Cabannes (PGU-ALC), Marielle Dubbeling y Alain Santandreu (IPES/PGU-ALC) Homem de Carvalho, João Luiz. “PROVE: Programa de verticalização da pequena produção familiar”. Em: Cadernos de Trabalho 83. APROVE, CIID, IPES, PGU-ALC/UN-HABITAT. Quito, 2000. (www.pgualc.org) Revisão de texto: Nancy Sánchez y Mónica Rhon D. Ramírez García, Gabriel. Estudos de microcrédito e investimento para a agricultura urbana; Caso Texcoco-México. COPEVI, IPES, CIID, PGU-ALC/UN-HABITAT. México D.F., 2002. (www.pgualc.org) Este Documento Político faz parte de uma serie de 9 orientações que resumen diferentes temas relacionados com a Agricultura Urbana (AU): Sharbatti, María Angélica. Estudo de microcrédito e investimento para a agricultura urbana - Programa Social Agropecuária, Argentina. IPES, CIID, PGU-ALC/UN-HABITAT. Córdoba, 2002. (www.pgualc.org) Contatos dos casos mencionados: María del Carmen Farfán. Cooperação de Serviços “Jardín Azuayo”. Cuenca, Equador. Tel: (593 7) 840 259. E-mail: [email protected] Assessoria em comunicação e desenho: Roberto Valencia (Zonacuario) 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. AU: motor para o desenvolvimento municipal sustentável AU e participação cidadã AU: gestão territorial e planejamento físico Microcrédito e investimento para a AU Aproveitamento de resíduos orgânicos em AU Tratamento e uso de águas residuais em AU AU: uma oportunidade para a equidade entre mulheres e homens 8. AU e soberania alimentar 9. Transformação e comercialização da AU Toda a série se encontra disponível na página Web do Programa de Gestão Urbana: www.pgualc.org María Fernanda Garcés. Coordenadora. Fundo de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico (PROQUITO). Direção Metropolitana de Desenvolvimento Humano Sustentável. Município do Distrito Metropolitano de Quito, Equador. Tel: (593 2) 2583 285 / 2289 214. E-mail: [email protected] O trabalho foi coordenado e financiado pelo Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento (CIIDCanadá), o Programa de Gestão Urbana para América Latina e Caribe (PGU-ALC/UN-HABITAT, Equador) e IPES, Promoção do Desenvolvimento Sustentável (Perú) João Luiz Homem de Carvalho. Diretor APROVE. Brasília, Brasil. Tel: (55 61) 2744293. E-mail: [email protected] / [email protected] Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento 250 Albert St, PO Box 8500 Ottawa, ON, Canada K1G 3H9 Tel.: (613) 236-6163, ext. 2310 Email: [email protected] www.idrc.ca/cfp José Luis Rico. Diretor do Programa de Desenvolvimento Rural. Prefeitura de Texcoco, México. Tel: (52 595) 952 000. Fir m ando c Teresa Sunde. Assessora Técnica do Programa Social Agropecuária. Córdoba, Argentina. Tel: (54 3468) 461 260 / 461 649. E-mail: [email protected] o n tr at o s d e m i Promoção do Desenvolvimento Sustentável croc Calle Audiencia Nº 194, San Isidro Apartado Postal 41-0200 Tel.: (51 1) 440-6099/ 421-6684. Email: [email protected] réd it o ,C am ilo A ld ao – A r g e n ti n a Programa de Gestão Urbana Escritório Regional para América Latina e Caribe García Moreno 751 entre Sucre y Bolívar Fax: 593-258 39 61 / 228 23 61 Email: [email protected] www.pgualc.org
Documentos relacionados
AGRICULTURA URBANA E SOBERANIA ALIMENTAR
região são tratados adequadamente. Milhares de metros cúbicos de águas residuais são desperdiçados ou tratados a um custo muito elevado. Todavia podem transformar-se em excelentes fontes de adubo, ...
Leia mais