Revista 2010 - Faculdade Farias Brito

Transcrição

Revista 2010 - Faculdade Farias Brito
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Ano VII – Nº 8 – Dezembro de 2010
Conselho Editorial
Andreia Maria de Senna Marques, M.Sc. FFB
Danielle Miranda de Oliveira Arruda, Dra., Unifor
Francisco Correia de Oliveira, Dr., Unifor
Juliana Vieira Correia Carneiro, M.Sc. FFB
Olga Melissa Moreira Prado, M.Sc. FFB
Sérgio Barbosa Elias, M.Sc. FFB
Raimundo Roberto Nobre Pinho, M.Sc. FFB
Sérgio Carvalho, PhD, University of Manitoba, Canadá
Everton Correia Chaves, Dr., FIC
Supervisão Editorial:
Raimundo Roberto Nobre Pinho
Assistente Editorial:
Cinthia Venâncio
Projeto Gráfico:
Daniel de Paiva Silva
Impressão:
Gráfica FB
Revisão:
Tony Sandro Sales
Francisco Diego Cordeiro Gomes
Os textos são de inteira responsabilidade de seus autores.
A Revista FFBusiness comunica aos seus colaboradores
que os artigos a serem submetidos à seleção deverão ser enviados somente por
meio eletrônico, através do e-mail: [email protected],
que possui fluxo contínuo de recebimento de artigos.
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Faculdade Farias Brito
Coordenação do Curso de Administração e Marketing
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Castro Monte, 1364 – 2 andar
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(85) 3486.9090 e 3486.9003
(85) 3267.5169
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rganização Editorial: Raimundo Roberto Nobre Pinho
O
Capa:
Gráfica FB
Tiragem Mínima:
500 exemplares
ISSN 1679-723X
Ficha Catalográfica
FFBusiness: revista dos cursos de administração e marketing / Faculdade
Farias Brito. v. 1, n.1 (jan. a jul.) – Fortaleza: Faculdade Farias Brito, 2003 –
Semestral (2003 – 2005), Anual (2006 –)
ISSN 1679-723X
1. Administração de Empresas – Periódico. 2. Marketing – Periódico. I. Título
CDD-658.05
EDITORIAL
Caro leitor,
A oitava edição da Revista FFBusiness, com uma série de melhorias tanto físicas quanto
virtuais, expressa o firme propósito da Organização Farias Brito, por meio da Faculdade
Farias Brito – Curso de Administração e Marketing, de contribuir para o debate e análise
teórico-metodológico relacionado ao campo dos estudos da Administração, disseminando
artigos científicos.
Expressando a amplitude dos temas de interesse da pesquisa nas Ciências da
Administração, esta edição é premiada com cinco inéditos artigos nas áreas de Tecnologia
da Informação, Marketing, Estratégia e Finanças.
O primeiro artigo, “Descrição do Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação
de Fortaleza Considerando as Relações entre seus Agentes: um Foco nas Organizações
Associativas”, de autoria de Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara traz
uma descrição do Arranjo Produtivo Local (APL) de Tecnologia da Informação de
Fortaleza, capital do Estado do Ceará – Brasil, ao proceder à identificação dos principais
agentes envolvidos, bem como suas respectivas características e relações. Apresenta-se,
assim, como instrumento para apontar caminhos mais efetivos de integração estratégica
do setor, além de referencial para outros estudos, proporcionando o balizamento para
discussões referentes à avaliação, elaboração e implementação de relações colaborativas
entre os diversos agentes de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do setor.
O segundo artigo, “Avaliação dos Serviços Religiosos pelos Católicos”, de autoria
de João Adamor Dias Neves, Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota, versa
sobre as estratégias de marketing religioso utilizadas pela Igreja Católica em uma capital
brasileira, permitindo traçar o perfil dos católicos e identificar as estratégias de marketing
utilizadas para atrair e manter os fiéis, bem como avaliar os serviços religiosos entregues
aos católicos pela Igreja Católica.
O terceiro artigo, “Mapas Cognitivos e a Estruturação de Redes Sociais de Cooperação:
O Caso RAME”, de Maria Eliene Soares de Sousa, Joana Ancila Pessoa Forte e Danielle
Miranda de Oliveira Arruda Gomes, foca a lente teórica sobre a realidade que se apresenta
em um grupo de empresários de pequeno porte que, cooperando entre si nos processos
de produção coletiva, captação de mercado, compras conjuntas, busca o crescimento e a
sustentabilidade do empreendimento.
Analisando os valores e significados presentes no consumo de bolsas de luxo por
mulheres brasileiras, o quarto artigo, de autoria de Marlon Bruno Matos Paiva, Danielle
Miranda de Oliveira Arruda Gomes, Joana Ancila Pessoa Forte, Thiciane Mary Carvalho
Teixeira e Alyne Oliveira do Vale, lança mais luz sobre o mercadão de luxo ao identificar
cinco valores – qualidade, atemporalidade, estética, segurança e distinção – e dois
significados – poder e recompensa – no consumo de bolsas de luxo.
Fechando a edição, o artigo “Comportamento em Relação ao Dinheiro: O Caso
dos Microempresários do Estado do Ceará”, de autoria de Polyana Ximenes, Samuel
Façanha Câmara e Elias Pereira Júnior, busca compreender as atitudes dos indivíduos,
como empresários, em relação ao dinheiro, utilizando a Escala Ética do Dinheiro de Tang
(1992), além de tentar verificar qual o significado do dinheiro sobre diferentes fatores
que identificam características comportamentais desses indivíduos, tais como: obsessão,
poder, orçamento, realização, avaliação, ansiedade, retenção (avareza) e não generosidade.
Entender o significado do dinheiro para os indivíduos propicia uma melhor compreensão
de como os fenômenos econômicos afetam a vida das pessoas e, por sua vez, como o
comportamento destas pode influenciar na economia como um todo.
Editoria
Sumário
Descrição do Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação de
Fortaleza Considerando as Relações entre seus Agentes: um Foco nas
Organizações Associativas................................................................................ 11
Description of the Local Productive Arrangement of Technology of the Information of
Fortaleza considering the relationships among their agents: a focus in the associative
organizations
Alexandre Gomes Galindo
Samuel Façanha Câmara
Avaliação dos Serviços Religiosos pelos Católicos...................................... 47
Evaluation of the Religious Services by the Catholics
João Adamor Dias Neves
Arley Rodrigues Bezerra
Márcio de Oliveira Mota
Mapas Cognitivos e a Estruturação de Redes Sociais de Cooperação:
O Caso Rame . .................................................................................................... 73
Cognitive Maps and the Structuring of Cooperation Social Networks : The Rame Case
Maria Eliene Soares de Sousa
Joana Ancila Pessoa Forte
Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes
O Consumo de Luxo: Um Estudo sobre Valores e Significados no Consumo
de Bolsas por Mulheres Brasileiras.................................................................. 91
Luxury Consumption: A Study of Values and Meanings in Bags Consumption by Brazilian
Women
Marlon Bruno Matos Paiva
Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes
Joana Ancila Pessoa Forte
Thiciane Mary Carvalho Teixeira
Alyne Oliveira do Vale
Comportamento em Relação ao Dinheiro: O Caso dos Microempresários
do Estado do Ceará............................................................................................107
Behavior in relation to money: The case of microentrepreneurs of the State of the Ceará
Polyana Ximenes
Samuel Façanha Câmara
Elias Pereira Júnior
Artigos
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DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA
CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES:
UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
Description of the Local Productive Arrangement of Technology of the
Information of Fortaleza considering the relationships among their agents: a focus
in the associative organizations
Alexandre Gomes Galindo
[email protected]
Samuel Façanha Câmara
[email protected]
RESUMO:
A Tecnologia da Informação (TI), entendida como elemento de suporte às ações e
estratégias organizacionais, engloba em sua concepção aspectos que estendem seu
conceito para além do simples uso de hardware e software no tratamento da informação.
Ela abrange também o uso das telecomunicações, automação e recursos multimídia,
utilizados pelas organizações, bem como incorpora as questões relativas ao fluxo de
trabalho e pessoas envolvidas no fornecimento de dados, informações e conhecimento.
Dentro dessa perspectiva, percebe-se que a TI pode ser usada como ferramenta de suporte
organizacional ou ser considerada como o próprio objeto de negócio das empresas
(Core Business). O objetivo deste artigo é descrever o Arranjo Produtivo Local (APL) de
Tecnologia da Informação de Fortaleza, capital do Estado do Ceará – Brasil, procedendo à
identificação dos principais agentes envolvidos, bem como suas respectivas características
e relações. A pesquisa é de caráter exploratório-descritivo e amparou suas investigações no
seguinte conjunto de métodos. Foi utilizada a aplicação de questionário com especialistas
para identificar os Stakeholders de TI; consulta nos cadastros das entidades associativas
geradoras de externalidades do setor para identificar as empresas de TI vinculadas; pesquisa
documental, através do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ – das empresas
associadas, para identificar suas naturezas e atividades econômicas e Survey com o propósito
de identificar as características gerais inerentes ao conjunto de empresas que englobam
o Núcleo Empresarial do Arranjo. A descrição das empresas do APL de TI de Fortaleza
serve como instrumento para apontar caminhos mais efetivos de integração estratégica
do setor, além de referencial para outros estudos, proporcionando o balizamento para
discussões referentes à avaliação, elaboração e implementação de relações colaborativas
entre os diversos agentes e de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do setor.
PALAVRAS-CHAVE: Arranjos Produtivos Locais; Tecnologia da Informação, Fortaleza.
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Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
ABSTRACT:
The Technology of the Information (TI), understood as support element to the actions
and organizational strategies, includes in its conception aspects that extend its concept
for besides the simple hardware use and software in the treatment of the information. It
also includes the use of the telecommunications, automation and resources multimedia,
used by the organizations, as well as it incorporates the relative subjects to the work flow
and people involved in the supply of data, information and knowledge. Inside of this
perspective, it is noticed that can be used as tool of organizational support to TI or to
be considered as own object of business of the companies. The aim of this article is to
describe the Local Productive Arrangement of Fortaleza, capital of the State of Ceará –
Brazil–, proceding to the main involved agents’ identification, as well as their respective
characteristics and relationships. The research is of exploratory-descriptive character and it
aided their investigations in the following group of methods. The questionnaire application
was used with specialists to identify Stakeholders of TI; consults in the registers of the
associative entities of the section to identify the companies of TI linked; documental
researches, through the Register National of People Juridical – CNPJ – of the associated
companies, to identify their natures and economical activities and Survey with the purpose
of identifying the inherent general characteristics to the group of companies that they
include the Business Nucleus of the Arrangement. The description of the companies of
Local Productive Arrangement of Fortaleza serves as instrument to point more effective
ways of strategic integration of the section, besides base for other studies, providing the
elements for discussions regarding the evaluation, elaboration and implementation of
cooperative relationships among the several agents and of public politics with directions
to the development of the section.
KEYWORDS: Local Productive Arrangement; Technology of the Information; Fortaleza.
1. INTRODUÇÃO
A Tecnologia da Informação (TI), entendida como elemento de suporte às ações e
estratégias organizacionais, engloba em sua concepção aspectos que estendem seu conceito
para além do simples uso de hardware e software no tratamento da informação. Ela envolve
aspectos humanos, administrativos e organizacionais, abrangendo também o uso das
telecomunicações, automação e recursos multimídia utilizados pelas organizações, além de
incorporar as questões relativas ao fluxo de trabalho e pessoas envolvidas no fornecimento de
dados, informações e conhecimento (KEEN, 1993; LUFTMAN et al., 1993). Dessa forma,
tanto o processo de codificação e uso de informação, quanto à infraestrutura necessária para
o seu tratamento e manipulação são considerados elementos indissociáveis, interdependentes
e fundamentais na dinâmica das organizações, conforme destacam Shapiro e Varian (1999).
Dentro dessa perspectiva, a TI pode ser usada como ferramenta de suporte interno
organizacional ou ser considerada como o próprio objeto de negócio (Core Business), na
medida em que a empresa opta em especializar-se como fornecedora de conteúdo e/ou
de infraestrutura informacional, envolvendo relações de concorrência e colaboração com
outras empresas.
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DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
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Para Cassiolato e Lastres (1999), a emergência do paradigma das tecnologias
da informação tem provocado forte impacto nas formas como vem se realizando o
desenvolvimento industrial e tecnológico, onde a consolidação de relações cooperativas é
considerada um dos traços característicos dos Arranjos Produtivos Locais, principalmente
no que se refere ao envolvimento de pequenas e médias empresas. Sobre este aspecto,
convém estar atento para o fato de que os estudos que buscam descrever as características
das aglomerações produtivas especializadas (clusters, distritos industriais, ambientes
inovadores, sistemas produtivos locais, redes, dentre outros) cumpram o papel de
apresentar elementos que contribuam para a implementação de estratégias indutoras do
crescimento e desenvolvimento.
O presente estudo é de caráter exploratório-descritivo e tem o objetivo de descrever
o Arranjo Produtivo Local (APL) de Tecnologia da Informação de Fortaleza, capital do
Estado do Ceará – Brasil, procedendo à identificação dos agentes envolvidos, bem como
de suas respectivas características e relações. A descrição baseou-se na identificação: i) dos
principais Stakeholders relacionados com o APL em nove categorias; ii) dos vínculos
entre as empresas em torno das principais instituições associativas em TI geradoras
de externalidades e iii) das características gerais das empresas integrantes do Núcleo
Empresarial do referido APL.
Para a identificação dos Stakeholders de TI foi utilizada a aplicação de questionário
com especialistas e posterior consolidação através de análise de consistência. A consulta aos
cadastros e entrevistas com membros das entidades associativas geradoras de externalidades
foram utilizadas para identificar as empresas de TI vinculadas e suas respectivas relações. A
pesquisa documental foi utilizada, através do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ
das empresas associadas, para identificar suas naturezas e atividades econômicas. Por fim,
foi realizado Survey, através da aplicação de questionário, com o propósito de identificar
as características das empresas do Núcleo Empresarial do APL.
A relevância da análise dos dados apresentados nesse estudo está ancorada no fato de
que as informações geradas, além de contribuirem para a produção de conhecimento sobre
o tema, servem de balizadoras para estratégias de articulação mais efetiva entre os agentes
envolvidos e de subsídio para elaboração de políticas de fomento e desenvolvimento do
setor.
2. AGLOMERAÇÕES E ASSOCIAÇÕES EMPRESARIAIS
Os estudos sobre aglomeração empresarial remontam ao final do século XIX, tendo
nos trabalhos de Marshall (1985a; 1985b) as primeiras reflexões consistentes relacionadas
com a importância e efeitos da concentração, em certos locais, de indústrias especializadas,
como condição germinal para consolidação de sistemas produtivos. Conforme observado
pelo referido autor, o agrupamento de agentes econômicos especializados dentro dos
limites de uma determinada região proporciona vantagens significativas no que se refere
à disponibilização de conhecimentos, instrumentos, matérias-primas, mão de obra,
bem como da organização de atividades subsidiárias ao núcleo dos principais negócios,
proporcionando a redução de custos e economia de escala.
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
Sobre o ponto de vista das economias regionais, Cassiolato (1999) evidencia a
importância do conhecimento de caráter local e das capacitações a ele vinculadas para
o enfrentamento inerente aos processos de globalização e do desenvolvimento das
tecnologias da informação e comunicação, cujos efeitos tornaram-se mais evidentes a partir
das duas décadas finais do século XX. Para o referido autor, as tecnologias da informação
e comunicação, ao invés de provocar uma homogeneização de “atividades globalizadas”,
tendem a reforçar a importância das características locais, dando mais significado ao
conhecimento tácito e acentuando a importância de processos locais de desenvolvimento
tecnológico, de inovação e competitividade.
A aglomeração empresarial, cujo termo está ancorado no contexto das redes sociais,
envolve diversas formas de relacionamentos e atividades voltadas para a busca da inovação
através da aprendizagem, aumentando o potencial competitivo, principalmente, das
pequenas e médias empresas. As referidas aglomerações produtivas, cujo traço principal
tem sido as relações de cooperação entre empresas de um mesmo segmento/setor
econômico, assumem formatos e denominações diversas, como distritos industriais,
clusters, arranjos produtivos locais (APL) ou sistemas produtivos locais (COSTA et al,
2006). Dentro desse contexto, vários agentes, como indivíduos, grupos e instituições,
encontram-se em pleno processo de interação, sendo denominados de Stakeholders na
medida em que seus objetivos são direta ou indiretamente afetados por uma organização
(FREEMAN; REED, 1983). Consequentemente, conforme evidenciaram Donaldson e
Preston (1995), a empresa é remetida a interagir com diversas categorias de Stakeholders
como, por exemplo, o governo, investidores, empregados, fornecedores, clientes, grupos
políticos, sindicatos e sociedade organizada.
Britto (2000), ao focar a institucionalidade subjacente aos arranjos denominados de
“distritos industriais”, vistos como desdobramento da análise originalmente formulada
por Marshall (op. cit.), apresenta uma sistematização das possíveis relações em três níveis,
considerando a posição central ocupada pelos principais agentes de produção. Enquanto o
primeiro nível refere-se às “ligações para trás” das empresas centrais com seus fornecedores,
o segundo nível diz respeito às “ligações horizontais” com outras empresas localizadas no
mesmo estágio da cadeia produtiva e associações empresariais. Já o terceiro nível contempla
as “ligações para frente”, envolvendo as articulações com os agentes responsáveis pela
distribuição/comercialização, bem como com os compradores diretos e os consórcios
envolvendo os próprios produtores para a venda.
Levando em consideração as relações de poder entre as empresas, Cassaroto Filho
e Pires (1998) afirmam que as aglomerações podem estar organizadas através de uma
estrutura fortemente verticalizada, onde uma empresa mãe centraliza as principais ações
de liderança, ou horizontalizada, onde as empresas são integradas através de consórcios
setoriais, territoriais ou específicos com fortes relações de cooperação, ao invés de
subordinação. Sobre esse aspecto, os agrupamentos cooperativos, segundo Britto (2001),
são baseados em compartilhamento de competências entre parceiros, motivados por
interesses comuns, sendo fortemente condicionados pela complexidade das tecnologias
que necessitam ser mobilizadas.
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DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
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Para Amato Neto (2000), existem oito necessidades indutoras da formação de alianças
entre empresas, que seriam de difícil satisfação, caso as mesmas atuassem isoladamente.
São elas: i) combinar competências e utilizar Know-how de outras empresas; ii) dividir
o ônus de realizar pesquisas tecnológicas; iii) partilhar riscos e custos de explorar
novas oportunidades; iv) oferecer uma linha de produtos de qualidade superior e mais
diversificada; v) exercer uma pressão maior no mercado; vi) compartilhar recursos, com
especial destaque aos que estão sendo subutilizados; vii) fortalecer o poder de compra e
viii)obter mais força para atuar nos mercados internacionais.
De acordo com Eirik (2001), o fenômeno da cooperação ente empresas pode
ser analisado sobre os domínios da cooperação comercial, técnica (ou de produção)
e financeira. Enquanto o domínio comercial inclui as parcerias que são desenvolvidas
predominantemente para as atividades de compras, marketing e vendas, distribuição de
produtos acabados e serviços de pós-vendas, no domínio técnico (ou de produção) elas se
concentram nas atividades de produção gestão de recursos e investigação/desenvolvimento
tecnológico. Já o domínio financeiro agrupa as ações conjuntas entre empresas em função
do tipo de capital que é envolvido e do grau de integração entre os parceiros.
Segundo Klotzle (2002), essas relações estratégicas podem se concretizar através
de contratos unilaterais; participação acionária minoritária; Joint Venture e contratos
bilaterais. Já Kanter (1990) as classifica em: 1) alianças multiorganizacionais de serviços
ou consórcios; 2) alianças oportunistas ou Joint Venture e 3) alianças de Stakeholders ou
parcerias que envolvem fornecedores, consumidores e funcionários. Entretanto, vale
ressaltar que, independentemente da abordagem usada para analisar a variedade de pactos
possíveis de serem realizados, o importante nesse processo reside na necessidade de haver
plena e “forte aliança entre empresas e instituições diretamente interessadas em sua criação,
que, conjuntamente determinarão quais objetivos este instrumento terá e quais os tipos de
serviços e atividades que deverá desenvolver” (CASSAROTO FILHO; PIRES, 1998. p 51).
A aglomeração, proveniente da realização de alianças estratégicas locais, tem sido
um mecanismo utilizado por um número crescente de empresas brasileiras, em especial
as pequenas e médias (PMEs), para superarem os obstáculos naturais que influenciam a
capacidade competitiva de seus produtos/serviços, onde a melhoria da qualidade, aumento
da produtividade e redução dos custos passaram a ser os grandes desafios na disputa
com produtos importados e, em alguns casos, na concorrência em outros países. Esse
fato é ratificado por Cândido e Abreu (2000) ao analisarem a premissa de que as PMEs
isoladamente não possuem condições de arcar com todos os investimentos necessários e
que a solução comumente encontrada é a atuação conjunta e associativa no mercado, de tal
monta que sejam compartilhados investimentos e benefícios resultantes de cooperações,
envolvendo trocas de informações, bem como o rateamento de custos e benefícios de
projetos gerenciais e tecnológicos, na busca de solução para problemas comuns.
O aumento da amplitude das relações em torno de propósitos comuns, envolvendo
os vários Stakeholders dentro de limites geográficos relativamente definidos, tem sua maior
expressão nos chamados Sistemas Produtivos Locais (SPL), entendidos como:
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados
em um mesmo território, com foco em um conjunto específico de
atividades produtivas e que apresentam vínculos expressivos de interação,
aprendizagem e capacitação produtiva e inovativa. Geralmente incluem
empresas – produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos
e equipamentos, prestadoras de serviços, comercializadoras, clientes etc.,
cooperativas, associações e representações – e demais organizações voltadas
à formação e treinamento de recursos humanos, informação, pesquisa,
desenvolvimento e engenharia, promoção, financiamento, regulação etc.
(CASSIOLATO; SZAPIRO; LASTRES, 2004. p. 8).
Já os Arranjos Produtivos Locais (APLs) são considerados pelos mesmos autores
como sendo aglomerações produtivas localizadas em um mesmo território, onde nem
todos os atores acima mencionados encontram-se presentes e que não apresentam ainda
uma significativa articulação entre os agentes. Consequentemente, percebe-se que as
concentrações geográficas de empresas podem possuir diferentes níveis de maturidade
em função do grau de interação existente entre os diversos agentes. Dessa forma, pode-se
encontrar desde os Arranjos Produtivos Locais (APLs), onde se percebe a existência de
concentração de atividades produtivas com características comuns a um determinado
setor econômico, com interação entre agentes ainda incipientes, até os Sistemas Produtivos
Locais (SPLs), nos quais existe um elevado grau de interação entre os agentes envolvidos.
No que tange ao desenvolvimento dos APLs, Machado (2003) propõe quatro estágios
genéricos de evolução baseados na prerrogativa de que a concentração geográfica de
empresas especializadas é determinada, fundamentalmente, pela existência de economias
externas e internas às referidas empresas. O primeiro estágio de evolução dos APLs,
denominado de Nascimento/Embrionário, caracteriza-se pela convergência de vetores
indutores de concentração de empresas baseados nas condições locais de oferta de
matérias-primas, insumos, capital social e acesso a mercados, bem como da incorporação de
inovações revolucionárias que criam novos paradigmas produtivos geradores de economias
de escala superiores às existentes em outras localidades. Nesse estágio, ainda é incipiente
a existência de redes mais ostensivas de fornecedores e de cooperações verticais, sendo
as cooperações horizontais de caráter mais informal, baseadas em relações familiares ou
de amizade.
No estágio de crescimento, os setores a montante passam a convergir para o APL, tanto
na forma de representantes, quanto na instalação das próprias plantas produtivas, em função
das demandas crescentes e das economias de escala. A demanda por mão de obra induz
o aumento do nível de especialização profissional do arranjo e as cooperações verticais
e horizontais tornam-se mais evidentes, sendo principalmente de cunho tecnológico.
Enquanto as relações de cooperação vertical de caráter técnico se consolidam com
produtores de equipamentos e de outros insumos importantes, as cooperações horizontais
evoluem da bilateralidade e informalidade até a formação de instituições de apoio, cuja
governança se focaliza, em geral, na montante e/ou nos elos principais da cadeia produtiva.
A área de influência das empresas situadas nos APLs, durante os dois primeiros
estágios, tende a ser mais próxima, isto é, voltada para o atendimento dos mercados
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DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
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locais e regionais. No estágio de maturidade, a estagnação dos mercados locais diminui as
margens, acirra a competição interna e pressiona o segmento produtivo, principalmente as
empresas líderes, a ampliar e buscar novos mercados. O crescimento dos custos, induzidos
pela entrada em novos mercados, pressiona as empresas do arranjo a adotarem com mais
intensidade uma competição baseada em qualidade, flexibilidade e marca. Nesse estágio,
ocorre um natural processo de redução das economias de escala, tornando o APL menos
atrativo para novas empresas produtoras, ao mesmo tempo em que impulsiona as maiores
empresas a abrirem novas plantas de produção em outras localidades. Os segmentos a
jusante de distribuição e comercialização final passam a obter maior atenção da governança
sobre a cadeia produtiva e das cooperações horizontais, sendo observada a redução das
cooperações verticais e inclusive o aparecimento de verticalizações de empresas para
produção de determinados insumos.
Na etapa de Pós-Maturidade ou Rejuvenescimento, percebe-se que a força
centrípeta de agregação do APL é reduzida pela diminuição das economias de escala,
da entrada de outras localidades na competição pelo mercado e da emigração de
empresas, podendo haver tendência de dispersão, de redirecionamento para setores
correlatos e/ou de nascimento de novos agrupamentos. As competências acumuladas
no APL possibilitam o desenvolvimento de novos negócios com alto valor agregado.
Consequentemente, pode-se encontrar empresas que passam apenas a gerenciar marcas,
bem como empresas que desenvolvem máquinas, insumos, consultorias tecnológicas e
de design. O redirecionamento do APL para áreas correlatas ocorre a partir da inserção das
empresas existentes em nichos de mercado com economias de escala atrativas, podendo
servir como novos vetores impulsionadores da atividade econômica local. Dentro desse
contexto, pode-se também observar um reaquecimento das cooperações verticais entre
empresas visando realizar ações coordenativas em vários elos da cadeia produtiva.
Sob a perspectiva das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), as vantagens
competitivas dos APLs são agrupadas por Cezarino e Campomar (2005) em vantagens de
poder de aglomeração, geradoras de benefícios em relação à força e poder do aglomerado
com seu ambiente, e em vantagens de compartilhamento de atividades e processos,
geradoras de aumento da eficiência e eficácia das atividades produtivas. Para os referidos
autores, os transbordamentos de conhecimentos e de tecnologia provenientes dos APLs,
conhecidos como Spillovers, além de gerarem consequências benéficas para todos os
atores do aglomerado, representadas pelas vantagens competitivas citadas anteriormente,
impactam no desenvolvimento local em função dos benefícios sociais e econômicos como
geração de renda, emprego e aumento do dinamismo de negócios, localmente.
É quase consenso na literatura especializada a aceitação de que as aglomerações
influenciam no desenvolvimento regional, sendo uma característica marcante de quase
todas as economias, inclusive nos países em desenvolvimento. Conforme destaca Olave
e Amato Neto (2005), esses impactos afetam a capacidade de competição de três formas:
a) aumentando a produtividade das empresas sediadas na região; b) indicando a direção e o
ritmo da inovação, que sustentam o futuro crescimento da produtividade e c) estimulando
a formação de novas empresas, o que expande e reforça a própria aglomeração.
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
As atuais políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico já não descartam
mais a necessidade de se fazer uso de diversos instrumentos voltados para propiciar o
desenvolvimento cooperativo, competitivo e social de espaços geográficos possuidores
de potencial econômico. Sobre esse aspecto, Cândido (2002) relata que, enquanto nos
países desenvolvidos as políticas geralmente estão focadas no apoio aos agrupamentos
já existentes, nos países em desenvolvimento, como no caso do Brasil, os formuladores
de políticas regionais lidam frequentemente com agrupamentos que são, na melhor das
hipóteses, embrionários e/ou não têm os tipos de ligações e dinamismo característicos
dos agrupamentos consolidados.
Conforme argumentam Dalcol e Silvestre (2003), a vocação regional, associada à
ação conjunta entre estado, empresariado e outros agentes, são fatores determinantes no
estabelecimento e sucesso dos APLs, e o envolvimento dos poderes públicos perpassa pela
reflexão sobre o tipo, a profundidade e a abrangência de suas intervenções. Essa conjugação
já tinha sido apontada como necessária por Meyer-Stamer (1995) para as políticas de
desenvolvimento tecnológico no Brasil ao alertar sobre a fraca integração ainda existente
entre universidades-governos-empresas.
O estudo sobre os fenômenos associativos tem despertado o interesse cada vez maior
dos pesquisadores, empresários e gestores públicos, tendo em vista sua importância para o
sucesso empresarial e para o desenvolvimento tanto sobre o aspecto econômico, quanto
o social. Por mais que as sociedades estejam cada vez mais próximas e integradas em uma
rede global, devido aos efeitos da tecnologia da informação e comunicação, percebe-se que
os elementos locais, refletidos nos diversos tipos de aglomerações empresariais, tornam-se
um traço fundamental e característico da economia contemporânea.
3. CRITÉRIOS DE CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS
O fenômeno da aglomeração de empresas tem sido vastamente abordado como
unidade de análise em estudos ou como objeto de ação de políticas industrias, tanto por
centros de pesquisas, como por organismos governamentais e consultorias. Conforme
apontam Hasenclever e Zissimos (2006), as aglomerações espaciais de empresas têm
sido estudadas por vários pesquisadores, os quais utilizam metodologias de análise,
termos e definições distintos como: distritos industriais; clusters; sistemas produtivos
localizados; sistemas industriais localizados; complexos industriais ou de industrialização
descentralizada; comunidades industriais; configuração produtiva local; sistema produtivo
local ou arranjo produtivo local. Convém ressaltar que todos esses termos, os quais
procuram traduzir o processo de concentração de empresas e instituições em um território,
geram certo grau de confusão, refletindo a dificuldade ainda presente em definir com
precisão o fenômeno aglomerativo.
Abordando as diferentes definições existentes, Bueno (2006) ressalta a existência
de duas características comuns fundamentais que estão subjacentes em todas as
propostas conceituais. São elas: i) a existência de uma aglomeração de um número
significativo de empresas que atuam em torno de uma atividade produtiva principal
e ii) a noção que essa aglomeração se define em determinado território. Ainda sobre
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DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
19
esse aspecto, Lemos (2003) reapresenta os pontos comuns identificados nas diferentes
abordagens, buscando reunir as características básicas comuns das aglomerações locais
enfocadas na literatura.
No que se refere à identificação de aglomerados de empresas, Hasenclever e Zissimos
(op. cit.) fazem uma revisão das métodos aplicados no Brasil e os agrupa em três abordagens
básicas. A primeira diz respeito à análise do fenômeno de desconcentração espacial na
busca de consolidar quadros abrangentes característicos da distribuição espacial das
grandes indústrias, de tal forma que possam ser indicadas as tendências de localização
dos diversos setores industriais, sem haver aprofundamento nas investigações relativas
às aglomerações de empresas de menor porte. A segunda abordagem, mais difundida no
Brasil, procura identificar e caracterizar configurações de empresas em uma área particular
através da utilização de quocientes locacionais indicadores de densidade de atividade e
validações através de pesquisas de campo com empresas e instituições locais. A terceira
abordagem utiliza técnicas de análise multivariada para detectar concentrações de
empresas, desenvolvendo índices de concentração com o propósito de evitar as possíveis
distorções provocadas pelos valores absolutos dos quocientes locacionais.
Para Lastres (2004), o conceito de Arranjo Produtivo Local, entendido como
aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco em um
conjunto específico de atividades econômicas, que apresentam vínculos mesmo que
incipientes, deve ser representativo de uma Unidade de Estudo, cujas principais vantagens
são: a) representar uma unidade prática de investigação que vai além da tradicional visão
baseada na organização individual, permitindo estabelecer uma ponte entre território
e as atividades econômicas realizadas; b) focalizar um grupo de diferentes agentes e
atividades conexas que usualmente caracterizam qualquer sistema produtivo e inovativo
local; c) cobrir o espaço que simboliza o locus real, onde ocorre o aprendizado, criadas
as capacitações produtivas e inovativas e fluem os conhecimentos tácitos e d) refletir o
nível no qual as políticas de promoção do aprendizado, inovação e criação de capacitações
podem ser mais efetivas.
Baseado nesse contexto, Cassiolato e Szapiro (2003) sugerem uma taxonomia para
classificar APL’s fundamentada na conjugação de três elementos: i) governança; ii) mercado
de destino da produção e iii) grau de territorialização das atividades produtivas e inovativas.
