Revista Arautos do Evangelho

Transcrição

Revista Arautos do Evangelho
Número 90
Novembro 2010
A linguagem do Coração
“São Luís IX , rei de França” Igreja de Santo Eustáquio, Paris
Sergio Hollmann
Testamento de um Rei
(Excertos do testamento
espiritual de São Luís IX)
SumáriO
Flashes de
Fátima
Escrevem os leitores ����������������������������������������
“Para vos confirmar
na Fé de Pedro” (Editorial) . . . . . . . . . . . . . . . .
4
31
5
Boletim da Campanha
“O Meu Imaculado Coração Triunfará!”
Ano XII  nº 90 - Novembro 2010
Director:
Manuel Silvio de Abreu Almeida
Conselho de redacção:
Guy Gabriel de Ridder, Juliane
Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto
Blanco Cortés, Mariana Morazzani
Arráiz, Severiano Antonio
de Oliveira
Editor:
Associação dos Custódios de Maria
R. Dr. António Cândido, 16
1050-076 Lisboa
I.C.S./D.R. nº 120.975
Dep. Legal nº 112719/97
Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959
www.arautos.pt / www.arautos.org.br
E-mail: [email protected]
Assinatura anual: 24 euros
........................
Tiragem: 40.000 exemplares
16
......................
24
26
40
História para crianças...
Um chapéu
para São João Bosco?
46
Os santos de
cada dia
......................
Beata Elisabeth
da Trindade –
“Laudem gloriæ”
38
Aconteceu na Igreja e
no mundo
......................
......................
34
A palavra dos Pastores –
Fortalecer a devoção a
Maria
......................
......................
Associação de Imprensa de
Inspiração Cristã
8
Viagem Apostólica de Bento
XVI ao Reino Unido –
“O coração fala ao coração”
Arautos no mundo
Membro da
6
Comentário ao Evangelho –
Católica, Apostólica,
Romana e... Triunfante
Arautos do Evangelho
Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos,
desde que se indique a fonte e se envie cópia à
Redacção. O conteúdo das matérias assinadas
é da responsabilidade dos respectivos autores.
......................
........................
......................
Via L. Einaudi, 12
36040 Brendola (VI)
São João Damasceno –
A teologia vivificada
pelo amor
A voz do Papa –
Um desafio exigente
Com a colaboração
da Associação
Privada Internacional de Fiéis
de Direito Pontifício
Impressão e acabamento:
Pozzoni - Istituto Veneto
de Arti Grafiche S.p.A.
Entrevista com Dom Thomas Wenski – Renovação
e esperança para a Arquidiocese
......................
48
60º aniversário
da proclamação do dogma
da Assunção – Fruto de
milhares de súplicas
......................
50
E screvem
os leitores
Muito útil na educação
dos filhos
Elegante edição e difusão
extraordinária
Tenho a alegria de acusar o recebimento da Revista Arautos do
Evangelho no 85, que incluía também
um DVD, para celebrar seu número
100, em língua portuguesa.
Agradeço esse obséquio especial
que muito aprecio, como também a
chegada a esta Nunciatura Apostólica do número correspondente. Permito-me felicitar de muito bom grado os Arautos do Evangelho pela elegante edição mensal da Revista e pela difusão extraordinária que em tão
pouco tempo obtiveram, levando a
mensagem evangélica a tantos lares.
Dom Giuseppe Pinto
Núncio Apostólico
Santiago – Chile
Conjunto arquitetônico em
torno da cultura católica
Há muito tempo que assino e leio
esta abençoada Revista. Ela não se
compara a nenhuma outra do gênero, na linha religiosa-cultural, seja por sua esmerada apresentação,
seja pela seriedade dos seus artigos
e o cultivo do pulchrum, a busca de
beleza e do enlevo em todas as suas imagens.
Esta Revista aborda com clareza
e objetividade temas religiosos, históricos, filosóficos e artísticos e informa sobre as atividades de outros
movimentos eclesiais, constituindo
um conjunto arquitetônico em torno
da cultura católica, incentivando um
estilo de vida autenticamente cristão, apresentando um objetivo global a ser atingido, em todos os campos de nossa existência.
Yurie Umemura
São Paulo – Brasil
Sou assinante desde os primeiros números da Revista Arautos do
Evangelho, mas não recebi ainda a
do mês de setembro de 2010. Talvez esteja na hora de renovar a assinatura. Por favor, informem-me
como faço para renová-la, pois a
possuo desde o no 1 e não gostaria de ficar sem essas maravilhosas
edições. Elas me são muito úteis
na educação de meus três filhos —
14, 12 e 10 anos — e para deixá-las em meu consultório, pois muitas vezes as pessoas encontram nelas a Fé.
Ana Maria D. Maia Ferreira
Via e-mail – Brasil
Leitura cristã e profunda
Queria manifestar-lhes meus
agradecimentos por todas as suas
atenções. Estava por fazê-lo há algum tempo, mas não foi possível,
por motivos de saúde.
Recebi o DVD sobre o movimento e atividades dos Arautos do Evangelho. Agradeço sinceramente este obséquio. Felicito a obra que realizam e o testemunho que dão ao apresentar tão
valiosa revista. Quanto bem se faz
com uma leitura cristã e profunda
como a que oferecem! Oxalá seja
apreciada tanto quanto vale. Creio
que continuará fazendo muito bem
às almas, por seu conteúdo de alta
qualidade.
Mons. Rosendo Gálvez Ilabaca
Capelão Pontifício e Secretário Chanceler
Diocese de Melipilla – Chile
Alto nível acadêmico
Raras vezes encontramos uma
revista de alto nível acadêmico
como a dos Arautos do Evangelho. Como professor catedrático,
4      Flashes de Fátima · Novembro 2010
estou convencido ser a preocupação de cada um dos que fazem
parte desta obra formar os leitores na verdadeira e perene doutrina ensinada pela Igreja Católica. Seus artigos a ensinam de forma densa, mas acessível, atingindo todos os âmbitos de nossa sociedade. Os articulistas apresentam trabalhos de profunda investigação e é um dever de justiça reconhecer o grande esforço que realizam para o bem comum. São os
Arautos um tesouro da Igreja, não
só para o mundo atual, mas também para o porvir.
Giovanni Rizzo
Guayaquil – Equador
Sou evangelizada por
meio da Revista
É com muita alegria que recebo a visita de nossa querida
Mãe do Céu, por meio da Revista
Arautos do Evangelho. Envio-lhes
o meu muito obrigada! Louvo e
agradeço a Deus pela sua existência. Gosto imensamente de ler sua
Revista e de meditar sobre a nossa Religião Católica, nas matérias
publicadas, e através delas sou
evangelizada.
Cristalina Agnela Correia
Winterthur – Suíça
Ajuda na formação
religiosa e aumenta a fé
Quero agradecer a linda revista que me enviais todos os meses. Quando a recebo começo a lê-la imediatamente, pois nos ajuda muito em nossa formação religiosa, aumenta nossa fé e ensina-nos a viver uma vida como Jesus
Cristo, nosso Deus, o quer. Só assim é que neste mundo poderemos
ser felizes.
Maria Alice Oliveira Gomes
Braga – Portugal
Editorial
“Para vos confirmar
na Fé de Pedro”
T
90
Número
ro 2010
Novemb
ção
m do Cora
e
A linguag
Bento XVI cumprimenta crianças
junto à residência
do Arcebispo de
Edimburgo
(Foto: L’Osservatore Romano)
ão logo Simão foi apresentado por seu irmão a Jesus, Este fixou nele o
olhar e disse: “Tu és Simão, filho de João. Serás chamado Cefas (que quer
dizer pedra)” (Jo 1, 42). Com essas palavras, o Verbo Encarnado exprimia
para os homens seus desígnios, estabelecidos desde toda a eternidade: aquele pescador deveria ser a rocha sobre a qual seria construída a Igreja de Deus (Mt 16, 18),
e a ele seriam dadas as chaves do Reino dos Céus (Mt 16, 19).
No dia de Pentecostes, quando a multidão acorreu diante do Cenáculo em virtude do ruído que ouvira, Pedro mandou abrir de par em par as portas e com voz
forte exortou: “Homens da Judeia e vós todos que habitais em Jerusalém [...],
prestai atenção às minhas palavras” (At 2, 14). E começou a falar-lhes de Jesus.
Em nossos dias, continua o Sucessor de Pedro a conclamar os homens de todo
o orbe a “prestar atenção” às palavras de vida eterna que tem a transmitir-lhes.
Sempre de modo paternal, convidativo, suplicante até, Bento XVI não deixa de
ensinar “com voz forte”, aquelas verdades que devem ser ouvidas.
Ora, no mundo atual, é preciso ter coragem para proclamar a palavra de Cristo. O risco de ser enforcado, afogado e esquartejado, à semelhança dos mártires
de Tyburn, hoje já não existe na maior parte do mundo. Mas anunciar o Evangelho supõe, muitas vezes, “ser ridicularizado ou motivo de troça”, como lembrou o
Papa em sua viagem a Londres.
Na Escócia e na Inglaterra, como em todos os lugares aonde vai, demonstrou
a valentia de não evitar as matérias mais polêmicas, deixando clara para todos a
doutrina da Igreja a respeito. Mas fez questão de dirigir-se especialmente àqueles que Deus colocou sob seus cuidados. Pois não foi em vão que declarou Jesus a
São Pedro, pouco antes da Paixão, haver rogado por ele a fim de que, diante das
investidas do demônio, confirmasse na Fé os seus irmãos (cf. Lc 22, 31-32).
Uma das principais mensagens de Bento XVI em sua viagem ao Reino Unido
foi que também os católicos leigos devem participar da evangelização, começando
por dar exemplo de vida virtuosa. Recordou os esforços do Beato John Newman
nesse sentido e advertiu “contra a tendência crescente a considerar a Religião como um fato meramente privado e subjetivo, uma questão de opinião pessoal”.
Mesmo dirigindo-se a cristãos não católicos, na Abadia de Westminster, o Papa afirmou estar ali como “Sucessor de São Pedro, encarregado de cuidar especialmente da unidade do rebanho de Cristo”, e conclamou os presentes “a propor
a verdade do Evangelho como a chave de um desenvolvimento humano autêntico e integral”.
Com apenas uma exortação, Pedro converteu três mil pessoas (At 2, 41). Bento XVI deixa como resultado de suas viagens uma Igreja mais firme na fé e mais
evangelizadora. No século XXI, como no século I, o Vigário de Cristo continua a
perene missão que lhe foi confiada. Por isso, na Missa em Glasgow, o Santo Padre
declarou ter ido ao Reino Unido “para vos confirmar na Fé de Pedro”. 
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      5
A voz do Papa
Um desafio exigente
A tarefa dos agentes da imprensa católica consiste em ajudar
o homem contemporâneo a orientar-se para Cristo e a manter
acesa no mundo a chama da esperança.
É
com alegria que vos recebo
no final dos quatro dias de
intenso trabalho promovidos
pelo Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais e dedicadas à imprensa católica. [...] Estou feliz por poder dirigir-vos uma palavra
de encorajamento a dar continuidade
ao vosso trabalho, importante e qualificado, com motivações renovadas.
Risco de indiferença em
relação à verdade
O mundo dos mass media atravessa uma profunda transformação,
também no seu interior. O desenvolvimento das novas tecnologias e, de
modo particular, a difundida multimedialidade parecem pôr em discussão o papel dos meios mais tradicionais e consolidados.
Oportunamente, o vosso Congresso considera o papel peculiar da
imprensa católica. Com efeito, uma
reflexão atenta sobre este campo
faz sobressair dois aspectos particulares: por um lado, a especificidade
do instrumento, a imprensa, ou seja,
a palavra escrita e a sua atualidade
e eficácia, numa sociedade que viu
multiplicarem-se antenas, parabólicas e satélites, que se tornaram praticamente os emblemas de um novo
modo de comunicar na era da globalização. Por outro lado, a conotação
“católica”, com a responsabilidade
que daqui deriva, de lhe ser fiel de
maneira explícita e substancial, através do compromisso quotidiano de
percorrer a via mestra da verdade.
A busca da verdade deve ser empreendida pelos jornalistas católicos
com a mente e o coração apaixonados, mas também com a profissionalidade de agentes competentes e dotados de meios adequados e eficazes.
Isto é ainda mais importante neste
momento histórico, que requer que
a própria figura do jornalista, como
mediador dos fluxos de informação,
realize uma mudança profunda.
Hoje, por exemplo, na comunicação o mundo da imagem assume
uma importância cada vez maior,
com o desenvolvimento de tecnologias sempre novas; contudo, se por
um lado tudo isto comporta aspectos indubitavelmente positivos, por
outro, a imagem pode tornar-se
também independente do real, pode dar vida a um mundo virtual com
várias consequências, a primeira das
quais é o risco da indiferença em relação à verdade.
Com efeito, as novas tecnologias, juntamente com os progressos
que elas proporcionam, podem tornar o verdadeiro e o falso intercambiáveis, podem induzir a confundir o
real com o virtual. Além disso, a fil-
6      Flashes de Fátima · Novembro 2010
magem de um acontecimento feliz
ou triste pode ser vista como espetáculo, e não como ocasião de reflexão. Então, a busca de caminhos para uma autêntica promoção do homem passa em segundo plano, porque o acontecimento é apresentado
principalmente para suscitar emoções.
Estes aspectos soam sempre como um sinal de alarme: convidam
a considerar o perigo que o virtual
afaste da realidade e não estimule à
busca do verdadeiro, da verdade.
O mundo necessita viver
“como se Deus existisse”
Neste contexto, a imprensa católica é chamada de modo novo a manifestar até ao fundo as suas potencialidades e a explicar cada dia a sua
missão irrenunciável.
A Igreja dispõe de um elemento
simplificador, dado que a fé cristã
tem em comum com a comunicação
uma estrutura fundamental: o fato
de que o meio e a mensagem coincidem; com efeito, o Filho de Deus,
o Verbo encarnado é mensagem de
salvação e ao mesmo tempo meio
através do qual se alcança a salvação. Não se trata de um simples conceito, mas de uma realidade acessível a todos, mesmo àqueles que, embora vivam como protagonistas na
L'Osservatore Romano
Bento XVI
recebeu em
audiência
na Sala
Clementina os
mais de 200
participantes
do Congresso
sobre a
Imprensa
Católica
e Novas
Tecnologias
complexidade do mundo, são capazes de conservar a honestidade intelectual, que é própria dos “pequeninos” do Evangelho.
Além disso a Igreja, Corpo Místico de Cristo, presente contemporaneamente em toda a parte, alimenta a capacidade de relacionamentos mais fraternais e mais humanos,
colocando-se como lugar de comunhão entre os crentes e ao mesmo
tempo como sinal e instrumento da
vocação de todos para a comunhão.
A sua força é Cristo, e em seu Nome ela “segue” o homem pelos caminhos do mundo para o salvar do
“mysterium iniquitatis”, insidiosamente presente nele.
A imprensa evoca de maneira
mais direta do que qualquer outro
meio de comunicação, o valor da palavra escrita. A Palavra de Deus chegou aos homens e foi transmitida
também a nós através de um livro, a
Bíblia. A palavra permanece o instrumento fundamental e, num certo sentido, constitutivo da comunicação: ela é utilizada hoje sob várias
formas e inclusive na chamada “civilização da imagem” conserva todo o
seu valor.
A partir destas breves considerações, parece evidente que o desafio
comunicativo é, para a Igreja e para
quantos compartilham a sua missão,
deveras exigente.
Os cristãos não podem ignorar a
crise de fé que se abateu sobre a sociedade, ou simplesmente confiar
que o patrimônio de valores transmitido ao longo dos séculos passados possa continuar a inspirar e
plasmar o futuro da família humana.
A ideia de viver “como se Deus não
existisse” demonstrou-se deletéria:
o mundo tem necessidade, sobretudo, de viver “como se Deus existisse”, embora não tenha a força para
crer, caso contrário produzirá apenas um “humanismo desumano”.
Ajudar o homem contemporâneo
a orientar-se para Cristo
Caríssimos irmãos e irmãs, quem
trabalha nos meios de comunicação,
se não quiser ser apenas “um bronze que ressoa ou um címbalo que tine” (I Cor 13, 1) — como diria São
Paulo —, deve manter forte em si a
opção de fundo que o habilita a tratar as realidades do mundo, colocando Deus sempre no ápice da escala
de valores. A época em que vivemos,
não obstante disponha de uma notável carga de positividade, porque a
trama da História está nas mãos de
Deus e o seu desígnio eterno se revela cada vez mais, permanece marcada também por numerosas sombras.
Estimados agentes da imprensa
católica, a vossa tarefa consiste em
ajudar o homem contemporâneo a
orientar-se para Cristo, único Salvador, e a manter acesa no mundo a
chama da esperança, para viver dignamente o hoje e construir o futuro de maneira adequada. Por isso,
exorto-vos a renovar constantemente a vossa opção pessoal por Cristo, haurindo daqueles recursos espirituais que a mentalidade mundana
subestima, mas que são preciosos,
­aliás indispensáveis. Caros amigos,
encorajo-vos a continuar a desempenhar o vosso não fácil compromisso, enquanto vos acompanho com as
minhas orações, a fim de que o Espírito Santo o torne profícuo. 
(Discurso aos participantes no
Congresso Internacional sobre a Imprensa Católica e Novas Tecnologias,
7/10/2010)
Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana.
A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      7
“Beau Dieu” Catedral de Amiens
(França)
“Naquele tempo, 5 algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas. Jesus disse: 6 ‘Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo
será destruído’. 7 Mas eles perguntaram: ‘Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?’.
8
Jesus respondeu: ‘Cuidado para não serdes
enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’; e ainda: ‘O tempo está
próximo’. Não sigais essa gente! 9 Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis
apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim’.
10
E Jesus continuou: ‘Um povo se levantará
contra outro povo, um país atacará outro país.
11
Haverá grandes terremotos, fomes e pestes
em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu. 12 Antes, porém, que estas coisas aconteçam, sereis
presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. 13 Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé. 14 Fazei o firme propósito de
não planejar com antecedência a própria defesa; 15 porque Eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. 16 Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós. 17 Todos vos
odiarão por causa do meu nome. 18 Mas vós
não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. 19 É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!’” (Lc 21, 5-19).
8      Flashes de Fátima · Novembro 2010
Sergio Hollmann / Otávio de Mello
a  Evangelho  A
Comentário ao Evangelho – XXXIII Domingo do Tempo Comum
Católica, Apostólica,
Romana
e... Triunfante
Ao longo de sua bimilenar História, a Igreja caminhou sempre
sob o signo da perseguição. Entretanto, a cada investida das
forças adversárias, brilha ela com maior esplendor.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – O sinal dos verdadeiros
discípulos
Conta-se que São Pio X, durante audiência
aos membros de um dos colégios eclesiásticos
romanos, perguntou aos jovens estudantes:
–– Quais são as notas distintivas da verdadeira Igreja de Cristo?
— São quatro, Santo Padre: Una, Santa, Católica e Apostólica — respondeu um deles.
–– Não há mais de quatro? — indagou o Papa.
–– Ela é também Romana: Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana.
–– Exatamente, mas não falta mencionar ainda uma característica das mais evidentes? –– insistiu o Pontífice.
Após um instante de silêncio, ele próprio respondeu:
— Ela é também perseguida! Esse é o sinal de
sermos verdadeiros discípulos de Jesus Cristo.
Ódio contra Cristo e sua Igreja
A Igreja é perseguida. De fato, sem essa nota não se entende bem a história da Esposa de
Cristo, que já começa sob esse signo na mais
tenra infância do seu Divino Fundador. Que
mal poderia fazer a Herodes aquele Menino, filho de carpinteiro, nascido numa gruta e deitado numa manjedoura? Nenhum. Mas na ímpia
tentativa de tirar-Lhe a vida, o tetrarca não hesitou em mandar assassinar crianças inocentes.
Ao longo da vida pública de Jesus, o ódio
contra Ele não fez senão crescer, e chegou ao
paroxismo quando os fariseus tomaram a decisão de matá-Lo e obtiveram de Pilatos a iníqua sentença de condenação. De tal forma detestavam o Divino Mestre, que não toleravam
sequer vê-Lo fazer o bem, ou ensinar a doutrina da Salvação.
Nessa mesma inimizade encontra-se a fonte
das investidas sofridas pela Igreja após a subida
de Nosso Senhor ao Céu. Assim, foi movido por
ódio furibundo contra os cristãos que Nero deu
início, no ano 64, à sangrenta perseguição que
haveria de durar, com intermitências, até 313,
quando o Imperador Constantino concedeu liberdade à Igreja, pelo Edito de Milão.1
Novembro 2010 · Flashes
“Se o mundo
vos aborrece,
sabei que
aborreceu
primeiro a
Mim”
(Jo 15, 18)
de Fátima      9
Sergio Hollmann
hereges vos detestam e perseguem com o mesmo
ódio que a mim, anelando matar-nos com o desejo, já que não podem fazê-lo com as armas”.2
É na fidelidade dos justos diante das perseguições que reluz de modo especial a glória de Deus.
