Influencia dos exercicios de estabilizacao central sobre a oscilacao
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Influencia dos exercicios de estabilizacao central sobre a oscilacao
Re v i s t a Re v i s t a B r a s i l e i r a d e ISSN 16778510 Br as i l e i r a Fisiologia do de exercício F i s i o l o g i a Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício d o e x e rc í c i o 13 anos ESPORTE • • • • Percentual de carga máxima dinâmica e treinamento de força Flexibilidade no desenvolvimento da força muscular Exercício físico e alterações hormonais Cortisol e exercício v o lu m e 1 0 - n ú me r o 03 • Ju l/Se t 2 011 NUTRIÇÃO • Nutrição e suplementação no futebol • Taxa de sudorese e antropometria de nadadoras FISIOLOGIA • Centro de pressão corporal após estabilização central • Maturação esquelética versus idade cronológica no futebol • Idade cronológica e idade motora de alunos do ensino fundamental CARDIOLOGIA • Exercício resistido em indivíduos com cardiomiopatia chagásica www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 1 0 - n ú m e r o 03 • Jul/Set 2011 Re v i s t a B r a s i l e i r a d e Fisiologia do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 10 número 3 - julho/setembro 2011 Editorial Incentivar a pesquisa em doping, Pedro Paulo da Silva Soares ..................................................................................... 123 ARTIGOS ORIGINAIS Diferenças entre idade cronológica e idade motora geral para alunos do 1º ano do ensino fundamental, Leonardo Nobre Ghiggino, Flavio Fernandes Bahiana, Paulo Cesar Nunes-Junior...................................................................................................................................................124 Influência da flexibilidade no desenvolvimento da força muscular, Thiago Pereira, Gilmar Weber Senna, Sidney Cavalcante da Silva................................................................................................................132 Influência dos exercícios de estabilização central sobre a oscilação corporal de indivíduos com lombalgia crônica, Adriana Regina de Andrade, Bruna Karla Grano, Francieli Wilhelms, Juliana Gaffuri, Marcela Medeiros de Almeida Costa, Marina Pegoraro Baroni, Alberito Rodrigo de Carvalho, Gladson Ricardo Flor Bertolini....................................................137 Repetição máxima de movimentos resistidos com pesos livres em indivíduos com cardiomiopatia Chagásica, Luciano Sá Teles de Almeida Santos, Thiêgo Andrade, Vinicius Afonso Gomes, Thiago Bouças, Jefferson Petto......................................................................................................142 Utilização do percentual da carga máxima dinâmica e velocidade de movimento durante o treinamento de força, Alexandre Correia Rocha, Dilmar Pinto Guedes Junior................................................................147 Taxa de sudorese e perfil antropométrico de atletas do gênero feminino de uma equipe de natação, Lidiane Yurie Pereira, Roberta Amancio Ruiz Costa, Tamara Eugenia Stulbach, Luciana da Silva Garcia..............................................................................................................151 Comportamento da frequência cardíaca em corredores de esteira ergométrica na presença e na ausência de música, Karina Stela de Sena, Marcus Vinicius Grecco........................................................156 Maturação esquelética versus idade cronológica nas categorias de base do futebol, Marcos Maurício Serra, Angélica Castilho Alonso, Julio Stancati, Júlia Maria D’Andréia Greve .......................................162 REVISÕES Nutrição, hidratação e suplementação para jogadores de futebol, Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Adriana Passanha......................................................................................................166 O exercício físico modulando alterações hormonais em vias metabólicas dos tecidos musculoesquelético, hepático e hipotalâmico relacionado ao metabolismo energético e consumo alimentar, Fábio Medici Lorenzeti, Waldecir Paula Lima, Ricardo Zanuto, Luiz Carlos Carnevali Junior, Daniela Fojo Seixas Chaves, Antônio Herbert Lancha Junior................................................172 Cortisol e exercício: efeitos, secreção e metabolismo, Juliano Ribeiro Bueno, Cibele Marli Cação Paiva Gouvêa........................................................................................................................................178 NORMAS DE PUBLICAÇÃO.............................................................................................................................. 181 EVENTOS................................................................................................................................................................ 183 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 122 Re v i s t a B r a s i l e i r a d e Fisiologia do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Luiz Fernando Kruel (RS) Amandio Rihan Geraldes (AL) Martim Bottaro (DF) Antonio Carlos Gomes (PR) Patrícia Chakour Brum (SP) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Robert Robergs (EUA) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Rosane Rosendo (SC) Douglas S. Brooks (EUA) Sebastião Gobbi (SP) Emerson Silami Garcia (MG) Francisco Martins (PB) Steven Fleck (EUA) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Francisco Navarro (SP) Vilmar Baldissera (SP) Luiz Carnevali (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil I.P. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 123 Editorial Incentivar a pesquisa em doping Pedro Paulo da Silva Soares, Editor Associado O Brasil sediará muito em breve eventos esportivos de grande relevância e repercussão mundial, sendo os mais importantes a copa do Mundo de Futebol em 2014 e as Olimpíadas em 2016. A RBFEx não poderia deixar de aproveitar estas oportunidades para fazer uma provocação a nossos colaboradores no sentido de incentivá-los a produzirem artigos científicos com um viés aplicado ao esporte, sem, contudo, esquecer os estudos mais básicos sobre mecanismos fisiológicos. Identificamos uma enorme janela de oportunidades para avançar no conhecimento da fisiologia do exercício nas diversas modalidades esportivas que se apresentam. Dentre os inúmeros assuntos que são potencialmente instigantes, o doping é um dos que mais atrai nossa curiosidade seja pelo impacto que causa na mídia seja pela dúvidas levantadas sobre o assunto. Contudo, trabalhos científicos sobre o assunto ainda são relativamente escassos. Embora os efeitos nocivos desta prática sejam bem divulgados, a investigação e experimentação no tema ainda se encontram bastante restritos. A utilização de substâncias proibidas confere uma fraude ou uma violação das regras do “jogo limpo” e justo entre os competidores, e este fato já está mais que bem estabelecido. Entretanto, não conhecemos a fundo as repercussões do uso prolongado de estimulantes ou de esteroides anabolizantes, por exemplo. Em parte, porque os usuários e aqueles que os suprem com substâncias proibidas dificilmente revelam publicamente seu uso ou divulgam seus dados pessoais que poderiam revelar as alterações provocadas pelo doping. Entendemos que uma grande limitação para os estudos nessa área se refere a questões éticas em pesquisa científica. Alguns estudos com experimentação animal nos permitiram avançar em alguns aspectos, mas em relação a dados com humanos ainda temos pouco material para além dos estudos com uma abordagem clínica. Atualmente não somente atletas façam uso de doping, mas também não-atletas ou praticantes de atividades físicas recreativas, principalmente a musculação. Estas pessoas parecem empregar estas estratégias para obter ganhos de desempenho, com o objetivo estético através de aumentos de massa muscular no caso dos esteroides anabolizantes ou mesmo para ganharem maior motivação em treinar através dos estimulantes como as anfetaminas. A RBFEx se manifesta fortemente contrária ao uso de substâncias dopantes e estimula seus colaboradores e leitores a comprovarem cientificamente que é possível o aumento de desempenho através do conhecimento preservando o “jogo limpo”. Cabe a comunidade da fisiologia do exercício e demais participantes da área da saúde apresentarem elementos a sociedade que permitam a construção de uma base de conhecimento sobre o assunto esclarecendo a população e a comunidade do esporte sobre os efeitos do uso do doping. O Brasil possui uma larga experiência no controle de doping que já é realizado em nosso território através das federações e confederações esportivas nacionais e internacionais que promovem controles de doping tanto em competição como fora-de-competição há vários anos através de profissionais altamente qualificados. Quase sempre ouvimos de várias pessoas, atletas, treinadores ou mesmo de leigos, que a ciência está sempre correndo atrás dos fraudadores que investem quantias volumosas no desenvolvimento de substâncias não detectáveis em nossos métodos laboratoriais. Isso em parte é verdade uma vez que o desenvolvimento de drogas que podem ser usadas para o doping foram desenvolvidas com fins terapêuticos e não esportivos. Aqueles que o fazem com este objetivo já estamparam as páginas policiais num passado recente e os desportistas que se tiveram êxitos esportivos através da fraude foram desmoralizados e perderam suas medalhas. Alguns sofreram consequências mais graves com danos a saúde e risco à vida. Ainda assim as modificações no tecido muscular, sistema endócrino, nervoso e cardiovascular causadas pelo uso indevido e mesmo com o uso terapêutico ainda demandam investimento dos cientistas. A RBFEx repudia a prática de doping e estimula a comunidade cientifica a apresentar novos trabalhos nesta área, não com o intuito de incentivar esta prática, mas sim o que conhecermos os potenciais riscos do doping e as repercussões sobre a saúde e, apresentar evidências que comprovem que temos opções na área da fisiologia do exercício para a promoção da saúde e para o desempenho esportivo recreativo e em alto nível sem a necessidade do uso do doping. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 124 Artigo original Diferenças entre idade cronológica e idade motora geral para alunos do 1º ano do ensino fundamental Difference between motor age and chronological age in 1st grade children Leonardo Nobre Ghiggino*, Flavio Fernandes Bahiana*, Paulo Cesar Nunes-Junior, Ft. Esp.** *Professor de Educação Física, **Pós-Graduado em Anatomia Humana e Biomecânica, Especialista em Osteopatia Resumo Idade cronológica é o número de dias, meses e anos vividos do nascimento ao presente momento. Idade motora geral é um procedimento aritmético que objetiva pontuar e avaliar os resultados da Escala de Desenvolvimento Motor. A idade motora geral relaciona-se com o nível de desenvolvimento motor do indivíduo. Este desenvolvimento motor classifica-se como um processo de mudanças no nível de funcionamento do indivíduo, em que a maior capacidade de controlar movimentos é adquirida ao longo do tempo. A aquisição desta habilidade é individualizada, pois os indivíduos possuem níveis de maturação diferentes, implicando em diferenciações de desenvolvimento motor em crianças do mesmo ano letivo escolar. Este trabalho objetivou investigar a diferença entre a idade motora geral e a idade cronológica em 19 crianças do 1º ano letivo do Ensino Fundamental, sendo sete do sexo masculino e 12 do sexo feminino, visando proporcionar ao professor de Educação Física o acompanhamento da evolução da maturação dos alunos de forma individualizada. Este acompanhamento possibilitou a prescrição de atividades e exercícios adequados ao desenvolvimento motor de cada aluno. Para a realização da pesquisa, foram feitas uma bateria de testes que avaliaram o desenvolvimento motor de crianças com idade cronológica entre dois e onze anos, testando os seguintes parâmetros: motricidade fina e global, organização espacial e temporal, equilíbrio e esquema corporal. Chegamos à conclusão que as crianças avaliadas obtiveram uma idade motora geral inferior à idade cronológica, o que evidenciou atrasos no desenvolvimento motor. Abstract Chronological age is the number of days, months and years lived from birth to present. General Motor Age is an arithmetic procedure that aims to score and evaluate the results of Motor Development Scale. The General Motor Age is related to the level of Motor Development of the individual. The Motor Development is classified as a process of change in level of functioning, where the greater ability to control movements is acquired over time. The acquisition of this skill is individual, because individuals have different levels of ripeness, resulting in the differentiation of motor development in children from the same school year. This study aimed to investigate the difference between the Motor Age General and chronological age in 19 children of the 1st grade children, 7 males and 12 females, to provide the physical education teacher to monitor the evolution of maturation students individually. This monitoring will allow the prescription of activities and exercises suitable for the motor development of each student. For the survey, was made a battery of tests that assessed the motor development of children with chronological ages between 2 and 11 years, testing the following parameters: fine motor, global spatial and temporal organization, balance and body schema. It is concluded that the children studied had a General Motor Age less than chronological age, which showed delays in motor development. Key-words: chronological age, motor age, motor development, children, 1st grade. Palavras-chave: idade cronológica, idade motora geral, desenvolvimento motor, crianças, 1º ano do ensino fundamental. Recebido em 30 de maio de 2011; aceito em 8 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Paulo Cesar Nunes Junior, Rua Mearim, 307/301, 20561-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 25784036, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Introdução O processo de envelhecimento é uma realidade biológica que possui sua própria dinâmica [1]. No entanto existem fatores que podem ser controlados, tais como alimentação, exposição a riscos à saúde, fumo ou álcool, e a prática de exercícios físicos. Esses fatores são determinantes para a aptidão física e desenvolvimento motor. Idade cronológica é o número de dias, meses e anos vividos desde o momento do nascimento de um indivíduo até o presente momento de sua vida. É o método mais popular de se classificar desenvolvimento, mas frequentemente o menos acurado. A idade cronológica fornece uma estimativa aproximada do nível de desenvolvimento do indivíduo, que pode ser mais precisamente determinado por outros meios, tais como idade óssea, dental, sexual e motora [2]. Idade motora geral está ligada ao nível de desenvolvimento motor. É o resultado de um procedimento aritmético para pontuar e avaliar os resultados dos testes propostos por Rosa Neto na Escala de Desenvolvimento Motor [3]. Desenvolvimento motor é um processo de mudanças no nível de funcionamento de um indivíduo, em que uma maior capacidade de controlar movimentos é adquirida ao longo do tempo [4]. Embora relacionado à idade cronológica, o desenvolvimento motor não está sujeito a esta. A aquisição de habilidades é individualizada devido a características únicas de cada indivíduo, tais como fatores ambientais, incentivo e instrução adequada. Desta forma pode-se afirmar que cada aluno do mesmo ano letivo terá um histórico diferenciado, o que implicará em diferenciações no seu desenvolvimento motor. Na criança, a motricidade e a inteligência se desenvolvem como resultado da interação de fatores genéticos, culturais, ambientais e psicossociais. Um dos modos de avaliar o resultado da ação conjunta desses fatores é determinar o perfil psicomotor da criança, que indica a qualidade do desenvolvimento psicomotor, especificando as habilidades motoras mais e menos elaboradas adquiridas até o momento [5]. A idade pré-escolar é uma fase de aquisição e aperfeiçoamento das habilidades motoras, formas de movimento e primeiras combinações de movimento, que possibilitam a criança dominar seu corpo em diferentes posturas e locomover-se pelo meio ambiente de variadas formas. A base para habilidades motoras globais e finas é estabelecida neste período, sendo que as crianças aumentam consideravelmente seu repertório motor e adquirem os modelos de coordenação do movimento essenciais para posteriores performances habilidosas [6-10]. Conhecer os níveis de desenvolvimento motor de crianças é fundamental para a estruturação de programas motores que propiciem a elaboração de práticas mais efetivas que levem crianças à construção de padrões de movimento mais avançados e que garantam a participação em atividades de movimento durante toda a vida [11]. Assim é necessário que professores de Educação Física promovam atividades baseadas 125 na capacidade dos alunos, evitando generalizar exercícios para o mesmo ano letivo. A Educação Física escolar adquire um papel fundamental promovendo estímulos que ajudarão a levar ao desenvolvimento motor e a melhora da autoestima [2]. Estudos sobre a motricidade infantil são realizados com o objetivo de avaliar, analisar e estudar o desenvolvimento de crianças em diferentes etapas evolutivas. Rosa Neto [3] desenvolveu a Escala de Desenvolvimento Motor, que consiste numa bateria de testes que visam mensurar o desenvolvimento motor de crianças de dois a onze anos de idade cronológica. Essa bateria de testes tem como resultado a obtenção de uma idade motora geral. Os parâmetros testados são: motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial, organização temporal e lateralidade. Motricidade fina é o conjunto de atividades de movimento de segmentos do corpo humano em sincronia com a visão a fim de se obter uma resposta precisa para uma tarefa [3]. Motricidade global é o controle de grandes movimentos dinâmicos de caráter tátil, sinestésico, labiríntico, visual, espacial e temporal [12]. Equilíbrio é base primordial de toda ação diferenciada dos segmentos corporais [3]. Esquema corporal é a capacidade de o indivíduo discernir as partes do seu próprio corpo em associação ao mundo exterior [13]. Organização espacial trata da nossa habilidade em avaliar a relação do nosso corpo, como um todo, com o ambiente que nos cerca [14]. A Organização temporal diz respeito à ordem de fenômenos e ao ritmo com que ocorrem [3]. O presente trabalho objetivou investigar a diferença entre idade motora geral e idade cronológica em 19 crianças do 1º ano letivo do Ensino Fundamental, sendo sete do sexo masculino e 12 do sexo feminino. O estudo do crescimento e desenvolvimento humano, adicionados à avaliação motora na Educação Física escolar possibilita estabelecer objetivos e conteúdos coerentes para cada indivíduo, assim o profissional de Educação Física pode acompanhar a evolução e maturação individual, prescrevendo atividades e exercícios adequados ao desenvolvimento motor de cada aluno. Materiais e métodos O experimento foi conduzido no dia 07 de maio de 2010 em 19 crianças nascidas entre 01/06/2003 e 31/08/2004, sendo sete do sexo masculino e 12 do sexo feminino. Foi necessária autorização dos diretores da escola, consentimento dos responsáveis pedagógicos e das crianças respectivamente. As crianças incluídas neste estudo precisavam estar matriculadas no primeiro ano do ensino fundamental e realizar, no mínimo, uma aula de Educação Física escolar por semana. Estas crianças permaneceram com suas roupas de aula, tirando apenas as vestimentas que atrapalhavam o movimento. A Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) avalia motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial, organização temporal e lateralidade [3]. 126 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Esse último parâmetro não foi avaliado neste estudo, pois não apresenta relevância para obtenção da Idade Motora Geral (IMG). Os testes foram aplicados em uma única sessão de duas horas e quarenta minutos. Foi feita uma explicação, para os alunos avaliados, acerca dos testes a serem realizados. As atividades tiveram um enfoque na ludicidade e os avaliadores desempenharam um papel motivacional, procurando incentivar a criança na execução dos exercícios. Foram montadas estações para a aplicação da bateria de testes. Esta tática foi utilizada para facilitar a organização do espaço e agilizar o tempo de aplicação das atividades. Com isso, foi possível desenvolver um circuito em que até três crianças e avaliadores participavam do processo de coleta. Cada prova da bateria marca uma nova etapa maturativa, que vai dos dois anos até os onze anos. Para o presente estudo, foram realizados os testes a partir da etapa de quatro anos. Se houvesse uma resposta positiva da criança para a atividade relativa ao teste de quatro anos, esta criança estaria habilitada a tentar o teste correspondente à idade de cinco anos, e assim sucessivamente. No caso de uma resposta negativa ao teste de quatro anos foi realizado o teste de três anos. Motricidade fina Com 12 cubos em desordem, o avaliador tomava três e formava uma ponte, com dois cubos na base e um no topo. Pedia-se para a criança fazer algo semelhante. Caso ela não entendesse o que deveria fazer, podia-se repetir a construção. Foi considerado acerto se a ponte continuasse montada, ainda que não bem equilibrada. O teste inicial, que é relativo à idade motora fina de quatro anos, é colocar um pedaço de linha de 15 cm, número 60, por uma agulha de costura (1 cm x 1 mm). Inicialmente a criança deve estar com as mãos separadas a uma distância de 10 cm e com a linha passada pelos dedos em 2 cm. Cada criança teve nove segundos para realizar esta atividade e direito a duas tentativas. No teste seguinte, que corresponde à idade de cinco anos, o avaliador demonstra ao avaliado como fazer um nó simples em um lápis. Em seguida, a criança tem que realizar o mesmo nó no dedo do avaliador. Para este teste, utilizou-se um par de cordões de sapato de 45 cm. Considerou-se qualquer tipo de nó, contanto que não se desmanchasse. No teste relativo à idade de seis anos a criança deveria traçar, com um lápis e com a mão dominante, uma linha contínua da entrada até a saída de um labirinto, tendo que, logo em seguida, iniciar outro labirinto. Após trinta segundos de repouso, a criança teria que realizar a mesma atividade com a mão não-dominante. Cada criança só poderia ultrapassar os limites do labirinto mais de duas vezes com a mão dominante e três com a não-dominante. Se houvesse um número de erros maior do que estes estipulados, considerava-se uma falha na execução. Também foram considerados erros levan- tar mais de uma vez o lápis do papel e ultrapassar o tempo limite para execução da atividade. O tempo de duração para cada atividade foi de 1 minuto e 20 segundos para a mão dominante e 1 minuto e 25 segundos para a não-dominante. Foram realizadas duas tentativas para cada mão. Nenhuma das crianças conseguiu ultrapassar essa etapa. Motricidade global O teste correspondente à idade de quatro anos foi a realização de sete ou oito saltos, sucessivamente, sobre o mesmo lugar, com as pernas levemente flexionadas. Possíveis erros cometidos pelos alunos foram movimentos não simultâneos de ambas as pernas ou cair sobre os calcanhares. Cada criança teve direito a duas tentativas. O teste relativo à idade de cinco anos foi saltar, sem tomar impulso, uma altura de 20 cm, determinada por um elástico amarrado em dois apoios. Cada criança teve direito a três tentativas, sendo que duas deveriam ser positivas. Os erros considerados foram tocar no elástico durante o salto, cair no chão mesmo que não tivesse encostado no elástico e tocar no chão com as mãos. O teste da idade de seis anos foi, com os olhos abertos, a criança deveria caminhar uma distância de dois metros sobre uma linha reta, posicionando a ponta de um pé no calcanhar do outro pé. Foram permitidas três tentativas para cada criança. Os possíveis erros eram afastar-se da linha, balançar ou afastar um pé do outro e executar a atividade de maneira incorreta. No teste relativo à idade de sete anos a criança deveria, com os olhos abertos, saltar em um pé só ao longo da uma linha de cinco metros, com a outra perna flexionada em 90º e com os braços relaxados ao lado do corpo. Após 30 segundos de descanso, realizou-se a mesma atividade, mas saltando com a outra perna. Não foi estipulado um tempo determinado. Cada criança teve direito a duas tentativas com cada perna. Os erros considerados foram distanciar-se da linha por mais de 50 cm, tocar no chão com a outra perna e balançar os braços. No teste correspondente a idade de oito anos a criança deveria saltar uma altura de 40 cm, determinada por um elástico, sem impulso. Cada criança teve direito a três chances, sendo que duas deveriam ser positivas. Os erros considerados foram tocar no elástico durante o salto, cair no chão mesmo que não tivesse encostado no elástico e tocar no chão com as mãos. No teste da idade de nove a criança deveria realizar um salto no ar, flexionando os joelhos para tocar os calcanhares com as mãos. O único erro era não tocar os calcanhares com as mãos. No teste correspondente à idade de dez anos a criança deveria estar com um joelho flexionado em ângulo reto e os braços relaxados ao longo do corpo. A 25 centímetros do pé em repouso posicionamos no solo uma caixa de fósforos. A criança então deveria levá-la impulsionando-a com o pé a um ponto situado a cinco metros de distância. Os possíveis erros eram tocar o chão com o outro pé, exagerar o movimento Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 dos braços, ultrapassar com a caixa em mais de cinquenta centímetros o ponto fixado e falhar no deslocamento da caixa. Foram dadas três tentativas. Nenhuma das crianças conseguiu passar por esse teste. Equilíbrio O teste de equilíbrio correspondente à idade de quatro anos foi à realização de uma flexão de tronco em ângulo reto durante o tempo de 10 segundos. Para realizar este exercício, a criança deveria estar com os olhos abertos, os pés juntos e as mãos apoiadas nas costas. Foram concedidas duas tentativas. Os erros considerados foram realizar movimentos com os pés, flexionar os joelhos e ficar na posição desejada por menos de 10 segundos. O segundo teste foi relativo à idade de cinco anos. Neste, a criança deveria manter-se em equilíbrio nas pontas dos pés durante 10 segundos. Durante este exercício, os olhos deveriam estar abertos, os pés estar juntos e os braços juntos ao corpo, com as palmas das mãos encostando nas coxas. Cada criança teve direito a três tentativas. No teste de equilíbrio para a idade motora de seis anos, as crianças deveriam manter-se de pé sobre a perna direita enquanto que o joelho esquerdo estaria flexionado em ângulo reto, com a coxa paralela à direita e em leve abdução, com os braços ao longo do corpo. Após um intervalo de 30 segundos, o exercício foi repetido, mas havendo a troca de pernas. O tempo mínimo para que cada criança se mantivesse em equilíbrio com cada perna foi de 10 segundos. Os erros considerados foram baixar mais de três vezes a perna levantada, saltar ou balançar, tocar com o outro pé no chão e elevar-se sobre a ponta do pé. O próximo teste foi para a idade de sete anos. Neste a criança deveria se posicionar de cócoras, com os braços estendidos lateralmente, com os olhos fechados e com os pés e calcanhares unidos. Foram permitidas três tentativas e o tempo mínimo que uma criança deveria manter-se nesta posição foi de 10 segundos. Os erros foram cair ou deslizar, sentar-se sobre os calcanhares, tocar no chão com as mãos e baixar o braço três vezes. O último teste de equilíbrio correspondeu à idade de oito anos. Neste, a criança deveria manter-se em equilíbrio com o tronco flexionado realizando a flexão plantar. As crianças deveriam estar com os olhos abertos, as mãos nas costas, o tronco em ângulo reto e os calcanhares elevados. Foram concedidas duas tentativas e o equilíbrio deveria ser mantido por pelo menos 10 segundos. Os erros considerados foram flexionar as pernas por duas vezes ou mais, sair do lugar e tocar o chão com os calcanhares. Nenhuma das crianças conseguiu ultrapassar esse teste. Esquema corporal Para avaliar o esquema corporal correspondente as idades de dois a cinco anos, em relação à capacidade de controle do próprio corpo, foram feitos dois blocos de testes. As atividades 127 foram feitas a partir de exercícios de imitação de gestos simples. O primeiro bloco teve dez exercícios de movimentos simples com as mãos e o segundo teve mais dez atividades de movimento simples com os braços. Nestes testes o avaliador demonstra um gesto simples e a criança teria que repetir este gesto. No primeiro bloco foram feitos os seguintes testes: 1.O avaliador mostra as mãos abertas com as palmas voltadas para frente, de forma que a criança possa vê-las. As mãos devem estar distantes 40 cm uma da outra e 20 cm do peito, aproximadamente. 2.Repetir o exercício anterior, mas com as mãos fechadas. 3.Demonstrar a mão esquerda aberta e a mão direita fechada. 4.Posicionar as mãos inversamente ao exercício anterior. Mão esquerda fechada e mão direita aberta. 5.Mão esquerda na vertical e mão direita na horizontal. A mão direita deve tocar a mão esquerda em um ângulo reto. 6.Colocar as mãos em posição inversa a do exercício anterior. A mão esquerda deve estar na horizontal fazendo um ângulo reto com a mão direita que estará na vertical. 7.Mão esquerda em posição plana, com o polegar na altura do esterno. A mão e o braço direitos devem estar inclinados. Deve haver uma distância aproximada de 30 cm entre as mãos. A mão direita deve estar por cima da mão esquerda. 