Revista Frutas e derivados - Edição 07
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Revista Frutas e derivados - Edição 07
SUMÁRIO CAPA SETEMBRO 2007 PRODUÇÃO PerformanceCG FOTO Banco de Imagens do Ibraf 09 29 16 ENTREVISTA 09 PLANEJANDO O FUTURO 36 Presidente do Ibraf, Moacyr Saraiva Fernandes, apresenta as propostas para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Fruticultura. FRUTAS FRESCAS 16 PRIMEIRO PASSO Mudas de procedência e produzidas com novas tecnologias são fator determinante na formação e produção do pomar. SEÇÕES 06 08 12 editorial espaço do leitor campo de notícias 14 no pomar 33 tecnologia Panorama dos principais acontecimentos do trimestre. Lançamentos, dicas, normas e leis do setor. REFRIGERAÇÃO 20 FALTA FRIO Nova tecnologia permite fazer passas de mamão com qualidade e baixo investimento, favorecendo o pequeno produtor. 38 A cadeia do frio para frutas sofre com a falta de transporte, de armazenagem e prejudica a qualidade final. opinião Wagner Antonio Jacometi analisa os resultados no campo e no meio ambiente em propriedades de limão certificadas. 39 agenda Acontecimentos do trimestre. AGROINDÚSTRIA 40 Projeto Comprador e Imagem promove negócios na Fenagri, na Bahia, enquanto Caravana da Fruta leva conhecimento ao interior paulista. 29 PEQUENA INDÚSTRIA, GRANDE LUCRO Produção artesanal de sucos, doces e vinhos agrega valor e é marca registrada em diferentes regiões. MEIO AMBIENTE 36 TERRA SECA Clima seco, solos frágeis e ações inadequadas do homem levam à desertificação, que pode ser evitada. eventos 42 artigo técnico Desinfestantes ajudam a controlar aparecimento e disseminação de fungos, minimizando perdas de produtores e empacotadores de maçãs por causa das podridões em pós-colheita. 44 45 46 campo & cultura produtos e serviços fruta na mesa Goiaba, delícia nacional. editorial DIRETOR PRESIDENTE Moacyr Saraiva Fernandes LUTAS E VITÓRIAS PRIMEIRO VICE PRESIDENTE Aristeu Chaves Filho As dimensões continentais do Brasil são um privilégio em termos de biodiversidade natural e na produção de algumas frutas o ano todo. Mas esta riqueza tão comentada perde suas vantagens quando não há o devido cuidado na preservação da biodiversidade, acarretando problemas graves como desertificação do solo. E, também, quando faltam investimentos em infra-estrutura, como tem sido exaustivamente alertado. Dentre os investimentos, destaca-se a cadeia do frio desde a pós-colheita até o varejo, com transporte e armazenamento refrigerado. Sem isso, a qualidade da fruta obtida pelo desempenho do fruticultor no campo, se perde no caminho. Para ajudar o setor a resolver perdas e outras questões, o Instituto Brasileiro de Frutas, luta pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Fruticultura, em parceria com órgãos governamentais. A pesquisa também colabora na redução de perdas de frutas e na agregação de valor ao produto desenvolvendo novas tecnologias - como as passas de mamão -, que, por seus baixos custos e facilidade, poderão ser aplicadas pelos pequenos agricultores e suas famílias. É também o caso dos derivados de acerola de Junqueirópolis (SP). Se os próprios produtores não fabricarem, podem fornecer para empresas de pequeno porte que desenvolvem produtos diferenciados como macarrão de banana verde, aguardentes de frutas, sucos de uva orgânicos e doces especiais, principalmente, de Minas Gerais. Para chegar até aqui, houve o primeiro passo: a seleção de sementes e mudas saudáveis para a formação do pomar. Este passo está lastreado em caminhos que, para resolver doenças e pragas, exigiram mobilização e persistência - a exemplo dos citros em São Paulo -, e inovação, como as biofábricas de mudas de abacaxis e bananas. Acompanhe todas estas lutas e vitórias em mais esta edição da Frutas e Derivados, preparada para você. Boa leitura e até a próxima, em dezembro, se Deus quiser. SEGUNDO VICE PRESIDENTE Roland Brandes DIRETORES Jean Paul Gayet (Diretor Tesoureiro) Paulo Policarpo Mello Gonçalves (Diretor Secretário) Carlos Prado (Diretor Superintendente Nordeste) Valdecir Roberto Lazzari (Diretor Superintendente Sul) Rogério de Marchi (Diretor Agroindustrial) Waldyr S. Promicia e Roberto Pacca do Amaral Júnior. CONSELHEIROS Luiz Borges Junior (Presidente) André Luiz Grabois Gadelha (Primeiro Vice-Presidente) Américo Tavares, Antônio Carlos Tadiotti, Dirceu Colares, Etélio de Carvalho Prado, Fernando Brendaglia de Almeida, Francisco Cipriano de Paula Segundo, José Bendito de Barros, José Carlos Fachinello, Luiz Roberto Maldonado Barcelos, Roberto Frey e Sylvio Luiz Honório. COMITÊ TÉCNICO-CIENTÍFICO Antônio Ambrósio Amaro (Presidente) Admilson B. Chitarra, Alberto Carlos de Queiroz Pinto, Aldo Malavasi, Anita Gutierrez, Carlos Ruggiero, Fernando Mendes Pereira, Geraldo Ferreguetti, Heloísa Helena Barreto de Toledo, José Carlos Fachinello, José Fernando Durigan, José Luiz Petri, José Rozalvo Andrigueto, Josivan Barbosa de Menezes, Juliano Aires, Lincoln C. Neves Filho, Luiz Carlos Donadio, Osvaldo K. Yamanishi, Rose Mary Pio e Tales Wanderley Vital. CONSELHO EDITORIAL Moacyr Saraiva Fernandes Maurício de Sá Ferraz Valeska de Oliveira COORDENAÇÃO Luciana Pacheco [email protected] EDIÇÃO Marlene Simarelli MTb 13.593 [email protected] REDAÇÃO Beth Pereira, Carmem Moraes e Marlene Simarelli REVISÃO Vera Bison COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Luciana Pacheco (texto) Marlene Simarelli Editora [email protected] fale conosco REDAÇÃO para enviar sugestões, comentários, críticas e dúvidas [email protected] ASSINATURA a assinatura é gratuita e para solicitar seu exemplar [email protected] ou pelo telefone (11) 3223-8766 ANUNCIOS para anunciar na Frutas e Derivados [email protected] ou pelo telefone (11) 3223-8766 PUBLICIDADE José Carlos Pimenta Telefone (11) 3223-8766 [email protected] DIREÇÃO E PRODUÇÃO DE CONTEÚDO ArtCom Assessoria de Comunicação R. Reginaldo Sales, 186 - sala 2 - Vila Maria CEP 13041-780 - Campinas - SP Telefone (19) 3237-2099 [email protected] DIREÇÃO DE ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA Performance Design Gráfico S/C Ltda. 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A reprodução das demais matérias publicadas pela revista é permitida, desde que citados os nomes dos autores, a fonte e a devida data de publicação. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ E-mail: [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 8 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Rafael Regiani Engenheiro Agrônomo da Regiani Bombas e Irrigação, Cariacica – ES ○ “A revista é muito bem-editada e apresentada, além das importantes e ímpares informações que traz, o que me faz considerá-la uma importante fonte de consulta e atualização em Fruticultura. Parabéns!” ○ ○ ○ ○ Silvestre Silva Jornalista e Fotógrafo, São Paulo – SP ○ “Parabéns à Epagri-SC pelo trabalho com a Goiaba Serrana, conhecida pelo mundo afora por Feijoa. Foi levada para o México e Nova Zelândia que por meio de estudos genéticos se tornaram grandes produtores e exportadores desta fruta. Finalmente, os brasileiros vão conhecer a nossa Feijoa, apreciada por tantos povos. Desde 1990, divulgo a Feijoa em meus livros sobre as frutas brasileiras.” ○ ○ ○ ○ Glauber Araújo Técnico do SENAE, Petrolina – PE ○ ○ “ G ostaria de parabenizar a equipe que faz essa excelente revista, de conteúdo apurado e agregador. Sou técnico em alimentos, graduando em gestão do agronegócio e venho pesquisando o cenário passado, atual e perspectivas da agroindústria do Vale do São Francisco.” Fax: (11) 3223-8766 ○ ○ ○ ○ Kelter Carvalho Estudante em Agronomia - Universidade Federal de Roraima, Boa Vista – RR ○ Alberto Akira Yamasaki Pesquisa & Desenvolvimento da Orsa Celulose, Papel e Embalagens S.A. Suzano – SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “ Q uero parabenizar esta equipe da Frutas e Derivados que, por meio do Ibraf, está fazendo um excelente trabalho de informação da nossa fruticultura brasileira.” ○ “ E xcelente conteúdo e informações confiáveis, mostrando o que acontece hoje no nosso País sobre nossas frutas e seus derivados. Ajudando freqüentemente a todos que se beneficiam desta cultura. ” Endereço: Avenida Ipiranga, 952 12º andar • CEP 01040-906 São Paulo • SP ○ ○ ○ ○ ○ Andreia Moura Várzea Grande – MT ○ João José de Oliveira Veloso Vitivinicultor do Centro de Cultura e Tradição de Cunha, Cunha – SP ESCREVA PARA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “A edição 06, junho de 2007, trouxe uma reportagem muito interessante sobre caminhos da fruticultura, estudo feito por três estudantes de Goiás. Sou estudante de Agronomia em Mato Grosso e gostei muito da idéia de trazer a fruticultura para a região.” ○ “Quero agradecer-lhe pela remessa da revista Frutas e Derivados, que muito nos engrandece e nos entusiasma pela riqueza de conteúdo e pela excelência da publicação.” ○ ESPAÇO DO LEITOR ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ IBRAF ENTREVISTA MOACYR SARAIVA FERNANDES PLANEJANDO O FUTURO Marlene Simarelli Frutas e sucos brasileiros ganham notoriedade internacional a cada ano. Ações de marketing promovidas pelo programa Brazilian Fruit, maior conhecimento dos mercados e investimentos no campo colocaram a fruticultura e seus derivados numa curva ascendente e contínua de crescimento. O balanço dos primeiros oito meses do ano mostra um quadro com aumento de 14% em volume com 417 mil toneladas exportadas e 31% em valor, representando US$ 227 milhões, embora com câmbio desvalorizado. O mercado interno ainda tem muito a crescer, mas depende de fatores como falta de hábito de consumo e aumento de renda da população. Há três anos à frente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), instituição que representa a Fruticultura Nacional, o engenheiro químico Moacyr Saraiva Fernandes, 65 anos, aborda as principais propostas apresentadas ao Ministério da Agricultura para o Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) da Fruticultura e os principais entraves do setor. Pós-graduado em Tecnologia de Frutas pela Universidade da Califórnia, em Davis, Estados Unidos, Fernandes é presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Fruticultura e diretor-presidente da MV-Engenharia de Alimentos. Frutas e Derivados - A Câmara Setorial de Fruticultura do Ministério da Agricultura, em parceria com a Frente Parlamentar de Apoio à Fruticultura e o Ibraf apresentaram ao governo, em julho, propostas do setor para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Quais os principais pontos? Moacyr Saraiva Fernandes - O PAC não considerou especificamente o agronegócio, principalmente, a fruticultura, embora algumas ações referentes à logística possam auxiliar o setor. Desta forma, os intervenientes da fruticultura brasileira elaboraram uma agenda propositiva para o crescimento acelerado da atividade no país, que foi apresentado em forma de um programa com 18 tópicos, entre os quais o seguro 9 ENTREVISTA JOÃO SAMPAIO MOACYR SARAIVA FERNANDES agrícola, fundamental para os produtores e para a proteção dos pomares. Nesse sentido, o Ibraf tem batalhado, juntamente com outras entidades - com destaque à Fiesp, por meio do Conselho do Agronegócio para a criação de um fundo de catástrofe, que dê proteção ao plantio. Além disso, nas propostas feitas para o Plano Plurianual 2008/2011 e nos estudos de longo prazo até 2027 para o Ministério do Planejamento, chamamos a atenção para que sejam feitos estudos prevendo eventuais modificações climáticas, que poderão acarretar até mudanças de fronteiras agrícolas, além de apoio substancial e contínuo às instituições de pesquisa e desenvolvimento na área de fruticultura. Frutas e Derivados - Além do seguro agrícola, quais outros pontos o PAC da fruticultura contempla? Moacyr Saraiva Fernandes - Precisamos de mais investimentos em tecnologia e inovação, facilidades e linhas de financiamento mais adequadas. Temos que buscar agregação de valor, transformando produtos mais primários em produtos com maior valor agregado, tendência que está sendo buscada em toda economia brasileira. Ainda na parte financeira, é fundamental a desoneração tributária. A tributação incidente em todos os elos da cadeia é excessiva, afetando a rentabilidade. É preciso, também, um massivo apoio ao desenvolvimento do capital humano, com pessoas treinadas e capacitadas para fazer as gestões necessárias para as mudanças que estamos discutindo. No que se refere ainda à gestão, solicitamos maior facilidade para o desenvolvimento de modelos de organização para produtores, para comercialização e modelos de agroindustrialização, que integrem os segmentos da cadeia: a produção agrícola com as indústrias e as indústrias com o comércio, para termos sistemas agroindustriais sustentados e competitivos. O desenvolvimento da agroindustrialização também é fundamental para que tenhamos sistemas integrados de aproveitamento de matérias-primas e semi-elaborados, gerando produtos rentáveis. Frutas e Derivados - Essas medidas referem-se ao mercado interno. E quanto ao mercado externo? Moacyr Saraiva Fernandes - Precisamos que, por meio das negociações internacionais e de um maior empenho dos órgãos do Ministério da Agricultura, possamos vencer as barreiras de ordem burocrática, administrativa e fitossanitária, com ênfase às de ordem fitossanitária, principalmente, na busca de novos mercados. Outro ponto do PAC da Fruticultura, que é quase que fóbico, é a questão da segurança alimentar, visando à produção de frutas e produtos seguros, exigência crescente do consumo. Frutas e Derivados - Como se pode chegar ao alimento seguro desejado? 10 Moacyr Saraiva Fernandes - Por meio da indução e da facilitação para adesão dos produtores a sistemas de gestão pela qualidade, como o sistema de produção integrada de frutas (PIF), desenvolvido pelo Ministério da Agricultura, entre outros. Além do mais, é preciso que haja uma modificação profunda para regularizar e compatibilizar os defensivos agrícolas utilizados e a serem utilizados no Brasil em relação aos aceitos internacionalmente. Há dificuldades para obtenção de registro de defensivos menos agressivos, devido à sistemática da lei brasileira de defensivos, que dificulta progressos com a agilização. Os custos para registro das novas moléculas são absurdamente altos. Estamos caminhando a um passo muito lento. Pode ser que não sejamos uma lebre, mas não precisamos ser uma tartaruga. Frutas e Derivados - Quais os problemas decorrentes da falta de registro? Moacyr Saraiva Fernandes - Muitas vezes, o produtor não consegue se adequar ao PIF por falta de uma malha de defensivos agrícolas, que permita a certificação, prejudicando sua competitividade. O que é um absurdo!Há ainda a questão dos resíduos. Se as autoridades brasileiras detectarem resíduos de defensivos permitidos em nossos mercados-alvo, mas não ainda no Brasil, o produtor será punido. O problema é muito sério e se arrasta há anos; assim como a aprovação de genéricos, que poderia baratear o custo de defensivos e trará uma ordem melhor na utilização. É possível até que tenhamos hoje uma comercialização desses produtos de forma marginal ou paralela no País. Frutas e Derivados - E quanto às regulamentações legais e técnicas, são suficientes? Moacyr Saraiva Fernandes - As regulamentações são suficientes e modernas, principalmente as do Ministério da Agricultura. Na realidade, o que temos é um não-cumprimento das regulamentações. Por exemplo, as embalagens. Existem regulamentações para que o transporte das frutas seja feito com a embalagem adequada. Você não precisa ir longe para ver frutas transportadas a granel de um lado para outro. São fiscalizadas até certo ponto. Frutas e Derivados - A exemplo de outros setores, a fruticultura enfrenta a mesma questão: tem lei e regulamentação, mas não tem cumprimento e fiscalização? Moacyr Saraiva Fernandes - Exatamente e há falta de investimentos para que possa ser cumprida. Se não há armazenamento a frio disponível em várias regiões do Nordeste brasileiro, como pode se exigir que uma fruta seja armazenada a uma temperatura X? Frutas e Derivados - Em relação às barreiras fitossanitárias em frutas frescas e derivados, qual a solução? Moacyr Saraiva Fernandes - Uma parte dessas ENTREVISTA MOACYR SARAIVA FERNANDES barreiras cabe a nós estudarmos e demonstrarmos a ausência de risco e o Ministério da Agricultura tem procurado prever. Ainda que numa velocidade não adequada e muitas vezes dificultada pela falta de acordos de comércio bilaterais. Temos dado ênfase aos acordos multilaterais, que não têm avançado, com conseqüente perda de terreno para países concorrentes. O Chile tem acordos bilaterais com União Européia, China e Japão. O Brasil não tem, ficando numa situação complicada, a ponto de vencer barreiras