II – Anúncio do fim do mundo
Que mal poderia fazer a Herodes aquele Menino, filho de carpinteiro,
nascido numa gruta e deitado numa manjedoura?
“Matança dos inocentes” - Catedral de Notre Dame, Paris
E ao longo dos séculos subsequentes, a Esposa de Cristo nunca deixou de enfrentar os mais
variados ataques — por vezes cruentos — e incessantes oposições, ora abertas, ora solapadas.
Mesmo em nossos dias, este ódio contra aqueles
que praticam o bem não deixa de se manifestar
em seus múltiplos aspectos.
Os maus não suportam os bons
Na fidelidade
dos justos
diante das
perseguições
reluz de um
modo especial
a glória
de Deus
“Se o mundo vos aborrece, sabei que aborreceu primeiro a Mim. Lembrai-vos da palavra
que Eu vos disse: ‘O servo não é maior que seu
Senhor’. Se Me perseguiram a Mim, também a
vós vos perseguirão” (Jo 15, 18.20). Por estas
palavras de Jesus, vemos serem a adversidade e
a incompreensão inerentes à existência terrena
do verdadeiro fiel, pela irreversível incompatibilidade entre a doutrina do mundo e a de Cristo. Pois, desde o tempo dos nossos primeiros
pais, há entre a bendita posteridade de Maria
Santíssima e a raça da serpente maldita o irreconciliável antagonismo descrito pelo Gênesis:
“Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a
tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 15).
Os maus não suportam os bons, e para estes, o ódio daqueles indica eleição por parte de
Deus, conforme se depreende destas palavras de
São Jerônimo a Santo Agostinho: “Sois celebrado por todo o mundo. Os católicos veneram e reconhecem em vós o restaurador da antiga Fé, e
— o que é sinal de glória ainda maior — todos os
10      Flashes de Fátima · Novembro 2010
A liturgia escolhida pela Igreja para este penúltimo Domingo do Tempo Comum significa praticamente o término do Ano Litúrgico C, uma vez
que antecede à Solenidade de Cristo Rei. A perspectiva do fim do mundo e do Juízo Final é muito
acentuada nos textos, e convida-nos a considerar
com mais atenção a justiça, contraponto indispensável da bondade e da misericórdia divinas.
“Naquele tempo, 5 algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era
enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas”.
Após acerba discussão com os escribas e fariseus, ocorrida justamente no recinto do Templo
(cf. Lc 20, 45-47; Mt 23, 13-36; Mc 12, 38-40),
dirigia-Se Jesus ao Monte das Oliveiras. No caminho, os discípulos manifestavam seu encanto com a beleza daquela “construção de imensa
opulência”, no dizer de Tácito,3 rica em simbologias que elevavam a mente para Deus, como
convém a todo edifício religioso.
Ponto de referência máximo do povo judeu,
para o Templo se voltavam os corações dos israelitas do mundo inteiro. Extraordinária era sua
história, desde o momento em que, erigido por
Salomão, uma densa e miraculosa nuvem dele
tomara conta: ali ofereciam-se os verdadeiros sacrifícios, eram recebidas insignes graças e os devotos entravam num contato mais intenso com
o sobrenatural. Embelezar o Templo era, então,
realçar ainda mais o seu significado espiritual.
Entretanto, a julgar pelas palavras ditas a seguir por Nosso Senhor, tudo indica que estavam
eles contemplando a Casa de Deus com uma visualização meramente naturalista.
Admiravam o Templo, mas não
adoravam Quem o habitava
“Jesus disse: 6 ‘Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra
sobre pedra. Tudo será destruído’”.
Os Apóstolos tinham diante de si Alguém que
valia muito mais do que o Templo: o Criador, o
Redentor, a Sabedoria eterna e encarnada. Ao
contemplarem com olhos mundanos aquele prédio, manifestavam-se cegos para Deus, porque
detinham-se na admiração da criatura sem se
elevar até o Criador; compreendiam o símbolo,
mas não o Simbolizado. Esta é a razão da contundente advertência de Nosso Senhor.
Pelas mãos de Maria, fora o Menino Jesus
apresentado no Templo. Suas muralhas testemunharam as pregações e os inúmeros milagres
de Jesus, mas as pedras vivas que o compunham
— os sacerdotes e os fiéis — não aceitaram o
Messias: “Ele veio para os seus e os seus não
O receberam” (Jo 1, 11). Eis por que caiu sobre tão faustoso edifício a terrível condenação:
“Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”.
E essa dura profecia tardaria menos de quarenta anos em realizar-se do modo mais radical
possível. “Permitiu a Divina Providência a destruição de toda a cidade e do Templo para que
nenhum daqueles que ainda estavam débeis na
fé — admirado por subsistirem ainda os ritos de
seus sacrifícios — fosse seduzido por suas diversas cerimônias”, comenta São Beda.4
A ruína de Jerusalém e a parusia
“Mas eles perguntaram: ‘Mestre, quando
acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de
que estas coisas estão para acontecer?’”.
7
Os Apóstolos nada perguntam sobre a causa
dessa destruição, mas sim quando ela ocorreria.
Como bons israelitas, de espírito previdente,
queriam saber com exatidão o que iria suceder.
O arrasamento do edifício sagrado, símbolo
da grandeza do povo eleito, parecia-lhes impossível antes do fim dos tempos, pois, “para um
judeu, a ruína da cidade e do Templo equivale
à ruína do mundo”.5 Não podiam eles conceber
que algum dia lhes faltaria aquele Lugar Santo,
único no mundo. Esta é a razão de juntarem em
suas perguntas dois fatos totalmente distintos: a
ruína de Jerusalém e a parusia.6
Como observa São Cirilo, os Apóstolos “não
perceberam a força de suas palavras e julgavam
que Ele falava da consumação dos séculos”.7
Por isso, Nosso Senhor, “sem deixar de responder à pergunta com clareza suficiente para
eles conjecturarem os acontecimentos vaticina-
dos”,8 falará em dois sentidos: um, a destruição
do Templo material; outro, o fim do mundo. Na
realidade, o desaparecimento dessa grandiosa construção significava o fim de um mundo: a
época da antiga Lei cedia lugar à era da Graça.
Ver todos os acontecimentos
na perspectiva divina
“Jesus respondeu: ‘Cuidado para não
serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’; e
ainda: ‘O tempo está próximo.’ Não sigais essa gente! 9 Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis
apavorados. É preciso que estas coisas
aconteçam primeiro, mas não será logo
o fim’. 10 E Jesus continuou: ‘Um povo
se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. 11 Haverá grandes
terremotos, fomes e pestes em muitos
lugares; acontecerão coisas pavorosas e
grandes sinais serão vistos no céu’”.
8
Jesus responde aos discípulos com uma linguagem enigmática, sem procurar desfazer o
equívoco em que incorriam, nem responder-lhes
com exatidão. Prefere deixar num lusco-fusco os
aspectos cronológicos da pergunta, com vistas à
formação moral e espiritual dos seus ouvintes.
Com efeito, a expectativa do fim do mundo
como um evento próximo habituava-os a contemplar os acontecimentos desde a perspectiva divina, e preparava as almas daqueles primeiros cristãos para as perseguições que teriam de
enfrentar, prefiguras dos últimos tempos, pelo
ódio e crueldade dos perseguidores.
Ora, sempre que os pecados da humanidade passam de certo limite, Deus intervém manifestando sua cólera e castigando os caprichos e
egoísmos dos homens.
Com a Encarnação, Deus levara seu amor
às criaturas a um ponto inexcogitável pelos homens, e mesmo pelos anjos. Uma extrema bondade caracterizou a vida pública de Jesus, marcada por inúmeras curas e milagres. Porém,
Ele não seria Deus se não manifestasse também o esplendor da sua justiça, virtude não
menor que a misericórdia. Tem Ele, por assim
dizer, duas mãos: a da misericórdia e a da justiça. Com a primeira, perdoa e protege; com
Novembro 2010 · Flashes
O
arrasamento
do Templo,
símbolo da
grandeza do
povo eleito,
parecia
impossível
aos Apóstolos
antes do fim
dos tempos
de Fátima      11
Tito Alarcon
a segunda, cobra e castiga.
De uma dessas mãos divinas, ninguém escapa.
Para contemplar a Deus
na perspectiva verdadeira,
sem distorções nem unilateralismos, é preciso amar
n’Ele esses dois aspectos.
Considerar a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade
morrendo na Cruz para nos
redimir, é poderoso estímulo para a nossa piedade. Mas não podemos também deixar de admirar sua severidade, ainda quando
ela possa vir a nos atingir.
Porque, como ensina Santo
Afonso Maria de Ligório, “não
merece a misericórdia de Deus
quem se serve dela para ofendê“Nossa Senhora do Apocalipse” - Casa
-Lo. A misericórdia é para quem
Rosa Mística, dos Arautos do Evangelho,
teme a Deus, e não para o que
São Paulo
dela se serve com o propósito de
não temê-Lo. Aquele que ofende a justiça — diz
o Abulense — pode recorrer à misericórdia; mas
a quem pode recorrer o que ofende a própria misericórdia?”.9
III – Sereis presos e perseguidos
“Antes, porém, que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis
entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome”.
12
“Porei
inimizades
entre ti e
a mulher,
entre a tua
descendência
e a dela”
(Gn 3, 15)
Ao anunciar aos Apóstolos as perseguições
e sofrimentos que haveriam de enfrentar, Nosso Senhor tinha em vista também instruir os cristãos de todos os tempos, porque inúmeras vezes
ao longo da História a proclamação do nome de
Jesus Cristo lhes trará como consequência serem
injustamente presos, perseguidos ou conduzidos
aos tribunais. E isto chegará ao auge nos últimos
tempos, pois quanto maior for a decadência moral da humanidade, inelutavelmente mais ódio
haverá contra os justos, cuja mera existência já
representa muda censura aos maus.
Bem pondera São Gregório Magno: “A última tribulação será precedida de muitas outras,
porque devem vir antes muitos males que possam anunciar o mal sem fim”.10
12      Flashes de Fátima · Novembro 2010
Testemunhas da fé na hora da provação
“Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé”.
13
Errôneo seria pensar que durante as perseguições cabe aos bons ficarem encolhidos e timoratos, incapazes de qualquer ação. Pelo contrário, dão-lhes elas ensejo a testemunharem
com coragem a boa doutrina diante daqueles
que se desviaram do caminho certo.
Ao afirmar que as portas do inferno não prevalecerão contra a sua Igreja (cf. Mt 16, 18), estabeleceu o Divino Fundador que ela será não
apenas invencível, mas sempre triunfante. Assim, por mais que os infernos, não podendo destruí-la, se organizem para sufocá-la, jamais conseguirão impedir sua atuação. E, sejam quais forem as aparências, a Luz de Cristo permanecerá
em sua Esposa com todo o seu poder e grandeza, aguardando o momento de manifestar-se de
forma intensa, majestosa e irresistível.
Nessas horas de tempestade, suscita a Providência testemunhas da fé que sejam fachos da
Luz de Cristo a rasgar a obscuridade da provação. Muitas vezes, inclusive, Deus Se utiliza
de instrumentos frágeis, de modo a deixar mais
patente sua onipotência: Gedeão, último homem da tribo de Manassés; Judite, piedosa viúva; e os próprios Apóstolos, simples pescadores. E, se percorrermos as grandes aparições da
Virgem Maria, desde Guadalupe até Fátima, a
quem vemos como receptores da mensagem, senão pessoas de escassa cultura e predicados?
Quanto aos acontecimentos do fim do mundo, serão justamente a firmeza na fé e a força
impetratória dos fiéis, perante o ódio insaciável
dos sequazes do anticristo, que atrairão a intervenção divina, desencadeando o castigo final.
Conselho divino confirmado pela História
“Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa;
15
porque Eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater”.
14
Com esta surpreendente afirmação, parece
Nosso Senhor convidar seus discípulos à negligência, ao invés de incentivá-los a se prevenirem perante a perspectiva da perseguição. Ora, esclarece o Cardeal Gomá, Jesus “não lhes manda que
não procurem precaver-se nos transes difíceis pe-
Deserção e traição nas próprias fileiras
“Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E
eles matarão alguns de vós. 17 Todos vos
odiarão por causa do meu nome”.
16
Até no seio das próprias famílias haverá divisão, multiplicando o sofrimento daqueles que
serão entregues por “pais, irmãos, parentes e
amigos”. Pois, como ensina São Gregório, “os
mais cruéis tormentos para nós são os causados pelas pessoas mais queridas, porque, além
da dor corporal, sentimos o carinho perdido”.14
Já o Cardeal Gomá interpreta este versículo
num sentido simbólico, mais abrangente: “Aos
vexames que deverão sofrer da parte dos inimigos, se acrescentará um mal mais grave: a deserção e a traição nas próprias fileiras”.15 Com efeito, quantas vezes não foram hereges ou apóstatas
os mais acirrados adversários da Igreja?
Deus é o principal Ator da História
“Mas vós não perdereis um só fio de
cabelo da vossa cabeça”.
18
Julgamos, por vezes, serem raríssimas as intervenções de Deus nos acontecimentos terrenos. Como se Ele, após criar o universo, deixasse os fatos correrem por si, procedendo de forma semelhante a alguém que planta uma árvore
e se despreocupa totalmente do seu crescimento. Nada mais contrário à realidade. Deus não
só age na História, mas, sobretudo, é seu principal Ator. Tudo está em suas santíssimas mãos,
nada foge ao seu governo: “Em Deus vivemos,
nos movemos, e somos” (At 17, 28).
Às vezes, a ação da Divina Providência nos
fatos concretos é visível aos olhos de todos, por
ser desígnio seu torná-la patente. Porém, na
maior parte das ocasiões, Ela opera de forma
oculta ou discreta, deixando por conta do nosso entendimento e da nossa fé discernir o cunho
de sua atuação.
O Criador tem tudo contado, pesado e medido. E, ao agir sobre os acontecimentos, tem
sempre em vista, junto com a própria glória, a
salvação dos que são seus. Por isso, afirma São
Paulo: “Tudo quanto acontece, concorre para
benefício dos justos” (Rm 8, 28).
Cada um dos nossos atos, gestos ou atitudes serão consignados no Livro da Vida.
Nenhum ato de virtude ficará sem recompensa, conforme afirma São Beda: “Não
cairá um só fio de cabelo da cabeça dos
discípulos do Senhor, porque não somente
as grandes ações e as palavras dos santos,
mas também o menor de seus pensamentos será dignamente premiado”.16
A história
comprova com
abundância
a esplêndida
realização
dessa profecia
de Nosso
Senhor
Esperança na vida verdadeira
“É permanecendo firmes que
ireis ganhar a vida!”.
19
Todos nós, como os Apóstolos, estamos sujeitos a passar por situações difíceis
em razão de nossa fidelidade a Cristo. Como
devemos nos comportar diante delas?
Antes de tudo, precisamos crer firmemente na onipotência de Nosso Senhor e ter bem
presente seu amor por cada um de nós, conforme nos exorta Santo Agostinho: “Essa é
a Fé cristã, católica e apostólica. Confiai em
Cristo que diz: ‘não cairá sequer um fio de vossos cabelos’, e, uma vez eliminada a incredulidade, considerai o quanto valeis. Quem de nós
pode ser desprezado por nosso Redentor, se
nem sequer um fio de cabelo o será? Ou: como duvidaremos de que dará a vida inteira à
nossa carne e à nossa alma Aquele que, por
amor a nós, recebeu alma e carne na qual
morreu, e a recobrou para que desapare“Santa Joana d’Arc” Catedral de Béziers (França)
cesse o temor de morrer?”.17
Sergio Hollmann
los quais passarão, mas sim que não se aflijam por
isso, pois nos momentos de crises mais agudas poderão contar com a inspiração especial de Deus”.11
De fato, na luta de todos os dias, vale o princípio atribuído a Santo Inácio: “Rezai como se
tudo dependesse de Deus e trabalhai como se
tudo dependesse de vós”.12 Mas nesta passagem do Evangelho refere-Se o Mestre aos momentos de extrema aflição em que tudo parece perdido. Nessas horas, comenta São Gregório, “é como se o Senhor dissesse a seus discípulos: ‘Não vos atemorizeis. Vós ireis ao combate,
mas Eu é que combaterei; vós pronunciareis palavras, mas quem falará sou Eu’”.13
E a História comprova com abundância a esplêndida realização dessa profecia de Nosso Senhor, nos julgamentos iníquos promovidos contra
os filhos da luz. Santa Joana d’Arc, por exemplo,
era uma camponesa sem estudos; suas respostas,
entretanto, confundiram o tribunal que a julgava,
pela extraordinária profundidade teológica.
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      13
O Criador tem
tudo contado, pesado e
medido. E, ao
agir sobre os
acontecimentos, tem sempre em vista,
junto com a
própria glória,
a salvação dos
que são seus
Mas também não podemos duvidar de que
Jesus Se encarnou para nos fazer partícipes
de sua ressurreição: “Se Cristo não ressuscitou, vossa fé é vã” (I Cor 15, 17), proclama São
Paulo.
Uma vez compenetrados de estarmos de passagem nesta Terra, a caminho da eternidade, todos os males que possamos sofrer tomam outra dimensão. “Quem sabe que é um peregrino
neste mundo, independentemente do local onde se encontre corporalmente; quem sabe que
tem uma pátria eterna no Céu; quem tem certeza de que ali se encontra a região da vida feliz, a
qual aqui é lícito desejar, mas não é possível ter,
e arde nesse desejo tão bom, santo e casto — esse vive aqui pacientemente”.18
É permanecendo firmes na Fé que ganharemos a verdadeira vida; é só na perspectiva da
glória eterna que teremos forças para perseverar na hora das provações. E isto não depende
tanto do nosso esforço quanto da graça divina,
que devemos pedir sem cessar.
IV – Proclamar a beleza
triunfante da Igreja
Dois significativos episódios históricos, entre
tantos outros, podem ilustrar o ensinamento da
liturgia deste domingo.
O filósofo iluminista François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo de Voltaire, foi um dos mais festejados ímpios de todos
os tempos. Seu ódio contra a Igreja o levou a
afirmar: “Estou cansado de ouvir dizer que bas-
1
“Osório, que utilizou fontes
hoje perdidas, escreveu: ‘Nero condenou os cristãos a diversas formas de morte, e
os perseguiu não só em Roma, mas também em todas as
províncias, e procurou suprimir o nome cristão’ [...] Refere Lactâncio que ‘a causa da perseguição foi o ódio
de Nero contra os cristãos’”.
(WEISS, Juan Bautista. Historia Universal. Barcelona:
La Educación, 1927, v.III,
p.708-709).
14      Flashes de Fátima · Novembro 2010
taram doze homens para implantar o Cristianismo no mundo, e quero provar que basta um para destruí-lo”.19 Mas, o atrevido ateu morreu e a
ridícula ameaça caiu no vazio.
Não menos arrogante com a Esposa de
Cristo foi Napoleão Bonaparte. Após ser excomungado pelo Papa Pio VII, teve a petulância de perguntar sarcasticamente ao legado papal, Cardeal Caprara, se por causa disso iriam cair as armas das mãos dos seus soldados. Ora, segundo narram testemunhas oculares, entre as quais o Conde de Ségur, foi o
que aconteceu durante a campanha da Rússia:
“As armas dos soldados pareciam ser de um
peso insuportável para seus braços intumescidos; em suas frequentes quedas, escapavam-lhes das mãos, quebravam-se ou perdiam-se
na neve”.20
Meses depois, Bonaparte viu-se obrigado a
assinar o decreto de sua própria destituição no
palácio de Fontainebleau, onde mantivera cativo o Vigário de Cristo, e partiu para o exílio. Pio
VII, entretanto, a quem ele chamara despectivamente de “velho”, ainda haveria de reinar por
quase uma década, sobrevivendo por dois anos
ao prisioneiro da Ilha de Santa Helena.
E, assim, poderíamos multiplicar os exemplos mostrando “ser uma característica da Igreja vencer quando atacada, ser melhor compreendida quando contestada e ganhar terreno quando abandonada”, segundo ensina Santo Hilário de Poitiers.21 Ao que o padre Monsabré acrescenta: “muitas vezes, no curso da Era
Cristã, pôde-se ver o Corpo Místico do Filho de
2
SANCTUS HIERONYMUS.
Epistola CXLI: PL 33, 891.
3
Cf. GOMÁ Y TOMAS, Isidro. El Evangelio explicado.
Barcelona: Casulleras, 1930,
v.IV, p.109.
4
SAN BEDA, apud SANTO
TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea.
