Revista 2010 - Faculdade Farias Brito
Transcrição
Revista 2010 - Faculdade Farias Brito
usiness Ano VII – Nº 8 – Dezembro de 2010 Conselho Editorial Andreia Maria de Senna Marques, M.Sc. FFB Danielle Miranda de Oliveira Arruda, Dra., Unifor Francisco Correia de Oliveira, Dr., Unifor Juliana Vieira Correia Carneiro, M.Sc. FFB Olga Melissa Moreira Prado, M.Sc. FFB Sérgio Barbosa Elias, M.Sc. FFB Raimundo Roberto Nobre Pinho, M.Sc. FFB Sérgio Carvalho, PhD, University of Manitoba, Canadá Everton Correia Chaves, Dr., FIC Supervisão Editorial: Raimundo Roberto Nobre Pinho Assistente Editorial: Cinthia Venâncio Projeto Gráfico: Daniel de Paiva Silva Impressão: Gráfica FB Revisão: Tony Sandro Sales Francisco Diego Cordeiro Gomes Os textos são de inteira responsabilidade de seus autores. A Revista FFBusiness comunica aos seus colaboradores que os artigos a serem submetidos à seleção deverão ser enviados somente por meio eletrônico, através do e-mail: [email protected], que possui fluxo contínuo de recebimento de artigos. usiness © Distribuição: Rua: Local: Cep: Fones: Fax: e-mail: Faculdade Farias Brito Coordenação do Curso de Administração e Marketing o Castro Monte, 1364 – 2 andar Fortaleza-CE 60175-230 (85) 3486.9090 e 3486.9003 (85) 3267.5169 [email protected] rganização Editorial: Raimundo Roberto Nobre Pinho O Capa: Gráfica FB Tiragem Mínima: 500 exemplares ISSN 1679-723X Ficha Catalográfica FFBusiness: revista dos cursos de administração e marketing / Faculdade Farias Brito. v. 1, n.1 (jan. a jul.) – Fortaleza: Faculdade Farias Brito, 2003 – Semestral (2003 – 2005), Anual (2006 –) ISSN 1679-723X 1. Administração de Empresas – Periódico. 2. Marketing – Periódico. I. Título CDD-658.05 EDITORIAL Caro leitor, A oitava edição da Revista FFBusiness, com uma série de melhorias tanto físicas quanto virtuais, expressa o firme propósito da Organização Farias Brito, por meio da Faculdade Farias Brito – Curso de Administração e Marketing, de contribuir para o debate e análise teórico-metodológico relacionado ao campo dos estudos da Administração, disseminando artigos científicos. Expressando a amplitude dos temas de interesse da pesquisa nas Ciências da Administração, esta edição é premiada com cinco inéditos artigos nas áreas de Tecnologia da Informação, Marketing, Estratégia e Finanças. O primeiro artigo, “Descrição do Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação de Fortaleza Considerando as Relações entre seus Agentes: um Foco nas Organizações Associativas”, de autoria de Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara traz uma descrição do Arranjo Produtivo Local (APL) de Tecnologia da Informação de Fortaleza, capital do Estado do Ceará – Brasil, ao proceder à identificação dos principais agentes envolvidos, bem como suas respectivas características e relações. Apresenta-se, assim, como instrumento para apontar caminhos mais efetivos de integração estratégica do setor, além de referencial para outros estudos, proporcionando o balizamento para discussões referentes à avaliação, elaboração e implementação de relações colaborativas entre os diversos agentes de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do setor. O segundo artigo, “Avaliação dos Serviços Religiosos pelos Católicos”, de autoria de João Adamor Dias Neves, Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota, versa sobre as estratégias de marketing religioso utilizadas pela Igreja Católica em uma capital brasileira, permitindo traçar o perfil dos católicos e identificar as estratégias de marketing utilizadas para atrair e manter os fiéis, bem como avaliar os serviços religiosos entregues aos católicos pela Igreja Católica. O terceiro artigo, “Mapas Cognitivos e a Estruturação de Redes Sociais de Cooperação: O Caso RAME”, de Maria Eliene Soares de Sousa, Joana Ancila Pessoa Forte e Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes, foca a lente teórica sobre a realidade que se apresenta em um grupo de empresários de pequeno porte que, cooperando entre si nos processos de produção coletiva, captação de mercado, compras conjuntas, busca o crescimento e a sustentabilidade do empreendimento. Analisando os valores e significados presentes no consumo de bolsas de luxo por mulheres brasileiras, o quarto artigo, de autoria de Marlon Bruno Matos Paiva, Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes, Joana Ancila Pessoa Forte, Thiciane Mary Carvalho Teixeira e Alyne Oliveira do Vale, lança mais luz sobre o mercadão de luxo ao identificar cinco valores – qualidade, atemporalidade, estética, segurança e distinção – e dois significados – poder e recompensa – no consumo de bolsas de luxo. Fechando a edição, o artigo “Comportamento em Relação ao Dinheiro: O Caso dos Microempresários do Estado do Ceará”, de autoria de Polyana Ximenes, Samuel Façanha Câmara e Elias Pereira Júnior, busca compreender as atitudes dos indivíduos, como empresários, em relação ao dinheiro, utilizando a Escala Ética do Dinheiro de Tang (1992), além de tentar verificar qual o significado do dinheiro sobre diferentes fatores que identificam características comportamentais desses indivíduos, tais como: obsessão, poder, orçamento, realização, avaliação, ansiedade, retenção (avareza) e não generosidade. Entender o significado do dinheiro para os indivíduos propicia uma melhor compreensão de como os fenômenos econômicos afetam a vida das pessoas e, por sua vez, como o comportamento destas pode influenciar na economia como um todo. Editoria Sumário Descrição do Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação de Fortaleza Considerando as Relações entre seus Agentes: um Foco nas Organizações Associativas................................................................................ 11 Description of the Local Productive Arrangement of Technology of the Information of Fortaleza considering the relationships among their agents: a focus in the associative organizations Alexandre Gomes Galindo Samuel Façanha Câmara Avaliação dos Serviços Religiosos pelos Católicos...................................... 47 Evaluation of the Religious Services by the Catholics João Adamor Dias Neves Arley Rodrigues Bezerra Márcio de Oliveira Mota Mapas Cognitivos e a Estruturação de Redes Sociais de Cooperação: O Caso Rame . .................................................................................................... 73 Cognitive Maps and the Structuring of Cooperation Social Networks : The Rame Case Maria Eliene Soares de Sousa Joana Ancila Pessoa Forte Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes O Consumo de Luxo: Um Estudo sobre Valores e Significados no Consumo de Bolsas por Mulheres Brasileiras.................................................................. 91 Luxury Consumption: A Study of Values and Meanings in Bags Consumption by Brazilian Women Marlon Bruno Matos Paiva Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes Joana Ancila Pessoa Forte Thiciane Mary Carvalho Teixeira Alyne Oliveira do Vale Comportamento em Relação ao Dinheiro: O Caso dos Microempresários do Estado do Ceará............................................................................................107 Behavior in relation to money: The case of microentrepreneurs of the State of the Ceará Polyana Ximenes Samuel Façanha Câmara Elias Pereira Júnior Artigos 11 DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS Description of the Local Productive Arrangement of Technology of the Information of Fortaleza considering the relationships among their agents: a focus in the associative organizations Alexandre Gomes Galindo [email protected] Samuel Façanha Câmara [email protected] RESUMO: A Tecnologia da Informação (TI), entendida como elemento de suporte às ações e estratégias organizacionais, engloba em sua concepção aspectos que estendem seu conceito para além do simples uso de hardware e software no tratamento da informação. Ela abrange também o uso das telecomunicações, automação e recursos multimídia, utilizados pelas organizações, bem como incorpora as questões relativas ao fluxo de trabalho e pessoas envolvidas no fornecimento de dados, informações e conhecimento. Dentro dessa perspectiva, percebe-se que a TI pode ser usada como ferramenta de suporte organizacional ou ser considerada como o próprio objeto de negócio das empresas (Core Business). O objetivo deste artigo é descrever o Arranjo Produtivo Local (APL) de Tecnologia da Informação de Fortaleza, capital do Estado do Ceará – Brasil, procedendo à identificação dos principais agentes envolvidos, bem como suas respectivas características e relações. A pesquisa é de caráter exploratório-descritivo e amparou suas investigações no seguinte conjunto de métodos. Foi utilizada a aplicação de questionário com especialistas para identificar os Stakeholders de TI; consulta nos cadastros das entidades associativas geradoras de externalidades do setor para identificar as empresas de TI vinculadas; pesquisa documental, através do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ – das empresas associadas, para identificar suas naturezas e atividades econômicas e Survey com o propósito de identificar as características gerais inerentes ao conjunto de empresas que englobam o Núcleo Empresarial do Arranjo. A descrição das empresas do APL de TI de Fortaleza serve como instrumento para apontar caminhos mais efetivos de integração estratégica do setor, além de referencial para outros estudos, proporcionando o balizamento para discussões referentes à avaliação, elaboração e implementação de relações colaborativas entre os diversos agentes e de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do setor. PALAVRAS-CHAVE: Arranjos Produtivos Locais; Tecnologia da Informação, Fortaleza. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 12 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara ABSTRACT: The Technology of the Information (TI), understood as support element to the actions and organizational strategies, includes in its conception aspects that extend its concept for besides the simple hardware use and software in the treatment of the information. It also includes the use of the telecommunications, automation and resources multimedia, used by the organizations, as well as it incorporates the relative subjects to the work flow and people involved in the supply of data, information and knowledge. Inside of this perspective, it is noticed that can be used as tool of organizational support to TI or to be considered as own object of business of the companies. The aim of this article is to describe the Local Productive Arrangement of Fortaleza, capital of the State of Ceará – Brazil–, proceding to the main involved agents’ identification, as well as their respective characteristics and relationships. The research is of exploratory-descriptive character and it aided their investigations in the following group of methods. The questionnaire application was used with specialists to identify Stakeholders of TI; consults in the registers of the associative entities of the section to identify the companies of TI linked; documental researches, through the Register National of People Juridical – CNPJ – of the associated companies, to identify their natures and economical activities and Survey with the purpose of identifying the inherent general characteristics to the group of companies that they include the Business Nucleus of the Arrangement. The description of the companies of Local Productive Arrangement of Fortaleza serves as instrument to point more effective ways of strategic integration of the section, besides base for other studies, providing the elements for discussions regarding the evaluation, elaboration and implementation of cooperative relationships among the several agents and of public politics with directions to the development of the section. KEYWORDS: Local Productive Arrangement; Technology of the Information; Fortaleza. 1. INTRODUÇÃO A Tecnologia da Informação (TI), entendida como elemento de suporte às ações e estratégias organizacionais, engloba em sua concepção aspectos que estendem seu conceito para além do simples uso de hardware e software no tratamento da informação. Ela envolve aspectos humanos, administrativos e organizacionais, abrangendo também o uso das telecomunicações, automação e recursos multimídia utilizados pelas organizações, além de incorporar as questões relativas ao fluxo de trabalho e pessoas envolvidas no fornecimento de dados, informações e conhecimento (KEEN, 1993; LUFTMAN et al., 1993). Dessa forma, tanto o processo de codificação e uso de informação, quanto à infraestrutura necessária para o seu tratamento e manipulação são considerados elementos indissociáveis, interdependentes e fundamentais na dinâmica das organizações, conforme destacam Shapiro e Varian (1999). Dentro dessa perspectiva, a TI pode ser usada como ferramenta de suporte interno organizacional ou ser considerada como o próprio objeto de negócio (Core Business), na medida em que a empresa opta em especializar-se como fornecedora de conteúdo e/ou de infraestrutura informacional, envolvendo relações de concorrência e colaboração com outras empresas. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 13 Para Cassiolato e Lastres (1999), a emergência do paradigma das tecnologias da informação tem provocado forte impacto nas formas como vem se realizando o desenvolvimento industrial e tecnológico, onde a consolidação de relações cooperativas é considerada um dos traços característicos dos Arranjos Produtivos Locais, principalmente no que se refere ao envolvimento de pequenas e médias empresas. Sobre este aspecto, convém estar atento para o fato de que os estudos que buscam descrever as características das aglomerações produtivas especializadas (clusters, distritos industriais, ambientes inovadores, sistemas produtivos locais, redes, dentre outros) cumpram o papel de apresentar elementos que contribuam para a implementação de estratégias indutoras do crescimento e desenvolvimento. O presente estudo é de caráter exploratório-descritivo e tem o objetivo de descrever o Arranjo Produtivo Local (APL) de Tecnologia da Informação de Fortaleza, capital do Estado do Ceará – Brasil, procedendo à identificação dos agentes envolvidos, bem como de suas respectivas características e relações. A descrição baseou-se na identificação: i) dos principais Stakeholders relacionados com o APL em nove categorias; ii) dos vínculos entre as empresas em torno das principais instituições associativas em TI geradoras de externalidades e iii) das características gerais das empresas integrantes do Núcleo Empresarial do referido APL. Para a identificação dos Stakeholders de TI foi utilizada a aplicação de questionário com especialistas e posterior consolidação através de análise de consistência. A consulta aos cadastros e entrevistas com membros das entidades associativas geradoras de externalidades foram utilizadas para identificar as empresas de TI vinculadas e suas respectivas relações. A pesquisa documental foi utilizada, através do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ das empresas associadas, para identificar suas naturezas e atividades econômicas. Por fim, foi realizado Survey, através da aplicação de questionário, com o propósito de identificar as características das empresas do Núcleo Empresarial do APL. A relevância da análise dos dados apresentados nesse estudo está ancorada no fato de que as informações geradas, além de contribuirem para a produção de conhecimento sobre o tema, servem de balizadoras para estratégias de articulação mais efetiva entre os agentes envolvidos e de subsídio para elaboração de políticas de fomento e desenvolvimento do setor. 2. AGLOMERAÇÕES E ASSOCIAÇÕES EMPRESARIAIS Os estudos sobre aglomeração empresarial remontam ao final do século XIX, tendo nos trabalhos de Marshall (1985a; 1985b) as primeiras reflexões consistentes relacionadas com a importância e efeitos da concentração, em certos locais, de indústrias especializadas, como condição germinal para consolidação de sistemas produtivos. Conforme observado pelo referido autor, o agrupamento de agentes econômicos especializados dentro dos limites de uma determinada região proporciona vantagens significativas no que se refere à disponibilização de conhecimentos, instrumentos, matérias-primas, mão de obra, bem como da organização de atividades subsidiárias ao núcleo dos principais negócios, proporcionando a redução de custos e economia de escala. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 14 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara Sobre o ponto de vista das economias regionais, Cassiolato (1999) evidencia a importância do conhecimento de caráter local e das capacitações a ele vinculadas para o enfrentamento inerente aos processos de globalização e do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, cujos efeitos tornaram-se mais evidentes a partir das duas décadas finais do século XX. Para o referido autor, as tecnologias da informação e comunicação, ao invés de provocar uma homogeneização de “atividades globalizadas”, tendem a reforçar a importância das características locais, dando mais significado ao conhecimento tácito e acentuando a importância de processos locais de desenvolvimento tecnológico, de inovação e competitividade. A aglomeração empresarial, cujo termo está ancorado no contexto das redes sociais, envolve diversas formas de relacionamentos e atividades voltadas para a busca da inovação através da aprendizagem, aumentando o potencial competitivo, principalmente, das pequenas e médias empresas. As referidas aglomerações produtivas, cujo traço principal tem sido as relações de cooperação entre empresas de um mesmo segmento/setor econômico, assumem formatos e denominações diversas, como distritos industriais, clusters, arranjos produtivos locais (APL) ou sistemas produtivos locais (COSTA et al, 2006). Dentro desse contexto, vários agentes, como indivíduos, grupos e instituições, encontram-se em pleno processo de interação, sendo denominados de Stakeholders na medida em que seus objetivos são direta ou indiretamente afetados por uma organização (FREEMAN; REED, 1983). Consequentemente, conforme evidenciaram Donaldson e Preston (1995), a empresa é remetida a interagir com diversas categorias de Stakeholders como, por exemplo, o governo, investidores, empregados, fornecedores, clientes, grupos políticos, sindicatos e sociedade organizada. Britto (2000), ao focar a institucionalidade subjacente aos arranjos denominados de “distritos industriais”, vistos como desdobramento da análise originalmente formulada por Marshall (op. cit.), apresenta uma sistematização das possíveis relações em três níveis, considerando a posição central ocupada pelos principais agentes de produção. Enquanto o primeiro nível refere-se às “ligações para trás” das empresas centrais com seus fornecedores, o segundo nível diz respeito às “ligações horizontais” com outras empresas localizadas no mesmo estágio da cadeia produtiva e associações empresariais. Já o terceiro nível contempla as “ligações para frente”, envolvendo as articulações com os agentes responsáveis pela distribuição/comercialização, bem como com os compradores diretos e os consórcios envolvendo os próprios produtores para a venda. Levando em consideração as relações de poder entre as empresas, Cassaroto Filho e Pires (1998) afirmam que as aglomerações podem estar organizadas através de uma estrutura fortemente verticalizada, onde uma empresa mãe centraliza as principais ações de liderança, ou horizontalizada, onde as empresas são integradas através de consórcios setoriais, territoriais ou específicos com fortes relações de cooperação, ao invés de subordinação. Sobre esse aspecto, os agrupamentos cooperativos, segundo Britto (2001), são baseados em compartilhamento de competências entre parceiros, motivados por interesses comuns, sendo fortemente condicionados pela complexidade das tecnologias que necessitam ser mobilizadas. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 15 Para Amato Neto (2000), existem oito necessidades indutoras da formação de alianças entre empresas, que seriam de difícil satisfação, caso as mesmas atuassem isoladamente. São elas: i) combinar competências e utilizar Know-how de outras empresas; ii) dividir o ônus de realizar pesquisas tecnológicas; iii) partilhar riscos e custos de explorar novas oportunidades; iv) oferecer uma linha de produtos de qualidade superior e mais diversificada; v) exercer uma pressão maior no mercado; vi) compartilhar recursos, com especial destaque aos que estão sendo subutilizados; vii) fortalecer o poder de compra e viii)obter mais força para atuar nos mercados internacionais. De acordo com Eirik (2001), o fenômeno da cooperação ente empresas pode ser analisado sobre os domínios da cooperação comercial, técnica (ou de produção) e financeira. Enquanto o domínio comercial inclui as parcerias que são desenvolvidas predominantemente para as atividades de compras, marketing e vendas, distribuição de produtos acabados e serviços de pós-vendas, no domínio técnico (ou de produção) elas se concentram nas atividades de produção gestão de recursos e investigação/desenvolvimento tecnológico. Já o domínio financeiro agrupa as ações conjuntas entre empresas em função do tipo de capital que é envolvido e do grau de integração entre os parceiros. Segundo Klotzle (2002), essas relações estratégicas podem se concretizar através de contratos unilaterais; participação acionária minoritária; Joint Venture e contratos bilaterais. Já Kanter (1990) as classifica em: 1) alianças multiorganizacionais de serviços ou consórcios; 2) alianças oportunistas ou Joint Venture e 3) alianças de Stakeholders ou parcerias que envolvem fornecedores, consumidores e funcionários. Entretanto, vale ressaltar que, independentemente da abordagem usada para analisar a variedade de pactos possíveis de serem realizados, o importante nesse processo reside na necessidade de haver plena e “forte aliança entre empresas e instituições diretamente interessadas em sua criação, que, conjuntamente determinarão quais objetivos este instrumento terá e quais os tipos de serviços e atividades que deverá desenvolver” (CASSAROTO FILHO; PIRES, 1998. p 51). A aglomeração, proveniente da realização de alianças estratégicas locais, tem sido um mecanismo utilizado por um número crescente de empresas brasileiras, em especial as pequenas e médias (PMEs), para superarem os obstáculos naturais que influenciam a capacidade competitiva de seus produtos/serviços, onde a melhoria da qualidade, aumento da produtividade e redução dos custos passaram a ser os grandes desafios na disputa com produtos importados e, em alguns casos, na concorrência em outros países. Esse fato é ratificado por Cândido e Abreu (2000) ao analisarem a premissa de que as PMEs isoladamente não possuem condições de arcar com todos os investimentos necessários e que a solução comumente encontrada é a atuação conjunta e associativa no mercado, de tal monta que sejam compartilhados investimentos e benefícios resultantes de cooperações, envolvendo trocas de informações, bem como o rateamento de custos e benefícios de projetos gerenciais e tecnológicos, na busca de solução para problemas comuns. O aumento da amplitude das relações em torno de propósitos comuns, envolvendo os vários Stakeholders dentro de limites geográficos relativamente definidos, tem sua maior expressão nos chamados Sistemas Produtivos Locais (SPL), entendidos como: usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 16 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, com foco em um conjunto específico de atividades produtivas e que