resumo - Cursinho TRIU
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resumo - Cursinho TRIU
k brasil revolta da chibata de olho na história Um século do fim do chicote fotos: fundação museu da imagem e do som-rj / acervo augusto malta Na Revolta da Chibata, iniciada em 22 de novembro de 1910, 2,3 mil marinheiros se amotinaram, tomaram os principais navios de guerra do país e ameaçaram o poder do Estado A s fotos desta página retratam a Revolta da Chibata, um importante episódio da história brasileira que, durante muito tempo, foi banido da memória nacional por ser incômodo às elites. Seu principal líder, o marinheiro negro João Cândido Felisberto (1880-1969), sobreviveu à revolta, mas teve uma vida miserável e só foi anistiado pelo Congresso Nacional em 2008, 39 anos após sua morte. Preste atenção à foto acima, que mostra os marinheiros no controle do encouraçado São Paulo durante a revolta: quase todos são negros. Assim era a Marinha brasileira nas primeiras décadas da República: marujos negros em sua quase totalidade, oficiais brancos. A escravidão no Brasil havia acabado em 13 de maio de 122 atualidades vestibular + enem 2011 1888, e, com ela, os castigos físicos aos escravos. Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, também foram abolidos na Marinha. No entanto, no ano seguinte, é aprovado um código disciplinar para a Marinha prevendo a punição de 25 chibatadas (chicotadas). No início do século XX, o descontentamento com os maus-tratos cresce, sobretudo quando os marinheiros comparam a situação com a de outros países. Em 1909, centenas de marinheiros brasileiros vão para a Inglaterra para receber o encouraçado Minas Gerais, um dos mais modernos do mundo à época. Lá, ficam sabendo, por exemplo, da revolta do encouraçado Potemkin, na Rússia, em 1905. Começam então a articular um motim no Brasil. A revolta As eleições presidenciais de 1910 são vencidas pelo marechal Hermes da Fonseca. O levante fica marcado para dez dias após sua posse. Um acontecimento, porém, vai antecipá-lo: em 16 de novembro, o marinheiro Marcelino Rodrigues, do encouraçado Minas Gerais, é submetido a 250 chibatadas a vista de toda a tripulação, por ter ferido à navalha um cabo que o acusou de um delito. Mesmo após Rodrigues perder os sentidos, o castigo prossegue. Em 22 de novembro de 1910, estoura a Revolta da Chibata. Aderem ao levante 2,3 mil marinheiros, nos encouraçados São Paulo e Minas Gerais, no cruzador Bahia e em outras embarcações fundeadas na baía de Guanabara. Na ação, seis oficiais são mortos. Os canhões são apontados para o Rio de Janeiro, a capital federal, e, em particular, para o Palácio do Catete, sede da Presidência da República. João Cândido, chamado de “Almirante Negro”, formula uma carta simples com as exigências: “O governo tem de acabar com os castigos corporais, melhorar nossa comida e dar anistia aos revoltosos. Senão, a gente bombardeia a cidade”. As negociações começam. Em 25 de novembro, o Congresso Nacional aprova a anistia. No dia seguinte, o presidente Hermes da Fonseca aceita as reivindicações, mesmo com a resistência da cúpula da Marinha, disposta ao enfrentamento. No fim, os marinheiros depõem as armas e devolvem o comando dos navios aos oficiais. Repressão NA ALÇA DE MIRA Os marujos do encouraçado São Paulo apontam os canhões para o Palácio do Catete, em 26/11/1910 O compromisso da anistia, porém, não é cumprido. Em dois dias, começam as prisões dos revoltosos. Em reação, 600 fuzileiros da Ilha das Cobras se amotinam. A resposta é implacável: são bombardeados e morrem quase 500. Os demais são presos. Dezoito marinheiros, entre os quais João Cândido, são aprisionados numa cela minúscula, na qual é jogada cal virgem com água. Um dia depois, só sobrevivem João Cândido e mais um. Ele continua detido e, mais tarde, é internado em um hospício. Centenas de ex-revoltosos acabam deportados para a Amazônia (para trabalho forçado em seringais) ou são mortos. Em 1912, João Cândido é absolvido da acusação de apoiar o motim da Ilha das Cobras, é solto, mas permanece expulso da Marinha. Só com a anistia em 24 de julho de 2008, aprovada pelo Congresso Nacional, João Cândido e seus companheiros são reabilitados. A Revolta da Chibata é exemplar do cenário da República Velha: ainda permaneciam aspectos do Brasil escravocrata, com a forte opressão e discriminação dos negros, e as questões sociais no país eram tratadas como caso de polícia, ou seja, na base da repressão armada. Mas, com a Revolta da Chibata, apesar do alto custo humano, os marinheiros impuseram o fim dos castigos físicos na Marinha brasileira. u 2011 atualidades vestibular + enem 123 k economia países emergentes O Brasil eo Bric E mbora possua um território de dimensões continentais, riquezas naturais invejáveis e a quinta maior população do mundo, o Brasil sempre exerceu papel secundário no cenário internacional. Mas essa situação começou a mudar nos últimos anos, e o país passou a ocupar um lugar de maior destaque nas grandes questões da atualidade. No front econômico, o Brasil consolida a sua influência mundial como o principal exportador de commodities (matériasprimas). Com a descoberta de enormes reservas de petróleo em camadas profundas 124 atualidades vestibular + enem 2011 afp/evaristo sa Com uma economia em franca expansão, o Brasil ganha influência no cenário mundial e integra o grupo de países emergentes que podem se tornar a maior força econômica do mundo (pré-sal), a expectativa é a de que o país também se torne um grande fornecedor de energia. Na última década, ao lado da estabilização financeira, que converteu o Brasil num destino seguro e desejado para o capital estrangeiro, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro esteve em franca expansão até a eclosão da crise mundial, no fim de 2008 – mas o impacto no país foi considerado modesto, e a expectativa para 2010 é de crescimento de 5%. O reconhecimento externo da importância econômica do Brasil cristalizou-se com a inclusão do país num seleto grupo de nações emergentes que vem dando o que falar na imprensa mundial: o Bric, nome formado pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China. À medida que amplia a sua participação na economia global, o país busca maior projeção política. Além de ser um dos líderes do movimento pela reforma do Conselho de Segurança da ONU (veja na pág. 58), o governo Lula vem assumindo a dianteira na campanha pela maior liberalização do comércio mundial. Nas crises regionais, o Brasil também marca presença ao chefiar desde 2004 a missão da paz da ONU no Haiti. Em 2010, a diplomacia brasileira deu um passo ambicioso, ao tentar mediar o impasse nuclear envolvendo o Irã e as potências ocidentais (veja na pág. 28). Depois, entrou em choque direto com os Estados Unidos, ao votar contra as novas sanções aprovadas na ONU contra o Irã. Nasce o Bric Em 2001, quando o economista Jim O’Neill, chefe de pesquisa em economia global do banco Goldman Sachs, debruçou-se sobre os principais dados econômicos desses quatro grandes países poder paralelo emergentes, percebeu que eles O economista juntou os O presidente Lula se destacavam dos demais. Não quatro países e criou um recebe em Brasília os apenas porque Brasil, Rússia, bloco que não existia. Para outros líderes do Bric China e Índia são países grannomeá-lo, ele concebeu um na segunda reunião des e populosos; nem somente acrônimo, ao pegar empresde cúpula do bloco, porque apresentavam econotado de cada país a sua letra em abril de 2010 mia em rápido crescimento. O inicial: Bric. Acrônimo é o que chamou sua atenção foi a nome que se dá a uma palavra constatação – com base em projeções deque surge quando se juntam uma ou mais mográficas e econômicas – de que o grupo, letras iniciais de um conjunto maior, com quando somado, poderá representar em o objetivo de simplificar a comunicação. 2050 a maior força econômica do planeta, Pode “pegar” ou não, dependendo da sua suplantando os Estados Unidos, o Japão e adequação ou originalidade. E chamar os os membros da União Europeia. quatro grandes emergentes de Brics caiu 2011 atualidades vestibular + enem 125 k economia países emergentes O TAMANHO DO G-20 Bloco reúne 19 nações e a União Europeia (formada por 27 países)* País População PIB (em bilhões de dólares) IDH (índice vai de 0 a 1) Rússia 140,9 milhões 1.607 0,817 Alemanha 82,2 milhões 3.652 0,947 Reino Unido 61,6 milhões 2.645 0,947 Canadá 33,6 milhões 1.400 0,966 Japão 127,2 milhões 4.909 0,960 França 62,3 milhões 2.853 0,961 Estados Unidos 314,7 milhões 14.204 0,956 Coreia do Sul 48,3 milhões 929,1 0,937 Itália 59,9 milhões 2.293 0,951 México 109,6 milhões 1.085 0,854 China Arábia Saudita Índia Brasil Turquia Indonésia Argentina África do Sul Austrália 25,7 milhões 467,6 0,843 *Obs: Fazem parte da União Europeia os seguintes países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia e Suécia 193,7 milhões 1.612 0,8137 74,8 milhões 794,3 0,806 40,3 milhões 328,4 0,866 50,1 milhões 276,7 0,683 1,198 bilhão 1.217 0,612 1,34 bilhão 4.326 0,772 230 milhões 514,4 0,734 21,3 milhões 1.015 0,970 OUTROS GRUPOS G-7 (Grupo dos 7) – EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, Itália, França e Canadá G-8 – Todos os países do G-7 mais a Federação Russa G-8 +5 – Todos os países do G-8 mais cinco grandes emergentes, que são: Brasil, México, Índia, África do Sul e China G-4 – Brasil, Alemanha, Japão e Índia Bric – Brasil, Federação Russa, Índia e China stephen thompson RIQUEZAS DIVERSAS É interessante notar como os países do G-20 são diferentes entre si. Por exemplo, observe o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Esse índice combina indicadores de renda, saúde e educação. Ele varia de 0 a 1. Quanto mais perto de 1, melhor. Repare que o Brasil, nesse ponto, não está muito bem colocado em relação a seus parceiros, ficando à frente apenas da África do Sul, China, Índia, Indonésia e Turquia. Com relação à população, o bloco conta com gigantes como Índia e China, ao lado de Austrália, com apenas 21 milhões de habitantes (o dobro da cidade de São Paulo). Quando for observar o PIB, não se esqueça de que está em bilhões. O dos EUA, portanto, ultrapassa os 14 trilhões de dólares. Fonte: ALMANAQUE ABRIL 2010 A expectativa para a próxima década é de expansão da classe média na área do Bric no gosto de jornalistas e economistas, e dos próprios governos desses países, que em junho de 2009 realizaram sua primeira reunião, em Ecaterimburgo, na Rússia, e emitiram uma declaração conjunta, pedindo o estabelecimento de uma ordem mundial multipolar. Consumo interno Em larga medida, a força do Bric provém da enorme fatia da população mundial concentrada nos quatro países. Neles vivem 2,7 bilhões de habitantes, o equivalente a 40% da humanidade. A grande maioria desse contingente é de chineses e indianos, 126 atualidades vestibular + enem 2011 os países com as mais aceleradas taxas de crescimento econômico entre as grandes economias. O Bric também possui um território enorme. Somada, a área dos quatro países representa um quarto das terras do planeta. Nesse vasto território, há muita riqueza, como petróleo (Rússia e Brasil), produtos agrícolas (Brasil), mão de obra farta e barata (China) e potencial para o desenvolvimento de mais produtos com as inovações científicas e tecnológicas (China e Índia). A aposta atual dos economistas é que esta será a década na qual o Bric presenciará a inclusão de grande parcela da população ao universo de consumo da classe média. No Brasil, um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que 32 milhões de pessoas passaram a integrar a classe média entre 2003 e 2008, o que levou a uma alta de 15% no potencial de consumo do brasileiro. Pelos critérios da FGV, pertencem à classe média pessoas com renda domiciliar superior a R$ 4807 (classe AB) ou entre R$ 1115 e 4806 (classe C). De acordo com um informe publicado em 2010 pelo Goldman Sachs, a expansão da classe média no Bric, especialmente na China e na Índia, orientará o mercado mundial, já que o perfil de consumo dessa classe social difere daquele típico das camadas mais pobres – no qual o peso do gasto com comida e roupa é proporcionalmente bem mais elevado do que com educação ou lazer (veja o gráfico na pág. 129). Papéis diferentes De acordo com os critérios da classificação criada por Jim O’Neill, haveria entre os países do grupo certa divisão de funções. Brasil e Rússia seriam os grandes fornecedores de matéria-prima, principalmente de alimentos, no caso brasileiro, e de petróleo, no russo. Com a entrada em operação dos campos do présal, o Brasil deve se tornar, também, um exportador de petróleo. Por outro lado, Índia e China concentram, cada vez mais, mão de obra e tecnologia suficientes para inundar os mercados do mundo, e seus mercados internos, com toda sorte de bens manufaturados e de serviços. O papel de grande exportador agropecuário do Brasil vem se consolidando, ano a ano, especialmente devido à produção de soja e de carne bovina – nas duas commodities, o que se produz no país seria suficiente para alimentar boa parte da demanda mundial. A participação crescente do Brasil na economia global também decorre da solução energética representada pelo biocombustível, produzido com o etanol da cana-de-açúcar; da existência de grandes jazidas minerais e reservas de petróleo; e do fato de o país possuir a maior reserva de água doce do planeta. CONSUMO EM ALTA Já a Rússia dificilmente se tornar a segunda economia Movimentada rua de conseguirá recuperar a relemundial, ultrapassando o Jacomércio em Hong vância econômica e política pão em breve. Kong (China), um dos que teve na primeira metade Além do grande continpolos mais dinâmicos do século passado, quando ligente populacional, Índia e do capitalismo mundial derava a União das Repúblicas China vêm investindo pesaSocialistas Soviéticas (URSS). damente na qualificação de Entretanto, o país conta com extensas sua mão de obra. Para ter uma ideia do reservas de petróleo, de gás natural e de esforço imenso feito em educação, a cada carvão, e também com um importante ano a China forma mais de 5 milhões de arsenal de armas, que a faz temida e resuniversitários, sendo 75 mil apenas em peitada no mundo. Também herdou da engenharia e ciências da computação. A corrida armamentista da época da Guerra Índia não fica muito atrás dos chineses, Fria uma mão de obra especializada que formando por ano mais de 3 milhões de está encontrando ocupação em outras jovens no Ensino Superior, sendo 60 mil áreas técnicas. nas estratégicas áreas de engenharia e computação, que devem formar a base de A Índia poderá apresentar a mais alta média de crescimento econômico do Bric pesquisa e desenvolvimento de produtos nas próximas décadas. Estima-se que, em nos dois países. As próprias multina2050, ela poderá ser a terceira economia cionais já perceberam isso, tanto que o global, atrás de China e Estados Unidos. centro de pesquisa e desenvolvimento da Quanto à China, o país está a caminho de Microsoft em Pequim, por exemplo, é o 2011 atualidades vestibular + enem 127 k Resumo economia países emergentes QUANDO CRESCE A CLASSE MÉDIA, MUDAM OS GASTOS Gastos com consumo (% do total mundial) O gráfico mostra a participação das diversas despesas (em %) em cada faixa de renda anual (em US$) (Relatório de 2010) Estados Unidos Mercados emergentes 35 Richard Lewis/Newsteam.co.uk/divulgação 30 25 20 SURGE O BRIC A expressão foi criada em 2001 pelo economista Jim O’Neill para agrupar os quatro mais importantes países emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China). Segundo o estudo inicial que cunhou a expressão, em 2050 o Bric poderá representar a maior força econômica do planeta. 100% Transporte, cultura e lazer Água e energia (luz, gás) Saúde Educação Telefonia, Internet e Televisão Manutenção da casa Vestuário e calçados Alimentação 40 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 1990 Ao lado dos países do Bric, o Brasil integra o G-20, fórum econômico de destaque no mundo segundo maior da gigante da informática, só ficando atrás da sede da empresa, nos Estados Unidos. Apesar do crescimento vigoroso – de causar inveja aos países ricos, todos ainda patinando na recessão econômica desencadeada pela crise de 2008 –, persistem alguns problemas sérios nas economias do Bric. O maior deles é a má distribuição da renda nacional, responsável pela existência de uma grande massa de pobres à margem do mercado de consumo. Basta lembrar que há na China 135 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza (com menos de 1 dólar por dia), contingente inferior apenas ao que existe na Índia. Há também graves problemas de infraestrutura, como más condições de transporte e gargalos na circulação de mercadorias. Do G-7 ao G-20 O primeiro bloco de países que formou uma reunião de cúpula permanente para debater questões de economia e segurança foi o G-7, formado pelos países mais ricos do mundo – França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. É sobretudo um espaço para os líderes de nações importantes se encontrarem pessoalmente com certa frequência. As origens do G-7 remontam 128 Países emergentes CONSUMIDORES DE PRIMEIRA INSTÂNCIA (*Projeção) q atualidades vestibular + enem 2011 grupo dos 20 O presidente Lula participa da reunião de cúpula do G-20, que reúne as principais economias do mundo à década de 1970 e estão relacionadas aos problemas colocados aos países ricos com a crise do petróleo e a recessão mundial decorrente dela. Com a inclusão posterior da Rússia, o G-7 passou a ser chamado de G-8. Na década de 1990, foi criado o G-20, como uma resposta à crise financeira dos anos 1990 e em decorrência do fato de que era preciso incluir os principais paí ses emergentes nas grandes discussões e decisões, pelo peso que passaram a ter suas economias no cenário internacional. Dele fazem parte todos os membros do G-8, além de China, Índia e Brasil, entre outros. Juntos, os países-membros do G-20 respondem por 85% das riquezas produzidas no planeta, 80% do comércio global e dois terços da população mundial. Até poucos anos atrás, o G-8 ainda era o fórum de maior destaque no cenário internacional. Em 2009, no auge da crise econômica, que atingiu em cheio as nações mais ricas do mundo, muitos anunciavam a “morte do G-8”, ou seja, a perda de seu papel de referência principal. Embora exagerada, a afirmação reconhecia o fato de que, nos dias de hoje, é impossível ignorar a influência decisiva que os países emergentes exercem na economia mundial – e os destaques vão para os integrantes do Bric, que, com exceção da Rússia, foram afetados de forma menos severa que as nações ricas pela recente crise financeira global. 2000 2010* 10% Influência brasileira Nesse contexto de aumento da relevância do Bric e do G-20, a diplomacia brasileira busca um papel maior na condução dos negócios globais, e conta com o lugar particular ocupado pelo presidente Lula, como líder de um partido de esquerda, mas que, no exercício do poder, adotou várias políticas conservadoras, sobretudo na área econômica – e manteve sua popularidade interna (beirando os 80% de aprovação em meados de 2010). Assim, na América Latina, Lula faz um contraponto às posições nacionalistas e radicais do líder venezuelano Hugo Chávez e adota uma linha de colaboração com a política externa dos EUA em diversos pontos. O país chefia as tropas de missão de paz da ONU no Haiti desde 2004, num momento em que os EUA mantêm quase 200 mil soldados no Afeganistão e no Iraque e buscam parceiros para dividir os altos custos das intervenções militares no tabuleiro global. Mas a política externa brasileira, que mantinha uma tradição de não ingerência, está mais atuante e entrou em choque com a norte-americana em dois eventos recentes. Ao contrário de Washington, o Brasil se recusou a reconhecer o resultado das eleições em Honduras, ocorridas em novembro de 2009, após um golpe de Estado cinco meses antes. Em junho de 2010, o Brasil e a Turquia foram os únicos países do Conselho de Segurança da ONU a votar contra o novo pacote de sanções ao Irã, apesar da pressão dos EUA. Foi uma forma de o Brasil protestar contra a não aceitação do acordo com o Irã costurado por brasileiros e turcos (veja na pág. 28). O peso do Brasil também é grande quando são discutidas questões ambientais. A dimensão continental do Brasil, que abriga a maior floresta tropical do mundo – a Amazônica –, faz com que o país seja fundamental nas negociações sobre as medidas para combater as mudanças climáticas. No âmbito econômico, a liberalização comercial tem sido uma das bandeiras de Lula. O Brasil trabalha ativamente para concluir a Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), que >35000 20000 35000 7500 20000 3500 7500 2000 3500 Fonte: GSGlobal ECS Research/Goldman Sachs nº 10/03, maio de 2010 1500 2000 Fonte: J.P. Morgan Chase 1000 1500 COMENTÁRIO Repare neste gráfico como, à medida que a renda se eleva, muda a composição do orçamento. Quanto mais rica a pessoa, maior é o investimento em saúde, cultura e educação e também o gasto com água e energia. Nas fatias mais pobres, a maior parte da renda é destinada a alimentação, vestuário e calçados. 0 800 1000 OS NOVOS REIS DO CONSUMO Segundo as estimativas e a projeção deste gráfico, publicado na revista The Economist de abril de 2010, o mundo emergente atravessa a fase de crescimento mais espetacular da história. Desde 2007, os consumidores dos mercados emergentes somados superaram os norte-americanos. estão emperradas desde 2006. Nessas negociações sobre as normas que regem o comércio global, o que se discutem são principalmente a redução dos subsídios agrícolas que os países ricos concedem aos produtores locais (o que beneficiaria o comércio externo dos países pobres, tradicionais exportadores de alimentos) e o corte das tarifas de importação que os países em desenvolvimento impõem às importações das nações desenvolvidas (o que beneficiaria o comércio externo dos países ricos). u Saiu na imprensa Mantega: BRICs representarão dois terços da economia mundial em 5 anos Madri, Espanha - Os principais países emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China (os BRICs), representarão dois terços da economia mundial nos próximos cinco anos, de acordo com o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega. “Nos próximos cinco anos, são os países emergentes, os BRICs, os que vão liderar o crescimento mundial e responder por dois terços da economia mundial, e com um crescimento de 5% a 5,5% o Brasil estará entre eles”, previu o ministro em um discurso em uma conferência sobre a economia brasileira em Madri. A previsão oficial de crescimento do Brasil em 2010 é de 5,5% a 6% do Produto Interno Bruto (PIB), recordou Mantega, antes de afirmar que esta é uma estimativa “conservadora”, já que alguns analistas acreditam em uma alta de 6% a 7%. Nos outros países do BRIC, a China deve crescer 10%, a Índia 7% e a Rússia 5,5%, segundo o ministro. (...) Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), os BRICs representaram entre 2000 e 2008 quase 50% do crescimento mundial. Até 2014, os quatro países devem ser responsáveis por 61% do crescimento econômico. Para o ex-ministro espanhol da Economia Carlos Solchaga, o “Brasil é hoje um dos melhores exemplos de êxito na globalização”. O Globo, 19/5/2010 PAPÉIS DIFERENTES Os quatro grandes emergentes exercem papéis econômicos diferentes: Brasil e Rússia se tornaram grandes fornecedores de energia e matéria-prima, enquanto Índia e China investem na especialização de sua imensa mão de obra e na produção de sofisticadas mercadorias. CONSUMO INTERNO Outra característica que une os integrantes do Bric é a enorme expansão da classe média, que deverá acontecer no decorrer da próxima década, em razão do forte crescimento econômico vivido pelos quatro países. G-20 Reúne 20 países desenvolvidos e emergentes, que, juntos, respondem por 85% do PIB do planeta, 80% do comércio global e dois terços da população mundial. G-8 Grupo formado pelos sete países mais ricos (Estados Unidos, Canadá, França, Reino Unido, Alemanha, Itália e Japão) mais a Rússia. O G-8 perdeu relevância política desde a crise econômica de 2008-2009, que afetou mais seriamente as economias desenvolvidas. CONSELHO DE SEGURANÇA O Brasil lidera a campanha por reformas no Conselho de Segurança da ONU , defendendo a ampliação do número de integrantes permanentes. Mas a proposta tem esbarrado na resistência dos Estados Unidos e da China em dividir o poder, especialmente em questões relativas à segurança mundial. ATRITO COM OS EUA Embora adote uma política externa de colaboração com Washington em vários pontos, o Brasil votou contra o novo pacote de sanções da ONU ao Irã, defendido pelo governo norte-americano. 2011 atualidades vestibular + enem 129 k ECONOMIA GLOBALIZAÇÃO afp F Turbulências no mundo globalizado A economia mundial enfrenta recessão em 2009, após crise financeira iniciada nos Estados Unidos 130 atualidades vestibular + enem 2011 alência de bancos e indústrias, bolsas de valores em queda e países com a economia em crise. Esses têm sido alguns dos acontecimentos recentes da economia mundial, sobre os quais podemos ler todo dia nos jornais e revistas. Como, atualmente, a economia dos países é muito interligada, a crise iniciada há dois anos no mercado financeiro dos Estados Unidos acabou rapidamente por afetar a economia global de modo geral. A atual crise estourou em setembro de 2008, quando uma onda de falências atingiu bancos e empresas imobiliárias norteamericanos. A seguir, o problema espraiouse para a Europa, provocando a pior crise econômica desde a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Em consequência, o mundo entrou numa recessão em 2009, da qual estava tentando se recuperar no fim do ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas eis que, em dezembro, eclodiu uma crise de endividamento financeiro da Grécia, país da União Europeia, que voltou a tumultuar as bolsas de valores e os mercados internacionais (veja na pág. 88). As principais características da atual crise, como a grande liberdade de movimento de capitais e a velocidade com que os problemas financeiros surgidos nos Estados Unidos se espalharam, são típicas da globalização, atual queda histórica fase de desenvolvimento da econoNo auge da crise mia global, na qual global, em dezembro o mundo entrou há de 2008, investidor duas décadas. chinês lamenta quedas recordes no mercado História de ações do país Para entendermos a globalização, é preciso saber que o fenômeno em si começou há muito tempo. Os primeiros passos rumo à conformação de um mercado mundial e de uma economia global remontam aos séculos XV e XVI, com a expansão ultramarina europeia. Quando Cristóvão Colombo chegou à América, em 1492, deu início ao que alguns historiadores chamam de primeira globalização. O avanço do mercantilismo estimulou a procura de novas rotas comerciais da Europa para a Ásia e a África, cujas riquezas iriam somar-se aos tesouros extraídos das minas de prata e ouro do continente americano. Essas riquezas forneceram a base para a Revolução Industrial, no fim do século XVIII, que, com o tempo, desenvolveu o trabalho assalariado e o mercado consumidor. As descobertas científicas e as invenções provocaram grande expansão dos setores industrializados e possibilitaram o desenvolvimento da exportação de produtos. Começaram a surgir, no fim do século XIX, as corporações multinacionais, industriais e financeiras, que irão se reforçar e crescer durante o século XX. O mercado mundial estava, então, atingindo todos os continentes. A interdependência econômica entre as nações tornou-se evidente em 1929: após a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, a depressão econômica norte-americana teve consequências negativas no mundo todo. Enquanto isso, a Revolução Russa de 1917 e outras ocorridas após a II Guerra Mundial retiraram diversos países de uma inserção direta no mercado mundial. Mas, com o tempo, esses regimes passaram a sentir uma crescente pressão econômica e política e foram se abrindo, gradualmente. Neoliberalismo O fim do século XX assiste a um salto nesse processo. Em 1989, acontece a queda do Muro de Berlim, marco da derrocada dos regimes comunistas no Leste Europeu. Nos anos seguintes, esses países serão incorporados ao sistema econômico mundial. A própria integração da economia global acentuou-se a partir dos anos 1990, por intermédio da revolução tecnológica, especialmente no setor de telecomunicações. A internet, rede mundial de computadores, revelou-se a mais inovadora tecnologia de comunicação e informação do planeta. As trocas de informações (dados, voz e imagens) tornaram-se quase instantâneas, o que acelerou em muito a integração das atividades econômicas. No momento atual, há uma política econômica dominante em escala mundial chamada de neoliberalismo, também conhecida como Consenso de Washington. Essa última expressão surgiu em 1989, durante uma reunião na capital norte-americana, Washington, no International Institute for Economy, quando funcionários do governo dos Estados Unidos, de organismos internacionais e economistas latino-americanos debatiam um conjunto de diretrizes para que a América Latina conseguisse superar a crise econômica da época e voltasse a crescer. Era um período difícil para os países latino-americanos, com dívida externa elevada, estagnação econômica, inflação crescente, recessão e desemprego. As conclusões desse encontro passaram a ser chamadas informalmente de Consenso de Washington, expressão atribuída ao economista inglês John Williamson, ex-funcionário do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Por decisão do Congresso norte-americano, essas medidas foram adotadas como políticas impositivas cada vez que esses países viessem a solicitar a renegociação de suas dívidas. Mais tarde, as soluções apontadas no Consenso de Washington tornaram-se o modelo do FMI e do Banco Mundial para todo o planeta. O neoliberalismo prega que o funcionamento da economia deve ser entregue às leis de mercado. Segundo seus defensores, a presença do Estado na economia inibe o setor privado e freia o desenvolvimento. Algumas de suas características são: k abertura da economia por meio da liberalização financeira e comercial e da eliminação de barreiras aos investimentos estrangeiros; k amplas privatizações; k redução de subsídios e gastos sociais por parte dos governos; k desregulamentação do mercado de trabalho, para permitir novas formas de contratação que reduzam os custos das empresas. Historicamente, as ideias do neoliberalismo contrapõem-se às do keynesianismo – ideário formulado pelo economista John Keynes (1883-1946), dominante no período do pós-guerra, a partir de 1945 –, que defendia um papel determinante e uma presença ativa do Estado na economia como forma de impulsionar o desenvolvimento (um exemplo da política de Keynes foi o New Deal, adotado nos Estados Unidos após a quebra da Bolsa em 1929, com maciços investimentos estatais para reativar a economia). Nas últimas duas décadas, a expansão do comércio global resultou na intensifi- cação do fluxo de capitais entre os países. A busca de maior lucratividade levou as empresas a investir cada vez mais no mercado financeiro, que se tornou o centro da economia globalizada. A atual mobilidade do mercado mundial permite também que grandes empresas façam a relocalização de suas fábricas – nome que se dá ao fechamento de unidades de produção em um local e sua abertura em outra região ou outro país. Esse mecanismo é globalmente usado para cortar gastos com mão de obra, encerrando a produção em países nos quais os salários são maiores para organizar a produção onde há menos custos. À medida que as nações vão reduzindo suas barreiras comerciais, a fabricação em qualquer ponto do mundo e a exportação para outros mercados tornam-se cada vez mais rentáveis. Blocos econômicos Outro movimento importante da economia global que se intensificou nas últimas décadas foi a formação de blocos econômicos, como a União Europeia, o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e o Mercosul. Os primeiros agrupamentos de nações surgiram com o objetivo de facilitar e baratear a circulação de mercadorias entre seus membros. Sob a economia globalizada, os blocos econômicos ajudam a abrir as fronteiras de cada nação ao livre fluxo de capitais, ao reduzir barreiras alfandegárias, práticas protecionistas e regulamentações nacionais. Existem quatro modelos básicos de bloco econômico: k zona de livre-comércio, em que há redução ou eliminação de tarifas alfandegárias; k união aduaneira, que, além de abrir o mercado interno, define regras para o comércio com nações de fora do bloco, ou seja, todos cobram os mesmos impostos, taxas e tarifas de importação de terceiros; k mercado comum, no qual, além de serviços e mercadorias, capital e trabalhadores também podem circular livremente; k união econômica e monetária, em que os países de um mercado comum adotam a mesma política de desenvolvimento e uma moeda única. 2011 atualidades vestibular + enem 131 k Resumo ECONOMIA GLOBALIZAÇÃO A globalização acentuou as desigualdades sociais e econômicas entre as regiões e os países A formação de blocos econômicos acelerou o comércio mundial. Antes, qualquer produto importado chegava ao consumidor com um valor mais elevado, em razão dos impostos cobrados por cada país para proteger as suas empresas. Os acordos entre os países reduziram essas barreiras comerciais – em alguns casos, acabaram com elas –, processo conhecido como liberalização comercial. O bloco econômico mais importante do mundo é a União Europeia (UE), tanto pela força de algumas de suas economias – como as da França, Alemanha e Reino Unido –, quanto pela profundidade das relações entre seus membros (veja na pág. 88). Os norte-americanos impulsionaram o Nafta, tornando México e Canadá economias diretamente vinculadas à sua. Os Estados Unidos também fazem parte da Apec (Área de Livre-Comércio da Ásia e do Pacífico), integrada por Japão, China, Austrália e Chile, entre outras nações. Na América do Sul, o grande bloco é o Mercosul, criado em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que desde o nascimento teve os Estados Unidos como parceiro principal – pelo Acordo 4+1. Atualmente, a Venezuela está em processo de integração ao Mercosul. OS EUA TÊM QUASE 25% DO PIB MUNDIAL AS EXPORTAÇÕES DOS RICOS CRESCEM MAIS Distribuição do PIB no mundo, em %, em 2008 Evolução das exportações, por grupos selecionados (em bilhões de dólares) Resto do mundo 30,2 4.500 Estados Unidos 23,4 América do Norte e Europa Ásia Oriente Médio América do Sul e Central África 4.000 3.500 PIB mundial em 2008 US$ 60,6 trilhões Espanha 2,6 PAÍSES RICOS CARREGAM DÍVIDA DE US$ 43 TRI 5.000 Índia 2,0 Canadá 2,3 Saiu na imprensa Federação Russa 2,7 Brasil 2,7 Itália Reino Unido França 3,8 4,4 4,7 3.000 2.500 Japão 8,1 Jamil Chade, de Genebra 2.000 1.500 China 7,1 Alemanha 6,0 1.000 500 0 1953 1963 1973 1983 1993 2003 COMPARAÇÕES Existe uma relação estreita entre a produção de riquezas (PIB) e a participação no comércio mundial (veja no gráfico abaixo), mas as coisas não são exatamente iguais. O PIB dos EUA representa 23,4% da economia global e 10,6% do comércio mundial. Já a Alemanha tem uma economia fortemente exportadora: seu PIB é 6% do total global, mas o país morde 8,2% do comércio mundial. O perfil do Brasil está mais próximo ao dos EUA: nossa economia representa 2,7% do PIB mundial, mas participamos de apenas 1,2% das compras e vendas no mercado global. DESIGUALDADE O gráfico mostra 50 anos de evolução do comércio internacional. Há um crescimento enorme das exportações dos Estados Unidos e da Europa frente ao resto do mundo. O crescimento da Ásia relaciona-se, sobretudo, com Japão e China. Note que esse processo se acentua com a globalização, no início dos anos 1990. Isso ocorre porque os países ricos concentram a venda de produtos de tecnologia de ponta, com alto valor agregado, e os países pobres, a venda de matérias-primas. Essa estrutura de comércio reforça as desigualdades entre os países do globo. Fonte: Banco Mundial Fonte: OMC Desigualdades Atualmente, os grandes investidores internacionais podem, com o simples acesso ao computador, retirar milhões de dólares de nações nas quais vislumbram problemas econômicos, políticos ou sociais. Quando os países se tornam excessivamente vulneráveis a esses movimentos bruscos de capitais – com retirada maciça de investimentos estrangeiros –, organismos internacionais como o FMI liberam empréstimos para que eles possam enfrentar a sangria de dólares. Em contrapartida, os governos beneficiados ficam obrigados a obedecer ao receituário ditado pelo organismo, basicamente o estabelecido pelo Consenso de Washington. Uma das consequências disso é que, além de muitas vezes penalizar a população carente, por causa da desativação ou desaceleração dos investimentos sociais, essas políticas tendem a frear o crescimento econômico, por força da maior carga tributária, do congelamento de investimentos públicos e da elevação dos juros. Assim, a globaliza- 10,6 DEZ PAÍSES TÊM MAIS DA METADE DO COMÉRCIO MUNDIAL Exportações e importações de 30 países em relação ao total global, em %, em 2008 8,2 CONCENTRAÇÃO Os números acima de cada barra representam quanto do comércio mundial é feito por país: por exemplo, os Estados Unidos, sozinhos, respondem por 10,6% de todas as compras e vendas feitas entre nações no mundo. Veja as dez principais: temos nove ricas – seis pertencentes à União Europeia – e apenas uma em desenvolvimento, a China, que nas últimas três décadas apresenta enorme crescimento no comércio internacional. O Brasil continua num patamar de 1,2% do comércio mundial, apesar dos esforços dos últimos 15 anos para favorecer as exportações 1,0 0,9 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,2 1,2 1,2 1,2 1,3 1,4 1,5 1,9 2,0 2,1 2,3 2,3 7,8 4,7 3,7 2,6 2,7 2,9 3,3 4,0 3,4 A C P A C S A E J C C H B I S Á R F B M H R E M T T E T Í úbl urquia uécia alási ailând ustria olônia rasil uíça ustrál mirad rábia S ndia aiwan éxico ingapu spanh ong K ússia oreia d anadá élgica eino U tália oland rança apão hina leman stados a ica ong ia a ha os Á au ia nid o Su ra a Uni Tche d o rab ita dos l es U ca nid os 51,3% do comércio mundial Rep Fontes: OMC e Le Monde Diplomatique 132 atualidades vestibular + enem 2011 Nunca em tempos de paz governos somaram déficits públicos tão grandes quanto o que será registrado em 2010. Dados das dívidas nacionais dos 30 países industrializados indicam que o rombo nas contas chegam a US$ 43 trilhões, a maior já contabilizada por qualquer entidade internacional em qualquer momento da história. Os dados são da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países desenvolvidos. A conclusão do levantamento é de que, sem dúvida, muitos países caminham para um cenário crítico e vivendo ção acenou com perspectivas que não se concretizaram. Imaginou-se um mundo plenamente integrado e sem fronteiras. Pelas previsões de seus defensores, novas tecnologias e métodos gerenciais promoveriam o aumento geral da produtividade, o bem-estar dos indivíduos e a redução das desigualdades entre as nações. Não é isso, porém, o que se vê no mundo, pois os últimos anos registram um aumento das desigualdades no cenário mundial. O comércio internacional nunca foi tão intenso, mas as exportações dos países ricos cresceram muito mais do que a dos países pobres nas últimas décadas e, atualmente, apenas dez países (dos 194 no mundo) monopolizam mais da metade de todo comércio internacional (veja o gráfico na página anterior). Um dos instrumentos desse crescimento foi a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995, com o objetivo de abrir as economias nacionais, eliminar o protecionismo (quando um país impõe taxas pesadas para restringir a importação de produtos e proteger sua própria produção interna) e facilitar o livre trânsito de mercadorias pelo mundo. A OMC funciona com rodadas de discussão sobre temas, que chegam ao fim quando se fecham os acordos. Ocorre que a Rodada Doha, aberta em 2001 (com prazo previsto até 2006), entrou além da capacidade de se financiar. Em 2009, o Fundo Monetário Internacional (FMI) calculava que o Produto Interno Bruto (PIB) do planeta era de US$ 57,9 trilhões. Se em 2010 o PIB mundial ficar estagnado ou crescer pouco, a dívida apenas dos países ricos representaria 75% da riqueza do planeta. (...) Reunindo todos os países ricos, o volume da dívida seria de fato a bolha mais ameaçadora já conhecida pelo mercado financeiro: US$ 43 trilhões. Na OCDE, esses números são o que estão por trás da preocupação de vários governantes. Nos Estados Unidos, a dívida passou de 70% do PIB em 2007 para estimados 94% em 2010. O Estado de S. Paulo, 9/5/2010 num impasse não resolvido até hoje. Os países ricos querem maior acesso de seus produtos industrializados aos países em desenvolvimento, por meio da redução de tarifas de importação. Já os países em desenvolvimento buscam restringir as vantagens econômicas (subsídios) que os governos dos países ricos dão a seus produtores agrícolas. A medida beneficiaria o seu comércio externo, uma vez que as nações emergentes são grandes exportadoras de matérias-primas (commodities). O prolongado impasse mostra a dificuldade da globalização em beneficiar o conjunto dos países e das populações. O fato é que, com frequência, as reformas neoliberais não trouxeram progresso, e em muitas regiões ocorreu o inverso. Segundo o próprio FMI, os anos 1990 foram “decepcionantes” para a economia da América Latina. De acordo com um relatório de 2005 do órgão, reformas estruturais realizadas estimularam o crescimento econômico, mas não resolveram problemas antigos: o número de pobres aumentou em 14 milhões na década e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita caiu mais de 1%, em média, entre 1997 e 2002. Cabe lembrar que as políticas aplicadas nos países da região naquele período foram largamente orientadas pelo próprio FMI. u q Globalização CONSENSO DE WASHINGTON A expressão surgiu em 1989 e refere-se à política que os Estados Unidos preconizavam para a América Latina. Essa orientação, também chamada de neoliberalismo, tornou-se o modelo que o FMI e o Banco Mundial propõem para todos os países. NEOLIBERALISMO Prega o domínio do livre mercado sobre a economia e a diminuição do papel do Estado na vida econômica. Entre suas características estão a eliminação de barreiras aos investimentos estrangeiros, privatizações, redução de gastos sociais e desregulamentação do mercado de trabalho. GLOBALIZAÇÃO Mudança econômica iniciada no fim do século XX, com o surgimento de um processo de interdependência entre governos, empresas e movimentos sociais. O termo descreve uma situação propiciada pela internet, com a troca instantânea de informações, a realização on-line de operações financeiras e do fechamento de negócios, a facilidade em promover relocalizações de fábricas e, sobretudo, a integração mundial do mercado financeiro, que opera unificado nos quatro cantos do globo. OMC A Organização Mundial do Comércio foi fundada em 1995 como um fórum de discussão para regulamentar e fiscalizar o comércio internacional dentro dos moldes da globalização. A Rodada Doha, aberta em 2001 para negociar avanços no comércio internacional, estava prevista para terminar em 2006, mas entrou em um impasse, opondo os países de economia avançada às nações emergentes. BLOCOS ECONÔMICOS Agrupamentos de nações reunidas com o objetivo de facilitar a circulação de mercadorias entre membros. Sob a economia globalizada, ajudam a abrir as fronteiras de cada nação ao livre fluxo de capitais pelo mundo. Classificam-se em zona de livre-comércio, união aduaneira, mercado comum e união econômica e monetária. 2011 atualidades vestibular + enem 133 k economia Energia Energia: presente e futuro O mundo precisa de cada vez mais energia, mas é necessário encontrar fontes renováveis que não prejudiquem o meio ambiente 134 atualidades vestibular + enem 2011 História A matriz mundial de energia é dominada pela queima de combustíveis. Desde que aprendeu a dominar o fogo e, com ele, a cozinhar e se aquecer, o ser humano retira a energia de todos os materiais que tem à mão. O uso que fazemos da energia para viver é uma ampliação da necessidade que o nosso próprio corpo tem de energia, absorvendo-a dos alimentos. E a forma mais primária, fácil e barata de produzir energia é a ígnea: queimar um material para obter calor e luz, seja o carvão vegetal para o churrasco, o combustível para o automóvel ou o carvão mineral para produzir aço nas siderúrgicas. Com o tempo, o ser humano aprendeu a usar diversas formas de energia, como apreender o vento nas velas de um barco (na Antiguidade) ou usar a água e o vento para girar pás de moinho (na Idade Média). Mas a forma de produzir energia mais utilizada no mundo ainda é queimar os materiais disponíveis em quantidade, que produzem caloria a baixo custo. A invenção da máquina a vapor estimulou a industrialização no século XVIII, com a utilização do carvão mineral. Mas foi o início da exploração de petróleo, no fim do século XIX, DESERTO PRODUTIVO que impulsionou a economia mundial Refletor térmico da no século XX. O usina Nevada Solar One, petróleo é a fonte no deserto de Nevada, primária de enernos EUA: em busca de gia mais empregafontes alternativas da no mundo por divulgação O suprimento de energia em um país é, em princípio, uma prioridade de todos os governos, pois sem energia nenhum setor econômico e social funciona. É em razão disso que a descoberta de petróleo no pré-sal brasileiro ganhou tanto destaque, e ampliar a oferta de energia foi declarado a prioridade número 1 do governo dos Estados Unidos pelo presidente Barack Obama. A busca por suprimentos permanentes de energia é histórica e transformou em áreas de interesse geopolítico as regiões onde existem grandes jazidas de petróleo e gás, especialmente o Oriente Médio. No século XXI, os países enfrentam o difícil desafio de aumentar sua produção de energia e equilibrar a matriz energética – o conjunto da produção e do consumo de energia, dos materiais utilizados e do modo como são usados. O consumo de energia não para de se expandir, puxado pela economia industrial, pela urbanização crescente e pelo aumento da população. Hoje em dia, há a preocupação de reduzir a participação na matriz de energia dos combustíveis fósseis, como o petróleo, o carvão e o gás natural, que criam gases poluidores que agravam o efeito estufa. O Brasil tem papel de destaque nesse cenário, pois entre as grandes nações é a que tem o maior equilíbrio no uso de energia renovável e não renovável e, além disso, com a descoberta do pré-sal, viu suas reservas de petróleo se tornar imensas, embora ainda não se saiba qual é exatamente sua dimensão. 2011 atualidades vestibular + enem 135 k economia Energia O choque do petróleo, em 1973, elevou os preços do produto e impulsionou a pesquisa de alternativas Matrizes de energia Todos os países calculam periodicamente a sua matriz energética. Para isso, é necessário utilizar uma unidade comum de cálculo entre os materiais, a Tonelada Equivalente de Petróleo (tep), que é a conversão do poder de liberar calor na combustão dos diversos materiais para o petróleo como forma de fazer a compa136 atualidades vestibular + enem 2011 A maioria absoluta das fontes de energia que o ser humano utiliza tem como origem a energia vinda do Sol: 1) as plantas absorvem a energia do Sol e, por meio da fotossíntese, a estocam na forma de carbono; 2) extraímos essa energia dos vegetais queimando a madeira, o carvão vegetal, o bagaço ou a palha; 3) os seres humanos e os animais absorvem a energia dos vegetais quando os comem, e isso mantém a vida e o corpo em funcionamento; 4) os ventos, que movem moinhos e barcos à vela, surgem do aquecimento de massas de ar pelo Sol; as ondas nascem impulsionadas por ventos; divulgação ter a melhor relação de custo/benefício, ou seja a maior rentabilidade. Apesar de exigir muito investimento, a lucratividade na exploração de petróleo é elevada. Ele concentra grande quantidade de calorias em cadeias de carbono, capazes de gerar dezenas de produtos em série, como gasolina, óleo diesel e óleo lubrificante, nafta, gás liquefeito, polímeros e plásticos. Quando queimado em quantidade equivalente, o petróleo produz o dobro da energia liberada pelo carvão mineral. Na década de GIGANTE ENERGÉTICO 1970, a matriz mundial de enerUsina hidrelétrica gia sofreu grande de Itaipu: garantia abalo quando houde fornecimento às ve o primeiro choregiões mais populosas que de elevação do preço do petróleo. Na década de 1990, surgiu outro fator importante: o alerta global deflagrado pela Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a ECO 92, sobre o aquecimento do planeta gerado pelos gases de material fóssil, principalmente o dióxido de carbono (CO2). Nessa década, com as jazidas de petróleo diminuindo de volume e o preço aumentando, a solução foi ampliar o uso de gás natural, o que ocorreu na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil, com a construção do gasoduto Bolívia-Brasil e de usinas termelétricas a gás. Atualmente, mais de dois terços da emissão mundial de poluentes no ar são gerados pela queima desses combustíveis fósseis, segundo o relatório 2009 da Agência Internacional de Energia (AIE). Também teve início a lenta construção de usinas de eletricidade eólicas e solares. Quase toda a energia vem do sol ração entre eles. Uma tep equivale a 10 milhões de kcal, a mesma unidade usada para os alimentos. O balanço anual da matriz mundial de energia é feito pela Agência Internacional de Energia (AIE). Para ser eficiente, o balanço é um estudo o mais detalhado possível da matriz e quantifica: 1) os recursos de energia primários, como petróleo, xisto, carvão mineral, lenha, cana-de-açúcar, mamona, urânio, água, ventos etc.; 2) os recursos de energia secundários, como óleos cru e diesel, gasolina, álcool, biodiesel, carvão vegetal e eletricidade, gerados dos recursos primários; e 3) os setores de consumo de energia, como transporte, agricultura, indústria, comércio e residências. Manter uma oferta crescente de energia na matriz e mudá-la quando necessário é um desafio permanente de cada nação. É preciso conseguir os recursos energéticos e colocá-los à disposição a um preço viável. As plataformas de petróleo marinhas e as usinas nucleares, por exemplo, custam muito caro, e só valem a pena se produzirem muita energia por um longo tempo. Além disso, é preciso levar os recursos energéticos até os pontos de produção e de consumo, construindo oleodutos e refinarias, gasodutos, redes de alta e baixa tensão elétrica e canalizações urbanas. Os investimentos em infraestrutura são elevados e demorados, e, por isso, uma característica das matrizes de energia é que elas mudam lentamente. A situação da matriz brasileira, por exemplo, com boa participação do álcool, é resultado de mais de três décadas de investimentos. Conceitos de energia Um fator essencial na composição das matrizes é se os recursos primários utilizados são renováveis (recursos naturais que se repõem, como a água, a lenha e a cana-de-açúcar) ou não renováveis (cujas reservas irão acabar, como o urânio e os combustíveis fósseis: petróleo, gás natural e carvão mineral). Nas décadas recentes, surgiram também os conceitos de sustentabilidade e energia limpa. Conheça esses conceitos. Energia Limpa É aquela que não polui, ou polui menos, na produção e no consumo. Os exemplos atuais mais importantes: a energia hídrica, a eólica (dos ventos) e a solar. A energia limpa é um objetivo que deve ser constantemente pesquisado e aprimorado. No Brasil, por exemplo, grandes represas hidrelétricas, como Itaipu, Balbina e Tucuruí, foram construídas sem que se retirassem antes as matas nativas, que, por isso, estão em decomposição e liberarão grande quantidade de gases do efeito estufa por dezenas de anos. Assim, elas estão poluindo o ambiente. O conceito de energia limpa também é aplicado na comparação entre os materiais: o gás natural e o etanol são considerados mais limpos do que a gasolina ou o diesel, porque liberam menos gases do efeito estufa. Energia sustentável É a que dá sustentação à produção e ao consumo, porque se encontra disponível para o uso no decorrer do tempo. O conceito leva em conta a preservação do equilíbrio ambiental, mas não significa necessariamente que seja energia limpa. A lenha, por exemplo, é um recurso sustentável, entretanto é um dos piores poluentes, e sua fumaça é tóxica e danosa à saúde; portanto, não é limpa. Uma matriz energética para determinada cidade pode ser considerada sustentável se combinar, por exemplo, pequenas centrais hidrelétricas e termelétricas a óleo e biomassa. Equilíbrio brasileiro O Brasil tem a matriz energética mais equilibrada entre as grandes nações. Em 2009, de acordo com a prévia do Balanço Energético Nacional 2010, 47,3% da energia usada pelos brasileiros veio de fontes renováveis, como a água e a canade-açúcar, e o restante, 52,7%, de fontes não renováveis, principalmente petróleo e gás natural. A média mundial de uso de energias renováveis é de apenas 12,7%, e a média cai para 6,7% entre os 30 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que agrupa as mais ricas nações do planeta. Nesta última década, o Brasil alcançou autonomia em petróleo, produzindo o volume de que necessita, e essa autonomia parece duradoura, com a confirmação da exploração de grandes reservas de petróleo no pré-sal. O país também conseguiu ampliar a produção e o consumo de sua energia renovável, com uma mudança importante: aumentou sua produção de álcool combustível (etanol) e passou a produzir em larga escala carros flex, com motores bicombustíveis, para utilizá-lo. O impacto foi tão grande que, em 2007, pela primeira vez, a cana-de-açúcar ocupou a segunda posição como fonte de energia e as águas de rios (e represas) são alimentadas e movimentam-se por causa das chuvas (e da evaporação), provocadas pelo calor do Sol; 5) o petróleo, o carvão mineral e os gases combustíveis formaram-se da decomposição de plantas e animais que existiram em outras eras e que armazenaram a mesma energia do Sol, há milhões de anos, em cadeias de carbono. Mas há exceções: a energia nuclear não tem origem no Sol, e a energia geotérmica, ainda pouco explorada, provém do magma quente existente no interior da Terra. Uma forma de energia renovável e limpa, pesquisada atualmente, e não proveniente do sol, é a energia gerada pela quebra de moléculas que contêm hidrogênio. mais usada na matriz nacional, suplantando a água (hidreletricidade). Mas não foi sempre assim. Durante 400 anos, da descoberta do país até o fim do século XIX, utilizamos principalmente a lenha (80% da energia) – também o bagaço de cana e a gordura de baleia, queimada em lamparinas públicas. Nos anos 1910 e 1920, começou a eletrificação do Brasil e, a partir da década de 1940, com o governo de Getúlio Vargas e de seus sucessores (veja também na pág. 108), foi sendo montada a infraestrutura de base da indústria, com empresas para explorar carvão (Companhia Siderúrgica Nacional), petróleo (Petrobras) e para construir e gerir um grande sistema hidrelétrico (Eletrobrás). Nos anos 1970, após a primeira crise do petróleo, em que o preço disparou mundialmente, o país começou a diversificar a matriz de energia, investindo no álcool combustível (programas Pró-Álcool e PróCarvão Mineral) e na energia nuclear. Nos anos 1990, foi a vez do gás natural, com a exploração de jazidas e a construção do gasoduto Brasil-Bolívia, e, nos anos 2000, iniciou-se a produção de biodiesel (feito principalmente de mamona e soja) e a implantação das usinas elétricas eólicas. 