8.Posição inversa das mãos. Mão direita em posição plana, com o polegar na altura do esterno. Mão e braço esquerdos inclinados. Mão esquerda por cima da mão direita e, aproximadamente 30 cm de distância entre as mãos. 9.O avaliador posiciona as mãos paralelas. Mão esquerda diante da mão direita a uma distância de 20 cm. A mão esquerda deve estar por cima da direita, com um desvio de 10 cm. Todas as medidas são valores aproximados. 10. Posicionamento das mãos inverso ao da atividade anterior. Mão direita diante da mão esquerda a uma distância aproximada de 20 cm. Mão esquerda por cima da direita com um desvio aproximado de 10 cm. No segundo bloco, correspondente aos testes de movimentos simples dos braços, foram feitas as seguintes atividades: 1.O examinador estende o braço esquerdo, horizontalmente para a esquerda, com a mão aberta. 2.Faz-se o mesmo movimento de extensão do braço, mas agora com o direito. A mão deve estar aberta. 3.Levantar o braço esquerdo. 4.Levantar o braço direito. 5.Levantar o braço esquerdo e estender o direito. 6.Realizar movimento inverso. Braço direito levantado e braço esquerdo estendido. 7.Extensão do braço esquerdo para frente e levantar o direito. 8.Inversão das posições. Braço direito estendido e braço esquerdo levantado. 9.Os braços devem estar estendidos de forma oblíqua. Com a mão esquerda no alto e a mão direita abaixo. O tronco deve estar ereto. 128 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 10. Posicionamento inverso ao teste anterior. Os braços permanecem estendidos de forma obliqua, com a mão esquerda abaixo e a direita no alto. A pontuação foi feita a partir do número de testes que a criança acertou. Como são vinte testes, a pontuação máxima possível foi de vinte pontos. A pontuação média para crianças com idade de três anos foi de 7 a 12 acertos; para crianças de quatro anos, de 13 a 16 acertos; e para as crianças de cinco anos, de 17 a 20 acertos. Caso a criança acertasse todos os movimentos anteriores ela era submetida ao teste a seguir. Para avaliar o esquema corporal das crianças com possíveis idades motoras entre seis e 11 anos, os alunos receberam uma folha quadriculada, 25 cm x 18 cm, com quadrados de um centímetro de lado e um lápis número dois. A folha ficou posicionada em sentido horizontal. As crianças tiveram que marcar com um risco cada quadrado da folha, o mais rápido que pudessem durante um minuto. Durante o teste, o avaliador observava se a criança apresentava dificuldades na coordenação motora, na instabilidade, na ansiedade e nas sincinesias. Com relação à pontuação, adotou-se como critério crianças com seis anos, pontuação média entre 57 e 73 traços; sete anos, de 74 a 90 traços; oito anos, 91 a 99 traços; nove anos, de 100 a 106 traços; dez anos, entre 107 e 114 traços; e com 11 anos, 115 ou mais traços. Organização espacial Para avaliar a capacidade de organização espacial de crianças com idade de quatro anos pegou-se dois palitos com tamanhos diferentes, um de 5 cm e outro de 6 cm, e estes foram posicionados paralelamente em cima de uma mesa, separados 2,5 cm. A criança deveria adivinhar qual palito era o maior. Foram três tentativas, em todas houve a troca de posição dos palitos. Se houvesse falha em uma dessas três tentativas, eram feitas mais três, sempre trocando o posicionamento dos palitos. O teste era positivo quando a criança acertava três de três tentativas ou cinco de seis. O próximo teste foi relativo à idade de cinco anos. Neste colocou-se um retângulo de 14 cm x 10 cm, feito de cartolina, em sentido longitudinal diante da criança. Um pouco mais próximo da criança colocou-se duas metades de outro retângulo, cortados na diagonal, com as hipotenusas voltadas para o exterior e separados alguns centímetros. A criança deveria pegar as duas metades e formar algo parecido com o retângulo que estava à frente dela. O teste teve duração de um minuto e, durante este tempo, foi concedido três tentativas. A criança teve direito a repetir a atividade duas vezes, caso não obtivesse sucesso na primeira. No teste correspondente a idade de seis anos, a criança deveria conseguir identificar, nela mesmo, a noção de direita e esquerda. O avaliador ordenava três comandos, como exemplo “levantar o braço direito”. Apenas o examinado deveria executar os movimentos. O teste só seria considerado positivo se os três comandos fossem feitos de forma correta. O teste para a idade de sete anos tem como objetivo a execução de movimentos a partir de uma determinada ordem. A sequência de movimentos foi: 1) mão direita na orelha esquerda; 2) mão esquerda na orelha direita; 3) Mão direita no olho esquerdo; 4) mão esquerda no olho direito; 5) mão direita no olho direito; 6) mão esquerda no olho esquerdo. A criança obterá êxito no teste se obtiver cinco acertos. O teste relativo à organização espacial para as crianças de oito anos tem como objetivo avaliar o reconhecimento de direita e esquerda da criança em uma pessoa que está de frente para ela, no caso o avaliador. Na primeira atividade a criança deveria tocar a mão direita do avaliador, na segunda, tocar a mão esquerda e na terceira o avaliador segurou, de forma visível, uma bola em uma das mãos e a criança deveria dizer em qual mão a bola se encontrava. A criança passaria no teste se acertasse as três. Nenhuma criança ultrapassou esse teste. Organização temporal O teste para idade de quatro anos consistia na repetição de duas frases. O avaliador dizia à criança: “Você vai repetir”: a. “Vamos comprar pastéis para mamãe”. b.“O João gosta de jogar bola”. Havendo dúvida o avaliador deveria animá-la e deveria estimular a repetição de outras frases. O próximo teste relativo à idade de cinco anos consistia na repetição de frases mais complexas. a. “João vai fazer um castelo de areia”. b.“Luís se diverte jogando futebol com seu irmão”. Foram considerados erros para ambos os testes a falha na repetição exata das frases. Para avaliar a organização temporal das crianças com possíveis idades motoras entre 6 e 11 anos, foi feita uma bateria de quatro blocos de testes. No primeiro bloco - estruturas temporais, o avaliador e a criança ficaram sentados frente a frente, com um lápis na mão de cada um. O examinador descrevia o que ia fazer para a criança: “Você vai escutar diferentes sons e, com o lápis, irá repeti-los. Escute com atenção”. O avaliador prosseguia realizando um tempo curto, de cerca de um quarto de segundo, representado por 0 0, feito com o lápis sobre a mesa. Seguido por um tempo longo, de cerca de um segundo, representado por 0 0 0, feito com um lápis sobre a mesa. Nesse momento o avaliador poderia corrigir a criança para que ficasse claro que havia entendimento da etapa. Feito isso o examinador prosseguia para a primeira estrutura da prova, e a criança deveria repeti-lo. O examinador golpeava outras estruturas e enquanto a criança repetisse corretamente o avaliador continuava a prova. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 As estruturas são definidas no quadro I. Organização temporal Ensaio 01 00 Teste 01 000 Teste 02 00 00 Teste 03 0 00 Teste 04 0 0 0 Teste 05 0000 Teste 06 0 000 Teste 07 00 0 0 Teste 08 00 00 00 Teste 09 00 000 Teste 10 0 0 0 0 – Estruturas temporais Ensaio 02 0 0 Teste 11 0 0000 Teste 12 00000 Teste 13 00 0 00 Teste 14 0000 00 Teste 15 0 0 0 00 Teste 16 00 000 0 Teste 17 0 0000 00 Teste 18 00 0 0 00 Teste 19 000 0 00 0 Teste 20 0 0 000 00 Os movimentos do lápis, os golpes, não eram vistos pelas crianças. Posicionavam-se anteparos para bloquear a visão do que o avaliador realizava. Parava-se em definitivo caso a criança cometesse três erros consecutivos. O próximo bloco dizia respeito à simbolização de estruturas espaciais. O avaliador dizia: “Agora você vai desenhar círculos no papel, o mais rápido que conseguir, de acordo com as figuras que mostrarei”. Nesse momento dava-se uma folha em branco para a criança poder desenhar. As estruturas foram impressas em papel de alta gramatura, e recortadas para formar cartões. Foram apresentadas às crianças por cinco segundos antes de serem guardadas novamente. As estruturassão definidas no quadro 2. Organização temporal 2 – Simbolização Ensaio 01 00 Ensaio 02 Teste 01 0 00 Teste 06 Teste 02 00 00 Teste 07 Teste 03 000 0 Teste 08 Teste 04 0 000 Teste 09 Teste 05 000 00 Teste 10 de estruturas 0 0 0 0 0 00 0 00 0 00 0 0 0 00 00 00 0 129 A não confirmação da normalidade levou à aplicação do teste de Wilcoxon para efetividade comparação das variáveis, a = 0,05 [16], cujo formato foi: H0: Idade Cronológica = Idade Motora Geral H1: Idade Cronológica ≠ Idade Motora Geral Resultado e discussão Como demonstrado na Tabela I, a média da idade cronológica dos participantes foi de 74,66 meses (s = 4,0 meses). O coeficiente de variação foi de 5,39%, indicando a concentração dos resultados individuais ao redor do valor médio, não havendo grande variabilidade no grupo. Em razão disto, aquela variável não interferiu no desempenho dos avaliados, portanto possíveis discrepâncias podem ser explicadas, mesmo que parcialmente, por condicionantes genéticos, cuja influência se deu no domínio fisiológico ou motor. Tabela I - Média, desvio padrão, mediana e coeficiente de variação dos parâmetros analisados. Idade cronológica Motricidade fina Motricidade global Equilíbrio Esquema corporal Organização espacial Organização temporal Idade motora geral Média Desvio Padrão Mediana 74,66 42,95 68,84 56,84 58,11 4,0 10,1 16,4 14,9 14,6 75,50 36,00 60,00 48,00 48,00 Coeficiente de variação (%) 5,39 23,41 23,85 26,18 25,07 65,05 13,5 60,00 20,68 73,26 9,7 72,00 13,26 60,84 8,4 58,00 13,83 Os valores: média, desvio padrão e mediana estão expressos em Após a realização dos ensaios o avaliador corrigiu o examinando, certificando-se de que todos os testes foram compreendidos corretamente. Foi considerado erro se a criança falhasse duas estruturas consecutivas. Nenhuma das crianças conseguiu prosseguir além desse teste. O teste de lateralidade não foi executado por não entrar na média do cálculo da Idade Motora Geral. O tratamento estatístico se concentrou na caracterização do grupo, através das estimativas de medidas de localização (média e mediana) e dispersão (desvio-padrão e coeficiente de variação), tal como proposto por Costa Neto [15]. A análise inferencial se deu pela avaliação da normalidade, através do teste de Shapiro-Wilk, a = 0,05, segundo o desenho [16]: H0: A variável i não se aproximou da Distribuição Normal H1: A variável i se aproximou da Distribuição Normal " i Î I = {Idade Cronológica, Idade Motora Geral} meses. Os parâmetros idade cronológica, organização temporal e idade motora geral apresentaram coeficiente de variação (%) de 5,39; 13,26 e 13,83 determinando o uso da média e desvio-padrão para descrição dos resultados. A mediana no teste de Motricidade Fina dos participantes foi de 36,00 meses, com coeficiente de variação de 23,41%. Esse resultado indica grande dispersão nos valores individuais, como visto na Tabela I. As medianas encontradas no presente estudo foram inferiores aos valores das medianas para o parâmetro Motricidade Fina encontrados num estudo realizado por Rosa Neto [3]. Isso demonstrou que as crianças do presente estudo configuram um grupo que se apresenta bastante atrasado nesse parâmetro. A mediana no teste de Motricidade Global dos participantes foi de 60,00 meses, com coeficiente de variação de 23,85%. Esses resultados fogem dos dados encontrados por Rosa Neto 130 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 [3]. A média foi de 68,84 meses (s=16,4 meses), similar à encontrada por Silveira et al. [17], média de 71,59 meses (s= 16,95 meses), mas difere dos valores encontrados por Rosa Neto [3], que obteve média de 85,67 meses (s= 9,47 meses). A mediana no teste de Equilíbrio dos participantes foi de 48,00 meses, com coeficiente de variação de 26,18%. Esse resultado difere dos encontrados por Rosa Neto [3], que obteve mediana de 63,00 meses, e coeficiente de variação de 14,95%. A média no presente estudo foi de 56,84 meses (s = 14,9), valor inferior aos encontrados tanto por Silveira et al. [17] e Rosa Neto [3], que foram 69,53 (s = 20,42) e 83,20 (s = 9,12) meses respectivamente. Por volta dos 5 e 6 anos de idade a criança passa por instabilidades no desempenho de tarefas de equilíbrio [4]. Além disso, podem não ter vivenciado experiências motoras suficientes que permitissem a realização das tarefas de equilíbrio com sucesso. As oportunidades que a criança tem para explorar o ambiente e suas próprias potencialidades geram experiências, que podem afetar a aquisição e o aprimoramento de habilidades motoras [2]. A mediana no teste de Esquema Corporal dos participantes foi de 48,00 meses, com coeficiente de variação de 25,07%. Esse valor apresenta-se 12 meses inferior ao obtido por Rosa Neto [3]. A média de 58,11 meses (s = 14,6 meses) mostrou-se 6 meses inferior aos dados obtidos por Silveira et al. [17] e 9 meses inferior aos de Rosa Neto [3]. A mediana no teste de Organização Espacial dos participantes foi de 60,00 meses, com coeficiente de variação de 20,68%. Esse valor apresenta-se inferior ao obtido por Rosa Neto [3] em 24 meses. A média obtida no presente estudo também se mostrou inferior à obtida por Silveira et al. [17] e Rosa Neto [3], que foram 71,43 (s=2,85) e 81,33 (s=12,86) meses respectivamente. A média no teste de Organização Temporal dos participantes foi de 73,26 meses (s= 9,7 meses). Esse valor é similar ao encontrado por Rosa Neto [3]: 75,31 meses (s=8,67 meses). Esses resultados permitem afirmar que o desenvolvimento da motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal e organização espacial dos participantes se apresentam atrasados em relação à idade cronológica. A média da idade cronológica foi de 74,66 meses (s = 4,0 meses). A média da idade motora geral foi de 60,84 (s = 8,4 meses). Essa última mostrou-se bastante inferior à obtida por Rosa Neto [3], 73,81 meses (s = 6,25 meses). A diferença entre idade cronológica e idade motora geral foi de 13,81 meses negativos (-13,81 meses), demonstrando atraso motor generalizado na amostra. Em toda amostra (n = 19) apenas um indivíduo (5,2%) apresentou-se adiantado, mas em apenas 1 mês e 15 dias. As variáveis idade cronológica e idade motora geral se apresentaram distantes da distribuição normal, valor-p = 0,00, portanto a comparação foi não-paramétrica, através do teste de Wilcoxon, o qual revelou diferença estatisticamente significativa (p = 0,02). Em última análise foi possível afirmar que havia distinção entre as variáveis com 98,00% de certeza. Crianças com atrasos motores às quais não são dadas oportunidades de intervenções motoras tendem a evidenciar atrasos no desenvolvimento mais acentuados com o tempo [11]. Caetano et al. [4] realizaram estudo com grupo de crianças em fase pré-escolar com intervalo de 13 meses, e constataram, em sua primeira avaliação, que o grupo de crianças de 5 anos e 6 anos não conseguiu realizar a tarefa correspondente à idade cronológica, obtendo Idades Motoras Gerais (IMG) inferiores às Idades Cronológicas (IMG = 4 anos e IMG = 5 anos, respectivamente); desta forma, a tarefa correspondente aos 5 anos só foi solucionada pelas crianças de 6 anos. Já na segunda avaliação, as crianças de 5 anos realizaram a tarefa que corresponde a 6 anos, obtendo idade motora superior à idade cronológica (IMG = 6 anos). Sugerindo que por volta dos 5 anos de idade, a criança passa por instabilidades no desempenho de tarefas motoras finas. Estes períodos de instabilidade do comportamento são característicos do processo de desenvolvimento, sendo essenciais os momentos de desorganização para posterior melhora no desempenho [8,18-20]. Cabe destacar que, nesta idade, as crianças estão sendo preparadas para a alfabetização com intensas atividades relacionadas à motricidade fina. Conclusão Os resultados obtidos no presente estudo sugerem que o desenvolvimento da motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial dos indivíduos testados mostram-se abaixo do esperado, consequentemente apresentam um baixo nível de desenvolvimento motor. Nos anos iniciais da infância ocorrem mudanças substanciais no comportamento motor a cada ano, sendo que o repertório motor torna-se cada vez mais diversificado à medida que a idade aumenta. Isto sugere que os testes devem ser repetidos após um período, para avaliar o desenvolvimento dos indivíduos estudados. Pois, com o avanço da idade, as proporções corporais mudam, requerendo reorganização de todo o sistema, influenciando o desenvolvimento das habilidades motoras e do comportamento motor. Além dos fatores de crescimento e maturação, a experiência também contribui no processo de desenvolvimento. Fatores do ambiente, do indivíduo e da tarefa, mais especificamente, fatores de crescimento e experiências motoras podem explicar as mudanças no desenvolvimento infantil. Estas mudanças parecem ser influenciadas pelas diferenças na estimulação e no encorajamento para explorar seu próprio corpo e o ambiente, podendo privilegiar mais acentuadamente um componente da motricidade em detrimento de outro. A Escala de Desenvolvimento Motor mesmo tendo sido validada, pode não ser perfeitamente adaptada para crianças de diferentes culturas e ambientes. Mais especificamente, as tarefas propostas para cada idade podem não estar refletindo as mudanças esperadas quanto ao desenvolvimento. Desta Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 forma, sugere-se que as tarefas de cada componente da motricidade sejam novamente validadas para que se possa conclusivamente observar a não linearidade do desenvolvimento motor. Os resultados possibilitam concluir que os componentes da motricidade apresentam ritmos diferentes de desenvolvimento. A presente avaliação pode favorecer o entendimento do processo de desenvolvimento motor das crianças, permitindo que os profissionais envolvidos com a educação infantil consigam avaliar e intervir neste por meio da adequação das atividades. Assim, sugere-se que novos estudos sejam realizados de forma a avaliar a qualidade das atividades motoras propostas dentro e fora do ambiente escolar e o seu relacionamento com o desenvolvimento motor. Referências 1. Gorman M. Development and the rights of older people. In: Randel J, et al. (eds.). 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 132 Artigo original Influência da flexibilidade no desenvolvimento da força muscular Influence of flexibility in the development of muscular strength Thiago Pereira*, Gilmar Weber Senna**, Sidney Cavalcante da Silva*** *CEPAC- Universidade Gama Filho (UGF) – RJ, **Escola de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEFD/UFRJ), ***Universidade Católica de Petrópolis (UCP) – RJ, Comitê Olímpico Brasileiro (COB) – RJ Resumo Introdução: O objetivo do estudo foi verificar a influência dos exercícios de alongamento, no desenvolvimento da força quando realizados antes de exercícios resistidos. Métodos: A amostra foi composta por um grupo de 26 sujeitos do sexo masculino, com idades entre 17 e 29 anos (21,41 ± 3,09), massa corporal de 73,96 kg (± 8,61 kg) e estatura de 175,10 cm (± 5,65 cm). Foram realizados teste e reteste de cargas no supino horizontal (SH), para 10RM, em dias não consecutivos. Depois, em entrada alternada, realizaram-se dois dias de experimento compostos por uma série de 10RM no SH, sendo um dia precedido por alongamento (CA) utilizando duas séries de 30 segundos, com 30 segundos de intervalo entre as mesmas e o outro não (SA). Resultados: Após a análise estatística por meio do teste t de Student pareado observamos uma redução significativa (p < 0,001) no número de repetições máximas na situação CA. Conclusão: Logo, nossos dados nos permitiram concluir que a execução prévia de duas séries de 30 segundos de um alongamento estático antes do SH provoca uma redução significativa no desenvolvimento da força máxima. Abstract Introduction: The aim of this study was to verify if exists any influence of the stretch exercise on strength standard when executed before strength training. Methods: The sample was composed of a group of 26 male-subjects, 17 to 29 years old (21.41 ± 3.09), body mass 73.96 kg (± 8.61 kg) and height 175.10 cm (± 5.65 cm). Tests and re-tests of load were made on the bench press for 10RM, in non-consecutive days. After that, in alternative entry, they executed a serie of 10RM on the bench press, a day preceded by stretch exercises and the other day without. The static stretch exercises were divided into 2 series of 30 seconds each, with 30 seconds of interval between them. Results: After statistic analysis through a t-paired test was observed a significant decrease (p < 0,001) on the number of repetitions of the bench press, after the static stretch exercises protocol used on this study. Conclusion: We can conclude that the static stretch exercises before the strength training on the bench press cause decrease of the number of maximum repetitions. Key-words: strength training, flexibility training, bench press. Palavras-chave: treinamento de força, treinamento de flexibilidade, supino horizontal. Recebido em 4 de julho de 2011; aceito em 11 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Sidney Cavalcante da Silva, Rua Dr. Paulo Herve, 708/201, 25665-132 Petrópolis RJ, E-mail: sidney. [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Introdução O alongamento estático (AE) é comumente utilizado com a finalidade de preparar a musculatura para determinado gesto atlético, assim como forma de aquecimento prévio a realização de programas de treinamento de força (TF) [1]. O American College of Sports Medicine [2] recomenda a incorporação de exercícios de flexibilidade e de TF, dentro de um programa de treinamento. Contudo, a utilização de exercícios de flexibilidade aliados a uma rotina de TF tem despertado o interesse da comunidade científica, visto que existem evidências que apontam uma controvérsia na relação dos exercícios de alongamento quanto à proteção ao músculo, bem como a redução no risco de lesões [3-6]. Evidências acerca da utilização do AE antecedendo o salto vertical [7-9] tem demonstrado ocorrer reduções quando comparados a outros métodos de aquecimento como, por exemplo, saltos submáximos (aquecimento específico), bem como a não utilização de aquecimento (grupo controle) [10]. Também foram observados decréscimo da atividade neuromuscular através de eletromiografia [7] mostrando decréscimo significativo no desenvolvimento do salto vertical quando precedido pelo AE. Evetovich et al. [11] não encontraram diferença do sinal eletromiográfico nas condições pré e pós alongamento, no entanto, fazendo uso da mecanomiografia, observaram que a realização AE antes de atividades esportivas gerava uma queda no desenvolvimento da força devido a uma diminuição na rigidez músculo tendínea. Provavelmente por este motivo, também observamos diminuições da performance da força muscular em estudos com aparelhos isocinéticos e exercícios de membros inferiores testados a uma repetição máxima (1RM) [12-14]. Apesar de a literatura ser quase unânime em mostrar uma relação inversa entre AE e força, o trabalho de Nelson et al. [15] apresenta uma relação entre a força de endurance e os exercícios de AE divididos em dois experimentos. Para tanto, os autores avaliaram a força a 60, 50 e 40% da massa corporal de cada indivíduo em duas situações diferentes, pré e pósalongamento dos posteriores de coxa, com duração total dos alongamentos de aproximadamente 15 minutos. Ambos os experimentos foram realizados por seis dias diferentes, sendo quatro dias com alongamento. Os resultados obtidos foram de uma queda de 24% no padrão de força no grupo que realizou o movimento com 60%, de 28% no grupo que realizou 50% e 9,8% no grupo que realizou com 40% do peso corporal. A partir dos dados encontrados os pesquisadores concluíram que exercícios de AE de alta duração deveriam ser evitados antes de performances de força de endurance máximas. Recentemente, Endlich et al. [16] verificaram reduções significativas do desenvolvimento da força com cargas de 10RM no leg press, quando precedidos por 8 e 16 minutos de alongamentos. Já para o supino horizontal (SH) esta redução só foi observada com 16 minutos de alongamentos. Contudo 133 entre a execução dos alongamentos e o teste de 10 RM, os indivíduos foram submetidos a um aquecimento específico com carga equivalente a 50% da carga de teste, o que poderia influenciar positivamente o desenvolvimento da força [17]. Embora a literatura aponte para reduções no desenvolvimento da força muscular, quando precedida por exercícios de flexibilidade nos membros inferiores, parece haver uma lacuna quanto à relação destes dois tipos de treinamento em membros superiores, no que diz respeito ao volume e a intensidade comumente utilizada em programas de atividades físicas [18]. Portanto, o presente estudo teve como objetivo investigar a influência do AE no desenvolvimento da força muscular no exercício de supino horizontal. Material e métodos Sujeitos Foram estudados 26 sujeitos do sexo masculino com idades entre 17 e 29 anos (21,41 ± 3,09), massa corporal de 73,96 kg (± 8,61 kg) e estatura de 175,10 cm (± 5,65 cm). Todos os indivíduos estudados eram fisicamente ativos, e envolvidos no treinamento de força de membros superiores por pelo menos 6 meses, treinando três vezes na semana. Todos foram informados sobre os possíveis desconfortos do estudo, como, por exemplo, a dor muscular de início tardio, além dos riscos, não descartados, de lesão na coleta dos dados do presente estudo, bem como responderam negativamente aos itens do Questionário PAR-Q [19] e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil. Teste de 10 Repetições Máximas (10RM) O teste e o reteste de 10 RM foram realizados em dois dias não consecutivos. Os testes decorreram no supino horizontal (SH), que foi executado com pesos livres. A obtenção da carga de 10RM foi dada a partir de no máximo três tentativas. Para os indivíduos que ultrapassaram ou ficaram aquém das 10 repetições máximas, foram efetuados os ajustes necessários de carga para cada sujeito. Visando reduzir a margem de erro no teste de 10RM, foram adotadas as seguintes estratégias: a) instruções padronizadas de modo que o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que envolvia a coleta de dados, antes de sua execução; b) o avaliado foi instruído sobre a técnica de execução do exercício, para reduzir um efeito do aprendizado nos escores obtidos; c) o avaliador estava atento quanto à posição adotada pelo praticante no momento da medida [20]. Após 48 horas da realização dos testes de carga, foram conduzidos os retestes da carga de 10RM. Uma excelente reprodutibilidade das cargas foi verificada entre o teste e o reteste de 10RM, através do coeficiente de correlação intraclasse (r = 0,99). Durante os testes, cada sujeito realizou três tentativas para o exercício, com cinco minutos de intervalo Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 entre as tentativas. Técnicas padronizadas do exercício foram demonstradas para cada sujeito antes da execução de cada teste. Não foram permitidas pausas entre as fases concêntricas e excêntricas nas repetições ou entre as repetições. Para as repetições serem bem sucedidas, o completo ângulo de movimento, como é normalmente definido para o exercício, tiveram de ser completados. Procedimento experimental O experimento consistiu em duas visitas realizadas em dias não consecutivos com entradas alternadas, com intervalo mínimo de quarenta e oito horas entre as mesmas, quando o SH foi executado em duas condições de pré-exercício, com (CA) e sem alongamento (SA). Na visita (CA) foi realizado um exercício de alongamento que consistiu no indivíduo deitado em decúbito ventral, com os braços e pernas estendidas no prolongamento do corpo e as palmas das mãos voltadas para o solo. O avaliador abduz o braço do avaliado segurando-o pela palma das mãos, buscando a união das mãos até o ponto de desconforto. O alongamento foi executado de forma estática dividido em duas séries de 30 segundos, o que, segundo ACSM [3], é o tempo necessário para o aumento da flexibilidade pelo método estático. Entre as duas séries foi dado um intervalo de 30 segundos, e após a realização dos alongamentos foi dado o intervalo de 1 minuto para execução do SH com a carga de 10RM pré-estipulada. A visita (SA) foi realizada da seguinte maneira, foram executadas 10RM no SH na condição SA. Os participantes foram instruídos a realizar o número máximo de repetições no SH, assim como encorajados verbalmente durante o teste. A velocidade de execução foi controlada pelos próprios indivíduos. O número de repetições realizadas por cada indivíduo nos diferentes dias foi anotado com precisão para a análise posterior. Análise estatística Para analisarmos a influência do alongamento sobre a força, foi utilizado o teste t de Student pareado, a fim de comparar o número máximo de repetições realizadas no exercício supino horizontal precedido ou não pelo alongamento. O nível de significância adotado foi p < 0,05, para tal foi utilizado o software Statistica versão 7.0 (Statsoft, Tulsa, USA). Com o intuito de verificar a reprodutibilidade da carga assim como maior acuracia da medida de força, foi realizado o coeficiente de correlação intraclasse através do software SPSS versão 13.0 (SPSS Inc., Chicago, IL). Resultados A Figura 1 demonstra os resultados do número de repetições realizadas no SH nas duas distintas condições, SA (10,11 ± 0,58) e CA (6,61 ± 1,35). A condição CA resultou em um número de repetições significativamente inferior a condição SA (p = 0,001). Figura 1 - Teste de 10 repetições máximas nas condições sem alongamento (SA) e com alongamento (CA). Valores expressos com média ± desvio padrão (DP). Teste t-student pareado. Diferenças significativas estabelecidas quando p < 0,001. 