apresentam vínculos expressivos de interação, aprendizagem e capacitação produtiva e inovativa. Geralmente incluem empresas – produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços, comercializadoras, clientes etc., cooperativas, associações e representações – e demais organizações voltadas à formação e treinamento de recursos humanos, informação, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção, financiamento, regulação etc. (CASSIOLATO; SZAPIRO; LASTRES, 2004. p. 8). Já os Arranjos Produtivos Locais (APLs) são considerados pelos mesmos autores como sendo aglomerações produtivas localizadas em um mesmo território, onde nem todos os atores acima mencionados encontram-se presentes e que não apresentam ainda uma significativa articulação entre os agentes. Consequentemente, percebe-se que as concentrações geográficas de empresas podem possuir diferentes níveis de maturidade em função do grau de interação existente entre os diversos agentes. Dessa forma, pode-se encontrar desde os Arranjos Produtivos Locais (APLs), onde se percebe a existência de concentração de atividades produtivas com características comuns a um determinado setor econômico, com interação entre agentes ainda incipientes, até os Sistemas Produtivos Locais (SPLs), nos quais existe um elevado grau de interação entre os agentes envolvidos. No que tange ao desenvolvimento dos APLs, Machado (2003) propõe quatro estágios genéricos de evolução baseados na prerrogativa de que a concentração geográfica de empresas especializadas é determinada, fundamentalmente, pela existência de economias externas e internas às referidas empresas. O primeiro estágio de evolução dos APLs, denominado de Nascimento/Embrionário, caracteriza-se pela convergência de vetores indutores de concentração de empresas baseados nas condições locais de oferta de matérias-primas, insumos, capital social e acesso a mercados, bem como da incorporação de inovações revolucionárias que criam novos paradigmas produtivos geradores de economias de escala superiores às existentes em outras localidades. Nesse estágio, ainda é incipiente a existência de redes mais ostensivas de fornecedores e de cooperações verticais, sendo as cooperações horizontais de caráter mais informal, baseadas em relações familiares ou de amizade. No estágio de crescimento, os setores a montante passam a convergir para o APL, tanto na forma de representantes, quanto na instalação das próprias plantas produtivas, em função das demandas crescentes e das economias de escala. A demanda por mão de obra induz o aumento do nível de especialização profissional do arranjo e as cooperações verticais e horizontais tornam-se mais evidentes, sendo principalmente de cunho tecnológico. Enquanto as relações de cooperação vertical de caráter técnico se consolidam com produtores de equipamentos e de outros insumos importantes, as cooperações horizontais evoluem da bilateralidade e informalidade até a formação de instituições de apoio, cuja governança se focaliza, em geral, na montante e/ou nos elos principais da cadeia produtiva. A área de influência das empresas situadas nos APLs, durante os dois primeiros estágios, tende a ser mais próxima, isto é, voltada para o atendimento dos mercados Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 17 locais e regionais. No estágio de maturidade, a estagnação dos mercados locais diminui as margens, acirra a competição interna e pressiona o segmento produtivo, principalmente as empresas líderes, a ampliar e buscar novos mercados. O crescimento dos custos, induzidos pela entrada em novos mercados, pressiona as empresas do arranjo a adotarem com mais intensidade uma competição baseada em qualidade, flexibilidade e marca. Nesse estágio, ocorre um natural processo de redução das economias de escala, tornando o APL menos atrativo para novas empresas produtoras, ao mesmo tempo em que impulsiona as maiores empresas a abrirem novas plantas de produção em outras localidades. Os segmentos a jusante de distribuição e comercialização final passam a obter maior atenção da governança sobre a cadeia produtiva e das cooperações horizontais, sendo observada a redução das cooperações verticais e inclusive o aparecimento de verticalizações de empresas para produção de determinados insumos. Na etapa de Pós-Maturidade ou Rejuvenescimento, percebe-se que a força centrípeta de agregação do APL é reduzida pela diminuição das economias de escala, da entrada de outras localidades na competição pelo mercado e da emigração de empresas, podendo haver tendência de dispersão, de redirecionamento para setores correlatos e/ou de nascimento de novos agrupamentos. As competências acumuladas no APL possibilitam o desenvolvimento de novos negócios com alto valor agregado. Consequentemente, pode-se encontrar empresas que passam apenas a gerenciar marcas, bem como empresas que desenvolvem máquinas, insumos, consultorias tecnológicas e de design. O redirecionamento do APL para áreas correlatas ocorre a partir da inserção das empresas existentes em nichos de mercado com economias de escala atrativas, podendo servir como novos vetores impulsionadores da atividade econômica local. Dentro desse contexto, pode-se também observar um reaquecimento das cooperações verticais entre empresas visando realizar ações coordenativas em vários elos da cadeia produtiva. Sob a perspectiva das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), as vantagens competitivas dos APLs são agrupadas por Cezarino e Campomar (2005) em vantagens de poder de aglomeração, geradoras de benefícios em relação à força e poder do aglomerado com seu ambiente, e em vantagens de compartilhamento de atividades e processos, geradoras de aumento da eficiência e eficácia das atividades produtivas. Para os referidos autores, os transbordamentos de conhecimentos e de tecnologia provenientes dos APLs, conhecidos como Spillovers, além de gerarem consequências benéficas para todos os atores do aglomerado, representadas pelas vantagens competitivas citadas anteriormente, impactam no desenvolvimento local em função dos benefícios sociais e econômicos como geração de renda, emprego e aumento do dinamismo de negócios, localmente. É quase consenso na literatura especializada a aceitação de que as aglomerações influenciam no desenvolvimento regional, sendo uma característica marcante de quase todas as economias, inclusive nos países em desenvolvimento. Conforme destaca Olave e Amato Neto (2005), esses impactos afetam a capacidade de competição de três formas: a) aumentando a produtividade das empresas sediadas na região; b) indicando a direção e o ritmo da inovação, que sustentam o futuro crescimento da produtividade e c) estimulando a formação de novas empresas, o que expande e reforça a própria aglomeração. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 18 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara As atuais políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico já não descartam mais a necessidade de se fazer uso de diversos instrumentos voltados para propiciar o desenvolvimento cooperativo, competitivo e social de espaços geográficos possuidores de potencial econômico. Sobre esse aspecto, Cândido (2002) relata que, enquanto nos países desenvolvidos as políticas geralmente estão focadas no apoio aos agrupamentos já existentes, nos países em desenvolvimento, como no caso do Brasil, os formuladores de políticas regionais lidam frequentemente com agrupamentos que são, na melhor das hipóteses, embrionários e/ou não têm os tipos de ligações e dinamismo característicos dos agrupamentos consolidados. Conforme argumentam Dalcol e Silvestre (2003), a vocação regional, associada à ação conjunta entre estado, empresariado e outros agentes, são fatores determinantes no estabelecimento e sucesso dos APLs, e o envolvimento dos poderes públicos perpassa pela reflexão sobre o tipo, a profundidade e a abrangência de suas intervenções. Essa conjugação já tinha sido apontada como necessária por Meyer-Stamer (1995) para as políticas de desenvolvimento tecnológico no Brasil ao alertar sobre a fraca integração ainda existente entre universidades-governos-empresas. O estudo sobre os fenômenos associativos tem despertado o interesse cada vez maior dos pesquisadores, empresários e gestores públicos, tendo em vista sua importância para o sucesso empresarial e para o desenvolvimento tanto sobre o aspecto econômico, quanto o social. Por mais que as sociedades estejam cada vez mais próximas e integradas em uma rede global, devido aos efeitos da tecnologia da informação e comunicação, percebe-se que os elementos locais, refletidos nos diversos tipos de aglomerações empresariais, tornam-se um traço fundamental e característico da economia contemporânea. 3. CRITÉRIOS DE CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS O fenômeno da aglomeração de empresas tem sido vastamente abordado como unidade de análise em estudos ou como objeto de ação de políticas industrias, tanto por centros de pesquisas, como por organismos governamentais e consultorias. Conforme apontam Hasenclever e Zissimos (2006), as aglomerações espaciais de empresas têm sido estudadas por vários pesquisadores, os quais utilizam metodologias de análise, termos e definições distintos como: distritos industriais; clusters; sistemas produtivos localizados; sistemas industriais localizados; complexos industriais ou de industrialização descentralizada; comunidades industriais; configuração produtiva local; sistema produtivo local ou arranjo produtivo local. Convém ressaltar que todos esses termos, os quais procuram traduzir o processo de concentração de empresas e instituições em um território, geram certo grau de confusão, refletindo a dificuldade ainda presente em definir com precisão o fenômeno aglomerativo. Abordando as diferentes definições existentes, Bueno (2006) ressalta a existência de duas características comuns fundamentais que estão subjacentes em todas as propostas conceituais. São elas: i) a existência de uma aglomeração de um número significativo de empresas que atuam em torno de uma atividade produtiva principal e ii) a noção que essa aglomeração se define em determinado território. Ainda sobre Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 19 esse aspecto, Lemos (2003) reapresenta os pontos comuns identificados nas diferentes abordagens, buscando reunir as características básicas comuns das aglomerações locais enfocadas na literatura. No que se refere à identificação de aglomerados de empresas, Hasenclever e Zissimos (op. cit.) fazem uma revisão das métodos aplicados no Brasil e os agrupa em três abordagens básicas. A primeira diz respeito à análise do fenômeno de desconcentração espacial na busca de consolidar quadros abrangentes característicos da distribuição espacial das grandes indústrias, de tal forma que possam ser indicadas as tendências de localização dos diversos setores industriais, sem haver aprofundamento nas investigações relativas às aglomerações de empresas de menor porte. A segunda abordagem, mais difundida no Brasil, procura identificar e caracterizar configurações de empresas em uma área particular através da utilização de quocientes locacionais indicadores de densidade de atividade e validações através de pesquisas de campo com empresas e instituições locais. A terceira abordagem utiliza técnicas de análise multivariada para detectar concentrações de empresas, desenvolvendo índices de concentração com o propósito de evitar as possíveis distorções provocadas pelos valores absolutos dos quocientes locacionais. Para Lastres (2004), o conceito de Arranjo Produtivo Local, entendido como aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco em um conjunto específico de atividades econômicas, que apresentam vínculos mesmo que incipientes, deve ser representativo de uma Unidade de Estudo, cujas principais vantagens são: a) representar uma unidade prática de investigação que vai além da tradicional visão baseada na organização individual, permitindo estabelecer uma ponte entre território e as atividades econômicas realizadas; b) focalizar um grupo de diferentes agentes e atividades conexas que usualmente caracterizam qualquer sistema produtivo e inovativo local; c) cobrir o espaço que simboliza o locus real, onde ocorre o aprendizado, criadas as capacitações produtivas e inovativas e fluem os conhecimentos tácitos e d) refletir o nível no qual as políticas de promoção do aprendizado, inovação e criação de capacitações podem ser mais efetivas. Baseado nesse contexto, Cassiolato e Szapiro (2003) sugerem uma taxonomia para classificar APL’s fundamentada na conjugação de três elementos: i) governança; ii) mercado de destino da produção e iii) grau de territorialização das atividades produtivas e inovativas. Vista como uma dimensão da caracterização, a governança é entendida como os diferentes modos de coordenação entre agentes e atividades para a produção, a distribuição de bens e serviços, assim como o processo de geração, uso e difusão de conhecimentos e inovação. Ela pode se configurar no APL como uma governança hierarquizada, onde existe uma ou mais instituições ou empresas que funcionam como “âncoras” da economia local, ou como governança em forma de rede, onde se observa a existência de aglomerações sem grandes empresas ou instituições localmente instaladas e que possam desempenhar o papel de coordenação principal das atividades econômicas e tecnológicas. O mercado majoritariamente atendido pelo arranjo é incorporado como uma dimensão de caracterização, na medida em que beneficia diferentes atores para a acumulação de capacitações e processos coletivos de aprendizado, em função dos padrões das demandas específicas de determinadas regiões, sendo dessa forma relevante o destino da produção para se compreender a lógica de funcionamento das relações entre empresas usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 20 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara e instituições. A diferenciação dos tipos de mercado ocorre na medida em que o destino da produção é: i) local/regional, quando as empresas do APL fornecem insumos para empresas localmente estabelecidas ou vendem seus produtos finais nesses mercados; ii) regional/nacional, quando o locus da concorrência encontra-se em um espaço mais ampliado dentro do país e iii) nacional/internacional, quando a concorrência se dá em espaços mais globalizados. Já a terceira dimensão de caracterização, relacionada com o grau de territorialização da produção e inovação, diz respeito ao nível em que estão enraizadas na região as capacitações necessárias ao estabelecimento das atividades produtivas e inovativas. Sobre esse aspecto, deve-se estar atento para o fato de que nem sempre há relação direta entre o grau de territorialização e o destino da produção. Entretanto, enquanto no caso da existência de governaça hierarquizada a territorialização apresenta uma forte relação com a propriedade do capital, na governança em redes, a territorialização está mais associada com as várias especificidades locais ligadas ao trabalho e à tecnologia, podendo, independentemente dos fatores condicionantes, ser diferenciada em alta, média ou baixa territorialização. Como exemplo do uso dessa metodologia aplicada ao contexto brasileiro, Cassiolato e Szapiro (op. cit.) apresentam o resultado obtido através de estudos em 26 APL’s agrupados em uma matriz de caracterização envolvendo as três dimensões descritas acima, conforme quadro 1. Governança / Mercado Destino da Produção Mercado Local GOVERNANÇA HIERARQUIZADA GOVERNANÇA EM REDES Territorialização ALTA --- Mercado Nacional --- Mercado Internacional Aeronáutico (SP) MÉDIA Territorialização BAIXA ALTA MÉDIA BAIXA --- --- Couros e Calçados (PB) Rochas Ornamentais (RJ) Automobilístico (MG) Aço (ES) --- Biotecnologia (MG) Software (RJ, SC) Móveis (SP) Soja (PR) Vinho (RS) Materiais Avançados (São Carlos) Têxtil e Vestuário (SC) Móveis (ES, MG, RS) Telecomunicações (Campinas, PR) Têxtil e Vestuário (RJ) --- Fumo (RS) Cacau (BA) --- Frutas Tropicais (NE) Cerâmica (SC) Couros e Calçados (RS) Mármore e Granito (ES) --- Metal Mecânica (ES) Quadro 1 – Caracterização de Arranjos Produtivos Locais segundo os tipos de governança, territorialização e destino da produção. Fonte: Cassiolato e Szapiro (2003). Fundamentado na concepção de inovação como base de sustentação das vantagens competitivas e elemento de alavancagem comercial, tecnológica e produtiva local, a Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – REDESIST elaborou um instrumento de caracterização para arranjos produtivos locais (LASTRES; CASSIOLATO, 2003), Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 21 representado por um questionário cujo propósito reside em coletar informações dos APL’s sobre os seguintes aspectos: i) descrição das características básicas das firmas; ii) processo produtivo e qualificação da mão de obra; iii) processo inovativo, cooperação e aprendizado; iv) fontes de externalidades no ambiente local e v) impacto às políticas públicas. Vale destacar que esse instrumento possibilita estudos mais profundos sobre o tema, sendo usado por diversos autores na análise de aglomerações de empresas no território brasileiro, inclusive aqueles ligados ao setor de Tecnologia da Informação, conforme trabalhos de Guimarães e Cassiolato (2004), Guimarães (2005) e Ferreira Júnior e Santos (2006). Com o propósito de aprofundar as alternativas de avaliação e análise do aprendizado e da cooperação em Arranjos Produtivos Locais, Almeida, Torres e Cassiolato (2004) sugerem o agrupamento das informações obtidas pela aplicação do questionário da Redesist em quatro dimensões, a saber: i) estrutura produtiva e capacitação; ii) cooperação e aprendizado; iii) vantagens associadas à localização no arranjo e iv) inovação. Vale destacar que as referidas dimensões de análise são baseadas na construção de indicadores próprios, consistindo numa proposta preliminar capaz de viabilizar correlações entre as dimensões e realizar análises comparativas entre diferentes arranjos. Entretanto, nada impede a realização de análises através dessas dimensões baseadas nos resultados percentuais, principalmente quando os estudos buscam proceder a imersões exploratórias com o propósito de identificar as características de apenas um arranjo específico. 4. E M PR E SA S DE TECNOLOGI A DA I N FOR M AÇÃO E O A PL DE FORTALEZA-CE Uma das principais peculiaridades dos setores de alta tecnologia diz respeito ao fato de que, enquanto nos setores ditos “tradicionais” da economia a análise competitiva, em geral, está assentada na tangibilidade das matérias-primas, mão de obra e recursos utilizados no transcorrer de sua cadeia de valor, a quase totalidade da “nova indústria” depende substancialmente do capital intelectual, ou seja, de elementos intangíveis, que têm como principal matéria-prima o conhecimento. Partindo do fato de que as empresas de alta tecnologia apresentam tendências de aglomeração e especialização, Carvalho (2005) aponta que essa indústria é resultante de um fenômeno transetorial, envolvendo informática, eletrônica, equipamentos militares e aeroespacial, farmacêutica, bioengenharia, dentre outros, sendo o complexo eletrônico entendido como setor sintomático central, na medida em que seus produtos/serviços são incorporados como componentes ativos básicos em outras indústrias. Segundo o autor, a cadeia de valor, conforme a abordagem porteriana, é menos evidente, principalmente devido à natureza interativa dos processos, tornando difícil a identificação do valor agregado de cada estágio produtivo. Entretanto, a vantagem competitiva é plenamente reconhecida pelo setor na medida em que os recursos humanos são vistos como principais insumos, sendo a capacidade de extrair e utilizar conhecimentos de especialistas, através da colaboração e da administração de uma parcela significativa de informalidade, considerada uma competência essencial de difícil imitação. Essa dificuldade de utilização da análise da cadeia de valor foi verificada também por usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 22 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara Duhan et al (2001), ao identificarem que as características da análise porteriana diferem fortemente das características das empresas de base tecnológica. Utilizando a análise de Vasconcelos e Cyrino (2000), concebe-se que as competências essenciais criadas pelo aprendizado coletivo se candidatam a constituir o foco das estratégias dessas empresas, onde a abordagem mais adequada para estudo da competitividade nesse contexto baseia-se nas proposições oriundas da teoria das Capacidades Dinâmicas, onde os trabalhos de Prahalad e Hamel (1990) se destacam como referência. No Brasil, a indústria de base tecnológica possui sua maior concentração nas regiões Sudeste e Sul, havendo uma participação expressiva dos setores de informática, eletrônica, automação, telecomunicações e consultoria nos aglomerados tecnológicos distribuídos em todo o país, onde aproximadamente 80% dos produtos gerados são de caráter intermediário (CARVALHO et al, 2000). Conforme Gutierrez e Alexandre (2004), as empresas de Tecnologia da Informação, aqui entendidas fundamentalmente como empresas de base tecnológica, englobam várias atividades, dentre elas, as de consultorias, desenvolvimento de aplicativos, integração, treinamento e suporte técnico, havendo também empresas cujos serviços não estão diretamente ligados com a informática ou telecomunicações, mas que delas fazem intenso uso, como por exemplo, o Call-Center. Os referidos autores, ao analisarem o mercado mundial, perceberam que as empresas que atuam no segmento de TI são de origens distintas, como por exemplo, grandes empresas tradicionais do setor de serviços, as advindas dos departamentos de TI de grandes corporações e as fabricantes de hardware, as quais atuam no mercado global implementando grandes pacotes de aplicativos corporativos e/ou assumindo papéis de provedores de serviços através dos contratos de terceirização. Dentro desse contexto, as barreiras de entrada são cada vez maiores, onde a marca e os casos de sucesso nos currículos das empresas de TI têm se tornado pré-requisitos essenciais para fechamento de contratos internacionais, ficando o espaço para empresas de menor porte limitado, geralmente, às subcontratações. Quando analisado o mercado brasileiro, verificou-se que o setor vem apresentando historicamente elevadas taxas de crescimento, em relação à performance da economia nacional, havendo uma concentração da ordem de 64% de empresas de software na região Sudeste, e de 24% na região Sul, refletindo o mesmo quadro de concentração apresentado por Carvalho et al (op.cit.), seguidos respectivamente pelas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Foi observado também que há uma prevalência de pequenas e médias empresas (PMEs) com mais da metade possuindo até nove colaboradores, havendo baixos níveis de certificação, onde a maior parte atua na prestação de serviços ou em desenvolvimento de aplicativos corporativos, sendo majoritariamente dirigidos para o mercado doméstico. Esse panorama se ratifica em pesquisa realizada por Kubota e Nogueira (2006), ao buscarem identificar o perfil das empresas brasileiras desenvolvedoras de software. O suporte, manutenção e integração foram consideradas as atividades que mais contribuíram para as receitas das empresas prestadoras de serviços em TI, seguidas pela consultoria, desenvolvimento e treinamento. Um detalhe interessante nos estudos de Gutierrez e Alexandre (op.cit.), diz respeito ao Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 23 fato de que, no Brasil, de modo geral, as grandes empresas