Vista como uma dimensão da caracterização, a governança é entendida como os diferentes
modos de coordenação entre agentes e atividades para a produção, a distribuição de bens
e serviços, assim como o processo de geração, uso e difusão de conhecimentos e inovação.
Ela pode se configurar no APL como uma governança hierarquizada, onde existe uma ou
mais instituições ou empresas que funcionam como “âncoras” da economia local, ou como
governança em forma de rede, onde se observa a existência de aglomerações sem grandes
empresas ou instituições localmente instaladas e que possam desempenhar o papel de
coordenação principal das atividades econômicas e tecnológicas.
O mercado majoritariamente atendido pelo arranjo é incorporado como uma
dimensão de caracterização, na medida em que beneficia diferentes atores para a
acumulação de capacitações e processos coletivos de aprendizado, em função dos padrões
das demandas específicas de determinadas regiões, sendo dessa forma relevante o destino
da produção para se compreender a lógica de funcionamento das relações entre empresas
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
e instituições. A diferenciação dos tipos de mercado ocorre na medida em que o destino
da produção é: i) local/regional, quando as empresas do APL fornecem insumos para
empresas localmente estabelecidas ou vendem seus produtos finais nesses mercados;
ii) regional/nacional, quando o locus da concorrência encontra-se em um espaço mais
ampliado dentro do país e iii) nacional/internacional, quando a concorrência se dá em
espaços mais globalizados. Já a terceira dimensão de caracterização, relacionada com o grau
de territorialização da produção e inovação, diz respeito ao nível em que estão enraizadas
na região as capacitações necessárias ao estabelecimento das atividades produtivas e
inovativas. Sobre esse aspecto, deve-se estar atento para o fato de que nem sempre há
relação direta entre o grau de territorialização e o destino da produção. Entretanto,
enquanto no caso da existência de governaça hierarquizada a territorialização apresenta
uma forte relação com a propriedade do capital, na governança em redes, a territorialização
está mais associada com as várias especificidades locais ligadas ao trabalho e à tecnologia,
podendo, independentemente dos fatores condicionantes, ser diferenciada em alta, média
ou baixa territorialização.
Como exemplo do uso dessa metodologia aplicada ao contexto brasileiro, Cassiolato e
Szapiro (op. cit.) apresentam o resultado obtido através de estudos em 26 APL’s agrupados
em uma matriz de caracterização envolvendo as três dimensões descritas acima, conforme
quadro 1.
Governança /
Mercado
Destino da
Produção
Mercado
Local
GOVERNANÇA HIERARQUIZADA
GOVERNANÇA EM REDES
Territorialização
ALTA
---
Mercado
Nacional
---
Mercado
Internacional
Aeronáutico
(SP)
MÉDIA
Territorialização
BAIXA
ALTA
MÉDIA
BAIXA
---
---
Couros e Calçados (PB)
Rochas
Ornamentais
(RJ)
Automobilístico
(MG)
Aço (ES)
---
Biotecnologia (MG)
Software (RJ, SC)
Móveis (SP)
Soja (PR)
Vinho (RS)
Materiais Avançados (São Carlos)
Têxtil e Vestuário (SC)
Móveis (ES, MG, RS)
Telecomunicações
(Campinas, PR)
Têxtil e Vestuário (RJ)
---
Fumo (RS)
Cacau (BA)
---
Frutas Tropicais
(NE)
Cerâmica (SC)
Couros e Calçados (RS)
Mármore e Granito (ES)
---
Metal
Mecânica (ES)
Quadro 1 – Caracterização de Arranjos Produtivos Locais segundo os tipos de governança, territorialização e destino da
produção.
Fonte: Cassiolato e Szapiro (2003).
Fundamentado na concepção de inovação como base de sustentação das vantagens
competitivas e elemento de alavancagem comercial, tecnológica e produtiva local, a Rede de
Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – REDESIST elaborou um instrumento
de caracterização para arranjos produtivos locais (LASTRES; CASSIOLATO, 2003),
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DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
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representado por um questionário cujo propósito reside em coletar informações dos APL’s
sobre os seguintes aspectos: i) descrição das características básicas das firmas; ii) processo
produtivo e qualificação da mão de obra; iii) processo inovativo, cooperação e aprendizado;
iv) fontes de externalidades no ambiente local e v) impacto às políticas públicas. Vale
destacar que esse instrumento possibilita estudos mais profundos sobre o tema, sendo
usado por diversos autores na análise de aglomerações de empresas no território brasileiro,
inclusive aqueles ligados ao setor de Tecnologia da Informação, conforme trabalhos de
Guimarães e Cassiolato (2004), Guimarães (2005) e Ferreira Júnior e Santos (2006).
Com o propósito de aprofundar as alternativas de avaliação e análise do aprendizado
e da cooperação em Arranjos Produtivos Locais, Almeida, Torres e Cassiolato (2004)
sugerem o agrupamento das informações obtidas pela aplicação do questionário da Redesist
em quatro dimensões, a saber: i) estrutura produtiva e capacitação; ii) cooperação e
aprendizado; iii) vantagens associadas à localização no arranjo e iv) inovação. Vale destacar
que as referidas dimensões de análise são baseadas na construção de indicadores próprios,
consistindo numa proposta preliminar capaz de viabilizar correlações entre as dimensões
e realizar análises comparativas entre diferentes arranjos. Entretanto, nada impede a
realização de análises através dessas dimensões baseadas nos resultados percentuais,
principalmente quando os estudos buscam proceder a imersões exploratórias com o
propósito de identificar as características de apenas um arranjo específico.
4. E M PR E SA S DE TECNOLOGI A DA I N FOR M AÇÃO E O A PL DE
FORTALEZA-CE
Uma das principais peculiaridades dos setores de alta tecnologia diz respeito ao fato
de que, enquanto nos setores ditos “tradicionais” da economia a análise competitiva,
em geral, está assentada na tangibilidade das matérias-primas, mão de obra e recursos
utilizados no transcorrer de sua cadeia de valor, a quase totalidade da “nova indústria”
depende substancialmente do capital intelectual, ou seja, de elementos intangíveis, que
têm como principal matéria-prima o conhecimento.
Partindo do fato de que as empresas de alta tecnologia apresentam tendências
de aglomeração e especialização, Carvalho (2005) aponta que essa indústria é resultante
de um fenômeno transetorial, envolvendo informática, eletrônica, equipamentos militares
e aeroespacial, farmacêutica, bioengenharia, dentre outros, sendo o complexo eletrônico
entendido como setor sintomático central, na medida em que seus produtos/serviços são
incorporados como componentes ativos básicos em outras indústrias. Segundo o autor, a cadeia
de valor, conforme a abordagem porteriana, é menos evidente, principalmente devido à natureza
interativa dos processos, tornando difícil a identificação do valor agregado de cada estágio
produtivo. Entretanto, a vantagem competitiva é plenamente reconhecida pelo setor na medida
em que os recursos humanos são vistos como principais insumos, sendo a capacidade de extrair
e utilizar conhecimentos de especialistas, através da colaboração e da administração de uma parcela
significativa de informalidade, considerada uma competência essencial de difícil imitação.
Essa dificuldade de utilização da análise da cadeia de valor foi verificada também por
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
Duhan et al (2001), ao identificarem que as características da análise porteriana diferem
fortemente das características das empresas de base tecnológica. Utilizando a análise de
Vasconcelos e Cyrino (2000), concebe-se que as competências essenciais criadas pelo
aprendizado coletivo se candidatam a constituir o foco das estratégias dessas empresas,
onde a abordagem mais adequada para estudo da competitividade nesse contexto
baseia-se nas proposições oriundas da teoria das Capacidades Dinâmicas, onde os trabalhos
de Prahalad e Hamel (1990) se destacam como referência.
No Brasil, a indústria de base tecnológica possui sua maior concentração nas regiões
Sudeste e Sul, havendo uma participação expressiva dos setores de informática, eletrônica,
automação, telecomunicações e consultoria nos aglomerados tecnológicos distribuídos em
todo o país, onde aproximadamente 80% dos produtos gerados são de caráter intermediário
(CARVALHO et al, 2000).
Conforme Gutierrez e Alexandre (2004), as empresas de Tecnologia da Informação,
aqui entendidas fundamentalmente como empresas de base tecnológica, englobam várias
atividades, dentre elas, as de consultorias, desenvolvimento de aplicativos, integração,
treinamento e suporte técnico, havendo também empresas cujos serviços não estão
diretamente ligados com a informática ou telecomunicações, mas que delas fazem intenso
uso, como por exemplo, o Call-Center. Os referidos autores, ao analisarem o mercado
mundial, perceberam que as empresas que atuam no segmento de TI são de origens
distintas, como por exemplo, grandes empresas tradicionais do setor de serviços, as
advindas dos departamentos de TI de grandes corporações e as fabricantes de hardware, as
quais atuam no mercado global implementando grandes pacotes de aplicativos corporativos
e/ou assumindo papéis de provedores de serviços através dos contratos de terceirização.
Dentro desse contexto, as barreiras de entrada são cada vez maiores, onde a marca e os
casos de sucesso nos currículos das empresas de TI têm se tornado pré-requisitos essenciais
para fechamento de contratos internacionais, ficando o espaço para empresas de menor
porte limitado, geralmente, às subcontratações.
Quando analisado o mercado brasileiro, verificou-se que o setor vem apresentando
historicamente elevadas taxas de crescimento, em relação à performance da economia
nacional, havendo uma concentração da ordem de 64% de empresas de software na região
Sudeste, e de 24% na região Sul, refletindo o mesmo quadro de concentração apresentado
por Carvalho et al (op.cit.), seguidos respectivamente pelas regiões Nordeste, Centro-Oeste
e Norte. Foi observado também que há uma prevalência de pequenas e médias empresas
(PMEs) com mais da metade possuindo até nove colaboradores, havendo baixos níveis
de certificação, onde a maior parte atua na prestação de serviços ou em desenvolvimento
de aplicativos corporativos, sendo majoritariamente dirigidos para o mercado doméstico.
Esse panorama se ratifica em pesquisa realizada por Kubota e Nogueira (2006), ao
buscarem identificar o perfil das empresas brasileiras desenvolvedoras de software.
O suporte, manutenção e integração foram consideradas as atividades que mais contribuíram
para as receitas das empresas prestadoras de serviços em TI, seguidas pela consultoria,
desenvolvimento e treinamento.
Um detalhe interessante nos estudos de Gutierrez e Alexandre (op.cit.), diz respeito ao
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DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
23
fato de que, no Brasil, de modo geral, as grandes empresas multinacionais não competem
diretamente com as nacionais, atuando em vários momentos como parceiras. Essa
situação ocorre em função das multinacionais estarem focadas em um nicho de mercado
caracterizado, em geral, pelas grandes empresas e grandes projetos, ao mesmo tempo em
que as empresas nacionais estão focalizadas na prestação de serviços para pequenas e
médias empresas, pequenos e médios projetos e subcontratações ofertadas pelas grandes
empresas do setor. Os principais segmentos demandantes de serviços, principalmente
oriundos das fábricas de software, são os bancos e as empresas de produtos com o propósito
de realizarem a localização (processo de adequação dos produtos às especificidades locais)
e customização (adequação dos produtos a um determinado usuário).
O Nordeste brasileiro tem figurado como a terceira região de convergência no setor
de TI no Brasil, sendo perceptível o surgimento de arranjos produtivos locais com níveis
de especialização e desenvolvimento variados, gerando interesse de estudos por parte de
vários pesquisadores, com destaque para os estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia
e Alagoas (BAIARDI, BASTO, 2006; CORRÊA et al, 2006; COSTA et al, op.cit; RITA et
al, 2006; PASSOS et al, 2005).
Utilizando como referência o ano de 2004, o Estado do Ceará participou com o terceiro
maior Produto Interno Bruto a preços correntes no Nordeste brasileiro, sendo sua capital
Fortaleza a segunda melhor colocada entre os 1.792 municípios da região (IBGE, 2007).
Fortaleza está localizada ao nordeste do Ceará e conta com uma população estimada
de 2.416.920 habitantes, equivalente a 29,41% da população estadual (IPECE, 2006).
Destaca-se entre os 184 municípios do Estado pelo forte poder aglomerativo, tanto sobre
o aspecto econômico, quanto social e político. De acordo com Amaral Filho, Scipião e
Souza (2004), Fortaleza possui fortes evidências de centro da atividade econômica no
Estado do Ceará usando como critério, para destacar potenciais aglomerações produtivas
especializadas, Quocientes Locacionais maiores ou iguais a 1 (QL ≥ 1) e Densidade da
Atividade (DA) correspondente a uma combinação mínima de cinco estabelecimentos
e cinquenta empregados.
O arranjo produtivo local de Tecnologia da Informação de Fortaleza congrega, com
graus variados de inter-relacionamento, um conjunto diversificado de agentes dentro dos
limites da capital do Estado do Ceará, incluindo empresas, órgãos governamentais, agências
reguladoras, instituições de ensino, associações/sindicatos, fornecedores, institutos de
pesquisa, dentre outros.
São identificadas no arranjo quatro entidades associativas geradoras de externalidades,
possuidoras de naturezas distintas e oriundas de relações de agrupamentos formais
específicas entre empresas de TI em Fortaleza. As quatro entidades são: i) Associação
das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet do Ceará
– ASSESPRO-CE; ii) Sindicato das Empresas de Informática, Telecomunicações e
Automação do Ceará-SEITAC; iii) Instituto de Tecnologia da Informação – ITIC
(denominado originalmente Instituto de Tecnologia do Ceará – INSOFT) e iv) Instituto
Titan-Tecnologia, Informação, Telecomunicações e Automação do Nordeste – TITAN.
A ASSESPRO-CE, fundada em 1988, é composta de empresas privadas dos segmentos
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
de processamento de dados, produção e distribuição de software, consultoria e treinamento
na área da tecnologia da informação do Estado, cujo propósito reside na defesa dos
interesses das respectivas empresas, nas áreas de programas especiais, eventos, geração de
negócios e serviços de informação e assessoramento aos empresários. Fundado em 1995,
o SEITAC é uma entidade de representação empresarial, cujas diretrizes básicas estão
centradas no propósito de coordenação, proteção e representação legal das empresas que
atuam no respectivo segmento econômico, com base territorial no Estado, sendo filiado à
Federação do Comércio do Estado do Ceará – Fecomércio-CE, cujas empresas contribuem
compulsoriamente, segundo as determinações legais vigentes (ASSESPRO-CE, 2007).
Desde 1999 a referida associação e o sindicato representam conjuntamente o Sistema
ASSESPRO/SEITAC, compondo uma relação formal de cooperação institucional com o
propósito de representar perante as autoridades administrativas e judiciárias os interesses
gerais dos segmentos empresariais ou individuais de suas associadas, prover suas associadas
com serviços e convênios que representem efetivamente vantagens e redução de custos,
bem como, colaborar com o Estado como órgão técnico e consultivo no estudo e solução
dos problemas que se relacionem com o setor empresarial representado.
O ITIC, fundado em 1995 (originalmente com o nome de Instituto do Software do
Ceará), é credenciado junto ao Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público – OSCIP de cunho tecnológico, sendo um representante do
Programa para Promoção da Excelência do Software Brasileiro – SOFTEX no Estado.
O referido Instituto foi formado em parceria com o Governo do Estado do Ceará, através
da Secretaria da Ciência e Tecnologia, conjuntamente com empresas de software, institutos
de pesquisa, universidades e vários segmentos da sociedade, com o propósito de contribuir
para o desenvolvimento do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TI&C)
do Ceará, com ações voltadas para elevar a competitividade, o empreendedorismo e a
demanda por produtos e serviços. Dentre suas ações, destacam-se a gerência do Programa
para Promoção da Excelência do Software Brasileiro – SOFTEX no Estado, a promoção
de capacitação técnica e gerencial em novas tecnologias, a promoção de capacitação para
desenvolvimento de tecnologia de ponta, em conjunto com universidades e instituições
de pesquisa, o oferecimento de consultoria ao mercado cearense de software nas áreas
de marketing, qualidade de software e negócios, bem como o apoio na criação de novas
empresas através de Incubadora de software (INSOFT, 2007).
O TITAN, fundado em 2003, é uma pessoa jurídica de direito privado, sem
fins lucrativos, criado por empresas cearenses sindicalizadas da área de Tecnologia
da Informação e Telecomunicações para promover o desenvolvimento do setor,
sendo dotado de autonomia financeira e administrativa, possuindo caráter científico,
tecnológico, educacional e de gestão. Suas atividades se concentram nas áreas de pesquisa
e desenvolvimento tecnológico, estudos especializados de tecnologias, desenvolvimento de
protótipos, implementação, manutenção e suporte de hardware e/ou software, consultorias
e assessorias especializadas, ensino e formação de recursos humanos, bem como de serviços
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DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
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tecnológicos de certificação, metrologia e propriedade intelectual (TITAN, 2007).
No ano de 2006, foi firmado uma parceria entre ITIC e TITAN, conjuntamente com
o Centro de Pesquisa Renato Acher (CenPRA), de Campinas-SP, com o objetivo de elevar
a competitividade das empresas cearenses de TI&C, pela conjugação das expertises entre
as referidas instituições. Essa relação de cooperação institucional foi consolidada com o
propósito de ampliar a oferta de competências e a captação de recursos para realização
de pesquisa e desenvolvimento voltados para o setor de TI&C do Ceará, intensificar as
relações de parcerias com as universidades e centros de pesquisa, no sentido de elevar
as possibilidades de pesquisas inovadoras e atuar como Instituto de Pesquisa em TI&C,
através de uma estrutura de gestão flexível e orientada para gestão de projetos.
A combinação favorável de elementos, como infraestrutura, nível de riqueza,
organização produtiva, mercado de trabalho e capital humano, influenciam diretamente
no crescimento e na velocidade de convergência de determinadas regiões, em função da
geração de externalidades positivas que impulsionam o desenvolvimento local (CHAGAS
e TONETO JR, 2003). Tendo em vista as características e as relações oriundas do conjunto
de atores que integram o APL de TI de Fortaleza, percebe-se a importância e o potencial
de impacto que essa atividade econômica possui para o crescimento e desenvolvimento
regional, em especial na região Nordeste do Brasil.
5. ASPECTOS METODOLÓGICOS
O objetivo do estudo foi descrever, em uma primeira camada de imersão exploratória,
o Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação de Fortaleza, capital do Estado
do Ceará – Brasil, procedendo à identificação dos principais agentes envolvidos, bem
como suas respectivas características e relações. Levando em consideração os pressupostos
sobre a natureza do ambiente de estudo e do nível de objetividade utilizado pela pesquisa,
concebe-se que a abordagem incorporada fundamentou-se, segundo Burrell (1999),
no paradigma da sociologia funcionalista, integrando alguns elementos da perspectiva
interpretativista, conforme admitem Lewis e Grimes (2005).
A pesquisa, realizada no período compreendido entre dezembro de 2006 a maio de
2007, é considerada de caráter exploratório-descritivo, amparando suas investigações em
dados primários, através da combinação de múltiplos métodos.
Para a identificação dos agentes relacionados com o aglomerado de TI de Fortaleza,
procedeu-se o encadeamento de coleta e processamento de dados em três etapas
subsequentes, com o propósito de gerar a relação dos principais Stakeholders do setor,
conforme apresentado no quadro 2.
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
ETAPAS
PROCEDIMENTO
Etapa de
categorização
dos Stakeholders
Critério Indutivo de categorização, lastreado
em pesquisa bibliográfica, em especial
relacionada com a Teoria dos Stakeholders.
1-Elaboração e validação de questionário
padronizado, com questões abertas,
solicitando a identificação de agentes em
cada uma das categorias estabelecidas na
etapa anterior.
2-Aplicação do questionário a três
especialistas com profunda expertise sobre
o assunto e atuantes no setor de TI em
Fotaleza-CE.
Etapa de consulta
com especialistas
do setor
Etapa de análise
de consistência e
agrupamento dos
Stakeholders por
categoria
1-Análise da consistência das listas
geradas em cada categoria, levando em
consideração a natureza de cada agente.
2-Agrupamento dos agentes por similaridade,
em função das categorias estabelecidas, e
exclusão das respostas não enquadradas na
proposição do estudo.
RESULTADO
Estabelecimento de
13 categorias de
Stakeholders.
Três listas contendo
a relação de diversos
agentes para cada
categoria estabelecida
na etapa anterior.
Lista Final contendo
os principais
Stakeholders
identificados como
representativos do APL
de TI de Fortaleza-CE.
Quadro 2 – Etapas de identificação dos principais Stakeholders do APL de TI de Fortaleza.
Fonte: Elaboração própria.
Para identificar as empresas vinculadas às entidades associativas do setor (Sistema
ASSESPRO/SEITAC; ITIC e TITAN), conjunto este denominado de Núcleo Empresarial
do APL de TI de Fortaleza, foi utilizado consulta via Internet, através da coleta dos
nomes das empresas e posterior conferência, nos respectivos setores de cadastro de cada
instituição, no intuito de realizar a correção das listas e o registro das informações cadastrais.
Para identificar com mais profundidade detalhes do processo associativo e das relações
existentes com as empresas, foram realizadas entrevistas não estruturadas de caráter
focalizado com alguns membros das diretorias e técnicos das entidades acima mencionadas.
Já para a identificação da natureza jurídica e das atividades econômicas das empresas, foi
realizada pesquisa documental através do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ,
disponíveis no site da Receita Federal.
Para descrever as características gerais das empresas que compõe o Núcleo
Empresarial do APL de TI de Fortaleza, foi realizado, conforme Babbie (1999),
o Survey descritivo-exploratório interseccional por amostragem não probabilística
intencional, cuja unidade de análise é representada pelo conjunto de empresas do respectivo
Núcleo Empresarial, através da aplicação de um questionário autoadministrado. O referido
questionário foi confeccionado com base em adaptações dos trabalhos de Lastres e
Cassiolato (2003) e Almeida, Torres e Cassiolato (2004), referentes à metodologia de
caracterização de APL’s proposto pela Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos
e Inovativos Locais – Redesist.
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ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
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Além da identificação da empresa, foram estruturadas questões na busca de coletar
informações referentes à sua experiência inicial, produção, mercados e empregos
relacionados com a dinâmica empresarial, inovação, cooperação e aprendizado, bem como
da estrutura, governança, vantagens associadas ao ambiente local, políticas públicas e
formas de financiamento relacionadas com o setor. Em sua maior parte, as questões foram
fechadas, com escalas que se alteravam segundo a natureza de cada variável.
O processo de tabulação consistiu em transferir as respostas preenchidas nos
questionários para planilhas eletrônicas, visando possibilitar a realização das análises
estatísticas. A transferência dos dados foi realizada através de um procedimento
padronizado de lançamento, considerando uma codificação das respostas em escala
numérica, de acordo com a natureza e características de cada variável e a análise dos dados,
foi baseada na descrição das frequências de respostas obtidas nas variáveis do questionário,
sendo a apresentação dos resultados feita através de um conjunto de tabelas, quadros e
gráficos representativos dos resultados obtidos.
O método de amostragem foi intencional, ou por julgamento, na medida em que,
das 82 empresas que compõem o Núcleo Empresarial do APL de TI de Fortaleza, foram
definidos, através dos critérios de acessibilidade e representatividade nas atividades de
cooperação dentro do arranjo estudado, um conjunto de 42 empresas para serem contatadas
com o propósito de seus proprietários responderem o respectivo questionário.
Foram preparadas equipes de aplicadores para fazer as abordagens e tecer os
esclarecimentos necessários ao correto preenchimento dos questionários. Os membros das
equipes de aplicação selecionados participaram de sessões de treinamento, visando uma
qualificação adequada, com objetivo de padronizar o máximo possível os procedimentos de
abordagem inicial com os respondentes, orientação para o preenchimento do questionário,
bem como recolhimento e devolução do mesmo.
Das 42 empresas que foram contatadas, 23 responderam o questionário, conforme
a figura 1, representando 28,01% do Núcleo Empresarial do APL de TI de Fortaleza e
correspondendo a uma taxa de resposta de 54,76%, considerada por Babbie (op. cit.)
adequada para estudos dessa natureza.
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
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1
2
3
1
BARR A DO CEAR A
VILA VELHA
QUINTINO CUNHA
PE.
ANDRADE
1
MOURA BRASIL
CAR LITO
PAMPLONA
JACAR ECANGA
V ILA
ELLER YM. CASTELO
FLOR ESTA
GUAN.
PRES.
KENNEDY
ANTONIO
B EZER RA
GENIBAU
AMADEU
FUR TADO
HENR IQUE
JOR GE
CA
UC
A IA
JOAO XXIII
MARAPONGA
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S.JOSE
CANINDEZINHO
SAO JOAO
DO TAUAPE
ALTO DA
BALANCA
DUNAS
GUARARAPES
ENG.LU CI ANO
CAVALCANTE
CIDADE D OS
FU NCI ONÁRIOS
CAST ELAO
MATA
GALINHA
PARQUE
DOI S IR MAOS
EDSON QU EIROZ
PAR QU E
MANIBUR A
SAPIR ANGA/COITE
SABIAGU ABA
CAMBEB A
CAJAZEIR AS
PQ. IR ACEMA
ALAGADI CO
NOVO
PASSARE
BAR ROSO
CU RIO
LAGOA REDONDA
MESSEJANA
MONDUBIM
1
GU AJERU
PREFEI TO JOSÉ VALTER
ANCUR I
5,0
1,0
2,0
ÉBIO
EUZ
COACU
JANGUR USSU
0,5
PRAIA DO
FU TUR O II
SALINAS
DIAS MACEDO
DENDE
FORTALEZA
CI D.20 00
JARDIM DAS
OLIV EIRAS
PQ. STA.
R OSA
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NORTE
PRAIA DO
FUTU RO I
COCO
AEROLANDIA
JARDIM
CEAR ENSE
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PINZON
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DIONISIO
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AEROPORTO
I TAPER I
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C.ESPER ANCA
M
JOAQUIM
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GRANJA
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ALDEOTA
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BENFICA BONIFACIO
PARANGABA
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VARJOTA
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BOM SUCESSO
GRANJA LISBOA
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RODOLFO
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PRAIA DE IRACEMA
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FERNANDES FUTU RO PARR EAO
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NUNES
CONJ.CEARA II
ALAGADICO
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CEARA I
OCEANO ATLÂNTICO
PIR AMBU
ALVARO
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JARD.
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JARD.
CRISTO
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PAUPI NA
PEDR AS
ITAIT
ING
A
1
Figura 1– Distribuição Geográfica da Amostra no Município de Fortaleza – (número de empresas por Bairro).
Fonte: Elaboração própria.
Levando em consideração a distribuição geográfica da amostra, verifica-se uma maior
concentração de empresas respondentes em torno do Bairro Aldeota, mantendo, sobre este
aspecto, um padrão de distribuição semelhante ao existente quando se analisa o Núcleo
Empresarial do APL como um todo.
6. ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
6.1 Stakeholders Vinculados ao APL de TI de Fortaleza
O Município de Fortaleza se situa como centro da atividade econômica do Estado
do Ceará, inclusive no Setor de Tecnologia da Informação, destacando-se também
como um dos maiores contribuintes municipais do PIB regional (Amaral Filho, Scipião,
Souza, op.cit; IBGE, op. cit), havendo nítidas evidências de relações coordenadas, entre
os atores que integram este aglomerado, com o propósito de estimular o crescimento e
desenvolvimento local.
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DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
29
Após realização de consulta a especialistas atuantes na área de TI de Fortaleza, foram
identificados, em 13 categorias, diversos Stakeholders diretamente envolvidos no APL,
dentre eles, 8 órgãos governamentais, 4 agências de regulação, 81 empresas vinculadas a
três associações, 5 tipos de clientes diretos, 6 tipos de fornecedores de insumo, 7 órgãos
de financiamento, 14 Instituições de Ensino Superior e 4 Institutos de Pesquisa, conforme
o apresentado no Quadro 3.
CAMADA
Órgãos da Administração
Pública Federal
Órgãos da Administração
Pública Estadual
Órgãos da Administração
Pública Municipal
Agências de Regulação
Empresas de TI
Clientes Diretos das
Empresas de TI em Fortaleza
(CE)
Fornecedores das Empresas
de TI em Fortaleza (CE)
Órgãos de Financiamento de
Recursos Reembolsáveis
usiness
STAKEHOLDERS
Ministério da Ciência e Tecnologia
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
Ministério da Educação
Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará –
SECITECE
Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará – ETICE
(Vinculada à SEAD)
Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial – NUTEC
(Vinculada à SECITECE)
Secretaria de Finanças – SEFIN/PMF – área tributária
Secretaria de Desenvolvimento Econômico – SDE/PMF
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL
Secretaria de Política de Informática – SEPIN (Ministério da
Ciência e Tecnologia)
Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado
do Ceará – ARCE
Empresas Associadas ao Insoft
Empresas Associadas ao Titan
Empresas Associadas ao Sistema Assespro/Seitac
Empresas de TI não associadas a nenhuma das entidades
acima
Grandes empresas locais e de outros estados, principalmente
do Nordeste
Governo do Estado e de outros estados do Nordeste
Prefeitura de Fortaleza e de outros municípios cearenses
Bancos
Indústria local
Fabricantes de componentes eletrônicos
Fabricantes de Hardwere
Fabricantes de Software
Instituições de Formação de Recursos Humanos especializados
Empresas de Prestação de Serviços especializados
Especialistas (Consultores Independentes)
Banco do Nordeste – BNB
Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social –
BNDS
Banco do Brasil – BB
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30
Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
Órgãos de Financiamento
de Recursos Não
Reembolsáveis
Instituições de Ensino
Superior
Institutos de Ciência e
Tecnologia
Agentes Sociais
(Organizações Não
Governamentais, Sindicatos,
Associações, etc.)
Outros Agentes
Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP
Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – FUNCAP
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
–CNPq
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
–CAPES
Universidade Federal do Ceará – UFC (Fortaleza)
Universidade Estadual do Ceará – UECE (Fortaleza)
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA (Sobral – Fortaleza)
Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará – CEFET/
CE (Fortaleza)
Universidade de Fortaleza – UNIFOR (Fortaleza)
Faculdade Integrada do Ceará – FIC (Fortaleza)
Faculdade 7 de Setembro – FA7 (Fortaleza)
Faculdade Christus (Fortaleza)
Faculdade do Nordeste – FANOR (Fortaleza)
Faculdade Farias Brito – FFB (Fortaleza)
Faculdade Integrada da Grande Fortaleza – FGF (Fortaleza)
Universidade do Ceará – UNICE (Fortaleza)
Faculdade Lourenço Filho – FLF (Fortaleza)
Instituto Centro de Ensino Tecnológico – CENTEC (Fortaleza)
Centro de Pesquisas Renato Archer – CenPRA
Instituto Atlântico – IA
Instituto de Estudos, Pesquisas e Projetos da UECE – IEPRO
Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE
Instituto de Tecnologia da Informação – ITIC
Instituto Titan – I.TITAN
Associação das Empresas Brasileiras de TI, software e Internet
–ASSESPRO
Sindicato das Empresas de Informática,Telecomunicações e
Automação do Ceará – SEITAC
Indústria em geral
Quadro 3 – Principais Stakeholders relacionados com o APL de TI de Fortaleza.
Fonte: Elaboração a partir da pesquisa exploratória.
6.2 Características do Núcleo Empresarial do APL de TI de Fortaleza
Sob o ponto de vista dos agentes envolvidos no Setor de Tecnologia da Informação,
considera-se, neste estudo, Núcleo Empresarial Articulado do APL de TI de Fortaleza o
conjunto de empresas que estão vinculadas às seguintes instituições associativas do setor
no Estado: i) Sistema formado pela Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da
Informação, Software e Internet do Ceará, com o Sindicato das Empresas de Informática,
Telecomunicações e Automação do Ceará – SISTEMA ASSESPRO/SEITAC; ii)
Instituto de Tecnologia da Informação do Ceará – ITIC e iii) Instituto Titan – Tecnologia,
Informação, Telecomunicações e Automação do Nordeste – TITAN.
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DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
31
Das 82 empresas identificadas como representativas do núcleo empresarial articulado
do APL, 87,80% das empresas se encontram na Capital, 6,10% no Município do Euzébio
e 2,44% no Município de Aquiraz. Vale destacar que frente aos limites territoriais do
município de Fortaleza, os quais englobam um montante de 113 bairros, o núcleo
empresarial do APL de TI se distribui em 18 bairros, sendo Aldeota, Centro, Fátima e
Meireles os que possuem maior concentração.
