REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO GAÚCHO NO DISCURSO

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REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO GAÚCHO NO DISCURSO
IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação
Múltiplos Olhares
05, 06 e 07 de junho de 2013
ISSN: 1981-8211
REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO GAÚCHO NO DISCURSO FICCIONAL:
DO MITO AO DESGARRE CULTURAL
Cleber BICICGO (UFFS)
Elisandra Aparecida PALARO (UFFS)
Flávia Rosane Camillo TIBOLLA (UFFS)
Introdução
Neste artigo, realizamos uma reflexão sobre a representação do sujeito gaúcho e sua
(res)significação ao longo do tempo, numa perspectiva diacrônica e sincrônica, a fim de
verificar possíveis regularidades, bem como possíveis alterações de sentido, por meio da
análise de seu emprego em materialidades linguísticas produzidas em diferentes épocas em
textos ficcionais. Desse modo, objetivamos analisar como o sujeito gaúcho é representado
em função das condições de produção. Serão tomados como base de análise, os dispositivos
da teoria da Análise de Discurso de vertente francesa, configurada por Michel Pêcheux.
Além de Pêcheux, nosso estudo ancora-se na tese de Verli Petri. A referida autora,
apoiada nos estudos pecheutianos, explora os conceitos de memória e atualidade, opacidade
da língua, formação discursiva e efeito de sentido que são materializados por meio do
discurso. Em suas análises, apresenta a seleção de alguns contos da obra Contos
Gauchescos de João Simões de Lopes Neto mobilizando especificamente o “eu” gaúcho.
Petri também apresenta em suas análises a obra Porteira Fechada de Cyro Martins. No
gesto interpretativo da autora vários elementos foram mobilizados, no entanto, por meio de
nossos estudos e da escolha do conto Contrabandistas da obra Contos Gauchescos e da
música Desgarrados, outras interpretações serão possíveis.
Definimos como corpus para nossa análise, sequências discursivas do conto
Contrabandistas da obra literária Contos Gauchescos de João Simões de Lopes Neto,
publicada em 1912 e que retrata a imagem ficcional do gaúcho no início do século XX,
contrapondo à imagem do gaúcho representada na letra da música Desgarrados composta
por Sérgio Napp e Mário Barbará Dorneles, representando a imagem ficcional do gaúcho
no final do século XX.
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Sendo assim, levando-se em conta que o texto ficcional também é uma prática
discursiva, a questão norteadora para este estudo é como os sentidos produzidos pelo
sujeito gaúcho deslizam para outros sentidos ao longo do tempo. Neste trabalho,
especificamente, iremos considerar um período de tempo de aproximadamente cem anos
decorridos no século XX.
1 Dispositivo Teórico
A ideologia é o que, segundo a teoria da Análise de Discurso (AD) de Michel
Pêcheux, interpela o indivíduo em sujeito do discurso, ou seja, o indivíduo é “tomado”, é
“chamado” a assumir sua posição-sujeito pela ideologia.
Todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro,
diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para
derivar para um outro (a não ser que a proibição da interpretação própria
ao logicamente estável se exerça sobre ele explicitamente). Todo
enunciado, toda seqüência de enunciados é, pois, lingüisticamente
descritível como uma série (léxico-sintaticamente determinada) de
pontos de deriva possíveis, oferecendo lugar à interpretação.
(PÊCHEUX, 2012, p. 53).
Através da noção de pontos de deriva, podemos verificar que é no processo de
deslocamento de sentidos (de um enunciado para outro, de uma sequência de enunciados
para outra, de uma imagem para outra) que a AD pecheutiana irá atuar com a interpretação,
deixando claro que nenhum discurso é transparente, neutro, sendo marcado sempre pela
existência da ideologia.
Ao caracterizar memória discursiva, Pêcheux a apresenta como aquilo que vem
restabelecer os “implícitos” (PÊCHEUX, 2010, p. 52), esclarecendo que esses “implícitos”
são os pré-construídos, os discursos-transversos, que constituem marcas de heterogeneidade
do discurso. Mas, onde estão disponíveis, onde residem esses implícitos? Pêcheux responde
dizendo que eles estão na regularização, sob a forma de remissões, retomadas, paráfrases.