5
GOMÁ Y TOMÁS, op. cit.,
p.110.
6
Isto se vê com maior clareza no Evangelho de São Mateus: “Dize-nos, quando será
isso? Qual será o sinal de tua
vinda e do fim do mundo?”
(Mt 24, 3).
7
SAN CIRILO, apud SANTO
TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea.
8
GOMÁ Y TOMAS, op.cit.,
p.114.
9
SANTO AFONSO MARIA
DE LIGÓRIO. Preparação
para a morte. Cons. XVII,
ponto I.
10
SAN GREGORIO MAGNO,
apud SANTO TOMÁS DE
AQUINO, Catena Aurea.
Gustavo Kralj
Os momentos de perseguição nos convidam a depositar uma fé
inquebrantável em Cristo e em sua Igreja
"Jesus triunfante" - Cemitério Campo di Verano, Roma
Deus a ponto de perecer, muitas vezes pôde-se
vê-lo recobrar vida e avançar com passo resoluto rumo aos dias da eternidade”.22
Os períodos de perseguição nos convidam
a depositar uma fé inquebrantável em Cristo e
em sua Igreja, mas também a amá-Los de um
modo todo especial. “Em tempo de grandes
prevaricações”, afirma o Cardeal Gomá, “até os
bons se tornam tíbios. Contudo, em meio às defecções e tibiezas, perseverarão os fortes, os que
11
GOMÁ Y TOMÁS, op. cit.,
p.112.
12
Catecismo da Igreja Católica,
n.2834.
13
SAN GREGORIO MAGNO,
apud SANTO TOMÁS DE
AQUINO, Catena Aurea.
14
Idem, ibidem.
15
GOMÁ Y TOMÁS, op. cit.,
p.112.
16
SAN BEDA, apud SANTO
TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea.
17
SAN AGUSTÍN, Sermón 214,
12 apud ODEN, Thomas C. e
guardarem a fé e os bons costumes cristãos. Estes se salvarão: “Quem perseverar até o fim, será salvo” (Mt 24, 13). Sendo constantes, obtereis a salvação”.23
Ao nos situar diante de uma grandiosa perspectiva escatológica, o Evangelho deste domingo nos incita a proclamar a beleza triunfante da
Santa Igreja, na confiança plena de que quem
permanecer filialmente no seu seio obterá como prêmio o próprio Deus! 
JUST Jr., Arthur A. La Biblia
comentada por los Padres de
la Iglesia – Nuevo Testamento,
San Lucas. Madrid: Ciudad
Nueva, 2000, v.III, p.429.
18
SANCTUS AUGUSTINUS.
Sermo 359A. 2.
19
CONDORCET. Vie de Voltaire in Œuvres completes de
Voltaire. Paris: Th. Desoer,
1817, t.I, p.55.
20
SÉGUR, Conde de, apud
HENRION, Barón. Historia general de la Iglesia. 2.ed.
Madrid: Ancos, 1854,
t.VIII, p.153.
21
SANTO HILÁRIO DE POITIERS, apud BERINGER,
R. Repertorio universal del
predicador. La Iglesia y el Papado. Barcelona: Litúrgica Española, 1933, v.XVIII,
p.241.
22
MONSABRÉ, OP, Jacques-Marie-Louis. Retraites pascales. I- La tentation. I- Recherche de Jésus-Christ. Paris: Lethielleux, 1877-1888,
p.319.
23
GOMÁ Y TOMÁS, op. cit.,
p.113.
Novembro 2010 · Flashes
É uma
característica
da Igreja
vencer quando
atacada,
ser melhor
compreendida
quando
contestada
e ganhar
terreno
quando
abandonada
de Fátima      15
Viagem apostólica de Bento XVI ao Reino Unido
“O coração fala ao coração”
Contrariando todos os presságios pessimistas, a visita do Papa
Bento XVI ao Reino Unido demonstrou que sua população conserva
o respeito e o coração aberto para com o Sucessor de Pedro.
Q
simistas. Uma coisa ficou evidente: as
previsões de fracasso não correspondiam ao que ia no fundo das almas.
O lema da viagem foi o mesmo
do Cardeal Newman — O coração
fala ao coração — e não podia ser
mais apropriado, especialmente no
tocante ao povo britânico. Embora
tidos como reservados e arredios às
manifestações de emoção, na realidade, ingleses e escoceses são profundamente emotivos e prezam o
calor humano. Eles sentem necessidade de se comunicar de coração
a coração, e quem melhor do que o
Santo Padre para atender a esse anseio?
Durante a viagem de Roma a
Edimburgo, um jornalista perguntou a Bento XVI se ele não tinha receio pela maneira como seria acolhido, tendo em vista as polêmicas e oposições que cercaram
a preparação da visita. “Devo dizer
Gustavo Kralj
uando a graça de Deus
é derramada sobre os
homens, não há poder
mundano capaz de opor-se a ela. Verificou-se isto mais uma
vez nos quatro dias da visita do Papa
Bento XVI ao Reino Unido.
O que ali aconteceu de 16 a 19 de
setembro constituiu uma surpresa para os próprios católicos, os quais tinham sido submetidos durante meses a um bombardeio de notícias pes-
José Messias Lins Brandão
O Santo Padre chega ao Bellahouston Park, em Glasgow, onde celebrou Missa para uma compenetrada e
entusiasmada multidão, calculada em mais de 65 mil fiéis
16      Flashes de Fátima · Novembro 2010
L'Osservatore Romano
que não”, respondeu o Papa. E recordou que previsões negativas antecederam também suas viagens
apostólicas à França, apontado como o país mais anticlerical da Europa, e à República Tcheca, que seria o país mais irreligioso do continente. Nenhum desses maus presságios se realizaram.
Por isso, ele ia à Grã-Bretanha
“com grande coragem e com alegria”.
No “Palácio da Santa Cruz”,
audiência com a Rainha
No início de sua visita oficial ao Reino Unido, o Papa Bento XVI é recebido
pela Rainha Elizabeth, no Palácio de Holyrood, em Edimburgo, Escócia
britânico. Depois acrescentou: “O
nome Holyroodhouse, a residência
oficial de Vossa Majestade na Escócia, recorda-nos a ‘Santa Cruz’ e indica as profundas raízes cristãs ainda presentes em cada camada da vida britânica”.1
Relembrou em seguida o Santo Padre que desde os primeiríssimos tempos os monarcas da Inglaterra e da Escócia eram cristãos e
muitos deles — como Santo Eduardo o Confessor e Santa Margarida
da Escócia — exerceram seu poder
soberano à luz do Evangelho, modelando profundamente ambas as
nações na linha do bem, de tal mo-
do que a mensagem cristã tornou-se parte integral do pensamento,
língua e cultura do povo britânico.
Dirigiu também palavras de louvor
à Grã-Bretanha por haver se levantado contra as tiranias do “ateísmo extremista”, na Segunda Guerra Mundial.
Por fim, o Sumo Pontífice realçou
o fato de que o Reino Unido se esforça por ser “uma sociedade moderna e multicultural”. E concluiu
manifestando um desejo: não se
permita que o fundamento cristão
de suas liberdades seja obscurecido
“pelas formas mais agressivas de secularismo”.
Gustavo Kralj
Gustavo Kralj
O Santo Padre desembarcou
em Edimburgo, capital da Escócia,
às 10:30h da manhã, sendo saudado no aeroporto pelo Príncipe Philip, esposo da Rainha Elizabeth II,
pelo Primeiro Ministro da Escócia,
Alex Salmond, e outras personalidades religiosas e civis. Dali seguiu em
automóvel fechado para o encontro
com a Rainha.
No Palácio Real de Holyrood teve lugar a cerimônia de boas-vindas, quando o Papa foi recebido pela Rainha Elizabeth II e centenas
de autoridades. Após o discurso da
Soberana, Bento XVI agradeceu o
convite para visitar oficialmente o
Reino Unido e suas cordiais palavras de saudação em nome do povo
Um clima de festa tomou as ruas das cidades escocesas visitadas pelo Papa, desmentindo todos os prognósticos
negativos que antecederam sua viagem
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      17
O calor do povo escocês
da-nos que Cristo continua a enviar
os seus discípulos pelo mundo, para
anunciar a vinda do seu Reino e levar a sua paz ao mundo, passando
de casa em casa, de família em família, de cidade em cidade. Eu vim ao
meio de vós, filhos espirituais de Santo André3, como arauto desta mesma paz, e para vos confirmar na Fé
de Pedro”.
Particularmente importante, como destacou a mídia britânica, foi a
exortação dirigida aos jovens, presentes ali em grande número: “Meus
queridos jovens católicos da Escócia.
Exorto-vos a levar uma vida digna de
Nosso Senhor e de vós mesmos. Existem numerosas tentações que deveis
enfrentar todos os dias — a droga, o
dinheiro, o sexo, a pornografia e o álcool — que segundo o mundo vos darão a felicidade, mas na verdade trata-se de realidades destruidoras, que
criam divisão. Só existe uma coisa
que permanece: o amor pessoal de
Jesus Cristo por cada um de vós. Procurai-O, conhecei-O e amai-O, e Ele
tornar-vos-á livres da escravidão da
existência sedutora mas superficial,
frequentemente proposta pela sociedade contemporânea”.
Houve vários momentos de verdadeira emoção, cujo auge quiçá te-
nha se dado quando a imensa multidão cantou a tradicional canção escocesa Auld lang syne, que celebra as
grandes e verdadeiras amizades.
Encontro com “futuros
santos do século XXI”
Na manhã do dia 17, já em Londres, Sua Santidade — que completava 81 anos — se dirigiu ao St.
Mary’s University College de Twickenham, tradicional instituição católica
no prestigioso bairro de Richmond,
onde foi recebido por autoridades religiosas e civis, educadores e quatro
mil alunos das escolas católicas.
O encontro do Papa com as crianças deu-se num ambiente de intimidade e carinho de parte a parte, constituindo uma verdadeira festa em família. Meninos e meninas ingleses,
escoceses e galeses entregaram presentes ao Papa, e este lhes manifestou sua esperança de que entre eles
“haja alguns futuros santos do século
XXI”. Paternalmente, advertiu-os de
que bens passageiros como a celebridade e o dinheiro não são suficientes
para dar a felicidade, a qual só pode
ser encontrada em Deus.
Dirigindo a palavra aos professores, o Papa relembrou que a educação não pode ser meramente uti-
Gustavo Kralj
Gustavo Kralj
No percurso entre o Palácio ­Real
e a Residência Arquiepiscopal, a realidade foi um cabal desmentido a
todas as previsões pessimistas: 125
mil escoceses ocuparam as ruas centrais de Edimburgo, festejando o Papa com música de gaitas de fole, trajes típicos e muitas bandeiras. Para
aquecer mais ainda os corações, até
o clima colaborou, proporcionando
um dia ensolarado, quando tudo fazia prever a habitual atmosfera sombria. Estava quebrado o “encantamento” preparado pelos poucos inconformados, e dada a nota de entusiasmo que permaneceria durante toda a estada do Santo Padre no
Reino Unido.
À tarde, o Papa dirigiu-se de automóvel a Glasgow, a maior cidade
da Escócia, um grande e tradicional
centro católico. No Bellahouston
Park, quase às 18 horas, o sol brilhava, “um caso raro na Escócia” como
comentava o blog ao vivo do Daily
Telegraph: “O parque está banhado
por uma luz magnífica enquanto o
Papa continua a celebração”.2
Cerca de 65 mil pessoas assistiram
à Missa. As primeiras palavras da homilia papal calaram a fundo nas almas: “O Evangelho de hoje recor-
Causou surpresa a muitos o grande número de jovens católicos que acorreram para saudar o Papa. À esquerda,
diante da Catedral de Westminster, à direita, pelas ruas de Londres
18      Flashes de Fátima · Novembro 2010
Histórica e simbólica visita
ao Westminster Hall
O Papa foi convidado a dirigir-se aos governantes, parlamentares e outras
figuras exponenciais da vida britânica no Westminster Hall, construção
medieval na qual tiveram lugar boa parte dos acontecimentos políticos mais
importantes da história local
Unido e a Igreja Católica, incluindo os períodos turbulentos desde
Henrique VIII, que fizeram muitos
mártires, alguns dos quais julgados e
condenados naquele salão, como é o
caso de São Tomás More.
Na sua resposta, o Santo Padre
recordou a figura do “grande estudioso e estadista inglês, admirado
por crentes e não crentes, em virtude da integridade com que foi capaz
de seguir a sua própria consciência,
mesmo à custa de contrariar o seu
soberano, de quem era um ‘bom servidor’, porque tinha preferido servir
primeiro a Deus”. O dilema enfren-
tado por More naquelas difíceis circunstâncias — dar a César o que é
de César e a Deus o que é de Deus
— proporcionou ao Pontífice tecer
algumas considerações a respeito
do “justo lugar que o credo religioso
conserva no processo político”.
Questões fundamentais como essa do processo contra Tomás More,
observou ele, continuam a apresentar-se, na vida política, levando cada nova geração a indagar: “Quais
são as exigências que os governos podem impor razoavelmente aos seus
próprios cidadãos? Que autoridade
é possível interpelar, para resolver
Gustavo Kralj
Um dos pontos culminantes dessa viagem foi a simbólica visita do
Santo Padre ao Westminster Hall.
Ali o acolheram solenemente, ao
som das trombetas reais, os membros do Governo e do Parlamento,
além de expoentes da sociedade civil, do mundo acadêmico, cultural e
empresarial. Cerca de duas mil pessoas, de acordo com a BBC.
Em seu caloroso discurso de saudação, o Presidente da Câmara dos
Comuns, John Bercow, lembrou as
históricas relações entre o Reino
L'Osservatore Romano
litarista. “Ela diz respeito, sobretudo, à formação da pessoa humana,
à sua preparação para viver plenamente a própria vida — em poucas
palavras, refere-se à educação para a sabedoria. E a verdadeira sabedoria é inseparável do conhecimento do Criador” — afirmou. Fez uma
elogiosa referência a personalidades
britânicas que compreenderam essa
dimensão transcendente do ensino:
os beneditinos que acompanharam
Santo Agostinho, apóstolo da Inglaterra, os discípulos de São Columba, São Davi de Gales e seus companheiros, e a Venerável Mary Ward.
No Hyde Park, em Londres, cerca de 80 mil pessoas (a lotação máxima permitida para o evento), a maioria jovem,
participaram com o Papa da vigília do dia 18 de setembro
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      19
observam da magnífica abóbada desta antiga Sala recordam-nos [...] que
Deus vela constantemente sobre nós,
para nos guiar e nos proteger. E nos
exortam a reconhecer a contribuição
vital que o credo religioso deu e continua a oferecer à vida da Nação”.
Encarregado de cuidar da
unidade do rebanho de Cristo
qual o Senhor nas Escrituras chama
os seus discípulos”.
O Santo Padre referiu-se também
à necessidade de reconhecer os desafios que se apresentam hoje aos
cristãos, não só no relativo à unidade, mas também no compromisso de proclamar ao mundo o nome
de Cristo. A fidelidade à palavra de
Deus, afirmou, “exige de nós uma
obediência que nos leve juntos a
uma compreensão mais profunda da
vontade do Senhor, uma obediência
que deve ser livre do conformismo
intelectual ou da fácil adaptação ao
espírito do tempo”. E acrescentou:
“Esta é a palavra de encorajamento
que desejo deixar-vos esta tarde, e
faço-o em fidelidade ao meu ministério de Bispo de Roma e Sucessor
de São Pedro, encarregado de um
cuidado particular pela unidade da
grei de Cristo”.
A indispensável missão dos leigos
No dia 18, na praça da Catedral
católica de Westminster e em parte
de uma rua adjacente, alguns milhares de jovens acompanharam a celebração através de um telão, pois
o interior da igreja estava lotado. A
cerimônia revestiu-se de grande solenidade.
L'Osservatore Romano
No dia 17 Bento XVI foi convidado pelo Arcebispo anglicano de Cantuária, Rowan Williams, para uma
cerimônia ecumênica na Abadia de
Westminster, tão carregada de recordações da Inglaterra católica.
O Papa deu início ao ato, agradecendo ao Senhor pela oportunidade de estar, junto com os representantes de outras confissões cristãs, “nesta magnífica Abadia dedicada a São Pedro, cuja arquitetura e história falam de maneira deveras eloquente a propósito da nossa comum herança de fé”. Agradeceu a Deus também por permitir-lhe, “como sucessor de São Pedro
na Sé de Roma, realizar a presente peregrinação ao túmulo de Santo
Eduardo, o Confessor”, um rei que
continua a ser “um modelo de testemunho cristão e um exemplo daquela verdadeira grandeza para a
L'Osservatore Romano
os dilemas morais?”. E caso o processo democrático baseie seus princípios morais apenas no consenso social, deixará evidente sua fragilidade. Pois, embora as normas objetivas
que governam o reto agir sejam acessíveis à razão, esta pode ser distorcida e manipulada por ideologias, caso
não tenha os corretivos da Religião.
O Papa manifestou, então, sua
preocupação pelo fato de o Cristianismo estar sendo marginalizado inclusive “em nações que atribuem um
grande valor à tolerância” — caso
do Reino Unido —, chegando-se a
ponto de considerar que “os cristãos
que desempenham funções públicas
deveriam, em determinados casos,
agir contra a própria consciência”.
Tendo em vista essa situação, o
Santo Padre convidou seus ouvintes
a procurarem modos de promover e
encorajar o diálogo entre a fé e razão, em todos os níveis da vida nacional. “A vossa disponibilidade neste sentido já se manifestou no convite sem precedentes que me dirigistes hoje” — acrescentou.
Na parte final de seu discurso,
após tecer considerações sobre o progresso verificado na cooperação entre o Reino Unido e a Santa Sé, Bento XVI concluiu: “Os anjos que nos
A Missa celebrada pelo Papa na Catedral de Westminster foi marcada pela pompa britânica. À direita, ocupando o
primeiro banco do lado do Evangelho, veem-se membros da Família Real
20      Flashes de Fátima · Novembro 2010
morais imutáveis. “Como precisamos
nós, na Igreja e na sociedade, de testemunhas da beleza da santidade, testemunhas do esplendor da verdade,
testemunhas da alegria e da liberdade
que nascem de um relacionamento vivo com Cristo!” — exclamou.
Todos somos chamados
a mudar o mundo
Na tarde do dia 18, depois de visitar a St. Peter’s Residence, uma casa
de repouso para os anciãos, o Papa seguiu para o Hyde Park, onde se realizava a Vigília de Orações para a Beatificação do Cardeal Newman. Ali o
aguardavam 80 mil fiéis, enquanto outros 200 mil — segundo cálculos da
polícia londrina — se postaram para
aclamá-lo ao longo do trajeto.
Em seu discurso, afirmou o Papa: “Newman teve por muito tempo
uma influência importante na minha vida e no meu pensamento, como o teve sobre muitíssimas pessoas além destas ilhas”. Dirigindo-se
especialmente aos jovens, acrescentou: “Newman, segundo a sua narração, repercorreu o caminho de toda a sua vida à luz de uma poderosa experiência de conversão, que teve quando era jovem. Foi uma experiência imediata da verdade da Pa-
lavra de Deus, da realidade objetiva da revelação cristã, tal como fora transmitida na Igreja”. A partir
dessa experiência, sentiu a vocação
de ser ministro do Evangelho. E no
final de sua vida, ele descreveu seu
trabalho como “uma luta contra a
tendência crescente a considerar a
Religião como um fato meramente
privado e subjetivo, uma questão de
opinião pessoal”.
O Hyde Park é muito simbólico
para a Igreja Católica inglesa, pois no
local chamado Tyburn, em sua parte
norte, foram martirizados 105 católicos entre 1535 e 1681. O Papa recordou seu holocausto e fez uma paternal advertência aos fiéis incumbidos
de proclamar Cristo e seu Evangelho
no mundo hodierno: “Em Tyburn, um
grande número de nossos irmãos e irmãs morreram pela Fé; [...] Em nossa época, o preço que deve ser pago
pela fidelidade ao Evangelho já não é
ser enforcado, afogado e esquartejado, mas muitas vezes significa ser indicado como irrelevante, ridicularizado ou ser motivo de paródia”.
Voltando a um tema que foi várias vezes objeto de suas considerações ao longo dessa Viagem Apostólica, o Papa relembrou uma das
meditações mais amadas do Carde-
L'Osservatore Romano
Em sua homilia, o Papa começou
por afirmar como, naquele encontro
entre o Sucessor de Pedro e seus filhos britânicos, “o coração fala ao
coração”.