Analisando apenas as atividades nucleares, verificou-se que o desenvolvimento de
programas de computador, seguido da consultoria em TI e do suporte técnico em TI, são,
respectivamente, as atividades de maior destaque desenvolvidas pelo corpo empresarial
que integra o ITIC e o TITAN, sendo o comércio varejista de informática, telefonia e
comunicação a atividade de menor expressão. Entretanto, no caso do Sistema ASSESPRO/
SEITAC, é o comércio varejista que se destaca como principal atividade do corpo
empresarial, seguido pelo desenvolvimento de programas, suporte técnico e serviços de
consultoria. Essas diferenças na composição e características do corpo empresarial podem
ser consideradas como elementos críticos influenciadores nos processos de elaboração e
implementação das políticas e estratégias de cada instituição.
6.3 Características Gerais das Empresas do APL de TI de Fortaleza
Em sua maioria, as 82 empresas consideradas como componentes do Núcleo do
APL de TI de Fortaleza são sociedades limitadas, envolvendo 37 atividades econômicas
declaradas. Ao relacionar as atividades econômicas em função do volume de empresas
declarantes, foram identificadas três categorias distintas, evidenciando que o setor
possui atividades que podem ser consideradas centrais e outras mais periféricas, fato esse
corroborado por Gutierrez e Alexandre (op.cit), com a ressalva de que existem empresas
vinculadas ao setor que não necessariamente fazem intensivo uso da tecnologia da
informação ou a incorporam como seu Core Business.
Dentro dessa perspectiva, a primeira categoria, denominada de Atividades Nucleares
de TI, é compreendida pelo(a): i) desenvolvimento de programas de computador;
ii) comércio varejista de informática, telefonia e comunicação; iii) consultoria em TI e
iv) suporte técnico em TI. O segundo conjunto, definido como Atividades de Aplicação
Direta Associadas em TI, se caracterizou pelo agrupamento das seguintes atividades:
i) tratamento de dados, provedor de Internet, VOIP e redes de comunicação; ii) reparação
e manutenção de computadores, redes de telecomunicação e outros equipamentos;
iii) agenciamento de serviços e mão de obra; iv) fabricantes de componentes e
equipamentos; v) consultoria de gestão empresarial e de T&D; vi) preparação de
documentos e serviços de apoio administrativo; vii) salas de acesso à Internet;
viii) serviços de comunicação multimídia (SCM); ix) atividades de teleatendimento
e x) outras atividades de telecomunicações. A categoria mais afastada, mas não menos
vinculada, foi chamada de Atividades de Apoio e Aplicação Secundária em TI, envolvendo
as seguintes atividades: i) contabilidade; ii) serviços de engenharia; iii) desingn;
iv) comércio atacadista de artigos de escritório; v) atividades de apoio à educação;
vi) outras atividades profissionais, científicas e técnicas e vii) outras atividades de serviços
prestados.
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
Convém ressaltar que nem sempre as atividades declaradas através da CNAE são
suficientes para uma adequada visualização dos produtos e serviços efetivamente ofertados
pelas empresas, principalmente em TI, na medida em que o referido setor possui fortes
tendências à horizontalização de seus serviços, atendendo clientes e mercados com
demandas diferenciadas, como hospitais, escolas, governos, bancos, empresas diversas
etc. Sobre esse aspecto, convém analisar os resultados obtidos por Lócio (2004) que, ao
investigar os nichos de mercado atendidos pelo APL de Fortaleza, apontou 23 conjuntos
de serviços ofertados pelas empresas do setor.
Usando como critério a quantidade de pessoas ocupadas, verificou-se que as empresas
analisadas se enquadram principalmente como sendo de micro a média empresa (86,96%),
havendo um número expressivo de pequenas empresas atuando no APL (56,52%). Em
sua maioria, as empresas são possuidoras de capital eminentemente nacional (95,65%)
e não possuem relação de dependência com outras empresas (86,96%). No que se refere
ao tempo de existência, verificou-se que mais da metade das empresas (52,17%) foram
fundadas na década de 1990.
6.4 Experiência Inicial das Empresas
Em sua maioria, os principais sócios-fundadores são homens (90,91%), com
escolaridade equivalente ao nível superior (95,46%). Exerciam, quando da criação da
empresa, as atividades de: empresário, estudante universitário e empregado de média
ou grande empresa local (68,18%). Dentro da perspectiva do conjunto de proprietários
das empresas estudadas, verificou-se que a maioria foi fundada com até quatro sócios
(95,45%), com idade variando de 20 a 49 anos (94,12%). Vale destacar que, uma parcela
significativa de empresas (40,91%) surgiu da parceria de dois empreendedores e que em
metade das empresas analisadas, dois ou três sócios assumem tarefas dentro da estrutura
organizacional. Ainda sobre o aspecto do perfil dos sócios, notou-se que 62,5% daqueles
que possuíam experiência profissional no setor de TI, antes de se tornar empresário,
atuavam na esfera técnica de desenvolvimento, suporte, manutenção ou análise de sistemas
e 37,5% possuía experiência prévia na área da gestão.
A maioria das empresas (91,3%) iniciou suas atividades com um número inferior a
10 funcionários, havendo ampliação do quadro de funcionários com o passar dos anos e
em 2006, aproximadamente 60% das empresas funcionavam com equipes de funcionários
que variavam de 10 a 49 pessoas.
As principais dificuldades encontradas no primeiro ano de operação das empresas
foram: i) contratação e manutenção de empregados qualificados; ii) produção com
qualidade; iii) custo ou falta de capital de giro e iv) custo de certificação da empresa e dos
colaboradores. Desses, apenas a contratação e manutenção de empregados qualificados
apresentou aumento com o passar dos anos, havendo nos outros casos uma redução dos
impactos negativos. Convém destacar que o Pagamento de Juros foi considerado por mais
da metade das empresas como não sendo uma dificuldade relacionada com a operação
das suas atividades.
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DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
33
Dentro da perspectiva da relação de trabalho, verificou-se a tendência das empresas
em operarem com até cinco pessoas ocupadas, com participação expressiva dos sócios
(86,36%) e estagiários (54,56%). Os contratos formais aparecem com mais frequência
na medida em que as empresas aumentam seus quadros, em especial, para além de seis
funcionários (59,10%). Já os contratos por projetos aparecem em 50% das empresas
analisadas, sem uma tendência relacionada com a quantidade de pessoal ocupado. No
que diz respeito à terceirização e ao uso de familiares sem contrato formal, identificou-se
que são relações que quase não ocorrem e, quando aparecem, envolvem no máximo duas
pessoas, tanto no primeiro caso (31,82%), quanto no segundo (18,18%).
6.5 Produção, Mercados e Emprego
No que diz respeito à evolução do número de empregados, percebeu-se um evidente
aumento da demanda das empresas por empregados com o passar dos anos, com um padrão
decrescente de variação percentual a cada período (TABELA 1).
TAMANHO DAS
EMPRESAS
Micro
Pequena
Média
Grande
Total
ANOS
2003
15
91
76
144
326
2004
17
128
101
228
474
2005
22
146
129
374
671
2006
29
175
136
521
861
Tabela 1 – Evolução do número de funcionários das empresas do APL de TI de Fortaleza entre os anos de 2003 a 2006.
Fonte: Pesquisa de campo.
Sobre a dimensão do mercado atingido, foi verificada uma nítida tendência de
deslocamento gradual de foco para o mercado externo, com uma redução compensatória no
percentual de transações voltadas para atender as demandas do mercado local (Tabela 2).
ANO
VENDAS NOS
MUNICÍPIOS DO APL*
VENDAS NO
ESTADO*
VENDAS NO
BRASIL*
VENDAS NO
EXTERIOR*
2003
2004
2005
2006
23,5
20,4
21,1
20,0
47,2
45,6
45,1
43,9
26,7
29,7
27,3
28,6
2,6
4,3
6,6
7,5
Tabela 2 – Mercado atingido pelas Empresas do APL de TI de Fortaleza entre os anos de 2003 a 2006*.
Fonte: Pesquisa de campo.
(*) Os valores representam os percentuais de venda das empresas para cada mercado em cada ano.
Sobre a escolaridade, a maior proporção do pessoal ocupado ficou concentrada nas
camadas de nível superior (86,34%), estando os níveis médio e fundamental com a menor
quantidade de pessoas atuantes no setor (11,22%). Já sobre os agregadores de
valor das empresas, os principais foram: Maior Quantidade de Vendas; Maior
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
Retorno s/ Vendas; Maior % de Clientes Fidelizados; Clientes que Melhoram a Imagem
da Empresa; Comportamento Ético dos Administradores; Percepção da Marca; Maior
% de Clientes Prospectados que Concretizam Operações; Experiência/Reputação dos
Administradores; Entregas Pontuais e Gestão dos Projetos.
6.6 Inovação, Cooperação e Aprendizado
Em sua maior parte, com um impacto declarado de inovação no faturamento de no
máximo 25%, as empresas realizam inovações sobre a ótica do que já existe no mercado
local e nacional, tanto na perspectiva do produto, quanto nos processos tecnológicos.
Sobre essa questão, percebeu-se também que a maioria das empresas (73,91%), ainda
não conseguiram consolidar inovações de produtos novos que tivessem penetração no
mercado internacional. Ainda sobre produtos e processos, verificou-se que mais de 60%
das empresas realizaram inovações de produtos focados no mercado nacional, bem como
inovações de processos tecnológicos circunscritos às demandas locais.
Convém destacar que um volume maior de empresas introduziram inovações sobre
a perspectiva do Design dos produtos (59,59%) e em relação à criação de melhorias
substanciais das embalagens (14,29%). Já dentro da esfera da gestão, por mais que a
maioria das empresas costumem introduzir técnicas, conceitos e/ou práticas inovadoras
(exceto na área de Marketing), um volume ainda significativo de empresas (acima de
39%) apresentou dificuldades de incorporar inovação como elemento integrante de seus
processos de gestão.
Acima de 70% das empresas do APL declararam que a introdução de inovações gerou
impactos de média a alta importância no(a): i) aumento da qualidade dos produtos;
ii) aumento da produtividade da empresa; iii) participação nos mercados de atuação e
mercado interno; iv) abertura de novos mercados e v) ampliação da gama de produtos
ofertados. Entretanto, foi observado que mais de 65% das empresas informaram que as
inovações realizadas tiveram baixa importância ou nenhum impacto no: i) aumento da
participação no mercado externo e ii) no enquadramento da empresa em regulações e
normas-padrão relativas ao mercado externo.
As atividades vinculadas com o processo de inovação, realizadas ocasionalmente, estão
relacionadas com pesquisa na empresa (39,13%) e a atividade mais realizada de forma
rotineira diz respeito ao desenvolvimento na empresa (78,26%), ou seja, as empresas
realizam atividades de pesquisa de forma pontual e se dedicam com mais frequência aos
processos inovativos de desenvolvimento.
A maioria das empresas do APL (71,43%) gastaram até 10% do faturamento com
atividades inovativas. Vale ressaltar que, enquanto 87,5% das empresas utilizaram até
10% de seu faturamento em pesquisa, 68,75% declararam investir em desenvolvimento
mais do que 10%, o que revela o direcionamento estratégico das empresas do setor para a
necessidade da inovação como mecanismo de elevação da competitividade.
A estrutura de capital mais comum entre as empresas do APL são as oriundas de capital
próprio (88,89% das empresas), o que denota uma provável inadequação das políticas de
crédito e fomento para o setor.
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ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
35
Enquanto todas as empresas analisadas consideraram importantes os cursos realizados
em suas instalações, aproximadamente 60% consideraram importantes os cursos externos
realizados, tanto dentro quanto fora do arranjo. Mais da metade delas entendem que o
treinamento por demandante é importante para o desempenho. Entretanto, segundo o
ponto de vista das empresas analisadas, os estágios em empresas fornecedoras ou clientes
não são relevantes ou possuem baixa importância para a melhoria do desempenho.
Sobre o tipo de contratação, 95,65% das empresas consideram importante a absorção
de formandos de universidades e 62,22%, de cursos técnicos, todos eles oriundos
das instituições localizadas no APL. A absorção de técnicos ou formandos de cursos
universitários fora do arranjo foi considerado, por mais de 69% das empresas, como não
sendo relevante ou de baixa importância para seus desempenhos. Já a absorção de mestres
e doutores não é vista como de alta importância por mais de 78% das empresas estudadas.
As fontes de informação consideradas como importantes (média e alta importância)
para o aprendizado nas empresas foram: i) informações de rede baseadas na Internet ou
computador; ii) clientes; iii) departamento de P&D; iv) áreas de vendas e marketing,
serviços internos de atendimento ao cliente; iv) conferências, seminários, cursos e
publicações especializadas. Em contrapartida, as fontes de informação consideradas de
menor importância para o aprendizado foram: i) os centros de capacitação profissional,
de assistência técnica e de manutenção e ii) as licenças, patentes e know how.
Vale destacar que as informações provenientes das fontes consideradas como as
mais importantes para o aprendizado nas empresas do APL foram obtidas tanto por
mecanismos formais quanto por informais, tendo maior expressão de formalidade nas
Conferências, Seminários, Cursos e Publicações Especializadas. As fontes que geraram
informações para o aprendizado através de mecanismos informais para mais de 70%
das empresas foram: i) outras empresas do setor de fora do APL; ii) encontros de lazer;
iii) concorrentes; iv) empresas parceiras de outro setor; v)institutos de pesquisa; vi) outras
empresas dentro do APL; vii) centros de capacitação profissional, de assistência técnica e
de manutenção e viii) universidades.
As empresas declararam obter maior volume de informações para o aprendizado das
fontes localizadas no Estado e dentro do próprio APL, exceto no caso das informações de
rede baseada na Internet ou computador; das informações oriundas de outras empresas
de TIC fora do APL e das Conferências, Seminários, Cursos e Publicações Especializadas.
A grande maioria das empresas do APL (87%) realizou atividades colaborativas nos
anos de 2004 até 2006. Vale destacar que os agentes considerados importantes para as
atividades cooperativas foram: i) fornecedores de insumos; ii) outras empresas dentro
do APL; iii) clientes de software-pacote; iv) clientes por produto-governo; v)clientes por
produto-iniciativa privada; vi) empresas de consultoria; vii) universidades e viii)institutos
de pesquisa. Dentro dessa perspectiva, os agentes considerados menos importantes pelas
empresas analisadas foram: i) concorrentes dentro do arranjo; ii) concorrentes fora do
arranjo; iii) pepresentação e iv) órgãos de apoio e promoção. Vale destacar que todos os
agentes, considerados importantes para as atividades cooperativas, tiveram relações com
alto nível de formalidade (provavelmente através de contratos, convênios, consórcios etc.)
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36
Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
sendo realizadas, em sua maior parte, no Estado do Ceará (incluindo a região metropolitana
de Fortaleza) e em outros estados do Brasil, havendo poucos agentes localizados no exterior.
As formas de colaboração consideradas como importantes (média e alta importância)
por mais de 75% das empresas foram: i) cooperação para venda conjunta de produtos;
ii) desenvolvimento de produtos e processos; iii) capacitação de Recursos Humanos e
iv) obtenção de financiamento, indicando que os esforços de colaboração tendem a se
concentrar tanto para ações voltadas ao atendimento das demandas de mercado, quanto
ao processo produtivo em si. No que diz respeito aos efeitos das ações conjuntas, 70%
das empresas consideraram como importantes (média e alta importância): i) as novas
oportunidades de negócios e ii)a melhoria na qualidade dos produtos.
Nota-se que os efeitos das estratégias de colaboração implementadas se concentram,
em grande parte, na esfera da qualidade e na abertura de novos mercados, aparentando
revelar um perfil fortemente prospector em seus comportamentos estratégicos.
6.7 Estrutura, Governança e Vantagens Associadas ao Ambiente Local
As duas principais vantagens da localização percebidas pelas empresas do APL de
TI de Fortaleza como de média a alta importância foram: i) infraestrutura física através
de incubadoras e parques tecnológicos (77,27%) e ii) proximidade com universidades e
centros de pesquisa (72,72%). Vale ressaltar que no caso das Incubadoras (Incubasoft)
e Parques Tecnológicos (Titan Park), o setor, provavelmente, deve ter descrito sua
percepção em relação à importância desse tipo de infraestrutura, já que tais instalações/
equipamentos, durante a época da aplicação do questionário, encontravam-se em fase de
estudo de viabilidade, planejamento e reativação.
Enquanto dentro da perspectiva da relação contratual entre empresas observou-se que
mais da metade das empresas pesquisadas (65%) não possuíam relações de subcontratação,
a transação comercial colaborativa realizada localmente, considerada de média a alta
importância pelo maior número de empresas (82,61%) foi a aquisição de equipamentos.
Mais de 80% das empresas do APL perceberam como média e alta importância
a contribuição dos sindicatos, associações e cooperativas locais para: i) o estímulo na
percepção de visões de futuro para ação estratégica; ii) disponibilização de informações;
iii) promoção de ações cooperativas; iv) apresentação de reivindicações comuns e
v) organização de eventos técnicos e comerciais. Convém destacar o fato de que 50% das
empresas consideraram muito importante a atuação dessas instituições na identificação de
fontes e formas de financiamento, o que evidencia a provável participação dessas entidades
como catalisadoras de políticas de crédito mais adequadas ao setor, através de processos
de mobilização e disseminação de informações e facilitação de acesso ao crédito.
6.8 Políticas Públicas e Formas de Financiamento
Um número significativo de empresas (acima de 65%) afirmaram não possuir elementos
para avaliar os programas do Governo Municipal e do SEBRAE. Entretanto, 52,17% das
empresas avaliaram positivamente os programas voltados para o setor do Governo Federal
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DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
37
e 43,48% também avaliaram positivamente os programas do Governo do Estado do Ceará.
Esse fato provavelmente está relacionado com a falta de políticas municipais específicas para
o setor e, no caso do SEBRAE, ausência de ações mais específicas e sistemáticas voltadas
para as micro e pequenas empresas do setor. Esse quadro denota que o setor conhece
os programas de fomento, mas sua baixa participação nos mesmos pode indicar a falta
de adequação desses programas às características e especificidades das empresas de TI,
por exemplo, a elevada participação dos ativos intangíveis na composição do capital das
empresas, o que inibe a apresentação de garantias reais em programas de financiamento.
Todas as empresas analisadas consideram como importante (média ou alta
importância) para o aumento da eficiência competitiva a implementação de políticas
públicas voltadas para a abertura de linhas de crédito e outras formas de financiamento
e para a criação de incentivos fiscais. Outro conjunto de políticas públicas considerado
também essencial (média e alta importância) por mais de 91% das empresas é composto
pelas seguintes ações: i) programas de capacitação profissional e treinamento técnico;
ii) estímulos à oferta de serviços tecnológicos; iii) políticas de fundo de aval e iv) programas
de estímulo ao investimento (venture capital). Outras duas políticas citadas pelas empresas
foram: i) redução de impostos para empresas de serviços e ii) contratação prioritária de
serviços de TI com empresas do APL.
Embora todos os obstáculos tenham sido considerados relevantes para o setor, as
dificuldades ou entraves burocráticos se revelaram como sendo os mais críticos para o
acesso das empresas do arranjo às fontes de financiamento. Tais resultados podem refletir,
também, certo desconhecimento dessas empresas no que se refere aos procedimentos e
condições das diferentes linhas de financiamento existentes.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito do estudo foi descrever o Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da
Informação de Fortaleza, capital do Estado do Ceará – Brasil, procedendo à identificação
dos principais agentes envolvidos, bem como suas respectivas características e relações.
Foi identificada a existência de um conjunto de Stakeholders vinculados ao setor de TI,
envolvendo órgãos das administrações públicas federal, estadual e municipal, agências
de regulação, empresas, clientes diretos de TI, fornecedores, órgãos de financiamento,
institutos de ensino superior, institutos de ciência e tecnologia, organizações não
governamentais, sindicatos e associações.
As 82 empresas integrantes do Núcleo Empresarial do APL de TI de Fortaleza são,
em sua maioria, sociedades limitadas, envolvendo 37 atividades econômicas declaradas,
gravitando em torno das seguintes instituições associativas: Sistema ASSESPRO/SEITAC,
INSOFT e TITAN. As atividades nucleares de TI mais ofertadas pelas empresas do APL
são o Desenvolvimento de Programas de Computador; Comércio Varejista de Informática,
Telefonia e Comunicação; Consultoria em TI e Suporte Técnico em TI. Entretanto, como
já fora observado desde Marshall (op.cit.), verifica-se também a existência de empresas
ofertando atividades de apoio vinculadas ao setor, onde, nesse caso específico, observam-se
atividades de contabilidade, serviços de engenharia, desingn, P&D experimental, dentre
outras.
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Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
Em termos gerais, o conjunto de empresas analisado é composto, em sua maioria, de
micro e pequenas empresas, com estrutura de capital fundamentalmente próprio, de origem
nacional, cujos fundadores são principalmente homens, onde, tanto os sócios quanto o
contingente de mão de obra utilizado para a operacionalização das atividades, tendem
a possuir níveis elevados de escolaridade. A contratação de funcionários qualificados é
considerada a principal dificuldade de operacionalização das atividades no arranjo. Tendo
em vista o crescente aumento da demanda de novos funcionários pelas empresas, e que elas
tendem a considerar importante a contratação de profissionais oriundos das instituições
de ensino localizadas no APL, faz-se necessária a implementação de ações voltadas para
o aumento da oferta e de atração de profissionais especializados que possam atender as
necessidades locais.
Os principais destinos da produção do aglomerado são os mercados local, estadual e
nacional, com maior volume para o mercado estadual, havendo uma evidente tendência
de deslocamento do foco também para o mercado internacional. As transações comerciais
mais realizadas localmente são aquelas voltadas para a aquisição de equipamentos.
As empresas do APL assumem que investem em treinamento e inovação como
mecanismo de elevação da competitividade, com o propósito de atingir, em especial, os
mercados local e nacional, concentrando esforços principalmente em desenvolvimento
de produtos e processos. O maior volume de informação das empresas é obtido por
fontes localizadas dentro do APL, principalmente através dos clientes e departamentos
de P&D, exceto aquelas oriundas de redes baseadas na Internet. Convém acrescentar que
a grande maioria das empresas realiza atividades cooperativas dentro do Estado do Ceará,
utilizando como parceiros os seus fornecedores de insumos, outras empresas do APL e
clientes, principalmente para venda conjunta, desenvolvimento de produtos, capacitações
e obtenção de financiamento.
Para as empresas, a principal vantagem da localização diz respeito à infraestrutura do
município e a proximidade com as Instituições de Ensino Superior e Centros de Pesquisas.
Dentro desse contexto, os sindicatos/associações empresariais são vistas como importantes
agentes de apoio do setor. Entretanto, ainda existe um nível reduzido de participação em
programas específicos desenvolvidos pelos poderes púbicos, sendo considerado importante
pelas empresas, para o aumento da eficiência competitiva, a implementação de políticas
públicas voltadas para a abertura de linhas de crédito específicas e a redução dos entraves
burocráticos para o acesso às fontes de financiamento.
De acordo com a taxonomia de caracterização de APL’s, baseada nos tipos de
governança, territorialização e destino da produção, apresentada por Cassiolato e Szapiro
(op. cit.), vale destacar algumas observações. No que se refere à governança, o APL de TI de
Fortaleza não apresenta empresas ou instituições “âncoras” que atuem como convergentes
da coordenação das dinâmicas locais, se caracterizando como um arranjo cuja governança
está configurada em efetivas redes de relacionamento, envolvendo empresas e instituições
de apoio. Dentro da perspectiva do mercado de destino da produção, o APL de TI de
Fortaleza atende principalmente aos mercados local, estadual e nacional.
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DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS
ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS
39
Sobre a perspectiva da territorialização, vale destacar que ela está vinculada ao
nível de retenção local dos fatores envolvidos com os processos de competitividade
e de inovação, e que, em uma configuração de governança em rede, a territorialização
está associada com várias especificidades ligadas ao trabalho e à produção, não havendo
métodos padronizados para sua identificação. Dessa forma, os seguintes fatores foram
utilizados para o enquadramento do APL: i) origem da mão de obra utilizada pelas
empresas; ii) mercado-foco das inovações realizadas pelas empresas; iii) origem das
fontes de informação utilizadas pelas empresas; iv) localização das atividades cooperativas
realizadas pelas empresas e v) principal mercado-alvo das empresas.
Enquanto que a mão de obra e as fontes de informações, em sua maior parte, são
oriundas do próprio APL (tendendo esses fatores para uma alta territorialização), o foco
da produção e das inovações está centrado nos mercados local e nacional (tendendo, no
caso desses fatores, para uma territorialização que gravita entre alta, quando do mercado
local, para média, quando do mercado nacional). A mesma gravitação do nível de
territorialização é verificada quando se observa a localização das atividades cooperativas
realizadas pelas empresas do APL, na medida em que elas são, em sua maioria, realizadas
dentro do Estado do Ceará. Dessa forma, pode-se caracterizar o APL de TI de Fortaleza
como sendo um aglomerado que possui uma configuração de governança em redes, com
média territorialização e que tem como destino da produção os mercados Local e Nacional,
conforme o quadro 4.
Governança /
MercadoDestino da
Produção
GOVERNANÇA HIERARQUIZADA
GOVERNANÇA EM REDES
Alta
Territorialização
Média
Territorialização
Baixa
Territorialização
Alta
Territorialização
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
Mercado
Local
Mercado
Nacional
Mercado
Internacional
Média
Territorialização
APL de TI de
Fortaleza
---
Baixa
Territorialização
-------
Quadro 4 – Caracterização do Arranjo Produtivo Local de TI de Fortaleza segundo os tipos de governança, territorialização
e destino da produção.
Fonte: Elaboração própria.
Frente à perspectiva de evolução apresentada por Machado (op.cit), percebe-se que o
APL de Tecnologia da Informação de Fortaleza apresenta características que o enquadram
como um aglomerado que se encontra em pleno processo de crescimento. O aumento
da atração de setores a montante; a demanda crescente por profissionais especializados;
o aumento dos processos de cooperação vertical e horizontal de cunho tecnológico e a
forma pela qual estão se conformando as alianças entre as instituições de apoio do setor,
podem ser consideradas como as principais evidências desse processo.
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Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara
Acompanhando a evolução histórica do aglomerado, percebe-se um aumento da
velocidade de convergência do APL, quando analisado sob a ótica das parcerias entre
empresas através das instituições associativas. Tendo em vista a natureza dessas relações,
recomenda-se que as instituições convergentes (Sistema ASSESPRO/SEITAC, ITIC e
TITAN) aproveitem esse processo e estrategicamente fortaleçam seus papéis de agentes
promotores do desenvolvimento do setor. Para tal, duas ações surgem como alternativas
efetivas.
A primeira diz respeito à ampliação do corpo de empresas associadas ao núcleo do APL
em função das atividades econômicas que gravitam em torno do setor. Essa ação, ao mesmo
tempo em que promove o fortalecimento das relações entre os atores envolvidos, garante
um nível adequado de diversidade representativa, tornando o segmento capaz de possuir
um maior poder de resposta frente a alterações exógenas.
A segunda ação está relacionada com a necessidade das instituições de apoio
estabelecerem estratégias claras que busquem consolidar políticas de investimentos voltadas
para o aproveitamento das externalidades positivas em favor do próprio arranjo (economias de
cunho tecnológico, de mercado e de organização). Sobre esse aspecto, as estratégias deverão
ser focadas em várias esferas, promovendo profundas interações com outros Stakeholders,
como por exemplo, órgãos governamentais, bancos, instituições de ensino superior, institutos
de ciência e tecnologia, dentre outros.
Dessa forma, o processo de governança torna-se elemento crítico nessa etapa de
desenvolvimento do setor na medida em que influi decisivamente na consolidação das
condições futuras para externalidades e transbordamentos. Os focos possíveis e adequados
de governança entre as instituições de apoio, bem como as dinâmicas de desenvolvimento
induzidas pelas parcerias advindas do aglomerado, também são pontos que devem merecer
indicações para estudos posteriores.
Mesmo entendendo que o Estado deva assumir suas funções específicas de promoção da
estabilidade, definição de mecanismos legais de incentivo, regulação das cooperações entre
empresas, promoção de infraestrutura, envolvendo condições físicas de educação e saúde
(CORREIA, 2003, p.891), deve-se estar atento para o efetivo e determinante poder que as
parcerias entre os agentes locais exercem na determinação dos rumos do desenvolvimento
econômico de determinada região. Por isso, a maior parte da responsabilidade pelo
fortalecimento do setor de tecnologia da informação em Fortaleza recai nos processos de
integrações/cooperações envolvendo, dentre outros, o Sistema ASSESPRO/SEITAC, ITIC,
TITAN, Instituições de Ensino Superior do Estado, Institutos de Ciência e Tecnologia, as
empresas de TI, Governo Federal, Governo do Estado do Ceará e Prefeitura Municipal de
Fortaleza.
A caracterização do APL de TI de Fortaleza, apontada nesta pesquisa, além de referencial
para outros estudos, proporciona o balizamento para discussões referentes à avaliação,
elaboração e concretização de relações colaborativas entre os diversos agentes e de políticas
públicas voltadas para o desenvolvimento do setor na região.
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DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
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AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS
CATÓLICOS
Evaluation of the Religious Services by the Catholics
João Adamor Dias Neves
Universidade Estadual do Ceará – UECE
[email protected]
Arley Rodrigues Bezerra
Universidade Federal do Ceará – UFC
[email protected]
Márcio de Oliveira Mota
Universidade de Fortaleza – Unifor
[email protected]
RESUMO
O presente artigo avalia as estratégias de marketing religioso utilizadas pela Igreja Católica
em uma capital brasileira para atrair e manter fiéis. Especificamente, pretende-se: (1) traçar
o perfil dos católicos nesta cidade; (2) identificar as estratégias de marketing utilizadas para
atrair e manter os fiéis; (3) avaliar os serviços religiosos entregues aos católicos pela Igreja
Católica, através da escala SERVQUAL e (4) relacionar o perfil dos fiéis com os serviços
religiosos entregues a eles pela Igreja Católica. Trata-se de estudo analítico-descritivo,
de natureza quantitativa, por meio de survey com o uso da escala SERVQUAL. Foram
aplicados 384 questionários aos fiéis de oito paróquias de uma capital brasileira, escolhidos
aleatoriamente, com erro de 5% e 95% de confiança. Segundo os resultados, os católicos
são majoritariamente mulheres, incluem todas as classes sociais, escolaridade e rendimento
mensal de todos os níveis. Os serviços religiosos foram avaliados positivamente e a análise
de correlação efetuada não foi suficiente para estabelecer uma relação estatisticamente
significativa entre o perfil dos fiéis e os serviços religiosos entregues aos fiéis católicos
pela igreja na cidade pesquisada. Em termos gerenciais, estes resultados podem ser úteis:
(1) às paróquias, por permitir aperfeiçoar e monitorar os serviços religiosos entregues
aos fiéis; (2) à cúpula da Igreja Católica, por conhecer melhor a avaliação dos serviços
religiosos prestados e (3) a outros pesquisadores que queiram aprofundar esse tema,
replicando o estudo feito ou usando metodologia diferente para saber se os resultados
serão semelhantes ou não. Recomenda-se a realização de novos estudos sobre o fenômeno,
abordando aspectos diferentes dos que aqui foram contemplados.
PALAVRAS-CHAVE: Marketing de Serviços. Marketing Religioso, Atração e Retenção
de Fiéis.
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Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010
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João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota
ABSTRACT
The present article evaluates the strategies of Religious services marketing by the Catholic
religion in a Brazilian capital city to attract and to maintain them. Specifically, it is intended:
(1) to trace the profile of the Catholics and (2) to evaluate the strategies of the Catholic
Church used to attract and retain the Catholic loyal followers. It is a quantitative and
descriptive-analytical study, through the survey using the ServQual scale. The field research
was carried out by 384 questionnaires with Catholics sited in eight parish churches in the
city, randomly chosen, with the error of 5% and 95% of confidence interval. Based upon
the results, the Catholics studied are mainly women, included in all social classes, schooling
and monthly earnings of all levels. The religious services were positively assessed, however,
the correlation analysis was not sufficient to establish a statistically significant relationship
between the profile of Catholic religion and its services. In managerial implications, the
results can be useful: (1) to the parishes, for allowing them to do a better services and to
monitor the religious services delivered to the loyal followers; (2) to the board of Catholic
Church, for better knowing the evaluation of the religious services given and (3) to other
researchers that want to deepen in this research field by taking further studies, using
different methodology to know whether or not the results achieved will be similar or not.
KEYWORDS: Services Marketing, Religious Marketing, Attraction and Retention
Strategies.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, a Igreja Católica tem apresentado uma considerável perda no número
de fiéis e esse fato por si merece consideração, porque, dentre outros fatores, as demais
religiões usam estratégias agressivas para atrair e manter fiéis.
Partindo do universo de religiões existentes, a Igreja Católica foi escolhida tanto pelo
comprometimento dos autores, como praticantes desta religião, quanto pela conveniência
no acesso a grupos nos quais esta pesquisa se baseou, pois, segundo Marconi e Lakatos
(2002), um tema a ser pesquisado deve levar em consideração as aptidões e inclinações
dos pesquisadores.