2011 atualidades vestibular + enem 137 k Resumo economia Energia O Brasil investe em fontes diversificadas: usinas hidrelétricas, petróleo no pré-sal, biodiesel e álcool 138 atualidades vestibular + enem 2011 pick imagem Veja os principais fatos que marcaram a evolução da matriz de energia brasileira nesta última década: k Aumento na construção de usinas termelétricas a óleo e gás (2002). k Fabricação de carros bicombustíveis, com motores flexíveis para gasolina e etanol (2003). k Ampliação da queima de biomassa de cana-de-açúcar. A cana ultrapassa a água e torna-se o segundo energético da matriz (2007). k Programa de construção de usinas eólicas. k Expansão em andamento da rede de gás natural do Centro-Oeste-Sul e Sudeste para o Nordeste. k Projeto e construção de grandes represas hidrelétricas na Região Norte: Santo Antonio e Girau, no rio Madeira (Roraima); Belo Monte, no rio Xingu (Pará); e outras 18 barragens para a bacia dos rios Araguaia e Tocantins, das quais a usina de Estreito, na divisa entre o Tocantins e o Maranhão, está em fase final de construção. k Aceleração do programa de produção do biodiesel. Em 2008, essa produção cresceu 188%, pois o governo decretou sua adição obrigatória ao óleo diesel. Energia Saiu na imprensa Vale admite déficit de energia para 2015-2016 e quer integrar Belo Monte TECNOLOGIA Agrônoma faz testes com cana-de-açúcar em centro de desenvolvimento no interior paulista Contrastes mundiais As matrizes de energia estão sujeitas a inúmeras variáveis, principalmente com relação à disponibilidade dos recursos energéticos, às altas e baixas de preço para produzir ou importar e às variações do volume consumido. Veja como é a matriz de energia brasileira no quadro abaixo. É interessante destacar, por exemplo, que, apesar de ser líder mundial em energia renovável, o Brasil não é o maior produtor de hidreletricidade. Em 2008, a China liderou, com 18,5% da produção global, seguida pelo Canadá (11,7%) e pelo Brasil (11,5%). O Japão, a França e a Bélgica, por sua vez, não dispõem de grandes rios para produzir energia hidrelétrica. Por isso, O presidente da Vale, Roger Agnelli, afirmou que está disposto a analisar um possível convite do consórcio Norte Energia, vencedor do leilão da usina de Belo Monte, para integrar o grupo como autoprodutor. (...) “Não fomos convidados, não estamos correndo atrás de nada, mas temos interesse em energia a R$ 77 (o megawatt-hora)”, acrescentou. Segundo ele, o consórcio do qual a Vale fez parte concluiu que o investimento daria retorno ao preço de R$ 82,90. (...) Belo Monte, que deverá ser, a partir de 2015, a terceira maior hidrelétrica do mundo, atrás de Três Gargantas, na China, e de Itaipu, na fronteira entre Brasil e Paraguai, é um projeto de US$ 11 bilhões que produzirá até 11.000 MW produzem eletricidade com usinas termonucleares (veja na pág. 28) e importam praticamente todo o petróleo e derivados de que necessitam. Quando observamos a participação das energias renovável e não renovável, o contraste entre as estruturas das matrizes dos demais países e a do Brasil é grande. Veja alguns exemplos: Estados Unidos 84% da energia atual é não renovável. Segundo previsão do governo, até 2035 esse percentual pode diminuir para 78%. União Europeia 92% de toda a energia é não renovável. Reino Unido A produção é 97% não renovável (carvão mineral, petróleo e gás natural), e a energia renovável é produzida basicamente a partir do uso de lixo e de resíduos. O Reino Unido era autônomo em energia até o fim da década de 1980, mas substituiu intensamente o carvão mineral por gás natural em usinas termelétricas. O país agora importa 20% da energia. Portugal Tem 80% de fontes de energia não renováveis e importa 82% de toda a energia que consome. q de energia. O leilão de concessão foi realizado em 20 de abril. Segundo ele, a Vale tem interesse nas próximas licitações do setor elétrico que derem retorno, inclusive do próximo projeto de grande porte que o governo deverá licitar, a usina de Tapajós, no rio Tapajós (PA), com capacidade para gerar 6.300 MW. O leilão está previsto para 2011, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Agnelli informou que a Vale tem déficit de energia para 2015-2016 que ainda não foi contratado e por isso deverá buscar oportunidades nas licitações. “O que vier de licitação de hidrelétrica nós vamos olhar”, afirmou o executivo ao ser perguntado se poderia participar da disputa por Tapajós. (...) Ele afirmou ainda que o custo da energia no Brasil é alto e por isso a Vale busca também novas formas de geração, como biodiesel e solar. Correio Braziliense, 6/5/2010 França Importa 50% de todos os recursos energéticos. A energia nuclear é dominante e representa 84% de tudo o que produz. Consome 93% de energéticos não renováveis. Bélgica Tem 97% de energia não renovável e 3% de renovável, pela queima de lixo e resíduos. A energia nuclear responde por 88% do total produzido no país, que importa 90% de toda a sua energia. Garantir o provimento necessário de energia para o desenvolvimento das sociedades é um desafio enorme para o futuro, pois o consumo tende a aumentar constantemente. No Brasil, entre 1940 e 2000, a população pouco mais que dobrou, mas o consumo cresceu quase cinco vezes. Além disso, o consumo nacional em 2007 foi de apenas 1,29 tep per capita, cerca de 30% da média por pessoa dos países desenvolvidos (4,7 tep), e também abaixo da média mundial, de 1,7 tep. Essa média vai aumentar, puxada principalmente pelo crescimento econômico de nações superpopulosas, como a China e a Índia. No Brasil, o governo prevê que o consumo chegue a 2,33 tep/per capita em 2030. u PETRÓleo É o principal energético mundial. Dele extraímos combustíveis com alto poder calorífico (como gasolina, óleo diesel e querosene) e importantes matérias-primas para a produção de polímeros, plásticos, vinis, tintas etc. FORMAS DE ENERGIA Energias renováveis são as de fontes naturais, como a água e o vento, e que é possível repor, como a lenha. Energias não renováveis são baseadas em fontes que vão se esgotar, como urânio e petróleo. Energias sustentáveis são as de fontes com reposição garantida no decorrer do tempo. Energias limpas são as de fontes que fazem menos mal à saúde e ao ambiente. As energias renováveis e limpas são valorizadas hoje em dia. MATRIZ ENERGÉTICA É o conjunto dos recursos de energia de uma sociedade ou região e as formas como eles são utilizados. Uma matriz de energia abrange principalmente as fontes primárias (petróleo, carvão mineral, água, lenha, cana-de-açúcar), as fontes secundárias (gasolina, óleo diesel, eletricidade, álcool), os setores de consumo (transporte, indústria, agricultura, comércio e residências) e as formas de energia – renovável e não renovável. MATRIZ BRASILEIRA A eletrificação no Brasil começou por volta de 1900, mas até 1940 a queima de lenha forneceu 80% da energia. Os recursos priorizados depois foram o carvão mineral e a hidreletricidade (a partir da década de 1940), o petróleo (anos 1950), as grandes hidrelétricas (anos 1960), hidrelétricas gigantes, energia nuclear e álcool (anos de 1970 e 1980), gás natural (anos 1990) e, atualmente, a biomassa de cana, biocombustíveis e energia eólica. EQUILÍBRIO DAS MATRIZES É o resultado do balanço da diversidade de fontes e de seu caráter renovável e não renovável. O Brasil tem a matriz mais equilibrada entre as grandes nações, com recursos renováveis e não renováveis em volume quase igual, perto de 50% cada um. A média de recursos renováveis é de 6,7% entre as nações mais ricas. 2011 atualidades vestibular + enem 139 k economia trabalho O custo humano da crise A crise econômica mundial, iniciada com o estouro da bolha imobiliá ria nos Estados Unidos, em se tembro de 2008, colocou 34 milhões de pessoas no desemprego no mundo todo. É uma onda de demissões sem precedentes, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que calculou o número comparando a situação do fim de 2009, quando o total de desempregados che gou a 212 milhões de pessoas no mundo, com o fim de 2007, antes, portanto, da abertura da crise. Esse número equivale a uma taxa de desemprego de 6,6% da força de trabalho mundial. Com relação a 2010, a OIT não é oti mista. Sua análise é que o desemprego continuará elevado em nível global, com mais 3 milhões de demissões nos países ricos, enquanto em outras regiões haverá estabilidade ou pequena alta do emprego. A boa notícia por aqui é que o panorama no Brasil mostra que o país foi menos afetado pela crise do que a maioria e já há uma importante reação no desempenho econômico e no nível de emprego, como se explica adiante. 140 atualidades vestibular + enem 2011 afp/getty images/jasper juinen Onda de demissões recorde atinge 34 milhões de pessoas no globo em um ano e meio, mas panorama no Brasil é diferente Os estudos da OIT – divulgados no relatório Tendências Mundiais do Em prego 2010 – indicam que a fatia jovem da população foi particularmente atingida pela crise. No período de um ano e meio, um total de 10,2 milhões de jovens foram demitidos. O diretor-geral da entidade, Joan Somavia, pensa que, diante da gra vidade da situação, os governos devem adotar medidas para preservar os empre gos: “Assim como se tomaram decisões para salvar os bancos, necessitamos da mesma vontade para salvar e criar postos de trabalho e ajudar as pessoas”. Descompasso O fato é que a produção de riqueza no mundo é cada vez maior, mas as oportu nidades de trabalho estão encolhendo. Uma das marcas da globalização – como se chama a fase atual da economia mun dial – é um descompasso entre a expansão da economia e o mercado de trabalho. Com a recessão global, esse problema se agravou, e houve um custo humano pesado, na forma de aumento abrupto do desemprego. A maior perda de empregos ocorreu nos países desenvolvidos – o que inclui os Estados Unidos, Canadá, membros da União Europeia, Austrália e Japão: houve um salto de 29 milhões de desemprega dos em 2007 para 42,8 milhões no fim do ano passado. Isso representa 41% de todas as demissões em razão da crise. No mundo todo, o nível de emprego caiu, mas de forma menos aguda. O cenário indica que, com a crise, as empresas sa crificaram as vagas nos países onde a mão de obra é mais cara. No cenário atual, a juventude tem par ticular dificuldade para entrar no mer cado de trabalho. Para que toda a nova mão de obra que chega à idade produtiva possa obter emprego, deveria haver um aumento anual de 45 milhões de vagas. Com a crise, houve redução no emprego, e os jovens – os trabalhadores entre 15 e 24 anos – foram os mais atingidos, perdendo mais de 10 milhões de postos de trabalho desde 2007. O aumento nas taxas de desemprego foi de 1,3 ponto percentual para eles, contra 0,7 para a mão de obra adulta. Globalização A crise estrutural do emprego é re sultado das transformações sofridas pela economia mundial desde o fim dos anos 1980. Voltando mais no tempo, nas primeiras décadas do século XX pratica mente não faltava trabalho na maior parte dos países. Isso mudou com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, expressão da mais grave crise enfrentada pelo capi talismo mundial no século passado, que provocou consequências negativas na economia de todo o planeta no período seguinte. Nos anos 1930, 27% dos norteamericanos e 40% dos alemães chegaram a ficar sem emprego. O período que se seguiu à II Guerra Mundial (1939-1945) foi de prosperidade e desenvolvimento econômico, induzido por ações dos governos, com forte pre sença do Estado no funcionamento das economias nacionais. Isso proporcionou investimentos estatais em infraestrutura (estradas, moradias), ampliou serviços públicos (saúde, educação), alimentou a produção industrial e, por extensão, criou empregos. No início dos anos 1990, com a queda do Muro de Berlim (símbolo da dissolu ção do bloco comunista liderado pela exUnião Soviética) e o fim da Guerra Fria, veio a globalização: os Estados nacionais perderam importância como protagonis tas da ação econômica, há uma tendência à desregulamentação das economias na cionais e o mercado mundial integra-se em uma rede pela qual os capitais pas saram a circular bem mais livremente e com poucas regras de controle. Sob a globalização, as grandes corpo rações multinacionais ampliaram seu raio de ação, atuando simultaneamen te em todo o mundo e impondo forte competição às empresas nacionais. A concorrência feroz estreitou as margens de lucro, e a sobrevivência na economia globalizada passou a exigir produtividade máxima com custo mínimo, diretrizes que produziram impacto sobre o nível de emprego. O inves timento em tecno QUERO TRABALHAR! logia de automa Desempregados buscam ção, por exemplo, recolocação em Madri: eliminou milhares demissões atingiram de postos de tra 3 milhões de espanhóis balho em todo o mundo, com a substituição da mão de obra humana por máquinas e muito uso de computação. A diferença entre o patamar do desemprego atual e as crises anteriores é que hoje o problema é estrutural. Em comparação com outras épocas, agora o desemprego faz parte da lógica com a qual opera o mercado con temporâneo, decorrência da forma pela qual se reorganizou o processo produtivo no cenário do mundo globalizado. Sindicatos sob pressão A busca incessante por mão de obra cada vez mais barata e os avanços tec nológicos produziram uma nova divisão internacional do trabalho, que borrou a distinção entre os países industrializa dos e os fornecedores de matéria-prima. Como meio para reduzir gastos com mão de obra, grandes multinacionais transfe rem o processo produtivo – que absorve a maior parte dos trabalhadores fabris – dos países-sede para unidades nos países economicamente periféricos, nos quais os salários são bem mais baixos. Ficam nas matrizes os centros tecnológicos (res ponsáveis pela concepção dos produtos e gestão das empresas), com as vagas de melhor qualificação, menos numerosas, mas de remuneração mais elevada. Nessa situação de forte competitividade, para facilitar a contratação pelas empresas, adeptos do neoliberalismo (veja na pág. 130) defendem a desregulamentação do mer cado de trabalho no mundo. Isso significa alterar as legislações para torná-las mais flexíveis e permitir às empresas contratar funcionários a custos menores ou sem os direitos trabalhistas existentes hoje. Os sindicatos de trabalhadores recu sam a desregulamentação, mas estão co locados numa posição defensiva. Com o acúmulo de mão de obra desempregada, a manutenção do emprego e dos direitos – e não tanto a busca por mais direitos – converte-se na principal bandeira do movimento sindical. Daí a dificuldade para organizar as categorias profissionais nos sindicatos, como ocorria no passado. Segundo a OIT, o número de trabalha dores sindicalizados diminuiu em vários países nos últimos 20 anos. DESEMPREGO NO MUNDO RETOMA O CRESCIMENTO Em milhões de pessoas 250 212,0 200 170,3 150 1998 176,5 174,2 1999 2000 180,8 2001 186,4 2002 190,8 2003 192,7 2004 192,2 2005 186,4 2006 180,2 2007 188,6 2008 2009 SOBE E DESCE Repare como o número de desempregados teve uma subida até 2004, caiu por três anos seguidos a partir de 2005, mas voltou a aumentar com força em 2008, quando ocorreu o eclosão da crise econômica, com um forte salto em 2009 Fonte: Organização Internacional do Trabalho (OIT), maio de 2009 2011 atualidades vestibular + enem 141 k Resumo economia trabalho Para a OIT, mais da metade dos empregos existentes no mundo são “vulneráveis” Cenário no Brasil A falta de trabalho formal e regular – no Brasil, diz-se “sem registro em carteira” – leva expressiva parcela dos trabafora da escola lhadores a buscar Crianças trabalham em meios alternativos carvoaria no interior para sobreviver. da Bahia: situação Assim, cresce a indegradante e ilegal formalidade (atividade por conta própria, sem vínculo empregatício e na qual o trabalhador não tem direitos trabalhistas). É o caso, por exemplo, de camelôs e ambulantes que ocupam espaços públicos nas grandes cidades. O trabalho informal cresceu como resultado da crise econômica. A OIT estima que o número de trabalhadores com emprego “vulnerável” – definição que abrange não só os trabalhadores informais, mas também os que não recebem remuneração por fazer algum tipo de trabalho familiar – supere 1,5 bilhão de pessoas, o que abrange pouco mais da metade da força de trabalho mundial. Em 2009, houve um aumento de 110 milhões de pessoas vivendo nessas condições. Na Índia e em países da África Subsaa riana, a informalidade oscila em perto de 80% da força de trabalho. No Brasil, há uma redução constante do trabalho informal desde 2003, com o crescimento da parcela dos que têm registro em carteira. Em 2002, 56,3% dos trabalhadores estavam na informalidade, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Essa taxa caiu para 49,4% em 2008 (veja gráfico na página ao lado). Terceirização O desemprego também favorece a terceirização, que se insere na estratégia das empresas de reduzir custos, principalmente os trabalhistas. Trata-se da transferência para terceiros das atividades-meio – como serviços de limpeza e vigilância – ou mesmo de parcelas das atividades-fim. A terceirização acontece quando uma companhia contrata 142 atualidades vestibular + enem 2011 celso junior/agência estado Informalidade empresas especializadas, que alocam no trabalho a ser feito os seus funcionários (ainda se mantém o registro em carteira, em geral com salário menor) ou quando contrata um prestador de serviço individual, sem o registro. Com a terceirização, proliferam as pequenas empresas sem empregados (em que o “dono” é o único trabalhador), dedicadas à prestação de serviços às grandes. Trabalho infantil Graves consequências da precarização das relações trabalhistas são o trabalho infantil e o escravo. Em todo o mundo, há 215 milhões de crianças trabalhando, segundo relatório divulgado pela OIT em maio de 2010. Em 2000, as crianças trabalhadoras eram 246 milhões. Nesta década, houve redução de 12,6%. Para a organização, a queda foi pequena e muito lenta, e é preciso articular iniciativas para combater o problema. O relatório explica que, mesmo com a redução, o trabalho infantil cresceu em países da África Subsaariana, e há muitas crianças enviadas para atividades penosoas em minas ou fábricas. Crianças são obrigadas a ingressar no mundo do trabalho, em geral, para complementar a renda familiar. Mas essa dedicação rouba o tempo que, nessa faixa etária, seria empregado para estudar e brincar, atividades necessárias para um crescimento sadio e para garantir a base psicológica e intelectual da formação do futuro adulto. Para combater o problema, alguns países adotam políticas compensatórias. No Brasil, o programa Bolsa Família oferece dinheiro às famílias classificadas como pobres (renda mensal por cabeça abaixo de 140 reais). Em contrapartida, exige que as crianças sejam mantidas na escola e levadas regularmente à rede pública para receber cuidados básicos de saúde. Em 2010, o Bolsa Família atende mais de 12 milhões de famílias em todo o Brasil. Ainda não está no horizonte o fim do trabalho infantil no mundo, entretanto, para os próximos anos, a meta da OIT é erradicar as “piores formas de trabalho infantil”. A denominação se refere à exploração de crianças na prostituição, no tráfico de drogas e em outras atividades degradantes existente no planeta. Trabalho escravo O trabalho escravo no mundo atinge principalmente crianças e adolescentes. É definido como o regime em que a recusa ao trabalho imposto implica castigo. Segundo a OIT, há no planeta pelo menos 12,3 milhões de pessoas trabalhando em situação de escravidão. Destas, a maioria são mulheres e crianças. As regiões do mundo que concentram o trabalho escravo são a África, a Ásia e a América Latina, mas a organização indica que 350 mil pessoas são relegadas a essa condição nos países desenvolvidos. No Brasil, operações de fiscalização no interior do país flagram com frequência trabalhadores com documentos retidos pelos patrões em acampamentos dos quais não podem sair. Desde 2003, 32 mil brasileiros foram libertados de condições de trabalho semelhantes às da escravidão. Trabalho CRESCE O EMPREGO FORMAL Em 2009, o país teve uma taxa média de desemprego de 8,1%, ligeiramente pior do que os 7,9% do ano anterior. Isso significa que as consequências da crise sobre o mercado de trabalho foram relativamente pequenas no país. O melhor é que o primeiro semestre de 2010 registrou um aquecimento da economia e uma boa expansão do nível de emprego. Em maio, a taxa de desemprego havia caído para 7,5%. Em números absolutos, houve a abertura de quase 300 mil vagas de trabalho em todo o país no mês. Quase dois terços delas surgiram na Região Sudeste, que puxa a recuperação econômica. Em seguida, veio o Nordeste, com 15% dos novos postos de trabalho. Com esses dados, o Brasil fechou os cinco primeiros meses de 2010 com crescimento constante do emprego, totalizando 1,26 milhão de novos postos. A expansão do emprego atinge todos os setores da economia: serviços, indústria e agricultura. A taxa de desemprego no Brasil caiu significativamente desde 2003, quando estava em 12,4%. Com pequenas oscilações, a redução foi constante. Naquele ano, o país tinha 2,62 milhões de trabalhadores sem emprego, segundo o IBGE. Em 2009, esse número era de 1,87 milhão. Isso Percentual das ocupações informais e dos empregos com carteira assinada 60 56,2 50 40 56,3 55,3 54,6 53,9 informal com carteira 43,8 43,7 44,7 45,4 2001 2002 2003 2004 52,5 46,1 47,5 2005 2006 51,6 50,6 48,4 49,4 2007 2008 MAIS CARTEIRAS ASSINADAS Para este gráfico, os 100% são todos os trabalhadores brasileiros – divididos entre os que têm o emprego registrado na carteira de trabalho e os que não têm. Veja como, desde 2003, há uma redução constante da informalidade, que agora já é minoritária. Fonte: Ipea, com base nas Pnads do IBGE aconteceu num mercado de trabalho em expansão, que empregava 18,5 milhões de pessoas em 2003 e cresceu para 21,3 milhões de postos em 2009. Chama ainda atenção que, nesse período, melhoraram a renda e a qualificação dos trabalhadores brasileiros: o salário médio subiu de 1.181,90 reais (2003) para 1.350,33 reais (2009), e a participação de trabalhadores com mais de 11 anos de estudo subiu de 46,7% do total empregado em 2003 para 57,5% em 2009. u Saiu na imprensa O desafio do trabalho infantil Cléa Carpi da Rocha Completa este mês 11 anos o importante instrumento de direitos humanos para a erradicação do trabalho infantil, a Convenção (Convênio) 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Recomendação 190 para Ação Imediata para a sua Eliminação. (...) As novas normas internacionais concedem prioridade a uma ação imediata para pôr fim à exploração das crianças e dos adolescentes que realizam trabalhos perigosos, em regime de escravidão ou de servidão, ou submetidos à prostituição ou à pornografia, ou que pela natureza e condições em que o trabalho é efetuado causem-lhes danos à saúde, à seguridade ou à moralidade, práticas q essas que os afetam em todo o mundo com dolorosas conseqüências. (...) Muito embora a Convenção 182 encontra-se vigente no Brasil há dez anos, preocupa e assusta que nosso país ainda apresente quase 5 milhões de crianças que trabalham, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E vamos encontrálas em núcleos familiares pendentes de condições ínfimas de existência, com moradias em estado precário e sem saneamento básico, com crianças sendo obrigadas a trocar a escola pelo trabalho para aumentar a vil renda familiar. A pobreza econômica traz consigo a pobreza cultural. O mercado informal de trabalho das crianças e o êxodo da escola marcham juntos. (...) Zero Hora, 13/6/2010 DESEMPREGO A crise econômica mundial, cujo estopim se deu em setembro de 2008, atingiu em cheio o mercado de trabalho nas várias regiões do globo. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) calcula que, em comparação com 2007 (antes da crise), 34 milhões de pessoas tenham perdido o emprego até o fim de 2009. O relatório Tendências Mundiais do Emprego, da OIT, registra 212 milhões de desempregados no mundo no fim de 2009. CAUSAS Mesmo antes de a crise se estabelecer, a situação mundial do emprego já se encontrava repleta de contrastes e incertezas. Entre as justificativas para o descompasso estão características da globalização, que estreitou as margens de lucro e passou a exigir produtividade máxima com custo mínimo, práticas que afetaram a quantidade de empregos. Investimentos em automação eliminaram postos de trabalho. Em busca de mão de obra barata, multinacionais transferiram fábricas para países pobres, nos quais os salários são mais baixos. QUALIDADE DO EMPREGO A OIT ressalta que, além da taxa de desemprego estar subindo, a qualidade do emprego está caindo. Nesse aspecto, destacamse o trabalho sem reconhecimento de direitos trabalhistas e com baixa remuneração, as terceirizações e, em casos de ilegalidade flagrante, o trabalho infantil ou escravo. A OIT estima que haja 250 milhões de crianças trabalhando no mundo e 12 milhões de pessoas na escravidão. BRASIL Houve um ligeiro aumento do desemprego em 2009, que chegou a 8,1%, mas o cenário nos cinco primeiros meses de 2010 mostra uma expansão do emprego e a retomada da queda na taxa de desemprego, que vem de 2003, quando era de 12,4%. Em maio de 2010, foram criados mais de 300 mil postos de trabalho com carteira assinada, e 1,26 milhão desde o início do ano. De 2003 a 2009, o mercado de trabalho no Brasil cresceu de 18,5 milhões de trabalhadores para 21,3 milhões em 2009. 2011 atualidades vestibular + enem 143 k Resumo economia pib brasil FERNANDO MORAES Consumo familiar em alta Retração no crescimento O Produto Interno Bruto do país diminuiu em 0,2% em 2009, mas a queda foi pequena diante do tamanho da crise da economia mundial E m março deste ano, a divulgação do balanço da economia brasileira esteve no centro das atenções. O destaque foi a queda de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2009, em relação ao ano anterior. Porém, os diversos veículos de comunicação, como jornais, revistas e noticiosos de televisão, dividiram-se entre os que destacaram esse resultado como negativo ou como positivo. E esse desencontro tem razão de ser. A retração da economia em 0,2% em 2009 foi o pior desempenho recente. Além disso, vem depois de um bom crescimento, de 5,1% em 2008. Visto por seu aspecto positivo, essa retração mostrou uma relativa estabilidade da economia do país diante da crise mundial, deflagrada em 2008. Isso porque a maioria dos países com economia de peso passou por gran144 atualidades vestibular + enem 2011 de recuo econômico em 2009, como os Estados Unidos (queda do PIB de 2,4%) e a Rússia (retração de 7,9%), segundo dados do Banco Mundial divulgados no primeiro semestre deste ano. O PIB é a principal referência para mensurar o andamento e o tamanho de uma economia, estimar sua prosperidade e compará-la com outras. Ele representa o total de riquezas produzidas no país. No Brasil, esse dado é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que reúne os resultados das pesquisas setoriais que o próprio instituto realiza periodicamente nas áreas de agricultura, indústria e serviços, além de contabilizar os gastos do governo, das empresas e das famílias e incluir outros indicadores, como valores de exportação e importação. O baixo desempenho da economia brasileira foi bastante influenciado pelas grandes quedas na agropecuária (retração de 5,2%), na indústria (-5,5%) e nos investimentos (-9,9%). Esses resultados são os piores desde o início da atual série do PIB, em 1996. Eles são reflexo da crise econômica mundial e mostram uma realidade oposta à do ano anterior. Em 2008, o crescimento do PIB em 5,1% foi impulsionado principalmente pelo desempenho da agropecuária (crescimento de 5,8%) e por uma elevação expressiva dos investimentos, de 19%, a mais alta desde 2000. Um dos fatores boas compras que ajudaram o Loja da rua 25 de Brasil a não ter um Março, em São Paulo: resultado pior em o aumento do consumo 2009 foi o crescipopular em 2009 mento da demanda ajudou a economia interna, ou seja, a expansão do consumo familiar. As famílias brasileiras consumiram 4,1% a mais em 2009, o sexto ano consecutivo de aumento. Para isso, contribuiu uma das medidas tomadas pelo governo federal para enfrentar a crise mundial, que foi reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre determinados produtos. Isso diminuiu os preços e impulsionou as vendas de automóveis, de eletrodomésticos e de material de construção. Outra medida favorável à expansão do consumo foi a ampliação do crédito, ou seja, a criação de facilidades para que os consumidores pudessem fazer compras parceladas. O aumento do consumo ocorreu também no setor de serviços, que cresceu 2,6%. Outro dado que teria contribuído para isso é o fato de o Brasil participar em apenas 1% do comércio mundial e, portanto, ter uma economia baseada bastante no consumo interno. Isso teria protegido parcialmente o país dos efeitos da recessão nas nações ricas e em outras, que reduziram suas importações, inclusive as compras feitas do Brasil. PIB per capita O PIB per capita anual também apresentou resultado negativo em 2009, com uma queda de 1,2% em relação ao ano anterior e o valor de 16.414 reais. O PIB per capita é um indicador geral médio da renda nacional. Para calculá-lo, divide-se PIB Brasil Saiu na imprensa PIB do Brasil em 2009 foi um dos melhores do G-20 Andrei Netto Mesmo com o desempenho negativo, marcado pelo recuo de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), a economia brasileira teve um dos melhores desempenhos do Ocidente em 2009, se comparado com os demais membros do G-20. Entre as maiores economias da América Latina, só a Argentina, que cresceu 0,9%, foi melhor. (...) A comparação é baseada em dados parciais coletados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em institutos estatísticos das 20 maiores economias. Pelo ranking – que difere nos porcentuais, Definição O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de tudo o que foi produzido em um lugar em determinado período de tempo. Em geral, é a medida da produção de um país durante um ano. No Brasil, o indicador é apurado, avaliado e divulgado trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O PIB é a principal referência para medir o tamanho de uma economia, estimar sua prosperidade e compará-la a outras. mas não nas tendências reveladas pela classificação apresentada ontem pelo Banco Central –, o PIB brasileiro é o sétimo melhor do G-20. Pela ordem da OCDE, em 2009 a China apresentou o melhor desempenho, com 8,7%, seguida por Índia (5,6%), Indonésia (4,5%), Austrália (2,7%) e Coreia do Sul (0,2%). (...) “Os países emergentes estão crescendo mais rapidamente do que a maior parte dos países da OCDE. Estamos satisfeitos pelo que eles têm feito pela economia global”, afirmou Pier Carlo Padoan, economista-chefe da OCDE, um dos autores do relatório “Objetivo: Crescimento”. (...) Queda O PIB brasileiro registrou uma queda de 0,2% em 2009 em comparação ao ano anterior. A agropecuária, a indústria e os investimentos, que apresentaram uma queda respectivamente de 5,2%, 5,5% e 9,9%, foram os principais responsáveis pela retração do PIB. Apesar de ser o pior desempenho da economia brasileira desde 1996, esse resultado foi avaliado externamente como positivo, pois foi o segundo melhor entre os países com os maiores PIBs mundiais e mostrou uma estabilidade do país diante da crise econômica internacional. O Estado de S. Paulo, 12/3/2010 DESEMPENHO DO PIB MUNDIAL EM 2009 o total calculado do PIB pelo número de habitantes. Sendo assim, se fosse possível dividir a riqueza do país igualmente entre os brasileiros, por exemplo, cada um receberia a quantia de 16,4 mil reais no ano. A queda do PIB per capita não é uma surpresa. Isso porque, quando a expansão percentual da economia é menor do que o aumento percentual da população do país, o PIB per capita diminui. Como em 2009 o PIB nacional apresentou uma queda de 0,2% e a população cresceu, houve retração percentual também do PIB per capita. -2,1% Mundo -2,4% 1º Estados Unidos -5,2% 2º Japão 3º China -4,9% 4º Alemanha -2,6% 5º França -4,9% 6º Reino Unido -5,0% 7º Itália -0,2% 8º Brasil -7,9% 9º Rússia -3,6% 10º Espanha Melhoria em 2010 Fonte: Banco Mundial e FMI O índice de expansão da economia é divulgado a cada três meses pelo IBGE. No decorrer deste ano, será possível acompanhar o desempenho da economia brasileira. O primeiro resultado periódico, com dados do trimestre de janeiro a março de 2010, mostrava que a economia cresceu 2,7%, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, que foi o último de 2009. Nesse primeiro momento, o setor industrial estava liderando impulso na economia, com uma alta de 4,2% em relação ao trimestre anterior. Esse dado seguia de perto a expectativa divulgada pelo governo federal, que projetava um crescimento em torno de 5% para 2010. u q Variação em %, total e nas dez maiores economias 0 8,7% Renda por pessoa O PIB per capita é a divisão da produção nacional durante um ano pela população do país. Quando o aumento da economia é maior do que o aumento da população no ano, o PIB per capita cresce. Como houve queda do PIB brasileiro, o PIB per capita caiu 1,2% em relação ao ano anterior. O valor do PIB per capita do país em 2009 foi de 16.414 reais. CRISE GLOBAL Observe que o impacto da crise foi forte nos países desenvolvidos e menor nos países emergentes do grupo das maiores economias. A China manteve o crescimento e o Brasil teve o segundo melhor resultado. EVOLUÇÃO DO PIB BRASILEIRO Taxa de variação do PIB, no Brasil, em % 5,7 6 4,3 5 4 5,4 3,4 3 1,3 2 1 3,2 2,7 0 5,1 3,8 1,1 0,3 0 -1 -0,2 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 QUEDA DO PIB Repare que em 2009, pela primeira vez nos últimos 13 anos, o PIB brasileiro apresentou uma queda. É importante notar que o gráfico mostra a variação do PIB em relação ao ano anterior (em %), e não o seu valor real. Fonte: IBGE 2011 atualidades vestibular + enem 145 k Resumo economia Balança comercial Balança comercial O SOBE E DESCE DA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA Em bilhões de dólares 200 180 160 Exportações 140 Importações 120 Balança comercial 100 80 60 40 DÉFICIT 20 0 -10 -5,6 -6,7 -6,6 -1,3 -0,75 2,6 13,1 24,8 33,7 44,8 46 40 24,7 25,3 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 CRESCENDO UM POUCO O gráfico mostra a evolução das exportações, das importações e do saldo final da balança comercial a cada ano. Note que a diferença entre exportação e importação (as linhas) aparece no resultado, as barras laranjas. Em 2009, o superávit brasileiro cresceu um pouco, mesmo com a queda geral no comércio exterior. agência vale/divulgação Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior longe da crise Terminal marítimo da Vale, no Espírito Santo: após uma retração em 2009, o comércio exterior do Brasil volta a crescer no início de 2010 Brasil mantém saldo externo Em 2009, o comércio brasileiro com o mundo diminuiu por causa da recessão na economia global, mas o saldo positivo voltou a crescer O panorama da economia mundial foi sombrio em 2009, e o Brasil não escapou ileso: o país também importou e exportou menos. Porém, o saldo positivo da balança comercial voltou a crescer em relação ao ano anterior, após dois anos consecutivos de diminuição. Em 2009, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o país apresentou um superávit do comércio exterior de 25,3 bilhões de dólares, 1,6% a mais do que os 24,7 bilhões de dólares totalizados em 2008. O resultado superou as expectativas do governo federal, que, para 2009, era de um total em torno de 20 bilhões de dólares. 146 atualidades vestibular + enem 2011 O saldo da balança comercial brasileira é o resultado da soma de todas as exportações e da subtração de todas as importações. Quando o país exporta mais do que importa, consegue um superávit da balança comercial. Quando o resultado é o inverso, dá-se o nome de déficit. E o aumento do saldo positivo da balança comercial em 2009, em relação ao ano anterior, mostra que o país teve uma queda nas exportações menor do que a queda nas importações (veja o gráfico na página ao lado). Apesar de registrar pequenas quedas e altas em períodos diversos, o Brasil mantém superávits anuais na balança comercial desde 2001. A desaceleração A diminuição do volume de comércio exterior do país é reflexo da desaceleração da economia global, provocada por uma crise financeira que atingiu a indústria e o comércio, e fez diminuir a produção e o consumo, especialmente nos países desenvolvidos. Como consequência, as empresas dos países ricos diminuíram as suas compras de produtos e matériasprimas importadas. E as empresas brasileiras também diminuíram as compras que fazem no exterior, de peças ou materiais que utilizam para fabricar. As exportações brasileiras diminuíram 22,7% no ano passado, totalizando 153 bilhões de dólares. É a maior queda percentual desde que os dados passaram a ser sistematizados e registrados, em 1950. O Brasil vendeu menos a quase todas as regiões do mundo para as quais exporta. A Ásia foi a única região que comprou mais produtos brasileiros, com uma expansão de 5,3% em relação a 2008. Com esse resultado, a Ásia fechou 2009 na primeira posição de mercado comprador de produtos brasileiros, superando a União Europeia e a América Latina. As importações brasileiras somaram 127,6 bilhões de dólares, uma diminuição de 26,2% em relação ao ano anterior. A retomada O andamento do comércio exterior começou a dar sinais positivos no primeiro trimestre de 2010, com exportações de 39,2 bilhões de dólares e importações de 38,3 bilhões de dólares. Como os valores são comparados sempre com os períodos correspondentes, e o início de 2009 foi muito ruim, os crescimentos foram muito elevados, com 25,8% a mais de exportações e 36% a mais de importações no primeiro trimestre de 2010. Nas exportações, destacaram-se a venda de matérias-primas, como soja, açúcar, petróleo bruto e minério de ferro. Os produtos mais comprados foram combustíveis e lubrificantes. Note que as importações cresceram bastante. Uma das razões é ter ocorrido valorização do real diante do dólar, o que estimula as empresas a antecipar as compras planejadas para o ano, seja de materiais, componentes e produtos de que precisarão, seja de produtos prontos, que chegam de fora por um custo baixo. Além de apresentar uma melhora da balança comercial, 2009 trouxe outra novidade no mercado nacional. A China fechou o ano como o principal parceiro comercial do Brasil, superando os EUA. No ano passado, a conta-corrente de comércio (soma das exportações com importações) da China com o Brasil foi de 36,10 bilhões de dólares, ante 35,92 bilhões dos EUA. Os chineses também foram os principais compradores de produtos brasileiros, seguidos dos norteamericanos e argentinos. Os principais países dos quais o Brasil mais importou, em 2009, foram os EUA, a China, a Argentina e a Alemanha. u q Principais parceiros comerciais do Brasil Em bilhões de dólares, em 2009 País Corrente de comércio Total Exportações Importações China 36,1 20,2 15,9 Estados Unidos 35,9 15,7 20,2 Argentina 24,1 12,8 11,3 Alemanha 16,0 6,2 9,9 9,6 4,3 5,4 Japão Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Definição É o conjunto de exportações e importações feito pelo país. A diferença entre os dois valores é o saldo da balança comercial. Quando o país exporta mais do que importa, tem-se um superávit. Quando o resultado é o inverso, há um déficit na balança. Tendência atual O Brasil tem registrado superávits contínuos anuais desde 2001. Após dois anos de diminuição, o saldo aumentou de valor em 2009, totalizando 25,3 bilhões de dólares, 1,6% a mais do que o acumulado de 2008. Em 2010, a balança comercial também apresenta bons resultados iniciais. No primeiro trimestre, o país obteve um superávit de 900 milhões de dólares, exportando 39,2 bilhões de dólares e importando 38,3 bilhões. Novo parceiro A China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil em 2009. Na soma das exportações e importações, o comércio entre Brasil e China alcançou a quantia de 36,10 bilhões de dólares, superando o principal parceiro do Brasil durante anos, os Estados Unidos. Saiu na imprensa Eles já estão entre nós Marcelo Onaga e Thiago Bronzatto (...) Os sinais do avanço chinês no mundo estão por toda a parte – de fábricas de eletrodomésticos nos Estados Unidos a plantações na África, de montadoras no Uruguai a indústrias de papel na Indonésia. Em sua marcha rumo à vice-liderança da economia global, a máquina chinesa não para de assombrar – e parece ter chegado a vez dos brasileiros de sentir sua força. Nos últimos meses, o Brasil tornou-se destino do capital chinês. (...) De um modestíssimo 29º lugar no ranking dos maiores investidores do país, a China deve assumir o topo da lista em 2010, desbancando países tradicionais, como Estados Unidos, Espanha e Alemanha. “Essa presença deve crescer muito nos próximos anos, não só porque a China precisa das commodities brasileiras, mas também porque o Brasil vem ganhando importância no cenário internacional”, diz Martin Jacques, pesquisador da London School of Economics e autor do livro When China Rules the World (Quando a China Dominar o Mundo). De janeiro a maio, os chineses anunciaram investimentos no Brasil equivalentes a mais de dez vezes o volume de recursos que trouxeram para o país em toda sua longa história. (...) O fato é que o recente movimento chinês pode ser traduzido como a terceira fase de uma investida iniciada há exatas duas décadas, após a abertura do mercado brasileiro. (...) Exame, 16/6/2010 2011 atualidades vestibular + enem 147 k economia Indústria Brasil A indústria sai da crise H á dois anos, destacava-se nas reportagens de economia o crescimento constante da indústria brasileira. Mas a globalização, que é um dos fatores que impulsionavam esse crescimento, cobrou seu preço. Assim, apesar de ter um pé firme no consumo do mercado interno, a produção industrial brasileira levou um tombo em 2009, com uma retração de 7,4% em relação ao ano anterior. É a maior diminuição da atividade industrial em 20 anos, desde uma queda de 8,9% em 1990, ano em que o Plano Collor confiscou o dinheiro que movimenta tanto os investimentos quanto o consumo. A indústria foi um dos setores mais atingidos pela crise econômica internacional, junto com o do agronegócio e o de investimentos. Com o resultado, o país caiu nesse ano no ranking mundial dos maiores parques industriais, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU): desceu da nona para a décima posição, trocando de lugar com a Índia. Felizmente, em março de 2010, o país registrava o quarto mês consecutivo de crescimento percentual da produção industrial, um aceno de melhoria para o conjunto do ano, se ele se mantiver. Importância Em nosso país, a indústria tem importância crucial, por ser um dos macrossetores que exigem muito investimento financeiro, além de produzir os bens de maior valor da economia e empregar milhões de brasileiros. Muitos dos bens produzidos, chamados de manufaturados, estão diretamente ligados à urbanização, como os produtos eletrodomésticos que usamos para nosso conforto, trabalho, saúde e bem-estar. Quando existe uma 148 atualidades vestibular + enem 2011 retração econômica continuada da indústria, no decorrer de anos, pode haver um ciclo vicioso de coisas ruins: as indústrias demitem trabalhadores, o que provoca o aumento do desemprego; eles reduzem a quantidade de produtos fabricados e podem elevar seus preços para compensar as perdas, o que pode levar à inflação; as vendas do comércio diminuem e a arrecadação de impostos cai, reduzindo a capacidade de funcionamento das três esferas de governos. Foi o que aconteceu nos anos 1980, chamados de “a década perdida” para a economia brasileira. Felizmente, não parece ser esse o cenário atual. Um ponto importante a destacar é que o termo indústria abrange um leque muito extenso de setores de produção. Por exemplo, o de construção civil, o químico, o de cerâmicas, o de vestuário, o a todo o vapor Após registrar queda de vidros, o de alimentos, borrana produção em 2009, chas, siderurgia, o setor automobilístico metalmecânica, o começa a se recuperar automobilístico, da crise em 2010 o de máquinas e equipamentos (também chamado de setor de bens de capital). Frequentemente, cada setor inclui múltiplas atividades. O petroquímico, por exemplo, abrange direta ou indiretamente desde extração de petróleo e produção de combustíveis até tintas e solventes, polímeros, plásticos, fertilizantes e fibras. Por essa razão, embora o indicador de atividade geral sinalize alta ou baixa percentual, ele sempre traz embutido o desempenho de setores que se destacaram por um movimento oposto. germano luders No Brasil, as atividades industriais foram as mais afetadas pela crise econômica mundial, e em 2010 se recuperam de um de seus piores anos Sinais de melhora A diminuição na atividade da indústria brasileira resultou de uma significativa queda de compras das empresas dos outros países, provocada pela crise econômica. Como resultado, as indústrias brasileiras exportaram menos, e o setor mais diretamente ligado a exportações, que é o de bens de capital (máquinas e equipamentos), foi o que teve o pior desempenho no ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor de bens duráveis, como automóveis, celulares e eletrodomésticos, registrou declínio na produção e nas vendas no fim de 2008 e na maior parte de 2009 – ano que fechou em queda de 6,4%. No fim de 2009 e no primeiro trimestre de 2010, ele começou a se recuperar. O aumento na produção se deve ao crescimento da renda e do consumo interno, pois 2009 foi o sexto ano consecutivo de aumento deste (veja mais na pág. 144). Além disso, contribuiu a redução emergencial, por parte do governo, do imposto sobre produtos industrializados (IPI), que incide sobre eletrodomésticos e automóveis. Os resultados ruins do ano passado parecem estar sendo superados. No primeiro trimestre de 2010, segundo o IBGE, a produção industrial brasileira subiu 18% na comparação com o mesmo período do ano passado. A maior alta da indústria ocorreu no setor de máquinas e equipamentos, que subiu 42% de janeiro a março em comparação com 2009. A Indústria e o PIB A indústria é muito importante na produção de riquezas do Brasil, mensurada no Produto Interno Bruto (PIB), embora a liderança seja do setor de serviços. Em 2009, o PIB brasileiro atingiu 3,14 trilhões de reais, e a indústria foi responsável por 25,4% de todo esse valor. A participação da produção industrial nas exportações do país é significativa e vem crescendo. De 1964 a 2009, em pouco mais de 40 anos, a exportação 2011 atualidades vestibular + enem 149 k Resumo economia Indústria Brasil A maior parte das indústrias brasileiras ainda está concentrada nas regiões Sul e Sudeste dos produtos manufaturados passou de 6% para 57,4% do total vendido ao ex terior, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). A exportação de produtos industriali zados (como computadores, eletrodomés ticos e automóveis) é uma característica dos países ricos. As nações pobres vendem, sobretudo, produtos básicos ou matériasprimas (commodities), como minérios e bens agrícolas, a exemplo do café e da soja, exportados pelo Brasil. Entretanto, é muito mais vantajoso comercializar pro dutos industrializados, porque eles são mais caros e embutem um lucro maior. Além disso, não sofrem grande variação de preço como ocorrem com minérios e alimentos, que são com frequência afeta dos por fatores como redução de consumo, pragas ou superssafras. História Do século XIX à década de 1930, a in dústria, ainda sem muita estrutura, cres ceu lentamente e voltada para o mercado interno, com a produção de alimentos, bebidas, tecidos, utensílios e ferramen tas. Esse histórico mudou na Era Vargas (1930/1945), quando foi criada a indústria de base – mineração, siderurgia e energia – e foram adotadas medidas protecionistas para favorecer a indústria nacional. Entre as medidas de proteção, ficou proi bida a importação de diversos produtos ou foram aplicadas altas taxas de impostos sobre eles. Assim, os importados ficavam muito caros, para que o consumidor desse preferência aos similares nacionais e assim ajudasse a desenvolver a indústria local. Durante cerca de 40 anos (da década de 1930 aos anos 1970), vigorou a política de substituição de importações, estimulando a implantação de uma indústria nacional para produzir boa parte do que o Brasil precisava. No governo de Juscelino Ku bitschek (1956/1961), teve início a forma ção da indústria de bens duráveis (como carros), com o Plano de Metas, que teve como lema fazer o país crescer “50 anos em cinco”. Houve grande estímulo para a indústria de veículos, eletrodomésti cos e construção. A dobradinha indústria de base e de bens duráveis também foi a tônica do período entre 1968 e 1973 (o chamado milagre econômico), quando o país cresceu mais de 10% ao ano. O Brasil estagnou-se economicamente nos anos 1980. Nos anos 1990, com a globalização, o país ampliou a abertura de diversos segmentos do seu mercado a empresas estrangeiras, tanto para a instalação de fá bricas no Brasil quanto para a importação de seus produtos com menos impostos. Isso objetivou aumentar a concorrência interna e forçar as indústrias nacionais a reduzir custos para baixar os preços. Desconcentração Durante o processo de industrialização, cerca de três quartos das indústrias esta vam na Região Sudeste. Cem anos atrás, havia apenas 3,2 mil empresas no país, das quais 80% estavam nessa região. Trinta anos atrás, o Sudeste ainda monopoliza va o parque industrial, cujo crescimento esteve estreitamente ligado à urbanização do país. Mas esse quadro está mudando. DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL % de indústrias, por região do Brasil, entre 1996 e 2008 80 1996 70 2008 60,8% 60 50 48,1% 40 23,2% 20 9,2% 10 12,7% 6,7% 4,5% 2,3% 2,9% arquivo lorenzetti/divulgação Norte Sudeste Sul Centro-Oeste MUDANÇA DE CENÁRIO O setor industrial tem sofrido uma desconcentração nos últimos anos. No gráfico, é possível perceber que a Região Sudeste, que durante boa parte do século XX praticamente monopolizava o parque industrial, vem perdendo indústrias para outras regiões. Também é possível perceber que a Região Sul cresceu em participação, favorecida por sua proximidade com os países do Mercosul. Fonte: IBGE 150 Nordeste * total de indústrias em 1996: 123.373 total de indústrias em 2008: 448.003 primeiras fÁbricas Mulheres trabalham na linha de produção da Lorenzetti, na década de 1950 atualidades vestibular + enem 2011 Indústria pode crescer 8% em 2010, diz Mantega Por Fabio Graner e Renata Veríssimo O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje que a indústria ainda tem capacidade ociosa e pode crescer 7% ou 8% neste ano. “Insisto em que o crescimento brasileiro é sustentável”, disse Mantega, explicando que a sobra na capacidade produtiva permite que haja expansão sem pressionar os preços. O ministro disse não acreditar que o ritmo de 2% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) verificado no último trimestre de 2009 vai se manter em 2010. Segundo ele, ao longo do ano haverá uma acomodação, e o PIB deve fechar 2010 com alta de 5% a 5,5%. (...) Nos últimos anos, têm ocorrido a descon centração industrial e a distribuição do parque fabril nas várias regiões do país e para fora das metrópoles. Segundo o IBGE, em 2008 a Região Sudeste ainda possuía a maior concentração industrial, mas esta baixou para 48% das indústrias. Já a Região Sul viu sua participação chegar a 29,5% do total. Assim, as duas regiões concentram o maior número de empresas e de trabalhadores empregados. Muitas razões são apontadas para o processo de desconcentração industrial, em geral centradas na redução de custos. Entre elas, podemos apontar: 29,5% 30 0 Saiu na imprensa k o deslocamento das fábricas para locais nos quais contam com financiamento por dinheiro público e recebem incen tivos fiscais, ou seja, grande redução ou até a isenção de impostos por longos pe ríodos. Esse fator deflagrou uma guerra fiscal entre os estados, para atrair as in dústrias. Atualmente, o governo pensa numa legislação nacional que reduza a autonomia de estados e municípios para oferecer benefícios às empresas; k a modernização das estradas, dos trans portes e dos meios de comunicação, atraindo as empresas por garantir efi ciência da produção e rapidez na entrega das mercadorias, com menor custo; O ministro da fazenda disse ainda que o setor externo deve dar contribuição negativa de 2% para o PIB em 2010. Segundo ele, essa contribuição reflete o fato de que o país está crescendo mais que a maioria dos países do mundo, o que eleva as importações mais fortemente. De acordo com o ministro, à medida que a economia mundial se recuperar, o que ainda não está ocorrendo, as exportações vão reagir. Mantega disse ainda que o comportamento fraco das exportações também reflete a agressividade de alguns países para vender seus produtos no mercado internacional. “Tem economias que estão fazendo ações desesperadas para exportar”, disse Mantega. (...) Portal Veja (www.veja.com), 11/3/2010 k o estrangulamento estrutural de algu mas metrópoles brasileiras, o que aca ba dificultando o funcionamento das empresas, que migram para cidades menores perto de boas rodovias; k o crescimento na oferta de mão de obra com qualificação adequada fora das capitais e da Região Sudeste, em geral por menores salários; k o deslocamento de empresas para perto de fornecedores de matériasprimas ou do mercado consumidor. A criação do Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul), por exemplo, atraiu empresas para os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e o Mato Grosso do Sul, pela proximidade com Argentina, Uruguai e Paraguai; k a fuga das empresas das grandes cidades, onde os custos de benefícios trabalhistas (como auxílio transporte, alimentação e saúde, por exemplo) são mais elevados e nas quais há sindicatos fortes para manter e ampliar esses benefícios e ob ter aumentos salariais. O ABC paulista é um exemplo sempre citado; k a criação planejada de polos de desen volvimento industrial, como a Zona Franca de Manaus, em que não há cobrança de impostos para a importa ção de materiais e componentes para a indústria. u q Indústria Brasil Motor da economia A indústria é o setor que fabrica produtos com matérias-primas utilizando tecnologia e trabalhadores com diversos graus de especialização. Ela abrange inúmeros setores, como a construção civil, a petroquímica, a siderurgia, a indústria de máquinas e equipamentos e a de bens eletroeletrônicos. Cria grande quantidade de empregos e está diretamente ligada à urbanização e ao bem-estar social. Em 2009, a indústria foi responsável por 25,4% do PIB brasileiro. Exportação lucrativa Os produtos industriais possuem maior valor agregado que as matérias-primas e rendem maiores receitas de exportação. Atualmente, as exportações de produtos industriais já representam mais de 57% da receita de comércio exterior do Brasil, ou seja, superam as vendas de minérios brutos e produtos agrícolas. Queda da produção Em 2009, a atividade industrial brasileira diminuiu 7,4%, em relação a 2008. A produção de máquinas e equipamentos (os bens de capital) foi a que apresentou o pior resultado em 2009. Na comparação com o ano anterior, os bens de capital apresentaram uma queda superior a 17%, dados do IBGE. Crescimento O desempenho ruim da indústria durante boa parte de 2009 parece estar sendo superado neste ano. Segundo o IBGE, a produção industrial brasileira fechou o primeiro trimestre de 2010 com uma alta de 18,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. A maior alta ficou no setor de bens de capital, que subiu sua produção em 42,1% em relação ao primeiro trimestre de 2009. Desconcentração Tradicionalmente concentrado na Região Sudeste, sobretudo nas metrópoles, o setor industrial tem se espalhado pelo país nos últimos anos. Em 2008, segundo o IBGE, a concentração no Sudeste baixou para 48% das indústrias. A Região Sul é o segundo maior polo industrial, concentrando 29,5% das indústrias do país. 2011 atualidades vestibular + enem 151 k economia MATRIZ DE TRANSPORTE Matriz de transporte A matriz de transporte de um país é o conjunto dos meios de circulação usados para transportar mercadorias e pessoas. Como o transporte de carga é um dos problemas básicos para a economia, é dele que tratamos quando se fala da matriz. Uma matriz de transporte ideal consegue equacionar as distâncias a ser cobertas com as exigências econômicas e sociais. Para isso, contam-se os seguintes meios: k t ransporte terrestre, composto de ro- dovias e ferrovias; divulgação/secon-mt k t ransporte hidroviário, o que inclui Por terra, água e ar Uma matriz de transporte equilibrada reduz o preço final das mercadorias e aumenta a competitividade de um país no comércio global O Brasil é um país de dimensão continental, e, por isso, é um grande desafio montar um sistema de transporte de pessoas e mercadorias que seja eficiente e barato. Para a economia, a rede de transportes é um dos problemas-chave de infraestrutura do país, que afeta diretamente a vida das pessoas e das empresas. Peguemos como exemplo as opções de um fazendeiro imaginário do estado de Mato Grosso, de onde sai a maior parte da safra de soja do Brasil, com 18 milhões de toneladas do grão em 2008/2009, segundo a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). O grosso da produção de soja tem como destino o mercado externo. Veja as principais opções de transporte que o produtor de soja teria no fim da safra: 152 atualidades vestibular + enem 2011 k t ransportar a carga em caminhões, por um longo trajeto de rodovias para o sul, atravessando dois estados (MS e SP, por exemplo), até embarcá-la nos portos de Santos (SP) ou de Paranaguá (PR), em navios cargueiros; k t ransportar a carga em caminhões na direção sudeste, até o Alto Araguaia (MT), e remanejá-la para trens. De lá, ela seguiria por trilhos para os mesmos portos de Santos ou Paranaguá; k finalmente, uma terceira opção seria levar a carga por caminhões para noroeste, até Porto Velho, a capital de Rondônia. Ali, remanejá-la para chatas e transportála pela hidrovia do rio Madeira, até o Porto de Itacoatiara (AM), no rio Amazonas, local em que atracam cargueiros transatlânticos que levam a carga para o exterior. NO ATOLEIRO Para decidir qual Rodovia BA-160: a melhor maneira péssimas condições para transportar de tráfego em rota de sua safra, o produtransporte da produção tor precisa avaliar do Brasil central ao menos três variáveis essenciais: o peso da