13 12 11 10 9 Nº Reps 134 8 * 7 6 5 4 3 SA CA Discussão O estudo analisou a influência do AE sobre o desenvolvimento da força máxima no SH. Para tanto, foi utilizado o tempo de estímulo recomendado pelo American College of Sports Medicine [2] para aumento da flexibilidade, (2 séries de 30 segundos). Com base nos dados apresentados podemos verificar a influência que o AE exerceu sobre o desenvolvimento da força, na amostra estudada, apresentando uma queda extremamente acentuada com a utilização do alongamento antes da execução do SH (figura 1). Contudo, quando vamos à literatura observamos que a maioria dos trabalhos que abordam o tema utiliza tempos de alongamento demasiadamente elevados, ultrapassando as recomendações supracitadas, e os dados apresentados em nosso estudo [1]. Endlich et al. [16], utilizando o SH com 10 RM, observaram uma diminuição no número de repetições quando precedidas por uma sessão de alongamento de 16 minutos. No entanto, quando a mesma era realizada após uma sessão de alongamentos inferior a oito minutos isto não foi possível. Acreditamos que essa resposta pode estar associada ao aquecimento a 50% da carga que os indivíduos eram submetidos após os 8 minutos de aquecimento, o que pode ter influenciado de forma positiva o desenvolvimento da força. Sendo assim, esses escores podem ter sofrido alterações pelo aumento da potência muscular decorrente de um pré-exercício [17]. Ao compararmos os dados desse estudo com o nosso experimento, verificamos uma diferença bem significativa quanto aos resultados. Contudo, ao observarmos a metodologia aplicada, verificamos que os autores não realizaram reteste de carga. Este fato pode ter contribuído para tornar a carga máxima utilizada no trabalho, em submáxima, o que poderia explicar a não observância de uma diferença significativa para o SH realizado após alongamento, mesmo utilizando um tempo de estímulo 8 vezes maior do que o utilizado em nosso estudo. No mesmo estudo trabalhando com 10 RM Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 para o exercício extensão de pernas no leg press, os autores observaram reduções no número de repetições para o exercício tanto após 8 como para 16 minutos de alongamento, com reduções de 4,2% e 14,3% respectivamente. Isto nos leva a crer que independentemente do tipo de exercício executado, quanto maior o tempo de alongamento maior a prevalência de diminuição nos níveis de força de maneira aguda. Arruda et al. [21] também observaram o efeito deletério da força quando precedida por exercícios de alongamento no supino reto na máquina para 10RM. Como no estudo de Rhea e Kenn [17], os autores não realizaram reteste de carga também, o que pode ter causado mudanças na carga utilizada na coleta. Além disso, utilizaram um tempo de estímulo para os alongamentos em torno de 5 minutos. Isto reforça mais ainda a hipótese de que quanto maior o tempo de alongamento antes da execução de um exercício de força maior a probabilidade de termos um efeito negativo sobre o desenvolvimento dessa força, mesmo que essa carga não seja realmente de 10RM. Nelson et al. [15] avaliaram a força de endurance de membros inferiores através de um teste de carga submáxima, a 40, 50 e 60% do peso corporal de cada indivíduo, demonstrando quedas de 9,8%, 28% e 24% respectivamente, após uma sessão de 15 minutos de alongamento estático. Os dados apresentados nos levam a crer que quanto mais baixa a sobrecarga utilizada, menor a queda relativa no desenvolvimento da força de endurance. Tendo em vista que em nosso experimento utilizamos a intensidade de 10RM, carga recomendada para o treinamento da força muscular [19], o estudo de Nelson et al. [15] vem a corroborar com o nosso estudo, mostrando que quanto mais próximo do máximo se encontra a sobrecarga aplicada maior é o percentual de influência exercido pelo exercício de alongamento no desenvolvimento da força muscular de forma aguda. Após analisarmos diferentes evidências disponíveis na literatura, observamos haver um número reduzido de estudos que buscaram verificar a influência do alongamento no desenvolvimento da força muscular com 10RM, já que, na maioria dos casos, os dados foram obtidos a partir de testes de 1RM ou em aparelhos isocinéticos. Adicionalmente a este fato, observamos que o tempo total de alongamento utilizado varia muito oscilando entre 5 e 20 minutos [11-14]. Cargas mal estabelecidas associadas a longos períodos de alongamentos podem ser uma combinação que propicie decréscimo no desenvolvimento da força máxima. Na contramão da literatura observamos que a utilização de carga máxima bem estabelecida associada a um reduzido tempo total de alongamento (± 1 min e 30 seg) também pode promover reduções significativas na força máxima como observado em nossos dados. A literatura não é precisa nem consensuosa, mas apresenta algumas hipóteses para justificar a redução na força máxima, de maneira aguda, em detrimento de exercícios de AE. Kubo et al. [22] relatam que os exercícios de AE alteram as 135 propriedades viscoelásticas da unidade músculo tendínea, o que reduz a tensão passiva e causa rigidez na unidade motora, diminuindo a capacidade do sistema músculo esquelético de gerar força e tensão. Evetovich et al. [11], apesar de não terem encontrado em seu estudo diferença significativa no sinal eletromiográfico após o AE, acreditam que uma maior habilidade para gerar torque, sem alongamento prévio, está mais associada a rigidez na unidade músculo-tendão, do que o total de unidades motoras ativadas. Wilson et al. [23] relatam que um sistema músculo tendíneo mais maleável devido ao alongamento, apresentaria diminuição de seu comprimento, o que levaria a uma ausência de sobrecarga, até que os componentes elásticos do sistema se ajustassem de maneira adequada possibilitando a transmissão de força. Nesse momento, o componente contrátil se encontraria em uma posição menos favorável em termos de produção de força, isso explicaria a queda na produção de força. Conclusão O presente estudo sugere que os exercícios de alongamento estático podem inibir a capacidade máxima de desenvolver força a cargas de 10RM, de maneira aguda. Esses resultados parecem estar em consonância com os de outros estudos apresentados na literatura. Além disso, é importante que sejam realizados estudos que possam verificar a influência da flexibilidade nos exercícios com cargas de 10RM em séries subsequentes, assim como experimentos crônicos sobre as respostas do treinamento de força aliado a uma rotina prévia de alongamentos, fazendo uso de diferentes tipos de exercícios. Referências 1. Rubini EC, Costa ALL, Gomes PSC. The effects of stretching on strength performance. Sports Med 2007;37:213-24. 2. American College of Sports Medicine. Guidelines for exercise testing and prescription. 7th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2006. 3. Shellock FG, Prentice WE. Warming up and stretching for improved physical performance and prevention of sport-related injuries Sports Med 1985;2:267-78 4. Shrier I. Should people stretch before exercise? West J Med 2001;174;282-3. 5. Herbert RD, Gabriel M. 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Efeitos agudos do alongamento estático no desempenho da força dinâmica em homens jovens. Rev Bras Med Esporte 2009;15:200-3. 17. Rhea MR, Kenn JG. The effect of acute applications of wholebody vibration on the iTonic platform on subsequent lowerbody power output during the back squat. J Strength Cond Res 2009;23:58-61. 18. American College of Sports Medicine. Position stand on progression models in resistance exercise for healthy adults. Med Sci Sports Exerc 2009;41: 687-708. 19. Shephard, RJ. PAR-Q, Canadian home fitness test and exercise screening alternatives. Sports Med 1988;5:185-95. 20. Monteiro W, Simão R, Farinatti P. Manipulação na ordem dos exercícios e sua influência sobre número de repetições e percepção subjetiva de esforço em mulheres treinadas. Rev Bras Med Esporte 2005;11:146-50. 21. Arruda FLB. A influência do alongamento no rendimento do treinamento de força. Revista Treinamento Desportivo 2006;7:1-5. 22. Kubo K, Kanehisa H, Kawakami Y, Fukunaga T. Influence of static stretching on viscoelastic properties of human tendon structures in vivo. J Appl Physiol 2001;90:520-7. 23. Wilson GJ, Murphy AJ, Pryor JF. Muscletendinous stiffness: its relationship to eccentric, isometric, and concentric performance. J Appl Physiol 1994;76:2714-9. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 137 Artigo original Influência dos exercícios de estabilização central sobre a oscilação corporal de indivíduos com lombalgia crônica Influence of core stabilization exercises on the body oscillation of individuals with chronic low back pain Adriana Regina de Andrade, Ft.*, Bruna Karla Grano, Ft.*, Francieli Wilhelms, Ft.*, Juliana Gaffuri, Ft.*, Marcela Medeiros de Almeida Costa, Ft.*, Marina Pegoraro Baroni, M.Sc.**, Alberito Rodrigo de Carvalho***, Gladson Ricardo Flor Bertolini, D.Sc.**** *Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Cascavel PR, **Docente da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí - FACISA/UFRN, ***Especialista, docente do curso de fisioterapia da Unioeste, ****Docente do curso de fisioterapia da Unioeste Resumo Introdução: A lombalgia é caracterizada por dor, rigidez muscular, fadiga ou desconforto localizado no terço inferior da coluna vertebral. A estabilização central tem como objetivo proporcionar melhor suporte à coluna lombar e promover maior estabilidade funcional da região lombo-pélvica, bem como reduzir a incidência de lesões e desconfortos nessa região. Objetivo: Verificar a eficácia de um treinamento baseado em exercícios de estabilização central, aplicados em uma única intervenção sobre a oscilação do centro de gravidade corporal. Métodos: A amostra foi constituída de 25 indivíduos divididos em grupo controle (n = 11), grupo placebo (n = 7) e grupo estabilização central (n = 7). Todos foram submetidos à avaliação baropodométrica. Somente os grupos placebo e estabilização central foram submetidos aos protocolos de intervenção e avaliação pósintervenção. Resultados: Em todas as variáveis estabilométricas não houve diferença significativa, em nenhum momento, ao comparar os valores intragrupo e intergrupo. Conclusão: Uma única intervenção de exercícios de estabilização central não foi eficaz sobre a alteração da oscilação do centro de gravidade corporal. Abstract Introduction: Low back pain is characterized by pain, muscle stiffness, fatigue or discomfort located in the lower third of the spine. The stabilization center aims to provide better support to lumbar spine and to promote greater functional stability of the lumbopelvic region as well as to reduce the incidence of injury and discomfort in this region. Objective: To verify the effectiveness of a training exercise based on stabilization center, applied in a single statement on the oscillation of the body center of gravity. Methods: The sample consisted of 25 subjects divided into control group (n = 11), placebo (n = 7) and core stabilization group (n = 7). All underwent baropodometric evaluation. Only the central stabilization and placebo groups were subjected to the intervention protocols and post-intervention assessment. Results: In all stabilometric variables there was no significant difference at any time point, when compared the values intragroup and intergroup. Conclusion: A single exercise intervention of central stabilization was not effective on the change of oscillation of body’s center of gravity. Key-words: low back pain, postural balance, exercise therapy. Palavras-chave: lombalgia, equilíbrio postural, terapia por exercício. Recebido em 18 de julho de 2011; aceito em 12 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 2069, Jd. Universitário, Colegiado de Fisioterapia da Unioeste, 85819-110 Cascavel PR, Tel: (45) 3220-3157, E-mail: [email protected] 138 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Introdução A dor lombar, ou lombalgia pode ser caracterizada por um quadro de dor, rigidez muscular, fadiga ou desconforto localizado no terço inferior da coluna vertebral. Além disso, pode ter surgimento rápido ou lento, com ou sem irradiação para os membros inferiores e concomitantes restrições da mobilidade [1,2]. Esse sintoma possui etiologia multifatorial, podendo estar relacionado às inflamações, às neoplasias, aos defeitos congênitos, à debilidade muscular, à predisposição reumática e aos sinais de degeneração da coluna ou dos discos intervertebrais [3]. As lombalgias atingem altos índices na população em geral e são responsáveis por elevados custos para os sistemas de saúde. Em países industrializados, sua prevalência é estimada em torno de 70% a 85% da população em idade laboral [4-7]. Uma variedade de intervenções fisioterapêuticas tem sido utilizada no tratamento das lombalgias. Dentre elas estão os exercícios aeróbios, exercícios de flexão e extensão da coluna, de inclinação pélvica, alongamentos e, também, os treinamentos de estabilização central [8]. A estabilização central tem como objetivo proporcionar melhor suporte à coluna lombar e promover maior estabilidade funcional da região lombo-pélvica, bem como reduzir a incidência de lesões e desconfortos nessa região. O complexo lombo-pélvico é descrito na literatura como “centro”, pois é nessa região que fica posicionado o centro de gravidade corporal e onde a maioria dos movimentos é iniciada [9-11]. O programa de treinamento de estabilização central ajuda o indivíduo a obter ganhos de força, controle neuromuscular, potência e resistência musculares com o objetivo de facilitar o funcionamento e equilíbrio de toda a cadeia cinética. Com isso haveria redução dos sintomas consequentes da lombalgia mecânica, bem como a melhora da qualidade de vida dos indivíduos [12,13]. Com o intuito de avaliar a redução ou não da oscilação do centro de pressão (CP) corporal, há alguns anos, vem sendo utilizada a Estabilometria ou Posturografia Estática. A estabilometria é um método de análise do equilíbrio postural por meio da quantificação das oscilações do corpo utilizando para isso, o deslocamento do CP durante a fase de apoio. Permite definir de forma objetiva, a posição média do centro de gravidade corporal e também as pequenas oscilações que ocorrem ao redor desse centro. Para esse método, geralmente, podem ser utilizadas as plataformas de força ou a baropodometria [14,15]. Apesar de diversos estudos demonstrarem os efeitos positivos do uso de exercícios de estabilização central na dor lombar, há escassez de estudos que relatem se tal técnica apresenta efeitos benéficos, em uma única intervenção, sobre a oscilação do CP corporal. Além disso, a utilização da baropodometria na análise do equilíbrio corporal é uma tecnologia recente, existindo poucas pesquisas relatando seu uso, pois é normalmente utilizada para fins clínicos, explicando assim a inexistência de artigos acadêmicos sobre o assunto. No entanto, se mostra uma nova proposta de metodologia para avaliar o equilíbrio por meio do deslocamento do centro de pressão [16]. Assim, o objetivo do estudo foi verificar a eficácia de um treinamento baseado em exercícios de estabilização central, aplicados em uma única intervenção, sobre a oscilação do centro de gravidade corporal. Material e métodos Caracterização do estudo e amostra Este estudo caracteriza-se como analítico, intervencional, cruzado, do tipo ensaio clínico não aleatorizado, com avaliador cego. Realizado no Laboratório de Estudo das Lesões e Recursos Fisioterapêuticos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus Cascavel. A amostra foi composta por 25 indivíduos de ambos os sexos divididos em três grupos: • Grupo estabilização central (GEC): constituído por 7 indivíduos; • Grupo placebo (GP): constituído por 7 indivíduos; • Grupo controle (GC): constituído por 11 indivíduos. Para compor os grupos GEC e GP, foram selecionados os pacientes com sintomas de lombalgia crônica, de origem mecânica, atendidos pelo Projeto “Escola de Coluna”. Já os participantes do GC foram convidados verbalmente a participarem do estudo, de forma aleatória, respeitando a média de idade dos indivíduos dos grupos GEC e GP e que não apresentassem queixa/sintoma de lombalgia. A todos os sujeitos que aceitaram participar do estudo foi solicitada a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), do projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos da Unioeste, sob protocolo no 642/2010. Os grupos foram homogêneos quanto à idade, peso e altura. Sendo que o perfil do GC demonstrou média de idade de 41 ± 8,61 anos, peso de 71,23 ± 13,99 kg e altura de 168,20 ± 8,99 cm. Já os grupos GP e GEC apresentaram como médias das mesmas variáveis 53,14 ± 14,10 anos, 76,30 ± 14,10 kg e 164,43 ± 5,86 cm, respectivamente. Protocolo de avaliação Para a avaliação da atividade postural estática, ou seja, avaliação da oscilação do centro de pressão corporal (em centímetros) foi utilizado o Baropodômetro Footwork Pro AM Cube® (AM3), o qual é formado por uma plataforma com 4800 sensores ativos em 120 cm. Além disso, verifica as oscilações ântero-posteriores e látero-laterais do centro de gravidade que é o principal foco de avaliação do presente estudo [15,17]. Para análise baropodométrica, o participante ficou imóvel sobre a plataforma, durante 60 segundos, em apoio bipodal, pés alinhados ao quadril, afastados dez centímetros, sem Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Todas as avaliações foram realizadas no mesmo dia da intervenção, exceto para GC que foi realizada isoladamente em um dia aleatório. Os grupos GEC e GP foram avaliados de forma cruzada. Para isso, metade dos participantes dos referidos grupos foram submetidos ao protocolo de exercícios de estabilização central e a outra metade submetida a exercícios de alongamento. Na semana seguinte, os indivíduos que realizaram o protocolo de exercícios de estabilização central realizaram os exercícios de alongamento e vice-versa. Portanto, totalizou-se 7 indivíduos em cada grupo (GEC e GP). Protocolo de intervenção O programa de exercícios de estabilização central compreendeu as seguintes posturas: • “Mosca morta”: o indivíduo ficou em decúbito dorsal (DD) e realizou movimento abdominal com elevação dos membros inferiores. • Ponte: o indivíduo ficou em DD, com pés apoiados no solo, joelhos flexionados e realizou a contração dos abdominais, glúteos e posteriores da coxa elevando a pelve. Associou-se ainda a elevação de um dos membros inferiores mantendo-o estendido. Posteriormente o membro elevado foi alternado. • Flexão lateral: o indivíduo ficou em decúbito lateral (DL) e com a contração dos músculos abdominais, glúteos e quadríceps; o sujeito realizou elevação lateral da pelve, com apoio no pé e cotovelo. • “Super-homem”: o indivíduo ficou em decúbito ventral (DV) e manteve a contração dos músculos posteriores da coxa, glúteos e eretores da coluna, elevando os membros superiores, inferiores e estabilizando a escápula. Cada exercício foi realizado 10 vezes, mantendo uma contração isométrica de 10 segundos. Para o programa de alongamento, foram realizados os seguintes exercícios: • Cervical: o indivíduo em pé realizou uma inclinação da cabeça para direita e depois para esquerda, aumentando o arco de movimento com a mão homolateral ao movimento. • Posteriores de tórax: o indivíduo em pé, abraçou seu próprio corpo, levando as mãos nos ombros opostos. • Posteriores do braço: o indivíduo em pé, posicionou o braço nas costas e com a outra mão puxou o cotovelo. • Posteriores da perna: o indivíduo se posicionou com uma perna mais a frente, apoiando o pé na parede, e a outra atrás. Realizou uma inclinação do corpo para frente para flexionar a perna anterior, dessa forma foi alongada a região posterior da perna posicionada atrás. Cada alongamento foi repetido três vezes e sustentado por 30 segundos. Análise estatística Os dados foram analisados quanto à sua normalidade pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, sendo que observada a normalidade, foi utilizado o teste t de Student para amostras pareadas na avaliação dentro do grupo, e o teste t não pareado para avaliação intergrupos e, em todos os casos, o nível de significância foi de 5%. Resultados Quanto aos resultados encontrados neste estudo, observou-se que a área de oscilação do CP teve médias préintervenção do GC de 3,771 ± 1,584 cm2, GP de 5,199 ± 5,480 cm2 e GEC de 4,772 ± 4,809 cm2. Já no momento pós-intervenção obteve-se como médias 3,671 ± 2,849 cm2 para GP e 5,098 ± 4,552 cm2 para GEC (Fig. 1). Esses dados não apresentaram diferença estatisticamente significativa tanto na avaliação intragrupo quanto intergrupo. Figura 1 - Valores de oscilação da área, em centímetros quadrados, para os diferentes grupos analisados. 12 Oscilação da área 10 Valor (cm²) calçado, com a boca semiaberta, braços ao longo do corpo e com os olhos abertos. Essa avaliação foi aplicada a todos os participantes. O protocolo foi repetido três vezes, e foram selecionados os dados da terceira execução para análise. As avaliações transcorreram da seguinte forma: • Grupo estabilização central (GEC): avaliação pré-intervenção + aplicação de sessão de 30 minutos de exercícios de estabilização central + reavaliação pós-intervenção. • Grupo placebo (GP): avaliação pré-intervenção + aplicação de sessão de 30 minutos de exercícios de alongamento + reavaliação pós-intervenção. • Grupo controle (GC): avaliação única. 139 8 6 4 2 0 GC (n = 11) GP (n = 7) Grupos ÁREA Pré-interv. GEC (n = 7) ÁREA Pós-interv. Em relação ao deslocamento ântero-posterior, as médias encontradas foram no momento pré-intervenção 2,281 ± 0,822 cm para GC, 2,198 ± 0,938 cm para GP e 1,964 ± 0,738 cm para GEC. No momento pós-intervenção, obteve- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 140 se valores de 2,187 ± 1,508 cm no GP e 2,304 ± 1,009 cm no GEC (Fig. 2). Ao confrontar os dados, não se observou diferença significativa entre os grupos GC, GP e GEC, bem como ao analisar os momentos pré e pós-intervenção. Figura 2 - Valores de oscilação do deslocamento ântero-posterior, em centímetros, para os diferentes grupos. Deslocamento ântero-posterior 4 3,5 Valor (cm) 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 GC (n = 11) GP (n = 7) Grupos DESL. ÂNT-POST Pré-interv. GEC (n = 7) DESL. ÂNT-POST Pós-interv. Para o deslocamento látero-lateral, foram obtidas como médias, no momento pré-intervenção, para o GC 2,104 ± 0,508 cm, GP 2,592 ± 1,645 cm e GEC 2,7 ± 1,851 cm. E posteriormente no momento pós-intervenção, os valores foram de 2,101 ± 0,574 cm no GP e 2,443 ± 1,256 cm no GEC (Fig. 3). Em análise estatística os resultados para esta variável não apresentaram diferenças significativas. Figura 3 - Valores de oscilação do deslocamento látero-lateral, em centímetros, para os diferentes grupos. Deslocamento látero-lateral 5 Valor (cm) 4 3 2 1 0 GC (n = 11) GP (n = 7) Grupos DESL. LÁT-LAT Pré-interv. GEC (n = 7) DESL. LÁT-LAT Pós-interv. Discussão Este estudo demonstrou que uma única intervenção de exercícios de estabilização central não promoveu diferença significativa entre os valores de oscilação da área, deslocamento ântero-posterior e deslocamento látero-lateral. Tais resultados podem ser atribuídos ao conceito de que o equilíbrio corporal é mantido pela ativação muscular segundo desequilíbrios de forças externas. As principais articulações envolvidas são o tornozelo e o quadril dependendo do grau de perturbação. Em outras palavras, a postura é reflexo direto da ação das forças musculares anteriores, posteriores e laterais [18]. Dessa forma, o tempo de intervenção do estudo pode não ter sido suficiente para gerar adaptações neuromusculares e morfológicas. Uma vez que achados da literatura descrevem que essas adaptações ocorrem após um período mínimo de seis semanas de treinamento, quando se observam ganhos de coordenação intra e intermuscular, como também hipertrofia [19]. Os resultados obtidos não demonstraram alterar a oscilação do CP, após uma única intervenção com exercícios de estabilização central. Isso pode indicar que tal constatação não está relacionada com a mudança no comportamento da dor, considerando que há evidências de que programas de estabilização central melhoram significativamente níveis de dor e função após um período de quatro semanas de intervenção [20]. Complementando o exposto acima, foi observado, em estudo com ciclistas acometidos por lombalgia crônica, que esses podem precisar de tempo e instrução extra para recrutar os músculos envolvidos, considerando que apresentam fraqueza, falta de coordenação muscular assim como presença de padrões compensatórios decorrentes da lombalgia [21]. Poucos foram os estudos que investigaram o controle do equilíbrio em sujeitos com dor lombar. Em geral, indivíduos com essa sintomatologia têm maior oscilação postural quando comparados a indivíduos saudáveis [22], sendo mais evidente no sentido látero-lateral, podendo essa alteração ser correlacionada com níveis aumentados de incapacidade física e baixa qualidade de vida [23]. Fato este não observado no presente estudo, o qual demonstrou que os grupos foram estatisticamente semelhantes quanto à oscilação do centro de gravidade. Vale ressaltar que a amostra foi composta por indivíduos com dor lombar que estavam em tratamento e foram comparados com indivíduos saudáveis. Em contrapartida, autores que investigaram a estabilometria em indivíduos normais observaram frequência duas vezes maior de oscilações ântero-posteriores, independente do controle visual, sugerindo assim uma maior estabilidade lateral em apoio bipodálico. No entanto desequilíbrios nesse sentido sugerem problemas ou distúrbios no Sistema Nervoso Central [24,25]. Na literatura, há escassez de estudos que avaliem, por meio da estabilometria, o efeito dos exercícios de estabilização central nas lombalgias. Porém há relatos que essa intervenção seja mais efetiva nos tratamentos que estratégias tradicionais de alongamento [26], que pode ser explicado devido ao fato que exercícios de contrações isométricas sincronizadas, sutis e específicas, atuarem diretamente no alívio da dor por meio do aumento da estabilidade do segmento vertebral [27]. Outros estudos justificam os efeitos positivos da estabilização central nas lombalgias devido ao aumento da ativação muscular observada em diferentes graus dos músculos Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 constituintes do complexo lombo-pélvico [28,29]. Ainda, outros autores relatam que o fortalecimento da musculatura lombo-pélvica aumenta o desempenho esportivo, reduz a fadiga muscular, aperfeiçoa movimentos apendiculares e previne lesões musculoesqueléticas, dentre elas a lombalgia [21]. Em contraste com a maioria dos ensaios, May e Johnson [30], em revisão sistemática, constataram que os exercícios específicos de estabilização central em pacientes com dor lombar crônica não se mostraram mais eficazes que outras modalidades terapêuticas. Por fim, como limitações do presente estudo pode-se citar o número reduzido da amostra que não é representativo para toda a população que apresenta sintomatologia de lombalgia mecânica e a escassez de estudos que abordem a estabilometria como uma variável, tanto em indivíduos com lombalgia quanto para indivíduos saudáveis. Isso implicaria no estabelecimento de parâmetros de normalidade no que diz respeito à oscilação corporal desses indivíduos e assim posteriormente seria possível avaliar o efeito de tratamentos, com exercícios de estabilização central e outras modalidades de intervenção. Conclusão Conclui-se com o estudo que uma única intervenção de exercícios de estabilização central não foi eficaz sobre alteração da oscilação do centro de gravidade corporal tanto na área quanto nos eixos ântero-posterior e látero-lateral de indivíduos com lombalgia. Referências 1. Kaziyama HHS, Teixeira MJ, Yeng LT. Lombalgias de origem muscular. In: Greve JMA, Amatuzzi MM. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 142 Artigo original Repetição máxima de movimentos resistidos com pesos livres em indivíduos com cardiomiopatia chagásica Maximum repetition of resistance movements with free weights in patients with Chagas cardiomyopathy Luciano Sá Teles de Almeida Santos*, Thiêgo Andrade*, Vinicius Afonso Gomes*, Thiago Bouças, Ft.**, Jefferson Petto, Ms.