Apesar de o conceito de marketing ser geralmente associado às atividades de comércio,
faz-se necessário o reconhecimento de como as estratégias de marketing estão presentes
nas diversas atividades da Igreja Católica. A razão disso é que o simples fato de promover
encontros, como grupos de oração e acampamentos, já é, por si só, uma atividade de
marketing utilizada pela Igreja para atrair fiéis, pois para Kotler (2000) a principal função
do marketing é conquistar e manter clientes.
Este tema é relevante, pois apresenta um campo de pesquisa pouco explorado hoje
em dia, há pouco conhecimento acumulado sobre as estratégias que a Igreja Católica
usa para atrair e manter fiéis e, desse modo, o presente estudo pretende, de certo modo,
preencher essa lacuna, além de servir de incentivo para estudos futuros, inclusive por parte
da própria Igreja Católica.
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A proposta de um marketing católico se justifica na própria razão de ser do marketing
descobrir o que leva o ser humano a sentir-se motivado por alguma causa, por algum ideal,
por algum objetivo, e a lutar por isso.
O objeto de estudo centra-se nas estratégias de marketing de serviços que a Igreja Católica
vem utilizando nos dias de hoje para, sobretudo, manter o seu número de fiéis, impedindo
o avanço das outras religiões, uma vez que há uma perda considerável de seguidores do
catolicismo e consequente crescimento de outras religiões, especialmente a evangélica.
Neste caso, o presente estudo é pertinente, porque se propõe a conhecer as estratégias de
marketing de serviço que a Igreja Católica utiliza para atrair e manter os fiéis, procurando
saber até que ponto essas estratégias ajudam ou não a explicar a causa da perda de mercado
sofrida pela Igreja Católica recentemente.
Busca-se, com este estudo, resposta à pergunta: até que ponto as estratégias de
marketing de serviços religiosos são eficazes em atrair e manter fiéis?
Assim, o objetivo geral do estudo é identificar e analisar as estratégias de Marketing
de Serviços Religiosos da Igreja Católica. Especificamente, pretende-se: (1) verificar o
que a Igreja Católica faz para atrair os fiéis, (2) identificar as estratégias utilizadas para
manter os fiéis; (3) avaliar as estratégias utilizadas pela Igreja Católica, através da escala
SERVQUAL e (4) relacionar o perfil dos fiéis com os serviços religiosos entregues a eles
pela Igreja Católica.
2. MARKETING RELIGIOSO
O Marketing tem, como um dos seus propósitos, atender às necessidades dos
indivíduos e criar situações que despertem desejos que precisam ser atendidos. Observa-se
que o homem, como ser espiritual, tem, mesmo que de forma inconsciente, a necessidade
de relacionamento com Deus e também com as pessoas que o rodeiam. Esse pode ser
considerado um ponto favorável e ao mesmo tempo um problema para o desenvolvimento
do marketing, pois muitas religiões, e principalmente seitas, se aproveitam desse fato
para mercantilizar a Palavra de Deus de forma explícita e antiética, ao passo que outras
apenas almejam tornar acessíveis seus preceitos a todos. Diversas novas religiões, cristãs
ou não, muitas das quais denominadas seitas, têm-se valido constantemente, até mesmo
de forma exacerbada, de técnicas e estratégias de marketing para envolver fiéis desgarrados
e insatisfeitos oriundos de outras religiões, principalmente da católica, procurando
agregá-los ao seu rebanho.
No ambiente tão competitivo de hoje, também entre as diversas religiões, a habilidade
e criatividade dos administradores podem ser o caminho para o avanço evangelizador das
religiões. Não se pode considerar o marketing apenas como uma ferramenta de promoção
das vendas, como uma filosofia empresarial, um conjunto de definições, ações e estudos
que visam suprir as necessidades do mercado, superar as expectativas, conquistar novos
clientes e, principalmente, conquistar e manter clientes (KOTLER, 1999).
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Ver-se-á como as ferramentas de marketing são utilizadas para auxiliar as inúmeras
religiões em seu intuito de atrair e manter fiéis, através da análise de dois casos, os quais
procuram exemplificar e analisar o resultado das estratégias usadas.
Para cumprir seu papel original de entregar ao consumidor final os produtos e serviços,
as funções de marketing passam por várias etapas: a concepção em si, o registro e patente, a
composição de custos, o cálculo do preço ao consumidor, sua divulgação, sua distribuição, o
monitoramento da repercussão. Assim, o levantamento e cruzamento de todos esses dados
geram uma atividade altamente completa e estratégica comumente chamada marketing.
Para cada setor existe o tipo adequado, como por exemplo, marketing eleitoral, social,
ambiental, religioso, de relacionamento, dentre outros.
Cabe ao marketing católico ajudar a promover o aperfeiçoamento do espaço físico
das igrejas para oferecer aos fiéis um ambiente confortável, limpo e agradável para o
culto; providenciar recursos audiovisuais que ajudem a enriquecer as celebrações e o
contato com a Palavra de Deus; colaborar no planejamento e realização de eventos de
evangelização formativos e de entretenimento; facilitar a integração entre fiéis, não fiéis,
pastorais, movimentos, serviços agregados e de apoio à paróquia. Além disso, o marketing
católico tem a função de auxiliar no processo de relações públicas da Igreja, seja através da
comunicação interna (clero/fiéis, fiéis/clero) ou externa (outras igrejas, órgãos públicos,
sociedade em geral...) e promover a utilização dos meios de comunicação como Internet,
rádio, jornais, revistas etc.
Mesmo não sendo citado nas igrejas, e ainda que muitas delas não entendam seu
significado, o tema marketing não está, como para muitos possa parecer, necessariamente
ligado à ideia de um comércio. O marketing está presente no ambiente religioso, uma
vez que “quase todas as religiões preparam palestras, promovem reunião de grupos
interessados, convidam pessoas para encontros; tudo isto consiste em perfeitas estratégias
mercadológicas” (LAS CASAS, 1997).
A importância do Marketing para uma organização eclesiástica se deve ao fato de que
para acompanhar, mensurar e agir ordenadamente dentro do nível de desenvolvimento a
que o mundo se encontra e a velocidade e as formas em que essas transformações ocorrem,
bem como para despertar as pessoas, é primordial o uso dos recursos propostos pelo
marketing. As simples observações de como organizações não eclesiásticas invadem os
meios eclesiásticos através de planos estratégicos de marketing é uma referência para que
o líder faça uso desse potencial.
De acordo com Guerra (2003), a lógica mercadológica sob a qual a esfera da religião
opera produz, entre outras coisas, o aumento da importância das necessidades e desejos
das pessoas na definição dos modelos de práticas e discursos religiosos a serem oferecidos
no mercado. Ao mesmo tempo, demanda das organizações religiosas maior flexibilidade
em termos de mudança de seus “produtos” no sentido de adequá-los da melhor maneira
possível para a satisfação da demanda religiosa dos indivíduos.
Vê-se que a importância do conceito de marketing reside no fato de que, cada vez
mais, as religiões precisam pautar suas ideias no marketing para que obtenham sucesso
em agregar mais infiéis e manter os que já são adeptos delas, para que possam sobreviver
no mundo competitivo atual.
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O marketing religioso parte do pressuposto de que o emprego da propaganda hoje
é indispensável a qualquer movimento com pretensões de expansão. A análise parte do
princípio de que as igrejas se constituem como movimentos religiosos num contexto de
globalização, que tornou possível o emprego da propaganda e do marketing religioso em
seu processo de expansão.
Marketing Religioso são os esforços desenvolvidos cuidadosamente pela organização
através da análise, do planejamento, da implementação e do controle de programas
formulados e projetados, orientados para atender de forma eficaz e eficiente os desejos e
necessidades do seu público e a efetividade da organização.
Depreende-se, portanto, que marketing religioso é o emprego das estratégias e
ferramentas de marketing nas instituições religiosas através de troca de informações das
ideologias das igrejas com o ambiente que as cerca, de maneira a compreender que esse
ambiente está cada vez mais globalizado, e com o intuito de agregar ou manter fiéis.
São inúmeras as ações de marketing realizadas pelas Igrejas, porém, há exemplos do
marketing aplicados de forma distorcida, sem objetivo ideal ou com a utilização de recursos
que nem sempre poderão ser considerados éticos ou honestos.
São vários os exemplos de igrejas que se utilizam de técnicas de marketing para
atrair mais e mais pessoas, com os propósitos de crescer numericamente, com objetivos
mercantis, até mesmo o de vender a salvação. Em sermões inflamados, utilizando uma
linguagem própria, tendo a Bíblia como suporte, apresenta-se com eloquência, arrecadando
milhões de reais em ofertas e dízimos em nome da salvação.
De fato, algumas igrejas aplicam e praticam técnicas de marketing, muitas
inconscientemente, porém, atingindo o real propósito que Deus delineou como estilo a
ser seguido, isto é, levar pessoas a terem suas necessidades espirituais supridas. Em outras,
profissionais da área de marketing, de forma consciente, com todos os recursos de mídias e
técnicas de propaganda especializadas em levar a Palavra de Deus, atingem maior número
de pessoas e também fazem com que tenham, de certa forma, suas necessidades e desejos
espirituais satisfeitos.
A principal estratégia das religiões e seitas é interiorizar nos fiéis que na igreja está
a solução de todos os seus problemas, assim como a resposta a todas as suas dúvidas e
indagações. Tudo se soluciona milagrosamente com a fé. Tudo que acontece na vida é
vontade de Deus, para os cristãos, ou de outro ser superior para as demais religiões e seitas.
Essa estratégia envolve a publicação massiva de livros e periódicos de conteúdo
religioso, a veiculação de programas religiosos no rádio e na televisão, bem como a maciça
propaganda nos meios de comunicação. Como a cobrança direta de dinheiro pela prestação
de serviços religiosos é considerada imoral em nossa sociedade, essas seitas recorrem à
figura da contribuição “espontânea” dos fiéis. É evidente que a incorporação ao discurso
religioso de artifícios persuasivos, próprios dos discursos indutivos, contribui em muito
para encorajar a generosidade dos fiéis.
A igreja proclama e pratica internamente formas dialógicas, horizontais, interativas,
de comunicação; externamente, prossegue ocupando espaços no rádio, na televisão,
na imprensa, no cinema para difundir mensagens evangélicas, à maneira dos demais
mercadores de bens e serviços que se valem desses recursos potencialmente abrangentes
da moderna tecnologia (MELO, 1986).
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A confissão é uma ótima pesquisa qualitativa. Ela permite conhecer o pensamento das
pessoas. Na confissão o fiel se revela ao padre, expõe seus medos e suas fraquezas. É aquilo
que a pesquisa de marketing quer descobrir do consumidor para desenvolver um produto.
São muitos casos de sucesso do marketing da Igreja Católica que poderiam ser citados,
incluindo diversas paróquias e dioceses que hoje têm uma receita de dízimo que nos permite
fazer um excelente trabalho junto à comunidade, além de outros que levantarem fundos
para a realização de grandes projetos e obras. Mas o case mais interessante é o da última
visita do Papa João Paulo II ao Brasil, quando foi possível, pela Rede Vida de Televisão,
desenvolver o button (em português, broche de lapela) com a face do Papa circundando pela
estrela (logotipo da emissora) que levantou fundos suficientes para a cobertura completa
da visita e o pagamento de empréstimos efetuados para a sua instalação. Envolve-se nesta
ação diversas ferramentas do marketing e tudo saiu exatamente como se planejou.
Um case fantástico de marketing religioso.
De acordo com Baraldi (2008), o Ministério de Comunicação Social, oficializado
pelo Conselho Nacional da RCC em maio de 2000, funciona em vários estados do Brasil
evangelizando através da mídia impressa, televisiva, radiofônica, Internet etc. Tem como
objetivo dar uma resposta eficaz e clara ao anúncio do evangelho de Jesus Cristo neste
terceiro milênio.
Uma estratégia de marketing ligada a uma marca é fundamental para o seu sucesso e
qualquer aluno de primeiro período de um curso de comunicação social sabe que a marca
mais conhecida do mundo é a cruz, com seus valores, missões e visões embutidos, e que
tem brand awareness (em português, lembrança da marca) e brand equity (em português,
valor da marca) incalculáveis. O produto que ela oferece é um que praticamente todos
buscam: o paraíso, que, de uma forma geral, não difere muito dos da concorrência – embora
existam casos como aquele idealizado pelos muçulmanos fundamentalistas, que oferecem
70 virgens, por exemplo – mas que têm preços diferentes.
Marketing para uma instituição religiosa significa a troca de valores simbólicos com o
ambiente, à medida que a organização se desenvolve. Não se trata, apenas, de incorporar
valores folclóricos, mas de adaptações na essência de práticas e doutrinas.
A Igreja Católica utiliza-se do marketing religioso para atrair e manter seus fiéis.
É possível perceber a imensa diferença existente entre a Igreja Católica dos anos 90 e a
Igreja dos dias atuais. Essa diferença foi realizada com algumas inovações que a Igreja
Católica programou ou aperfeiçoou ao longo do tempo. Hoje a Igreja utiliza-se de bandas
de música, de eventos com o público-alvo bem-definido, como é o caso das pastorais,
de missas animadas, de congressos etc.
2.1 PASTORAIS
2.1.1 Pastoral da Criança
A proposta de como a igreja poderia participar dessa luta para reduzir a mortalidade
infantil foi apresentada à CNBB, em 1983. A CNBB indicou Dom Geraldo Majella Ângelo
para ser o Pastor que acompanharia esse trabalho. A primeira cidade a implantar a Pastoral
da Criança foi Florestópolis – Paraná, na Paróquia de São João Batista.
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2.1.2 Pastoral da Educação
Na Arquidiocese, os passos estão sendo pequenos, com pouca gente participando
até agora. É necessário que educadores e educadoras católicos, qualquer que seja a sua
atividade profissional, bem como educandos em qualquer nível, empenhem-se para realizar
uma ação evangelizadora no próprio ambiente de trabalho em que se encontram, ou em
outros ambientes em que se façam necessárias reflexão e ação sérias e responsáveis para a
fé, para o testemunho da fé e para a cidadania.
2.1.3 Pastoral da Saúde
A pastoral da Saúde procura vivenciar três dimensões:
1. Dimensão solidária via vivência da solidariedade com os doentes e sofredores
nos hospitais, domicílios e comunidades, atendendo a pessoa em sua dimensão
física, psicológica, social e espiritual;
2. Dimensão comunitária: capacitação de agentes multiplicadores de saúde e criação
de grupos comunitários que atuem no campo da prevenção, promoção, educação
e humanização das instituições de saúde, mediante um processo participativo e
transformador;
3. Dimensão político-institucional: atuação política junto aos órgãos e instituições
públicas e privadas, que prestam serviços e formam profissionais na área da saúde;
participação nos conselhos municipais, estaduais e nacional e nas assembleias,
buscando a humanização do sistema de saúde, ou a fiscalização e a denúncia
quando isso não for possível.
2.1.4 Pastoral Carcerária
A Pastoral Carcerária, na Arquidiocese da cidade pesquisada, tem uma longa
história, pautada pela dedicação voluntária de várias pessoas que se sucederam nesses
últimos vinte anos e também por alguns momentos dramáticos. Apesar disso, a maior
dificuldade sempre foi a constituição de uma equipe coesa, disposta a trabalhar
de forma articulada, dentro de uma pastoral de conjunto. Atualmente, a Pastoral
Carcerária da arquidiocese conta com um efetivo de vinte pessoas, animadas por uma
equipe de coordenação.
2.1.5 Pastoral Operária
Pastoral Operária é um trabalho da Igreja que tem como objetivo servir a missão do
Cristo trabalhador e a classe trabalhadora e dos excluídos da sociedade.
A Pastoral Operária propõe-se a servir e celebrar a vida e a esperança dos trabalhadores
e trabalhadoras e contribuir na construção da nova sociedade, sinal e antecipação do Reino
de Deus. Continuamos sonhando com esse mundo justo e solidário porque temos certeza
de que um dia tudo vai dar certo.
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2.2 MÚSICA
Um instrumento importante que a Igreja Católica vem utilizando cada vez com
mais frequência é a música. Através do canto e da dança a evangelização alcança mais
facilmente os fiéis, pois a missa e os demais eventos católicos tornaram-se mais animados
e mais convidativos.
2.2.1 Ministério de Música Canção Nova
O Ministério de Música Canção Nova nasceu atendendo a uma necessidade natural
devido ao grande número de eventos, reunindo grandes massas e principalmente atendendo
à necessidade de evangelizar jovens.
Sua história começou há mais de vinte anos, quando pessoas como Padre Jonas,
Nelsinho Corrêa, Ricardo Sá e outros, realizaram, no começo dos anos 80, os encontros,
onde se sentiu a necessidade de ter um grupo de música. Eles realizaram também shows
devido aos eventos, como acampamentos, louvores e congressos, fazendo surgir então,
em 1984, o Ministério de Música Canção Nova.
Atualmente, percebe-se que toda a experiência acumulada em mais ou menos vinte
anos conduziu grandes massas, unidas com a certeza de que Deus fez da Canção Nova a
casa do músico católico, assumindo mais essa responsabilidade de ser o centro de formação
para os músicos católicos do Brasil, onde ele pode se expressar e também buscar formação.
O cantar se tornou simplesmente uma forma de servir à Palavra, ou seja, afirmar
que a música existe em função da Palavra de Deus. Todas as obras fonográficas e todas as
iniciativas, como shows, encontros, louvores, congressos são somente fatores do servir a
Deus.
3. METODOLOGIA
Segundo Migueles (2003), a metodologia de pesquisa é, fundamentalmente,
um conjunto de métodos e procedimentos de pesquisa que tem por objetivo coletar,
sistematizar e organizar dados de forma válida e consistente, de modo a servir de base
para a sua interpretação científica.
Quando se realiza qualquer tipo de pesquisa, segundo Neves (2004), é necessário
adotar uma metodologia, na qual serão definidos os métodos (dedutivo, indutivo,
fenomenológico, contingencial), as técnicas (exploratória, descritiva, experimental,
observação participante, estudo de caso) e os procedimentos utilizados para a realização
do trabalho (amostra, universo, instrumento de coleta de dados, análise e interpretação
de dados).
No presente estudo, a metodologia consistiu de estudo exploratório e descritivo, de
natureza quantitativa, por meio de questionário e incluiu os procedimentos de definição
da população e amostra, do instrumento de coleta de dados, das variáveis usadas, da análise
e interpretação dos dados.
3.1 TIPO E NATUREZA DE ESTUDO
Em função dos objetivos desta investigação, aborda-se nesta sessão o tipo e a natureza do
estudo e os procedimentos de definição da amostra da pesquisa, do instrumento de coleta de
dados, das variáveis usadas, da análise e do tratamento estatístico dos dados coletados.
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Os tipos de estudos adotados na pesquisa serão o exploratório, por meio de pesquisa
bibliográfica, e o descritivo, de natureza quantitativa, através da técnica survey, com
aplicação de questionários.
Foi utilizado o estudo exploratório porque, segundo Malhotra (2001), a pesquisa
exploratória é versátil e flexível, acrescendo ao pesquisador várias ideias e dados,
diferentemente da pesquisa descritiva, que descreve características ou funções do mercado,
com formulação prévia de hipóteses específicas, sendo também diferente das pesquisas
causais, cuja finalidade é determinar a relação de causa e efeito, com características de
manipulação de uma ou mais variáveis independentes.
A pesquisa exploratória, no presente estudo, constou de uma pesquisa
bibliográfica, compreendendo o levantamento da bibliografia já publicada sobre
o tema, com base nos principais conceitos, usando livros, revistas, artigos, sites,
monografias, dentre outros.
Utilizou-se estudo descritivo porque, conforme Gil (1999), a pesquisa de caráter
descritivo descreve características ou funções do mercado, com formulação prévia de
hipóteses específicas, ao passo que para Samara e Barros (1994), este tipo de pesquisa é
realizada por meio da definição das características de uma dada população, como idade,
escolaridade, renda, atitudes, crenças, dentre outros tipos de características.
O estudo descritivo constou de uma pesquisa de campo tipo survey, com uso de
questionários que possibilitam além da descrição dos perfis dos católicos entrevistados,
informações sobre o grau de satisfação dos fiéis com os serviços religiosos e opiniões sobre
as estratégias utilizadas pela Igreja Católica.
Quanto à natureza do estudo, trata-se de uma pesquisa quantitativa, considerando
um determinado número de católicos da referida cidade com o intuito de acrescentar
conhecimento sobre o tema para teoria e prática católica.
3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.2.1 População e Amostra
Nessa pesquisa foi considerado como universo o conjunto de católicos da
cidade pesquisada, cuja quantidade em 2004 era de 1.691.487, segundo dados do
senso do IBGE, que o caracteriza população infinita, segundo Tagliacarne (1991) e
Samara e Barros (1994). Com base no total do universo, será escolhida uma amostra
probabilística simples.
Foi escolhida amostra probabilística porque, segundo Marconi e Lakatos
(2002), esse tipo de amostra faz uso de formas aleatórias de seleção, com
aplicação de fórmulas estatísticas para o cálculo, podendo ser objeto de certos
tipos de tratamento estatístico (MARCONI; LAKATOS, 2002). Assim, e com
base em Tagliacarne (1991) e Samara e Barros, considerando-se um nível
de significância de 95% e 5% de erro, o tamanho da amostra que permite
generalizar os resultados é de 384, que é a amostra a ser usada entre os católicos
da cidade em questão.
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3.2.2 Instrumento de Coleta de Dados
As variáveis usadas para analisar os serviços religiosos estão ordenadas em forma de
questionário, porque os questionários são instrumentos de coleta de dados, constituídos
por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a
presença do entrevistador. (MARCONI; LAKATOS, 2002).
No presente estudo o instrumento de coleta de dados foi um questionário, constituído
de 19 perguntas divididas em três blocos, questionário já previamente validado por
Levinston (1971), utilizando a técnica tipo survey e a escala SERVQUAL.
3.2.3 Variáveis Utilizadas no Estudo
Atratividade das instalações da Igreja Católica, atratividade dos materiais relacionados
à Igreja, boa realização do serviço desde a primeira vez solicitado, pontualidade dos serviços
prestados da Igreja, pontualidade dos serviços prestados pelos funcionários/colaboradores,
disponibilidade de ajuda dos funcionários da Igreja, relação entre comportamento dos
funcionários e confiança para os fiéis, confiança na solicitação de serviço pela Igreja,
horário de funcionamento conveniente, nível de satisfação em relação à última experiência
com a Igreja Católica, demonstração da Igreja Católica em relação aos fiéis, relação entre
preço e qualidade dos serviços prestados pela Igreja, estratégias utilizadas para atrair fiéis,
estratégias utilizadas para manter fiéis, avaliação geral com a última experiência com a Igreja.
3.2.4 Medidas Utilizadas para Analisar as Estratégias de Marketing da Igreja
As medidas utilizadas neste trabalho foram baseadas nos itens da Escala SERVQUAL,
adaptadas aos serviços religiosos. A escala SERVQUAL, já testada em inúmeros estudos,
tem o objetivo de captar a percepção do cliente a respeito do serviço prestado. De acordo
com Parasuraman et al. (1991 e 1985), essa escala visa medir a percepção e a expectativa da
qualidade dos serviços. Para tanto, esse instrumento de trabalho é uma disposição de notas
que se sucedem em ordem crescente através de múltiplas variáveis, objetivando descobrir
as fraquezas e fortalezas da qualidade do serviço de uma organização através da análise das
seguintes dimensões: tangibilidade; confiabilidade; responsividade; segurança e empatia.
No presente estudo, os questionários foram desenvolvidos com base na escala
SERVQUAL em que as diversas variáveis procuram medir os 5 aspectos já ditos dos
serviços prestados pela Igreja Católica através de afirmativas com 5 alternativas com graus
de concordâncias crescentes.
Após a elaboração do questionário, este foi submetido a três doutorandos e a três
doutores do mestrado acadêmico em Administração da Universidade Estadual do Ceará
– UECE e do mestrado profissional em Administração da Universidade Federal do Ceará
– UFC, para a validação de conteúdo, ou seja, para a análise do instrumento de coleta,
identificando problemas relacionados a escalas, itens, instruções de preenchimento e
outras questões relevantes. O questionário foi modificado de acordo com as observações
feitas e logo após realizou-se o pré-teste.
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Depois de validado o questionário, foi realizado um pré-teste com 16 pessoas
escolhidas aleatoriamente dentro do perfil pretendido das pessoas a serem pesquisadas.
Essas pessoas variavam de idade, gênero, escolaridade e rendimento mensal, a fim de
garantir uma compreensão irrestrita do instrumento de coleta de dados.
Após o pré-teste, elaborou-se a versão final do questionário e procedeu-se à pesquisa,
que foi realizada pelos autores, contando no total 384 questionários aplicados. Para isso,
foram escolhidas aleatoriamente 8 paróquias na cidade pesquisada e foram aplicados cerca
de 48 questionários por paróquia.
3.2.5 Procedimentos e Critérios de Análise dos Dados
A análise dos dados no presente estudo foi realizada por meio da utilização do
Excel 2007 e do software Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, v.16, tanto
na estatística descritiva como a análise de correlação e na análise do coeficiente de
determinação. Foram adotados os seguintes procedimentos: medidas de localização, como
média, moda, mediana e uma medida de dispersão, o desvio-padrão, através de distribuição
de frequências, coeficiente de correlação múltipla e do coeficiente de determinação (R²)
para a análise multivariável.
Os objetivos e dados sobre estratégias de marketing da Igreja Católica foram baseados
nas respostas dos Fiéis entrevistados e, como tal, as informações contidas nos questionários
destinavam-se a atingir esses objetivos, os quais tratavam de identificar as estratégias de
Marketing de Serviços utilizadas pela Igreja Católica verificando quais ações da Igreja
influenciam mais e reforçam a presença dos fiéis nas igrejas.
3.2.6 Procedimentos e Etapas de Análise dos Dados
Os procedimentos de análise de dados adotados nesse estudo tiveram as seguintes
etapas: seleção e definição das categorias usadas, designação das unidades de análise e
seleção de um sistema de enumeração viável a ser usado. Essas três etapas são detalhadas,
a saber:
a) Seleção e definição das categorias/variáveis a serem usadas:
Neste caso, as variáveis usadas foram elaboradas após avaliação
cuidadosa e detalhada do referencial teórico apropriado e foram as
seguintes: atratividade das instalações da Igreja Católica, atratividade
dos materiais relacionados à Igreja, boa realização do serviço desde a
primeira vez solicitado, pontualidade dos serviços prestados da Igreja,
pontualidade dos serviços prestados pelos funcionários, disponibilidade
de ajuda dos funcionários da Igreja, relação entre comportamento dos
funcionários e confiança para os fiéis, confiança na solicitação de serviço
pela Igreja, horário de funcionamento conveniente, nível de satisfação
em relação à última experiência com a Igreja Católica, demonstração
da Igreja Católica em relação aos fiéis, relação entre preço e qualidade
dos serviços prestados pela Igreja, estratégias utilizadas para atrair fiéis,
estratégias utilizadas para manter fiéis, avaliação geral com a última
experiência com a Igreja.
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b) Designação das unidades de análise:
Isso foi feito identificando-se escores como elementos específicos
dos questionários atribuídos a cada variável. Assim, as unidades de análise
foram escores, e, como tal, foram considerados em relação a todas as
variáveis. Neste caso, os escores das variáveis podem ser baixos, médios
ou altos, considerando-se uma escala ordinal crescente de um a cinco,
aplicada a maioria das variáveis, juntamente com a síntese da distribuição
de frequências dessas variáveis usadas no estudo.
c) Seleção de um sistema de numeração a ser usado:
Para o conjunto de questões, tanto das variáveis dependentes quanto
das independentes, usou-se distribuição de frequências contando-se o
número total de avaliações individuais atribuídas a cada variável e registrando
a frequência de respostas de avaliação para as perguntas dos questionários.
Isso foi feito através do pacote estatístico do programa SPSS e do software
MS Excel 2007.
Para analisar os resultados, o conjunto de variáveis foi codificado
considerando-se o conjunto de perguntas para cada pesquisado; as
informações foram verificadas e cada item foi contado com base na resposta
a cada pergunta. Na fase da descrição analítica, foram utilizados o coeficiente
de correlação múltipla (R) e o coeficiente de determinação múltipla (R²).
4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Essa parte do artigo trata da apresentação, análise e discussão dos dados coletados
nas entrevistas e nos questionários realizados aos fiéis nas paróquias da cidade pesquisada.
Para analisar os dados, foram utilizados os softwares específicos e os dados coletados
permitiram uma análise quantitativa apresentada por categorias. Num primeiro momento,
apresenta-se o perfil dos fiéis pesquisados e a análise quantitativa das ações da Igreja
Católica a partir do que os fiéis marcaram. Num segundo momento, apresentam-se os
dados das correlações bivariáveis e múltiplas entre as variáveis pesquisadas.
VARIÁVEL
MÉDIA
MEDIANA
MODA
DESVIO-PADRÃO
Idade
Gênero
Rendimento mensal
Escolaridade
2,81
1,583
1,953
2,706
3
2
1
2
1
2
1
2
1,4553
0,4936
1,2756
1,2218
Tabela 1 – Medidas de tendência central do perfil dos católicos.
Fonte: Pesquisa direta realizada pelos autores.
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AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
Idade
18 a 24 anos
25 a 34 anos
35 a 44 anos
45 a 55 anos
55 ou mais
105
66
78
67
68
27,3%
17,2%
20,3%
17,4%
Total
384
100,0%
59
FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA
17,7%
Tabela 2 – Idade dos católicos.
Fonte: Pesquisa direta realizada pelos autores.
Os resultados analisados nas tabelas 1 e 2 permitem concluir que a maioria dos
entrevistados tem idade entre 18 e 24 anos.
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
FREQUÊNCIA ABSOLUTA
FREQUÊNCIA RELATIVA
Gênero
Masculino
Feminino
160
224
41,7%
Total
384
100,0%
58,3%
Tabela 3 – Gêneros dos entrevistados.
Fonte: Idem.
Em relação ao gênero dos entrevistados, ilustrado na tabela 3, podemos dizer que a
maioria das pessoas entrevistadas pertence ao gênero feminino (58,3%).
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
Rendimento
mensal
0 até 2 salários
207
53,9%
3 até 4 salários
5 até 6 salários
7 até 8 salários
9 ou mais
70
57
18
32
18,2%
14,8%
4,7%
384
100,0%
Total
FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA
8,3%
Tabela 4 – Rendimento mensal dos católicos.
Fonte: Idem.
O rendimento mensal mais respondido foi o de baixos salários mínimos (0 até 2 SM),
representando mais da metade dos entrevistados com uma porcentagem de (53,9%) e
deve se ressaltar que a pesquisa foi realizada em várias paróquias, que foram escolhidas
em vários bairros da cidade, retratando a situação econômica dos fiéis frequentadores da
Igreja Católica.
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João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
Escolaridade
Médio incompleto
Médio completo
Superior incompleto
Superior completo
Pós-graduação
Total
FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA
16,4%
34,6%
20,6%
18,8%
63
133
79
72
37
384
9,6
100,0%
Tabela 5 – Escolaridade dos católicos.
Fonte: Idem.
A escolaridade que esteve presente em maior frequência nas respostas foi o de ensino
médio completo (34,6%), seguida do ensino superior incompleto (20,6%).
A seguir, será apresentada a análise em relação às variáveis que avaliavam a qualidade
dos serviços religiosos oferecidos. As medidas de tendência central são apresentadas
inicialmente nas tabelas a seguir. Percebe-se, inicialmente, por meio do desvio-padrão
das respostas, resultados pouco significativos, por conseguinte, ocorreram nas respostas
uma grande conformidade com a média em cada alternativa. Note-se pela Tabela 6 que a
moda e a mediana são as mesmas para todas as variáveis na segunda etapa do questionário.
VARIÁVEL
MÉDIA
MEDIANA
MODA
DESVIO-PADRÃO
As instalações da Igreja Católica são
visualmente atraentes.
Os materiais relacionados ao serviço
religioso (como panfletos e jornais) são
atraentes.
A Igreja realiza bem seu serviço religioso
desde a primeira vez solicitado.
3,95
4
4
0,82
3,55
4
4
0,87
4,01
4
4
0,77
A Igreja Católica presta seus serviços na
hora que prometeu.
4,02
4
4
0,77
Os funcionários da Igreja prestam serviço
prontamente.
3,84
4
4
0,80
Os funcionários da Igreja Católica estão
sempre dispostos a ajudá-lo(a).
3,78
4
4
0,89
O comportamento dos funcionários da
Igreja Católica inspira confiança nos fiéis.
3,75
4
4
0,81
4,005
4
4
0,77
3,96
4
4
0,88
Quando solicita serviços religiosos à
Igreja, sente-se confiança de que o
serviço será bem realizado.
A Igreja tem horário de funcionamento
conveniente para todos os seus fiéis.
