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Caderno2 Apoio CLUBE ROENTGEN Este encarte é parte integrante da edição 429 do Jornal da Imagem | Maio de 2014 CASO 1 A. C. CAMARGO CANCER CENTER Caso apresentado no Clube Roentgen de 9 de abril de 2014 História clínica Figura 1 Figura 2 Sinal do halo invertido: opacidade em vidro fosco cincundada por anel de consolidação Sinal do crescente aéreo: cavitação em crescente no interior da lesão – sinal de bom prognóstico (resposta terapêutica) HMA: aumento da região cervical e lesão na base da língua há 3 meses, realizada biópsia que foi positiva para Vermelho do Congo, sugerindo fortemente a hipótese de amiloidose. Referia tosse e dispneia há 1 ano. Figura 5 Hifas de Aspergillus Figura 3 a) Sinal do halo invertido (fase inicial). b) Cavitação central (fase de convalescência) Figura 4 A B Sinal do halo: consolidação ou nódulo circundado por anel em vidro fosco CASO 2 A. C. CAMARGO CANCER CENTER Caso apresentado no Clube Roentgen de 9 de abril de 2014 História clínica Feminino, 36 anos, atendente de telemarketing. Queixa principal: achado incidental em ultrassonografia de rotina. HMA (18/06/2013): paciente natural de Araçatuba, morou em Vilhena-RO durante a infância, e atualmente reside na capital de São Paulo. Procurou a dermatologia por manchas na pele, sendo solicitado ultrassonografia de abdome total (rotina), que revelou achado incidental de lesão esplênica, tendo sido encaminhada ao A.C. Camargo Cancer Center. Realizou ultrassonografia de abdome em maio/2013, que evidenciou imagem nodular esplênica de paredes regulares e espessadas, com conteúdo ecogênico, podendo corresponder a cisto de conteúdo espesso, medindo 44 x 22 mm. Conduta: solicitado tomografia computadorizada e nova ultrassonografia (figuras e legendas em anexo). Figura 1 Ultrassonografia de abdome total, mostrando imagem de conteúdo ecogênico, com paredes regulares e espessadas, no terço médio do baço Figura 2 TC de abdome superior, na fase pré-contraste, mostrando imagem hipoatenuante, com calcificações periféricas, no terço médio do baço Figura 3 Figura 4 TC do abdome superior, na fase arterial, mostrando realce pós-contraste da lesão no baço TC de abdome superior, na fase portal, mostrando imagem satélite adjacente à lesão principal CASO 1 • CLUBE ROENTGEN Autores: Drs. Raphael Fauve e Bruno Torres. A.C. Camargo Cancer Center Sinal do halo invertido em paciente com amiloidose primária A aspergilose pulmonar é uma infecção micótica causada por espécies de Aspergillus, que tem como formas principais de apresentação a aspergilose broncopulmonar alérgica e a pneumonite por hipersensibilidade, o aspergiloma, a aspergilose semi-invasiva e a aspergilose invasiva. Ela é caracterizada por um espectro de achados clínicos e radiológicos que estão diretamente relacionados ao estado imune do hospedeiro ou à presença de doença pulmonar estrutural. A forma invasiva ocorre primariamente em indivíduos profundamente imunocomprometidos, especialmente em pacientes com doença hematológica maligna, mais comumente a leucemia aguda. A tomografia computadorizada tem sido utilizada sistematicamente no auxílio ao diagnóstico pre- coce da aspergilose angioinvasiva, permitindo assim um tratamento antifúngico efetivo com consequente melhora do prognóstico. O achado radiológico mais importante é o sinal do halo, caracterizado por um halo de atenuação em vidro fosco ao redor do nódulo, massa ou consolidação, que é altamente indicativo de aspergilose angioinvasiva e ocorre apenas precocemente no curso da doença, ou seja, durante o período neutropênico. Durante a fase de convalescência pode ocorrer o sinal do crescente