fitossanitárias, mas enfrentar a tarifária, que não permite concorrer em igualdade de condições. Cabe a nós também o ônus de demonstrar que não temos determinados problemas fitossanitários. Do outro lado, há os aspectos fitossanitários sobre o enfoque da presença dos agroquímicos. Aí é possível que haja pressões, barreiras protecionistas. Temos encontrado, na Europa, redes de supermercados exigindo dos fornecedores níveis de resíduos inferior à legislação dos países onde atuam como ferramenta de marketing e não de proteção à saúde do consumidor. É um problema muito sério e um protecionismo bastante complicado. Frutas e Derivados - O PAC do setor trata da questão do aumento do consumo de frutas no País? Moacyr Saraiva Fernandes - Sugerimos programas conjuntos entre governo e iniciativa privada, envolvendo os ministérios da Agricultura, Saúde, Educação e Indústria e Comércio. Campanhas educacionais são importantes para conscientizar a população a comer mais frutas. Se quisermos uma fruticultura competitiva internacionalmente, temos que ter um consumo adequado de frutas e derivados. A Organização Mundial da Saúde recomenda 100 kg de frutas por ano; o Brasil, com 47 kg/habitante/ano, está muito aquém. Deve haver união desde produtores até distribuidores, nas associações e supermercados, para um compartilhamento de ações em busca de maior consumo. Se houver maior demanda, haverá, conseqüentemente, efeito multiplicador na comercialização. As ações cabem à iniciativa privada e ao governo, cada um dentro das suas alçadas, limitações e responsabilidades. Frutas e Derivados - Frutas ainda são caras para o consumidor. Como torná-las mais acessíveis? Moacyr Saraiva Fernandes - O preço das frutas ao consumidor final poderia ser, deveria e poderá ser reduzido. O preço reflete a inexistência de eficiência no escoamento desde o plantio até o consumo. A desorganização para comercialização, a falta de embalagens adequadas, somando-se às deficiências de armazenamento, à pouca utilização do frio na cadeia, acarreta perdas físicas, de qualidade e financeiras a todos. Algumas redes de varejo estão adotando a gestão nas gôndolas feita pelos próprios fornecedores para aumentar a eficiência e reduzir perdas. Mas, é fundamental haver logística de distribuição, infra-estrutura e escoamento adequado ao transporte de perecíveis. As áreas de produção se espalharam pelo Brasil, porém o principal centro de consumo continua sendo o Sudeste. Os sistemas de comercialização, muitas vezes em consignação, não dão a segurança necessária para o produto chegar o mais fresco e o melhor possível ao consumidor. Este é um dos problemas que precisamos corrigir. Frutas e Derivados - O deputado Afonso Hamm (PPRS) conseguiu aprovar a emenda do Profruta. Qual a importância da emenda? Moacyr Saraiva Fernandes - Teremos recursos assegurados do Ministério da Agricultura para aplicar em fruticultura, nas questões mais fundamentais, como a defesa fitossanitária, maior problema. Voltamos a ter uma rubrica específica para a fruticultura e recursos. Se vão estar disponibilizados ou contingenciados, é outra história. Frutas e Derivados - Embora com problemas, inclusive de câmbio baixo, a fruticultura caminhou até aqui com um saldo positivo nas exportações. O cenário se confirmará no último trimestre? Moacyr Saraiva Fernandes - As previsões são para que tenhamos o mesmo cenário. Talvez não com uma evolução de expansão percentual em relação ao ano passado, tão forte como tivemos no primeiro semestre.Essa continuidade de aumento nas exportações está chamando a atenção pela retração havida em 2006. A médio prazo, continuamos crescendo dentro do patamar de 10% a 15% ao ano. No segundo semestre, as frutas que determinarão o crescimento são a uva de mesa, a manga e o melão. São frutas fortes, com posicionamento consolidado no Exterior. A maior produção e oferta brasileira de uvas sem sementes, com maior valor agregado, vai alavancar a exportação; no valor, mais expressiva, ainda, passando de U$118 milhões, somente com as uvas. Frutas e Derivados - O panorama é o mesmo para o mercado interno? Moacyr Saraiva Fernandes - O panorama é o mesmo, se não tivermos grandes problemas climáticos. A fruticultura brasileira vem se adequando às demandas e se preparando para atuar e competir nos mercados mais demandantes: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Teremos um bom ano para oferta de frutas. É uma pena que não haja uma eficiente logística, que permita a chegada delas com menores perdas, aparência melhor e preço menor, para possibilitar o consumo à população que ainda não tem acesso a elas, e permitir também que o consumidor conheça o bom trabalho do fruticultor brasileiro no campo. 11 CAMPO DE NOTÍCIAS Luciana Pacheco Mercado terá Polpa de Manga Orgânica O mercado de orgânicos será abastecido com uma nova opção: a polpa de manga, lançada pela Agrofruit Internacional do Brasil. Comercializada a granel, destina-se à fabricação de sucos, cremes de fruta, iogurtes, sorvetes, geléias, alimentos infantis e demais produtos. Sua fabricação preserva as propriedades e nutrientes originais da fruta, além da integridade de sabor, cor e aroma. Seu destino será o mercado externo (Europa, Estados Unidos e Japão) e indústrias do mercado interno. A polpa, 100% orgânica, foi desenvolvida em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (MG). O trabalho também teve participação dos produtores fornecedores da fruta, certificados pelo Instituto Biodinâmico (IBD), órgão credenciado à Infoam (International Federation of Organic Agriculture Movements). Os pomares seguem rigorosamente os padrões estabelecidos para produção orgânica, onde o cultivo é 100% natural, sem utilização de agrotóxicos. Ainda em parceria com a universidade, a Agrofruit pretende converter toda sua cultura convencional para orgânica. Maiores informações, com Paulo Sérgio, telefone (32) 3559-1500. Fruticultores Ganham Novas Ferramentas de Conhecimento Fruticultores catarinenses ganham um novo centro de treinamento para pequenas frutas e um site da Acavitis (Associação Catarinense de Produtores de Vinhos Finos de Altitude), com dados sobre a vitinicultura de altitude de Santa Catarina. No Centro, chamado Unidade de Pesquisa e Demonstração de Pequenas Frutas, os produtores poderão adquirir conhecimentos teóricos e práticos. Já, o site trará novidades do setor 12 fruticultor e informações sobre uvas e vinhos finos de altitude. A unidade, inaugurada em julho, na Estação Experimental de Fruticultura Temperada da Embrapa Uva e Vinho (EEFT), em Vacaria (RS), possui um campo 100% irrigado por gotejamento. Nele são cultivados mirtilo, amora-preta e framboesa. A Embrapa e outras instituições participarão das pesquisas. O chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Alexandre Hoffmann, acredita que o local desenvolverá tecnologias e capacitará produtores. A iniciativa é parceria entre Embrapa, Emater e Prefeitura Municipal de Vacaria. O site www.acavitis.com.br traz um histórico da associação e das vinícolas na região serrana do Estado. O objetivo da Acavitis, para a página, é se comunicar com os produtores e empreendedores, que se reúnem na associação, e divulgar as ações desenvolvidas em prol do setor vitivinícola catarinense. Maiores informações sobre a Unidade de Pesquisa e Demonstração de Pequenas Frutas com Adriano Mazzarolo, telefone (54) 3455-8083 ou pelo e-mail [email protected]. Emendas Beneficiam Fruticultura O deputado federal Afonso Hamm (PP/RS) aprovou, em julho, emendas de ação que beneficiarão os fruticultores, no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2008. O Projeto da LDO agora segue para sanção presidencial. “Conseguimos colocar nas diretrizes estratégicas orçamentárias a fruticultura, irrigação e carvão mineral”, conta o deputado, que preside a Frente Parlamentar de Apoio à Fruticultura Brasileira. Uma das conquistas refere-se a investimentos que terão como destino o Programa Nacional de Fruticultura (Profruta). O programa receberá R$10,5 milhões, com o objetivo de fomentar o setor como uma das principais atividades geradoras de emprego. Por sua vez,a fruticultura no Rio Grande do Sul, ganhará verbas para desenvolvimento. Serão implantados projetos de irrigação e para o desenvolvimento da fruticultura no Estado. Embrapa Cerrados Avalia Impactos da Extração de Pequi A Embrapa Cerrados por meio de sua Unidade de Execução de Pesquisa no Tocantins (UEP-TO) iniciou, em julho, o projeto “Avaliação dos impactos socioeconômicos e ambientais da coleta extrativista de pequi no município de Pequizeiro,TO”. Coordenado pela analista da Embrapa Cerrados/UEPTO, Suzinei Oliveira, projeto deve identificar o perfil dos coletores, procedimentos de coleta, qualidade da fruta coletada no chão e na planta, renda gerada e canais de comercialização. Os resultados esperados, segundo Suzinei, são a caracterização dos impactos ambientais e econômicos da coleta, a sensibilização para a coleta sustentável, a preservação das plantas nativas e o aproveitamento da atividade como fonte de renda alternativa. O projeto contará com recursos do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (Pesco) e será desenvolvido em parceria com a Associação Ecos do Cerrado, Universidade Federal do Tocantins (UFT) e a Prefeitura Municipal de Pequizeiro. Maiores informações com Suzinei Oliveira, [email protected] ou com a Embrapa Cerrados, telefone (63) 3218-2933. Irradiação pode Garantir Competitividade da Manga Brasileira Demonstrar a possibilidade da utilização de radiação para trata- mento quarentenário de mangas a serem exportadas para os Estados Unidos e países do Oriente. Este foi o objetivo do workshop “Avanços no mercado internacional de manga irradiada”, ocorrido em julho em Petrolina-PE para produtores de manga da região do submédio São Francisco e demais interessados no mercado internacional da manga. As pesquisas foram realizadas pela Embrapa Semi-Árido em colaboração com a Valexport, o CRCN/NE (Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste) e o IpenCNEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nuclear – Centro Nacional de Energia Nuclear). Pesquisas, neste sentido, vêm sendo desenvolvidas há cerca de cinco anos por vários países produtores e exportadores da fruta. Em maio de 2007, o primeiro embarque para os Estados Unidos de mangas irradiadas foi realizado pela Índia. O México já está construindo uma planta de irradiação para realizar o tratamento quarentenário de seus produtos. O emprego de radiação é uma alternativa viável e eficiente, que pode substituir o tratamento hidrotérmico, cujos resultados, em algumas vezes, pode comprometer a qualidade dos frutos. Joston Simão de Assis, coordenador do workshop e pesquisador da Embrapa Semi-Árido, ressalta que “se os exportadores brasileiros de manga não adotarem este tratamento é possível que, no futuro muito próximo, percam muito de sua competitividade”. Segundo estudos do Ipen, realizados por Paulo R. Rela, o custo de implantação de uma planta de irradiação, capaz de tratar todo o volume de mangas brasileiras destinado à exportação, foi estimado em cerca de R$ 6 milhões. A planta de irradiação poderá também ser utilizada para esterilização de produtos hospitalares, substratos para inoculação de bactérias fixadoras de nitrogênio e em outros tipos de frutas que requerem tratamento quarentenário. Mais informações com Embrapa SemiÁrido pelo telefone (87) 3862-1711 ou pelo site www.cpatsa.embrapa.br. Brasil Pretende Ampliar Negócios com Alemanha A Fruit Logística, maior feira de frutas e hortaliças do mundo, já se prepara para receber expositores e visitantes do setor de agronegócio. O evento ocorrerá de 7 a 9 de fevereiro de 2008, em Berlim, Alemanha. A feira abrange os mercados de frutas frescas e secas, sucos, produtos minimamente processados, hortaliças, nozes, produtos ecológicos, prestação de serviços, transporte e técnicas de armazenagem. A divulgação da feira no Brasil é feita pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, representante oficial no País da Messe Berlin GmbH – empresa responsável pela realização de feiras na capital alemã. O Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) organiza, em parceria com a Apex-Brasil, o pavilhão brasileiro na Fruit Logística. Na última edição, o evento reuniu 43 mil visitantes de mais de 100 países; o Instituto levou 46 empresas brasileiras. Segundo Valeska de Oliveira, gerente executiva do Ibraf, foram gerados US$27,9 milhões em negócios durante o evento, quase 12 vezes mais em relação à edição anterior. “Até fevereiro de 2008, ou um ano após a realização da feira, a estimativa é que as empresas participantes fechem negócios no valor de US$28,8 milhões. São ótimos resultados”, destaca. De acordo com Valeska, para 2008, o objetivo é estabelecer mais contatos com o mercado alemão. “A Alemanha é um grande consumidor indireto das frutas brasileiras, que são distribuídas pelo porto de Rotterdam, na Holanda. O objetivo agora é ampliar nossa presença direta neste mercado, que hoje é de 3%”, explica. A meta para o próximo ano é levar mais produtos proces-sados, como as polpas e os sucos de frutas. Até o momento, 22 empresas brasileiras estão interessadas em garantir seu espaço no estande coletivo brasileiro, sendo a maioria de pequeno e médio portes. Interessados em expor na Fruit Logística devem contatar o departamento de Feiras da Câmara Brasil-Alemanha pelo e-mail [email protected], telefone (55)11-5187-5213, ou o Ibraf pelo e-mail [email protected], telefone (11)3223-8766. Técnica do Mapa Evita Fraudes em Produtos de Uva Um método para detectar a qualidade de sucos, refrescos e néctares produzidos à base de uva começa a ser aplicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Com ele, os fiscais federais agropecuários poderão identificar a presença de açúcares além dos limites permitidos, sendo possível comprovar fraudes e dimensionar o problema. A análise atende a uma reivindicação do setor agrícola. A técnica utiliza um método analítico para determinação da razão isotópica do carbono. O emprego da metodologia foi aprovado, recentemente, pela Coordenação Geral de Apoio Laboratorial (Cegal) do Mapa. Amostras coletadas pelos fiscais federais agropecuários serão enviadas para análise na rede Lanagro (Laboratório Nacional Agropecuário) ou aos laboratórios credenciados pelo Ministério: o Laren, no Rio Grande do Sul, e da Unesp, em Botucatu(SP). A Coordenação de Vinhos e Bebidas do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) do Mapa é a responsável pela fiscalização. Colaboração: Carmem Moraes 13 NO POMAR Carmem Moraes FRUTICULTOR REÚNE O produtor Helton Josué começou plantar, há 12 anos, o que classifica de “frutas nativas com potencialidades para o futuro”. Hoje reúne 600 espécies no sítio Frutas Raras, em Campina do Monte Alegre (SP). Ele acredita que suas frutas poderão chamar a atenção de empresários e agricultores interessados em investir na fruticultura genuinamente nacional. “Poucos pesquisadores da área de botânica e fruticultura conhecem as frutas que tenho”, assegura. Para o produtor “a falta de crescimento no setor fruticultor se dá por pouca iniciativa, conhecimento e credibilidade no grande potencial das frutas nativas do Brasil”. Algumas espécies do pomar do produtor são o Apuruí (Alibertia edulis), “um fruto nativo do cerrado, com gosto de doce de marmelada. Ele inicia a frutificação com três anos e produz na maior parte do ano”, explica. Já o Mamãozinho do Mato (Vasconcella quercifolia) é um fruto de 6 cm de comprimento, alaranjado com listas amareladas, quando maduro. Nativo da Mata Atlântica, frutifica a partir de um ano e meio e “é ótimo para consumo in natura”. A Pitangatuba Apurui, uma das espécies raras (Eugenia neonitida), explica Josué, “é do tamanho e formato de uma da coleção de Helton José carambola pequena, com perfume e sabor incomparáveis. A fruta é indicada para indústria de polpa e suco. Sua constituição é de um arbusto nativo da restinga do litoral do Brasil. Frutifica a partir do segundo ano e produz por seis meses consecutivos”. Além dela, o produtor cita a guabiroba verde (Campomanesia sessilifolia), quase sem sementes, e é o fruto da castanha de cipó, que é mais energético que amendoim. Ambas as plantas iniciam a frutificação em menos de 2 anos. Helton Josué disponibiliza mudas destas e de outras 200 espécies de frutas. Os interessados podem contatá-lo pelo telefone (15) 8132-5140, pelo e-mail [email protected] ou pelo site www.colecionandofrutas.org. