Filme resgata a trajetória dos irmãos Damasceno no

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Filme resgata a trajetória dos irmãos Damasceno no
O IMPARCIAL
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TERÇA-FEIRA, 18 de junho de 2013
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Sapezal inaugura no dia
30, Memorial As Galvão
pág. 6
Filme resgata a trajetória dos
irmãos Damasceno no rodeio
Cedidas/Latina Filmes
Oslaine Silva
DA REDAÇÃO
Aos apaixonados por rodeios, sejam eles competidores ou expectadores, não restam dúvidas de que a montaria em touro é a modalidade
mais radical do evento. Para
garantir a segurança dos corajosos peões que se arriscam
em cima de animais ferozes e
resistentes, existe uma figura que é fundamental nas arenas: a do salva-vidas – homens treinados, que geralmente aparecem vestidos
com trajes coloridos, chuteiras especiais e coletes de
proteção. Estes personagens
têm o papel de desviar a atenção do boi, assim que o competidor é derrubado.
Se hoje o trabalho desses
“anjos da guarda das arenas” tornou-se indispensável
nas competições oficiais de
rodeio, o reconhecimento
deve-se principalmente aos
irmãos Damasceno, de
Pirapozinho. São eles: o proponente da profissão no Brasil, Antônio Carlos, o Django;
Douzerlan Robson, o Ringo;
Deusecler, o Meio-Quilo;
Deoseflax, o Dedi; e Deosimar,
o Praça (os dois últimos in
memorian). Fundamentais no
meio, a Filmes Latina prepara um documentário sobre a
família pirapozense, que chega à sua terceira geração.
De acordo com o diretor,
Edson Cardoso, o Cowboy, 43
anos, e o produtor do filme,
Ricardo Cardoso, “Salva Vidas, Sobrenome Damasceno:
Juntos, eles fazem parte da trajetória do rodeio brasileiro
A história de uma família de
salva vidas de rodeio” tem
como objetivo homenagear os
profissionais que fazem parte da trajetória do rodeio brasileiro, trazendo à tona a verdadeira história desse evento e desmistificando diversas
lendas.
Longe das arenas há nove
anos, por conta de uma lesão
em um dos joelhos, o diretor
comenta que a profissão foi
uma lição de vida, onde
aprendeu muito. “As dificuldades, bem como o companheirismo de se viver na estrada, são muito grandes”,
frisa. Segundo ele, o rodeio
brasileiro tomou corpo como
esporte depois da introdução
da montaria em touros por
Tião Procópio que, após sua
ida para os Estados Unidos,
trouxe o estilo no padrão
americano. Cresceu e hoje é
uma potência que conta com
grandes patrocinadores, co-
Tricampeão mundial, Adriano Moraes é um dos entrevistados
“Difícil falar porque a emoção toma conta”, afirma o diretor
locando cada vez mais nomes brasileiros em ascensão
no campeonato mundial,
como é o caso do atual campeão do mundo, Silvano
Alves.
A amizade com os irmãos
começou na escola de rodeio
de Procópio, onde Dedi era o
assistente nos ensinamentos
da arte de montar touros.
“Depois de participar do curso, me destaquei entre os alunos e acabei viajando com o
Dedi para participar de muitos rodeios. Ai veio a proximidade com toda a família
Damasceno, que continua até
hoje”, revela.
Após o fim da carreira,
Cardoso entrou para o mundo da publicidade e do cinema, quando então juntou as
duas paixões com a realização deste documentário. O
filme contará toda a historia
da família, que se mistura
com o crescimento atual do
rodeio brasileiro. “Difícil falar porque a emoção toma
conta! Nossa relação de amizade era muito grande. Este
filme é um mergulho no rodeio brasileiro. Por isso resolvemos contar essa linda história. Convivi com essa família que, por muitas vezes, salvou minha vida na arena”,
narra o diretor.
Gravações
Conforme o produtor, as pri-
meiras gravações foram feitas em Barretos, em 9 de setembro de 2009. As próximas
etapas serão em Pirapozinho,
casa e cidade natal dos
Damasceno, aonde resgatará
a história do palhaço Garrafinha, patriarca dos salva-vidas. A última etapa será feita
nos Estados Unidos (EUA),
para reconstituir a passagem
de Django e Meio Quilo pela
PBR.
