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POR ONDE ANDA
POR GUSTAVO GODINHO
A CULPA É DO RAUL
ToNY & FRANKYE, PRINCIPAL DUPLA DE SOUL MUSIC DO BRASIL, FOI DESFEITA
APÓS MUDANÇA CONCEITUAL PROPOSTA PELO ENTÃO PRODUTOR RAUL SEIXAS
T
FOTOS: DIVULGAÇÃO
odo mundo está cansado de saber da imensa contribuição que Raul Seixas deu para a música popular. Mas na
época em que foi produtor musical da CBS, Raulzito,
sem querer, pisou feio na bola. E acabou por separar a maior
dupla de soul music que o Brasil já teve. Em 1970 tudo ia bem
para os amigos Tony & Frankye. Recém contratados da extinta
CBS, a dupla estava no auge do sucesso. Após lançar dois compactos simples com as canções Adeus, amigo vagabundo e Viu,
menina eles foram convidados para participar do programa de
Flavio Cavalcanti, líder de audiência na época. “Foi a partir dali
que ficamos conhecidos de verdade. No dia seguinte da exibição,
não podíamos mais sair na rua. Havia milhares de fãs histéricas
no nosso encalço”, relembra Frankye Arduini.
Aproveitando a onda “beatlemaníaca” que cercava Tony &
Frankye, a CBS decidiu então, em 1971, gravar o primeiro disco da dupla. E Raul Seixas foi escalado para produzi-lo. “Até
então, Raul era desconhecido do grande público. Era produtor
da gravadora e tocava na banda que acompanhava Jerry Adriani”, conta Frankye. “Quando entramos em estúdio, percebi que
ele só entendia de rock e de música brega. Não tinha nada a ver
com soul music. Mas Tony e eu preferimos não reclamar. Afi-
nal, éramos novos na gravadora”, completa.
O disco de estreia de Tony & Frankye foi também o único da
curta carreira da dupla. Tudo por culpa da faixa Vamos lá pra ver,
baião que destoa completamente do resto do repertório. “Raul
fez o arranjo para essa canção. Nos colocou para cantar acompanhados de zabumba, sanfona e triângulo”, diz Tony. Virou faixa
de trabalho. Os fãs adoraram. E a CBS acabou deixando de lado
todas as outras faixas do disco, que eram soul music de verdade”,
recorda Frankye. O divulgador da dupla na época, Antônio
Dail, o Mojica (hoje, sócio da Power Promoções), recorda que
graças à canção Tony & Frankye foram a todos os programas
de auditório da TV. “Apesar de não ser a cara da dupla, a faixa
tem uma levada gostosa e um trocadilho infame. A letra diz:
'todo mundo no casamento da Maria', mas era cantada de forma maliciosa para a época. Todo mundo “nu” casamento da
Maria. Isso foi uma grande sacada e fez a música alcançar a
ponta entre as mais tocadas no Brasil”, conta.
Foi exatamente essa pegada nordestina que fez com que a dupla se separasse. Graças ao enorme sucesso de Vamos lá pra ver,
em 1972 Tony & Frankye foram escalados pela CBS para gravar
um segundo LP. Só que contendo apenas forró e baião – abandonando completamente a soul music. Assim
que recebeu a notícia, Frankye rescindiu com a
companhia e, como ele mesmo diz, meteu o pé
na estrada. “Tony ficou p... comigo porque o deixei na mão. Mas era o que tinha que ser feito,
infelizmente. Assim que saí da dupla, fiquei viajando por quatro anos e visitei toda a América
do Sul”, conta. Já o companheiro Tony recorda
do evento de forma diferente. “Não fiquei bravo
com Frankye. Fiquei triste com a CBS porque
éramos uma dupla de soul music e queriam mudar nosso estilo”, recorda.
CAPA Do LP ToNY & FRANKYE (DE 1971) E oS DoIS, EM FoTo RECENTE
MAIOR SUCESSO DA DUPLA, VAMOS LÁ PRA VER, COM LEVADA DE BAIÃO, FOI
CRIADA POR RAUL E DESTOA COMPLETAMENTE DO RESTO DO REPERTÓRIO
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