aéreo, que corresponde a escavação, em crescente, no interior da lesão, relacionado geralmente à resposta terapêutica / recuperação imunológica (sinal de bom prognóstico). O sinal do halo invertido é uma apresentação relativamen- CASO 2 • CLUBE ROENTGEN te incomum, mas que devido ao quadro clínico, deve ser relacionada à aspergilose, sendo caracterizado como uma área central com atenuação em vidro fosco circundada por um anel de consolidação. Estudos demonstram que este sinal pode estar presente em várias patologias, dentre elas: paracoccidioidomicose, tuberculose, zigomicose, aspergilose e casos não infecciosos, como a pneumonia organizada criptogênica, granulomatose de Wegener, infarto pulmonar, metástases, sarcoidose, etc. O sinal do halo invertido é relativamente não específico, sendo necessária correlação clínica. O diagnóstico definitivo se dá por estudo histopatológico, que no caso da aspergilose será pela visualização direta de hifas do Asper- gillus, prinicipalmente nas áreas periféricas à lesão. Deve-se sempre considerar aspergilose invasiva no diagnóstico diferencial de paciente imunossuprimido com lesão pulmonar com sinal do halo e também com sinal do halo invertido. Referências 1.Leão RC, et al. Tomografia computado- rizada na avaliação da aspergilose pulmonar angioinvasiva em pacientes com leucemia aguda. Radiol Bras, São Paulo, v. 39, n. 5, Oct. 2006. 2.Marchiori E, et al. The Reversed Halo Sign on High-Resolution CT in Infectious and Noninfectious Pulmonary Diseases. American Journal of Roentgenology 2011 197:1, W69-W75. 3.Godoy MCB, et al. The reversed halo sign: update and differential diagnosis. The British Journal of Radiology, 85 (2012), 1226–1235. Autores: Dras. Maria Luiza Lima de Albuquerque e Vanessa da Conceição Soares Costa A. C. Camargo Cancer Center Cisto hidático no baço Hidatidose (equinococose) é uma zoonose causada pela forma larval da tênia, Echinococcus granulosus. Os seres humanos são hospedeiros intermediários acidentais no ciclo de desenvolvimento de hidatidose. Embora possa afetar qualquer órgão é mais frequentemente encontrada no fígado (60-70%) e pulmão (30%). A ocorrencia de Hidatidose Esplênica é muito rara, menos de 3%, mesmo em áreas endêmicas A maioria dos cistos hidáticos são adquiridos na infância, com um período de latência de cinco a 20 anos, antes que o diagnóstico seja feito. Algumas complicações podem ser vistas como infecções 2 | Caderno 2 secundárias, fistulização para órgãos adjacentes e ruptura no interior da cavidade peritoneal. A ruptura traumática ou espontânea de um cisto hidático pode causar reação anafilática sistêmica com risco de vida. Cistos hidáticos são geralmente assintomáticos. O diagnóstico geralmente é estabelecido ao acaso durante a investigação de sintomas não relacionados. Quando o cisto atinge um tamanho avançado, o paciente apresenta-se com uma massa dolorosa no hipocôndrio esquerdo. Outras apresentações iniciais incluem a compressão da artéria renal e hipertensão arterial sistêmica ou ruptura do cisto hidático do baço para o outro órgãos. As características de imagem dos cistos hidáticos esplênicos são: calcificação da parede do cisto, a presença de cistos filhos e descolamento da membrana. O diagnóstico diferencial inclui outras lesões císticas do baço como o cisto epidermoide, pseudocistos, abscessos do baço, hematomas e neoplasias císticas do baço. Devido ao risco de ruptura espontânea ou traumática, cistos hidáticos esplênicos são geralmente tratados cirurgicamente. O tratamento padrão é esplenectomia total ou parcial. Fluido cístico pode ser drenado com punção e aspiração para reduzir a pressão intracística, mas esplenectomia sem punção do cisto é preferível. Albendazol é a base do tratamento no período de acompanhamento pós-operatório. Referências: 1.Meimarakis G, Grigolia G, Loehe F, Jauch KW; Schauer RJ. Surgical management of splenic echinococcal disease. Eur J Med Res; 2009 ;14(4): 165-70. 