Núcleo de Intervenção e Tratamento das adições e

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Núcleo de Intervenção e Tratamento das adições e
 Núcleo de Intervenção e Tratamento das adições e
toxicomanias
Responsáveis:
Científico: Paulo Roberto Ceccarelli, psicólogo (CRP 04/4047), psicanalista e doutor em Psicopatologia
Fundamental e Psicanálise pela Université Paris VII Diderot, pesquisador do CNPq.
Clínica Psicológica: Víctor Cruz de Freitas, psicólogo (CRP 04/29643), mestre em Psicopatologia e
Psicanálise pela Université Paris VII Diderot, idealizador do Núcleo de Intervenção e Tratamentos das
Adições e Toxicomanias.
Clínica Médica: Dr. Rafael Miranda de Oliveira, Psiquiatra (CRM: 48801) especialista em Psicoterapia pelo
Hospital de Ensino Instituto Raul Soares, Preceptor da residência de Psiquiatria HC-UFMG, Preceptor
do Centro Mineiro de Toxicomania CMT-FHEMIG, psiquiatra assistente do Ambulatório de Transtornos
Alimentares CEM-IPSEMG, membro coordenador do Centro de Estudos Galba Velloso.
No século XX, o fracasso relativo das primeiras tentativas de controle, pela via medica, do
uso de substâncias psicotrópicas explica em parte o surgimento de legislações que visam,
sob a esfera nacional e internacional, o controle e a repressão da difusão de produtos
entorpecentes.
Algumas tentativas de regulamentação, ou mesmo de interdição do consumo no passado,
ainda que pontualmente eficientes, revelaram-se a médio e a longo prazo ineficazes.
Atitudes repressivas em relação ao álcool, proeminentes do fim do século XIX, sobretudo
nos países anglo-saxões, vão se estender a outros produtos.
Historicamente, até o indicio do século XIX, o abuso de substâncias psicotrópicas eram,
sobretudo, observadas e tratadas como fatos isolados, consequências secundarias de
uma terapêutica ou abusos individuais.
A partir do inicio do séc. XIX os alcaloides começam a ser extraídos e produzidos em
série, a difusão dos psicotrópicos se acentua e a clinica médica tenta acompanhar e
responder esta nova "realidade".
A utilização das drogas como ato liberatório ou revolucionário (ex: o movimento hippie e a
contracultura) começa a desaparecer e dar lugar a uma toxicomania-diátese análoga à
asma, diabetes, ou ainda uma toxicomania de escolha ou determinismo social.
A evolução das representações da toxicomania vai no sentido de uma “normalização” do
toxicômano que perde seu estatuto de herói revoltado do século XXI, ou de visionário,
para tornar-se um cidadão “normal”.
CESAME-­‐BH Núcleo de Intervenção e Tratamento das Adições e Toxicomanias Psicólogos: Victor Cruz de Freitas e Dr. Paulo Roberto Ceccarelli Psiquiatra: Dr. Rafael Miranda de Oliveira 1 Na contemporaneidade constatamos que a intolerância à frustração, os imperativos do
gozo, a impossibilidade temporal de elaborar e construir impulsionam certos sujeitos a
uma busca do prazer imediata e a qualquer preço.
Observamos, no ocidente, o surgimento da consumação voluntária e "desracionalizada"
de substancias como a morfina e o éter e, mais tarde, a cocaína, as metanfetaminas, o
crack e, mais recentemente, o oxi.
A palavra tóxico é derivada do grego "toxicon", que tem como significado veneno. Na
concepção moderna, a palavra tóxico tornou-se objeto de uma ciência: a toxicologia.
Da palavra tóxico, surge a noção de toxicomania que caracteriza uma situação na qual
um sujeito se torna dependente de um tipo de droga (morfina, cocaína, etc.), uma
farmacodependencia, uma toxicodependência: autoadministração crônica contra a razão
e a vontade; como se a ação que leva o sujeito a usar a droga viesse de "outro lugar"
dentro do próprio sujeito.