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ MONITORAR MOSCA-DA-FRUTA GARANTE MANGA SADIA IBRAF ○ Poda proporciona arejamento e entrada de luminosidade 14 Entre setembro e início do próximo ano, a mangueira precisa de cuidados para assegurar uma boa colheita e ficar livre de pragas. De acordo com o pesquisador científico do Centro de Fruticultura do Instituto Agronômico, em Jundiaí (SP), Nilberto Bernardo Soares, “os tratamentos fitossanitários para o controle da antracnose, iniciados na florada, devem ter continuidade até o início da colheita. Neste período, a praga que requer maior atenção é a mosca-da-fruta”. O produtor, de acordo com Soares, deve monitorar a praga entre outubro e março. Se constatar a presença de populações adultas da mosca-da-fruta, deve iniciar o combate à praga. O controle é realizado com pulverizações da planta, com iscas tóxicas. “A isca mais comum é aquela feita com melaço de cana a 7%, a qual se adiciona um inseticida, que pode ser o Triclorfon na dose de 120g ou o Fention na dose de 75g por 100 litros da mistura. O Triclorfon tem um intervalo de carência entre a última aplicação e a colheita de 7 dias em manga e o Fention de 21 dias”, orienta Soares. Outro cuidado sugerido pelo pesquisador é a poda dos ramos internos da copa com crescimento vertical. A poda de abertura da copa e a fertilização criteriosa do pomar têm reflexos positivos na produtividade e qualidade dos frutos. Com esses cuidados, o fruticultor obtém uma “produção de frutos sadios, coloridos e saborosos”, garante o pesquisador. SÍTIO FRUTAS RARAS COLEÇÃO COM 600 ESPÉCIES ○ ○ ○ ○ ○ CESTA QUE PROTEGE FIGO NA COLHEITA CHEGA AO MERCADO A cesta, especialmente desenhada para proteger os figos durante a colheita, será comercializada a partir do final de setembro, ajudando o produtor na próxima safra. Com tecnologia desenvolvida pela Embrapa Instrumentação Agropecuária e Unicamp, a cesta será fabricada pela NSF, empresa de São Carlos/SP, especializada em sistemas e equipamentos de exposição para lojas de varejo. Segundo o diretor da NSF, Diniz Amílcar Matias Fernandes, por ser fabricada em plástico, é mais higiênica e ergonômica. O material pode ser lavado com água e sabão neutro, evitando contaminações, e é atóxico. Seu design comporta um fruto por célula, acomodando até 40 figos. O pedúnculo fica para baixo, evitando danos mecânicos e manchas. A durabilidade da cesta, de acordo com Matias Fernandes, é de cinco anos, em condições normais de uso. A técnica de ressonância magnética permitiu aos pesquisadores avaliarem os danos internos causados pelo empilhamento na colheita e transporte e criar um desenho para minimizar esses efeitos. Inicialmente as vendas serão feitas diretamente pelo telefone 0800551795 ou pelo e-mail [email protected]. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ TECNOLOGIA INÉDITA COMBATE PRAGAS DE MAÇÃ Os produtores de maçã ganham mais um aliado no controle das populações de Gafolita e Bonagota. Será lançado para a próxima safra da fruta o Splat Grafo+Bona, produto que atrai e mata adultos das duas pragas, também conhecidas como mariposa oriental e lagarta enroladeira. A tecnologia, inédita, encapsula numa única formulação inseticida e feromônio. O lançamento é da ISCA, empresa de tecnologias para manejo integrado de pragas. Segundo Leandro Mafra, diretor e coordenador de P&D da empresa, “em testes de campo, conduzidos pela Embrapa, o Splat Grafo+Bona foi capaz de conter populações altíssimas de Grafolita durante mais de 145 dias com uma única aplicação, diminuindo o dano em fruto de 3% para 0,09%”. Nos Estados Unidos, o Splat foi usado para o controle da Cydia e Grafolita. Maiores informações: [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ MOSCA-DE-CARAMBOLA É CONTROLADA NO NORTE ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O técnico responsável pela perícia de comprovação de perdas nas culturas incluídas no Seguro da Agricultura Familiar (Seaf) deve utilizar o Sistema de Posicionamento Global (GPS), para fornecer a localização, medição e a altitude da lavoura. As fotos usadas deverão ser digitais. Esta é uma das novas medidas para o Seaf, da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA), a partir da safra 2007/2008, de acordo com a resolução do Conselho Monetário Nacional, no. 3478, datada de 26 de julho de 2007. Com a mudança, não será efetuada cobertura do seguro, caso o agricultor familiar não colha seu produto na época correta e o armazene em local protegido e adequado. Haverá também ampliação de cobertura para arroz, feijão e soja, entre outros. As culturas irrigadas continuam não tendo cobertura para seca. Caso seja comunicada perda indevida, ou seja, inferior a 30%, o agricultor arcará com os custos da perícia. Além disso, o Grupo E do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) volta a ser incorporado ao Seaf. As medidas entrarão em vigor a partir de 2 de janeiro de 2008. Para a safra 2008/2009, estão em estudo outras mudanças. ○ ○ MUDANÇAS NA COBERTURA ○ SEAF ANUNCIA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A praga mosca-de-carambola no Pará e Amapá foi controlada, em julho, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A informação é do consultor do MAPA para o programa da mosca-dacarambola, Aldo Malavassi. O programa de erradicação durou cinco meses e recebe apoio contínuo do Governo Federal para que, entre dois ou três anos, não existam mais focos. Após outros cinco meses de captura zero, o foco poderá ser declarado como erradicado. O programa empregou tecnologias como controle químico, técnica de aniquilação de macho com o uso de blocos impregnados com metil-eugenol e remoção de hospedeiros. Além disso, foi realizada uma ampla campanha de educação sanitária em todos os níveis de ambas as cidades”, detalha Malavassi. Foi detectado um alto número de moscas em outras localidades no entorno do primeiro foco e foram seguidas as medidas de controle. As ações de combate começaram em fevereiro deste ano, quando foi detectada a praga na Vila de Monte Dourado, município de Almerin, (PA). Foram realizados levantamentos populacionais com armadilhas específicas na vila e em Laranjal do Jarí (AP), onde a mosca também se encontrava. Estabeleceu-se um programa de contingência pela Superintendência do MAPA neste Estado e no Amapá e pela ADEPARÁ (Agência de Defesa Agropecuária do Pará), sob a coordenação nacional do DSV/Brasília (Departamento de Sanidade Vegetal). 15 FRUTAS FRESCAS PRIMEIRO PASSO Formadas em viveiros ou em biofábricas, mudas de qualidade e procedência comprovada garantem o investimento na formação dos pomares. HENRIQUE SANTOS/DIVULGAÇÃO Beth Pereira Produção com base na certificação garante origem e assegura sanidade das mudas cítricas em São Paulo A qualidade da muda (ou semente) determina o sucesso ou o fracasso da atividade agrícola. Na fruticultura não é diferente, a muda é um insumo básico, daí a importância da utilização de material de boa procedência, visando assegurar a sanidade do pomar. Afinal, não se pode esquecer a importância do segmento de frutas frescas para o País, um negócio de 40 milhões de toneladas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A biotecnologia e a legislação têm sido grandes aliadas do setor, contribuindo para minimizar o impacto de pragas e doenças, além de melhorar a produtividade. 16 Nesse cenário, São Paulo está bastante avançado, principalmente, na certificação de mudas cítricas. O movimento, iniciado em 1994 como programa voluntário, ganhou impulso a partir de 2000, quando a nova legislação paulista estabeleceu critério progressivo para adoção de proteção com tela para sementeiras e viveiros, ficando, a partir de janeiro de 2003, proibida a formação de porta-enxerto e produção de mudas de citros em viveiros de campo. Segundo o diretor da Defesa Vegetal de São Paulo, da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), Mário Sérgio Tomazela, o sistema de produção de mudas com base na certificação, estabelecido pela lei paulista, visa monitorar e garantir a origem, além de comprovar a sanidade das mudas cítricas produzidas no Estado. “Com a certificação, é possível assegurar a produção de mudas e materiais propagativos de qualidade para atender à demanda do setor produtivo”, explica, lembrando que um dos gargalos da produção de mudas cítricas é a oferta de material de propagação, em quantidade suficiente e com garantia de sanidade. “Problemas fitossanitários podem pôr em risco a produção citrícola, até mesmo restringir as vendas externas”, alerta. Tomazela considera bastante positivos os resultados da rastreabilidade da produção de mudas cítricas em São Paulo e destaca como vantagem a oferta de material livre das principais doenças dos cítricos, como CVC, greening e morte súbita; padronização das mudas, segundo as exigências do mercado e da lei federal; eficiência na fiscalização; obrigatoriedade de diagnóstico fitossanitário, por amostragem, de modo FRUTAS FRESCAS a garantir a qualidade da muda tanto para o produtor como para o comprador; e maior eficiência na fiscalização, entre outros benefícios. O RISCO DA TRANSFERÊNCIA DE MUDAS CÍTRICAS Mesmo com regulamentação federal sobre produção, comércio de inspeção de mudas, Sérgio Alves de Carvalho, pesquisador do Centro Apta Citros “Sylvio Moreira”, do IAC (Instituto Agronômico), de Campinas (SP) afirma que o Brasil não dispõe de um programa de abrangência nacional, que assegure a sanidade do material vegetativo utilizado na formação dos pomares de citros. Ele destaca o programa paulista, mas considera que a extensão territorial do País e a quantidade de viveiros dificultam a realização de um programa de certificação e o controle rigoroso do trânsito de sementes, borbulhas e mudas. “Devem ser estimuladas ações visando à efetivação em todos os Estados da Federação, de programas que permitam maior controle de produção e trânsito de material de propagação”, sugere. De acordo com o pesquisador Walter dos Santos Soares Filho, especialista em melhoramento de plantas da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, por ser responsável pela maior produção de citros do País, São Paulo também tem os maiores problemas, razão pela qual a transferência de mudas de citros pode introduzir material de origem duvidosa e causar problemas que não existem na região, o que, segundo ele, é válido para qualquer tipo de cultura. “São Paulo tem uma série de problemas, como greening, que não existe no Nordeste, e o trânsito de mudas sem um controle sanitário adequado pode implicar no possível ingresso dessa doença na região”, aponta Soares Filho. “Isso para não mencionar a disseminação de cancro cítrico, leprose, amarelinho, entre outras doenças que podem contaminar áreas onde há focos limitados ou onde não há a ocorrência das mesmas no Nordeste”, argumenta. “Temos de evitar que essas doenças se espalhem.” Segundo Soares Filho, pelo fato de o Nordeste oferecer mão-de-obra barata, quando comparado com o Sudeste, além da possibilidade de irrigação em perímetros irrigados, como no eixo Petrolina– 17 Juazeiro, tem havido um grande interesse de grupos de outros Estados, principalmente de São Paulo, em se deslocarem para a região, para explorar a citricultura. “A atenção com doenças, portanto, deve ser redobrada, afinal, temos um grande potencial de crescimento, que pode ser comprometido, com implicações sérias com relação a emprego e renda”, alerta. A Bahia já tem também uma biofábrica de borbulhas cítricas, iniciativa do Programa Bahiacitros, parceria entre a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical , a EBDA e a Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A unidade foi inaugurada no ano passado, no município de Conceição do Almeida, e visa fornecer material genético de qualidade e resistente a pragas. PROCEDÊNCIA DUVIDOSA O pesquisador da Embrapa, Soares Filho, especialista em melhoramento de plantas, com uma linha de pesquisa voltada para citros e umbucajazeiro, afirma ainda que a muda – não só a de citros, mas a de qualquer cultura, assim como a semente – é a pedra angular do agronegócio. “Se considerarmos o custo da muda em relação a todo o investimento da atividade, ele é irrisório. Entretanto, a muda qualidade duvidosa pode fazer com que todo o investimento seja perdido”, argumenta e acrescenta que apesar dessa lógica, as pessoas ainda não entenderam a gravidade da situação. “O governo está agindo, mas falta uma fiscalização mais rigorosa, visando evitar mudas de outras regiões, que podem comprometer o agronegócio.” “Mudas cítricas, cultivadas em ambiente protegido, têm garantia fitossanitária, desde que o porta-enxerto e a copa tenham boa procedência genética”, afirma e acrescenta que a Embrapa incentiva o uso dessa tecnologia, que já está bem estabelecida em São Paulo. “Sergipe está bastante preocupado com essa direção e a Bahia também tem manifestado o interesse de seguir essa linha, até porque esses dois Estados são os maiores produtores de citros do Nordeste.” A ERA DAS BIOFÁBRICAS Outro avanço para o setor de produção de mudas, especialmente de banana e abacaxi, são as biofábricas. Uma delas, resultante da parceria entre a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, a EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola) e a Campo Biotecnologia Vegetal, foi criada com o objetivo de fomentar a fruticultura nacional, por meio da produção de materiais propagativos de alta qualidade genética e fitossanitária, utilizando modernas tecnologias. 18 PESQ. EDSON S. NOMURA LABORATÓRIO BIOVALE - PÓLO REG. VALE DO RIBEIRA-APTA FRUTAS FRESCAS Embalagens em vidro protegem as futuras plantas enquanto crescem “A Campo multiplica e comercializa os materiais desenvolvidos pela Embrapa e, em troca, paga royalties”, conta o gerente da unidade da Campo, Geraldo Fernandes. Também produz mudas para a Embrapa montar os campos experimentais de pesquisas para o desenvolvimento de novos cultivares de banana e abacaxi resistentes às principais doenças dessas culturas. “De 1998 até agosto deste ano, distribuímos mais de 7,5 milhões de mudas das duas frutas”, contabiliza. A unidade tem capacidade para multiplicar de 800 mil a 1,2 milhão de mudas por ano, sendo 80% de bananas. A matriz da empresa, em Paracatu (MG), pode produzir até 2 milhões de mudas ao ano, e a unidade de aclimatação, em Manaus (AM), possui capacidade para aclimatar 5 milhões de mudas/ano, praticamente 100% de banana. Nesse caso, o foco principal é a resistência à sigatoka-negra, de acordo com Fernandes. O gerente da Campo afirma que a produção de mudas de abacaxi e banana in vitro apresenta as seguintes vantagens: evita, em parte, a disseminação de algumas doenças e pragas; facilita o transporte a longa distância e o plantio de grandes quantidades de mudas por jornada de trabalho, devido ao grande porte e à padronização; produz mais em comparação às mudas de propagação convencional, por ser resultante de rigoroso processo de seleção e clonagem das plantas matrizes; possui garantia da qualidade genética; permite maior uniformidade dos tratos culturais em razão da padronização, facilitando a concentração da colheita em épocas mais favoráveis. “Além disso, a muda micropropagada produz 30% a mais do que a convencional”, destaca e aponta outro benefício: “Reduz o impacto em relação ao ambiente e à saúde dos trabalhadores rurais e do consumidor, graças à menor utilização de agrotóxicos.” FRUTAS FRESCAS URA IC U LT FRUT São Paulo também está avançando na produção de mudas de banana, por meio do Biovale Laboratório de Mudas, do Pólo Regional do Vale do Ribeiro, da Apta (Agência Paulista do Agronegócio), localizado em Pariqüera-Açu. Segundo o pesquisador do laboratório, Luiz Alberto Saes, a legislação incentiva a melhoria da qualidade da muda de banana comercializada. “Embora nem todos tenham aderido, gradativamente, os produtores estão adotando tecnologia, e a tendência, num futuro não muito distante, é que todos utilizem mudas produzidas em laboratório”, prevê. “O exemplo do bom resultado é uma boa referência e tem sido seguido.” A produção de mudas de banana do Biovale atende à demanda regional. A demanda, na região, é pelas variedades nanica e prata. O laboratório tem capacidade de produzir de 150 a 200 mil mudas por ano, de acordo com a demanda. “Temos um banco de germoplasma que faz, inclusive, a multiplicação in vitro de material selecionado pelo bananicultor”, explica. “Quem tem reformado o bananal com mudas produzidas na biofábrica, tem melhorado a produtividade, além de enfrentar menos problemas com pragas, principalmente.” Saes aponta como vantagens do uso de mudas produzidas in vitro o fato de ter um material selecionado, de alta produtividade, mais uniforme e resistente às doenças. No entanto, ele esclarece que mesmo um material de boa procedência exige uma multiplicação eficiente e cuidadosa, na biofábrica, para evitar problemas de mutação genética dos indivíduos. Pesquisador Oliveira e Silva: se não forem de biofábricas, mudas devem ser do próprio