Como a celebração se realizava
na “Catedral do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo”,
o Sumo Pontífice comentou o mistério desse Sangue Redentor, que nos
explica a unidade entre o Sacrifício
de Cristo na Cruz e o Sacrifício Eucarístico. Sublinhou que a realidade do Sacrifício Eucarístico “esteve
sempre no âmago da Fé católica”. E
relembrou que na Inglaterra muitas
pessoas defenderam com intrepidez
a Missa, muitas vezes ao preço da
própria vida, forjando assim a devoção ao Santíssimo Sacramento que
constitui uma característica do catolicismo nessas terras.
Acentuou também Sua Santidade a indispensável missão dos leigos,
de agirem como fermento do Evangelho no meio da sociedade hodierna, e evocou, a este propósito, “as intuições e os ensinamentos” do Beato John Newman. Fez votos de que
“as profundas ideias deste grande inglês” continuem a inspirar os seguidores de Cristo em terras britânicas a
defender intrepidamente as verdades
Com os Bispos da Inglaterra, Escócia e País de Gales, na histórica capela do Seminário de Oscott. Sentados junto
ao Papa, o Cardeal Keith O’Brien, o Arcebispo Vincent Nichols, e o Cardeal Cormac Murphy-O’Connor
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      21
Gustavo Kralj
Na Missa em Birmingham, durante a consagração do vinho, destaca-se
ao fundo a figura do novo beato John Henry Newman. Ladeiam o Papa o
Arcebispo de Birmingham, Dom Bernard Longley, e o Cardeal Bertone,
Secretário de Estado do Vaticano
al Newman: “Deus criou-me para
oferecer um serviço específico. Confiou-me um determinado trabalho
que não confiou a outros”. E tirou
uma conclusão: “Cada um de nós
tem uma missão, todos estamos chamados a mudar o mundo”.
Beatificação do Cardeal Newman
L'Osservatore Romano
L'Osservatore Romano
No dia 19, domingo, a Missa de
beatificação do Cardeal Newman foi
celebrada num clima de grande festa no Cofton Park, em Birmingham.
Quis o Papa, no início de sua homilia, chamar a atenção para o 70º
aniversário da Batalha da Inglaterra, quando a aviação nazista bombardeou pesadamente diversas cidades inglesas, e prestar uma homenagem aos que resistiram “às forças
daquela ideologia maligna”.
Todavia, prosseguiu ele, uma razão de grande júbilo para a Inglaterra os reunia ali: a beatificação do
Cardeal Newman, um homem que
“deu um eloquente testemunho” de
vida santa como sacerdote, pregador, educador e escritor, inserindo-se numa “longa esteira de Santos e
Mestres destas ilhas” como São Beda, Santa Hilda, Santo Aelredo e o
Beato Duns Escoto.
Comentando o lema do Cardeal
Newman — Cor ad cor loquitur (O coração fala ao coração) —, observou o
Papa que ele “permite-nos penetrar
na sua compreensão da vida cristã como chamada à santidade, experimentada como o intenso desejo do coração humano de entrar em íntima comunhão com o Coração de Deus”.
Recordou ainda que, conforme
acentuava o Beato John Newman, cada homem tem uma tarefa pessoal a
cumprir, dada por Deus, “um ‘serviço bem definido’, confiado unicamente a cada indivíduo”. Assim, cada pessoa tem sua missão, ninguém foi criado sem um objetivo específico.
Ressaltou também o Pontífice
que a relação entre fé e razão era
outra preocupação do novo bem-aventurado. Suas intuições sobre
o espaço vital da Religião revelada na sociedade civilizada, e sobre
a necessidade de uma abordagem
da educação, ampla em seus fundamentos e aberta a grandes perspectivas, não só foram importantes para
Dois momentos marcantes da visita: com os professores e estudantes do Seminário de Oscott e em cortejo
cerimonial na Abadia de Westminster
22      Flashes de Fátima · Novembro 2010
a Inglaterra vitoriana, mas inspiram
e iluminam os homens ainda hoje,
em todo o mundo — explicou ele.
Na recitação do Angelus, o Papa assinalou que o Beato John Newman
deu o nome de “Maryvale” (Vale de
Maria) à sua primeira casa em Birmingham, e dedicou à Conceição Imaculada da Santíssima Virgem o Oratório por ele fundado. Além disso, colocou a Universidade Católica da Irlanda sob a proteção de Maria, Sedes Sapientiæ. “De muitíssimos modos ele
viveu o próprio ministério sacerdotal
em espírito de devoção filial à Mãe de
Deus” — concluiu Bento XVI.
Finalidade última de todas
as atividades ecumênicas
dedicação das autoridades, da polícia e dos serviços públicos. Recordou
“com íntima alegria” o tempo transcorrido com os católicos do Reino
Unido e considerou particularmente
emocionante ter celebrado com eles
a beatificação do Cardeal Newman.
Quando o avião papal alçou voo
— cena transmitida ao vivo pelas câmeras de televisão — poderia parecer que um ar de orfandade iria novamente tomar conta do país. Não
é verdade. Nada poderá romper os
laços de ouro tecidos durante essa Viagem Apostólica, os quais falam da esperança de que a restauração da unidade é apenas uma questão de tempo. 
1
A abadia de Holyrood foi fundada em 1128 pelo rei escocês Davi
I, que mandou construir uma bela
igreja (agora em ruínas) para acolher uma relíquia do Santo Lenho
— um fragmento da Cruz de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
2
http://www.telegraph.co.uk/news/
newstopics/religion/the-pope/8008160/Pope-Visit-UK-2010-Day-one-as-it-happened.html
3
O Apóstolo Santo André é o padroeiro da Escócia.
O término de inesquecíveis dias
Na cerimônia de despedida, no
Aeroporto de Birmingham, o Papa manifestou ao Primeiro Ministro,
David Cameron, seu contentamento
pelo encontro com o povo britânico,
pela acolhida da Rainha e do Governo de Sua Majestade, bem como pela
Gustavo Kralj
No encontro com os Bispos da Inglaterra, Escócia e País de Gales, na
capela do Oscott College, acentuou o
Pontífice ter sido ali onde o Cardeal
Newman, em 1852, “deu voz à nova
confiança e vitalidade da comunidade católica na Inglaterra e no País de
Gales”. Declarou também ter ficado
claro para ele, nessa Viagem Apostólica, quanto é profunda entre os britânicos “a sede da Boa Nova de Jesus Cristo”. À vista disto, encorajou
os Bispos a aproveitarem os serviços
do recém-criado Pontifício Conselho
para a Nova Evangelização, e a envidarem esforços no sentido de envolver na missão da Igreja os novos movimentos eclesiais, muitos dos quais
“têm um particular carisma para a
evangelização”.
Lembrando-se das centenas de
milhares de anglicanos desejosos de
voltar à casa paterna, repetiu aos Bispos seu pedido de serem generosos
na implementação da Constituição
Apostólica Anglicanorum cœtibus.
“Este deveria ser considerado um
gesto profético que pode contribuir
positivamente para o desenvolvimento das relações entre anglicanos e católicos. Ajuda-nos a dirigir o olhar
para a finalidade última de todas as
atividades ecumênicas: a restauração
da plena comunhão eclesial no contexto da qual o intercâmbio recíproco de dons dos nossos respectivos patrimônios espirituais serve como enriquecimento para todos nós”.
Mais de 50 mil pessoas se aglomeraram no Cofton Park, em Birmingham, para assistir à Missa de beatificação do
Cardeal John Henry Newman
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      23
Fundo Misericórdia
auxilia dispensário no Ceará
Entrega da doação
O
s Arautos promoveram uma campanha de arrecadação de donativos para ajudar o Dispensário Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro do Norte, a pedido
do Bispo Diocesano, Dom Fernando Panico, MSC.
Dirigido pela Irmã Maria Neli Sobreira, superiora
da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado,
a entidade filantrópica se localiza em um bairro populoso e carente, e dá assistência social, educativa e religiosa a cerca de 400 crianças na faixa etária de 3 a 5
anos. Além disso, são promovidos cursos profissionalizantes para seus pais. Construído há 36 anos, a estrutura deste estabelecimento se encontrava em situação
bastante precária. Faltavam também recursos básicos e
material para ensino pedagógico e profissionalizante.
No dia 26 de setembro, os Padres Aumir Scomparin,
EP, e Katsumassa Sakurata, EP, estiveram na cidade a
fim de fazer a entrega da doação durante a Celebração
Eucarística. No final, a irmã Neli proferiu palavras de
agradecimento pelo auxílio prestado.
Equador – Em Quevedo, arautos participaram de
procissão e Eucaristia presidida pelo atual Arcebispo de
Quito, Dom Fausto Travéz, OFM.
24      Flashes de Fátima · Novembro 2010
Inglaterra – Arautos promoveram, com alunos da
escola Nossa Senhora do Rosário em Heston, Londres,
a recitação do terço.
Missa e procissão marcam início do
mês de Outubro em Valongo
E
m Valongo, uma igreja repleta e jubilosa recebeu
a visita da imagem peregrina do Imaculado Coração de Maria.
A cerimónia teve início com uma procissão até
à Igreja matriz onde, começou a Santa Missa em
memória de Santa Teresinha do Menino Jesus, celebrada pelo Pe. José Alfredo Ferreira da Costa,
pároco de Valongo, e concelebrada pelo Pe. Luiz
Henrique, superior dos Arautos do Evangelho em
Portugal.
Em sua homilília, o Pe. José Alfredo relembrou
o desafio lançado pelo Bispo do Porto, D. Manuel
Clemente, para o ano de 2010, salientando que
Freixo de Espada à Cinta – No mês de Outubro foi
concluída a Missão Mariana, na qual foram celebradas
mais de oito Eucaristias, presididas pelo Pe. João
de Barros e concelebradas pelo Pe. José Roberto
Polimeni, E.P.
nos dias de hoje é preciso viver constantemente
em missão: “Temos de levar o evangelho com novidade àquelas realidades que o tempo às vezes faz
desgastar. O grande desafio de hoje é não nos deixarmos cansar, não nos deixarmos abater e, sobretudo, não nos deixarmos ficar sem esperança perante as lutas que surgem no meio da humanidade”.
Ao término da celebração, foi renovada a consagração das famílias, seguida de um entusiástico
“Adeus a Maria”, com cânticos vibrantes e centenas de lenços brancos que acenavam à passagem
da ­Virgem.
Sintra – A procissão e a solene Eucaristia presidida pelo
senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José da Cruz
Policarpo, foi o ápice dos 12 dias de comemorações,
promovidas pela Câmara Municipal, para homenagear a
Virgem do Cabo.
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      25
Beata Elisabeth da Trindade
“Laudem gloriæ”
Do cerne do convívio celeste, esta
mística carmelita parece sorrir para
nós, convidando-nos a seguir suas
pegadas na experiência trinitária, na
Terra e na eternidade.
Em dezembro de 1902, pouco antes de fazer
a profissão religiosa, posa com véu preto
para o fotógrafo
Irmã Juliane Vasconcelos Almeida Campos, EP
C
riança inteligente e precocemente contemplativa, de espírito firme, com apenas sete anos de idade encontrava-se visitando o Cônego Isidoro Angles, muito amigo da família. Em certo momento, cansada de brincar e da
infantil conversa com a irmã e as amigas, a menina aproximou-se do sacerdote e sussurrou-lhe ao ouvido:
— Monsieur Angles, eu serei freira. Quero ser freira!
— Que diz essa traquinas? —
perguntou sua mãe, sobressaltada.
Muito intuitiva, havia percebido ela terem essas palavras uma seriedade não condizente com a idade de sua filha. Conhecia bem Elisabeth e pressentia a realização desse desejo manifestado com tanta firmeza. Passou a noite atormentada e,
no dia seguinte, procurou o cônego
e perguntou-lhe, ansiosa, se acreditava seriamente naquela vocação. A
resposta traspassou-a como uma espada o coração:
— Sim, creio.
Vitória sobre um
temperamento irascível
Nascida em 18 de julho de 1880,
no acampamento militar de Avor,
perto de Bourges, onde seu pai era
capitão, Maria Elisabeth Catez foi
batizada quatro dias depois. Menina de gênio forte e impetuoso, personalidade decidida, olhar chamejante,
buliçosa, faladeira e muito carinhosa,
Elisabeth uniu-se com enorme afeto
à irmã, Margarida, três anos mais nova, que tinha uma índole oposta: era
tranquila e até tímida.
Quando contava apenas sete
anos, Elisabeth viu falecer o pai em
seus braços, vítima de um ataque
cardíaco. Esse fato marcou-a profundamente e deu-lhe uma sensível
experiência da efemeridade das coisas terrenas. Poucos meses depois,
a viúva mudou-se com suas duas filhas para um apartamento de onde
se podia ver, a pequena distância, o
Carmelo de Dijon.
Possuindo um caráter violento
e irascível, desde a mais tenra ida-
26      Flashes de Fátima · Novembro 2010
de, aquela criança batalhava por dominar-se, com uma vontade de ferro. Sua irmã testemunha a esse respeito: “à força de lutar consigo mesma, chegou a uma doçura angelical.
Lembro-me dela bem pequena com
verdadeiros acessos de cólera, gritando e batendo os pés... Esta menina tão difícil transformou-se numa
jovem de grande serenidade”.1
Numa carta dirigida à mãe, em
1º de janeiro de 1889, bem demonstra esse desejo de vencer o próprio
temperamento: “Ao desejar-lhe um
feliz Ano Novo, tenho a alegria de
prometer-lhe que serei bem comportadinha e obediente; que não
lhe darei mais oportunidade para que se zangue; que não chorarei mais e que serei uma mocinha
exemplar para que a senhora sinta
prazer em tudo”.2
Meses depois, em nova carta à
mãe, escreve: “Espero que bem em
breve terei a felicidade de fazer a
Primeira Comunhão; por isso, serei
ainda mais bem comportada porque
pedirei a Deus Nosso Senhor que
me torne ainda melhor”.3
De fato, em 19 de abril de 1891,
dia em que recebeu o anelado Pão
dos Anjos, o temperamento da jovem Catez transformou-se de forma súbita e profunda. Depois da cerimônia, confidenciou a Maria Luiza Hallo, sua íntima amiga: “Não tenho fome; Jesus alimentou-me”.4
Aquele primeiro contato com Jesus escondido na Sagrada Hóstia fora decisivo para seu itinerário espiritual. A partir de então, “o Mestre
tomou posse total do seu coração”,5
afirma o Padre Philipon.
No próprio dia em que recebeu
a Eucaristia pela primeira vez, fez
uma visita ao Carmelo e sentiu profunda emoção quando a priora, Madre Maria de Jesus, lhe explicou que
o nome Elisabeth significa “Casa de
Deus”. Tais palavras marcaram indelevelmente a menina, chamada
a um convívio singular e profundo
com a Santíssima Trindade — com
os “meus Três”, como ela mesma diria mais tarde —, habitando com especial intensidade em sua alma.
Harmonia entre a vida
mística e a vida social
Dotada de peculiares dons musicais, Elisabeth começou a estudar
no Conservatório de Dijon, aos oito anos, onde foi várias vezes galardoada. Com apenas treze, recebeu o
primeiro prêmio de piano, num concerto que repercutiu na imprensa local e a tornou conhecida na cidade
como instrumentista de talento.
Além do Conservatório, não frequentou escola. Como era costume
nesse tempo, as meninas recebiam
educação em casa, com professoras
contratadas pelas famílias. Ademais,
o estudo do piano lhe tomava muito
tempo e era constantemente convidada para concertos ou soirées musicais.
A senhora Catez e suas filhas
mantinham um grande círculo de
amizades. Na França do século XIX,
ainda perfumada pela doceur de vivre, o relacionamento social proporcionava inúmeros prazeres inocentes, tais como sessões musicais, jogos
de tênis, piqueniques e excursões às
montanhas ou a encantadoras cidadezinhas francesas. Todas essas atividades mantinham Elisabeth e suas amigas constantemente ocupadas,
dentro de um ambiente de alegria difícil de imaginar hoje em dia.
Assim, passeios, música e muitas
outras diversões faziam parte do dia
a dia de Elisabeth. Ela se encantava com as montanhas e bosques, com
os jogos, as igrejas e as vilas francesas.
Desfrutava também intensamente das
frequentes viagens que a família fazia
pelo sul da França. Era feliz no meio
de uma sociedade que em nada impedia a prática da virtude nem criava dificuldades para a vida interior daquela
contemplativa adolescente.
A própria Elisabeth narra um
acontecimento decisivo para seu itinerário espiritual, ocorrido nessa
época, pouco antes de completar catorze anos: “Um dia, durante a ação
de graças, senti-me irresistivelmente
impelida a escolher Jesus como meu
único esposo; e sem mais dilações,
uni-me a Ele pelo voto de virgindade. [...] minha resolução de ser toda
sua tornou-se mais definitiva ainda”.6
Terminadas as viagens de férias,
a primogênita dos Catez regressava a Dijon carregada de saudades
do Carmelo, cujo carrilhão escutava
com gosto, cujo jardim divisava de
sua janela e para cuja capela dirigia
seus pensamentos. Um impulso místico a transportava para aqueles muros benditos, tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes.
embora sofrendo enormemente,
submeteu-se com resignação. Apenas quando completasse 21 anos,
maioridade da época, seria autorizada a realizar seu anseio.
Os anos de espera não fizeram senão favorecer uma evolução espiritual em Elisabeth, apoiada nos grandes
mestres do Carmelo, especialmente Santa Teresa de Jesus, São João da
Cruz e Santa Teresa de Lisieux, falecida há pouco, em 1897. Com especial
força ressoaria na alma da futura religiosa a leitura da História de uma alma, que já circulava por toda França.
Durante uma missão redentorista,
realizada em Dijon em 1899, nasceu
no coração de Elisabeth o desejo de
ser vítima expiatória, de obter almas
para seu Esposo, de ajudá-Lo a carregar a Cruz. Registrou esses propósitos em seu Diário Espiritual, no último dia da missão, concluindo nestes termos: “Oh! Meu Esposo, meu
Anseio pelo encontro com o Esposo
Depois do verão de 1898, cumpridos os 18 anos, Elisabeth tomou
a firme determinação de entrar no
Carmelo. Contudo, deparou-se com
um obstáculo intransponível: a negativa peremptória da mãe, à qual,
Numa sociedade que em nada
impedia a prática da virtude,
Elisabeth era feliz
Aos 18 anos de idade
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      27
rei, minha vida, meu amor supremo,
sustenta-me sempre neste caminho
da cruz que escolhi para compartilhá-lo, pois sem Ti nada posso!”.7
Em junho desse ano, a senhora Catez autorizou a filha a visitar as
carmelitas e Elisabeth apresentou à
priora do Carmelo seu pedido de admissão. Daí em diante, foi se afastando cada vez mais da vida social. Ainda comparecia a algumas reuniões,
mas seu espírito nelas estava ausente.
Em princípios de 1900, participou dos exercícios espirituais pregados por um jesuíta, o padre Hoppenot. No dia do encerramento, 27 de
janeiro, anotou ela no mesmo Diário Espiritual: “Entreguei-me de tal
modo ao bom Mestre, abandonei-me a Ele, confidenciando-lhe todos
os meus desejos mais caros. Só quero o que Ele quer. Sou a sua vítima.
Que faça de mim o que Lhe aprouver. Que me tome no momento que
quiser, pois estou pronta e vivo na
expectativa disso”.8
Surgiram ainda vários empecilhos
para retardar a entrada de Elisabeth
no Carmelo, mas, por fim, seu anseio
se tornou realidade em 2 de agosto de
1901. Simples postulante, sentia-se já
carmelita e todas as coisas no convento a encantavam. O jardim, os claustros, a regra, o recolhimento, o silêncio... tudo de tal maneira lhe falava de
Deus que ela chegou a afirmar: “Só
um tênue véu parece separar-nos, Ele
está a ponto de aparecer”.9
Na festa da Imaculada Conceição
desse mesmo ano tomou o hábito de
noviça, e menos de dois anos depois,
em 11 de janeiro de 1903, fez a profissão religiosa.
Purificada pelo sofrimento
Ora, no noviciado retiraram-se essas graças primaveris. A alma da esposa de Cristo, a Ele oferecida como
vítima por amor, começava a ser acrisolada na dor e na provação. “Às radiantes claridades de postulante sucederam-se, para Sóror Elisabeth da
Trindade, as trevas de uma noite profunda”, atesta a priora da época, Madre Germana de Jesus. “É impossível
dizer o que sofreu, então, esta
inocente filha, pouco antes imersa
numa paz que parecia inalterável”.10
“A mão divina”, esclarece o padre
Philipon, “não lhe poupará as puri-
ficações supremas pelas quais Deus
costuma introduzir as almas heroicas na paz imutável da união transformante, e elevá-las acima de todo
gozo e de toda dor”.11
Deste modo, a jovem risonha e
buliçosa, acostumada a haurir com
entusiasmo dos inocentes prazeres
da vida, aprendia a aceitar com conaturalidade os mais terríveis sofrimentos.