2.Shabari MP at al. Giant solitary hyda tid cyst of spleen-A case report. Int J Surg Case Rep. 2013; 4(4): 435-437. 3. Karabicak I,Yurtseven I,Yuruker SS, Ozen N, Kesim M. Splenic hydatid cyst. Can J Surg. Oct 2009; 52(5): 209-210. Figura 2 CASO 3 Nas imagens tomográficas sem uso de contraste os achados corroboram o estudo radiográfico ao demonstrar ruptura da cortical e comprometimento de partes moles adjacentes à lesão A. C. CAMARGO CANCER CENTER Caso apresentado no Clube Roentgen de 9 de abril de 2014 História clínica Masculino, 25 anos, apresentando dor, aumento volumétrico e limitação funcional do hálux esquerdo há 3 anos, com agravamento progressivo do quadro. Dificuldade de deambulação, atividades de vida diária e uso de calçados. Figura 1 No caso apresentado o estudo radiográfico demonstrou lesão radioluzente, expansiva, ocupando toda a largura da falange proximal do primeiro dedo do pé esquerdo, com traves escleróticas, com afilamento e descontinuidade de ambas as corticais e deformidade das superfícies articulares CASO 4 A. C. CAMARGO CANCER CENTER Caso apresentado no Clube Roentgen de 9 de abril de 2014 História clínica Figura 1 Figura 2 TC sem contraste evidencia lesão isodensa, sem calcificações de permeio ou flebólitos e sem hiperostose da parede lateral da órbita T1WI sem contraste. Corte axial com lesão lobulada de alto sinal, extra-conal com extensão intra-conal, bem delimitada, e halo de baixo sinal Sexo masculino, 28 anos, branco, com proptose ocular à direita há seis meses. Acuidade visual e mobilidade ocular sem alterações. Paciente apresenta, também, desde a infância, nevo azul (nevus de Ota) extenso na hemiface ipsilateral. Figura 3 T2WI sem contraste. Corte coronal com lesão de sinal intermediário e halo de baixo sinal, sugerindo pseudocápsula Figura 4 Figura 5 T1WI com contraste. Corte axial com intenso realce da lesão pelo meio de contraste Extenso Nevus de Ota na hemiface direita Edição 429 – Maio de 2014 | 3 CASO 3 • CLUBE ROENTGEN Autores: Drs. Rodrigo de Oliveira Tostes, Alessandra Araújo de Castro e Rubens Chojniak A. C. Camargo Cancer Center Condroblastoma O condroblastoma é um tumor benigno, formador de cartilagem, responsável por 1% dos tumores ósseos primários. Foi descrito pela primeira vez por Kolodny em 1927, sendo considerado um tumor de células gigantes do tipo cartilaginoso, mas apenas em 1942 Jaffe e Lichtenstein o diferenciaram como neoplasia única. Embora histopatologicamente benigno, há casos descritos na literatura de comportamento agressivo com extensa destruição óssea periarticular e metástase pulmonar. Tipicamente se desenvolve na epífise de esqueletos imaturos, acometendo preferencialmente ossos tubulares como úmero, fêmur, tíbia e metatarsos. Menos usualmente pode ocorrer em ossos chatos (crânio, maxila e pelve) e epifisóides (trapézio, cubóide, tálus e patela). Seu pico de incidência ocorre na segunda década de vida, sendo mais frequente no sexo masculino. A sintomatologia é caracterizada por dor local, seguida de edema e abaulamento na região acometida. Os achados radiológicos típicos incluem lesão radioluzente única, arredondada/ovalada, bem delimitada, na epífise, com fino halo esclerótico e extensão para a metáfise (20% - 50% ) e focos de calcificação interna em graus variáveis (30% - 50%). Ocasionalmente pode haver reação periosteal. A tomografia mostra massa de alta densidade, com discreta