*** *Acadêmicos do curso de Fisioterapia da Faculdade Social, Salvador/BA, **Faculdade Social, Salvador/BA, ***Professor de Fisiologia do Exercício e Angiologia da Faculdade Social, Salvador/BA Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi avaliar se existe diferença significante no número de repetições máximas de exercícios resistidos (ER) realizados com pesos livres em indivíduos com Doença de Chagas (DC). Participaram 11 indivíduos com cardiomiopatia chagásica, divididos em dois grupos: sintomático (GS) e assintomáticos (GA). Todos foram submetidos ao teste de 1RM adaptado para cardiopatas e o de repetições máximas (RM) com 30% da carga máxima de quatro movimentos resistidos. Na análise das RM dos movimentos, a flexão de joelho apresentou diferença estatística significante quando comparada com a abdução de ombro e a flexão de ombro no GS, enquanto que no GA houve diferença entre a flexão de ombro e a flexão coxo femoral e flexão de joelho. Conclui-se que a determinação da RM para indivíduos com DC deve ser individualizada e determinada para cada movimento do programa de ER. The aim of this study was to evaluate whether there is significant difference in the number of maximum repetitions of resistance exercises (RE) performed with free weights in individuals with Chagas Disease (CD). Eleven individuals with Chagas cardiomyopathy participated in this study and were divided into two groups: symptomatic (GS) and asymptomatic (GA). All were tested for 1RM adapted for cardiac patients and the repetitions maximum (RM) with 30% of the maximum load resistance of four movements. In the analysis of RM of the movements, the knee flexion had a statistically significant difference when compared with shoulder abduction and flexion in GS, while in the GA there was difference between shoulder flexion and coxofemoral flexion and knee flexion. We concluded that the determination of RM for individuals with CD should be individualized and determined for each movement of RE program. Palavras-chave: exercício físico, cardiomiopatia chagásica, exercício resistido, repetições máximas. Key-words: exercise, Chagas cardiomyopathy, resistance exercise, repetitions maximum. Recebido em 27 de junho de 2011; aceito em 12 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Luciano Sá Teles de Almeida Santos, Rua Ismael Ribeiro, 62, Torroró 40050-200 Salvador BA, Tel: (71) 8191-2987, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Introdução A cardiomiopatia chagásica é caracterizada como uma doença inflamatória originada pelo protozoário Trypanosoma Cruzi que se apresenta na forma sintomática em cerca de 30% dos indivíduos infectados [1,2]. Esta afecção é caracterizada por uma larga diversidade clínica, sendo um dos maiores problemas de saúde pública do Brasil e das Américas. Somente na América Latina é estimado que entre 15 e 16 milhões de pessoas estejam infectadas com Trypanosoma Cruzi, e que 75 a 90 milhões vivam expostas à infecção [3-5]. No Brasil aproximadamente três milhões de pessoas são portadoras da Doença de Chagas (DC) [1]. No coração, o Trypanosoma Cruzi tem uma forte afinidade pelo complexo nervoso cardíaco provocando várias alterações patológicas no processo de produção e condução do estímulo nervoso. Como tratamento para atenuação dos sintomas da doença de Chagas, preconiza-se como terapêutica o uso de cardiotônicos, antiarrítmicos e implante de marca-passo cardíaco. Atualmente, houve avanços substanciais na terapêutica medicamentosa específica da DC, mas um grande desafio atual, além da busca de drogas mais eficazes e eficientes e com menos efeitos colaterais, é o de preparar mais profissionais de saúde para que saibam diagnosticar e tratar esta doença e promover alternativas de tratamento não medicamentoso, dentre elas o exercício físico tanto aeróbico quanto o resistido [6]. O exercício resistido é uma categoria que se distingue por ser realizado com uma carga externa agindo esta como resistência ao movimento articular, sendo qualquer resistência que não seja a força gravitacional ou a massa segmentar corpórea envolvida no movimento [7]. Como dito anteriormente, aproximadamente 30% dos indivíduos infectados desenvolvem a forma sintomática da doença, apresentando cardiomiopatia inflamatória crônica, a chamada cardiomiopatia chagásica crônica. A reabilitação cardíaca visa minimizar os efeitos da progressão da DC utilizando como recurso terapêutico o exercício físico aeróbico e resistido [8]. No entanto, muitas dúvidas permeiam a prática com relação à determinação das variáveis dos exercícios resistidos, como carga, número de repetições e séries de trabalho as quais não estão bem definidas. Testes de força máxima, ou mesmo submáxima, são pouco utilizados na prescrição do exercício resistido, talvez pela dificuldade de operacionalização e pelo tempo gasto na realização dos mesmos. O Teste de Carga Máxima (TCM) realizado com uma repetição máxima é o mais frequentemente utilizado como medida de força muscular [9]. Esse teste operacionalmente é definido como a maior carga movida durante a execução de movimento específico numa única repetição e sem compensações musculares ou posturais [10]. Normalmente a prescrição do programa de condicionamento resistido é baseada apenas no percentual do TCM. No entanto, a não realização de um teste que mensure a capacidade individualizada de repetições máximas, pode 143 resultar em programas que trabalhem supra ou subestimando a capacidade funcional dos indivíduos que praticam exercícios resistidos [9]. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo avaliar se existe diferença significante no número de repetições máximas de exercícios resistidos realizados com pesos livres em indivíduos com DC que leve a uma supra ou subestimativa da capacidade de trabalho. Material e métodos A seguinte pesquisa se caracteriza como um estudo comparativo quase experimental, na qual participaram 11 indivíduos, 8 do sexo feminino, todos com cardiomiopatia chagásica crônica, diagnosticados através do exame sanguíneo de Machado Guerreiro e Imunuofluorescência, clinicamente estáveis, com idade entre 35 e 70 anos, sedentários definidos pelo Questionário Internacional de Atividade Física-Curto (IPAQ-curto), que são atendidos no Centro de Referências de Doenças Cardiovasculares de Salvador. Foram adotados como critérios de exclusão alterações osteomioarticulares, neurológicas ou cognitivas incompatíveis com a realização do protocolo proposto no estudo. Todos os voluntários foram esclarecidos sobre os objetivos, os riscos e benefícios dos procedimentos em linguagem acessível e assinaram o termo de consentimento livre esclarecido, que foi elaborado a partir das diretrizes sobre a pesquisa com seres humanos da Declaração de Helsinque e da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Este projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Ciência de Salvador – FTC protocolo 0772\2009. Todos os participantes passaram por um exame físico constituído por mensurações da frequência cardíaca e pressão arterial em repouso, massa corporal total, estatura e um ecocardiograma com o objetivo de mensurar a fração de ejeção de Teicholz. Os indivíduos foram divididos em dois grupos: um grupo sintomático (GS), composto por cinco indivíduos, 3 do sexo feminino, com média de idade e fração de ejeção respectivamente de 58 anos e 42%, e um grupo assintomático (GA), formado por 6 indivíduos, 5 do sexo feminino, com média de idade e fração de ejeção respectivamente de 54 anos e 71%. O TCM foi realizado com o membro dominante, utilizando o protocolo de uma repetição máxima adaptada para cardiopatas [11], partindo de carga zero com aumento de ½ kg por série com intervalo de 3 minutos entre uma série e outra. Em cada série se verificou, durante a execução do movimento, a FC, o traçado eletrocardiográfico a TA no braço contralateral a execução do movimento e a intensidade de esforço mensurada pela escala de percepção subjetiva de BORG. Os movimentos utilizados no teste de carga máxima foram: flexão coxofemoral em supino, flexão de joelho em prono, flexão de gleno-umeral e abdução de gleno-umeral Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 144 em ortostase. Todos os movimentos preconizaram a fase concêntrica da contração. Foram considerados critérios para determinação da carga máxima: alterações eletrocardiográficas significativas (arritmias sustentadas, arritmias complexas, infra-desnivelamento ≥ 3 mm e supra-desnivelamento ≥ 2 mm de ST), compensações na execução do movimento ou Escala de Borg entre 17 a 20. Todo o exame foi realizado em ambiente hospitalar na presença de um cardiologista e com suporte técnico adequado de acordo com a II Diretriz de Teste Ergométrico 2002 [12]. Para o Teste de Repetição Máxima (TRM) foram utilizados os mesmos movimentos do teste de carga máxima. O TRM foi realizado com 30% da carga máxima, sendo o voluntário instruído a executar cada movimento até a exaustão. Adotaram-se como critérios para interrupção do teste os mesmos parâmetros do TCM. Todos os resultados foram armazenados em um banco de dados no Microsoft Excel 2007 e posteriormente analisados. Antes das análises foi realizado o teste de Shapiro-Wilks para identificação da normalidade dos dados e testagem dos pressupostos dos testes. Como as variáveis não apresentaram distribuição normal e simétrica, os dados foram descritos utilizando mediana e intervalo interquartil. Para os dados encontrados foram realizadas Análises de Variâncias (ANOVA). Em todos os testes se utilizou o pacote estatístico SPSS (Sta- tistical Package for the Social Sciences) versão 13.0, adotando um nível de significância de 5%. Resultados As características gerais da amostra são apresentadas na Tabela I descritas em médias e desvio padrão. Os valores referentes ao número de repetições máximas de cada movimento executado estão descritos na Tabela II. Dentre os movimentos, o que apresentou o maior número de repetições, em ambos os grupos, foi à flexão de joelho. As comparações intergrupos do número mediano de repetições realizadas estão descritas na Tabela III. Observase que não há diferença estatística significante, no entanto, vale enfatizar que no movimento de flexão do joelho, o GS apresentou um número de repetições consideravelmente maior que o GA. Os dados referentes à comparação intragrupo do número de repetições máximas alcançadas nos movimentos propostos são apresentados na Tabela IV. Observa-se que houve diferença estatística significante na comparação da flexão de joelho com a flexão de ombro e abdução de ombro no GS. Já no GA foi verificada diferença estatística na comparação de flexão de coxo femoral com a flexão de ombro e com a flexão de joelho. Tabela I - Caracterização da amostra por grupo (média e desvio padrão). Grupo Sintomático Assintomático Idade (anos) 60 ± 8,0 58 ± 6,0 Altura (cm) 158 ± 1,0 164 ± 0,1 Massa (kg) 61 ± 5,5 74 ± 8,5 IMC (kg/m2) 24 ± 5,2 27 ± 2,6 FE (%) 42 ± 0,0 71 ± 0,0 Siglas: IMC = Índice de Massa Corpórea; FE = Fração de Ejeção. Tabela II - Número de repetições máximas por grupo alcançadas nos quatro movimentos propostos. Grupo Sintomático (n = 5) Assintomático (n =6) Flexão de ombro Abdução de ombro Flexão de joelho Flexão de coxo femoral Flexão de ombro Abdução de ombro Flexão de joelho Flexão de coxo femoral Min 20 16 23 10 18 15 12 8 Máx 30 30 85 30 70 40 100 30 Mediana 28 22 50 20 21 20 19 15 Dq* 3,50 5,25 21,50 8,00 14,75 8,00 35,00 8,38 * Dq - Desvio-quartil (percentil 75 - Percentil 25) /2. Tabela III - Comparações intergrupo das repetições máximas dos quatro movimentos realizados. Atividade RM FO RM AO RM FJ RM FCF Mediana Sintomático n = 5 Assintomático n = 6 28 21 22 20 50 19 20 15 Diferenças p-valor* 7 2 31 5 0,5200 0,9270 0,2730 0,5210 * Teste Kruskal-Wallis H (comparação múltipla, para as quatro atividades). Siglas: RM = Repetição Máxima; FO = Flexão de Ombro; AO = Abdução de Ombro; FJ = Flexão de Joelho; FCF = Flexão Coxo Femoral. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 145 Tabela IV - Comparação intragrupo das repetições máximas dos quatro movimentos propostos. Medianas Grupo Comparações RM FO GS (n=5) RM AO RM FJ RM FO GA (n=6) RM AO RM FJ RM AO RM FJ RM FCF RM FJ RM FCF RM FCF RM AO RM FJ RM FCF RM FJ RM FCF RM FCF 1 28 22 50 21 20 19 2 22 50 20 50 20 20 20 19 15 19 15 15 Diferenças p-valor* 6 22 8 28 2 30 1 2 6 1 5 4 0,0656 0,0431 0,1441 0,0431 0,3452 0,0796 0,1756 0,7532 0,0458 0,4004 0,0747 0,0585 p-valor ANOVA** 0,0378 0,1193 *Teste não paramétrico – Wilcoxon; **ANOVA - refere-se ao teste não paramétrico de Friedman. Nota: O teste de Shapiro-Wilks rejeitou a hipótese de normalidade das variáveis de estudo. Siglas: RM = Repetições Máximas; FO = Flexão de Ombro; AO = Abdução de Ombro; FJ = Flexão de Joelho; FCF = Flexão Coxo Femoral. Discussão A falta de pesquisas quantificando as variáveis de condicionamento resistido para adultos foi a principal razão para o American College of Medicine Sports (ACMS) omitir em sua diretriz de 1978 os exercícios resistidos como parte integrante do trabalho de condicionamento para indivíduos cardiopatas. Por volta dos anos 80, as pesquisas nessa área se intensificaram e em 1990 a ACMS formalmente reconheceu a importância dos exercícios resistidos para um programa completo de condicionamento físico [13]. Segundo a Diretriz de Reabilitação Cardíaca, 2005, um programa de exercício físico supervisionado tem se mostrado eficaz como tratamento não medicamentoso da insuficiência cardíaca com indicação de exercícios resistidos para estes indivíduos [8]. Graves sugere que o condicionamento com pesos parece ser bem seguro para essa população, já que desencadeia menos distúrbios de condução e arritmias além de promover adaptações benéficas de vários parâmetros hemodinâmicos, embora no caso de alguns deles de maneira menos marcante comparativamente ao condicionamento com exercícios contínuos [13]. A American Heart Association e a American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation, em uma revisão de 12 estudos sobre o uso do treinamento de força em programas de reabilitação cardíaca mostrou que em portadores de doença arterial coronariana estável, já em condicionamento aeróbico por pelo menos três meses, adicionar o treinamento de força parece ser bastante seguro, promovendo melhora da força muscular e da resistência, sem desencadear episódios de isquemia miocárdica, anormalidades hemodinâmicas, arritmias ventriculares complexas ou outras complicações cardiovasculares [8]. Dessa forma, a inclusão de exercícios resistidos na reabilitação cardíaca supervisionada pode preparar melhor os cardiopatas para retornarem em menor tempo às suas atividades de vida diária. Porém as variáveis de prescrição devem ser bem determinadas e elucidadas para que sua efetividade seja garantida. A determinação do número de repetições máximas é fundamental na elaboração de um protocolo de condicionamento resistido para indivíduos cardiopatas com ou sem disfunções ventriculares. O que se encontra na literatura em relação ao número de repetições são valores fixos para qualquer perfil de indivíduo. Segundo o ACMS se preconiza inicialmente de 8 a 10 repetições evoluindo para 15 a 20 repetições no máximo. O supervisor pode optar por aumentar a carga e diminuir as repetições ou manter a carga e aumentar as repetições e a velocidade do movimento. No entanto, de acordo com os resultados do presente estudo, foi verificada diferença significante no valor da repetição máxima em quatro das doze comparações realizadas entre os movimentos avaliados, e em outras três foram observadas diferenças estatísticas próximas da significância, como observado na tabela IV. Acredita-se que se a amostra do estudo fosse maior todas essas comparações apresentariam um p-valor significante, o que nos leva a pensar que as repetições deveriam ser preconizadas de forma individual e não pré-determinadas. Segundo Fleck e Kreamer, 1999, citado por Forjaz et al. [14], os exercícios resistidos podem ser executados em diferentes intensidades. Quando são feitos com intensidade leve (40% a 60% da carga máxima), várias repetições (20 a 30) podem ser realizadas e o resultado dessa prática será o aumento da resistência da musculatura envolvida no exercício. Por outro lado, quando os exercícios são realizados em intensidades maiores (acima de 70% da carga máxima), o número de repetições não pode ser alto devendo estar entre 8 a 12 repetições [14]. Pollock descreve que com a progressão do condicionamento deve-se aumentar o número de repetições, 146 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 sendo o teto máximo para os membros superiores e inferiores de 15 e 20 respectivamente [15]. Embora a carga utilizada nesta pesquisa tenha sido de 30% da carga máxima, os resultados do nosso estudo vão de encontro a essas recomendações, pois vários indivíduos conseguiram realizar um número abaixo do recomendado pela literatura e outros bem acima, desta forma estaríamos supra ou subestimando a capacidade da maioria dos indivíduos avaliados. Além disso, houve grande discrepância nos valores das repetições de cada movimento de forma individualizada, inclusive entre membros superiores e inferiores. O conhecimento da capacidade individual das repetições máximas pode servir de base para o terapeuta, direcionando-o a prescrições mais eficazes e individualizadas, não havendo desta forma superestimação nem subestimação desta variável, para que a reabilitação ocorra de forma objetiva e segura. Conclusão Os resultados apontam que a determinação da repetição máxima para portadores de DC deve ser individualizada e determinada para cada movimento do programa de exercício resistido. Dessa forma sugerimos que a elaboração de um protocolo mais específico deve ser baseada na carga máxima, bem como no número de repetições máximas que cada indivíduo é capaz de realizar. Referências 1. Bilate AMB, Cunha-Neto E. Chagas disease cardiomyopathy: current concepts of an old disease. Rev Inst Med Trop 2008;50(2):67-74. 2. Coura JR. Chagas disease: what is known and what is needed. A background article. Mem Inst Oswaldo Cruz 2007;102(I):113-12. 3. Mattos BP. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 147 Artigo original Utilização do percentual da carga máxima dinâmica e velocidade de movimento durante o treinamento de força Percentage of the maximum dynamic strength and velocity of movement during strength training Alexandre Correia Rocha*, Dilmar Pinto Guedes Junior** *Mestrando pela Universidade São Judas Tadeu, São Paulo/SP, Coordenador do Centro de Treinamento Personalizado New Life, Santos/SP, **Acadêmico dos cursos de Educação Física da Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS) e Faculdade de Educação Física e Esportes (FEFESP), Santos/SP Resumo Abstract Palavras-chave: treinamento de força, intensidade, repetições máximas, força máxima. Key-words: strength training, intensity, repetitions maximum, strength maximum. O objetivo do estudo foi avaliar a eficiência do controle intencional da Velocidade de Movimento (VM) em cada repetição de uma série no Treinamento de Força (TF) e verificar a relação entre a porcentagem da Carga Máxima Dinâmica (CMD) e o número de repetições para prescrição do TF. Vinte sujeitos, com 21 ± 3 anos, realizaram o TCMD no supino, agachamento e rosca direta e após 24 e 48h realizaram o máximo de repetições com 80% da CMD com e sem o controle da VM. Como resultados obteve-se: CMD (kg) no *¹supino 87,55 ± 27,80, ²agachamento 112,40 ± 30,75 e rosca direta 68 ± 11,58 (* p = 0,01 vs agachamento; ¹ p = 0,00 vs rosca direta e ² p = 0,00 vs rosca direta). RSM para o supino 11 ± 3, * agachamento 11 ± 5 e rosca bíceps 9 ± 2 e RCM para o ¹supino 3 ± 1, ¹agachamento 3 ± 1 e ¹rosca bíceps 3 ± 1 (* p = 0,05 vs rosca direta (RSM); ¹ p = 0,00 vs agachamento, rosca direta e supino (RSM)). Os resultados demonstram que o controle intencional da VM, a relação entre porcentagem da CMD e número de repetições por série de exercícios e a prescrição utilizando essas variáveis devem ser vistas com cautela. The aim of this study was to evaluate the efficacy of intentional control of Velocity of Movement (VM) on each repetition of a set in the strength training (ST) and the relationship between percentage of Maximum Dynamic Strength (MDS) and the number of repetitions to prescribe strength training programs. Twenty subjects, with 21 ± 3 years, performed the Maximum Dynamic Strength Training in the bench press, squat and curl and after 24 and 48 hours completed the maximum number of reps with 80% of MDS with and without the control of VM. We got the following results: MDS (kg) * 87.55 ± 27.80 ¹ bench press, squat ² 112.40 ± 30.75 and curl 68 ± 11.58 (* p = 0.01 vs. squat; ¹ p = 0.00 vs. curl e ² p = 0.00 vs curl). Bench press maximum repetition 11 ± 3, * squat 11 ± 5 and biceps 9 ± 2 and SPC for ¹ supine 3 ± 1 ¹ squat 3 ± 1 and ¹ biceps curl 3 ± 1 (* p = 0.05 vs. curl (RSM ) ¹ p = 0.00 vs. squat, curl and bench press (RSM)). The results show that the intentional control of the VM, the relationship between percentage of MDS and number of repetitions per set and exercise prescriptions using these variables should be studied with caution. Recebido em 21 de julho de 2011; aceito em 15 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Alexandre Correia Rocha, Rua Barão de Paranapiacaba, 77/16, Encruzilhada 11050-250 Santos SP, E-mail: [email protected], Tel: (13) 3234-8629 148 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Introdução Nas últimas décadas o treinamento de força (TF), tem sido objeto de estudo e despertado interesse na comunidade científica. A musculação é definida como movimentos biomecânicos localizados em segmentos musculares definidos com a utilização de sobrecarga [1,2]. O TF tem papel fundamental nos programas de exercício físico relacionados para a estética e nos últimos anos tem sido recomendado para a profilaxia e tratamento de diversas patologias [3-6]. O TF promove alterações funcionais, ou seja, aumento da força e melhora da capacidade de realizar atividades do cotidiano, assim como modificações morfológicas, principalmente o aumento da massa muscular [7,2]. O aumento da massa muscular se dá principalmente pelo mecanismo de hipertrofia muscular, definida como aumento da área de secção transversa de cada fibra muscular. Essa condição é favorecida por alterações agudas e crônicas na fibra muscular, frente ao TF [8]. Durante a montagem dos programas de TF, os componentes de carga devem ser organizados com intuito de promover intensidade ótima para maximizar o aumento da força e hipertrofia muscular, dentre eles, podemos citar: o exercício, a frequência semanal, o número de repetições, o peso, as séries, o intervalo entre séries e a velocidade do movimento [9-11,8]. Diversos autores relatam que uma janela de repetições variando de 8 a 12, com uma carga de 60 a 80% da carga máxima dinâmica (CMD) e uma velocidade de movimento moderada (VMM) seriam condições favoráveis para o desenvolvimento de força e hipertrofia muscular [1,5,10,12,13]. De acordo com Kraemer e Ratamess [10], a VMM é de um segundo para a fase concêntrica (1FC) e dois segundos para a fase excêntrica (2FE). Para esse controle o metrônomo é comumente utilizado, emitindo um sinal sonoro previamente programado. Alguns autores questionam a utilização de algumas dessas variáveis para a prescrição do TF [14-17]. Sendo assim, os objetivos do presente estudo são: 1) Avaliar a eficiência do controle intencional da VM em cada repetição de uma série no TF e 2) Verificar a relação entre a porcentagem da CMD e o número de repetições para prescrição do TF. Material e métodos Participaram do estudo 20 voluntários com média de idade de 21 ± 3 anos, sendo todos praticantes de musculação há no mínimo seis meses. Todos os sujeitos receberam explicações verbais sobre os procedimentos do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes do início dos testes. A intensidade da carga de treino foi estabelecida em 80% CMD, para isso todos os voluntários realizaram o teste de carga máxima dinâmica (TCMD) e as padronizações utilizadas foram as do ACSM [4]. Os testes foram realizados em um só dia com intervalo de dez minutos entre os exercícios (supino reto, rosca direta com a barra W e o agachamento 90º) e a ordem dos exercícios foi determinada aleatoriamente. Após 24 horas, foi estabelecido 80% da CMD para a realização dos testes. Para o controle da velocidade do movimento foi utilizado um metrônomo, respeitando 1FC e 2FE, como sugerido anteriormente. Os testes de repetições máximas (RSM) foram realizados sem a utilização do metrônomo e com o controle da velocidade através do metrônomo (RCM), a ordem dos testes foi aleatória respeitando um intervalo de 48 horas. No teste RSM os voluntários foram incentivados a realizar o máximo de repetições corretas. Para a familiarização da VM os voluntários realizavam um aquecimento de 30 repetições (RP) somente com a carga da barra, respeitando a velocidade determinada, após um minuto realizavam 10 reps a 40% da CMD no mesmo ritmo e após um minuto realizava-se o teste propriamente dito. Análise estatística Após verificar a normalidade do grupo, utilizou-se o teste t Student para amostra dependente para avaliar se existe diferença entre as variáveis estudadas. O nível de significância foi estabelecido em p < 0,05. Resultados e discussão Tabela I - CMD (kg) nos exercícios supino reto, agachamento 90º et rosca direta na barra. n 20 Supino 87,55 (27,80)*1 Agachamento 112,040 (30,75)2 Rosca direta 68 (11,58) Os dados estão apresentados na forma de média e desvio padrão; *p = 0,01 vs. agachamento; 1 p = 0,00 vs. rosca direta e 2 p = 0,00 vs. rosca direta. De acordo com os resultados da tabela I, os exercícios multiarticulares, que envolvem maior massa muscular e um número maior de grupos musculares foram capazes de produzir mais força. Portanto, para a amostra estudada a força muscular é dependente do número de articulações envolvidas no trabalho, como também da massa muscular dos grupos musculares envolvidos nos exercícios. Segundo Shimano et al. [15], exercícios envolvendo grandes massas musculares tendem a produzir mais força do que exercícios que envolvem grupos musculares menores. Tabela II - Número de repetições máximas realizadas com o metrônomo (RCM) e sem o metrônomo (n = 20) Exercícios Supino Agachamento Rosca direta 80% CMD 70,0 (22,2) 85,5 (31,8) 34,6 (9,3) RSM 11 (3) 11 (5)* 9 (2)1 RCM 3 (1)1 3 (1)1 3 (1)1 Os dados estão apresentados na forma de média e desvio padrão; *p = 0,015 vs. rosca direta; 1 p = 0,00 vs. agachamento, rosca direta e supino (RSM). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 A Tabela II demonstra que para uma mesma intensidade da CMD (80%) o número de repetições varia de acordo com o exercício realizado. Esses resultados corroboram com outros estudos. Segundo diversos autores, o número de repetições para uma determinada porcentagem da CMD pode variar quando considerada a massa muscular envolvida no exercício, se utilizados membros superiores ou inferiores e ainda o nível de aptidão do praticante [15,16,18-21]. Pereira e Gomes [16] investigaram, em um artigo de revisão, a prescrição do exercício a partir de determinada porcentagem da CMD e encontraram diferença significativa quando considerado o exercício escolhido, a velocidade do movimento e a população. Barros et al. [22] encontraram diferença significativa entre o teste na puxada pela frente quando realizado em dois dias consecutivos em adultos ativos. De acordo com Maior et al., Simão et al., Shimano et al. [14,23,15], os grupos musculares maiores suportam um maior número de repetições para uma mesma porcentagem de carga quando comparados a grupos musculares menores. Uma hipótese para explicar esse fato é o padrão de recrutamento das unidades motoras (UM). Durante os exercícios de intensidade submáxima as UM motoras são recrutadas de forma não sincronizada, preservando algumas fibras musculares durante o esforço, podendo assim retardar a fadiga. Além disso, possivelmente um maior número absoluto de UM é recrutado nos exercícios envolvendo grupos musculares maiores e essa condição somada ao recrutamento não sincronizado também pode favorecer o retardo da fadiga e consequentemente um número maior de repetições pode ser realizado [15]. Com relação ao número de repetições realizadas com o controle intencional e não intencional da velocidade de movimento, observou-se uma redução no número de repetições quando realizadas com a utilização do metrônomo. Segundo Fleck e Kraemer [24], o controle intencional da velocidade acarreta redução da força muscular em cada repetição. Também vale ressaltar que durante o TF ocorre uma redução natural da velocidade de movimento devido à instalação do processo de fadiga impossibilitando a manutenção de um ritmo de movimento [14]. Portanto, o controle intencional da VM não permitiu a realização do número mínimo de repetições sugerido pela literatura para maximizar os efeitos da hipertrofia muscular. Conclusão Para a amostra analisada a CMD é diferente entre os exercícios. Para uma determinada porcentagem da CMD o número de repetições mostrou-se diferente entre os exercícios rosca direta e agachamento, além disso, quando controlada a VM o número de repetições foi significativamente menor para uma mesma porcentagem da CMD. Sendo assim, o controle intencional da VM, a relação entre porcentagem da CMD e número de repetições por série de exercícios como também a prescrição utilizando essas variáveis devem ser vistas com cautela. 149 Referências 1. Guedes Junior DP. Personal training na musculação. Rio de Janeiro: Ney Pereira; 1998. 2. Guedes Junior DP, Souza Junior TP, Rocha AC. Treinamento personalizado em musculação. São Paulo: Phorte; 2008. 3. Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão / Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010;95(1 supl.1):1-51. 4. ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro: Ganabara Koogan; 2007. 5. ACSM. Position stand. Progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc 2009;41(3):687-708. 6. ACSM. Position Stand: Progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc 2002;34(2):364-79. 7. Gentil P, Oliveira E, Fontana K, Molina G, Olivieira R, Bottaro. Efeitos agudos de vários métodos de treinamento no lactato sanguíneo e características de cargas em homens treinados recreacionalmente. Rev Bras Med Esporte 2006;12(6):303-7. 8. Brow LE. Treinamento de força. São Paulo: Manole; 2008. 9. Tan B. Manipulating resistance training program variables to optimize maximum strength in men: A review. J Strength and Cond Res 1999;13(3):289-304. 10. Kraemer WJ. Performance and physiologic adaptations to resistance training. Am J Phys Med Rehabil 2002;81(suppl):3-16. 11. Kraemer WJ, Ratamess NA. Fundamental of resistance training: progression and exercise prescription. Med Sci Sports Exerc 2004;36(4):674-88. 