Nesse sentido, a memória absorve o acontecimento, pois em função de um acontecimento
(que pode ser constituído por um fato ou vários), uma rede de significação é instaurada,
novos sentidos são produzidos, num processo de ressignificação, o que Pêcheux chama de
“jogo de força na memória”. (PÊCHEUX, 2010, p. 53)
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Orlandi (2012, p. 31) caracteriza memória discursiva como interdiscurso, “[...] o
saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré-construído,
o já-dito que está na base do dizível, sustentando cada tomada de palavra.” O conceito de
interdiscurso, ou memória discursiva, está articulado à formação ideológica do sujeito, é
através dele que o sujeito concretiza o seu discurso; marca a exterioridade, pois o sentido
não é literal, existe uma relação, um nexo com outras palavras, ideias, textos, estabelecendo
um sentido para o discurso em relação a outros dizeres. Essa “ida” à memória é necessária
na construção do sentido.
Cabe lembrar, também, o conceito de formação discursiva (FD) que, segundo
Pêcheux (2009, p. 147), é “[...] aquilo que numa formação ideológica dada, isto é, a partir
de uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes,
determina o que pode e deve ser dito.”, portanto, as palavras mudam de sentido na relação
com outras palavras, na passagem de uma FD para outra, sendo o indivíduo interpelado em
sujeito pela ideologia, processo que ocorre dentro da FD.
Sobre a noção de formação imaginária, Orlandi (2012, p. 42) afirma que “[...] na
AD não menosprezamos a força que a imagem tem na constituição do dizer. O imaginário
faz necessariamente parte do funcionamento da linguagem.”, ou seja, o imaginário
constitui-se culturalmente, no confronto ideológico, por isso, nas análises, é preciso remeter
às condições de produção do discurso, relacionando com a memória e com uma FD, pois os
sentidos, segundo essa mesma autora, estão aquém e além das palavras.
2 Dispositivo de Análise
Para construir as análises que seguem, recortamos sequências discursivas (SDs) do
conto Contrabandistas da obra literária Contos Gauchescos de João Simões de Lopes Neto
e da letra da música Desgarrados composta por Sérgio Napp e Mário Barbará,
materialidades que compõem nosso corpus de análise.
A obra Contos Gauchescos, escrita em 1912, do escritor gaúcho regionalista João
Simões de Lopes Neto (1865-1916), foi escolhida para a análise porque retrata o mundo
campeiro gauchesco, trazendo elementos culturais e históricos. A obra é composta por
dezenove contos que são narrados pelo personagem-narrador Blau Nunes, ex-oficial de
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“[...] oitenta e oito anos, todos os dentes, vista aguda e ouvido fino [...]” (NETO, 1976, p.
03). Os contos retratam o gaúcho guerreiro, rústico como a paisagem do pampa, que se
expressa através de um dialeto regionalista, característico do interior do Rio Grande do Sul.
A música Desgarrados retrata a realidade do gaúcho que deixou sua terra e partiu
para a cidade, na tentativa de melhorar de vida. Escrita por Mário Barbará e Sérgio Napp,
foi vencedora da Califórnia da Canção Nativa de 1981, que consiste em um festival de
música regionalista iniciado em 1971, em plena ditadura militar no Brasil.
Inicialmente, observamos em uma perspectiva sincrônica, quais sentidos são
produzidos pela imagem do gaúcho retratada na obra literária e na música. Em seguida,
numa perspectiva diacrônica, comparamos as imagens das duas épocas, por meio da análise
das regularidades que marcam o funcionamento da memória discursiva dos sentidos e
também das alterações que os sentidos sofreram ao longo do tempo.
2.1 A imagem do gaúcho no conto Contrabandista de João Simões de Lopes Neto
A imagem do gaúcho é um dos elementos marcantes que incidem sobre a
construção de identidades na região sul do país. O gaúcho literário, revestido pelo poder de
símbolo de masculinidade, perpassa o imaginário dos povos sulinos. A recorrência desse
gênero no passado e as atualizações no presente revelam um discurso em “trânsito”. Para o
filósofo italiano Mario Perniola (2009, p. 40) trânsito é “ao mesmo tempo passar do mesmo
ao mesmo e um permanecer daquilo que é em si diferente”. Diante desse movimento, o
sujeito gaúcho desenha um novo trajeto e sofre um reajuste.