captação homogênea de contraste havendo áreas não captantes e áreas calcificadas. O contorno lobulado e o edema peritumoral são característicos na ressonância. Histologicamente este tumor apresenta dois tipos celulares básicos: condroblastos e células osteoclásticas gigantes. A principal característica é a presença de ilhas de cartilagem condroide ou hialina, com deposição de cálcio no estroma tecidual. Fazem parte do diagnóstico diferencial: condrossarcoma, tumor de células gigantes, cisto ósseo aneurismático, fibroma condromixoide, entre outros. O tratamento preconizado é a remoção cirúrgica total da lesão, a fim de evitar recorrência (20% em até três anos). Em casos de recidiva está indicada radioterapia. No caso apresentado o estudo radiográfico demonstrou lesão radioluzente, expansiva, ocupando toda a largura da falange proximal do primeiro dedo do pé esquerdo, com traves escleróticas, com afila- CASO 4 • CLUBE ROENTGEN mento e descontinuidade de ambas as corticais e deformidade das superfícies articulares (Figura 1). Nas imagens tomográficas sem uso de contraste os achados corroboram o estudo radiográfico ao demonstrar ruptura da cortical e comprometimento de partes moles adjacentes à lesão (Figura 2). Referências 1.Leão GSS, Souza AMG, Feitosa CH Condroblastoma dos ossos do pé: aspectos clínico e radiográficos. Rev ABTPE. 2009; 3 (2): 75-80. 2. Qasem AS, DeYoung BR.Cartilage-forming tumors. Seminars in diagnostic pathology. 2014; 31: 10-20 3.Jaovisidha S, Siriapisith R, Chitrapazt N, et al..Radiological findings in 31 patients with chondroblastoma in tubular and non-tubular bones. Singapore Med J. 2013; 54 (5): 275-280. Autores: Drs. Carolina Ferraz Reis, João Vitor Ribeiro Henklein e Renan Gomes Bringel A. C. Camargo Cancer Center Melanocitoma de órbita Melanocitoma é um raro tumor pigmentado do Sistema Nervoso Central, originado de melanócitos da leptomeninge. Ocorre mais frequentemente na fossa posterior do crânio ou ao longo da medula espinhal. A média de idade ao diagnóstico gira em torno da 5ª década de vida, apresentando leve predomínio no sexo feminino. O Nevo de Ota, também conhecido como Melanocitose Oculodermal, patologia conhecida do paciente, é uma lesão melanocítica composta por melanócitos dérmicos, apresentando diversas associações, inclusive com neoplasias melanocíticas meníngeas. O melanocitoma de órbita, diagnóstico do paciente em questão, é extremamente raro, encontrando-se apenas cinco casos relatados na literatura médica. Seus sintomas, geralmente, são os de uma massa retrobulbar e a duração dos sintomas antes do diagnóstico varia 4 | Caderno 2 entre três meses a 10 anos. O melanocitoma é caracterizado na tomografia computadorizada por uma massa bem definida, isodensa ou levemente hiperdensa, com realce homogêneo pós-contraste. Na ressonância magnética, assim como em outras lesões contendo melanina, é descrito como tendo hipersinal na sequência ponderada em T1, iso/hipossinal na sequência ponderada em T2 e realce intenso e homogêneo ao gadolíneo. Contudo, a intensidade do sinal na RM varia a depender do grau de melanização, componente fibrótico e hemorragia intratumoral. Tumores com alto conteúdo de pigmento melanínico são mais hiperintensos em T1. Assim, os exames de imagem são úteis para diagnosticar lesões contendo melanina, porém é difícil, apenas com as imagens, diferenciar melanocitoma de outros tumores como melanoma, meningioma melanocítico e schwanoma. O que é bom não precisa acabar A SPR continua investindo em você Agora, o profissional recém-egresso da residência médica pode permanecer no programa Sócio SPR Jr., recebendo descontos em eventos e benefícios na semestralidade.