O segredo mais íntimo
Analisando o itinerário espiritual de Elisabeth da Trindade, o teólogo dominicano já mencionado, Marie-Michel Philipon, descreve pormenorizadamente a atuação dos
dons do Espírito Santo sobre ela e
afirma ter sido o da sabedoria — o
mais divino de todos os dons — que
lhe permitiu participar, no mais alto grau possível nesta Terra, do conhecimento experimental que Deus
tem de Si mesmo no Verbo, dando
origem ao Amor.12
Elisabeth se sentia como filha
adotiva da Trindade, em uma completa conaturalidade com Ela, de
maneira a todos os seus atos provi-
Três momentos da vida da Beata Elisabeth: com o vestido da primeira comunhão;
aos treze anos de idade, após ter recebido o primeiro prêmio de piano no Conservatório de Dijon;
em junho de 1901, pouco antes de entrar no Carmelo
28      Flashes de Fátima · Novembro 2010
“o Sanctus na pátria dos bemrem de sua alma e, ao mesmo
-aventurados”.16
tempo, de Deus. Vivia constantemente, por assim dizer, no
“Janua Cœli”
próprio coração da Trindade e
deste centro indivisível sua alDentro desta antecipada
ma contemplava todas as coiprelibação celeste, detinha-se
sas em suas razões mais elevacom frequência a meditar nas
das, mais divinas.
relações de Maria com a TrinTudo nesta Terra — inclusidade. Imaginava o Pai inclinanve a dor e o sofrimento — fido-se sobre Ela, desejando que
cava num segundo plano pafosse Mãe no tempo d’Aquele
ra ela. Possuía, “por instinde quem é Pai na eternidade.
to, o senso das coisas eternas
E vislumbrava o Espírito de
e divinas, e precisaria violenAmor — o qual preside todas
tar-se para descer ao nível das
as operações de Deus — n’Ela
ninharias em que se arrastam
engendrando o Verbo encarnanumerosas almas, mesmo redo, a partir de seu Fiat.
ligiosas — que se dizem conO desejo de ser escrava do
templativas — e que não saSenhor, a exemplo de Nosbem esquecer suas misérias e
sa Senhora, lhe encantava.
seu nada”.13
Foi por sua íntima união com
a Trindade que Maria abrira
Tal era o segredo mais íntiaos homens a “porta do Céu”
mo de Elisabeth, manifestado
Tudo nesta Terra, inclusive a dor, ficava num
— Janua Cœli —, trazendo ao
em sua vida e em seus escritos.
segundo plano para ela
mundo o Salvador.
Sua grande ambição era “diEm 1903, pouco tempo depois
Quando já estava muito dozer a todas as almas que fonde fazer a profissão religiosa
ente, Sóror Elisabeth pedia à
te de força, de paz e de feliciVirgem Santíssima que velasse por
dade encontrariam se consentissem de sua espiritualidade e a essência
sua saída do Carmelo para o Céu,
em viver nessa intimidade” das pes- de sua missão nesta Terra. Dera iníassim como a havia protegido em
cio a uma nova etapa em sua vida,
soas divinas.14
sua entrada ao convento. Maria ia
na qual o lema Laudem gloriæ pas“Laudem gloriæ”
ser a porta aberta propiciadora do
sou a ser seu antonomástico. Sóror
seu encontro definitivo com a SanA espiritualidade trinitária de Só- Elisabeth vai usá-lo inclusive como
tíssima Trindade. “Janua Cœli deixaror Elisabeth fazia-lhe possuir, co- assinatura, a fim de marcar esse rirá passar Laudem gloriæ”, ouvirammo vimos, uma como que visão an- co período caracterizado por um
-na dizer nas últimas horas de sua
tecipada dos hábitos da eternidade, completo abandono à Providencia
agonia.17
enchendo-a de paz e tornando sua Divina. “Para ser louvor de glória
— dirá ela — é preciso morrer a tuvida deiforme.
“Vou à vida, à luz, ao amor”
Ora, antes de chegar à visão bea- do que não é Ele, a fim de só vibrar
15
tífica, a alma dessa privilegiada car- sob seu toque”.
Na primavera de 1905, Elisabeth
melita precisava subir ainda mais
começou a sentir os primeiros sinDifícil é compreender, para
um degrau rumo à perfeita união quem está pouco acostumado aos
tomas de uma doença incurável na
com o Amado. E esse processo ini- arcanos da mística, toda a profunépoca: o mal de Addison.
ciou-se, fortuitamente, durante uma didade espiritual e teológica contiSabendo-se a caminho da morte,
conversa espiritual com outra reli- da nesse brevíssimo lema. Ele reflecresceu nela desejo de fazer o bem
giosa a propósito de um curto trecho te um elevado estágio de vida inteàs almas, unindo-as à Trindade Sandas epístolas de São Paulo: “ut simus rior, no qual a alma transcende até
tíssima. Multiplicaram-se, então, os
in laudem gloriæ eius” — “ser o lou- à própria busca da santidade para
escritos de despedida e as cartas de
vor de sua glória” (Ef 1, 12).
conselhos espirituais. A pedido da
se preocupar exclusivamente com a
Por uma graça toda especial, glória divina. Não se trata mais de
priora, anotou algumas meditações
aquelas palavras do Apóstolo das ir em pós dos meios para alcançar
de seu último retiro, feito em agosGentes desvendaram-lhe o cerne o Céu, mas de iniciar já nesta Terra
to de 1906, nas quais transparece a
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      29
põe para só descansar
quando tiver penetrado no interior d’Aquele
que ela ama”.18
Em fins de outubro desse ano, a doença agravou-se irremediavelmente. Ela sabia aproximar-se a hora tão ansiada de viver
com “seus Três”, e nos
últimos dias de agonia,
repetia, “com voz encantadora” estas palavras: “Vou à luz, à vida,
ao amor...”.19
A superiora não a
abandonava dia e noite,
e foi testemunha de como suportou com paciência e serenidade a separação desta vida terNos últimos dias de vida Sóror Elisabeth repetia:
"Vou à luz, à vida, ao amor"
rena. Desfigurada de
dor, chegou a ficar irUm mês antes da morte, junto à imagem
por ela chamada “Janua Cœli”
reconhecível. No dia 9
de novembro, às cinco
perspectiva da eternidade, onde pa- e quarenta e cinco da manhã, virourecia já viver sua alma: “Quão bela é -se do lado direto, inclinou a cabea criatura assim despojada, libertada ça para trás e sua figura se iluminou.
de si própria! [...] Ela sobe, eleva-se Os olhos, fechados há vários dias, se
acima dos sentidos, da natureza; ul- abriram, parecendo vislumbrar algo
trapassa-se a si mesma; domina toda por cima da cabeça de Madre Geralegria e toda tristeza, e tudo trans- mana que, ajoelhada à sua cabecei-
1
2
SESÉ, Bernard. Vida de Isabel de la
Trinidad. Madrid: San Pablo, 1994,
p.23.
SCIADINI, OCD, Patrício (Org.).
Elisabete da Trindade. Obras Completas. Petrópolis, Vozes, 1994,
p.19.
3
Idem, p.20.
4
SESÉ, op. cit., p.26.
5
PHILIPON, OP, Marie-Michel.
Doutrina espiritual de Elisabete da
Trindade. 2.ed. São Paulo: Paulus,
1988, p.32.
6
SESÉ, op. cit., p.37.
7
SCIADINI,OCD, op. cit., p.437-438.
8
SCIADINI, OCD, op. cit., p.444.
9
SESÉ, op. cit., p.104.
10
SESÉ, op. cit., p.114.
11
PHILIPON, OP, op. cit., p.31.
12
Cf. PHILIPON, OP, op. cit., p.192226.
13
PHILIPON, OP, op. cit, p.222.
14
ELISABETH DE LA TRINITÉ.
Carta 302, de 2 de agosto de 1906,
a sua mãe. In: PHILIPON, OP, op.
cit., p.223.
15
ELISABETH DE LA TRINITÉ.
Carta 256, de dezembro de 1905,
30      Flashes de Fátima · Novembro 2010
ra, rezava. Assim partiu para encontrar-se com “seus Três”.
* * *
Depois da sua morte, Sóror Elisabeth continua sendo um exemplo de alta espiritualidade e singular vida trinitária, convidando-nos
a seguir suas pegadas na experiência da vida em Deus. Mais que ensinamentos teológicos, ela transmitiu
para os séculos futuros uma rica vivência mística, amadurecida de forma impressionante em apenas alguns anos no Carmelo e abundantemente relatada em cartas e outros escritos.
Esse legado para o futuro é assim
descrito pelo Papa João Paulo II, na
homilia da sua beatificação: “À nossa humanidade desorientada, que já
não sabe encontrar a Deus ou que O
desfigura, que procura uma palavra
na qual fundamente sua esperança,
Elisabeth dá o testemunho de uma
abertura perfeita à Palavra de Deus
que ela assimilou, a ponto de nutrir
dela verdadeiramente sua reflexão e
sua oração, de encontrar nela todas
as suas razões de viver e de se consagrar ao louvor de sua glória”. 20
Daí que sua mensagem se difunda hoje com uma singular força
profética.
ao Côn Angles. In: PHILIPON, OP,
op. cit., p.117
16
Idem, ibidem.
17
Idem, p.169.
18
ELISABETH DE LA TRINITÉ.
Último retiro de “Laudem gloriæ”.
Décimo sexto dia. In: SCIADINI,
OCD, op. cit., p.507.
19
SESÉ, op. cit. p.201.
20
JOÃO PAULO II. Homélie. Cérémonie de béatification, 25/11/1984.
Ana Rodríguez Soto / Florida Catholic
Entrevista com Dom Thomas Wenski
Renovação
e esperança para
a Arquidiocese
Afável, de amplos horizontes e solícito pelo rebanho entregue a
seus cuidados, Dom Thomas Wenski fala sobre o entrelaçamento
de Fé e cultura como meio para lutar contra a secularização e
sublinha o valioso contributo dos imigrantes à história de Miami.
Pe. Steven Frederick Schmieder, EP
Excelência, seu ministério
pastoral no sul da Flórida
deu-lhe grande experiência
com as comunidades de
imigrantes. Pode dizer-nos
qual é a contribuição dessas
comunidades para a Igreja
local e como essa experiência
o enriqueceu pessoalmente?
As comunidades de imigrantes formam de um modo muito real a Igreja local aqui, porque grande
parte dos habitantes dos municípios
de Broward, Dade e Monroe nasceu
fora dos Estados Unidos.
Isso causou forte impacto em minha vida e acho que o fato de ser filho de imigrantes poloneses deu-me
especial empatia com os imigrantes. Aprendi espanhol no seminário.
Três anos após minha ordenação,
comecei a trabalhar em tempo inte-
gral com haitianos e permaneci vinte anos nesse ministério, até ser nomeado Bispo Auxiliar.
As várias culturas existentes em
Miami mostram que esta é uma
grande Igreja e que há diversas maneiras de experimentar a vida na
Igreja. Muitas pessoas afirmam que
seus horizontes se alargam ao viajar para outro país. Os meus foram
Creio que a
contribuição desses
povos para a Igreja
e para a sociedade
norte-americana
será de renovação
e de revitalização
alargados no convívio com outras
culturas.
O lema de Vossa Excelência:
“Para todos eu me fiz tudo”
(I Cor 9, 22) parece descrever
vosso trabalho com os diversos
grupos étnicos. Na vossa opinião,
qual será o impacto dos católicos
latinos na sociedade americana?
Meu conceito de sacerdócio é o
de ser um servidor, daí a minha divisa. O servo deve falar a língua
das pessoas às quais serve, por isso
aprendi espanhol e crioulo haitiano.
Creio que a contribuição desses
povos para a Igreja e para a sociedade norte-americana será de renovação e de revitalização. No momento,
presenciamos um amargo debate sobre imigração nos Estados Unidos,
país que se defronta com a necessidade de reformar suas normas de
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      31
imigração e achar um caminho para
legalizar a situação de 11 milhões de
pessoas. Devemos procurar comunicar aos norte-americanos que essa gente não constitui um risco para
a nossa sociedade. Os imigrantes estão aqui porque acreditam naquilo
que nós chamamos “o sonho americano”: trabalhando duro e aproveitando as oportunidades, cada qual
pode fazer algo por si mesmo.
Devido a um forte processo de
secularização neste país, muitos católicos norte-americanos — netos
ou bisnetos de imigrantes — perderam, talvez, a noção da importância do entrelaçamento de Fé e cultura. Os hispânicos celebram sua Fé
de tal maneira que a cultura se torna Fé, e a Fé se torna cultura. Isso
pode ajudar os católicos norte-americanos a encontrarem um meio de
adequar a Fé ao contexto da nossa
sociedade.
Na Diocese de Orlando, Vossa
Excelência favoreceu o uso dos
meios de comunicação social
pela Igreja, tanto da mídia
impressa quanto da rádio e TV.
Na Arquidiocese de Miami, qual
é o maior desafio nesse campo?
Vim para a Arquidiocese de uma
região duramente atingida pela re-
Dom Thomas Wenski recebeu Pe. Steven Schmieder e dois arautos
em seu escritório em 15 de agosto último
Devido a um
forte processo de
secularização,
muitos católicos
norte-americanos
perderam, talvez, a
noção da importância
do entrelaçamento
de Fé e cultura
cessão; preciso, portanto, encontrar
meios para continuar tornando a
Igreja presente na mídia. Por exemplo, tenho escrito editoriais para os
jornais locais, e estes têm manifestado interesse em publicá-los.
Um dos meus predecessores —
Dom Joseph Patrick Hurley, Bispo
de Saint Augustine, Flórida — disse há várias décadas que a Igreja deve fazer o bem e precisa ser vista fazendo o bem. A Igreja deve transmitir sua mensagem e encontrar meios
de fazê-lo eficazmente, seja pela imprensa, rádio ou televisão, seja via
internet.
Ana Rodríguez Soto / Florida Catholic
Fora dos Estados Unidos,
Miami é, por vezes, vista como
um ícone do consumismo.
Qual meio Vossa Excelência
considera melhor para difundir
o Evangelho na Arquidiocese?
“Meu conceito de sacerdócio é o de ser um servidor, daí a minha divisa:
‘Para todos eu me fiz tudo’ (I Cor 9, 22)”
32      Flashes de Fátima · Novembro 2010
Miami pode ser considerada
um ícone do consumismo especialmente se vista sob a perspectiva da América Latina. Mas devemos ter também muito presente a
outra história de Miami: a história
da imigração. Um dos ensinamentos centrais do Concílio Vaticano
II é que o homem só pode realizar-se através de uma sincera entre-
O Papa Bento XVI nos aponta
a “Via Pulchritudinis” e insiste
sobre o papel da beleza em
geral. Como a beleza pode
influenciar a vida católica em
Miami e em toda a nação?
Esta é uma bela parte do mundo. Temos belas praias e belas
águas. É de se esperar que tanto a
beleza natural quanto a produzida
pelo homem nos falem da glória de
Deus.
Como Igreja, damos especial testemunho da beleza através da Liturgia. Procuramos que nossos atos litúrgicos a reflitam e se desenrolem
em lugares bonitos. Pela ars celebrandi — arte da celebração — realçamos a inerente beleza da Liturgia. Ao longo da história da Igreja,
há muitos exemplos de pessoas que
receberam a graça da conversão ao
participar de uma Missa especialmente bela, ou ao ver a Igreja pro-
Ana Rodríguez Soto
/ Florida Catholic
ga de si mesmo. Esta sincera entrega de si é evidente na odisseia de
muitos imigrantes que vieram para
cá visando o bem de suas famílias,
muitas vezes às custas de grandes
sacrifícios pessoais. Então, Miami
é também um ícone da entrega de
si, e encarna de muitas maneiras a
Boa Nova.
movendo a beleza nas artes e em outras áreas.
Recentemente, Vossa
Excelência deu especial ênfase
à importância da esperança
em nossos dias. Que papel
ocupa a devoção mariana na
construção e fortalecimento
dessa esperança?
D
om Thomas Gerard
Wenski nasceu em 1950,
em West Palm Beach, Flórida. Graduou-se em Filosofia
e fez o Mestrado em Divindade, no Seminário Maior São
Vicente de Paulo, em Boynton Beach. Obteve o grau de
Mestre na Faculdade de Sociologia da Fordham University, de Nova York.
Ordenado sacerdote em
1976, seu ministério pastoral
se desenvolveu com frequência junto aos haitianos, cubanos e outros imigrantes. Recebeu a ordenação episcopal
em 1997, como Bispo Auxiliar de Miami. Foi Bispo de
Kearney até agosto de 2003
e logo a seguir, Bispo Coadjutor e Bispo Diocesano de
Orlando. Em 1º de junho de
2010 tomou possessão da Sé
Arquiepiscopal de Miami.
A esperança é um dos principais
temas do pontificado de Bento XVI,
e foi também muito importante no
de João Paulo II. Ambos os Papas
perceberam que a crise moderna
não é de Fé, mas principalmente de
esperança.
A Liturgia é uma celebração de
esperança e uma antecipação da realização da esperança; e a devoção
mariana faz parte dela. A festa que
celebramos em 15 de agosto é exemplo disso, pois a Assunção da Santíssima Virgem mostra que Deus mantém suas promessas: nossas esperanças se realizam na Assunção de Nossa Senhora. Em sua Encíclica, Spe
salvi, o Papa Bento XVI pergunta-se:
“Quem mais do que Maria poderia
ser para nós estrela de esperança?”.
Através do seu “sim”, Maria abriu ao
próprio Deus a porta do nosso mundo e, em consequência, Ela abriu a
porta do mundo para a esperança. 
Apostolado
Maria Rainha
do
Oratório
dos
Corações
Receba o oratório do Imaculado Coração de Maria em
sua casa, um dia por mês. Seja também um coordenador
deste apostolado e organize a sua peregrinação
pelas casas da sua vizinhança.
É muito fácil.
Entre em contacto connosco:
Tel.: 212 389 596 - Fax.: 212 362 299
Rua Dr. António Cándido, 16 - 1050-076 - Lisboa
E-mail: [email protected]
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      33
São João Damasceno
A teologia vivificada
pelo amor
Teólogo, espiritualista, orador, escritor e, sobretudo, santo.
Este é o perfil de São João Damasceno, cujas obras fazem
sentir o frescor da doutrina patrística oriental.
Pe. Juan Carlos Casté, EP
S
ituada aos pés do monte
Hermon, à beira do deserto da Síria, Damasco é considerada por muitos estudiosos como a mais antiga cidade do
mundo continuamente habitada.
De origem imemorial, sua história está repleta de vicissitudes. Treze séculos antes de Cristo, a região
foi campo de batalha entre hititas e
egípcios. Duzentos anos depois, os
arameus a tornaram uma importante urbe que o Rei Davi submeteu,
fazendo-a pagar-lhe tributo (cf. II
Sm 8, 5-6). No século IV, apossou-se dela Alexandre Magno; e, depois da morte deste, disputaram-na
acirradamente o Império Selêucida
e o Ptolomaico, até cair por fim, no
ano 64 a.C., em mãos romanas.
Na época de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Damasco fazia parte da Decápolis, e pouco depois da Ressurreição do Divino Mestre, já achamos nela um grupo de cristãos, cuja
fé motiva a viagem de Saulo de Tarso com o intuito de persegui-los.
É nessa cidade lendária, crisol de
raças e culturas, que veio ao mundo
o último dos Padres da Igreja oriental: São João Damasceno.
Piedade, beleza e a mais
pura ortodoxia
De família árabe, mas cristã de religião e socialmente bem situada, nasceu João por volta do ano 675, quando Damasco já se encontrava sob domínio muçulmano. Aos trinta anos
abandonou as comodidades da casa
paterna e ingressou no Mosteiro de
São Sabas, situado no deserto da Judeia, próximo de Jerusalém. Pouco
depois, foi ordenado presbítero e escolhido pelo Patriarca João de Jerusalém para pregar na Anástasis (lugar do sepulcro de Jesus) e em outros
templos da Cidade Santa. De tal maneira brilharam sua eloquência e a segurança doutrinária que foi cognominado Chrysorrohas (rio de ouro), nome dado às águas que, procedentes
do Antilíbano, tornavam um fecundo
oásis os arredores de Damasco.
34      Flashes de Fátima · Novembro 2010
São João Damasceno logrou fazer uma excelente síntese da doutrina patrística usando uma oratória de
grande beleza. A influência do seu
pensamento se estendeu do Oriente
ao Ocidente, onde suas obras foram
objeto de estudo por São Tomás e
os escolásticos. Lutou especialmente contra os erros dos iconoclastas,
mas nas suas homilias e escritos encontramos a refutação de muitas das
heresias que assolavam as comunidades cristãs da época.
Após alcançar uma avançada
idade — calcula-se que tenha morrido aos 74 anos — entregou sua alma a Deus no ano 749, provavelmente em 4 de dezembro. Foi declarado doutor da Igreja pelo Papa
Leão XIII, em 19 de agosto de 1890.