mercadoria, o custo do transporte e o prazo de entrega. Há outras, como a segurança da carga e das pessoas, e cada produtor faz suas contas e escolhas. Oferecer meios de transporte adequados a diversos tipos de carga e a um custo baixo é um dos pontos-chave para o desenvolvimento do país. Para isso, é necessária uma matriz de transporte equilibrada entre diversos modais, o que não ocorre no Brasil de hoje. Como vimos, no caso de Mato Grosso o produtor não tem muitas escolhas. Mais da metade da produção segue para fora do estado dentro de caminhões, por rodovias precárias, como a BR-163, que liga Cuiabá (MS) a Santarém (PA), recordista em acidentes. Além do perigo das estradas, o frete desse tipo de transporte é caro. Para escoar com maior eficiência a produção do estado, a concessionária América Latina Logística está investindo 1 bilhão de reais para estender a ferrovia Ferronorte em direção às áreas de cultivo. Nos últimos quatro anos, a melhoria no ramal reduziu o tempo de transporte até Santos de 240 horas para 96. Os produtores, porém, reclamam do preço do frete ferroviário, ainda muito próximo ao do rodoviário. navegação fluvial (por rios), a navegação de cabotagem (costeira) e a transatlântica; k transporte por dutos ou tubulações (basicamente de gás e petróleo); k t ransporte aéreo. Uma matriz de transporte eficiente é aquela que permite essa locomoção no menor tempo e com o menor preço. Em um país continental como o nosso, o assunto é muito complicado, pois a infraestrutura de transportes exige bastante investimento. Para equilibrar uma matriz, é preciso levar em conta alguns fatores: k transporte rodoviário é o meio mais indicado para interligar pontos próximos. Isso porque construir e manter estradas custa caro; k t ransporte ferroviário exige grande investimento inicial, mas pode transportar uma quantidade maior de carga. É, adequado, portanto, a trajetos médios ou longos em que haja necessidade de locomover grande volume com eficiência; k t ransporte hidroviário é mais lento do que caminhões ou trens, mas gasta-se menos para transportar milhares de toneladas de produtos; k t ransporte dutoviário é utilizado quando há a garantia ou a previsão de um fluxo contínuo de gás ou petróleo, porque exige grande planejamento e investimento que só se pagam a longo prazo; como energia é um fator essencial, é construído para cobrir qualquer distância. k t ransporte aéreo é o que tem os fretes mais caros, por isso é usado para cargas delicadas, como eletroeletrônicos, ou perecíveis, como frutas e flores. Desequilíbrio Um país grande em território como o Brasil, que movimenta produtos internamente e exporta um volume significativo de grãos e minérios produzidos em áreas distantes do litoral, deveria utilizar de forma equilibrada as várias modalidades de transporte. Não é o que ocorre. Cerca de 58% de todo o transporte do país é feito em rodovias, um quarto da carga é levado por ferrovias e apenas 13% seguem por hidrovias. O restante ficou com o meio dutoviário (3,6%) e com o transporte aéreo (0,4%), em 2005, segundo dados do Ministério dos Transportes. O principal resultado do desequilíbrio dessa matriz é o alto custo nacional do transporte de carga. Por exemplo, no caso da soja, pelo modo hidroviário paga-se um terço do que é gasto via ferrovia e um quinto do necessário para levá-la por es- tradas. No entanto, o produtor da soja terá de usar uma combinação desses meios, pois, apesar de mais barata, a hidrovia não leva a todos os lugares. Um estudo do Ministério dos Transportes adverte que os dois principais concorrentes do Brasil nas exportações agrícolas, Argentina e Estados Unidos, registram custos menores nos transportes. Os argentinos, porque possuem cobertura ferroviária maior e têm um território menor. Os norteamericanos, porque usam intensivamente ferrovias e hidrovias em um país com dimensões semelhantes às nossas. O impacto do custo elevado do transporte não recai só sobre o que exportamos. Ele onera também o custo operacional das empresas e o preço final das mercadorias vendidas dentro do país. Assim, melhorar o sistema de transportes é um fator para o crescimento geral da economia. AS ESTRADAS EM AVALIAÇÃO A qualidade das rodovias em cada região, de ótimo a péssimo, na opinião de donos de transportadoras entrevistados, em 2009 Ótima Regular Boa BRASIL Centro-Oeste Sul 13,5% 7,9% 45,0% 17,5% 16,9% 52,8% 20,5% 30,9% 26,6% 8,6% Péssima 14,6% 11,3% Sudeste Nordeste Ruim 13,2% 20,1% 28,3% 53,7% 2,1% 11,3% 4,7% 38,2% 45,4% Norte 1,3% 5,1% 4,1% 11,6 44,1% 19,1% 7,1% 12,7% 11,7% ESTRADAS RUINS Com base na análise do gráfico acima, é possível concluir que a situação das rodovias no Brasil não é avaliada como aceitável pelos empresários do setor de transportes. O resultado de avaliações regular, ruim e péssimo soma 69% das opiniões. Note que as regiões mais ricas do país são as que apresentam as estradas mais bem avaliadas: o Sudeste, com 45,7% de ótima e boa, e o Sul, com 42,2%. Para os entrevistados, a Região Norte tem as piores estradas. Fonte: Confederação Nacional do Transporte MUDANÇA NA MATRIZ DE TRANSPORTE A atual matriz de transporte de carga no Brasil e a planejada para 2025 Dutoviário 3,6% Aéreo 0,4% Aquaviário 13% Rodoviário 58% Dutoviário 5% Aéreo 1% Aquaviário 29% 2005 Ferroviário 25% Rodoviário 33% 2025 Ferroviário 32% METAS A LONGO PRAZO Ao observar o gráfico da esquerda, é possível perceber como a matriz de transporte atual (2005) é desequilibrada, com mais da metade dos transportes no Brasil sendo feita por estrada, modo mais caro e de capacidade relativamente pequena para grandes quantidades de carga. Mas a meta é alcançar uma melhor distribuição da matriz de transporte, como é possível observar no gráfico da direita. Em 20 anos, o Brasil espera obter forte crescimento dos transportes por ferrovia e, sobretudo, por hidrovia, cujos fretes são mais baratos e sua capacidade de carga é maior. Fonte: Ministério dos Transportes, Plano Nacional de Logística de Transportes 2011 atualidades vestibular + enem 153 k Resumo economia MATRIZ DE TRANSPORTE No Brasil, as rodovias transportam mais da metade das cargas e as ferrovias, apenas 25% AS PRINCIPAIS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL AP RR Histórico Do período final do século XIX até a década de 1920, a maior parcela dos transportes no Brasil foi feita por ferrovias e navegação. A implantação e expansão das ferrovias nesse período foi vinculada ao complexo agroexportador do café. No período seguinte, houve ainda um crescimento das vias férreas, mas teve início a construção de uma rede de estradas. A chegada ao poder de Juscelino Kubitschek, em 1956, marcou um forte impulso para a implantação da indústria automobilística no país e para a expansão das estradas asfaltadas. Nas décadas seguintes, o transporte por rodovias acabou recebendo um tratamento prioritário pelos sucessivos governos. AM RN PI AC RO PE PB AL SE TO BA MT Gasodutos e aviões GO Portos Terminais hidroviários MG MS ES RJ Estradas Hidrovias SP PR Ferrovias SC RS Rodovias As rodovias são o principal meio de transporte de passageiros e cargas no Brasil, mas segundo levantamento de 2009 da Confederação Nacional do Transporte, 73,9% de toda a malha rodoviária pavimentada brasileira encontra-se em estado regular, ruim ou péssimo. Isso quer dizer que há cerca de 60 mil quilômetros de estradas a ser melhorados. A solução encaminhada por governos estaduais e federal tem sido privatizar a administração das rodovias que construíram. A obra mais cara e recente do sistema rodoviário no país é a construção de um anel viário ao redor da região metropolitana de São Paulo, interligando as estradas de forma a diminuir o trânsito de caminhões de carga no interior da capital. Isso reduzirá o tempo de transporte, custos e poluição. Atualmente, apenas 25% da produção brasileira roda sobre trilhos, índice que na Rússia, por exemplo, chega a 80%. Além da manutenção e modernização das vias antigas e locomotivas, a expansão da malha ferroviária precisa ancorar-se num processo integrado com outros meios de transporte, o que se chama intermodalidade ou transporte intermodal. Atualmente, o transporte ferroviário é uma das áreas de investimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e registrou, nos últimos anos, um aumento de 20% da carga transportada. pois uma única barcaça fluvial carrega uma quantidade de carga equivalente a 15 vagões de trem ou a 60 caminhões. A expansão da rede depende também da compatibilidade entre o rumo geográfico dos rios e a direção dos fluxos de carga. Nos últimos dez anos, o transporte fluvial cresceu 15%. Assim, é crescente o volume de gado transportado de Mato Grosso e Goiás por barcaças na hidrovia Tietê-Paraná com destino a frigoríficos de Araçatuba (SP). Essas mesmas barcaças voltam carregadas de insumos para os produtores de gado. Ferrovias Hidrovias Portos O Brasil possui uma rede de linhas ferroviárias menor do que necessita e, em muitos casos, linhas precárias e sucateadas, o que ocorreu principalmente em razão da concentração dos investimentos em rodovias. São 29.817 quilômetros de ferrovias, número que permanece inalterado há praticamente 40 anos. Os Estados Unidos, com uma área pouco maior do que a nossa, possuem dez vezes mais. 154 CE MA PA atualidades vestibular + enem 2011 Fonte: IBGE No Brasil, o transporte hidroviário poderá assumir grande importância. O país possui uma rede com cerca de 44 mil quilômetros de rios, dos quais 29 mil são naturalmente navegáveis, mas são utilizados para transporte apenas 13 mil quilômetros, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Em resumo, há boa possibilidade de crescer, e também há motivos, 1,7 milhão de unidades, segundo dados da Antaq. Para conseguir dar conta da movimentação, o porto de Santos vem sendo ampliado. Os estudos indicam que, caso a economia brasileira confirme o crescimento previsto, a estrutura dos portos precisará dobrar em dez anos, para dobrar também a capacidade de transporte de carga anual, que é atualmente de 700 milhões de toneladas. Isso exigirá obras com custo estimado em 30 bilhões de dólares, para construir ou modernizar armazéns, depósitos, terminais de contêineres, de produtos agrícolas e de minérios, berços de atracação e canais de acesso. Um ponto de gargalo da matriz de transporte são os portos, terminais das vias internas de comunicação (rodoviárias, ferroviárias e fluviais) e pontos de partida para mais de 90% das exportações. O porto de Santos, o maior do país, é responsável por 25% do comércio exterior brasileiro e liderou o ranking dos portos públicos que mais movimentam contêineres. Em 2008, por exemplo, transportou Os dutos são um excelente meio para transporte de gás natural e petróleo. O gasoduto Bolívia-Brasil opera desde 1999 e visa a diversificar a matriz de energia brasileira e a diminuir o consumo de petróleo, carvão e eletricidade. Quanto ao transporte aéreo, o governo federal vem favorecendo a reforma e a modernização de diversos aeroportos pelo país, e uma de suas diretrizes para incentivar o transporte de bens de consumo são os aeroportos industriais. Dois terminais de passageiros considerados ociosos, o de Viracopos, em Campinas (SP), e o de Tancredo Neves, em Confins (MG), estão recebendo investimentos para que venham a ser centros de processamento de exportações. Entretanto, graves acidentes aéreos – como a queda dos aviões das companhias aéreas Gol, em 2006, e TAM, em 2007 – evidenciaram que a infraestrutura de controle dos voos precisa ser modernizada. Matriz futura Em 2007, o governo federal iniciou um programa de investimento em infraestrutura por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nos anos anteriores, o investimento privado tinha sido a principal opção para expandir o setor. A proposta do Plano Nacional de Logística de Transportes norteia os investimentos públicos e privados pelos próximos 15 anos, com o objetivo de melhorar e equilibrar a matriz nacional de transporte. Sua principal meta é ampliar a participação dos setores ferroviário e hidroviário na matriz de 38% para 61% até 2025 (veja o gráfico na pág. 153). Se isso ocorrer, teremos um barateamento do transporte no Brasil, com benefícios para as exportações e para a circulação interna de mercadorias. u Saiu na imprensa Frete em Mato Grosso é três vezes mais caro que nos Estados Unidos Venílson Ferreira O custo de transporte da soja no norte de Mato Grosso até os portos é três vezes superior ao frete pago pelos produtores do Estado americano de Iowa. Os cálculos foram feitos pelo (...) Imea. Os produtores que estão em Sorriso (MT), que fica a 2.282 km do Porto de Paranaguá (PR), têm um custo de US$ 97 por tonelada de soja transportada por rodovia. Já os produtores de Iowa, que estão a 1.576 km do porto, gastam US$ 33,98 por tonelada, dos quais US$ 10,09 são despesas com o frete do caminhão até os terminais no Rio Mississippi e mais US$ 23,89 com o da barcaça que transporta a mercadoria até o Golfo do México. Os cálculos do Imea são utilizados pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja/MT) para defender investimentos na hidrovia Teles Pires-Tapajós, que reduziria o custo do frete da região norte de Mato Grosso para cerca de US$ 55,54 por tonelada, sendo US$ 37 do caminhão até a hidrovia e mais US$ 18,77 da barcaça. Se a hidrovia fosse construída, a soja sairia pelo norte do Estado de Mato Grosso, a partir do município de Sinop, e percorreria 1.099 km até Santarém (PA), sendo exportada pelo Norte do País. (...) Segundo levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), no ano passado o custo de transporte representou 32% do preço da soja originária de Mato Grosso desembarcada em Xangai, na China. (...) O Estado de S. Paulo, 6/5/2010 q Matriz de transporte O que é Matriz de transporte é a distribuição dos meios de circulação para transportar mercadorias e pessoas em determinado momento em uma aérea geográfica. Ela inclui mensurar os volumes e tipos de cargas e de passageiros, a intensidade e os meios utilizados e os destinos de partida e chegada. O transporte de carga é um dos problemas básicos da economia. Desequilíbrio A matriz de transporte brasileira é bastante desequilibrada. O país possui 58% de rodovias, 25% de ferrovias e 13% de hidrovias. O ideal seria um terço para cada meio de transporte. Com isso, cada um poderia ser usado para uma finalidade: o rodoviário funcionaria para pequenas distâncias; o ferroviário, para médias e longas; e o hidroviário, para grandes cargas não perecíveis e longas distâncias. Há ainda o meio dutoviário, empregado para gás e petróleo, e o transporte aéreo. Rodovias Os caminhões transportam mais da metade das cargas do Brasil. O maior problema é que cerca de 60 mil quilômetros de estradas (69% do total) se encontram em estado ruim. FERRovias Concentram um quarto do transporte de carga. Precisam de investimentos para modernização. HIDRovias Atualmente, totalizam 13 mil quilômetros em operação, mas esse número pode crescer bem mais. Hoje, as hidrovias respondem por 13% do transporte de carga no Brasil. Investimento A melhoria da malha de transportes é fundamental para evitar gargalos no escoamento da produção, pois eles prejudicam o crescimento contínuo da economia brasileira. Custo Elevado O impacto do alto custo do transporte no Brasil não recai só nas exportações. As empresas repassam o custo do transporte ao preço dos produtos para o consumidor. Investir na melhoria do transporte pode resultar na diminuição do preço dos produtos e no aumento do consumo interno e da produção. 2011 atualidades vestibular + enem 155 k questões sociais MIGRAÇÕES BRASIL A Um país de migrantes As diferenças no desempenho econômico de uma região para outra explicam o perfil das correntes migratórias pelo território brasileiro Por Paulo Montoia Infografia Yuri Vasconcelos e Multi/SP s migrações deixam fortes marcas tanto nos países quanto nas pessoas. Quem não tem conhecidos cujo apelido se refere ao estado de origem, como “mineiro”, “paulista” ou “baiano”? Quando as pessoas se deslocam, carregam consigo a cultura, a língua, o jeito de falar e muitas outras características da terra natal. No Brasil de hoje, uma pessoa a cada seis vive longe do estado natal. É gente que, em algum momento, na infância ou na fase adulta, emigrou para outro canto do país. Quando vem a nova geração, a situação muda, pois os filhos dos imigrantes já são naturais na nova região. Carregam então uma “herança” cultural: “Meus pais são gaúchos”, diz um, ou “Meus avós vieram da Itália”, afirma outro. E atenção: quando tratamos de migrações, estamos falando de pessoas que saem do local de nascimento – tanto MOBILIDADE INTERMUNICIPAL Percentual de brasileiros que não moram na cidade de origem (por região) POPULAÇÃO NATURAL x POPULAÇÃO MIGRANTE Centro-Oeste O Centro-Oeste é a região brasileira hoje com o maior número de migrantes (% em relação à população total) DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, 40,1% não moram no município em que nasceu NOVOS HORIZONTES Famílias do Paraná emigrando para Mato Grosso: expansão da fronteira agrícola Norte Sudeste Residentes migrantes Residentes naturais 92,6% 54,2% 43,3% 41,3% Sul 78,1% 44% Nordeste 31,8% 21,9% 64,4% 15,7% 7,4% NORTE não residem no estado de origem NORDESTE 35,6% 82% 3,3 milhões CENTRO-OESTE de brasileiros mudaram de estado em 2008 Esse número mostra quantas pessoas não nascidas em cada região vivem nela. Podemos concluir que a Região Centro-Oeste foi fortemente colonizada nas últimas décadas, já que mais de um terço de sua população nasceu em outros pontos do país. O motivo é a expansão das fronteiras agrícolas e do agronegócio. O Nordeste é a região com menos imigrantes. 4,6 milhões foi o contingente médio de migrantes interestaduais, por ano, entre 2001 e 2007 88% 18% SUDESTE 12% SUL Fique esperto: uma análise destes dois gráficos revela que é muito mais comum uma pessoa deixar sua cidade natal e mudar para outra no mesmo estado – fluxo de pessoas do interior para a capital, por exemplo, ou mudança para uma cidade vizinha – do que para um município de outro estado. Fonte: Pnad 2008 walter firmo 2011 atualidades vestibular + enem 157 k questões sociais MIGRAÇÕES BRASIL IMIGRAÇÃO NEGRA NO BRASIL PORTUGAL Portos de embarque na África e desembarque no Brasil Séculos XVI e XVII Século XVIII Século XIX Europeus são a maioria dos imigrantes no Brasil no fim do século XIX e início do XX Desembarque estimado de africanos entre 1531 e 1855 Rota do tráfico A imigração estrangeira hoje INVASÃO ESTRANGEIRA 1.680.100 1.719.300 Desde janeiro de 2009, por um acordo bilateral entre os governos, qualquer argentino pode solicitar visto permanente para viver no Brasil, sem que esteja estudando ou trabalhando aqui, e o mesmo vale para brasileiros na Argentina. Essa é uma das mudanças recentes na legislação para estrangeiros. Em 2009, de julho a dezembro, o governo abriu um processo para que imigrantes ilegais pudessem regularizar sua situação. Foi uma anistia que objetivou principalmente alcançar os bolivianos, que vêm trabalhar na Grande São Paulo, sobretudo em pequenas empresas de confecção de roupas, e que vivem 1870-1907 1908-1953 Total 1870-1907 SENEGAL GÂMBIA BENIN GANA NIGÉRIA 2.328.585 Total 1908-1953 BRASIL Recife Salvador MG SP (café) 560.000 MOÇAMBIQUE RJ (mineração) 2.546.455 TANZÂNIA ANGOLA (cana) Rio de Janeiro 50.000 1531 a 1600 1601 a 1700 1701 a 1800 1801 a 1855 Repare que o número de italianos que entraram no Brasil neste período foi mais do que o dobro de portugueses e mais da metade do total. 1.208.042 951.654 Este período foi o apogeu do tráfico de escravos para o Brasil. Estima-se que, em 1800, os negros fossem por volta de 47% da população brasileira, 519.033 471.639 356.647 287.822 357.793 contra 30% de mulatos e 23% de brancos. Imigrantes portugueses PORTUGUESES NO BRASIL 2.256.798 Desde a chegada dos primeiros colonizadores, o fluxo migratório de lusitanos viveu fases distintas Período 1500 a 1700 100.000 1701 a 1850 626.633 1851 a 1960 1961 a 1991 Fonte: Brasil: 500 Anos de Povoamento (IBGE, 2000) 158 Imigração de transição Além de imigrantes de elite, chegaram também minhotos pobres, expulsos de sua terra natal (a região do Minho) em função da falta de trabalho 1.470.793 59.372 atualidades vestibular + enem 2011 4.009.400 154.409 56.416 Italianos Portugueses Espanhóis Alemães Imigração de massa Pessoas de origem pobre, mulheres e crianças menores de 14 anos, órfãs ou abandonadas eram a maior parte do contingente Imigração de declínio O desenvolvimento industrial português, a queda na taxa de natalidade e o envelhecimento da população são fatores que explicam a redução do fluxo O Centro-Oeste é a região brasileira com mais imigrantes, e o Nordeste, a com mais emigrantes as que vão para outros países, quanto as que mudam de estado ou cidade dentro do próprio país. Atualmente, a região brasileira com mais imigrantes é o Centro-Oeste, onde 35,6% da população vem de outras regiões. A que tem menor número de imigrantes é o Nordeste, com 7,4% (veja na pág. 157). O Distrito Federal, fundado há apenas 50 anos, lidera entre as unidades federativas, com 51% de imigrantes, seguido de Rondônia, com 46%. 202.679 190.282 – Japoneses Fonte: Brasil: 500 Anos de Povoamento (IBGE, 2000) Imigração restrita O grosso relaciona-se à migração internacional forçada, o degredo (condenação penal), para suprir as deficiências do povoamento Número de imigrantes Imigrantes negros sem amparo legal nem trabalhista. Não há números oficiais, mas estima-se algo em torno de 150 mil pessoas. Os que se regularizam podem tirar carteira de identidade e de trabalho. O Brasil já tomou iniciativas como essa em 1988 e em 1998. Na anistia atual, regularizaram-se 43 mil estrangeiros. O maior grupo foi o de bolivianos, com 17 mil inscritos, seguido por 5,5 mil chineses, 4,6 mil peruanos, 4,1 mil paraguaios e 1,1 mil coreanos. O governo foi surpreendido com 2,4 mil europeus, na maioria aposentados ou pessoas de renda elevada que vieram abrir negócios, principalmente pousadas e restaurantes no Nordeste. 54.593 64.031 Russos Poloneses, ucranianos, tchecos, sírios e libaneses fazem parte deste grupo. Outros Fonte: Memorial do Imigrante Quando se consideram os números absolutos de migrantes, ainda é no Sudeste que vivem mais brasileiros vindos de fora – mais de 14 milhões de residentes. O Nordeste mantém-se como a terra de origem da maior parte dos migrantes brasileiros – cerca de 10 milhões de pessoas. A consolidação de novas áreas de atração econômica têm feito com que um número cada vez maior de migrantes se mova entre estados vizinhos, caracterizando o que é definido como movimentos migratórios intrarregionais – ou seja, dentro das regiões. Esse tipo de deslocamento, atualmente, tem importância no Nordeste, por exemplo, com a abertura de fronteiras agrícolas no oeste da Bahia e no sul do Piauí e do Maranhão, e na Região Sul, com a vinda de indústrias. Miscigenação O ser humano migra quase sempre em busca de melhores condições de vida. Em poucas partes do mundo, esse fator é tão relevante quanto nas Américas, colonizadas por europeus migrantes. Nos séculos XIX e XX, os países americanos se ofereceram para receber pessoas vindas de nações assoladas por guerras e fome. No Brasil, as migrações estão vinculadas ao nosso processo de povoamento, econômico e a formação da nossa cultura. As marcas da migração no Brasil são visíveis na própria conformação física dos brasileiros, que chama a atenção de estrangeiros pela diversidade. Somos resultado de uma miscigenação de europeus, índios e negros, como já se aprende desde o Ensino Fundamental. Estima-se que, quando da chegada dos portugueses, havia no Brasil pelo menos 1 milhão de índigenas, organizados em 1,4 mil nações de dois grandes troncos linguísticos, o Guarani e o Tupi. Antes disso, os índios já tinham uma cultura nômade e, dependendo do crescimento das populações e de suas necessidades de alimento, se deslocavam pelo território, uma nação lutando por supremacia sobre outra e fundindo culturas. A maior quantidade de imigrantes foi de negros vindos do imenso continente africano. Entre 1531 e 1850 (ano em que o tráfico de escravos foi extinto com a Lei Eusébio de Queirós), estima-se que tenham vindo para o Brasil cerca de 4 milhões de negros de vários grupos étnicos e sociais. Eles foram trazidos como imi2011 atualidades vestibular + enem 159 questões sociais MIGRAÇÕES BRASIL O maior contingente de imigrantes no Brasil foi o de africanos, trazidos à força como escravos Causas da migração VAIVÉM DE BRASILEIROS Principais fluxos migratórios por grandes regiões, entre 1999 e 2004 100.610 - 128.171 177.050 - 183.680 193.890 - 215.530 286.345 390.000 - 403.510 456.546 grantes forçados para o trabalho escravo, das regiões onde ficam hoje Guiné, Benin, Costa do Marfim, Mali, Congo, Angola e Moçambique. Em 1800, quase metade dos 3 milhões de moradores do Brasil colônia eram negros. Com origem europeia, até meados do século XIX, houve basicamente o imigrante português, determinante na formação do país, mas deve-se lembrar ainda da ocupação do Maranhão por franceses (15941615) e da de Pernambuco por holandeses (1630-1654). Eles foram expulsos, mas deixaram traços culturais e genéticos. 1970 65 2007 Sudeste 56 17 17 12 13 9 CENTROOESTE MG C.-Oeste Norte As migrações são motivadas por diversas causas, das quais a principal é a busca por melhores condições de vida 4 2 5 RJ e ES SUDESTE SP SUL …MUDA A MIGRAÇÃO Sul Nordeste NORDESTE A largura das setas dá uma noção do volume de migrantes que se deslocou no período analisado. Note que o maior fluxo foi de São Paulo para a Região Nordeste e vice-versa. MUDA A ECONOMIA,… Participação de cada região no PIB do Brasil (em %) NORTE Fonte: “A migração no Brasil no começo do século 21: continuidades e novidades trazidas pela Pnad 2004” – José Marcos Pinto da Cunha RIO DE JANEIRO MATO GROSSO DO SUL Apresentou em 2008 o primeiro saldo positivo (mais gente entrou no estado do que saiu) desde 1992, ano em que o IBGE passou a pesquisar essa questão. Passou de um saldo positivo em 2007 para um pequeno saldo negativo no ano seguinte. Muita gente saiu do estado num período recente. PARÁ BAHIA Desde 2004, exercia forte poder de atração, mas em 2008 seu saldo migratório foi próximo de zero. O maior contingente humano vem do vizinho Maranhão. Após três anos com mais entrada do que saída de migrantes, voltou a ver uma forte saída de baianos em 2008. Quase metade (46%) vai para São Paulo. Nos 37 anos que separam os dois anos abordados a grande mudança foi a queda da participação do Sudeste no PIB e o crescimento do Centro-Oeste. Refugiados no Brasil O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a assinar a Convenção de 1951 das Nações Unidas para os Refugiados. Segundo a agência das Nações Unidas para a área (Acnur, sigla para Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), o Brasil abrigava, em 2009, 4.294 refugiados reconhecidos pelo governo, provenientes de 75 países. A maioria vive nos grandes centros urbanos. O maior contingente procede dos países da África. Da Ásia, um grupo que pode ser destacado é o de famílias refugiadas da Palestina, abrigadas principalmente em São Paulo, onde o governo estadual inaugurou uma representação do Acnur em 2008. Naquele ano, 46% de todos os refugiados no país estavam em São Paulo. Desde 1997, uma lei federal criou o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), que atua em parceria com a Acnur. Diversas organizações civis, principalmente religiosas, atuam para ajudar os refugiados a superar as barreiras que enfrentam por desconhecer a língua e auxiliá-los a ter uma vida regular: trabalhar, estudar e se relacionar com as comunidades de onde vivem. Toda pessoa que se muda de local de vida é um migrante. Aquele que parte é emigrante, e aquele que chega é imigrante. As razões para migrar geralmente são econômicas (trabalho e salários), mas há razões sociais, como guerras, catástrofes naturais ou perseguições religiosas. No Brasil, as atividades econômicas foram determinantes para a chegada de imigrantes estrangeiros e também das migrações internas no período colonial, com a ocupação portuguesa para obter matérias-primas, as entradas e banTRADIçÃO GAÚCHA deiras, para capLavoura na Região turar e escravizar Centro-Oeste: terras índios, o ciclo do disponíveis atraíram ouro e o da canasulistas (foto de 1988) de-açúcar. Com a proibição do tráfico de escravos, o Brasil assina acordos internacionais para a imigração. Entre 1870 e 1953, o país recebe quase 5 milhões de imigrantes, vindos da Itália, Portugal, Espanha, Alemanha, Rússia, Japão e de outros países (veja tabela na pág. 159). Eles substituem os escravos na agricultura como colonos meeiros (recebem parte da produção como pagamento) ou assalariados, e integramse também na indústria e serviços. Além do interesse econômico do Brasil, pesam razões sociais e políticas nos países de origem, como crises de desemprego e falta de alimentos, a I Guerra Mundial (1914-1918), a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a II Guerra (1939-1945). Hoje, mudou o perfil da imigração estrangeira no Brasil, que atrai agora principalmente a população de países vizinhos, como bolivianos, peruanos e paraguaios (veja boxe na pág. 159). ronaldo kotscho k Industrialização No Distrito Federal, de cada dez habitantes, cinco não nasceram ali. 51,1 46,2 45,9 41,4 32,2 29 28,7 terras na Amazônia Legal e pela criação do polo industrial da Zona Franca de Manaus. A partir dos anos de 1990, o governo estimula a redistribuição das indústrias pelo território brasileiro e há melhoria na infraestrutura nacional de transportes, de telecomunicações e de energia elétrica, além de estímulo à geração de empregos em regiões menos desenvolvidas. Passa a ocorrer também a guerra fiscal entre os estados e municípios, que oferecem isenção de impostos e outras vantagens para atrair as empresas. É importante destacar nesse período o estímulo ao desenvolvimento da fruticultura irrigada e da indústria têxtil no Nordeste e à ocupação agropecuária e industrial do Centro-Oeste. Mato Grosso, que em 1990 produzia apenas 3% do algodão do país, em 2002 passou a realizar Durante o séxulo XX, a expansão da agricultura e a industrialização trouxeram para o Sudeste, sobretudo para São Paulo e Rio de Janeiro, brasileiros de todas as regiões, mas principalmente do Nordeste. Esse processo provocou uma forte concentração populacional e econômica no Sudeste e aprofundou a desigualdade que já existia entre as regiões brasileiras. O estado de São Paulo, em 1970, produzia 39,4% do PIB do país, e a Região Sudeste, 65% (veja tabela na página anterior). A partir dos anos de 1960, começa uma lenta ocupação das regiões Centro-Oeste – incentivada pela inauguração de Brasília – e Norte – estimulada pela abertura de estradas como a Belém-Brasília e a Transamazônica, pela distribuição de O estado do Rio Grande do Sul é o que possui o menor percentual de migrantes. ONDE ESTÃO OS MIGRANTES Percentual de migrantes na população São Paulo ocupa a sétima posição no ranking de migrantes por estado. 23,4 22,7 18,3 18,1 18 16,8 15,7 14,1 11,8 10,4 9,9 DF RO RR MT TO MS GO SP AP PA ES PR RJ 9 8,4 8 7,6 6,9 6,5 6,4 5,7 4,1 SC AM SE AC RN MA PI MG PE AL PB BA CE RS Fonte: Pnad 2008 160 atualidades vestibular + enem 2011 2011 atualidades vestibular + enem 161 Resumo questões sociais MIGRAÇÕES BRASIL mais da metade da produção (53%). Nesse mesmo ano, as regiões Centro-Oeste e Norte já totalizavam 51% da produção nacional de gado bovino. Na Região Norte, também cresceram as atividades de mineração e extrativismo vegetal. Como resultados desse processo, entre 1970 e 2007, cresceu a participação no PIB do Nordeste, do Norte e do CentroOeste, enquanto caiu a participação do Sudeste (veja a tabela na pág. 160). Entre 1986 e 2002, a Grande São Paulo perdeu quase 1 milhão de empregos industriais, o que provocou a migração de retorno ao local de origem. Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2006 (Pnad, do IBGE), o estado de São Paulo aparecia com uma perda de 207 mil habitantes no saldo migratório – o total de imigrantes menos o de emigrantes. Na mesma pesquisa, estados que tradicionalmente apresentavam saldo migratório negativo inverteram o sinal, como Bahia, Ceará, Pará e Rio Grande do Norte. A pesquisa registra que, dos migrantes de São Paulo para a Bahia, 65% eram baianos de nascimento. Percentual semelhante de cearenses foi observado entre os migrantes que se dirigiram ao Ceará. Nesse mesmo período, os movimentos de população obedeceram a duas forças simultâneas: o desestímulo a permanecer na Região Sudeste e a atração econômica exercida por outras regiões do Brasil. Mudanças recentes Em migrações, o importante é entender os grandes fluxos, que mudam a fisionomia do planeta e do país. Muitas vezes, mudanças rápidas na estrutura econômica alteram o sentido dos movimentos – e isso pode ser curto ou duradouro. Um exemplo são os dados divulgados recentemente na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2008), do IBGE, que mostram uma tendência de reversão do fluxo migratório, que poderá ou não se manter nos próximos anos, segundo análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que estavam com saldo migratório positivo (mais gente entrando do que saindo), voltaram a ter saldos negativos ou estão perdendo atratividade. É o caso do Pará, que teve o saldo quase zerado, do Rio Grande do Norte, que registrou movimento de emigração, e da Bahia, que voltou a ter saldo negativo, principalmente em direção a São Paulo. No Centro-Oeste, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul apresentaram saldos anuais negativos, provocados pelo aumento da emigração, de 44,4% e 61,1%, respectivamente. Mato Grosso nunca havia registrado saldo negativo desde o início das apurações anuais do IBGE, em 1992. No Sudeste, há uma tendência crescente a novos saldos positivos. Em 2008, também pela primeira vez desde 1992, o estado do Rio de Janeiro teve um saldo anual positivo, com entrada de imigrantes maior do que a saída. Em São Paulo, o saldo negativo de fluxo começou a diminuir em 2006 e quase foi zerado em 2008. Os estados que mais forneceram migrantes para São Paulo foram Bahia, Pernambuco e Paraná. Ainda com estudos preliminares, os especialistas do IBGE e do Ipea acreditam que as mudanças recentes se devem à grande criação de empregos registrada no país, particularmente no Sudeste, onde há maior concentração de indústrias. A construção civil, em especial, destaca-se por ser a maior geradora de empregos diretos, concentrar negócios onde há mais financiamentos e consumidores com poder aquisitivo para comprar e por atrair e empregar a mão de obra sem especialização nem formação. Outro fator provável é a expansão da indústria sucroalcooleira. De acordo com Associação Paulista de Cogeração de Energia, em 2008 o Brasil possuía 347 usinas de produção de álcool a partir de cana-de-açúcar, a maioria em São Paulo, e havia 104 usinas em Entrou mais gente do que saiu Muitas vezes, mudanças rápidas na estrutura econômica alteram os sentidos da migração Saiu mais gente do que entrou k MIGRANTES POR FAIXA ETÁRIA Percentual de brasileiros não naturais que vivem... …no município 12,7 21 27,4 37 48,8 54,9 60,6 64,8 até 9 anos 10 a 17 anos 18 e 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 anos ou mais Fonte: Pnad 2008 162 atualidades vestibular + enem 2011 …no Estado 3,7 6,8 9,3 13,8 19,9 22,6 25,4 27 Os dois gráficos mostram que a faixa acima de 60 anos é a que tem maior percentual de migrantes. Isso ocorre porque a pessoa pode ter se mudado no decorrer de toda a vida. A ATRAÇÃO PAULISTA Saldo migratório entre São Paulo e as regiões (em mil pessoas) 500 400 300 Note que, depois de 2000, ocorre uma reversão no fluxo: mais gente sai do que chega a São Paulo. 200 100 0 Principal polo econômico do país, São Paulo é um centro “magnético” da migração. O estado é visto como um local de oportunidades para os brasileiros de regiões menos desenvolvidas. -100 -200 1992 Saldo migratório Saiu na imprensa São Paulo Bahia 600.000 400.000 Positivo 0 Negativo -200.000 Positivo Negativo -400.000 1992 Os dois saldos estão relacionados: quando São Paulo atrai menos, a Bahia retém mais gente. Olhe o gráfico seguinte. 2008 2000 SEMPRE EM MOVIMENTO Em demografia, saldo migratório é o resultado de pessoas que entram e saem de uma cidade, estado ou país. Quando é positivo, o local recebeu mais gente do que perdeu; quando é negativo, perdeu mais do que ganhou. Confira abaixo o comportamento do saldo migratório de dois estados desde 1992 construção para inauguração até o fim de 2010, a maior parte delas também em São Paulo, além de unidades em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. O aumento da produção de álcool combustível objetiva abastecer a frota crescente de veículos com motor bicombustível, os carros flex, e também para exportar. No Rio de Janeiro, um fator de atração de mão de obra, nos últimos anos, é a reativação do setor de estaleiros navais. u 600 -300 200.000 A correta leitura é a seguinte: 12,7% dos brasileiros de até 9 anos não vivem no município em que nasceram, ao passo que 3,7% dos brasileiros dessa faixa etária não residem no estado natal. Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Norte 2008 Brasil tem 4,3 mil pessoas refugiadas O Comitê Nacional para Refugiados (Conare) do Ministério da Justiça e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) divulgaram ontem um relatório que mostra que o Brasil tem 4,3 mil refugiados. O número chega a 15,2 milhões em todo o mundo. O nível é considerado estável. Do total no Brasil, 2.789 refugiados são da África, 959 da América, 443 da Ásia e 98 da Europa. As principais nacionalidades destes imigrantes são angolanas (1.688), colombianas (589), congolesas (420), liberianas (259) e iraquianas (199). De acordo com o Conare, os refugiados se sentem tranquilos com a hospitalidade brasileira. O levantamento anual ‘Tendências Globais 2009’ mostra que, até dezembro de 2009, pelo menos 43,3 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar por causa de conflitos e perseguições no mundo – o maior registro de deslocamentos forçados desde a metade dos anos 90, segundo o relatório. O prolongamento de conflitos pelo mundo, segundo o estudo, reduziu ao nível mais baixo, nos últimos 20 anos, o número de pessoas que retornaram ao seu país de origem por vontade própria. Ainda de acordo com o documento, em 2009, apenas 251 mil refugiados voltaram para casa. Nos últimos dez anos, o número anual chegou a 1 milhão de retornos para o país de origem. O Dia On-line, 16/6/2010 q Migrações Brasil Fluxos migratórios São os trajetos do maior volume de migrantes. Quem sai de uma região é emigrante, e quem entra é imigrante. No Brasil colônia, foram marcantes as imigrações de negros escravos da África e de colonizadores de Portugal. No fim do século XIX e início do XX, acontece a imigração maciça de europeus e de asiáticos. Atualmente, a maioria dos imigrantes estrangeiros é da América do Sul e da Ásia. Dentro do país, o fluxo migratório mais significativo no século XX sempre foi das regiões menos industrializadas (sobretudo o Nordeste) para o Sudeste. No período mais recente, o desenvolvimento agrícola no Centro-Oeste atraiu muita gente para a região. Razões das migrações A busca de trabalho, renda e melhores condições de vida são determinantes para atrair os imigrantes. Mas as razões para emigrar podem ser diretamente econômicas, como recessão e desemprego; causas naturais, como catástrofes e secas; ou sociais, como guerras, ocupações militares e perseguições políticas, que criam os refugiados. Ciclos econômicos No período colonial, os fluxos migratórios acompanharam principalmente o ciclo do ouro e da cana-de-açúcar. No Império e na República Velha, houve o ciclo da borracha e a expansão do café. A seguir, a industrialização no Sudeste passou a ser o polo de atração mais importante. Nos anos 1970 houve também o estímulo à imigração para a Amazônia Legal, com a distribuição de terras e a criação da Zona Franca de Manaus. Tendências atuais A tendência a imigrar para o Sudeste diminuiu nas últimas décadas, pois a partir dos anos de 1990 acontece uma redistribuição das indústrias para outras regiões, como Sul, Nordeste e Centro-Oeste, e há uma forte expansão da agropecuária no Centro-Oeste. A partir de 2006, o IBGE constata uma volta da migração das outras regiões para o Sudeste, estimulada pela grande criação de empregos. 2011 atualidades vestibular + enem 163 k questões sociais Urbanização Os desafios das cidades Atualmente, há a tendência à conurbação, que é a união física entre cidades vizinhas, criando mega-áreas de concentração econômica e de população. Um exemplo são as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, que englobam as capitais de estado e inúmeras cidades vizinhas, numa mancha urbana contínua. O poder dessas áreas é grande, de acordo com as Nações Unidas: “As 40 maiores megarregiões do mundo atual cobrem uma área porcentualmente pequena, mas concentram 18% da população, 66% da atividade econômica mundial e 85% de toda a inovação tecnológica e científica”. O crescimento urbano desordenado provoca graves problemas, e as sociedades tentam resolvê-los para garantir a qualidade de vida Maioria urbana As cidades atraem as pessoas por oferecer melhores oportunidades. Por isso mesmo, é a migração para as cidades que faz, hoje em dia, a taxa de crescimento populacional urbano ser quase duas vezes maior que a rural: 1,8%, contra 1% ao ano. Em 2008, pela primeira vez na história, a população que vive em cidades superou a das áreas rurais e soma agora 50,6% (3,49 bilhões de pessoas), segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). A urbanização em sua forma atual começou com a Revolução Industrial nos países da Europa (século XVIII) e a seguir ocorreu nos Estados Unidos e no 164 atualidades vestibular + enem 2011 Conceitos e critérios O termo urbanização indica dois sentidos: k Em demografia, ele é sinônimo do crescimento da população que mora nas cidades e distingue essa população da que vive em áreas rurais. kEm arquitetura e urbanismo, o termo se refere aos recursos que a cidade oferece, como água e esgoto canalizados, asfaltamento e transporte público. Nesse sentido, urbanizar é dotar uma área de infraestrutura. afp/frederic j. brown Japão. Nesses países, ocorreu de forma lenta, o que permitiu planejar o crescimento das cidades e construir redes de abastecimento, de transportes públicos e de serviços, como escolas, hospitais, delegacias, corpo de bombeiros etc. Mas nos países em desenvolvimento a industrialização aconteceu após o fim da II Guerra Mundial, a partir dos anos 1950, e de forma acelerada, como no caso do Brasil. “Em 1950, um terço das pessoas do mundo vivia em cidades. Cinquenta anos depois, isso passou para 50%, e continuará a crescer até alcançar dois terços, ou 6 bilhões de pessoas, em 2050”, prevê a ONU. O lado positivo NOVOS HORIZONTES dessa supremaModernos arranha-céus cia urbana é que dão um ar futurista a pessoas que moPequim e expressam o desenvolvimento da ram em cidades economia da China têm, em princípio, mais acesso a emprego, serviços, educação, saúde e lazer. O lado negativo é que o crescimento dos municípios hoje é maior nos países pobres, e, na maioria dos casos, as pessoas se aglomeram em cidades sem condições de recebê-las. Disso resultam graves problemas sociais, como o crescimento de favelas, o colapso dos sistemas de transportes e a falta de acesso à saúde e à educação. Segundo a ONU, nos países em desenvolvimento, um em cada três moradores de cidades vive em bairro pobre. O principal fator de inchaço das cidades nesses países é a migração em massa das áreas rurais, provocada pela falta de trabalho e de condições econômicas adequadas para produzir e viver no campo. Megalópoles A urbanização acentuada está aumentando o tamanho das cidades, mas principalmente o das cidades médias, grandes (com mais de 1 milhão de pessoas) e as megalópoles ou megacidades (com mais de 10 milhões de habitantes). A previsão é que, até 2025, tenhamos 27 conglomerados urbanos com mais de 10 milhões de pessoas e 910 cidades com mais de 1 milhão de moradores. O continente em que as megacidades mais crescem é a Ásia – que possui 61% da população global, mas abrigava apenas 9% em 1920. O continente terá três das cinco maiores megalópoles dos países em desenvolvimento em 2015: Mumbai e Délhi (Índia) e Daca (Bangladesh). Em milhões de pessoas e porcentagem do total AS MAIORES MEGALÓPOLES MUNDIAIS Em milhões de pessoas, 2005 40 35,3 35 30 25 18,7 18,7 18,3 20 15 10 5 0 18,2 15,1 14,5 14,3 12,6 12,6 12,3 11,6 11,5 11,5 11,3 Tó Cid qu ad io ed oM éx ico No va Yo rk Sã oP au Mu lo mb ai (Ín dia Dé ) lhi (Ín dia Xa ng ) ai (C hin Ca a) lcu tá Da (Ín ca dia (B ) an gla de sh ) Bu en os Lo Air sA e ng ele s Ka s ( rac EU hi A) (P aq uis tão Ca ) iro (E git Rio o) de Jan eir Os o ak a( Jap ão ) O ser humano sempre construiu casas e cidades perto de fontes de manancial de água e rios, das quais pode captar a água de que precisa e atirar o esgoto para que ela o limpe. Com o crescimento das cidades, as áreas próximas a rios, por exemplo, ficaram superpovoadas e a população começou a ocupar as áreas circundantes, o que inclui as encostas e os morros, e com frequência esse processo foi descontrolado. Derrubada a mata, o solo fica exposto e os mananciais de água diminuem. Quando há chuvas fortes, a terra é levada pela água e assoreia os rios, as cidades ficam alagadas e congestionadas. Nas encostas e nos morros, a infiltração da água provoca aluviões e deslizamentos que causam soterramentos e tragédias. Esse é apenas um exemplo dos vários desafios de planejamento enfrentados atualmente nas cidades, que já abrigam a maioria da população mundial. O modo de tratar esses problemas é por meio de políticas públicas. ACELERAÇÃO DO SÉCULO XX Veja que a maioria das cidades da lista pertence a nações em desenvolvimento, como Brasil, Índia e China. A urbanização começou lentamente, no século XVIII, nos países atualmente ricos. As primeiras megalópoles, Tóquio e Nova York, continuam líderes. Mas a maioria das novas megalópoles, e as que mais crescem, fica nos países em desenvolvimento. Fonte: Divisão de Populações das Nações Unidas Vejamos outra diferença importante: k A maioria dos países desenvolvidos considera zona urbana aquela na qual 85% da população vive em área com concentração superior a 150 pessoas por quilômetro quadrado. É um critério puramente demográfico, definido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que coordena ações dos 30 países mais ricos do mundo. k No Brasil, é considerada zona urbana toda sede de município e de distrito, não importando a concentração de moradores no local. É a definição adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e utilizada no censo. Assim, se um grupo pequeno de pessoas vive na sede de um distrito, esse grupo é considerados população urbana, independentemente da densidade populacional (total de pessoas por área) e dos recursos que o local oferece. 2011 atualidades vestibular + enem 165 k questões sociais Urbanização O planejamento urbano é fundamental para evitar problemas como aumento de favelas e enchentes Planejamento Planejar a construção das cidades e de suas estruturas ajuda a garantir seu funcionamento. No Brasil, esse planejamento passou a ser obrigatório apenas em 2001 para todas as cidades com mais de 20 mil habitantes, por um Plano Diretor decenal. Mesmo assim, no decorrer do tempo, fórmulas que eram muito utilizadas estão sendo repensadas com a urbanização. Veja alguns exemplos. Calçadas Tornaram-se símbolos da urbanização, mas impermeabilizam o solo e agravam enxurradas e enchentes. Atualmente, muitas são feitas de blocos e passeios de grama, que permitem a drenagem da água, e com rebaixamentos de acesso para a cadeirantes. Rios Tiveram seus traçados retificados e leitos rebaixados para aumentar a vazão da água com o esgoto e a construção de estradas nas margens. Com a impermea bilização do solo, a água chega mais depressa ao rio, que fica assoreado de lixo, lama de esgoto e terra da periferia. Como resultado, há enchentes e engarrafamentos. Entre as soluções, estão canalizar e tratar o esgoto para limpar o rio, deixar as margens livres para absorver a água, construir reservatórios subterrâneos para adiar a chegada da água ao rio (piscinões) e melhorar a coleta de lixo. Elevados longos e caros Foram construídos em áreas centrais para o tráfego entre diferentes áreas. Mas eles engarrafam, bloqueiam o sol e desvalorizam os imóveis, resultando em prédios-fantasma e bairros decadentes. Uma das soluções possíveis tem sido derrubar esses viadutos, encontrar alternativas e replanejar o uso das áreas degradadas. Bairros decadentes Ocorrem em áreas centrais, em que só há empresas diurnas. À noite, atraem prostituição e criminalidade. Para restaurar essas áreas, são adotados planos de revitalização urbana. Conjuntos habitacionais São feitos na periferia, em larga escala, para evitar ou substituir favelas. Quando não há áreas de lazer, escolas ou boa infraestrutura urbana no bairro, podem se transformar em cidades dormitório, degradar-se e fazer com que seus moradores se desloquem por grandes distâncias para trabalhar e estudar. Exigem múltiplas ações públicas integradas. Tráfego Para evitar o congestionamento nas grandes cidades, a solução passa por ampliar transportes públicos – metrô, ônibus e trem – de qualidade e integrálos (sistemas modais), além de desestimular o uso do automóvel. Curitiba é apontada internacionalmente como exemplo de boas intervenções urbanas: 75% dos curitibanos usam ônibus para se locomover. Habitação e favelas O cumprimento da primeira das metas das Nações Unidas para as cidades (veja boxe na pág. ao lado) está com um indicador positivo. A meta é, até 2020, melhorar a vida de 100 milhões de moradores de favelas dos países pobres, o que quer dizer providenciar uma nova casa para quem é favelado ou dar aos barracos melhores condições de habitação, água e esgoto – a urbanização de favelas. Os levantamentos da ONU registraram uma melhoria na vida de 227 milhões de EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA MUNDIAL Em bilhões de pessoas e porcentagem do total *Previsão 0,220 1950 1900 13% TOTAL 1,700 0,732 29% TOTAL 2,529 2005 TOTAL 6,531 3,270 49% 2030* 4,900 60% TOTAL 8,320 CRESCIMENTO CONSTANTE Os saltos percentuais da população urbana em relação à rural mantêm um ritmo que pode ser considerado regular no decorrer do tempo. Como a industrialização e as mudanças no campo atingem a maior parte dos países, a previsão é de que a urbanização continue crescendo nas próximas décadas e chegue a 60% da população mundial em 2030. pessoas entre 2000 e 2009, mais do que o dobro da meta na metade do tempo (veja o desempenho dos países no quadro abaixo à direita). Isso prova que, mesmo que a meta tenha sido modesta, é possível avançar quando há disposição. O problema é que, nesse mesmo perío do, as favelas cresceram quase 6 milhões de moradores ao ano e o total de habitantes de favelas passou de 776 milhões para 827 milhões. As piores situações, envolvendo de 180 milhões a 200 milhões de favelados cada, estão na África Subsaariana e nas regiões sul e leste da Ásia. Comparadas a elas, o cenário na América Latina é avaliado como um “problema moderado”, à exceção do Haiti e da Jamaica, onde é muito grave. No Brasil, a ONU registra que 16% da população favelada (10,4 milhões de pessoas) melhorou de condições de vida entre 2000 e 2010 – seja com a transferência para conjuntos habitacionais, seja com urbanização na favela. No mesmo período, tiveram os melhores percentuais a Argentina (menos 5 milhões de pessoas) e a Colômbia (menos 3,7 milhões), com redução de 40%. Segundo o Ministério das Cidades, o déficit habitacional do Brasil está em 5,8 milhões de domicílios. Para calcular esse déficit o governo considera o total que falta de moradias para as pessoas que moram em condições precárias ou que declaram que necessitam dividir o domicílio com outros a contragosto. Isso pode parecer pouco em relação à população, mas representa 10% do total de habitações no Brasil. Esgoto captado e água Levar o esgoto ao rio ou ao mar até que não era má ideia séculos atrás, pois a água carregada de oxigênio limpa significativamente a sujeira orgânica. Mas, no mundo de hoje, com 6 bilhões de produtores diários de esgoto e consumidores de água, sobra esgoto e é preciso economizar água limpa. Uma consequência séria desse quadro é a expansão dos patógenos que causam a cólera, a meningite e a hepatite, eliminados só quando a água é tratada. Um sinal de alerta foi a epidemia de cólera que atingiu a América do Sul em 1991 e deixou 400 mil doentes e 4 mil mortos. Naquele ano, apenas 13,7% do esgoto canalizado no continente era tratado. Atualmente, mais de um quarto da população do mundo em desenvolvimento vive sem condições sanitárias adequadas, segundo as Nações Unidas. O Brasil corre atrás do prejuízo, pois ainda falta muito para dar saneamento básico (água e esgoto) a toda a população brasileira. O último levantamento nacional, com dados de 2007, indica que metade do esgoto urbano produzido tem coleta adequada, mas apenas 32,5% do esgoto total do país recebe algum tratamento. O fornecimento de água tratada atinge 80% das pessoas, número que sobe para 94% nas zonas urbanas. Ambiente, lixo e doenças Impedir que a interferência do ser humano degrade o meio ambiente é um grande desafio nas cidades. Há o grande volume de lixo, ao qual é difícil dar destino. Quanto maior e mais rica a cidade, Fonte: Divisão de Populações das Nações Unidas O TRANSPORTE INDIVIDUAL CONSOME MAIS COMBUSTÍVEL Energia usada por passageiro transportado, em joule por km 4,0 As metas da Habitat Privado individual Público coletivo 3,5 3,0 2,5 2,0 Note como o transporte público coletivo gasta menos combustível por passageiro em todas as regiões. Assim, a opção por incentivar o transporte individual provoca um custo maior para o país, exige mais combustível e polui mais a atmosfera 1,5 1,0 0,5 0 China Ásia (países pobres) África América Ásia Europa Europa Austrália/ Oriente Estados Canadá Latina (países Oriental Ocidental Nova Médio Unidos ricos) Zelândia Fonte: Relatório "Cidades 2008", da UN Habitat 166 atualidades vestibular + enem 2011 Note também como o transporte coletivo nos EUA gasta mais combustível: isso se relaciona ao tipo de veículo usado e aos combustíveis que são utilizados A principal entidade internacional para debater questões sobre as cidades é o Programa da Organização das Nações Unidas para Assentamentos Urbanos (conhecido em inglês pela abreviação UN Habitat). Ele realizou seu 5º Fórum Mundial em março de 2010, no Rio de Janeiro. Os países signatários da sua convenção, a Agenda Habitat, tentam alcançar metas para cumprir as diversas convenções sociais da ONU, como a dos direitos humanos. Conheça as três principais: Meta 1 Melhorar a vida de pelo menos 100 milhões de favelados até 2020. Meta 2 Deter a propagação do HIV/ aids e reverter a tendência de contaminação até 2015. Meta 3 Reduzir pela metade a parcela da população mundial sem acesso permanente à água limpa. No Brasil, a regulação do funcionamento das cidades é definida no Estatuto das Cidades, que se tornou lei em 2001. maior o volume de lixo produzido por cabeça e maior o volume total. Quando não há coleta, o lixo fica em terrenos baldios e ruas, atrai ratos e insetos, entope galerias de coleta das chuvas, agrava as enchentes e dissemina doenças como a leptospirose, a dengue, a febre amarela e a malária. Essas três últimas atacam cada vez mais nas cidades, onde os mosquitos transmissores encontram local com água favorável para a reprodução, o que inclui entulho, latas, pneus etc. A falta de coleta de lixo é grave nos grandes conglomerados urbanos da África e da Ásia. Nas megalópoles e nas conurbações, há cada vez mais dificuldade de encontrar locais para novos aterros sanitários. Mas há iniciativas importantes, como construir nos aterros usinas termelétricas que queimam gás metano originado do lixo. É o caso da usina Bandeirantes, em São Paulo. Ela foi construída com dinheiro dos créditos de carbono previstos no Protocolo de Kyoto, gera energia Melhorias em favelas no mundo Milhões de pessoas atendidas em favelas urbanas, de 2000 a 2010 China 65,31 Índia 59,73 Indonésia 21,23 Brasil 10,38 Nigéria 8,05 México 5,08 Egito 5,01 Argentina 4,94 Colômbia 3,72 Turquia 3,51 Marrocos 2,43 África do Sul 1,96 ENORME DESAFIO Esta tabela mostra o número de favelados urbanos atendidos por programas de melhoria nas condições de vida – na própria favela, ou retiradas para conjuntos habitacionais. Note que a tabela traz números absolutos, e não a porcentagem de redução em relação ao total de favelados ou da população do país. Quanto maior a população favelada, maior é o desafio. Na China, a melhoria foi considerada pela ONU “espetacular”, atingindo 25% do total de favelados. Na Índia, 32%. O Marrocos é um caso de sucesso, pois houve melhorias para 50% dos moradores de favelas. No Brasil, atingiu-se 16% da população favelada. Fonte: "O Estado das Cidades do