12. Faigenbaum AD, Kraemer WJ, Blimkie CJ, Jeffreys I, Micheli LJ et al. Youth resistance training: updated position statement paper from the National Strength and Conditioning Association. J Strength Cond Res 2009;23(4):1-20. 13. Hass CJ, Feigenbaum MS, Franklin BA. Prescription of resistance training for healthy populations. Sports Med 2001;31(14):953-64. 14. Munn J, Herbert RD, Hancock MJ, Gandevia SC. Resistance training for strength: effect of number of sets and contraction speed. Med Sci Sports Exerc 2005;37(9):1622-26. 15. Maior AS, Lemos A, Carvalho N, Novaes J, Simão R. Utilização do teste de 1RM na prescrição de exercícios resistidos: vantagem ou desvantagem? Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2005;4(1):22-26. 16. Shimano T, Kraemer WJ, Spiering BA, Volek JS, Hatfield DL, Silvestre R, et al. Relationship between the number of repetitions and selected percentages of one repetition maximum in free weight exercise in trained and untrained men. J Strength Cond Res 2006;20(4):819-23. 17. Pereira MIR, Gomes PSC. Teste de força e resistência muscular. Confiabilidade e predição de 1RM. Revisão e novas evidências. Rev Bras Med Esporte 2003;9(5):325-35. 18. Pereira MIR, Gomes PSC. Efeito do treinamento contra resistência isotônico com duas velocidades de movimento sobre os ganhos de força. Rev Bras Med Esporte 2007;13(2):61-96. 19. Hoeger WWK, Hopkins DR, Barette SL, Hale DF. Relationship between repetitions and selected percentages of 1 RM. J Appl Sport Sci 1987;1(1):11-3. 20. Hoeger WWK, Hopkins DR, Barette SL, Hale DF. Relationship between repetitions and selected percentages of one repetition 150 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 maximum: a comparison between untrained and trained males and females. J Appl Sport Sci Res 1990;4:47-54. 21. Kraemer WJ, Fleck SJ. Otimizando o treinamento de força. São Paulo: Manole; 2008. 22. Borge DG, Oliveira JS, Riscado JPM, Salles BF. Análise das repetições máximas estimadas através do teste de 1RM. Arquivos em Movimento 2007;3(2):33-41. 23. Barros MAP, Sperandi S, Silveira Júnior PCS, Oliveira CG. Reprodutibilidade no teste de 1RM no exercício de puxada pela frente para homens. Rev Bras Med Esporte 2008;14(4):348-52. 24. Simão R, Polito MD, Viveiros L, Farinatti PTV. Influência da manipulação na ordem dos exercícios de força em mulheres treinadas sobre o número de repetições e percepção de esforço. Rev Bras Ativ Física Saúde 2002;7:53-61. 25. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamento do treinamento de força muscular. Porto Alegre: Artmed; 2006. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 151 Artigo original Taxa de sudorese e perfil antropométrico de atletas do gênero feminino de uma equipe de natação Sweating rate and anthropometric profile of a swimming team female athletes Lidiane Yurie Pereira*, Roberta Amancio Ruiz Costa*, Tamara Eugenia Stulbach, D.Sc.**, Luciana da Silva Garcia*** *Graduandas de Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, **Professora supervisora de estágio de Nutrição Esportiva do curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo, ***Professora supervisora de estágio de Nutrição Esportiva do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo Resumo Objetivo: Verificar o estado de hidratação e perfil antropométrico de atletas da natação. Material e métodos: Foram avaliadas 12 atletas do gênero feminino de idade entre 13 e 14 anos. Verificou-se a ingestão hídrica habitual das nadadoras. Na avaliação antropométrica foram aferidos peso, dobras cutâneas e estatura, antes e após o treino para determinação da taxa de sudorese e porcentagem de perda hídrica. Resultados: As atletas em sua maioria (n = 11) apresentaram peso final maior que o inicial, ou seja, ganho de peso após o treino, contrapondo-se a outros estudos da mesma modalidade. A taxa de sudorese encontrada foi baixa. As nadadoras apresentaram-se bem hidratadas, sem nenhuma ocorrência de desidratação mesmo com baixa ingestão hídrica. Em relação à avaliação antropométrica, observou-se maior frequência de eutrofia e percentual de gordura adequado. Conclusão: Observou-se boa hidratação apesar da reduzida ingestão hídrica, baixa taxa de sudorese e ganho de peso após o treino provavelmente devido aos diferenciais do esporte. Porém mais estudos são necessários a fim de identificar as reais causas desta divergência. Abstract Objective: To assess hydration status and anthropometric profile of swimmers. Material and methods: 12 female athletes 13-14 years old were evaluated. We checked the habitual water intake of the swimmers. Height, weight and skin folds were measured before and after training to determine the sweat rate and percentage of water loss. Results: The majority of athletes (n = 11) showed higher final weight than the initial, that is, weight gain after training, in contrast to other studies in the same sport. The sweating rate was low. The swimmers are well hydrated, without dehydration even with low water intake. Regarding the anthropometric evaluation it was observed a higher frequency of eutrophy and body fat percentage was appropriated. Conclusion: There was good hydration despite the low water intake, low sweating rate and weight gain after training probably due to the differentials of the sport. Anyway, more studies are needed to identify the real causes of this divergence. Key-words: fluid therapy, nutritional status, aquatic environment, athletes. Palavras-chave: hidratação, estado nutricional, ambiente aquático, atletas. Recebido em 15 de julho de 2011; aceito em 16 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Lidiane Yurie Pereira, Rua João Cavinato, 211, Jardim Portugal, São Bernardo do Campo SP, E-mail: [email protected] 152 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Introdução A natação é praticada desde a pré-história e por absoluta necessidade, já que os homens buscavam seus alimentos nos rios e mares e em momentos de perigo, refugiavam-se transpondo curso de água ou talvez permanecendo nele [1]. Por volta do século XX, a restrição de líquidos durante o exercício físico era associada ao bom desempenho do atleta, portanto era preconizada a não ingestão de água durante treinos e competições [2]. Atualmente, reconhece-se a importância da hidratação antes, durante e após a atividade física, para manutenção da homeostase e melhora de desempenho do atleta, já que a ingestão inadequada de líquidos pode causar alteração da frequência cardíaca, da temperatura corporal além de prejuízo no rendimento [3,4]. Água e eletrólitos são essenciais na manutenção da atividade física, um desequilíbrio entre estes elementos pode ocasionar alteração na capacidade física. Entretanto, a hiperhidratação também pode trazer prejuízos ao desempenho, devido ao desconforto gástrico e possível estado de hiponatremia [5]. É necessário o equilíbrio entre a perda e ganho de fluidos, as vias de perda de água pelo corpo são através do sistema urinário, respiratório e da pele. Esta perda resulta em alterações dos fluidos intra e extracelulares [6]. Um método simples de avaliar o estado de desidratação do indivíduo é aferindo o peso corporal antes e após a atividade física; a partir de então, calcula-se a diferença entre ambos e o percentual de perda de peso, para posterior classificação do estado de desidratação [7]. A natação apresenta condições especiais que modificam a termogênese corporal, já que o contato com a água facilita a perda de calor, através da condução, processo no qual há a transferência de calor do corpo para as moléculas mais frias da água [8,9]. Outro diferencial é o contato da água com a boca durante todo o exercício, o que estimula os receptores nervosos localizados na região orofaríngea, desta forma é como se o atleta estivesse continuamente se hidratando, fazendo com que o nadador não sinta sede e assim não se hidrate corretamente [9]. Para avaliação do desempenho e acompanhamento nutricional, uma das determinações mais importantes é o percentual de gordura. Portanto o objetivo do presente estudo foi verificar o estado de hidratação em atletas de natação da cidade de São Caetano do Sul, através do cálculo de taxa de sudorese e o consumo hídrico dos nadadores [3]. Material e métodos Estudo transversal, realizado em um clube do estado de São Paulo. A amostra foi composta por doze atletas do gênero feminino, de idade entre 13 e 14 anos, com treino de duração de 90 min. Todos os participantes, estando de acordo com o estudo, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido de acordo com o Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo n° 097/06. A coleta de dados foi conduzida em um dia de treino no período da manhã. Foram aferidos os pesos antes (Pi) e após (Pf ) o treinamento, para isso foi utilizada balança digital da marca Plenna com pesagem máxima de 150 kg e intervalos de 100 g. As atletas foram pesadas trajando apenas maiô, sem touca e/ou óculos. A estatura foi mensurada com duas fitas métricas inelásticas e inextensíveis, inversas e afixadas verticalmente na parede lisa sem rodapé. Foi solicitado que a avaliada ficasse descalça, com os braços estendidos ao longo do corpo e com os calcanhares juntos e costas retas. A cabeça foi posicionada eretamente com os olhos fixos para frente na linha do horizonte (Plano de Frankfurt). Com o peso inicial (Pi) e estatura foi calculado o Índice de Massa Corpórea (IMC), mediante a fórmula: IMC = P /E². Foi avaliada a ingestão hídrica habitual das nadadoras, as quais se solicitou que apresentassem seus squeezes para análise do volume de água inicial, e as que não possuíam, orientou-se que solicitassem copos de água quando necessário para que assim houvesse o controle do volume ingerido individualmente. Ao final do treino, foi medido o volume restante dos squeezes descontando-se assim do volume inicial o líquido ingerido. Taxa de sudorese (TS) Para calcular a taxa de sudorese foi utilizada a seguinte fórmula de Fleck e Figueira Junior (1997): (Pi kg – Pf kg) – ingestão hídrica durante o treino (L) tempo total de atividade física (min) Porcentagem de perda hídrica Para verificar a porcentagem de perda hídrica foi utilizada a seguinte fórmula: Pi (Kg) ------------ 100% Pi (Kg) – Pf (Kg) ----------- X X= % de perda hídrica Percentual de gordura As atletas foram orientadas a não iniciar o treino antes da avaliação antropométrica, para não haver influência sob os resultados. A composição corporal foi avaliada com base nas dobras cutâneas: triciptal (TR) e subescapular (SE), mensuradas com a utilização de adipômetro da marca Sanny. O percentual de gordura das adolescentes foi calculado por meio da equação de Slaughter et al. [10]: • %G = 1,33 (TR+SE) - 0,013 (TR+SE)² - 2,5 • %G = 0,546 (TR+SE) + 9,7 quando a soma das dobras cutâneas (TR e SE) foi maior que 35 mm. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 153 A classificação destes resultados foi feita por pontos de corte propostos por Deurenberg et al. [10]. 6) Você está com vontade de comer? (X) sim (66,67%) (X) não (33,33%) Questionário Resultados Ao término do treino foi aplicado individualmente um questionário, utilizado em outro estudo semelhante de Perrella, Noriyuki e Rossi [11], com questões em relação à intensidade do treino, sensações de sede, fome e o que desejavam ingerir naquele momento. As atletas apresentaram, em média, idade de 13,5 anos, peso 49,5 kg, estatura 1,61 m e IMC 19,5 kg/m². Apenas 16,67% (n = 2) das nadadoras foram classificadas como sobrepeso; as 83,33% (n = 10) restantes mostraram-se eutróficas. O percentual de gordura (%G) médio foi de 20,4%, classificado como percentual adequado, apenas 1 atleta apresentou alta porcentagem. Esses valores podem ser visualizados detalhadamente na Tabela I. Ao término do treino, encontrou-se uma taxa de sudorese média de 3,6 mL/min. Foi observado aumento de peso em 91,67% da amostra, somente uma atleta apresentou perda de peso. (Tabela II) Questionário de hidratação aplicado em atletas de Natação. São Paulo, 2011. Nome: 12 nadadoras de um clube de São Paulo 1) Você ingeriu líquidos antes de iniciar o treinamento? (X) sim (50%) (X) não (50%) O quê? (X) água (66,67%) ( ) refrigerante (X) suco (33,33%) ( ) isotônico ( ) outros. 2) Como você treinou hoje? ( ) muito leve ( ) leve (X) moderado (8,33%) (X) quase forte (8,33%) (X) forte (16,67%) (X) muito forte (58,34%) (X) totalmente forte (8,33%) 3) Você está com sensação de “boca seca”? (X) sim (33,33%) (X) não (66,67%) 4) Você está com sede? (X) sim (41,67%) (X) não (58,33%) 5) O que você gostaria de beber agora? ( ) nada (X) água (58,34%) (X) suco (25%) (X) refrigerante (8,33%) ( ) isotônico (X) outros (vitamina de abacate) (8,33%) Discussão O presente estudo descreveu e comparou os dados antropométricos de nadadoras adolescentes de 13 a 14 anos. Prestes et al. [12] encontraram em seu estudo, uma média de estatura de 1,60 m e média de peso de 48,26 kg. Em relação ao presente estudo, na mesma faixa etária e categoria- infantil foram encontrados média de estatura de 1,61 m e de peso 48,26 kg, mostrando atletas com altura semelhante, porém mais leves. No estudo de Meyer e Schneider, a média de IMC encontrada foi de 18,3 kg/m², e a observada neste estudo foi de 19,2 Kg/m², consideradas eutróficas, com somente 2 atletas na faixa de sobrepeso, as quais apresentaram os maiores valores de dobras cutâneas triciptal e subescapular [13]. Em relação aos valores de percentual de gordura, a maior parte da amostra, ou seja, 11 das 12 atletas classificaram-se Tabela I - Características gerais da amostra de atletas adolescentes do gênero feminino de natação de um clube do estado de São Paulo, 2011. Atleta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Média Máximo Mínimo Idade 14 13 13 14 13 14 13 13 14 13 14 14 13,5 13 14 Peso 49,0 65,4 44,8 54,4 39,3 48,5 52,2 48,3 50,7 47,6 48,2 45,9 49,5 65,4 39,3 Estatura (m) 1,68 1,67 1,63 1,66 1,54 1,66 1,51 1,51 1,67 1,66 1,51 1,60 1,61 1,68 1,51 IMC (Kg/m²) 17,4 23,5 16,9 19,7 16,6 17,6 22,9 21,2 18,2 17,3 21,1 17,9 19,2 23,5 16,6 DCT 13 23 9 13 13 15 14 9 11 14 8 11 12,8 23 8 DCSE 7 21 8 9 7 7 11 7 12 12 9 7 9,8 21 7 % de gordura 18,9 33,7 16,4 20,5 18,9 20,5 22,6 15,5 21,2 23,3 16,4 17,2 20,4 33,7 15,5 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 154 como adequadas segundo Deurenberg et al.[10]. Apenas uma atleta apresentou percentual alto de gordura corporal, além de apresentar-se acima da média de peso, estatura e IMC. Tabela II - Valores de peso inicial, peso final, porcentagem de perda hídrica, taxa de sudorese e consumo de água de atletas adolescentes do gênero feminino de natação de um clube do estado de São Paulo, 2011. Atleta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Média Máximo Mínimo Pi (kg) Pf (kg) 49 65,4 44,8 54,4 39,3 48,5 52,2 48,3 50,7 47,6 48,2 45,9 49,5 65,4 39,3 50,2 66 45,4 55 39,7 48,7 52,7 48,4 51,4 47,9 47,9 45,8 49,9 66 39,7 Taxa Água % perda sudorese consumida hídrica (mL/min.) (mL) 2,4 6,1 650 0,9 4,7 180 1,3 6,7 0 1,1 0 600 1 3,1 680 0,4 2,2 0 1 3,3 200 0,2 6,1 450 1,4 3,7 360 0,6 1,7 450 1 4,4 100 0,2 1,1 500 1,0 3,6 347,5 2,4 6,7 650 0,2 0 0 O treino de todas as atletas é semelhante, não havendo diferença entre fundistas e velocistas, porém nas competições há a diferenciação, e em relação ao peso e IMC, as velocistas, atletas de provas de curta duração apresentaram valores menores em relação as fundistas. No presente estudo, as nadadoras em sua maioria, (n = 11), apresentaram peso final maior que o inicial, ou seja, houve ganho de peso ao invés de perda, contrapondo-se a outros estudos da mesma modalidade esportiva. No estudo de Lanius et al. [8], todos os atletas apresentaram perda de peso, com média de 0,6%, e a taxa de sudorese foi de 4,3 ml/min, já no presente estudo a média de ganho de peso foi de 1,0% e 3,6 mL/min de taxa de sudorese. Esta variação de perda de peso é provavelmente devido a diferenças na temperatura da água, variedade e intensidade dos exercícios. As nadadoras que não ingeriram água não apresentaram desidratação, provavelmente, durante o treinamento involuntariamente há a ingestão de água da própria piscina. O suor é um dos principais mecanismos fisiológicos da termorregulação. A taxa de sudorese se difere em esportes aquáticos e terrestres, a natação apresenta condições que alteram a termogênese corporal, já que o contato com a água facilita a perda de calor, através do processo de condução [8,14]. Em relação ao consumo de água, foi observada uma ampla variação, de 650 mL a ingestão zero. A justificativa para a ausência de ingestão hídrica durante todo o treino por parte das atletas foi pela falta da sensação de sede e o relato de desconforto quando ingeriam líquidos durante o exercício. No questionário de hidratação, as atletas que apresentaram baixa ingestão de água consideraram o treino muito forte, o que pode ter relação, já que a percepção subjetiva de esforço é aumentada em proporção ao déficit de líquidos [14], apesar de não apresentarem sintomas de desidratação. Uma das principais manifestações da desidratação é a sede. No entanto, neste esporte, o nadador pode ter essa percepção reduzida, já que o contato da água com a boca durante todo o exercício estimula os receptores nervosos localizadas na região orofaríngea, assim é como se o atleta estivesse hidratando-se constantemente [8,15]. Conclusão No presente estudo, verificou-se atletas bem hidratados, sem nenhuma ocorrência de desidratação, apesar da reduzida ingestão de água. A taxa de sudorese encontrada foi baixa. Estes valores provavelmente são devido aos diferenciais da modalidade esportiva, ou seja, o contato constante da boca com a água estimula os receptores nervosos da região orofaríngea, assim é como se a atleta estivesse se hidratando continuamente, fazendo com que a nadadora não tenha a sensação de sede e, portanto não se hidrate adequadamente. A maior parte das atletas apresentou ganho de peso, contrapondo-se a outros estudos, nos quais houve perda de peso pelos nadadores. Fazem-se necessários mais estudos semelhantes para comparação, a fim de identificar as reais causas desta divergência. Referências 1. Filho JF, Pável DAC. Identificação dos perfis dermatoglífico, somatotípico e das qualidades físicas básicas de atletas de alto rendimento em modalidades de natação em provas de meio fundo e fundo. Fitness e Performance 2004;3:18-27. 2. Tirapegui J. Nutrição, Metabolismo e suplementação na atividade física. São Paulo: Atheneu; 2005. p.107. 3. Azevedo COE, Reis VAB, Rossi L. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 156 Artigo original Comportamento da frequência cardíaca em corredores de esteira ergométrica na presença e na ausência de música Behavior of heart rate in runners treadmill in the presence and absence of music Karina Stela de Sena*, Marcus Vinicius Grecco, M.Sc.** *Educadora Física especialista em treinamento desportivo pela FMU, **Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP Resumo Objetivo: Analisar as mudanças na frequência cardíaca (FC), durante a corrida em esteira por 20 minutos com velocidade de 8,0 km/h sem música, com música a 120 bpm (música de andamento lento) e a 140 bpm (música de andamento rápido). Material e métodos: Participaram desta pesquisa doze homens de 21 a 36 anos, alunos da academia Top Swin, praticantes de musculação e corrida 3 a 4 vezes por semana. A FC era mensurada no décimo minuto, no décimo quinto minuto e por final no 20’, além de analisarmos, em todos os participantes, a FCmáx e FCmédia em todas as etapas do trabalho. Todos responderam questionários sobre estado de humor e preferência musical antes dos testes. Os dados foram analisados por média e desvio padrão, comparados pela Anova Two Way e o nível de significância foi de p < 0,05. Resultados: Nos testes realizados a comparação da corrida sem música e com música a 120 bpm tiveram diferença significativa na frequência cardíaca do décimo minuto. Na comparação da corrida sem música e com música a 140 bpm também houve diferença significativa do décimo minuto. Na comparação da música a 120 bpm com música a 140 bpm não ocorreu diferença significativa. Conclusão: Não há diferenças significativas no comportamento da FC quando se corre com música a 120 bpm e a 140 bpm. Teve uma diferença no décimo minuto, quando comparamos a corrida na presença e na ausência de música. O bom humor reparado após a corrida independe da música. A beta-endorfina liberada durante o exercício é a maior responsável em causar bom humor nos corredores. Abstract Objective: To analyze changes in heart rate (HR) during treadmill running for 20 minutes at a speed of 8.0 km/h without music, with music at 120 bpm (slow music) and 140 bpm ( fast music). Methods: The study gathered twelve men 21 to 36 years attending the academy Top Swin, bodybuilders and running 3-4 times a week. The HR was measured in the tenth minute after the fifteenth minute and the final 20’, also analyzed in all participants, and HRmax and HR average at all stages of work. All completed questionnaires about mood and musical preferences before testing. Data were analyzed by mean and standard deviation, compared by Two Way Anova and the significance level was p < 0.05. Results: In tests comparing the race without music and song to 120 bpm there was a significant difference in heart rate in the tenth minute. In comparing the race without music and with music 140 bpm there was no significant difference in the tenth minute. In comparing the music to music at 120 bpm with music at 140 bpm there was no significant difference. Conclusion: No significant differences in HR behavior when running with music at 120 bpm and 140 bpm. There was a difference in the tenth minute, when comparing the race in the presence and absence of music. Good humor repaired after the race is independent of music. The endorphin released during exercise is largely responsible for causing mood in the runners. Key-words: race, heart rate, music. Palavras-chave: corrida, frequência cardíaca, música. Recebido em 29 de julho de 2011; aceito em 8 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Coriolano, 846, 05047-000 São Paulo SP, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Introdução A música estimula adultos, crianças e idosos na prática de exercícios físicos, cada um com o seu estilo de música preferida. Segundo Miranda e Godelli [1], a atividade física com música pode criar um contexto positivo e agradável e, dessa maneira, tornar-se uma intervenção adequada para que os indivíduos permaneçam em atividade, considerando que tanto a música quanto a atividade física podem promover alterações fisiológicas e psicológicas, seja de natureza positiva ou negativa, dependendo de como são manipuladas as características de cada uma delas. Segundo Miranda e Souza [2], a música constitui-se em elemento valioso no contexto da atividade física em se tratando de idosos. Isso seria devido ao fato da presença da música levar os indivíduos a afastarem sensações desagradáveis produzidas pelo exercício prolongado, usando a música como um fator que pode contribuir para a adesão, diminuindo os níveis de desistência ao longo do tempo. Mori e Deustch [3] comentam que, para alunos de ginástica em academias, a música é muito importante dentro da atividade. Apesar da ginástica já ter seu papel na alteração do estado de ânimo, a presença da música tem uma influência extremamente positiva proporcionando alegria, coragem e vontade de se exercitar, interferindo no aspecto motivacional. A ausência da música, por outro lado, trouxe um certo peso à atividade tornando-a cansativa e trazendo a sensação de inutilidade a sua prática. Não só na ginástica mas também na hidroginástica, a música oferece o estímulo e o prazer de executar os movimentos propostos nas aulas. Siqueira et al. [4] falam que não basta apenas inserir músicas nas aulas de hidroginástica, é necessário escolher a música certa para o objetivo da aula e mais precisamente para o movimento proposto, pois, assim, terá a atividade muscular desejada. Neves et al. [5] comentam que vários exercícios causam mudanças na frequência cardíaca, melhorando o condicionamento físico. A hidroginástica e a corrida são algumas opções de atividades para melhoria do condicionamento físico. Para que os objetivos sejam alcançados com eficácia é importante o controle da intensidade do exercício durante as aulas. Este é um dos fatores mais importantes quanto à prescrição de exercícios, devendo ser constantemente monitorada para garantir que o trabalho seja realizado na faixa adequada de esforço, a fim de se obter todos os benefícios da atividade. Uma das maneiras mais eficazes de monitoramento da intensidade baseia-se no controle da frequência cardíaca. A música nas atividades e exercícios físicos é um fator de estímulo na maioria das vezes, mas pode ser também um fator desestimulante quando se escuta uma música desagradável aos ouvidos. Segundo Santos [6], a música de ritmo forte, própria para a prática de exercícios físicos, aumenta a frequência cardíaca dos participantes. A frequência cardíaca no exercício físico pode aumentar ou não, dependendo da música escutada durante o exercício. 157 Monteiro et al. [7] examinaram os efeitos do andamento da música sobre a frequência cardíaca em praticantes de ginástica aeróbica do sexo feminino com diferentes níveis de aptidão (baixa, média e alta) e três diferentes andamentos de música (lenta, moderada e rápida). Verificaram que os indivíduos iniciantes apresentaram frequência cardíaca maiores que os intermediários, que, por sua vez, apresentaram frequências cardíacas maiores que os avançados. Portanto, na ginástica aeróbica, como programa de treinamento, a intensidade pode ser controlada por meio do andamento musical, pois o mesmo impõe uma velocidade de execução do movimento de forma similar ao metrônomo, desde que se observem os níveis iniciais de aptidão do praticante para adequação do mesmo. Tibeau [8] comenta que a música tem uma grande importância no desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo, sendo de grande valor na educação física escolar. Vivências práticas que evidenciam atividades rítmicas motriciais prazerosas, com sentido e significado, são necessárias para o desenvolvimento da capacidade de expressão e abrem caminho para a expansão das conexões nervosas entre o cérebro e o corpo. Lacerda et al. [9] falam que a música, durante a atividade, traz muitos benefícios, mas dependendo da maneira utilizada pode trazer riscos à saúde dos alunos e dos professores. Os níveis de pressão sonora contida nas músicas em atividades de lazer, especificamente nas academias de ginástica, é considerada parte indispensável nas aulas de ginástica e não são raros os professores da área que acreditam que o som muito intenso aumenta o rendimento dos alunos, mantendo-os motivados, existindo, assim, a possibilidade desta exposição oferecer riscos à audição e a voz dos profissionais expostos por várias horas ao dia. Na cidade americana de Massachussets foi aprovado um projeto de lei que adverte que no interior das academias de ginásticas deverão existir placas informativas de que o ruído não deverá ultrapassar 90db NPS (níveis de pressão sonora), objetivando a proteção auditiva dos indivíduos [10]. Deus e Duarte [11] perceberam que não existia uma preocupação por parte das academias e dos professores quanto ao nível de risco que poderiam estar expostos, pois utilizavam níveis sonoros superiores àqueles que o ouvido humano estaria preparado para suportar. Desta maneira percebemos que a música traz muitos benefícios como estímulo e diminuição de sensação de cansaço, desde que tomemos cuidado com os decibéis. A música, além de vários benefícios que ela faz durante a atividade física, também ajuda no cuidado terapêutico. Para Bergold et al. [12], a música se constitui como expressão artística e cultural, importante e universal, produzindo trilhas sonoras que embalam o cotidiano da vida social, afetiva e profissional das pessoas, além de favorecer a manutenção da saúde mental, a prevenção do estresse e o alívio do cansaço físico. O interesse da enfermagem pela música como um recurso no cuidado tem aumentado e pode ser constatado nos estudos que apontam suas diversas contribuições junto ao cliente, a exemplo de trazer conforto, diminuir a dor, facilitar a comunicação e a relação cliente-enfermeiro, tornando o 158 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 cuidado mais humanizado. O uso da música na sua prática do cuidar está preocupado em fazê-lo de forma respeitosa com conhecimento científico e valorizando a construção de subjetividades inerentes ao afeto e a criatividade. Em toda a atividade praticada tem que haver uma preocupação com a música que irá escutar, pois pode influenciar muito o praticante, deixando-o mais agitado ou mais calmo dependendo do estilo musical. Segundo Valim et al. [13], as aulas de alongamento, com o objetivo de se alcançar o relaxamento, podem ser acompanhadas de música. Estas músicas são suaves, sem o predomínio de ritmo com supremacia da melodia, e muitas delas são sem acompanhamento vocal, ou seja, instrumentais, que facilitam o relaxamento corporal. Tal escolha é feita, muitas vezes, sem levar em consideração a preferência musical do grupo que praticará o exercício. As preferências musicais são pessoais e se originam de necessidades biológicas individuais, culturais, de treinamento e de experiências, as quais podem ou não ser modificadas. A música é composta por ritmo, melodia e harmonia, cada um destes aspectos tem sua determinada atuação no ritmo corporal, nos movimentos, nas emoções e a harmonia no intelecto. Valim et al. [13] dizem que a música pode afetar a energia muscular, elevar ou diminuir os batimentos cardíacos e influenciar na digestão. A função da música é dirigir a atenção do ouvinte para