Tabela 6 – Medidas de tendência central da qualidade dos serviços religiosos.
Fonte: Idem.
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AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS
61
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
As instalações da Igreja
Católica são visualmente
atraentes.
Discordo totalmente
4
1,0%
Discordo
Indiferente (regular)
Concordo
Concordo totalmente
19
59
212
90
384
4,9%
15,4%
55,2%
23,4%
100,0%
Total
Tabela 7 – Avaliação da atratividade das instalações da Igreja.
Fonte: Idem.
Em relação às instalações da Igreja Católica, a opção mais escolhida pelos entrevistados
foi a que concorda que as instalações da Igreja Católica são visualmente atraentes, que foi
escolhida por 55,2%, acompanhada pela opção que concorda totalmente (23,4%); média e
mediana acompanham essa tendência, e em relação às medidas de posição central, um baixo
desvio-padrão em relação à média, mostrando uma uniformidade em relação às respostas.
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
Os materiais relacionados
ao serviço religioso (como
panfletos e jornais) são
atraentes.
Discordo totalmente
4
1,0%
Discordo
Indiferente (regular)
Concordo
Concordo totalmente
42
120
173
45
384
10,9%
31,3%
45,1%
11,7%
100,0%
Total
Tabela 8 – Avaliação da atratividade dos materiais entregues.
Fonte: Idem
Em referência à variável: os materiais relacionados ao serviço religioso (como panfletos
e jornais) são atraentes, os fiéis concordaram parcialmente como a mais respondida (45,1%)
e a segunda opção mais escolhida foi a opção de indiferença (31,3%). Novamente o baixo
desvio-padrão mostra a uniformidade das respostas.
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João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota
FREQUÊNCIA FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
RELATIVA
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
Serviço bem realizado desde
a primeira vez.
Discordo totalmente
3
0,8%
Discordo
Indiferente (regular)
Concordo
Concordo totalmente
15
50
221
95
384
3,9%
13,0%
57,6%
24,7%
100,0%
Total
Tabela 9 – Avaliação do serviço religioso prestado pela primeira vez.
Fonte: Idem.
A maioria das pessoas concorda que a Igreja realiza bem seu serviço religioso desde a
primeira vez (57,6%), e a segunda opção mais escolhida foi concordância total (24,7%),
mostrando como a maioria das pessoas está satisfeita com a qualidade dos serviços
realizados pela Igreja desde a primeira vez em que necessitam.
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
A Igreja presta os serviços na
Discordo totalmente
hora que prometeu.
Discordo
Indiferente (regular)
Concordo
Concordo totalmente
Total
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
2
0,5%
14
56
214
98
384
3,6%
14,6%
55,7%
25,5%
100,0%
Tabela 10 – Avaliação da pontualidade dos serviços da Igreja.
Fonte: Idem.
A pontualidade da Igreja também foi um fator que os fiéis concordam (55,7%), como
também concordam totalmente (25,5%).
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
Os
funcionários
prestam
serviço prontamente.
Discordo totalmente
0
0,0%
Discordo
Indiferente (regular)
Concordo
Concordo totalmente
28
74
213
69
384
7,3%
19,3%
55,5%
Total
18,0%
100,0%
Tabela 11 – Avaliação da pontualidade dos funcionários.
Fonte: Idem.
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AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS
63
No mesmo sentido da última alternativa, em se tratando de pontualidade, mas agora
se referindo à pontualidade dos funcionários/colaboradores da Igreja Católica, houve
também uma relevante marcação parcial positiva das pessoas com a alternativa concordo
(55,5%), seguida da alternativa de indiferença (19,3%), em que essas pessoas têm opinião
regular.
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
Os funcionários/colaboradores
estão sempre dispostos a
ajudá-lo(a).
Discordo totalmente
2
0,5%
Discordo
Indiferente (regular)
Concordo
Concordo totalmente
40
70
198
74
384
10,4%
18,3%
51,6%
Total
19,3%
100,0%
Tabela 12 – Avaliação da disponibilidade dos funcionários da Igreja.
Fonte: Idem.
Segundo a pesquisa, mais da metade dos entrevistados concordam que os
funcionários/colaboradores da Igreja Católica estão sempre dispostos a ajudá-los(as)
(51,6%), seguida da opção de concordância total (19,3%).
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
O
comportamento
dos
funcionários/colaboradores Discordo totalmente
inspira confiança nos fiéis.
Total
Discordo
Indiferente (regular)
Concordo
Concordo totalmente
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
5
13,0%
20
96
206
57
384
5,2%
25,0%
53,6%
14,8%
100,0%
Tabela 13 – Avaliação da inspiração de confiança consequente do comportamento dos funcionários.
Fonte: Idem.
Em relação à afirmativa: o comportamento dos funcionários/colaboradores da Igreja
Católica inspira confiança nos fiéis, a imensa maioria dos fiéis disse concordar com esta
afirmativa (53,6%), acompanhados pelas pessoas que têm opinião neutra (25%).
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João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
Quando solicita serviços
religiosos à Igreja, sente-se
confiante de que o serviço
será bem realizado.
Discordo totalmente
6
1,6%
Discordo
Indiferente (regular)
Concordo
Concordo totalmente
7
56
225
90
384
1,8%
14,6%
58,6%
Total
23,4%
100,0%
Tabela 14 – Avaliação da confiança na solicitação de serviços à Igreja.
Fonte: Idem.
Os entrevistados questionados em sua grande parte responderam concordar (58,3%)
com a afirmativa: quando solicita serviços religiosos à Igreja, sente-se confiante de que o
serviço será bem realizado. Um resultado que reflete as respostas encontradas na afirmativa
(A Igreja realiza bem seu serviço religioso desde a primeira vez solicitado).
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
A Igreja tem horário de
funcionamento conveniente Discordo totalmente
para todos os seus fiéis.
Total
Discordo
Indiferente (regular)
Concordo
Concordo totalmente
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
3
7,8%
25
65
182
109
384
6,5%
16,9%
47,4%
28,4%
100,0%
Tabela 15 – Avaliação da conveniência dos horários da Igreja.
Fonte: Idem.
A grande maioria dos fiéis acredita que o horário de funcionamento da Igreja é
conveniente para eles (47,4%). Verifica-se que nos resultados desta segunda parte do
questionário notou-se uma avaliação positiva inquestionável dos serviços oferecidos da
Igreja Católica pelos frequentadores.
A terceira parte do questionário apresenta temas ligados às estratégias da Igreja
Católica. Inicialmente, pode-se verificar por meio das medidas de tendência central na
tabela 16 que, com exceção das questões 17 e 18, os baixos desvios-padrão apresentados
revelam uma uniformidade com as respostas em relação à média. Os resultados da terceira
etapa dos questionár ios foram positivos para a Igreja Católica.
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AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS
VARIÁVEL
MÉDIA MEDIANA MODA
Avalie o nível de satisfação em relação à última
experiência com a Igreja Católica.
Sinto que a Igreja Católica demonstra para com
os fiéis.
Pelo preço pago dos serviços religiosos oferecidos, a
Igreja Católica proporciona resultado.
Das estratégias utilizadas para atrair fiéis, marque
as duas mais importantes.
Das estratégias utilizadas para manter fiéis,
marque as duas mais importantes.
Avalie, em termos gerais, sua experiência com a
Igreja Católica.
65
DESVIO-PADRÃO
4,11
4
4
0,73
4,15
4
4
0,73
3,9
4
4
0,72
7,75
8
13
4,16
6,08
6
6
3,6
4,59
5
5
0,58
Tabela 16 – Medidas de tendência central das variáveis relacionadas às estratégias de serviços religiosos.
Fonte: Idem.
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
Avalie o nível de satisfação em
relação à última experiência com a
Igreja Católica.
Muito insatisfeito
4
1,00%
Insatisfeito
Pouco satisfeito
Satisfeito
Muito satisfeito
5
46
216
113
384
1,30%
12,00%
56,20%
29,40%
100,0%
Total
Tabela 17 – Avaliação do nível de satisfação com a última experiência.
Fonte: Idem.
Os entrevistados avaliaram positivamente o nível de satisfação em relação à última
experiência com a Igreja Católica, sendo qualquer evento participado, pois (56,2%)
disseram estarem satisfeitos com esta última experiência.
FREQUÊNCIA FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
RELATIVA
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
Sinto que a Igreja Católica
demonstra para com os fiéis.
Muito desinteresse
4
1,00%
Desinteresse
Pouco interesse
Interesse
Muito interesse
1
50
205
124
384
2,60%
13,00%
53,40%
32,30%
100,0%
Total
Tabela 18 – Avaliação do interesse demonstrado pela Igreja.
Fonte: Idem.
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João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota
Os fiéis percebem na Igreja um grande interesse para com eles, a maioria das respostas
foi interesse (53,4%) e muito interesse (32,3%) e pode-se observar uma interligação com
os resultados globais positivos encontrados na segunda fase do questionário.
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
Pelo preço pago dos serviços
religiosos oferecidos, a Igreja
Católica proporciona resultado.
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
Muito ruim
0
0,00%
Ruim
Razoável
Bom
Muito bom
9
80
209
86
384
2,30%
20,80%
54,40%
22,40%
100,0%
Total
Tabela 19 – Avaliação da relação preço x qualidade.
Fonte: Idem.
A tabela 19 mostra o resultado da avaliação da relação preço x qualidade do serviço
religioso, e a maioria das pessoas (54,4%) respondeu que esse resultado é bom e (22,4%)
responderam que o resultado é muito bom. Nenhuma pessoa respondeu que o resultado
é muito ruim.
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
Das estratégias utilizadas para
atrair fiéis, marque as duas mais
importantes.
Apenas propaganda na
TV, Internet, jornal.
5
1,30%
32
8,30%
61
15,90%
46
12,00%
9
23,40%
11
28,90%
Apenas encontros,
pastorais,
acampamentos.
Apenas cursos de
aprofundamento,
grupos de oração.
Apenas celebrações,
festas.
Apenas outros.
“Propaganda na TV,
Internet, jornal” e
“encontros, pastorais,
acampamentos”.
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usiness
AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS
“Propaganda na
TV, Internet, jornal”
e “cursos de
aprofundamento,
grupos de oração”.
“Propaganda na TV,
Internet, jornal” e
“celebrações, festas”.
“Propaganda na TV,
Internet, jornal” e
“outros”.
“Encontros, pastorais,
acampamentos”
e “cursos de
aprofundamento”.
“Encontros, pastorais,
acampamentos” e
“celebrações, festas”.
“Encontros, pastorais,
acampamentos” e
“outros”.
“Cursos de
aprofundamento,
grupos de oração” e
“celebrações, festas”.
“Cursos de
aprofundamento,
grupos de oração” e
“outros”.
Total
“Celebrações, festas” e
“outros”.
67
15
39,10%
14
36,50%
1
0,30%
62
16,10%
45
11,70%
2
0,50%
73
19,00%
3
0,80%
5
1,30%
384
100,0%
Tabela 20 – Avaliação das estratégias para atrair fiéis.
Fonte: Idem.
Em relação às variáveis nominais que procuram avaliar quais as estratégias mais
importantes para atrair fiéis, devido à codificação feita, ocorreu uma grande variedade de
respostas; o alto desvio-padrão dessa variável se deu em virtude disso e devido ao fato de
ser um variável de múltiplas respostas. As alternativas mais escolhidas foram (“Propaganda
na TV, Internet, jornal” e “cursos de aprofundamento, grupos de oração”) com (39,1%)
das escolhas e (“Propaganda na TV, Internet, jornal” e “celebrações, festas”) (36,5%).
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João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
Das estratégias utilizadas
para manter fiéis,
Apenas missa animada com
marque as duas mais
música.
importantes.
Apenas cursos de
aprofundamento, grupos de
oração.
Apenas encontros e
pastorais.
Apenas liturgia diária.
Apenas outros.
“Missa animada com
música” e “cursos de
aprofundamento, grupos de
oração”.
“Missa animada com
música” e “encontros e
pastorais”.
“Missa animada com
música” e “liturgia diária”.
“Missa animada com
música” e “outros”.
“Cursos de aprofundamento,
grupos de oração” e
“encontros e pastorais”.
“Cursos de aprofundamento,
grupos de oração” e
“liturgia diária”.
“Cursos de aprofundamento,
grupos de oração” e
“outros”.
“Encontros e pastorais” e
“liturgia diária”.
“Encontros e pastorais” e
“outros”.
“Liturgia diária” e “outros”.
Total
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
67
17,40%
26
6,80%
17
4,40%
21
10
5,50%
2,60%
79
20,60%
31
8,10%
39
10,20%
4
1,00%
40
10,40%
31
8,10%
2
0,50%
13
3,40%
1
0,30%
3
384
0,80%
100,0%
Tabela 21 – Avaliação das estratégias para manter fiéis.
Fonte: Idem.
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AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS
69
Apesar de um desvio-padrão um pouco menor do que a última variável, ainda assim
ocorreu uma grande variação em relação à média. As pessoas escolheram (“Missa animada
com música” e “cursos de aprofundamento, grupos de oração”) como as estratégias mais
importantes para a manutenção dos fiéis (20,6%) e “apenas missa animada com música”
como a segunda mais importante (17,4%).
VARIÁVEL
DESCRIÇÃO
Avalie em termos gerais sua
experiência com a Igreja Católica.
Abaixo da
crítica
Sem nenhum
valor
Pouco valor
De valor
De muito valor
Total
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
0
0,00%
2
0,50%
14
123
245
384
3,60%
32,00%
63,80%
100,0%
Tabela 22 – Avaliação da experiência com a Igreja Católica.
Fonte: Idem.
Percebe-se que os frequentadores da Igreja Católica atribuíram a experiência
com a Igreja Católica um grande valor (63,8%); menor, mas muito relevante perante a
porcentagem total das respostas está a alternativa “de valor” (32%).
Pode-se perceber a partir dessa análise descritiva, das escolhas no questionário,
que revelaram uma avaliação extremamente positiva dos aspectos pesquisados. Todas
as variáveis que envolviam algum tipo de avaliação da Igreja Católica apresentaram um
nível de satisfação significativo, mostrando que os fiéis estão satisfeitos com os serviços
religiosos prestados relacionados com esse trabalho. Entretanto, a seguir serão apresentados
os resultados da análise de correlação entre variáveis.
Nas associações e correlações entre as variáveis estudadas foram realizadas tabulações
simples e cruzadas com o objetivo de verificar a existência de relações entre elas. Essas
tabulações cruzadas possibilitaram as análises bivariadas que atestaram a grandeza e
significância estatística da pesquisa e, para tanto, utilizou-se o coeficiente de Pearson(r)
e o coeficiente de correlação múltipla(R). Para responder à questão enunciada e seus
decorrentes objetivos específicos apresentados na introdução deste trabalho, foram
cruzados dados colhidos através da aplicação do instrumento de pesquisa.
A nossa próxima etapa do trabalho se refere à análise múltipla, em que foi utilizado
o coeficiente de determinação, como também o coeficiente de correlação. O coeficiente
de correlação (R) serve como uma medida de associação entre as variáveis dependentes
e o conjunto das variáveis independentes e o coeficiente de determinação (R²), por sua
vez, mede a proporção da variação da variável dependente conjuntamente pelas variáveis
independentes (idade, gênero, escolaridade e rendimento mensal). Devido ao fato de sua
maior relevância para o estudo, o coeficiente de determinação será analisado com maior
ênfase.
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João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota
VARIÁVEL EXPLICADA
As instalações da Igreja Católica são
visualmente atraentes.
Os materiais relacionados ao serviço
religioso (como panfletos e jornais)
são atraentes.
A Igreja realiza bem seu serviço
religioso desde a primeira vez
solicitado.
A Igreja Católica presta seus serviços
na hora que prometeu.
Os funcionários da Igreja prestam
serviço prontamente.
Os funcionários da Igreja Católica
estão sempre dispostos a ajudá-lo(a).
O comportamento dos funcionários da
Igreja Católica inspira confiança nos
fiéis.
Quando solicita serviços religiosos à
Igreja, sente-se confiança de que o
serviço será bem realizado.
A Igreja tem horário de funcionamento
conveniente para todos os seus fiéis.
VARIÁVEIS
EXPLICATIVAS
Idade, gênero,
rendimento mensal e
escolaridade.
Idade, gênero,
rendimento mensal e
escolaridade.
Idade, gênero,
rendimento mensal e
escolaridade.
Idade, gênero,
rendimento mensal e
escolaridade.
Idade, gênero,
rendimento mensal e
escolaridade.
Idade, gênero,
rendimento mensal e
escolaridade.
Idade, gênero,
rendimento mensal e
escolaridade.
Idade, gênero,
rendimento mensal e
escolaridade.
Idade, gênero,
rendimento mensal e
escolaridade.
R
R²
0,174
0,03
0,211
0,044
0,187
0,035
0,081
0,007
0,193
0,037
0,146
0,021
0,166
0,028
0,165
0,027
0,086
0,007
Tabela 23 – Correlações e determinações múltiplas (serviços) com as variáveis explicadas (perfil).
Fonte: Idem.
Percebe-se, a partir da tabela 23, que o coeficiente de correlação entre a variável
dependente: “as instalações da Igreja Católica são visualmente atraentes” e todas as variáveis
independentes é 0,174, ou seja, um baixo índice de variação dada a variação conjunta das
variáveis independentes. O coeficiente de determinação múltipla neste caso específico
tem o valor de 0,03, ou seja, nos revela que apenas 3% das variações na escolha sobre essa
variável dependente é explicada pela variação das variáveis independentes. Visualizando
novamente a tabela pode-se perceber que a relação entre os materiais do serviço religioso
da Igreja com as variáveis formadoras do perfil do fiel extraem os mais altos coeficientes de
determinação (0,044) e correlação (0,211) em relação à segunda parte dos questionários.
Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010
usiness
AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS
71
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do ponto de vista acadêmico, este trabalho examina algumas questões importantes
no campo das ações de marketing da Igreja Católica: (1) quais são as estratégias
de marketing mais importantes da Igreja Católica segundo os frequentadores das
paróquias; (2) o exame das variáveis que permitem identificar quais são os aspectos
mais relevantes para a presença dos fiéis nas Igrejas; (3) a aplicabilidade destas medidas
no contexto da cidade estudada.
O objetivo geral do estudo é identificar e analisar as estratégias de Marketing
de Serviços Religiosos da Igreja Católica. Especificamente, se pretendia verificar o
que a Igreja Católica faz para atrair os fiéis, identificar as estratégias utilizadas para
manter os fiéis e avaliar as estratégias utilizadas pela Igreja Católica, através da escala
SERVQUAL.
Com base nos resultados obtidos pode-se concluir que o objetivo foi alcançado, uma
vez que os resultados indicaram que os fiéis afirmaram que as estratégias mais importantes
para atrair fiéis são: (“Propaganda na TV, Internet, jornal” e “cursos de aprofundamento,
grupos de oração”) com (39,1%) das escolhas e (“Propaganda na TV, Internet, jornal”
e “celebrações, festas”) (36,5%). As opções mais escolhidas como as estratégias mais
importantes que a Igreja realiza para manter fiéis foram: (“Missa animada com música” e
“cursos de aprofundamento, grupos de oração”) (20,6%) e (“apenas missa animada com
música” como a segunda mais importante) (17,4%).
Em termos gerenciais, os resultados obtidos poderão ser úteis à própria Igreja
Católica, para orientar sua estratégia de atração e retenção de fiéis, aos próprios fiéis
que acabam conhecendo outras formas que a Igreja usa para atrair fiéis e a outras
denominações religiosas e outros pesquisadores que queiram alargar o conhecimento
desse tema.
A aplicação dos questionários nos revelou uma avaliação bastante positiva dos fiéis em
referência a qualquer aspecto dos serviços prestados pela Igreja Católica e isto acaba que
não nos ajudando na explicação para a relevante perda de fiéis que a Igreja tem passado.
O estudo também verificou inexpressivas ou baixas correlações ente as variáveis
cruzadas e baixos coeficientes de explicação e correlação múltiplos, e as variáveis analisadas
não foram suficientes para estabelecer uma relação estatisticamente significativa com o
perfil dos religiosos.
Buscou-se contribuir para um maior conhecimento das estratégias da Igreja, mais
especificamente as paróquias da cidade em questão e para isso foi desenvolvido um estudo
objetivando um maior entendimento das ações da Igreja, do perfil de seus frequentadores
e das relações entre estas questões.
Recomenda-se a realização de outros estudos, capazes de permitir outros novos
cruzamentos, estabelecendo novas correlações com outras variáveis relevantes, utilizando
uma amostra representativa de uma população muito maior, a fim de que se possa
generalizar os resultados e que, ao mesmo tempo, seja possível aplicar as mesmas medidas
em outras religiões diferentes da Católica para verificar a viabilidade de se chegar a
conclusões semelhantes.
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Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010
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João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota
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Data de recebimento: 01/05/2010
Data de aceite: 20/06/2010
Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010
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73
MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES
SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME
Cognitive Maps And The Structuring Of Cooperation Social Networks :
The Rame Case
Maria Eliene Soares de Sousa
[email protected]
Joana Ancila Pessoa Forte
[email protected]
Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes
[email protected]
RESUMO
Neste trabalho de pesquisa é focada a lente teórica sobre a realidade que se apresenta
em um grupo de empresários de pequeno porte que, cooperando entre si nos processos
de produção coletiva, captação de mercado, compras conjuntas, busca seu crescimento
e a sustentabilidade do empreendimento através da cooperação. As redes sociais
enquadram-se nesse contexto, onde seus integrantes mantêm uma relação de parceria
e de ganhos econômicos e sociais. Sabe-se que a grande maioria dos estudos empíricos
sobre Redes de Cooperação têm focado os aspectos que influenciam apenas o seu sucesso
ou o seu fracasso. O primeiro problema é que não fica claro como as redes de relações
sociais dessas organizações se estruturam. Régis (2005) salienta que uma razão para que
isso ocorra é a falta de conexão entre os elementos cognitivos, estruturais e relacionais
ao se tentar explicar algumas teorias sociais sob o enfoque das redes. Nesse aspecto
insere-se o objetivo da pesquisa, que é analisar a dimensão cognitiva do capital social,
importância justificada pelo fato de que as relações comportamentais dos atores, além das
perspectivas estrutural e relacional, também são influenciadas pelos seus mapas cognitivos.
A integração e cooperação dos atores se dão inicialmente quando são compartilhados os
mesmos significados dos conteúdos transacionados. Sendo assim, essa dimensão se torna
imprescindível para a análise das dimensões formadoras do capital social. Conclui-se que
nesse modelo organizacional, a cooperação é um dos elementos norteadores do processo
de desenvolvimento da RAME. O comportamento empresarial é outro aspecto que
também recebe influências, afinal, redes de cooperação descentralizadas possibilitam um
novo agir comportamental, capaz de unir atores sociais em torno de objetivos e interesses
comuns, como ganhos em escala, marketing conjunto, acesso a mercado, ampliar relações
interpessoais, ganhos econômicos, intercâmbio de experiência e aumento da confiança
coletiva. O elemento cooperação foi o mais evidenciado pelos atores sociais, o que aponta
para o fortalecimento do comportamento coletivo em detrimento do individualista, pois
é este um dos elementos desagregadores das relações sociais. A confiança precisa ser
estabelecida para dar sustentação à cooperação. Sem aquela, dificilmente, se dará esta.
Cooperar pressupõe existência de confiança, de laços estabelecidos e de tempo, onde as
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Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010
74
MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E
DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES
relações construídas demonstram esse grau de confiabilidade dos atores através do exercício
contínuo da reciprocidade, do respeito mútuo e das ações exercidas conjuntamente.
PALAVRAS-CHAVE: Redes Sociais, Cooperação, Dimensão Cognitiva.
ABSTRACT
In this research work it is focused the theoretical lens about the reality that comes in a
group of entrepreneurs, of small load, that cooperating to each other, in the processes of
collective production, market reception, united purchases, it looks for your growth and the
sustentability of the enterprise through the cooperation. The social nets are framed in that
context, where your members maintain a partnership relationship and of won economical
and social. It is known that the great majority of the empiric studies on Nets of Cooperation
has focused the aspects that just influence your success or your failure. The first problem is
that is not clear as the nets of social relationships of these organizations they are structured.
Régis (2005) points out that a reason for this to happen it is the connection lack among the
elements cognitive, structural and you relate, when trying, to explain some social theories
under the focus of the nets. In this aspect he/she interferes the objective of the research that
is to analyze the cognitive dimension of the social capital, justified importance for the fact
that the actors’ behaviors relationships, besides the structural perspectives and relational
are also influenced by your cognitive maps. The integration and the actors’ cooperation
feels initially when they are shared the same meanings of the contents transactions. Being
like this, this dimension becomes indispensable for the analysis of the dimensions of the
social capital. I was ended that in this model organizational the cooperation is one of the
elements of the process of development of RAME. The managerial behavior is other aspect
that also receives influences, after all, nets of decentralized cooperation make possible a
new one to behavior acts , capable to unite social actors around objectives and common
interests, as won in scale, united marketing, access to market, to enlarge relationships,
won economical, exchange of experience and increase of the collective trust. The element
cooperation was it more evidenced by the social actors, what appears for the invigoration of
the collective behavior in the individualist’s detriment, because it is this one of the separated
elements of the social relationships. The trust needs to be established to give sustentation
the cooperation. Without that, difficultly, will feel this. To cooperate presupposes trust
existence, of established bows and of time, where the relationships built show that degree
of the actors’ reliability, through the continuous exercise of the reciprocity, of the mutual
respect and of the actions exercised jointly.
KEYWORDS: Social, Networks, Cooperation, Cognitive Dimension.
1. INTRODUÇÃO
A sociedade em rede é reconhecida como forma de um universo interligado de redes, que
transacionam relacionamentos e informações, tendo por fim a consecução de objetivos sociais
e econômicos, onde há pouco espaço para ações e atuações isoladas (CASTELLS, 1999).
Para que o desenvolvimento das empresas ocorresse e seu capital social se fortalecesse,
foram necessários grandes esforços para capacitar seus gestores em termos de organização,
Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010
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MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME
75
liderança e empreendedorismo, qualificação de sua mão de obra, aumento de sua
competitividade, gerando, assim, ocupação e renda através do seu crescimento, dado o
processo de desenvolvimento local que se implantou no bairro através da formação de
redes sociais, que juntas puderam cooperar para competir e se expandir.
As Redes de Cooperação encontram-se, nesse contexto, caracterizadas como
organizações compostas por um grupo de empresas de pequeno porte, que se juntam em
torno de objetivos comuns, formalmente relacionadas, com prazo ilimitado de existência,
com intenção múltipla de atuação, na qual cada membro mantém sua individualidade,
participando diretamente das decisões, dividindo com os demais os benefícios e ganhos
alcançados pelos esforços coletivos (SEDAI, 2004).
Neste trabalho de pesquisa é focada a lente teórica sobre a realidade que se apresenta
em um grupo de empresários de pequeno porte que, cooperando entre si nos processos
de produção coletiva, captação de mercado, compras conjuntas, busca seu crescimento
e a sustentabilidade do empreendimento através da cooperação. As redes sociais
enquadram-se nesse contexto, onde seus integrantes mantêm uma relação de parceria
e de ganhos econômicos e sociais.
Trata-se da Rede Associada de Mulheres Empreendedoras (RAME), constituída
informalmente, com atuação no bairro José Walter, do setor têxtil, de confecção e artesanato,
com 78 associadas que trabalham de forma direta na associação, residindo nesta última
o foco deste estudo. Também realizam ações de forma conjunta, a exemplo de compras,
vendas, exportação, participação em eventos nacionais e internacionais, que tem dado à
RAME grande destaque e visibilidade.
Para Dilly (2009, p. 18 e 19), “os estudos empíricos sobre Redes de Cooperação têm
focado os aspectos que influenciam o seu sucesso ou o seu fracasso. O primeiro problema
é que não fica claro como as redes de relações sociais destas organizações se estruturam”.
Régis (2005) salienta que uma razão para que isto ocorra é a falta de conexão entre os
elementos cognitivos, estruturais e relacionais ao se tentar explicar algumas teorias sociais
sob o enfoque das redes.
Nesse aspecto insere-se o objetivo de pesquisa, que é analisar a dimensão cognitiva
do capital social, importância justificada pelo fato de que as relações comportamentais dos
atores, além das perspectivas estrutural e relacional, também são influenciadas pelos seus
mapas cognitivos. A integração e cooperação dos atores se dão inicialmente quando são
compartilhados os mesmos significados dos conteúdos transacionados. Sendo assim, esta
dimensão se torna imprescindível para a análise das dimensões formadoras do capital social.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este capítulo se constitui como elemento de sustentação de todo o estudo, tendo sempre
a clareza de não se pretender que o objeto não se adéque às metodologias, mas este encontre
repouso e consistência na adoção das que melhor possam trazer à tona as evidências e a clareza
da investigação. Assim, buscou-se definir especificidades e os pormenores procedimentais que
sustentam as ações da pesquisa, explicitando suas atribuições.
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MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E
DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES
A fase empírica de estudos de campo demandou definições elaboradas sobre como
proceder com prospecções e análises. As escolhas orientaram-se pela reflexão crítica das
recomendações dos autores consultados na revisão de metodologias. Optou-se em essência
por abordagens e técnicas que respeitassem as orientações epistemológicas adotadas e
que favorecessem o mais completo esclarecimento sobre os fenômenos estudados. Nesse
aspecto, incluem-se a capacidade de: descrever os fenômenos; representar a estrutura dos
elementos que foram identificados como chaves para sua avaliação (esboço pretendido) e as
dinâmicas de suas relações; e facilitar as análises complexas que envolveram sua construção.
O estudo foi amparado em conceitos oriundos dos métodos de estudo de caso, grupo
focal e análise de conteúdo.
A pesquisa se amparou de alguns fundamentos do estudo de caso que é usualmente
utilizado quando se busca compreender fenômenos sociais de natureza complexa.
O estudo de caso possibilita uma investigação para se preservar as características
holísticas e importantes dos acontecimentos da vida real, a exemplo dos ciclos de vida
individuais, processos organizacionais e administrativos, as modificações ocorridas em
regiões urbanas, as relações internacionais e a maturação de setores econômicos (YIN,
2005).
Foi realizado o grupo focal com (08) oito dos (16) dezesseis atores-chave da RAME,
tendo a pesquisadora atuado com interferência mediada, esclarecendo dúvidas dos
respondentes sobre as questões indagadas, dispostas no quadro que se segue:
1) Você tem um amigo proprietário de uma movelaria e foi convidado a participar de uma rede de
negócios desse setor, a exemplo do qual você já participa. O mesmo procura por você para saber como
é participar de uma Rede de Cooperação. Como você contaria, com base em suas experiências na
RAME, esta participação para seu amigo?
2) As redes são associações constituídas com o objetivo de estimular a cultura da cooperação entre os empresários. Que aspectos você acredita que auxiliam no processo de cooperação?
3) Quais aspectos você acha que dificultam o processo de estímulo à cultura da cooperação?
4) Quais as razões que levaram você a participar da RAME?
5) Quais os benefícios que você obteve/obtém participando da RAME?
6) Quais características você acredita possuir em comum com os demais membros da Rede?
7) Você acha que seu nível de cooperação melhorou a partir de sua entrada na RAME?
Quadro 1 – Roteiro de Elaboração do Grupo Focal.
Fonte: Elaborado pela autora, 2010.
O grupo focal foi realizado com o intuito de analisar os mapas mentais dos atores da
RAME, na construção do roteiro dos questionamentos, contemplando sete perguntas
que embasaram todo o estudo.
Para contemplar a perspectiva cognitiva, foi realizada uma análise de natureza qualitativa
junto aos integrantes da RAME. Para tanto, o método adotado foi o grupo focal, que é uma
técnica de pesquisa que utiliza as sessões grupais como um dos foros facilitadores da expressão
de características psicossociológicas e culturais. A técnica prevê a obtenção de dados a partir
de discussões atentamente acompanhadas onde os participantes expressam suas percepções,
crenças, valores, atitudes e representações sociais sobre uma questão específica, num ambiente
propício e não constrangedor. (WESTPLTAL, BÓGUS, FARIA, 1996).
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MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME
77
A essência do grupo focal consiste justamente na interação entre os participantes e o
pesquisador, que objetiva coletar dados a partir da discussão focada em tópicos específicos
e diretivos, por isso a denominação grupo focal (IERVOLINO e PELICIONI, 2001).
Segundo as autoras, a coleta de dados através do grupo focal tem como uma de suas
maiores riquezas basearem-se na tendência humana de formar atitudes e opiniões na
troca interativa com outros indivíduos. Nesse sentido, ele contrasta com dados colhidos
em questionários fechados ou entrevistas individuais, onde o indivíduo é convocado
a emitir opiniões sobre assuntos que talvez nunca tenha pensado anteriormente. As
pessoas, em geral, precisam ouvir as opiniões dos outros antes de formar as suas próprias, e
constantemente mudam de posição (ou fundamentam melhor sua posição inicial) quando
expostas à discussão em grupo. É exatamente esse processo que o grupo focal tenta captar.