Como já foi apontado, saber unir
piedade, beleza literária e a mais
pura ortodoxia doutrinária foi um
dos grandes méritos de São João
Damasceno. Ele conseguiu, com
um brilho verdadeiramente excepcional, aliar o Verum, o Bonum e o
Sólida doutrina cristológica
Valendo-se de uma terminologia
perfeita do ponto de vista teológico, São João Damasceno exalta em
suas homilias os mistérios de Nosso
Senhor e refuta os erros cristológicos correntes naqueles tempos. Afirmando a plena união do Verbo Encarnado com Deus Pai e Deus Espírito Santo, desqualifica o monofisismo, que pretende ver a natureza humana de Cristo absorvida pela divindade; o nestorianismo, que considera Nosso Senhor como uma pessoa
humana na qual o Verbo haveria estabelecido sua morada como num
templo ou mansão, sem assumir de
fato a natureza do homem; ou o monotelismo que nega a existência da
vontade humana n’Ele.
Assim, por exemplo, em sua homilia sobre a Transfiguração do Senhor, ecoam os ensinamentos antimonofisistas do Concílio de Calcedônia, realizado em 451: “Como é possível que coisas incomunicáveis se misturem e permaneçam sem confundir-se? Como podem se unir uns elementos inconciliáveis, sem perder as características
próprias da natureza? Precisamente isto é o que se efetua na união hipostática, de maneira tal que os elementos que se unem formam um só
ser e uma só pessoa, mas conservando a unidade pessoal e a ­duplicidade
de naturezas, numa diversidade indivisível e
numa união sem confusão, que se realiza mediante a encarnação do
Verbo imutável e a incompreensível e definitiva divinização da carne mortal. Como consequência dessa permuta,
dessa recíproca comunicação sem confusão e
da perfeita união hipostática, os atributos humanos vêm a pertencer
a Deus e os divinos chegam a pertencer a um
homem. Um só é, com
efeito, aquele que, sendo Deus desde sempre,
depois Se faz homem”.1
Com igual fé e profundidade teológica, o
santo de Damasco não
teme abordar um tema
pouco tratado por teólogos mais recentes: o
São João Damasceno logrou fazer uma excelente
que aconteceu com a alsíntese da doutrina patrística usando uma oratória de
grande beleza
ma de Cristo após sua
morte? A divindade separou-se da alma humana e do cor- no sobre Nossa Senhora. Elas nos
po do Senhor?
mostram como a devoção à SantísExplica ele: “Embora a alma san- sima Virgem vem desde os primeita e divina tenha se separado do cor- ros tempos do Cristianismo, como o
po incontaminado e vivificante, a di- amor a Ela era muito patente já na
vindade do Verbo não se separou época de Santo Inácio de Antioquia,
de nenhum desses dois elementos, que foi discípulo do Apóstolo João,
ou seja, nem do corpo nem da al- de São Justino (†165) e de Santo Irima, por efeito da indivisa união hi- neu (†202).
postática das duas naturezas, que se
Nessas homilias se encontram
realizou na concepção efetuada no em germe os elementos doutrináseio da santa Virgem Maria, Mãe de rios que, séculos depois, facilitaram a
Deus. Assim resulta que, inclusive proclamação de diversos dogmas maao produzir-se a morte, continua ha- rianos, como o da Imaculada Conceivendo em Cristo uma só pessoa, que ção e o da Assunção da Virgem Maé o Verbo divino, e depois da mor- ria em corpo e alma aos Céus.
te do Senhor, nesta pessoa seguem
Cabe ressaltar nelas, além da prosubsistindo a alma e o corpo”.2
fundidade teológica, o entusiasmo e
o amor de seu autor à Santíssima VirHomilias sobre Nossa Senhora
gem. “La raison parle, mais l’amour
Não são menos belas e esplen- chante” (a razão fala, mas o amor
dorosas as homilias do Damasce- canta), escreveu o romancista Alfred
© Santiebeati.it
­ ulchrum (Verdade, Bondade e BeP
leza) numa linguagem tão acessível
que deleita e ao mesmo tempo ensina as mais elevadas verdades sobre Nosso Senhor Jesus Cristo e sua
Mãe Santíssima.
A obra deste Padre da Igreja é
tão vasta, seus escritos de tal modo magistrais na exposição e ricos
em conceitos teológicos, cristológicos, apologéticos, pastorais e mariológicos, que selecionar alguns excertos para ilustrar este artigo sem ultrapassar seus curtos limites torna-se um árduo desafio.
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      35
Turquia
Síria
Mar
Mediterrâneo
Líbano
Damasco
Iraque
Israel
Jerusalém
Jordânia
Egito
Arábia
Saudita
Foi na cidade lendária de Damasco, crisol de raças e
culturas, que veio ao mundo o último dos Padres da
Igreja oriental: São João Damasceno
de Vigny. Em São João Damasceno,
a razão disserta e o amor canta, ao
tratar d’Aquela que foi achada digna
de ser a Mãe do Redentor.
Eis como ele entoa louvores à
virgindade perpétua de Maria: “Ó
Joaquim e Ana, casal bem-aventurado e verdadeiramente irrepreensível! Vós levastes uma vida agradável a Deus e digna d’Aquela de
quem vos tornastes pais. Tendo vivido com pureza e santidade, gerastes a joia da virgindade, ou seja, Aquela que foi virgem antes do
parto, virgem no parto e virgem depois do parto. Aquela que é a Virgem por excelência, virgem para
sempre, virgem perpétua no espírito, na alma e no corpo”.3
E com quanta beleza literária,
servindo-se de figuras extraídas do
Antigo Testamento, nos ensina ser
Maria Mãe de Deus: “Ó Virgem,
claramente prefigurada na sarça,
nas tábuas escritas por Deus, na arca da lei, no vaso de ouro, no candelabro, na mesa e na vara de Aarão que floresceu. De Vós, com
efeito, procede a chama da divindade, o Verbo e manifestação do
Pai, o maná suavíssimo e celestial,
o nome inefável que está acima de
todo nome, a luz eterna e inacessível, o celeste pão de vida. De Vós
brotou corporalmente aquele fruto
que não é resultado do trabalho de
nenhum cultivador”.4
Essa capacidade de unir doutrina, poesia e fervor, é exemplo típico do que Urs Von Balthasar chama
“teologia de joelhos”, em oposição à
“teologia de escritório”, tão habitual
nos dias atuais.5
Prenunciador do dogma
da Assunção
São João Damasceno comparte
uma opinião generalizada entre os
36      Flashes de Fátima · Novembro 2010
Santos Padres, de que há uma estreita relação entre a virgindade perpétua de Maria e a incorrupção de seu
corpo virginal depois da morte. Ao
ponto de que, em trechos como os
mencionados a seguir, ele prenuncia
o dogma da Assunção de Maria ao
Céu, em corpo e alma.
“Convinha que aquela que no
parto manteve ilibada virgindade
conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que
aquela que trouxe no seio o Criador
encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. [...] Convinha que
a Mãe de Deus possuísse o que era
do Filho, e que fosse venerada por
todas as criaturas como Mãe e Serva
do mesmo Deus”.6
Essa passagem do Damasceno foi reproduzida literalmente por
Pio XII ao definir o Dogma da Assunção, na Constituição Apostólica
Munificentissimus Deus. Nela, o Papa elogia também a “veemente elo­
quência” desse santo “que entre todos se distingue como pregoeiro
dessa tradição”.7
“São Tomás do Oriente”
São João Damasceno dizia de si
mesmo que nada possuía de original, apenas compilava trechos de
antigos escritores. No entanto, a luz
de seu pensamento atravessou os séculos e ilumina até hoje os horizontes dos estudos teológicos.
O próprio Papa Bento XVI, tomando-o como tema da Audiência
Geral de 6 de maio de 2009, põe
em realce a originalidade de sua
argumentação em defesa do culto
às imagens e às relíquias dos santos e o qualifica de “personalidade de primeira grandeza na história da teologia bizantina, um grande doutor na história da Igreja universal”.
São João Damasceno foi adequadamente cognominado “o São
Tomás do Oriente”. Feliz equiparação porque esses dois luminares
da Igreja se assemelham a um título muito superior: ambos refulgem pela santidade de vida tanto
ou mais que pela ciência. Deles se
pode bem dizer: “Quando o amor
vivifica a dimensão orante da teologia, o conhecimento, adquirido
através da razão, se dilata. A verdade é procurada com humildade,
acolhida com enlevo e gratidão: numa palavra, o conhecimento cresce
somente quando se ama a verdade.
O amor se torna inteligência e a te-
ologia se torna autêntica sabedoria
do coração, que orienta e sustenta a
fé e a vida dos fiéis”.8
1
2
SAN JUAN DAMASCENO. Homilía sobre la Transfiguración. In:
PONS, Guillermo (Intr. e notas).
Homilías Cristológicas y Marianas.
Madrid: Ciudad Nueva, 1996, p.24.
SAN JUAN DAMASCENO. Homilía sobre el Sábado Santo. In: Op.
cit., p.103.
3
SAN JUAN DAMASCENO. Homilía sobre la Natividad. In: Op. cit.,
p.125.
4
SAN JUAN DAMASCENO. Homilía sobre la Dormición de María.
In: Op. cit., p.154.
5
Cf. BENTO XVI. Discurso aos monges reunidos na abadia de Heiligenkreuz, 9/9/2007.
6
Idem, ibidem.
7
Cf. Munificentissimus Deus,
1/11/1950.
8
Audiência Geral de 28/10/2009.
O trânsito de Maria aos Céus
N
Victor Toniolo
a verdade, poderemos designar com o nome de morte o mistério que se realizou em
Vós, oh Maria? [...]
Uma vez que, quando Vos tornastes Mãe,
vossa virgindade permaneceu incólume, vosso
corpo foi preservado da decomposição ao emigrar deste mundo, ficando transformado num
tabernáculo mais ilustre e excelso, não mais sujeito à morte, mas destinado a perdurar pelos
séculos sem fim. [...] Não chamaremos de morte
o vosso sagrado trânsito, mas dormição ou emigração e, com mais propriedade ainda, o designaremos como permanência na pátria, pois, ao
deixar este mundo, obtendes uma morada muito mais excelente.
Os anjos e arcanjos Vos trasladaram. Ante
vosso trânsito, os espíritos imundos que voam
pelos ares, estremeceram-se de espanto. Com
vossa passagem, o ar ficou abençoado e o éter
santificado. O Céu, com gozo, recebe vossa alma [...].
Não subistes ao Paraíso à maneira de Elias,
nem fostes como São Paulo transportada ao
terceiro Céu, mas chegastes até ao trono real
de vosso Filho, ao qual contemplais com vossos
próprios olhos e com Ele habitais num clima de
grande felicidade e confiança.
“Assunção de Nossa Senhora”, por Silvestro dei Gherarducci
- Museu Vaticano
(SAN JUAN DAMASCENO. Homilía sobre
la Dormición de María)
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      37
A palavra dos Pastores
Fortalecer a devoção a Maria
Na sua homilia do dia 13 de Outubro, em Fátima por
ocasião da Peregrinação Internacional, Dom Geraldo
convida-nos a sermos como Maria, a grande Missionária.
Dom Geraldo Majella Agnelo
Cardeal Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil
H
oje, comemoramos a
gloriosa Mãe de Deus,
em sua última aparição as meninas Jacinta
e Lúcia e ao menino Francisco que
se tornaram mensageiros de conversão e paz para o mundo.
Por Maria veio ao mundo o Salvador do Mundo. A veneração à Mãe
do Senhor atravessa a tradição bimilenar da Igreja. No curso do tempo
as Igrejas do Oriente e do Ocidente
reservaram, com acentos peculiares,
expressões de louvor e de suplica.
O culto mariano compreende antes
de tudo a oração litúrgica e também
formas de piedade e devoção. Assim,
com os videntes aprendemos de Senhora de Fátima o rosário e orações
que nos ajudam a rezar e conhecer o
que Senhor deseja de nós neste tempo que vivemos pleno de interrogações e tentações no seguimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
Indispensável referir-se à Maria
para compreender Cristo
A presença da Virgem Mãe de
Cristo figura nos escritos dos primeiros cristãos, como nas venerandas
formulas de fé. Ela é recordada em
antigos textos concernentes ao batismo e à eucaristia. Outros indícios
são o grafito da saudação do Anjo Gabriel a Maria encontrados nas
escavações de Nazaré (II-III sec.),
as figuras encontradas nas catacumbas romanas, a oração do Sub tuum praesidium (III século). Para os Padres da Igreja dos primeiros séculos é indispensável referir-se à Maria
para compreender a pessoa de Cristo: Aquele que se fez carne criou para si o prodígio de uma Virgem Mãe. Não faltou nunca na Igreja a pregação da encarnação de Cristo no seio
da Virgem, e ao mesmo tempo também a sua memória litúrgica, tornada explícita desde o século IV, na
festividade do Natal, primeira festa
também da Mãe de Deus. Ao reconhecimento de tal dignidade de Mãe
de Deus no Concílio de Éfeso em
431, seguiu-se no Oriente e no Ocidente, um florescimento cultual para
com Maria. A sua memória se estendeu aos dias anteriores e seguintes
ao Natal, amadurecendo em muitas
Igrejas uma festa em honra da Virgem Mãe. Desde o séc. IV pode-se
seguir o surgimento de importantes
festividades marianas. O primeiro
centro de irradiação foi Jerusalém,
onde à luz dos apócrifos, se faz memória da vida de Maria: a dormição,
a Natividade, o ingresso no Templo e
38      Flashes de Fátima · Novembro 2010
a Concepção de Sant’Ana. O segundo centro de irradiação foi Constantinopla com seus santuários marianos de grande influencia em todo o
Império Bizantino: além da festa da
Mãe de Deus no dia 26 de dezembro organizaram-se e irradiaram-se
as festas do Encontro (2 de fevereiro), da Anunciação (25 de marco),
a Dormição (15 de agosto) e da Natividade de Maria (8 de setembro).
Aí surgiram também as festas de relíquias insignes: a veste e o cinto de
Maria.
Assim podemos compreender as
festas de Maria em cada país, algumas vezes sob vários títulos. Aqui a
visita de Maria à Cova da Iria tornou-se memória cheia de confiança
na sua intercessão para aqueles que
recorrem a sua proteção. E o fazemos com profunda fé e esperança.
Maria, Mãe de Jesus Cristo e de
seus discípulos, tem estado muito
perto de nós, tem nós acolhido, tem
cuidado de nós, sob sua maternal
proteção. Temos pedido a ela, como
mãe, perfeita discípula e catequista da evangelização, que nos ensine
a ser filhos em seu Filho e a fazer o
que Ele nos disser (Cf Jo 2,5).
A virgem Maria é a imagem esplêndida da conformidade do pro-
Luis de Oliveira
A multidão de fiéis se aglomera na grande esplanada de Fátima no dia 13 de outubro.
jeto da Santíssima Trindade que
se cumpre em Cristo. Desde a sua
Concepção Imaculada até sua Assunção, recorda-nos que a beleza do
ser humano está toda no vinculo do
amor com a Trindade, e que a plenitude de nossa liberdade está na resposta positiva que lhe damos.
Conhecendo Maria, tornamonos semelhantes a Deus
Nos diferentes momentos da luta
cotidiana, muitos recorrem a algum
pequeno sinal do amor de Deus: um
crucifixo, um rosário, uma vela que
se acende um filho em sua enfermidade, um Pai Nosso recitado entre lágrimas, um olhar entranhável a
uma imagem querida de Maria, um
sorriso dirigido ao Céu em meio a
uma alegria singela. Também encontram a ternura e o amor de Deus no
rosto de Maria. Conhecendo sempre
melhor Maria, tornamo-nos mais semelhantes ao Filho de Deus que se
fez homem no seu seio.
A Virgem de Nazaré teve uma
missão única na história da salvação, concebendo, educando e acompanhando seu Filho até seu sacrifício definitivo. Do alto da cruz, Jesus
Cristo confiou a seus discípulos, representados por João, o dom da ma-
ternidade de Maria, que brota diretamente da hora pascal da sua morte. “E desse momento em diante,
o discípulo a recebeu em sua casa”
(Jo 19, 27). Perseverando junto aos
apóstolos a espera do Espírito Santo
(cf. Atos 1,13-14), ela cooperou com
o nascimento da Igreja missionária,
imprimindo-lhe um selo mariano
que a identifica profundamente.
Maria, escola de fé
Maria é a grande missionária, continuadora da missão de seu Filho e
formadora de missionários. Fala-nos
o Papa Bento XVI: ”Maria Santíssima, a Virgem pura e sem mancha, é
para nós escola de fé destinada a nos
conduzir e a nos fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o
criador do céu e da terra. Permaneçam na escola de Maria. Inspirem-se em seus ensinamentos. Procurem
acolher e guardar dentro do coração
as luzes que ela, por mandato divino,
envia a nós a partir do alto”.
Ela, que “conservava todas estas
recordações e as meditava em seu coração” (Lc 2,19; cf. 2,51), ensina-nos
o primado da escuta da Palavra de
Deus na vida do discípulo e missionário. Essa familiaridade com o mistério de Jesus é facilitada pela reza do
Rosário, onde “o povo cristão aprende de Maria contemplar a beleza do
rosto de Cristo e experimentar a profundidade de seu amor. Mediante o
Rosário, o cristão obtém abundantes
graças, como recebendo-as das próprias mãos da Mãe do Redentor”.
A dimensão formativa que funda
o ser cristão na experiência de Deus
manifestado em Jesus é que o conduz
pelo Espírito através dos caminhos de
profundo amadurecimento. Por meio
dos diversos carismas, a pessoa se fundamenta no caminho da vida e do serviço proposto por Cristo, com estilo
pessoal. Assim como a Virgem Maria,
essa dimensão permite ao cristão aderir de coração e pela fé nos caminhos
alegres, luminosos, dolorosos e gloriosos de seu Mestre e Senhor.
Ajude-nos a companhia sempre
próxima, cheia de compreensão e ternura, de Maria Santíssima. Que nos
mostre o Fruto bendito de seu ventre
e nos ensine a responder como fez ela
no Mistério da Anunciação e Encarnação. Que nos ensine a sair de nós
mesmos no caminho do sacrifício, de
amor e serviço, como fez na visita a
sua prima Isabel, para que, peregrinos a caminho, cantemos as maravilhas que Deus tem feito em nós, conforme a sua promessa. (...) ²
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      39
dicar-se “com coração e mente completamente abertos à busca da sabedoria divina e humana” — informa a
Rádio Vaticano.
É a primeira vez, em 500 anos,
que o governo sueco reconhece uma
Universidade Católica.
Ordem Cisterciense tem
novo Abade Geral
O Capítulo Geral da Ordem Cisterciense, reunido em Rocca di Papa, perto de Roma, elegeu em 2 de
setembro seu novo Abade Geral:
Dom Mauro-Giuseppe Lepori, até
então abade de Hauterive, na Suíça.
Nascido no cantão suíço de Ticino em 1959, Dom Lepori ingressou
na Ordem Cisterciense em 1984 e
fez a profissão solene cinco anos depois. Licenciou-se em filosofia e teologia na Universidade de Friburgo.
É conhecido como autor de numerosos livros e artigos, traduzidos em
diversas línguas, além de conferencista e pregador de retiros.
O Superior Geral recém-eleito dirigirá até 2020 os quase 2.000
monges e monjas cistercienses de
122 mosteiros da Ordem atualmente existentes.
Primeira Universidade Católica
na Suécia, em 500 anos
Com uma Missa celebrada pelo
Prepósito Geral da Companhia de
Jesus, Pe. Adolfo Nicolás, foi inaugurado no dia 4 de setembro em
Uppsala, Suécia, o Instituto Newman, primeiro centro universitário
católico desse país desde o tempo da
Reforma.
Em telegrama enviado nessa ocasião — assinado pelo Cardeal Secretário de Estado, Tarcisio Bertone — o Papa Bento XVI expressou
sua alegria por essa realização e pediu que docentes, estudantes e pesquisadores do Instituto possam de-
México: Rosário do
Amor Guadalupano
Encabeçada pelo Cardeal Noberto Rivera Carrera, a procissão do
Rosário do Amor Guadalupano foi o
ponto alto do dia de preces realizado na capital mexicana em 8 de setembro, por iniciativa da Arquidiocese de Cidade do México, da Ordem dos Cavaleiros de Colombo e
do Instituto Superior de Estudos
Guadalupanos.
Portando velas acesas, milhares de fiéis percorreram o trajeto da
colina do Tepeyac até a Basílica de
Nossa Senhora de Guadalupe, enquanto se calcula que mais de três
milhões de pessoas se uniram a eles,
através da transmissão ao vivo feita
por emissoras de rádio e televisão,
ou da página web aberta especialmente para divulgar o evento (www.
rosarioguadalupano.com).