padrões adequados a um determinado estado de ânimo, além de afastar o tédio e a ansiedade. A música nas atividades é utilizada no sentido de motivar a continuidade dos exercícios físicos ou de distrair o praticante de estímulos não prazerosos como cansaço, dor e até tensão psicológica. Entretanto, o estilo musical adequado para determinadas atividades físicas, principalmente aquelas destinadas à diminuição do estresse, necessita ser investigado. O estudo de Valim et al. [13] e de Nakamura et al. [14] citam as relações entre o exercício físico, a música e os estados de ânimo. O estudo de Nakamura [14] investigou se há influência da música preferida e não preferida no estado de ânimo e no desempenho em exercícios realizados em intensidade vigorosa. A hipótese foi que a música de não preferência piore o estado de ânimo e o desempenho em exercícios realizados em intensidade vigorosa, enquanto a música preferida melhora essas variáveis. Os resultados desse estudo demonstraram uma melhora dos adjetivos positivos após a realização dos exercícios na intensidade vigorosa. A melhora nestes adjetivos pode ser atribuída à utilização da música preferida, pois esta ocasiona um aumento da motivação para exercitar-se, causa uma distração da monotonia das atividades físicas repetitivas, diminui o desconforto resultante da atividade física e o sujeito avalia o ambiente como mais agradável. Concluiu-se que as músicas preferidas e não preferidas influenciam os estados de ânimo, porém não são capazes de influenciar o desempenho em exercícios realizados em intensidade vigorosa. Afonso et al. [15] afirmam que dependendo do estilo musical ouvido, a frequência cardíaca do indivíduo pode mudar. Para Andrade e Ávila [16], o ritmo da música pode ser sincronizado com as taxas de trabalho muscular para ajudar a regular o movimento e prolongar o desempenho. Flores et al. [17] lembram que para iniciação da atividade física é indispensável uma avaliação física e alguns testes como, por exemplo, o da frequência cardíaca que, dentre os fatores avaliados nos diferentes testes, destaca-se quando se quer obter o nível de esforço exigido por uma atividade, bem como VO2máx, por haver uma relação linear entre a frequência cardíaca e o volume de oxigênio absorvido. Por ser uma prática relevante pode ser aplicado em diversos ambientes, com mínima estrutura necessária. Entretanto, vários fatores podem influenciar a frequência cardíaca, como a alimentação, temperatura, estresse e umidade, o que pode fazer com que esta linearidade se torne menos exata, influenciando no resultado dos testes e posteriormente na prescrição do exercício. Todo indivíduo tem suas individualidades, que são caracterizadas pelo nível de aptidão física, condicionamento e frequência cardíaca, apresentando diferentes respostas para cada estímulo. Alonso et al. [18] comentam que, para o treinamento aeróbio, utiliza-se como controle de intensidade dos exercícios físicos percentuais da frequência cardíaca máxima e/ou do consumo máximo de oxigênio. Em qualquer um dos casos é preciso obter o máximo que o indivíduo pode chegar, para só então, aplicar percentuais sobre esses máximos, determinando a intensidade correta para a prática dos exercícios e analisar os resultados. É possível perceber que as respostas fisiológicas de uma amostra podem apresentar variações de um indivíduo para o outro, mesmo sendo um grupo homogêneo sobre o nível de condicionamento. Assim, a utilização das correlações do controle de intensidade poderá ser feita desde que seja respeitada a individualidade biológica. Uma das formas é combinar diferentes parâmetros para a prescrição dos exercícios, bem como diferentes métodos para o acompanhamento das intensidades no exercício físico. Lopes et al. [19] confirmam que o aumento da idade provoca alterações na modulação autonômica exercida sobre o nodo sinusal retratada por uma diminuição da variabilidade da frequência cardíaca em indivíduos de meia idade que não foi modificada de maneira significativa pelo tipo de treinamento físico estudado. Segundo Yukio et al. [20], a capacidade de variar a frequência cardíaca em função de estímulos externos parece representar um importante papel fisiológico na vida diária mesmo em situações simples de mudanças posturais, mas principalmente em situações de esforço físico mais intenso, como atividade esportiva. Além disso, eventos cardiovasculares ou mesmo a evolução natural da idade parecem colaborar para a perda ou redução da capacidade de variar a frequência cardíaca. A análise da frequência cardíaca é muito importante para observarmos a variação do esforço no exercício e foi utilizada para analisar se acontecem mudanças durante a corrida com música e sem música. Segundo Herdy et al. [21], a resposta da frequência cardíaca, durante teste de esforço, mostra-se de grande importância na análise prognóstica de um teste Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 funcional. Os mecanismos pelos quais o déficit cronotrópico relaciona-se a um pior prognóstico não estão totalmente estabelecidos. A recuperação da frequência cardíaca no pósesforço está intimamente ligada à modulação do tônus vagal. Já está bem estabelecido maior risco de morte quando existe diminuição na atividade parassimpática. É comum acontecer a variabilidade da frequência cardíaca em indivíduos de faixas etárias diferentes. Para Yukio et al. [20] pode-se depreender que a VFC (variabilidade da frequência cardíaca), aplicada a dados extraídos de análises comparativas das respostas cardíacas, nas posições supina e bípede, e também durante os próprios testes de mudança postural, como a MPA (manobra postural ativa), tem uma evidente colaboração como ferramenta de investigação do aumento da idade de seres humanos hígidos, com relação à função autonômica cardíaca. Houve progressiva diminuição da resposta de FC (frequência cardíaca) com o avançar da idade, principalmente na adaptação à posição bípede, e esses dados podem servir de alerta ao desenvolvimento de ações preventivas. O controle da frequência cardíaca é muito importante em muitos exercícios para alcançar os objetivos dos mesmos. Furtado et al.[22], em seu estudo de análise de consumo de oxigênio, frequência cardíaca e dispêndio energético, durante as aulas de ginástica em academias, sugerem que as respostas destas variáveis estejam de acordo com as recomendações da American College Sports Medicine (ACSM) em relação à zona ideal de treinamento de um exercício físico 60 a 90% da frequência cardíaca máxima e 50 a 85% do VO2máx, proporcionando aumento da resistência cardiorrespiratória, melhorando a condição aeróbia e contribuindo de forma efetiva para a manutenção e melhora da aptidão física e qualidade de vida. Segundo Martins e Santos [6,23], a música de ritmo forte, própria para a prática de exercícios físicos, aumentam a frequência cardíaca e uma sessão sem música é a que tem menor aumento da frequência cardíaca. A música, quando é consonante aos ouvidos, é capaz de aumentar o rendimento dos indivíduos praticantes de caminhada em comparação ao mesmo exercício realizado sem música, contudo quando a música é dissonante aos ouvidos, ela vai ser um fator de rendimento negativo, maior que fazer exercícios físicos na ausência de música. A relação música e exercício físico possuem expressividades, tanto nas questões referentes à motivação, quanto nas questões referentes a rendimento. O estudo de Martins [23] cita que o objetivo proposto diz respeito às alterações que a música aliada ao exercício físico tenderia a interferir na frequência cardíaca, distância percorrida, fadiga, tensão, confusão mental, vigor, depressão e raiva nas pessoas. Baseando-se nos resultados desse estudo, conclui-se que a presença da música durante o exercício físico pode contribuir para a melhoria da performance psicofisiológica do indivíduo em alguns dos itens estudados. A fadiga foi o único item que as alterações não foram de significado estatístico, o que nos leva a acreditar numa maior influência dos sintomas fisiológicos sobre a acomodação psicológica dos 159 sujeitos. Contudo, sempre devemos escolher bem nossa trilha sonora para ouvirmos durante o exercício físico, pois a música influência muito o nosso corpo e a nossa mente. O objetivo desta pesquisa é analisar se há mudanças na frequência cardíaca, durante a corrida na esteira por 20 minutos com velocidade de 8,0 km/h sem música, com música de 120 bpm (música de andamento lento) e com música de 140 bpm (música de andamento rápido). Material e métodos Amostra Participaram desta pesquisa 12 participantes do sexo masculino (21 a 36 anos), alunos da academia Top Swin na cidade de São Paulo, em novembro de 2010. Todos praticantes de musculação e corrida 3 a 4 vezes por semana. Coleta de dados Mensuramos a frequência cardíaca dos participantes durante 20 minutos de corrida em esteira da marca TRX 380 Total Health a 8 km/h, tendo em vista que os participantes poderiam não aguentar se o tempo e a velocidade fossem maiores. No primeiro dia, correram os 20 minutos sem música; no segundo dia, com música a 120 bpm; e no terceiro dia, com música a 140 bpm, ouvidas por um MP3 (SONY) contendo 20 minutos de música. Os testes foram feitos com intervalo de 2 dias entre eles. Foi verificada, em todas as etapas do trabalho, a FC dos alunos no décimo, décimo quinto e vigésimo minuto. Analisamos a FCmáx e média de todos os participantes durante a corrida. Os participantes responderam um questionário de estado de humor, antes e depois da corrida e um de preferências musicais (as músicas ouvidas durante a corrida eram da preferência dos participantes). Foi utilizado um monitor de frequência cardíaca F4F da marca Polar, com função de medir a frequência cardíaca dos participantes. Todos assinaram um termo de consentimento. Análise estatística Os dados foram analisados por média e desvio padrão e a comparação pela Anova Two Way e o nível de significância p < 0,05. Resultados O objetivo deste estudo foi analisar se ocorre alguma mudança na frequência cardíaca, durante testes de corrida sem música, com música de 120 bpm e com música de 140 bpm, considerando 120 bpm um andamento musical lento e 140 bpm um andamento musical rápido, em indivíduos do sexo masculino praticantes de corrida e musculação. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 160 As 3 tabelas apresentam as médias e desvio padrão da frequência média, máxima, nos 10 minutos, nos 15 minutos e nos 20 minutos da corrida. A escala de motivação respondida pelos participantes mostrou que no teste sem música 16,6% dos mesmos estavam com seu estado de espírito feliz para realizar a corrida e depois do teste ficaram mais felizes, 50% estavam com seu estado de espírito feliz e continuaram no mesmo estado de humor e 33,3% estavam com o estado de ânimo triste e depois do teste ficaram felizes. No teste com música de 120 bpm mostrou que 25% dos mesmos estavam com seu estado de espírito feliz e depois do teste ficaram mais felizes, 58.3% estavam com seu estado de espírito feliz e depois do teste continuaram com o mesmo estado de humor e 16,6% estavam com seu estado de ânimo triste e depois do teste ficaram felizes. No teste com música de 140 bpm mostrou que 33,3% dos mesmos estavam com seu estado de espírito feliz e ficaram depois do teste mais felizes, 41,6% estavam com seu estado de espírito feliz e depois do teste continuaram felizes da mesma forma e 25% estavam com seu estado de espírito triste e ficaram felizes depois do teste. Apresentaremos 3 tabelas sobre o comportamento da FC com presença e a ausência de música durante a corrida em esteira: Tabela I - Mudança da frequência cardíaca durante 2 testes de corrida de 20 minutos em dias diferentes, primeiro teste sem música e segundo com música de 120 bpm, em homens praticantes de corrida e musculação da academia Top Swin. Sem Música FC Média FC Max FC 10’ FC 15’ FC 20’ 135,33 (9,1) 146,91 (12,22) 151,5 (9,2) 140,91 (11,64) 141,75 (10,02) Música 120 bpm 133,91 (11,35) 149,16 (13,2) 137,5 (13,34) 137,83 (12,73) 140,91 (11,68) Δ% -1,05 1,53 -9,25 -2,19 -0,6 *p < 0,05 A Tabela I mostra que no teste houve uma diferença significativa (p < 0,05), na frequência cardíaca no décimo minuto sem música e com música de 120 bpm. Tabela II - Mudança da frequência cardíaca durante testes de corrida de 20 minutos em dias diferentes, testes sem música e com música de 140 bpm, em homens praticantes de corrida e musculação da academia Top Swin. Sem Música FC Média FC Max FC 10’ FC 15’ FC 20’ *p < 0,05 135;33 (9,1) 146,91 (12,22) 151,5 (9,2) 140,91 (11,64) 141,75 (10,02) Música 140 bpm 135,41 (12,41) 147,41 (16,43) 137,33 (13,68) 139,58 (14,58) 141,75 (14,05) Δ% 0,05 0,34 -9,36 -0,95 0 A Tabela II apresenta no teste uma mudança significativa (p < 0,05), na frequência cardíaca no décimo minuto, sem música e com música de 140 bpm. Tabela III - Mudança da frequência cardíaca durante testes de corrida de 20 minutos em dias diferentes, testes com música de 120 bpm e com música de 140 bpm, em homens praticantes de corrida e musculação da academia Top Swin. FC Média FC Max FC 10’ FC 15’ FC 20’ Música 120bpm 133,91 (9,1) 149,16 (12,22) 137,5 (9,2) 137,83 (11,64) 140,91 (10,02) Música 140 bpm 135,41 (12,41) 147,41 (16,43) 137,33 (13,68) 139,58 (14,58) 141,75 (14,05) Δ% 1,12 -1,18 -0,13 1,26 0,59 *p < 0,05 A Tabela III mostra que no teste com música de 120 bpm com o de 140 bpm não houve diferença significativa (p < 0,05) na mudança da frequência cardíaca em nenhum dos momentos analisados. Discussão As Tabelas I e II mostram que a maior diferença no comportamento da FC ficou na análise do décimo minuto, enquanto os outros parâmetros não tiveram diferenças significativas. Alonso et al. [18] demonstram que a queda da variabilidade da frequência cardíaca ocorre durante a fase do exercício em que predomina o metabolismo aeróbico como fonte de energia. Santos [6] mostrou que a música através da teoria da atenção restrita e do estabelecimento do ritmo da atividade é fator de motivação, distração e animação dos sujeitos durante sua prática, afetando o fisiológico (FC e rendimento) e o psicológico (estado de humor) dos indivíduos. A música rápida de 140 bpm do teste alterou pouco a frequência cardíaca, deixando-a menos acelerada, possivelmente pelo motivo da música ser um fator fisiológico menos estressor para a FC, liberando menor estímulo adrenérgico, e um aspecto motivacional, ajudando o indivíduo a correr sem perceber o esforço realizado. No grupo sem música a FC ficou mais elevada em alguns momentos, talvez pela falta de música, que deixa o exercício mais estressante para o praticante. Mori e Deustsch [5] relatam que a ginástica rítmica acompanhada de música interfere nos estados de ânimo de seus participantes de forma positiva, as ginastas se sentiram menos tristes, com menos medo e mais ativas. A atividade física com música por ser mais agradável poderia reforçar a sensação de desligamento da sensação de fadiga. Assim, temos motivos para utilizar a música na execução da atividade física; porém, alguns estudos mostram que é importantíssimo oferecer a música que mais agrada ao praticante de corrida, caso contrário, poderá ter efeito deletério ao desempenho. Nakamura et al. [14] observam que a música ocasiona alterações positivas no desempenho do exercício físico e no Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 estado de ânimo, exercido pelo estilo da música ouvida durante os exercícios. Está bem estabelecido que a preferência musical é capaz de influenciar os estados de ânimo positivamente e ou negativamente. Teoricamente, as músicas preferidas são estímulos prazerosos que provocam uma melhora no estado de humor e possivelmente no desempenho do exercício. Por outro lado, a música não preferida é um estimulo não prazeroso, causando uma piora no estado de ânimo e uma diminuição no desempenho. Neste trabalho, antes dos testes, foi aplicado um questionário de preferência musical, sendo que 60% preferiram rock, 30% foram dance e 10% responderam MPB. Todos ouviram durante a corrida músicas de sua preferência. Segundo Valim et al. [13], as preferências musicais são pessoais e se originam de necessidades biológicas individuais, culturais, de treinamento e de experiências, podendo ou não ser modificadas. Podemos apreciar as músicas e classificá-las para diferentes funções, por exemplo, músicas para dançar, músicas só para ouvir. Muitos ouvintes acreditam que a música é entretenimento, outros, verdadeiros consumistas, a utilizam em vários ambientes e atividades diárias. Consciente ou não da sua presença, as pessoas escutam músicas, expondo-se a seus efeitos. Miranda e Godelli [24] comentam que a música nas atividades físicas é utilizada no sentido de motivar a continuidade dos exercícios físicos e de distrair o praticante de estímulos não prazerosos como cansaço, dor ou até tensão psicológica. Entretanto, o estilo musical adequado para determinada atividade física, principalmente aquelas destinadas à diminuição de estresse, necessita ser investigada. O fator humor e estado de ânimo após atividade física parece não ter influência da música e sim da liberação do hormônio beta-endorfina durante o esforço físico. Este hormônio é conhecido pelo seu poder analgésico e gerador de bem-estar físico [1]. Conclusão Não há diferenças significativas no comportamento da FC quando se corre com música a 120 bpm e a 140 bpm. Houve uma diferença no décimo minuto, quando comparamos a corrida na presença e na ausência de música. O bom humor reparado após a corrida independe da música. A betaendorfina liberada durante o exercício é a maior responsável em causar bom humor nos corredores. Referências 1. Miranda MLJ, Godelli MRCS. Música, atividade física e bemestar psicológico em idosos. Rev Bras Ciênc Mov 2003;11:74-82. 2. Miranda MLJ, Souza MR. Efeitos da atividade física aeróbica com música sobre estados subjetivos de idosos. Rev Bras Ciênc Esporte 2009;30:35-41. 3. Mori P, Deustsch S. Alterando estados de ânimo nas aulas de ginástica rítmica com e sem a utilização de música. Revista Motriz 2005;11:102-10. 4. Siqueira GR, Manhães FC, Carvalho CP, Souza CHM. Considerações sobre a influência da música na intensidade dos 161 exercícios realizados em aulas de hidroginástica. Revista Digital EFDesportes 2009;128:10-6. 5. Neves ARM, Doimo LA. Avaliação da percepção subjetiva de esforço e da frequência cardíaca em mulheres adultas durante aulas de hidroginástica. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2007;9:40-6. 6. Santos MOS. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 162 Artigo original Maturação esquelética versus idade cronológica nas categorias de base do futebol Skeletal maturity versus age chronological age in young Brazilian soccer players Marcos Maurício Serra, Ft.*, Angélica Castilho Alonso, Ft.**, Julio Stancati*** , Júlia Maria D’Andréia Greve**** *Profissional da Educação Física, Fisioterapeuta, Especialista em Fisiologia do Exercício, **Profissional da Educação Física, doutorando pelo Departamento de Fisiopatologia Experimental – FMUSP e Pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento (LEM) do IOT/HCFMUSP, *** Médico especialista em Medicina Esportiva, ****Fisiatra, professora associada da FMUSP, Diretora do Laboratório do Estudo do Movimento IOT-FMUSP Resumo O presente estudo teve como objetivo comparar a idade cronológica versus idade óssea de jogadores de futebol das categorias de base do futebol brasileiro. Foram avaliados 30 jovens jogadores de futebol com idade cronológica de 15,0 (± 0,7) anos e idade óssea (avaliada pela radiografia de punho esquerdo) de 16,5 (± 1,0) anos, inscritos na Federação Paulista de Futebol. Todos estavam treinando três e cinco vezes por semana e jogando, de forma competitiva pelo período mínimo de um ano. Os jogadores de futebol da categoria de base apresentam idade óssea maior que suas idades cronológicas (p = 0,001). Sugere-se que os jogadores de futebol das categorias de base do futebol brasileiro apresentam uma maturação esquelética significantemente maior que suas idades cronológicas. Palavras-chave: idade óssea, maturidade esquelética, punho, desenvolvimento ósseo, futebol. Abstract The purpose of this study was to compare the chronological age versus skeletal maturity of the young Brazilian soccer players. We evaluated 30 young soccer players with a mean chronological age of 15.0 (± 0.7) years and mean skeletal maturity of 16.5 (± 1.0) years (assessed by radiograph of left wrist) enrolled in the Paulista Soccer Federation. All trained three to five times/week during one year or more. The results showed that the young soccer players have a significantly higher skeletal maturity than their chronological age (p = 0.001). We conclude that the young Brazilian soccer players of the basic categories have a significantly higher skeletal maturity than their chronological age. Key-words: bone age, skeletal maturity, wrist, bone development, soccer. Recebido em 28 de julho de 2011; aceito em 26 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Marcos Maurício Serra, Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 333, 04503-010 São Paulo SP, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 163 Introdução Material e métodos A formação de atletas de elite inicia-se na infância e há dificuldades para se fazer a adequação das cargas de treinamento para os jovens atletas, que muitas vezes não levam em consideração as características maturacionais e de desempenho. O desempenho esportivo excelente só pode ser alcançado quando os seus fundamentos são trabalhados e bem desenvolvidos na infância, mas é necessário que se respeite o desenvolvimento dos atletas jovens nos diferentes estágios de maturação. Um bom planejamento de treinamento deve considerar os processos de crescimento e desenvolvimento da constituição corporal e aptidão física dos jovens, pois organismos em diferentes estágios de maturação apresentam índices de aptidão física diferentes, em especial no componente força [1]. A adequação do treinamento e desempenho à maturidade biológica deve nortear os profissionais que trabalham com as atividades esportivas. O desempenho esportivo de elite e as características do crescimento das crianças e adolescentes estão associados com o estágio de maturação biológica [2]. Respeitar os níveis de maturação esquelética e muscular dos jovens adolescentes, colocando-os para competir e treinar em igualdade de condições do desenvolvimento físico maturacional é primordial na prática esportiva. O futebol, sistematicamente, exclui garotos de maturação tardia e favorece garotos com maturação precoce, que ajuda na especialização esportiva. É possível que garotos com maturação tardia abandonem o futebol [3]. Adolescentes fisicamente imaturos podem sofrer mais lesões quando jogam futebol com companheiros de mesma idade mais maduros fisicamente [4]. Já Machado et al. afirmam que indivíduos de mesma idade cronológica, porém mais maturados, podem apresentar vantagens esportivas pela maior força e massa muscular. O estado de maturidade de uma criança ou de um adolescente pode ser definido por sua idade cronológica e por sua idade óssea [6]. A criança é fisiologicamente diferente do adulto e deve ser treinada de maneira diferente do adulto. Os programas de treinamento devem ser específicos para cada grupo etário com atenção para os fatores de desenvolvimento ligados à idade. Em geral a capacidade de desempenho aumenta à medida que a criança se aproxima da maturidade física. No entanto, quando os atletas categorias de base atingem a maturidade física, suas funções fisiológicas atingem um platô [6]. Um dos métodos mais utilizados para determinar a idade óssea é o de Greulich & Pyle [7] que é a radiografia de mão e punho esquerdo do indivíduo comparado com padrões radiográficos. É um método eficaz e ajuda os educadores físicos e profissionais ligados à medicina esportiva na prescrição de atividades físicas adequadas, que não interferem na maturação corporal e ajudam na prevenção de lesões. Este estudo tem como objetivo comparar a idade cronológica versus idade óssea de jogadores de futebol das categorias de base. Trata-se de um estudo descritivo transversal, realizado no departamento Médico de Futebol Amador do S.C. Corinthians Paulista e obteve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Brasil) nº 1321/03, respeitando as normas internacionais de experimentação com humanos. O estudo seguiu as diretrizes e normas que regulamentam a pesquisa com seres humanos (lei 196/96), sendo informado aos participantes todos os propósitos e métodos utilizados no estudo e ressaltando o direito dos mesmos, de desistir do experimento a qualquer momento. Após obtenção de termo de consentimento livre e esclarecido dos pais ou responsáveis, os dados foram coletados. Foram avaliados 30 jovens jogadores de futebol, praticantes há mais de um ano e que disputavam os campeonatos de futebol organizados pelas Federações Estaduais e Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os critérios de inclusão foram: jogadores de futebol; sexo masculino; idade entre 13 e 16 anos; inscritos na Federação Paulista de Futebol; ser brasileiros e residentes na cidade de São Paulo; e estarem treinando (frequência entre três e cinco vezes por semana) e jogando competitivamente pelo clube pelo período mínimo de um ano. A idade cronológica foi calculada com base nas datas de nascimento e do dia em que as radiografias foram realizadas. A idade óssea foi avaliada por meio da radiografia de punho esquerdo, seguindo o protocolo de Greulich e Pyle [7]. Analise estatística A análise descritiva foi realizada por meio de comparações de seus percentuais por categoria ou pelo cálculo de suas médias, medianas e desvio-padrão. As variáveis foram testadas para distribuição normal por meio do teste de Komogorov-Smirnov. A comparação das variáveis idade óssea com idade cronológica foi feita pelo teste t não pareado. Os testes estatísticos foram considerados significantes para um erro alfa de 5% (p < 0,05). Os cálculos e gráficos foram realizados no software Statistica (Versão 5.1 – Statsoft, Inc, Tulsa, OK) e Microsoft Excel (Versão 2003 SP2, Portland, OR). Resultados Foram avaliados 30 jovens jogadores de futebol com média de idade cronológica de 15,0 (± 0,7) anos e média de idade óssea de 16,5 (± 1,0) anos. Os jogadores de futebol das categorias de base apresentam uma maturação esquelética significantemente maior que suas idades cronológicas (p = 0,001) (Figura 1). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 164 Figura 1 - Comparação da idade cronológica versus idade óssea dos jogadores de futebol. 17,0 Cronológica vs. Óssea 16,8 16,6 16,4 16,2 16,0 15,8 15,6 15,4 15,2 15,0 14,8 14,6 Cronológica Óssea Mean ±SE ±1,96*SE Discussão Crescimento, desenvolvimento e a maturação são termos que podem ser utilizados para descrever as alterações que ocorrem no corpo, que têm início na fase embrionária e continuam até a idade adulta [1,5]. Os eventos biológicos causam mudanças nos sistemas endócrino, nervoso, antropométrico e fisiológico [8]. O crescimento e desenvolvimento das estruturas corporais regem as capacidades fisiológicas e de desempenho [9]. Crescimento é o aumento do tamanho do corpo ou de qualquer uma de suas partes. Desenvolvimento refere-se à diferenciação celular e especialização de funções e reflete as alterações funcionais que ocorrem com o crescimento. Maturação é o processo de aquisição da forma e função do organismo adulto e é definida pelo sistema ou pela função que estiver sendo considerada [6]. Bloomfield et al. [10] defenderam a necessidade de referenciais de parâmetros de aptidão física e de crescimento dos jovens atletas para a avaliação do desenvolvimento e elaboração de perfis de acompanhamento destes atletas. A maturação de um indivíduo implica em mudanças morfológicas observadas durante o crescimento, acentuadas na puberdade, envolvendo a maioria dos órgãos e estruturas corporais; no entanto, tais eventos não têm início na mesma idade e não tem a mesma duração para completarem seu ciclo de transformações definitivas [2,3,5]. As respostas individuais do desenvolvimento à atividade física de treinamento regular são insuficientes para alterar os processos de crescimento e maturação programados genotipicamente [3,6]. Machado & Barbanti [5] descrevem que os fatores genéticos têm grande participação na determinação d estatura, distribuição de massa corporal, comprimento de membros, estrutura óssea e aspecto facial, mas que o baixo nível socioeconômico, a alimentação inadequada ou insuficiente, a falta de atividade física e algumas doenças podem interferir no resultado final. Portanto não se sabe quais as repercussões do treinamento e prática de futebol organizado e competitivo na maturação esquelética dos jovens jogadores. A avaliação da maturidade esquelética pela radiografia de punho esquerdo é bem aceita como medida da idade óssea [11,12]. Em nosso estudo os atletas demonstraram uma maturação óssea precoce quando comparado com a idade cronológica. Machado et al. [13] correlacionaram o desempenho motor à idade biológica determinada pelo pico de velocidade do crescimento e demonstraram que os indivíduos que apresentavam maior idade biológica tinham melhor desempenho nos testes motores. Demonstraram também que a idade óssea aumenta de forma mais acelerada que a idade cronológica, sendo que a maior diferença ocorre nos períodos etários finais da adolescência. Pena Reyes et al. [14] analisaram idade óssea de 55 garotos (6-17 anos) participantes de uma liga de futebol e sugeriram que garotos com maior maturação óssea têm mais sucesso no futebol. Tritrakarnet et al. [15] estudaram 50 jogadores asiáticos com idade entre 15 e 16 anos. Mais de 30% dos atletas apresentaram idade óssea de 19 anos. Malina et al.