bananal R A PA NO VALE DO RIBEIRA vírus, quando não se faz a indexação, que é um processo que assegura a qualidade das mudas.” Porém, se o produtor tiver que utilizar mudas, ele recomenda que sejam procedentes do próprio bananal. Para isso, Silva orienta no sentido de selecionar áreas específicas para essa finalidade, visando evitar o trânsito de doenças (nematóides, mal-do-panamá e moko, principalmente), e fazer a toalete necessária. “Se for utilizar mudas de bananal de outra propriedade, deve-se fazer a toalete nas mudas, no local da procedência, ou seja, tirar toda a raiz do rizoma, removendo as partes com manchas escuras”, ensina. “Isso, de certa forma, ajuda na prevenção de doenças.” Segundo Silva, outra opção é fazer o tratamento das mudas oriundas de bananais com produtos específicos, de acordo com receituário fornecido por um engenheiro agrônomo. EMB De acordo com Fernandes, a micropropagação de plantas em biofábricas segue as seguintes etapas: coleta de matrizes no campo, preparo do explante (mudas in vitro), incubação no meio de cultura sem isolamento, comprovação de assepsia, indexação (exame de amostras de folhas para a verificação de viroses), proliferação de brotos, isolamento e enraizamento e transferência para as estufas de aclimatação. CONVENCIONAIS X CERTIFICADAS O pesquisador da área de melhoramento genético de banana da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Sebastião Oliveira e Silva, não descarta a possibilidade de se produzir bananas a partir de mudas convencionais, mas garante que não é a melhor forma. “A sugestão, sempre, é utilizar mudas micropropagadas. Tecnicamente, é isso que deveria ser feito”, enfatiza. “Mudas de banana produzidas em biofábricas são livre de doenças, à exceção de 19 A cadeia do frio exerce influência na manutenção da qualidade das frutas, mas, à exceção de casos pontuais, ainda há muito que melhorar para que a produção chegue ao consumidor com a mesma qualidade do pomar. Beth Pereira O grande gargalo da fruticultura é a falta de condições adequadas de transporte, pois uma vez que a fruta começa a amadurecer sua durabilidade é curta. Dentro desse contexto, a cadeia do frio tem papel essencial para o setor, que enfrenta problemas em decorrência da ausência de estrutura e dos altos custos do transporte, da refrigeração e de sua manutenção. “A refrigeração é fator primordial para o sucesso da cadeia de hortifrutis. A cadeia do frio é fundamental na manutenção das características organolépticas (propriedades que impressionam um ou mais sentidos do ser humano: visão, olfato e paladar) dos produtos colhidos e entregues aos centros de distribuição”, detalha o gerente nacional de Logística de Perecíveis da rede de supermercados Wal-Mart, Carlos Geraldo Boemer Cury. ‘Sem a refrigeração, com temperaturas externas cada vez mais altas, é impossível atingir o máximo em qualidade, mais e mais exigida pelos consumidores”, ressalta. Para enfatizar a influência da cadeia do frio e do transporte frigorificado em fruticultura, Lincoln de Camargo Neves Filho, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp (Universida20 de Estadual de Campinas) cita um exemplo: “Uma fruta excepcional, que agrega valor nutritivo e prazer ao olfato ou paladar, o melão, por pouco não é consumido como pepino. Colhido praticamente verde para suportar um transporte precário, não atinge estágio de maturação adequado e tem seu valor depreciado. Caso atingisse o ponto correto e com resfriamento e transporte frigorificados adequados, todas suas excelentes qualidades estariam disponíveis.” FROTA PEQUENA Embora o Brasil tenha uma frota considerável, composta por 1,7 milhão de caminhões (números da ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres), apenas 24 mil são reboques ou semi-reboques refrigerados. Para ter-se uma idéia do descompasso, dos 350 mil caminhões da frota da Espanha, 120 mil são refrigerados. Para o presidente da Associação Brasileira de Transporte Frigorificado (ABTF), Olavo Irineu Braido, não existem caminhões refrigerados suficientes para atender à demanda brasileira. “Temos muito que crescer, principalmente se pensarmos que o Brasil é um país continental com condições climáticas bastante diferenciadas”, diz. No caso específico das frutas, ele afirma que é difícil calcular o nível da falta. “De um modo geral, o transporte de frutas em caminhões frigorificados aproveita o frete de volta do Vale do São Francisco ou do Sul do Brasil para o Sudeste, principalmente, e o Centro-Oeste”, destaca. Segundo o presidente da ABTF, que é coordenador da Câmara Técnica da Cadeia do Frio da NTC Logística, até há pouco tempo, cerca de 90% dos caminhões utilizados no transporte de frutas eram abertos e lonados, e, no máximo, fechados, mas sem isolamento do baú com a caixa frigorificada. Ele lembra que muitas frutas exigem condições de temperatura adequadas para transporte. “Por não estarem adequados às exigências, acontece o absurdo de fazerem o transporte no período da noite, para aproveitar a queda de temperatura. É o chamado expresso corujão”, denuncia. “Estamos engatinhando”, diz. Na opinião de Braido, deveria ser realizado um trabalho de conscientização, tanto da parte de quem contrata como da parte de quem presta o serviço, no sentido de serem feitas adequações aos padrões exigidos. “Para garantir longevidade da fruta, é necessário que se estanque o processo de maturação por um tempo maior”, observa. Ao contrário de Braido, Cury, do Wal-Mart, considera que a frota do Olavo Braido: caminhões refrigerados são insuficientes País atende à depara atender demanda manda de transportes refrigerados. Para ele, o que precisa melhorar é a qualidade geral do serviço prestado pelos terceirizados, “em relação à manutenção da cadeia do frio em todas as etapas, principalmente na fase anterior à chegada do produto na loja, que é o penúltimo passo antes de chegar às gôndolas”. ABTF REFRIGERAÇÃO 21 REFRIGERAÇÃO Na avaliação de Cury, o transporte refrigerado tem um custo muito alto quando comparado ao valor agregado do hortifruti no Brasil. “O grande desafio está justamente em buscar o equilíbrio dessa equação a cada carro expedido”, pondera. “Manter a cadeia do frio durante o transporte exige que nossos prestadores de serviços tenham carros adequadamente equipados, a fim de atender às diferentes demandas de temperaturas, e sempre disponíveis para atuar quando houver qualquer tipo de emergência, pois o risco de perdas é grande”, avalia. Neves Filho diz ainda que não se refere ao aspecto social, mas a valores econômicos, com a redução de perdas físicas e de qualidade desde o campo até o consumidor. “Perder é deixar de ganhar, segundo a ótica de explicações tão simplista e tão em voga. E quem paga pelos acertos ou erros desta cadeia são exatamente as pontas: produtor e consumidor”, salienta. José Antonio Júnior, do Departamento de Marketing e Comercial da Climasul Refrigeração e Climatização, de Caxias do Sul (RS), afirma que o preço de um sistema de frio para maçãs e uvas, para armazenar de 1 mil a 2 mil toneladas, pode variar de R$300 mil a R$500 mil. “Essas frutas são muito exigentes e precisam de maior controle e monitoramento do frio”, explica. Segundo Junior, o cliente que precisa armazenar grande quantidade de frutas pode também optar por várias câmaras, com capacidades menores, o que facilita a separação dos frutos, conforme a classificação. MAIS GARGALOS Outro aspecto importante na fruticultura, na opinião de Neves Filho, é o relacionado à utilização de contêineres, até porque, explica, esses tipos de equipamentos não foram dimensionados para resfriar ou, em outras palavras, retirar grande quantidade de calor em período relativamente curto, mas, ao contrário, foram projetados para manter certas condições. De acordo com o professor, o resfriamento da fruta em um contêiner é uma operação incorreta, pois o equipamento foi dimensionado para estocar, ou seja, para manter as condições de temperatura exigidas pelo produto. “Embora tenha um custo menor que o de uma câmara, o contêiner não foi projetado para atingir uma velocidade de resfriamento do ar adequada, portanto, não deveria ser utilizado para tal finalidade.” Para o diretor da Navitrade, Américo J.F. Casal da Veiga, “a refrigeração é condição ‘sine qua non’ para quem precisa transportar seus alimentos pe22 recíveis, quer para o mercado interno, quer para exportação”, diz ele, acrescentando que pequenos e médios exportadores de frutas têm naturalmente mais dificuldade em investir e construir sua própria estrutura. “Algumas vezes eles se agrupam em cooperativas, outras, usam os armazéns frigoríficos de terceiros que têm como negócio principal o aluguel de espaço frigorífico.” Na análise do executivo, o que falta é acesso de pequenos e médios fruticultores ao investimento. “Eles não têm capacidade financeira (nem economia de escala) para construir as suas próprias instalações frigoríficas.” CONTAMINAÇÃO Além da refrigeração e dos cuidados no transporte, Cury, do Wal-Mart, afirma que é preciso ficar atento a outros quesitos, como prevenção da contaminação de frutas, que pode ser identificada por meio do exame de características externas que denotem ataques de pragas e doenças. “Em caso de dúvida, os fornecedores e produtores podem recorrer a pesquisas específicas, a fim de reconhecer princípios ativos aplicados e não permitidos para aquela cultura. Com certeza, se a fruta está contaminada, seus subprodutos também estarão”, analisa. Outro cuidado a ser tomado, na opinião de Cury, é com a umidade do ambiente refrigerado, no sentido de garantir o retardamento da perda de peso dos produtos, diminuindo enrugamento da casca, perda de sabor e valor nutricional desejado. “O perfeito equacionamento da temperatura e umidade relativa do ambiente refrigerado repercute diretamente no sucesso da operação logística de hortifruti”, enfatiza. Segundo Neves Filho, da Unicamp, a contaminação física ou microbiológica é sempre possível, mas deve estar dentro dos padrões estabelecidos. “Medidas preventivas e operacionais devem ser implantadas de forma consciente, evitandose litígios desnecessários que consomem energia, tempo e dinheiro.” Ele alerta que é sempre bom lembrar que o frio não destrói Lincoln de Camargo Neves Filho, os microorganisprofessor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp mos, apenas re- ARQUIVO PESSOAL CUSTO, OUTRO ENTRAVE tarda seu desenvolvimento. “Mesmo o congelamento de polpas ou produtos para posterior utilização, atua de forma idêntica no produto e no microrganismo, mantendo-o disponível”, enfatiza. EXEMPLO DE SUCESSO PORTO DE ITAJAÍ De acordo com o superintendente do Porto Municipal de Itajaí (SC), Wilson Francisco Rebelo, é justamente o transporte refrigerado que permite que grande parte da produção da fruticultura ganhe os grandes mercados internacionais. “Sem as condições adequadas de temperatura, a mercadoria não poderia transpor maiores distâncias no transporte marítimo e chegar intacta ao comprador”, pondera. Segundo Rebelo, além de ser a porta de saída para a maioria das exportações de produtos congelados e frigorificados do País, este ano, Itajaí foi o principal porto na movimentação da safra de maçãs. No primeiro semestre, o porto respondeu por 48% das exportações nacionais de maçãs, o equivalente a US$30,87 milhões, de um total de U$64,7 milhões. No caso específico da maçã, Rebelo afirma que as exigências com relação às condições de temperatura variam conforme o produto e a embalagem primária, mas, em média, o contêiner reefer funciona entre 1ºC e 3ºC positivos. “O produto deve ser conservado, porém, sem congelar”, explica. São vários os sistemas disponíveis no porto para atender a esse tipo de operação, inclusive acompanhamento da carga em tempo real pela internet. “Temos gates (portões para entrada e saída de caminhões) com balança, presença de fiscais do Ministério da Agricultura (para agilizar a liberação da mercadoria) e tomadas para os contêineres enquanto aguardam embarque”, enumera o superintendente. Rebelo afirma que, além dos gigantes do setor, o porto também atende a médios e pequenos produtores organizados em forma de cooperativas. “Juntos, eles conseguem volume para utilizar o sistema refrigerado e alcançar o mercado externo”, diz. Segundo Veiga, da Navitrade, o diferencial de Itajaí em relação aos demais portos brasileiros é a infra-estrutura dos terminais privados existentes na cidade. “A carga já chega no porto vistoriada pela Agricultura, muitas delas liberadas também pela Receita Federal”, afirma. “O acompanhamento, em tempo real, se destaca em relação aos demais portos que conheço no País”, observa. Wilson Rebelo, Porto de Itajaí: transporte refrigerado permite à fruticultura ganhar mercados internacionais 23 24 25 REFRIGERAÇÃO Veiga considera a cadeia do frio e o transporte frigorificado uma necessidade em fruticultura. “Graças aos avanços na tecnologia do frio é possível que frutas de mercados distantes consigam ter qualidade preservada para chegar aos destinos – às vezes percorrendo cerca de 9 mil quilômetros ou mais – em bom estado para serem consumidas”, afirma. De acordo com o executivo, à medida que a tecnologia do frio avança, as frutas das várias partes do mundo vão chegar a mercados mais longínquos e em melhores condições. “Há cerca de 15 anos, devido ao alto grau de perecibilidade, algumas frutas só podiam ser transportadas por via aérea. Hoje, graças ao avanço da tecnologia dos contêineres, podem ser transportadas, em maior quantidade e com economia de escala, por via marítima”, cita. Veiga destaca o grande impacto do transporte, custos de refrigeração e da falta de contêineres. “Há casos de exportação de frutas em que o item mais barato é a fruta; todos os outros itens (processamento, embalagem, transporte marítimo) têm um porcentual muito maior no custo final no destino”, enfatiza. Para exemplificar, Veiga afirma que um contêiner com laranja do Brasil para a Europa tem, atualmente, um valor FOB ao redor de US$7 mil. “Só o frete marítimo em contêiner representa cerca de 40% deste valor FOB”, afirma. Segundo o diretor da Navitrade, a falta de contêineres afeta o mercado de frutas frescas, pois resulta no aumento do frete marítimo e, por vezes, Para suprir deficiência do aeroporto e manter qualidade do figo, produtores da família Brotto montaram câmara frigorífica própria. 