Todavia, consideramos que o tóxico não deveria ser compreendido unicamente como
algo de ordem deletéria, um veneno. Devemos estar atentos ao duplo estatuto do toxico,
o de ser, ao mesmo tempo, veneno e remédio.
Seria imprudente pensarmos a toxicomania somente pela vertente do nefasto. Estamos
certo de que o tóxico, a substancia psicotrópica, representa para certos sujeito uma
possibilidade, senão a única, para a obtenção de prazer, isto é, para diminuir uma tensão
interna, na qual o sujeito lança mão de uma "automedicação" para o corpo e para alma,
na tentativa de criar um “neopsiquismo” e de encontrar, enfim, uma maneira prazerosa
que “ressignifique” a sua existência e/ou amenize o seu sofrimento.
Para além das toxicomanias, estamos também atentos a outras formas de dependências.
O termo adição aparece na Europa como uma transposição da utilização algo-saxônica
que engloba a toxicomania, o alcoolismo e as demais formas de dependência, a saber:
jogos, sexo, transtornos alimentares, compra compulsiva, enfim, toda atitude,
comportamento e ação que transcende um querer consciente do sujeito que, não raro,
reconhece sua incapacidade de controle: a adição caracteriza uma situação da qual o
sujeito é escravo; uma dependência.
Nossa proposta teórico-clínica é pensar as adições como uma toxicomania sem drogas.
Consideramos a adição como o recurso a um objeto externo que, para o adicto,
representaria a única forma de obter prazer e de escapar do sofrimento físico/mental, cuja
origem remonta, muitas vezes, a um traumatismo precoce. Trata-se de uma dinâmica
pulsional – um modo de funcionamento psíquico – que, na tentativa de elaborar o trauma,
reatualiza uma repetição que se situa para além do princípio do prazer.
CESAME-­‐BH Núcleo de Intervenção e Tratamento das Adições e Toxicomanias Psicólogos: Victor Cruz de Freitas e Dr. Paulo Roberto Ceccarelli Psiquiatra: Dr. Rafael Miranda de Oliveira 2 "Não é o tóxico que faz a toxicomania, mas sim o sujeito que encontra nele, mais ou
menos, uma resposta às questões secretamente colocadas, advindas da sua íntima e
singular relação com a alteridade, com o desejo e com o prazer."
P. Noaille
CESAME-­‐BH Núcleo de Intervenção e Tratamento das Adições e Toxicomanias Psicólogos: Victor Cruz de Freitas e Dr. Paulo Roberto Ceccarelli Psiquiatra: Dr. Rafael Miranda de Oliveira 3 Justificativa
A intervenção e o tratamento das adições e das toxicomanias constituem nosso principal
objetivo notadamente, em razão do impacto devastador que elas produzem tanto no nível
individual (o sofrimento psíquico e danos fisiológicos), quanto no nível coletivo (à ruptura
afetiva com familiares e próximos, e laços sociais em geral), assim como a criminalidade.
A ineficiência de modelos empregados atualmente na prevenção e no tratamento da
toxicomania no Brasil é o foco de nossa preocupação. Observa-se, também, uma
carência de centros de referência nas esferas Municipais, Estaduais e Federal, no que
concerne à implantação e à aplicação das propostas terapêuticas neste âmbito.
Constatamos, em certas instituições, uma supremacia de propostas terapêuticas que
visam a internação (voluntária e até mesmo involuntária), em detrimento de uma
intervenção estratégica que vise não apenas a prevenção, a redução de danos, o
acolhimento, a orientação, o tratamento, o acompanhamento pós-alta, mas que englobe
políticas de reinserção social, que impliquem não apenas os usuários, mas que se
estendam à família e à sociedade como um todo.