A imagem de gaúcho mais conhecida no Brasil é aquele sujeito de bota e bombacha
cujos hábitos alimentares típicos são o chimarrão e o churrasco. É possível associá-lo ao
frequentador assíduo dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), que reverencia a tradição
e todos os seus rituais. Essa identificação pelo ritual de assar a carne e tomar o chimarrão é
a apropriação de uma forma-sujeito-histórica, que se estabelece e se reproduz pelos
conhecimentos de tradição popular. Os conhecimentos, segundo Michel Pêcheux, “existem
sob a forma de um sentido evidente para os sujeitos – seus suportes históricos”
(PÊCHEUX, 2009, p. 175). Essa apropriação da forma-sujeito-gaúcho, que tratamos até
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aqui, parte de um referencial histórico, interpelado em sujeito pela ideologia dominante, no
caso, a tradição gaúcha, reproduzida pelos Centros de Tradições Gaúchas.
Porém existe outro gaúcho, um personagem criado pela literatura. Todo o acesso ao
registro verbal dos gaúchos se deu através da língua literária, segundo Ludmer, “sua única
representação escrita” (LUDMER, 2002, p. 28). No gênero gauchesco “está toda a época e
não somente a literatura da época” (Idem, p. 40), remetendo às várias definições de gaúcho
oriundas das lutas pela fronteira e consequentemente o seu uso militar. Mas na origem da
figura histórica do gaúcho os adjetivos que o caracterizam apontam qualificativos
diferentes daqueles empregados normalmente. Segundo o pesquisador Augusto Meyer, os
primeiros registros da palavra “gaúcho” são da metade do século XVIII e apontam o
gaúcho como “um grupo social constituído por peões, desertores e índios, entregues ao
contrabando e ao roubo de gado” (MEYER apud DUARTE, 2003, p. 03). O gaúcho vivia
numa terra sem dono, sem arame farpado, acostumado a caçar livremente, dependendo
apenas de si mesmo para sobreviver na solidão dos pampas. Esse homem fora da lei, livre
na imensidão da natureza intocável, forma a imagem de um corajoso e heroico personagem
que vive à margem da sociedade, representando na literatura como herói. O real e o
imaginário convivem na essência do gaúcho. De um lado, o sujeito histórico passível de ser
historicizado e, do outro, o personagem ficcionalizado pelas literaturas da fronteira sul.
A palavra gaúcho era sinônimo de vagabundo e ladrão, mas adquire, em fins do
século XIX e início do século XX, um sentido positivo. Essa divisão traça duas formas de
abordar o personagem principal desse gênero, de um lado, o gaúcho bom: patriota que luta
em defesa do território; e do outro, o gaúcho mau: que vive do contrabando. A formasujeito-gaúcho parece transitar entre essas duas posições. A condição real do gaúcho passa
para a perspectiva imaginária, tendo sua origem na literatura. Na obra de João Simões de
Lopes Neto, em especial no conto Contrabandistas, aparece esse deslizamento da formasujeito. O narrador nos conta a história de Jango Jorge, um contrabandista de 90 anos de
idade que está prestes a casar sua filha. Ao buscar o enxoval da noiva (do outro lado da
fronteira), Jango Jorge é surpreendido por soldados que o impedem de passar, com o
embrulho amarrado em seu corpo ele enfrenta sozinho os soldados e morre. A chegada do
corpo e do enxoval encharcado de sangue a casa de Jango Jorge, transforma a festa em um
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triste velório. O interessante, para nossa análise, é perceber como é descrito o gaúcho Jango
Jorge e as sequências onde ele aparece cercado por uma “aura heroica”. A SD 1 e a SD 2
trazem um exemplo da posição sujeito-gaúcho que reproduz a imagem do gaúcho histórico.
O sujeito que se constituiu nas travessias da fronteira, contrabandeando mercadorias.