Até o momento, já contam
com depoimentos gravados
do tricampeão e lenda mundial do rodeio Adriano
Moraes e, Paulo Crimber,
campeão mundial de rodeio
em touros. Ainda entrevistarão Beto Tribulato, Tropeiro e
Cacá de Barretos. “Não temos
o número exato de entrevistados, porque são muitas as
pessoas que podem contar a
história do rodeio brasileiro.
Aos poucos, novos personagens vão surgindo”.
O Documentário
Os responsáveis pelo filme
falam que “Salva-Vidas, Sobrenome Damasceno: a história de uma família de salva
vidas de rodeio” é um longametragem com tempo estimado em uma hora e 20 minutos, tendo como principais cenários as grandes arenas dessa festa. “A ideia é percorrer
o Brasil afora com essa rotina. A previsão é de que lancemos no ano que vem. Mas
para ter uma ideia do que
será, o teaser pode ser visto
em: http://www.youtube.
c o m / w a t c h
?v=1QgDdZJ7tvM”, recomendam.
protetores
Família de salva-vidas de Pirapozinho está em sua terceira geração
Fotos: Marcio Oliveira
Dona Deuselinda, com os filhos Meio Quilo e Django, e o neto
Oslaine Silva
DA REPORTAGEM LOCAL
A paixão pela arena não está
registrada apenas nas fotos, troféus e homenagens, mas percebida no olhar, no tom das palavras e nas lembranças relatadas. Isso foi o que a reportagem
de O Imparcial constatou, ao
visitar a família de salva-vidas
de rodeio de Pirapozinho: os
irmãos Damasceno, que já está
em sua terceira geração.
Reunidos na casa da mãe,
dona Deuselinda Trevisan
Damasceno, 75 anos, os irmãos
Antônio Carlos, o Django, 58
anos, e Deusecler Rodrigues, o
Meio-Quilo, 51 anos, contaram
orgulhosos que tudo começou
com o pai deles, Francisco
Rodrigues Damasceno, o
Garrafinha (in memorian). Na
década de 1960, conforme lembra a matriarca, a família tinha
um circo e, nessa época, a tourada era a atração maior dos
picadeiros. “Sempre com o circo, nos dedicamos às arenas
por mais de 50 anos. Até eu
filhos foram dando os primeiros passos seguindo a tradição
da família até hoje”, exclama.
Hoje, aos 58 anos, 35 deles
dedicados à atuação nas arenas, como salva-vidas, Django
é o brasileiro responsável pela
implantação da função no País.
Ele relata que após as experiências adquiridas muitos anos
no circo, e algumas visitas em
festas de rodeio nos Estados
Unidos, se profissionalizou na
atividade.
Conta que em meados de
1978, só existia a montaria em
cavalos e era o que ele fazia em
Barretos (SP). No ano seguinte,
na mesma cidade, Tião
Procópio introduz os rodeios
em montaria em touros. Django
fala que nesse período, a comissão não via a necessidade da
atuação de um salva-vidas na
arena. Então, os peões se reuniam, faziam vaquinhas e o
pagava pelos seus serviços de
protetor das arenas. “Quando
a comissão se negava a pagar,
os competidores protestavam
[faziam greves] bem na hora da
apresentação, se recusando a
montarem. Isso até que me pagassem”, lembra.
Com mais experiência e conquistando a cada dia a confiança no meio, após cinco anos,
o irmão Meio Quilo se junta a
Arquivo Pessoal
Django, o 1º salva-vidas no Brasil, hoje na função de juiz
Nas arenas, eles arriscam suas vidas para proteger os peões
cultura nas arenas de todos os
cantos do País. “Era bem diferente quando tudo começou.
Era apenas eu. Na época não
existiam regras, nem técnico e
tudo que eu sabia aprendi no
circo. Hoje, espalhados por todos os cantos do Brasil, são
muitos os salva-vidas”, salienta Django, que atualmente é juiz
de rodeio.
que faz. Diz que da arena veio
todo seu sustento e de sua família. Mas critica a desvalorização desses profissionais. “Os
riscos são muitos, podendo inclusive, serem fatais. Enquanto a valorização é mínima”,
acusa. Conforme ele, as cidades
mais antigas na tradição das
festas, como Colorado (PR),
Americana (SP) e Fernandópolis (SP) valorizam o trabalho deles. Porém, a maioria que
conta com empresários desmerece por completo a classe. “Desde que estes se puseram à frente dos rodeios muita coisa mudou. Eles só pensam em lucrar.