A análise dos dados oriundos do grupo focal foi realizada através da análise de
conteúdo. “Esta é considerada apropriada quando o fenômeno a ser observado é a
comunicação, e não o comportamento ou objeto físico” (MALHORTRA, 2006).
Ao fim da análise da dimensão cognitiva foram identificados quais os significados
compartilhados pelos atores da RAME, com relação a: (i) experiência em participação de
redes de cooperação; (ii) aspectos que facilitam e dificultam o processo de cooperação;
(iii) razões que levaram o empresário a participar da Rede; (iv) características que os
empresários acreditam possuir em comum com os demais membros da Rede; (v) identificar
se a cooperação do ator social ascendeu após sua entrada na Rede.
3. RESULTADOS
A análise da dimensão cognitiva estudada através dos atores sociais da RAME e do
conteúdo nela transacionados, também encontra no comportamento dos atores, uma
influência causada por seus mapas cognitivos. A cooperação que os empresários objetivam
alcançar através de suas networks, se dá quando esses atores compartilham o mesmo
significado quanto aos conteúdos transacionados.
Corroboram Régis, Bastos e Dias (2008), afirmando que a dimensão cognitiva é
manifestada pelo compartilhamento de significados nas redes, qual seja, aquelas formas
de pensamento comungadas entre os participantes da Rede.
No processo de investigação dessa dimensão, tomou-se como base os significados
compartilhados em cada um dos tópicos acima elencados, constituindo-se como esteio
dos resultados da dimensão cognitiva.
Os tópicos acima se constituem como categorias de apresentação de resultados, como
se mostra através dos mapas cognitivos compartilhados pelos empresários da RAME para
cada um desses tópicos.
O mapa cognitivo das figuras a seguir analisadas foi obtido através da utilização do
software Atlas.ti 6.1. Trata-se de uma ferramenta que tem por objetivo facilitar a análise
qualitativa de dados textuais, ajudando na interpretação humana, agilizando de forma
considerável nas atividades implicadas nas análises qualitativas e na interpretação destas
( JUSTICIA, 2005).
Na categoria Experiência em participação em redes de cooperação (RAME) ficaram
evidentes que as vantagens são maiores no aumento da cooperação, trazendo as percepções
de vantagens quanto a esta participação, não fazendo vinculações quanto a obrigações
e expectativas. O grupo focal apresentou relações diretas com oportunidades, ganhos
coletivos (compras conjuntas), aumento da rede de contatos dos associados, aumento da
confiança, aumento da demanda de serviços e aumento da confiança coletiva.
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MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E
DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES
Aumentar a
cooperação {3-0}
Realizar compras
conjuntas {1-0}
Ampliar relações
interpessoais {1-0}
Participar de feiras {1-0}
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Aumento da
demanda de serviços
{1-0}
Evoca a
Alcançar através
da cooperação
benefícios que não
seriam possíveis
individualmente
(sucesso){2-0}
Figura 1 – Mapa cognitivo sobre a experiência de participação em rede de cooperação (RAME).
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
A evocação de maior destaque apontada pelos atores sociais da RAME foi o “Aumento
da cooperação” (3 evocações), seguida de “Alcançar, através da cooperação, benefícios
que não seriam possíveis individualmente” (2 evocações); Participar de feiras, Aumento
da demanda de serviços, Aumento da confiança coletiva, Ampliar relações interpessoais
e Realizar compras conjuntas apresentaram (1 evocação).
Para Franco (2009), um ambiente organizacional favorável à cooperação é aquele que se
apresenta de forma mais distribuída do que centralizada. Quanto mais distribuída for uma rede
social, mais oportuno será para o desenvolvimento do fenômeno da cooperação. Acredita-se ser
a evocação de maior destaque “Aumentar a cooperação em virtude do modelo organizacional
da RAME apresentar-se de maneira descentralizada”. Afirmando de maneira inversa, quanto
mais centralizada for uma estrutura organizacional, mais ela gerará e incentivará a competição
e seus bad feelings acompanhantes, como a desconfiança (FRANCO, 2009).
Outra evocação de destaque neste tópico é Alcançar através da cooperação vantagens
que não seriam possíveis individualmente, que segundo Carvalho et al (2003), as vantagens
alcançadas mediante a cooperação podem aumentar o poder de negociação junto aos
fornecedores, especialmente fabricantes, barganhando preços mais competitivos e prazos
de pagamentos diferenciados, através de compras conjuntas, possibilitando alcançar o
sucesso nas ações de cooperação.
Participar de feiras, Aumento da demanda de serviços, Aumento da confiança
coletiva, Ampliar relações interpessoais e Realizar compras conjuntas também foram
falas destacadas pelos empresários da RAME. Nesta categoria, o grupo focal manifestou
evidentes benefícios, oportunizados através da participação em redes de cooperação.
A figura a seguir destaca exemplos de cada uma das evocações identificadas,
apresentando frases dos atores participantes do grupo focal.
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MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME
79
TERMO
DEFINIÇÃO
Ampliar relações
interpessoais.
“Eu acho que é muito importante, estar no meio de um tipo de sociedade de
pessoas. Uma pessoa só é como uma andorinha, que só não faz verão. Tem que se
reunir, discutir e fazer a partilha com todo mundo junto. Nosso crescimento não
só foi o econômico, mas também como pessoa humana” (R15).
Aumento da
demanda de serviços.
Realizar compras
conjuntas.
Aumento da
confiança coletiva.
“[...] pegar maiores serviços pras pessoas que estão participando. Acho que ajuda
muito nessa parte”. (R6).
“Participando de uma rede, a gente vai ganhar também naparte de compras
conjuntas [...]” (R6).
“Devagarzinho, trabalhando, mostrando resultados, com transparência é como
se ganha a confiança dos participantes, é como podemos convencer e mostrar
os benefícios” (R4).
Alcançar através da “Se ele me procurasse eu ia dizer queatualmente, seguindo o nosso exemplo,
cooperação benefí- formando uma rede de cooperação, provavelmente a gente não teria o mesmo
cios que não seriam sucesso se eu tivesse sozinha” (R10).
possoveis individualmente.
Participar de férias.
Aumentar a
cooperação.
“Muitas são as vantagens já conseguidas por nossa rede como viagens a feiras,
nacionais e até internacional” (R6).
“Eu daria todas as informações que meu amigo precisasse e diria que o pequeno
tem que se ajudar, pra crescer, competir, aparecer no mercado. Quem é rico e tem
condições, se junta pra aumentar o patrimônio” (R4).
Quadro 2 – Experiênciasobre aparticipaçãoem rede de cooperação(RAME).
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 2, que trata do tópico
“Aspectos que auxiliam no processo de cooperação”, foi analisado, apresentando os
seguintes resultados:
Comprometimento
dos associados {3-0}
Eliminação da
concorrência
predatória {1-0}
Consultar a
opinião dos
associados {1-0}
Transparência
e amizade {1-0}
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Solidariedade
social {1-0}
Evoca a
Evoca a
Mudança
comportamental {1-0}
Transparência nos
processos {1-0}
Diálogo {1-0}
Figura 2 – Mapa cognitivo sobre aspectos que auxiliam no processo de cooperação.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
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MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E
DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES
Nesta categoria, o maior destaque apontado pelos atores sociais da RAME foi o
Comprometimento dos associados (3 evocações), apontando para o engajamento nos
processos organizacionais.
Segundo Verschoore (2006), a gestão de redes de cooperação deve desenvolver
ações que visem o compartilhamento de seus membros, como nas ações que envolvem os
associados nos encontros e assembleias, a promoção de debates frequentes e produtivos
e o estímulo à participação nas equipes de ação. Nas redes de cooperação em que os
associados estão visivelmente comprometidos, os esforços individuais pelo crescimento
conjunto são mais facilmente observáveis (MONCZKA et al,1998).
Mostra-se ainda evidente nas evocações dos empresários a necessidade de
Transparência e amizade nas relações constituídas na rede, Solidariedade social,
Transparência nos processos, Diálogo, Mudança comportamental, Consulta à opinião
dos associados e Eliminação da concorrência predatória.
Putnam (2005) afirma que o capital social que se apresenta com altos níveis de
confiança diminuem a probabilidade de oportunismo e reduz a necessidade de processos
custosos. O grupo focal apresentou evocações que corroboram com a existência de capital
social desenvolvido na RAME, capaz de dar sustentação aos processos de desenvolvimento
local que se dá no bairro José Walter.
Abaixo, a figura destaca exemplos de cada uma das evocações identificadas,
apresentando falas dos atores participantes do grupo focal.
TERMO
Mudança
comportamental
DEFINIÇÃO
“No começo geralmente é muito difícil e a coisa mais importante que a
gente vê no início de um grupo é tentar estimular. É mesmo as pessoas se
conscientizarem que precisam do outro pra crescer, pra se ajudar[...]” (R10).
Eliminação da
“É mesmo as pessoas se conscientizarem que precisam do outro pra crescer, pra
concorrência
se ajudar, não vendo o outro como um concorrente que vai lhe derrubar, mas
predatória
como um parceiro que vai lhe ajudar” (R10).
Diálogo
“Se a gente tivesse mais conversa entre a gente, então acho que tornava mais fácil
nosso trabalho, talvez a gente conseguisse até mais venda porque esse trabalho
quem está fazendo somos nós e se eu ganhar, os outros ganham também” (R6).
Comprometimento “[...] porque no dia que eu não venho pra dar uma ajuda como eu estou dando
dos associados
agora pra RAME, vai facilitando nosso trabalho, que é conjunto. Aqui, um
depende do outro pra dá certo”. (R6)
Consultar a opinião “Eu não posso meter a cara e decidir as coisas isoladamente. Preciso ouvir os
dos associados
demais colegas, pedir a opinião deles e juntos, decidirmos o que fazer”.(R15)
Solidariedade social “Eu vejo que a confiança, a cooperação, o respeito ao próximo, a solidariedade é
que fazem os resultados aparecer e dar certo”.(R4)
“Acredito que a primeira delas é a sinceridade das pessoas, pra dá credibilidade
Transparência nos
processos
e confiança. Já participei de outros grupos de trabalho e lá o negócio era muito
fechado, escondido. Todo mundo desconfiava do outro... é horrível trabalhar
assim. É necessário que as pessoas sejam sinceras, amigas e confiáveis”. (R6)
“Quando a gente começou este trabalho na RAME uma das coisas que nós semTransparência e
pre falamos em nossas reuniões de avaliação é que devemos ser sinceros e amigos
amizade
uns com os outros”.(R8).
Quadro 3 – Aspectos que auxiliam no processo de cooperação.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
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MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME
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O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 3, que trata do tópico
“Aspectos que dificultam o processo de estímulo à cultura da cooperação”, foi analisado,
apresentando os resultados a seguir:
Comportamento
individualista {4-0}
Não falar a
verdade {1-0}
Desunião {1-0}
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Falta de
diálogo {1-0}
Evoca a
Figura 3 – Mapa cognitivo sobre aspectos que dificultam o processo de estímulo à cultura da cooperação.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
Nesta categoria, o maior destaque apontado pelos atores sociais da RAME foi o
Comportamento individualista (4 evocações), apontando para as dificuldades que podem
limitar e/ou impedir o processo de estímulo à cultura da cooperação.
Conforme Edwards (1991), a cooperação e a competição formam aspectos de um
mesmo fenômeno relacional, que depende do contexto e do valor adaptativo de cada
ação executada. Tais comportamentos estão a serviço de objetivos individuais que
vão sendo formados em contextos de grupos determinados, que em dados momentos
favorecem a cooperação e em outros, a competição. Desta feita, o empresário estará
sempre maximizando suas possibilidades de adaptação ao ambiente, influenciado por
uma cultura ou situação específica, favorecendo a expressão de comportamentos positivos
relacionados às necessidades de bem-estar de outras pessoas, da mesma forma que
contextos competitivos reforçam nos indivíduos a hostilidade e a agressão.
Outras evidências elencadas pelos associados da RAME foram a Desunião, Falta
de amizade e confiança, Falta de confiança, Falta de diálogo e Não falar a verdade (01
evocação). Tais fatores, apontados pelo grupo focal salientaram a importância dos processos
de transparência e confiança mútua, existente entre os associados da rede, o que evitaria
e/ou diminuiria os comportamentos individualistas do grupo.
O quadro a seguir destaca exemplos de cada uma das evocações identificadas,
apresentando falas dos atores participantes do grupo focal.
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MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E
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TERMO
Mudança
comportamental
Desunião
Falta de amizade e
confiança
Falta de confiança
Falta de diálogo
Não falar a verdade
DEFINIÇÃO
“A primeira coisa é a pessoa ser individualista. Na hora a pessoa não tem
consciência que pode somar ou não tirar do outro, mais enquanto isso não
acontece... para um grupo chegar a ficar forte, a primeira coisa que tem que
acontecer é uma integração. A pessoa deixar de pensar somente no “eu” e
pensar no “nós”. Se eu botar em primeiro lugar só o “eu” no grupo, a opinião dos
outros não tem que permanecer, prevalecer. A opinião de todos não é a minha
individual... na hora que todo mundo tem essa consciência as coisas mudam.”
(R10).
“Desunião é a primeira delas, pois isto é algo que atrapalha os trabalhos num
grupo”.(R6)
“Falta de amizade, de confiança, de solidariedade pra mim dificulta estimular a
cultura da cooperação, pois enquanto uns entendem a importância de se ajudar,
outros já dificultam, porque não entendem a importância da cooperação”. (R15)
Pra mim, a falta da confiança é o que mais atrapalha, pois sem ela não existe
condições de ir muito longe, fazendo com que alguns comecem a desconfiar dos
outros ”. (R4)
“Pra mim é a falta das conversas sobre as dificuldades do grupo e seus trabalhos.
Quando a gente se cala, não mais conversa, o grupo começa a perceber o
surgimento dos conflitos e até chegar uma hora em que não mais se resolvem.
Pra mim, a falta de conversa é a principal coisa que dificulta a cooperação.” (R4)
“Penso eu que falar a verdade é muito importante num trabalho de cooperação.
Aqui na RAME, sempre falamos o que pensamos e temos sido até hoje
respeitadas, mesmo que nossas opiniões sejam diferentes umas das outras. Acho
também, que não chegar a um acordo quando se tem opiniões diferentes no
grupo atrapalha a cultura da cooperaão.” (R8) )
Quadro 4 – Mapa cognitivo sobre aspectos que dificultam o processo de estímulo à cultura da cooperação
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 3, que trata do tópico “Razões
que levaram o empresário a participar da RAME”, foi analisado, apresentando os resultados abaixo:
Ganhos
econômicos {4-0}
Organização
social {2-0}
Geração de
emprego e renda {2-0}
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Inclusão social {1-0}
Evoca a
Querer cooperar {1-0}
Evoca a
Evoca a
Capacitação {1-0}
Evoca a
Intercâmbio de
experiência {2-0}
Figura 4 – Mapa cognitivo sobre as razões que levaram o associado a participar da RAME.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
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MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME
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Nesta categoria, o maior destaque apontado pelos atores sociais da RAME foi Ganhos
econômicos (4 evocações), Geração de ocupação e renda (2 evocações), Intercâmbio de
experiência (2), Organização social (2), apontando os elementos motivadores que levaram
o empresário a participar da RAME.
Os benefícios da ação conjunta não se relacionam apenas com o enfrentamento da
concorrência, mas também ao acréscimo de representatividade. Os ganhos de escala e
de poder de mercado permitem às redes ampliar o potencial de barganha nas diferentes
relações econômicas e possibilitam a realização de acordos comerciais em condições
vantajosas (WAARDEN, 1992).
Os empresários estão unidos buscando obter ganhos de produtividade (modernização
do maquinário, processos tecnológicos e capacitação) que viabilizem a baixa dos preços
para enfrentar a concorrência. O pressuposto é que a cooperação entre os associados
e os fornecedores possibilite vantajosas negociações, ensejando inovações que elevem
a lucratividade e os ganhos econômicos, preservando os empregos dos associados e a
remuneração dos atores envolvidos.
Os processos de cooperação desenvolvidos na RAME foram propiciadores de
manutenção de sua posição de destaque nos empreendimentos no bairro José Walter,
como também, ampliador de mercado, conquistando o cenário internacional.
Destaca-se ainda Capacitação, Querer cooperar e Inclusão social (1 evocação).
A RAME é vista pelos atores sociais como uma importante geradora de ganhos econômicos,
o que possibilitou melhoria na qualidade de vida de seus associados.
A figura abaixo destaca exemplos de cada uma das evocações identificadas,
apresentando falas dos atores participantes do grupo focal.
TERMO
DEFINIÇÃO
Ganhos econômicos “O outro motivo é o fato de poder ganhar um dinheirinho, o que complementa a
Geração de
emprego e renda
Intercâmbio de
experiência
Organização social
Capacitação
Querer cooperar
Inclusão social
minha aposentadoria, ajudando nas despesas de casa [...]”. (R15).
“Como o grupo começou comigo, a razão do início da RAME era mesmo pra
gente ter uma renda, mas algumas pessoas não tinham muita ideia do que estava
fazendo, começamos mesmo tentando sobreviver” (R10).
“Trocar experiências e aprender novas técnicas de costura foi outra coisa que
me puxou pra participar da RAME. Estava me sentindo ultrapassada, fora das
novidades do meu setor. Estar na RAME foi maravilhoso pra mim, pois abriu muitas
oportunidades pro nosso grupo” (R4)
“Outra coisa que eu acho muito importante é porque a gente aprendeu a lutar
pelas coisas, se organizar, buscar melhoras pra nossa comunidade” (R8).
“Aqui já me aperfeiçoei muito, com os cursos oferecidos por nossos parceiros”
(R9).
“[...] e também crescer como pessoa, como ser humano, que gosta de trabalhar
em grupo” (R10).
“Foi pela oportunidade de exercer um trabalho depois dos quarenta anos”.(R8).
Quadro 5 – Razões que levaram o associado a participar da RAME.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 5, que trata do tópico
“Benefícios que o empresário obteve/obtém participando da RAME”, foi analisado,
apresentando os resultados a seguir:
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MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E
DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES
Intercâmbio
experiências {2-0}
Visibilidade
social {1-0}
Parceria {1-0}
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Participação
em eventos {1-0}
Organização social
{2-0}
Evoca a
Geração de
emprego e renda {2-0}
Evoca a
Evoca a
BENEFÍCIOS QUE
OBTEVE/OBTÉM
PARTICIPANDO DA
RAME
Acesso a mercado
{1-0}
Evoca a
Participar de
programas sociais
{1-0}
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Conhecimento
tecnológico {2-0}
Marketing {1-0}
Figura 5 – Mapa cognitivo sobre beneficios que o empresário obteve/obtém da RAME.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
Nesta categoria, os maiores destaques apontados pelos atores sociais da RAME
foram Intercâmbio de Experiência (2 evocações), Organização social (2 evocações),
Conhecimento tecnológico (2), Geração de emprego e renda (2), apontando os elementos
que propiciaram os atores sociais a obter benefícios.
Verifica-se que as percepções dos empresários quanto aos benefícios obtidos ou por
obter estão vinculadas a acesso a mercado, questões de cunho social e conhecimento
tecnológico, podendo estes serem traduzidos como a possibilidade de ampliar a força da
ação da RAME através da cooperação. Os benefícios da ação conjunta não se relacionam
apenas ao enfrentamento da concorrência, ganhos de escala e de poder de mercado.
Percebe-se existir na RAME uma boa articulação com seus parceiros institucionais,
o que dá à associação uma referência de credibilidade, ao receber um maior crédito e
reconhecimento por parte do público local, o que lhes garante maior legitimidade nas
ações empresariais e redimensionamento da importância da empresa em seu ambiente
(VERSChOORE, 2006).
Destaca-se ainda a Parceria, Acesso a mercado, Marketing, Participar de programas
sociais, Participação em eventos e Visibilidade social (1 evocação), tendo nesta última
evocação, uma forte representatividade para os associados, sendo a RAME uma importante
geradora de ocupação e renda no bairro José Walter, o que tem lhe rendido considerável
destaque social.
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MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME
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O quadro abaixo destaca exemplos de cada uma das evocações identificadas,
apresentando falas dos atores participantes do grupo focal.
TERMO
DEFINIÇÃO
“Já participamos de missões fora do país com a RAME. Visitamos, conhecemos
experiências fora do país como lojas de departamentos na área de moda feminina
[...]” (R10).
Organização social
“Participar foi muito importante para mim. Nas nossas reuniões aprendi a dar
a minha opinião, o que me fez sentir mais segura, exercendo minha cidadania,
contribuindo também nas mudanças que acontecem no bairro”. (R8).
Conhecimento
“Hoje nós temos uma consciência muito grande do que a gente faz na área de
tecnológico
confecção, de conhecer tecido, de conhecer modelagem. Antes a gente pegava
tecido branco com tecido preto cortava por cortar porque não tinha feito uma
modelagem. Quando terminávamos a peça, ela encolhia e nós não sabíamos.
Mas através de uma consultoria, ficamos sabendo dos detalhes, do porquê
das coisas pra nós entendermos. Eu acho muito difícil hoje em dia poucas
confecções, poucas pessoas saberem desses detalhes e a gente sabe, porque o
tecido não dá o resultado final esperado, se eu cortei 50 peças iguais do mesmo
molde, da mesma marca, do mesmo jeito... porque a de baixo ficou menor e a
de cima ficou maior? Então nós temos uma explicação científica pra isso, nós
aprendemos e a RAME deu essa oportunidade” (R10).
Geração de emprego “Trazer emprego e renda para nosso bairro e participar do progresso de nossa
comunidade foi pra mim os grandes benefícios pra gente”. (R9).
e renda
“Fomos apoiados pelo SEBRAE que financiou as viagens e participação nas
Parceria
feiras. Nós já temos experiência de participar de uma palestra direcionada
pro nosso produto com grandes estilistas. Se a gente não fosse da RAME e
parceiros do SEBRAE nem sonharia com isso, desses profissionais dedicarem
um tempinho deles por mais que eles sejam pagos pra isso, dedicar um tempo
a um grupo de bairro, de mulheres que não têm nome, nem fama. Então pra
nós é uma das grandes vantagens que a gente já teve e continua tendo. A gente
têm hoje parceria com outros órgãos que vêm aqui acrescentar, orientar todas
nós, modelistas que fazem faculdade, que dão força pra gente, contribuindo, pra
melhorar e aperfeiçoar nossas coisas” (R10).
Acesso a mercado
[...] como acesso a mercado, participando de feiras, de rodadas de negócios”.
(R4).
Marketing
“[...] divulgar nosso produto pelo mundo” [...]. (R15)
“Outro benefício é o fato de ser beneficiadas com casas populares, através de um
Participar de
projeto do Governo Federal” (R9).
programas sociais
Participação em
“Alguns benefícios que a gente teve através da RAME foi a participação em
eventos
eventos, que a gente não tinham”. (R10).
“Um dos grandes benefícios é que a gente é respeitado em nossa comunidade
Visibilidade social
e fora dela, como um grupo que tem dado certo e que é referência para o
nascimento de outros empreendimentos no bairro”. (R6).
Intercâmbio de
experiência
Quadro 6 – Benefícios que o empresário obteve/obtém participando da RAME.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010 .
O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 6, que trata do tópico
“Características que você acredita possuir em comum com os demais membros da RAME”,
foi analisado, apresentando os seguintes resultados:
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MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E
DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES
Respeito às
diferenças {1-0}
comprometimento
{2-0}
Amizade e
cooperação {1-0}
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Cooperação e
solidariedade {1-0}
Evoca a
Facilidade de se
relacionar com
as pessoas {1-0}
CARACTERÍSTICAS
ACREDITA POSSUIR
EM COMUM COM
OS DEMAIS
MEMBROS DA RAME
Evoca a
Evoca a
Querer melhorar de
vida {1-0}
Sentir-se dono
da RAME {1-0}
Figura 6 – Mapa cognitivo sobre as caracteristicas que o empresário acredita possuir em comum com os demais membros da RAME.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
Nesta categoria, o maior destaque apontado pelos atores sociais da RAME foi
Comprometimento (2 evocações), seguido de Respeito às diferenças, Facilidade de se
relacionar com as pessoas, Querer melhorar de vida, Sentir-se dono da RAME, Cooperação
e solidariedade e Amizade e cooperação (1 evocação), sinalizando para os elementos que
propiciaram os atores sociais a obter benefícios.
Verifica-se nas percepções dos empresários que o comprometimento os remete a
características comuns no grupo, sendo este fato um elemento aglutinador de interesses
quanto ao crescimento e desempenho da RAME.
As organizações, especialmente as redes de cooperação, perceberam ser necessário
somar forças, descobrindo novas formas de otimizar seus recursos, criando tecnologias
e gerando potencialidades, unindo esforços com outras organizações através de ações de
cooperação e comprometimento. Através dessas ações, as empresas podem obter inúmeras
vantagens, como: superar fraquezas, compartilhar riscos, ganhar economia de escala,
gerar marketing agregado e exportar com maior facilidade. A simples união de empresas
não assegura vantagens se não houver cooperação, comprometimento, eficiência no
gerenciamento e empenho de todos os atores envolvidos no processo (GOMES, 1999).
Destaca-se o quadro a seguir, com exemplos de cada uma das evocações identificadas,
apresentando falas dos atores participantes do grupo focal.
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MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAçÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAçÃO: O CASO RAME
TERMO
87
DEFINIÇÃO
“Somos comprometidos e empenhados em ver tudo dar certo, vestimos mesmo
a camisa da RAME” (R9).
“Respeitamos as diferenças do grupo e procuramos, através do diálogo, chegar a
Respeito as
um entendimento comum” (R6).
diferenças
“Pra mim, a característica que eu tenho em comum é ter a facilidade de me
Facilidade de se
relacionar com as pessoas. Eu ouço muito as pessoas, embora às vezes eu não
relacionar
concorde, mas aceito, entretanto, procuro articular e apaziguar o grupo quando
há discórdia. Eu sou a pessoa que quando tem qualquer coisa, corro atrás de
resolver a situação” (R10).
Querer melhorar de “Acho que é querer crescer, melhorar de vida, continuar aqui na nossa comunidade,
que é tão boa e tão amiga. Mesmo antes de trabalhar na RAME, nunca senti vontade
vida
de ir embora pra outro estado, como alguns vizinhos meus sentem.” (R8).
Comprometimento
Sentir-se dono da “Outra coisa que acho que é uma característica minha e do meu grupo é que a
RAME
gente se sente dono da RAME”. (R6).
Cooperação e
“Cooperação e solidariedade é algo que está muito presente na RAME.” (R15).
solidariedade
Amizade e
“A amizade e a cooperação são características que mantem o grupo unido, em
cooperação
busca de objetivos comuns”. (R4).
Quadro 7 – Características que o empresário acredita possuir em comum com os demais membros da RAME.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 7, que trata do tópico
“Como ocorreu o nível de cooperação após a entrada do associado na RAME”, foi analisado,
apresentando os seguintes resultados:
Aumentar a
cooperação {3-0}
Melhorou sua
participação social
{2-0}
Evoca a
Evoca a
Evoca a
Melhorou a
cooperação e relações
interpessoais {1-0}
Melhorou e
aprendeu coisas
novas {1-0}
Evoca a
COMO OCORREU O
NÍVEL DE
COOPERAÇÃO
APÓS A ENTRADA
DO ASSOCIADO NA
RAME
Evoca a
Melhorou através
da convivência {2-0}
Evoca a
Melhorou a timidez e
desenvolveu a
liderança {1-0}
Figura 7 – Mapa cognitivo sobre como ocorreu o nivel de cooperação após entrada do associado na RAME.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
Nesta categoria, os maiores destaques apontados pelos atores sociais da RAME foram
Aumentou a cooperação (3 evocações), Melhorou através da convivência (2 evocações), Melhorou
sua participação social (2 evocações), seguidas de Melhorou e aprendeu coisas novas, Melhorou a
timidez e desenvolveu a liderança e melhorou a cooperação e relações interpessoais (1 evocação),
apontando para “Como ocorreu o nível de cooperação após a entrada do associado na RAME”.
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MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E
DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES
Todos os participantes do grupo focal externaram aumento da cooperação e melhorias
da convivência, da participação social, da aprendizagem, da timidez e desenvolvimento da
liderança e das relações interpessoais, denotando que os associados internalizaram uma
importante mudança comportamental em suas vidas, refletindo diretamente no trabalho
e no convívio diário entre os mesmos.
Mais uma vez a cooperação ganha destaque entre os atores sociais, reforçando que
através desta perspectiva de cooperação os agentes participantes das redes trabalham
com a noção de objetivos comuns, definidos em conjunto e perseguidos através de ações
colaborativas.
Franco (2009) afirma que, ao contrário do que sugere o senso comum, a cooperação
não é uma característica intrínseca do indivíduo, inata ou construída pela sua formação.
Tal fenômeno se desenvolve em função dos graus de distribuição e de conectividade da
rede social em que esse indivíduo está inserido. Assim, uma rede horizontalizada por certo
que favorecerá um maior intercâmbio de cooperação entre seus participantes.
No quadro abaixo foram destacados com exemplos de cada uma das evocações
identificadas, apresentando falas dos atores participantes do grupo focal.
TERMO
DEFINIÇÃO
Aumentou a
“Sem dúvida minha cooperação aumentou. Aqui pude aprender que juntos
cooperação
podemos transformar as coisas e melhorar de vida” (R15).
Melhorou através da “Melhorou, através da nossa convivência do dia a dia, a forma de nos
convivência
respeitarmos, de nos tratarmos” (R4).
“Aprendi que cooperando, formamos uma rede e que pode se beneficiar de
Melhorou sua
tantas vantagens para a associação e seus associados. Cooperando aprendi a lutar
participação social
Melhorou e
aprendeu
participação social
Melhorou a timidez
e desenvolveu a
liderança
pelas minhas coisas pessoais e coletivas” (R8).
“Melhorou não só na RAME, mas também em casa com meus familiares, pois o
que aprendi nos cursos, pude ensinar lá. Aprendi a ter paciência e saber ouvir.”
(R6).
“Melhorou 100%, eu acho, porque primeiro eu era muito tímida, então melhorei
muito, porque hoje você me pergunta, eu respondo sem timidez e sem obstáculos
e se você deixar eu passo o dia falando. Outra coisa que acho essencial é a
liderança que eu aprendi a ter, ser uma líder, pois antes eu achava que ser uma
líder era aquele que mandava e as pessoas obedeciam. Eu sei que não é isso. Hoje
eu sou líder porque acredito que eu estando aqui a RAME funciona porque eu
passo quinze dias fora, o andamento em nada deixa de acontecer porque quando
eu saio a gente sempre se organiza”. (R10).
Melhorou a
“Eu acho que melhorou demais minha cooperação e isso me causou melhoras
cooperação e as
pessoais, pois eu era muito estressado e aqui eu me envolvo tanto nos
relações interpessoais trabalhos que pra mim é uma terapia, passo o dia trabalhando, de bom humor,
fico brincando com minhas colegas de trabalho. Então pra mim melhorou
bastante” (R6).
Quadro 8 – Como ocorreu o nível de cooperação após a entrada do associado na RAME.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010.
Como se percebe, a dimensão cognitiva é manifestada pelo compartilhamento de
significados na RAME, ou seja, aquelas formas de pensamento comungadas entre os
participantes da rede (RÉGIS, BASTOS e DIAS, 2008). A cooperação se evidencia como
um dos elementos de maior destaque, corroborando para o fortalecimento dos achados.
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MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME
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4. CONCLUSÃO
A Rede Associada de Mulheres Empreendedoras (RAME), constituída por
empresários do setor de confecção e artesanato, são micro e pequenos empresários que se
organizaram em redes de cooperação e que se configura como um modelo diferenciado de
cultura organizacional. Nesse modelo organizacional, a cooperação é um dos elementos
norteadores do processo de desenvolvimento da RAME.
O comportamento empresarial é outro aspecto que também recebe influências, afinal,
redes de cooperação descentralizada possibilitam um novo agir comportamental, capaz
de unir atores sociais em torno de objetivos e interesses comuns, como ganhos em escala,
marketing conjunto, acesso a mercado, ampliar relações interpessoais, ganhos econômicos,
intercâmbio de experiência e aumento da confiança coletiva.
O elemento cooperação foi o mais evidenciado pelos atores sociais, o que aponta
para o fortalecimento do comportamento coletivo em detrimento do individualista, pois
é este um dos elementos desagregadores das relações sociais.
A confiança precisa ser estabelecida para dar sustentação à cooperação. Sem aquela,
dificilmente se dará esta. Cooperar pressupõe existência de confiança, de laços estabelecidos e de
tempo, onde as relações construídas demostram esse grau de confiabilidade dos atores, através
do exercício contínuo da reciprocidade, do respeito mútuo e das ações exercidas conjuntamente.