SD 1 Batia nos noventa anos o corpo magro mas sempre teso do Jango
Jorge, um que foi capitão duma maloca1 de contrabandistas que fez
cancha2 nos banhados do Ibirocaí. Esse gaúcho desabotinado3 levou a
existência inteira a cruzar os campos da fronteira: à luz do sol, no
desmaiado da lua, na escuridão das noites, na cerração das madrugadas...;
ainda que chovesse reiúnos4 acolherados ou que ventasse como por alma
de padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho, nunca desandou
cruzada!... (NETO, 2001, p. 72).
SD 2 Nesta terra do Rio Grande sempre se contrabandeou, desde em antes
da tomada das Missões (Idem, p.73).
A SD 3 identifica o gaúcho como o defensor do território. A força do gaúcho não
serviu apenas para a conquista, mas também, como força estratégica para manter os
domínios da região sul. A posição-sujeito apresentada no início do conto, dá conta de um
sujeito dado ao contrabando de mercadorias, já na sequência 3 e 4, a posição desliza para
um sujeito-soldado. Na SD 5, a posição-sujeito-gaúcho desliza mais uma vez, ocupando a
posição do sujeito dotado de poderes sensitivos que vão além das possibilidades de um ser
humano normal. Muito distante da descrição do homem simples do campo que vive de
passar mercadorias pela fronteira. No desfecho do conto, o gaúcho ocupa a posição de
herói, presente na sequência SD 6. Jango Jorge sozinho, contando já 90 anos de idade,
enfrenta vários soldados e morre como se não temesse nada, morre como um herói,
mostrando toda a sua valentia e coragem.
1
Bando de malfeitores, de salteadores, de gente de má vida. (Minidicionário Guasca).
Lugar para corrida de cavalos. (Minidicionário Guasca).
3
Insensato, adoidado, estourado, valentão, resolvido a tudo. (Minidicionário Guasca).
4
Pertencente ao Estado, antigamente ao rei. Ruim, de má qualidade, feio. (Minidicionário Guasca).
2
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SD 3 Foi o tempo do manda-quem-pode!... E foi o tempo que o gaúcho, o
seu cavalo e o seu facão, sozinhos, conquistaram e defenderam estes
pagos5! (Idem, p.73).
SD 4 Tinha vindo das guerras do outro tempo; foi um dos que peleou6 na
batalha de Ituzaingo; foi do esquadrão do general José de Abreu (Idem,
2001, p.72).
SD 5 Conhecia as querências7, pelo faro: aqui era o cheiro dos açoutacavalo8 florescido, lá os do trevais, o das guabirobas rasteiras, da capim
limão; pelo ouvido: aqui a cancha de graxains9, lá os pastos que
ensurdecem ou estalam no casco do cavalo (...) até pelo gosto ele dizia a
parada, porque sabia onde estavam as águas salobres (...) (NETO, 2001,
p.72).
SD 6 A guarda nos deu em cima... tomou os cargueiros... E mataram o
capitão, porque ele avançou sozinho pra mula ponteira e suspendeu um
pacote que vinha solto... e ainda o amarrou no corpo... Aí foi que o
crivaram de bala.... parado... Os ordinários!... Tivemos que brigar, pra
tomar o corpo! (Idem, 2001, p.75).
Esse deslocamento da forma-sujeito mostra como o texto se apropria de um sujeito
para produzir outro. Uma mudança sutil, mas que produz efeitos de sentido importantes. Da
relação do gaúcho histórico com o gaúcho da literatura podemos inferir que um depende do
outro para existir, não há como produzir uma forma-sujeito do nada, “não existe prática
discursiva sem sujeito” (PÊCHEUX, 2009, p. 197). Essas duas sequências discursivas
chamam a nossa atenção sobre os efeitos das Formações Discursivas na forma-sujeito. O
deslocamento da forma-sujeito dentro de uma mesma FD, de acordo com Pêcheux,
acontece porque “as palavras, expressões, proposições, etc... mudam de sentido segundo as
posições sustentadas por aqueles que as empregam” (Idem, p. 146-147). Quando o sujeito
muda de posição, mesmo estando dentro de uma mesma FD, ele produzirá novos sentidos.