multinacionais não competem diretamente com as nacionais, atuando em vários momentos como parceiras. Essa situação ocorre em função das multinacionais estarem focadas em um nicho de mercado caracterizado, em geral, pelas grandes empresas e grandes projetos, ao mesmo tempo em que as empresas nacionais estão focalizadas na prestação de serviços para pequenas e médias empresas, pequenos e médios projetos e subcontratações ofertadas pelas grandes empresas do setor. Os principais segmentos demandantes de serviços, principalmente oriundos das fábricas de software, são os bancos e as empresas de produtos com o propósito de realizarem a localização (processo de adequação dos produtos às especificidades locais) e customização (adequação dos produtos a um determinado usuário). O Nordeste brasileiro tem figurado como a terceira região de convergência no setor de TI no Brasil, sendo perceptível o surgimento de arranjos produtivos locais com níveis de especialização e desenvolvimento variados, gerando interesse de estudos por parte de vários pesquisadores, com destaque para os estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia e Alagoas (BAIARDI, BASTO, 2006; CORRÊA et al, 2006; COSTA et al, op.cit; RITA et al, 2006; PASSOS et al, 2005). Utilizando como referência o ano de 2004, o Estado do Ceará participou com o terceiro maior Produto Interno Bruto a preços correntes no Nordeste brasileiro, sendo sua capital Fortaleza a segunda melhor colocada entre os 1.792 municípios da região (IBGE, 2007). Fortaleza está localizada ao nordeste do Ceará e conta com uma população estimada de 2.416.920 habitantes, equivalente a 29,41% da população estadual (IPECE, 2006). Destaca-se entre os 184 municípios do Estado pelo forte poder aglomerativo, tanto sobre o aspecto econômico, quanto social e político. De acordo com Amaral Filho, Scipião e Souza (2004), Fortaleza possui fortes evidências de centro da atividade econômica no Estado do Ceará usando como critério, para destacar potenciais aglomerações produtivas especializadas, Quocientes Locacionais maiores ou iguais a 1 (QL ≥ 1) e Densidade da Atividade (DA) correspondente a uma combinação mínima de cinco estabelecimentos e cinquenta empregados. O arranjo produtivo local de Tecnologia da Informação de Fortaleza congrega, com graus variados de inter-relacionamento, um conjunto diversificado de agentes dentro dos limites da capital do Estado do Ceará, incluindo empresas, órgãos governamentais, agências reguladoras, instituições de ensino, associações/sindicatos, fornecedores, institutos de pesquisa, dentre outros. São identificadas no arranjo quatro entidades associativas geradoras de externalidades, possuidoras de naturezas distintas e oriundas de relações de agrupamentos formais específicas entre empresas de TI em Fortaleza. As quatro entidades são: i) Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet do Ceará – ASSESPRO-CE; ii) Sindicato das Empresas de Informática, Telecomunicações e Automação do Ceará-SEITAC; iii) Instituto de Tecnologia da Informação – ITIC (denominado originalmente Instituto de Tecnologia do Ceará – INSOFT) e iv) Instituto Titan-Tecnologia, Informação, Telecomunicações e Automação do Nordeste – TITAN. A ASSESPRO-CE, fundada em 1988, é composta de empresas privadas dos segmentos usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 24 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara de processamento de dados, produção e distribuição de software, consultoria e treinamento na área da tecnologia da informação do Estado, cujo propósito reside na defesa dos interesses das respectivas empresas, nas áreas de programas especiais, eventos, geração de negócios e serviços de informação e assessoramento aos empresários. Fundado em 1995, o SEITAC é uma entidade de representação empresarial, cujas diretrizes básicas estão centradas no propósito de coordenação, proteção e representação legal das empresas que atuam no respectivo segmento econômico, com base territorial no Estado, sendo filiado à Federação do Comércio do Estado do Ceará – Fecomércio-CE, cujas empresas contribuem compulsoriamente, segundo as determinações legais vigentes (ASSESPRO-CE, 2007). Desde 1999 a referida associação e o sindicato representam conjuntamente o Sistema ASSESPRO/SEITAC, compondo uma relação formal de cooperação institucional com o propósito de representar perante as autoridades administrativas e judiciárias os interesses gerais dos segmentos empresariais ou individuais de suas associadas, prover suas associadas com serviços e convênios que representem efetivamente vantagens e redução de custos, bem como, colaborar com o Estado como órgão técnico e consultivo no estudo e solução dos problemas que se relacionem com o setor empresarial representado. O ITIC, fundado em 1995 (originalmente com o nome de Instituto do Software do Ceará), é credenciado junto ao Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP de cunho tecnológico, sendo um representante do Programa para Promoção da Excelência do Software Brasileiro – SOFTEX no Estado. O referido Instituto foi formado em parceria com o Governo do Estado do Ceará, através da Secretaria da Ciência e Tecnologia, conjuntamente com empresas de software, institutos de pesquisa, universidades e vários segmentos da sociedade, com o propósito de contribuir para o desenvolvimento do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TI&C) do Ceará, com ações voltadas para elevar a competitividade, o empreendedorismo e a demanda por produtos e serviços. Dentre suas ações, destacam-se a gerência do Programa para Promoção da Excelência do Software Brasileiro – SOFTEX no Estado, a promoção de capacitação técnica e gerencial em novas tecnologias, a promoção de capacitação para desenvolvimento de tecnologia de ponta, em conjunto com universidades e instituições de pesquisa, o oferecimento de consultoria ao mercado cearense de software nas áreas de marketing, qualidade de software e negócios, bem como o apoio na criação de novas empresas através de Incubadora de software (INSOFT, 2007). O TITAN, fundado em 2003, é uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criado por empresas cearenses sindicalizadas da área de Tecnologia da Informação e Telecomunicações para promover o desenvolvimento do setor, sendo dotado de autonomia financeira e administrativa, possuindo caráter científico, tecnológico, educacional e de gestão. Suas atividades se concentram nas áreas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, estudos especializados de tecnologias, desenvolvimento de protótipos, implementação, manutenção e suporte de hardware e/ou software, consultorias e assessorias especializadas, ensino e formação de recursos humanos, bem como de serviços Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 25 tecnológicos de certificação, metrologia e propriedade intelectual (TITAN, 2007). No ano de 2006, foi firmado uma parceria entre ITIC e TITAN, conjuntamente com o Centro de Pesquisa Renato Acher (CenPRA), de Campinas-SP, com o objetivo de elevar a competitividade das empresas cearenses de TI&C, pela conjugação das expertises entre as referidas instituições. Essa relação de cooperação institucional foi consolidada com o propósito de ampliar a oferta de competências e a captação de recursos para realização de pesquisa e desenvolvimento voltados para o setor de TI&C do Ceará, intensificar as relações de parcerias com as universidades e centros de pesquisa, no sentido de elevar as possibilidades de pesquisas inovadoras e atuar como Instituto de Pesquisa em TI&C, através de uma estrutura de gestão flexível e orientada para gestão de projetos. A combinação favorável de elementos, como infraestrutura, nível de riqueza, organização produtiva, mercado de trabalho e capital humano, influenciam diretamente no crescimento e na velocidade de convergência de determinadas regiões, em função da geração de externalidades positivas que impulsionam o desenvolvimento local (CHAGAS e TONETO JR, 2003). Tendo em vista as características e as relações oriundas do conjunto de atores que integram o APL de TI de Fortaleza, percebe-se a importância e o potencial de impacto que essa atividade econômica possui para o crescimento e desenvolvimento regional, em especial na região Nordeste do Brasil. 5. ASPECTOS METODOLÓGICOS O objetivo do estudo foi descrever, em uma primeira camada de imersão exploratória, o Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação de Fortaleza, capital do Estado do Ceará – Brasil, procedendo à identificação dos principais agentes envolvidos, bem como suas respectivas características e relações. Levando em consideração os pressupostos sobre a natureza do ambiente de estudo e do nível de objetividade utilizado pela pesquisa, concebe-se que a abordagem incorporada fundamentou-se, segundo Burrell (1999), no paradigma da sociologia funcionalista, integrando alguns elementos da perspectiva interpretativista, conforme admitem Lewis e Grimes (2005). A pesquisa, realizada no período compreendido entre dezembro de 2006 a maio de 2007, é considerada de caráter exploratório-descritivo, amparando suas investigações em dados primários, através da combinação de múltiplos métodos. Para a identificação dos agentes relacionados com o aglomerado de TI de Fortaleza, procedeu-se o encadeamento de coleta e processamento de dados em três etapas subsequentes, com o propósito de gerar a relação dos principais Stakeholders do setor, conforme apresentado no quadro 2. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 26 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara ETAPAS PROCEDIMENTO Etapa de categorização dos Stakeholders Critério Indutivo de categorização, lastreado em pesquisa bibliográfica, em especial relacionada com a Teoria dos Stakeholders. 1-Elaboração e validação de questionário padronizado, com questões abertas, solicitando a identificação de agentes em cada uma das categorias estabelecidas na etapa anterior. 2-Aplicação do questionário a três especialistas com profunda expertise sobre o assunto e atuantes no setor de TI em Fotaleza-CE. Etapa de consulta com especialistas do setor Etapa de análise de consistência e agrupamento dos Stakeholders por categoria 1-Análise da consistência das listas geradas em cada categoria, levando em consideração a natureza de cada agente. 2-Agrupamento dos agentes por similaridade, em função das categorias estabelecidas, e exclusão das respostas não enquadradas na proposição do estudo. RESULTADO Estabelecimento de 13 categorias de Stakeholders. Três listas contendo a relação de diversos agentes para cada categoria estabelecida na etapa anterior. Lista Final contendo os principais Stakeholders identificados como representativos do APL de TI de Fortaleza-CE. Quadro 2 – Etapas de identificação dos principais Stakeholders do APL de TI de Fortaleza. Fonte: Elaboração própria. Para identificar as empresas vinculadas às entidades associativas do setor (Sistema ASSESPRO/SEITAC; ITIC e TITAN), conjunto este denominado de Núcleo Empresarial do APL de TI de Fortaleza, foi utilizado consulta via Internet, através da coleta dos nomes das empresas e posterior conferência, nos respectivos setores de cadastro de cada instituição, no intuito de realizar a correção das listas e o registro das informações cadastrais. Para identificar com mais profundidade detalhes do processo associativo e das relações existentes com as empresas, foram realizadas entrevistas não estruturadas de caráter focalizado com alguns membros das diretorias e técnicos das entidades acima mencionadas. Já para a identificação da natureza jurídica e das atividades econômicas das empresas, foi realizada pesquisa documental através do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ, disponíveis no site da Receita Federal. Para descrever as características gerais das empresas que compõe o Núcleo Empresarial do APL de TI de Fortaleza, foi realizado, conforme Babbie (1999), o Survey descritivo-exploratório interseccional por amostragem não probabilística intencional, cuja unidade de análise é representada pelo conjunto de empresas do respectivo Núcleo Empresarial, através da aplicação de um questionário autoadministrado. O referido questionário foi confeccionado com base em adaptações dos trabalhos de Lastres e Cassiolato (2003) e Almeida, Torres e Cassiolato (2004), referentes à metodologia de caracterização de APL’s proposto pela Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais – Redesist. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 27 Além da identificação da empresa, foram estruturadas questões na busca de coletar informações referentes à sua experiência inicial, produção, mercados e empregos relacionados com a dinâmica empresarial, inovação, cooperação e aprendizado, bem como da estrutura, governança, vantagens associadas ao ambiente local, políticas públicas e formas de financiamento relacionadas com o setor. Em sua maior parte, as questões foram fechadas, com escalas que se alteravam segundo a natureza de cada variável. O processo de tabulação consistiu em transferir as respostas preenchidas nos questionários para planilhas eletrônicas, visando possibilitar a realização das análises estatísticas. A transferência dos dados foi realizada através de um procedimento padronizado de lançamento, considerando uma codificação das respostas em escala numérica, de acordo com a natureza e características de cada variável e a análise dos dados, foi baseada na descrição das frequências de respostas obtidas nas variáveis do questionário, sendo a apresentação dos resultados feita através de um conjunto de tabelas, quadros e gráficos representativos dos resultados obtidos. O método de amostragem foi intencional, ou por julgamento, na medida em que, das 82 empresas que compõem o Núcleo Empresarial do APL de TI de Fortaleza, foram definidos, através dos critérios de acessibilidade e representatividade nas atividades de cooperação dentro do arranjo estudado, um conjunto de 42 empresas para serem contatadas com o propósito de seus proprietários responderem o respectivo questionário. Foram preparadas equipes de aplicadores para fazer as abordagens e tecer os esclarecimentos necessários ao correto preenchimento dos questionários. Os membros das equipes de aplicação selecionados participaram de sessões de treinamento, visando uma qualificação adequada, com objetivo de padronizar o máximo possível os procedimentos de abordagem inicial com os respondentes, orientação para o preenchimento do questionário, bem como recolhimento e devolução do mesmo. Das 42 empresas que foram contatadas, 23 responderam o questionário, conforme a figura 1, representando 28,01% do Núcleo Empresarial do APL de TI de Fortaleza e correspondendo a uma taxa de resposta de 54,76%, considerada por Babbie (op. cit.) adequada para estudos dessa natureza. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 28 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara 13 1 2 3 1 BARR A DO CEAR A VILA VELHA QUINTINO CUNHA PE. ANDRADE 1 MOURA BRASIL CAR LITO PAMPLONA JACAR ECANGA V ILA ELLER YM. CASTELO FLOR ESTA GUAN. PRES. KENNEDY ANTONIO B EZER RA GENIBAU AMADEU FUR TADO HENR IQUE JOR GE CA UC A IA JOAO XXIII MARAPONGA PQ. S.JOSE CANINDEZINHO SAO JOAO DO TAUAPE ALTO DA BALANCA DUNAS GUARARAPES ENG.LU CI ANO CAVALCANTE CIDADE D OS FU NCI ONÁRIOS CAST ELAO MATA GALINHA PARQUE DOI S IR MAOS EDSON QU EIROZ PAR QU E MANIBUR A SAPIR ANGA/COITE SABIAGU ABA CAMBEB A CAJAZEIR AS PQ. IR ACEMA ALAGADI CO NOVO PASSARE BAR ROSO CU RIO LAGOA REDONDA MESSEJANA MONDUBIM 1 GU AJERU PREFEI TO JOSÉ VALTER ANCUR I 5,0 1,0 2,0 ÉBIO EUZ COACU JANGUR USSU 0,5 PRAIA DO FU TUR O II SALINAS DIAS MACEDO DENDE FORTALEZA CI D.20 00 JARDIM DAS OLIV EIRAS PQ. STA. R OSA AR PQ. PRES AC V AR GAS AN AÚ NORTE PRAIA DO FUTU RO I COCO AEROLANDIA JARDIM CEAR ENSE MANOEL SAT IRO V ICENTE PINZON PAPICU DIONISIO TOR RES AEROPORTO I TAPER I V ILA PERI C.ESPER ANCA M JOAQUIM TAVORA SER RINHA GRANJA POR TUGAL BOM JAR DIM ALDEOTA JOSE BENFICA BONIFACIO PARANGABA MUCURI PE MEIR ELES VARJOTA ITAOCA BOM SUCESSO GRANJA LISBOA CENTR O FAR IAS PQ. BR ITO ARAXA RODOLFO T EOFILO CAI S DO POR TO PRAIA DE IRACEMA FATIMA JARDIM BELA VISTA DAMAS AMERI CA PANAM. BOM COU TO FERNANDES FUTU RO PARR EAO DEMOCRI TO JOCK EY MONTESE ROCHA CLU B V ILA UNIAO DOM AUTR AN LU STOSA NUNES CONJ.CEARA II ALAGADICO S.GER AR DO PAR QU ELANDIA PICI CONJ. CEARA I OCEANO ATLÂNTICO PIR AMBU ALVARO WEYN E JARD. IR ACEMA JARD. CRISTO R EDENTOR PAUPI NA PEDR AS ITAIT ING A 1 Figura 1– Distribuição Geográfica da Amostra no Município de Fortaleza – (número de empresas por Bairro). Fonte: Elaboração própria. Levando em consideração a distribuição geográfica da amostra, verifica-se uma maior concentração de empresas respondentes em torno do Bairro Aldeota, mantendo, sobre este aspecto, um padrão de distribuição semelhante ao existente quando se analisa o Núcleo Empresarial do APL como um todo. 6. ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 6.1 Stakeholders Vinculados ao APL de TI de Fortaleza O Município de Fortaleza se situa como centro da atividade econômica do Estado do Ceará, inclusive no Setor de Tecnologia da Informação, destacando-se também como um dos maiores contribuintes municipais do PIB regional (Amaral Filho, Scipião, Souza, op.cit; IBGE, op. cit), havendo nítidas evidências de relações coordenadas, entre os atores que integram este aglomerado, com o propósito de estimular o crescimento e desenvolvimento local. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 29 Após realização de consulta a especialistas atuantes na área de TI de Fortaleza, foram identificados, em 13 categorias, diversos Stakeholders diretamente envolvidos no APL, dentre eles, 8 órgãos governamentais, 4 agências de regulação, 81 empresas vinculadas a três associações, 5 tipos de clientes diretos, 6 tipos de fornecedores de insumo, 7 órgãos de financiamento, 14 Instituições de Ensino Superior e 4 Institutos de Pesquisa, conforme o apresentado no Quadro 3. CAMADA Órgãos da Administração Pública Federal Órgãos da Administração Pública Estadual Órgãos da Administração Pública Municipal Agências de Regulação Empresas de TI Clientes Diretos das Empresas de TI em Fortaleza (CE) Fornecedores das Empresas de TI em Fortaleza (CE) Órgãos de Financiamento de Recursos Reembolsáveis usiness STAKEHOLDERS Ministério da Ciência e Tecnologia Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Ministério da Educação Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará – SECITECE Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará – ETICE (Vinculada à SEAD) Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial – NUTEC (Vinculada à SECITECE) Secretaria de Finanças – SEFIN/PMF – área tributária Secretaria de Desenvolvimento Econômico – SDE/PMF Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL Secretaria de Política de Informática – SEPIN (Ministério da Ciência e Tecnologia) Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará – ARCE Empresas Associadas ao Insoft Empresas Associadas ao Titan Empresas Associadas ao Sistema Assespro/Seitac Empresas de TI não associadas a nenhuma das entidades acima Grandes empresas locais e de outros estados, principalmente do Nordeste Governo do Estado e de outros estados do Nordeste Prefeitura de Fortaleza e de outros municípios cearenses Bancos Indústria local Fabricantes de componentes eletrônicos Fabricantes de Hardwere Fabricantes de Software Instituições de Formação de Recursos Humanos especializados Empresas de Prestação de Serviços especializados Especialistas (Consultores Independentes) Banco do Nordeste – BNB Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDS Banco do Brasil – BB Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 30 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara Órgãos de Financiamento de Recursos Não Reembolsáveis Instituições de Ensino Superior Institutos de Ciência e Tecnologia Agentes Sociais (Organizações Não Governamentais, Sindicatos, Associações, etc.) Outros Agentes Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –CNPq Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –CAPES Universidade Federal do Ceará – UFC (Fortaleza) Universidade Estadual do Ceará – UECE (Fortaleza) Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA (Sobral – Fortaleza) Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará – CEFET/ CE (Fortaleza) Universidade de Fortaleza – UNIFOR (Fortaleza) Faculdade Integrada do Ceará – FIC (Fortaleza) Faculdade 7 de Setembro – FA7 (Fortaleza) Faculdade Christus (Fortaleza) Faculdade do Nordeste – FANOR (Fortaleza) Faculdade Farias Brito – FFB (Fortaleza) Faculdade Integrada da Grande Fortaleza – FGF (Fortaleza) Universidade do Ceará – UNICE (Fortaleza) Faculdade Lourenço Filho – FLF (Fortaleza) Instituto Centro de Ensino Tecnológico – CENTEC (Fortaleza) Centro de Pesquisas Renato Archer – CenPRA Instituto Atlântico – IA Instituto de Estudos, Pesquisas e Projetos da UECE – IEPRO Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE Instituto de Tecnologia da Informação – ITIC Instituto Titan – I.TITAN Associação das Empresas Brasileiras de TI, software e Internet –ASSESPRO Sindicato das Empresas de Informática,Telecomunicações e Automação do Ceará – SEITAC Indústria em geral Quadro 3 – Principais Stakeholders relacionados com o APL de TI de Fortaleza. Fonte: Elaboração a partir da pesquisa exploratória. 6.2 Características do Núcleo Empresarial do APL de TI de Fortaleza Sob o ponto de vista dos agentes envolvidos no Setor de Tecnologia da Informação, considera-se, neste estudo, Núcleo Empresarial Articulado do APL de TI de Fortaleza o conjunto de empresas que estão vinculadas às seguintes instituições associativas do setor no Estado: i) Sistema formado pela Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet do Ceará, com o Sindicato das Empresas de Informática, Telecomunicações e Automação do Ceará – SISTEMA ASSESPRO/SEITAC; ii) Instituto de Tecnologia da Informação do Ceará – ITIC e iii) Instituto Titan – Tecnologia, Informação, Telecomunicações e Automação do Nordeste – TITAN. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 31 Das 82 empresas identificadas como representativas do núcleo empresarial articulado do APL, 87,80% das empresas se encontram na Capital, 6,10% no Município do Euzébio e 2,44% no Município de Aquiraz. Vale destacar que frente aos limites territoriais do município de Fortaleza, os quais englobam um montante de 113 bairros, o núcleo empresarial do APL de TI se distribui em 18 bairros, sendo Aldeota, Centro, Fátima e Meireles os que possuem maior concentração. Analisando apenas as atividades nucleares, verificou-se que o desenvolvimento de programas de computador, seguido da consultoria em TI e do suporte técnico em TI, são, respectivamente, as atividades de maior destaque desenvolvidas pelo corpo empresarial que integra o ITIC e o TITAN, sendo o comércio varejista de informática, telefonia e comunicação a atividade de menor expressão. Entretanto, no caso do Sistema ASSESPRO/ SEITAC, é o comércio varejista que se destaca como principal atividade do corpo empresarial, seguido pelo desenvolvimento de programas, suporte técnico e serviços de consultoria. Essas diferenças na composição e características do corpo empresarial podem ser consideradas como elementos críticos influenciadores nos processos de elaboração e implementação das políticas e estratégias de cada instituição. 