Mundo 2009-2010", da UN Habitat 2011 atualidades vestibular + enem 167 k Resumo questões sociais Urbanização e evita atirar na atmosfera esse gás, que agrava o efeito estufa. O crescimento da coleta e reciclagem dos materiais nobres também é uma boa iniciativa. Na capital do Egito, Cairo, apenas um terço do lixo é recolhido pela prefeitura, mas a coleta para reciclagem, pela população, tornouse uma intensa atividade econômica, que mantém a cidade viável. Há ainda outros desafios ambientais e para a saúde. A poluição do ar pelos meios de transporte afeta o clima e agride a saúde humana - provoca mais doenças respiratórias, como rinite, sinusite, bronquite e asma. A poluição não se trata apenas da fumaça dos veículos, mas também a fumaça tóxica da queima de lenha e carvão para cozinhar nas cidades dos países pobres. Além disso, cresce a incidência de estresse e hipertensão, provocados pela má qualidade de vida nas cidades. Vilãs do efeito estufa Em comparação com as áreas rurais, as cidades são as maiores vilãs do efeito estufa. Nas grandes cidades, o consumo de energia cresce em larga escala, pela substituição de casas por prédios de apartamentos, de pequenas lojas por shopping centers, e assim por diante. A energia necessária para eletricidade, aquecimento e refrigeração, transporte e indústria gera mais de 60% dos gases do efeito estufa de origem humana no mundo. O gasto energético das cidades é cada vez maior e, na maioria delas, resulta de combustíveis que liberam dió xido de carbono (CO2), como gasolina e óleo diesel nos transportes, gás e carvão mineral em termelétricas. Além disso, há liberação de outros gases do efeito estufa, como o metano (gás natural, CH4), gerado na decomposição do lixo e do esgoto. Finalmente, as áreas mais adensadas concentram cimento, concreto e asfalto e se transformam em ilhas de calor, pois esses materiais armazenam calor e o devolvem para o ar na forma de radiação térmica. A diferença de temperatura entre uma área verde e uma típica área central de uma cidade pode ser de 170 atualidades vestibular + enem 2011 bruno agostini Os centros urbanos são muito mais quentes do que as áreas com vegetação ao redor das cidades ROCINHA No Rio de Janeiro, o crescimento da população foi mais veloz que o da infraestrutura urbana 5 graus centígrados a mais (veja o mapa abaixo). Eis outras das soluções: k Criar e preservar áreas verdes. k Ampliar o uso de energias mais limpas na produção e no transporte. k Incentivar construções com a “arquitetura inteligente” (edifícios e residências que buscam ser autossustentáveis), usar a energia solar, reciclar a água e os materiais, organizar melhor os usos e horários de atividades. k Disseminar programas governamentais para ampliar a fabricação, a venda e o uso de placas de aquecimento solar e de energia fotovoltaica e de minigeradores eólicos para residências. k Adotar programas de estímulo à eficiência energética para aparelhos e máquinas, residências, edifícios, indústria, comércio e serviços. k Substituir o uso de combustíveis fósseis no transporte. Brasil O Brasil possuía 5.564 cidades em 2008, um número que não para de crescer. Mas quase 5 mil delas (o número exato é 4.979) tinham menos de 50 mil moradores, e apenas 37 cidades possuíam mais de 500 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pelos parâmetros usados pelo IBGE, 87% dos brasileiros vivem em DENSIDADE DEMOGRÁFICA E ILHAS DE CALOR A região central de São Paulo,altamente urbanizada, apresenta temperaturas mais elevadas Distribuição da vegetação em SP Temperatura aparente da superfície Rural Menor Maior No sul da cidade, onde há mata e quase não existem prédios nem casas,as temperaturas são bem mais baixas Fonte: Atlas Ambiental do Município de São Paulo Nas áreas em que há conurbação, a solução para os problemas de infraestrutura urbana (rede de transporte, sistemas de vias públicas, distribuição de água, tratamento de esgoto) envolve com frequência vários municípios. Por isso, no Brasil, a figura da região metropolitana passou a ser um conceito administrativo e político, adotado na década de 1970 e utilizado quando o poder público decide traçar políticas públicas comuns para um grupo de cidades vizinhas. Os governos de estado têm o poder de decidir que certa área forma uma região metropolitana. Em todo o país, há um total de 31 regiões metropolitanas. u Um morro inteiro e dezenas de vidas engolidos pelo lixo Duzentas pessoas podem ter sido soterradas no morro do Bumba, o pior desastre desta semana. A noite de medo e morte deu lugar a uma manhã de horror no que restou do morro do Bumba. Uma das comunidades mais pobres do Fonseca, em Niterói, foi engolida por avalanche de lixo e lama, soterrando um número estimado de 200 moradores, no fim da noite de quarta-feira. O desabamento do aterro sanitário que virou favela chocou ainda mais a fragilizada população do Rio, que esta semana chora a morte de 182 pessoas no Grande Rio – a maioria, 107, em Niterói, Urbanização DEFINIÇÃO Em geografia, o conceito é populacional e indica o crescimento da parcela da população que vive nas cidades em comparação com a das zonas rurais. Em outras disciplinas, refere-se também aos recursos de que a população precisa e que a cidade oferece. CRITÉRIOS Muitos países usam um critério de densidade demográfica e consideram que uma área é urbana quando 85% da população vive concentrada em pelo menos 150 moradores por km2. Já o Brasil considera toda sede de município ou distrito como área urbana, mesmo com poucos moradores. Cresce a urbanização no Brasil Em porcentagem da população total 1955 40% 1995 78% 1960 45% 2000 81% 1965 50% 2005 84% 1970 56% 2010 87% 1975 61% 2015* 88% 1980 66% 2020* 90% 1985 71% 2025* 91% 75% 2030* 91% 1990 * Previsão Fonte: IBGE Saiu na imprensa Da redação Município de São Paulo, com variação de temperatura de 24 ºC a 32 ºC, em 3/9/1999 Urbano áreas urbanas e o restante, em rurais. Mas estudos comparativos utilizando o critério demográfico empregado pela OCDE dariam um resultado diferente: o Brasil teria 30% da população em área rural e 70% em urbana. A urbanização no Brasil ocorreu conjuntamente com a industrialização do país, nos últimos 70 anos. Até o Censo de 1940, apenas um terço dos brasileiros vivia nas cidades. Nas décadas seguintes, o crescimento industrial atraiu parcelas crescentes da população para as cidades, enquanto a concentração da produção agrícola, voltada para o mercado de exportação, reduziu a oferta de emprego no campo e produziu o êxodo rural. Nos anos 1980, todas as regiões brasileiras já concentravam a maioria de seus moradores em centros urbanos. A desigualdade social é uma marca da urbanização brasileira. Na década de 1970, período do milagre econômico, iniciou-se a tendência da favelização nas cidades. Entre as consequências associadas à desigualdade social e à urbanização desordenada está o crescimento da violência urbana, em número de homicídios e de mortes no trânsito. Na primeira década do novo milênio, o Brasil tem se destacado na adoção de políticas de combate à desigualdade social. q que decretou calamidade pública. Na capital já são 55 óbitos; em São Gonçalo, 16; Maricá, 3; e Nilópolis, 2. Magé, Paulo de Frontin e Petrópolis contam um morto cada. (...) Horas antes de o morro todo vir abaixo, o lixão dera um aviso – ignorado – do desastre. Algumas casas desabaram, e bombeiros foram ao alto da comunidade procurar um morador que estaria soterrado. Por volta das 18h30, o grupo foi embora, prometendo voltar com equipamentos, e não viu motivos para mandar a favela toda sair de lá – só os que estavam em imóveis então atingidos. A corporação só retornaria por volta das 22h30, com a terra já arrasada. (...) O Dia online, 9/4/2010 MEGALÓPOLES São aglomerações urbanas com 10 milhões de habitantes ou mais, formadas geralmente por conurbação (a união territorial de várias cidades). Também são chamadas de megacidades. Existem 20 megalópoles no mundo, das quais duas estão no Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro. MUNDO Em 2008, pela primeira vez na história, mais da metade da população mundial vivia em cidades. O processo de urbanização está mais acelerado nos países em desenvolvimento. Em 2050, prevê-se que 70% da população mundial viverá em centros urbanos. DESAFIOS As megacidades causam problemas sociais e ambientais que devem ser enfrentados por políticas públicas. Usam muita energia fóssil, que libera gases que acentuam o efeito estufa. Nos países pobres, a urbanização provoca sobrecarga da infraestrutura urbana, crescimento das favelas, aumento da criminalidade, poluição dos rios e águas com esgoto e aumento de doenças. Prioridades das cidades O Programa da ONU para as cidades, UN Habitat, estabeleceu três prioridades para as cidades do mundo, dentro das metas do milênio: melhorar a vida de pelo menos 100 milhões de favelados até 2020; reverter a tendência de contaminação pelo vírus HIV/aids até 2015; e reduzir pela metade a parcela da população sem acesso permanente a água limpa. A primeira meta já foi atingida. 2011 atualidades vestibular + enem 171 k questões sociais demografia FILHARADA Jocelina Gomes e Maria do Socorro Santos com 15 de seus 41 filhos: elas vivem na ilha de Marajó, um dos lugares com as famílias mais numerosas do Brasil edmar farias Brasil, mostra a sua cara Saiba como é o Censo de 2010, a mais completa radiografia das riquezas, das potencialidades e, também, dos problemas econômicos e sociais do país Por Ricardo Prado 172 atualidades vestibular + enem 2011 2011 atualidades vestibular + enem 173 questões sociais demografia A Fonte: IBGE Censo Transição demográfica Realizar um censo para as dimensões do Brasil é tarefa grandiosa e cara: será preciso 1,4 bilhão de reais para fazer o Censo de 2010. É um dinheiro muito bem empregado, pois as informações da pesquisa, feita a cada dez anos, dão aos poderes Executivo e Legislativo dados essenciais para definir as políticas públicas para a próxima década. Do censo sairão informações sobre a população do país, a saúde do brasileiro, seu nível educacional, sua renda, a expectativa de vida, os níveis de consumo etc. O censo também é importante para os municípios, pois é por meio da contagem das populações que o Tribunal de Contas da União define o valor dos recursos que o governo federal destina aos estados e municípios. O modelo de coleta de dados será o mesmo usado desde 1960, com dois questionários levados pelo recenseador: k um modelo detalhado, para ser aplicado em uma amostra de domicílios (e a cada um de seus moradores), chamado de questionário da amostra; k outro pequeno, para ser aplicado aos domicílios (e a cada um de seus moradores) não selecionados para a amostra, chamado de questionário básico. O Censo de 2010 trará inovações tecnológicas. A mais importante é o uso de computadores de mão nas visitas domiciliares. Além de facilitarem a coleta e o envio dos dados, os aparelhos são dotados de GPS, o que permitirá registrar a localização de postos de saúde, escolas e demais prédios públicos, na zona rural e urbana. 174 POPULAçÃO Brasileira nos censos cada década, o Brasil se vê diante de sua própria imagem, como se estivesse na frente de um gigantesco espelho. Esse espelho é o censo, que quantifica (e, depois, qualifica) os avanços, eventuais retrocessos e as mudanças estruturais pelos quais passa o país. A partir de agosto de 2010, um batalhão de 240 mil recenseadores visitará mais de 58 milhões de residências em todos os 5.546 municípios brasileiros. Trata-se de um extenso levantamento de dados realizado pelo Instituto Brasileiro de Geo grafia e Estatística (IBGE), no qual nossa população é contada pessoa por pessoa e, a partir de cada domicílio, são coletadas dezenas de outras informações. atualidades vestibular + enem 2011 CENSO POPULAÇÃO 1872 9.930.478 1890 14.333.915 1900 17.438.434 1920 30.635.605 1940 41.236.315 1950 51.944.397 1960 70.070.457 1970 93.139.037 1980 119.002.706 1991 146.825.475 2000 169.799.170 O Brasil apresentava até os anos 1940 um padrão demográfico relativamente estável e de caráter secular. Entre 1940 e 2000, o número de brasileiros cresceu 17 vezes (veja na tabela acima, a população do país a cada censo), e hoje o Brasil possui a quinta maior população do mundo (atrás de China, Índia, Estados Unidos e Indonésia). A partir da primeira contagem da população brasileira, no século XIX, tanto os níveis de fecundidade como os de mortalidade se mantiveram elevados por décadas, com pequenas oscilações, embora já se pudessem observar, a partir da virada do início do século XX, pequenos declínios dos níveis de fecundidade. Mas uma mudança radical aconteceria após a década de 1960, em decorrência de uma queda vertical nas taxas de fecundidade. Acompanhando a tendência mundial, o crescimento demográfico brasileiro vem desacelerando nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que a expectativa de vida se eleva (veja na pág. 176). Esse processo é chamado de transição demográfica. Em outras palavras: as famílias ficam menores, com menos filhos, e as pessoas vivem até uma idade mais avançada. As consequências dessa mudança no perfil da população têm impacto sobre as contas públicas e sobre o sistema de saúde, já que as doenças típicas de um país jovem são diferentes das que ocorrem em um país com mais gente idosa. Há 50 anos, por exemplo, as doenças infectocontagiosas representavam cerca de metade das mortes registradas no país. Hoje, respondem por menos de 10%, pois são as doenças cardiovasculares, próprias das pessoas mais velhas, que matam mais. Assim, em meio século, o Brasil passou de um perfil de mortalidade típico de uma população jovem para um cenário de enfermidades complexas, que exigem mais investimentos do poder público. Para ter uma ideia de como essa mudança foi rápida, basta compará-la com o que ocorreu na França. Lá, a transição demográfica levou quase dois séculos. Por aqui, apenas quatro décadas. Queda da fecundidade A última vez em que o Brasil contou sua população cabeça por cabeça foi no Censo de 2000: éramos, então, 169,8 milhões de habitantes. Desde então, a população veio sendo calculada por projeção, com base nas taxas de crescimento apuradas em 2000. Mas em 2007 o IBGE fez uma contagem restrita da população – por amostragem –, visitando 30 milhões de residências. Descobriu-se, então, que as projeções estavam superestimando o crescimento populacional, e que, em sete anos, o erro acumulado era de cerca de 6 milhões. A população brasileira havia crescido bem menos do que o esperado. Na noite de 7 de julho de 2010, menos de um mês antes de o censo decenal ter início, a população brasileira era de 193.183.606 habitantes, segundo a consulta ao contador populacional do site do IBGE, que é alterado várias vezes ao dia. O motivo do crescimento abaixo do esperado é a queda acentuada do número de filhos das mulheres brasileiras. No decorrer de sete anos, a partir de 2000, a taxa de fertilidade no Brasil caiu de 2,3 para dois filhos por mulher, nível abaixo da taxa de reposição populacional a longo prazo, que é considerada de 2,1 filhos por mulher. Isso resultou num crescimento populacional de apenas 1,21% ao ano, em média, nesse período. O fenômeno vem de longe. Até 1990, a taxa havia despencado vertiginosamente, de 6,3 (em 1960) para 2,9. A partir de então, baixou mais suavemente, mas de forma ainda rápida para os especialistas. Se a tendência persistir, a população brasileira poderá diminuir a partir de 2060, pois atualmente a taxa de fecundidade está em 1,95 filho por mulher. Ainda há crescimento, pois o número de jovens no Brasil é muito grande (veja gráfico na pág. 177). Pierre Duarte/Folhapress k UM POR UM O recenseador Afonso Nogueira entrevista Joana Canoto, em Borá (SP), no Censo de 2000: a contagem da população é feita em todos os domicílios do país Vida mais longa Segundo o estudo Tábuas Completas de Mortalidade 2007, do IBGE, enquanto a fertilidade da mulher brasileira caiu, a expectativa de vida da população vem aumentando. Expectativa de vida é uma estimativa de qual será a duração da vida de quem está nascendo hoje, em média. As crianças nascidas em 2007 devem viver, em média, 72,5 anos. Em relação a 1960, o ganho foi de quase 18 anos. E, se o número atual for comparado ao das primeiras estimativas de vida disponíveis, de 1900, quando a expectativa de vida ao nascer era de apenas 33,7 anos, isso representa um crescimento de 215% em pouco mais de um século. O aumento da longevidade da população é um fato bastante positivo. Isso acontece porque houve melhoria das condições de vida: alimentação, água tratada, esgoto, remédios e assistência médica, práticas mais saudáveis e avanços A revolta contra o censo nos tempos do Império Em 1850, dom Pedro II separou recursos para fazer o primeiro censo oficial do Brasil. Ele pretendia ainda implantar o registro civil e retirar das igrejas o registro de nascimento, casamento e morte. Mas, como as instituições religiosas também guardavam as cartas de alforria e as promessas públicas de libertação de escravos, a mudança para o poder civil foi vista como ameaça aos negros alforriados ou com promessa de liberdade, que viam uma ameaça de reescravização no Regulamento do Registro dos Nascimentos e Óbitos do Império e na lei do censo. Conhecida como Guerra dos Marimbondos, a revolta contra o censo atingiu, em 1851, várias províncias do Nordeste. Foi um levante de pequenos agricultores, que contou com o apoio de donos de escravos, receosos de que o censo comprovasse que parte do plantel de cativos estava em condição ilegal. O historiador Luis Felipe de Alencastro estima que, nessa época, 700 mil escravos estavam em situação irregular, e, pela lei, não poderiam mais continuar como cativos. A lei que instituía o censo e o registro civil virou letra morta, pois os sertanejos atacaram os funcionários do censo e destruíram os registros, forçando o governo imperial a desistir de sua implantação. Apenas em 1872 aconteceu o primeiro censo oficial do Brasil. O registro civil só seria instituído após a Proclamação da República, em 1889. 2011 atualidades vestibular + enem 175 questões sociais demografia O padrão de fecundidade está mudando, com as mulheres tendo filhos cada vez mais jovens na educação. Tudo isso colabora para que haja menos mortes de recém-nascidos e crianças e para que a vida seja prolongada nos anos da velhice. Com o envelhecimento da sociedade, cai a proporção de crianças e jovens na população. As crianças de até 14 anos de idade somavam em 1996 quase 30% da população; já em 2008, eram 25,5%. No extremo oposto da pirâmide, a população de idosos cresceu. Em 2008, 10,5% da população brasileira tinha mais de 60 anos. As projeções indicam que, até 2050, essa proporção deva superar 13%. Com as mudanças, o perfil populacional do país foge do tradicional desenho de pirâmide, com a base mais larga, ainda comum aos países mais pobres. Aos poucos, ela se estreita na base e se alarga nas outras faixas etárias: a princípio, na faixa dos adultos, e, depois, na dos idosos (veja na página ao lado). A tendência indica uma melhoria na qualidade de vida, mas algumas de suas consequências preocupam, pois o envelhecimento populacional obriga a pensar no equilíbrio das contas públicas, como a das aposentadorias. No Brasil, a renda mensal de quem se aposenta é paga com o desconto no salário de quem trabalha. É um desafio custear aposentadorias e pensões a uma população crescente de idosos enquanto a de jovens diminui. Gravidez precoce Uma das mais importantes funções do censo é trazer dados confiáveis para estudos acadêmicos sobre as questões sociais que necessitam de uma intervenção planejada do poder público. Como exemplo, pode ajudar a definir políticas de prevenção à gravidez na adolescência. Entre 1980 e 2000, enquanto a taxa de fecundidade caiu em quase todos os grupos etários, considerando-se o perío do fértil da mulher (de 15 a 49 anos), a única exceção acontecia justamente no segmento mais jovem da população: o de mulheres entre 15 e 19 anos. O padrão de fecundidade das brasileiras, que até a década de 1970 era tardio, ou seja, com uma forte concentração nos grupos etários de geração perdida 25 a 29 anos ou de Assassinato em São 30 a 34 anos, pasPaulo: a violência atinge sou nos anos 1990 a ser mais jovem, sobretudo os jovens do com uma taxa alta sexo masculino específica para as mulheres entre 20 e 24 anos. O alerta já havia sido dado, mas o que mais preocupou os estudiosos foi a descoberta de que, em 2006, segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde, 21,5% das mães brasileiras tiveram o primeiro filho antes dos 19 anos. Ou seja, havia um grande aumento da gravidez na adolescência. Com essa tendência estabelecida, abriu-se o caminho para campanhas de conscientização sobre a prevenção à gravidez e às doenças sexualmente transmissíveis. REDUÇÃO DA FECUNDIDADE BRASILEIRA CRESCE A EXPECTATIVA DE VIDA DO BRASILEIRO Em média de filhos por mulher Em anos 8 7 Homens 6,2 6,2 70 5,8 5 60 4,4 4 50 2,9 3 2 2,3 2,0 1 Outro dado revelador da realidade brasileira apontado nos últimos censos é o impacto da violência numa faixa específica da população brasileira: os homens jovens, pobres, na faixa de 15 a 29 anos de idade. Eles são as principais vítimas e os principais agentes da violência urbana. Em 1980, segundo estudo divulgado do IBGE, os homicídios eram responsáveis por 22,4% das mortes masculinas por “causas externas” (quer dizer, não por Média 66,4 53,1 56,1 54,6 59,9 70,9 62,7 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2006 63,2 74,3 67,0 66,7 70,4 76,1 68,4 72,2 40 30 20 0 Cenário nacional A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada todo ano pelo IBGE, é uma importante ferramenta para os estudiosos de demografia e para quem quiser conhecer melhor o Brasil. Ela surgiu em 1967, com dois objetivos principais: suprir a falta de informações sobre a população brasileira entre os censos decenais e levantar dados sobre os temas pouco investigados ou não contemplados nos censos. +80 75 - 79 70 - 74 65 - 69 60 - 64 55 - 59 50 - 54 45 - 49 40 - 44 35 - 39 30 - 34 25 - 29 20 - 24 15 - 19 10 - 14 5-9 0-4 Idade 1960 1980 1991 2000 2006 DESCIDA Até os anos 1960, as mulheres tinham em média mais de seis filhos. Com a média de dois filhos por mulher, a população cresce porque as pessoas estão vivendo mais. SUBIDA No Brasil, a expectativa de vida cresce há décadas. Veja que a das mulheres vem sempre acima: elas vivem mais. Como a expectativa de vida no país é uma média, note que a altura da barra vermelha é a média das outras duas barras. Fonte: Censo Demográfico 1940/2006/IBGE Fonte: Tábuas Completas de Mortalidade 2006/IBGE atualidades vestibular + enem 2011 doença). Era o início de uma explosão de violência urbana que cresceria durante os anos 1980 e 1990. Em 2000, ela atingiu seu ponto mais alto, quando 41,8% das mortes de homens nessa faixa etária por causas externas estavam relacionadas à violência. As regiões que registraram maior crescimento na ocorrência de homicídios masculinos, de 1980 a 1990, foram Norte (elevação de 18%) e Sudeste (14%). Nessa última, em 2000, quase a metade das mortes masculinas por causas externas foi causada por assassinato. O antropólogo Luiz Eduardo Soares, estudioso da questão da violência, afirma: “No Brasil, há um genocídio que está exterminando sobretudo os jovens, pobres, do sexo masculino. O que é paradoxal e mais trágico é que esse genocídio é autofágico, é fratricida, porque os perpetradores são também jovens, pobres, do sexo masculino”. A discreta queda nesses índices, verificada a partir de 2005, talvez tenha sido o início da resposta de governos estaduais, responsáveis pela segurança pública, às contundentes estatísticas. A Pnad compreende cinco áreas de pesquisa: demografia, habitação, educação, trabalho e renda. Veja algumas das principais conclusões da Pnad 2008: Educação Entre as pessoas com 15 anos ou mais de idade, havia cerca de 14,2 milhões de analfabetos, 10% do total de adultos. A Pnad também contabilizou 30 milhões de analfabetos funcionais, entre as pessoas de 15 anos ou mais. Renda Houve uma melhoria no rendimento mensal do trabalho no país em todos os níveis de renda, especialmente nos níveis de menor renda. Em 2008, o rendimento médio mensal dos domicílios brasileiros foi de 1.968,00 reais, registrando-se um aumento de 2,8% em comparação ao de 2007. Habitação O fornecimento de eletricidade foi o serviço público de maior alcance no país, atingindo 98,6% dos domicílios. Já o abastecimento de água por rede geral atingiu 83,9%. A maior expansão foi da telefonia, 5,3% a mais em um ano: em 2008, 82,1% das residências possuíam algum telefone, fixo ou celular. A Pnad 2008 também pesquisou a presença de outros aparelhos domésticos: televisor (95,1% dos lares), geladeira (92,1%), rádio (88,9%), freezer (16%), máquina de lavar roupa (41,6%) e computador com internet (23,8%). Vale a pena acompanhar os resultados da Pnad 2009, que deverão ser divulgados por volta de setembro de 2010. PIRÂMIDES ETÁRIAS DO BRASIL 10 0 176 O jovem e a violência 80 6,3 6 Mulheres Pablo de Sousa k 1980 2010 Homens Mulheres Homens Mulheres 2050* Homens *projeção Mulheres TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA Note como, em 1980, a pirâmide populacional brasileira era larga na base e estreita no topo, mostrando um grande número de crianças e jovens, e poucos idosos. Veja como hoje já é diferente: há, proporcionalmente, menos crianças e mais idosos. Em 2050, com a diminuição na base (as mulheres estão tendo menos filhos) e o alargamento nas faixas etárias intermediárias e avançadas (as pessoas estão vivendo mais), o desenho se assemelhará mais a um vaso. Fonte: IBGE Os censos e a cor da pele Até 1872, os dados sobre a população brasileira eram obtidos de forma indireta, isto é, não eram feitos levantamentos com o objetivo estrito de contar o número de habitantes (veja boxe na pág. 175). As fontes de informações eram relatórios preparados com outras finalidades, como os relatórios de autoridades da igreja sobre os fiéis ou de funcionários da colônia enviados às autoridades da metrópole. Também eram usadas as estimativas da população fornecidas pelos ouvidores ou por outras autoridades à Intendência Geral da Polícia. O primeiro censo oficial do Brasil, o de 1872, recebeu o nome de Recenseamento da População do Império do Brasil. Depois dele, foi realizado censo em 1890, 1900, 1920 e 1940. Em 1910 e em 1930, não foi feito o recenseamento. Com a criação do IBGE, em 1938, foi inaugurada a moderna fase censitária no Brasil. Nela, foi ampliada a abrangência temática do questionário, com a introdução de perguntas de interesse econômico e social, tais como os de mão de obra, emprego, desemprego, renda, fecundidade, migrações, entre outros temas. Uma das questões mais controversas nos censos, que já sofreu várias alterações, é a caracterização de cor e raça. O Censo de 1872 criou uma classificação racial baseada nas categorias utilizadas na época pela sociedade brasileira: branca, preta, parda e cabocla. O censo seguinte, de 1890, o primeiro da República, trocou a expressão “parda” por “mestiça”. A pergunta sobre a cor da pele sumiu nos censos de 1900 e 1920, sob in fluência das doutrinas raciais europeias, que defendiam o “branqueamento” da população, o que incluía o incentivo à imigração europeia – significativa nessa época. Como resultado da maciça imigração de japoneses (iniciada em 1908), os censos de 1940, 1950 e 1960 adotaram três opções de cor da pele: branca, preta e amarela. Os demais eram classificados automaticamente como “pardos”. No Censo de 1970, sai de novo a referência a “cor ou raça”. Ela retorna no Censo de 1980 em quatro categorias: branca, preta, parda e amarela. Por fim, os censos de 1991, 2000 e 2010 acrescentam mais uma, a indígena. Assim, os índios passaram a ter uma classificação específica, já que eram considerados caboclos nos primeiros censos e pardos desde 1940. 2011 atualidades vestibular + enem 177 k Resumo questões sociais demografia 2005-2010 2045-2050 Mundo 67,6 75,5 Países desenvolvidos 77,1 82,8 prevenção de doenças e, também, avanços da medicina. Outros fatores são o aumento da escolaridade e do acesso à informação, que naturalmente conduzem à melhoria das condições de vida. Além do aumento da expectativa de vida, a cada dia cai o número de filhos por mulher na grande maioria dos países. O declínio da taxa de fertilidade – média do número de filhos que as mulheres têm durante a vida – é causado por vários fatores combinados, como o desenvol vimento e a disseminação de métodos contraceptivos (como a pílula e a cami sinha) e o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho (que dá mais independência e dificulta que a mulher se dedique apenas a cuidar de crianças). A urbanização também tem seu papel, por elevar o custo de vida das famílias, onerando as mais numerosas. Antes, numa família rural, era vantajoso ter mais filhos, pois isso significava mais mão de obra no trabalho. Na cidade, fa mília grande significa mais gasto. 74,3 Desigualdades O MUNDO MAIS VELHO Distribuição da população mundial por faixa etária (em %) 2010 0-14 15-24 25-59 60 + 80+ 27 18 44 11 2 20 13 2050 45 22 4 cada vez menos filhos Média de filhos por mulher no decorrer da vida 1970-1975 2005-2010 Mundo 4,32 2,56 Países desenvolvidos 2,17 1,64 Países em desenvolvimento 5,18 2,73 AUMENTA A LONGEVIDADE Expectativa de vida ao nascer (em anos) paulo vitale Países em desenvolvimento idosos em alta Em países como o Japão, cresce a proporção de pessoas com mais de 60 anos de idade Um mundo mais velho A longevidade das pessoas está aumentando e as taxas de fertilidade, diminuindo O Brasil está ficando mais velho, mas a humanidade também. Em 2010, a população mundial ultrapassa 6,85 bilhões de pessoas – 11% desse total tem 60 anos ou mais de idade, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Nos próximos anos, esse número deve crescer continuamente, até que, em 2050, o número de idosos deve superar o de crian ças de até 14 anos. Daqui a quatro décadas, um em cada cinco habitantes do planeta terá mais de 60 anos. 178 atualidades vestibular + enem 2011 Essa mudança global tem várias conse quências, como a ampliação do tempo das aposentadorias e pensões, provocando o chamado déficit previdenciário em muitos países. Outra consequência do envelhecimento da população é a amplia ção da vida economicamente ativa das pessoas, especialmente nos países menos desenvolvidos, provocando pressões na base da pirâmide, entre os mais jovens, que lutam para ingressar no mercado de trabalho. Segundo a ONU, em 2009, 47% das pessoas com mais de 60 anos de idade permaneciam trabalhando nos países menos desenvolvidos, enquanto nos mais ricos, onde há sistemas previ denciários bem estabelecidos, essa taxa era de 24%. Por outro lado, nos países desenvolvidos, o envelhecimento da população trouxe uma redução da faixa da população em idade 65,6 MUDANÇAS As tabelas acima são de previsões. A população cresce, mas a participação de crianças e jovens cai e a de idosos cresce. Um detalhe: como as pessoas com mais de 80 anos já estão no grupo com mais de 60, a soma das linhas dá mais de 100%. Nas de baixo, vemos que os países ricos estão na frente, mas todos passam pelo mesmo processo. Fonte: Divisão de População do Departamento de Assuntos Sociais e Econômicos da ONU (2009), World Population Prospects: The 2008 Revision econômica ativa (dos 25 aos 59 anos), o que cria dificuldades para a reposição po pulacional. Em diversos países da Europa, a população já estaria diminuindo se não fosse o fluxo de imigrantes vindos de países pobres, sobretudo da África e Ásia. Mas por que a população está envelhecendo? Fertilidade e longevidade A humanidade vem ficando mais velha porque a expectativa de vida das pessoas está aumentando. A expectativa de vida é o tempo estimado de vida para uma pessoa nascida em determinado ano. Ela é estabe lecida com base em pesquisas que mostram quanto as pessoas estão vivendo (isso se chama “longevidade”) e se esse tempo está aumentando ou diminuindo. O que contribui para o crescimento da longevi dade é a melhoria do acesso da população a serviços de saúde, campanhas de vacinação, O envelhecimento da população não acontece ao mesmo tempo em todas as regiões do globo. Na Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelân dia e Japão, por exemplo, cerca de 21% da população já atingiu ou passou de 60 anos, e o número de idosos ultrapassou o de crianças abaixo de 15 anos, segundo a ONU. Mas, nas regiões mais pobres, a população ainda permanece jovem, com crianças abaixo de 15 anos constituindo 30% da população e os jovens entre 15 e 24 anos mais 19%. Nos países em desenvolvimento, a mé dia da população acima dos 60 anos cai para 8%, chegando a 5% nos países menos desenvolvidos. É provável que a maioria desses países venha a ter nos próximos anos queda das taxas de natalidade e aumento nas de envelhecimento. As regiões mais desenvolvidas do pla neta tiveram nas últimas décadas uma taxa de fertilidade abaixo do mínimo para repor a população a longo prazo: menos de 2,1 filhos por mulher. No perío do 2005-2010, 25 nações desenvolvidas, incluindo Japão e vários países do Leste Europeu, registraram taxas de fertilidade abaixo de 1,5 filho por mulher. Assim, a população de 45 países desenvolvidos deverá encolher entre 2010 e 2050, mes mo que já esteja em curso uma reação ao crescimento negativo, seja em razão da imigração, seja pela adoção, por governos de países ricos, de medidas para incenti var os casais a ter mais filhos. Dessa forma, o crescimento populacio nal diagnosticado por Thomas Malthus, no início do século XIX, que parecia ir reversível até a metade do século XX, dá sinais de que começa a ser superado pelos recursos nascidos da evolução tecnoló gica, como a pílula anticoncepcional.u Saiu na imprensa Censo 2010 do IBGE será mais detalhado O Censo 2010, que começa em agosto, vai traçar a mais completa radiografia das relações familiares e das condições de vida dos brasileiros. O censo investi gará os novos arranjos familiares que existem no país – não apenas registrar quantos pais, mães e filhos, mas também quantos são os agregados, conviventes, pensionistas, cônjuges do mesmo sexo, filhos só do responsável, enteados etc. (...) Pela primeira vez, a pesquisa do Ins tituto Brasileiro de Geografia e Esta tística (IBGE) vai investigar as línguas indígenas, assim como a cor e raça da população, registro de nascimento, brasileiros que moram ou estudam no exterior e formas de deslocamento para o trabalho e o estudo. No Censo de 2000, os itens raça e cor estavam nos questionários da amos tra, ou seja, uma parte da população os declarava e depois os números eram trabalhados do ponto de vista estatísti co de projeção. Agora, no Censo de 2010, a classificação (branco, preto, pardo, amarelo ou indígena) fará parte do ques tionário básico nacional, o que dará uma amostra mais extensa e segura. Diário do Nordeste, 6/5/2010 q Demografia CENSO de 2010 A cada dez anos, é realizado um censo no país, para atua lizar os dados sobre o crescimento da população e municiar com uma série de informações os formuladores de políticas públicas. Entre cada censo decenal, o IBGE realiza regularmente a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), um levantamento anual mais qualitativo e acurado, mas menos abrangente. ENVELHECIMENTO É o aumento no percentual de pessoas com 60 anos ou mais na população, e a redução no percentual de jovens. O fenômeno é causado pela queda na taxa de fertili dade, associada à crescente expecta tiva de vida. A redução percentual da população em idade ativa, com a queda no número de filhos por mulher, pode dificultar a reposição populacional. TAXA DE FERTILIDADE É o número médio de filhos que as mulheres têm durante a vida. A redução da taxa de fertilidade é causada por diversos fato res, entre os quais a disseminação dos métodos contraceptivos e o aumento da participação das mulheres no mer cado de trabalho. EXPECTATIVA DE VIDA É o tempo es timado de vida que, em determinado ano, as pessoas têm ao nascer. Atu almente, na maioria das regiões do mundo, cresce a longevidade graças à melhoria nas condições de vida, aos avanços da medicina, à vacinação e ao aumento da escolaridade e do acesso à informação. TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA Os países desenvolvidos já passaram pelo proces so de envelhecimento da população. Os países mais pobres ainda vão passar. A esse processo de mudança no perfil de idade da população de um país dá-se o nome de transição demográfica. TAXA DE FECUNDIDADE Até 1970, as mulheres tinham o primeiro filho em idade mais tardia, após completar 25 ou 30 anos. O Censo de 2000 revelou que as brasileiras passaram a ter filhos cada vez mais cedo. 2011 atualidades vestibular + enem 179 k questões sociais desigualdade racial Em busca da igualdade Após anos de discussões, o Congresso aprova um Estatuto da Igualdade Racial que busca ser um marco jurídico para combater as desigualdades sociais ligadas à negritude E Eduardo Anizelli/Folhapress m 16 de junho deste ano, o Con gresso Nacional aprovou sua ver são final do Estatuto da Igualdade Racial. Do primeiro projeto ao texto final da lei, foram gastos sete anos de trâmites e discussões, e esse prazo longo de certa forma ajuda a dimensionar a dificuldade com que o Brasil depara para enfrentar uma de suas questões sociais mais com plexas. Afinal, a miscigenação está no âmago da formação da sociedade bra sileira e regulamentar por lei aspectos que a envolvem causa acaloradas reações contra e a favor a cada ponto abordado. No caso desse estatuto, a solução polí tica foi retirar os pontos sobre os quais não houve consenso, como as cotas nas universidades, em partidos políticos e de empregos em órgãos e empresas desde criança públicas, a regula Alunos brincam com mentação de quem bonecos de várias tem direito a terras cores em creche de em comunidades Santo André (SP): quilombolas, entre diferenças e igualdade outras propostas. 180 atualidades vestibular + enem 2011 O novo documento pretende ser um marco jurídico para enfrentar as desi gualdades sociais que atingem as pes soas negras no Brasil. Não há citação aos indígenas. Aprovado no Congresso, ele foi enviado à Presidência da República e aguardava sanção para entrar em vigor. Paralelamente à aprovação desse es tatuto, a questão da reserva de cotas nas universidades ainda estava, em julho de 2010, esperando julgamento de constitu cionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2008, dois manifestos foram entregues ao presidente do STF, um con trário e outro favorável à reserva de vagas por cor ou raça. Os que se opõem às cotas argumentam que o critério étnico ou racial para a reserva de vagas é inconstitucional porque “cria distinções entre brasileiros” e que, além disso, não ataca de frente a falta de qualidade no ensino e as desigualdades socioeconômicas da população. Os que aprovam o sistema dizem que o Estado tem o dever de atuar com ações afirmativas aos grupos que são tratados desigualmente, para que tenham oportunidades iguais. 2011 atualidades vestibular + enem 181 questões sociais desigualdade racial QUEM SÃO OS ANALFABETOS BRASILEIROS CURSANDO O ENSINO SUPERIOR EM 1997 E 2007 Analfabetos funcionais de 15 anos ou mais de idade por cor (em %) Amarelos e indígenas Percentual de pessoas de 18 a 25 anos, por cor ou raça, que cursam o ensino superior no Brasil, sobre o total da população em cada faixa etária Preta e parda 67,8% 1,2% Branca 31% 25% 20% 15% 10% QUADRO TRÁGICO Neste simples gráfico que chamamos de “pizza” divide-se um universo de 100% em fatias. Podemos ver que, para cada pessoa branca analfabeta no Brasil, há mais de dois negros na mesma situação. Fonte: Síntese de Indicadores Sociais 2009, IBGE Os dados estatísticos mostram que os negros voltaram a ser maioria da população brasileira Maioria populacional A partir de 2010, o Brasil passa a ter a maioria de sua população negra. Também no passado os negros foram a maioria no Brasil. Em 1890, apenas dois anos após a abolição da escravatura pela Lei Áurea, 56% dos residentes em território nacional eram negros. Mas, com o ingresso no país de cerca de 3,8 milhões de imigrantes europeus entre 1887 e 1930, para trabalhar nas lavouras do Sudeste e Sul, principalmente, substituindo a mão de obra escrava, houve um aumento da população branca no Brasil, ao mesmo tempo em que se intensificava a marginalização econômica e social dos ex-escravos, que não foram preparados para a nova economia capitalista que se instaurava no país. Assim, em 1940, os negros representavam menos de 36% da população. A partir da década de 1970, no entanto, a porcentagem de negros voltou a crescer. Em 1976, o Brasil contava com 57% de brancos e 40% de negros. Em 1987, os negros já eram 43%. A Síntese de Indicadores Sociais do IBGE publicada em 2009 confirma a nova maioria: k somados os 43,8% de pardos com 6,8% de pretos, a população negra soma 50,6% da população. Os brancos somam 48,4% e os povos indígenas, 0,9%. 182 atualidades vestibular + enem 2011 TRABALHO DE BASE Aula de reforço de alfabetização em escola do Rio: a redução das desigualdades começa pela escola 5% 0% 18 19 20 21 22 23 24 25 Branca 2007 Preta e parda 2007 Branca 1997 Preta e parda 1997 UNIVERSIDADE BRANCA O gráfico mostra que, tanto em 1997 quanto em 2007, uma porcentagem bem superior da população branca cursava a universidade em comparação com a da população negra (preta e parda). Vê-se que houve aumento considerável da frequência no ensino superior nesse período de dez anos, mas, em 2007, a porcentagem de negros na universidade era ainda menor do que a dos brancos dez anos antes. Observe o predomínio da faixa etária dos 20 aos 22 anos. Estatuto da Igualdade Racial O que muda hojE 1. O poder público passa a ser obrigado a tratar de programas e medidas específicos para a redução da desigualdade racial. 2. Criação do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) para tratar das medidas voltadas para a população negra. 3. Os agentes financeiros devem promover ações para viabilizar o acesso da população negra a financiamentos habitacionais. 4. A capoeira passa a ser considerada desporto. 5. Fica garantido o direito da crença e de cultos de matriz africana. 6. É confirmada a obrigatoriedade do ensino da história geral da África e da história da população negra no Brasil, em todas as escolas do Ensino Fundamental e Médio do país, públicas e privadas, conforme já estabelecia a Lei no 9.394/1996. Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2007. Exclui a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá NEGROS ESTÃO MAIS ATRASADOS NO ESTUDO ANOS DE ESTUDO DE NEGROS E BRANCOS Distribuição dos estudantes de 18 a 24 anos de idade, segundo o nível de ensino em que está – 2008 Média de anos de estudo de trabalhadores empregados com 16 anos ou mais de idade, por sexo e cor ou raça Brancos Pretos e pardos Fundamental ou 1o grau 6,4% 18,7% Médio ou 2o grau Mulheres brancas Mulheres negras Homens brancos Homens negros 9,3 8,4 7,6 29,7% 49,9% Pré-vestibular 3,2% 7,4 6,8 5,2 6,3 4,4 2,0% Superior ou 3o grau 60,3% 28,7% 1996 2007 1996 2007 1996 2007 1996 2007 DISTORÇÃO Este gráfico analisa estudantes acima de 18 anos. Se a pessoa fez a escola no tempo certo, já está no curso superior. Veja como boa parte dos negros se encontra nas etapas anteriores: resultado de piores condições de vida. DESIGUALDADE O Ipea comparou os anos de escolaridade de brancos e negros, homens e mulheres, com base na pesquisa do IBGE, e constatou que o crescimento da escolaridade na população negra foi maior do que entre a população branca na década compreendida entre 1996 e 2007. Fonte: Síntese de Indicadores Sociais 2009, IBGE Fonte: Ipea, Retrato das desigualdades de gênero e raça, 2008 0 10 20 30 40 50 60 70 80 O aumento da população negra nas últimas décadas não está relacionado somente a uma maior taxa de natalidade nessa parcela da população, mas ao crescimento do número de pessoas que passaram a se autodeclarar negras nos censos, já que a cor da pele é anotada pelo recenseador segundo a declaração dos entrevistados. Seja por preconceito, por hábitos culturais ou por tradição, parte da população afrodescendente, cujos ancestrais se miscigenaram com brancos ou índios, declara-se parda. Atualmente, a maioria dos estudiosos considera correto classificar essa população como negra, para fins estatísticos, mesmo se levando em conta que pode haver uma minoria pequena de pardos que não possuem ascendência africana, mas indígena. Diferenças históricas O resultado desse histórico é que, em geral, o negro brasileiro tem piores condições de vida quando comparado com o branco. Estatisticamente, o negro vive menos, morre mais por causas violentas, estuda menos, tem mais dificuldade de ingressar e se manter no mercado de trabalho, além de trabalhar nas ocupações menos valorizadas, ganhar salários mais baixos e constituir maioria entre a parcela economicamente mais carente da população. Entre os 10% mais pobres no país, 73,7% são negros e pardos, segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2009. Nos últimos anos, as diferenças entre brancos e negros começaram a diminuir, em parte em razão de políticas sociais como o programa Bolsa Família, pois os Fernando Donasci/Folhapress k negros são majoritários entre a população atendida pelos programas federais de transferência de renda. Um relatório elaborado pelo economista Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostra que ocorreram alguns avanços entre 1995 e 2005: k a diferença na expectativa de vida entre negros e brancos caiu de 5,6 para 3,2 anos; k a diferença na taxa de mortalidade na infância entre negros e brancos caiu de 84% para 27%; k o analfabetismo, que era de 9,5% entre os brancos e 23,4% entre os negros, caiu para 6,5% e 9,5%, respectivamente. Nesses casos, segundo Paixão, a redução se deu em razão do estabelecimento de prioridades em relação à população mais pobre, principalmente das regiões Norte e Nordeste, que conta com grande participação de negros. Um dado positivo nesse sentido é que, ainda segundo o Ipea, a renda média do trabalhador cresceu 7,6% entre 2002 e 2008, enquanto a dos “não brancos” avançou 17,9% no mesmo período. Porém, as políticas gerais do governo não são tão eficazes quanto seria necessário para aumentar as taxas de emprego e renda e atacam as desigualdades a longo prazo. O Ipea estima que, a continuar nesse ritmo, na melhor das hipóteses, apenas em 2040 os negros e brancos teriam a renda média equiparada. O que será regulamentado depois 1. O Poder Executivo deverá implementar critérios para provimento de cargos em comissão e funções de confiança destinados a negros. 2. Criação de condições de financiamento agrícola, como linhas de crédito específicas, para a população negra. 3. Ações para promover a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. 4. Ações do governo de estímulo à iniciativa privada a adotar medidas semelhantes. 5. Criação de normas para preservar a capoeira. 6. Ouvidorias para receber reclamações de discriminação e preconceito. 2011 atualidades vestibular + enem 183 k Resumo questões sociais desigualdade racial reprodução A presença de negros em instituições de ensino superior passou de 18% em 1998 para 34% em 2008 O que são as ações afirmativas A adoção de medidas como as cotas de acesso para afrodescendentes e indígenas no ensino público superior nasce de um tipo de política chamada de ações afirmativas – conjunto de medidas do governo ou da iniciativa privada que visa a abrir oportunidades sociais, econômicas, educacionais e culturais a grupos que sofrem algum tipo de discriminação, para compensar desigualdades. O adjetivo “afirmativas”, no caso, pode ser entendido como assumir uma desigualdade e afirmá-la como um fato presente, em vez de sublimá-la ou negá-la. A expressão “ação afirmativa” teria sido utilizada pela primeira vez pelo presidente dos Estados Unidos John Kennedy, nos anos de 1960. No decorrer do tempo, as ações afirmativas foram se consolidando conforme passaram a ser adotadas nos países. No Brasil, encaixam-se nessa diretriz, por exemplo, a criação de vagas de estacionamento para idosos ou deficientes físicos nas ruas e em espaços de uso público e a adoção de cotas para a representação das mulheres nos partidos políticos. 184 atualidades vestibular + enem 2011 Desigualdades na educação Os rendimentos médios dos negros, em torno de 50% menores que os dos bran cos, são um reflexo da desigualdade edu cacional. Em 2009, segundo a Síntese dos Indicadores publicada naquele ano: k o analfabetismo atingia 9 milhões de pretos e pardos, num total de 14,2 mi lhões de analfabetos brasileiros; k o analfabetismo funcional era de 15,8% entre os brancos, de 25,5% entre os pretos e de 26,3% entre os pardos; k no ensino superior, na faixa etária entre 18 e 24 anos, havia 60,3% de brancos e 28,7% de pretos e pardos. Nos últimos anos, o governo tem va lorizado e adotado políticas de ações afirmativas. Segundo o Mapa das Ações Afirmativas, feito pelo Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Esta dual do Rio de Janeiro (que foi a primeira universidade a adotar cotas para estudan tes negros no país, em 2001), outras 51 instituições de ensino superior públicas adotavam, em 2008, alguma ação para o ingresso de jovens negros, para negros e índios, para os formados no sistema de ensino público ou para os três casos. Como consequência dessas ações e do ProUni, programa do Ministério da Educação (MEC) que desde 2005 con cede bolsas em faculdades privadas a estudantes de baixa renda formados em escolas públicas, a presença dos negros no ensino superior passou de 18% em 1998 para 34% em 2008 – um aumento expressivo para apenas uma década. Mas entre os professo EM TEMPOS IDOS... res o percentual de negros ainda é mí Na gravura de Debret, nimo. De acordo uma casa carioca há com estudo rea 200 anos: a menina lizado pelo pro branca estuda, fessor José Jorge o menino negro trabalha de Carvalho, da Universidade de Brasília (UnB), e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) em 2008, o número de professores negros nas universidades públicas não chega a 1%. Em seis das universidades de maior prestígio no Brasil (USP, Unicamp, UFRJ, UFMG, UFRGS e UnB), do total de 15.866 professores, somente 67 são negros – o equivalente a 0,4% do total. O mito da democracia racial A concepção romântica de que vivemos numa nação livre de preconceito racial se deve muito ao antropólogo pernambuca no Gilberto Freyre (1900-1987). Em Casa Grande e Senzala (1933), Freyre defendeu a tese de um antagonismo camarada e harmonioso entre as três principais etnias que constituíram o povo brasileiro: os colonizadores portugueses, os escravos africanos e os indígenas nativos. Para o autor, os mestiços – particularmente os mulatos, filhos de senhores europeus com escravas africanas – constituíram um canal significativo de assimilação da cultura negra pelos brancos. Mas a história dos 350 anos de escra vidão registra revoltas e conflitos, como foi a própria constituição do Quilombo dos Palmares (século XVII), na região do atual estado de Alagoas, por escravos foragidos e seu extermínio por armas. Em sua etapa final, sob a liderança de Zumbi, Desigualdade racial Saiu na imprensa Debate sobre cotas chega ao serviço público Kleyzer Seixas e João Mauro Uchoa Uma audiência pública do Supremo Tribunal Federal (STF) marcada para o próximo dia 3 pode facilitar a introdução de cotas para afrodescendentes e índios no serviço público. O foco do debate é a constitucionalidade da reserva de vagas para estudantes em universidades públicas. Uma decisão favorável à manutenção das políticas de ação afirmativa possibilitará a continuidade de iniciativas polêmicas que já são objeto de ações na Justiça. Mesmo sem o aval da Constituição Federal alguns estados e municípios já realizam concursos públicos com o quilombo enfrentou as tropas armadas portuguesas durante 14 anos. Calcula-se que, do século XVI ao XIX, tenham sido trazidos da África para as Américas 10 milhões de africanos escravizados, dos quais 4 milhões para o Brasil. Pressionado pela Inglaterra, que im pulsionava a Revolução Industrial e o capitalismo com mão de obra assalariada, o Brasil proibiu o tráfico negreiro em 1850. Em 1871, a Coroa assinou a Lei do Ventre Livre. A partir de então, todo filho de escravo nascido no Brasil ou perma neceria com o proprietário de seus pais até os 21 anos, trabalhando como homem livre, ou seria entregue ao governo. Na prática, a lei nada avançou, pois dos pre sumíveis 400 mil negros nascidos após a promulgação da lei, apenas 118 foram entregues ao governo. Assim aqueles que nasciam livres permaneciam escravos nas fazendas onde nasceram. A Lei do Ventre Livre foi ignorada pela Justiça brasileira da época, e o movimento abolicionista só começou a ganhar força em 1880, com o surgimento de parlamen tares, personalidades públicas, associações e jornais dedicados à causa. Passaram-se outros oito anos até que fosse vencida a resistência à abolição, feita principalmente pela elite cafeeira do interior paulista. Em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea foi sancio nada pela princesa Isabel, que ocupava o q cotas. O caso mais recente é o da Polícia Civil do Paraná, que reservou a candidatos afrodescendentes 10% das 500 vagas para investigadores, papiloscopistas e escrivães. (...) Uma candidata que participou de uma seleção realizada pela administração municipal em 2007 ingressou com ação na Justiça com o argumento de que teria sido prejudicada pelo sistema de cotas. Dois candidatos que se identificaram como afrodescendentes foram convocados para a vaga que ela escolheu, mesmo estando duas posições atrás da reclamante. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina acabou considerando inconstitucional a lei criada em Criciúma. A Tarde, 23/2/2010 trono como regente. Quando a escravidão foi abolida, parte dos escravos já tinha conseguido alforria ou fugido das fazen das. Apesar de eles se verem livres do pelourinho e dos castigos, suas condições de vida praticamente não mudaram, pois os negros libertos não tinham educação nem apoio para sobreviver longe das casas e fazendas dos antigos senhores. Estima-se que, por ocasião da abolição, em 1888, dos 800 mil escravos libertados menos de 1% era alfabetizado. O refúgio nas zonas rurais, que já era a opção para a formação dos quilombos, foi um dos caminhos encontrados pela população negra para enfrentar o novo quadro social. A Fundação Cultural Pal mares, ligada ao Ministério da Cultura, registra a existência no país de 1.342 co munidades quilombolas, a maior parte delas no Nordeste, principalmente na Bahia e no Maranhão. Mais de um século depois da abolição, a biologia já comprovou que o conceito de raça não se aplica à espécie humana. Vários estudos indicam que as diferenças genéticas entre um negro africano e um loiro escandinavo podem ser menores do que entre dois irmãos da mesma cor. Mas persiste a desigualdade racial em diferen tes aspectos sociais e de emprego e renda. E é ela que está no cerne das controvérsias em torno das ações afirmativas. u ESTATUTO DA IGUALDADE RaCIAL Aprovado no Congresso Nacional, aguarda sanção presidencial. Prevê alguns mecanismos de inserção social, como o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) e a liberdade religiosa. O texto final foi criticado por muitos integrantes do movimento negro por deixar de fora temas polêmicos, como a cota em universidades públicas para afrodescendentes. DESIGUALDADES Os negros devem se tornar maioria absoluta no país em 2010. Ainda assim, os negros constituem a parcela que enfrenta as maiores dificuldades socioeconômicas, com maiores índices de desemprego e menor escolaridade que a população branca. AÇÕES AFIRMATIVAS São políticas públicas ou privadas e medidas emergenciais que pretendem eliminar ou diminuir as desigualdades para grupos da sociedade, garantindo igualdade em oportunidades sociais, econômicas, educacionais e culturais. Começaram a ser adotadas na década de 1960. AVANÇO LENTO Alguns dados recentes mostram que a população negra vem elevando seu nível de escolaridade no Brasil. Segundo o Ipea, entre 1996 e 2007 o crescimento da escolaridade entre as pessoas negras foi maior do que entre as brancas. COTAS NO SUPREMO Desde 2008, tramita no Supremo Tribunal Federal ação legal que questiona a constitucionalidade da reserva de vagas nas universidades para a população afrodescendente ou para os povos indígenas. ABOLIÇÃO Até a proibição do tráfico de escravos, em 1850, estima-se que o Brasil tenha recebido até 4 milhões de negros – o que representa 40% de todo o contingente trazido para as Américas. A abolição da escravidão não foi acompanhada de políticas públicas de indenização, inserção social ou reparação – os ex-escravos foram apenas despejados de onde estavam e permaneceram na condição de pobreza. 