Temos no mesmo conto a presença do gaúcho contrabandista, do gaúcho soldado e do
gaúcho herói, valente e corajoso.
5
Lugar em que se nasceu, o lar, o rincão, a querência, o povoado. (Minidicionário Guasca).
Brigou, lutou, combateu. (Minidicionário Guasca).
7
Lugar onde alguém nasceu, se criou ou se acostumou a viver, e ao qual procura voltar quando dele afastado.
Lugar onde habitualmente o gado pasta ou onde foi criado. Pátria, pagos, torrão, rincão, lar. (Minidicionário
Guasca).
8
Árvore da família das Tiliáceas (Dicionário Gaúcho on line).
9
Pequeno animal semelhante ao cão, que gosta de roer cordas e de comer aves domésticas. Muito comum na
campanha. (Minidicionário Guasca).
6
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O gaúcho histórico formado por peões, índios e contrabandistas vai se desfazendo e
desvelando o mito do “herói gaúcho”. A perda do sentido negativo do personagem histórico
servirá aos projetos civilizatórios da classe dominante. Por sua identificação imediata com
o homem comum consegue operar a ideologia do bom e corajoso peão. Segundo estudo
realizado pela pesquisadora Márcia Lopes Duarte (UNISINOS), “[...] a literatura teve papel
de suma importância na fixação de tal ideologia, pois consagrou ao tipo gaúcho o lugar de
fundador da pátria gaúcha, tanto de um lado como de outro da fronteira” (DUARTE, 2003,
p. 03). Segundo Verli Petri, a posição sujeito-gaúcho está ligada a duas categorias. A
primeira é a representação, produz uma imagem de gaúcho histórico, igual ao original. A
segunda é o simulacro, parte da representação histórica para subverter a ordem
estabelecida, “como uma imagem refletida num espelho torto”.
Então, mesmo mantendo o referencial histórico de guerras e revoluções, a
partir do qual o gaúcho é corajoso e destemido, apagam-se os elementos
que revelariam a imagem do gaúcho bandido, saqueador, degolador,
estuprador da época das guerras de fronteira (representado pelo discurso
histórico). O gaúcho do discurso literário não se assemelha, em sua
essência, ao fora da lei historicamente reconhecido como tal, pois ele é
travestido em herói das causas sulinas, o que instala a diferença no interior
do mesmo, satisfazendo a necessidade de reinvenção do imaginário social
sobre o gaúcho (PETRI, 2008, p. 99).
O gaúcho sofre um deslocamento, revelando como os sentidos deslizam pelo tempo.
Petri mostra como as duas posições não são estanques. O gaúcho empírico e o gaúcho do
discurso literário são diferentes entre si, mas ambas se relacionam com a FD do gaúcho.
Dentro de uma mesma FD o sujeito pode assumir diferentes posições. De acordo com Petri,
essas posições-sujeito fazem parte de uma FD heterogênea, podendo “comportar muitas
outras posições-sujeito”.
Qual a identificação do homem contemporâneo com o corajoso, valente e heroico
gaúcho dos pampas? A reflexão sobre essa pergunta é necessária para entender o sujeito
que assume essa identidade cultural, tão presente na fronteira sul. No conto Contrabandista
há uma posição-sujeito-gaúcho que funciona como um simulacro do gaúcho histórico que
vive do contrabando. Para Petri (2008), o sujeito gaúcho dos Contos Gauchescos é o
simulacro do sujeito gaúcho que assume a posição de herói, fruto de um passado heroico e
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glorioso. Instituído no e pelo imaginário, sustentado pelos efeitos de semelhança
produzidos a partir de referências históricas.
2.2 A imagem do gaúcho na música Desgarrados de Mário Barbará e Sérgio Napp
Segundo o Dicionário Aurélio temos as seguintes acepções para o verbete
“desgarrado”: 1. Que se desgarrou; desviado do rumo; erradio; extraviado. 2. Sem arrimo;
só. 3. Devasso, pervertido. Fig. Livre, solto; espontâneo: Entoou uma cantiga desgarrada.