[3] realizaram um estudo com 135 meninos jogadores de futebol de elite portugueses, com idade entre 10 e 17 anos e sugeriram que o futebol exclui os jogadores com maturidade tardia e favorece os jogadores com uma maturidade precoce em relação à idade cronológica. Silva et al. [16] compararam a idade óssea e biológica em jovens atletas de tênis, natação e futebol. Não houve diferenças entre os grupos, porém os atletas de futebol foram os que apresentaram maior maturidade óssea em relação à cronológica. Os indivíduos com maior maturidade esquelética com músculos mais fracos são mais susceptíveis à lesão no futebol comparados com companheiros de mesma idade cronológica [4,17]. Hansen et al. [18] analisaram 98 jogadores de futebol de 10-12 anos divididos em jogadores de elite e não elite. A estatura corporal, peso corporal, índice de massa corporal, dobras cutâneas, maturação, potencial genético para a altura e peso e estatura no nascimento foram analisadas. Constataram que os jogadores de elite são mais altos, apresentam dobras cutâneas mais baixas e o volume testicular maior. A defasagem entre idade óssea e cronológica poderia ser um fator de seleção para a prática de futebol, pois os indivíduos mais aptos fisicamente seriam naturalmente selecionados e teriam melhor desempenho motor. Ainda que haja melhor aptidão para a prática esportiva, o adolescente é um organismo em desenvolvimento e crescimento, com necessidades especiais de alimentação e treinamento. Cargas altas de treinamento para jogadores de futebol jovens é uma prática comum de muitos treinadores e preparadores físicos, pois atletas com maturação precoce se sobressaem nestas categorias Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 [18-21]. O excesso de treinamento e atividades inadequadas podem causar graves lesões e acabar com a carreira de um atleta, além de alijar potenciais talentos com menor grau de desenvolvimento ósseo na adolescência. Estes parâmetros são muito importantes para educadores físicos, fisioterapeutas e médicos, permitindo a prescrição adequada de exercícios e cargas para os futebolistas, respeitando a maturação corporal dos jovens. Conclusão Os jogadores de futebol da categoria de base analisada apresentaram uma maturação esquelética significantemente maior que suas idades cronológicas. Referências 1. Vaughan VC, Mckay JR, Behrman RE. Nelson Tratado de Pediatria. 11ª ed. Rio de Janeiro: Interamericana; 1983. p. 9-31. 2. Beunen G, Malina RM. Growth and biological maturation: relevance to athletic performance. In: Bar-Or. The child and adolescent athlete. Oxford: Blackwell Science; 1996. 3. Malina RM, Peña Reyes ME, Eisenmann JC, Horta L, Rodrigues J, Miller R. 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São Paulo: Manole; 1999. p.115-28. 166 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Revisão Nutrição, hidratação e suplementação para jogadores de futebol Nutrition, hydration and supplementation for soccer players Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia*, Adriana Passanha** *Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, **Nutricionista com aprimoramento em Nutrição em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Resumo O objetivo desta revisão é relacionar diversos assuntos sobre futebol e nutrição, como necessidade energética, ingestão de macro e micronutrientes, hidratação e suplementação, a partir de dados da literatura científica. Por meio de rastreamento literário sistemático, foram selecionados artigos publicados nos idiomas português e inglês, durante o período de 2000 a 2009. O consumo adequado de nutrientes é essencial para um bom desempenho no esporte; assim sendo, a dieta de um jogador de elite deve atender seu gasto energético, fornecer balanço adequado de carboidratos, proteínas e lipídeos, além de atender às recomendações de vitaminas e minerais. A hidratação e o balanço eletrolítico devem ser adequados a cada jogador, contribuindo para o bom desempenho nas partidas. A relevância da ingestão de suplementos no futebol deve ser discutida sob perspectiva científica, juntamente com preocupações éticas ligadas à suplementação e à educação esportiva. Palavras-chave: futebol, necessidades nutricionais, hidratação, suplementos dietéticos. Abstract The objective of this review was to relate various issues about football and nutrition, such as energy needs, intake of macro and micronutrients, hydration and supplementation, based on scientific literature data. Articles published in Portuguese and English, from 2000 to 2009, were selected using systematic screening. Adequate intake of nutrients is essential for good performance in sports; therefore, elite player’s diet should match energy expenditure, to provide adequate balance of carbohydrates, proteins and lipids, and the recommended intake of vitamins and minerals. Hydration and electrolyte balance should be tailored to each player, thereby contributing to the good performance in games. The relevance of taking supplements in football should be discussed from scientific perspective, along with ethical concerns related to education and supplementation in sports. Key-words: soccer, nutritional requirements, fluid therapy, dietary supplements. Recebido em 5 de julho de 2011; aceito em 19 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Departamento de Nutrição, Avenida Dr. Arnaldo, 715 - 2º andar, Cerqueira Cesar 01246-904 São Paulo SP, Tel: (11) 3061-7701, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Introdução Recomendações dietéticas O futebol é o esporte mais popular do mundo, com aproximadamente 200 milhões de jogadores em 186 países registrados na International Federation of Football Association (FIFA) [1]. A demanda fisiológica do futebol é muito variada durante o jogo, sendo atribuída a diversos fatores como aptidão física, condições climáticas, condições nutricionais, entre outros [2]. O desempenho de jogadores de futebol vem melhorando nas últimas décadas: a distância média percorrida durante uma partida aumentou em mais de 50%, comparada com o que se observava na década de 70. Esta melhora se deu, provavelmente, pelo desenvolvimento e intensificação das cargas ao longo dos anos [3]. O futebol é uma modalidade de esporte com exercícios intermitentes de intensidade variável. Uma partida do jogo envolve mais atividades aeróbias (88%) do que anaeróbias (12%). A distância percorrida no primeiro tempo é 5% maior do que a do segundo tempo e a distância varia de acordo com a posição do jogador em campo [4]. Dependendo da função tática que o jogador exerce no time, ele tem um nível de solicitação metabólica que exige e gera adaptações diferenciadas nos processos de produção de energia [5]. Desde a Conferência da FIFA sobre Nutrição no Futebol realizada em 1994, o futebol de elite tem se desenvolvido muito, considerando a performance no jogo e no treino [6]. Alimentação, treinamento e estado nutricional são fatores fundamentais para um bom desempenho na partida. As necessidades energéticas dos jogadores dependem, também, da função tática, da distância percorrida e do estilo do jogo [7]. O aumento das necessidades de macro e micro nutrientes pode ser suprido adequadamente através de dieta saudável e balanceada. Apesar disso, a ingestão adequada de alguns suplementos juntamente com um treinamento apropriado pode contribuir para melhora significativa de desempenho [8]. O objetivo desta revisão é relacionar diversos assuntos sobre futebol e nutrição, incluindo necessidade energética, ingestão de macro e micronutrientes, hidratação e suplementação, a partir de dados da literatura científica. Necessidades energéticas Material e métodos As informações foram obtidas por meio de rastreamento literário sistemático, nas bases de dados Lilacs, Medline, Scielo e Bireme, empregando-se a técnica booleana utilizando as palavras: and e or e os seguintes descritores: “futebol” or “soccer” and “nutrição” or “nutrition”, com limites de idioma (português e inglês) e de período (2000 a 2009). Foram rastreados 72 materiais. Destes, 24 foram selecionados por atenderem aos objetivos da presente pesquisa. 167 A quantidade e a qualidade dos treinamentos influenciam o gasto energético diário. Jogadores de futebol treinam em intensidade moderada a alta, e tem suas necessidades energéticas em torno de 3150 a 4300 calorias diárias. O gasto energético por jogo pode alcançar 1360 calorias [4,7]. Carboidratos Uma dieta com quantidades adequadas de carboidrato é essencial para o desempenho atlético, pois esse nutriente é estocado no fígado e músculos como glicogênio, tendo como função prover fonte primária de energia para os músculos em exercício e para o cérebro, além de metabolizar gordura de forma mais eficiente [7]. O jogo de futebol demanda tanto as reservas de carboidrato quanto as de líquidos. A ingestão de carboidratos antes e durante uma partida diminui a utilização de glicogênio muscular durante o jogo, e aumenta o desempenho na corrida durante os momentos finais [6,7]. Durante a primeira metade do jogo, o nível de glicogênio muscular não constitui fator limitante do desempenho. Na segunda metade, se esse nível estiver reduzido desde o início do jogo haverá comprometimento do desempenho físico. Normalmente há depleção de 20 a 90% do glicogênio muscular durante competições de alto nível [4]. A ingestão de 312 g de carboidratos nas 4 horas precedentes ao início do exercício resulta em aumento de 15% no desempenho físico. Essa ingestão 10 minutos antes do início de um jogo diminui a utilização de glicogênio muscular em 39%, aumenta a velocidade de corrida e a distância percorrida na segunda metade da partida em 30%. Os jogadores que ingerem bebidas contendo carboidratos mantêm intensidade maior de exercício durante a partida, quando comparados com os que consomem somente água [4]. É importante o consumo imediato de alimentos ricos em carboidratos após o exercício por ser o momento em que a recuperação dos estoques de glicogênio muscular está mais sensível. Essa recuperação envolve a restauração dos estoques hepáticos e musculares de glicogênio, reposição de fluidos e eletrólitos, regeneração e reparos de lesões causadas pelo exercício e adaptação após o estresse catabólico. Problemas musculares, por trauma ou treinamento excessivo, podem limitar o potencial de reposição destes estoques [4,7]. A síntese de glicogênio muscular tem precedência na restauração do glicogênio hepático e ocorre mesmo sem a ingestão de carboidratos, após o exercício, em taxas baixas, a partir dos substratos fornecidos pela neoglicogênese. Porém, a síntese completa depende da ingestão adequada de carboidratos, de preferência de índice glicêmico de moderado a alto, 168 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 que demonstraram ser mais eficazes na taxa de ressíntese do que alimentos com índice glicêmico baixo [4]. A recomendação de ingestão de carboidratos para os jogadores de futebol é de 60 a 70% do valor energético diário total, ou 6 a 10 g/kg/dia [7]. Proteínas A oxidação de aminoácidos (principalmente os de cadeia ramificada), as lesões introduzidas pelo exercício nas fibras musculares, o uso de pequenas quantidades de proteína como fonte de energia e o ganho de massa magra aumentam as necessidades proteicas [7]. A proteína contribui para o pool energético durante o repouso e o exercício, sendo que durante a atividade sua oxidação contribui com 5 a 10% do fornecimento total de energia. Assim, os aminoácidos servem como fonte auxiliar de combustível durante exercícios intensos e de longa duração e, após sua oxidação, são irreversivelmente perdidos. Caso não sejam repostos, via alimentação, haverá comprometimento do processo normal de síntese proteica. Isso pode levar à perda da força muscular, diminuindo, assim, o desempenho durante uma partida de futebol [4]. O consumo mais indicado para jogadores de futebol varia entre 1,4 a 1,7 g/kg/dia. Esta recomendação é facilmente alcançada pelos jogadores brasileiros com consumo diário de carnes, e da combinação do arroz com feijão [7]. Em atletas adolescentes do sexo masculino há aumento da massa muscular, o que pode estimular o metabolismo proteico. A ingestão de proteína deve ser adequada para sustentar o crescimento e suprir a oxidação aminoacídica que pode ocorrer durante o treino. Para esta população, a recomendação de ingestão proteica é de 1,6 g/kg/dia [8,9]. Lipídeos O objetivo da utilização de gordura durante o exercício é poupar o uso do glicogênio muscular. Este nutriente também participa do transporte de vitaminas lipossolúveis pelo organismo e faz parte da composição das membranas celulares. Assim, o consumo de lipídeos entre jogadores de futebol deve ser de 30% do valor energético total diário. É importante não ultrapassar a recomendação de ingestão, para não tornar difícil o consumo das quantidades preconizadas de carboidratos e para não causar danos à saúde relacionados ao excesso de gorduras na dieta [7]. Vitaminas e minerais Algumas vitaminas e minerais desempenham papel importante no metabolismo energético; por isso, a inadequação de um ou mais micronutrientes pode comprometer a capacidade aeróbia e anaeróbia. Atletas submetidos a intenso programa de treinamento e competições (como é o caso dos jogado- res de futebol) têm, possivelmente, alguma dificuldade em manter níveis adequados de vitaminas, pois o exercício pode causar redistribuição dos minerais entre os compartimentos corporais [4,7]. A suplementação com vitaminas e minerais é uma prática bastante comum entre atletas do futebol, visando melhorar seu desempenho (embora não haja evidências científicas de que a suplementação tenha algum tipo de efeito ergogênico). A suplementação vitamínica e de minerais melhora as concentrações bioquímicas desses micronutrientes, mas não altera a capacidade de captação de oxigênio ou a concentração de lactato no sangue durante exercícios aeróbios com intensidade elevada (como é o caso do futebol). Pode-se dizer que essa suplementação em altas doses, em indivíduos com valores bioquímicos normais desses nutrientes e que consomem dieta adequada e balanceada, não melhora o desempenho físico [4]. Necessidades hídricas e eletrolíticas A hidratação é um fator importante que deve ser considerado antes, durante e depois do exercício. Há evidências de que a hidratação antes do início do exercício e durante essa atividade melhore o desempenho, especialmente por meio de líquidos que contenham carboidrato [10]. Devido ao fato de o futebol ser um esporte com duração de 90 minutos, geralmente ocorrem problemas associados à termorregulação e ao balanço hídrico. O treinamento físico associado ao estresse térmico aumenta o fluxo sanguíneo cutâneo e a produção de suor. Há grande variedade individual de perda hídrica devido às diferenças na composição corporal, taxa metabólica, aclimatação do atleta, temperatura e umidade ambientes, variedade e intensidade de exercícios realizados durante o jogo, diferenças no consumo máximo de oxigênio e diferenças nas funções desempenhadas. Os jogadores de futebol podem perder até três litros ou mais de suor durante um jogo em dia quente. O estado crônico de desidratação e o estresse térmico ao longo da partida podem limitar o desempenho e ser prejudiciais ao jogador caso a desidratação exceder 2% da massa corpórea [4,12]. Iniciar o jogo bem hidratado ingerindo 500 ml de líquido com concentrações de 5 a 8% de polímeros de glicose, meia hora antes do início do jogo, é conduta amenizadora dos obstáculos encontrados no mundo do futebol resultantes da desidratação. Essa concentração de carboidrato na bebida é importante, visto que propicia ótimo esvaziamento gástrico e absorção intestinal adequada [5]. Além disso, durante a partida os jogadores devem consumir líquidos em pequenas quantidades e em intervalos regulares, para não interferir no esvaziamento gástrico e, também, repor toda a água perdida através do suor. Os líquidos a serem oferecidos devem estar entre uma temperatura de 15 e 22ºC e ter sabor agradável, para assim promover sua ingestão voluntária. A bebida hidroeletrolítica adequada deve ter as seguintes características: permitir que os fluidos cheguem Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 rapidamente aos tecidos, fornecer carboidratos durante o exercício, fornecer baixos níveis de eletrólitos, ser palatável e refrescante e não causar distúrbios gastrointestinais. Após o término do jogo, essas bebidas ajudam na hidratação e na recuperação do glicogênio muscular [5]. O suor e a urina são as principais rotas de perdas de eletrólitos no corpo humano e, aparentemente, há variação na composição do suor dependendo da região do corpo. As glândulas sudoríparas reabsorvem eletrólitos e essa quantidade reabsorvida é dependente da taxa de sudorese: quanto menor é essa taxa mais sódio é reabsorvido; sendo assim, a concentração de sódio secretada pelo suor é menor. A perda de altas concentrações de sódio é fator importante para câimbras musculares. A maioria dos jogadores apresenta perda de sódio em torno de 3 a 4 g nos treinos e partidas, o que não torna essencial sua reposição durante a atividade [11]. Os principais eletrólitos eliminados pelo suor são o sódio e o cálcio; porém, a perda de cálcio ocorre em quantidade significativamente menor. Outros eletrólitos como potássio e magnésio estão presentes em concentrações vastamente menores [11]. Suplementações Para um suplemento ser considerado potencialmente efetivo no futebol, é necessário que funcione de fato, e não apenas que cause melhora no desempenho devido à influência psicológica; ademais, não deve causar nenhum efeito adverso e não conter nenhuma substância proibida ou que possa resultar em doping positivo [12]. Alguns suplementos podem produzir efeito ergogênico pela melhoria direta da performance nas partidas, e outros por, a longo prazo, apresentarem efeitos benéficos para a saúde e pela prevenção de lesões [13-16]. É comum a ingestão de quantidades excessivas de vários suplementos. Tal prática tem custo elevado e não facilita o efeito ergogênico dos suplementos, além de não ser segura, pois o mecanismo de ação de muitos suplementos ainda não está completamente elucidado, tornando arriscada a combinação dessas substâncias. Pelo ponto de vista prático, a ingestão dos suplementos deve coincidir com o treinamento, ou mesmo durante o descanso, de 1 a 3 horas após o exercício [12]. A seguir, serão apresentadas as principais características de alguns dos suplementos comumente utilizados por jogadores de futebol. Cafeína Estimula a utilização de gordura, diminuindo a taxa de quebra do glicogênio muscular, além de reduzir a percepção da fadiga, melhorando o controle motor e a reconstituição das fibras musculares. É rapidamente absorvida pelo organismo e seus efeitos são mantidos durante toda a partida. Os efeitos são menores quando ingerida sob a forma de café [17,18]. 169 O consumo de bebida esportiva cafeinada proporciona efeito ergogênico para jogadores de futebol, aumentando a potência de membros inferiores relacionada com a força explosiva, frente a uma bebida carboidratada comercial [19]. Pequenas doses de cafeína podem beneficiar o tempo de reação, o estado de alerta e o processamento de informações visuais. A ingestão de 1 a 2 mg/kg peso melhora o desempenho sem causar confusão mental e problemas cardiovasculares e metabólicos [12]. Creatina A suplementação de creatina melhora as disparadas, além de potencializar o aumento de massa magra de 1 a 3 kg (provavelmente por um acúmulo de água intracelular e glicogênio). Mudanças no acúmulo de proteína muscular podem acontecer pelo melhor desempenho do indivíduo nos treinamentos de alta intensidade, como é o caso do futebol [12]. O aumento da creatina muscular facilita as reações da creatina-quinase por prevenir a degradação de moléculas de energia durante contrações de alta intensidade. O estímulo da ressíntese de fosfo-creatina muscular pode contribuir para a melhora da recuperação entre séries de treinos agudos de futebol [12]. A dosagem clássica de creatina é de 15 a 20 g/dia na fase inicial (4-7 dias), e 2 a 5 g/dia na fase de manutenção. Os efeitos da suplementação podem enfraquecer depois de dois meses, e provavelmente melhorem após períodos de interrupção (8-10 semanas) [20]. b – Hidróxi β – metilbutirato (HMB) O HMB é um metabólito que ocorre naturalmente a partir do aminoácido de cadeia ramificada leucina. Supõe-se que este componente contribua para o anabolismo muscular por mediar a ação da leucina em inibir a quebra de proteínas musculares [21]. A ingestão de HMB, em doses de 1,5-3 g/dia pode resultar em ganhos expressivos de massa magra e força muscular quando associada a treinamentos de resistência do futebol. Ingestão de HMB por curtos períodos (1 a 8 semanas) não introduzem efeitos adversos [12,22]. Antioxidantes O exercício físico aumenta o consumo de oxigênio e, consequentemente, aumenta a produção de Espécies Reativas de Oxigênio (EROs). Esse aumento pode danificar o DNA celular, prejudicando o metabolismo da célula. Em contrapartida, o organismo possui um sistema antioxidante, e um dos principais meios desse sistema é o enzimático, onde a atividade das enzimas é modulada pela concentração de EROs [23]. Para um treinamento eficiente dos jogadores de futebol, são necessários baixo stress oxidativo e boa defesa antioxidante [3]. 170 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Suplementos nutricionais de antioxidantes previnem danos no tecido muscular de atletas. Não é cientificamente comprovado que o aumento do treinamento aumente a necessidade de ingestão de antioxidantes pela dieta, nem que esta suplementação tenha efeitos ergogênicos [12]. Vitamina C Treinamentos árduos como os do futebol podem ter efeito imunossupressivo. A vitamina C é sugerida por participar da regulação imunológica, reduzindo a incidência de doenças infecciosas e mantendo os jogadores saudáveis [12]. A suplementação de vitamina C não diminui o risco de desenvolver um resfriado, mas diminui ligeiramente (~8%) sua duração. Tal efeito é obtido com doses de 200 mg/dia, alcançada facilmente em uma dieta balanceada [24]. Glucosamina Jogadores de futebol apresentam alta incidência de lesões nas articulações de tornozelo e joelho, mantendo-os afastados de treinos em competições [12]. Há evidências de que a glucosamina ajuda na integridade estrutural dessas cartilagens, retarda a progressão de artrites ósseas (especialmente em indivíduos com idade avançada), tem efeito anestésico e pode ser uma alternativa para tratamentos com anti-inflamatórios não esteroidais [25]. A suplementação de glucosamina em doses de 20-25 mg/kg peso corporal é segura, podendo ocorrer diarreia como efeito adverso. Pode-se utilizar a glucosamina como uma estratégia de prevenção de dores nos joelhos e artrites ósseas, embora não haja evidências de tais benefícios em atletas saudáveis e jovens, considerando que os estudos envolvem idosos [12]. Efedra A efedra age como um agonista de receptor β-adrenérgico, aumentando o gasto energético basal por ativar o sistema nervoso autônomo simpático. Estudos mostram que sua ingestão pode facilitar a perda de peso em curtos períodos de tempo. Efeitos adversos incluem náuseas, vômitos, sintomas psiquiátricos, hiperatividade e arritmias cardíacas. Efedra e Efedrina estão na lista de substâncias proibidas, devendo ter seu uso totalmente desencorajado [26]. Conclusão O consumo adequado de nutrientes é essencial para o bom desempenho no esporte. Dessa forma, a dieta de um jogador de elite deve atender seu gasto energético, fornecer balanço adequado de macronutrientes antes, durante e após treinamentos e competições e atender às recomendações de vitaminas e minerais. A hidratação e balanço eletrolítico devem ser adequados a cada jogador, otimizando, assim, o desempenho nas partidas. A relevância da ingestão dos diversos tipos de suplementos viáveis de serem utilizados no futebol deve sempre ser discutida sob perspectiva científica, juntamente com preocupações éticas ligadas à suplementação e educação esportiva. Agradecimentos Agradecemos a contribuição de Gabriela Rodrigues, Nathália Panzenboeck Sab e Vivian Nicastro Mansur pelo auxílio na coleta de dados, e a professora Luciana Rossi pela supervisão do grupo de pesquisa. Referências 1. Andrade MS, Fleury AM, Silva AC. Força muscular isocinética de jogadores de futebol da seleção paraolímpica brasileira de portadores de paralisia cerebral. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 172 Revisão O exercício físico modulando alterações hormonais em vias metabólicas dos tecidos musculoesquelético, hepático e hipotalâmico relacionado ao metabolismo energético e consumo alimentar The exercise modulating hormonal changes in metabolic pathways of skeletal muscle, liver and hypothalamus related to energy metabolism and food intake Fábio Medici Lorenzeti*, Waldecir Paula Lima, D.Sc.**, Ricardo Zanuto, D.Sc.***, Luiz Carlos Carnevali Junior, D.Sc.****, Daniela Fojo Seixas Chaves, D.Sc.*****, Antônio Herbert Lancha Junior***** *Técnico em Nutrição e Dietética (ETEC – Julio de Mesquita), membro do Laboratório de Nutrição e Metabolismo Aplicado a Atividade Motora – EEFE/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, **Professor-Doutor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP, membro do Laboratório de Metabolismo de Lipídios – ICB/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, ***Laboratório de Sinalização Celular – ICB/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, ****Membro do Laboratório de Metabolismo de Lipídios – ICB/USP, *****Professor titular da Universidade de São Paulo e coordenador do Laboratório de Nutrição e Metabolismo Aplicados à Atividade Motora (EEFE-USP) Resumo O exercício físico é responsável por gerar diversas adaptações morfofuncionais, endócrinas, metabólicas e neurais. Dentre estas, destaca-se a melhora na sensibilidade à ação de hormônios como a insulina e a leptina, bem como a modulação nas concentrações plasmáticas dos hormônios GH, IGF-1, testosterona e cortisol, responsáveis pela homeostase energética. A insulina é um importante estimulante na secreção de leptina, ambos exercem papel central na homeostase energética e controle do consumo alimentar no núcleo arqueado do hipotálamo, controlando a secreção de neuropeptídios responsáveis pelo consumo alimentar, tais como: NPY, AgRP, CART e POMC. Esta revisão objetiva elucidar algumas ações do exercício físico relacionadas ao metabolismo e ao consumo alimentar, descrevendo algumas vias metabólicas que ocorrem nos tecidos musculoesquelético, hepático e, principalmente, hipotalâmico, ativadas por hormônios. Abstract Exercise is responsible for generating various morphofunctional endocrine, metabolic and neural adaptations. Among them, there is the improvement in sensitivity to the action of hormones such as insulin and leptin, as well as modulation of plasma concentrations of hormones GH, IGF-1, testosterone and cortisol, responsible for energy homeostasis. Insulin is an important stimulation of leptin secretion, both have central role in energy homeostasis and control of food intake in arcuate nucleus of the hypothalamus, controlling the secretion of neuropeptides responsible for food intake, such as NPY, AgRP, POMC and CART. This review aimed to elucidate some of the actions related to exercise metabolism and food intake, describing some metabolic pathways that occur in skeletal muscle tissue, liver, and especially hypothalamic, activated by hormones. Key-words: exercise, hormones, metabolic pathways, food consumption. Palavras-chaves: exercício físico, hormônios, vias metabólicas, consumo alimentar. Recebido em 24 de junho de 2011; aceito em 19 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Waldecir Paula Lima, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Coordenação de Educação Física, Rua Pedro Vicente, 625, 01109-010 Canindé SP, Tel: (11) 2763-7536, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Introdução O exercício de média ou alta intensidade é responsável por gerar um balanço energético negativo [1,2]. Estudos longitudinais mostram indivíduos com perda de massa corporal em resposta à prática regular de um programa de exercícios físicos [3]. Embora os procedimentos metabólicos na geração de energia durante a prática de exercícios físicos justifiquem a manutenção da massa corporal, especula-se que esta prática possa contribuir para um equilíbrio energético e metabólico alterando a ingestão de nutrientes [1]. Estudos com animais submetidos a diversos protocolos de treinamento físico apontam para uma melhora na sensibilidade à leptina em relação a animais controle sedentários [4-6]. É importante ressaltar que a leptina é responsável por inibir a secreção do neuropeptídeo Y (NPY) e estimular a secreção de POMC (pró-ópiomelanocortina) no núcleo arqueado do hipotálamo, responsáveis, respectivamente, por aumentar e inibir o consumo alimentar [7]. Diversos trabalhos apontam, também, que a prática de exercício físico promove o aumento de algumas citocinas, destacando-se as classes de interleucinas (ILs): IL-1, IL-6, IL-1β e IL-10 [1,8]. Destas, especula-se que o aumento de IL-6 relaciona-se ao aumento da atividade de 5’AMP proteína cinase ativada (AMPK) nos tecidos, adiposo e musculoesquelético. Contudo, no hipotálamo a IL-6 promove a diminuição da atividade de AMPK e acetil coenzima A carboxilase (ACC), além de ativar a via da mTOR (alvo de rapamicina em mamíferos), aumentando a fosforilação das proteínas p70S6K (proteína ribossomal S6 cinase) e 4EBP1 (proteína de ligação do fator inicial de tradução eucariótico 4E), sendo responsável pelo controle da ingestão de nutrientes no hipotálamo [9]. A fosforilação de mTOR é uma importante via do controle da ingestão alimentar e homeostase energética, pois por meio da fosforilação da PI-3K (fosfoinositol 3 cinase) e da proteína cinase B (Akt) há o aumento da fosforilação da mTOR e das proteínas p70S6K ou 4EBP1; ressalta-se que esta via pode ser inibida pelas baixas concentrações plasmáticas de nutrientes como glicose e aminoácidos [1,9]. Exercício de endurance e metabolismo O exercício físico de endurance é responsável por gerar diversas alterações no metabolismo dos carboidratos, lipídios e das proteínas. O exercício físico aumenta a lipólise no tecido adiposo [10], principalmente pelo aumento nas concentrações plasmáticas de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) combinadas a diminuição nas concentrações de insulina, liberando ácidos graxos livres que serão captados pelo músculo durante o exercício. Sendo assim, o exercício físico é um importante modulador da secreção hormonal e da produção e consumo de energia [11]. A lipólise e a mobilização de ácidos graxos livres durante o exercício são influenciadas pelo estado nutricional, pela 173 intensidade do exercício e pelo nível de condicionamento físico [10-13]. A contribuição total dos ácidos graxos livres para a produção energética é dependente do volume do exercício [10]. O exercício físico de endurance representa importante estimulo na modulação da expressão gênica dos receptores relacionados aos proliferadores de peroxissomas alfa, beta e gama (PPARα, PPARβ e PPARγ) [14-16]. A ativação do PPARα e PPARβ modula a expressão gênica de proteínas envolvidas nos processos de oxidação lipídica, tais como, piruvato desidrogenase cinase 4, malonil-CoA descarboxilase e carnitina palmitoil transferase-1 [16]. Já o PPARγ é responsável por modular proteínas relacionadas ao processo de lipogênese e lipólise nos adipócitos e hepatócitos respectivamente. Esta ação é exercida pela ativação de proteínas como a sintetase de ácidos graxos (tecido adiposo) e lipase hormônio sensível (fígado) [17,18]. A secreção das IL-1ra; IL-6 e IL-10 durante o exercício de endurance é responsável por inibir a ação do TNF-α. Além de atuarem endocrinamente participando da liberação de ácidos graxos pelo tecido adiposo para posterior oxidação no músculo esquelético [19]. O músculo esquelético é capaz de captar glicose durante o exercício de endurance através de mecanismo que não utiliza a insulina como ativador do Glut-4, mas, sim, o cálcio que é liberado do retículo sarcoplasmático através da contração muscular [20]. O exercício físico de endurance é um importante ativador de 5’AMP proteína cinase ativada (AMPK). A AMPK é uma proteína heterodimérica ativada pelo estresse celular associado à depressão do ATP [20,21]. Sendo assim, ela é um importante sensor da quantidade de energia da célula, refletindo a relação entre AMP/ATP e creatina/fosfocreatina [20]. Desta forma, a ativação da AMPK no músculo esquelético é dependente da intensidade do exercício físico. A ativação da AMPK durante a contração muscular estimula a captação de glicose através da translocação do GLUT-4 [20,22]. Além disso, o exercício físico é responsável, também, por aumentar a taxa de difusão da glicose para a célula muscular, visto que, após a sua captação a glicose é rapidamente fosforilada em glicose-6-fosfato pela ação enzimática da hexocinase [23-25]. Exercício de endurance e consumo alimentar Diversas pesquisas procuram mostrar a relação entre o exercício físico de endurance e o consumo alimentar. Estudos realizados com ciclistas e maratonistas descrevem uma redução no consumo alimentar, por um fenômeno descrito como “anorexia induzida pelo exercício físico” [26-28]. Entretanto, a literatura afirma não haver alterações crônicas geradas pelo exercício físico de endurance em relação ao aumento do consumo alimentar [29-31]. Ocorrendo então, apenas uma ação temporária do exercício sobre o consumo energético [2]. 