2011 atualidades vestibular + enem 185 k ciências e meio ambiente biodiversidade Biodiversidade sob ameaça Desastres como o vazamento de petróleo no Golfo do México mostram os impactos das ações humanas sobre o meio ambiente Por Mariana Ferreira 186 atualidades vestibular + enem 2011 Alerta nos oceanos Relatório divulgado pela revista científica Science acredita que mais de 40% da superfície oceânica esteja sob forte pressão das atividades humanas e correm o sério risco de se transformar em desertos biológicos. Os estudos mostraram que os oceanos apresentam mais de 400 zonas mortas, com baixo nível de oxigênio na água e pouca ou nenhuma vida marinha. Estima-se que a população de peixes grandes e mais lucrativos para a atividade da pesca comercial, como o atum, o marlin e as espécies de bacalhau, tenha diminuído em até 90% no decorrer do último século. Mais de 70% dos recursos pesqueiros estão esgotados ou já excederam seu limite sustentável. No Brasil, entre as espécies marítimas mais ameçadas estão os cações e os meros, a sardinha e as lagostas, que, no passado, eram mais frequentes no litoral nordestino. A pesca excessiva e a destruição dos manguezais, nos quais se localizam algumas das principais fontes mais importantes de alimento dos peixes, estão entre as causas da perda de espécies brasileiras, embora não sejam as únicas. No caso das sardinhas, por exemplo, há indícios de outros aspectos ambientais envolvidos. O problema do declínio da biodiversidade não afeta apenas os ambientes marinhos, pois em toda parte a interferência do homem faz com que as esNATUREZA-MORTA pécies estejam dePássaro coberto de saparecendo muito petróleo na costa da mais rapidamente Louisiana, no sul dos do que em épocas EUA: o desastre atinge anteriores da vida diversos ecossistemas do planeta. ap/gerald herbert F oi um mau início para o Ano Internacional da Diversidade Biológica, declarado pela Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas: em 20 de abril, o Golfo do México foi palco do maior desastre ecológico da história dos Estados Unidos. Uma plataforma de petróleo da empresa britânica Beyond Petroleum (além do Petróleo, BP, ex-British Petroleum), localizada a cerca de 80 quilômetros do litoral do estado da Louisiana, explodiu e, por uma falha no sistema de segurança, deixou aberta a tampa do poço de onde era extraído o petróleo, a 1,5 quilômetro de profundidade. Dois meses após a explosão, especialistas do governo estimavam que o óleo jorrava a uma média diária de até 60 mil barris. A cada quatro dias, esse volume de vazamento quase equivalia aos 260 mil barris de petróleo que o navio Exxon Valdez despejou em uma área de vida selvagem do Alasca em 1989, e que era até então o pior desastre ambiental dos EUA (veja gráfico na pág. 188). Nos meses seguintes, a empresa realizava diferentes tentativas para tampar o poço. De acordo com especialistas, era difícil mensurar os danos ao meio ambiente. O óleo e os dispersantes (detergentes utilizados para tornar menor as partículas do óleo de modo que ele se dilua na água e possa ser digerido pelas bactérias marinhas) poderão afetar gravemente cerca de 2 mil espécies que vivem nas águas profundas. Na superfície, o óleo ameaçava o litoral dos estados do Mississippi, Alabama, Louisiana e Flórida. Na Louisiana, que abriga 40% dos pântanos e mangues norte-americanos, o governo identificou 210 espécies de pássaros, répteis, anfíbios e mamíferos que poderiam ser afetados pelo vazamento. 2011 atualidades vestibular + enem 187 k ciências e meio ambiente biodiversidade Em um ecossistema, a extinção de uma só espécie pode provocar um desequilíbrio geral HOTSPOTS: A BIODIVERSIDADE EM PERIGO Regiões ricas em diversidade biológica mais ameaçadas do planeta – 2005 HOTSPOTS * Zona litorânea da Califórnia Espécies ameaçadas Florestas chilenas Nova Zelândia Anatólia e Irã Montanhas da África Oriental Cerrado Galápagos e litoral de Equador e Colômbia Andes tropical Florestas da África Ocidental Mata Atlântica Litoral da Namíbia e África do Sul Região da Cidade do Cabo Japão Himalaia Filipinas Litoral oeste da Sudeste Índia e Sri Lanka Asiático Chifre da África PolinésiaMicronésia Malásia e Indonésia Ocidental Madagáscar e ilhas do oceano Índico Florestas costeiras da África Oriental Sudeste sul-africano Indonésia Central Sudoeste da Austrália Ilhas da Melanésia Ocidental Nova Caledônia Nova Zelândia Os 34 hotspots concentram 2,3% da digital globe superfície terrestre ÁREAS ATINGIDAS PELO VAZAMENTO DE PETRÓLEO NO GOLFO DO MÉXICO MISSISSIPPI Biloxi ALABAMA Mobile Problema global FLÓRIDA Pensacola Panama City is si ss ip LOUSIANA pi Nova Orleans EUA Mancha de óleo Golfo do México Local do vazamento Óleo nas praias Pouco Muito Maiores vazamento de petróleo no mundo Em Barris Kuweit-1991 5.700.000 I Guerra do Golfo Golfo do México-20/4/2010 a 15/6/10 3.360.000 Plataforma Deepwater Horizon México-1979 3.300.000 Plataforma Ixtoc 1 EUA, Alasca-1989 Naufrágio do Exxon Valdez 260.000 Fonte: Oil Spill Intelligence Report e estimativas do governo norte-americano Valor calculado com base na estimativa do governo, de até 60 mil barris/dia. O vazamento não tinha sido estancado até essa data. São áreas que já perderam, ao menos, 50% da flora 42% dos vertebrados 70% da vegetação original SOB PRESSÃO Note como as regiões assinaladas no mapa abrangem tanto áreas terrestres quanto marítimas atingidas atualmente pelas ações humanas. Algumas são locais com muita presença humana, como o sudeste do Brasil, o Japão e a bacia do Mediterrâneo. Há outros locais da Terra densamente povoados, como o continente europeu, que não são considerados hotspots, pois suas florestas nativas já foram devastadas há muito tempo. Logo, o conceito de hotspot envolve, além da riqueza de fauna e flora, a possibilidade de ainda salvar o ambiente original. Fonte: Conservation International M atualidades vestibular + enem 2011 PolinésiaMicronésia Montanhas do sudoeste da China Bacia do Mediterrâneo Florestas da América Central e do México o 188 Planaltos do México Ilhas do Caribe Ri Existem no mundo cerca de 2 milhões de espécies vivas já catalogadas, mas estima-se que o número real seja bem maior – entre 5 milhões e 30 milhões. A cada ano são descobertas novas espécies de animais e plantas em algum lugar do planeta. Tão importante quanto animais, plantas e microrganismos tomados isoladamente é a maneira como eles interagem para formar a estrutura e o funcionamento de um ecossistema. Diante da complexidade dos processos que ocorrem na natureza, só agora os estudiosos começam a perceber como o desequilíbrio de algum componente acaba afetando a sobrevivência do todo. Assim, para proteger espécies MAR DE PETRÓLEO ameaçadas, é neSatélite mostra a mancha cessário preservar de petróleo, a plataforma o seu ecossistema. (foco da fumaça) e os Além disso, evitar navios de limpeza no mar a extinção de espé(pontos brancos) cies e garantir sua diversidade genética e biológica é fundamental para as populações que dependem delas economicamente. Apesar disso, até recentemente o Brasil, como ocorreu com outros países, não valorizava sua biodiversidade ao planejar suas atividades econômicas. Uma das consequências foi a destruição de quase toda a mata Atlântica litorânea, que está reduzida a cerca de 7% do tamanho original. Hoje, a mata Atlântica é considerada um hotspot (ponto quente, em inglês), termo usado pelos cientistas para designar os lugares que apresentam alto grau de diversidade biológica e endemismo e devem ser especialmente protegidos, pois estão ameaçados pela atividade humana (veja mapa na página ao lado). Além da mata Atlântica, outro hotspot é o cerrado, pois estima-se que ele tenha perdido 48% da paisagem original, devido à expansão agropecuária para o Centro-Oeste, particularmente no oeste baiano, sul do Maranhão, Tocantins e norte de Mato Grosso. Apesar de não ser considerada um hotspot, a caatinga perdeu grande parte da área original, 45%. Montanhas da Ásia Central Cáucaso * No mapa, as gradações de cor são usadas apenas para diferenciar os hotspots geograficamente. Atualmente, as mudanças que afetam o ambiente como consequência da ação humana ocorrem em uma intensidade tal que a natureza não consegue suportar e com uma velocidade que não permite a ela se recuperar nem compensar as perdas. Isso vale tanto para a perda de indivíduos de uma espécie quanto para o conjunto. Assim, o número de espécies animais e vegetais em extinção está aumentando. Um grande sinal de alerta sobre os ataques à biodiversidade foi dado em 2005, com a publicação do documento Avaliação Ecossistêmica do Milênio, um diagnóstico solicitado pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a saúde do planeta e sua relação com a manutenção da vida humana. Realizado por 1.360 cientistas de 95 países, inclusive do Brasil, o relatório conclui que a Terra está passando por um novo período de extinção em massa ( já houve outros em diferentes momentos do passado, por diversos motivos). Os pesquisadores estimaram que estejam desaparecendo cerca de 27 mil espécies a cada ano, o que inclui algumas espécies nem sequer catalogadas e descritas pela ciência. O documento afirma que, caso seja mantido o ritmo atual de devastação ambiental, dentro de algumas décadas o planeta não conseguirá fornecer os recursos naturais em quantidade suficiente à população humana – por causa principalmente da poluição e da exploração exagerada desses recursos. O relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), rede de organizações de mais de 160 países, estima que mais de 17 mil espécies existentes na Terra estejam ameaçadas de extinção. A contagem feita em 2009, referente só a pássaros, informa que estão ameaçadas 1.222 espécies, ou 20% do total conhecido no mundo. A lista brasileira mais recente de animais em risco foi publicada em 2008 e apresenta 627 espécies. Veja outros fatores que extinguem espécies e diminuem a biodiversidade: Biodiversidade O conceito de biodiversidade foi estabelecido pela Convenção da Diversidade Biológica, assinada durante a Eco 92, no Rio de Janeiro, e implica: k conhecer a variabilidade de organismos vivos existentes em determinado território; k conhecer o material genético desses seres vivos. Líderes políticos, biólogos e ambientalistas utilizam o conceito de biodiversidade para discutir os rumos do desenvolvimento nas próximas décadas. Assim, a biodiversidade é algo estratégico , que pode ser útil para atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e florestais, além da indústria de biotecnologia. Concretamente, a biodiversidade é fonte de proteínas, remédios, cosméticos, material de construção, fibras, roupas e alimentos. 2011 atualidades vestibular + enem 189 Uma espécie exótica pode se tornar uma praga ao ser introduzida em outro ambiente k Tráfico de animais silvestres, um problema que é considerado preocupante na América do Sul. Como o valor da espécie é definido por sua raridade, o tráfico de animais ameaçados de extinção tornou-se uma das principais causas de desaparecimento da fauna. kE spécies exóticas que são trazidas para um país por razões econômicas ou por acidente podem desequilibrar todo um ecossistema e eliminar espécies nativas. Um problema que se tornou grave com o intenso comércio mundial. Insetos, algas e moluscos são levados na madeira dos caixotes ou no ar e na água de lastro dos navios. No Brasil, isso ocorreu, por exemplo, com a chegada há alguns anos do mosquito africano Aedes aegypti, vetor da dengue – que levou à atual propagação da doença –, e do mexilhão-dourado, um molusco que veio no lastro dos navios e virou uma praga, incrustando-se em instalações submersas de usinas hidrelétricas e fábricas, muitas vezes impedindo que eles funcionem normalmente. kA poluição ambiental com substâncias químicas, como os agrotóxicos, que contaminam o ar, o solo e os mananciais de água. kE xpansão agropecuária, com a derrubada de matas sem a manutenção de reservas naturais ou fragmentando ecossistemas em pedaços. k Intervenções humanas como a expansão de áreas urbanas, a abertura de estradas, o extrativismo desordenado, a mineração e a construção de lagos para represas hidrelétricas. Mecanismos de proteção Em contrapartida a essa destruição, desde a realização da Eco 92, no Rio de Janeiro, há 18 anos, 191 países e territórios já assinaram a Convenção da Diversidade Biológica, que estabelece o direito soberano sobre a variedade de vida contida em seu território e o dever de conservá-la e de garantir que sua utilização seja feita de forma sustentável, ou seja, equilibrada e 190 Resumo ciências e meio ambiente biodiversidade atualidades vestibular + enem 2011 Riqueza brasileira Matar a natureza é matar o lucro Gabriela Carelli Até pouco tempo atrás, as empresas costumavam atrelar seu nome às causas verdes principalmente como estratégia de marketing. (...) demonstrar preocupação com o planeta era uma forma de lustrar a imagem da companhia e atrair os consumidores para suas marcas. (...) Hoje, os custos de ações como essas vão para a lista de investimentos, já que podem significar lucros e crescimento nos negócios. (...) O que mudou? Para entender o fenômeno, tome-se como exemplo a Coca-Cola, uma das marcas mais valiosas do mundo. Há dez anos, quando anunciou uma série de investimentos inéditos em projetos ambientais, a Coca-Cola não estava preocupada com o derretimento das geleiras do Ártico nem queria salvar os ursos-polares ameaçados de extinção. Diante de estudos que apontavam para a crescente escassez de água doce no planeta, a empresa se convenceu de que ignorar o problema poderia ser perigoso para o futuro de seu negócio. A água é a principal matéria-prima para a fabricação dos mais de 3 000 produtos da marca. A companhia injetou bilhões de dólares na criação de métodos e programas de reutilização e tratamento de água em suas fábricas, em mais de 200 países. (...) “(...) a escassez de água, a extinção das espécies e o despejo de podutos tóxicos afetaram profundamente o funcionamento da sociedade e também o das empresas”, disse o economista Andrew Winston (...). VEJA, 9/6/2010 nova descoberta O Brasil possui uma das maiores reservas da diversidade biológica mundial. Estima-se que o território brasileiro reúna 12% de toda a vida do planeta. Isso ocorre graças à extensão de terras e mar e aos diversos climas que contribuem para as diferenças ambientais que caracterizam os seus biomas. Nosso país abriga boa parte da maior floresta tropical úmida do mundo – a Amazônica –, com mais de 20 mil espécies vegetais, e a maior planície inundável – o Pantanal –, além de biomas como o cerrado, a caatinga e a mata Atlântica, que contribuem para essa extraordinária variedade. Além disso, a costa brasileira inclui recifes de corais, dunas, manguezais, estuários e lagoas. Assim, uma em cada dez espécies de mamífero registradas é encontrada aqui, bem como uma em cada seis espécies de ave, uma em cada 18 de répteis, Cientistas identificam e uma em cada 12 novas espécies na de anfíbios. Muiregião da Amazônia, tas são exclusivas como este pequeno de nosso território e curioso inseto – o que se chama de “endêmicas” –, pois não existem em outros lugares. Pode-se afirmar com razóavel grau de segurança que o país conta com a flora mais diversa do mundo. Ela totaliza 40.986 espécies de planta, de acordo com a Lista de Espécies da Flora do Brasil divulgada, em 2010, pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Mas trata-se de um banco de dados em construção, que não para de crescer. As plantas brasileiras correspondem a 14% do total global. Possuímos também mais de 3 mil espécies de peixe de água doce. Riqueza de espécies por bioma brasileiro Biomas/grupos taxonômicos Cerrado Mata Atlântica Amazônia Caatinga Pantanal Campos sulinos * Estimativa • Não há dado disponível Fonte: Ministério do Meio Ambiente Flora 12.356 20.000* 21.000* • • • Peixes 1.000 350 1.800* 185 263 150 Anfíbios 131* 340 206* 49 41 • Répteis 202 197 550 107 113 110 Aves 837 1.020 1.300 510 463 476 Mamíferos 197 311 311 158 132 102 duradoura. A convenção ressalta a necessidade de repartição justa e equitativa dos benefícios derivados do uso dos recursos genéticos entre todos os países e entre as populações cujo conhecimento foi a fonte desses recursos – por exemplo, comunidades que usam plantas de sua região desde tempos ancestrais, como os índios brasileiros. Porém, a questão da compensação financeira pelo conhecimento obtido a partir da biodiversidade continua a ser motivo de controvérsia. Ganhou manchete nos jornais o caso do cupuaçu, que teve um pedido de patente registrado no exterior por uma empresa do Japão, apesar de ser típica da Amazônia. Com a patente, o nome “cupuaçu” e seu uso passariam a ser propriedade da tal empresa. A contestação de entidades ambientalistas impediu a aprovação do registro, pois o uso e as características da fruta já eram de domínio das comunidades locais e não envolviam nenhuma inovação que justificasse o direito de sua exploração pela companhia japonesa. Esse é um exemplo da complexidade envolvida em questões ligadas à biodiversidade. Outro é o estabelecimento de regras para que os países tenham as informações necessárias antes de aceitar a importação de organismos vivos q Biodiversidade Saiu na imprensa pedro viana/geoma/divulgação k geneticamente modificados (transgênicos), pois eles podem comprometer a diversidade biológica local e a saúde das pessoas. A regulamentação do uso dos transgênicos ainda é controvertida, e, por isso mesmo, fica a critério de cada país tomar medidas para prevenir danos ambientais decorrentes de seu uso. Mas já há um documento-base em vigor no mundo, a Convenção da Diversidade Biológica, também chamada de Convenção da Biodiversidade. Ela entrou em vigor no Brasil em 2004 e foi promulgada como lei em 2006. Uma das estratégias mais eficientes para preservar os ecossistemas é a criação de corredores de biodiversidade, que interligam parques, reservas e áreas privadas de uso menos intensivo. Eles permitem que as espécies migrem e garantem a sobrevivência do maior número de animais e plantas. No Brasil, estão sendo criados corredores na mata Atlântica, no cerrado-Pantanal e em regiões da Amazônia. Além disso, o país investe em um sistema de áreas protegidas federais e estaduais, que somam 12% do território, além de terras indígenas e reservas particulares somando 20% do território. O desafio é fiscalizar essas áreas e conscientizar os envolvidos de conservá-las. u Conceito Biodiversidade significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens existentes nos ecossistemas terrestres e aquáticos. O termo inclui a diversidade de genes contidos em cada espécie e a maneira como animais, plantas e microrganismos estão organizados e interagem para formar a estrutura e o funcionamento de um ecossistema. Importância A biodiversidade fornece a matéria-prima para produtos essenciais como madeira, alimentos e medicamentos. Traz benefícios indiretos ao ajudar a manter o equilíbrio do clima, ao purificar a água e o ar, ao promover a reciclagem dos nutrientes do solo. Ameaças O crescimento populacional e as ações humanas sobre o meio ambiente estão extinguindo espécies numa velocidade em que é impossível à natureza fazer reposição, pois o surgimento das espécies e a biodiversidade que temos demandaram milhões de anos. As grandes causas para isso são a expansão urbana e a ocupação desordenada dos territórios, o desmatamento para expansão agropecuária, a poluição dos solos e dos rios, o tráfico de animais silvestres, a exploração abusiva dos recursos naturais e a introdução nos ecossistemas de espécies retiradas de outro ecossistema. Brasil Nosso país é um dos mais ricos em biodiversidade no mundo e abriga cerca de 20% de todas as espécies conhecidas. Mas também é aqui que ficam dois dos hotspots do planeta – áreas riquíssimas em biodiversidade ameaçadas de destruição: a mata Atlântica e o cerrado. Convenção da bioDiversidade Ela foi assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco 92, relizada no Rio de Janeiro. Estabelece o direito das nações sobre a variedade de vida contida em seus territórios e o dever de conservá-la e de garantir que sua utilização seja feita de forma sustentável. O Brasil assinou e ratificou essa convenção, tornando-a lei em 2006. 2011 atualidades vestibular + enem 191 k ciências e meio ambiente água afp/vyacheslav oseledko todo o tempo. Tudo depende do equilíbrio entre a renovação e o consumo. Fatores naturais limitam o volume de água disponível para a espécie humana. Muitos povos vivem em zonas áridas, e mesmo regiões com bons recursos hídricos passam por secas que afetam os mananciais. Isso sempre foi assim. A diferença, na situação atual, é que enfrentamos uma ameaça de escassez crônica de proporções globais cuja grande causa são as atividades humanas. O consumo crescente e o desperdício, a contaminação dos mananciais e as alterações climáticas desequilibram a relação entre a oferta e a demanda de água potável. A crise da água é menos uma questão de escassez real, e mais de mau gerenciamento do uso desse recurso. A falta de água põe em risco não só a saúde humana como também o desenvolvimento socioeconômico e o bem-estar de toda a sociedade. Avaliar o volume total de água do planeta e a taxa de MAR DE ARAL consumo é uma ciência pouco exata. Camelos passeiam no Ainda assim, a estileito seco, onde antes mativa do volume havia água. Abaixo, de água potável a fotos de satélite: a que o homem tem areia vai dominando acesso apresenta O esgotamento das reservas de água do planeta não é causado por fatores naturais, mas pelo mau gerenciamento das fontes e de seu uso A s imagens desta página surpreendem. Infelizmente, trata-se de um dos maiores desastres ambientais do mundo moderno, que já ocorre há décadas sem que ninguém consiga brecá-lo. O mar de Aral, na Ásia Central, que era o quarto maior lago do planeta até 1960, com 68 mil km2, está secando e já perdeu 90% do volume. A responsabilidade é toda do ser humano: a causa da catástrofe é o uso 192 atualidades vestibular + enem 2011 descontrolado dos recursos naturais, com o desvio de seus principais afluentes para irrigar plantações em áreas desérticas. A morte do mar de Aral é um alerta mundial, pois, com a humanidade chegando a quase 7 bilhões de pessoas, tornou-se uma questão de primeira importância a gestão dos recursos hídricos, de forma a garantir a cada indivíduo água potável e tratada para uma boa qualidade de vida. Hoje, podemos dizer que o planeta já enfrenta uma crise de água. Isso não significa que a água da Terra esteja chegando ao fim. O volume que circula por mares, rios e lagos, mais o que é guardado nos depósitos subterrâneos, como gelo nas calotas polares ou como umidade da atmosfera, não varia. Está em eterno processo de reciclagem natural: evapora, desaba como chuva, escorre para o fundo da terra e retorna para a superfície, de onde volta a evaporar, num ciclo perpétuo. Por isso a água é um recurso renovável. Afora uma pequena parcela trazida do espaço sideral por cometas que eventualmente se chocaram com a Terra, a água que hoje usamos para matar a sede e para o banho é composta das mesmas moléculas que formaram os mares em que nadaram os primeiros peixes, o gelo que recobriu o planeta nas eras glaciais e a chuva que molhou os dinossauros. No entanto, um recurso renovável não se mantém, necessariamente, inesgotável e de boa qualidade 1977 1989 2006 nasa O líquido mais precioso Renovável, mas limitado valores bem aceitos na comunidade científica. Do total de 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos de água que reveste o globo (e cobre três quartos da superfície), apenas 2,5% são de água doce (35 milhões de quilômetros cúbicos). A maior parte da água doce está congelada nas geleiras e calotas polares ou em depósitos subterrâneos. A proporção da água a que o homem tem acesso fácil – a superficial, de rios, lagos e pântanos – é de, no máximo, 0,4% da água doce existente (veja infográfico na próxima página). Contamos com pouco mais de 100 mil quilômetros cúbicos para matar a sede, cuidar da higiene, gerar energia e produzir alimentos e bens industriais. Não é exatamente pouca água, mas, segundo o Programa para o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (Unep), cerca de 1,2 bilhão de pessoas no mundo – ou seja, um a cada seis indivíduos – não têm acesso à água limpa e em quantidade suficiente para garantir a saúde e o desenvolvimento social e econômico. Fatores naturais respondem por parte dessa escassez, pois a natureza não distribui a água de maneira equilibrada pelo mundo. Enquanto há regiões com recursos hídricos em abundância, outras não dispõem do mínimo diário de 20 a 50 litros por pessoa recomendado pela 2011 atualidades vestibular + enem 193 ciências e meio ambiente água Vários aquíferos e bacias hidrográficas abrangem mais de um país e devem ser geridos em conjunto Organização das Nações Unidas (ONU). Compare: enquanto cada habitante da Islândia tem disponíveis mais de 600 milhões de litros por ano, um morador do Kuweit depende inteiramente da importação de água. A escassez do recurso em algumas zonas do globo – particularmente na África e no Oriente Médio – é tão grande que acaba sendo uma das causas de conflitos armados. utilização de água suja ou contaminada, como a diarreia e a cólera. Fatores como o crescimento demográfico, o desenvolvimento econômico, a urbanização e as alterações climáticas constituem o que se chama de pressões humanas sobre a água. São atividades que provocam grandes alterações no ciclo hidrológico: a natureza acaba não dispondo do tempo necessário para reciclar a água dos mares para a atmosfera e desta para os rios que abastecem os reservatórios. As perspectivas não são animadoras: estimase que, em 2025, 1,8 bilhão de pessoas estarão vivendo em zonas secas e dois terços da humanidade estarão sujeitos a alguma restrição no acesso à água. Consumo humano Conflitos Junte-se às limitações naturais a pressão do consumo humano. Enquanto nos últimos 60 anos a população mundial duplicou, o consumo de água cresceu sete vezes. Isso não significa apenas mais torneiras, descargas sanitárias e chuveiros nas residências, mas também que as sociedades precisam gerar mais energia e produzir mais, tanto no campo quanto nas fábricas. O crescimento industrial tem grande peso na queda do nível dos rios e aquíferos. Por isso, quanto mais rica é uma população, maior é o consumo de água por cabeça. A disparidade entre o consumo de água por ricos e pobres constrói uma lógica perversa. À população carente sem acesso ao serviço de fornecimento de água restam duas tristes opções: ou longas caminhadas diárias até poços e reservatórios ou a compra de água de fornecedores particulares. Nas duas situações, o custo é imenso: estima-se que os africanos gastem 40 bilhões de horas a cada ano só na coleta de água em pontos distantes e em transporte para o uso. É um tempo precioso, muito mais bem aproveitado se fosse destinado à produção de riquezas. Em termos financeiros, a população pobre de países em desenvolvimento leva a pior: em média, paga entre dez e 20 vezes mais pela água comprada de particulares do que as camadas mais altas da população, que têm acesso à rede de água e esgoto. O resultado final é trágico: as populações mais pobres do planeta apresentam altos índices de mortalidade e de incidência de doenças ligadas à 194 atualidades vestibular + enem 2011 Historicamente, recursos hídricos são focos potenciais de guerras, revoltas e atentados terroristas, principalmente quando estão em áreas em que a escassez hídrica é natural ou no subsolo de dois ou mais países – estudo aponta a existência de 273 aquíferos que ultrapassam fronteiras. A falta de água impacta as relações entre as nações e a dinâmica das migrações internacionais. Há especialistas que afirmam: o principal motivo para as guerras no século XXI não será mais o ouro, o petróleo ou qualquer outra riqueza mineral, mas a água, que se tornou o líquido mais precioso. Além dos aquíferos, existem 163 bacias hidrográficas transnacionais, que abrangem 145 países, com mais de 40% da população mundial. Em regiões como Oriente Médio, Ásia Central e África, o domínio sobre essas fontes é uma questão de sobrevivência, que, se não for bem equacionada, pode criar um contingente de 100 milhões de refugiados nos próximos 20 anos. Não é de hoje que a água motiva conflitos. O Instituto Pacífico, especializado no assunto, contabilizou 50 episódios de confronto militar ou ataque terrorista pelo mundo relacionados ao acesso a recursos hídricos desde 2000. Nem sempre a água aparece claramente como o pomo da discórdia, mas é um dos motivos por trás de vários conflitos, como os embates entre China e Tibete. O platô tibetano guarda imensa reserva de águas de glaciares, que alimentam dez dos maiores rios da Ásia, como o Mekong e o Amarelo. No Oriente Médio, a Síria SE PUDÉSSEMOS JUNTAR EM ESFERAS TODO O VOLUME DE ÁGUA DO PLANETA, O DIÂMETRO DE CADA UMA SERIA… 406 km Diâmetro médio da Terra = 12.700 km 58 km 1.385 km Volume da Terra = 1,07 trilhão de km3 Volume de toda a água do planeta 1,39 bilhão de km3 Volume da água doce do planeta 35 milhões de km3 Volume da água doce superficial 104,6 mil km3 A PORÇÃO MAIS UTILIZADA PELA HUMANIDADE ATENçÃO COM AS CONVERSÕES Não se confunda com o número de zeros na transformação de m3 em km3 e em litro (L) Volume em m3 Volume convertido em litros (L) 1m.1m.1m=1m 1.000 L Volume em km3 Volume convertido para m3 1 km . 1 km . 1 km = 1 km3 1.000 m . 1.000 m . 1.000 m = 1.000.000.000 m3 = 1,0 . 109 m3 3 multi/sp k A bolinha acima pode parecer pouca coisa, mas, se dividíssemos a água que existe aqui entre os 6,7 bilhões de seres humanos, cada um receberia 570 litros de água por dia, durante 75 anos. Fonte: USGS e Nasa 2011 atualidades vestibular + enem 195 k Resumo ciências e meio ambiente água briga com a Turquia e o Iraque pelo controle da bacia dos rios Tigre e Eufrates. Dona das nascentes, a Turquia represou o Eufrates para gerar eletricidade e irrigar plantações, diminuindo em muito o volume de água que chega aos países localizados na parte baixa do rio. Um dos casos mais persistentes de disputa pela água envolve, há décadas, israelenses, palestinos, sírios e jordanianos. Israelenses e palestinos brigam pelos lençóis da Cisjordânia. Até 1967, os palestinos tinham acesso livre a essas fontes. Israel também ocupou as colinas de Golã, da Síria, onde brota o rio Jordão. Exaurido pela mineração e irrigação em pleno deserto, o Jordão está minguando. Apenas um terço de seu volume original chega ao mar Morto, que por isso também está secando. Como se gasta água? Bastam 50 litros por dia para uma pessoa manter a higiene, matar a sede e preparar as refeições. Mas, quando se inclui no cálculo a água necessária para produzir os alimentos básicos que chegam à nossa mesa, cada cidadão precisa de muito mais do que isso – algo em torno de 2,7 mil litros por dia. Isso significa que, no período de um ano, cada cidadão deve ter garantido no mínimo 1 milhão de litros de água – o que representa cerca de ÁGUA VIRTUAL As cores no mapa-múndi indicam a disponibilidade hídrica nas diferentes regiões do planeta É a quantidade de água usada, direta ou indiretamente, na produção de algo. Veja quantos litros de água virtual existem em alguns produtos A escassez física está muito associada a extensas áreas de AGRICULTURA IRRIGADA, como o sul da Índia, o norte da China e as planícies da América do Norte Anna Paula Buchalla O corpo humano é composto de 60% de água. Ela participa de praticamente todos os processos orgânicos: da regulação da temperatura ao bom funcionamento do cérebro e dos músculos. Por isso hidratarse - repor a água perdida na urina e na transpiração - é tão vital, como não se cansam de dizer os médicos. Tornou-se comum, no entanto, afirmar que a ingestão de água traz outros benefícios. Diz-se, por exemplo, que ela desintoxica e até ajuda a emagrecer. Ainda não há comprovação científica dessas teses. (...) Recomenda-se beber líquidos no mesmo volume de calorias consumidas. Para 196 atualidades vestibular + enem 2011 32 litros Microchip (2 g) 140 litros 10 litros 2.000 litros 200 litros 2.325 litros 8.000 litros Xícara de café (125 ml) Copo de leite (200 ml) Em algumas regiões, a carência de água leva a CONFLITOS ARMADOS, como em alguns países da África e do Oriente Médio A falta de água ocorre também em AGLOMERADOS POPULACIONAIS, em áreas áridas e semiáridas e em centros urbanos em rápida expansão Fontes: New Scientist e WRI Folha de papel A4 (80 g/m2) Carne bovina (150 g) Camiseta de algodão (250 g) Par de sapatos de couro Em produtos de origem animal, a maior parte da água virtual vem da produção da ração que alimenta a criação Fontes: R.L.Carmo, A.L.R.O.Ojima, R.Ojima e T.T.Nascimento; Hoekstra e Chapagain e Water Footprint Network A agropecuária consome 70% da água, vindo em seguida a indústria (22%) e o uso doméstico (8%) Saiu na imprensa Sete mitos sobre o consumo de água Água ONDE FALTA ÁGUA não há falta ameaça de escassez escassez moderada grave escassez sem dados disponíveis uma dieta de 1 200 calorias, 1,2 litro de água. “Não precisamos de mais água do que a sede solicita”, afirma. É preferível tomar pequenas doses ao longo do dia a ingerir uma grande quantidade de uma vez. E deve-se lembrar que os alimentos também ajudam na hidratação. (...) Por muito tempo, a recomendação do Colégio Americano de Medicina Esportiva era que os atletas deveriam tomar o máximo possível de líquidos durante o exercício físico para evitar a desidratação. Agora, o que se sabe é que água em excesso provoca a diluição do sódio. É o mineral que ajuda a conduzir os impulsos elétricos para os músculos, inclusive o do coração. Veja, 2/9/2009 dois quintos do volume de uma piscina olímpica. Populações que têm acesso a menos que isso vivem em regime de escassez hídrica. Cerca de 290 milhões de pessoas estão em países com escassez hídrica – a maioria no Oriente Médio e no norte da África, regiões com alta densidade demográfica e de água naturalmente rara, pois têm clima seco ou desértico e poucas fontes. Outros 440 milhões vivem em zonas de estresse hídrico, ou seja, têm oferta disponível de, no máximo, 1,7 milhão de litros por ano por habitante. A água que se usa em casa, aquela que sai das torneiras e chuveiros, representa uma pequena parcela de tudo o que cada cidadão consome – no total, apenas 8% do consumo mundial. Para o consumidor doméstico, os restantes 90% vêm na forma de uma água invisível, que está dissolvida nos mais variados produtos que consumimos e atividades que realizamos. A agricultura é, de longe, a responsável pelo maior consumo de água. Cerca de 70% do que é extraído dos rios e aquíferos se destina à produção agropecuária – seja na forma da água que irriga as plantações, seja na que mata a sede dos animais. A indústria é responsável pelos 22% restantes do consumo. Água virtual q Agora, pense no seguinte: tudo o que a sociedade moderna consome – de alimentos e automóveis a eletricidade e petróleo – só existe porque a água foi usada, como matéria-prima ou como insumo, na produção do bem ou do serviço. É o que se chama de água virtual (veja o quadro acima). O total de água consumida direta ou indiretamente por um indivíduo ou toda uma população em determinado período recebe o nome de pegada hídrica. A pegada hídrica leva em conta não apenas a água agregada aos produtos, mas também o volume poluído na cadeia produtiva. É possível calcular a pegada hídrica de um produto, de um grupo de produtores e de uma nação. Com esses conceitos – água virtual e pegada hídrica –, fica fácil entender que, quanto mais desenvolvida e industrializada é uma nação, maior é sua demanda por água. Nem todas as nações deixam uma pegada hídrica equivalente à disponibilidade de água em seu território. A razão é a importação de bens: os países pobres em água compram do estrangeiro alimentos e produtos industriais e, com eles, importam – na forma de água virtual – os recursos de bacias hidrográficas de outras regiões do globo. A Jordânia, por exemplo, retira a cada ano apenas 1 bilhão de metros cúbicos de água de seus rios e aquíferos, que se encontram em exaustão. Mas consome de cinco a sete vezes mais água (na forma virtual), contida nos produtos que ela importa. É por esse mecanismo que os chineses afetam indiretamente as bacias hidrográficas brasileiras quando compram nosso frango e, no sentido inverso, os brasileiros consomem parte da água das bacias chinesas em cada eletroeletrônico made in China. A globalização, que tornou interdependentes os mercados pelo globo, reforçou, também, um comércio internacional de água virtual. O comércio de água virtual tem vários aspectos. O fator positivo é que essa transferência desse recurso entre as nações alivia a escassez hídrica nos países mais carentes de água. A exportação, nesse caso, democratiza um bem natural. Por outro lado, a produção de alimentos para vender a outras nações exerce nos países exportadores pressão sobre os mananciais, que um dia podem vir a se esgotar. Por fim, uma vez que a agricultura consome muito mais água do que a indústria, as nações exportadoras de alimentos degradam suas reservas hídricas mais do que as industrializadas. u ESCASSEZ Do total de 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos de água da Terra, menos de 1% é potável e de fácil acesso à humanidade. Mas a crise de água é menos uma questão de escassez natural do que de mau gerenciamento desse recurso natural. O crescimento demográfico, as alterações climáticas e a rápida urbanização do planeta estão entre os principais fatores que pressionam o ciclo hidrológico: consumimos água mais rápido do que a natureza tem capacidade de repô-la. CONFLITOS A ONU identifica 273 aquíferos e 163 bacias hidrográficas transnacionais, que abrangem 145 países, onde vivem mais de 40% da população mundial. Vários desses lugares registram focos de guerras e revoltas populares que têm entre suas causas a escassez de água. A disputa pelo controle de rios e aquíferos integra as causas de alguns dos mais longos embates entre nações, como a guerra entre judeus e palestinos. USOS Quanto mais rica uma nação, maior o consumo de água por habitante. Países que não detêm fontes suficientes para a agricultura importam água virtual (contida na produção de alimentos) de outras nações. A exportação de água virtual ameaça as reservas dos países produtores. MERCADORIA A água é um bem natural a que toda a humanidade tem direito. No entanto, a escassez crescente faz com que governos passem a cobrar por seu uso. As populações mais pobres do planeta, sem serviços de abastecimento nem saneamento, são obrigadas a pagar caro pela água. ÁGUA VIRTUAL É a quantidade de água necessária para produzir determinado bem. Países em regiões secas, como os do Oriente Médio, importam água virtual ao comprar mercadorias de outras nações, como alimentos e bens industriais. Como se usa muita água na agricultura, países que exportam produtos agrícolas utilizam mais seu manancial do que os que vendem bens industriais. 2011 atualidades vestibular + enem 197 k ciências e meio ambiente Transgênicos PARECE IGUAL Milho geneticamente modificado para resistir às pragas, em fazenda de Santa Cruz das Palmeiras (SP) A expansão dos transgênicos Briga política P oucos assuntos científicos despertam tanta polêmica como os transgênicos – organismos vivos com modificações genéticas. Muitas pessoas fazem ataques acalorados a eles, enquanto outras não se importam e grandes corporações juram que são a maravilha do século. O fato é que, além das questões técnicas, o acirramento das disputas entre os que são a favor e contra os transgênicos – também chamados OGMs (organismos geneticamente modificados) – envolve aspectos políticos, econômicos, culturais, éticos, ambientais e de saúde. Presença antiga Para começar, os transgênicos, para o bem ou para o mal, já são uma realidade há tempos. Mais especificamente, a partir da década de 1970, quando o desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante permitiu a introdução intencional de genes com função reconhecida de um organismo para outro. Isso deu origem às alterações no genoma, ou seja, fez com que informações genéticas codificadas no DNA do organismo pudessem ser alteradas. Diferentemente das técnicas de melhoramento clássico, conhecidas há séculos, que consistem na transferência de genes entre organismos por meio de cruzamentos (reprodução sexual) ou de combinações aleatórias, a biotecnologia moderna permitiu a troca de genes de espécies diferentes de maneira previsível. 198 atualidades vestibular + enem 2011 Exemplos de substâncias ou produtos fabricados por meio da introdução intencional de genes de um organismo em outro podem ser encontrados às centenas na medicina, como é o caso da insulina humana, essencial para os portadores de diabetes, produzida a partir de bactérias. Calcula-se que existam mais de 130 drogas ou vacinas que foram criadas pelas técnicas de DNA recombinante, utilizadas para o tratamento ou prevenção de doenças. Há também inúmeros outros exemplos de aplicação da técnica com o uso de microrganismos visando à biodegradação de lixo e esgoto, à recuperação de solos contaminados, ao tratamento de efluentes industriais e à purificação da água, que não são objetos de controvérsia. Prós e contras Os problemas começam quando a tecnologia envereda para a agricultura, dando origem a plantas com genes de bactérias que lhes conferem características como resistência a pragas e herbicidas ou conteúdo maior de nutrientes. Os defensores das plantas transgênicas dizem que a tecnologia leva a alimentos mais produtivos e resistentes e reduz o uso de pesticidas, utilizando menos recursos naturais e melhorando a vida dos agricultores. Grandes empresas como a Monsanto e a Basf investem nessa tecnologia esperando lucrar com o desenvolvimento de sementes e defensivos agrícolas mais eficientes. divulgação/monsanto Lavouras com organismos geneticamente modificados crescem em importância, e o Brasil já é o segundo produtor mundial Os ambientalistas, por outro lado, argumentam que a transferência de genes pode provocar uma eventual contaminação de ecossistemas e comprometer a biodiversidade. Os principais pontos de preocupação são a capacidade de sementes modificadas escaparem da área de cultivo e contaminarem espécies silvestres. Por exemplo, uma planta com gene resistente a certas toxinas poderia eventualmente matar organismos vivos, vegetais e animais, o que atingiria duramente um ecossistema. Causa preocupação também a possibilidade de as sementes modificadas afetarem plantações vizinhas que não tenham espécies transgênicas e até áreas nativas. Argumenta-se que os transgênicos podem intoxicar espécies animais e vegetais com seus componentes e que a resistência adquirida aos pesticidas faz com que sua utilização, após alguns anos, exija um aumento do uso de produtos químicos na agricultura, causando impactos ambientais ainda maiores. No plano da saúde, teme-se o aparecimento de alergias, intolerâncias alimentares e outros problemas fisiológicos em reação às manipulações genéticas, embora, até agora, nada tenha sido constatado. A Organização para a Agricultura e a Alimentação da ONU (FAO) justifica o uso das biotecnologias agrícolas – nas quais os OGMs estão incluídos – como uma saída à fome e à escassez de alimentos, sobretudo nos países pobres. Mas faz restrições à forma como as pesquisas estão sendo realizadas, considerando que, em vez de melhorar o valor nutricional de culturas importantes para a alimentação, como o arroz e a mandioca, a indústria desenvolveu quatro variedades principais de transgênicos: algodão, milho, canola e soja, justamente os que têm maior valor comercial (há ainda variedades de batata e algumas frutas, como papaia). Para a FAO, o principal problema dos transgênicos é o fato de a técnica não ter chegado aos agricultores pobres e ter sido guiada sobretudo por interesses econômicos. A resistência aos transgênicos adquire contornos políticos. Há alguns anos, pressionados por uma crise ambiental e pela fome, países africanos receberam doação de alimentos transgênicos dos Estados Unidos e foram criticados por organizações ambientalistas e de produtores agrícolas. Na Europa, onde os partidos verdes e as organizações ambientalistas são muito atuantes, os transgênicos provocam fortes polêmicas. Só em 2010, após 12 anos em que nenhum OGM foi autorizado, permitiu-se o cultivo de uma batata geneticamente modificada, para a fabricação de ração animal e de três variações de milho, para produção de alimentos. Segundo a FAO, a realidade dos transgênicos indica que até agora essa tecnologia atende a poucos problemas (resistência aos insetos e tolerância a herbicidas) e sua adoção ainda resulta em poucos benefícios evidentes para o consumidor e em falta de segurança sobre a sua inocuidade. A organização internacional frisa que a preocupação sobre os efeitos dos transgênicos nos ecossistemas é justificada, e, portanto, esses produtos têm de ser cuidadosamente regulamentados. Isso já é regra: a maioria dos países, mesmo aqueles, como os Estados Unidos, onde o incentivo aos transgênicos é maior, adota protocolos de biossegurança antes de autorizar a liberação do plantio de sementes modificadas. Como cada OGM inclui genes distintos, considera-se que os alimentos transgênicos devem ser avaliados caso a caso. No âmbito internacional, o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança é um tratado que faz parte da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) e busca estabelecer as regras do comércio de transgênicos, por meio de medidas de segurança e identificação clara desses produtos destinados à exportação. Mas ainda não foram estabelecidas essas regras, que ficaram para ser decididas nas próximas reuniões da CDB. 2011 atualidades vestibular + enem 199 k Resumo ciências e meio ambiente Transgênicos OS TRANSGÊNICOS NO MUNDO Saiu na imprensa Principais países, suas culturas transgênicas e área de cultivo Após 12 anos, Europa aprova batata e milho transgênicos CANADÁ 8,2 milhões de hectares Canola, milho, soja, beterraba ESTADOS UNIDOS 64 milhões de hectares Soja, milho, algodão, canola, abóbora, papaia, alfafa, beterraba CHINA 3,7 milhões de hectares Algodão, tomate, álamo, papaia, pimentão ÍNDIA 8,4 milhões de hectares Algodão PARAGUAI 2,2 milhões de hectares Soja BRASIL 21,4 milhões de hectares Soja, milho, algodão ÁFRICA DO SUL 2,1 milhões de hectares Soja, milho, algodão ARGENTINA 21,3 milhões de hectares Soja, milho, algodão A União Europeia aprovou ontem, pela primeira vez em 12 anos, o plantio de espécies transgênicas no continente. O produto aprovado foi uma batata geneticamente modificada da empresa alemã Basf. A decisão atende a solicita ções americanas por um mercado mais aberto na Europa. A variedade aprovada, batizada de Amflor, será usada na produção de amido industrial para a fabricação de papel, adesivos e têxteis. O produto sofre objeções de grupos ambientalis tas. A decisão sinaliza maior desejo das autoridades europeias de retirar obstá culos que companhias de biotecnologia enfrentavam para expandir o mercado global de culturas transgênicas, que movimenta quase R$ 19 bilhões. Também foram aprovadas três varieda des de milho da americana Monsanto que serão usadas na produção de alimentos. Em 2004, a União Europeia aprovou a importação de alimentos transgênicos depois de seis anos de proibição. Mas ainda não permitia o cultivo. O presidente de Portugal e da Comis são Europeia, José Manuel Barroso, tenta vencer a resistência de mais da metade dos 27 países que pertencem ao grupo. Pesquisas mostram oposi ção de consumidores europeus, que temem riscos, como o aumento da resistência de bactérias a antibióticos ou o surgimento de ervas daninhas imunes a herbicidas. O Estado de S. Paulo, 3/3/2010 Fonte: ISAAA Onde eles existem MAIORIA DA SOJA JÁ É TRANSGÊNICA Total de área cultivada de certas culturas no mundo, transgênica e convencional, em 2009 180 Transgênico Convencional 160 140 158 milhões de hectares 26% 120 100 90 milhões de hectares Área plantada por grandes grupos de países (Milhões de hectares) 60 40 20 160 74% 77% 33 milhões de hectares 31 milhões de hectares 49% 21% 23% 51% Soja Algodão 79% 140 Total 120 Países ricos 100 Países em desenvolvimento 80 60 40 Milho Canola IMPORTÂNCIA Veja como os transgênicos já são importantes em algumas das principais culturas no mundo. Comparando este gráfico com o mapa, vemos como a lavoura da soja, cuja maior parte hoje é transgênica, está presente em quase todos os países. Fonte: ISAAA 200 em inglês) mostrou que o Brasil é o segundo maior produtor de transgênicos do planeta, com 21,4 milhões de hectares plantados, ou seja, 16% do cultivo total de transgênicos no mundo. A área significa mais de 5% das terras usadas na agricultura brasileira. No ranking global, feito com dados relativos a 2009, o Brasil ultrapassou a Argentina e ficou atrás apenas dos Estados Unidos (64 milhões de hectares). Esse PLANTIO CRESCE MAIS NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO 80 0 Calcula-se que seis países contem com mais de 95% da área total de plantações de transgênicos no mundo: Estados Unidos, Brasil, Argentina, Índia, Canadá e China. Paraguai e África do Sul também têm lavouras, e há algumas nações com produção pouco expressiva. Um estudo recente apresentado pelo Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA, na sigla atualidades vestibular + enem 2011 20 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 VELOCIDADE Note como, no início do plantio comercial de transgênicos, até 1999, o grande crescimento foi nos países ricos (EUA e Canadá). Depois, as culturas de transgênicos passaram a crescer mais rapidamente nos países em desenvolvimento. Fonte: ISAAA crescimento causa preocupação entre os ambientalistas, que acusam as grandes corporações de lobby para aprovação de novos produtos na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). A comissão foi criada após a aprovação da Lei Nacional de Biossegurança, de 24 de março de 2005, que regulamenta o uso de transgênicos e estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam os OGMs. Em 2003, foi publicado o decreto de rotulagem (4.680), que obriga empresas da área de alimentação, produtores e quem mais trabalhe com venda de alimentos a identificar, com um T preto sobre um triângulo amarelo, os alimentos com mais de 1% de matéria-prima transgênica, uma vez que eles parecem iguais aos convencionais. A resistência das empresas foi grande, e muitas permanecem até hoje sem identificar os OGMs em seus produtos; enquanto isso, correm no Congresso projetos de lei para anular essa regulamentação. O primeiro transgênico a inaugurar a polêmica dos alimentos no Brasil foi a soja. Introduzida na década de 1990 no país, com sementes contrabandeadas da Argentina e do Paraguai, o grão ganhou um gene de bactéria resistente ao glifo- sato, um potente herbicida utilizado para matar ervas daninhas. Com o nome de Roundup Ready, o herbicida é fabricado pela Monsanto, a mesma empresa que desenvolveu a soja resistente. O negócio funciona assim: o agricultor planta a soja resistente ao herbicida e usa-o largamente para matar as ervas daninhas, preservando a saúde da soja. Como isso torna as plantações mais rentáveis, logo a soja transgênica se expandiu por todo o país, de tal forma que, em 2005, seu plantio foi autorizado pelo governo. Atualmente, quase 70% da soja brasileira é transgênica, e o mercado é dominado pela multinacional. Já existem manifestações de que a resistência da planta ao glifosato dissemina ervas daninhas também imunes ao herbicida. Por isso, aguarda-se para a safra de 2012 o cultivo da variedade desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a Bayer. Além disso, o Brasil tem 11 variedades de milho geneticamente modificado aprovadas pela CTNBio e seis de algodão transgênico. Parte dos produtos aprovados, porém, ainda não foi lançada no mercado, uma vez que a autorização é recente. Mas sementes de milho e algodão resistentes, ambas da Monsanto, já são plantadas em larga escala. u q Transgênicos Transgênicos Também chamados de organismos geneticamente modi ficados (OGMs), são organismos nos quais foram introduzidos genes de outras espécies, com o objetivo de atribuir a eles novas características no caso dos grãos, resistência a pragas e herbicidas. Polêmica No caso de plantas, ambien talistas temem o risco de contamina ção de lavouras convencionais pelos genes modificados e a falta de estudos que comprovem que o consumo desses produtos não traz risco à saúde nem ao meio ambiente. As grandes corpo rações, que são a favor, argumentam que os transgênicos levam a alimentos mais produtivos e resistentes e redu zem o uso de pesticidas, utilizando menos recursos naturais e melhorando a vida dos agricultores. Regulamentação No Brasil, o plan tio de transgênicos ocorre oficialmente desde 2005, quando foi aprovada a Lei de Biossegurança, e está sujeito à apro vação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio), que assesso ra o governo federal nas questões de biotecnologia. Produção Seis países respondem por quase todas as plantações de transgêni cos no mundo: Estados Unidos, Brasil, Argentina, Índia, Canadá e China. Estu do recente mostrou que o Brasil é o se gundo maior produtor de transgênicos do planeta, com 21,4 milhões de hecta res plantados, ou seja, 16% do cultivo no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O Brasil tem duas variedades de soja, 11 de milho e seis de algodão geneticamente modificadas aprovadas. Mas apenas três estão sendo utilizadas, sendo uma de cada planta. Rotulagem Prevista em lei desde 2003, a rotulagem dos transgênicos não é respeitada por muitas empresas no Brasil. Elas não são fiscalizadas e falta informação aos consumidores. A rotulagem prevê a identificação de pro dutos que contenham matéria-prima transgênica a portar um “T” preto sobre um triângulo amarelo. 