6.3 Características Gerais das Empresas do APL de TI de Fortaleza Em sua maioria, as 82 empresas consideradas como componentes do Núcleo do APL de TI de Fortaleza são sociedades limitadas, envolvendo 37 atividades econômicas declaradas. Ao relacionar as atividades econômicas em função do volume de empresas declarantes, foram identificadas três categorias distintas, evidenciando que o setor possui atividades que podem ser consideradas centrais e outras mais periféricas, fato esse corroborado por Gutierrez e Alexandre (op.cit), com a ressalva de que existem empresas vinculadas ao setor que não necessariamente fazem intensivo uso da tecnologia da informação ou a incorporam como seu Core Business. Dentro dessa perspectiva, a primeira categoria, denominada de Atividades Nucleares de TI, é compreendida pelo(a): i) desenvolvimento de programas de computador; ii) comércio varejista de informática, telefonia e comunicação; iii) consultoria em TI e iv) suporte técnico em TI. O segundo conjunto, definido como Atividades de Aplicação Direta Associadas em TI, se caracterizou pelo agrupamento das seguintes atividades: i) tratamento de dados, provedor de Internet, VOIP e redes de comunicação; ii) reparação e manutenção de computadores, redes de telecomunicação e outros equipamentos; iii) agenciamento de serviços e mão de obra; iv) fabricantes de componentes e equipamentos; v) consultoria de gestão empresarial e de T&D; vi) preparação de documentos e serviços de apoio administrativo; vii) salas de acesso à Internet; viii) serviços de comunicação multimídia (SCM); ix) atividades de teleatendimento e x) outras atividades de telecomunicações. A categoria mais afastada, mas não menos vinculada, foi chamada de Atividades de Apoio e Aplicação Secundária em TI, envolvendo as seguintes atividades: i) contabilidade; ii) serviços de engenharia; iii) desingn; iv) comércio atacadista de artigos de escritório; v) atividades de apoio à educação; vi) outras atividades profissionais, científicas e técnicas e vii) outras atividades de serviços prestados. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 32 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara Convém ressaltar que nem sempre as atividades declaradas através da CNAE são suficientes para uma adequada visualização dos produtos e serviços efetivamente ofertados pelas empresas, principalmente em TI, na medida em que o referido setor possui fortes tendências à horizontalização de seus serviços, atendendo clientes e mercados com demandas diferenciadas, como hospitais, escolas, governos, bancos, empresas diversas etc. Sobre esse aspecto, convém analisar os resultados obtidos por Lócio (2004) que, ao investigar os nichos de mercado atendidos pelo APL de Fortaleza, apontou 23 conjuntos de serviços ofertados pelas empresas do setor. Usando como critério a quantidade de pessoas ocupadas, verificou-se que as empresas analisadas se enquadram principalmente como sendo de micro a média empresa (86,96%), havendo um número expressivo de pequenas empresas atuando no APL (56,52%). Em sua maioria, as empresas são possuidoras de capital eminentemente nacional (95,65%) e não possuem relação de dependência com outras empresas (86,96%). No que se refere ao tempo de existência, verificou-se que mais da metade das empresas (52,17%) foram fundadas na década de 1990. 6.4 Experiência Inicial das Empresas Em sua maioria, os principais sócios-fundadores são homens (90,91%), com escolaridade equivalente ao nível superior (95,46%). Exerciam, quando da criação da empresa, as atividades de: empresário, estudante universitário e empregado de média ou grande empresa local (68,18%). Dentro da perspectiva do conjunto de proprietários das empresas estudadas, verificou-se que a maioria foi fundada com até quatro sócios (95,45%), com idade variando de 20 a 49 anos (94,12%). Vale destacar que, uma parcela significativa de empresas (40,91%) surgiu da parceria de dois empreendedores e que em metade das empresas analisadas, dois ou três sócios assumem tarefas dentro da estrutura organizacional. Ainda sobre o aspecto do perfil dos sócios, notou-se que 62,5% daqueles que possuíam experiência profissional no setor de TI, antes de se tornar empresário, atuavam na esfera técnica de desenvolvimento, suporte, manutenção ou análise de sistemas e 37,5% possuía experiência prévia na área da gestão. A maioria das empresas (91,3%) iniciou suas atividades com um número inferior a 10 funcionários, havendo ampliação do quadro de funcionários com o passar dos anos e em 2006, aproximadamente 60% das empresas funcionavam com equipes de funcionários que variavam de 10 a 49 pessoas. As principais dificuldades encontradas no primeiro ano de operação das empresas foram: i) contratação e manutenção de empregados qualificados; ii) produção com qualidade; iii) custo ou falta de capital de giro e iv) custo de certificação da empresa e dos colaboradores. Desses, apenas a contratação e manutenção de empregados qualificados apresentou aumento com o passar dos anos, havendo nos outros casos uma redução dos impactos negativos. Convém destacar que o Pagamento de Juros foi considerado por mais da metade das empresas como não sendo uma dificuldade relacionada com a operação das suas atividades. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 33 Dentro da perspectiva da relação de trabalho, verificou-se a tendência das empresas em operarem com até cinco pessoas ocupadas, com participação expressiva dos sócios (86,36%) e estagiários (54,56%). Os contratos formais aparecem com mais frequência na medida em que as empresas aumentam seus quadros, em especial, para além de seis funcionários (59,10%). Já os contratos por projetos aparecem em 50% das empresas analisadas, sem uma tendência relacionada com a quantidade de pessoal ocupado. No que diz respeito à terceirização e ao uso de familiares sem contrato formal, identificou-se que são relações que quase não ocorrem e, quando aparecem, envolvem no máximo duas pessoas, tanto no primeiro caso (31,82%), quanto no segundo (18,18%). 6.5 Produção, Mercados e Emprego No que diz respeito à evolução do número de empregados, percebeu-se um evidente aumento da demanda das empresas por empregados com o passar dos anos, com um padrão decrescente de variação percentual a cada período (TABELA 1). TAMANHO DAS EMPRESAS Micro Pequena Média Grande Total ANOS 2003 15 91 76 144 326 2004 17 128 101 228 474 2005 22 146 129 374 671 2006 29 175 136 521 861 Tabela 1 – Evolução do número de funcionários das empresas do APL de TI de Fortaleza entre os anos de 2003 a 2006. Fonte: Pesquisa de campo. Sobre a dimensão do mercado atingido, foi verificada uma nítida tendência de deslocamento gradual de foco para o mercado externo, com uma redução compensatória no percentual de transações voltadas para atender as demandas do mercado local (Tabela 2). ANO VENDAS NOS MUNICÍPIOS DO APL* VENDAS NO ESTADO* VENDAS NO BRASIL* VENDAS NO EXTERIOR* 2003 2004 2005 2006 23,5 20,4 21,1 20,0 47,2 45,6 45,1 43,9 26,7 29,7 27,3 28,6 2,6 4,3 6,6 7,5 Tabela 2 – Mercado atingido pelas Empresas do APL de TI de Fortaleza entre os anos de 2003 a 2006*. Fonte: Pesquisa de campo. (*) Os valores representam os percentuais de venda das empresas para cada mercado em cada ano. Sobre a escolaridade, a maior proporção do pessoal ocupado ficou concentrada nas camadas de nível superior (86,34%), estando os níveis médio e fundamental com a menor quantidade de pessoas atuantes no setor (11,22%). Já sobre os agregadores de valor das empresas, os principais foram: Maior Quantidade de Vendas; Maior usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 34 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara Retorno s/ Vendas; Maior % de Clientes Fidelizados; Clientes que Melhoram a Imagem da Empresa; Comportamento Ético dos Administradores; Percepção da Marca; Maior % de Clientes Prospectados que Concretizam Operações; Experiência/Reputação dos Administradores; Entregas Pontuais e Gestão dos Projetos. 6.6 Inovação, Cooperação e Aprendizado Em sua maior parte, com um impacto declarado de inovação no faturamento de no máximo 25%, as empresas realizam inovações sobre a ótica do que já existe no mercado local e nacional, tanto na perspectiva do produto, quanto nos processos tecnológicos. Sobre essa questão, percebeu-se também que a maioria das empresas (73,91%), ainda não conseguiram consolidar inovações de produtos novos que tivessem penetração no mercado internacional. Ainda sobre produtos e processos, verificou-se que mais de 60% das empresas realizaram inovações de produtos focados no mercado nacional, bem como inovações de processos tecnológicos circunscritos às demandas locais. Convém destacar que um volume maior de empresas introduziram inovações sobre a perspectiva do Design dos produtos (59,59%) e em relação à criação de melhorias substanciais das embalagens (14,29%). Já dentro da esfera da gestão, por mais que a maioria das empresas costumem introduzir técnicas, conceitos e/ou práticas inovadoras (exceto na área de Marketing), um volume ainda significativo de empresas (acima de 39%) apresentou dificuldades de incorporar inovação como elemento integrante de seus processos de gestão. Acima de 70% das empresas do APL declararam que a introdução de inovações gerou impactos de média a alta importância no(a): i) aumento da qualidade dos produtos; ii) aumento da produtividade da empresa; iii) participação nos mercados de atuação e mercado interno; iv) abertura de novos mercados e v) ampliação da gama de produtos ofertados. Entretanto, foi observado que mais de 65% das empresas informaram que as inovações realizadas tiveram baixa importância ou nenhum impacto no: i) aumento da participação no mercado externo e ii) no enquadramento da empresa em regulações e normas-padrão relativas ao mercado externo. As atividades vinculadas com o processo de inovação, realizadas ocasionalmente, estão relacionadas com pesquisa na empresa (39,13%) e a atividade mais realizada de forma rotineira diz respeito ao desenvolvimento na empresa (78,26%), ou seja, as empresas realizam atividades de pesquisa de forma pontual e se dedicam com mais frequência aos processos inovativos de desenvolvimento. A maioria das empresas do APL (71,43%) gastaram até 10% do faturamento com atividades inovativas. Vale ressaltar que, enquanto 87,5% das empresas utilizaram até 10% de seu faturamento em pesquisa, 68,75% declararam investir em desenvolvimento mais do que 10%, o que revela o direcionamento estratégico das empresas do setor para a necessidade da inovação como mecanismo de elevação da competitividade. A estrutura de capital mais comum entre as empresas do APL são as oriundas de capital próprio (88,89% das empresas), o que denota uma provável inadequação das políticas de crédito e fomento para o setor. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 35 Enquanto todas as empresas analisadas consideraram importantes os cursos realizados em suas instalações, aproximadamente 60% consideraram importantes os cursos externos realizados, tanto dentro quanto fora do arranjo. Mais da metade delas entendem que o treinamento por demandante é importante para o desempenho. Entretanto, segundo o ponto de vista das empresas analisadas, os estágios em empresas fornecedoras ou clientes não são relevantes ou possuem baixa importância para a melhoria do desempenho. Sobre o tipo de contratação, 95,65% das empresas consideram importante a absorção de formandos de universidades e 62,22%, de cursos técnicos, todos eles oriundos das instituições localizadas no APL. A absorção de técnicos ou formandos de cursos universitários fora do arranjo foi considerado, por mais de 69% das empresas, como não sendo relevante ou de baixa importância para seus desempenhos. Já a absorção de mestres e doutores não é vista como de alta importância por mais de 78% das empresas estudadas. As fontes de informação consideradas como importantes (média e alta importância) para o aprendizado nas empresas foram: i) informações de rede baseadas na Internet ou computador; ii) clientes; iii) departamento de P&D; iv) áreas de vendas e marketing, serviços internos de atendimento ao cliente; iv) conferências, seminários, cursos e publicações especializadas. Em contrapartida, as fontes de informação consideradas de menor importância para o aprendizado foram: i) os centros de capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção e ii) as licenças, patentes e know how. Vale destacar que as informações provenientes das fontes consideradas como as mais importantes para o aprendizado nas empresas do APL foram obtidas tanto por mecanismos formais quanto por informais, tendo maior expressão de formalidade nas Conferências, Seminários, Cursos e Publicações Especializadas. As fontes que geraram informações para o aprendizado através de mecanismos informais para mais de 70% das empresas foram: i) outras empresas do setor de fora do APL; ii) encontros de lazer; iii) concorrentes; iv) empresas parceiras de outro setor; v)institutos de pesquisa; vi) outras empresas dentro do APL; vii) centros de capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção e viii) universidades. As empresas declararam obter maior volume de informações para o aprendizado das fontes localizadas no Estado e dentro do próprio APL, exceto no caso das informações de rede baseada na Internet ou computador; das informações oriundas de outras empresas de TIC fora do APL e das Conferências, Seminários, Cursos e Publicações Especializadas. A grande maioria das empresas do APL (87%) realizou atividades colaborativas nos anos de 2004 até 2006. Vale destacar que os agentes considerados importantes para as atividades cooperativas foram: i) fornecedores de insumos; ii) outras empresas dentro do APL; iii) clientes de software-pacote; iv) clientes por produto-governo; v)clientes por produto-iniciativa privada; vi) empresas de consultoria; vii) universidades e viii)institutos de pesquisa. Dentro dessa perspectiva, os agentes considerados menos importantes pelas empresas analisadas foram: i) concorrentes dentro do arranjo; ii) concorrentes fora do arranjo; iii) pepresentação e iv) órgãos de apoio e promoção. Vale destacar que todos os agentes, considerados importantes para as atividades cooperativas, tiveram relações com alto nível de formalidade (provavelmente através de contratos, convênios, consórcios etc.) usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 36 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara sendo realizadas, em sua maior parte, no Estado do Ceará (incluindo a região metropolitana de Fortaleza) e em outros estados do Brasil, havendo poucos agentes localizados no exterior. As formas de colaboração consideradas como importantes (média e alta importância) por mais de 75% das empresas foram: i) cooperação para venda conjunta de produtos; ii) desenvolvimento de produtos e processos; iii) capacitação de Recursos Humanos e iv) obtenção de financiamento, indicando que os esforços de colaboração tendem a se concentrar tanto para ações voltadas ao atendimento das demandas de mercado, quanto ao processo produtivo em si. No que diz respeito aos efeitos das ações conjuntas, 70% das empresas consideraram como importantes (média e alta importância): i) as novas oportunidades de negócios e ii)a melhoria na qualidade dos produtos. Nota-se que os efeitos das estratégias de colaboração implementadas se concentram, em grande parte, na esfera da qualidade e na abertura de novos mercados, aparentando revelar um perfil fortemente prospector em seus comportamentos estratégicos. 6.7 Estrutura, Governança e Vantagens Associadas ao Ambiente Local As duas principais vantagens da localização percebidas pelas empresas do APL de TI de Fortaleza como de média a alta importância foram: i) infraestrutura física através de incubadoras e parques tecnológicos (77,27%) e ii) proximidade com universidades e centros de pesquisa (72,72%). Vale ressaltar que no caso das Incubadoras (Incubasoft) e Parques Tecnológicos (Titan Park), o setor, provavelmente, deve ter descrito sua percepção em relação à importância desse tipo de infraestrutura, já que tais instalações/ equipamentos, durante a época da aplicação do questionário, encontravam-se em fase de estudo de viabilidade, planejamento e reativação. Enquanto dentro da perspectiva da relação contratual entre empresas observou-se que mais da metade das empresas pesquisadas (65%) não possuíam relações de subcontratação, a transação comercial colaborativa realizada localmente, considerada de média a alta importância pelo maior número de empresas (82,61%) foi a aquisição de equipamentos. Mais de 80% das empresas do APL perceberam como média e alta importância a contribuição dos sindicatos, associações e cooperativas locais para: i) o estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica; ii) disponibilização de informações; iii) promoção de ações cooperativas; iv) apresentação de reivindicações comuns e v) organização de eventos técnicos e comerciais. Convém destacar o fato de que 50% das empresas consideraram muito importante a atuação dessas instituições na identificação de fontes e formas de financiamento, o que evidencia a provável participação dessas entidades como catalisadoras de políticas de crédito mais adequadas ao setor, através de processos de mobilização e disseminação de informações e facilitação de acesso ao crédito. 6.8 Políticas Públicas e Formas de Financiamento Um número significativo de empresas (acima de 65%) afirmaram não possuir elementos para avaliar os programas do Governo Municipal e do SEBRAE. Entretanto, 52,17% das empresas avaliaram positivamente os programas voltados para o setor do Governo Federal Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 37 e 43,48% também avaliaram positivamente os programas do Governo do Estado do Ceará. Esse fato provavelmente está relacionado com a falta de políticas municipais específicas para o setor e, no caso do SEBRAE, ausência de ações mais específicas e sistemáticas voltadas para as micro e pequenas empresas do setor. Esse quadro denota que o setor conhece os programas de fomento, mas sua baixa participação nos mesmos pode indicar a falta de adequação desses programas às características e especificidades das empresas de TI, por exemplo, a elevada participação dos ativos intangíveis na composição do capital das empresas, o que inibe a apresentação de garantias reais em programas de financiamento. Todas as empresas analisadas consideram como importante (média ou alta importância) para o aumento da eficiência competitiva a implementação de políticas públicas voltadas para a abertura de linhas de crédito e outras formas de financiamento e para a criação de incentivos fiscais. Outro conjunto de políticas públicas considerado também essencial (média e alta importância) por mais de 91% das empresas é composto pelas seguintes ações: i) programas de capacitação profissional e treinamento técnico; ii) estímulos à oferta de serviços tecnológicos; iii) políticas de fundo de aval e iv) programas de estímulo ao investimento (venture capital). Outras duas políticas citadas pelas empresas foram: i) redução de impostos para empresas de serviços e ii) contratação prioritária de serviços de TI com empresas do APL. Embora todos os obstáculos tenham sido considerados relevantes para o setor, as dificuldades ou entraves burocráticos se revelaram como sendo os mais críticos para o acesso das empresas do arranjo às fontes de financiamento. Tais resultados podem refletir, também, certo desconhecimento dessas empresas no que se refere aos procedimentos e condições das diferentes linhas de financiamento existentes. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O propósito do estudo foi descrever o Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação de Fortaleza, capital do Estado do Ceará – Brasil, procedendo à identificação dos principais agentes envolvidos, bem como suas respectivas características e relações. Foi identificada a existência de um conjunto de Stakeholders vinculados ao setor de TI, envolvendo órgãos das administrações públicas federal, estadual e municipal, agências de regulação, empresas, clientes diretos de TI, fornecedores, órgãos de financiamento, institutos de ensino superior, institutos de ciência e tecnologia, organizações não governamentais, sindicatos e associações. As 82 empresas integrantes do Núcleo Empresarial do APL de TI de Fortaleza são, em sua maioria, sociedades limitadas, envolvendo 37 atividades econômicas declaradas, gravitando em torno das seguintes instituições associativas: Sistema ASSESPRO/SEITAC, INSOFT e TITAN. As atividades nucleares de TI mais ofertadas pelas empresas do APL são o Desenvolvimento de Programas de Computador; Comércio Varejista de Informática, Telefonia e Comunicação; Consultoria em TI e Suporte Técnico em TI. Entretanto, como já fora observado desde Marshall (op.cit.), verifica-se também a existência de empresas ofertando atividades de apoio vinculadas ao setor, onde, nesse caso específico, observam-se atividades de contabilidade, serviços de engenharia, desingn, P&D experimental, dentre outras. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 38 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara Em termos gerais, o conjunto de empresas analisado é composto, em sua maioria, de micro e pequenas empresas, com estrutura de capital fundamentalmente próprio, de origem nacional, cujos fundadores são principalmente homens, onde, tanto os sócios quanto o contingente de mão de obra utilizado para a operacionalização das atividades, tendem a possuir níveis elevados de escolaridade. A contratação de funcionários qualificados é considerada a principal dificuldade de operacionalização das atividades no arranjo. Tendo em vista o crescente aumento da demanda de novos funcionários pelas empresas, e que elas tendem a considerar importante a contratação de profissionais oriundos das instituições de ensino localizadas no APL, faz-se necessária a implementação de ações voltadas para o aumento da oferta e de atração de profissionais especializados que possam atender as necessidades locais. Os principais destinos da produção do aglomerado são os mercados local, estadual e nacional, com maior volume para o mercado estadual, havendo uma evidente tendência de deslocamento do foco também para o mercado internacional. As transações comerciais mais realizadas localmente são aquelas voltadas para a aquisição de equipamentos. As empresas do APL assumem que investem em treinamento e inovação como mecanismo de elevação da competitividade, com o propósito de atingir, em especial, os mercados local e nacional, concentrando esforços principalmente em desenvolvimento de produtos e processos. O maior volume de informação das empresas é obtido por fontes localizadas dentro do APL, principalmente através dos clientes e departamentos de P&D, exceto aquelas oriundas de redes baseadas na Internet. Convém acrescentar que a grande maioria das empresas realiza atividades cooperativas dentro do Estado do Ceará, utilizando como parceiros os seus fornecedores de insumos, outras empresas do APL e clientes, principalmente para venda conjunta, desenvolvimento de produtos, capacitações e obtenção de financiamento. Para as empresas, a principal vantagem da localização diz respeito à infraestrutura do município e a proximidade com as Instituições de Ensino Superior e Centros de Pesquisas. Dentro desse contexto, os sindicatos/associações empresariais são vistas como importantes agentes de apoio do setor. Entretanto, ainda existe um nível reduzido de participação em programas específicos desenvolvidos pelos poderes púbicos, sendo considerado importante pelas empresas, para o aumento da eficiência competitiva, a implementação de políticas públicas voltadas para a abertura de linhas de crédito específicas e a redução dos entraves burocráticos para o acesso às fontes de financiamento. De acordo com a taxonomia de caracterização de APL’s, baseada nos tipos de governança, territorialização e destino da produção, apresentada por Cassiolato e Szapiro (op. cit.), vale destacar algumas observações. No que se refere à governança, o APL de TI de Fortaleza não apresenta empresas ou instituições “âncoras” que atuem como convergentes da coordenação das dinâmicas locais, se caracterizando como um arranjo cuja governança está configurada em efetivas redes de relacionamento, envolvendo empresas e instituições de apoio. Dentro da perspectiva do mercado de destino da produção, o APL de TI de Fortaleza atende principalmente aos mercados local, estadual e nacional. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 39 Sobre a perspectiva da territorialização, vale destacar que ela está vinculada ao nível de retenção local dos fatores envolvidos com os processos de competitividade e de inovação, e que, em uma configuração de governança em rede, a territorialização está associada com várias especificidades ligadas ao trabalho e à produção, não havendo métodos padronizados para sua identificação. Dessa forma, os seguintes fatores foram utilizados para o enquadramento do APL: i) origem da mão de obra utilizada pelas empresas; ii) mercado-foco das inovações realizadas pelas empresas; iii) origem das fontes de informação utilizadas pelas empresas; iv) localização das atividades cooperativas realizadas pelas empresas e v) principal mercado-alvo das empresas. Enquanto que a mão de obra e as fontes de informações, em sua maior parte, são oriundas do próprio APL (tendendo esses fatores para uma alta territorialização), o foco da produção e das inovações está centrado nos mercados local e nacional (tendendo, no caso desses fatores, para uma territorialização que gravita entre alta, quando do mercado local, para média, quando do mercado nacional). A mesma gravitação do nível de territorialização é verificada quando se observa a localização das atividades cooperativas realizadas pelas empresas do APL, na medida em que elas são, em sua maioria, realizadas dentro do Estado do Ceará. Dessa forma, pode-se caracterizar o APL de TI de Fortaleza como sendo um aglomerado que possui uma configuração de governança em redes, com média territorialização e que tem como destino da produção os mercados Local e Nacional, conforme o quadro 4. Governança / MercadoDestino da Produção GOVERNANÇA HIERARQUIZADA GOVERNANÇA EM REDES Alta Territorialização Média Territorialização Baixa Territorialização Alta Territorialização --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- Mercado Local Mercado Nacional Mercado Internacional Média Territorialização APL de TI de Fortaleza --- Baixa Territorialização ------- Quadro 4 – Caracterização do Arranjo Produtivo Local de TI de Fortaleza segundo os tipos de governança, territorialização e destino da produção. Fonte: Elaboração própria. Frente à perspectiva de evolução apresentada por Machado (op.cit), percebe-se que o APL de Tecnologia da Informação de Fortaleza apresenta características que o enquadram como um aglomerado que se encontra em pleno processo de crescimento. O aumento da atração de setores a montante; a demanda crescente por profissionais especializados; o aumento dos processos de cooperação vertical e horizontal de cunho tecnológico e a forma pela qual estão se conformando as alianças entre as instituições de apoio do setor, podem ser consideradas como as principais evidências desse processo. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 40 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara Acompanhando a evolução histórica do aglomerado, percebe-se um aumento da velocidade de convergência do APL, quando analisado sob a ótica das parcerias entre empresas através das instituições associativas. Tendo em vista a natureza dessas relações, recomenda-se que as instituições convergentes (Sistema ASSESPRO/SEITAC, ITIC e TITAN) aproveitem esse processo e estrategicamente fortaleçam seus papéis de agentes promotores do desenvolvimento do setor. Para tal, duas ações surgem como alternativas efetivas. A primeira diz respeito à ampliação do corpo de empresas associadas ao núcleo do APL em função das atividades econômicas que gravitam em torno do setor. Essa ação, ao mesmo tempo em que promove o fortalecimento das relações entre os atores envolvidos, garante um nível adequado de diversidade representativa, tornando o segmento capaz de possuir um maior poder de resposta frente a alterações exógenas. A segunda ação está relacionada com a necessidade das instituições de apoio estabelecerem estratégias claras que busquem consolidar políticas de investimentos voltadas para o aproveitamento das externalidades positivas em favor do próprio arranjo (economias de cunho tecnológico, de mercado e de organização). Sobre esse aspecto, as estratégias deverão ser focadas em várias esferas, promovendo profundas interações com outros Stakeholders, como por exemplo, órgãos governamentais, bancos, instituições de ensino superior, institutos de ciência e tecnologia, dentre outros. Dessa forma, o processo de governança torna-se elemento crítico nessa etapa de desenvolvimento do setor na medida em que influi decisivamente na consolidação das condições futuras para externalidades e transbordamentos. Os focos possíveis e adequados de governança entre as instituições de apoio, bem como as dinâmicas de desenvolvimento induzidas pelas parcerias advindas do aglomerado, também são pontos que devem merecer indicações para estudos posteriores. Mesmo entendendo que o Estado deva assumir suas funções específicas de promoção da estabilidade, definição de mecanismos legais de incentivo, regulação das cooperações entre empresas, promoção de infraestrutura, envolvendo condições físicas de educação e saúde (CORREIA, 2003, p.891), deve-se estar atento para o efetivo e determinante poder que as parcerias entre os agentes locais exercem na determinação dos rumos do desenvolvimento econômico de determinada região. Por isso, a maior parte da responsabilidade pelo fortalecimento do setor de tecnologia da informação em Fortaleza recai nos processos de integrações/cooperações envolvendo, dentre outros, o Sistema ASSESPRO/SEITAC, ITIC, TITAN, Instituições de Ensino Superior do Estado, Institutos de Ciência e Tecnologia, as empresas de TI, Governo Federal, Governo do Estado do Ceará e Prefeitura Municipal de Fortaleza. A caracterização do APL de TI de Fortaleza, apontada nesta pesquisa, além de referencial para outros estudos, proporciona o balizamento para discussões referentes à avaliação, elaboração e concretização de relações colaborativas entre os diversos agentes e de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do setor na região. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 41 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Sérgio; TORRES, Rodolfo; CASSIOLATO, José Eduardo. Indicadores de arranjos produtivos locais: uma proposta a partir do questionário RedeSist. Rio de Janeiro: Rede e Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – RedeSit/IE/UFRJ, 2004. p. 17. Disponível em: < www.ie.ufrj.br/redesist> Aceso em: 27 fev. 2007. AMARAL FILHO, Jair do; SCIPIÃO, Tatiana Teófilo; SOUZA, Dayane Lima Rabelo. Identificação e mapeamento das aglomerações produtivas especializadas no Ceará: pistas para a identificação de Arranjos Produtivos Locais (APLs). Fortaleza: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE, 2004. p.7-54. AMATO NETO, João. Redes de cooperação produtiva e clusters regionais: oportunidades para as pequenas e médias empresas. São Paulo: Atlas, 2000. p. 41-42. ASSESPRO – CE. Associação das empresas brasileiras de tecnologia da informação, software e internet do Ceará. Disponível em: <http://www.assespro-ce.org.br> Acesso em: 02 mar. 2007. BABBIE, Earl. Métodos de pesquisa de Survey. Belo Horizonte: UFMG, 2005. p. 93-258. BAIARDI, Almilcar; BASTO, Celina. O protagonismo das redes nos parques tecnológicos. In: XXIV Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica. Anais... Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração – ANPAD. Gramado (RS), 2006. 1 CD-ROM. BRITTO, Jorge. Características estruturais dos clusters industriais na economia brasileira. Nota Técnica n° 29/00 (versão preliminar). Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IE/UFRJ, 2000. p. 8. BRITTO, Jorge. Cooperação Tecnológica e Aprendizado Coletivo em Redes de Firmas: sistematização de conceitos e evidências empíricas. In: XXIX Encontro Nacional de Economia. Anais... Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia – ANPEC. Salvador (BA), 2001. 1 CD-ROM. BUENO, Ana Maria. Arranjos Produtivos Locais: análise da caracterização do APL de Ponta Grossa com base nos indicadores. 2006. 109 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação da UTFPR, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta Grossa – Paraná. BURRELL, Gibson. Ciência normal, paradigmas, metáforas, discursos e genealogia da análise. In: CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R. (orgs). Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. Vol. 1. São Paulo: Atlas, 1999. p. 399-462. CÂNDIDO, Gesinaldo Ataíde. A formação de redes interorganizacionais como mecanismo para geração de vantagem competitiva e para promoção do desenvolvimento regional: o papel do estado e das políticas públicas neste cenário. Revista de Economia e Administração – REAd, v. 8, n. 4, jul/ago. 2002. CÂNDIDO, Gesinaldo Ataíde; ABREU, Aline França de. Aglomerados industriais de usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 42 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara pequenas e médias empresas como mecanismo para promoção de desenvolvimento regional. Revista Eletrônica de Administração – REAd. v. 6, n. 6, dez. 2000. CARVALHO, M. M.; MACHADO, S. A.; RABECHINI JR, R. Fatores críticos de sucesso em empresas de base tecnológica. Revista Produto & Produção. v. 4, número especial, p. 47-59, abr. 2000. CARVALHO, Marly Monteiro de. Relações entre empresas: competências coletivas e tipos de governança em Clusters de alta tecnologia do Estado de São Paulo. In: AMATO NETO, João (org.). Redes entre organizações: domínio do conhecimento e da eficácia operacional. São Paulo: Atlas, 2005. p. 39-53. CASSAROTO FILHO, Nelson; PIRES, Luis Henrique. Redes de pequenas e médias empresas e desenvolvimento local: estratégias para a conquista da competitividade global com base na experiência italiana. São Paulo: Atlas, 1998. p. 23-67. CASSIOLATO, José E. A economia do conhecimento e as novas políticas industriais e tecnológicas. In: LASTRES, Helena M. M.; ALBAGLI, Sarita (org.). Informação e globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1999. p. 164-190. CASSIOLATO, José E.; LASTRES, Helena M. M.; Inovação, globalização e as novas políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico. In: CASSIOLATO, José E.; LASTRES, Helena M. M. Globalização & inovação: experiência de sistemas locais no Mercosul. Brasília: IBICT/MCT, 1999. p. 767-799. CASSIOLATO, José E.; SZAPIRO, Marina. Uma caracterização de arranjos produtivos locais de micro e pequenas empresas. In: CASSIOLATO, José E.; MACIEL, M. L. Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003. Disponível em: < www.ie.ufrj.br/redesist> Aceso em: 27 fev. 2007. CASSIOLATO, José E.; SZAPIRO, Marina; LASTRES, Helena M. M. Relatório de atividades do referencial conceitual, metodológico, analítico e propositivo sobre caracterização e taxonomias de arranjos e sistemas produtivos locais de micro e pequenas empresas. Rio de Janeiro: Rede e Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – RedeSit/IE/UFRJ, 2004. p. 15. Disponível em: < www.ie.ufrj.br/redesist> Aceso em: 27 fev. 2007. CEZARINO, Luciana Oranges; CAMPOMAR, Marcos Cortez. Vantagem competitiva para micro, pequenas e médias empresas: Clusters e APLs. In: IV Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas – EGEPE. Anais... Universidade Estadual de Maringá – UEM/Universidade Estadual de Londrina – UEL/ PUC – PR. Curitiba (PR), 2005. p. 1315-1326. CHAGAS, André Luís Squarize; TONETO JR, Rudinei. Fatores determinantes do crescimento local: evidências a partir de dados dos municípios brasileiros para o período 1980-1991. Pesquisa e Planejamento Econômico-PPE/IPEA, v. 33, n. 2, p. 349-385, ago. 2003. CORREIA, Paulo da Cruz. As aglomerações produtivas especializadas como elemento facilitador de novos empreendimentos. In: III Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas – EGEPE. Anais... Universidade Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 43 Estadual de Maringá – UEM/Universidade Estadual de Londrina – UEL/UNB. Brasília (DF), 2003. p. 881-897. CORRÊA, Maria Iraê de Souza; PAIVA JÚNIOR, Fernando G. de; SOUZA, Angela Cristina Rocha de. O Discurso da modernidade em Pernambuco e o posicionamento do Porto Digital. In: X Colóquio Internacional sobre Poder Local. Anais... Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração – ANPAD / Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional – ANPUR. Salvador (BA), 2006. 1 CD-ROM. COSTA, Ivani; TORRES, Avani Terezinha Gonçalves; GOMES, Maria de Lourdes Barreto; CÂNDIDO, Gesinaldo Ataíde. Arranjo produtivo local – uma estratégia para promover a inovação nas empresas de tecnologia da informação e comunicação: o caso do farol digital na Paraíba. In: XXIV Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica. Anais... Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração – ANPAD. Gramado (RS), 2006. 1 CD-ROM. DONALDSON, Thomas; PRESTON, Lee E. The Stakeholder theory of the corporation: Concepts, evidence and implications. Academy of Management Review. Vol. 20, n.1, p. 65-91. 1995. DUHAN, S.; LEVY, M.; POWELL, P. Information systems strategies in knowledge-based SMEs: the role of core competencies. European Journal of Information Systems, n.10, p. 2540. 2001. EIRIK, Vasco. Proposta de tipologia sobre alianças estratégicas. Revista de Administração Contemporânea – RAC. v. 5, n.2, p. 65-90, mai/ago. 2001. FERREIRA JÚNIOR, Hamilton de Moura; SANTOS, Luciano Damasceno. Sistemas e arranjos produtivos locais: o caso do polo de informática de Ilhéus/BA. Revista de Economia Contemporânea. v.10, n. 2, p. 411-452. may. aug. 2006. FREEMAN, R. Edward; REED, David L. Stockholders and Stakeholders: a new perspective on corporate governance. California Management Review, v. 25, n. 3, p. 88-106. 1983. GUTIERREZ, Regina Maria Vinhais; ALEXANDRE, Patrícia Vieira Machado. Complexo eletrônico: introdução ao software. BNDS Setorial, n. 20, p. 3-76, set. 2004. GUIMARÃES, Vicente; CASSIOLATO, José Eduardo. Arranjo produtivo local da indústria de software em Petrópolis. In: XI Seminário Latino-Americano da Redesist. Anais... Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – REDESIST. Rio de Janeiro(RJ), 2004. Disponível em: < www.ie.ufrj.br/redesist> Acesso em: 27 fev. 2007. GUIMARÃES, Vicente. Sistemas de inovação em países periféricos: o arranjo produtivo das empresas de software de Petrópolis. 2005. 144 f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia da UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. HASENCLEVER, Lia; ZISSIMOS, Isleide. A evolução das configurações produtivas locais no Brasil: uma revisão da literatura. Revista Estudos Econômicos. v. 36, n. 3, p. 407-433. 2006. IBGE. Produto Interno Bruto a preços correntes e Produto Interno Bruto per capita usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 44 Alexandre Gomes Galindo e Samuel Façanha Câmara segundo Grandes Regiões, Unidades da Federação e Municípios – 2001-2004. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais. Disponível em: <www.ibge.gov.br> Acesso em 02 mar. 2007. INSOFT. Instituto de tecnologia da informação do Ceará. Disponível em: <http:// www.insoft.softex.br> Acesso em: 02 mar. 2007. KANTER, Rosabeth Moss. When giants learn cooperative strategies. Planning Review, v. 18, n. 1, p. 15-22, jan./feb.1990. KEEN, P. G. W. Information Technology And The Management Theory: The Fusion Map. IBM Systems Journal, v. 32, n. 1, p. 17-38. 1993. KLOTZLE, Marcelo Cabus. Alianças estratégicas: conceito e teoria. Revista de Administração Contemporânea – RAC, v. 6, n. 1, p. 85-104, jan./abr. 2002. KUBOTA, Luis Claudio; NOGUEIRA, Roberto. Pesquisa sobre empresas de software brasileiras. Boletim de Conjuntura Industrial-IPEA/ABDI. n.11, p. 9-15, set. 2006. LASTRES, Helena M. M. Políticas para a promoção de arranjos produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas: vantagens e restrições do conceito e equívocos usuais. Rio de Janeiro: Rede e Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais-RedeSit/IE/UFRJ, set. 2004. p. 9. Disponível em: < www.ie.ufrj.br/redesist> Aceso em: 27 fev. 2007. LASTRES, Helena M. M.; CASSIOLATO, José Eduardo. Questionário para Arranjos Produtivos Locais. Rio de Janeiro: Redesist-Instituto de Economia da UFRJ. 2003. Disponível em: <www.redesist.ie.ufrj.br> Acesso em 07 jul. 2007. LEMOS, Cristina Ribeiro. Micro, pequenas e médias empresas no Brasil: requerimentos de políticas para a promoção de sistemas produtivos locais. 2003. 270 f. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) – COPPE/UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. LEWIS, Marianne W. GRIMES, Andrew J. Metatriangulação: a construção de teorias a partir de múltiplos paradigmas. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 45, n. 1, jan./mar. 2005. p. 72-91. LÓCIO, Aprígio Botelho. Estratégias para exportação de software no estado do Ceará. 2004. 161 f. Dissertação (Mestrado em Negócios Internacionais) – UNIFOR, Universidade de Fortaleza, Fortaleza-Ceará. LUFTMAN, J. N.; LEWIS, P. R. & OLDACH, S. H. Transforming The Enterprise: The Alignment Of Business And Information Technology Strategies. IBM Systems Journal, v. 32, n.1, p. 198-221. 1993. MACHADO, Solange Aparecida. Dinâmica dos arranjos produtivos locais: um estudo de caso em Santa Gertrudes, a nova capital da cerâmica brasileira. 2003. 144 f. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) – Escola Politécnica da USP, Universidade de São Paulo, São Paulo. MARSHALL, Alfred. Princípios de economia: tratado introdutório. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985a. v.1. p. 231-238. MARSHALL, Alfred. Princípios de economia: tratado introdutório. 2. ed. São Paulo: Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 usiness DESCRIÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORTALEZA CONSIDERANDO AS RELAÇÕES ENTRE SEUS AGENTES: UM FOCO NAS ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS 45 Nova Cultural, 1985b. v. 2. p. 3 24-327. MEYER-STAMER, J. New departures for technology policy in Brazil. Science & Public Policy, v. 22, n. 5, p. 295-304. 1995. OLAVE, Maria Elena Leon; AMATO NETO, João. A formação de redes de cooperação e clusters em países emergentes: uma alternativa para PMEs no Brasil. In: AMATO NETO, João (org.). Redes entre organizações: domínio do conhecimento e da eficácia operacional. São Paulo: Atlas, 2005. p. 67-93. PASSOS, Francisco Uchoa; CRUZ, Rossine Cerqueira da; DIAS, Camila Carneiro; COSTA NETO, Armando Alberto da. Capacidade tecnológica de arranjos produtivos locais na Bahia: um panorama de algumas competências e muitas demandas. In: XXIX EnANPAD. Anais... Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração – ANPAD. Brasília (DF), 2005. 1 CD-ROM. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. The Core Competence of the Corporation. Harvard Business Review, v. 68, n. 3, p. 79-91, may./jun. 1990. RITA, Luciana Peixoto Santa; DANTAS, Anderson de Barros; SILVA, Maria Aparecida da; MILITO, Claudia Maria. Habitats de inovação no arranjo produtivo de tecnologia da informação do estado de Alagoas. In: XXIV Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica. Anais... Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração – ANPAD. Gramado (RS), 2006. 1 CD-ROM. SHAPIRO, Carl; VARIAN, Hal R. A economia da informação: como os princípios econômios se aplicam à era da internet. Rio de Janeiro: Campus, 1999. p.13-33. TITAN. Instituto Titan-tecnologia, informação, telecomunicações e automação do nordeste. Disponível em:<http://conteudo.secrel.com.br/content/aplicacao/ Instituto_Titan/pagiana_inicial/enviados/pagina_inicial.asp> Acesso em: 02 mar. 2007. VASCONCELOS, Flávio C.; CYRINO, Álvaro B. Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional. Revista de Administração de Empresas – RAE, v. 40, n. 4, p. 20-37, out./dez.2000. Data de recebimento: 12/04/2010 Data de aceite: 20/05/2010 usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 11-45 • dez. 2010 46 usiness 47 AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS Evaluation of the Religious Services by the Catholics João Adamor Dias Neves Universidade Estadual do Ceará – UECE [email protected] Arley Rodrigues Bezerra Universidade Federal do Ceará – UFC [email protected] Márcio de Oliveira Mota Universidade de Fortaleza – Unifor [email protected] RESUMO O presente artigo avalia as estratégias de marketing religioso utilizadas pela Igreja Católica em uma capital brasileira para atrair e manter fiéis. Especificamente, pretende-se: (1) traçar o perfil dos católicos nesta cidade; (2) identificar as estratégias de marketing utilizadas para atrair e manter os fiéis; (3) avaliar os serviços religiosos entregues aos católicos pela Igreja Católica, através da escala SERVQUAL e (4) relacionar o perfil dos fiéis com os serviços religiosos entregues a eles pela Igreja Católica. Trata-se de estudo analítico-descritivo, de natureza quantitativa, por meio de survey com o uso da escala SERVQUAL. Foram aplicados 384 questionários aos fiéis de oito paróquias de uma capital brasileira, escolhidos aleatoriamente, com erro de 5% e 95% de confiança. Segundo os resultados, os católicos são majoritariamente mulheres, incluem todas as classes sociais, escolaridade e rendimento mensal de todos os níveis. Os serviços religiosos foram avaliados positivamente e a análise de correlação efetuada não foi suficiente para estabelecer uma relação estatisticamente significativa entre o perfil dos fiéis e os serviços religiosos entregues aos fiéis católicos pela igreja na cidade pesquisada. Em termos gerenciais, estes resultados podem ser úteis: (1) às paróquias, por permitir aperfeiçoar e monitorar os serviços religiosos entregues aos fiéis; (2) à cúpula da Igreja Católica, por conhecer melhor a avaliação dos serviços religiosos prestados e (3) a outros pesquisadores que queiram aprofundar esse tema, replicando o estudo feito ou usando metodologia diferente para saber se os resultados serão semelhantes ou não. Recomenda-se a realização de novos estudos sobre o fenômeno, abordando aspectos diferentes dos que aqui foram contemplados. PALAVRAS-CHAVE: Marketing de Serviços. Marketing Religioso, Atração e Retenção de Fiéis. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 48 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota ABSTRACT The present article evaluates the strategies of Religious services marketing by the Catholic religion in a Brazilian capital city to attract and to maintain them. Specifically, it is intended: (1) to trace the profile of the Catholics and (2) to evaluate the strategies of the Catholic Church used to attract and retain the Catholic loyal followers. It is a quantitative and descriptive-analytical study, through the survey using the ServQual scale. The field research was carried out by 384 questionnaires with Catholics sited in eight parish churches in the city, randomly chosen, with the error of 5% and 95% of confidence interval. Based upon the results, the Catholics studied are mainly women, included in all social classes, schooling and monthly earnings of all levels. The religious services were positively assessed, however, the correlation analysis was not sufficient to establish a statistically significant relationship between the profile of Catholic religion and its services. In managerial implications, the results can be useful: (1) to the parishes, for allowing them to do a better services and to monitor the religious services delivered to the loyal followers; (2) to the board of Catholic Church, for better knowing the evaluation of the religious services given and (3) to other researchers that want to deepen in this research field by taking further studies, using different methodology to know whether or not the results achieved will be similar or not. KEYWORDS: Services Marketing, Religious Marketing, Attraction and Retention Strategies. 