Em declarações à imprensa, o
cônego da Basílica de Guadalupe,
Eduardo Chávez Sánchez, explicou as intenções das orações: “Para
que os mexicanos possam encontrar
a verdadeira liberdade e a independência do pecado, da morte, do egoísmo, da soberba, do deus do dinheiro, que causam tanto mal ao nosso
país”.
40      Flashes de Fátima · Novembro 2010
Violência anticristã na Índia
Rádio Vaticano – Subiu para 18
mortos, em 14 de setembro, o balanço das vítimas da violência anticristã na Caxemira indiana, onde eclodiram protestos contra os atos de
profanação do Alcorão, ocorridos
nos Estados Unidos. “Uma violência contra toda a razão — disse o Secretário do Pontifício Conselho para
o Diálogo Inter-religioso, Arcebispo
Pier Luigi Celata — porque é contra
a vida de pessoas inocentes, criaturas daquele Deus que se deve honrar e servir.
Nas últimas horas as autoridades
voltaram a impor o toque de recolher na maior parte do vale. Os feridos são mais de 70. Os enfrentamentos com as forças de segurança
aconteceram durante várias manifestações em todo o vale muçulmano, sob soberania indiana. Uma delas motivada por rumores de que tinha sido queimada uma cópia do
Alcorão nos Estados Unidos.
Beatificado sacerdote
de Schoenstatt “modelo
para os jovens”
Numa concorrida celebração na
Catedral de Munique, Alemanha, a
Igreja beatificou em 19 de setembro
o sacerdote alemão Gerhard Hirschfelder, do movimento de Schoenstatt. A cerimônia de beatificação
reuniu peregrinos de toda a Alemanha, Polônia e República Tcheca.
Fábio Kobayashi
Novo Prefeito da
Congregação para o Clero
O
Arcebispo Mauro Piacenza é o novo Prefeito da
Congregação para o Clero, da qual era o Secretário desde 2007. Sucede no cargo ao Cardeal Cláudio
Hummes, que apresentou renúncia por limite de idade.
Dom Piacenza, nascido em Gênova, Itália, em
1944, recebeu a ordenação presbiteral em 1969 e
episcopal em 2003. É professor de Direito Canônico
na Faculdade Teológica da Itália Setentrional, e de
Cultura Contemporânea e História do Ateísmo, no
Instituto Superior de Ciências Religiosas “Ligure”.
De 2003 a 2007, foi Presidente da Comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja; e da Comissão Pontifícia para Arqueologia Sacra, no período de
2004 a 2007. Assume suas novas funções como homem de grande experiência, pois há vinte anos presta serviços nessa Congregação, da qual foi chefe de
escritório, depois subsecretário até 2007, quando o
Papa Bento XVI o elevou ao cargo de secretário e à
dignidade arquiepiscopal.
Em entrevista exclusiva à Revista Arautos do
Evangelho (edição de maio de 2010), Dom Mauro
Piacenza manifestou sua preocupação a respeito da
O novo beato nasceu em 1907 e
foi ordenado sacerdote em 1932.
Detido pela polícia nazista, Pe.
Gerhard foi encerrado na prisão de
Glatz em agosto de 1941 e transferido em dezembro para o campo de
concentração de Dachau. Ali morreu de fome e doenças, no dia 1º de
agosto de 1942.
“Um modelo para os jovens”: assim o definiu o Arcebispo de Colônia, Cardeal Joachim Meisner, representante do Papa na cerimônia
de beatificação — informa a Rádio
Vaticano.
A religião pode ser
importante fator de cura
“Entre os doentes graves, a religião pode ser importante fator pa-
formação dos presbíteros: “Importa que os novos sacerdotes sejam educados na ortodoxia doutrinal, num ascético trabalho sobre si mesmos,
com o objetivo de corrigir
Dom Mauro Piacenza
eventuais secularizações,
contágios doutrinários da
sociedade contemporânea, ou individualismos que
conduzem à procura de mensagens novas, mas desviadas do eterno, puro e sempre novo conteúdo do
Evangelho transmitido há dois mil anos, na continuidade do Magistério”.
E em declarações à Agência Zenit no dia 7 de
outubro, reafirmou essa sua preocupação: “Não se
deve formar ‘funcionários de Deus’, mas sim ‘outros Cristos’” — afirmou. Interrogado sobre qual
a “identidade sacerdotal” que o novo Prefeito tem
em mente, respondeu: “Sempre a da Igreja! A identidade sacerdotal só pode ser cristocêntrica e, por
isso, eucarística”.
ra ajudar a recuperar a saúde” —
afirma Hubert Heidsieck, em artigo publicado no Boletim da Embaixada da França na Itália (13/9/2010).
A conclusão baseia-se no estudo realizado pelo Instituto de Psicologia
Clínica do Conselho Nacional de
Pesquisas, de Pisa, em colaboração
com o Hospital Universitário (IFC-CNR) dessa cidade italiana. A pesquisa foi publicada na revista científica americana Liver Transplantation.
Para esse estudo, foi feita uma
avaliação psicológica de rotina em
179 candidatos a uma cirurgia de
transplante do fígado, entre 2004 e
2007. “Os pacientes que demonstram
apego a uma religião (independentemente de sua crença ou da intensida-
de da prática) já são geralmente consideradas pessoas mais estáveis, nessa etapa”, acentua Heidsieck.
No decorrer dos quatro anos da
pesquisa, faleceram 18 pacientes do
grupo de 179. Ficou demonstrado
que “havia um notável fator de 3,01
entre os pacientes crentes e os não
crentes (os quais teriam, pois, cerca
de três vezes mais riscos de morrer
durante os primeiros quatro anos).
Dos pacientes que procuram ativamente Deus, 93,4% estavam vivos;
dos outros, apenas 79,5%” — explica o articulista.
Membros da cúria elevados
à dignidade episcopal
O Papa Bento XVI elevou à dignidade episcopal o Mons. Ignacio
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      41
Carrasco de Paula, do Opus Dei, e o
Pe. Enrico dal Covolo, sacerdote salesiano — informa o Serviço de Imprensa do Vaticano (15/9/2010).
Nascido em 1937 e ordenado
presbítero em 1966, Dom Ignacio
Carrasco é desde 30 de junho Presidente da Academia Pontifícia para a
Vida, da qual até então era Conselheiro.
Dom Enrico dal Covolo, Reitor da Pontifícia Universidade Lateranense, nasceu em 1950 e recebeu a ordenação sacerdotal em
1979. É professor de literatura cristã antiga grega, membro da Pontifícia Academia Teológica e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé.
Catecismo da Igreja Católica
em língua pidgin
Os Bispos, os missionários e, sobretudo, os catequistas de Papua
Nova Guiné acolheram com satisfação o lançamento de uma edição do Catecismo da Igreja Católica traduzido para o pidgin, o idioma mais falado no país. Cada diocese recebeu 5 mil exemplares para venda ao público pelo preço de
apenas 3 euros — informa a Agência Fides.
A tradução da obra foi feita pelo Bispo de Goroka, Dom Francesco
Sarego, SVD, e uma equipe de religiosos e teólogos.
Os fiéis de Papua Nova Guiné
agora esperam que seja elaborada,
o mais breve possível, uma tradução
da Bíblia em pidgin. Precisam também de filmes didáticos e bíblicos,
vidas dos santos e documentários
nesse idioma para as escolas.
Encerramento do Ano
Vicentino em Roma
Um congresso sobre o tema Caridade e Missão marcou o encerramento do Ano Vicentino, comemorativo do 350º aniversário de falecimento de São Vicente de Paulo e
Santa Luísa de Marillac.
De 24 a 26 de setembro, cerca de
500 religiosos, professores universitários e estudiosos, reunidos no Instituto Agostiniano de Roma, procuraram aprofundar seus conhecimentos
III Congresso Latino-americano
de Movimentos Eclesiais
O
Fidel Maciel
rganizado pelo Departamento de Comunhão
Eclesial e Diálogo do CELAM, realizou-se de 2 a
5 de setembro, na cidade de Atyrá, Paraguai, o III Congresso Latino-americano e do Caribe de Movimentos
Eclesiais e Novas Comunidades.
Num clima de grande fraternidade dentro da multiplicidade dos carismas, cerca de cem representantes leigos, nove Bispos e numerosos sacerdotes intercambiaram experiências pessoais e reflexões, tendo em vista intensificar em cada país a Missão Continental Permanente.
Desde o início, o evento contou com a presença
do Núncio Apostólico no Paraguai, Dom Eliseo Antonio Ariotti, o qual acentuou na homilia da Missa
42      Flashes de Fátima · Novembro 2010
por ele celebrada: “De seus ministros, a Igreja espera sensibilidade, abertura e acolhida cordial a essas
novas realidades que trazem na vida de tantas comunidades cristãs frutos verdadeiramente benditos de
conversão, santidade e missão”.
Na conferência introdutória, o Arcebispo de Arequipa, Peru, Dom Javier del Río Alba, recordou os
benefícios da estreita comunhão entre os Pastores e
os Movimentos Eclesiais: “Os Movimentos e Novas
Comunidades, quando se integram com humildade
na vida das Igrejas locais e são acolhidos cordialmente pelos Bispos e sacerdotes nas estruturas diocesanas e paroquiais, representam um verdadeiro dom
de Deus para a Nova Evangelização e para as atividades missionárias propriamente ditas”.
O Documento Final do Encontro começa por destacar a necessidade de “fomentar o encontro pessoal
e comunitário com Cristo, favorecendo que cada Movimento experimente uma vida espiritual intensa e dê
testemunho dela”. Sublinha também a importância de
promover uma maior proximidade dos Pastores aos
Movimentos e propõe criar espaços de comunhão e encontro entre os Movimentos, as paróquias e as dioceses, entre outras propostas concretas.
chiaralucebadano.it
catholiccharitiesusa.org
sobre os carismas dos dois fundadores da grande Família Vicentina.
Na tarde do dia 25, informa a Rádio Vaticano, cerca de 5 mil pessoas participaram da Missa celebrada
na Basílica de São Pedro pelo Cardeal Franc Rodé, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida
Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. “São Vicente não se
sentia mandado somente para amar
a Deus, mas também para fazê-lo
amado” — recordou o Purpurado,
ele também vicentino.
Primeiro centenário
da Cáritas
norte-americana
E
Beatificação de Chiara
Luce Badano
Mais de vinte mil pessoas provenientes de setenta países participaram da cerimônia de beatificação de
Chiara Luce Badano, realizada em
25 de setembro no Santuário Romano do Divino Amor.
Em sua homilia, Dom Angelo
Amato, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, a qualificou
como “uma jovem de coração cristalino”, “de amor grande como um
oceano”. Na recitação do Angelus de
26 de setembro, Bento XVI relembrou que “suas últimas palavras, de
plena adesão à vontade de Deus foram: ‘Até breve, mamãe. Fique feliz,
porque sou feliz’”.
Nascida em 29 de outubro de 1971
em Sassello, Itália, Chiara foi uma jovem alegre, vivaz e comunicativa. Ingressou aos nove anos no setor infantil do Movimento dos Focolares. Aos
dezessete, foi atingida por um osteossarcoma. “Se Tu assim queres, meu
Jesus, também eu quero”, disse ela
ao receber a terrível notícia.
ntre os dias 25 e 28 de setembro, Catholic Charities — a Cáritas norte-americana — comemorou o centésimo aniversário de existência
como uma das maiores redes de serviços sociais dos Estados Unidos. O
evento reuniu mais de mil representantes das agências locais da Cáritas,
associações afins e outros defensores da justiça social.
Fundada em 1910 com o objetivo de “fazer surgir um senso de solidariedade”, a Conferência Nacional de Caridade Católica, como então
se chamava, logo se expandiu com a criação de escritórios diocesanos.
Atualmente, ela atende mais de 9 milhões de pessoas por ano, através
de mais de 1.700 agências e instituições operando em todo o país.
O primeiro ato comemorativo do centenário foi a Missa celebrada no Santuário Nacional da Imaculada Conceição, em Washington,
pelo Cardeal Francis George, Arcebispo de Chicago e Presidente da
Conferência Episcopal dos Estados Unidos.
O Cardeal Paul Joseph Cordes, então Presidente do Pontifício
Conselho Cor Unum, representou a Santa Sé no evento. Em seu discurso, o Purpurado apontou as raízes de fé do compromisso caritativo da Igreja e acentuou a necessidade de manter a identidade específica das organizações eclesiais, como reafirma a primeira Encíclica
de Bento XVI, Deus Caritas est. Outros conferencistas de destaque
foram Dom Timothy Dolen, Arcebispo de Nova York, e o Pe. Larry
Snyder, Presidente da Cáritas norte-americana e membro do Pontifício Conselho Cor Unum.
Catholic Charities afirma estar seu ministério “enraizado na Escritura”, enfatizando que a luta para defender a justiça social tem sido
parte integrante da Igreja há 2000 anos, quando começou “o ministério dos primeiros diáconos”; posteriormente, esse ministério institucionalizou-se nos grandes mosteiros e personalizou-se em numerosos
santos e santas que se destacaram por sua insigne caridade na assistência aos pobres e necessitados, como São Vicente de Paulo e Santa
Elizabeth Ann Seton.
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      43
Faleceu em 7 de outubro de 1990,
após quase três anos de atrozes sofrimentos, suportados com fé, serenidade e firmeza. Na última fase, prostrada no leito, gostava de repetir: “Não
tenho mais nada, mas resta-me o coração e com ele posso sempre amar”.
Exposição sobre Jacinta Marto
A exposição “Jacinta Marto: candeia que Deus acendeu”, inaugurada a 11 de Março de 2010, teve o
seu término no dia 31 de Outubro.
Executada no contexto do centenário do nascimento da mais nova dos
três videntes de Nossa Senhora de
Fátima, a exposição esteve patente
no vestíbulo do Convivium de Santo
Agostinho, na zona da Reconciliação
da Igreja da Santíssima Trindade.
O balanço mostra-se positivo, pois
recebeu a visita de cerca de 300 000
pessoas nos sete meses do seu decurso.
EMRC aposta na “Beleza”
Para o presente ano lectivo, o Secretariado Nacional da Educação
Cristã (SNEC) coloca a tónica na
“Beleza” para a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica
(EMRC)
“Tornai as vossas vidas lugares de
beleza” foi o desafio lançado porBento XVI, no discurso apresentado aos representantes da Cultura,
no passado dia 12 de Maio, em Lisboa. A Escola — enquanto espaço
privilegiado de diálogo com a cultura — “não pode ficar indiferente a
este apelo”, realça o site www.educris.com
A actividade de Advento/Natal
terá como pano de fundo “O berço
de beleza...”. Esta iniciativa constará de um conjunto de propostas para uma melhor vivência do Natal,
na comunidade escolar e nas famílias, fazendo sobressair a ideia de
que a manifestação da beleza de
Deus, expressa na fragilidade de
uma criança recém-nascida, necessita de um berço para irradiar uma
nova luz e, com ela, dar sentido a
todas as coisas.
Jornada Mundial da
Juventude – 2011
Em entrevista coletiva na Sala de
Imprensa da Santa Sé, foi feita em 5
Organização católica
espanhola recebe Prêmio
Príncipe de Astúrias
N
este ano em que comemora seu 50º aniversário,
a organização católica não governamental Manos
Unidas foi galardoada com o Prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia por “seu generoso e dedicado apoio
à luta contra a pobreza e em favor da educação para o
desenvolvimento em mais de 60 países”.
De fato, em meio século de atuação, Manos Unidas financiou cerca de 25.000 projetos em mais de
60 nações da Ásia, África, América e Oceania, todos enquadrados nos setores básicos de cooperação:
agrícolas, educativos, sanitários, de promoção social
e de promoção da mulher.
“A fé em Jesus Cristo é o motor que impulsiona
nosso trabalho de solidariedade e de caridade cristã em favor de nossos irmãos mais pobres e necessitados”, declarou à Agência Gaudium Press, Rafael Serrano Castro, secretário geral da Instituição,
constituída de voluntários que nela empregam desinteressadamente seu tempo, seus conhecimentos
e até seus bens.
44      Flashes de Fátima · Novembro 2010
Manos unidas vale-se
também de pessoal técnico, contratado segundo as necessidades, para levar
avante com a maior eficácia possível os projetos em
andamento. Contudo, ressalta Rafael Serrano Castro, o mais importante para ela não são os procedimentos técnicos. “Manos Unidas não é uma mera agência de cooperação, mas sim uma organização cristã que, por fidelidade a Jesus Cristo, quer
continuar trabalhando em favor dos mais necessitados”, como um trabalho entre iguais, “pois são eles
os verdadeiros protagonistas de seu próprio desenvolvimento”.
O Prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia é
concedido anualmente a pessoas ou instituições cujo
trabalho “tenha contribuído de forma exemplar e relevante ao entendimento e à convivência em paz entre os homens, à luta contra a injustiça, a pobreza, a
enfermidade, a ignorância, ou à defesa da liberdade”
— informa a Fundação (http://www.fpa.es).
Jornadas Nacionais das
Comunicações Sociais
“R
Nuno Moura
epública – Comunicação
– Igreja”, foi este o tema
escolhido para as Jornadas da
Comunicação Social da Igreja,
deste ano, realizadas no Santuário de Fátima.
O encontro, presidido por
D. Manuel Clemente, presidente da Comissão Episcopal
da Cultura, Bens Culturais e
Comunicação Social, reuniu mais de uma centena de
participantes, que se congregaram para aprofundar
e debater as causas e consequências da Implantação
da República, sua relação com a Igreja e Comunicação em geral.
As jornadas contaram com a presença de vários
especialistas nas áreas da história e da comunicação,
sacerdotes e leigos, formando assim um ciclo de conferências bastante atractivo.
Logo no primeiro dia, teve lugar a apresentação,
por D. Manuel Clemente, do “Dicionário das Ordens, Institutos Religiosos e outras Formas de Vida
Consagrada”, coordenada por José Eduardo Franco,
de outubro a apresentação da próxima Jornada Mundial da Juventude,
a realizar-se em Madri, no mês de
agosto do próximo ano.
“O Papa insiste muito em que a
JMJ não se reduza unicamente a
um momento de festa”, assinalou
o Cardeal Stanisław Ryłko, Presidente do Pontifício Conselho para
os Leigos. A festa, o evento em si,
atua como uma espécie de catalisador que facilita um processo educativo já em curso, explicou o Purpurado.
O Cardeal Rouco Varela, Arcebispo de Madri, mostrou como
a JMJ 2011 “será possível graças à
ajuda de muitos”. Além de dezenas
de voluntários permanentes ela conta com a colaboração de 20 mil voluntários na semana decisiva: 16 a
21 de agosto. Mencionou também
“o clima positivo de colaboração en-
seguida de uma intervenção do
Dr. Pedro Gil subordinada ao
tema “Gabinetes de Imprensa,
um ano depois”.
O último dia das Jornadas
teve início com a celebração da
eucaristia, que precedeu a última conferência do director da
Agência Ecclesia, Dr. Paulo
Rocha, e do director-adjunto
do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica, Doutor António Ferreira, que
apresentaram uma edição especial do semanário da
referida agência sobre o Centenário da República,
elaborada por ambas as instituições.
A reunião de encerramento foi proferida por D.
Manuel Clemente, que agradeceu e incentivou todos
os presentes, salientando que o porvir da comunicação na Igreja passa, entre outras, pelas pessoas que
ali estiveram presentes: “tenho uma perspectiva feliz
que é garantida por essas pessoas. […] Foi um bom
encontro, foi um reencontro e por isso estamos todos de parabéns”.
tabulado com as administrações públicas espanholas”.
Dom Josef Clemens, secretário
do Pontifício Conselho para os Leigos, analisou vários pontos da Mensagem do Papa Bento XVI para a
Jornada Mundial da Juventude 2011.
E Dom César Franco Martínez, Bispo Auxiliar de Madri, discorreu sobre o programa e os aspectos organizativos do grande Encontro, do qual
ele é o Coordenador Geral.
Meio milhão de participantes
no Concurso Bíblico de Kerala
Quase meio milhão de católicos
participaram simultaneamente da
fase diocesana do Concurso Bíblico
2010, realizado no dia 26 de setembro em 3.200 paróquias do estado
indiano de Kerala.
Divididos em cinco grupos de
acordo com a faixa etária — des-
de menores de dez anos até maiores de sessenta —, os competidores foram submetidos a uma série
de perguntas sobre a Sagrada Escritura. Os vencedores receberam medalhas e prêmios em metálico, e os
três melhores de cada grupo em cada uma das 31 dioceses classificaram-se para a fase final, a realizar-se em novembro. Esta incluirá provas escritas e orais, utilização de
áudio e vídeo, bem como recitação
de versículos.