2011 atualidades vestibular + enem 201 ciências e meio ambiente origem do homem frank vinken/eva-mpg k SER OU NÃO SER? O professor sueco Svante Pääbo olha o crânio de um homem de Neandertal: ele liderou a equipe que sequenciou o genoma da espécie Novidades À sobre a origem do ser humano A entrada de mais um hominídeo na árvore genealógica da humanidade e a confirmação de que carregamos genes dos homens de Neandertal colocam novas peças no quebra-cabeça da evolução da nossa espécie 202 atualidades vestibular + enem 2011 s vezes a sorte colabora decisivamente nas descobertas de fósseis. Isso ocorreu em agosto de 2008, quando o antropólogo Lee Berger, da Universidade do Witwatersrand, na África do Sul, explorava uma caverna localizada no sítio arqueológico de Malapa, com seu filho Matthew, de 9 anos, e o cachorro da família. O filho do pesquisador tropeçou e, ao se levantar, mostrou ao pai um pequeno osso que agarrara, sem querer, na tentativa de evitar o tombo. Berger logo percebeu que aquela clavícula poderia ser humana – ou bem próxima disso, como suas pesquisas posteriores revelariam. Os fósseis encontrados na ocasião, pertencentes a um macho adolescente e a uma fêmea adulta, foram datados como tendo 1,9 milhão de anos. Ganharam o nome de Australopithecus sediba e fama mundial em abril de 2010, quando Berger publicou um artigo na revista Science anunciando a descoberta. Na língua sesotho, idioma falado na região onde foram encontrados os fósseis, “sediba” significa fonte, e o nome de batismo aponta para a hipótese levantada por seu descobridor: com dentes pequenos e quadris apropriados a longas caminhadas ou até habilitados a correr, o novo hominídeo poderia ser um ancestral direto do Homo sapiens, espécie à qual pertencemos. A origem da espécie humana envolve um cenário complicado. Para facilitar sua leitura, vá conferindo as informações no quadro da evolução, na próxima página. O antropólogo Berger, ao analisar a anatomia dos fragmentos de esqueleto, concluiu que o Australopithecus sediba descende do Australopithecus africanus, um hominídeo – família natural à qual pertence o ser humano – que viveu no continente africano entre 3 milhões e 2,4 milhões de anos atrás. Quanto a isso, não há muitas dúvidas, dada a semelhança anatômica entre as espécies, ambas com membros alongados e crânio com tamanho equivalente a um quarto do crânio do Homo sapiens. Há, porém, entre os cientistas divergências quanto à possibilidade de o Australopithecus sediba ser um ancestral do homem, principalmente em razão da idade dos ossos encontrados. A datação colocao cerca de 300 mil anos após a primeira ocorrência conhecida do Homo habilis, uma espécie pertencente ao mesmo gêneA classificação do ser humano Pela classificação dos seres vivos aceita atualmente, o homem moderno (Homo sapiens) pertence a: Reino animal Filo cordatos (animais com um eixo de sustentação interno) Subfilo vertebrados (com coluna vertebral) Classe mamíferos (cobertos de pelo e que amamentam os filhotes) Ordem primatas (com cérebro grande, uso maior da visão que do olfato e unhas em lugar de cascos) Família hominídeos (bípedes, caminham eretos e têm caninos pequenos) Gênero Homo (com cérebro especialmente grande, dominam a fala e desenvolvem cultura) Espécie sapiens ro do ser humano atual e, portanto, mais próxima de nós que o gênero australopiteco. A explicação dada por Berger é que diversas espécies de hominídeos teriam habitado o continente africano ao mesmo tempo. Para ele, não é possível traçar uma árvore genealógica linear da evolução da espécie humana, pois hominídeos dos gêneros Australopithecus e Homo conviveram por muito tempo, até que os primeiros fossem extintos e o Homo sapiens restasse como único representante do gênero. Primeiros hominídeos Na ponta do novelo que teria dado início à linha evolutiva humana, segundo a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin (veja o boxe abaixo), há outro esqueleto achado no continente africano: o Ardipithecus ramidus, identificado como o mais antigo hominídeo já descoberto, com 4,4 milhões de anos. Os cientistas liderados por Tim White, da Universidade de Berkeley (EUA), concluíram que esse esqueleto, que ficou conhecido como Ardi, já apresentava sinais de ser um bípede, mesmo não se parecendo com a famosa Lucy, um fóssil de Australopithecus afarensis de 3,2 milhões de anos de idade, considerado até então o mais antigo esqueleto de hominídeo já encontrado. Para os paleoantropólogos, a capacidade de andar sobre as duas pernas, também chamada de bipedalismo, é o que diferenciou, no início da evolução humana, os hominídeos dos demais primatas, como os macacos e gorilas. E Ardi, mesmo conservando um polegar opositor nos dedos dos pés, como os chimpanzés, teria sido capaz de andar em postura ereta, segundo matéria publicada na revista Science em 2009 pela equipe de descobridores, após 15 anos de estudo. No entanto, mesmo com tanto tempo de pesquisa, Ardi ainda provoca divergências, especialmente em relação ao suposto “andar ereto eficaz” sugerido pela equipe de White. Para alguns estudiosos, Ardi possuía um “bipedalismo facultativo”, ou seja, poderia andar sobre as duas pernas, mas talvez não o fizesse com frequência. Por isso, poderia ser um ancestral comum a todos os atuais primatas. A Teoria da Evolução e a espécie humana Em seu livro A Origem das Espécies, de 1859, no qual formulou a teoria da evolução, Charles Darwin evitou abordar as consequências de sua teoria sobre a espécie humana, prevendo o escândalo que provocaria entre os cristãos ao igualar o homem às demais espécies do planeta. Há apenas a menção de que aqueles postulados sobre a evolução das espécies “lançariam luzes sobre a origem e a história do homem”. Tais luzes, no entanto, só seriam inteiramente compreendidas no século seguinte, pois, se Darwin havia decifrado o mecanismo da seleção natural, não conseguira identificar seu agente, os genes – que são as unidades fundamentais de transmissão dos caracteres hereditários. Apenas por volta de 1920, biólogos juntaram as ideias de Darwin com os estudos sobre ervilhas feitos pelo monge belga Gregor Mendel (1822-1884) que desvendaram as leis da hereditariedade. A Síntese Moderna da Teoria da Evolução das Espécies, também conhe- cida como de neodarwinismo, defende a idéia de que: • a evolução sempre ocorreu e continua a ocorrer; • todas as características de um organismo estão gravadas em genes, que são transmitidos dos pais aos filhos; • a evolução se dá por mudanças que os genes sofrem ao acaso, combinadas à seleção natural; • nem todos os genes se manifestam num organismo. Mas mesmo os que permanecem silenciosos são transmitidos no decorrer das gerações e podem se expressar mais tarde. O grande avanço da biologia que pavimentou de vez o sucesso da teoria da evolução de Darwin foi a descoberta, em 1953, do DNA, a molécula em espiral, existente no interior dos cromossomos, que carrega os códigos genéticos. Os genes nada mais são do que trechos dos braços da espiral. O alcance dessa descoberta se materializaria há uma década, quando o Projeto Genoma sequenciou o código genético humano. 2011 atualidades vestibular + enem 203 k Resumo ciências e meio ambiente origem do homem Parte da humanidade carrega de 1% a 4% de genes dos neandertais, extintos há 30 milênios coberta, confirma-se que a evolução humana não seguiu uma progressão linear, com uma espécie seguindo outra, até o homem moderno, como se pensava. Hoje, a descoberta de novos fósseis e revisões de análises anteriores mostram que a questão da nossa origem é muito mais complexa, como demonstra o quadro abaixo. Fósseis achados na África indicam que muitas espécies de hominídeos se tornaram bípedes e, assim, ganharam vantagem evolutiva à medida que o clima das savanas ficava mais seco e as florestas diminuíam, o A evolução humana O antropólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo, diz que a árvore evolutiva da humanidade tem tantos ramos que parece uma moita cheia de pequenos galhos. De descoberta em des- que ocorreu há 6 milhões de anos. Essa é a datação da espécie mais antiga de hominídeo, o Sahelanthropus tchadensis. Depois desse primeiro hominídeo, surgiram vários exemplares do gênero Australopithecus, 4 milhões de anos atrás. Os fósseis dessas espécies eram diferentes dos grandes macacos atuais, bem como dos hominídeos anteriores. Os cientistas acreditam que a linhagem sobrevivente que deu origem aos humanos provavelmente passe pelo Australopithecus afarensis, mas não há certeza absoluta. EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE HUMANA Veja como fica a árvore genealógica da espécie humana com as novas descobertas Milhões de anos atrás 7 6 Note que a linha à esquerda do quadro mostra o tempo em milhões de anos, e o tamanho das barras azuis registram o tempo de duração de cada espécie. As que aparecem na mesma faixa de tempo foram contemporâneas. 5 Sahelanthropus tchadensis Orrorin tugenensis Ardipithecus ramidus Hipóteses Australopithecus anamensis 4 Australopithecus bahrelghazali Australopithecus afarensis Kenyanthropus platyops 3 ? Australopithecus africanus Paranthropus aethiopicus 2 Paranthropus boisei 1 Homo ergaster erectus Australopithecus sediba Segundo seus descobridores, o Australopithecus sediba, descendente direto do Australopithecus africanus, pode ter sido ancestral do gênero humano. Homo neanderthalensis 0 Fonte: Enciclopédia Britânica atualidades vestibular + enem 2011 Homo rudolfensis habilis Homo habilis ? Homo erectus Homo heidelbergensis Pesquisa genômica comprova que humanos tiveram filhos com neandertais 204 ? Australopithecus garhi ? Paranthropus robustus Pesquisadores descobrem que humanos e neandertais teriam mantido relações sexuais Após quatro anos de estudos, uma equipe de pesquisadores do Instituto de Max Plank, na Alemanha, publicou a versão inicial do sequenciamento genético do Homem de Neandertal. É a primeira vez que este feito é alcançado em uma espécie extinta. O trabalho provou a controvertida ideia de que os homens modernos (nós, Homo sapiens) e os de Neandertal (Homo neanderthalensis) cruzaram e tiveram descendentes. Genes do neandertal vivem em nosso genoma. De certa forma, disseram os cientistas, somos um pouco neandertais. Cerca de 4% de nossos genes seriam herança do neandertal. Homo sapiens Ardipithecus kadabba Duração da espécie Supostas relações ? Saiu na imprensa ? ? Homo sapiens Nossa espécie, o Homo sapiens, surgiu cerca de 200 mil atrás. Há duas hipóteses para seu aparecimento. A primeira, da origem única, propõe que os humanos modernos se diferenciaram da população de um arcaico ancestral africano. Esse grupo teria saído da África e substituído todas as populações humanas do mundo, incluindo seus parentes europeus, como os homens de Neandertal, e os descendentes do Homo erectus que haviam migrado anteriormente para a Ásia. A segunda hipótese, chamada de multirregionalista, propõe que populações regionais descendentes do Homo erectus se dispersaram pelos continentes e se transformaram em sapiens em diversos pontos do globo. As características modernas teriam, então, aparecido em alguns grupos e se espalhado aos demais por miscigenação. Essa hipótese admite o intercruzamento de diferentes populações, inclusive de neandertais, o que acaba de ser provado. Nosso primo neandertal Outra descoberta que provocou rebuliço entre os cientistas foi a divulgação, em maio de 2010, de que o homem moderno traz de 1% a 4% de genes que pertenceram ao homem de Neandertal. Troncudo, com a testa curta e grossa e a mandíbula forte, o Homo neanderthalensis surgiu na Europa, cerca Trata-se de uma realização científica sem precedentes, feita apenas dez anos após a comunidade científica decodificar o genoma do Homo sapiens, o parente mais próximo do hominídeo extinto. A espécie se extinguiu há 30 mil anos, mas seu genoma oferece pistas concretas para um santo graal da ciência: as diferenças que nos fazem humanos e dão ao nosso cérebro inteligência. Essas diferenças ínfimas no tamanho e imensas em significado podem estar nos poucos genes que humanos modernos e neandertais não compartilham. Diário de Pernambuco, 7/5/2010 de 120 mil anos atrás, e ocupou territórios naquele continente e no Oriente Médio, até sumir, há 30 mil anos. O primeiro espécime foi descoberto às margens do rio Neanderthal, na Alemanha, daí o seu nome. Para provar que o Homo sapiens se relacionou sexualmente com o neandertal, gerando descendência fértil, os cientistas de 22 instituições, liderados por Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, conseguiram usar o material genético de três fósseis de mulheres neandertais, com 38 mil anos de idade, para sequenciar dois terços do genoma da espécie. O DNA neandertal foi, então, comparado com o genoma de cinco pessoas vivas: duas da África, de povos iorubá e san, uma da Papua Nova Guiné, uma francesa e uma chinesa. Com exceção do DNA dos africanos, o dos outros humanos apresentou genes pertencentes aos neandertais. A explicação para a ausência do DNA neandertal nos grupos africanos é que esse provável encontro entre espécies teria ocorrido após a ida do Homo sapiens para a Europa e a Ásia, onde viviam os neandertais. A região mais provável do encontro teria sido o Oriente Médio, onde grupos das duas espécies teriam encontrado refúgio nos invernos rigorosos da última glaciação. “Pode-se dizer que carregamos o neandertal em nós”, resumiu Pääbo. u q Origem do homem NOVO HOMINÍDEO Em abril de 2010 foi apresentado pela revista Science o Australopithecus sediba, que viveu há 1,9 milhão de anos, na África. Com dentes pequenos e quadris mais apropriados a longas caminhadas ou até habilitados a correr, o novo hominídeo poderia ser um ancestral direto do Homo sapiens, uma espécie de avô da espécie humana. BIPEDALISMO Em 2009, o Ardipithecus ramidus, outro hominídeo encontrado na África, foi identificado como o mais antigo já descoberto, com 4,4 milhões de anos. Esse hominídeo já apresentava sinais de ser um bípede. Para os paleoantropólogos, a capacidade de andar sobre as duas pernas, chamada de bipedalismo, é o que diferenciou, no início da evolução humana, os hominídeos dos demais primatas, como macacos e gorilas. Os estudos ainda provocam divergências, especialmente em relação ao suposto “andar ereto eficaz” do Ardipitheus ramidus. HERANÇA NEANDERTAL Por meio da comparação do sequenciamento genético de três fósseis do Homo neanderthalensis com amostras de cinco genomas humanos atuais, uma equipe do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, descobriu que o DNA do homem moderno carrega de 1% a 4% de genes pertencentes aos neandertais. O estudo provou que houve cruzamento entre as duas espécies, com descendência fértil. A EVOLUÇÃO HUMANA Há duas hipóteses sobre a origem do homem moderno. A da origem única propõe que o Homo sapiens se diferenciou de um arcaico ancestral africano por volta de 200 mil anos atrás, tendo migrado da África e substituído as populações humanas do mundo. A hipótese multirregionalista propõe que diversas populações regionais descendentes do Homo erectus se dispersaram pelos continentes e se transformaram em sapiens, em vários pontos do planeta. As características modernas teriam aparecido em alguns grupos e se espalhado para os demais por miscigenação. 2011 atualidades vestibular + enem 205 k ciências e meio ambiente Galileu O olhar de Galileu Há 400 anos, o italiano Galileu Galilei utilizou o recém-inventado telescópio para observar os astros e fazer descobertas que mudariam a maneira de a humanidade enxergar os céus Por Martha San Juan França Descobertas Esse céu tão imenso não foi visto sempre da mesma maneira aqui da Terra. Em diferentes épocas, ele foi explicado segundo os mitos, percepções, conhecimentos e instrumentos que estavam ao alcance do ser humano. Há quatro séculos, quando o italiano Galileu Galilei (1564-1642) apontou pela primeira vez a luneta para o espaço “lá em cima” , o que se via era o lugar da eternidade, da matéria em estado mais puro, segundo a cosmologia aristotélica, até então vigente. No cosmo imaginado pelo grego Aristóteles, na Antiguidade, cuja concepção ainda prevalecia no sé206 atualidades vestibular + enem 2011 culo XVII, o céu era o lugar da perfeição, enquanto a Terra, “cá embaixo”, era onde tudo se desfazia com rapidez. A Terra, imóvel, era o centro do cosmo. A Lua, o Sol, os planetas e as estrelas giravam à sua volta, em órbitas circulares. Em março de 1610, Galileu publicou um pequeno livro de 24 páginas com o título Sidereus Nuncius (O Mensageiro das Estrelas). Nele, descrevia minuciosamente suas descobertas com o telescópio: k A Lua não tinha uma superfície esférica perfeita e lisa, como supunham os filósofos aristotélicos, mas exibia um relevo, como a Terra; k Vênus tinha fases, como a Lua, um indício de seu movimento em torno do Sol, e não da Terra, como defendia o modelo geocêntrico; k A mancha esbranquiçada da Via Láctea formava um “amontoado incontável de estrelas”; k As estrelas, ao contrário dos planetas, não eram pequenos discos circulares, mas “chamas que cintilam e brilham”, cujo número parecia muito maior do que aquele avistado a olho nu; k Júpiter tinha quatro luas, o que constituía outra evidência de que nem todos os astros giravam exclusivamente ao redor da Terra. nasa P ara quem vive rodeado de edifícios e iluminação, o céu noturno é algo que não chama muito atenção – apenas algumas estrelas esparsas acima do horizonte enevoado. É muito diferente do espetáculo que se renova todas as noites em lugares distantes da poluição luminosa. Mesmo sem telescópio, é possível observar milhares de estrelas brilhando em vários tons dentro e fora da faixa esbranquiçada da Via Láctea. A Lua, os planetas e as estrelas são sinais de um universo vastíssimo, que, aos poucos, a ciência vislumbra sem conhecer por inteiro. As observações de Galileu fizeram com que as pessoas passassem a olhar o céu de maneira diferente e mudaram para sempre o entendimento sobre a Terra. Além de comprovar a tese de Nicolau Copérnico (1473-1543), publicada em 1543, que colocava a Terra girando ao redor do Sol, Galileu percebeu que nosso mundo era apenas mais um corpo celeste dentre tantos que existiam no espaço. Na época, sua persistência em defender esse modelo de universo desembocou numa das mais célebres polêmicas entre religião e ciência. Pela defesa da teoria de Copérnico, Galileu foi condenado pela Igreja Católica à prisão domiciliar perpétua e à negação pública de suas ideias. Esse episódio representou o momento em que, na civilização ocidental, a ciência se tornou uma forma distinta de conhecimento, operando segundo princípios diferentes dos da religião e da fé. Ampliação do olhar Sessenta anos depois, Isaac Newton (1643-1727) demonstrou que todos os movimentos planetários e lunares poderiam ser explicados e previstos desde que se assumisse que o Sol estava no centro do sistema solar. Outras descobertas na astronomia levaram à conclusão de que TERRA À VISTA o sistema solar está contido imagens com maior rapidez e O telescópio espacial em uma galáxia composta de eficiência, além de corrigir as Hubble é colocado no milhões de estrelas, a Via Lácdistorções provocadas pela atcompartimento de tea, e outras galáxias existem mosfera na imagem dos astros. carga do Atlantis para além dela, tão longe quanto Então, os astrônomos consemanutenção, em 2009 os instrumentos de observaguiram vasculhar vários aspecção podem alcançar. Com o tos do Sol e de outras estrelas, tempo, novas combinações de lentes e “enxergando” diversos tipos de radiação, materiais permitiram aos telescópios capcomo ondas de rádio, microondas, raios tar luz em maior quantidade e produzir X, raios gama e infravermelhos. O aperfeiçoamento da tecnologia de obimagens de maior qualidade. servação e de foguetes e sondas espaciais No século XX, acoplados a detectores permitiu ao homem viajar até a Lua e enviar eletrônicos e controlados por computadores, esses novos instrumentos puderam robôs para estudar de perto planetas, astedecompor a luz das estrelas e analisar as roides e cometas. A observação dos céus foi 2011 atualidades vestibular + enem 207 k Resumo ciências e meio ambiente Galileu O astrônomo Edwin Hubble concluiu com suas observações que o universo está em expansão afp/collection roger-viollet muito ampliada com projetos internacionais como os dois observatórios Kecks, de 10 metros de diâmetro cada um, no Havaí; o Grande Telescópio das Ilhas Canárias, com 10,4 metros de diâmetro; e os quatro telescópios de 8,2 metros de diâmetro que constituem o VLT (very large telescope), instalado pelos europeus no norte do Chile. Isso sem contar os satélites de raios X (Rosat, Asca, Chandra, XMM-Newton), infravermelho (Iras, ISO), raios gama (Compton) e outros. Algumas das teorias mais revolucionárias da ciência surgiram da tentativa de explicar a origem e o comportamento do universo. A mais aceita atualmente é a de que ele teria nascido de uma grande explosão primordial, chamada de Big Bang. O astrônomo Edwin Hubble (1889-1953), em 1929, provou que o universo se encontrava em expansão ao constatar que as galáxias estavam se afastando umas das outras e, quanto mais distantes, maior sua velocidade de afastamento. As medidas atuais mais confiáveis mostram que o Big Vida fora da Terra NOVIDADE Gravura retrata Galileu Galilei, em Veneza, no século XVII, mostrando a recém-criada luneta Bang ocorreu há 13,7 bilhões de anos – o telescópio espacial Hubble, que está na órbita da Terra desde 1990, já fotografou galáxias a uma distância de 13 bilhões de anos-luz (1 ano-luz é a distância percorrida pela luz no vácuo durante 1 ano – cerca de 9,5 trilhões de quilômetros). Em 1998, descobriu-se que essa expansão está sendo de fato acelerada, como se houvesse uma força contrária à gravida- Plutão, o planeta rebaixado Há quatro anos, a União Astronômica Internacional retirou de Plutão a classificação de “planeta”, e parece não haver mais nenhuma dúvida de que ele está fora dessa categoria de corpos celestes do sistema solar (agora são oito, de Mercúrio a Netuno). Na verdade, com o que se conhece hoje sobre planetas, Plutão jamais deveria ser incluído nessa lista. Mas quando foi descoberto, há 80 anos, não se sabia que o sistema solar era dotado de uma multidão de pequenos corpos – alguns de seu tamanho, chamados por isso de planetas anões. Plutão é muito menor do que algumas luas (tem 2.360 quilômetros de diâmetro), e sua órbita em torno do Sol é muito inclinada quando comparada com a dos planetas. Para além de Netuno, há quatro plane- 208 atualidades vestibular + enem 2011 tas anões (além de Plutão, Eris, Makemake e Haumea), mas acredita-se que haja centenas a ser descobertos. Sem contar outros, como Ceres, que ficam perto do cinturão de asteroides (entre Marte e Júpiter), todos os anões estão numa faixa orbital chamada Cinturão de Kuiper, muito distante do Sol e, por isso mesmo, dificilmente avistada. Por ele ser muito escuro e longínquo, estudar Plutão e os outros anões com a ajuda de telescópio é difícil. As primeiras fotografias, que foram feitas pelo Hubble e divulgadas no início deste ano, mostram mudanças de cor em consequência do gelo de sua superfície. Mais informações sobre Plutão poderão ser obtidas pela sonda New Horizons, lançada em 2006, que deverá chegar perto do planeta anão em 2015. de, que repelisse os objetos cósmicos em vez de atraí-los. A essa misteriosa força, que ninguém sabe o que é, os astrônomos deram o nome de energia escura. Não confunda com a matéria escura, ou seja, matéria que não emite luz, mas tem massa e pode ser detectada observando-se sua ação gravitacional atuando sobre grandes objetos cósmicos, como aglomerados de galáxias. Hoje, os cientistas sabem que a matéria comum, feita de prótons, elétrons e nêutrons, corresponde a apenas 5% do universo. O restante constitui matéria escura (95%), que talvez possa ser mais bem conhecida quando o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), o maior acelerador de partículas do mundo, instalado num túnel circular de 27 quilômetros na Suíça, começar a simular como a matéria se desenvolveu com a da formação do universo. O acelerador passou a funcionar neste ano, após muita polêmica sobre sua segurança. Nos próximos anos, todos os instrumentos astronômicos, no solo ou no espaço – entre eles o próprio telescópio Hubble, que foi recentemente reformado –, estarão voltados para obter pistas sobre a energia escura, já considerada pelos cientistas “o mais profundo problema” da física moderna. Novos e revolucionários aparelhos encontram-se em projeto, como o telescópio gigante Magalhães, nos Andes, e o European Extremely Large Telescope (E-ELT), resultado do maior consórcio internacional já estabelecido pela astronomia. Outro enigma que os astrônomos tentarão desvendar é a possibilidade de existência de outros planetas semelhantes ao nosso. E, se existirem, quais as chances de haver vida e até mesmo civilizações capazes de se comunicar conosco? Para ter uma ideia de como as pesquisas na área evoluíram, basta dizer que, até a década de 1990, essas questões se resumiam à especulação. A busca pelos exoplanetas (planetas fora do sistema solar) começou a ganhar atenção em 1995, quando o astrônomo Michel Mayor, da Universidade de Genebra, constatou a existência do primeiro deles, em órbita da estrela 51 Pegasi. Mayor deduziu a existência do planeta por seus efeitos na velocidade de órbita da estrela, já que não era possível vê-lo diretamente. Por esse método, nos anos seguintes, foi possível estabelecer a existência de mais de 400 exoplanetas em galáxias distantes. Porém, eram planetas gasosos, do mesmo tamanho ou maiores que Júpiter, que giravam muito próximo de suas estrelas e, portanto, nunca poderiam ser habitáveis. O aperfeiçoamento dos instrumentos e os dados acumulados permitiram um salto nas pesquisas. Em 2009, o mesmo grupo de Mayor, com outras instituições europeias, anunciou ter encontrado um planeta com pouco menos de duas vezes a massa da Terra orbitando a estrela Gliese – a mesma onde haviam descoberto, dois anos antes, um planeta com diâmetro semelhante ao do nosso. Detalhe: o planeta encontra-se na zona habitável, nem tão perto nem tão longe da estrela, teoricamente capaz de abrigar água líquida. Hoje, os astrônomos consideram difícil não existir vida fora da Terra, já que ela requer condições teoricamente simples. Para formar as moléculas essenciais à vida, são necessários elementos químicos como carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, que estão entre os mais abundantes do universo. Submetidos a altas temperaturas, descargas elétricas e energia, esses átomos, em combinação, acabam produzindo água (H20), metano (CH4), amônia (NH3) e dióxido de carbono (CO2). Teoricamente, são elementos que poderiam se encontrar até mesmo nos planetas próximos do sistema solar. Recentemente, a agência espacial americana Nasa anunciou que o robô Cassini, ao passar por Titã, lua de Saturno, encontrou evidências de que formas de vida poderiam existir em seus lagos de etano. E um mapeamento da superfície de Marte, com dados de várias sondas que lá estiveram, demonstra que o planeta pode ter abrigado um oceano no passado. u Saiu na imprensa Descoberta de planeta habitável é iminente, dizem astrônomos Astrônomos afirmam que estão à beira de encontrar planetas semelhantes à Terra em órbita de outras estrelas, um passo essencial para determinar se estamos sozinhos no universo. Um alto funcionário da Nasa e outros importantes cientistas dizem que, dentro de quatro ou cinco anos, o primeiro planeta semelhante à Terra e capaz de abrigar vida deve ser encontrado, ou talvez até já tenha sido. Um planeta com o tamanho aproximado da Terra pode até mesmo ser anunciado ainda este ano, se certas pistas detectadas por um telescópio espacial se confirmarem. (...) O novo telescópio espacial Kepler, da Nasa, e diversas novas pesquisas no campo da exoplanetologia, que de repente se tornou altamente competitivo, geraram um notável burburinho (...). Cientistas falam que hoje estão num “ponto incrivelmente especial da história”, e perto de descobrir a resposta para a pergunta que incomoda a humanidade desde os primórdios da civilização. “A pergunta fundamental é: estamos sós? Pela primeira vez, há otimismo de que em algum ponto, dentro de nosso tempo de vida, vamos chegar à resposta para isso”, disse Simon Worden, astrônomo e chefe do Centro de Pesquisa Espacial Ames, da Nasa. “Se eu fosse de apostar, e sou, apostaria que não estamos sós, que há um monte de vida.” O Estado de S. Paulo, 8/1/2010 q Galileu Importância Há 400 anos, o italiano Galileu Galilei usou uma luneta, recéminventada, para olhar o céu. Suas observações sobre a Lua, Vênus, os satélites de Júpiter e as estrelas revolucionaram a maneira como se entendia o cosmo. Galileu, como já havia feito Copérnico, refutou a ideia de que a Terra era o centro do universo. Sua persistência em defender esse modelo desembocou numa das mais célebres polêmicas entre religião e ciência. Telescópios A luneta de Galileu evoluiu nos séculos seguintes, permitindo que, com novas combinações de lentes e materiais, se pudesse enxergar o céu mais longe e com melhor nitidez. No século XX, foi possível entender a composição do Sol e das estrelas com telescópios e sondas em diversos tipos de comprimento de ondas – rádio, microondas, raios X, raios gama, ultravioleta e infravermelho. Hoje, consórcios internacionais desenvolvem grandes observatórios capazes de enxergar o céu com mais rapidez e eficiência, além de corrigir as distorções provocadas pela atmosfera na imagem dos astros. Expansão do universo A teoria mais aceita atualmente é que o universo teria surgido de uma grande explosão primordial, apelidada de Big Bang. Desde então, o universo está em expansão. Em 1998, descobriu-se que essa expansão está sendo acelerada, como se houvesse uma força contrária à gravidade que repelisse os objetos cósmicos, em vez de atraí-los. A essa misteriosa força, que ninguém sabe o que é, os astrônomos deram o nome de energia escura. Procura-se agora descobrir como ela é constituída. Exoplanetas Outro desafio dos astrônomos modernos é descobrir se existem outros planetas iguais à Terra, e, se existir, qual é a possibilidade de haver vida neles. Nos últimos anos, foram achados mais de 400 exoplanetas (planetas fora do sistema solar), mas nenhum em condições ideais. A busca continua. Os astrônomos acreditam que os elementos básicos para a vida são muito comuns no universo. 2011 atualidades vestibular + enem 209 As imagens e a representação simbólica do mundo Davi Fazzolari, professor de português da Escola Nossa Senhora das Graças e do Colégio Assunção (SP) A proposta de redação apresentada pela Fuvest em 2010 intitulavase “Um Mundo por Imagens”. Como se vê pela reprodução na página ao lado, a proposta foi composta de um primeiro texto não verbal (uma imagem extraída de endereço na internet) e por outros dois pequenos textos verbais assinados por Gilbert Durand (professor, filósofo e antropólogo, autor, entre outros, de A Imaginação Simbólica) e por Tânia Pellegrini (professora de literatura e autora de variados ensaios sobre a ficção brasileira). Além dessa breve antologia, três parágrafos delimitaram tecnicamente o tema e um pequeno quadro de instruções encerrou a prova. Em uma contemporaneidade povoada (saturada, para os mais severos) por imagens de representação simbólica, tem sido cada vez mais comum depararmos com questionamentos que se desenvolvem ao redor do embate entre o mundo real e o mundo virtual. De um lado, o compromisso imposto pelo dia a dia repleto de atribulações da agitada vida cotidiana, e, de outro, a possibilidade de evasão e recriação da vida social, dentro de um universo paralelo, alavancado e sustentado pelas chamadas novas tecnologias. O que se buscava era o posicionamento crítico do candidato em relação aos variados debates nascidos nesse confronto. “No cotidiano, é comum substituir-se o real imediato por essas imagens” foi a chamada que se lia no enunciado. Para desenvolver sua tese e sua argumentação, o candidato deveria escolher uma “construção de imagem” dentre um espectro bastante amplo, como veremos a seguir. 210 atualidades vestibular + enem 2011 A antologia oferecida pela prova promovia um questionamento acerca da recepção da realidade, em nossos dias. De um lado, a possibilidade de estender a experiência humana, a partir de seus sentidos ampliados pela simbologia, e, de outro, a curiosa suplantação de parte da realidade dentro dos domínios da imaginação. O primeiro texto era a imagem em preto e branco de uma janela de folha única aberta para dentro, em perspectiva de quem vê de dentro para fora. O fato de estar aberta teria permitido que um pequeno globo terrestre, curiosamente, adentrasse ao ambiente de quem recepciona a cena. Pela improbabilidade física dos elementos que compunham a imagem, o leitor-candidato era conduzido a ler esse primeiro texto (não verbal) como uma representação simbólica do planeta O texto do pensador Gilbert Durand evocava uma associação entre a imaginação simbólica e o equilíbrio apaziguador dos indivíduos. Abordagem filosófica que poderia abrir argumentos sensíveis acerca das soluções práticas possíveis, nestes tempos de revoluções tecnológicas. O texto da professora Tânia Pellegrini abordava o fato de a representação ter se intensificado muito em nossos tempos, a ponto de nos levar a viver entre a contemplação de símbolos e a própria realidade. Na verdade, era uma provocação ao candidato crítico, para que notasse a possibilidade de explorar o desequilíbrio de forças entre a “vida real” e a “vida representada”. O primeiro parágrafo do enunciado tecia considerações sobre a construção de imagens variadas – pessoas, fatos, livros, instituições e situações – em nossos tempos. Funcionava, assim como os textos da antologia, como mais um texto de aquecimento, além de servir de recorte temático. O segundo parágrafo, como vimos, apresentava uma afirmação categórica, que não deixava alternativa ao candidato que não fosse sua admissão como premissa à dissertação: “No cotidiano, é comum substituir-se o real imediato por essas imagens”. O terceiro parágrafo solicitava a escolha e o aproveitamento de um – e de apenas um! – dos elementos listados no início do enunciado para desenvolvimento temático da redação. As instruções exigiam a produção em prosa e o respeito à norma culta da língua. Alertavam para a necessidade de um título e indicavam 20 a 30 linhas como quantidade mínima e máxima de linhas. A dissertação é um dos três “gêneros escolares” mais frequentes nas salas de aula do Ensino Médio – a narração e a descrição são os outros dois –, e, assim como na Fuvest, costuma ser o mais solicitado nos vestibulares do país. E o que é, afinal, a dissertação? Trata-se de um texto opinativo, ou seja, um espaço no qual o estudante exercita sua livre opinião acerca dos mais variados temas propostos. A defesa de um ponto de vista sustentada por argumentação convincente talvez seja a melhor síntese para o que é uma dissertação. De certa forma, é, de todos, o gênero textual mais simples de ser elaborado, mas é preciso estar atento a certas situações que podem auxiliar ou prejudicar a exposição das ideias. A argumentação é a principal peça de convencimento. Sempre que uma opinião necessita de defesa, o argumento deve vir em seu auxílio. Um bom argumento reforça a ideia central da redação e tende a convencer o leitor da coerência do pensamento do candidato. Por isso, quanto melhor o argumento, mais chance de sucesso terá o texto. Vestibulares que apresentam antologias acabam por delimitar as abordagens do tema geral. Para o candidato, a antologia determina a objetividade com a qual deverá ser tratado o tema. E essa objetividade é uma das maiores cobranças da banca avaliadora. Considera-se bom o texto que consegue desenvolver uma tese a partir de considerações e argumentos legítimos e reconhecidos cientificamente, ou seja, distantes da experiência do autor, e confirmados por especialistas no tema. Diante do enunciado, das provocações propostas pelos textos da antologia e pelas aproximações possíveis entre eles, o estudante deveria manifestar sua opinião sobre o tema proposto. Para tanto, o ideal é elaborar um plano de texto, que é uma organização prévia do que se vai escrever. O texto opinativo é composto de seções quase obrigatórias. Mais do que um rascunho, um plano de texto estabelece o ponto de vista e os questionamentos que serão desenvolvidos. Essa organização é fundamental para garantir a coesão textual. Um dos caminhos práticos para formular um plano de texto é questionar o tema: as perguntas que você elaborar sobre o tema exploram a proposta, e as possíveis respostas em que você pensar esboçam os parágrafos e as etapas da dissertação: apresentação, desenvolvimento e desfecho. Nas páginas seguintes, analisamos três textos selecionados pela banca da Fuvest 2010 como redação de boa qualidade. 2011 atualidades vestibular + enem 211 A redação E assim caminha a humanidade alimentou-se de períodos bem construídos, do ponto de vista gramatical, oferecendo fluidez e clareza ao leitor. Sem se preocupar com grandes ousadias literárias ou filosóficas, o candidato-autor fez a opção por discorrer sobre a “imagem simbólica” por meio de uma linguagem simples e eficiente. A progressão argumentativa permitiu ao leitor receber o tema, primeiramente, de modo panorâmico, e, depois, por meio de exemplos do nosso dia a dia. Por fim, a cena política internacional registrada em todo o século XX dividiu o protagonismo com o marketing das corporações, em um desfecho rigoroso e crítico. Apesar de um ligeiro descuido em relação à coerência – o entusiasmado posicionamento inicial, favorável a um mundo formulado pela imagem, é substituído, até o fim do texto, por um olhar mais severo e resistente –, a consistência do produto final garantiu o seu sucesso. O título fazia referência ao nome que recebeu no Brasil o filme estadunidense, de 1956, Giant, de George Stevens, estrelado por ícones hollywoodianos, como Elizabeth Taylor, Rock Hudson e James Dean. Tratava-se de uma citação bastante conveniente, não só por associar a redação ao tom de um filme que abordou limitações humanas como por inserir o próprio cinema em um debate acerca da imagem. Os primeiros dois parágrafos apresentaram o tema de modo mais amplo. Em seguida, no terceiro parágrafo, o autor anunciou uma guinada do texto ao recorte temático. O ponto de vista, enfim, se estabeleceu dentro de um argumento que sugeria o monumento histórico e por ele procurou se justificar. O quarto parágrafo continuou desenvolvendo a argumentação histórica, em busca de um ponto específico no qual se alojaria a tese central do texto. Para tanto, depois de apresentar a imagem como legitimação do poder, o autor avançou em suas considerações para o “poder de influência” de algumas instituições. Com essa estratégia, conseguiu atingir o século XX e chegar também aos nossos dias, contemplando o enunciado da prova [Na civilização em que se vive hoje, (...)] e fixando a tese, embutida no título, de que a imagem pode determinar o movimento humano. O desfecho foi organizado de modo clássico e reuniu, na forma de síntese, os principais passos argumentativos da redação. Além disso, ao mencionar Hollywood, entre outros ambientes da imagem, o autor sugeriu uma leitura coesa do texto, consolidada no último trecho. Talvez tenha faltado um elo evolutivo mais claro entre a primeira e a segunda parte do texto, para que ficasse evidente a ideia, construída no desfecho, de que o homem tenha aproveitado mal o poder da imagem em sua trajetória histórica. Mesmo assim, o olhar crítico e progressista sobre o tema dado, registrado em períodos regulares, respeitando pontuação e ortografia, foi suficiente para os examinadores da prova. 212 atualidades vestibular + enem 2011 2011 atualidades vestibular + enem 213 Em uma primeira leitura, o ponto forte da redação intitulada A imagem como seu próprio objeto parece ser a citação de grandes nomes da filosofia e das artes e de seus respectivos conceitos. Quando explorado de modo adequado, esse tipo de referência, de fato, pode trazer densidade ao texto do vestibulando e ampliar sua chance de convencimento. Boas citações, contudo, não teriam levado, sozinhas, o texto ao sucesso, sem o excelente encadeamento argumentativo e o bom aproveitamento dos textos ofertados pela própria prova. O primeiro parágrafo apresentou o tema a partir da ideia de construção e estabeleceu um primeiro diálogo com um conceito que se lia no enunciado da proposta: “Na civilização em que se vive hoje, constroem-se imagens, as mais diversas (...)”. Apostando justamente nessa “diversidade”, o candidato abriu um bastante amplo espectro para sua abordagem do tema e anunciou os dois polos de concentração de expectativas humanas em igualdade de condições, quando o assunto é uso da imagem. Ao introduzir a “filosofia platônica”, ainda nessa fase de apresentação do tema, o candidato adensou o debate que culminaria no ponto de vista por ele adotado. O segundo parágrafo estabeleceu a argumentação tomando por base a obra pictórica do artista belga (e não “francês”) René Magritte (1898-1967), comentada pelo filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). Mais uma vez foi possível ler o diálogo, já que os conceitos apresentados nessa fase se amparam na afirmação de Tânia Pellegrini oferecida na proposta: “É como se ficássemos suspensos entre a realidade da vida diária e sua representação”. A tese do candidato associava-se justamente à postura que se lia nessa espécie de constatação indignada da suspensão da realidade vivida em nossos tempos altamente tecnológicos. Mantendo o estratégico diálogo com os textos oferecidos pela prova, o candidato, em seu desfecho, contrariou o conceito de Gilbert Durant – para quem “A imaginação simbólica é sempre um fator de equilíbrio” – ao afirmar que “o valor dos símbolos contemporâneos vem como crise e não como equilíbrio”, deixando, assim, uma lição aos próximos candidatos. Não é necessário concordar com as opiniões contidas nos textos fornecidos pela prova, mas é possível construir toda a redação com base neles. O mais importante talvez seja extrair da prova as ideias essenciais e estabelecer com elas um debate coerente. As conclusões a que chegou o candidato nasceram na própria argumentação. Com períodos bem construídos, ortografia respeitada (mesmo com uma pequena inversão de vogais na última linha da redação, em “indissociáveis”), vocabulário adequado e, em alguns casos, bastante refinado, o candidato não apresentou clichês nem vícios de linguagem, mantendo-se dentro do esperado quanto à norma culta e à expressividade. Além disso, um olhar crítico e objetivo pode ser lido em todo o texto. A autonomia necessária para a independência semântica da redação foi cuidadosamente garantida, mesmo com o emprego da técnica dialógica. Todos esses cuidados, aliados a um repertório adquirido provavelmente nas disciplinas de filosofia, artes e literatura, no Ensino Médio, consolidaram o sucesso da redação. 214 atualidades vestibular + enem 2011 2011 atualidades vestibular + enem 215 Em Um mundo por imagens: somente umas mil palavras, a problematização do tema começava já pelo título. Ao contrapor imagens e palavras, o autor considerou o possível processo de exclusão de um pelo outro, das palavras pelas imagens. Uma afirmação contundente, já no segundo parágrafo, dava continuidade à apresentação do tema e estabelecia o ponto de vista do candidato. Por extensão de raciocínio, o autor atribuiu à “falta de tempo para desenvolvermos a lógica do discurso (...)” o que chamou de “consequência nefasta à cultura”, consolidando seu posicionamento crítico em relação ao tema dado. O terceiro parágrafo avançou pelo recorte temático estabelecido nos dois primeiros e passou a responsabilizar a velocidade e o consumismo pela comunicação por imagens criadas sem nenhum critério. A esta altura, o autor utilizou um recurso de estilo que merece destaque. Embora não seja recomendada em textos dissertativos, a enumeração irregular que se lê na sequência “mais complexos”, “muito mais veloz” e “caótico” provavelmente foi avaliada como uma ironia, adequada ao ponto de vista adotado pelo autor. “Nossas mentes”, de modo voluntário, poderiam buscar um mundo mais veloz e até um mundo mais complexo, mas não um mundo caótico. Tratava-se, esse “mundo caótico”, da “consequência nefasta” anunciada no parágrafo anterior. O desfecho foi introduzido por um “sim”, sugerindo um questionamento nas entrelinhas, que, então, seria confirmado. Tal técnica mostrou-se eficiente para os avaliadores. Embora tenha se encerrado com um clichê, deixou bastante nítido o posicionamento do autor e o alvo de suas críticas. Uma contribuição importante para os novos candidatos é deixar claro que uma linha de raciocínio bem apresentada e bem defendida, ainda que sem “citações grandiosas” nem conceitos consagrados das ciências ou das artes, pode atingir nível de excelência nos vestibulares. No lugar das referências de destaque, o candidato-autor optou por um discurso seguro acerca de nossas fragilidades e limites, discorrendo sobre o poder de sugestão simbólica das imagens em tempos sedutoramente consumistas, empobrecedores naturais das realidades ideologicamente mais comprometidas. 216 atualidades vestibular + enem 2011 2011 atualidades vestibular + enem 217 Como fazer A a resposta discursiva a uma “questão aberta” 2. Na composição de um anúncio, veiculado pela Folha de S.Paulo, em 26/9/2008, era possível ver partes distintas - imagem e texto - unidas para uma mensagem comum. A imagem sugeria um rosto humano em meio a uma impressão digital, enquanto um texto verbal convidava o leitor a descobrir a identidade e o pensamento dos paulistas com os dizeres “quem é e o que pensa”. Tanto em uma situação como em outra, o tema era comum: a identidade de um grupo específico - os paulistas - escolhido dentre outros que seria explorado, sendo parte de um todo, em suas culturas específicas. Evidentemente, nessa composição, a relação de sentido está diretamente ligada à identificação e ao reconhecimento de um grupo em meio a outros. prova de redação da Fuvest é apresentada ao candidato no primeiro dia da 2ª fase do vestibular. Vem acompanhada de dez questões que pedem respostas discursivas. São questões que exigem um texto objetivo, que respeite a norma culta e ofereça, com clareza, as respostas solicitadas. As informações cobradas pelas questões distribuem-se por tipos de expectativa variada. Há, entre elas, questões que cobram conhecimento técnico, questões que testam o conhecimento de dados e conceitos e, ainda, questões que verificam a sensibilidade e a competência leitora dos candidatos. Levando em conta o modelo de avaliação divulgado pela Fuvest1 , no qual os examinadores atribuem de 0 a 4 pontos a cada resposta, muitos dos cuidados para a redação são bem-vindos nessa parte. Vejamos questões abertas da prova de Português, cuja estrutura é semelhante às de diversas áreas do conhecimento. 1ª questão da 2ª fase Fuvest 2010 – Português k A primeira parte da questão - letra a), solicitava do candidato leitura e compreensão semântica de um texto híbrido. Parte imagem (texto não verbal), parte texto verbal. Para estabelecer uma “relação de sentido” entre o desenho de uma impressão digital contendo, em seu interior, a expressão de um rosto humano, e o trecho “quem é e o que pensa”, o candidato deveria estabele- 1 cer um texto em que se pudesse ler uma micro dissertação, em suas três partes fundamentais: abordagem, desenvolvimento e desfecho. Uma vez que, conforme o manual da Fuvest, respostas variadas podem ser consideradas corretas2 , vejamos três exemplos para possíveis respostas adequadas: 1. O anúncio que se lê na questão apresenta um texto híbrido. Trata-se, essencialmente, de uma imagem simbólica, obtida pela reunião de uma impressão digital e de um rosto humano, apoiada por um texto verbal com os seguintes dizeres: “Descubra quem é e o que pensa o morador de São Paulo”. A relação de sentido que se estabelece está ligada aos pontos comuns das duas partes do anúncio, ou seja, a identidade. De um lado os verbos “ser” e “pensar” determinando a identificação individual da existência “Penso, logo existo” - e, de outro, um símbolo visual consagrado pela cultura popular como reconhecimento do indivíduo social, já que está, inclusive, na documentação comum de cada cidadão. Portanto, é possível afirmar que a relação de sentido entre a imagem e o trecho “quem é e o que pensa” é a identificação das individualidades. No caso, a identificação do paulistano. Abordagem do tema Desenvolvimento 3. A demonstração de realização e contentamento representada por um rosto sorridente, inserido na impressão digital de um polegar humano, associada a um texto verbal “Descubra quem é e o que pensa o morador de São Paulo” - era a composição de um anúncio publicado pela Folha de S.Paulo em 2008. Os pronomes “quem” e “que” são nítidos indicadores de identificação e, associados à imagem, estabelecem uma relação de sentido identitária. Como se, simbolicamente, a imagem respondesse ao texto verbal: “O paulistano é feliz e seu pensamento demonstra satisfação”. Portanto, a relação de sentido é a de definição do perfil de um grupo social: o habitante de São Paulo. Já a segunda parte da mesma questão – letra b) – pedia apenas que o candidato acionasse seu conhecimento acerca da concordância verbal; um conhecimento de ordem técnica, portanto. A resposta deveria ater-se à reescritura do trecho dado, alterando-se o número, de singular para o plural: Descubram quem são e o que pensam os moradores de São Paulo. Desfecho Trecho extraído do site: “Cada prova é gravada eletronicamente logo que chega à Fuvest. Em seguida são feitas duas cópias de cada questão, 2 4ª questão da 2ª fase Fuvest 2010 – Português k A primeira parte da questão – letra a) – pedia a compreensão de um trecho de Machado de Assis, ou seja, que o candidato conseguisse entender o sentido do texto. Solicitava-se um posicionamento opinativo, seguido de argumentação que sustentasse o posicionamento. Trata-se, mais uma vez, guardadas as devidas proporções, de uma estrutura típica da dissertação. Vejamos um exemplo adequado a essa resposta. Não. No texto de Machado de Assis, uma nota diplomática está associada diretamente a uma “mulher da moda”. Ambas possuem enfeites em excesso que escondem suas realidades. O autor aproxima por semelhança as “frases, circunlocuções, desvios, adjetivos e advérbios” da nota às “fitas, rendas, joias, saias e corpetes” da mulher. Para Machado, é preciso retirar o rebuscamento da nota diplomática para chegar à sua real intenção, à sua “ideia capital”. Opinião/Tese Argumentação Desfecho A segunda parte da questão – letra b) – procurava testar conhecimentos técnicos do candidato em relação à sinonímia e ao uso do pronome oblíquo “lhe”. “Capital” poderia ser substituído por fundamental, essencial, principal. O pronome “lhe” refere-se a “uma nota diplomática”. Trecho extraído do site da Fuvest: “A correção de segunda fase segue rigorosamente os critérios estabelecidos pela banca elaboradora das ques- encaminhadas a dois corretores distintos, sem identificar o candidato. Cada um deles atribui uma nota (0, 1, 2, 3 ou 4) à resposta apresentada pelo tões, que entrega, por escrito, à Fuvest, em data anterior à realização dos exames, um gabarito completo de cada questão, já que uma determinada candidato, de acordo com o gabarito oficial”. [http://www.fuvest.com.br/PORTAL/fuvest/conteudo] pergunta pode apresentar variantes em suas respostas, podendo estar todas elas igualmente corretas”. [http://www.fuvest.com.br/PORTAL/fuvest/conteudo] 218 atualidades vestibular + enem 2011 2011 atualidades vestibular + enem 219 Fichas-resumo veja nestas páginas quais foram os assuntos abordados em edições anteriores do atualidades vestibular Estude mais temas com as fichas do Atualidades A gora que você já estudou vários temas do mundo atual no Atualidades Vestibular 2011, trazemos as fichas-resumo com temas tratados em edições anteriores. Para facilitar o estudo, as fichas são divididas da mesma forma que a publicação: Internacional, Brasil, Economia, Questões Sociais e Ciências e Meio Ambiente. O objetivo das fichas-resumo é dar um panorama do conjunto de temas que podem cair nos vestibulares, além dos que já estão tratados nesta edição. Ao oferecermos esses resumos, partimos do pressuposto de que você já os estudou, e as fichas visam a ajudá-lo a refrescar a memória, relembrando-o de alguns tópicos por assunto. Fizemos um trabalho de atualização dos temas aqui tratados, buscando os dados mais recentes. Caso queira uma abordagem mais aprofundada desses temas, procure o Atualidades Vestibular 1º semestre de 2010, que aborda a grande maioria deles. Nossa redação preparou as duas edições de forma complementar, elaborando assim a obra mais abrangente e aprofundada de que um vestibulando dispõe para ficar por dentro do que está ocorrendo no mundo atual. Última edição do Atualidades Vestibular + Enem, publicada no primeiro semestre de 2010 220 k Internacional Curdos k Internacional Revolução Islâmica Quem são Os curdos habitam uma ampla área, chamada por eles de Curdistão, que abrange parte dos territórios da Turquia, Síria, Iraque, Irã, Armênia e Azerbaidjão. Totalizam 26 milhões de pessoas com idioma próprio, majoritariamente muçulmanos sunitas, que se organizam em clãs nômades. Separatismo O principal grupo separatista curdo, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), iniciou luta armada contra o governo turco em 1984 e, desde então, o conflito já matou mais de 40 mil pessoas, a maioria curdos. O braço militar do PKK está baseado no norte do Iraque, onde os curdos têm relativa autonomia, de onde faz incursões militares. Turquia O governo turco reprime a minoria curda. No fim de 2007, para combater a guerrilha, cerca de 100 mil soldados foram deslocados para o leste e o sudoeste do país, na fronteira com Irã, Síria e Iraque. Por meses, houve bombardeios e conflitos. Em 2008, o Iraque protestou contra a invasão de seu território pelos turcos para combater rebeldes. O que é Em 1978, a crise econômica e a ampla corrupção no Irã fazem crescer a oposição ao xá Reza Pahlevi. As correntes oposicionistas (esquerdistas, liberais e muçulmanas tradicionalistas) unem-se sob a liderança do aiatolá Ruhollah Khomeini. Em janeiro de 1979, o governo não consegue controlar a insurreição e o xá foge do país. Em 1º de abril de 1979, o Irã é declarado oficialmente uma república islâmica, cuja autoridade máxima é o líder religioso supremo (aiatolá). O posto é ocupado por Sayed Ali Khamenei desde 1989, quando Khomeini morre. Sistema de governo No sistema político iraniano, o Estado é tutelado por um líder religioso não eleito pela população, que tem a última palavra em questões importantes do país. O presidente da República e os parlamentares da Assembleia Consultiva Islâmica são eleitos por voto universal. Moderados Os moderados mantiveram-se no poder por 16 anos seguidos, até a eleição do conservador Mahmoud Ahmadinejad, em 2005. k brasil Questão Agrária k ECONOMIA AGROPECUÁRIA Latifúndio A concentração das terras brasileiras tem origem no período colonial, com a divisão do território em capitanias hereditárias. Mesmo após a independência, o problema persiste, com uma economia baseada no latifúndio monocultor para exportação de produtos como cana-de-açúcar e café. Reforma agrária É a política que visa a promover a distribuição social da terra, com a instalação de famílias de lavradores em terras públicas ou desapropriadas pelo governo. A reforma prevê também o fornecimento de todo o suporte necessário para que o assentado desenvolva a produção. CONSTITUIÇÃO Segundo o Estatuto da Terra (1964), o acesso à terra para quem nela vive e trabalha é um direito que o Estado deve garantir. A Constituição de 1988 reforça esse princípio e diz que a terra precisa ter uma função social. MST O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, criado há mais de 25 anos, luta pela reforma agrária. Sua estratégia inclui ocupação de terras, muitas vezes ilegal, visando a pressionar o poder público pela desapropriação. Importância Definida como o conjunto de atividades ligadas à criação de plantas e animais para o consumo humano, a agropecuária é um dos três setores utilizados para o cálculo do PIB. A pecuária é fundamental para o comércio exterior do Brasil, pois o país ocupa o segundo lugar global na produção de carne bovina e lidera as exportações do produto. Na área agrícola, o Brasil destaca-se na produção de soja, milho, café e cana-de-açúcar. Desafios O aumento da produtividade no campo transforma o Brasil numa potência do setor, mas o crescimento da produção agrava problemas, em especial o êxodo rural e a dificuldade de escoamento dos produtos. Meio Ambiente Outro problema decorrente da expansão da agropecuária é o desmatamento do cerrado e da Amazônia, visto que as frentes pioneiras avançam principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte. Segundo o IBGE, as áreas com matas e florestas dentro das propriedades diminuíram 11%, sobretudo no Pará e em Rondônia, responsáveis por metade desse desmatamento. k Internacional Convenção de Genebra k Internacional Índia k ECONOMIA Agronegócio k questões sociais Internet Objetivos Refere-se a um conjunto de normas estabelecidas em acordos internacionais, entre 1864 e 1949, que institui limites humanitários para ações de guerra. Visa a diminuir o sofrimento de militares em combate e de civis, fixando padrões éticos para situações de conflito. Quem foge a essas regras comete crimes de guerra e é submetido a um tribunal internacional. Em 1998, foi criado o Tribunal Penal Internacional para julgar as violações. São signitários da Convenção 192 países, e a organização que acompanha seu trabalho é a Cruz Vermelha Internacional (Crescente Vermelho, em nações muçulmanas). Direitos Pela Convenção de Genebra, soldados capturados são considerados prisioneiros de guerra. Devem ter seus direitos humanos respeitados, não podem ser torturados, não são obrigados a fornecer informações ao inimigo e podem voltar para casa no fim do conflito. Restrições Os membros das Forças Armadas de uma nação ou de milícia organizada estão legalmente amparados pela convenção. Os membros de organizações terroristas não são considerados prisioneiros de guerra. Gigante A Índia ocupa a maior parte do Subcontinente Indiano, sendo o sétimo maior país do planeta em extensão. Sua população, de 1,2 bilhão de habitantes, é menor apenas que a da China (1,3 bilhão) e representa 18% da população global. A cordilheira do Himalaia, a mais alta cadeia montanhosa do planeta, conhecida como “teto do mundo”, encontra-se ao norte do país. Caxemira Situada no Himalaia, a Caxemira é disputada por Índia e Paquistão desde sua independência, em 1947. Na ocasião, o Subcontinente Indiano, que estava sob domínio britânico desde o século XVIII, foi separado em dois países, com base em critérios religiosos: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana. Dois terços da Caxemira ficaram com a Índia. A região tem maioria (70%) muçulmana, mas é ligada à elite indiana. Desigualdade Mais de 40% da população vive abaixo da linha de pobreza, e as favelas têm se multiplicado em megacidades como Mumbai (ex-Bombaim) e Calcutá. Ao mesmo tempo, a Índia ganha posição entre os principais países emergentes do mundo, com um PIB de 1,2 trilhão de dólares (2008). Cadeia produtiva O agronegócio abrange a cadeia produtiva de indústria e serviços ligada à produção agropecuária. Ela começa nas fábricas de tratores, de adubos ou de ração de animais. Em seguida, estão as plantações e a criação de animais, que são o centro da atividade. Depois, vêm as indústrias que processam e agregam valor ao produto agropecuário. No fim, há a logística da distribuição – do transporte ao armazenamento, até chegar ao consumidor. Gargalos O agronegócio é responsável por 26,5% do PIB brasileiro e por 36,3% das exportações (2008). Apesar do crescimento, o setor enfrenta problemas como juros altos, instabilidade no câmbio e carências na infraestrutura. O transporte da produção é feito predominantemente por rodovias, geralmente em condições precárias, o que acaba encarecendo o produto final. Agroenergia A energia produzida com produtos e resíduos do agronegócio, incluindo o etanol, o biodiesel, a biomassa e o biogás, é uma aposta de longo prazo para o crescimento do setor, pois eles têm vantagens sobre os combustíveis fósseis: são renováveis e bem menos poluidores. O Que é A mais completa e dinâmica fonte