26 na impossibilidade de se escoarem safras em anos de boa produção. “Quando faltam contêineres, os exportadores de frutas têm que disputar o espaço que companhias de navegação oferecem com outros produtos, como carnes e frangos congelados, em cujo transporte (frozen) a tecnologia de frio é muito mais simples”, detalha. Como solução para o mercado interno, Veiga aponta a utilização crescente do transporte de cabotagem em contêineres reefer, liberando parte da frota de caminhões para o transporte nas áreas de produção para os portos onde o produto é exportado. “Entretanto, estão aparecendo algumas (poucas) iniciativas exitosas de transporte de carga frigorífica para os portos, por ferrovia, o que também libera caminhões”, cita. SOLUÇÃO PRÓPRIA Com uma produção de figos voltada para mercado interno e para exportação, os produtores Antonia e Salvador Brotto, do Sítio Monte Carlo, em Campinas (SP), produzem, anualmente, cerca de 90 mil caixas de figo em 30 hectares. Praticamente, os Brotto não têm problema com armazenagem e transporte, pois estão próximos ao aeroporto e dispõem de estrutura frigorificada própria. O figo para exportação é colhido e armazenado no sítio, em câmara fria, a 5ºC, apenas por um dia. “O figo é muito perecível, tem que ser colhido no ponto certo, pois dura até três dias, mantendo o sabor e a aparência, que denotam a sua qualidade”, PRODUTORA ANTONIA BROTTO AVANÇO DA TECNOLOGIA afirma Salvador Brotto. No dia seguinte, as caixas de frutas são colocadas em caminhão baú próprio, refrigerado à temperatura de 6ºC a 7ºC e entregue no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo. “Como o aeroporto não dispõe de câmaras, o despachante que faz o embarque avisa a hora certa do vôo. A carga tem que ser entregues pelo menos cinco horas antes do embarque”, conta. Assim que começou a exportar figo, Brotto comprou um caminhão baú refrigerado e investiu também na estrutura de armazenagem refrigerada para garantir a qualidade da fruta. “Preciso entregar um produto bom, pelo menos até o aeroporto; daí para a frente, perco o controle”, observa. “Ainda não tive problemas com refrigeração, mas tive com o manuseio dos pallets no aeroporto.” Os Brotto tem um espaço na Ceasa-Campinas, onde vendem o figo, colhido no mesmo dia, sem refrigeração. As frutas são transportadas em peruas comuns, fechadas. “O figo precisa ser protegido do vento, que resseca a fruta.” RASTREABILIDADE, DA ORIGEM ATÉ A GÔNDOLA Atualmente a rede Wal-Mart possui cinco Centros de Distribuição (CDs) operando com hortifrutis, localizados em Recife, Salvador, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, e consegue rastrear a origem dos produtos. Todos os itens recebidos em qualquer um dos CDs passam por rigorosas inspeções de qualidade, visando a atender os critérios mínimos definidos para a venda nas lojas do grupo, segundo Cury. “As caixas possuem identificações por fornecedor, onde estão descritos nomes, local de origem, data da colheita, tipo de produto e classificação. Nessas mesmas embalagens, os produtos aprovados são recebidos, separados e expedidos, conforme os pedidos das lojas, em até 24 horas, visando garantir o máximo de frescor”, detalha. Por essa razão, os fornecedores são obrigados a entregar as mercadorias em carros com baús para evitar contato direto com o ambiente externo. “Em muitos casos, dependendo das categorias de produtos, os fornecedores só podem entregar as frutas em veículos refrigerados”, afirma. Além desses cuidados, todos os CDs possuem uma estrutura refrigerada, tanto com antecâmaras quanto em câmaras de armazenamento, para quando houver necessidade de estocagem, como no caso das frutas importadas e cargas fechadas de frutas nacionais. “Nosso transporte até as lojas é realizado em carros refrigerados, equipados com termógrafos. Também utilizamos carros com bi-temperaturas, capazes de transportar diferentes categorias de produtos, otimizando os custos de frete”, ilustra. O Grupo Pão de Açúcar possui sete centros de distribuição que trabalham com hortifruti, com estruCarlos Cury, Wal-Mart: precisa melhorar qualidade geral tura de câmara do serviço prestado pelos fria para frutas transportes refrigerados nacionais e importadas. “Estamos testando um software para ter um sistema de rastreabilidade mais eficiente em relação à logística, à análise de resíduos e ao monitoramento do agendamento de cargas”, afirma Leonardo Miyao, diretor comercial do grupo. Ele acrescenta que os fornecedores da empresa fazem um processo de qualificação que informa sobre as práticas de produção, por meio de uma cartilha. De acordo com Miyao, certos produtos da pauta de exportação, como manga, uva, maçã, já têm práticas e processos definidos dentro da cadeia fria, o que não é uma realidade para toda a produção de frutas. “Investir na cadeia do frio é bom para o bolso e para o negócio, mas, se não for uma exigência, pouca gente terá essa iniciativa”, afirma. WAL-MART REFRIGERAÇÃO Pequenos e médios podem superar preços elevados por meio do associativismo Em sua opinião, o impacto do transporte e da refrigeração no custo das frutas é muito grande. “Como tudo é escala, a gente acaba tendo um custo mais alto do que o mercado geral, por investir nessa diferenciação, mas o investimento vale se pensarmos na satisfação do consumidor”, observa. Ele considera crítica a falta de armazéns refrigerados. “Falta frio para fruta; a situação é crítica; no fim de ano, a disputa é grande”, afirma. Ao pequeno produtor, ele recomenda a formação de associações ou empresas comerciais para fazer venda conjunta. “Isso é saudável nas práticas de produção e armazenagem e na parte comercial”, destaca. 27 O desafio das pequenas frutas 28 associação, o custo é um item muito oneroso, pois não possuímos um caminhão refrigerado para escoar a produção dos associados.” Se olhar para o mercado externo, Silva diz que a situação se complica um pouco mais, pois a cadeia de frio deve ser altamente controlada, desde a saída do packing até a armazenagem no aeroporto de Porto Alegre (RS). Com a retirada dos cargueiros da Varig no ano passado, ele conta que houve uma redução na altura dos contêineres que saíam do Rio Grande do Sul. “O problema é que, em São Paulo, essa altura aumenta para uma altura normal de transporte aéreo internacional.” Escassez de transporte Para Silva, falta infra-estrutura para atender à demanda de transporte refrigerado de frutas no Brasil. “O que vemos anualmente, de novembro a março, é escassez de caminhões refrigerados”, afirma e sugere a criação de uma política voltada aos grupos associativistas e cooperados que produzem o comercializam frutas, visando incentivar a aquisição de uma estrutura básica de logística e produção. “A compra de um caminhão com câmara fria é inviável, por causa do preço e dos juros”, diz. “Se esse tipo de veículo fosse beneficiado pela isenção de impostos, com juros oficiais de governo e pagamentos programados para o fim de cada safra, atenderia aos anseios de muitos grupos associativistas do País.” Segundo Silva, a refrigeração de frutas não é valor agregado ao produto, mas, uma exigência de sobrevivência para quem quer se manter no mercado de pequenas frutas. “Seria uma utopia querer abastecer os mercados interno e externo sem ter a consciência da importância da cadeia do frio para as frutas, pois o fator durabilidade, associado à qualidade, é o que fala mais alto nas prateleiras de venda ao consumidor.” O transporte frigorificado da fruta ainda é um problema para a associação dos produtores de mirtilo, porque a entidade não dispõe de um caminhão próprio e tem contrato de exportação de parte da safra para a Europa. ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES MIRTILO DA SERRA GAÚCHA, ANDRE MEDEIROS DA SILVA A cadeia do frio torna-se peça fundamental para o êxito das pequenas frutas (mirtilo, amoras, framboesas e morangos) no Brasil, segundo o vice-presidente da Associação dos Produtores Mirtilo da Serra Gaúcha, André Medeiros da Silva. “Refiro-me, principalmente, à durabilidade da fruta desde a colheita até o seu consumo na mesa familiar”, diz. “Por ser um país tropical de altas temperaturas, no Brasil, a pós-colheita tem se tornado um grande desafio para os produtores destas frutas.” Falando especificamente do mirtilo, Silva conta que a meta da associação é que a fruta após ser colhida deve sofrer uma quebra de 50% da temperatura entre a temperatura no pomar e seu pré-resfriamento. “Do pré-resfriamento até a sala de embalagem, a fruta não poderá sofrer elevação de temperatura, para não perder qualidade (firmeza e durabilidade), e na separação/embalagem, a mesma deverá ser resfriada próxima a zero grau”, explica. A partir deste momento, até a colocação nas prateleiras das redes de vendas, o máximo que o mirtilo poderá sofrer de elevação em temperatura será de 7oC. Diante desse contexto, percebese a importância da cadeia de frio para as pequenas frutas, o que inclui, além de mirtilo, amoras e framboesas, cujo cuidado é maior ainda, observa Silva. “Agora, se olharmos para o lado dos transportes dessas frutas, veremos uma grande brecha no mercado, pois o transporte de frutas no Brasil é muito heterogêneo. A exceção fica por conta de empresas e grandes produtores de maçãs do Sul do Brasil, que utilizam sua frota especificamente para o transporte de maçãs, regulando a temperatura e a umidade, conforme suas necessidades”, observa e acrescenta que do Sul até São Paulo – que é o grande mercado das pequenas frutas –, os produtores são obrigados a compartilhar espaço com outras frutas de diferentes exigências em termos de frio, como pêssego, ameixa, caqui, maçã e kiwi. Entretanto, pela importância do setor para o País e pelo grande avanço na qualidade das frutas ofertadas nos mercados interno e externo, Silva acredita que se produtores, transportadores e órgãos governamentais unirem seus esforços poderão encontrar uma solução para esse desafio. “Basta olharmos para países com muito menor tradição em produção, como os da América Central, onde produtores de pequenas frutas conseguem colocar seu produto no mercado europeu, com uma qualidade de encantar seus clientes”, elogia. “O Brasil tem que acordar e ocupar seu espaço no mundo como um potencial fornecedor de frutas para grandes mercados do Hemisfério Norte, pois nossa safra consegue aproveitar as grandes janelas abertas no período de setembro a março de cada ano.” De acordo com Silva, o custo do transporte de pequenas frutas para os mercados interno e externo, representa um porcentual elevadíssimo no preço de venda. “Para a Cadeia do frio é fundamental para pós-colheita de mirtilo e frutas vermelhas AGROINDÚSTRIA PEQUENA INDÚSTRIA GRANDE LUCRO Empresas artesanais provam que tamanho não é documento. Mesmo com poucos empregados e maquinário reduzido, seus produtos agregam valor às frutas e conquistam um seleto mercado. As empresas artesanais ganham espaço e levam um “toque caseiro” para as prateleiras dos supermercados e casas especializadas. “A produção artesanal de derivados de frutas já é expressiva em algumas regiões do País. Essas, inclusive, são reconhecidas pelos seus doces, geléias, sucos, licores e vinhos. Como exemplo, podemos citar: derivados de banana no Vale do Ribeira (SP), geléias e doces em Campos do Jordão (SP), doces artesanais de Minas Gerais, vinho artesanal do Rio Grande do Sul e São Paulo”, informa a pesquisadora Aumento da fabricação depende do aumento da produção de uvas orgânicas científica de fruticultura e abandonar suas propriedades e tentar a vida na ciengenheira agrônoma, Priscilla Rocha, do Instituto dade grande. Para reverter o cenário, as esposas de Economia Agrícola (IEA), de São Paulo (SP). Ela dos membros da associação se reuniram para lançar acredita que a disposição em pagar mais por um um livro de receitas, fazer geléias e licores de acerola produto artesanal se dê “por remeter à lembrança e de outras frutas regionais. Organizaram ainda a Festa de produtos feitos em casa, como antigamente”. Aos da Acerola. Evento, livro e produtos fizeram sucesso. consumidores, esses derivados de frutas trazem um “Hoje, Junqueirópolis é conhecida como a cidade da sabor único, por serem feitos manualmente. acerola”, comemora Maria Helena. A produção foi Os produtos artesanais podem até salvar vendiversificada e fazem também a bebida nos sabores das de fruticultores, como aconteceu com a acerola, uva, morango e jabuticaba, geléia de acerola e uva e em Junqueirópolis (SP). Desde 1997, Maria Helena recheio de acerola para bombons. Vicentin Frigo, coordena as mulheres da Associação No mercado há 20 anos, a Haribol, fabrica seus Agrícola da cidade, que produzem licores, geléias e produtos artesanais e naturais em São Lourenço recheio de bombons. A produção começou quando havia muito excedente de acerola, devido ao (MG). A fábrica se especializou em doces de frutas desconhecimento da fruta. Muitos pensavam em secas de ameixa, banana, uva, figo, damasco, pêra ECONATURA Carmem Moraes 29 AGROINDÚSTRIA ARTCOM A.C. e abacaxi, além de uma linha de paçoca de castanha de caju pura e com frutas tropicais. Os produtos são sem açúcar e sem conservantes químicos. Pioneira no segmento, atualmente a empresa inseriu pequenas máquinas em parte do processo. “A necessidade de otimizar a produção fez com que trabalhássemos dessa forma”, afirma Tauana Romanelli Assumpção. Já, a Econatura, de Garibaldi (RS), produz suco de uva orgânico, desde 1996, priorizando o mercado saudável. “Optamos pelos orgânicos, por causa da disponibilidade de uva produzida sem nenhum insumo químico, enviada à indústria junto com as tratadas com agrotóxicos. Vendo a falta de um destino mais nobre, surgiu a idéia de processar a uva artesanalmente e produzir suco orgânico”, explica o biólogo da empresa, Luiz Postingher. A empresa produz três tipos de sucos: Bordô, Isabel e Concord. Priscilla Rocha esclarece que ser artesanal não implica necessariamente ser mais natural. “A produção orgânica obedece às normas rígidas de certificação, que exigem, além da não-utilização de agrotóxicos, cuidados elementares com a conservação e preservação de recursos naturais e condições adequadas de trabalho”, informa. A diferenciação é fator decisivo para a entrada no mercado artesanal. Um exemplo é a produção das aguardentes de frutas da MusA, de Itajubá (MG). “Para um bom apreciador, as aguardentes artesanais são bem saborosas”, conMulheres de produtores ta a assessora de imprensa da emprede Junqueirópolis criaram sa, Maria Paula Feichas. “No caso dos derivados de acerola produtos MusA, não é possível obter a mesma qualidade na produção automatizada.” A primeira aguardente de banana foi fabricada em 1999. Hoje, a linha de produtos inclui aguardentes de ameixa, com fabricação desde 2005; além de tangerina e pêra, introduzidas no mercado o ano passado. Com um início mais recente, desde 2003, a Cecília Massas, de São Paulo (SP), oferece quatro opções de macarrão à base de banana verde: talharine, fetuccine, spaguetti e parafuso. Seus produtos são direcionados para aqueles que buscam hábitos mais saudáveis, pois são ricos em vitaminas e propriedades nutricionais, vindas da fruta. O macarrão de banana verde é recomendado para atletas, pessoas em regime e diabéticos até tipo 2. “Antes de amadurecer, a banana não possui açúcar. A massa possui fibras que auxiliam nos problemas intestinais”, informa a propri- 30 etária, Cecília Fraga, que acrescenta “o gosto e o cheiro da banana são imperceptíveis; o amido é resistente, não se ‘despedaça’ durante o preparo da massa e aumenta a sensação de saciedade após a refeição”. ABOCANHANDO O MERCADO O processo artesanal agrega valor ao produto e compensa. “O mercado para os produtos artesanais cresce a cada dia, devido ao maior nível de informação do público, valorização da saúde e da estética”, acredita Tauana. Priscilla, do IEA, ressalta que “na realidade, a produção dos artesanais é mais cara. Já que, por uma série de fatores, o custo de produção por unidade é maior”. Para Maria Paula, da MusA, os consumidores de aguardente artesanais se concentram nas classes AA e A. “Nossas aguardentes são vendidas, principalmente, nos grandes centros: Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.” Segundo Cecília, o produto artesanal é competitivo. Seu macarrão disputa mercado diretamente com o tipo Barilla, tipicamente italiano e é vendido direto na fábrica por R$ 5,00 o pacote. A Econatura está crescendo à medida que mais produtores de uva aderem à produção orgânica. De acordo com Postingher, “queremos manter a relação com fornecedores e clientes e ao mesmo tempo o equilíbrio e a harmonia com o meio ambiente”. Seus sucos seguem para a maioria dos Estados brasileiros, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro. A conscientização do comprador é levada em conta na hora de fabricar. “Os consumidores optam cada vez mais por produtos que não agridem o meio ambiente, pois o planeta Terra está correndo sérios riscos e a única a saída é mudar nossos hábitos de consumo”, constata Postingher. A “macarronera” Cecília também vê um mercado amplo para os produtos artesanais. Nos últimos quatro anos, desde que começou a produzir o macarrão de banana, em parceria com a Associação da Banana Verde, o produto pode ser encontrado nas prateleiras de casas especializadas em produtos naturais na Bahia, Santa Catarina, em Pernambuco, entre outros. A transferência de tecnologia está nos planos da empreendedora. Ela oferece cursos onde ensina pratos com a banana verde in natura e também com o macarrão feito a partir da fruta. “Devemos, futuramente, vender a tecnologia para outros países”, revela Cecília Fraga. A Haribol acha importante diversificar e lançar novos doces para se manter no mercado. “Crescemos tanto em área de atuação quanto em variedade da linha de produção, mas continuamos com o mesmo cuidado que sempre tivemos. Hoje, vendemos para todo o Sul e Sudeste, parte do Nordeste e Centro-Oeste”. MUSA O sabor único do licor de acerola artesanal chamou a atenção do mercado externo. As mulheres fabricantes estão negociando os produtos para o Mercosul. Atualmente, os doces e licores, exceto o recheio, são vendidos em feiras livres, na sede da Associação e durante a Festa da Acerola. O litro do licor sai por R$ 10,00 e a geléia por R$ 5,00. Além disso, 100 quilos de recheio de acerola são remetidos mensalmente para o Rio de Janeiro. A pesquisadora Priscilla alerta que “os produtos artesanais, muitas vezes, não podem ser comercializados fora do município, nem serem exportados”. Isso acontece Tangerinas se transformam em aguardantes especiais porque existe uma legislação de produtos artesanais derivados de frutas a ser seguida. Por esse fator, alguns produtores dependem do turismo para escoar sua produção. PEQUENA ESCALA A produção de um produto artesanal se diferencia do ritmo frenético das indústrias não apenas pela menor quantidade de maquinário. Para fabricar seu macarrão diferente, a Cecília Massas utiliza máquinas pequenas, o que impossibilita a produção em grande escala. Como muitos dos produtores artesanais, seus fornecedores são atacadistas que vendem a preço acessível. As bananas verdes do macarrão vêm da