É alarmante, não só o impacto devastador das toxicomanias nos sujeitos, nas famílias e
na sociedade, quanto a falta de preparo adequado para enfrentar esta realidade social. A
história nos mostra que quando a sociedade não enfrenta um problema com ações sóciopolíticas adequadas e competentes, a tendência "natural" é a de exclui-lo, marginalizá-lo,
o que pode transformá-lo em uma verdadeira epidemia.
No passado, a exclusão e o isolamento dos enfermos de hanseníase e tuberculose, e
mais tarde a internação de portadores de sofrimento mental, os “loucos”, em nada afetou
os elementos centrais do problema: ao contrário só aumentou o preconceito e a
segregação.
A existência das drogas desde o início da humanidade, assim como as inúmeras e
fracassadas tentativas de coibir a sua consumação, sugerem que políticas baseadas na
repressão e no isolamento dos usuários estão fadados ao insucesso.
Estudos sistematizados da problemática aditiva, a evolução do conhecimento acerca das
drogas, sua atuação no organismo, a dinâmica psíquica das adições, nos levam a
formular uma proposta de prevenção pela educação, pela redução de danos e riscos,
baseada em um acompanhamento, e um tratamento contínuo.
Por mais que o isolamento seja uma “política” de segurança em se tratando de epidemia,
no caso das adições apostamos em uma terapêutica de intervenções estratégicas, que
lance mão de um modelo metodológico extenso e transdisciplinar, por acreditarmos que
os fatores psicológicos têm uma participação fundamental na conduta aditiva.
Obviamente, não repudiamos a internação voluntária, pois vemos nela, um apelo do
sujeito, um momento de recuo necessário a esta forma de ajuda, desde que esta
CESAME-­‐BH Núcleo de Intervenção e Tratamento das Adições e Toxicomanias Psicólogos: Victor Cruz de Freitas e Dr. Paulo Roberto Ceccarelli Psiquiatra: Dr. Rafael Miranda de Oliveira 4 demanda parta dele, a partir de um posicionamento subjetivo de um sujeito desejante: só
assim a internação poderia ser eficaz.
A ideia não é tratar a toxicomania de maneira vaga e imprecisa, mas, antes, abordar o
tema em sua complexidade. Isto é, levando-se em conta o toxicômano, sua estrutura de
personalidade, seu sintoma, além de seu desejo, sua angústia e a particularidade de sua
psicopatologia. Ou seja, a singularidade da dinâmica psíquica daquele sujeito em
particular, que produziu a forma aditiva de circulação pulsional. A terapêutica deve levar
em consideração tudo isso, assim como as relações do sujeito com o meio (familiar,
social, ambiente).
A exemplo dos neurolépticos e dos antidepressivos, a psicanálise e sua prática em
instituições também sofreram transformações significativas.
Os longos períodos de internação praticamente desaparecem abrindo campo para um
modo de intervenção contínuo e sistematizado. Surgem então os hospitais-dia e os
centros de convivência. Observamos então um salto qualitativo na mudança do
tratamento: da internação ao tratamento ambulatorial (individuais e/ou em grupos) em prol
do bem estar dos sujeitos em sofrimento. Esta nova perspectiva terapêutica possibilita a
utilização do laço social, muitas vezes rompido pelo sofrimento psíquico, e lança mão,
estrategicamente, do laço como uma das ferramentas do próprio tratamento.
Contudo, sabemos da dificuldade de manter um tratamento contínuo e não nos iludimos e
nem ignoramos os limites desta clínica. Será necessário, quase quotidianamente,
temperar o nosso entusiasmo, moderar nossas ambições, mas sem deixar de estender os
limites, a fim de aumentar o espaço social destes sujeitos. É prioritário desalianá-los de
um sistema que chamaríamos de “asilário” e do caráter imobilizador e carcerário, aos
quais algumas propostas terapêuticas podem conduzir.
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Da Prevenção
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Metodologia estratégica
Campanha de informação ao público
Programas no meio escolar e trabalhista
A prevenção deve acompanhar os sujeitos ao longo da vida, intervindo de maneira a
adequar-se ao público visado.