O Concurso Bíblico, promovido
pela Comissão Bíblica do Conselho
dos Bispos Católicos de Kerala, foi
instituído no ano 2000 visando promover o interesse pela leitura e estudo sistemático das Sagradas Escrituras. A cada ano, o número de
participantes vem crescendo, de
125.000 em 2000, para 483.170 em
2010.
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      45
História para crianças... ou adultos cheios de fé?
Um chapéu
para São João Bosco?
O sacerdote ficou perplexo com o pedido de
Valentina, mas olhou-a com bondade e retrucou:
“Minha filha, o que pode fazer São João Bosco
com esse presente?”.
Irmã Daniela Ayau Valladares, EP
V
alentina era uma camponesa de faces coradas e
transbordante vitalidade.
Nascida numa cidadezinha do montanhoso Piemonte, seus
pais acostumaram-na, desde menina,
a descer regularmente a Turim para
venerar as relíquias de São João Bosco e passar algumas horas em oração
na Basílica de Maria Auxiliadora.
O ambiente recolhido e solene daquela igreja a extasiava. Tudo ali estava marcado pela presença do fundador dos salesianos e traspassado
de jovial devoção a Maria Auxiliadora. São João Bosco era, sem dúvida, o
santo da alegria, da fé e da confiança.
Perguntava-se também Valentina
como era possível sentir tanto aconchego dentro de um prédio tão majestoso e esplêndido. E maravilhava-se ao pensar que o grandioso edifício fora erigido sem São João Bosco
contar sequer com recursos financeiros, confiando dia a dia no auxílio da Virgem Santíssima para poder
continuar as obras começadas.
Embora em ponto menor, Valentina sentia uma consolação seme-
lhante ao visitar a paróquia de sua
pequena cidade, onde se veneravam
duas belas imagens de Maria Auxiliadora e São João Bosco. Naquela igreja se casara e a cada filho que
nascia ela o encomendava nas mãos
dos dois, para que o protegessem,
amparassem e guiassem pelo bom
caminho. Já tinha três crianças: Angelina, a mais velha, piedosa como
a mãe, e Giovanni e Giuseppe, dois
gêmeos travessos como São João
Bosco o fora, mas obedientes e carinhosos.
Giacomo, seu marido, era homem honesto e trabalhador. Contudo, enfermou-se gravemente e Valentina viu-se obrigada a vender doces e salgadinhos, que fazia primorosamente, para sustentar a família
por longos meses. No entanto, os remédios para o esposo eram muito
caros, e as dívidas se acumulavam...
Noite e dia ficava cogitando em
como conseguir os meios para saldá-las. Até que teve uma ideia... Tomou um pequeno chapéu de palha e
dirigiu-se com ele à igreja, onde disse ao padre Francesco:
46      Flashes de Fátima · Novembro 2010
— Vim trazer um presente para
São João Bosco.
E entregou-lhe o tosco chapéu.
O sacerdote ficou perplexo, mas
olhou a paroquiana com bondade e
retrucou-lhe:
— Minha filha, o que pode fazer
São João Bosco com esse presente?
Valentina explicou-lhe as dificuldades pelas quais sua família passava. Lembrou-lhe como São João
Bosco se lançava, sem dinheiro, nos
maiores empreendimentos, confiando que Maria Auxiliadora lhe obteria os meios. E confidenciou-lhe
ter uma certeza interior na ajuda do
santo, se fosse colocado aquele chapéu nas mãos da imagem.
O sacerdote estava acostumado a
lidar com a simplicidade bonachona
dos habitantes das aldeias da região
e seu teimoso caráter. Olhou fundo
para Valentina, fez um rápido cálculo e aceitou o pedido. Via nela muita fé e estava certo de que os outros
paroquianos não se escandalizariam
ao ver o estranho ornato na mão do
santo; apenas teriam alguma surpresa. Paternal, procurou confortar a
Edith Petticlerc
O sacerdote fez um rápido cálculo e aceitou o pedido, pois via em
Valentina muita fé e estava certo de que os outros paroquianos não se
escandalizariam
paroquiana com palavras de alento
e prometeu tê-la bem pressente nas
intenções das Missas dos dias subsequentes.
Ora, o plano de Valentina causou
sensação na cidade! Todas as pessoas, ao entrarem na igreja, se perguntavam: por que a imagem de São
João Bosco tinha esse chapéu na
mão? Talvez houvesse uma necessidade na paróquia que o padre não
podia revelar... E começaram a depositar nele suas oferendas.
Padre Francesco ficou admirado com a reação do povo e, a cada
dia, entregava à boa senhora a quantia arrecadada pela imagem. No início, obtinham-se apenas moedas,
mas aos poucos começaram a aparecer notas de certo valor. Passadas algumas semanas, Valentina já
havia conseguido honrar as dívidas
mais prementes; ainda restava saldar muitas outras...
Uma tarde, porém, apareceu
na cidade um reputado médico de
Turim. Amante da natureza, reservara boa parte das suas férias
para uma longa caminhada pelo grande vale do Lanzo. E, sendo católico fervoroso, chegando a
cada uma das pitorescas cidadezi-
nhas da região, começava por visitar a igreja.
Ao entrar na paróquia do padre
Francesco e ver a imagem de São
João Bosco da nave lateral com um
tosco chapéu de palha na mão, como pedindo esmola, não pôde reprimir um surdo brado de surpresa.
Rezou um pouco diante dela e foi
procurar o sacerdote, dizendo-lhe:
— Padre, sou médico em Turim e vejo haver grandes necessidades nesta paróquia. Se não fosse assim, Vossa Reverência não teria colocado o pobre São João Bosco para pedir esmolas... Diga-me, por favor, com toda confiança, como posso ajudar-lhe?
Sorrindo, o padre narrou-lhe
circunstanciadamente a história
da piedosa Valentina e sua singular ideia para remediar seus males. Longe de rir da simplicidade
da camponesa, o médico ficou comovido e quis ir até a casa daquela família para examinar pessoalmente o doente. Verificou, assim,
estar Giacomo realmente se recuperando e seguindo um tratamento correto, mas um tanto antiquado. A medicina progredira muito e
já dispunha de meios para encur-
tar drasticamente a convalescença,
usando remédios um pouco mais
caros.
Tocado pela fé com que Valentina havia se posto nas mãos de Maria
Auxiliadora, por meio de São João
Bosco, comprometeu-se a fornecer
os novos medicamentos e a arcar
com todos os gastos da família, até
Giacomo recuperar-se inteiramente
e voltar a trabalhar.
Em troca, só fazia um pedido:
quando ele estivesse curado, viajasse
com a mulher e os filhos a Turim, para agradecer ao querido santo seu restabelecimento. Ele os hospedaria na
sua própria casa, que não ficava longe da Basílica, e no dia seguinte participariam juntos da Eucaristia e rezariam diante das relíquias do santo.
Padre Francesco voltou para a paróquia muito meditativo e, ali chegando, apressou-se em retirar das
mãos do santo aquele chapéu não
muito respeitoso e já desnecessário.
A Missa do dia seguinte, celebrou-a em honra a Maria Auxiliadora. E no sermão, contou o acontecido aos paroquianos, incentivando-os a colocarem todas as suas necessidades, materiais ou espirituais, nas
mãos d’Aquela que é o “Auxílio dos
Cristãos”. E também nas
daquele santo sacerdote
que tanta devoção Lhe
tivera. 
Ao ver a imagem de São João Bosco com
um chapéu de palha na mão, não pôde
reprimir um surdo brado de surpresa
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      47
________
Os Santos de cada dia Santo André Avellino, presbítero
(†1608). Exerceu importantes funções na Congregação dos Clérigos
Regulares (Teatinos). Fez o voto de
cada dia progredir na virtude.
Ricardo Castelo Branco
1. São Nuno Álvarez Pereira, religioso (†1431). Condestável do Reino de Portugal, vencedor de muitas
batalhas, no fim da vida distribuiu
suas riquezas, abandonou o mundo
e ingressou na Ordem Carmelita.
11. São Martinho de Tours, Bispo (†397).
São Bartolomeu, abade (†1055).
Discípulo de São Nilo de Rossano,
ajudou-o a fundar a Abadia de Santa Maria de Grottaferrata, nas proximidades de Roma, e converteu esse mosteiro numa escola de ciências
e artes.
2. Comemoração de todos os fiéis
defuntos.
Santo Ambrósio, abade (†cerca
de 520). Por sua exemplar conduta,
foi enviado como abade do mosteiro
de Saint-Maurice-en-Valais, na atual
Suíça, e estabeleceu ali a prática do
louvor perpétuo.
3. São Martinho de Porres, religioso (†1639).
São Pirmino, Bispo (†cerca de
755). Abade e Bispo de Reichenau,
evangelizou os alamanos e os bávaros, fundou muitos mosteiros e escreveu para seus discípulos um livro sobre a catequese das pessoas incultas.
4. São Carlos Borromeu, Bispo
(†1584).
Santa Modesta, abadessa (†séc.
VII). Consagrada a Deus desde a infância, foi a primeira abadessa do
convento de Öhren, na cidade de
Tréveris, Alemanha.
5. São Domingos Mâu, presbítero e
mártir (†1858). Dominicano decapitado por ordem do imperador Tu Đúc,
no Vietnã, sob a acusação de portar
em público o Rosário e exortar os cristãos a dar testemunho da Fé.
“São Martinho de Porres” - Igreja de
São Domingos, Lima (Peru)
Santo Atenodoro, Bispo (†séc.
III). De importante família pagã,
converteu-se ao Cristianismo junto
com seu irmão, São Gregório Taumaturgo. Exerceu o episcopado em
Nova Cesareia, na Capadócia.
8. Beata Maria Crucifixa Satellico, religiosa (†1745). Abadessa do
mosteiro das clarissas em Ostra Vetere, Itália, favorecida por graças
místicas.
6. Santo Estêvão de Apt, Bispo
(†1046). Insigne por sua mansidão,
organizou duas peregrinações a Jerusalém e reconstruiu a catedral de
sua diocese, Apt, situada ao sudeste da França.
9. Dedicação da Basílica de Latrão.
Beato Graça (ou Graciano) de
Cáttaro, religioso (†1508). Marinheiro montenegrino que, movido
pela pregação de Simão de Camerino, se fez irmão leigo agostiniano
em Monte Ortone, perto de Pádua.
7. XXXII Domingo do Tempo Comum. Solenidade de Todos os Santos.
10. São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja (†461).
48      Flashes de Fátima · Novembro 2010
12. São Josafá, Bispo e mártir
(†1623).
São Nilo de Ancira, abade (†cerca
de 430). Discípulo de São João Crisóstomo, difundiu em seus escritos a
doutrina ascética. Morreu nas proximidades da atual Ankara, Turquia.
13. Beata Maria do Patrocínio
de São João Giner Gomis, virgem e
mártir (†1936). Religiosa das Missionárias Claretianas, assassinada
em Portichol, perto de Valência, durante a Guerra Civil Espanhola.
14. XXXIII Domingo do Tempo
Comum.
Santos Nicolau Tavelic, Deodato
Aribert, Estêvão de Cuneo e Pedro
de Narbona, presbíteros e mártires
(†1391). Frades franciscanos queimados vivos pelos sarracenos em Jerusalém, onde pregavam o Cristianismo.
15. Santo Alberto Magno, Bispo e
doutor da Igreja (†1280).
Beata Lúcia Broccadelli de Narni, religiosa (†1544). Tanto na vida
matrimonial quanto na Ordem Terceira de São Domingos, teve de suportar com paciência muitos sofrimentos e humilhações. Morreu no
__________________ Novembro
16. Santa Margarida da Escócia,
rainha (†1093).
Santa Gertrudes, virgem (†1302).
Santo Edmundo Rich, Bispo
(†1240). Arcebispo de Cantuária,
Inglaterra. Exilado por defender os
direitos da Igreja, viveu santamente entre os monges cistercienses de
Pontigny, França.
24. Santo André Dung-Lac, presbítero, e companheiros, mártires
(†1625-1886).
Beata Maria Anna Sala, virgem
(†1891). Religiosa da Congregação
das Irmãs de Santa Marcelina, em
Milão, Itália.
Sergio Hollmann
mosteiro por ela fundado em Ferrara, Itália.
25. Santa Catarina de Alexandria, virgem e mártir (†séc. IV).
São Maurino, mártir (†séc. VI).
Trucidado pelos pagãos quando
evangelizava a população rural de
Agen, França.
17. Santa Isabel da Hungria, religiosa (†1231).
Beato Josafá Kocylovskyj, Bispo e mártir (†1947). Religioso basiliano eleito Bispo de Przemysl,
Polônia. Preso pelas autoridade
soviéticas, faleceu num campo de
trabalho na região de Kiew, Ucrânia.
18. Dedicação das Basílicas de
São Pedro e São Paulo, Apóstolos.
Beato Grimoaldo da Purificação
Santamaría, religioso (†1902). Irmão passionista atingido por uma
grave doença quando se preparava para o sacerdócio. Morreu santamente aos 18 anos de idade em Ceccano, Itália
19. Santos Roque González, Afonso Rodríguez e João del
Castillo, presbíteros e mártires
(†1628).
Santa Matilde, virgem (†cerca
de 1298). Mestra de Santa Gertrudes no Mosteiro de Helfta, Alemanha.
20. São Gregório Decapolita,
monge (†842). Natural de Erinopolis de Decápolis, foi cenobita,
anacoreta e peregrino. Morreu em
Constantinopla, aonde viajara para defender o culto às imagens sagradas.
26. São Leonardo de Porto Maurício, presbítero (†1751). Sacerdote franciscano, empregou sua vida
na pregação e na edição de livros de
piedade. Participou de mais de trezentas missões na Itália.
“Santa Catarina de Alexandria” Museu Dijon (França)
21. XXXIV Domingo do Tempo
Comum. Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
Apresentação de Nossa Senhora.
Santo Agápio de Cesareia, mártir (†306). Após ter ficado preso
por dois anos na Cesareia Marítima
e ter sido submetido a diversos suplícios, foi jogado no Mediterrâneo
com pedras atadas aos pés.
22. Santa Cecília, virgem e mártir
(†séc. inc.).
São Pedro Esqueda Ramírez, presbítero e mártir (†1927). Encarcerado e
fuzilado no México, por ser sacerdote.
23. São Clemente I, Papa (†séc. I).
São Columbano, abade (†615).
Santa Cecília Yu So-sa, mártir
(†1839). Viúva de quase 80 anos, encarcerada em Seul, Coreia. Foi submetida doze vezes a interrogatório e por
fim espancada até morrer na prisão.
27. Beato Bronislau Kostkowski,
mártir (†1940). Seminarista polonês preso durante a Segunda Guerra Mundial. Foi torturado e, por fim,
morto no campo de concentração de
Dachau, Alemanha.
28. I Domingo do Advento.
Beato Luís Campos Górriz, mártir (†1936). Doutor em leis e membro do Apostolado Secular fuzilado em Paterna, nas proximidades de
Valência, Espanha.
29. São Tiago de Edessa, Bispo
(†521). É venerado pelos sírios como doutor e coluna da Igreja, junto
com Santo Efrém.
30. Santo André, Apóstolo.
São Cutberto Mayne, presbítero e mártir (†1577). Convertido ao
Catolicismo e ordenado sacerdote,
exercia seu ministério na Inglaterra quando foi descoberto e condenado à morte no reinado de Elizabeth I.
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      49
60º aniversário da proclamação do dogma da Assunção
Fruto de milhares
de súplicas
“Pronunciamos, declaramos e
definimos ser dogma divinamente
revelado que a Imaculada Mãe de Deus,
a sempre Virgem Maria, terminado o
curso da vida terrestre, foi assunta em
corpo e alma à glória celestial”.
E
m 1º de novembro de 1950
— época em que as viagens
eram muito mais lentas e
penosas do que hoje — a
Praça de São Pedro encheu-se de fiéis
para assistir à proclamação do dogma da gloriosa Assunção de Maria em
corpo e alma aos Céus.
Correspondia esse ato a um clamor da Igreja inteira, relatado e
analisado de forma excelente na
Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus, instrumento usado
por Pio XII para declarar essa verdade de Fé.
Decorridas seis décadas dessa
histórica data, transcrevemos abaixo alguns tópicos desse documento
pontifício, nos quais parece ouvir-se
ainda o pedido uníssono de pastores
e fiéis, implorando ao Santo Padre a
proclamação do quarto dogma mariano.
Eis as palavras de Pio XII:
Quando se definiu solenemente que a Virgem Maria, Mãe de
Deus, foi imune desde a sua concepção de toda a mancha, logo
os corações dos fiéis conceberam
uma mais viva esperança de que
em breve o Supremo Magistério da
Igreja definiria também o dogma
da assunção corpórea da Virgem
Maria ao Céu.
De fato, sucedeu que não só os
simples fiéis, mas até aqueles que,
em certo modo, personificam as nações ou as províncias eclesiásticas, e
mesmo não poucos Padres do Concílio Vaticano, pediram instantemente à Sé Apostólica esta definição.
Com o decurso do tempo essas
petições e votos não diminuíram,
antes foram aumentando de dia para dia em número e insistência. Com
50      Flashes de Fátima · Novembro 2010
esse fim fizeram-se cruzadas de orações; muitos e exímios teólogos intensificaram com ardor os seus estudos sobre este ponto, quer em privado, quer nas universidades eclesiásticas ou nas outras escolas de disciplinas sagradas; celebraram-se em
muitas partes congressos marianos
nacionais e internacionais. Todos esses estudos e investigações mostraram com maior realce que no depósito da fé cristã, confiado à Igreja, também se encontrava a assunção da Virgem Maria ao Céu. E de
ordinário a consequência foi enviarem súplicas em que se pedia instantemente a definição solene desta verdade.
Acompanhavam os fiéis nessa
piedosa insistência os seus sagrados pastores, os quais dirigiram a
esta cadeira de São Pedro semelhantes petições em número muito
considerável. Quando fomos elevado ao Sumo Pontificado, já tinham sido apresentadas a esta Sé
Apostólica muitos milhares dessas
súplicas, vindas de todas as partes
do mundo e de todas as classes de
pessoas: dos nossos amados filhos
Cardeais do Sacro Colégio, dos
nossos veneráveis irmãos Arcebispos e Bispos, das dioceses e das
paróquias. [...]
Inequívocas demonstrações
da fé na Assunção
Patenteiam inequivocamente esta mesma fé os inumeráveis templos consagrados a Deus em honra
da Assunção de Nossa Senhora, e as
imagens neles expostas à veneração
dos fiéis, que mostram aos olhos de
todos este singular triunfo da Santíssima Virgem. Muitas cidades, dioceses e regiões foram consagradas ao
especial patrocínio e proteção da
Em 1º de novembro de 1950,
Pio XII proclamou solenemente
o dogma da Assunção, na
Praça de São Pedro
Assunção da Mãe de Deus. Do mesmo modo, com aprovação da Igreja, fundaram-se Institutos religiosos
com o nome deste privilégio. Nem
se deve passar em silêncio que no
rosário de Nossa Senhora, cuja reza
tanto recomenda esta Sé Apostólica, há um mistério proposto à nossa
meditação, que, como todos sabem,
é consagrado à Assunção da Santíssima Virgem ao Céu. De modo ainda mais universal e
esplendoroso se manifesta esta fé
dos pastores e dos fiéis, com a festa litúrgica da Assunção, celebrada desde tempos antiquíssimos no
Oriente e no Ocidente. Nunca os
santos padres e doutores da Igreja
deixaram de haurir luz nesta solenidade, pois, como todos sabem, a sagrada liturgia, “sendo também profissão das verdades católicas, e estando sujeita ao Supremo Magistério da Igreja, pode fornecer argumentos e testemunhos de não pequeno valor para determinar algum
ponto da doutrina cristã”. [...]
Definição solene do dogma
Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de
termos invocado a luz do Espírito
de verdade, para glória de Deus onipotente que à Virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal
dos séculos e triunfador do pecado e
da morte, para aumento da glória da
sua augusta Mãe, e para gozo e júbilo
de toda a Igreja, com a autoridade de
Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos São Pedro
e São Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser
dogma divinamente revelado que: a
imaculada Mãe de Deus, a sempre
Virgem Maria, terminado o curso da
vida terrestre, foi assunta em corpo e
alma à glória celestial. 
(Excertos da Carta Apostólica
Munificentissimus Deus, 1/11/1950)
Novembro 2010 · Flashes
de Fátima      51
“Nossa Senhora da Assunção”
- Catedral de Salvador, Brasil
Gustavo Kralj
D
eus, Rei do universo,
concedeu-vos privilégios
que superam a natureza; assim
como no parto vos conservou a
virgindade, assim no sepulcro
vos preservou o corpo da
corrupção e o conglorificou
pela divina translação.
(Pio XII, Munificentissimus Deus)