Ceagesp, em São Paulo (SP). Após acordo com vendedores do local, recebe bananas não-climatizadas para evitar o amadurecimento durante o armazenamento. As frutas usadas pelas mulheres da Associação de Agricultores são o excedente da produção de seus maridos. “Quando chove algumas frutas caem ou racham e acabam não sendo comercializadas, mas ainda estão boas e podem ser aproveitadas”, ex- 31 AGROINDÚSTRIA ARTCOM A.C. plica Maria Helena. As 26 mulheres, que integram a associação, se dividem em grupos para fazer os licores, as geléias e o recheio. O licor é feito manualmente e demora cerca de 22 dias para ficar pronto. Após a fabricação, a bebida ainda precisa “descansar” por três meses para atingir o melhor sabor. O único aparelho usado na elaboração das geléias é a despolpadeira. Todo o processo, incluindo a embalagem e a colagem dos rótulos, é feito pelas mulheres, artesanalmente. A Econatura possui seus próprios parreirais e o cuidado é terceirizado. De acordo com Luiz Postingher, eles são cultivados por 34 pequenos agricultores, acompanhados por técnicos especializados em agricultura orgânica, que seguem rigorosamente os padrões estipulados pelas certificadoras. “A uva produzida é processada, no máximo em 24 horas após a colheita. Neste período, são empregados 15 trabalhadores, devido ao processo artesanal”, detalha. A Haribol também é uma microempresa. “Temos um pequeno quadro de funcionários, organizado para tirar o máximo proveito do espaço e recursos físicos e humanos. Todos os funcionários têm participação nos lucros da empresa”, explica Tauana. Herança de família Em Carmo do Rio Claro (MG), a Art Minas fabrica pequenas obras de arte em forma de doces em calda, guardados em vidros hermeticamente fechados, com várias frutas numa única embalagem. Elas recebem inscrições de Boas-Festas, Feliz Natal e Arte em doces de frutas até logomarcas. “Empresas encogera presentes e brindes mendam os doces com suas especiais para empresas logomarcas para oferecer como brindes”, explica Carlos Prado, sócioproprietário. A delicadeza deste trabalho, no entanto, não é o carro-chefe da Art Minas, que emprega 18 pessoas, no processo de fabricação totalmente manual. “As cristalizadas, praticamente sem açúcar, são a maior produção.” Fazer doces artesanais é herança da família da sócia-proprietária Fátima Maria de Carvalho, que trabalha na atividade desde os 12 anos. Desde lá, conhece os segredos para os doces de frutas, como limão, kinkan, carambola, cidra, abacaxi, abóbora, laranja, entre outros, que são vendidos em várias partes do País e também exportados, embora em pequena escala. Segundo Prado, os doces não levam conservantes. A matéria-prima é regional e 60% é orgânica, adquirida de pequenos produtores. 32 As frutas são selecionadas com cuidado, para garantir o melhor sabor ao doce. Podem ser importadas ou nacionais, dependendo da qualidade. A preocupação ecológica da empresa vai além do doce que fabrica, pois o lixo que produz é reciclado. Produção, engarrafamento, administração e vendas da MusA são feitos por oito funcionários. A destilaria segue o padrão de qualidade estabelecido pela Associação Européia de Produtores de Destilados de Frutas e do Ministério da Agricultura. “As aguardentes são produzidas de forma artesanal, desde a seleção das frutas, oriundas da região do sul de Minas, passando pela produção exclusiva, pelo armazenamento em cubas de aço inox, bidestilação em alambiques de cobre e envelhecimento em tonéis especiais para preservar o aroma”, explica Maria Paula. “Nossa produção depende da disponibilidade da fruta, estoque, mercado e outros fatores”, informa. A pesquisadora do IEA recomenda ao produtor que trate os dois negócios, a lavoura e a fábrica, de maneira separada. “O mercado da fruta in natura tem exigências diferentes do mercado de derivados”, explica. Colaboração: Marlene Simarelli Suco do Vale O Vale do Rio São Francisco, maior região exportadora de uvas do País, começa a fabricar suco artesanal. A iniciativa é uma parceria entre Embrapa Semi-Árido, Instituto Tecnológico de Pernambuco (ITEP), Associação dos Vitivinicultores da região (Vinhovasf) e Cefet-Petrolina. Três fazendas já produzem os sucos experimentalmente e uma delas comercializa no mercado regional. Elaborado em 2004, “o projeto surgiu em função da demanda por novas opões de subprodutos da uva”, explica Giuliano Elias Pereira, pesquisador em enologia da Embrapa. Segundo Pereira, a atividade vitivinícola permite aumentar a rentabilidade por área de produção, sendo possível a inserção de pequenos fruticultores. “A grande vantagem do Vale do São Francisco é a capacidade de produzir. É possível colher entre duas e três safras anuais, o que rentabiliza a área produtora, ao contrário das regiões Sudeste e Sul, onde se consegue somente uma safra anual”, afirma. A tecnologia permitirá aos pequenos produtores obter sucos por dois sistemas: um com extração pelo calor, por meio de caldeiras; e outro, pelo método enzimático. O pesquisador explica que “a idéia é reduzir os custos, mas manter a qualidade. Além disso, sob controle rigoroso, o suco artesanal fica mais saudável”. NILTON F. SANCHES PASSAS DE MAMÃO Técnica para produção de passas de mamão, desenvolvida pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, obtém produto de maior qualidade e é aplicável em diferentes escalas de produção. Carmem Moraes O Brasil é o maior produtor de mamão e apenas a Região Nordeste, principalmente a Bahia, é responsável por 58% do volume comercializado no mercado interno. A constatação é da pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical (Cruz das Almas, BA), Rossana Catie Bueno de Godoy. No entanto, segundo sua pesquisa, a principal forma de consumo da fruta, no País, é in natura e as perdas na fase da pós-colheita do mamão atingem até 40% do total produzido. Ambos aspectos acarretam negativamente o bolso do produtor, resultando em prejuízos econômicos. A grande questão para o fruticultor é o investimento necessário para que se possa produzir derivados de mamão, com valor agregado. “O mamão cristalizado e produtos semelhantes constituem alternativas de transformação que demandam baixos investimentos em equipamentos, bastando um secador com controle do tempo e da temperatura de secagem”, afirma Rossana. A pesquisadora desenvolveu, no final de 2006, um novo processo agroindustrial para obtenção de passas de mamão, sem o uso de conservantes. Seu estudo teve início em 2003 e foi conduzido em parceria com a estagiária Alexandra Pereira dos Santos. “Com a nova técnica há uma redução significativa do tempo de saturação com açúcares, sendo também referência para conservação de outros produtos açucarados”, explica a pesquisadora. O obje- tivo do trabalho foi padronizar as variáveis de processo envolvidas na elaboração das passas de mamão, bem como definir sua vida de prateleira, tornando a tecnologia de processamento apta à transferência em pequena escala. Produção de passas de mamão requer apenas secador para controlar temperatura da secagem Segundo dados de Rossana, há muitas variáveis no processo de saturação de açúcar, dependendo da fruta escolhida. Por isso, para a definição da saturação necessária, foram estudados o pré-tratamento do fruto, tempo e utilização de coadjuvantes para melhoria da textura, tempo de cozimento no xarope de açúcares, teor de sólidos solúveis a serem impregnados por etapa, tamanho mais conveniente dos pedaços do fruto, embalagem adequada e tempo de vida de prateleira. “As avaliações foram realizadas mediante análises físico -químicas, microbiológicas e sensórias”, esclarece Rossana. O estudo foi conduzido em escala artesanal, pensando no pequeno produtor que produzirá em pequena escala. Por isso, decidiu-se excluir o uso de conservantes e utilizar embalagens de fácil aquisição. Rossana acrescenta ainda que “todo processo 33 EMBRAPA FRUTICULTURA foi realizado em conformidade com a legislação vigente para produtos de frutas”. PRODUÇÃO A pesquisadora ressalta que devido ao fato de “o processo ser desenvolvido em escala artesanal, ele requer baixos investimentos. É necessário um secador, cujos modelos são inúmeros no mercado, desde solares até a gás e energia elétrica. Basicamente, são realizadas a desidratação osmótica do mamão O mamão para passas deve estar começando a imaturo e uma secagem complepintar de amarelo para dar o ponto certo mentar”. Para Rossana, o cuidado na produção deve começar assim que os frutos chegam do campo, “eles devem ser separados de sujeiras grosseiras e mantidos em locais arejados até o processamento. Se os frutos estiverem com a casca totalmente verde, podem aguardar por mais ou menos dois dias, até apresentarem estrias amarelas. Devem ser selecionados os mamões do grupo Formosa, em estágio de maturação 2 (25% da casca amarela e o restante verde)”. O grau de maturação é importante e não deve ser ignorado, pois, segundo a pesquisadora, “se estiver muito verde, o fruto não apresentará tonalidade atraente e se estiver muito maduro, a textura do produto final ficará amolecida”. Produtos estragados ou infestados de pragas devem ser descartados. A higiene é outro aspecto importante na confecção das passas. “Os frutos devem ser lavados em água clorada e escovados”, recomenda Rossana Catie Bueno de Godoy. Uma vez cortados, a pesquisadora sugere uma nova lavagem em água corrente. Após essas etapas, os pedaços de mamão estão prontos para serem mergulhados em solução de xarope de açúcares, onde ficam em repouso por cerca de três dias. De acordo com a pesquisadora, “no primeiro dia, o xarope é de 30°Brix (30% de açúcares), onde se coloca para 6 l de água 1,64 kg de açúcar comum (sacarose) e 270 g de glicose (açúcar invertido). No segundo dia, aproveita-se o xarope do dia anterior, como descreve o processo, acrescenta-se 1,2 kg de sacarose e 170 g de glicose. No terceiro dia, no mesmo xarope, acrescenta-se 1,1 kg de sacarose e 115 g de glicose”. Depois são lavados novamente; dessa vez em água quente (65oC). Posterior a esse procedimento, os mamões são colocados em uma peneira para drenagem. A secagem é o processo mais importante, pois dará a aparência seca ao doce. Nesse estágio os produtos são levados a um secador com circulação de ar forçado à temperatura de 65ºC até que a umidade final do produto seja 25%. Ao término da etapa, o produto já está com sua aparência final e deve ser embalado, depois de frio, em embalagens flexíveis de celofane ou em embalagens rígidas de poliestireno e de polipropileno. Rossana recomenda que fique armazenado em locais ventilados por até 28 dias. O rendimento médio do processo é de 60%, ou seja, para cada 10 kg de mamão tem-se 6 quilos de passas. “O produto final apresenta 34 TECNOLOGIA ótima aparência, coloração, que varia de amarelo a laranja claro; brilhante e com textura firme. São superiores aos produtos disponíveis no mercado, que geralmente apresentam-se escuros, cristalizados na superfície e com textura rígida”, afirma Rossana. BENEFÍCIO PARA PEQUENO PRODUTOR A nova tecnologia exige baixos investimentos, o que resulta num maior aproveitamento da produção nacional de mamão e pode aumentar a receita dos pequenos produtores. “A tecnologia pode gerar maior emprego da mão-de-obra feminina, incrementando a renda familiar e agregação de valor ao produto. No mercado, produtos desta natureza chegam a atingir R$ 15 o quilo”, observa a pesquisadora. Podem ocorrer muitas variações para o mesmo processo, quando reproduzido em diferentes locais, devido a alguns fatores como: matéria-prima utilizada, material dos utensílios, superfície de evaporação, fonte de aquecimento e qualidade dos ingredientes. Além disso, Rossana percebeu, em seus estudos, que o produtor pode adaptar e escolher os equipamentos, de acordo com o tamanho de seu empreendimento, pois no mercado, existe uma série de modelos de secadores a preços acessíveis. “Os secadores podem ser elétricos ou a gás. O preço deles varia de R$ 600 a R$ 3 mil, por exemplo, de acordo com a capacidade deles.” A disponibilidade de tecnologias de aproveitamento industrial tem grande relevância, observa a pesquisadora. “O processo de passas de mamão é uma alternativa de transformação que demanda baixo investimento em equipamentos, bastando um secador para que a temperatura durante o processo de secagem seja controlada.” Buscando divulgar a técnica, foram realizados diversos cursos para fruticultores, organizados pela Embrapa Mandioca e Fruticultura, por meio de projetos de transferência de tecnologia, um deles financiado pelo Banco do Nordeste Brasil (BNB) e outro pelo programa nacional Fome Zero. Em um desses cursos, ministrado por Rossana, em 2006, a pequena agricultora Rita de Cássia Silva dos Santos, de Cruz das Almas (BA), aprendeu a fazer as passas de mamão, além de outros doces, como carambola cristalizada e geléias. Durante uma semana, 35 membros da Associação Comunitária de Desenvolvimento de Poções, puderem produzir as passas por meio da nova tecnologia. Segundo Rita, “o processo é mais fácil do que os que já conhecia, além de ser barato”. O único gasto que considerou elevado foi a estufa para secagem da fruta. No encerramento das aulas, os alunos promoveram uma feira na Escola de Agronomia de Cruz das Almas e venderam os doces que produziram. “Fizemos muito sucesso e recebemos elogios”, conta a agricultora. Depois de aprender a técnica, Rita diz que ficou com vontade de continuar vendendo os doces, mas lhe faltam recursos. “A prefeitura prometeu ajudar a construir um lugar para fazermos e comercializarmos os produtos, mas até agora não conseguimos”, lamenta. De acordo com a também pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Arlene Maria Gomes Oliveira, agricultores familiares do Assentamento São Miguel, no município de Santa Cruz Cabrália (BA), participaram, também em 2006, de um curso sobre processamento de frutas e mandioca, onde a passa de mamão estava incluída como um dos produtos. Os produtores interessados em maiores informações sobre a técnica de produção de passas de mamão podem contatar a Embrapa pelo telefone (75) 3621-8044 ou a pesquisadora Rossana Catie Bueno de Godoy pelo e-mail: [email protected]. 35 MEIO AMBIENTE TERRA SECA O desmatamento, aliado ao clima seco, transforma o solo em grandes áreas desertificadas. É necessário cuidado com vegetação, solo, água e uso de tecnologia para evitar a degradação ou o dano pode ficar ainda maior. ANTONINHO PERRI - ASCOM - UNICAMP Carmem Moraes 36 Desertificação é o processo decorrente de um clima relativamente seco e da degradação do solo, por meio de processos erosivos ou da retirada de uma determinada vegetação, que o leva a perder, definitivamente, sua capacidade de produção veProfessor Archimedes Perez Filho: getal. A definição desertificação é processo é do pesquisacausado pelo homem dor da Embrapa Solos, Celso Manzatto. O doutor em geociências e professor da Unicamp, Archimedes Perez Filho, acrescenta que desertificação é processo causado por mãos humanas. “Solos muitos frágeis, com característica arenosa, estão sujeitos à transformação em areais, devido à ação do homem. A degradação ocorre devido ao desmatamento para pastagens e plantações, o que acaba desprotegendo a terra”, explica Perez Filho. Nesses locais, o solo é de areias quartzozas, hoje classificado de neosolos quartzarênicos, onde há menos de 15% de argila e o restante dos componentes é areia. “É muito difícil realizar a fruticultura nessas condições”, afirma. Do ponto de vista físico, o solo possui pouca água; e do ponto de vista químico, é muito pobre em cálcio, magnésio e potássio - elementos químicos que sustentam as plantas. Com a retirada da vegetação original para produção de frutas, se não for realizado um manejo correto, pode ocorrer desertificação ou, conforme nomenclatura de Perez Filho, a forma- ção de desertos antrópicos. Por meio da ocorrência de chuvas, as propriedades do solo são lavadas, deixando-o mais pobre ainda. Além disso, no espaçamento entre uma planta e outra, abrem-se sulcos que, com o decorrer do tempo, ficam maiores, tornando-se voçorocas (grandes buracos). De acordo com o pesquisador em mudanças climáticas globais da Embrapa Informática Agropecuária, Giampaolo Queiroz Pellegrino, “o clima nesses locais degradados já era seco, porém, a retirada da vegetação faz com que, na ocorrência de chuvas, o impacto da gota provoque a desestruturação e a lixiviação do solo, degradando suas propriedades físicas e químicas. A infiltração diminui e menos água se mantém no solo. Ou seja, neste caso, o regime pluviométrico é um fator menos decisivo que a cobertura vegetal e o manejo do solo”. A tendência é a área de solo degradado se expandir, tornando-se cada vez maior e mais improdutiva. Segundo Manzatto, os locais atualmente desertificados