Adaptar-se à idade, ao grau de formação, e a realidade socioeconômica do sujeito.
Atuar de maneira constante a fim de permitir ao sujeito questionar-se, saber, dar sentido a
seu agir. Enfim, propiciar a criação de recursos internos que o possibilite apropriar-se de
sua saúde e de posicionar-se na vida.
Infância e adolescência são, certamente, momentos particularmente importantes no que
CESAME-­‐BH Núcleo de Intervenção e Tratamento das Adições e Toxicomanias Psicólogos: Victor Cruz de Freitas e Dr. Paulo Roberto Ceccarelli Psiquiatra: Dr. Rafael Miranda de Oliveira 5 concerne a prevenção, embora não os únicos, para que o sujeito crie condições para
exercer plenamente a sua cidadania.
Uma análise global dos diversos momentos da vida, não significa abandonar as ações
específicas, focadas.
Não existe droga sem cultura, e não existirá tampouco prevenção fora do contexto
psíquico-social: é no social que se constituem os sistemas de regulação dos
“comportamentos” individuais e coletivos, o que coloca em jogo os valores e as
representações sociais que se constroem e se desconstroem.
Prevenir e promover
Centrar nas escolhas politicas de valores tais como: saúde, liberdade e responsabilidade.
Aumentar o conhecimento e promover a reflexão coletiva: pesquisa, análise e estudo dos
grupos e da coletividade.
Promover, visando prevenir, levando a formular propostas que ultrapassem estratégias
focadas unicamente no evitar as consequências negativas como: doenças, complicações,
condutas de risco.
Construção da dinâmica de um saber: a compreensão dos elementos presentes da
construção da psicossexualidade de uma pessoa e de um modo de vida propicia uma
maneira de protegê-la das consequências negativas.
Prevenir constitui-se em um “vir para” e não somente um ir contra. “Vir para” como, por
exemplo, escutar um adolescente que se angustia pelas mudanças corporais, pela
entrada no mundo adulto com as responsabilidades que ele comporta, etc...
Prevenir implica promover o bem estar e acolher o mal-estar, antes que o ultimo se
transforme num estar-mal.
Promover capacidades relacionais que expressem habilidades, aptidões de se
observarem e de se conhecerem e interações solidárias.
Prevenir consiste não apenas em aprender a fazer escolhas, mas também em oferecer
possibilidades de escolha.
Atividades de prevenção e promoção
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Palestras
Cursos
Aulas abertas
Participações de profissionais reconhecidamente capacitados na área
CESAME-­‐BH Núcleo de Intervenção e Tratamento das Adições e Toxicomanias Psicólogos: Victor Cruz de Freitas e Dr. Paulo Roberto Ceccarelli Psiquiatra: Dr. Rafael Miranda de Oliveira 6 Projeto ampliando espaços: Temas transversais (psicólogo João Fontenelle)
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Oficina de contos
Cantigas de roda
Oficina de leitura
Visitas a instituições culturais
Resgate de brincadeiras
Dinâmicas de grupo
Cinema comentado
Acolhimento e tratamento
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Individual
Em grupo
Familiar
Focal
Acompanhamento terapêutico
Redução de danos e condutas de risco
Pós-alta
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Tratamento contínuo:
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Psicologia
Psiquiatria
Outras espacialidades
Projeto: de inserção social e orientação profissional (João Fontenelle)
Ensino e Pesquisa
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Linhas de pesquisa:
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Toxicomanias
Adições (jogos, sexo, afetiva, transtornos alimentares, etc.).
Questões ligadas à sexualidade humana
Psicanálise, saúde mental e contemporaneidade. CESAME-­‐BH Núcleo de Intervenção e Tratamento das Adições e Toxicomanias Psicólogos: Victor Cruz de Freitas e Dr. Paulo Roberto Ceccarelli Psiquiatra: Dr. Rafael Miranda de Oliveira 7 

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