174 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 O efeito do exercício físico de endurance está diretamente relacionado com a secreção e ação hormonal. Dentre os hormônios envolvidos destacam-se a leptina, a grelina e a insulina (hormônio secretado pelas células β-pancreáticas). Entretanto, o exercício físico é capaz de modular a secreção de diversos hormônios como o cortisol, as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), GH, hormônios tireoidianos (T3 e T4) e os hormônios gonadais (testosterona e estrogênio), estes que por sua vez podem modular a secreção de leptina [31-33]. O exercício físico de endurance de alta intensidade é responsável por reduzir as concentrações plasmáticas tanto de insulina, quanto de leptina [33]. Entretanto, o exercício físico é capaz de modular positivamente a sensibilidade da ação destes dois hormônios podendo ser este um dos motivos da anorexia induzida pelo exercício físico [34]. O estresse metabólico gerado pelo exercício físico de endurance de alta intensidade é responsável por aumentar a transcrição do gene da POMC pelos neurônios do núcleo arqueado do hipotálamo e pelos neurônios do trato solitário. A POMC por sua vez exerce seus efeitos biológicos através da interação com seu receptores de melanocortina 3 e 4 (MC3R e MC4R), levando a clivagem deste peptídeo e formação de outros peptídeos como ACTH e α-MSH [35,36]. Este último age em neurônios do núcleo do trato solitário inibindo o consumo alimentar [37]. Entretanto, os mecanismos envolvidos nesta inibição ainda não estão totalmente elucidados [37]. A leptina é um hormônio constituído por 146 aminoácidos e secretado pelo tecido adiposo [32,38]. Atua no hipotálamo por meio do controle do balanço energético, ativando o sinal anorexígeno [39-41]. A secreção da leptina é oriunda do gene “ob” em resposta ao consumo alimentar, desencadeando assim um sinal anorexígeno em resposta ao aumento das concentrações plasmáticas de leptina [42]. Estudos apontam que a administração de leptina em ratos induz a uma menor expressão de neuropeptídeos ligados ao aumento do consumo alimentar [43,44]. Em contrapartida, o jejum diminui as concentrações plasmáticas de leptina, aumentando o consumo alimentar [42]. A leptina ao se ligar em seu receptor no hipotálamo (ObRb) fosforila a proteína Janus cinase-2 (Jak-2), ativando a proteína STAT3 (em tirosina 705), promovendo a translocação dessa proteína para o núcleo se ligando ao DNA e ativando o fator transcricional SOCS3, gerando um feedback negativo na fosforilação da Jak2. Em função do feedback negativo, ocorre um cross-talk (refere-se a uma regulação cruzada entre uma determinada via metabólica sobre outra via metabólica. A este exemplo a ativação da via de sinalização intracelular da leptina, ativa paralelamente a via de sinalização da insulina) em relação às proteínas da cascata de sinalização da insulina IRS-1 e IRS-2 (substratos do receptor de insulina 1 e 2). O aumento da ativação da Akt gera sinalização intracelular inibindo o consumo alimentar e modulação das ERKs, responsáveis pela homeostase energética [45]. A leptina é responsável, também, por reduzir a atividade de proteínas como AMPK e ativar a proteína alvo de rapamicina (mTOR) no hipotálamo [1], proteínas essas responsáveis pelo controle da ingestão alimentar no hipotálamo. Trabalhos como o de Saladin et al. [46] referem que a insulina é um importante hormônio estimulante do gene ob e consequentemente estimulante da secreção de leptina. Segundo Tups [47], o principal sinalizador da leptina no hipotálamo é a proteína PI-3k, que ativa Akt / PKB, por meio de um cross-talk, desencadeando assim o sinal anorexígeno. A grelina é um hormônio constituído por 28 aminoácidos cuja secreção é feita pelas células estomacais em condições de balanço energético negativo, produzindo um sinal orexígeno - aumento do consumo alimentar - no hipotálamo [48,49]. Desta forma, a ação da grelina no hipotálamo é responsável por aumentar a secreção de neurotransmissores ligados ao aumento do consumo alimentar NPY e proteína relacionada ao agoti (AgPR) e diminuir a secreção de neurotransmissores ligados a restrição do consumo alimentar POMC e o fator de transcrito relacionado a cocaína e anfetamina (CART) [48,49]. Para que a grelina esteja biologicamente ativa, esta deve ser acetilada no aminoácido serina pela ação da enzima Oaciltransferase (GOAT) [49]. Sendo assim, são encontradas no plasma a forma acetilada e a forma não acetilada ou desacetilada. Destas, a forma não acetilada encontra-se em maior concentração em relação à forma acetilada [50,51]. Estudos mostram que o exercício de endurance agudo é capaz de diminuir as concentrações plasmáticas de grelina acetilada. Contudo, o estudo de King et al. [52] avaliou a concentração de grelina total (acetilada e desacetilada) após doze semanas de treinamento de endurance e não mostrou diferença estatística na quantidade de grelina acetilada entre o grupo treinado e o grupo controle. Exercício de força: metabolismo e consumo alimentar É bem estabelecido que o treinamento de força pode aumentar a área da secção transversa da fibra muscular, bem como trazer ganhos de força e potência [53,54]. Isso decorre das adaptações neuromusculares promovidas pelo treinamento de força, especulando-se que com o estimulo mecânico há um aumento no número de RNAs mensageiros (mRNAs) envolvidos na síntese proteica no músculo esquelético e, também, na diminuição dos níveis de mRNAs de genes relacionados com o catabolismo muscular [55]. Trabalhos como o de Zanchi et al. [55] mostram que o treinamento de força é responsável por diminuir a expressão de genes como Atrogina-1 e MuRF-1, em relação a ratos sedentários, causando assim um aumento no ganho de força e aumento na área da secção transversa da fibra muscular. Outra relação com o treinamento de força é que ele é capaz de aumentar a expressão de proteínas como a proteína Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 cinase B / Akt e a mTOR (alvo de rapamicina em mamíferos), responsáveis pela síntese proteica cursando com o aumento da massa muscular [56]. O músculo esquelético é responsável, não apenas pelas funções contráteis, mas, também, metabólicas do organismo humano, como metabolismo de aminoácidos, carboidratos e lipídeos, diminuindo a adiposidade e melhorando a sensibilidade a ação da insulina [56]. Os mecanismos de hipertrofia muscular, pelo treinamento de força, envolvem múltiplos fatores, tais como, estímulo mecânico, metabólicos, endócrinos e fatores neurais [53]. Estes fatores estão relacionados com a secreção de hormônios como GH (Hormônio de Crescimento), testosterona e IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina-1) responsáveis pela resposta hormonal anabólica [57-61]. Ademais, estes hormônios modulam a secreção e ação de hormônios como insulina e leptina que podem atuar no núcleo arqueado do hipotálamo através dos mecanismos já descritos controlando o consumo alimentar e a homeostase energética. É estabelecido que o IGF-1 exerce papel fundamental na regulação da glicemia e homeostase energética. Os mesmos autores relatam aumento nas concentrações plasmáticas de IGF-1 decorrentes do exercício e da alimentação [62]. Diferentemente do exercício físico de endurance, pouco se sabe a respeito das ações do exercício de força em relação à homeostase energética e controle do consumo alimentar [63]. Em relação ao exercício físico de força, são bem conhecidos os mecanismos que envolvem o crescimento muscular por meio de uma complexa cascata de sinalização intracelular [58]. Conclusão É bem estabelecido que o exercício físico modula as concentrações plasmáticas de diversos hormônios, dentre eles a insulina e a leptina. Estes hormônios representam importantes reguladores do consumo alimentar e da homeostase energética. Contudo, a cascata de sinalização destes hormônios envolve a ativação de diversas proteínas-chave que podem modular a sensibilidade e levar aos seus efeitos biológicos finais. Tal cascata de sinalização é descrita em diversos trabalhos. Entretanto, todos os mecanismos que envolvem esta cascata ainda não estão totalmente elucidados, bem como o total efeito do exercício físico sobre o consumo alimentar. Sendo assim, tornam-se necessários o desenvolvimento de mais estudos que investiguem a relação do exercício físico em diferentes intensidades e duração com estes hormônios reguladores da fome e saciedade, assim como os efeitos destes hormônios em relação a sua cascata de sinalização hipotalâmica. Agradecimentos Este trabalho foi apoiado por uma agencia brasileira de financiamento (FAPESP – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, nº 2010/08329-3). 175 Referências 1. Ropelle ER, Fernandes MF, Flores MB, Ueno M, Rocco S, Marin R, et al. Central exercise action increases the AMPK and mTOR response to leptin. PloS One 2008;3:e3856. 2. Martins C, Morgan L, Truby H. A review of the effects of exercise on appetite regulation: an obesity perspective. Int J Obes 2008;32:1337-47. 3. Wing RR, Hill JO. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 178 Revisão Cortisol e exercício: efeitos, secreção e metabolismo Cortisol and exercise: effects, secretion and metabolism Juliano Ribeiro Bueno, Cibele Marli Cação Paiva Gouvêa, D.Sc. *Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL, Alfenas/MG Resumo A prática frequente de exercício físico traz inúmeros benefícios. O exercício modula uma série de reações orgânicas, contudo os efeitos do exercício sobre os níveis e metabolismo do cortisol ainda não estão totalmente esclarecidos. O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão sobre os efeitos do cortisol no exercício, de sua secreção e metabolismo. Tem sido demonstrado na literatura que o cortisol age como um antagonista fisiológico da insulina, por promover a quebra das moléculas de carboidratos, lipídeos e proteínas, desta maneira mobilizando as reservas energéticas. Isto aumenta a glicemia e a produção de glicogênio pelo fígado. Uma vez que o cortisol estimula a proteólise, seu aumento pode determinar a atrofia muscular e diminuição da força, com consequente efeito negativo no rendimento esportivo. A ação muscular do cortisol é ambígua: contribui para o catabolismo e perda muscular, mas, simultaneamente, na ausência deste hormônio a contratilidade dos músculos esquelético e cardíaco é reduzida. O catabolismo e perda musculares verificam-se na presença de níveis elevados de corticosteróides. Embora o aumento de cortisol possa produzir efeitos colaterais, o treinamento físico induz o desenvolvimento de diversos mecanismos para proteger os tecidos de tais efeitos deletérios. Com isto o organismo torna-se menos responsivo ao estresse. Abstract Physical exercise brings several benefits. Exercise modulates several organic reactions; however the effects of the physical exercise on the level and metabolism of cortisol are not completely clear. The aim of this study was to review the effects of cortisol secretion and metabolism on exercise. It has been shown in literature that cortisol acts as a physiological antagonist of insulin, and promotes carbohydrates, lipids and proteins cleavage thus mobilizing energetic storages. It increases glicemia and liver glycogen production. Since cortisol stimulates proteolysis, the cortisol increasing could lead to muscular atrophy and strength decreases, with negative consequences to the sportive performance. The skeletal muscle action of cortisol is ambiguous: it contributes to carbohydrate and muscle loss, but simultaneously, without cortisol the skeletal and cardiac muscle contraction is reduced. The catabolism and muscle loss only occurs when corticosteroids levels are high. Although the increased level of cortisol can produce side effects, physical training induces the development of diverse mechanisms to protect cells and tissues from the cortisol deleterious effects. So that the organism becomes less responsive to stress. Key-words: exercise, cortisol, stress. Palavras-chave: exercício, cortisol, estresse. Recebido em 14 de julho de 2011; aceito em 25 de agosto de 2011. Endereço para correspondência: Juliano Ribeiro Bueno, Praça do Pretório, 209, 37110-000 Elói Mendes MG, Tel: (35) 3264-1372, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Introdução O exercício físico tem um papel fundamental na melhoria de vida do ser humano. Assim sendo o exercício físico vem conquistando cada vez mais o número de adeptos. Mas é importante ressaltar que para a prática eficiente do exercício físico sejam respeitados alguns princípios como volume, intensidade e duração, que são variáveis que determinam a qualidade e os benefícios do exercício físico. Sendo assim sabe-se que o exercício físico quebra a homeostase alterando os sistemas fisiológicos causando adaptações metabólicas, hormonais e neuromusculares. Segundo Wilmore e Costil [1], o exercício físico pode ser intensificado mediante o aumento da duração ou da frequência dos períodos de treinamento, de acordo com os objetivos e a especificidade de cada pessoa ou atleta. No entanto, muitas vezes a relação inadequada de volume e intensidade pode levar a uma situação de estresse excessivo, que não é desejável. Assim, neste trabalho será estudada a alteração do sistema endócrino mediante ao exercício físico intenso. Segundo Mcardle, Katch e Katch [2], o sistema endócrino consiste em um órgão hospedeiro (glândula), minúsculas quantidades de mensageiros químicos (hormônios) e um órgão-alvo ou receptor. Será observado no trabalho a adaptação e alteração de um mensageiro químico do sistema endócrino que tem uma função importante durante o exercício físico intenso e de longa duração, o cortisol. Os hormônios são as substâncias químicas sintetizadas por glândulas hospedeiras específicas, secretadas para dentro do sangue e carreadas por todo o corpo. O hormônio cortisol é o principal glicocorticoide do córtex suprarrenal que afeta profundamente o metabolismo da glicose, das proteínas e dos ácidos graxos livres [2]. Segundo Wilmore e Costil [1], evidências sugerem que as concentrações de cortisol também aumentam durante o exercício, assim sendo aumenta o metabolismo proteico, liberando aminoácidos para serem utilizados pelo fígado no processo da gliconeogênese. Assim sendo o cortisol tem atividade predominantemente catabólica, induzindo proteólise e lipólise, com aumento da gliconeogênese hepática e elevação da glicemia segundo França et al. [3]. Cortisol Segundo Mcardle, Katch e Katch [2], o cortisol ou hidrocortisona é o principal glicocorticoide produzido pelo córtex suprarrenal (10-20 mg diários), que afeta profundamente o metabolismo da glicose, das proteínas e dos ácidos graxos livres. Após a síntese, o cortisol passa para a corrente sanguínea onde a maior parte (mais de 60%) encontra-se ligada a proteínas (SHBG e albumina) e o restante encontra-se livre no plasma, que é a forma ativa. A concentração sanguínea de cortisol não permanece constante durante todo o dia e sua vida média é de 80-100 min, por isso a manutenção da concentração sérica depende da síntese constante. 179 O ACTH, hormônio adrenocorticotrópico, funciona como parte do eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal para regular a produção de hormônios secretados pelo córtex suprarrenal. As situações com uma alta carga emocional ou as demandas estressantes da atividade física estimulam o hipotálamo a secretar o fator liberador de corticotropina que induz a hipófise anterior a liberar ACTH. Por sua vez, o ACTH promove a liberação de glicocorticoides pelo córtex suprarrenal. Segundo Canali e Kruel [4], o ACTH tem a função de regular o crescimento e a secreção do córtex adrenal, do qual a principal secreção é o cortisol, além de outros glucocorticoides e aminas biogênicas [5]. Os efeitos biológicos do cortisol incluem o catabolismo de proteína em todas as células do organismo, com exceção do fígado e uma vez na circulação, os aminoácidos são translocados para o fígado para serem transformados em glicose através da gliconeogênese; facilitam a ação de outros hormônios, principalmente glucagon e GH, no processo da gliconeogênese; funcionam como antagonista da insulina, por inibir a captação e a oxidação da glicose; promovem a ativação de lipase e a degradação dos triglicerídeos no tecido adiposo, formando glicerol e ácidos graxos, que são utilizados nos tecidos ativos, para produção de energia; promovem a adaptação ao estresse; e a manutenção de níveis de glicose adequados mesmo em períodos de jejum [4,3]. Segundo Wilmore e Costil [1], o cortisol também é conhecido por diminuir a utilização de glicose, poupando-a para o cérebro; por atuar como um agente anti-inflamatório; por deprimir as reações imunológicas; e por aumentar a vasoconstrição causada pela adrenalina. Os glicocorticoides e, mais especificamente, o cortisol são hormônios catabólicos no músculo esquelético e seus efeitos incluem a conversão de aminoácidos em carboidratos, aumento das enzimas proteolíticas, inibição da síntese de proteínas e aumento da degradação de proteínas [6]. Uma vez que o cortisol estimula a proteólise, seu aumento pode determinar a atrofia muscular e diminuição da força, com consequente efeito negativo no rendimento esportivo [7]. Exercício e cortisol Durante um período de treinamento podem ocorrer adaptações fisiológicas em resposta à sobrecarga aplicada, resultando em melhora no desempenho desportivo. No entanto, muitas vezes uma relação inadequada entre o volume (por exemplo, distância de corrida) e a intensidade do treinamento (por exemplo, velocidade de corrida) pode resultar em condições indesejáveis como overtraining. Este está associado a uma recuperação incompleta entre as sessões de treinamento. Como sintomas do overtraining destacam-se a fadiga crônica, perda do apetite, diminuição do desempenho, aumento da frequência cardíaca de repouso, infecções frequentes, distúrbios do sono, alterações de humor e o desinteresse geral do atleta pelo treino [8,9]. O hormônio cortisol, cuja produção 180 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 é aumentada em situações de estresse (como o treinamento intenso e de longa duração), está relacionado com o catabolismo dos tecidos muscular esquelético e adiposo [10]. Dressendorfer et al.[11] demonstraram que corredores de longa distância não apresentaram aumento da concentração basal de cortisol. Maestu, Jurimae e Jurimae [12], trabalhando com atletas remadores em período de treinamento, observaram que a concentração de cortisol permaneceu relativamente constante. Entretanto, outros autores [13,14] mostraram diminuição da concentração basal de cortisol em corredores, após período de treinamento de endurance. Fernandez-Garcia et al. [15] também observaram diminuição da concentração basal de cortisol em ciclistas durante período de competição intensa. Bonifazi et al. [16] mostraram que a diminuição da concentração de cortisol está associada com melhora na performance de nadadores em treinos. Os mesmos autores [17] mostraram diminuição na concentração de cortisol de repouso de nadadores ao final do período com alto volume de treino. Estas alterações ocorreram no grupo avaliado. Entretanto, essas modalidades esportivas são de caráter individual. Os valores obtidos nesses resultados são similares àqueles mostrados por Bauer et al., [18]. Estes autores mostraram valores de concentração de cortisol salivar em torno de 25nmol/L para grupo controle. Simões et al. [6] estudaram a resposta da razão testosterona/ cortisol durante o treinamento de corredores velocistas e fundistas e observaram que não houve diferença significante para os valores médios da razão T/C para ambos os grupos após o período de treinamento. No entanto, quando se observa o comportamento individual da razão T/C, nota-se uma resposta adaptativa adequada para alguns indivíduos e inadequadas para outros, sendo que a maior incidência de queda da razão T/C foi observada entre os CF. Os autores concluíram que a utilização da razão T/C para o controle das cargas de treinamento deve ser feita individualmente, e que aparentemente esta variável sofre uma maior influência do volume do treinamento do que da intensidade do mesmo. Conclusão O exercício induz aumento da secreção de cortisol, por estímulo do eixo HPA. Embora o aumento de cortisol possa produzir efeitos colaterais, o treinamento físico induz o desenvolvimento de diversos mecanismos para proteger os tecidos de tais efeitos deletérios. A modulação dos níveis séricos de cortisol livre (forma ativa) pela ligação à globulina ligante de cortisol e ativação da enzima conversora de cortisol em cortisona (forma inativa) parecem ser os principais mecanismos estimulados pelo exercício físico. Com isto o organismo torna-se menos responsivo ao estresse o que traz efeitos benéficos para a saúde física e mental, protegendo-o contra as consequências do estresse crônico e de doenças relacionadas ao estresse. Referências 1. Wilmore JH, Costill DL. 2 ed. Fisiologia do esporte e do exercício. São Paulo: Manole; 2001. 726 p. 2. Mcardle W, Katch FI, Katch VL. Fundamentos de fisiologia do exercício. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 692 p. 3. França SC, Neto TLB, Agresta MC, Lotufo RFM, Kater CE. Resposta divergente da testosterona e do cortisol séricos em atletas masculinos após uma corrida de maratona. Arq Bras Endocrinol Metab 2006;50:1082-7. 4. Canali ES, Kruel LFM. Respostas hormonais ao exercício. Rev Paul Educ Fís 2001;15:141-53. 5. Leandro C, Nascimento E, Manhães-de-Castro R, Duarte JA, Castro CMMB. Exercício físico e sistema imunológico: mecanismos e integrações. Rev Port Ciênc Desp 2002;2:80-90. 6. Simões HG, Marcon F, Oliveira F, Campbell CSG, Baldissera V, Costa Rosa LFBP. Resposta da razão testosterona/cortisol durante o treinamento de corredores velocistas e fundistas. Rev Bras Educ Fís Esp 2004;18:31-46. 7. Coltinho H, Brinco RA, Diniz SH. Respostas hormonais da testoterona e cortisol depois de determinado protocolo de hipertrofia muscular. Rev Bras Prescr Fisiol Exerc 2007;1:72-77. 8. Fry AC, Kraemer WJ, Ramsey LT. Pituitary-adrenal gonadal responses to high-intensity resistance exercise overtraining. Eur J Appl Physiol 1998;85:2352-9. 9. Mackinnon LT. Special feature for the Olympics: effects of exercise on the immune system: overtraining effects on immunity and performance in athletes. Immunol Cell Biol 2000;78:502-9. 10. Hoffman JR, Falk B, Radom-Isaac S, Weinstein Y, Magazanik A, Yarom Y. The effect of environmental temperature on testosterone and cortisol responses to high intensity, intermittent exercise in humans. Eur J Appl Physiol 1997;75:83-7. 11. Dressendofer RH, Wade CE. Effects of a 15-d race on plasma steroid levels and leg muscle fitness runners. Med Sci Sports Exerc 1991;23:954-8. 12. Maestu J, Jurimae J, Jurimae T. Hormonal reactions during heavy training stress and following tapering in highly trained male rowers. Horm Metab Res 2003;35:109-13. 13. Wheeler GD, Singh M, Pierce WD, Epling WF, Cumming DC. Endurance training decreases serum testosterone levels in men without change in luteinizing hormone pulsatile release. J Clin Endocrinol Metab 1991;72:422-5. 14. Wittert GA, Livesey JH, Espiner EA, Donald RA. Adaptation of the hypothalamopituitary adrenal axis to chronic exercise stress in humans. Med Sci Sports Exerc 1996;28:1015-9. 15. Fernadez-Garcia B, Lucía A, Hoyos J, Chicharro JL, RodriguezAlonso M, Bandrés F, Terrados N. The responses of sexual and stress hormones of male pro-cyclists during continuous intense competition. Int J Sports Med 2002;23:555-60. 16. Bonifazi M, Bela E, Carli G, Lodi L, Martelli G, Zhu B, et al. Influence of training on the response of androgen plasma concentrations to exercise in swimmers. Eur J Appl Physiol 1995;70:109-14. 17. Bonifazi M, Sardella F, Lupo C. Preparatory versus main competitions: differences in performances, lactate responses and pre-competition plasma cortisol concentrations in elite male swimmers. Eur J Appl Physiol 2000;82:368-73. 18. Bauer ME, Vedhara K, Perks P, Wilcock GK, Lightman SL, Shanks N. Chronic stress in caregivers of dementia patients is associated with reduced lymphocyte sensitivity to glucocorticoids. J Neuroimmunol 2000;103:84-92. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 181 Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: -Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. NewYork: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] As normas completas são disponiveis em nosso site: www.atlanticaeditora. com.br 182 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011 Calendário de eventos 2011 2012 Outubro Janeiro 5 a 7 de outubro 14 a 18 de janeiro I Simpósio de Atualização em Fisiologia: Neurofisiologia e I Mostra de Projetos de Pesquisa em Fisiologia Uruguaiana, RS Informações: [email protected] Congresso Internacional de Educação Física – FIEP Foz de Iguaçu Tel: (45) 3523-0039 Março 6 a 8 de outubro 34º Simpósio Internacional de Ciências do Esporte São Paulo, SP Informações: www.simposiocelafiscs.org.br Novembro 19 a 21 de março The Biomedical Basis of Elite Performance London, UK Informações: www.physoc.org/meetings Abril 9 a 12 de novembro 2 a 5 de abril VIII Congresso Brasileiro de Atividade Física Gramado, RS Informações: www.cbafs.org.br Dezembro XIV Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa Belo Horizonte, MG Informações: www.casaef.org.br/palops 6 a 8 de dezembro Vascular & Smooth Muscle Physiology Themed Meeting Edinburgh, UK Informações: www.physoc.org/vs2011 Junho 26 a 29 de junho 4th International Congress on Cell Membranes and Oxidative Stress: Focus on Calcium Signaling and TRP Channels, Isparta, Turkey Informações: www.cmos.org.tr/2012/ 184 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
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