de informações do planeta, que modificou vários aspectos da vida das pessoas. No início de 2009, 1,5 bilhão de pessoas tinham acesso à rede. A interface gráfica da internet, chamada World Wide Web (www), foi criada pelo físico inglês Tim Berners Lee, em 1991. Globalização A internet causou profundas mudanças no mundo dos negócios e do trabalho e já é considerada uma nova Revolução Industrial. O processo de globalização está intimamente ligado ao crescimento da rede e aumentou muito a quantidade de transações comerciais. Ao mesmo tempo, a diminuição de distâncias facilitou às multinacionais transferir o processo produtivo dos países-sede para nações periféricas, onde a mão de obra é mais barata. Exclusão digital Enquanto nos países ricos, como os da América do Norte, 74% da população já tem acesso à internet, nas regiões pobres e emergentes esse número é baixo. Apenas 5,6% dos africanos se conectam ao mundo de informações e negócios da rede, o que aumenta o abismo entre nações ricas e pobres. No Brasil, aproximadamente 34% da população acessa a rede. atualidades vestibulaR + ENEM 2011 2011 atualidades vestibular + ENEM 221 Fichas-resumo 222 k questões sociais VIOLÊNCIA k questões sociais IDH k ciências e meio ambiente PROTOCOLO DE KYOTO k ciências e meio ambiente RIO São Francisco Desigualdade Social A má distribuição de renda no Brasil causa desigual dade social, uma das razões para o aumento da criminalidade e da violência. As dificuldades de acesso à educação e a bens e serviços torna os jovens mais vulneráveis à criminalidade e a mortes violentas. No Brasil, houve mais de 47 mil homicídios em 2007, e esse tipo de crime já é a principal causa externa de morte na faixa etária de 10 a 24 anos, somando mais da metade dos casos. Interiorização Nos anos recentes, a violência diminuiu em algumas regiões metropolitanas, nas quais há um aumento do policiamento e de medidas de segurança, mas cresceu em cidades do interior e em regiões remotas do país. Soluções A violência no Brasil não é exclusividade dos criminosos. O nú mero de homicídios praticados por policiais é alto, revelando o despreparo e uma prática alimentada pela impunidade e pela conivência de autoridades. O aumento de investimentos em segurança pública para treinamento e aper feiçoamento dos agentes de segurança, a adoção de programas para reduzir a desigualdade social e a reforma do sistema penitenciário são algumas das ações propostas para diminuir a violência. Indicadores O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado pelo Pro grama das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em 1990, mede a qualidade de vida das populações das várias nações. É calculado com base em três indicadores: renda, que considera o PIB per capita; educação, que avalia a taxa de alfabetização e a taxa de matrículas em todos os níveis de ensino; e saúde, que leva em conta a expectativa de vida da população ao nascer. Extremos Os países recebem uma pontuação que vai de 0 a 1 e são ranquea dos em quatro categorias: IDH baixo, médio, alto e muito alto. As primeiras posições são ocupadas por países da Organização para a Cooperação e o De senvolvimento Econômico (OCDE). Em 2009, o topo foi da Noruega, com IDH de 0, 971, e o último lugar foi de Níger, com 0,340 de IDH. Das 24 nações com o pior IDH do mundo, 22 encontram-se na África Subsaariana. Brasil O país obteve em 2009 um IDH de 0,813, classificado na faixa de na ções com desenvolvimento humano alto. Em 2008, o IDH tinha sido de 0,808. O Brasil apresentou evolução nos três indicadores, mas o aumento da renda per capita foi o que mais impulsionou a alta do IDH no último ano. Objetivos O primeiro documento internacional a estabelecer metas e prazos para a redução de emissões de gases do efeito estufa foi assinado em Kyoto, no Japão, em 1997. Ele prevê que os países desenvolvidos cortem, até 2012, as emissões de CO2 e de outros gases do efeito estufa em 5% com relação aos níveis de 1990. As nações em desenvolvimento não têm de cumprir metas. Créditos de carbono O mecanismo de desenvolvimento limpo foi instituí do para ajudar as nações a cumprir as metas, permitindo que os países ricos compensem a emissão a mais de gases com o investimento em projetos para a implantação de tecnologias limpas ou para o uso de energias renováveis nas nações em desenvolvimento. Dessa forma, os países poluidores ganham créditos de carbono, que contam “pontos” para atingir sua meta de redução. Entrave A principal limitação do Protocolo de Kyoto é que nem todos os países aderiram a ele. Os Estados Unidos, os maiores emissores mundiais de gases do efeito estufa, não ratificaram o protocolo, por acreditar que os países em desenvolvimento, como a China e a Índia, deveriam se comprometer com metas e políticas concretas de redução das emissões. TRANSPOSIÇÃO Para abastecer rios menores e açudes do semiárido nordestino, onde vivem cerca de 12 milhões de pessoas, a obra de transposição do rio São Francisco deve desviar de 1% a 3% de suas águas por 720 quilômetros de canais. Iniciada em 2007, a obra tem investimentos estimados em 7 bilhões de reais e é dividida em duas partes. O Eixo Leste desviará água de Petrolândia (PE) a outros pontos do sertão pernambucano e paraibano e deve ficar pronto no fim de 2010. O Eixo Norte levará água de Cabrobó (PE) para o sertão de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte e deve estar pronto até 2012. Polêmicas Alguns especialistas acreditam que a construção de poços para captar água de lençóis subterrâneos e de cisternas para coletar água da chuva é uma alternativa mais barata e mais eficaz no combate à seca. Outros dizem que muitas comunidades isoladas não serão alcançadas pelo projeto. Impacto ambiental Os ambientalistas afirmam que a obra pode aumentar os danos ao rio, já deteriorado. Para tentar reduzi-los, o projeto engloba progra mas ambientais, e os estados doadores de água devem ganhar compensações na forma de obras para revitalização da bacia do rio São Francisco. k questões sociais Doenças k questões sociais AIDS k ciências e meio ambiente Biomas brasileiros k ciências e meio ambiente Antártida Disparidades Em termos mundiais, o avanço da medicina e o crescente acesso da população a recursos básicos, como água tratada e redes de esgo to, têm melhorado a saúde do planeta. Ainda assim, há uma clara divisão. Nos países mais pobres, é maior a incidência de doenças transmissíveis, a maioria relacionada às más condições sanitárias e à desnutrição.Nos países desenvol vidos, a população vive mais e acaba afetada por moléstias cardiovasculares, que prejudicam o coração e os sistemas circulatório e respiratório. Gripe Suína É causada pelo vírus A (H1N1), resultado da mutação de vírus originalmente responsáveis pelas gripes humana e aviária, e inicialmente transmitida por porcos. Os primeiros casos foram registrados em março de 2009, no sul dos Estados Unidos e no México, com alta taxa de mortalidade. Pandemias Surgem quando um vírus sofre mutação e se espalha por diversas regiões do planeta, com alta porcentagem de infectados e de mortos. A dis seminação da gripe suína seguiu esse desenvolvimento, assim como a gripe espanhola, que matou dezenas de milhões de pessoas no início do século XX. O que é Sigla para síndrome da imunodeficiência adquirida, em inglês, a aids é uma doença infecciosa e contagiosa para a qual ainda não há cura. A proli feração descontrolada do vírus HIV arrasa o sistema de defesa do organismo e abre as portas para outras infecções e tumores. Números De acordo com o Programa das Nações Unidas para Aids/HIV (Unaids), o número de mortes em decorrência de complicações causadas pela doença cresce num ritmo lento, de 1,9 milhão em 2001 para 2 milhões em 2008. Já o número de pessoas infectadas cai: de 3,2 milhões em 2001 para 2,7 milhões em 2008, o que indica que o mundo superou o auge da epidemia. Mas a aids ainda é um problema gravíssimo, especialmente na África Subsaariana. Soropositivos A melhora no quadro está sendo possível graças às cam panhas de prevenção, como as que defendem o uso de preservativos, e dos tratamentos com medicamentos antirretrovirais. Com a terapia, um núme ro cada vez maior de soropositivos sobrevive mais tempo: no fim de 2008, 33,4 milhões de pessoas conviviam com o HIV. Em 2001, eram 29 milhões. Bioma É um conjunto de ecossistemas que formam uma comunidade estável, adaptada às condições naturais de uma região e geralmente caracterizada por um tipo principal de vegetação, solo, clima e relevo. Entre os biomas brasilei ros, cerrado e mata Atlântica encontram-se na lista dos 34 hotspots da Terra – locais que reúnem rica biodiversidade, mas estão sob forte ameaça. Mata Atlântica Foi o primeiro bioma a sofrer o impacto do desenvolvimento, há vários séculos, com a retirada do pau-brasil e, depois, com as lavouras de cana-de-açúcar. O crescimento das cidades alterou a paisagem e levou ao lançamento de esgoto nos rios, poluindo os mananciais. Cerrado Depois da mata Atlântica, é o bioma que mais sofreu com a ocupação humana. Inicialmente, os garimpos poluíram os rios com mercúrio e erodiram o solo. Mais tarde, foram a monocultura intensiva de grãos e a pecuária. Re centemente, as plantações de cana para a produção de biocombustível têm se expandido. Se as taxas de desmatamento mantiverem o ritmo acelerado, o cerrado poderá estar muito reduzido até 2030. Gelo O nome do continente vem do grego antartiko, que significa “oposto ao Ártico”. É uma área de terra coberta por uma enorme camada de gelo, com espessura média de 2 quilômetros. No inverno, a superfície do continente, de 13,2 milhões de quilômetros quadrados, dobra de tamanho com o congela mento das águas dos mares ao redor. Essa massa de gelo é de vital importância ambiental, pois concentra 70% das reservas de água doce da Terra. Tratado da Antártida O documento, assinado em 1959 e em vigor desde 1961, estabelece que os países que pretendiam se apossar de terras no con tinente abririam mão desses planos, permitindo a liberdade de exploração científica na região em regime de cooperação internacional. Em 1991, como um aprimoramento das propostas iniciais, foi assinado o Protocolo de Madri, que fez da Antártida uma reserva natural, dedicada apenas à ciência. Brasil Possui a Base Comandante Ferraz na Ilha do Rei George, que faz moni toramento ambiental e atmosférico, além de estudos sobre a repercussão, no território brasileiro, das mudanças que ocorrem no continente gelado. k ciências e meio ambiente TERREMOTOS k ciências e meio ambiente AQUECIMENTO GLOBAL k ciências e meio ambiente Nanotecnologia k ciências e meio ambiente Células-tronco Placas tectônicas São blocos gigantescos que integram a camada sólida externa da Terra. Ao todo, o globo é composto de 12 grandes placas e 20 placas menores. A movimentação das placas, que estão sobre o manto, sujeito a tem peraturas e pressão muito altas, é constante e lenta. De tempos em tempos, elas se atritam, provocando imenso acúmulo de energia. A pressão aumenta até que toda a energia seja liberada, causando o terremoto. A escala Richter, referência para medir a intensidade dos tremores, define a magnitude de um abalo sísmico, ou seja, a quantidade de energia liberada e seu alcance. Haiti e Chile Em janeiro de 2010, o Haiti, no Caribe, foi atingido por um terremoto de 7 pontos na escala Richter. Estimam-se 230 mil mortos, em razão também da precária infraestrutura do país. Pouco mais de um mês depois, o Chile, na América do Sul, sofreu um abalo de 8,8 pontos na escala Richter, o sexto maior abalo sísmico já registrado no mundo. Deriva dos continentes É o deslocamento contínuo dos continentes, como resultado do movimento das placas tectônicas. A América do Sul, por exemplo, desloca-se lentamente na direção da Ásia. Efeito Estufa É um fenômeno natural causado por gases na atmosfera que retêm parte do calor recebido do Sol. Cientistas acreditam que o aumento anormal na concentração desses gases, como o gás carbônico (CO2), liberado pela ação humana, principalmente na queima de combustíveis fósseis (gaso lina, diesel) pelas indústrias e veículos e no desmatamento, reforce o efeito estufa, provocando o aquecimento global. Convenção de Copenhague A Conferência das Partes (COP15) de Copenha gue, realizada na Dinamarca em 2009, visava a definir um acordo para reduzir a emissão de gases poluentes entre 25% e 40% até 2020. A reunião acabou sem acordo, e as decisões foram adiadas para a COP16, que ocorrerá no México, em dezembro de 2010. Brasil Diferentemente de outros países que contribuem para o aumento do efeito estufa pela dependência excessiva dos combustíveis fósseis, o Brasil emite gases do efeito estufa principalmente por causa do desmatamento da floresta Amazônica. A política nacional de mudanças climáticas estabelece a meta de redução do desmatamento dessa floresta em 80% até 2020. O que é Trata-se de uma área multidisciplinar da ciência que associa conceitos e ferramentas da física, química, biologia e engenharia na manipulação de estruturas atômicas e moleculares, por meio de microscopia ou combinação química. Lida com dimensões na escala do nanômetro (1 nanômetro é igual a 1 milionésimo de milímetro). A ideia de organizar artificialmente os átomos e moléculas foi proposta em 1959, pelo físico Richard Feynman. Aplicação Por seu aspecto multidisciplinar, a pesquisa em nanotecnologia encontra aplicação nas mais diversas áreas: do meio ambiente à saúde, da informática à engenharia. A promessa mais expressiva é na medicina, no de senvolvimento de substâncias que se liguem a células ou tecidos doentes para tratamento, por exemplo, de tumores cancerígenos. Limites Diversos produtos disponíveis no mercado já utilizam nanotecnolo gia, como discos rígidos (HDs) de computadores e protetores solares. Mas as grandes promessas ainda dependem de anos de pesquisa e estudos. Um dos principais receios da comunidade científica quanto aos produtos desenvolvi dos à base de nanotecnologia diz respeito a sua eventual toxicidade. O que são Células-tronco são aquelas que podem transformar-se em diversos tecidos do organismo humano. Encontram-se nos embriões, no cordão um bilical e em partes do corpo humano adulto, como medula óssea e sangue. As células-tronco mais versáteis são as embrionárias, que podem modificar-se em todos os tipos de célula do corpo humano. Polêmica Para alguns grupos religiosos, o ser humano começa a existir no momento da fecundação do óvulo pelo espermatozoide, e a vida humana é protegida pela lei brasileira. Mas os defensores das pesquisas com célulastronco embrionárias argumentam que os embriões inviáveis, armazenados em clínicas de reprodução assistida, jamais se desenvolverão como seres humanos e podem ser úteis às pesquisas. Legislação A Lei de Biossegurança, de 2005, regula as pesquisas com cé lulas-tronco embrionárias e autoriza o uso de embriões fertilizados in vitro e considerados inviáveis. Em 2008, o Supremo Tribunal Federal entendeu como constitucionais as regras definidas pela Lei de Biossegurança. As pesquisas com células-tronco embrionárias estão liberadas no Brasil. atualidades vestibulaR + ENEM 2011 2011 atualidades vestibular + ENEM 223 Simuladão respostas comentadas de questões de atualidades selecionadas entre os maiores vestibulares do país 1. (Fuvest 2010) BRASIL % 40 Déficit habitacional por região % 60 Participação no PIB nacional por região 50 30 40 20 30 20 10 10 0 N NE S SE Regiões CO 0 N NE SE S Regiões CO Fonte: IBGE, 2006/2007 Desde o final da década de 1970, no Brasil, os movimentos sociais urbanos têm reivindicado o chamado Direito à Cidade, em que a moradia é elemento fundamental. Acerca desse tema, considere os gráficos, seus conhecimentos e as seguintes afirmações: I. A Região Sudeste responde por mais da metade do PIB nacional, sendo, porém, a região com maior déficit habitacional. Consequentemente, forte concentração de capital não significa acesso à moradia. II. A Região Nordeste tem o segundo maior déficit habitacional e a terceira maior participação no PIB nacional. Isso significa que a histórica desigualdade social nessa região foi superada. III.A Região Norte tem o segundo menor déficit habitacional e a menor participação no PIB nacional. Isso significa que o déficit habitacional é um problema desvinculado da produção/distribuição de riqueza. Está correto o que se afirma em a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 2. (UFBA 2010 — adaptado) Na atual época da globalização, há uma interligação entre as economias de todas as nações, os capitais se movem em grande velocidade, bancos e empresas se associam e se fundem em diferentes países e continentes, e uma crise iniciada nos Estados Unidos, a economia mais poderosa do planeta — responsável por cerca de um quarto de tudo que é produzido no mundo —, afeta todos os mercados em questão de horas. (ZOCCHI; JONES, 2009, p. 100) A partir dessas informações e dos conhecimentos sobre a crise econômica mundial e suas consequências, identifique e explique a(s) afirmativa(s) correta(s): 224 atualidades vestibular + enem 2011 I. O fluxo intenso de produtos e serviços, a interdependência das economias dos países a formação de blocos econômicos, como o Mercosul, são características da globalização. II. A crise financeira do subprime – devedores com histórico de inadimplência ou dificuldade de comprovação de renda –, nos Estados Unidos, em meados de 2007, levou ao “estouro da bolha imobiliária”, que tomou dimensão internacional. III. O baixo nível dos estoques mundiais de alimentos, o acesso reduzido aos créditos e a possível ocorrência de elevação da temperatura do planeta em mais dois graus, nos próximos anos, poderão provocar a diminuição mundial de alimentos, particularmente na África, na Ásia e na América Latina. IV. Os países emergentes, como a China, a Índia e a Federação Russa, ficaram à margem da tormenta, mantendo seus mercados internos e externos em equilíbrio e suas economias em crescimento. V. A economia brasileira ainda sofre os reflexos da crise, mesmo depois de vários meses de seu início, mas é consenso que o Brasil foi um dos países menos afetados, de acordo com pareceres de organizações, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, e de alguns economistas do país. VI. A fase mais aguda da crise levou o Brasil a gastar as suas reservas em moeda forte, restringir o mercado externo, diminuindo significativamente o número de compradores, e estagnar o crescimento do PIB do país. VII.A crise econômico-financeira de 1929 e a eclodida em 2008 apresentam como semelhança o processo de especulação, e, como diferença, a rapidez de propagação entre os mercados, fenômeno específico da sociedade globalizada. 3. (Mackenzie 2010) A estrutura psicológica do ser humano não suporta que a dor e a angústia se mantenham tão vivas na memória como no momento em que ocorreram. [...] Por isso, agora, ao sairmos desses 20 anos difíceis e doloridos de nossa história, a lembrança de que houve irmãos nossos, nesse período, que perseguiam sem piedade, torturaram e mesmo mataram pessoas pelo simples fato de elas se oporem ao governo que se impôs ao país em 1964, parece mais pesadelo do que realidade. E, no entanto, esse absurdo ocorreu, aqui em nossa terra, como se um vendaval frio de loucura tivesse gelado esses corações. [...] Que objetivos justificam tudo isso? Dom Paulo Evaristo Arns Identifique a alternativa relacionada ao contexto histórico citado. a) O Brasil, liderado pelos Estados Unidos, vivia guerra aberta contra o narcotráfico, que, aliado às FARC, assolava a América do Sul, sobretudo a região de fronteira amazônica. b) A chamada “guerra das civilizações” entre Ocidente e Oriente ameaçava a hegemonia americana; apoiando ditaduras militares, os EUA procuravam deter o avanço do fanatismo islâmico na América. c) O mundo encontrava-se em sua ordem bipolar e os Estados Unidos procuravam, por meio do apoio a golpes e a regimes ditatoriais na América Latina, deter o avanço do Comunismo. d) O avanço da ideologia nazista pelo mundo e as pretensões imperialistas alemãs justificam as práticas autoritárias citadas, que garantiriam o sucesso da Doutrina de Segurança Nacional. e) O crescimento do Positivismo entre os líderes populistas ameaçava os ideais neoliberais das Forças Armadas, que tomaram o poder e implantaram um verdadeiro “terror de estado” no país. 4. (UFSC 2010 — adaptado) Se as tecnologias de produção do combustível celulósico se mostrarem viáveis, haverá matéria-prima considerável – bagaço – já disponível nas usinas para ser usada, diferentemente dos Estados Unidos, onde o transporte e a logística devem continuar sendo um desafio. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/economia,petrobrasdeve-iniciar- producao-de-etanol-celulosico-em-2012,380467,0.htm> Acesso em: 9 ago. 2009 (adaptado) Texto 1 Com base nos textos 1 e 2, assinale e comente a(s) proposição(ões) CORRETA(S). I. Conforme o texto 2, os EUA lideram, desde 2007, a produção e a comercialização de etanol de segunda geração no mundo. II. De acordo com o texto 2, o etanol de segunda geração, produzido a partir da celulose, presente nos resíduos da cana-de-açúcar e em outras matériasprimas vegetais, é uma alternativa viável para a produção de combustível, sem prejudicar a produção de alimentos. III. O texto 1 é uma charge que sintetiza, criticamente, os temas tratados no texto 2. IV. A partir da charge (texto 1), pode-se inferir que, ao longo das décadas, atribuem-se diferentes causas para o problema da fome. V. O texto 2 enfoca as vantagens ambientais do uso energético da biomassa (bagaço). VI.No texto 1, parte do humor da charge se constrói mediante um elaborado jogo de repetições e trocas, como se pode constatar na manutenção do mesmo predicado com diferentes sujeitos. Disponível em: <http://www.biodieselbr.com/charges/laqua/alimentoversus-biodiesel.htm.> Acesso em: 9 ago. 2009 (adaptado) Texto 2 Petrobras deve iniciar produção de etanol celulósico em 2012 A Petrobras deve iniciar a produção comercial de etanol de segunda geração feito a partir de material celulósico em 2012. Segundo autoridades governamentais, “o objetivo é manter a liderança do Brasil em termos de produtividade em etanol de primeira geração e disputar a liderança em etanol de segunda geração”, porque os Estados Unidos superaram o Brasil como maior produtor de etanol do mundo em 2007. O Brasil, que produz o etanol a partir da cana-de-açúcar, continua sendo o produtor mais eficiente do biocombustível de primeira geração. Nos EUA, o etanol é feito principalmente com milho, um método de produção consideravelmente menos eficiente. A produção de etanol de segunda geração ainda não atingiu a escala comercial, mas algumas empresas apostam no uso de material celulósico, como bagaço de cana ou grama, para a produção de biocombustíveis, em parte como uma maneira de evitar produtos que sejam alimentos. A forte expansão da produção de etanol nos EUA nos últimos anos foi amplamente criticada por contribuir para a inflação dos alimentos. [...] A safra de cana do Brasil deve chegar a 630 milhões de toneladas nesta temporada, com as quais serão produzidos 28 bilhões de litros de etanol. O bagaço é aproveitado nas usinas para gerar energia através da queima da biomassa. 5. (Enem 2009) O movimento migratório no Brasil é significativo, principalmente em função do volume de pessoas que saem de uma região com destino a outras regiões. Um desses movimentos ficou famoso nos anos 80, quando muitos nordestinos deixaram a região Nordeste em direção ao Sudeste do Brasil. Segundo os dados do IBGE de 2000, esse processo continuou crescente no período seguinte, os anos 90, com um acréscimo de 7,6% nas migrações deste mesmo fluxo. A Pesquisa de Padrão de Vida, feita pelo IBGE, em 1996, aponta que, entre os nordestinos que chegam ao Sudeste, 48,6% exercem trabalhos manuais não qualificados, 18,5% são trabalhadores manuais qualificados, enquanto 13,5%, embora não sejam trabalhadores manuais, se encontram em áreas que não exigem formação profissional. O mesmo estudo indica também que esses migrantes possuem, em média, condição de vida e nível educacional acima dos de seus conterrâneos e abaixo dos de cidadãos estáveis do Sudeste. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 30 jul. 2009 (adaptado) Com base nas informações contidas no texto, depreende-se que a) o processo migratório foi desencadeado por ações de governo para viabilizar a produção industrial no Sudeste. b) os governos estaduais do Sudeste priorizaram a qualificação da mão-deobra migrante. c) o processo de migração para o Sudeste contribui para o fenômeno conhecido como inchaço urbano. d) as migrações para o sudeste desencadearam a valorização do trabalho manual, sobretudo na década de 80. e) a falta de especialização dos migrantes é positiva para os empregadores, pois significa maior versatilidade profissional. 2011 atualidades vestibular + enem 225 Simuladão 6. (Mackenzie 2010) Em 2003, o governo russo convocou um plebiscito para definir o futuro político da Chechênia. A grande maioria dos votantes apoiou a permanência da Chechênia no interior da Federação Russa. Esse resultado foi entendido pelo governo russo como apoio explícito dos chechenos às propostas de Moscou, que tem interesses para manter esse território sob seu controle. d) aumento da população em cerca de cinquenta milhões de pessoas, manutenção do número de homens e mulheres, aumento de crianças e velhos e manutenção aproximada da população urbana e da população rural. e) aumento da população em cerca de cinquenta milhões de pessoas, manutenção aproximada da proporção de homens e mulheres, diminuição da proporção de crianças e aumento da população urbana em detrimento da população rural. A respeito desses interesses, analise as afirmativas I, II, III e IV, abaixo. I. Interesse ambiental, pelo território em que se encontra, às margens do Mar de Aral, fonte de recurso hídrico para o abastecimento de água potável à população urbana de Moscou. II. Interesse econômico, por ser esse território cortado por dutos, levando o petróleo extraído na Bacia do Cáspio para os portos russos do Mar Negro. III.Interesse geopolítico, pois uma Chechênia independente estimularia outras repúblicas autônomas da Federação Russa a tentar seguir o mesmo caminho. IV.Interesse cultural-religioso, pois uma Chechênia livre promoveria o recrudescimento do fundamentalismo islâmico na região, levando grupos de fanáticos a se expandirem por outras áreas autônomas da Rússia asiática. 8. (Unicamp 2010) Estão corretas a) I e II, apenas. b) II e III, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. a) Qual a maior cidade nordestina fora do Nordeste brasileiro? Por que houve o incentivo ao processo imigratório de nordestinos para São Paulo? b) Quais as principais determinantes sociais e econômicas do processo migratório de nordestinos para São Paulo em meados do século XX? 9. (Uerj 2010) 7. (UEL 2010) POPULAÇÃO TOTAL E PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO POR SEXO, GRANDES GRUPOS DE IDADE E SITUAÇÃO DE DOMICÍLIO 1980 1990 População do Brasil 119.002.706 146.825.475 Por sexo (%) Homens 49,68 49,36 Mulheres 50,31 50,63 Por grandes grupos de idade (%) 0-14 anos 38,20 34,72 15-64 anos 57,68 60,45 65 e mais 4,01 4,83 Por situação do domicílio Urbana 67,59 75,59 Rural 32,41 24,41 1996 2000 157.070.163 169.799.170 49,30 50,69 49,22 50,78 31,54 62,85 5,35 29,60 64,55 5,85 78,36 21,64 81,25 18,75 Disponível em: http://www.ibge.gov.br/brasil_em_sintese/tabelas/populacao_tabela01.htm. Acesso em: 5 out. 2009 De acordo com os dados da tabela, é correto afirmar, que ao longo dos vinte anos que antecederam o último censo, ocorreu a) aumento da população em cerca de setenta milhões de pessoas, manutenção aproximada do número de homens, aumento de crianças e jovens, aumento da população urbana e da população rural. b) aumento da população em cerca de cinquenta milhões de pessoas, aumento de homens e diminuição de mulheres, aumento da proporção de crianças e aumento da população urbana e da população rural. c) aumento da população em cerca de sessenta milhões de pessoas, aumento da população infantil e diminuição da idade e aumento da população rural em detrimento da população urbana. 226 O impacto sobre São Paulo dos migrantes nordestinos, que chegaram à cidade no meio do século XX, foi tão grande quanto os efeitos produzidos pelos imigrantes que vieram da Europa, do Oriente Médio e da Ásia em décadas anteriores. Nos dois casos, os que dominavam a cidade incentivaram a vinda desses trabalhadores e suas famílias (...). Entretanto, os efeitos sociais e políticos foram sempre mais difíceis de digerir como demonstram os casos recentes de uma prefeita da cidade e de um presidente da República, nascidos no Nordeste, e objetos em São Paulo de preconceitos nada sutis. Adaptado de Paulo Fontes. Um Nordeste em São Paulo – Trabalhadores Migrantes em São Miguel Paulista (1945-66). Rio de Janeiro: FGV, 2008, p.13 atualidades vestibular + enem 2011 No admirável mundo novo das oportunidades fugazes e das seguranças frágeis, a sabedoria popular foi rápida em perceber os novos requisitos. Em 1994, um cartaz espalhado pelas ruas de Berlim ridicularizava a lealdade a estruturas que não eram mais capazes de conter as realidades do mundo: “Seu Cristo é judeu. Seu carro é japonês. Sua pizza é italiana. Sua democracia, grega. Seu café, brasileiro. Seu feriado, turco. Seus algarismos, arábicos. Suas letras, latinas. Só o seu vizinho é estrangeiro”. ZygmunT Bauman Adaptado de Identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2005 A alteração de valores culturais em diversas sociedades é um dos efeitos da globalização da economia. O cartaz citado no texto ironiza uma referência cultural que pode ser associada ao conceito de: a) localismo b) nacionalismo c) regionalismo d) eurocentrismo 10. (FGV Economia 2010) Na Rússia, a mortalidade era de 16‰ em 2005 contra 8‰ nos Estados Unidos, e a natalidade, de 10‰ na mesma data contra 14‰ nos Estados Unidos. A esperança de vida é de 58 anos para os homens (era 63,8 anos nos anos de 1960) e de 72 anos para as mulheres. O déficit de população ativa é estimado em 18 milhões de pessoas e, apesar do clima de xenofobia existente, o país deverá apelar para a imigração para complementar a população ativa que necessita. C.W.Wenden. Atlas Mondial des Migrations, adaptado A leitura do texto e os conhecimentos sobre a realidade socioeconômica russa, na atualidade, permitem afirmar que o país a) está em fase de transição tanto econômica quanto demográfica. b) enfrenta uma situação social e demográfica alarmante. c) deve aumentar o ritmo de crescimento demográfico quando concluir a transição política. d) passa por um período de instabilidade demográfica semelhante ao que ocorre na Europa. e) tem adotado uma política de controle demográfico para manter a estabilidade econômica. 11. (Enem 2009) No mundo contemporâneo, as reservas energéticas tornam-se estratégicas para muitos países no cenário internacional. Os gráficos apresentados mostram os dez países com as maiores reservas de petróleo e gás natural em reservas comprovadas até janeiro de 2008. POSIÇÃO/PAÍS GÁS NATURAL – RESERVAS PROVADAS (METROS CÚBICOS) 1 Rússia 47.570.000.000.000 2 Irã 26.370.000.000.000 3 Catar 25.790.000.000.000 4 Arábia Saudita 6.568.000.000.000 5 Emirados Árabes Unidos 5.823.000.000.000 6 Estados Unidos 5.551.000.000.000 7 Nigéria 5.015.000.000.000 8 Argélia 4.359.000.000.000 9 Venezuela 4.112.000.000.000 10 Iraque 3.170.000.000.000 POSIÇÃO/PAÍS PETRÓLEO – RESERVAS PROVADAS (BARRIS) 1 Arábia Saudita 266.800.000.000 2 Canadá 178.800.000.000 3 Irã 132.500.000.000 4 Iraque 115.000.000.000 5 Kuwait 104.000.000.000 6 Emirados Árabes Unidos 97.800.000.000 7 Venezuela 79.730.000.000 8 Rússia 60.000.000.000 9 Líbia 39.130.000.000 10 Nigéria 35.880.000.000 ( ) As glomerações urbanas mantêm e reforçam laços interdependentes entre si e com outras áreas que elas atraem. Estas áreas que sofrem atração podem, às vezes, pertencer a regiões homogêneas diversas. Estas áreas criam um sistema urbano regional mais bem definido. Portanto, as regiões, de forma geral, nada mais são que recortes territoriais destas áreas. ( ) A característica marcante da estrutura dos sistemas de cidades que varia de acordo com seu tamanho, com a extensão de sua área de influência espacial e com a sua qualidade funcional no que se refere aos fluxos de bens, de pessoas, de capital e de serviços. No esquema atual das relações entre as cidades, uma vila pode se relacionar diretamente com a metrópole nacional, ao contrário do esquema clássico, onde a vila se relaciona, primeiramente, com a cidade local, depois com o centro regional, e em sequência, com a metrópole regional e nacional. ( ) O processo vinculado às transformações sociais que provocam a mobilização de pessoas, geralmente, de espaços rurais para centros urbanos. Essa mobilização de pessoas é motivada pela busca por estratégias de sobrevivência, visando à inserção no mercado de trabalho bem como na vida social e cultural do centro urbano. ( ) O conjunto articulado ou integrado de áreas urbanas que cobrem um determinado espaço geográfico e que se relacionam continuamente. ( ) O termo empregado para cidade central de uma determinada região geográfica, densamente urbanizada, que assume posição de destaque na economia, na política, na vida cultural,etc. A mancha urbana é formada, geralmente, por cidades com tendência ao fenômeno de conurbação. Vários municípios formam uma grande comunidade, interdependente entre si e com a preocupação de resolver os problemas de interesse comum. A sequência correta obtida a partir da correlação entre os conceitos e as definições é: a) I, II, IV, V, III. b) II, V, I, III, IV. c) IV, III, I, II, V. d) III, IV, I, II, V. e) IV, I, V, II, III. 13. (Fuvest 2010) Disponível em: http://indexmundi.com. Acesso em: 12 ago. 2009 (adaptado) As reservas venezuelanas figuram em ambas as classificações porque a) a Venezuela já está integrada ao MERCOSUL. b) são reservas comprovadas, mas ainda inexploradas. c) podem ser exploradas sem causar alterações ambientais. d) já estão comprometidas com o setor industrial interno daquele país. e) a Venezuela é uma grande potência energética mundial. 12. (Unesp 2010) Correlacione os conceitos a seguir: I. Urbanização; II. Rede urbana; III.Hierarquia urbana; IV. Polarização; e V. Metrópole. Considere os mapas do Estado de São Paulo, seus conhecimentos e as afirmativas abaixo. I. A expansão desse cultivo tem ocorrido, principalmente, com vistas ao aumento da produção de etanol para o abastecimento dos mercados interno e externo. II. O cultivo desse produto agrícola tem ocupado porções do Oeste Paulista que, tradicionalmente, eram ocupadas com pasto. III.A expansão desse cultivo tem acarretado a diminuição da produção de gêneros alimentícios em algumas regiões do estado. 2011 atualidades vestibular + enem 227 Simuladão c) A distribuição da população idosa terá uma maior concentração entre os países ricos e emergentes, por terem maior acesso à tecnologia da medicina. d) A maior concentração de idosos estará em países subdesenvolvidos, proveniente do elevado crescimento vegetativo de hoje. e) O maior número de idosos se concentrará no continente europeu, devido ao crescimento e à expansão da União Europeia, que proporcionará igualdade de tecnologia e tratamentos médicos à sua população. Está correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) II, apenas. c) II e III, apenas. d) III, apenas. e) I, II e III. 14. (Unicamp 2010) “Em 1985, viviam na Região Metropolitana de São Paulo mais de 14 milhões de pessoas. A maioria mora em habitações precárias - favelas, cortiços e casas autoconstruídas em terrenos destituídos de serviços públicos - e ganha poucos salários mínimos por mês, revelando um acentuado grau de pauperismo e precárias condições urbanas de existência. A Região configura-se enquanto Metrópole não só pela sua extensão territorial, mas também porque é a partir dela que se organiza a dinâmica do capitalismo no Brasil, pois aí se concentra a engrenagem produtiva essencial à economia do País (...).” Lúcio Kowarick, Escritos Urbanos. São Paulo: Ed. 34, 2000, p.19 a) O que define uma metrópole? b) Identifique dois fatores econômicos determinantes na metropolização de São Paulo. 15. (Fuvest 2010) POPULAÇÕES URBANA E RURAL NO BRASIL (1920-2000) população rural população urbana % 100 90 84% 80 81,2% 70 69% 60 50 45% 40 30 20 10 0 74% 67% 55% 33% 31% 26% 16% 1920 18,8% 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Fonte: IBGE, Recenseamentos Gerais (1920-2000) Observe o gráfico e, a partir dele, a) indique as transformações demográficas ocorridas no período mencionado. b) discorra sobre as mudanças sociais decorrentes da urbanização. 16. (Mackenzie 2008) Hoje, a população idosa no mundo é de aproximadamente 650 milhões de habitantes. Segundo a ONU, a perspectiva para 2050 é de que o mundo tenha 2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos. Assinale a alternativa que corresponde à correta distribuição demográfica de idosos no planeta, nesse período. a) A população idosa terá uma distribuição demográfica homogênea, devido à conquista de recursos na área de saúde, que atingirão a maior parte da população mundial. b) A maior parte da população idosa estará concentrada nos países desenvolvidos, onde o investimento no social é alto, gerando uma elevada expectativa de vida. 228 atualidades vestibular + enem 2011 17. (Enem 2009) À medida que a demanda por água aumenta, as reservas desse recurso vão se tornando imprevisíveis. Modelos matemáticos que analisam os efeitos das mudanças climáticas sobre a disponibilidade de água no futuro indicam que haverá escassez em muitas regiões do planeta. São esperadas mudanças nos padrões de precipitação, pois a) o maior aquecimento implica menor formação de nuvens e, consequentemente, a eliminação de áreas úmidas e subúmidas do globo. b) as chuvas frontais ficarão restritas ao tempo de permanência da frente em uma determinada localidade, o que limitará a produtividade das atividades agrícolas. c) as modificações decorrentes do aumento da temperatura do ar diminuirão a umidade e, portanto, aumentarão a aridez em todo o planeta. d) a elevação do nível dos mares pelo derretimento das geleiras acarretará redução na ocorrência de chuvas nos continentes, o que implicará a escassez de água para abastecimento. e) a origem da chuva está diretamente relacionada com a temperatura do ar, sendo que atividades antropogênicas são capazes de provocar interferências em escala local e global. 18. (UEL 2010) Texto 1 Dados do IBGE (2000) apontam para a configuração de uma hierarquia da rede urbana no Brasil com a classificação de quatro categorias de estudo: • Metrópoles globais, nacionais e regionais (13 centros urbanos, exceto Manaus) • Centros regionais (16 centros, com 13 aglomerações urbanas não-metropolitanas). Ex: Ribeirão Preto - SP, Londrina - PR, Florianópolis - SC, Uberlândia - MG, entre outras. • Centros subregionais 1 e 2 (82 centros urbanos, sendo 31 CSR 1 e 51 CSR 2). Exs: CSR1: Maringá - PR; Joinville - SC; Criciúma - SC; São Carlos - SP; Uberaba - MG; entre outras. • C entros de expressão local e cidades pequenas (o restante dos municípios do país). Texto II Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (1999) mostram que o processo de urbanização no Brasil, nos anos 80 e 90, levou à formação de 12 metrópoles e 37 aglomerações urbanas não metropolitanas, concentrando aproximadamente 47% da população do país, segundo critérios estabelecidos por aquele instituto. Santos, E.C. “Caracterização do Sistema Urbano Brasileiro e Seus Principais Problemas”. Ensaio. Curitiba, 2005 Sobre a urbanização, é correto afirmar: I. A complexidade da questão urbana no Brasil é relativa principalmente à continentalidade do território ao ritmo e características da sua ocupação territorial, às características específicas do processo histórico e de desen- volvimento do país e ao ritmo e características específicas do processo de urbanização brasileiro. II. O padrão de distribuição das cidades pelo território, resultante do nível de urbanização, é dado por fatores independentes que determinam a forma da rede urbana e o tamanho das cidades dentro do sistema urbano. III.A rede urbana em sua distribuição espacial pelo território nacional é acentuadamente homogênea e desconcentrada, com características e problemas comuns a quase todas as cidades, independentemente de seus respectivos tamanhos. IV. A configuração atual da rede urbana brasileira mostra que enquanto 13 municípios – com mais de 1 milhão de habitantes – respondem por mais de 20% de toda a população do país, tem-se milhares de municípios – com menos de 20 mil habitantes – concentrando menos de 20% da população. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) Somente as afirmativas II e III são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 19. (FGV Economia 2010) Um estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostrou que, até 1995, cada aumento na oferta de trabalho formal correspondia a uma redução do índice de trabalhadores na informalidade. Desde então, a lógica mudou, e a tendência hoje mostra que a criação de novos empregos, com carteira assinada, não causa mais esse impacto. Assim, pode-se afirmar que, nestes últimos 15 anos, a informalidade A notícia reflete preocupações inerentes à nova ordem mundial. De que modo pode-se explicar o fenômeno da fome nos dias de hoje? a) A fome hoje é uma consequência da falência das economias da China, Índia e Indonésia, que estão entre as que melhor absorvem o impacto da crise. b) O número de miseráveis no mundo aumentou por causa da bipolarização econômica, que transferiu riquezas para os países periféricos do hemisfério sul. c) A produção de alimentos no mundo diminuiu drasticamente, devido à falta de investimentos econômicos na zona rural. d) A fome começou a se espalhar pelo mundo depois do início da globalização, quando milhões de pessoas abandonaram o campo, devido à industrialização e urbanização do meio rural. e) A crise econômica aumentou o desemprego e reduziu o poder de compra da população, além de ter contribuído para o aumento nos preços dos alimentos. 22. (Fuvest 2010) “O poder do cidadão, o poder de cada um de nós, limita-se, na esfera política, a tirar um governo de que não gosta e a pôr outro de que talvez venha a se gostar. Nada mais. Mas as grandes decisões são tomadas em uma grande esfera e todos sabemos qual é. As grandes organizações financeiras internacionais, o FMI, a Organização Mundial do Comércio, os bancos mundiais, tudo isso. Nenhum desses organismos é democrático. E, portanto, como é que podemos falar em democracia, se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo?” Discurso de José Saramago, disponível em www.revistaforum.com.br. Acessado em 11/9/2009 a) cristalizou-se como válvula de escape do desemprego. b) está inserida na conjuntura mundial de barateamento da mão de obra. c) implica o aumento da carga tributária paga pelos assalariados. d) absorve a parte da população jovem masculina que ingressa no mercado de trabalho. e) contribui para o aumento da flexibilização do mercado de trabalho. 20. (Unicamp 2009) Recentemente, a relação entre a expansão da produção de agrocombustíveis e a produção de alimentos entrou na agenda política internacional. Considerando esse fato, responda às questões: a) No Brasil, a produção de agrocombustíveis tem forte base na cultura da canade-açúcar. Aponte o principal impacto socioeconômico advindo do crescimento da produção de cana-de-açúcar e identifique os principais Estados brasileiros em que essa expansão vem ocorrendo mais fortemente. b) A implementação de uma política de soberania ou segurança alimentar tem sido indicada como alternativa à crise de alimentos. Quais os principais objetivos das políticas de segurança alimentar? 21. (Unesp 2010) Segundo Jacques Diouf, diretor-geral da FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação –, a crise silenciosa da fome, que afeta um sexto de toda a humanidade, constitui um sério risco para a segurança e a paz mundial (...). Hoje, o aumento da fome é um fenômeno global. Todas as regiões foram afetadas. Folha de S.Paulo, 20/6/2009 Na charge acima, o cidadão sentado representa o presidente de um país emergente. Considerando a referida charge, o texto e seus conhecimentos, a) caracterize a Nova Ordem Econômica Mundial. b) analise a relação entre regime político democrático e neoliberalismo, no mundo atual. 23. (Enem 2009 — prova anulada) Quatro olhos, quatro mãos e duas cabeças formam a dupla de grafiteiros Osgemeos. Eles cresceram pintando muros do bairro Cambuci, em São Paulo, e agora têm suas obras expostas na conceituada Deitch Gallery, em Nova Iorque, prova de que o grafite feito no Brasil é apreciado por outras culturas. Muitos lugares abandonados e sem manutenção pelas prefeituras das cidades tornam-se mais agradáveis e humanos com os grafites pintados nos muros. Atualmente, instituições públicas educativas recorrem ao grafite como forma de expressão artística, o que propicia a inclusão social de adolescentes carentes, 2011 atualidades vestibular + enem 229 Simuladão demonstrando que o grafite é considerado uma categoria de arte aceita e reconhecida pelo campo da cultura e pela sociedade local e internacional. Disponível em: http://www.flickr.com. Acesso em 10 de setembro 2008 (adaptado) No processo social de reconhecimento de valores culturais, considera-se que a) grafite é o mesmo que pichação e suja a cidade, sendo diferente de obra dos artistas. b) a população das grandes metrópoles depara-se com muitos problemas sociais, como os grafites e as pichações. c) atualmente, a arte não pode ser usada para a inclusão social, ao contrário do grafite. d) os grafiteiros podem conseguir projeção internacional, demonstrando que a arte do grafite não tem fronteiras culturais. e) lugares abandonados e sem manutenção tornam-se ainda mais desagradáveis com a aplicação do grafite. Em 1950, por outro lado, Vargas, ainda candidato à presidência, proclamava que: “(...) a criação de novos hábitos políticos, reclamada insistentemente pela opinião pública, dar-se-á pela presença efetiva do povo no trato e na solução dos problemas nacionais. (...) Somos uma Nação de economia ainda onerada por condições semicoloniais, em que a riqueza de possibilidades naturais contrasta com a pobreza do homem.” Citado por D’ARAÚJO, Maria Celina Soares. O Segundo Governo Vargas, 1951–1954. 2ª ed., São Paulo: Ática, 1992, p. 84 Observe o gráfico abaixo. TRANSPORTE NO BRASIL % 60 Indique um país que promova campanha de incentivo à natalidade, apresentando uma justificativa para isso. Em seguida, identifique um motivo pelo qual a população do Brasil não diminuiu entre 1982 e 2008, apesar dos dados acima apresentados. 40 30 20 27. (UFRJ 2010) 10 Ro d Fe oviá rro rio Aq viá u ri Du aviá o tov rio iár Aé io reo Ro d Fe oviá rro rio Aq viá u ri Du aviá o tov rio iár Aé io reo 0 2005 2025 Fonte: Plano Nacional sobre Mudança do Clima. www.mma.gov.br Acessado em 15de julho de 2009 a) Analise a matriz brasileira dos transportes, em 2005, considerando aspectos históricos e políticos. b) Explique a previsão da matriz brasileira dos transportes, para o ano de 2025, considerando aspectos ambientais implícitos. 25. (UFPR 2010) Getúlio Vargas foi presidente do Brasil de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Foram muitas as diferenças entre suas formas de atuação entre 1930 e 1937, entre 1937 e 1945 e entre 1951 e 1954. Leia os dois pronunciamentos seguintes, do próprio Vargas. Em 1937, dizia que: “(...) não se oferecia outra alternativa além da que foi tomada, instaurando-se um regime forte, de paz, de justiça e de trabalho. Quando os meios de governo não correspondem mais às condições de existência de um povo, não há outra solução senão mudá-los, estabelecendo outros moldes de ação.” Reproduzido de FENELON, Dea (org.). 50 Textos de História do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1974, p. 159 230 atualidades vestibular + enem 2011 A desconcentração industrial muda o Sudeste Brasileiro “O fenômeno da desconcentração industrial está modificando o perfil da economia da Região Sudeste. Durante boa parte do Século XX, de cada quatro indústrias, três ficavam no Sudeste. Hoje, embora ainda exista forte concentração de empresas, a realidade é outra. As indústrias estão se espalhando pelo país.” Almanaque Abril 2009 26. (Uerj 2010) 50 O aumento do número de acordos de integração regional foi um dos principais eventos nas relações internacionais nas últimas décadas. Praticamente todos os países são membro de algum bloco e muitos participam de mais de um. a) Apresente duas vantagens da criação de blocos econômicos para os países integrantes. b) Apresente uma característica que diferencia a União Europeia de outros acordos de integração regional. 28. (Unesp 2010) Nunca na história da humanidade houve tão grande concentração de poder nuns poucos lugares nem tamanha separação e diferença no interior da comunidade humana. Formou-se um mundo quase totalmente integrado – um sistema mundo – evidentemente controlado a partir de alguns centros de poderes econômicos e políticos. Olivier Dollfus, 1994 (adaptado) Neste sistema mundo contemporâneo, pode-se identificar que a) as maiores potências nucleares do século XXI são: Estados Unidos, França, Canadá, Japão, Alemanha, Índia e Paquistão. b) o Ocidente não tem medo da proliferação de armas nucleares principalmente em regimes hostis aos Estados Unidos. c) o Irã, a Síria e Mianmar formam um grupo de países que abriram mão de seus projetos voltados à proliferação da tecnologia de armas nucleares. d) a Coreia do Norte tem grande dependência da China, por ser esta a maior exportadora de alimentos e energia aos norte-coreanos. e) a paz entre os palestinos e Israel depende apenas de acordos com os EUA. Explique as mudanças no que se refere à a) política econômica. b) questão social. 32. (Mackenzie 2010) No que diz respeito à relação entre crescimento econômico e democracia, escreva um texto identificando as principais diferenças entre o Estado Novo (1937–1945) e o governo varguista que se estendeu de 1951 até seu suicídio em 1954. Pare de tomar a pílula Dia desses, podem lançar uma campanha para as mulheres brasileiras voltarem a ter mais filhos, como já acontece em alguns países mundo afora. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios revelam que, se dependesse apenas do nascimento de bebês, nossa população já teria encolhido: em 1982, eram 6,7 milhões de brasileiros com menos de um ano; em 2008, eram 5,2 milhões, ou seja, 1,5 milhão de brasileirinhos a menos no país. Adaptado de O Globo, 20/9/2009 24. (Fuvest 2010) 29. (UFBA 2010 — adaptada) DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL Logo após o final da Segunda Guerra Mundial (1945), o grande império soviético estava dividido administrativamente em 15 repúblicas federadas unidas por um governo central (Moscou). Essa organização se manteve até agosto de 1991, quando, após meio século de crescimento, o império soviético se desmantelou e a situação se modificou na transição para o capitalismo, deixando várias sequelas. (Adas, 2001, p. 35). Número de indústrias conforme a região do Brasil, em 2006 Total: 6.144.500 indústrias Centro-Oeste 7,1% Norte 3,5% Nordeste 15,6% Fundamentado no mapa, no texto e nos conhecimentos sobre a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e sua desintegração, a) mencione como se organizou o espaço da União Soviética quando foi desintegrado politicamente, em 1991; b) cite dois efeitos negativos ocorridos na Federação Russa, após o fim da União Soviética. Sudeste 50,5% Sul 23,3% Fonte: Cadastro Central de Empresas 2006/IBGE 30. (Enem 2009) A partir de 1942 e estendendo-se até o final do Estado Novo, o Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio de Getúlio Vargas falou aos ouvintes da Rádio Nacional semanalmente, por dez minutos, no programa “Hora do Brasil”. O objetivo declarado do governo era esclarecer os trabalhadores acerca das inovações na legislação de proteção ao trabalho. GOMES, A. C. A Invenção do Trabalhismo. Rio de Janeiro: IUPERJ / Vértice. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988 (adaptado) Os programas “Hora do Brasil” contribuíram para a) conscientizar os trabalhadores de que os direitos sociais foram conquistados por seu esforço, após anos de lutas sindicais. b) promover a autonomia dos grupos sociais, por meio de uma linguagem simples e de fácil entendimento. c) estimular os movimentos grevistas, que reivindicavam um aprofundamento dos direitos trabalhistas. d) consolidar a imagem de Vargas como um governante protetor das massas. e) aumentar os grupos de discussão política dos trabalhadores, estimulados pelas palavras do ministro. 31. (Fuvest 2010) O conceito de revolução, aplicado ao movimento de 1930 no Brasil, é alvo de polêmica entre historiadores. Independentemente da controvérsia, não há como negar que houve mudanças importantes, nessa década, com relação às diretrizes da política econômica e à questão social. Em relação à desconcentração industrial brasileira nos últimos anos, considere I, II e III a seguir. I. Os governos estaduais oferecem vantagens, como isenção de impostos e mais infraestrutura, às empresas que se instalarem em seu território. A competição é chamada de “Guerra Fiscal”. II. Os mercados das regiões Norte e Nordeste tornaram-se mais exigentes nas últimas décadas, buscando maior qualidade e diversidade comercial. Assim sendo, as empresas se mobilizam com vistas a rendimentos regionais. III. Os estados da Região Sul e o Mato Grosso do Sul, no Centro–Oeste, ficam mais próximos dos integrantes do bloco Argentina, Uruguai e Paraguai, o que facilita o transporte de mercadorias, ampliando as relações comerciais com o Mercosul. Dessa forma, a) apenas I está correta. b) apenas I e II estão corretas. c) apenas II e III estão corretas. d) apenas I e III estão corretas. e) I, II e III estão corretas. 33. (FGV Economia 2010) Em 26 de junho de 2009, foi publicada no Diário Oficial da União a lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que trata da regularização fundiária de terras ocupadas na Amazônia (MP 458). O presidente fez apenas dois vetos na lei que permite, a partir de hoje, a regularização de posses de até 1,5 mil hectares da Amazônia. (www.estadao.com.br/noticias/nacional. Acesso em 17.8.2009) 2011 atualidades vestibular + enem 231 Simuladão Antes de tornar-se Lei, a Medida Provisória 458 tramitou pelo Congresso Nacional e provocou calorosos debates entre ambientalistas e ruralistas. Leia alguns comentários sobre a MP 458. I. A partir da MP é que o governo poderá avançar na ordenação fundiária, no zoneamento econômico-ecológico e nas políticas de incentivo ao desenvolvimento regional. II. É uma medida de urgência. Se não houver flexibilização diante da situação de fato de ocupação da Amazônia, a regularização ficará permanentemente comprometida. III.Não há nenhum tipo de garantia de que o processo de regularização de posses venha de fato a aprimorar o ordenamento fundiário da região. IV. A Medida vai premiar um modelo de desenvolvimento que não prioriza o uso sustentável da floresta. Assinale a alternativa que identifica, respectivamente, os argumentos dos ambientalistas e dos ruralistas. Suponha que tenha sido observada, em uma vila rural localizada a 100 km de distância do mar de Aral, alguns anos depois da implantação do projeto descrito, significativa diminuição na produtividade das lavouras, aumento da salinidade das águas e problemas de saúde e em sua população. Esses sintomas podem ser efeito Ambientalistas Ruralistas a) I – II III – IV b) I – III II – IV c) I – IV II – III d) II – III I – IV e) III – IV I – II a) da perda da biodversidade da região. b) da seca dos rios da região sob influência do projeto. c) da perda de áreas úmidas nos arredores do mar de Aral. d) do sal trazido pelo vento, do mar de Aral para a vila rural. e) dos herbicidas utilizados nas lavouras de arroz e algodão do projeto. Observe o gráfico abaixo e responda às questões: EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER – POR REGIÃO 1995 – 2000 Expectativa de vida ao nascer — Em anos 1965 – 1970 75 66 52 50 53 71 59 70 75 65 56 43 (Mackenzie 2008) Examine as seguintes afirmações a respeito da industrialização brasileira. I. No Brasil, desde a década de 1970, já se observa uma relativa desconcentração industrial, em virtude dos primeiros sinais de esgotamento de São Paulo e das vantagens oferecidas por outras cidades e unidades da federação, em decorrência da guerra fiscal facilitada pela Constituição de 1988. II. Os mais novos polos industriais de São Paulo, os chamados centros tecnopólos, são os do Vale do Ribeira, com destaque para São José dos Campos, e os de Campinas, que se desenvolveram na década de 1980. III.A abertura da economia brasileira e a criação do Mercosul vêm contribuindo para uma nova reconcentração industrial no Centro-Sul, o sistema just-intime, no qual o importante é fabricar e colocar rapidamente o produto no mercado. 