foram, um dia, produtivos. “Existem casos, no Piauí, em que o processo é decorrente da mineração. Há terras em processo de desertificação, no Rio Grande do Norte, devido ao uso agrícola”, exemplifica. Já, para o professor da Unicamp, em solos mais argilosos, a retenção de água é maior e uma desertificação só poderia ocorrer em caso de seca muito grande. Ainda são estudadas as relações entre as mudanças climáticas e a desertificação, por isso, de acordo com Perez Filho, não se pode dizer que o aumento do calor tenha relação com o fenômeno. Pellegrino informa que a Embrapa iniciou um estudo em regiões do semi-árido, para analisar se houve aumento de temperatura em virtude do aquecimento global. “Resultados iniciais indicam o aumento e agora estudaremos se as áreas desertificadas estão se ampliando também”, explica. De acordo com Manzatto, há no Brasil muitas áreas desertificadas e salinizadas. “Salinização é um processo que ocorre devido ao acúmulo progressivo do sais que impedem o desenvolvimento normal das plantas”, explica. “Além disso, existe uma área no Sul, onde há um processo chamado arenização. Neste caso, o local também parece um deserto”, acrescenta. Geralmente, a cobertura vegetal das áreas suscetíveis à desertificação é o cerrado, no Centro-Oeste e Sudeste. No Nordeste, estas regiões são revestidas pela caatinga característica do semi-árido e no Sul, principalmente no Rio Grande do Sul, são cobertas pelos campos, onde predominam gramíneas. “O comportamento do microclima nessas áreas é semelhante ao de um deserto”, compara Pellegrino. Ele destaca que em terras, como no semiárido, onde houve a desertificação, o microclima fica muito mais seco e a tendência é a temperatura aumentar. “Isso ocorre porque o aumento da temperatura é inversamente proporcional à quantidade de água, ou seja, quanto menor a umidade atmosférica, maior a variação de temperatura”, explica. O fenômeno, segundo o pesquisador, tem uma explicação física que, simplificada, diz que “quando há infiltração de água no solo, parte da energia do sistema é usada para a evaporação da água e para a transpiração das plantas, no entanto, em áreas desmatadas, onde a água não permanece no sistema, essa energia é usada no aumento de temperatura”. A Embrapa, de acordo com Pellegrino, está elaborando um projeto, onde um sistema de monitoramento por satélite mapeará as áreas desertificadas e o avanço do processo. As informações poderão colaborar para tomada de decisões em programas de combate à desertificação, como o promovido pelo Ministério do Meio Ambiente. Tecnologia e recuperação A produção de citros na região de São Carlos, SP, onde o solo possui características arenosas, foi possível graças ao uso de recursos tecnológicos. O professor Perez Filho explica que “para que o plantio exista, há a demanda de um relevo plano, com declividade menor do que 3%, recursos financeiros e tecnologia”. Além disso, é necessário o manejo da terra, com plantação de gramíneas, evitando erosão entre plantas e prevenindo problemas físicos. O manejo químico da terra, segundo ele, também é preciso e se faz com fertilizantes e produtos para a planta se desenvolver bem. “Inclusive, em muitos casos, é necessário corrigir a saturação de alumínio, que pode ser elevado a até 50%, prejudicando o pomar.” Para Pellegrino, é possível a recuperação por meio de aumento da matéria orgânica e da fertilidade do solo, técnica para manutenção da água no sistema e diminuição de sua erosividade, principalmente, com aumento da cobertura vegetal. Esse conjunto de ações permite o armazenamento de água no solo e a permanência do líquido para o aproveitamento do pomar. “O homem deve fazer o manejo correto do solo para aumentar a fertilidade e ter o mínimo de condições para manter a recuperação da vegetação”, orienta. “É preciso planejamento, uma estratégia de desenvolvimento para atacar essa situação”, propõe o pesquisador da Embrapa Solos, Manzatto. Um exemplo bem-sucedido de região que contornou os problemas causados pela seca e pelo solo de má qualidade, raso e pedregoso, é o Vale do São Francisco, grande pólo fruticultor do Nordeste brasileiro. “Eles solucionaram o problema, irrigando. É preciso pensar no projeto de irrigação, e o mais indicado é por gotejamento, já que por aspersão se perde muita água devido à evaporação”, informa Perez Filho. Essa forma de irrigar também é indicada, por ele, para solos arenosos. 37 OPINIÃO Os agricultores do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Catanduva (SP) são ligados a famílias que se instalaram nos municípios produtores de limão tahiti nas décadas de 1940/50. A partir dos anos 80, introduziram a cultura nas propriedades, como alternativa à produção de laranja, por ser mais resistente às pragas e doenças. O EDR de Catanduva possui 200 propriedades já certificadas segundo o protocolo EurepGap (European Retailers Produce Working Group Good Agricultural Practices). Ressaltase que um projeto para certificar mais 200 propriedades está em andamento, em parceria entre Sebrae-SP e Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Limão - Abpel. condutora do processo considera o número de pés de limão plantados para classificar o tamanho do produtor. Assim, de 200 a 1 mil pés é considerado pequeno produtor; de 1001 a 5 mil pés, médio, e acima de 5 mil pés é grande produtor. Para avaliação de impactos, foram aplicados dois módulos do sistema: AmbitecAgricultura e Ambitec-Social, cujo conjunto de indicadores inclui oito aspectos. São eles: alcance de tecnologia, eficiência tecnológica, conservação ambiental e recuperação ambiental, para o Ambitec-Agricultura; e emprego, renda, saúde, e gestão e administração, para o Ambitec-Social. O processo de certificação EurepGap, conduzido a partir de 2002, tem-se colocado como uma estufa, devido à adequação da freqüência do uso de máquinas para os tratos culturais, e a melhoria na qualidade do solo, explicada pelo indicador da capacidade produtiva (correção e adubação orientadas por análises de solo). Também há moderado impacto positivo na compactação do solo em função da redução da prática da gradagem. Na avaliação de impacto social, o processo de certificação propiciou melhorias nos aspectos: renda (garantia de obtenção e elevação no montante da renda auferida), saúde Certificação melhora sistema de produção e reduz impactos ambientais Considerando um grupo de 50 propriedades certificadas, foi realizada a avaliação de impactos ambientais e sociais a partir de opção metodológica, baseada na adoção da estrutura de impactos do Sistema de Avaliação de Impacto da Inovação Tecnológica Agropecuária (AmbitecAgro), metodologia desenvolvida pela Embrapa Meio Ambiente. 1 Os resultados da pesquisa de campo referem-se a 14 propriedades desse grupo com certificação EurepGap, com distintos tamanhos, segundo o número de pés plantados, e níveis de enquadramento inicial às exigências do protocolo. A pesquisa ocorreu entre janeiro e maio de 2007. As propriedades estão distribuídas nos municípios de Marapoama, Urupês, Itajobi, Cedral e Eliziário, com participação de pequenos (44%), médios (52%) e grandes (4%) produtores, segundo número de pés de limão plantados. A empresa 38 vantagem para o produtor em busca de permanência no mercado e do fortalecimento desta lavoura na região. A certificação é vista como um instrumento que pode contribuir para a diminuição dos impactos ambientais e sociais. A abordagem proposta na pesquisa é direcionada ao entendimento do processo de certificação agrícola, a partir da identificação e análise das necessidades de alterações nos sistemas produtivos agrícolas. Dentre os resultados, verificou-se que a análise do impacto na dimensão ambiental, a partir da adoção do protocolo, trouxe benefícios. Destacam-se: importante redução na aplicação de agroquímicos, em função da redução na freqüência de aplicação, e redução na emissão de odores, devido à eliminação do uso de determinados tipos de produtos, considerados impróprios para a lavoura do limão tahiti. Há ainda a redução na emissão de gases de efeito (segurança e saúde ocupacional e segurança alimentar) e gestão e administração (dedicação e perfil do responsável pelo estabelecimento, reciclagem de resíduos e relacionamento institucional). Apesar da certificação do protocolo EurepGap ocorrer em grupo, observa-se que não contribuiu para aumentar ou fortalecer a capacidade de organização dos produtores. Mas concluise que a certificação tem se constituído em um instrumento que contribui para a redução de impactos ambientais e sociais negativos em sistemas de produção de limão tahiti. Wagner Antonio Jacometi Analista do Sebrae-SP, professor do C. Univ. de Rio Preto (UNIRP) e mestrando do Progr. Pós- Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UNIARA). 1 Resultados são parte da dissertação de mestrado do autor, orientado pela Profa. Dra. Sônia Regina Paulino. AGENDA 17 a 21 • II SIMPÓSIO INT. DE FRUTICULTURA TROPICAL Y SUBTROPICAL (Victoria de Girón) Hotel Nacional de Cuba (Matanzas/Cuba) Info: Jagüey Grande [email protected] ou [email protected] nacionais set 07 a 23 • FESTA DE FLORES E MORANGOS DE ATIBAIA (Associação Hortolândia de Atibaia) Parque Municipal Edmundo Zanoni (Atibaia/SP) Info: Associação Hortolândia (11) 4412-9581 / 4412-5979 [email protected] • www.festadasfloresdeatibaia.com.br set 06 a 09 • FEIRA DO PRODUTOR RURAL DE TERESÓPOLIS (Versão BR Comunicação e Marketing) Parque Municipal de Exposições (Teresópolis/RJ) Info: Cecilia Ghiraldelli • [email protected] • www.feport.com.br 19 a 21 • LATIN AMERICA FOOD SHOW (Ferias Alimentarias) Cancúm Center (Cancún/México) Info: Irene Salazar (54 11) 4555-0195 • [email protected] www.feriasalimentarias.com 10 a 12 • SEMANA DO RIO GRANDE DO NORTE (SEBRAE-RN) FIESP (São Paulo/SP) Info: Sebrae-RN (84) 3686-7986 • [email protected] www.sebrae.com.br 19 a 21 • FORUM VÉGETABLE (Le Magazine Végétable) Parque de Exposições (Angers/França) Info: Le Magazine Végétable (33 04) 9033-5656 [email protected] • www.forum.vegetable.fr 10 a 13 • FRUTAL - 14ª Semana Internacional da Fruticultura, Floricultura e Agroindústria (Instituto Frutal) Centro de Convenções de Fortaleza (Fortaleza/CE) Info: Instituto Frutal (85) 3246-8126 • [email protected] www.frutal.org.br 12 a 15 • PMA - Fresh Summit (IBRAF) George R. Brown Convention Center (Texas/Estados Unidos) Info: Camila Gonçalves (11) 3223-8766 • [email protected] www.pma.com/freshsummit 18 a 21 • FEBRAVA - Feira Int. de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação, Aquecimento e Tratamento do Ar (ABRAVA) Centro de Exposições Imigrantes (São Paulo/SP) Info: Instituto Frutal (11) 3361-7160 • [email protected] www.abrava.com.br 13 a 17 • ANUGA (APEX-Brasil) Cologne Exhibition Center (Cologna/Alemanha) Info: Michele Candeloro • [email protected] www.anuga.com out out 03 a 05 • FENACOOP - Feira Internacional das Cooperativas, Fornecedores e Serviços (WTM MANAGEMENT) Centro de Convenções Frei Caneca (São Paulo/SP) Info: WTM Management (11) 2193-7740 [email protected] • www.fenacoop.com.br 04 a 06 • EXPOFRUIT - Feira Int. da Fruticultura Tropical Irrigada (COEX) Campus da UFERSA (Mossoró/RN) Info: João Manoel (84) 3312-6939 [email protected] ou [email protected] set 21 e 22 • WORLD FRUIT AND VEGETABLE SHOW (IBRAF) Excel London (Londres/Inglaterra) Info: Valeska Oliveira (11) 3223-8766 • [email protected] www.wfvexpo.com 29 a 31 • IFE AMERICAS(Conceiro Brazil) Miami Beach Convention Center (Miami/Estados Unidos) Info: Araceli Dias (11) 3831-4700 • [email protected] www.conceitobrazil.com.br 04 a 07 • VII SIMPÓSIO LATINO AMERICANO DE CIÊNCIA DE ALIMENTOS (UNICAMP) Faculdade de Engenharia de Alimentos-FEA (Campinas/SP) Info: Lourdes Meneses (19) 3521-3887 • [email protected] 18 a 23 • VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DO ABACAXI (Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical) Tropical Hotel Tambaú (João Pessoa/PB) Info: Andrade Marketing & Eventos (83) 3244-0088 [email protected] • www.ipsbrasil2007.com.br 17 a 20 • POLAGRA FOOD (CONCEITO) Centro de Convenções Póznan (Póznan/Polônia) Info: Araceli Dias (11) 3831-4700 • [email protected] www.conceitobrazil.com.br 16 a 18 • BIOFACH AMÉRICA LATINA-EXPOSUSTENTAT (Planeta Orgânico) Transamérica Expo Center (São Paulo/Brasil) Info: Planeta Orgânico (21) 2239-2395 • [email protected] www.biofach-americalatina.com.br 23 a 26 • IFE FRESH PRODUCE (Montgomery International Limited) Expocentr Moscow (Rússia/Moscou) Info: Iona Smith (44) 20 7886-3149 • [email protected] www.ifefreshproduce.com 11 a 15 • SAUDI FOOD (Over Fair Exhibition & Service) Riyadh Exbitions Centre (Riyadh/Arábia Saudita) Info: William Atui (11) 3891-0075 • [email protected] www.recexpo.com nov nov 21 a 25 • Simpósio Internacional de Fruticultura de Clima Temperado sob Condições Tropicais e Subtropicais (EMBRAPA) Hotel Maria do Mar (Florianópolis/SC) Info: Flávio Gilberto Herter / Gabriel Berenhauser Leite (49) 3561-2000 [email protected] / [email protected] www.cpact.embrapa.br/eventos/2007/VIIITZFTS/index internacionais 18 a 21 • WORLD FOOD MOSCOW (Bäumle Organização de Feiras Ltda) ZAO Expocentr (Moscou/Rússia) Info: Soraia Oliveira (41) 3027-6707 • [email protected] www.world-food.ru/eng/ 14 a 16 • FHC CHINA (Ferias Alimentarias) Centro de Exposições (Shanghai/China) Info: Irene Salazar (54 11) 4555-0195 • [email protected] www.feirasalimentarias.com 28 a 30 • SOUTHERN HEMISPHERE CONGRESS (Eurofruit Magazine) Hotel Hilton (Buenos Aires/Argentina) Info: Barbara Van Oostrom (44 0 20) 7501-3712 [email protected] • www.shcongress.com 39 EVENTOS IMAGEM GERA ´ NEGOCIOS Projetos desenvolvidos pelo Ibraf durante a Fenagri 2007 promoveram a imagem das frutas brasileiras e possibilitaram a geração de negócios com compradores estrangeiros. Fotos Ibraf Projeto Comprador gerou US$ 3 milhões em negócios Visitas técnicas promovem mudança da imagem da fruticultura nacional 40 Ressaltar a imagem do Brasil como supridor de frutas com qualidade internacional é o principal objetivo do Projeto Comprador e Imagem, realizado durante a Fenagri 2007, ocorrido em Juazeiro (BA), em julho. As rodadas de negócio promovidas pelo Projeto Comprador geraram US$ 3 milhões em negócios durante a feira e em encontros na sede do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), em São Paulo (SP). Segundo perspectivas dos importadores, mais de US$ 6,2 milhões em negócios devem ser concretizados com os empresários brasileiros nos próximos 12 meses. O projeto reuniu compradores do Canadá, da Itália, França e República Tcheca, além de jornalistas da Espanha e Inglaterra. Foram realizadas também rodadas com atacadistas nacionais, organizadas pelo Sebrae-BA, com dez centrais da Associação Paulista de Abastecimento de Supermercados (Apas), três empresas atacadistas da Ceagesp e atacadistas das Centrais de Abastecimento (Ceasas) de Mato Grosso, Santa Catarina e Minas Gerais. A ação integra o projeto Brazilian Fruit, promovido pelo Ibraf, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e de Investimentos (Apex-Brasil), para promover as exportações das frutas brasileiras e seus derivados. Além das rodadas de negócios, foram realizadas visitas técnicas a plantações de manga e uva e packing houses das empresas Special Fruit, BPF-Brazilian Premium Fruit, Fruitfort e Vini Brasil. Para Kamel Benabdelhalim, jornalista da revista inglesa Supermarket Today, “as visitas técnicas mudaram minha opinião sobre o Brasil, porque vi muitas coisas positivas, pessoas motivadas com sua propriedade e dispostas a mostrar o melhor da sua empresa”. O jornalista inglês acredita que “os exportadores brasileiros são muito ativos, mas precisam estar mais presentes em diferentes feiras internacionais para ter um contato direto com os compradores”. Capacidade para controlar a produção durante 12 meses, interesse de organizações governamentais em promover o setor frutícola com missões comerciais e sistemas de irrigação para controlar gastos com água são os pontos positivos da fruticultura brasileira, observados por Rafael Losilla, jornalista da revista espanhola F&H (Frutas y Hortalizas). Ele ressalta que problemas logísticos, de infra-estrutura, câmbio e a distância entre os principais mercados compradores, são entraves que podem prejudicar a competitividade do País. Gerardo Ignacio Lopez Noriega, gerente de Desenvolvimento de Negócios da empresa canadense Loblaws, uma das empresas participantes das rodadas, afirmou que o Ibraf possui grande conhecimento sobre fruticultura. “Recebemos boas informações sobre como fazer negócios no Brasil; o que levou nossa empresa a um melhor direcionamento de negócios com produtores brasileiros.” Com o tema Na Rota do Vinho, a Fenagri 2007 ocupou, no período de 18 a 21 de julho, uma área de 24 mil m², na Orla Nova, em Juazeiro (BA). Segundo Marlize Mainardes, coordenadora do evento, “a região do Vale do São Francisco produz cerca de 8 milhões de litros de vinho por ano em sete fazendas produtoras, sendo o segundo pólo vinícola do Brasil”. Paralelamente à feira, foram realizados o Simpósio de Manga do Vale do São Francisco, mini-cursos e rodadas de negócios. Caravana da Fruta Ação de capacitação já levou informação a produtores de duas regiões do Estado de São Paulo e ainda percorrerá mais cinco regiões. As regiões de Sorocaba e Araçatuba, com a participação de 178 produtores de caqui, uva e abacaxi, foram as primeiras a receber a Caravana da Fruta, em julho e agosto no Estado de São Paulo. A Caravana ainda passará por mais cinco regiões – Araraquara, Botucatu, Campinas, Itapeva e Presidente Prudente – durante os próximos meses deste ano, envolvendo produtores de limão, manga, goiaba, acerola, figo, caqui e frutas de caroço (pêssego, ameixa e nêspera). Esta é uma ação do Fruta Paulista, projeto de capacitação em Boas Práticas Agrícolas e marketing, realizado em parceria pelo Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), Sebrae-SP e escritórios regionais de Araraquara, Araçatuba, Botucatu, Campinas, Itapeva Presidente Prudente e Sorocaba. Seu objetivo é proporcionar aos participantes as informações necessárias para estruturar desde a produção até a comercialização, visando à utilização das melhores técnicas para garantir um produto com boa aceitação do consumidor. A primeira região a receber a Caravana da Fruta foi Sorocaba, com produtores de caqui e uva na cidade de Pilar do Sul. Segundo Carlos Akira Morioka, presidente da área comercial da Sorocaba abre Caravana da Fruta Associação Paulista de Produtores de Caqui (APPC), “as palestras foram sugeridas pela APPC e, realmente, foram úteis aos produtores, que poderão aplicar alguns temas a curto prazo, além de abrir novos horizontes para temas como agroindustrialização”. Para Shoji Korin, presidente da Associação de Produtores de Abacaxi do Município de Guaraçaí (APAMG), “a Caravana da Fruta na região foi muito boa, porque os produtores tiveram a oportunidade de assistir a várias palestras com profissionais e pesquisadores de qualidade”. Korin acredita que “a Caravana serviu para abrir a cabeça dos produtores com novas formas de comercialização, como os minimamente processados, e técnicas de pós-colheita”. 