(FERREIRA; FERREIRA; ANJOS, 2009, p. 649). Observando a acepção 3, é possível
fazermos aproximações à imagem do gaúcho histórico pois, como vimos, o gaúcho no
século XVIII era livre, vivia solto, era um sujeito à margem da sociedade, pois seu modo de
vida o remetia à solidão dos pampas10.
Ao trazermos para a análise as acepções 1 e 2 também podemos observar que o
gaúcho contemporâneo é descrito como um sujeito à margem da sociedade. No entanto, há
uma ressignificação da expressão à margem da sociedade. Estar à margem no século XVIII
significava levar uma vida sulina, atualmente, segundo a música, significa ser um sujeito
que possui dificuldade em encontrar sua posição social devido às condições
impostas/emergentes do sistema capitalista.
Percebemos em toda a letra da música que o autor denuncia a realidade social de um
povo campeiro que, por conta do capitalismo, foi arrastado para a cidade, onde encontra
muitas dificuldades para sobreviver. Retrata a imagem do gaúcho como um ser que está
perdido na cidade, longe de seu povo, de sua cultura, tal qual um animal que se “desgarrou”
do rebanho. É o êxodo rural retratado de uma forma poética, porém não menos ríspida que
a sua realidade.
Constatamos que nas duas primeiras estrofes não há a marca identitária do sujeito
discursivo, há um apagamento/ocultação, no entanto a partir da terceira estrofe o sujeito
gaúcho se apresenta ou é denunciado através de marcas identitárias bastante peculiares
como o chimarrão e a carne gorda. Os compositores, ambos gaúchos, através da forma
autor, ora se filiam a uma FD gaúcha e ora se posicionam como expectadores desse sujeito.
10
Denominação dada às planícies do Rio Grande do Sul e dos países do Prata, cobertas de excelentes
pastagens, que servem para criação de gado. (Minidicionário Guasca)
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Segundo SILVEIRA (2004, p. 201), a forma autor se deve ao fato de que
consideramos a função discursiva de sujeito que assume a autoria (o escritor), está também
inserida em um contexto imaginário e sócio-histórico, inserindo-o em uma dada
representação de FD gaúcha, concebida como heterogênea e dotada de fronteiras móveis,
passível de análise enquanto determinante dos processos de produção de sentidos, que serão
“estes” e não outros.
SD 7 Eles se encontram no cais do porto pelas calçadas
Fazem biscates pelos mercados, pelas esquinas,
Carregam lixo, vendem revistas, juntam baganas
E são pingentes das avenidas da capital
Na primeira sequência discursiva selecionada, observa-se uma situação que nos leva
a visualizar um quadro de miséria, mostrando pessoas que trabalham na rua, que
sobrevivem do lixo e que não possuem trabalho formal (pois fazem pequenos biscates,
juntam baganas - guimbas de cigarro). Essas pessoas são vistas como “pingentes” da
sociedade, isto é, são pequenas, insignificantes e, por isso, colocadas às margens da
sociedade. Outro elemento que reforça a imagem de um sujeito à margem da sociedade é o
uso do pronome eles. Não há no texto um referente ao pronome eles e assim o leitor é
conduzido à indeterminação do sujeito, dessa forma o eles sustenta a tese de um sujeito sem
nome ou de qualquer sujeito contemporâneo que vive “a parte” da sociedade. O uso dos
verbos no presente ratifica que esse sujeito é hodierno, marcando presença no mundo atual.
SD 8 Eles se escondem pelos botecos entre cortiços
E pra esquecerem contam bravatas, velhas histórias
E então são tragos, muitos estragos, por toda a noite
Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho
Na SD 8 encontramos a descrição da moradia dessas pessoas, que vivem em
cortiços, e para esquecerem da sua condição contam velhas histórias e bebem. A
consequência dessa tentativa de esquecimento é caracterizada como “estragos”, o que nos
leva a pensar em estragos no sentido de depredação de patrimônio ou no sentido de estragos
em sua própria vida. O sujeito que tenta esquecer sua realidade e que continua sonhando,
mesmo que de olhos abertos, marca a resistência. O capitalismo até pode arrastá-lo pra
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margem, porém ele resiste através do sonho e da rememoração “o longe é perto”
(memória).