25 0 África Ásia Países América Latina Média Desenvolvidos Mundial e Caribe Fonte: modificado de http://esa.un.org/unpp a) Indique a(s) região(ões) do globo com taxa de esperança de vida ao nascer inferior à média mundial, nos intervalos 1965-1970 e 1995-2000. Indique a região representada no gráfico com o melhor desempenho no aumento de expectativa de vida ao nascer entre os períodos 1965/1970 e 1995/2000. b) Por que, entre os períodos 1965/1970 e 1995/2000, houve aumento da esperança de vida ao nascer em todas as regiões indicadas no gráfico? 35. (Enem 2009 — prova anulada) O mar de Aral, um lago de água salgada localizado em área da antiga União Soviética, tem sido explorado por um projeto de transferência de água em larga escala desde 1960. Por meio de um canal com mais de 1.400 km, enormes quantidades de água foram desviadas do lago para a irrigação de plantações atualidades vestibular + enem 2011 38. (Unesp 2009) No ano de 2006, a China, com 6,2 bilhões de t/ano, tornou-se o principal emissor mundial de gases-estufa, superando os Estados Unidos (5,8 bilhões de t/ano), segundo dados divulgados pela ONU em 2008. Assinale a alternativa que contém um dos fatores do aumento chinês de emissões de gases-estufa. Assinale a) se todas estão corretas. b) se apenas I e III estão corretas. c) se apenas I está correta. d) se apenas II e III estão corretas. e) se todas estão incorretas. 37. (Fuvest 2009) Existem semelhanças entre as ditaduras militares brasileira (1964-1985), argentina (1976-1983), uruguaia (1973-1985) e chilena (1973-1990). Todas elas a) receberam amplo apoio internacional tanto dos Estados Unidos quanto da Europa Ocidental. b) combateram um inimigo comum, os grupos esquerdistas, recorrendo a métodos violentos. c) tiveram forte sustentação social interna, especialmente dos partidos políticos organizados. d) apoiaram-se em ideias populistas para justificar a manutenção da ordem. e) defenderam programas econômicos nacionalistas, promovendo o desenvolvimento industrial de seus países. e) a substituição de importações e a implantação de cadeias complexas para a produção de matérias-primas e de bens intermediários. 41. (Mackenzie 2010) a) Desmatamento acelerado em todo o país para o cultivo de arroz irrigado. b) Geração de energia, principalmente por queima de carvão mineral, o mais poluente dos combustíveis fósseis. c) Matriz energética baseada apenas no petróleo, por ser um dos principais produtores mundiais. d) Maior frota mundial de veículos agrícolas, o que a coloca como uma das agriculturas mais mecanizadas da Ásia. 39. (UFRJ 2010 — adaptado) (Cartoon chinês ironizando o fato de que o crescimento econômico daquele país está representando uma ameaça às relações familiares) “Mesmo atingida pela crise internacional, a produção na China continua em crescimento e a sua economia alcança a terceira posição entre as maiores do mundo.” 36. 34. (Unicamp 2010) 232 de arroz e algodão. Aliado às altas taxas de evaporação e às fortes secas da região, o projeto causou um grande desastre ecológico e econômico, e trouxe muitos problemas de saúde para a população. A salinidade do lago triplicou, sua área superficial diminuiu 58% e seu volume, 83%. Cerca de 85% das áreas úmidas da região foram eliminadas e quase metade das espécies locais de aves e mamíferos desapareceu. Além disso, uma grande área, que antes era o fundo do lago, foi transformadas em um deserto coberto de sal branco e brilhante, visível em imagens satélites. MILLER JR., G.T. Ciência Ambiental. São Paulo: Editora Thomson, 2007 (adaptado) (http://br.cinema.yahoo.com/filme) O premiado documentário brasileiro “Condor”, de 2007, dirigido por Roberto Mader, resgatou diferentes versões do que ficou conhecido como “Operação Condor”, ou seja, um conjunto de ações político-militares coordenadas, nos anos 70 do século passado, por diversos governos da América Latina, como Chile, Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Apresente um argumento dos governos envolvidos na Operação para levá-la adiante. 40. (Enem 2009 — prova anulada) A industrialização no Brasil é fenômeno recente e se processou de maneira bastante diversa daquela verificada nos Estados Unidos e na Inglaterra, sendo notáveis, entre outras características, a concentração industrial em São Paulo e a forte desigualdade de renda mantida ao longo do tempo. Outra característica da industrialização brasileira foi a) a fraca intervenção estatal, dando-se preferência às forças de mercado, que definem os produtos e as técnicas por sua conta. b) a presença de políticas públicas voltadas para a supressão das desigualdades sociais e regionais, e a desconcentração técnica. c) o uso de técnicas produtivas intensivas em mão de obra qualificada e produção limpa em relação aos países com indústrias pesadas. d) a presença constante de inovações tecnológicas resultantes dos gastos das empresas privadas em pesquisa e em desenvolvimento de novos produtos. A respeito da prosperidade e da franca expansão econômica da China, desde a década de 1970, considere as afirmações I, II, III e IV, abaixo. I. O gigante asiático conta com reservas de quase 2 trilhões de dólares, graças aos seguidos superávits na balança comercial e aos investimentos estrangeiros no país. II. Em 2007, a China chegou ao terceiro lugar entre as maiores economias do globo, à frente da Alemanha, e atrás, apenas, dos EUA e do Japão. III.Deng Xiaoping, após a morte de Mao, sobe ao poder e lança as Quatro Grandes Modernizações (indústria, agricultura, ciência-tecnologia e forças armadas). Foram criadas as Zonas Econômicas Especiais, para atrair as empresas estrangeiras. IV. O modelo de desenvolvimento adotado se baseia na abundância de mão de obra especializada e bem distribuída por todo o território, contando com a obtenção de subsídios estatais e com a atração de investimentos estrangeiros. Estão corretas, apenas, a) I e II. b) II e III. c) I, II e IV. d) I, II e III. e) III e IV. 42. (Fuvest 2008) “A União Europeia (UE), composta de 27 países, apresenta um sistema político historicamente único, que vem evoluindo há mais de 50 anos.” Adaptado de Pascal Fontaine, 2007 a) Cite duas nações, membros da UE, que não aderiram à moeda única, o Euro. Explique o porquê dessa não adesão. b) Outros países europeus estão reivindicando sua entrada para a UE. Cite um desses países e explique um motivo para tal reivindicação. c) Cite uma exigência para um país ser aceito no bloco da UE. Explique. 2011 atualidades vestibular + enem 233 Simuladão 43. (Uerj 2010) 45. (Enem 2009 — prova anulada) MUDANÇAS NA ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA população entre 0 e 14 anos população acima dos 60 anos % 40 Inundações naturais dos rios são eventos que trazem benefícios diversos para o meio ambiente e, em muitos casos, para as atividades humanas. Entretanto, frequentemente as inundações são vistas como desastres naturais, e os gestores e formuladores de políticas públicas se veem impelidos a adotar medidas capazes de diminuir os prejuízos causados por ela. Qual das medidas abaixo contribui para reduzir os efeitos negativos das inundações? a) a eliminação de represas e barragens do leito do rio. b) a remoção de vegetação que acompanha as margens do rio. c) a impermeabilização de áreas alagadiças adjacentes aos rios. d) a eliminação de árvores de montanhas próximas do leito do rio. e) o manejo do uso do solo e a remoção de pessoas que vivem em áreas de risco. 35 30 25 20 15 10 46. (UFRJ 2010) 5 0 1980 1990 2000 2010 2020 A Nova Aliança www.ibge.gov.br R e sp o sta s e co m en tári o s 1. A questão traz dois gráficos, um que mostra o déficit habitacional por região do Brasil e outro que apresenta a participação do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, também por região. Ao fazermos uma análise dos gráficos, é possível perceber que o fato de uma região ter um alto PIB não quer dizer que tenha pequeno déficit habitacional. Isso porque, mesmo que determinada região produza bastante riqueza, isso não é garantia de que essa riqueza seja distribuída de forma igualitária entre os seus moradores. Podemos concluir que, conforme aponta a afirmativa I, a Região Sudeste de fato responde por mais da metade do PIB nacional e, da mesma forma, apresenta o maior déficit habitacional, o que mostra que uma forte concentração de riqueza não garante acesso à moradia. A afirmativa II está incorreta, pois a Região Nordeste apresenta desigualdades sociais que podem ser verificadas na análise dos próprios gráficos da questão – a região apresenta problemas habitacionais, que refletem a concentração de renda. O erro da afirmativa III está na frase “isso significa que o déficit habitacional é um problema desvinculado da produção/distribuição de riqueza”, o que difere do que foi posto antes. Resposta: A A partir da análise do gráfico, é possível projetar a redução da demanda por investimento público no seguinte segmento: a) sistema de previdência social b) infraestrutura de apoio ao turismo c) rede de escolas de ensino fundamental d) programa de atendimento médico-hospitalar 2. 44. (Mackenzie 2009) “(...) Para os mais velhos, Mao é um constrangimento. É raro encontrar quem o defenda. Ao fim da viagem, quando eu já me conformava com o ritmo lento e as respostas esquivas dos chineses, testemunhei a única reação direta, quase intempestiva, de um professor de Economia da Universidade de Tsing-Hua, Denggao Long. Ao indagar se as mudanças na China mostravam uma verdadeira revolução de Deng, Long deu um pulo na cadeira e até arriscou o inglês: ‘Revolução? Não! Reforma.’ Eu sorri, e ele continuou: ‘Revolução, nunca mais na China. A Revolução Cultural foi uma tragédia, um erro (...)” Revista Época, 6/2008 Que aspecto da Revolução Cultural Chinesa, ocorrida entre as décadas de 1960/1970, justificaria a afirmação destacada no trecho acima? Assinale a alternativa que responde, corretamente, à questão. a) A Revolução Cultural agiu em favor da burocratização do Estado Chinês e da planificação excessivamente centralizada da economia. b) No plano econômico, a Revolução Cultural atrasou o avanço tecnológico do país, entre outros aspectos, devido às inúmeras perseguições a intelectuais, cientistas e educadores. c) Por meio da mudança de mentalidade, o governo maoísta pretendia consolidar os ideais revolucionários burgueses, em detrimento da massa camponesa. d) A Revolução Cultural combateu, duramente, o isolamento tradicional da cultura chinesa, valorizando o cosmopolitismo e a inovação criadora trazida pelo Comunismo. e) Defendendo uma revolução proletária urbana, nos moldes da Revolução Russa, Mao Tse-tung precisou usar de extrema violência para conter a participação da massa camponesa, o que resultou em massacre. 234 atualidades vestibular + enem 2011 (Courrier Internacional – 6/4/2009) China e Estados Unidos são hoje protagonistas na condução de grandes temas globais. O presidente da China, Hu Jintao, listou uma vasta coleção de temas em relação aos quais ele e o presidente americano, Barak Obama, estão dispostos a atuar em benefício mútuo. Adaptado de Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo, 18/11/2009 Apresente dois fatores que têm levado a uma aproximação cada vez maior entre os Estados Unidos e a China. 47. (Unicamp 2008) “Saem as economias costeiras do Brasil e da China e entra o interior dos dois países. Em vez da Índia e Rússia, estão Filipinas, Indonésia, México, Turquia e Vietnã. Serão esses os ‘novos BRICs?’”. (Folha de S.Paulo. Sérgio Dávila, “Brasil rural desponta entre novos BRICs.”, 23/9/2007, p. C3) a) O acrônimo BRIC se forma pela junção da primeira letra dos nomes de um grupo específico de países. Quais são esses países e qual a similaridade que eles apresentam? b) Quais as principais causas do crescimento elevado da China na última década? A globalização ganhou maior intensidade no fim do século XX, em razão da revolução tecnológica, especialmente no setor de telecomunicações. Além de trocas de informações, a globalização apresenta uma maior integração de mercado entre os países. Nesse período, multiplicam-se os blocos econômicos, como a União Europeia, o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e o Mercosul, como aponta a afirmativa I. A crise econômica mundial teve origem no colapso do mercado imobiliário dos EUA – o estouro da “bolha imobiliária”, quando grandes empresas de financiamento de imóveis quebraram. Isso aconteceu porque boa parte das pessoas que haviam tomado empréstimos (os clientes “subprime”) para comprar imóveis não estava conseguindo pagar as prestações, conforme aponta a afirmativa II. A afirmativa III está correta, pois os fatores listados são reais ameaças ao abastecimento mundial de alimentos. O erro da afirmativa IV é dizer que os países emergentes ficaram à margem da crise, pois eles também foram atingidos (mesmo que em menor escala). O Brasil, como quase todos os países do mundo, ainda sente reflexos da crise, mas foi um dos países menos afetados por ela, conseguindo ter bom crescimento econômico em 2008 e manter o PIB em 2009 (ao contrário de diversos países ricos, que entraram em forte recessão). Assim, está correta a afirmativa V. Quanto à afirmativa VI, esta está errada, pois sua descrição não corresponde ao que aconteceu. Com relação à afirmativa VII, os EUA respondem por cerca de um quarto da produção mundial, e, por causa disso, quando sua economia foi atingida pela crise, o mercado global sofreu duras consequências. A rapidez com que isso ocorreu foi bem maior do que em 1929, pois hoje o mercado mundial é muito mais interligado, o que torna a afirmativa certa. Resposta: são corretas as afirmativas I, II, III, V, VII 3. Como é possível perceber, o texto de dom Paulo Evaristo Arns refere-se à ditadura militar no Brasil, que foi uma dentre outras no continente no mesmo período. Os Estados Unidos apoiaram a instalação desses regimes, obedecendo ao plano de segurança do hemisfério, como forma de evitar o surgimento de novos governos socialistas ou comunistas, como o de Cuba. A alternativa correta é C. Veja por que as demais estão erradas: em A, afirmar que a associação entre o tráfico de drogas e a guerrilha colombiana das Farc “assolava a América do Sul” é generalizar a afirmação e o conflito; em B, o conceito de “guerra das civilizações” é recente, refere-se ao choque de ideias entre o Islã e o Ocidente e é posterior ao período das ditaduras na América do Sul; e, em D e E, as influên cias do nazismo e do positivismo são anteriores a esse período. Resposta: C 4. Descarta-se a afirmativa I, pois o texto afirma que a produção de etanol de segunda geração nos EUA ainda nem atingiu a escala comercial. Segundo a afirmativa II,e de acordo com as análises do texto 2 presente no enunciado da questão, é possível dizer que, ao utilizar os resíduos de cana-de-açúcar, de milho ou outras matérias-primas vegetais, produz-se mais energia utilizando menos matérias-primas originais, ou seja, sem prejudicar a produção de alimentos. A alternativa III não está correta, pois a charge não sintetiza os temas tratados no texto 2. Ao analisá-la, vê-se que o tema é sempre o mesmo, só mudando sua causa: a falta de alimento é ocasionada por diversos fatores, conforme apontam as alternativas IV e VI. A afirmativa V está errada, pois o texto II não aborda a questão ambiental. Resposta: as afirmativas corretas são II, IV e VI 5. Note que esta questão exige uma leitura atenta, pois, apesar de se estender sobre diferentes aspectos da migração, a maioria das afirmações não é retirada do texto. Resta apenas a primeira afirmação, de que a migração no Brasil é significativa em quantidade, da qual se deduz que ela provoca o inchaço urbano, indicado corretamente na alternativa C. O texto não faz nenhuma menção a ações do governo para estimular as migrações, conforme se afirma em A, a que os governos do Sudeste priorizem a qualificação da mão de obra migrante, como diz a alternativa B. Embora cite dados do IBGE de que a maior parte (48,6%) dos que migraram para o Sudeste em 1996 passou a exercer trabalhos manuais não qualificados, o texto não afirma que houve valorização do trabalho manual, o que invalida a alternativa D. E, ao contrário do que aponta a alternativa E, a falta de especialização limita a versatilidade profissional. Resposta: C 6. A Chechênia é uma região estratégica para o governo russo. Nesse território passam diversos oleodutos que levam petróleo da região do mar Cáspio para os portos russos localizados no mar Negro. O que torna correta a afirmação II. Além de sua importância econômica, a Chechênia possui um movimento nacionalista e separatista, o que a torna uma ameaça de um processo de desagregação da Federação Russa, como afirma a alternativa III. A disputa pela região da Chechênia é antiga: começou no regime de Josef Stálin, quando milhares de chechenos foram deportados para outras partes da então União Soviética e imigrantes russos colonizaram a área. Com o desmantelamento da URSS, a região se declarou independente. Em 1999, foi novamente ocupada pelos russos, e os chechenos passaram a realizar ações terroristas como forma de luta pela independência e pelo fim da ocupação. Portanto, estão corretas as afirmativas II e III. Resposta: B 2011 atualidades vestibular + enem 235 Simuladão 7. Esta questão cobra do leitor atenção e análise para respondê-la. Note que a simples subtração do total populacional dos anos 2000 e 1980 (169 milhões menos 119 milhões), na primeira linha da tabela, já resulta em um crescimento populacional no Brasil de 50 milhões de pessoas. Esse número elimina as respostas A e C, em que se afirma um crescimento de 70 milhões e 60 milhões. Observe que a distribuição percentual de homens e mulheres se mantém, com alterações apenas em casas centesimais, o que permite afirmar que basicamente ela não mudou. As diferenças numéricas que se destacam são a do envelhecimento gradual da população e a do aumento da população urbana sobre a rural. Resposta: E 8. a) A cidade que mais concentra nordestinos fora do Nordeste brasileiro é São Paulo. Principalmente a partir da década de 1950, o desenvolvimento econômico no Sudeste – especialmente no estado de São Paulo – foi um fator de grande atração de migrantes nordestinos. Nesse período, houve expansão econômica tanto na agricultura quanto em diferentes setores industriais, inclusive os que empregam mão de obra com pouca especialização, como o da construção civil e a agroindústria da cana-de-açúcar. b)As principais determinantes desse processo migratório foram os diferentes estágios de desenvolvimento econômico e social entre as regiões, as desigualdades em distribuição de renda, o acesso a direitos e serviços sociais como alimentação, saúde, educação e trabalho. Enquanto o Sudeste se desenvolvia, com melhor distribuição das terras agrícolas e diversas frentes de avanço industrial, o Nordeste permanecia com concentração fundiária, a ocorrência de secas e desemprego. Assim, as oportunidades de trabalho e renda no Sudeste atraíram populações das regiões menos desenvolvidas. Como resultado, houve concentração populacional e econômica que aprofundou a desigualdade que já existia entre as regiões brasileiras. Em 1970, por exemplo, o estado de São Paulo produzia 39,4% do PIB brasileiro e a Região Sudeste, 65%. 9. Ao elencar as diferentes nacionalidades de produtos e elementos culturais e sociais e contrapô-las ironicamente à afirmação “apenas o seu vizinho é estrangeiro”, o cartaz faz uma crítica direta ao nacionalismo. Essa crítica não poderia ser ao eurocentrismo, já que são citadas a cultura grega e a italiana e não há no texto palavras associáveis a regiões ou locais. Resposta: B 10. A Rússia tem apresentado decréscimo na sua população absoluta, com queda de 141,8 milhões de habitantes em 2008 para 140,9 milhões em 2009. Essa diminuição resultou de alta taxa de mortalidade e baixa expectativa de vida, principalmente entre os homens. Assim, houve redução da população ativa do país, que vem apresentando um grande déficit. A situação da Rússia se apresenta mais grave do que a dos países da Europa Ocidental, que também enfrentam problemas parecidos, mas é amenizada por estes receberem alto número de imigrantes para trabalhar (a população ativa). Assim, a Rússia enfrenta uma situação social e demográfica alarmante. Resposta: B 236 atualidades vestibular + enem 2011 11. A Venezuela aparece nos dois gráficos por ser uma grande potência energética, o quinto maior exportador mundial de petróleo, conforme aponta a alternativa E. A afirmação A está errada porque a Venezuela apenas teve aceito seu pedido para ingressar no Mercosul, mas a sua entrada ainda não foi confirmada. A alternativa B está errada porque os gráficos mostram reservas provadas que podem ou não estar sendo exploradas. Nada nos gráficos remete às afirmações C, sobre danos ambientais, ou D, sobre comprometimento com setores da indústria. Resposta: E 12. A migração de pessoas das áreas rurais para as cidades é uma das características importantes da urbanização. A rede urbana é o conjunto de interrelações entre áreas urbanas ou cidades. Nessa rede urbana, as cidades mais influentes assumem o topo da hierarquia urbana e polarizam as influências, tanto econômicas quanto sociais. As cidades centrais, geralmente densamente urbanizadas, que assumem destaque, são as metrópoles. Sendo assim, a alternativa correta é a que apresenta a ordem IV, III, I, II e V. Resposta: C 13. Ao analisar os mapas da questão, é possível perceber que houve um avanço no cultivo de cana-de-açúcar no estado de São Paulo. Esse aumento pode ser entendido pelo fato da crescente demanda por etanol, tanto interna quanto externa, cuja matériaprima é a cana-de-açúcar. A União Europeia, por exemplo, tem como meta, até 2020, fazer crescer a sua frota de automóveis rodando com etanol em até 10%, e os Estados Unidos também pretendem ampliar bastante o uso desse combustível, pois o etanol é bem menos poluente do que os combustíveis derivados do petróleo. Como a produção de cana-de-açúcar tem se tornado bastante rentável, ela vem substituindo a atividade de pecuária, que era comum no oeste do estado, e invadindo também parte do espaço antes destinado à produção de gêneros alimentícios, como apontam as afirmações II e III. Com isso, pode-se concluir que a alternativa correta é a que indica as três afirmativas como corretas. Resposta: E 14. a) O conceito de metrópole refere-se a uma cidade que está no centro de um processo de conurbação – quando as aglomerações urbanas de duas cidades diferentes se encontram, formando uma única mancha urbana –, pelo seu equipamento urbano, sua infraestrutura e seu grande porte econômico. Essa cidade principal exerce um poder centralizador na hierarquia urbana. b)Sem dúvida, a dinâmica econômica de São Paulo determinou a sua expansão física, que levou à incorporação de municípios vizinhos, formando uma metrópole. Entre os fatores econômicos responsáveis por esse crescimento urbano, ou o processo de metropolização, podemos destacar o crescimento industrial e a expansão do setor de serviços. 15. a) De acordo com a análise do gráfico, é possível perceber que, de 1920 a 2000, a população urbana brasileira passou de apenas 16% da população total do país para 81,2%. Em contrapartida, a população rural encolheu, passando de 84% em 1920 para 28,8% em 2000. Com a urbanização, houve muitas mudanças demográficas: cresceu a escolarização do brasileiro, subiu a renda e as famílias reduziram de tamanho, com a queda do índice de natalidade. b)O aumento da população urbana se deu, principalmente, por causa da industrialização. No Brasil, até o Censo de 1940, apenas um terço da população vivia nas cidades. Nas décadas seguintes, o desenvolvimento de indústrias nas cidades e da agricultura mecanizada transferiu cada vez mais moradores do campo para as cidades. Se, por um lado, quando as pessoas vivem nas cidades, há mais acesso a empregos, eletricidade, transportes, escolas, hospitais, cultura e lazer, há também um lado negativo, já que há um “inchaço” urbano, pois muitas cidades não estão preparadas para receber o contingente extra de população. O resultado é um colapso dos serviços urbanos, com a ampliação das favelas, a falta de transporte público, de vagas nas escolas, de leitos hospitalares. Assim, parte da população que migra do campo enfrenta uma vida de miséria nas zonas urbanas. 16. A expectativa de vida da população, consolidada em um índice, resulta principalmente das condições de saúde existentes em cada país, da qualidade de vida e do perfil educacional da população. Durante o século XX, a tendência para o aumento da população de idosos ocorreu nos países ricos, onde o elevado padrão de renda combinado a políticas de serviços públicos garantiu longevidade. Contudo, para os primeiros 50 anos deste século, a Organização das Nações Unidas prevê que a maioria da população de idosos estará nos países subdesenvolvidos, especialmente os de economia emergente e com mais de 1 bilhão de habitantes, como Índia e China. Isso será resultado de políticas que reduzem atualmente as taxas de natalidade e de mortalidade infantil, do maior acesso a medicamentos e ao uso de anticoncepcionais e da melhoria das condições de saneamento. Resposta: D 17. A formação da chuva (precipitação de água) está diretamente relacionada com a temperatura atmosférica. De forma geral, sempre que a temperatura aumenta, crescem a formação de vapor e as possibilidades de chuva. Portanto, as ações humanas, ou atividades antropogênicas, são capazes de provocar interferências no que diz respeito às chuvas, em escala local e global. O que torna correta a alternativa E. As alternativas A e C são incorretas, pois com aumento do calor tende a ocorrer maior evaporação, mais umidade e chuvas, mesmo que algumas regiões se tornem áridas. A alternativa D também é errada, pois com o derretimento de geleiras perenes haverá mais água para criar vapor e provocar chuvas. Resposta: E 18. O Brasil concentra a sua população próximo à faixa litorânea. Isso é resultado do processo histórico de ocupação do país. A ocupação do interior intensificou-se após a industrialização, que ocorreu de forma mais significativa no século XX. Por isso, podemos afirmar que a alternativa I está correta. O país possuía, em 2008, mais de 5,5 mil cidades. Mas quase 5 mil tinham menos de 50 mil moradores e apenas 37 possuíam mais de 500 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, podemos concluir que há uma aglomeração urbana intensa em poucas cidades brasileiras e uma urbanização menor na maioria delas. Como aponta a afirmativa IV. A afirmação II é incorreta por não estar amparada em nenhum dos dois textos apresentados; a afirmação III é incorreta ao afirmar que a rede urbana se distribui no território de forma homogênea, quando ela ainda se concentra no litoral. Resposta: A 19. A informação de que não há mais relação direta entre o aumento da oferta do trabalho formal e a diminuição do número das atividades informais confirma que o trabalho informal é uma importante válvula de escape para os desempregados de todo o Brasil. Há quem afirme, inclusive, que, caso a economia informal passasse a ser formal, o PIB do Brasil aumentaria significativamente. Resposta: A 20. a) A expansão do cultivo de cana-de-açúcar, no Brasil, para a produção de álcool combustível foi intensificada a partir das décadas de 1970 e 1980, com a criação do programa Proálcool. Nessas décadas iniciais, a expansão da cana acarretou concentração fundiária para os plantios, a expulsão de trabalhadores do campo para as cidades e o uso de mão de obra avulsa para as colheitas, sem contratos de trabalho, os boias-frias. Nos anos 2000, a tendência de expansão da cana foi acentuada, com o crescimento da frota de automóveis bicombustíveis (gasolina e álcool) e o aumento do consumo de álcool combustível no exterior, que gera exportações. A expansão dos cultivos de cana está ocorrendo principalmente no Sudeste (em São Paulo e em áreas de Minas Gerais), no Sul (Paraná) e no Centro-Oeste (Goiás e Tocantins). A principal consequência é a substituição, pela cana, de áreas de pastagem e de outros cultivos agrícolas. Nos últimos anos, a expansão do uso de combustíveis vegetais, como o álcool de cana-de-açúcar e de milho e o biodiesel feito de soja, entre outros grãos, foi apontada como um fator de redução da produção de alimentos e de seu encarecimento, o que agrava as condições de fome e subnutrição nos países pobres, especialmente na África. Entre as razões do encarecimento está também o crescimento da renda per capita e do consumo de alimentos na China. b)Um dos principais objetivos da adoção de políticas de segurança alimentar é garantir a produção e o abastecimento de alimentos, para combater ou evitar a fome. A adoção dessas políticas evitaria que a produção agrícola para combustíveis provocasse a escassez de alimentos e a elevação de preços. 21. O aumento da fome é um fenômeno global. Milhares de pessoas passam fome, principalmente na África. O principal problema não é escassez de alimentos no mundo, mas os altos preços cobrados por eles. Essa situação se agravou com a crise econômica internacional, pois milhares de pessoas perderam o emprego, o que diminuiu seu poder de compra. Ao mesmo tempo, o preço dos alimentos subiu muito. No Brasil, por exemplo, essa alta foi a que mais contribuiu para o aumento da inflação, nos primeiros quatro meses de 2010, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Portanto, a alternativa correta é a E, que diz que a crise econômica aumentou o desemprego e reduziu o poder de compra da população, além de contribuir para aumentar o preço dos alimentos. Resposta: E 22. a) A Nova Ordem Econômica Mundial foi instituída após a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o fim da União Soviética, em 1991. Antes disso, o mundo vivia a Guerra Fria, dividido entre dois grandes blocos, o capitalista e o socialista. A partir de então, o cenário mundial passou a ser caracterizado pela presença de uma única superpotência, os Estados Unidos, e por um predomínio acentuado das regras do mercado e da ideologia chamada de neoliberalismo. Nessa nova ordem mundial, as organizações multilaterais 2011 atualidades vestibular + enem 237 Simuladão – Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização Mundial do Comércio (OMC), Banco Mundial, entre outras – passaram a ser importantes centros de decisão em nível global. b)O discurso de José Saramago, escritor português ganhador do Prêmio Nobel, dá uma abordagem para esse problema. Podemos dizer que, nos moldes da nova ordem econômica mundial, as grandes decisões econômicas globais estão no âmbito do neoliberalismo, que preconiza o enxugamento do estado, com a redução do serviço público e as privatizações, e adoção de medidas de livre circulação de capitais pelo mundo.Isso significa que os Estados nacionais perdem parte do poder de decisão sobre a política e a economia. Acontece que as eleições, que caracterizam o regime democrático, ocorrem no quadro dos Estados nacionais. Assim, há características importantes do neoliberalismo que atingem o regime político democrático, na medida em que retiram das nações e dos governos eleitos o poder de decisão sobre pontos importantes das áreas política e econômica. 23. As alternativas A e B são incorretas por mostrar o grafite como sujeira e como problema social, quando a afirmativa posta como questão pede que a resposta complemente o grafite, visto como reconhecimento de valores culturais no processo social. A alternativa C também é incorreta, já que o próprio texto afirma, ao final, que ”o grafite é considerado uma categoria de arte”. Também a afirmativa E é incorreta, por afirmar o contrário do que o texto afirma. O enunciado correto é o que afirma que os autores Osgemeos conseguiram projeção internacional. Resposta: D 24. a) Ao analisar o gráfico, é possível perceber que o principal meio de transporte no Brasil é o rodoviário. Essa é uma realidade tanto no transporte de passageiros quanto no de cargas. Esse cenário é resultado da história do investimento na matriz de transporte brasileira. Até a década de 1920, o grosso dos transportes no Brasil era feito por ferrovias e navegação. Mas esse quadro começou a mudar entre 1928 e 1955, período em que a malha ferroviária cresceu apenas 20%, enquanto a malha rodoviária cresceu cerca de 400%, principalmente na Região Sudeste. Na segunda metade da década de 1950, com o presidente Juscelino Kubitschek, as rodovias cresceram ainda mais, numa política de transportes voltada para desenvolver a indústria automobilística, em fase de expansão no Brasil. b) Como é possível perceber ao analisar o gráfico de 2025, trata-se de uma matriz de transporte mais equilibrada, com uma diminuição da participação da malha rodoviária e um aumento significativo dos transportes ferroviário e, sobretudo, aquaviário. Essa é a proposta do Plano Nacional de Logística de Transportes, criado pelo governo federal, que norteia os investimentos públicos e privados pelos próximos 15 anos visando a melhorar e a equilibrar a matriz nacional de transporte. Sua grande meta é ampliar a participação dos setores ferroviários e hidroviário de 38% para 61%. Tais previsões beneficiarão o país ambientalmente, com menor emissão de gases poluentes, atendendo às exigências ambientais nacionais aos compromissos externos assumidos. O principal motivo é que o transporte rodoviário, fortemente baseado no uso de combustíveis fósseis, é muito mais poluidor do que o transporte por trem e barco. 25. O Estado Novo (1937-1945) foi um período de ditadura institucionalizada, em que o presidente Getúlio Vargas, que havia sido eleito indiretamente no 238 atualidades vestibular + enem 2011 Congresso, assume completamente o poder: outorga uma Constituição própria, abole todos os partidos, fecha o Congresso, suspende as eleições, instala a censura na imprensa e persegue ou prende seus opositores, com o apoio de setores conservadores. É um período que soma o autoritarismo político com centralização das decisões administrativas e econômicas. Vargas realiza uma política econômica de forte atuação do Estado, que pretende dar maior autonomia ao país, com a criação de indústrias de base e substituição de importações. Cria uma legislação sindical que atrela os sindicatos ao Estado, enquanto adota leis de benefícios aos trabalhadores. Em seu último período de governo (1951 e 1954), como presidente eleito pelo voto direto, Getúlio Vargas não tem mais poder político para manter-se como ditador: governa com o funcionamento de partidos e do Congresso e flexibiliza a legislação de funcionamento dos sindicatos. Na economia, continua a adotar medidas de intervenção do Estado, como a estatização do setor elétrico e do petróleo. 26. A queda acentuada das taxas de natalidade é uma característica de países desenvolvidos e projeta, para o futuro de cada um, a ameaça de falta de mão de obra e insolvência do sistema de aposentadoria, com mais aposentados do que trabalhadores contribuintes. Também implica mudanças culturais, em razão da entrada contínua de trabalhadores estrangeiros. O Japão é um país que vem incentivando a sua população a ter mais filhos, pois registra queda contínua da população entre zero e 14 anos de idade. A nação possui um ministério especializado nessa questão, o de Planejamento Populacional e Igualdade entre Sexos. Entre as medidas adotadas pelo ministério para aumentar a natalidade no país está a de reduzir o número de horas extras, para que os casais fiquem mais tempo juntos. Outras nações que adotaram políticas pró-maternidade são a França e a Alemanha. No Brasil, um dos fatores que podemos apontar como responsáveis pela não diminuição da população entre os anos 1982 e 2008, apesar de ter diminuído a quantidade de crianças de zero a 14 anos de idade, é o aumento da expectativa de vida no país, como reflexo da melhoria geral das condições de vida e saúde. Em 2008, por exemplo, o brasileiro atingiu uma esperança de vida de 72,8 anos. 27. a) Entre as vantagens da criação de blocos econômicos para os países integrantes podemos citar: a redução ou isenção de taxas alfandegárias para determinados produtos entre os participantes, o aumento do volume das trocas comerciais entre eles, o maior poder de negociação com outros países e mercados internacionais, a padronização de regulamentações e normas comuns a produtos e serviços, o que reduz custos e preços e amplia o consumo. b)A principal diferença entre a União Europeia e outros blocos econômicos é ser o primeiro mercado unificado comum de países a adotar uma moeda única, o euro, ressalvando-se que esta ainda não foi adotada por vários países-membros, como é o caso do Reino Unido, Dinamarca e Suécia. A União Europeia também se diferencia por possuir uma legislação comum (principalmente o Tratado de Lisboa, que tem um caráter constitucional), ter uma instância política comum, o Parlamento Europeu, por permitir na maioria de seus países o livre trânsito, residência e trabalho de seus habitantes, pela adoção de padronizações técnicas, sanitárias e de consumo para grande quantidade de produtos e serviços. 28. A alternativa A está errada, pois Alemanha, Canadá e Japão não possuem bombas nucleares. A afirmativa B também é incorreta, pois os países ocidentais têm medo da proliferação de armas nucleares, principalmente em nações em que há regimes hostis aos Estados Unidos e aos europeus, como é o caso do Irã e da Coreia do Norte. Os países citados na alternativa C nunca declararam ter projetos voltados para a proliferação de armas nucleares, inclusive o Irã e a Síria dizem que enriquecem urânio (matéria-prima para confeccionar a bomba atômica) para fins pacíficos, como produzir energia. A afirmação E está errada, pois a questão entre palestinos e Israel não depende unicamente de um acordo com os Estados Unidos. A alternativa correta é a D, que afirma apenas que a Coreia do Norte é aliada da China, de quem compra alimentos e energia. Resposta: D 29. a) Em 31 de dezembro de 1991, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) deixou de existir, dividindo-se em 15 repúblicas, das quais a principal é a Rússia. Para manter os países agrupados, foi criada a Comunidade de Estados Independentes (CEI), um fórum de coordenação política e econômica que reúne 12 das 15 ex-repúblicas soviéticas. As três repúblicas bálticas – Estônia, Letônia e Lituânia – romperam mais profundamente suas relações com os russos, não quiseram aceitar a CEI e se aproximaram da Europa Ocidental (hoje são membros da União Europeia). b)Com o fim da União Soviética, a Federação Russa passa por um programa radical de desestatização e liberalização econômica, realizado pelo presidente Boris Ieltsin para transformar a nova república em capitalista. Alguns efeitos negativos a ser citados são a profunda recessão nos anos seguintes – com a queda vertiginosa da produção, fruto da desorganização da atividade econômica –, o aumento da inflação e o surgimento de diversas máfias em vários setores da economia. Houve também uma explosão do desemprego. Nesse cenário, passam a ocorrer muitos conflitos étnicos, como exemplifica a Chechênia, ocupada por tropas russas após declarar independência. 30. O populismo foi uma das características dos diferentes períodos de governo de Getúlio Vargas. Em linhas gerais, pode-se dizer que no populismo os governantes buscam apoio popular para implementar seus projetos políticos, utilizando diferentes meios, entre os quais a concessão de benefícios econômicos e sociais, projetos e medidas nacionalistas amparadas em um discurso patriótico. Getúlio Vargas criou o programa de rádio Hora do Brasil, para divulgar os seus feitos e consolidar a sua imagem como um governante protetor das massas, conforme aponta a alternativa D. Resposta: D 31. a) O governo de Getúlio Vargas, que se iniciou com a Revolução de 1930, foi marcado por uma maior intervenção do Estado na esfera econômica e social. Entre as novas diretrizes para a economia brasileira, podem-se apontar: um maior incentivo à diversificação das atividades produtivas e os projetos de apoio à industrialização do país, baseada na substituição das importações. b)No plano social, Getúlio Vargas incorporou à legislação importantes mecanismos de proteção aos trabalhadores, como a Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a jornada de oito horas, férias remuneradas e o descanso semanal remunerado. Legalizou os sindicatos, ao mesmo tempo em que os vinculou e os subordinou às instituições de estado. 32. Como afirma a opção I, para atrair indústrias para seus estados ou cidades, os governos fazem uma disputa, conhecida como guerra fiscal, em que oferecem incentivos fiscais (que são redução ou isenção de tributos) e mais infraestrutura. A alternativa II está incorreta, porque as exigências dos mercados locais, do Norte ou Nordeste, não foram motivações de atração de indústria. O que atrai indústrias para o Nordeste, por exemplo, são fatores como as vantagens fiscais oferecidas, menor custo de mão de obra, a proximidade dos fornecedores de matérias-primas e também de mercados para exportar, como os Estados Unidos e a Europa. A proximidade geográfica com os demais países do Mercosul é um forte fator atrativo para a instalação de indústrias nas regiões Sul e CentroOeste do país, como mostra a alternativa III. Com isso, entre as alternativas dadas, as que melhor caracterizam a desconcentração industrial no Brasil nos últimos anos são a I e a III. Resposta: D 33 . A Medida Provisória nº 458 foi criada para tentar solucionar o histórico problema fundiário da Amazônia, que vem trazendo sérios danos ambientais à floresta. Para os ruralistas, essa medida realmente dará subsídios para que o governo federal avance na questão do zoneamento econômico-ecológico, e, com isso, a região conseguirá se desenvolver. Em contrapartida, os ruralistas consideram essa medida apenas emergencial. Os ambientalistas, por sua vez, acreditam que esse processo de regularização de terras não garantirá o ordenamento fundiário da região, não evitará o desmatamento e apenas garante a posse da terra sem priorizar o uso sustentável da floresta. Portanto, podemos concluir que as afirmações I e II são favoráveis aos ruralistas e a III e a IV a ambientalistas. Resposta: E 34. a) Os dados do gráfico mostram que, nos dois períodos, apenas a África apresentou média de idade de expectativa de vida ao nascer inferior nos dois períodos, pois, embora a Ásia tenha apresentado média inferior no primeiro período, esse continente a superou no período seguinte. Ainda analisando o gráfico, vê-se que a região que apresentou melhor desempenho no aumento da expectativa de vida ao nascer foi a Ásia. Atenção, portanto, ao enunciado, pois não está sendo perguntado qual continente tem as médias mais elevadas. b) Uma das explicações para o aumento da esperança de vida em todas as regiões é a intensificação do processo de urbanização, sobretudo na Ásia e na América Latina, o que possibilita a mais pessoas acesso a saneamento básico, atendimento médico e hospitalar, além de melhores condições de vida de forma geral, como acesso a trabalho, eletricidade e lazer, também importantes para aumentar a expectativa de vida de uma população. Nesse período, houve ainda importantes avanços tecnológicos em medicina e fármacos. 35. O mar de Aral – localizado entre o Cazaquistão e o Uzbequistão – ocupava uma área extensa, de quase 70 mil quilômetros quadrados, e era abastecido com grandes rios da região. Mas nos anos 1930 o governo da então União Soviética decidiu transformar a área em uma produtora de algodão e, como a região é desértica, desviou águas que abasteciam o Aral para irrigar as plantações. Durante algum tempo, o nível do mar se manteve, mas começou a declinar fortemente na década de 1960. Vinte anos depois, em 1980, a baixa da água 2011 atualidades vestibular + enem 239 Simuladão chegou a 1 metro por ano. Atualmente, a bacia do mar de Aral é um grande deserto. A redução do nível do mar fez vir à tona grandes bancos de sal, que são levados para longe pelos ventos fortes. Esse sal, conforme aponta a questão, pode ter sido responsável pela diminuição da produtividade da lavoura da vila rural fictícia e pelos aparentes problemas de saúde de sua população. Resposta: D 36. A afirmativa I está correta, pois a guerra fiscal entre as cidades e os estados brasileiros se intensificou após a Constituição de 1988. Também é correta a afirmativa III, de que a criação do Mercosul estimulou a abertura de empresas em estados do Sul em razão da proximidade com os demais países-membros do bloco econômico, Argentina, Uruguai e Paraguai. Portanto, a alternativa correta é a B, pois apenas I e III são corretas. A alternativa II está duplamente errada, pois o Vale do Ribeira, no sul paulista, é a região mais pobre do estado e não possui tecnopolos; a cidade de São José dos Campos fica no Vale do Paraíba. Resposta: B 37. As ditaduras militares citadas na questão – a brasileira, a argentina, a uruguaia e a chilena – combateram a ascensão de movimentos de esquerda, comum à intensa repressão, que incluiu muitas vezes tortura e assassinatos. A alternativa correta é a B. Em A) é incorreto afirmar que a Europa Ocidental apoiou essas ditaduras; em C), que todas tiveram apoio interno de partidos políticos, uma vez que as ditaduras se sobrepõem aos partidos ou os eliminam; em D), que essas ditaduras se apoiaram em ideias populistas, pois esse termo é utilizado para definir os governos nacionalistas com amplo respaldo popular; em E), que essas ditaduras defenderam programas econômicos nacionalistas, pois elas adotaram uma política oposta: de internacionalização de suas economias, abertura à entrada de empresas multinacionais e captação de financiamentos internacionais. Resposta: B 38. A principal causa do volume crescente de emissão de gases do efeito estufa na China é o uso intensivo de carvão mineral para produzir energia. Resposta: B 39. A Operação Condor foi criada formalmente em 1975 e estabelecia uma aliança entre os governos ditatoriais militares da América Latina, entre eles Chile, Brasil, Argentina e Uruguai. O acordo consistiu no apoio político e operacional entre os governos, para localizar, sufocar ou eliminar os que se opunham aos regimes autoritários. Por causa desse acordo, por exemplo, um brasileiro que se refugiasse no Chile para fugir de perseguição no Brasil poderia ser localizado e preso pelos órgãos da repressão chilena. Dessa forma, a Operação Condor criava uma imensa área comum de autoritarismo, ilegalidade e arbítrio. 40. A industrialização no Brasil foi lenta até a década de 1930. Na Era Vargas (1930-1945) começou a ser criada uma indústria de base e tiveram início uma política de substituição de importações e a criação de cadeias para produzir matérias-primas da indústria – por exemplo, com a criação da Companhia 240 atualidades vestibular + enem 2011 Vale do Rio Doce, para explorar minério de ferro, e da Companhia Siderúrgica Nacional, para transformar esse minério em aço. A alternativa correta é a E. Na resposta A, “intervenção estatal” se contrapõe ao conceito de “forças de mercado”; e, nas demais alternativas, B, C e D, o que se afirma não é o que ocorreu no país, o que seria: combate às desigualdades sociais, formação de mão de obra qualificada, desenvolvimento avançado de tecnologias de produtividade e ambientalmente limpas. Resposta: E 41. As três primeiras afirmações feitas são corretas, pois o panorama econômico recente da China começou a formar-se com as reformas iniciadas por Deng Xiaoping na década de 1970, com a política das Quatro Grandes Modernizações (da indústria, da agricultura, da ciência e tecnologia e das Forças Armadas) e a criação de Zonas Econômicas Especiais, abertas a investidores estrangeiros. A China tem crescido a uma taxa média de quase 10% ao ano, e seu Produto Interno Bruno (PIB) de 2007 fez a terceira maior economia mundial. O país mantém uma política de exportações maciças, em que cobra impostos menores e oferece mão de obra com salários baixos. Isso atrai empresas estrangeiras interessadas em montar seus produtos na China para vender no mercado mundial. Essa política levou a nação a ter reservas superiores a 2 trilhões de dólares, como é citado. A afirmativa IV erra ao afirmar que o modelo de desenvolvimento adotado é de mão de obra especializada e bem distribuída por todo o território. Ao contrário, a maior parte da mão de obra não é especializada e, por isso mesmo, barata, e a concentração é maior nas Zonas Econômicas Especiais. Resposta: D 42. a) Reino Unido e Suécia são dois países que fazem parte da União Europeia, mas não aderiram ao Euro. Nesses dois países, houve a decisão de não aderir à moeda comum em razão dos rigorosos critérios para utilizá-la, que poderiam implicar perda de soberania sobre suas políticas monetárias. Para participar da Zona do Euro, a União Europeia estabelece políticas cambiais e financeiras a ser seguidas, que incluem metas de inflação e medidas de controle do orçamento. b)A Turquia é um exemplo de país que tem grande interesse em fazer parte do quadro da União Europeia (UE). Desde 1999, a nação tenta entrar na UE, o que favoreceria a receber investimentos dos outros países-membros e a dinamizar a sua economia. Mas a Turquia enfrenta problemas para conseguir entrar no bloco, como as acusações de violar os direitos humanos e o temor de uma onda de migração turca para a Europa Ocidental. c) Para que um país integre a União Europeia, além de obedecer às políticas econômicas, é preciso atender a outros requisitos, como ser um Estado democrático, estabelecer políticas migratórias de acordo com os demais membros e combater a corrupção. 43. Ao analisar o gráfico, é possível perceber que a porcentagem da população de jovens entre zero e 14 anos de idade vem caindo nos últimos anos, enquanto cresce a de pessoas idosas, acima de 60 anos. Como o número de crianças e adolescentes está diminuindo, é possível projetar a redução da demanda por investimento público nas redes de escolas de ensino fundamental, que atendem crianças e adolescentes dos 6 aos 14 anos. Resposta: C 44. A Grande Revolução Cultural Proletária, conhecida como Revolução Cultural, teve início em 1966. Foi concebida e liderada por Mao Tsé-tung e pretendeu criar um ideário comunista chinês, distinto de valores ocidentais, que passaram a ser considerados burgueses. Entre suas ideias, ela valorizava o trabalho braçal, na agricultura e nas fábricas, como moralmente superiores aos trabalhos burocráticos e intelectuais, e ancorou-se nos estudantes e nos trabalhadores urbanos. Estudantes de todo o país formaram as Guardas Vermelhas, que cumpriam um papel arregimentador, nacionalista e policiador. Durante a revolução, foram perseguidos políticos, intelectuais e cientistas, o que acabou por resultar em atraso tecnológico. A resposta correta é a alternativa B. Note as incorreções das demais afirmativas: em A, afirmar que a Revolução Cultural era a favor da burocratização, quando a combatia; em C, que pretendeu firmar valores burgueses, quando os negava e se ancorava no operariado; em D, que combateu o isolamento da cultura chinesa,quando promoveu esse isolamento; e em E, que se inspirou na Revolução Russa, quando pretendeu diferenciar-se dela. Resposta: B 45. A questão pede ao leitor que indique qual das afirmativas é uma medida adotada por gestores públicos para diminuir os prejuízos causados por inundações. A alternativa A é incorreta ao propor a eliminação de represas e barragens, quando estas ajudam a controlar e prevenir enchentes. A B também é errada, pois tornou-se regra manter a vegetação à beira de reservas de água, as matas ciliares, e sua retirada não minimiza enchentes. A retirada de árvores de montanhas pode provocar deslizamentos graves durante fortes chuvas, o que também seria um erro, afirmado em D. Resposta: E 46. A economia da China cresce a índices elevados e já se tornou a terceira maior do mundo. Tal realidade tem feito com que a China se relacione economicamente cada vez mais com os Estados Unidos. Entre as relações econômicas que explicam a aproximação cada vez maior desses países, podemos citar a compra pela China de títulos do tesouro norte-americano e o grande número de empresas norte-americanas que instalaram fábricas na China, atraídas por incentivos fiscais e pelos baixos salários locais em dólares. Assim, essas empresas produzem na China para exportar seus produtos para o mercado dos Estados Unidos e dos demais países, a preços menores e com maiores margens de lucro. 47. a) A sigla Bric soma as letras iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China. Entre algumas características comuns a esses países, podemos apontar: todos são nações em desenvolvimento, com grande extensão territorial e população, com elevado potencial de crescimento econômico. b)Mesmo sob o regime político de partido único e com grande presença do Estado na economia, a China abriu seu mercado ao capital externo, com a criação de Zonas Econômicas Especiais. As empresas estrangeiras foram atraídas para montar indústrias no país, motivadas pela baixa cobrança de impostos e pela presença de mão de obra barata, em razão da enorme disparidade de câmbio entre a moeda local, o iuan e o dólar. A China é atualmente o maior exportador mundial. Fundador: VICTOR CIVITA (1907-1990) Editor: Roberto Civita Presidente Executivo: Jairo Mendes Leal Conselho Editorial: Roberto Civita (Presidente), Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente), Giancarlo Civita, Jairo Mendes Leal, José Roberto Guzzo Diretor de Assinaturas: Fernando Costa Diretora de Mídia Digital: Fabiana Zanni Diretor de Planejamento e Controle: Auro Luís de Iasi Diretora Geral de Publicidade: Thais Chede Soares Diretor Geral de Publicidade Adjunto: Rogerio Gabriel Comprido Diretor de RH e Administração: Fábio d’Avila Carvalho Diretor de Serviços Editoriais: Alfredo Ogawa Diretora Superintendente: Helena Bagnoli Diretora de Núcleo: Alda Palma Diretor de Redação: Fabio Volpe Diretor de Arte: Fábio Bosquê Editores: Fábio Akio Sasaki, Lisandra Matias, Paulo Zocchi Repórter: Mariana Nadai Analistas de Informações Gerenciais: Ricardo Russo Jr., Simone Chaves de Toledo Analistas de Informações Gerenciais Jr.: Maria Fernanda Teperdgian Designer: Dânue Falcão Estagiários: Cynthia Laus, Mariana Bomfim Assistente de Redação: Simone Bortolotto Atendimento ao Leitor: Adriana Meneghello e Fabíola Pedroso CTI Alvaro Zeni (supervisor), André Hauly, Erika Nakamura, Edvânia Silva, Juarez Macedo, Leandro Marcinari, Zeca França, Leo Ferreira, Rodrigo Lemes, Regina Sano, Vanessa Dalberto INTERNET NÚCLEO JOVEM Editor: Fred Di Giacomo Editor Assistente: Felipe van Deursen Repórteres: Bruno Aragaki e Kleyson Barbosa Designers: Fabiane Zambon e Daniel Lazaroni Apolinario Webmaster: Bruno Xavier Estagiários: Ana Prado e Guilherme Dearo Colaboraram nesta edição Edição: Beatriz Canepa, Paulo Montoia Consultoria: Roberto Candelori Reportagem: Cláudio Soares, Denise Odorissi, Márcia Nogueira Tonello, Mariana Ferreira, Martha San Juan França, Ricardo Prado, William Taciro, Yuri Vasconcelos Redação: Davi Fazzolari Checagem: Sheila Mattar Arte: Elisabeth Seskevicius, Mauro T. 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Diplomata de carreira, destacou-se como poeta modernista, mas também como compositor e letrista popular. Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes nasce em 1913, no Rio de Janeiro, onde morre, em 1980. Com apenas 15 anos, quando estava no curso secundário, começa a compor músicas populares. Em 1933, conclui o curso de direito. No mesmo ano, publica seu primeiro livro, a coletânea de poemas O Caminho para a Distância (1933). Em 1935, surge Forma e Exegese. Em 1938 vai estudar na Inglaterra e lança Novos Poemas. De volta ao Brasil, ingressa no Ministério das Relações Exteriores, em 1943. Nesse ano, o livro Cinco Elegias inaugura uma nova fase em sua poesia. De um início marcado fortemente pela religiosidade neossimbolista, o lírico Vinicius passa para uma temática mais próxima do amor, do erotismo e das angústias do desejo. Fala mais do cotidiano, de temas sociais, e sua linguagem se torna mais coloquial. 242 atualidades vestibulaR vestibular + ENEM enem 2011 2011 Em 1953 compõe seu primeiro samba, Quando Tu Passas por Mim, e publica a peça Orfeu da Conceição, em 1954. Em 1956 conhece o compositor Tom Jobim. Duas de suas primeiras composições com Jobim (Chega de Saudade e Outra Vez) são gravadas por Elizeth Cardoso no disco Canção do Amor Demais (1958), com acompanhamento ao violão de João Gilberto, e são consideradas o marco da bossa nova. É de Vinicius a letra de Garota de Ipanema, a música brasileira mais conhecida em todo o mundo. Entre 1955 e 1956, Vinicius prepara o roteiro do filme Orfeu Negro, do diretor francês Marcel Camus, que ganha o Oscar 1959 de melhor filme estrangeiro. No início dos anos 1960, compõe com outros músicos, como Pixinguinha, Carlos Lyra, Edu Lobo, Francis Hime e Dorival Caymmi. Com Baden Powell, cria afrossambas famosos, como Canto de Ossanha e Berimbau. É aposentado do serviço diplomático em 1968 pelo regime militar. A partir de 1969, torna-se parceiro do violonista Toquinho, com quem faz shows no Brasil e no exterior até sua morte. u ilustração: Zé otávio