41 ARTIGO TÉCNICO CONTROLE DE CONTAMINAÇÃO POR FUNGOS Higiene, frigorificação e uso de desinfestantes na pós-colheita ajudam a controlar aparecimento e disseminação de fungos e melhora a segurança das frutas e seus derivados. Fotos e texto: Rosa Maria Valdebenito Sanhueza 1 As perdas que produtores e/ou ponto adequado para cada cultivar; empacotadores de maçãs têm por armazenagem da fruta sob condições causa das podridões em pós-colheita de atmosfera controlada e a diminuipodem atingir 35% a 40% da fruta ção da população do agente causal. frigorificada. Aquelas iniciadas duranPara se obter a redução do agente te a frigorificação são causadas princicausal deve-se adotar um conjunto de palmente pelo fungo Penicillium medidas de higiene para as embalaexpansum e a podridão é conhecida gens; lavagem e desinfecção freqüente como ‘mofo azul’. O microrganismo das sacolas de colheita e das instalações coloniza a epiderme da fruta e pode onde se manuseia e armazena as mainiciar a infecção, se esta apresentar çãs; o controle das estruturas do ferimentos. Maiores perdas por po- Maçã frigorificada com podridão causada pelo patógeno que se encontram na superfídridões são constatadas na cultivar Penicillium Expansum cie das maçãs e das que estão suspensas Fuji, que tem mostrado maior na água, mediante o uso da luz suscetibilidade à doença. Este fungo produz, em grande quantiultravioleta UV-C; e, o controle de Penicillium na água de lavagem dade, longas correntes constituídas pelas estruturas de e no ambiente com produtos desinfestantes. frutificação, chamadas conídios na epiderme dos tecidos coloniNa colheita, deve ser prevista a higienização de bins e sazados, mesmo sob condições de 0°C e tanto na presença de colas. Deve ser feita a lavagem freqüente das sacolas para eliluz como no escuro. Elas são disseminadas pelo ar em todas as minação de terra e restos de frutas da colheita, e a desinfecção instalações das empacotadoras e câmaras frias. Ainda, quando com solução de hipoclorito de sódio ou de cálcio contendo 0,025% os frutos são suspensos em água para lavagem ou classificação, de cloro ativo ou com saneantes, contendo cloro orgânico nas doestas estruturas do patógeno os contaminam e infectam duranses recomendadas para tratamento da água de lavagem das maçãs. te seu processamento. A eliminação prévia de resíduos orgânicos, presentes nas sacolas, é O controle de P. expansum e de outras espécies de Penicillium é indispensável para maximizar o efeito do cloro. desejável para diminuir a perda de fruta causada pela podridão. O No caso dos bins e caixas de colheita, após a utilização, controle também minimiza os riscos de contaminação dos sucos e devem ser lavados para eliminação da terra e restos de frutas derivados de maçãs, com um produto tóxico ao homem, produdeterioradas. Bins que armazenaram frutas que desenvolveram zido pelo patógeno na polpa da maçã, que é a micotoxina “patulina”. alta incidência de podridões durante a armazenagem e, especiA falta de cuidado na eliminação rápida de refugo, o uso de almente, os que tinham fruta com podridão por Botrytis cinerea embalagens sujas com terra ou restos de frutas e a substituição (mofo cinzento) devem sofrer um tratamento adicional. O trapouco freqüente da água de lavagem são fatores que contributamento consiste em colocá-los em uma câmara onde serão em, decisivamente, para aumentar o número de estruturas dos submetidos à desinfecção com uma mistura de 0,5 l de água; 0,5 patógenos causadores das podridões de frutas. l de formaldeído 38% a 40% e 250 g de permanganato de potássio Os métodos de controle da podridão por Penicillium são para 100 m3 de câmara. Recomenda-se colocar a solução aquosa de formaldeído em duas ou três bacias de plástico e adicionar a bem conhecidos no Brasil e incluem medidas que asseguram a proporção correspondente de permanganato de potássio no final, diminuição da suscetibilidade da fruta às infecções, tais como a pouco antes de fechar a câmara. A temperatura do ambiente, duutilização de fungicidas em pré e pós-colheita; a colheita no 42 ARTIGO TÉCNICO rante o tratamento, deve ser superior a 15ºC. Após o tratamento, a câmara deve permanecer fechada durante um dia e, depois, ventilada por dois dias, no mínimo. O formaldeído é irritante às mucosas e deve ser aplicado com máscara e óculos de proteção. As recomendações para o controle da contaminação nas câmaras frias sem fruta, antes do seu uso, incluem a higienização dos locais, seguido do uso de desinfestantes, produtos, no geral, sem efeito residual prolongado. (Tab. 1). É recomendada a amostragem freqüente dos fungos contaminantes do ambiente (câmaras e empacotadora) por meio do sistema de monitoramento desenvolvido pela Embrapa Uva e Vinho, utilizando meio de cultura contido em placas. Para o controle das estruturas de Penicillium no ar, na água e nas frutas, um dos produtos mais utilizados em pós-colheita são fontes de cloro inorgânico, tal como o hipoclorito de sódio. De baixo preço, deve ser usado em concentrações entre 25 a 50 ppm de cloro livre para ser efetivo no controle de Penicillium. Mas ele apresenta várias desvantagens: a) se volatiliza rapidamente exigindo reposição permanente e contaminando o ambiente da área de tratamento, trazendo riscos à saúde dos trabalhadores que permanecem ao redor dos pontos de aplicação; b) o seu uso deve ser feito em pHs entre 6 e 7 para controlar os microrganismos; c) é altamente corrosivo aos metais do maquinário e estruturas das empacotadoras; d) tem elevada afinidade com matéria orgânica e, na presença desta, diminui a sua concentração efetiva e produz produtos complexos com características cancerígenas. Uma alternativa ao hipoclorito de sódio são os cloros inorgânicos usados como saneantes, para potabilização de água e na conserva- ção de alimentos, e em produtos usados para prevenir doenças no homem. Eles têm menor afinidade com a matéria orgânica, maior poder residual e volatilidade, e menor efeito corrosivo. Neste grupo, incluem-se o digluconato de clorhexidina e o dicloro isocianurato de sódio, produtos que têm mostrado grande eficácia para o controle de Penicillium nos ambientes onde se manuseia a maçã. O uso deste grupo é recomendado no sistema de Produção Integrada de Maçã (PIM) e consta na grade de produtos aceitos para uso em pós-colheita ( Tab. 2) Outra opção disponível e já utilizada no setor da maçã para a desinfestação de maçãs é o controle físico de P. expansum com luz ultravioleta de baixo comprimento de onda (UV-C/254 nm). Lâmpadas de luz UV-C, conhecidas como germicidas, podem ser colocadas no túnel de secagem, à temperatura ambiente, para a exposição das frutas durante um minuto com a dose de 5,9 erg.mm2/seg. Este tratamento diminui a contaminação superficial da fruta, não deixa resíduo e não tem risco ao ambiente. Contudo, este tratamento exige a instalação das lâmpadas em uma cabine fechada, adequada para que a luz atinja somente a fruta, pois pode provocar lesões nos trabalhadores expostos a ela. Rosa Maria Valdebenito Sanhueza Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitopatologia Embrapa Uva e Vinho. www.cnpuv.embrapa.br - telefone (54) 3455-8000 - fax (54) 3451-2792 - e-mail: [email protected] artigos técnicos podem ser enviados para [email protected] 43 CAMPO & CULTURA DICIONÁRIO DAS FRUTAS ACEROLA - TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO, PÓS-COLHEITA, CONGELAMENTO, EXPORTAÇÃO E MERCADO Com 398 páginas descrevendo doenças, pragas, medidas de controle, ponto de colheita, tratamentos de pós-colheita, congelamento, armazenamento, transporte e aproveitamento dos frutos, o livro “Acerola: Tecnologia de produção, pós-colheita, congelamento, exportação e mercados”, é um trabalho completo e atualizado sobre a cultura. O livro pode ser utilizado por produtores da fruta, pesquisadores, técnicos agrícolas, professores e estudantes. De autoria de pesquisadores especializados na área, a publicação é resultado de anos de dedicação exclusiva a pesquisa, ensino, extensão, produção, visitas e orientação de plantio a muitos produtores de acerola. O livro inicia com um panorama da cultura, com os principais Estados e países produtores, exportadores e importadores, e segue com a descrição da planta, tipo de clima e solos apropriados para a cultura da acerola, bem como as principais cultivares, os métodos de melhoramento, a produção de mudas de primeira qualidade e o seu plantio no campo, finalizando com formas de agroindustrialização e receitas com a fruta. Autores: Ivo Manica, Ivone M. Icuma, João C. Fioravanço, João R. de Paiva, Marília C. Paiva e Nilton T. V. Junqueira Editora: Cinco Continentes Editora Páginas: 398 Preço: R$ 82,00 Onde encontrar Telefone: (51) 3264-1377 Fax: (51) 3019-8768 E-mail: [email protected]. Endereço: Rua Buarque de Macedo, 480 - São Geraldo - CEP 90230-250.- Porto Alegre/RS 44 O livro “Dicionário das Frutas” reúne uma seleção das principais espécies de frutos encontradas no mundo. Para cada fruta são dadas informações resumidas sobre os nomes comuns e equivalentes em outras línguas, descrição da planta, fruto, flor e folha, origem e local de adaptação, utilização e valor nutricional. Com 300 páginas e contemplando mais de 750 frutas de 80 famílias importantes de frutíferas, a publicação contém 24 páginas com fotos em cores das principais frutas, glossário e índices dos nomes comuns e científicos, para facilitar a consulta. A publicação é resultado do trabalho do professor Luiz Carlos Donadio, que começou há mais de 30 anos com a formação do banco de germoplasma (conjunto de genótipos) da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, em Jaboticabal, (SP). Autor: Luiz Carlos Donadio Páginas: 300 Preço: R$ 49,00 + R$ 6,00 para envio pelo correio. Contato: [email protected] Telefone: (16) 3209-2692. VÍDEO: MINI FÁBRICA DE POLPA DE FRUTAS O vídeo “Mini fábrica de polpa de frutas” fornece dicas de como instalar e operar uma pequena indústria de polpa de frutas. O vídeo traz informações sobre legislação, matéria-prima, produção de polpas de maracujá, morango e abacaxi, local para instalações, construção da fábrica, equipamentos necessários, industrialização, comercialização e investimento. A agroindustrialização é uma forma de diminuir os problemas de comercialização, como preços baixos, produção fora do pico de consumo, entre outros. Duração: 45 minutos (com manual) Coleção: Videopar/Agrodata Preço VHS: R$ 79,00 Preço DVD: R$ 89,00 Onde encontrar Website: http://www.agrodata.com.br Telefones do Serviço de Atendimento ao Cliente: (41) 8805-7996 / (41) 8854-4491. PRODUTOS E SERVIÇOS 45 IBRAF FRUTA NA MESA Carmem Moraes O Brasil é o país que possui mais variedades nativas de goiabeiras, a maior variedade de cor das polpas, maior produtividade natural e fomos os primeiros a pesquisar a sua utilização como uma base multidisciplinar (usar sua polpa tanto para doce como para salgados). Temos tudo para acreditar que a goiaba seja originária do Brasil. A afirmação é de Arlindo Piedade Neto, presidente da Associação Brasileira de Goiaba (Goiabras) e produtor de mudas e da fruta, em Brotas (SP). “Segundo as literaturas existentes, a goiaba é originária da América Central, estendendo por toda faixa tropical do Planeta. A versão é mais aceita porque a literatura só repete o que espanhóis e italianos escreveram sobre seus descobrimentos, no caso das Américas”, conta Neto. Ele, inclusive, defende a tese de que os pássaros foram seus principais propagadores, difundindo a goiaba nacional pela América Central. Neto ressalta que “o mundo está conhecendo melhor a goiaba por intermédio dos brasileiros, por causa da tradicional goiabada ou pelo ketchup à base da fruta”. As propriedades nutricionais da goiaba são pouco conhecidas. “Ela tem pelo menos quatro vezes mais vitamina C do que a laranja”, observa a nutricionista do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Renata Maria Padovani. A fruta é fonte de vitaminas, potássio e fibras, e auxilia na prevenção de doenças. “A variedade vermelha é rica em licopeno, que exerce um possível papel na prevenção do câncer, especialmente o de próstata, e vem sendo associado à prevenção de doenças cardiovasculares”, explica e acrescenta que “concentrações mais altas de licopeno na gordura corpórea foram correlacionadas com um menor risco de ataques cardíacos”. 46 RECEITAS DO PRODUTOR MAURÍCIO CAMPOS GOIABAS EM CALDA Ingredientes: 1 kg de goiabas; 600 g de açúcar; 20 g de cravoda-índia. Modo de preparo: Descasque as goiabas. Ferva por 10 minutos. Reserve. Faça uma calda com o açúcar e um litro de água. Para que a calda fique bem clara, adicione uma colher de leite. Durante a fervura algumas impurezas levantarão. Retira-as com uma escumadeira. Em seguida, junte as goiabas previamente fervidas e o cravo-da-índia. Está pronta a tradicional e gostosa compota de goiaba. CREPES AO CREME DE GOIABA COM CASSIS Ingredientes: 3 ovos inteiros; 3 gemas; 3/4 de xícara de água; 1 xícara de leite; 1/2 colher (chá) de sal; 1 1/2 xícara de farinha de trigo; 1/2 xícara de manteiga; 400 g de creme de goiaba; 1 cálice de licor de cassis; 250 g de cream cheese; 400 g de sorvete de creme para guarnição. Modo de preparo: Bata os ovos, as gemas, a água e o leite. Adicione a farinha, o sal e continue batendo. Por último, acrescente a manteiga e bata até formar uma massa lisa. Leve à geladeira por meia hora. Leve ao fogo, uma frigideira untada com óleo. Adicione a massa o suficiente para cobrir a base da frigideira e vá girando até formar uma camada bem fina. Cozinhe por um minuto e vire o crepe. Escorregue-o sobre uma bandeja seca. Repita a operação até usar toda a massa. Espalhe uma camada fina do cream cheese sobre os crepes e reserve. Aqueça a polpa de goiaba com o licor de cassis. Monte os crepes, guarneça com o sorvete e regue-os com o creme de goiaba. Maurício Campos é presidente da empresa Agrofruit e produtor de manga e goiaba, em Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata, Minas Gerais. Há 12 anos, iniciou o plantio de seu pomar, que, hoje, chega a 800 hectares, sendo 400 hectares irrigados. “A região colabora para a produção de goiabas. Temos clima favorável, terras férteis e abundância de água”, explica. Campos exporta para Europa e Estados Unidos. Recentemente sua empresa entrou no mercado de polpas orgânicas, pretendendo se expandir neste ramo. 47