Fecham um contrato com uma
prefeitura, por exemplo, em R$
200 mil e fazem por R$ 100 mil.
Enquanto um locutor ganha R$
15 mil, R$ 1,5 mil é muito para
um salva-vidas”, indigna-se.
Ainda assim, Meio Quilo revela que jamais pensou em outra profissão. E analisa o rodeio
como gerador de muitos empregos. Fala que ainda que não
esteja mais na ativa dentro da
arena, pode ser um comentarista, um juiz, diretor, entre outras
atividades do rodeio. “Isso é
minha vida. Não tem como a
gente querer mudar aquilo que
realmente nos preenche e nos
dá sentido em tudo. Amo o que
faço e espero ainda realizá-lo
De toureiro a diretor
Douzerlan Robson Rodrigues
Damasceno, o Ringo, é outro da
família pirapozense protetora
de peões de rodeio. Aos 56
anos, ele conta que foi toureiro.
Depois, durante 22 anos, foi
salva-vidas e, há mais de 10
anos, atua no ramo como
diretor. Mostra-se realizado e
feliz, chegando a trabalhar em
cerca de 20 a 30 festas por ano.
“Minha vida sempre foi ajudar
o próximo e é para isso que
estamos lá. Na arena em primeiro lugar está Deus e em segundo somos nós [salva-vidas]. Sair deste círculo? Só depois que partir desta vida”,
confessa.
Considerado por três vezes
o melhor diretor de rodeio do
Brasil, Ringo já é presença confirmada na edição 2013 de
Barretos. Ele comenta que o rodeio evoluiu, se modernizou.
percebe isso. Comenta que assim como no futebol, que é uma
das maiores paixões brasileiras, no rodeio também existe
toda uma preparação, regras a
serem seguidas. “Tem todo um
estudo, pesquisas e averiguações desde como está a estrutura do recinto até a qualidade
das montarias, locutores, saúde dos animais, entre outras
análises”.
Três décadas
Lá se vão três décadas em que
Meio Quilo se dedica a desviar
a atenção do touro de seu competidor para si. Protegendo a
vida daqueles que estão em
busca de se manter pelo menos
oito segundos em cima de um
animal enorme, que pode
machucá-los a qualquer momento. Segundo ele, é preciso
conhecer e respeitar o competidor e, principalmente, o animal
que o peão está montando.
Ele enfatiza que assim como
os locutores abrilhantam o
evento com seus versos e prosas levantando o público, os
salva-vidas estão sempre em
ação, mas em uma função bem
mais arriscada. “Estamos ali
para proteger a vida dos competidores. Para garantirmos
que seja realmente uma festa
para todos”, ressalta.
O caçula
Ramon Rodrigues Nanci
Damasceno, 22 anos, é o mais
novo da família em atividade.
Filho de Django, diz que quando era pequeno, enquanto o pai
trabalhava na arena, ele observava dos bretes. Até que não
teve mais jeito e foi para junto
do pai. Há oito anos seguindo
a trajetória profissional familiar, afirma nunca ter pensado
em outra atividade. “’Tá’ no
sangue sabe? Não me vejo fazendo outra coisa. No início
dava aquele nervosismo, hoje é
como se estivesse no quintal de
casa”. Analisando o sucesso de
todos da família, inclusive dos
tios já falecidos Praça e Dedi,
este perdeu a vida aos 45 anos
quando voltava de Jaguariúna
(SP), o caçula Ramon também é
promessa de êxito nas arenas.
Há seis anos o jovem participa
da Festa de Peão de Colorado e
há quatro de Barretos.
“É legal saber que a mídia
de certo modo valoriza nosso
trabalho. A família já esteve nas
novelas ‘Ana Raio e Zé Trovão’,
‘Pantanal’ e ‘América’ [que foi
onde nosso nome despontou
muito], no curta ‘Solidão e Fé’ e
em reportagens do ‘Globo Repórter’ e ‘Fantástico’. Agora
este do Cardoso: ‘Salva Vidas,
Sobrenome Damasceno’”, co-

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