Esconder-se em botecos ou cortiços não é tentativa de fuga, pelo contrário é
demonstração de resistência. Não é uma resistência “mostrada”, mas velada e reforçada
pelos princípios ideológicos materializada nos lugares sociais nos quais os sujeitos se
encontram. Conforme Althusser (1970) “[...] as ideias de um sujeito humano existem nos
seus atos” e afirma ainda que “estas práticas são reguladas por rituais”. O ritual do trago, da
bravata ou da história narrada nas longas noites revelam:
Que a existência das ideias da sua crença é material, porque as suas ideias
são atos materiais inseridos em práticas materiais, reguladas por rituais
materiais que são também definidos pelo aparelho ideológico material de
que revelam as ideias desse sujeito. (ALTHUSSER, 1970, p. 88-89)
O que primeiro chama a atenção na SD 9 é a marcação temporal expressa pelos
verbos: Cevavam, viravam e contavam, utilizando o pretérito imperfeito. O sujeito gaúcho é
rememorado pelos rituais que lhe eram cotidianos, davam-lhe identidade peculiar. A
marcação verbal e os demais elementos discursivos apontam categoricamente para a figura
do gaúcho mítico, construído nas interações sociais e culturais. Mesmo sendo remetido ao
passado pela forma verbal que é apresentado, nessa SD também é atualizado pois não fica
ofuscado pela indeterminação do “eles” (anteriormente comentado) mas afirma-se como
gaúcho, sobretudo pela expressão lenços vermelhos, fortemente carregada de significação.
SD 9 Cevavam mate, sorriso franco, palheiro aceso
Viravam brasas, contavam causos, polindo esporas,
Geada fria, café bem quente, muito alvoroço,
Arreios firmes e nos pescoços lenços vermelhos
A SD 9 produz um imaginário de como era a vida do gaúcho no campo, antes de
partirem para a cidade. Traz importantes elementos culturais que caracterizam o gaúcho (na
verdade, somente a partir daí compreendemos que a música trata do povo do sul), pois
utiliza palavras típicas do vocabulário gaúcho como “mate”, “palheiro”, “esporas” e
“arreios”. Pelo elemento “brasas”, realizamos uma associação ao fogo de chão que o
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gaúcho acende para se esquentar no frio inverno sulino, também ao fogão à lenha utilizados
nos galpões para calentar a água e cozer os alimentos. Outro elemento sulino que aparece
na SD 9 é “geada fria”, que contrastando com o “café bem quente”, não passa a ideia de
tristeza, solidão, ao contrário, o ambiente está envolto de “muito alvoroço”, o que remete a
algazarra, agitação.
É pelos elementos sulinos destacados nessa SD que há a possibilidade de atualizar
sentidos, já ditos, que fizeram efeito em outro momento histórico. Segundo Orlandi (2012,
p.31), a memória refere-se ao interdiscurso quando pensada em relação ao discurso. O
interdiscurso “[...] é definido como aquilo que fala antes, em outro lugar,
independentemente.” É através do interdiscurso, ou memória discursiva, que as palavras
que dizemos fazem sentido, pois seus significados são oriundos de outros dizeres que se
encontram guardados em nossa memória e que vem à tona com outras palavras a cada
enunciado produzido e neste produzem sentidos, significam.
Outro elemento sulino que recorre à memória para significar no momento histórico
atual é a expressão “nos pescoços lenços vermelhos”. Os “lenços vermelhos” foram um dos
símbolos da Revolução Farroupilha, representando os maragatos. Usar o lenço vermelho
significava ocupar uma posição política, pertencer a um grupo de idealistas e, sobretudo
identificar-se. O lenço vermelho significava, pois atribuía ao seu usuário uma imagem de
identidade. Deixando seu traço na história o “lenço vermelho” ficou inscrito na linguagem e
significava para o sujeito a possibilidade de pertença. Hoje, quando o sujeito gaúcho retoma
o termo “lenços vermelhos” tem a ilusão da pertença, e assim se identifica com o sujeito
gaúcho.