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criativa de sobrevivência para pequenos e médios supermercados. In: Congresso
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Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010
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DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES
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Data de recebimento: 28/05/2010
Data de aceite: 20/06/2010
Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010
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MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME
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O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E
SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE BOLSAS POR MULHERES
BRASILEIRAS
Luxury Consumption: A Study of Values and Meanings in Bags Consumption
by Brazilian Women
Marlon Bruno Matos Paiva
[email protected]
Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes
[email protected]
Joana Ancila Pessoa Forte
[email protected]
Thiciane Mary Carvalho Teixeira
[email protected]
Alyne Oliveira do Vale
[email protected]
RESUMO
Este estudo analisa os valores e significados presentes no consumo de bolsas de luxo
por mulheres brasileiras. Tal acessório foi escolhido devido à sua marcante presença e
valorização dentre os produtos de gama elevada. O fato de o Brasil encontrar-se entre
os dez maiores mercados mundiais consumidores de produtos de luxo e o reduzido
número de estudos acadêmicos relativos ao tema justificaram a realização deste trabalho.
A metodologia empregada consistiu de uma abordagem qualitativa. Foram realizadas
entrevistas em profundidade com consumidoras de bolsas de luxo residentes em Fortaleza.
Para a escolha das marcas abordadas na investigação, buscou-se a colaboração de um
especialista, conforme recomendação de Malhotra (2006). A técnica utilizada para
tratamento dos dados foi a análise do discurso (Vergara, 2005). A pesquisa extraiu cinco
valores – qualidade, atemporalidade, estética, segurança e distinção – e dois significados
– poder e recompensa – no consumo de bolsas de luxo.
PALAVRAS-CHAVE: Consumo de luxo; Valores; Significados.
ABSTRACT
This study examines the values and meanings present in the consumption of luxury handbags
in Brazilian women. This accessory was chosen because of its strong presence and appreciation
among the high-range products. This work is justified by the fact that Brazil find themselves
among the top ten markets worldwide consumers of luxury goods and by the small number of
academic studies about the topic. The methodology consisted of a qualitative approach. In-depth
interviews were conducted with consumers of luxury handbags in Fortaleza. For the choice of
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MARLON BRUNO MATOS PAIVA, DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES, JOANA
ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE
the brands covered in the research, we sought the assistance of a specialist, as recommended by
Malhotra (2006). The technique used for data analysis was discourse analysis (Vergara, 2005).
The study drew five values - quality, timeliness, aesthetics, security and distinction - and two
meanings - power and reward - the consumption of luxury handbags.
KEYWORDS: Luxury Consumption, Values, Meanings.
1. INTRODUÇÃO
Desde o fim do século XX, o segmento dos produtos e serviços de luxo vem sofrendo
uma grande mutação. As expectativas diante das marcas em geral e das marcas de luxo se
deslocaram. À luz do pensamento pós-moderno, a relação de classes já não pode explicar
a complexidade dos fenômenos sociais em geral. A sociedade hoje é identificada através
de “tribos” múltiplas e efêmeras que assimilam e orientam as escolhas do grupo. Diante
desses fatos, atualmente, o consumo busca trazer à tona diferentes significados, tais como:
autoexpressão, partilha de emoções fortes, autenticidade, visão de mundo, estética e
exaltação do universo (LIPOVETSKY & ROUX, 2005).
Os produtos e serviços considerados de luxo são os que possuem maior capacidade
de expressar tais sentimentos devido a seu alto significado simbólico, que possui maior
peso que sua função utilitária (STREHLAU, 2004; GALHANONE, 2008). Atrelado a
isso, os consumidores de hoje estão dispostos a gastar mais em determinadas categorias
consideradas importantes em seu convívio social. O critério para selecionar tais produtos
envolve tanto variáveis funcionais, tais como inovação funcional e tecnológica, quanto as
características emocionais (SILVERSTEIN & FISKE, 2005).
O aumento da renda disponível pelas classes médias, a crescente elevação do nível
educacional, o fato de que casais estão casando mais tarde e tendo menos filhos, a baixa
taxa de juros e o acesso ao crédito facilitaram a propensão do indivíduo em gastar mais em
produtos utilizados para promover a confiança, autoestima e remediar angústias emocionais
(PINTO, 2007). Com a elevação da renda da população e a redução das alíquotas de
exportação em meados da década passada, o Brasil recebeu uma grande quantidade de
marcas internacionais de luxo e vem crescendo significativamente, posicionando-se entre os
dez maiores mercados globais de consumidores de luxo (PINTO, 2007; ALONSO, 2006).
O objetivo deste trabalho constituiu-se em identificar os valores e significados
presentes no consumo de bolsas de luxo por mulheres brasileiras. Tal acessório foi escolhido
devido à sua marcante presença e valorização dentre os produtos de luxo e devido ao
elevado número de marcas que o comercializam. Também é interessante perceber que a
bolsa é um dos produtos que sofre maior variação em seus preços comparando-se com
suas similares de marcas comuns.
Este artigo organizou-se em cinco tópicos, além da introdução: o consumo de
luxo, valores e significados no consumo de produtos de luxo, metodologia, resultados e
conclusão.
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O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE
BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS
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2. O CONSUMO DE LUXO
Considerando as especificidades do mercado brasileiro e a evolução das camadas da
sociedade, Allérès (2000) e Castarède (2005) subdividem os bens de luxo em categorias
distintas, separadas de acordo com sua raridade, tipo de fabricação, preço e modelo de
comunicação. Quanto mais se utiliza a comunicação em massa, menos seletivo será o seu
público, favorecendo a banalização e pirataria, e perdendo seu prestígio (STREHLAU,
2008).
O Luxo Inacessível, também chamado de Produtos-Referência, pertencem às marcas
de maior prestígio, muito estáveis e até mesmo imutáveis. São peças únicas ou em número
muito limitado, destinadas à elite da população. Esses bens, geralmente, provêm do ofício
da arte, como alta-costura, ouriversaria, pintura, escultura, arquitetura e artesanato. Sua
comunicação é discreta.
O Luxo Intermediário, ou Produtos-Moda, são mais contemporâneos e menos
confirmados. Nesse nível encontram-se produtos sinônimos de elegância, refinamento e
bom gosto, que estão mais para derivações do alto luxo e primeiras extensões das marcas de
referência, tais como isqueiros (Cartier) e bolsas (Louis Vuitton). Possuem comunicação
e distribuição seletivas.
O Luxo Acessível, ou Sucedâneos, são produtos em série que compõem o universo do
luxo e que possuem uma melhor relação preço-qualidade. São formados por itens de menor
valor para aquisição, como vinhos, espumantes, acessórios esportivos e itens de perfumaria.
Sua distribuição é bastante aberta e sua comunicação é bem elaborada (ALLÉRÈS, 2000;
CASTARÈDE, 2005; GALHANONE, 2008; STREHLAU, 2008).
Este trabalho enfoca o consumo de bolsas de luxo, que está categorizado dentro da
categoria de luxo intermediário.
Dirigido a uma classe muito bem provida e desejosa de manter sua distinção social,
o luxo intermediário oferece produtos de excelente qualidade, difusão ampla, mas
controlada, preços mais acessíveis e comunicação muito seletiva. Suas estratégias de
marketing desenvolvem uma imagem de marca que corrobora com a raridade seletiva de
seus produtos como meio de gerar fidelidade entre seus compradores. A identidade de
um produto de luxo intermediário se baseia na criatividade e no conforto da imagem ou
no reconhecimento de sua marca. Marcas como Louis Vuitton e Celine utilizam-se dessa
estratégia (ALLÉRÈS, 2000).
A política de distribuição de produtos de luxo intermediário está estreitamente
correlacionada com o nível de raridade de seus bens. Os produtos de marroquinaria e
bagageria possuem uma estratégia de distribuição seletiva onde os modelos são vendidos
exclusivamente no circuito cativo de distribuição da marca ou os espaços reservados das
grandes lojas seletivas (ALLÉRÈS, 2000).
De acordo com Allérès (2008), o consumo preenche duas funções: satisfazer
necessidades pessoais, respeitando uma ordem hierárquica preferencial, e pertencer a
um grupo, isto é, situar-se socialmente. Esses dois níveis de atitude definem “estilos de
vida” diferentes.
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ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE
As palavras cultura e consumo possuem uma forte ligação, visto que o consumo
tornou-se a forma pela qual a sociedade passou a assimilar a própria cultura. Todo consumo
é cultural, pois envolve valores e significados partilhados socialmente. Tudo o que se
consome tem um significado cultural específico, através do qual o consumidor reproduz
seu sistema de relações sociais (SLATER, 2002, apud D’ANGELO 2006).
A aquisição de bens superiores, como os produtos de luxo, contribui para a
“demarcação de classes” e a competição pelos seus emblemas. Diferenciar-se por escolhas
de consumo é tentar atingir a maximização do rendimento distintivo por posses exclusivas
(ALLÉRÈS, 2000). Tal fenômeno já acontecia nas sociedades tradicionais do século XVII,
onde a utilização de algumas cores e determinados objetos era restrita por lei. Atualmente,
a distinção social pode ser obtida com o uso de uma marca, não é necessário ter nascido
com ela (STREHLAU, 2008).
Conforme Castarède (2005), a clientela do luxo apresenta características próprias.
Primeiramente, por dispor de recursos financeiros acima da média, e segundo, porque
suas motivações diferem das outras: “é necessário atender a seus desejos, e não a suas
necessidades, e atuar no plano tanto mental quanto material”.
Uma característica marcante no mercado do luxo é seu alto grau de internacionalização.
As empresas e suas marcas são conhecidas mundialmente no estrato social mais alto da
sociedade, criando uma espécie de “linguagem própria” entre esse grupo. Países como a
China, Rússia, Índia e Brasil estão sendo vistos como um importante mercado para tais
grupos empresariais (STREHLAU, 2008). Desde o ano 2000, o mercado de bens de luxo no
Brasil vem ganhando espaço no cenário mundial, com franco crescimento. (STREHLAU,
2008; CASTARÈDE, 2005; ALONSO, 2007).
Tal desempenho colocou o Brasil entre os dez maiores mercados mundiais
consumidores de produtos de luxo (ALONSO, 2007). Ele também é considerado o
segundo mercado mundial para bens de luxo, em termos de potencial de expansão,
representando 40% do mercado sul-americano desses produtos (GALHANONE, 2008).
Embora não haja comum acordo sobre os limites do mercado, de quando um produto
ou serviço pode ser considerado de luxo, um estudo listou as empresas que atuam no
setor de luxo no Brasil, em um total de 170 companhias, indicando que marcas de origem
brasileira estão mais presentes em hotéis, restaurantes e lojas (STREHLAU, 2008).
Castarède (2005) estima que o país pode conquistar participação importante em
diversas áreas do mercado de bens de luxo, dentre elas: o turismo de luxo, com seus
magníficos hotéis, principalmente na cidade do Rio de Janeiro; a joalheria, pois o país é um
dos maiores exportadores mundiais de pedras preciosas e possui grandes designers no ramo;
e a marroquinaria, graças às cores e à qualidade do couro brasileiro, que desempenhará
papel cada vez mais significativo na moda.
As empresas de luxo brasileiras são jovens se comparadas às europeias. Apesar disso,
em poucos anos, conseguiram desempenho surpreendente e expandiram seu negócio.
Utilizando como exemplo apenas três grupos de luxo genuinamente brasileiros (Fasano,
Daslu e H. Stern), geram 4.800 empregos formais diretos (mais do que 50% dos empregados
de todas as fábricas da Ford no Brasil – 9,2 mil, em fevereiro de 2004), mostrando que a
indústria nacional do luxo pode vir a colocar o país em outro estágio de desenvolvimento.
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O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE
BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS
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3. VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE PRODUTOS DE LUXO
Valores representam crenças partilhadas ou normas de grupo internalizadas pelos
indivíduos sobre a vida e os comportamentos aceitáveis (BLACKWELL, MINIARD e
ENGEL, 2001, apud SCARABOTO ET AL, 2006). Alonso (2007) afirma que existe uma
grande quantidade de definições sobre valores ajustadas ao objeto de estudo em que são
empregadas, entretanto, a maioria dessas definições são fundamentadas no conceito de
valores proposto por Rokeach (1973).
ENGEL, BLACKWELL e MINIARD (2001, apud D’ANGELO, 2004 e ALONSO,
2007) dividem os valores em culturais e pessoais. Os valores culturais definem o
comportamento “normal” em um grupo ou sociedade e são amplamente partilhados. Os
valores pessoais refletem as escolhas do indivíduo a partir dos valores sociais e do sistema
de valores a que está exposto.
Entre os estudos brasileiros acerca do comportamento dos consumidores de bens
de luxo, destacam-se o estudo de D’ANGELO (2004) acerca do consumo de vestuário e
joalheria de luxo, que identifica quatro valores fundamentais que orientam o consumo de
produtos de luxo no país: a qualidade intrínseca do produto, o hedonismo, a preocupação
com a aparência pessoal e a distinção.
•
•
•
•
Qualidade intrínseca: benefícios tangíveis apontados como preponderantes
na busca do luxo;
Hedonismo: o sentir-se bem e o prazer de todas as experiências de consumo;
Preocupação com a aparência pessoal: fundamental para a consecução de
objetivos profissionais e pessoais e garantia de bem-estar;
Distinção: comparações entre o consumo idealizado (ao qual procura se
associar) e o consumo indesejado (do qual procura se afastar).
Um estudo posterior proposto por SCABAROTO (2006), através de análise
quantitativa que sequenciou D’ANGELO (2004), destacou três valores pessoais no
consumo brasileiro de bens de luxo: valorização pessoal, qualidade e sofisticação.
•
•
•
Valorização pessoal: capacidade de proporcionar benefícios emocionais e
psicológicos aos consumidores, através de sensações, sentimentos e prazer
obtidos com a compra ou uso do produto;
Qualidade: os produtos de luxo são considerados um investimento, pois
envolve a aquisição de bens de ótima qualidade, design diferenciado, melhor
acabamento e maior durabilidade.
Sofisticação: os produtos expressam uma imagem sofisticada, demonstrando
o quanto o consumidor possui cuidados estéticos com seu visual, seu corpo e
seu vestuário. A habilidade e conhecimento necessários para saber valorizar
tais produtos é uma virtude dos detentores do “capital cultural”.
Kleine III e Kernan (1991, apud SCARABOTO ET AL, 2006, D’ANGELO, 2004)
conceituam significados como percepções ou interpretações de um objeto, conferindo-lhes
sentido. São inerentemente subjetivos, simbólicos e psicológicos, dependendo essencialmente
dos indivíduos que os atribuem.
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Apesar de ser muito redutor, se limitadas a essa única dimensão, as condutas do luxo
são indissociáveis dos afrontamentos simbólicos entre os homens (LIPOVESTSKY &
ROUX, 2005). Os artigos de luxo são comprados pelo que significam muito mais do que
pelo que realmente são (DUBOIS, 1995, apud SCARABOTO, ZILLES, RODRIGUEZ
& KNY, 2006).
Ao contrário dos valores, que não estão necessariamente explícitos nas interações
sociais, os significados são explícitos, pois existe um “rótulo” que os identifica (D’ANGELO,
2004).
Os significados encontrados no consumo de vestuário e joalheria de luxo, por D’Angelo
(2004), foram o prazer e a impulsividade. O prazer está ligado inclusive à sensação de
“recompensa”, e a impulsividade como “compensação emocional”. Tais significados,
extraídos dos relatos das experiências dos consumidores, não são necessariamente
associados às práticas desejáveis.
Scaraboto (2006) extrai três significados do consumo de luxo: hedonismo, adequação
e distinção.
•
Hedonismo: os produtos de luxo exercem fascínio sobre aqueles que os
consomem, podendo a aquisição ou uso de artigos de luxo serem rotulados
como a concretização de um sonho. São aspectos intangíveis e simbólicos
que proporcionam prazer, diversão, levantam o ego e o astral;
•
Adequação: os produtos de luxo atendem à necessidade de estar bem
apresentado nos meios social e profissional. Em ambientes no qual convivem
colegas e clientes de alto poder aquisitivo, o luxo é capaz de transferir uma
imagem positiva e conferir maior credibilidade. Para muitos, o consumo de
produtos de luxo acontece com tanta naturalidade (habitus), que não há
preocupação em fazer parte ou ser aceito em determinado círculo social;
•
Distinção: os produtos de luxo são capazes de melhorar a imagem de quem
os consome, conferindo conhecimento, desenvoltura cultural e elevando o
status dos indivíduos. Eles permitem que as pessoas se diferenciem no meio
em que convivem e em relação às demais pessoas.
Se o “rótulo” é a maneira pela qual se podem acessar os significados que as pessoas
atribuem, fica evidente que numa pesquisa qualitativa os significados são obtidos a partir
da explicação dos mesmos nos discursos dos entrevistados, seja em um questionamento
direto ou via análise conjunta do discurso (D’ANGELO, 2004).
Scaraboto (2006) afirma que há autores que atribuem mais poder aos símbolos e
imagens percebidos que aos produtos, durante o momento do consumo. A porção simbólica
dos produtos é determinante e pode ser a razão primária para a sua compra e uso. Dessa
forma, torna-se evidente a importância de estudar os aspectos simbólicos do consumo.
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O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE
BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS
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4. METODOLOGIA
Esta pesquisa tem caráter exploratório. Segundo Vergara (2005), a pesquisa
exploratória é realizada quando há pouco conhecimento acumulado e sistematizado em
relação a determinado tema. O estudo em questão visa identificar variáveis presentes no
consumo de bolsas de luxo por mulheres brasileiras.
A coleta e análise de dados podem vir de fontes primárias e secundárias. Os dados
primários são gerados pelo pesquisador a fim de solucionar o problema em pauta. Os
dados secundários são coletados para fins diferentes do problema em pauta, mas podem
ajudar a identificar, definir e desenvolver uma abordagem sobre o problema, formular uma
concepção de pesquisa adequada, responder a certas perguntas, testar algumas hipóteses
e interpretar os dados primários com mais critério (MALHOTRA, 2006).
Os dados primários podem ser quantitativos ou qualitativos quanto à sua natureza.
Enquanto a pesquisa quantitativa procura analisar estatisticamente os dados, à procura de
quantificá-los, a pesquisa qualitativa proporciona melhor visão e compreensão do contexto
do problema (MALHOTRA, 2006).
A metodologia para o estudo em questão utilizou uma abordagem qualitativa,
através de entrevistas em profundidade entre consumidoras de bolsas de luxo, residentes
em Fortaleza – Ceará, que foram analisadas por meio da técnica de discurso. As frases
importantes ou de impacto, discorridas durante as entrevistas, foram transcritas
literalmente. Os trechos das entrevistas foram utilizados como ilustração dos resultados
obtidos. Preservou-se a identidade das consumidoras entrevistadas, adotando nomes
fictícios, porém, tal fator não causa perda de sentido em nenhum momento.
A análise do discurso “investiga como o conteúdo é usado para o alcance de
determinados efeitos. Assim, é importante verificar a forma pela qual se diz alguma
coisa” (VERGARA, 2005 p.27). Entre suas principais características, podemos dizer
que ela permite reconhecer tanto o que está explícito quanto o que está implícito na fala
do entrevistado, não só o que se fala, mas como se fala. É uma interpretação do discurso
produzido por outros, logo é subjetiva e exige habilidade do pesquisador para intensificar
ou mitigar o que foi dito, observar aspectos comportamentais e registrar fatos relacionados
à situação estudada.
Uma importante característica da pesquisa qualitativa é que ela geralmente oferece
descrições ricas e bem fundamentadas, além de explicações sobre processos em contexto e
locais identificáveis. Ademais, como já citado, o método adotado é o mais adequado quando
existe pouco conhecimento acumulado e sistematizado (VERGARA, 2005). Por serem
feitas individualmente, as entrevistas em profundidade permitem uma melhor sondagem de
cada entrevistado, onde é possível descobrir sensações subjacentes como valores, crenças
e atitudes e obter compreensão detalhada sobre o comportamento (MALHOTRA, 2006).
Seguindo as orientações de Malhotra (2006), as entrevistas foram realizadas
individualmente, com perguntas que incentivam o respondente a falar abertamente de
suas relações de consumo. Apesar da utilização de um esboço predeterminado, a ordem
da formulação de perguntas acaba sendo influenciada pelas respostas do entrevistado.
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Malhotra (2006) diz ainda que a sondagem possui importância decisiva na obtenção
de respostas significativas. Para tal, usou-se a impessoalidade para alguns questionamentos,
com perguntas no estilo “O que você acha de uma mulher que...”, deixando as entrevistadas
mais à vontade para falar abertamente sobre determinadas perguntas que poderiam ser
constrangedoras se perguntadas diretamente.
Para definição das marcas representativas no mercado de bolsas de luxo, foi utilizada
a listagem proposta por D’Angelo (2001), relativa ao setor de adorno pessoal (vestuário
e acessórios). Também foi realizada, no mês de novembro de 2009, uma entrevista com
um especialista acerca do consumo de luxo no país. Nessa entrevista, tal listagem foi
analisada juntamente com o profissional especialista no segmento de bolsas, que separou
as principais marcas que possuem marroquinaria (bolsas e acessórios de couro) como seu
produto principal. A listagem (Quadro 1) foi formada pelas principais marcas mundiais
que trabalham no setor luxo e nenhuma marca brasileira foi considerada.
Quadro 1– Marcas de Luxo Internacionais Consideradas no Estudo. Elaborado pelos autores.
Segundo Malhotra (2006), os especialistas do setor são pessoas bem informadas
a respeito da empresa e do setor onde atuam, que podem ser encontrados dentro ou
fora da empresa, e ajudam a formular a pesquisa, através de insights e esclarecimentos.
Além disso, eles podem contribuir com informações valiosas acerca da modificação ou
reposicionamento de produtos existentes.
5. RESULTADOS
Em relação aos objetivos principais da pesquisa, as análises permitiram identificar
cinco valores e três significados presentes no consumo de bolsas de luxo. Os valores
identificados foram a qualidade intrínseca dos produtos, o conceito de atemporalidade dos
produtos e suas marcas, a estética e beleza que envolve as bolsas, a segurança e a distinção
que as marcas proporcionam. Os significados encontrados foram as sensações de poder
e recompensa envolvidas no consumo das bolsas. Os resultados são abordados a seguir.
O primeiro valor citado por todas as entrevistadas foi a qualidade intrínseca das
bolsas de luxo. Todas as respondentes afirmaram que um dos atributos que as pessoas mais
valorizam nesse acessório é sua qualidade, que está diretamente atrelada à durabilidade
do produto. As bolsas de luxo possuem melhor matéria-prima e acabamento, de forma
tangível e visível. Logo, para as entrevistadas, não somente o valor conceitual está atrelado
ao consumo de bolsas de luxo, elas são verdadeiramente melhores e por isso compensa
investir um alto valor para sua aquisição. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010
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O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE
BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS
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“(...) Eu compro bolsas dessas marcas porque elas não se acabam.” (Nair,
cerimonialista)
“(...) Eu valorizo o tempo de vida da bolsa. Já que é uma peça cara, é bom
que dure.” (Rebeca, estudante)
Uma das entrevistadas contou, com muita satisfação, a história de uma de suas bolsas
Louis Vuitton, comprada no ano de 1974. Ela relatou que há alguns anos, de tão gasta, sua
bolsa quebrou dois zíperes e ela resolveu levá-la a uma das lojas Louis Vuitton em Paris.
Chegando lá, sua bolsa foi tratada como uma verdadeira preciosidade. Como eles não
podiam consertar no exato momento, ofereceram-se para entregar o produto em domicílio.
Ao chegar a sua casa, na tarde seguinte, encontrou uma belíssima caixa embrulhada como
nova e sua bolsa reparada dentro do pacote. Os fechos estavam todos novos, somente na
alça havia sinais de desgaste. No conceito da entrevistada, este detalhe ajuda a tornar a
bolsa ainda mais valorizada.
Este valor também foi encontrado por D’Angelo (2004) em seu estudo sobre o
consumo de produtos de luxo. Atrelado ao valor qualidade, surge um novo valor não citado
nos produtos de luxo estudados por D’Angelo (2004), a atemporalidade.
As respondentes afirmaram que as bolsas antigas são tão ou até mais valiosas que
a última coleção. As consumidoras corroboram que esse conceito é tanto algo pessoal
como social e dizem que isso é notado pelas outras pessoas na sociedade e até entre os
vendedores das marcas de luxo. Uma delas afirma que, na Europa, os recepcionistas e
garçons de restaurantes refinados são treinados para reconhecer tais peças. Outros produtos
como roupas, calçados e perfumes possuem vida útil bem inferior ao que uma bolsa pode
obter. Logo, este valor não foi encontrado nos estudos de outros bens de luxo, como os
propostos por D’Angelo (2004) e Scabaroto et al (2006). “(...) A (bolsa) Louis Vuitton quanto mais velha mais chique.” (Nair,
cerimonialista)
“(...) e outro fator importante. Por exemplo, eu tenho uma Chanel
que eu comprei há três anos atrás e eu tenho certeza que essa bolsa
sempre vai continuar em alta e na moda.” (Rebeca, estudante)
Apesar de todas as entrevistadas serem brasileiras, as mesmas afirmaram que no Brasil,
usam-se bolsas de luxo pela moda, e compra-se por estação, referindo-se, no discurso, a
outras mulheres. Somente uma das entrevistadas, mesmo citando a atemporalidade das
bolsas, afirmou que realmente as compra por coleção ou estação. “(...) eu compro quando necessito. As brasileiras compram pela
moda.” (Nair, cerimonialista)
“(...) mas no Brasil valorizam a última coleção.” (Paola, empresária)
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MARLON BRUNO MATOS PAIVA, DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES, JOANA
ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE
Todas as consumidoras relataram que raramente compram suas bolsas de luxo no
Brasil. Elas aproveitam as viagens internacionais pra consumir tais produtos, principalmente
na Europa e nos EUA. Uma das entrevistadas afirmou que a marca Louis Vuitton traz
a sensação de “cidadãs globais”, onde você não faz parte de um país, mas do mundo.
Possivelmente, esta é a razão das mulheres inquiridas não se compararem às brasileiras.
O terceiro valor encontrado através da análise dos discursos foi a estética. As
consumidoras valorizam as bolsas de luxo porque além de seu real valor agregado e padrão
de qualidade, as bolsas apresentam uma aparência diferenciada e lançam as tendências
futuras. As principais palavras que definiram este valor são: design, beleza, elegância,
estilo e bom gosto.
“(...) depois que você se acostuma com um padrão de acabamento,
design, beleza, não dá pra usar as bolsas comuns.” (Paola, empresária) “(...) eu acho que se você já está com uma bolsa legal não é preciso
mais nada.” (Rebeca, estudante)
“(...) Eu tenho amigas que, quando chegam de viagem, põem tudo
em cima da cama e chamam as outras para ver as novidades que
trouxeram. Elas compram bolsas caras por que sabem que as amigas
vão se admirar.” (Paola, empresária)
Todas as respondentes afirmaram, em determinado momento da entrevista, a
importância da beleza destes produtos, porém houve divergências entre a necessidade de
complementos (como roupas ou sapatos) para utilização das bolsas. Uma das entrevistadas
afirmou que “menos é mais. A bolsa já é suficiente.” Porém, algumas delas afirmaram que
as bolsas de luxo reforçam a aparência e valorizam as roupas, e que devem ser utilizadas
com algo de qualidade compatível, “mesmo que seja jeans e t-shirt” – afirmou outra
consumidora. De toda forma, nota-se a importância estética das bolsas de luxo entre todas
as mulheres, independente de sua forma de utilização.
O valor segurança foi citado por todas as mulheres questionadas, de forma direta ou
indireta. Esse valor está intimamente relacionado à interação social e ao sentimento de
fazer parte de um grupo, no caso, a alta sociedade.
“(...) quando você está com uma bolsa dessas marcas, as pessoas te
olham diferente.” (Marina, odontologista)
“(...) as marcas de luxo potencializam a autoestima. A sociedade pede
isso. Em alguns momentos as pessoas têm que estar assim (utilizando
produtos de luxo). (Rebeca, estudante)
Ao perguntar se as respondentes acham que a marca torna o consumidor apto a
transitar em determinados locais que teriam dificuldade de estar sem o uso das marcas,
elas afirmaram:
“(...) As outras pessoas notam. (...) e te dão até passagem.” (Nair,
cerimonialista)
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O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE
BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS
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“(...) no Brasil não. As pessoas não se ligam. Mas na Europa, com
certeza. É um ingresso. Eu já cheguei a emprestar uma bolsa pra
uma amiga porque eu sabia que com a bolsa que ela estava ela não
ia entrar.” (Paola, empresária)
A maioria das respondentes corroborou que a marca em si é um dos fatores que mais
valoriza a bolsa de luxo. Apesar disso, quando o uso das mesmas se torna constante, isto se
torna um fator indiferente. Assim como na pirâmide da hierarquia de necessidades proposta
por Maslow, superadas as necessidades de segurança, aparecem as necessidades sociais e de
autoestima, o que atrela o valor segurança ao último valor extraído nesta análise: a distinção. “(...) as bolsas de luxo são valorizadas porque são algo que poucos
têm acesso.” (Silvia, socialite)
“(...) eu acho as outras (bolsas) meio cafonas. Eu percebo a distinção.”
(Paola, empresária)
D’Angelo (2004) afirma que o capital cultural desempenha um importante papel
na clivagem entre o consumo de luxo adequado e inadequado, e o define como o
conhecimento dos detalhes e peculiaridades dos produtos de luxo, tanto na capacidade de
analisar suas especificidades técnicas quanto estéticas superiores e tecnologia empregada.
Uma das respondentes afirma que para se reconhecer bons produtos é necessário viajar
muito, ver muito e, diz que, no Brasil, 90% das pessoas não reconhecem uma imitação.
Outra entrevistada corrobora dizendo que quem tem bom gosto reconhece um bom
produto no olhar. Ao serem questionadas sobre a transferência de atributos da bolsa de
luxo para as pessoas que as usam, elas responderam:
“(...) Eu acho que (os atributos) ficam... a pessoa é notada como
possuidora de uma boa qualidade, ou bonita, ou valiosa, assim como
a bolsa”. (Paola, empresária)
“(...) os acessórios de luxo são referenciais de classe e elegância,
diferenciação.” (Silvia, socialite)
Encerrada a exposição dos valores atribuídos no consumo de bolsas de luxo por
mulheres brasileiras, apresentam-se agora os significados extraídos da análise.
O primeiro significado facilmente percebido na análise do discurso das entrevistadas
foi a sensação de poder que o consumo dessas bolsas carrega. Nem todas as respondentes
explicitaram tal sensação, mas a conversa sempre levava a situações onde esse significado
estava implícito. A sensação de poder está intimamente ligada aos valores de segurança
e distinção e inicia desde a compra do produto nas lojas dessas marcas até o uso e a
transmissão de imagem que elas produzem.
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ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE
“(...) usando uma bolsa dessas, a mulher se sente poderosa, bonita.”
(Marina, odontologista)
Em relação à compra das bolsas, as consumidoras inquiridas afirmam:
“(...) entrar em uma dessas maisons das marcas de luxo te faz
sentir privilegiada, vivendo uma experiência que poucos têm a
oportunidade de viver, é tratada como só uma minoria pode ser.
(Paola, empresária)
“(...) se a mulher não for segura, ela se sentirá intimidada, pois
são avaliadas em detalhes mínimos. As vendedoras são experts em
estilo e reconhecem num primeiro olhar o tipo de cliente.” (Silvia,
socialite)
A tonalidade de voz das entrevistadas no momento dessas respostas deixava notável
o prazer que elas sentiam ao saber que podem entrar nesses estabelecimentos e serem
reconhecidas como parte de uma elite. Também é notável pelo tom de voz o desprezo
que algumas respondentes sentem em relação ao uso de falsificações. Uma delas contou
uma história acerca de ser abordada por uma pessoa em uma festa de casamento que
alegava que sua bolsa era falsificada. Ela contou que mostrou com prazer o certificado
de autenticidade que acompanhava sua bolsa Chanel e o inquisidor saiu envergonhado
de perto dela. A história é contada de maneira enfática e seu desfecho possui um tom
triunfante e superior.
O segundo significado extraído da análise das entrevistas foi o de autorealização. Este
remete à sensação de vitória das consumidoras ao sentirem que atingiram com sucesso
seus objetivos, hoje se consideram bem-sucedidas e, por isso, podem usufruir produtos
de maior valor agregado. “(...) eu compro por que eu sinto que mereço, que venci na vida.”
(Marina, odontologista)
“(...) cheguei a um ponto em que eu posso me mimar.” (Paola,
empresária)
A partir da análise, detectou-se que o preço, embora não influencie na decisão de
compra das consumidoras, é um elemento que simboliza a transição do sonho de consumo
à fase de autorrealização das mesmas. “(...) eu sei que hoje eu posso comprar.” (Marina, odontologista)
“(...) é caro, mas você acaba achando barato, pelo fato de você poder
pagar.” (Paola, empresária)
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O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE
BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS
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O significado recompensa, porém, não foi citado por todas as respondentes. Apesar
de todas as entrevistadas pertencerem à classe A, foi entendido que a idade e a profissão
influencia na visão de cada uma.
6. CONCLUSÃO
A pesquisa exploratória, a fim de encontrar os valores e significados presentes no
consumo de bolsas de luxo, extraiu cinco valores no consumo de bens originais, a saber:
qualidade, atemporalidade, estética, segurança e distinção e dois significados, poder e
recompensa.
Os valores e significados relativos ao consumo de bolsas de luxo podem ser assim
descritos:
• Qualidade: as bolsas de luxo são consideradas bens duráveis e verdadeiramente
melhores que bolsas “comuns”, o que justifica seu elevado custo de aquisição;
• Atemporalidade: no conceito das entrevistadas, as bolsas de luxo nunca saem
de moda e, as bolsas mais velhas são tão ou mais valorizadas que as bolsas da
última coleção;
• Estética: as bolsas de luxo transmitem elegância e bom gosto. Além disso,
possuem padrões de acabamento, design diferenciado e lançam as tendências
futuras;
• Segurança: o uso de tais produtos eleva a autoestima e permitem suas usuárias a
transitarem à vontade em determinados locais que percebem e, em determinadas
situações, exigem o uso de determinadas marcas;
• Distinção: utilizar produtos que poucos têm acesso gera sentimentos de
diferenciação e referencial de classe;
• Poder: aliado aos valores de segurança e distinção, o consumo de bolsas de
luxo transmite uma imagem de poder e superioridade. O poder está associado
à sensação de prazer e orgulho;
• Recompensa: consumir tais produtos gera sentimentos de euforia e vitória, como
sucesso pessoal e profissional, significando que a consumidora venceu na vida.
Tais descobertas podem servir para manutenção do portfólio de consumidores de
marcas de luxo, objeto de interesse para os gestores de tais marcas. Apesar de o estudo
remeter somente a marcas internacionais, produtores nacionais que atuem no ramo de
marroquinaria podem utilizar tais informações para inserir-se ou firmar-se no mercado de
bens de luxo intermediário, principalmente pelo potencial de crescimento de tais produtos
no país. A análise dos dados da pesquisa indicou que:
• A qualidade intrínseca dos bens de luxo é de vital importância para este segmento,
assim como a manutenção da branding, firmando as marcas como atemporais;
• A originalidade e design presentes nos produtos formam seu diferencial. Logo,
marcas brasileiras não devem buscar imitar as marcas europeias, mas desenvolver
seus próprios padrões de autenticidade e reconhecimento;
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ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE
•
Os significados de poder e recompensa podem ser úteis na definição de estratégias
de marketing, publicidade e propaganda.
Algumas implicações são sugeridas para as marcas de luxo internacionais:
• Visando atingir o significado percebido pelas consumidoras, ações publicitárias
podem ser focadas na sensação de vitória, “Eu mereço!”;
• A quantidade de consumidoras de bolsas de luxo em Fortaleza viabiliza a abertura
de pequenas lojas próprias ou dentro de outras lojas consideradas de alto nível
na cidade.
A principal limitação do estudo refere-se ao caráter exploratório da pesquisa, que
impede realizar generalizações.
Entre outras questões investigativas e possibilidades de desenvolvimento de estudos,
sugerem-se: Análise quantitativa entre os valores e significados percebidos no consumo
de bolsas de luxo originais; Análise quantitativa entre os valores e significados percebidos
no consumo de imitações e falsificações de bolsas de luxo; Comparação entre os valores
e significados percebidos no consumo de bolsas de luxo por região demográfica do país;
Comparação entre os valores e significados percebidos no consumo de bolsas de luxo
entre países, em especial uma comparação Brasil x Europa; Estudo envolvendo somente
as marcas mais citadas nas entrevistas – Louis Vuitton, Chanel e Dior; Estudo sobre a
preferência de marcas de luxo internacionais a marcas nacionais; Estudo envolvendo as
marcas de bolsas de luxo brasileiras; Estudo sobre branding e atemporalidade das marcas.
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Data de recebimento: 28/05/2010
Data de aprovação: 20/06/2010
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COMPORTAMENTO EM RELAÇÃO AO DINHEIRO: O CASO
DOS MICROEMPRESÁRIOS DO ESTADO DO CEARÁ
Behavior in relation to money: The case of microentrepreneurs of the State of
the Ceará
Polyana Ximenes
[email protected]
Samuel Façanha Câmara
[email protected]
Elias Pereira Júnior
[email protected]
RESUMO
Entender o significado do dinheiro para os indivíduos propicia uma melhor compreensão
de como os fenômenos econômicos afetam a vida das pessoas e, por sua vez, como o
comportamento destas pode influenciar na economia como um todo. As pesquisas sobre
o significado do dinheiro para os indivíduos têm avançado nos últimos anos, buscando
delimitar a estrutura cognitiva deste construto e variáveis a ela relacionadas. Este trabalho
busca compreender as atitudes dos indivíduos, como empresários, em relação ao dinheiro,
utilizando a Escala Ética do Dinheiro de Tang (1992), além de tentar verificar qual o significado
do dinheiro sobre diferentes fatores que identificam características comportamentais desses
indivíduos, tais como: obsessão, poder, orçamento, realização, avaliação, ansiedade, retenção
(avareza) e não generosidade. Através de um teste empírico aplicado em microempresários
foi possível demonstrar qual o verdadeiro significado do dinheiro.
ABSTRACT
To understand the meaning of the money for the individuals appeases a better comprehension
of how an economical phenomena affects people’s life and, thereby, how their behavior exerts
influence in the whole economy as a system. Several researches focused on the individuals’
significance of money have been advancing along the last years. They aim to delimit this subject’s
cognitive structure and its related variables as well. Thus, this research has as purpose to perceive
the individuals’ attitudes, as entrepreneurs, considering their relationship with money. It was
applied Tang’s Ethical Scale of Money (1992). The study also verified the meaning of the money
from the point of view of different variables able to identify in those individuals’ behavior,
characteristics such as: obsession, power, budgeting, abilities, accomplishment, evaluation,
anxiety, retention (greed) and a lack of generosity. The research was carried out through the
application of an empiric test in small entrepreneurs when it was possible to demonstrate the
true meaning of the money.
1. INTRODUÇÃO
As Finanças Comportamentais são um ramo do estudo de finanças que tem
como objetivo a revisão e o aperfeiçoamento do modelo econômico-financeiro atual,
incorporando conceitos provenientes da Psicologia e da Sociologia para explicar as decisões
financeiras dos indivíduos (MILANEZ, 2003).
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POLYANA XIMENES, SAMUEL FAÇANHA CÂMARA E ELIAS PEREIRA JÚNIOR
Conforme Arend e Cário (2003), as Finanças Comportamentais procuram explicar
comportamentos irracionais por parte dos indivíduos em relação ao seu dinheiro, baseada
na ideia de que os indivíduos estão sujeitos a vieses comportamentais que, muitas vezes,
os afastam de uma decisão pautada na racionalidade.
Portanto, as Finanças Comportamentais surgem como uma tentativa de aperfeiçoar
o Modelo Moderno de Finanças, pela incorporação de estudos sobre o comportamento
e a irracionalidade do homem acerca das suas decisões sobre o dinheiro.
Os seres humanos são dotados de emoções e esta característica é verificada inclusive
no tocante à sua relação com o dinheiro (MEDEIROS, 2005), pois segundo o estudo
realizado por Kahneman em 1979, que consiste na Teoria do Prospecto, os indivíduos,
mesmo sendo investidores, têm forte apego a bens recebidos como herança, mesmo que
seja um grupo de ações que compõem uma pequena parte do seu portfólio, o que muitas
vezes influencia na decisão de se desfazer desses bens, mesmo sabendo da certeza em
receber grandes quantias.
Assim, verifica-se como os indivíduos não são racionais ao lidar com dinheiro em
diversas situações, contrariando a Teoria da Utilidade Esperada, que defende a preocupação
do investidor apenas com o nível final de riqueza (MEDEIROS, 2005).
Em relação ao processo de tomada de decisão pelo indivíduo quanto ao seu dinheiro,
verifica-se que geralmente regras de bolso são utilizadas para processar os dados. Este
processo nada mais é do que a simplificação necessária para chegar a decisões satisfatórias.
Assim, as pessoas, além de utilizarem regras de bolso para tomarem decisões, recorrem
geralmente àquelas que estão mais disponíveis do que outras, o que por si só já provoca
certo viés em um processo de escolha (YOSHINAGA, 2004).
Lim e Teo (1998) afirmam que pesquisas têm constatado que as pessoas que
vivenciaram dificuldades de ordem financeira mudaram o seu comportamento em relação
ao dinheiro sobre vários aspectos. Além disso, ficou constatado que indivíduos de diferentes
origens e com diferentes experiências de vida visualizam o dinheiro de forma diferente.
Reddy (1987) observou que as perspectivas e a maneira como os pobres gastam dinheiro
difere bastante em relação aos ricos.
Outros dois aspectos que segundo recentes pesquisas (FURNHAM, 1984; 1998)
influenciam bastante nas atitudes dos indivíduos em relação ao dinheiro são o gênero e o
lócus de controle. Lynn (1981) observou que os homens dão mais importância ao dinheiro
e têm uma maior preocupação com as questões financeiras.
No tocante ao lócus de controle, estudos como o de Lynn (1981) defendem que os
indivíduos diferem nas suas atitudes em relação ao dinheiro de acordo com seus perfis.
Segundo o autor, indivíduos que têm orientações internas acham-se responsáveis pelo que
acontece na sua vida, o que reflete na maneira com que tomam resoluções em relação ao
seu dinheiro quando comparados com indivíduos com orientação externa, pois já estes,
não se acham responsáveis diretos pelos acontecimentos em suas vidas.
Este trabalho tem como objetivo central verificar o comportamento de
microempresários em relação ao dinheiro a partir de questionamentos diretamente
relacionados a fatores que exprimem características comportamentais desses
indivíduos.
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COMPORTAMENTO EM RELAÇÃO AO DINHEIRO: O CASO DOS MICROEMPRESÁRIOS DO
ESTADO DO CEARÁ
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O presente trabalho está estruturado em cinco seções. A segunda seção trata da
revisão da literatura sobre a teoria de Finanças Comportamentais. A terceira seção
mostra os aspectos metodológicos utilizados. A quarta seção evidencia os resultados
empíricos. A quinta seção traz as considerações finais e recomendações para trabalhos
futuros.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 FINANÇAS COMPORTAMENTAIS
Contrariando os princípios formadores da Moderna Teoria das Finanças que
defendem que os agentes são racionais, avessos ao risco, e que utilizam a curva de
utilidade para maximizar seu bem-estar (HAUGEN, 1999), apresenta-se às denominadas
Finanças Comportamentais, discutindo e buscando explicar melhor alguns aspectos da
teoria financeira, dentre eles a racionalidade dos tomadores de decisões. As Finanças
Comportamentais têm mostrado que os tomadores de decisões percebem e dão valor às
alternativas de risco de maneira diferente uns dos outros, que a forma como percebem
o risco é significativamente díspar da forma racional defendida pelos modernistas, além
de outros aspectos que, devido à complexidade da natureza humana, estão sujeitos a
vieses comportamentais que, não poucas vezes os afastam de uma decisão pautada na
racionalidade (CASTRO JUNIOR e FAMÁ, 2002).
Os defensores da Moderna Teoria das Finanças são contrários aos argumentos
relacionados aos vieses de comportamento existentes entre os tomadores de decisões.
Segundo Bernstein (1997), nas situações de incerteza enfrentadas por tomadores de
decisões, faz-se extremamente necessário, que os indivíduos ajam com a razão, para que
assim, possam decidir-se da melhor forma. Afirmando ainda que os erros cometidos são
considerados aleatórios, não havendo a presença de vieses comportamentais.
Confrontando os pressupostos das Finanças Modernas, surge a Psicologia Cognitiva
considerando o processo de tomada de decisão permeado por influências de fatores não
triviais, como percepções, convicções e modelos mentais do próprio decisor, que acabam
interferindo nas suas escolhas. (MACEDO JR, 2003).
A partir da associação da Psicologia Cognitiva associada às tendências no processo de
tomada de decisão, surge as Finanças Comportamentais, procurando compreender como
os indivíduos pensam e decidem com relação ao seu dinheiro.
Para dar suporte a esta teoria, temos a Psicologia Cognitiva, procedente da década
de 1970, estudando o comportamento humano frente à tomada de decisões. A Psicologia
Cognitiva procura compreender o que ocorre com as operações da mente. Com base
nessas pesquisas, psicólogos, como D. Kahneman e A. Tversky aliaram a psicologia à
economia na tentativa de explicar algumas falhas presentes nas Finanças Comportamentais
(MEDEIROS, 2005).
As Finanças Comportamentais ainda são um dos ramos mais polêmicos do estudo
de Finanças, sendo contrária em muitos aspectos ao Modelo Moderno de Finanças,
que pressupõe que os agentes são racionais.
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POLYANA XIMENES, SAMUEL FAÇANHA CÂMARA E ELIAS PEREIRA JÚNIOR
Tal modelo, assim como qualquer outro, é uma tentativa de representação da realidade,
quando esta se apresenta demasiadamente complexa. Neste caso, faz-se necessário a
formulação de hipóteses e aproximações com o intuito de simplificar o todo que o modelo
pretende representar, sem que isso prejudique sua fidelidade em relação ao mundo real.
Uma das hipóteses mais resistentes do Modelo Moderno de Finanças é a ideia de que o
homem (Homo economicus) é um ser perfeitamente racional que, no processo de tomada
de decisão, é capaz de analisar todas as informações disponíveis e considerar todas as
hipóteses para a solução do problema (HALFELD e TORRES, 2001).
Essa hipótese, apesar de sua força, contradiz os resultados de diversos estudos realizados
por psicólogos e psicanalistas de todo o mundo, que concluem que a racionalidade não é o
centro ou a diretriz do pensamento humano (HALFELD e TORRES, 2001). As Finanças
Comportamentais surgem nesse cenário como uma tentativa de aperfeiçoar o Modelo
Moderno de Finanças.
O campo de estudo das finanças comportamentais consiste na identificação de como
as emoções e os erros cognitivos podem influenciar o processo de decisão dos indivíduos
e como esses padrões de comportamento podem acarretar mudanças no mercado.
De acordo com Halfeld e Torres (2001), o homem das Finanças Comportamentais não
é totalmente racional. Essa normalidade implica um homem que age, freqüentemente, de
maneira irracional, que tem suas decisões influenciadas por emoções e por erros cognitivos,
fazendo com que ele entenda um mesmo problema de formas diferentes, dependendo
da maneira como é analisado. As decisões tomadas de acordo com a formulação de um
problema podem levá-lo a decisões distintas e como consequência, resultar em implicações
econômicas relevantes.
Nas finanças comportamentais, um dos aspectos mais analisados, em relação ao
comportamento dos indivíduos é que suas decisões diferem bastante de indivíduo para
indivíduo, pois as percepções em torno de uma situação são vistas de diferentes prismas
(WEBER; HSEE, 1998).
Assim, as decisões e as relações dos indivíduos com o dinheiro também diferem.
Além disso, estudos anteriores constataram que, no que tange à organização do dinheiro
(orçamento), os indivíduos demonstram pouca racionalidade. Tang (1992) analisou em
seu estudo sobre a escala do dinheiro, diferentes aspectos em relação às atitudes das pessoas
com o dinheiro e os agrupou primeiramente em três categorias: a) atitudes positivas e
negativas em relação ao dinheiro, que é um componente afetivo; b) diferentes ideias e
crenças sobre dinheiro, que é um componente cognitivo; c) orçamento, onde o dinheiro
é utilizado como um componente comportamental.
Atualmente, verifica-se um aumento das pesquisas voltadas ao comportamento das
pessoas em relação ao dinheiro. Grande parte desse interesse decorre da conscientização da
importância do dinheiro ser analisado como atributo diferenciador do indivíduo e como
agente de influências no trabalho, na motivação, nas atitudes e nas ações (MITCHELL;
MICKEL, 1999). Esse interesse em relação às atitudes voltadas ao dinheiro é bem refletido
na emergente literatura que aborda o tema em comento, devido ao interesse em saber
como os indivíduos veem o dinheiro, qual a sua relação com ele e qual a sua importância
na vida das pessoas.
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COMPORTAMENTO EM RELAÇÃO AO DINHEIRO: O CASO DOS MICROEMPRESÁRIOS DO
ESTADO DO CEARÁ
111
Segundo Abelson e Prentice (1987), as maneiras pelas quais os indivíduos definem as
suas relações com seus pertences materiais, refletem as suas gerais crenças e valores sobre
dinheiro, que normalmente são influenciadas por experiências passadas.
Diante disso, expomos que a presente pesquisa será feita com microempresários, e tem
como propósito final chegar a uma conclusão sobre a existência de diferenças nas atitudes
em relação ao dinheiro dentre aqueles que passaram ou não por dificuldades financeiras.
Além disso, analisaremos se existem diferenças concernentes ao gênero e à faixa etária dos
indivíduos no tocante às suas relações com o dinheiro.
Dentro do tema abordado, a investigação também buscará avaliar de que forma estes
relacionamentos influenciam o comportamento das pessoas. Nesse caso, tender-se-á a
compreender como as características individuais estabelecem cada tipo de comportamento.
Entende-se, assim, que a verificação de como os indivíduos se relacionam com o
dinheiro, demonstrará se existem diferenças significativas de indivíduo para indivíduo.
Além disso, poderá ser constatado se essas relações caracterizam certos perfis que poderão
ser agrupados para posterior caracterização.
A importância da presente pesquisa se dá pelo fato de que proporcionará uma visão
de como o microempresário administra o seu orçamento, constatando a eficiência e a
eficácia da sua gestão, além de proporcionar conhecimento acerca das carências dos
microempresários e consequentemente abrindo portas para a concessão de investimentos
por parte dos bancos de fomento, como forma de viabilização das políticas públicas voltadas
ao desenvolvimento da economia.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
A presente pesquisa é de natureza aplicada e de cunho quantitativo, pois as informações
de origem qualitativa, adquiridas através da investigação da opinião dos pesquisados
foram transformadas em dados numéricos. Estes foram tratados através de software de
análise estatística para gerar conhecimento sobre o universo local de microempresários
da cidade de Fortaleza. Em relação ao seu objetivo, a pesquisa pode ser classificada como
descritiva, já que visa apresentar as características de uma população determinada (SILVA;
MENEZES, 2001).
Do ponto de vista dos procedimentos técnicos de investigação, foram utilizadas
pesquisas bibliográficas, principalmente material referente ao estudo das finanças
comportamentais, além de levantamento, através da interrogação direta às pessoas cujo
comportamento se deseja conhecer (SILVA; MENEZES, 2001)
Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado um questionário survey,
seguindo a escala de valor do dinheiro de Lim, Teo e Loo (2003). Essa escala já é um
refinamento de outras escalas do gênero e capturam, inclusive, diferentes aspectos
das atitudes dos indivíduos em relação ao dinheiro que não haviam sido capturadas
por outras escalas, como a distinção entre os construtos Avareza e Orçamento (LIM;
TEO; LOO, 2003).
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Assim, o questionário apresentou trinta e uma questões que foram divididas nos oito
construtos a seguir (LIM; TEO; LOO, 2003):
•
OBSESSÃO, representando a preocupação dos indivíduos com pensamentos
sobre dinheiro;
•
PODER, representando a crença das pessoas que dinheiro é uma fonte de
poder;
•
ORÇAMENTO, que se refere à habilidade de usar dinheiro prudentemente
ou economizá-lo;
•
REALIZAÇÃO, representando a percepção dos indivíduos de que o dinheiro
é indicador de sucesso;
•
AVALIAÇÃO, referindo-se à utilização do dinheiro como meio de
comparação com os outros;
•
ANSIEDADE, que reflete a inquietude do indivíduo ao relacionar-se com
o dinheiro;
•
AVAREZA, referindo-se à tendência patológica de reter dinheiro;
•
NÃO GENEROSIDADE, que reflete a não propensão dos indivíduos a
doarem dinheiro à caridade.
Foi utilizada Análise Fatorial, por ser uma técnica estatística, que busca, através da
avaliação de um conjunto de variáveis, a identificação de dimensões de variabilidade comuns
existentes em um conjunto de fenômenos; o objetivo maior nesse tipo de análise é desvendar
estruturas subsistentes, mas que não são observáveis sem um tratamento estatístico. Cada
uma dessas dimensões de variabilidade comum recebe o nome de construto. Dessa forma,
tentaremos descrever um conjunto de variáveis originais através da criação de um número
menor de dimensões ou construtos.
A partir da interpretação dos fatores, foi possível a identificação da existência de
parâmetros na Análise Fatorial, que foram relacionados com os construtos das variáveis
apresentadas. Desses relacionamentos, obtivemos as cargas fatoriais.
Além da matriz de correlação, foram utilizados outros dois testes que nos permitiram
avaliar se os dados originais viabilizariam a utilização da Análise Fatorial de forma satisfatória.
Foi realizado o teste de Kayser-Meyer-Olkin (KMO), que indica o grau de explicação dos
dados a partir dos construtos encontrados na Análise Fatorial.
O outro teste utilizado foi o de esfericidade de Barlett, que indica se existe relação
suficiente entre os indicadores para a aplicação da referida análise. Para que fosse possível a
aplicação da Análise Fatorial, observou-se o valor de Sig. (teste de significância), para que o
mesmo não ultrapassasse 0,05.
Além disso, também foi procedida a verificação da confiabilidade por meio do coeficiente
Alpha de Cronbach. No questionário utilizado, o construto Obsessão foi representado por
sete questões, o construto Poder por cinco questões, o construto Orçamento e Realização
por quatro questões, os construtos Avaliação, Ansiedade e Avareza por três questões e o
construto Não generosidade por duas questões.
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O questionário também contou com um item sobre o gênero do respondente, além de
um item sobre o ano de nascimento, um item sobre o estado civil, um item sobre a existência
de filhos e, por fim, um item sobre a quantidade de filhos do respondente.
As respostas variam numa escala Likert de sete níveis, que são ‘discordo totalmente’,
‘discordo quase totalmente’, ‘discordo parcialmente’, ‘não discordo, nem concordo’, ‘concordo
parcialmente’, ‘concordo quase totalmente’, ‘concordo totalmente. A escala representa o
quanto o pesquisado aceita ou não cada uma das 31 questões.
O questionário foi aplicado entre microempresários varejistas do centro de compras
do Mercado Central de Fortaleza/CE, na qual é composto por 550 lojas aproximadamente,
algumas dessas, possuem donos coexistentes e está localizado no centro histórico da cidade,
sendo uma das principais opções de compras no tocante ao artesanato local e produtos
alimentícios regionais. O tamanho da amostra utilizada foi de 88 microempresários.
Após a aplicação dos questionários, os dados foram analisados no software SPSS 15.0 para
tratamento e obtenção de informações suficientes para conclusões acerca de conhecimentos
úteis no estudo comportamental das finanças em relação aos microempresários cearenses.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
No universo pesquisado, a distribuição conforme o sexo ficou bem equilibrada, na
qual 51,1% dos respondentes pertencem ao sexo masculino e 48,9% ao sexo feminino. A
faixa etária entre os pesquisados ficou compreendida entre 20 e 80 anos de idade. Quanto
ao estado civil, a maioria dos respondentes eram casados (75,00%), seguido de solteiros
(15,92%), separados (04,54%) e viúvos (04,54%).
4.2. ANÁLISE DOS CONSTRUTOS
Para análise dos fatores, realizou-se o teste KMO, em que o resultado foi considerado
significante, tendo as respostas dos participantes normalmente distribuídas. Vale ressaltar
que o valor ficou praticamente no limite sugerido por Hair et al. (1998), que é de 0,5.
Os testes de KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) e de esfericidade de Barlett mostram que a Análise
Fatorial pode ser aplicada ao conjunto de dados das variáveis de atitudes em relação ao
dinheiro, evidenciando que existe correlação entre as variáveis estudadas (FIGURA 1).
KMO and Bartlett´s Test
Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling
Adequacy
.509
Bartlett´s Test of Approx. Chi-Square
Sphericity
df
Sig.
720.869
351
.000
Figura 1 – Teste de KMO e esfericidade.
Fonte: Dados da pesquisa (figura extraída do SPSS).
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Realizou-se também a verificação da confiabilidade por meio do coeficiente Alpha
de Cronbach para cada um dos construtos. O resultado da análise foi um valor de 0,721,
o que garante a confiabilidade da amostra, já que ficou acima do mínimo recomendado
na literatura especializada.
O resultado da Análise Fatorial revelou, pelo critério de explicação da variância total
dos dados considerados, que as questões se agruparam em 12 construtos, que neste caso
explicam conjuntamente 72,30% da variância total.
Com relação aos 12 construtos extraídos para análise de um total de 31 variáveis que
mensuravam as tendências de atitudes em relação ao dinheiro, quatro construtos foram
considerados como os mais relevantes, devido ao fato de explicarem mais individualmente
a variância do que os demais.
Tomando por base a pesquisa realizada por Lim, Teo e Loo (2003), verificou-se que
em relação aos quatro primeiros construtos apontados, as variáveis agregadas guardam
relação semelhante com a pesquisa dos autores, corroborando aspectos da sua pesquisa.
Os construtos em comento são: Orçamento, Obsessão, Realização e Poder. O terceiro
construto num universo de doze construtos encontrados foi o que agregou a maior
quantidade de variáveis. Foram encontradas quatro variáveis relacionadas a ele.
Após a Análise Fatorial e escolha dos construtos considerados mais relevantes,
foram consideradas somente as variáveis mais importantes, ou seja, apenas aquelas em
que os coeficientes fatoriais foram acima de 0,5 (HAIR et al., 1998). Desta forma, foram
selecionados seis construtos dos doze apresentados pela Análise Fatorial (TABELA 1) e
analisados a seguir.
O Construto 1 foi nominado de “Orçamento” com a intenção de revelar
comportamentos agregados. As variáveis deste construto confirmaram o estudo que os
autores anteriormente citados defenderam. Segundo eles, pessoas com comportamento
propenso ao orçamento em relação ao seu dinheiro possuem as seguintes atitudes:
orgulham-se da sua capacidade em economizar dinheiro, controlar bem o seu dinheiro e
costumam gastar muito bem o seu dinheiro.
O Construto 2, foi denominado de “Segurança”, pois apresentou 3 variáveis
correlacionadas de dois construtos distintos (Obsessão e Ansiedade), estas variáveis não
mantiveram relação coincidente com o estudo de Lim, Teo e Loo (2003). A variável 10
trata a respeito dos indivíduos que sonham frequentemente com dinheiro e a variável
14 relaciona o sentimento de segurança que o dinheiro pode proporcionar, pois indaga
especificamente “se o indivíduo acha que ele só pode realmente contar com o dinheiro em
sua vida”. Essas variáveis estão relacionadas formando juntamente com outras o construto
“Obsessão”, nos estudos dos autores supracitados.
No entanto, a variável 31 indaga especificamente o seguinte: “comparado às outras
pessoas você pensa em dinheiro muito mais do que elas?” demonstrando uma sensação
de insegurança por parte dos indivíduos. Diante do exposto, a presente pesquisa concluiu
que a posse do dinheiro acarreta um sentimento de segurança por parte dos indivíduos.
O construto 3, que foi nominado de “Realização 1”, apresentou quatro variáveis
correlacionadas, coincidindo em três dessas variáveis com um resultado encontrado pelos
autores supracitados (variáveis 2, 6 e 29).
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No entanto, encontrou-se outro construto, denominado “Realização 2”, que possui
duas variáveis, que complementam o construto denominado “Realização 1”, tais variáveis
mostram a relação entre o poder de realização do dinheiro e a capacidade de ganhá-lo.
Nessas variáveis, encontraram-se traços de comportamentos e de pensamentos como:
o dinheiro é visto como sucesso; a quantidade de dinheiro auferida por um indivíduo
denota a sua habilidade e o seu esforço despendido; o dinheiro está diretamente ligado às
realizações do indivíduo; o salário de uma pessoa revela o quanto ela é inteligente e, por
último, que o dinheiro pode resolver os problemas de uma pessoa.
O construto 4 relaciona variáveis coincidentes em relação às descritas pelo estudo
em comparado. O construto em questão foi nominado “Poder” e relaciona atitudes como:
o dinheiro é significado de poder, o dinheiro pode dar a você muitos amigos, você faria
qualquer coisa, desde que não fosse ilegal, para conseguir dinheiro.
1 – ORÇAMENTO
Variáveis
9 - Eu me orgulho de minha capacidade em economizar dinheiro.
Coeficientes Fatoriais
0,6931
16 - Eu controlo meu dinheiro muito bem.
0,8334
26 - Eu gasto meu dinheiro com muito cuidado.
0,7704
2 – SEGURANÇA
Variáveis
10 - Frequentemente eu sonho com dinheiro e sobre o que eu poderia
fazer com ele.
14 - Eu sinto que o dinheiro é a única coisa com a qual eu posso
realmente contar.
31 - Comparado às outras pessoas, eu penso em dinheiro muito mais
do que elas.
Coeficientes fatoriais
0,5105
0,7431
0,7475
3 - REALIZAÇÃO 1
Variáveis
2 - Eu acredito que a quantidade de dinheiro ganho por uma pessoa
está intimamente relacionada com a sua a habilidade e esforço.
6 - Dinheiro é símbolo de sucesso.
Coeficientes fatoriais
11 - Eu às vezes contribuo para caridade.
0,6177
29 - Dinheiro representa uma das realizações.
0,6205
0,6261
0,8005
10 - REALIZAÇÃO 2
Variáveis
8 - Eu realmente acredito que o dinheiro pode resolver todos os meus
problemas.
22 - Eu acredito que o salário de uma pessoa revela muito sobre o
valor de sua inteligência.
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Coeficientes fatoriais
0,5724
0,8360
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4 – PODER
Variáveis
Coeficientes fatoriais
13 - Dinheiro significa poder.
19 - Desde que não fosse ilegal, eu faria praticamente qualquer coisa
por uma boa quantia de dinheiro.
20 - O dinheiro pode dar a você muitos amigos.
0,5796
0,5590
0,7788
7 – RETENÇÃO
Variáveis
21 - Mesmo tendo dinheiro suficiente, muitas vezes sinto-me culpado
em gastar dinheiro em coisas tais como roupa.
28 - Muitas vezes digo “Não tenho dinheiro para comprar isso”
independente de ter ou não o dinheiro.
Coeficientes fatoriais
0,5229
0,6649
Tabela 1 – Variáveis por construto
Fonte: dados da pesquisa.
Na presente pesquisa, as variáveis relacionadas ao sétimo construto também
apresentaram relação na pesquisa realizada por Lim, Teo e Loo (2003), só que no estudo
dos autores havia três variáveis relacionadas ao mesmo construto que eles denominaram
de “Retenção” (variáveis 7, 21 e 28).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise do comportamento financeiro dos microempresários, pode-se
perceber que a atitude do indivíduo em relação ao dinheiro difere de acordo com o contexto
em que se encontra, já que alguns dados encontrados na pesquisa contrariam estudos
realizados em outros países com indivíduos de culturas diferentes.
Pode-se observar que divergências nos traços característicos do comportamento dos
indivíduos, principalmente no tocante ao construto “Segurança” nomeado pelo presente
estudo, possibilitou a verificação que, incertezas relativas à situação financeira do indivíduo,
somadas a possíveis instabilidades econômicas do país, podem desencadear um sentimento
de busca por “segurança”, pautado na inviabilidade de sobrevivência digna sem a posse de
recursos pecuniários na sociedade contemporânea. Isso indica que o contexto em que os
microempresários cearenses viveram e as emoções que passaram influenciam diretamente
no comportamento financeiro do indivíduo.
Este estudo permitiu verificar que os fatores que compõem o comportamento financeiro
do indivíduo são influenciados pelas características da época em que vivem, sejam elas
econômicas ou sociais.
Trabalhos futuros poderiam investigar a relação do período econômico a que o indivíduo
pertence e o seu relacionamento com o dinheiro tomando por base a conjuntura econômica
vivenciada, podendo ser feita uma analogia com a Teoria dos Ciclos Econômicos de Schumpeter.
Outro estudo poderia abordar a existência de diferenças entre faixas etárias e a sua relação com o
dinheiro, como também as diferenças de gênero, a partir dos fatores arrolados.
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Data de recebimento: 05/04/2010
Data de aprovação: 15/05/2010
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