SD 10 Jogo do osso11, cana de espera e o pão de forno
O milho assado, a carne gorda, a cancha reta12
Faziam planos e nem sabiam que eram felizes
Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho
11
Jogo muito usado na fronteira, principalmente pela baixa camada social. Consiste no arremesso de um osso.
(Minidicionário Guasca).
12
Lugar plano, com várias quadras de comprimento por algumas braças de largura, com duas trilhas,
preparado especialmente para corridas de cavalos. (Dicionário Gaúcho online).
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Nesta SD, temos a retomada do verso “Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é
o sonho” que aparece também na SD 8, confirmando que o gaúcho que foi para a cidade
encontram-se “desgarrado”, pois os verbos no pretérito imperfeito trazem à tona a memória
de tempos bons vividos, marcos pela fartura de comida e pelo divertimento. Uma época na
qual “faziam planos e nem sabiam que era felizes”. No momento presente, o gaúcho longe
do campo, distante de sua cultura e de sua gente, rememora esses momentos.
SD 11 Sopram ventos desgarrados, carregados de saudade
Viram copos viram mundos, mas o que foi nunca mais será
Na SD 11, o sujeito, em um tom nostálgico, fala da saudade que sente, lamentando
que “o que foi nunca mais será”. A expressão “ventos desgarrados” faz alusão ao gaúcho
contemporâneo que é descrito como um sujeito à margem da sociedade, vivendo das muitas
recordações que fazem parte de seu imaginário constitutivo. A expressão “carregados de
saudade” esclarece e ratifica que em decorrência do mundo globalizado, pós-moderno,
regido pelo excesso e pela fluidez, o sujeito encontra dificuldade em conquistar seu espaço
mesmo que possua em seu imaginário as marcas identitárias construídas histórica e
culturamente.
Considerações finais
A imagem ficcional do gaúcho sofreu alguns deslizes ao longo do tempo. Neste
artigo, ao analisarmos o conto Contrabandistas e a música Desgarrados, duas obras que
retratam o gaúcho no início e no final do século XX, observamos que, nesse período de
tempo, os sentidos da imagem do gaúcho deslizam de sujeito mitológico a sujeito
desgarrado.
Em uma perspectiva sincrônica, compreendemos que, no conto Contrabandistas, a
imagem do gaúcho é tecida com o sentido de contrabandista, rememorando a imagem do
gaúcho histórico, habitante de uma terra sem lei, livre no campo, rústico como a paisagem
do pampa, ladrão de gado, etc., deslizando em seguida para a imagem de sujeito-soldado
(aquele que defende seu território) até finalizar com o sentido de herói (valente, corajoso,
destemido). Não há, portanto, fixidez na imagem construída para esse sujeito, há imagens
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que são construídas conforme as condições de produção de um determinado momento
histórico.
Nessa mesma perspectiva, a música Desgarrados retrata um gaúcho em outra
época, um sujeito que largou sua terra e foi para cidade grande, que vive marginalizado,
excluído pela sociedade capitalista, porém que resiste através de suas memórias. Esse
desgarre cultural é fortemente marcado na letra da música, que acaba denunciando o êxodo
rural, ao mesmo tempo, revela um saudosismo em relação ao passado, à vida no campo, aos
costumes sulinos.
Compreendemos que, a imagem do gaúcho sofreu um deslize de sentidos muito
grande nesse espaço de tempo. O gaúcho contemporâneo não conservou os traços heroicos
do gaúcho retratado na literatura do início do século XX. Porém, através das análises
realizadas observamos a regularidade do apego às tradições gaúchas, aos hábitos
campeiros, que são regulares mesmo no gaúcho desgarrado.
Observamos que a literatura gauchesca transita pelos mais variados meios da cultura
popular da região sul, ora confirmando tradições, ora revelando deslocamentos. Toda
atualização faz com que haja uma retrospectiva da totalidade existente, forçando a um
reajuste ou ruptura dessa totalidade. Os sentidos e os sujeitos nunca são estanques, estão
sempre em movimento, o rastro do percurso que esse deslocamento deixa na memória é o
que permanece (a tradição) e segue produzindo sentidos. É aquilo que permanece “em si
diferente”, que ao passar do “mesmo ao mesmo” produz efeitos e novos gestos de
interpretação.
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