1. INTRODUÇÃO Atualmente, a Igreja Católica tem apresentado uma considerável perda no número de fiéis e esse fato por si merece consideração, porque, dentre outros fatores, as demais religiões usam estratégias agressivas para atrair e manter fiéis. Partindo do universo de religiões existentes, a Igreja Católica foi escolhida tanto pelo comprometimento dos autores, como praticantes desta religião, quanto pela conveniência no acesso a grupos nos quais esta pesquisa se baseou, pois, segundo Marconi e Lakatos (2002), um tema a ser pesquisado deve levar em consideração as aptidões e inclinações dos pesquisadores. Apesar de o conceito de marketing ser geralmente associado às atividades de comércio, faz-se necessário o reconhecimento de como as estratégias de marketing estão presentes nas diversas atividades da Igreja Católica. A razão disso é que o simples fato de promover encontros, como grupos de oração e acampamentos, já é, por si só, uma atividade de marketing utilizada pela Igreja para atrair fiéis, pois para Kotler (2000) a principal função do marketing é conquistar e manter clientes. Este tema é relevante, pois apresenta um campo de pesquisa pouco explorado hoje em dia, há pouco conhecimento acumulado sobre as estratégias que a Igreja Católica usa para atrair e manter fiéis e, desse modo, o presente estudo pretende, de certo modo, preencher essa lacuna, além de servir de incentivo para estudos futuros, inclusive por parte da própria Igreja Católica. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS 49 A proposta de um marketing católico se justifica na própria razão de ser do marketing descobrir o que leva o ser humano a sentir-se motivado por alguma causa, por algum ideal, por algum objetivo, e a lutar por isso. O objeto de estudo centra-se nas estratégias de marketing de serviços que a Igreja Católica vem utilizando nos dias de hoje para, sobretudo, manter o seu número de fiéis, impedindo o avanço das outras religiões, uma vez que há uma perda considerável de seguidores do catolicismo e consequente crescimento de outras religiões, especialmente a evangélica. Neste caso, o presente estudo é pertinente, porque se propõe a conhecer as estratégias de marketing de serviço que a Igreja Católica utiliza para atrair e manter os fiéis, procurando saber até que ponto essas estratégias ajudam ou não a explicar a causa da perda de mercado sofrida pela Igreja Católica recentemente. Busca-se, com este estudo, resposta à pergunta: até que ponto as estratégias de marketing de serviços religiosos são eficazes em atrair e manter fiéis? Assim, o objetivo geral do estudo é identificar e analisar as estratégias de Marketing de Serviços Religiosos da Igreja Católica. Especificamente, pretende-se: (1) verificar o que a Igreja Católica faz para atrair os fiéis, (2) identificar as estratégias utilizadas para manter os fiéis; (3) avaliar as estratégias utilizadas pela Igreja Católica, através da escala SERVQUAL e (4) relacionar o perfil dos fiéis com os serviços religiosos entregues a eles pela Igreja Católica. 2. MARKETING RELIGIOSO O Marketing tem, como um dos seus propósitos, atender às necessidades dos indivíduos e criar situações que despertem desejos que precisam ser atendidos. Observa-se que o homem, como ser espiritual, tem, mesmo que de forma inconsciente, a necessidade de relacionamento com Deus e também com as pessoas que o rodeiam. Esse pode ser considerado um ponto favorável e ao mesmo tempo um problema para o desenvolvimento do marketing, pois muitas religiões, e principalmente seitas, se aproveitam desse fato para mercantilizar a Palavra de Deus de forma explícita e antiética, ao passo que outras apenas almejam tornar acessíveis seus preceitos a todos. Diversas novas religiões, cristãs ou não, muitas das quais denominadas seitas, têm-se valido constantemente, até mesmo de forma exacerbada, de técnicas e estratégias de marketing para envolver fiéis desgarrados e insatisfeitos oriundos de outras religiões, principalmente da católica, procurando agregá-los ao seu rebanho. No ambiente tão competitivo de hoje, também entre as diversas religiões, a habilidade e criatividade dos administradores podem ser o caminho para o avanço evangelizador das religiões. Não se pode considerar o marketing apenas como uma ferramenta de promoção das vendas, como uma filosofia empresarial, um conjunto de definições, ações e estudos que visam suprir as necessidades do mercado, superar as expectativas, conquistar novos clientes e, principalmente, conquistar e manter clientes (KOTLER, 1999). usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 50 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota Ver-se-á como as ferramentas de marketing são utilizadas para auxiliar as inúmeras religiões em seu intuito de atrair e manter fiéis, através da análise de dois casos, os quais procuram exemplificar e analisar o resultado das estratégias usadas. Para cumprir seu papel original de entregar ao consumidor final os produtos e serviços, as funções de marketing passam por várias etapas: a concepção em si, o registro e patente, a composição de custos, o cálculo do preço ao consumidor, sua divulgação, sua distribuição, o monitoramento da repercussão. Assim, o levantamento e cruzamento de todos esses dados geram uma atividade altamente completa e estratégica comumente chamada marketing. Para cada setor existe o tipo adequado, como por exemplo, marketing eleitoral, social, ambiental, religioso, de relacionamento, dentre outros. Cabe ao marketing católico ajudar a promover o aperfeiçoamento do espaço físico das igrejas para oferecer aos fiéis um ambiente confortável, limpo e agradável para o culto; providenciar recursos audiovisuais que ajudem a enriquecer as celebrações e o contato com a Palavra de Deus; colaborar no planejamento e realização de eventos de evangelização formativos e de entretenimento; facilitar a integração entre fiéis, não fiéis, pastorais, movimentos, serviços agregados e de apoio à paróquia. Além disso, o marketing católico tem a função de auxiliar no processo de relações públicas da Igreja, seja através da comunicação interna (clero/fiéis, fiéis/clero) ou externa (outras igrejas, órgãos públicos, sociedade em geral...) e promover a utilização dos meios de comunicação como Internet, rádio, jornais, revistas etc. Mesmo não sendo citado nas igrejas, e ainda que muitas delas não entendam seu significado, o tema marketing não está, como para muitos possa parecer, necessariamente ligado à ideia de um comércio. O marketing está presente no ambiente religioso, uma vez que “quase todas as religiões preparam palestras, promovem reunião de grupos interessados, convidam pessoas para encontros; tudo isto consiste em perfeitas estratégias mercadológicas” (LAS CASAS, 1997). A importância do Marketing para uma organização eclesiástica se deve ao fato de que para acompanhar, mensurar e agir ordenadamente dentro do nível de desenvolvimento a que o mundo se encontra e a velocidade e as formas em que essas transformações ocorrem, bem como para despertar as pessoas, é primordial o uso dos recursos propostos pelo marketing. As simples observações de como organizações não eclesiásticas invadem os meios eclesiásticos através de planos estratégicos de marketing é uma referência para que o líder faça uso desse potencial. De acordo com Guerra (2003), a lógica mercadológica sob a qual a esfera da religião opera produz, entre outras coisas, o aumento da importância das necessidades e desejos das pessoas na definição dos modelos de práticas e discursos religiosos a serem oferecidos no mercado. Ao mesmo tempo, demanda das organizações religiosas maior flexibilidade em termos de mudança de seus “produtos” no sentido de adequá-los da melhor maneira possível para a satisfação da demanda religiosa dos indivíduos. Vê-se que a importância do conceito de marketing reside no fato de que, cada vez mais, as religiões precisam pautar suas ideias no marketing para que obtenham sucesso em agregar mais infiéis e manter os que já são adeptos delas, para que possam sobreviver no mundo competitivo atual. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS 51 O marketing religioso parte do pressuposto de que o emprego da propaganda hoje é indispensável a qualquer movimento com pretensões de expansão. A análise parte do princípio de que as igrejas se constituem como movimentos religiosos num contexto de globalização, que tornou possível o emprego da propaganda e do marketing religioso em seu processo de expansão. Marketing Religioso são os esforços desenvolvidos cuidadosamente pela organização através da análise, do planejamento, da implementação e do controle de programas formulados e projetados, orientados para atender de forma eficaz e eficiente os desejos e necessidades do seu público e a efetividade da organização. Depreende-se, portanto, que marketing religioso é o emprego das estratégias e ferramentas de marketing nas instituições religiosas através de troca de informações das ideologias das igrejas com o ambiente que as cerca, de maneira a compreender que esse ambiente está cada vez mais globalizado, e com o intuito de agregar ou manter fiéis. São inúmeras as ações de marketing realizadas pelas Igrejas, porém, há exemplos do marketing aplicados de forma distorcida, sem objetivo ideal ou com a utilização de recursos que nem sempre poderão ser considerados éticos ou honestos. São vários os exemplos de igrejas que se utilizam de técnicas de marketing para atrair mais e mais pessoas, com os propósitos de crescer numericamente, com objetivos mercantis, até mesmo o de vender a salvação. Em sermões inflamados, utilizando uma linguagem própria, tendo a Bíblia como suporte, apresenta-se com eloquência, arrecadando milhões de reais em ofertas e dízimos em nome da salvação. De fato, algumas igrejas aplicam e praticam técnicas de marketing, muitas inconscientemente, porém, atingindo o real propósito que Deus delineou como estilo a ser seguido, isto é, levar pessoas a terem suas necessidades espirituais supridas. Em outras, profissionais da área de marketing, de forma consciente, com todos os recursos de mídias e técnicas de propaganda especializadas em levar a Palavra de Deus, atingem maior número de pessoas e também fazem com que tenham, de certa forma, suas necessidades e desejos espirituais satisfeitos. A principal estratégia das religiões e seitas é interiorizar nos fiéis que na igreja está a solução de todos os seus problemas, assim como a resposta a todas as suas dúvidas e indagações. Tudo se soluciona milagrosamente com a fé. Tudo que acontece na vida é vontade de Deus, para os cristãos, ou de outro ser superior para as demais religiões e seitas. Essa estratégia envolve a publicação massiva de livros e periódicos de conteúdo religioso, a veiculação de programas religiosos no rádio e na televisão, bem como a maciça propaganda nos meios de comunicação. Como a cobrança direta de dinheiro pela prestação de serviços religiosos é considerada imoral em nossa sociedade, essas seitas recorrem à figura da contribuição “espontânea” dos fiéis. É evidente que a incorporação ao discurso religioso de artifícios persuasivos, próprios dos discursos indutivos, contribui em muito para encorajar a generosidade dos fiéis. A igreja proclama e pratica internamente formas dialógicas, horizontais, interativas, de comunicação; externamente, prossegue ocupando espaços no rádio, na televisão, na imprensa, no cinema para difundir mensagens evangélicas, à maneira dos demais mercadores de bens e serviços que se valem desses recursos potencialmente abrangentes da moderna tecnologia (MELO, 1986). usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 52 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota A confissão é uma ótima pesquisa qualitativa. Ela permite conhecer o pensamento das pessoas. Na confissão o fiel se revela ao padre, expõe seus medos e suas fraquezas. É aquilo que a pesquisa de marketing quer descobrir do consumidor para desenvolver um produto. São muitos casos de sucesso do marketing da Igreja Católica que poderiam ser citados, incluindo diversas paróquias e dioceses que hoje têm uma receita de dízimo que nos permite fazer um excelente trabalho junto à comunidade, além de outros que levantarem fundos para a realização de grandes projetos e obras. Mas o case mais interessante é o da última visita do Papa João Paulo II ao Brasil, quando foi possível, pela Rede Vida de Televisão, desenvolver o button (em português, broche de lapela) com a face do Papa circundando pela estrela (logotipo da emissora) que levantou fundos suficientes para a cobertura completa da visita e o pagamento de empréstimos efetuados para a sua instalação. Envolve-se nesta ação diversas ferramentas do marketing e tudo saiu exatamente como se planejou. Um case fantástico de marketing religioso. De acordo com Baraldi (2008), o Ministério de Comunicação Social, oficializado pelo Conselho Nacional da RCC em maio de 2000, funciona em vários estados do Brasil evangelizando através da mídia impressa, televisiva, radiofônica, Internet etc. Tem como objetivo dar uma resposta eficaz e clara ao anúncio do evangelho de Jesus Cristo neste terceiro milênio. Uma estratégia de marketing ligada a uma marca é fundamental para o seu sucesso e qualquer aluno de primeiro período de um curso de comunicação social sabe que a marca mais conhecida do mundo é a cruz, com seus valores, missões e visões embutidos, e que tem brand awareness (em português, lembrança da marca) e brand equity (em português, valor da marca) incalculáveis. O produto que ela oferece é um que praticamente todos buscam: o paraíso, que, de uma forma geral, não difere muito dos da concorrência – embora existam casos como aquele idealizado pelos muçulmanos fundamentalistas, que oferecem 70 virgens, por exemplo – mas que têm preços diferentes. Marketing para uma instituição religiosa significa a troca de valores simbólicos com o ambiente, à medida que a organização se desenvolve. Não se trata, apenas, de incorporar valores folclóricos, mas de adaptações na essência de práticas e doutrinas. A Igreja Católica utiliza-se do marketing religioso para atrair e manter seus fiéis. É possível perceber a imensa diferença existente entre a Igreja Católica dos anos 90 e a Igreja dos dias atuais. Essa diferença foi realizada com algumas inovações que a Igreja Católica programou ou aperfeiçoou ao longo do tempo. Hoje a Igreja utiliza-se de bandas de música, de eventos com o público-alvo bem-definido, como é o caso das pastorais, de missas animadas, de congressos etc. 2.1 PASTORAIS 2.1.1 Pastoral da Criança A proposta de como a igreja poderia participar dessa luta para reduzir a mortalidade infantil foi apresentada à CNBB, em 1983. A CNBB indicou Dom Geraldo Majella Ângelo para ser o Pastor que acompanharia esse trabalho. A primeira cidade a implantar a Pastoral da Criança foi Florestópolis – Paraná, na Paróquia de São João Batista. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS 53 2.1.2 Pastoral da Educação Na Arquidiocese, os passos estão sendo pequenos, com pouca gente participando até agora. É necessário que educadores e educadoras católicos, qualquer que seja a sua atividade profissional, bem como educandos em qualquer nível, empenhem-se para realizar uma ação evangelizadora no próprio ambiente de trabalho em que se encontram, ou em outros ambientes em que se façam necessárias reflexão e ação sérias e responsáveis para a fé, para o testemunho da fé e para a cidadania. 2.1.3 Pastoral da Saúde A pastoral da Saúde procura vivenciar três dimensões: 1. Dimensão solidária via vivência da solidariedade com os doentes e sofredores nos hospitais, domicílios e comunidades, atendendo a pessoa em sua dimensão física, psicológica, social e espiritual; 2. Dimensão comunitária: capacitação de agentes multiplicadores de saúde e criação de grupos comunitários que atuem no campo da prevenção, promoção, educação e humanização das instituições de saúde, mediante um processo participativo e transformador; 3. Dimensão político-institucional: atuação política junto aos órgãos e instituições públicas e privadas, que prestam serviços e formam profissionais na área da saúde; participação nos conselhos municipais, estaduais e nacional e nas assembleias, buscando a humanização do sistema de saúde, ou a fiscalização e a denúncia quando isso não for possível. 2.1.4 Pastoral Carcerária A Pastoral Carcerária, na Arquidiocese da cidade pesquisada, tem uma longa história, pautada pela dedicação voluntária de várias pessoas que se sucederam nesses últimos vinte anos e também por alguns momentos dramáticos. Apesar disso, a maior dificuldade sempre foi a constituição de uma equipe coesa, disposta a trabalhar de forma articulada, dentro de uma pastoral de conjunto. Atualmente, a Pastoral Carcerária da arquidiocese conta com um efetivo de vinte pessoas, animadas por uma equipe de coordenação. 2.1.5 Pastoral Operária Pastoral Operária é um trabalho da Igreja que tem como objetivo servir a missão do Cristo trabalhador e a classe trabalhadora e dos excluídos da sociedade. A Pastoral Operária propõe-se a servir e celebrar a vida e a esperança dos trabalhadores e trabalhadoras e contribuir na construção da nova sociedade, sinal e antecipação do Reino de Deus. Continuamos sonhando com esse mundo justo e solidário porque temos certeza de que um dia tudo vai dar certo. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 54 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota 2.2 MÚSICA Um instrumento importante que a Igreja Católica vem utilizando cada vez com mais frequência é a música. Através do canto e da dança a evangelização alcança mais facilmente os fiéis, pois a missa e os demais eventos católicos tornaram-se mais animados e mais convidativos. 2.2.1 Ministério de Música Canção Nova O Ministério de Música Canção Nova nasceu atendendo a uma necessidade natural devido ao grande número de eventos, reunindo grandes massas e principalmente atendendo à necessidade de evangelizar jovens. Sua história começou há mais de vinte anos, quando pessoas como Padre Jonas, Nelsinho Corrêa, Ricardo Sá e outros, realizaram, no começo dos anos 80, os encontros, onde se sentiu a necessidade de ter um grupo de música. Eles realizaram também shows devido aos eventos, como acampamentos, louvores e congressos, fazendo surgir então, em 1984, o Ministério de Música Canção Nova. Atualmente, percebe-se que toda a experiência acumulada em mais ou menos vinte anos conduziu grandes massas, unidas com a certeza de que Deus fez da Canção Nova a casa do músico católico, assumindo mais essa responsabilidade de ser o centro de formação para os músicos católicos do Brasil, onde ele pode se expressar e também buscar formação. O cantar se tornou simplesmente uma forma de servir à Palavra, ou seja, afirmar que a música existe em função da Palavra de Deus. Todas as obras fonográficas e todas as iniciativas, como shows, encontros, louvores, congressos são somente fatores do servir a Deus. 3. METODOLOGIA Segundo Migueles (2003), a metodologia de pesquisa é, fundamentalmente, um conjunto de métodos e procedimentos de pesquisa que tem por objetivo coletar, sistematizar e organizar dados de forma válida e consistente, de modo a servir de base para a sua interpretação científica. Quando se realiza qualquer tipo de pesquisa, segundo Neves (2004), é necessário adotar uma metodologia, na qual serão definidos os métodos (dedutivo, indutivo, fenomenológico, contingencial), as técnicas (exploratória, descritiva, experimental, observação participante, estudo de caso) e os procedimentos utilizados para a realização do trabalho (amostra, universo, instrumento de coleta de dados, análise e interpretação de dados). No presente estudo, a metodologia consistiu de estudo exploratório e descritivo, de natureza quantitativa, por meio de questionário e incluiu os procedimentos de definição da população e amostra, do instrumento de coleta de dados, das variáveis usadas, da análise e interpretação dos dados. 3.1 TIPO E NATUREZA DE ESTUDO Em função dos objetivos desta investigação, aborda-se nesta sessão o tipo e a natureza do estudo e os procedimentos de definição da amostra da pesquisa, do instrumento de coleta de dados, das variáveis usadas, da análise e do tratamento estatístico dos dados coletados. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS 55 Os tipos de estudos adotados na pesquisa serão o exploratório, por meio de pesquisa bibliográfica, e o descritivo, de natureza quantitativa, através da técnica survey, com aplicação de questionários. Foi utilizado o estudo exploratório porque, segundo Malhotra (2001), a pesquisa exploratória é versátil e flexível, acrescendo ao pesquisador várias ideias e dados, diferentemente da pesquisa descritiva, que descreve características ou funções do mercado, com formulação prévia de hipóteses específicas, sendo também diferente das pesquisas causais, cuja finalidade é determinar a relação de causa e efeito, com características de manipulação de uma ou mais variáveis independentes. A pesquisa exploratória, no presente estudo, constou de uma pesquisa bibliográfica, compreendendo o levantamento da bibliografia já publicada sobre o tema, com base nos principais conceitos, usando livros, revistas, artigos, sites, monografias, dentre outros. Utilizou-se estudo descritivo porque, conforme Gil (1999), a pesquisa de caráter descritivo descreve características ou funções do mercado, com formulação prévia de hipóteses específicas, ao passo que para Samara e Barros (1994), este tipo de pesquisa é realizada por meio da definição das características de uma dada população, como idade, escolaridade, renda, atitudes, crenças, dentre outros tipos de características. O estudo descritivo constou de uma pesquisa de campo tipo survey, com uso de questionários que possibilitam além da descrição dos perfis dos católicos entrevistados, informações sobre o grau de satisfação dos fiéis com os serviços religiosos e opiniões sobre as estratégias utilizadas pela Igreja Católica. Quanto à natureza do estudo, trata-se de uma pesquisa quantitativa, considerando um determinado número de católicos da referida cidade com o intuito de acrescentar conhecimento sobre o tema para teoria e prática católica. 3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.2.1 População e Amostra Nessa pesquisa foi considerado como universo o conjunto de católicos da cidade pesquisada, cuja quantidade em 2004 era de 1.691.487, segundo dados do senso do IBGE, que o caracteriza população infinita, segundo Tagliacarne (1991) e Samara e Barros (1994). Com base no total do universo, será escolhida uma amostra probabilística simples. Foi escolhida amostra probabilística porque, segundo Marconi e Lakatos (2002), esse tipo de amostra faz uso de formas aleatórias de seleção, com aplicação de fórmulas estatísticas para o cálculo, podendo ser objeto de certos tipos de tratamento estatístico (MARCONI; LAKATOS, 2002). Assim, e com base em Tagliacarne (1991) e Samara e Barros, considerando-se um nível de significância de 95% e 5% de erro, o tamanho da amostra que permite generalizar os resultados é de 384, que é a amostra a ser usada entre os católicos da cidade em questão. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 56 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota 3.2.2 Instrumento de Coleta de Dados As variáveis usadas para analisar os serviços religiosos estão ordenadas em forma de questionário, porque os questionários são instrumentos de coleta de dados, constituídos por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. (MARCONI; LAKATOS, 2002). No presente estudo o instrumento de coleta de dados foi um questionário, constituído de 19 perguntas divididas em três blocos, questionário já previamente validado por Levinston (1971), utilizando a técnica tipo survey e a escala SERVQUAL. 3.2.3 Variáveis Utilizadas no Estudo Atratividade das instalações da Igreja Católica, atratividade dos materiais relacionados à Igreja, boa realização do serviço desde a primeira vez solicitado, pontualidade dos serviços prestados da Igreja, pontualidade dos serviços prestados pelos funcionários/colaboradores, disponibilidade de ajuda dos funcionários da Igreja, relação entre comportamento dos funcionários e confiança para os fiéis, confiança na solicitação de serviço pela Igreja, horário de funcionamento conveniente, nível de satisfação em relação à última experiência com a Igreja Católica, demonstração da Igreja Católica em relação aos fiéis, relação entre preço e qualidade dos serviços prestados pela Igreja, estratégias utilizadas para atrair fiéis, estratégias utilizadas para manter fiéis, avaliação geral com a última experiência com a Igreja. 3.2.4 Medidas Utilizadas para Analisar as Estratégias de Marketing da Igreja As medidas utilizadas neste trabalho foram baseadas nos itens da Escala SERVQUAL, adaptadas aos serviços religiosos. A escala SERVQUAL, já testada em inúmeros estudos, tem o objetivo de captar a percepção do cliente a respeito do serviço prestado. De acordo com Parasuraman et al. (1991 e 1985), essa escala visa medir a percepção e a expectativa da qualidade dos serviços. Para tanto, esse instrumento de trabalho é uma disposição de notas que se sucedem em ordem crescente através de múltiplas variáveis, objetivando descobrir as fraquezas e fortalezas da qualidade do serviço de uma organização através da análise das seguintes dimensões: tangibilidade; confiabilidade; responsividade; segurança e empatia. No presente estudo, os questionários foram desenvolvidos com base na escala SERVQUAL em que as diversas variáveis procuram medir os 5 aspectos já ditos dos serviços prestados pela Igreja Católica através de afirmativas com 5 alternativas com graus de concordâncias crescentes. Após a elaboração do questionário, este foi submetido a três doutorandos e a três doutores do mestrado acadêmico em Administração da Universidade Estadual do Ceará – UECE e do mestrado profissional em Administração da Universidade Federal do Ceará – UFC, para a validação de conteúdo, ou seja, para a análise do instrumento de coleta, identificando problemas relacionados a escalas, itens, instruções de preenchimento e outras questões relevantes. O questionário foi modificado de acordo com as observações feitas e logo após realizou-se o pré-teste. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS 57 Depois de validado o questionário, foi realizado um pré-teste com 16 pessoas escolhidas aleatoriamente dentro do perfil pretendido das pessoas a serem pesquisadas. Essas pessoas variavam de idade, gênero, escolaridade e rendimento mensal, a fim de garantir uma compreensão irrestrita do instrumento de coleta de dados. Após o pré-teste, elaborou-se a versão final do questionário e procedeu-se à pesquisa, que foi realizada pelos autores, contando no total 384 questionários aplicados. Para isso, foram escolhidas aleatoriamente 8 paróquias na cidade pesquisada e foram aplicados cerca de 48 questionários por paróquia. 3.2.5 Procedimentos e Critérios de Análise dos Dados A análise dos dados no presente estudo foi realizada por meio da utilização do Excel 2007 e do software Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, v.16, tanto na estatística descritiva como a análise de correlação e na análise do coeficiente de determinação. Foram adotados os seguintes procedimentos: medidas de localização, como média, moda, mediana e uma medida de dispersão, o desvio-padrão, através de distribuição de frequências, coeficiente de correlação múltipla e do coeficiente de determinação (R²) para a análise multivariável. Os objetivos e dados sobre estratégias de marketing da Igreja Católica foram baseados nas respostas dos Fiéis entrevistados e, como tal, as informações contidas nos questionários destinavam-se a atingir esses objetivos, os quais tratavam de identificar as estratégias de Marketing de Serviços utilizadas pela Igreja Católica verificando quais ações da Igreja influenciam mais e reforçam a presença dos fiéis nas igrejas. 3.2.6 Procedimentos e Etapas de Análise dos Dados Os procedimentos de análise de dados adotados nesse estudo tiveram as seguintes etapas: seleção e definição das categorias usadas, designação das unidades de análise e seleção de um sistema de enumeração viável a ser usado. Essas três etapas são detalhadas, a saber: a) Seleção e definição das categorias/variáveis a serem usadas: Neste caso, as variáveis usadas foram elaboradas após avaliação cuidadosa e detalhada do referencial teórico apropriado e foram as seguintes: atratividade das instalações da Igreja Católica, atratividade dos materiais relacionados à Igreja, boa realização do serviço desde a primeira vez solicitado, pontualidade dos serviços prestados da Igreja, pontualidade dos serviços prestados pelos funcionários, disponibilidade de ajuda dos funcionários da Igreja, relação entre comportamento dos funcionários e confiança para os fiéis, confiança na solicitação de serviço pela Igreja, horário de funcionamento conveniente, nível de satisfação em relação à última experiência com a Igreja Católica, demonstração da Igreja Católica em relação aos fiéis, relação entre preço e qualidade dos serviços prestados pela Igreja, estratégias utilizadas para atrair fiéis, estratégias utilizadas para manter fiéis, avaliação geral com a última experiência com a Igreja. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 58 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota b) Designação das unidades de análise: Isso foi feito identificando-se escores como elementos específicos dos questionários atribuídos a cada variável. Assim, as unidades de análise foram escores, e, como tal, foram considerados em relação a todas as variáveis. Neste caso, os escores das variáveis podem ser baixos, médios ou altos, considerando-se uma escala ordinal crescente de um a cinco, aplicada a maioria das variáveis, juntamente com a síntese da distribuição de frequências dessas variáveis usadas no estudo. c) Seleção de um sistema de numeração a ser usado: Para o conjunto de questões, tanto das variáveis dependentes quanto das independentes, usou-se distribuição de frequências contando-se o número total de avaliações individuais atribuídas a cada variável e registrando a frequência de respostas de avaliação para as perguntas dos questionários. Isso foi feito através do pacote estatístico do programa SPSS e do software MS Excel 2007. Para analisar os resultados, o conjunto de variáveis foi codificado considerando-se o conjunto de perguntas para cada pesquisado; as informações foram verificadas e cada item foi contado com base na resposta a cada pergunta. Na fase da descrição analítica, foram utilizados o coeficiente de correlação múltipla (R) e o coeficiente de determinação múltipla (R²). 4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Essa parte do artigo trata da apresentação, análise e discussão dos dados coletados nas entrevistas e nos questionários realizados aos fiéis nas paróquias da cidade pesquisada. Para analisar os dados, foram utilizados os softwares específicos e os dados coletados permitiram uma análise quantitativa apresentada por categorias. Num primeiro momento, apresenta-se o perfil dos fiéis pesquisados e a análise quantitativa das ações da Igreja Católica a partir do que os fiéis marcaram. Num segundo momento, apresentam-se os dados das correlações bivariáveis e múltiplas entre as variáveis pesquisadas. VARIÁVEL MÉDIA MEDIANA MODA DESVIO-PADRÃO Idade Gênero Rendimento mensal Escolaridade 2,81 1,583 1,953 2,706 3 2 1 2 1 2 1 2 1,4553 0,4936 1,2756 1,2218 Tabela 1 – Medidas de tendência central do perfil dos católicos. Fonte: Pesquisa direta realizada pelos autores. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS VARIÁVEL DESCRIÇÃO Idade 18 a 24 anos 25 a 34 anos 35 a 44 anos 45 a 55 anos 55 ou mais 105 66 78 67 68 27,3% 17,2% 20,3% 17,4% Total 384 100,0% 59 FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA 17,7% Tabela 2 – Idade dos católicos. Fonte: Pesquisa direta realizada pelos autores. Os resultados analisados nas tabelas 1 e 2 permitem concluir que a maioria dos entrevistados tem idade entre 18 e 24 anos. VARIÁVEL DESCRIÇÃO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA Gênero Masculino Feminino 160 224 41,7% Total 384 100,0% 58,3% Tabela 3 – Gêneros dos entrevistados. Fonte: Idem. Em relação ao gênero dos entrevistados, ilustrado na tabela 3, podemos dizer que a maioria das pessoas entrevistadas pertence ao gênero feminino (58,3%). VARIÁVEL DESCRIÇÃO Rendimento mensal 0 até 2 salários 207 53,9% 3 até 4 salários 5 até 6 salários 7 até 8 salários 9 ou mais 70 57 18 32 18,2% 14,8% 4,7% 384 100,0% Total FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA 8,3% Tabela 4 – Rendimento mensal dos católicos. Fonte: Idem. O rendimento mensal mais respondido foi o de baixos salários mínimos (0 até 2 SM), representando mais da metade dos entrevistados com uma porcentagem de (53,9%) e deve se ressaltar que a pesquisa foi realizada em várias paróquias, que foram escolhidas em vários bairros da cidade, retratando a situação econômica dos fiéis frequentadores da Igreja Católica. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 60 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota VARIÁVEL DESCRIÇÃO Escolaridade Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo Pós-graduação Total FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA 16,4% 34,6% 20,6% 18,8% 63 133 79 72 37 384 9,6 100,0% Tabela 5 – Escolaridade dos católicos. Fonte: Idem. A escolaridade que esteve presente em maior frequência nas respostas foi o de ensino médio completo (34,6%), seguida do ensino superior incompleto (20,6%). A seguir, será apresentada a análise em relação às variáveis que avaliavam a qualidade dos serviços religiosos oferecidos. As medidas de tendência central são apresentadas inicialmente nas tabelas a seguir. Percebe-se, inicialmente, por meio do desvio-padrão das respostas, resultados pouco significativos, por conseguinte, ocorreram nas respostas uma grande conformidade com a média em cada alternativa. Note-se pela Tabela 6 que a moda e a mediana são as mesmas para todas as variáveis na segunda etapa do questionário. VARIÁVEL MÉDIA MEDIANA MODA DESVIO-PADRÃO As instalações da Igreja Católica são visualmente atraentes. Os materiais relacionados ao serviço religioso (como panfletos e jornais) são atraentes. A Igreja realiza bem seu serviço religioso desde a primeira vez solicitado. 3,95 4 4 0,82 3,55 4 4 0,87 4,01 4 4 0,77 A Igreja Católica presta seus serviços na hora que prometeu. 4,02 4 4 0,77 Os funcionários da Igreja prestam serviço prontamente. 3,84 4 4 0,80 Os funcionários da Igreja Católica estão sempre dispostos a ajudá-lo(a). 3,78 4 4 0,89 O comportamento dos funcionários da Igreja Católica inspira confiança nos fiéis. 3,75 4 4 0,81 4,005 4 4 0,77 3,96 4 4 0,88 Quando solicita serviços religiosos à Igreja, sente-se confiança de que o serviço será bem realizado. A Igreja tem horário de funcionamento conveniente para todos os seus fiéis. Tabela 6 – Medidas de tendência central da qualidade dos serviços religiosos. Fonte: Idem. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS 61 VARIÁVEL DESCRIÇÃO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA As instalações da Igreja Católica são visualmente atraentes. Discordo totalmente 4 1,0% Discordo Indiferente (regular) Concordo Concordo totalmente 19 59 212 90 384 4,9% 15,4% 55,2% 23,4% 100,0% Total Tabela 7 – Avaliação da atratividade das instalações da Igreja. Fonte: Idem. Em relação às instalações da Igreja Católica, a opção mais escolhida pelos entrevistados foi a que concorda que as instalações da Igreja Católica são visualmente atraentes, que foi escolhida por 55,2%, acompanhada pela opção que concorda totalmente (23,4%); média e mediana acompanham essa tendência, e em relação às medidas de posição central, um baixo desvio-padrão em relação à média, mostrando uma uniformidade em relação às respostas. VARIÁVEL DESCRIÇÃO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA Os materiais relacionados ao serviço religioso (como panfletos e jornais) são atraentes. Discordo totalmente 4 1,0% Discordo Indiferente (regular) Concordo Concordo totalmente 42 120 173 45 384 10,9% 31,3% 45,1% 11,7% 100,0% Total Tabela 8 – Avaliação da atratividade dos materiais entregues. Fonte: Idem Em referência à variável: os materiais relacionados ao serviço religioso (como panfletos e jornais) são atraentes, os fiéis concordaram parcialmente como a mais respondida (45,1%) e a segunda opção mais escolhida foi a opção de indiferença (31,3%). Novamente o baixo desvio-padrão mostra a uniformidade das respostas. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 62 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota FREQUÊNCIA FREQUÊNCIA ABSOLUTA RELATIVA VARIÁVEL DESCRIÇÃO Serviço bem realizado desde a primeira vez. Discordo totalmente 3 0,8% Discordo Indiferente (regular) Concordo Concordo totalmente 15 50 221 95 384 3,9% 13,0% 57,6% 24,7% 100,0% Total Tabela 9 – Avaliação do serviço religioso prestado pela primeira vez. Fonte: Idem. A maioria das pessoas concorda que a Igreja realiza bem seu serviço religioso desde a primeira vez (57,6%), e a segunda opção mais escolhida foi concordância total (24,7%), mostrando como a maioria das pessoas está satisfeita com a qualidade dos serviços realizados pela Igreja desde a primeira vez em que necessitam. VARIÁVEL DESCRIÇÃO A Igreja presta os serviços na Discordo totalmente hora que prometeu. Discordo Indiferente (regular) Concordo Concordo totalmente Total FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA 2 0,5% 14 56 214 98 384 3,6% 14,6% 55,7% 25,5% 100,0% Tabela 10 – Avaliação da pontualidade dos serviços da Igreja. Fonte: Idem. A pontualidade da Igreja também foi um fator que os fiéis concordam (55,7%), como também concordam totalmente (25,5%). VARIÁVEL DESCRIÇÃO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA Os funcionários prestam serviço prontamente. Discordo totalmente 0 0,0% Discordo Indiferente (regular) Concordo Concordo totalmente 28 74 213 69 384 7,3% 19,3% 55,5% Total 18,0% 100,0% Tabela 11 – Avaliação da pontualidade dos funcionários. Fonte: Idem. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS 63 No mesmo sentido da última alternativa, em se tratando de pontualidade, mas agora se referindo à pontualidade dos funcionários/colaboradores da Igreja Católica, houve também uma relevante marcação parcial positiva das pessoas com a alternativa concordo (55,5%), seguida da alternativa de indiferença (19,3%), em que essas pessoas têm opinião regular. VARIÁVEL DESCRIÇÃO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA Os funcionários/colaboradores estão sempre dispostos a ajudá-lo(a). Discordo totalmente 2 0,5% Discordo Indiferente (regular) Concordo Concordo totalmente 40 70 198 74 384 10,4% 18,3% 51,6% Total 19,3% 100,0% Tabela 12 – Avaliação da disponibilidade dos funcionários da Igreja. Fonte: Idem. Segundo a pesquisa, mais da metade dos entrevistados concordam que os funcionários/colaboradores da Igreja Católica estão sempre dispostos a ajudá-los(as) (51,6%), seguida da opção de concordância total (19,3%). VARIÁVEL DESCRIÇÃO O comportamento dos funcionários/colaboradores Discordo totalmente inspira confiança nos fiéis. Total Discordo Indiferente (regular) Concordo Concordo totalmente FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA 5 13,0% 20 96 206 57 384 5,2% 25,0% 53,6% 14,8% 100,0% Tabela 13 – Avaliação da inspiração de confiança consequente do comportamento dos funcionários. Fonte: Idem. Em relação à afirmativa: o comportamento dos funcionários/colaboradores da Igreja Católica inspira confiança nos fiéis, a imensa maioria dos fiéis disse concordar com esta afirmativa (53,6%), acompanhados pelas pessoas que têm opinião neutra (25%). usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 64 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota VARIÁVEL DESCRIÇÃO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA Quando solicita serviços religiosos à Igreja, sente-se confiante de que o serviço será bem realizado. Discordo totalmente 6 1,6% Discordo Indiferente (regular) Concordo Concordo totalmente 7 56 225 90 384 1,8% 14,6% 58,6% Total 23,4% 100,0% Tabela 14 – Avaliação da confiança na solicitação de serviços à Igreja. Fonte: Idem. Os entrevistados questionados em sua grande parte responderam concordar (58,3%) com a afirmativa: quando solicita serviços religiosos à Igreja, sente-se confiante de que o serviço será bem realizado. Um resultado que reflete as respostas encontradas na afirmativa (A Igreja realiza bem seu serviço religioso desde a primeira vez solicitado). VARIÁVEL DESCRIÇÃO A Igreja tem horário de funcionamento conveniente Discordo totalmente para todos os seus fiéis. Total Discordo Indiferente (regular) Concordo Concordo totalmente FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA 3 7,8% 25 65 182 109 384 6,5% 16,9% 47,4% 28,4% 100,0% Tabela 15 – Avaliação da conveniência dos horários da Igreja. Fonte: Idem. A grande maioria dos fiéis acredita que o horário de funcionamento da Igreja é conveniente para eles (47,4%). Verifica-se que nos resultados desta segunda parte do questionário notou-se uma avaliação positiva inquestionável dos serviços oferecidos da Igreja Católica pelos frequentadores. A terceira parte do questionário apresenta temas ligados às estratégias da Igreja Católica. Inicialmente, pode-se verificar por meio das medidas de tendência central na tabela 16 que, com exceção das questões 17 e 18, os baixos desvios-padrão apresentados revelam uma uniformidade com as respostas em relação à média. Os resultados da terceira etapa dos questionár ios foram positivos para a Igreja Católica. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS VARIÁVEL MÉDIA MEDIANA MODA Avalie o nível de satisfação em relação à última experiência com a Igreja Católica. Sinto que a Igreja Católica demonstra para com os fiéis. Pelo preço pago dos serviços religiosos oferecidos, a Igreja Católica proporciona resultado. Das estratégias utilizadas para atrair fiéis, marque as duas mais importantes. Das estratégias utilizadas para manter fiéis, marque as duas mais importantes. Avalie, em termos gerais, sua experiência com a Igreja Católica. 65 DESVIO-PADRÃO 4,11 4 4 0,73 4,15 4 4 0,73 3,9 4 4 0,72 7,75 8 13 4,16 6,08 6 6 3,6 4,59 5 5 0,58 Tabela 16 – Medidas de tendência central das variáveis relacionadas às estratégias de serviços religiosos. Fonte: Idem. VARIÁVEL DESCRIÇÃO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA Avalie o nível de satisfação em relação à última experiência com a Igreja Católica. Muito insatisfeito 4 1,00% Insatisfeito Pouco satisfeito Satisfeito Muito satisfeito 5 46 216 113 384 1,30% 12,00% 56,20% 29,40% 100,0% Total Tabela 17 – Avaliação do nível de satisfação com a última experiência. Fonte: Idem. Os entrevistados avaliaram positivamente o nível de satisfação em relação à última experiência com a Igreja Católica, sendo qualquer evento participado, pois (56,2%) disseram estarem satisfeitos com esta última experiência. FREQUÊNCIA FREQUÊNCIA ABSOLUTA RELATIVA VARIÁVEL DESCRIÇÃO Sinto que a Igreja Católica demonstra para com os fiéis. Muito desinteresse 4 1,00% Desinteresse Pouco interesse Interesse Muito interesse 1 50 205 124 384 2,60% 13,00% 53,40% 32,30% 100,0% Total Tabela 18 – Avaliação do interesse demonstrado pela Igreja. Fonte: Idem. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 66 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota Os fiéis percebem na Igreja um grande interesse para com eles, a maioria das respostas foi interesse (53,4%) e muito interesse (32,3%) e pode-se observar uma interligação com os resultados globais positivos encontrados na segunda fase do questionário. VARIÁVEL DESCRIÇÃO Pelo preço pago dos serviços religiosos oferecidos, a Igreja Católica proporciona resultado. FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA Muito ruim 0 0,00% Ruim Razoável Bom Muito bom 9 80 209 86 384 2,30% 20,80% 54,40% 22,40% 100,0% Total Tabela 19 – Avaliação da relação preço x qualidade. Fonte: Idem. A tabela 19 mostra o resultado da avaliação da relação preço x qualidade do serviço religioso, e a maioria das pessoas (54,4%) respondeu que esse resultado é bom e (22,4%) responderam que o resultado é muito bom. Nenhuma pessoa respondeu que o resultado é muito ruim. VARIÁVEL DESCRIÇÃO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA Das estratégias utilizadas para atrair fiéis, marque as duas mais importantes. Apenas propaganda na TV, Internet, jornal. 5 1,30% 32 8,30% 61 15,90% 46 12,00% 9 23,40% 11 28,90% Apenas encontros, pastorais, acampamentos. Apenas cursos de aprofundamento, grupos de oração. Apenas celebrações, festas. Apenas outros. “Propaganda na TV, Internet, jornal” e “encontros, pastorais, acampamentos”. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS “Propaganda na TV, Internet, jornal” e “cursos de aprofundamento, grupos de oração”. “Propaganda na TV, Internet, jornal” e “celebrações, festas”. “Propaganda na TV, Internet, jornal” e “outros”. “Encontros, pastorais, acampamentos” e “cursos de aprofundamento”. “Encontros, pastorais, acampamentos” e “celebrações, festas”. “Encontros, pastorais, acampamentos” e “outros”. “Cursos de aprofundamento, grupos de oração” e “celebrações, festas”. “Cursos de aprofundamento, grupos de oração” e “outros”. Total “Celebrações, festas” e “outros”. 67 15 39,10% 14 36,50% 1 0,30% 62 16,10% 45 11,70% 2 0,50% 73 19,00% 3 0,80% 5 1,30% 384 100,0% Tabela 20 – Avaliação das estratégias para atrair fiéis. Fonte: Idem. Em relação às variáveis nominais que procuram avaliar quais as estratégias mais importantes para atrair fiéis, devido à codificação feita, ocorreu uma grande variedade de respostas; o alto desvio-padrão dessa variável se deu em virtude disso e devido ao fato de ser um variável de múltiplas respostas. As alternativas mais escolhidas foram (“Propaganda na TV, Internet, jornal” e “cursos de aprofundamento, grupos de oração”) com (39,1%) das escolhas e (“Propaganda na TV, Internet, jornal” e “celebrações, festas”) (36,5%). usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 68 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota VARIÁVEL DESCRIÇÃO Das estratégias utilizadas para manter fiéis, Apenas missa animada com marque as duas mais música. importantes. Apenas cursos de aprofundamento, grupos de oração. Apenas encontros e pastorais. Apenas liturgia diária. Apenas outros. “Missa animada com música” e “cursos de aprofundamento, grupos de oração”. “Missa animada com música” e “encontros e pastorais”. “Missa animada com música” e “liturgia diária”. “Missa animada com música” e “outros”. “Cursos de aprofundamento, grupos de oração” e “encontros e pastorais”. “Cursos de aprofundamento, grupos de oração” e “liturgia diária”. “Cursos de aprofundamento, grupos de oração” e “outros”. “Encontros e pastorais” e “liturgia diária”. “Encontros e pastorais” e “outros”. “Liturgia diária” e “outros”. Total FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA 67 17,40% 26 6,80% 17 4,40% 21 10 5,50% 2,60% 79 20,60% 31 8,10% 39 10,20% 4 1,00% 40 10,40% 31 8,10% 2 0,50% 13 3,40% 1 0,30% 3 384 0,80% 100,0% Tabela 21 – Avaliação das estratégias para manter fiéis. Fonte: Idem. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS 69 Apesar de um desvio-padrão um pouco menor do que a última variável, ainda assim ocorreu uma grande variação em relação à média. As pessoas escolheram (“Missa animada com música” e “cursos de aprofundamento, grupos de oração”) como as estratégias mais importantes para a manutenção dos fiéis (20,6%) e “apenas missa animada com música” como a segunda mais importante (17,4%). VARIÁVEL DESCRIÇÃO Avalie em termos gerais sua experiência com a Igreja Católica. Abaixo da crítica Sem nenhum valor Pouco valor De valor De muito valor Total FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA 0 0,00% 2 0,50% 14 123 245 384 3,60% 32,00% 63,80% 100,0% Tabela 22 – Avaliação da experiência com a Igreja Católica. Fonte: Idem. Percebe-se que os frequentadores da Igreja Católica atribuíram a experiência com a Igreja Católica um grande valor (63,8%); menor, mas muito relevante perante a porcentagem total das respostas está a alternativa “de valor” (32%). Pode-se perceber a partir dessa análise descritiva, das escolhas no questionário, que revelaram uma avaliação extremamente positiva dos aspectos pesquisados. Todas as variáveis que envolviam algum tipo de avaliação da Igreja Católica apresentaram um nível de satisfação significativo, mostrando que os fiéis estão satisfeitos com os serviços religiosos prestados relacionados com esse trabalho. Entretanto, a seguir serão apresentados os resultados da análise de correlação entre variáveis. Nas associações e correlações entre as variáveis estudadas foram realizadas tabulações simples e cruzadas com o objetivo de verificar a existência de relações entre elas. Essas tabulações cruzadas possibilitaram as análises bivariadas que atestaram a grandeza e significância estatística da pesquisa e, para tanto, utilizou-se o coeficiente de Pearson(r) e o coeficiente de correlação múltipla(R). Para responder à questão enunciada e seus decorrentes objetivos específicos apresentados na introdução deste trabalho, foram cruzados dados colhidos através da aplicação do instrumento de pesquisa. A nossa próxima etapa do trabalho se refere à análise múltipla, em que foi utilizado o coeficiente de determinação, como também o coeficiente de correlação. O coeficiente de correlação (R) serve como uma medida de associação entre as variáveis dependentes e o conjunto das variáveis independentes e o coeficiente de determinação (R²), por sua vez, mede a proporção da variação da variável dependente conjuntamente pelas variáveis independentes (idade, gênero, escolaridade e rendimento mensal). Devido ao fato de sua maior relevância para o estudo, o coeficiente de determinação será analisado com maior ênfase. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 70 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota VARIÁVEL EXPLICADA As instalações da Igreja Católica são visualmente atraentes. Os materiais relacionados ao serviço religioso (como panfletos e jornais) são atraentes. A Igreja realiza bem seu serviço religioso desde a primeira vez solicitado. A Igreja Católica presta seus serviços na hora que prometeu. Os funcionários da Igreja prestam serviço prontamente. Os funcionários da Igreja Católica estão sempre dispostos a ajudá-lo(a). O comportamento dos funcionários da Igreja Católica inspira confiança nos fiéis. Quando solicita serviços religiosos à Igreja, sente-se confiança de que o serviço será bem realizado. A Igreja tem horário de funcionamento conveniente para todos os seus fiéis. VARIÁVEIS EXPLICATIVAS Idade, gênero, rendimento mensal e escolaridade. Idade, gênero, rendimento mensal e escolaridade. Idade, gênero, rendimento mensal e escolaridade. Idade, gênero, rendimento mensal e escolaridade. Idade, gênero, rendimento mensal e escolaridade. Idade, gênero, rendimento mensal e escolaridade. Idade, gênero, rendimento mensal e escolaridade. Idade, gênero, rendimento mensal e escolaridade. Idade, gênero, rendimento mensal e escolaridade. R R² 0,174 0,03 0,211 0,044 0,187 0,035 0,081 0,007 0,193 0,037 0,146 0,021 0,166 0,028 0,165 0,027 0,086 0,007 Tabela 23 – Correlações e determinações múltiplas (serviços) com as variáveis explicadas (perfil). Fonte: Idem. Percebe-se, a partir da tabela 23, que o coeficiente de correlação entre a variável dependente: “as instalações da Igreja Católica são visualmente atraentes” e todas as variáveis independentes é 0,174, ou seja, um baixo índice de variação dada a variação conjunta das variáveis independentes. O coeficiente de determinação múltipla neste caso específico tem o valor de 0,03, ou seja, nos revela que apenas 3% das variações na escolha sobre essa variável dependente é explicada pela variação das variáveis independentes. Visualizando novamente a tabela pode-se perceber que a relação entre os materiais do serviço religioso da Igreja com as variáveis formadoras do perfil do fiel extraem os mais altos coeficientes de determinação (0,044) e correlação (0,211) em relação à segunda parte dos questionários. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS RELIGIOSOS PELOS CATÓLICOS 71 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Do ponto de vista acadêmico, este trabalho examina algumas questões importantes no campo das ações de marketing da Igreja Católica: (1) quais são as estratégias de marketing mais importantes da Igreja Católica segundo os frequentadores das paróquias; (2) o exame das variáveis que permitem identificar quais são os aspectos mais relevantes para a presença dos fiéis nas Igrejas; (3) a aplicabilidade destas medidas no contexto da cidade estudada. O objetivo geral do estudo é identificar e analisar as estratégias de Marketing de Serviços Religiosos da Igreja Católica. Especificamente, se pretendia verificar o que a Igreja Católica faz para atrair os fiéis, identificar as estratégias utilizadas para manter os fiéis e avaliar as estratégias utilizadas pela Igreja Católica, através da escala SERVQUAL. Com base nos resultados obtidos pode-se concluir que o objetivo foi alcançado, uma vez que os resultados indicaram que os fiéis afirmaram que as estratégias mais importantes para atrair fiéis são: (“Propaganda na TV, Internet, jornal” e “cursos de aprofundamento, grupos de oração”) com (39,1%) das escolhas e (“Propaganda na TV, Internet, jornal” e “celebrações, festas”) (36,5%). As opções mais escolhidas como as estratégias mais importantes que a Igreja realiza para manter fiéis foram: (“Missa animada com música” e “cursos de aprofundamento, grupos de oração”) (20,6%) e (“apenas missa animada com música” como a segunda mais importante) (17,4%). Em termos gerenciais, os resultados obtidos poderão ser úteis à própria Igreja Católica, para orientar sua estratégia de atração e retenção de fiéis, aos próprios fiéis que acabam conhecendo outras formas que a Igreja usa para atrair fiéis e a outras denominações religiosas e outros pesquisadores que queiram alargar o conhecimento desse tema. A aplicação dos questionários nos revelou uma avaliação bastante positiva dos fiéis em referência a qualquer aspecto dos serviços prestados pela Igreja Católica e isto acaba que não nos ajudando na explicação para a relevante perda de fiéis que a Igreja tem passado. O estudo também verificou inexpressivas ou baixas correlações ente as variáveis cruzadas e baixos coeficientes de explicação e correlação múltiplos, e as variáveis analisadas não foram suficientes para estabelecer uma relação estatisticamente significativa com o perfil dos religiosos. Buscou-se contribuir para um maior conhecimento das estratégias da Igreja, mais especificamente as paróquias da cidade em questão e para isso foi desenvolvido um estudo objetivando um maior entendimento das ações da Igreja, do perfil de seus frequentadores e das relações entre estas questões. Recomenda-se a realização de outros estudos, capazes de permitir outros novos cruzamentos, estabelecendo novas correlações com outras variáveis relevantes, utilizando uma amostra representativa de uma população muito maior, a fim de que se possa generalizar os resultados e que, ao mesmo tempo, seja possível aplicar as mesmas medidas em outras religiões diferentes da Católica para verificar a viabilidade de se chegar a conclusões semelhantes. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 72 João Adamor Dias Neves e Arley Rodrigues Bezerra e Márcio de Oliveira Mota REFERÊNCIAS BARALDI, A. Ministério de Comunicação Social: Renovação Carismática Católica do Brasil. Estrutura de Implantação Estados e Dioceses. Disponível em: <http://www.rccsc. com.br/_formacao/arquivos/formacao_comunicacaosocialprojetodeimplatacao.pdf>. Acesso em: 01 de junho de 2010. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. GUERRA, L. As Influências da Lógica Mercadológica sobre as Recentes Transformações na Igreja Católica. Revista de Estudos da Religião, n. 2, p. 1-23, 2003. KOTLER, P. Administração de Marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2000. ______. Marketing para o Século XXI: como criar, conquistar e dominar mercados. São Paulo: Futura, 1999. LAS CASAS, A. L. Marketing: conceitos, exercícios, casos. 4. ed. São Paulo; Atlas, 1997. LEVINSTON, H. L’Art de diriger. Paris: Publi-Union, 1971. MALHOTRA, N. K. Pesquisa de Marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MARCONI, M.; LAKATOS, E. M. Técnica de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. MELO, J. M. A comunicação da igreja católica: avanços e contradições. In: ______. Comunicação: direito à informação. Campinas: Papirus, 1986. 152 p. MIGUELES, C. Pesquisa: por que os administradores precisam entender disto? São Leopoldo: Nova Harmonia, 2003. NEVES, J. Adamor. Metodologia de Pesquisa. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará: [s.n.], 2004. p. 20. Mimeografado. PARASURAMAN, A.; BERRY, L. L.; ZEITHAML, V. A. Refinement and reassessment of the SERVQUAL Scale. Journal of Retailing, v. 67, n. 4, winter, p. 420-450, 1991. ____________. A conceptual model of services quality and its implication for future research. Journal of Marketing, v. 49, n. 4, p. 41-50, 1985. SAMARA, B. S; BARROS, J. C. Pesquisa de Marketing: conceitos e metodologia. Rio de Janeiro: Makron Books do Brasil, 1994. TAGLIACARNE, G. Pesquisa de Marketing: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 1991. Data de recebimento: 01/05/2010 Data de aceite: 20/06/2010 Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 47-72 • dez. 2010 usiness 73 MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME Cognitive Maps And The Structuring Of Cooperation Social Networks : The Rame Case Maria Eliene Soares de Sousa [email protected] Joana Ancila Pessoa Forte [email protected] Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes [email protected] RESUMO Neste trabalho de pesquisa é focada a lente teórica sobre a realidade que se apresenta em um grupo de empresários de pequeno porte que, cooperando entre si nos processos de produção coletiva, captação de mercado, compras conjuntas, busca seu crescimento e a sustentabilidade do empreendimento através da cooperação. As redes sociais enquadram-se nesse contexto, onde seus integrantes mantêm uma relação de parceria e de ganhos econômicos e sociais. Sabe-se que a grande maioria dos estudos empíricos sobre Redes de Cooperação têm focado os aspectos que influenciam apenas o seu sucesso ou o seu fracasso. O primeiro problema é que não fica claro como as redes de relações sociais dessas organizações se estruturam. Régis (2005) salienta que uma razão para que isso ocorra é a falta de conexão entre os elementos cognitivos, estruturais e relacionais ao se tentar explicar algumas teorias sociais sob o enfoque das redes. Nesse aspecto insere-se o objetivo da pesquisa, que é analisar a dimensão cognitiva do capital social, importância justificada pelo fato de que as relações comportamentais dos atores, além das perspectivas estrutural e relacional, também são influenciadas pelos seus mapas cognitivos. A integração e cooperação dos atores se dão inicialmente quando são compartilhados os mesmos significados dos conteúdos transacionados. Sendo assim, essa dimensão se torna imprescindível para a análise das dimensões formadoras do capital social. Conclui-se que nesse modelo organizacional, a cooperação é um dos elementos norteadores do processo de desenvolvimento da RAME. O comportamento empresarial é outro aspecto que também recebe influências, afinal, redes de cooperação descentralizadas possibilitam um novo agir comportamental, capaz de unir atores sociais em torno de objetivos e interesses comuns, como ganhos em escala, marketing conjunto, acesso a mercado, ampliar relações interpessoais, ganhos econômicos, intercâmbio de experiência e aumento da confiança coletiva. O elemento cooperação foi o mais evidenciado pelos atores sociais, o que aponta para o fortalecimento do comportamento coletivo em detrimento do individualista, pois é este um dos elementos desagregadores das relações sociais. A confiança precisa ser estabelecida para dar sustentação à cooperação. Sem aquela, dificilmente, se dará esta. Cooperar pressupõe existência de confiança, de laços estabelecidos e de tempo, onde as usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 74 MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES relações construídas demonstram esse grau de confiabilidade dos atores através do exercício contínuo da reciprocidade, do respeito mútuo e das ações exercidas conjuntamente. PALAVRAS-CHAVE: Redes Sociais, Cooperação, Dimensão Cognitiva. ABSTRACT In this research work it is focused the theoretical lens about the reality that comes in a group of entrepreneurs, of small load, that cooperating to each other, in the processes of collective production, market reception, united purchases, it looks for your growth and the sustentability of the enterprise through the cooperation. The social nets are framed in that context, where your members maintain a partnership relationship and of won economical and social. It is known that the great majority of the empiric studies on Nets of Cooperation has focused the aspects that just influence your success or your failure. The first problem is that is not clear as the nets of social relationships of these organizations they are structured. Régis (2005) points out that a reason for this to happen it is the connection lack among the elements cognitive, structural and you relate, when trying, to explain some social theories under the focus of the nets. In this aspect he/she interferes the objective of the research that is to analyze the cognitive dimension of the social capital, justified importance for the fact that the actors’ behaviors relationships, besides the structural perspectives and relational are also influenced by your cognitive maps. The integration and the actors’ cooperation feels initially when they are shared the same meanings of the contents transactions. Being like this, this dimension becomes indispensable for the analysis of the dimensions of the social capital. I was ended that in this model organizational the cooperation is one of the elements of the process of development of RAME. The managerial behavior is other aspect that also receives influences, after all, nets of decentralized cooperation make possible a new one to behavior acts , capable to unite social actors around objectives and common interests, as won in scale, united marketing, access to market, to enlarge relationships, won economical, exchange of experience and increase of the collective trust. The element cooperation was it more evidenced by the social actors, what appears for the invigoration of the collective behavior in the individualist’s detriment, because it is this one of the separated elements of the social relationships. The trust needs to be established to give sustentation the cooperation. Without that, difficultly, will feel this. To cooperate presupposes trust existence, of established bows and of time, where the relationships built show that degree of the actors’ reliability, through the continuous exercise of the reciprocity, of the mutual respect and of the actions exercised jointly. KEYWORDS: Social, Networks, Cooperation, Cognitive Dimension. 1. INTRODUÇÃO A sociedade em rede é reconhecida como forma de um universo interligado de redes, que transacionam relacionamentos e informações, tendo por fim a consecução de objetivos sociais e econômicos, onde há pouco espaço para ações e atuações isoladas (CASTELLS, 1999). Para que o desenvolvimento das empresas ocorresse e seu capital social se fortalecesse, foram necessários grandes esforços para capacitar seus gestores em termos de organização, Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 usiness MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME 75 liderança e empreendedorismo, qualificação de sua mão de obra, aumento de sua competitividade, gerando, assim, ocupação e renda através do seu crescimento, dado o processo de desenvolvimento local que se implantou no bairro através da formação de redes sociais, que juntas puderam cooperar para competir e se expandir. As Redes de Cooperação encontram-se, nesse contexto, caracterizadas como organizações compostas por um grupo de empresas de pequeno porte, que se juntam em torno de objetivos comuns, formalmente relacionadas, com prazo ilimitado de existência, com intenção múltipla de atuação, na qual cada membro mantém sua individualidade, participando diretamente das decisões, dividindo com os demais os benefícios e ganhos alcançados pelos esforços coletivos (SEDAI, 2004). Neste trabalho de pesquisa é focada a lente teórica sobre a realidade que se apresenta em um grupo de empresários de pequeno porte que, cooperando entre si nos processos de produção coletiva, captação de mercado, compras conjuntas, busca seu crescimento e a sustentabilidade do empreendimento através da cooperação. As redes sociais enquadram-se nesse contexto, onde seus integrantes mantêm uma relação de parceria e de ganhos econômicos e sociais. Trata-se da Rede Associada de Mulheres Empreendedoras (RAME), constituída informalmente, com atuação no bairro José Walter, do setor têxtil, de confecção e artesanato, com 78 associadas que trabalham de forma direta na associação, residindo nesta última o foco deste estudo. Também realizam ações de forma conjunta, a exemplo de compras, vendas, exportação, participação em eventos nacionais e internacionais, que tem dado à RAME grande destaque e visibilidade. Para Dilly (2009, p. 18 e 19), “os estudos empíricos sobre Redes de Cooperação têm focado os aspectos que influenciam o seu sucesso ou o seu fracasso. O primeiro problema é que não fica claro como as redes de relações sociais destas organizações se estruturam”. Régis (2005) salienta que uma razão para que isto ocorra é a falta de conexão entre os elementos cognitivos, estruturais e relacionais ao se tentar explicar algumas teorias sociais sob o enfoque das redes. Nesse aspecto insere-se o objetivo de pesquisa, que é analisar a dimensão cognitiva do capital social, importância justificada pelo fato de que as relações comportamentais dos atores, além das perspectivas estrutural e relacional, também são influenciadas pelos seus mapas cognitivos. A integração e cooperação dos atores se dão inicialmente quando são compartilhados os mesmos significados dos conteúdos transacionados. Sendo assim, esta dimensão se torna imprescindível para a análise das dimensões formadoras do capital social. 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este capítulo se constitui como elemento de sustentação de todo o estudo, tendo sempre a clareza de não se pretender que o objeto não se adéque às metodologias, mas este encontre repouso e consistência na adoção das que melhor possam trazer à tona as evidências e a clareza da investigação. Assim, buscou-se definir especificidades e os pormenores procedimentais que sustentam as ações da pesquisa, explicitando suas atribuições. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 76 MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES A fase empírica de estudos de campo demandou definições elaboradas sobre como proceder com prospecções e análises. As escolhas orientaram-se pela reflexão crítica das recomendações dos autores consultados na revisão de metodologias. Optou-se em essência por abordagens e técnicas que respeitassem as orientações epistemológicas adotadas e que favorecessem o mais completo esclarecimento sobre os fenômenos estudados. Nesse aspecto, incluem-se a capacidade de: descrever os fenômenos; representar a estrutura dos elementos que foram identificados como chaves para sua avaliação (esboço pretendido) e as dinâmicas de suas relações; e facilitar as análises complexas que envolveram sua construção. O estudo foi amparado em conceitos oriundos dos métodos de estudo de caso, grupo focal e análise de conteúdo. A pesquisa se amparou de alguns fundamentos do estudo de caso que é usualmente utilizado quando se busca compreender fenômenos sociais de natureza complexa. O estudo de caso possibilita uma investigação para se preservar as características holísticas e importantes dos acontecimentos da vida real, a exemplo dos ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, as modificações ocorridas em regiões urbanas, as relações internacionais e a maturação de setores econômicos (YIN, 2005). Foi realizado o grupo focal com (08) oito dos (16) dezesseis atores-chave da RAME, tendo a pesquisadora atuado com interferência mediada, esclarecendo dúvidas dos respondentes sobre as questões indagadas, dispostas no quadro que se segue: 1) Você tem um amigo proprietário de uma movelaria e foi convidado a participar de uma rede de negócios desse setor, a exemplo do qual você já participa. O mesmo procura por você para saber como é participar de uma Rede de Cooperação. Como você contaria, com base em suas experiências na RAME, esta participação para seu amigo? 2) As redes são associações constituídas com o objetivo de estimular a cultura da cooperação entre os empresários. Que aspectos você acredita que auxiliam no processo de cooperação? 3) Quais aspectos você acha que dificultam o processo de estímulo à cultura da cooperação? 4) Quais as razões que levaram você a participar da RAME? 5) Quais os benefícios que você obteve/obtém participando da RAME? 6) Quais características você acredita possuir em comum com os demais membros da Rede? 7) Você acha que seu nível de cooperação melhorou a partir de sua entrada na RAME? Quadro 1 – Roteiro de Elaboração do Grupo Focal. Fonte: Elaborado pela autora, 2010. O grupo focal foi realizado com o intuito de analisar os mapas mentais dos atores da RAME, na construção do roteiro dos questionamentos, contemplando sete perguntas que embasaram todo o estudo. Para contemplar a perspectiva cognitiva, foi realizada uma análise de natureza qualitativa junto aos integrantes da RAME. Para tanto, o método adotado foi o grupo focal, que é uma técnica de pesquisa que utiliza as sessões grupais como um dos foros facilitadores da expressão de características psicossociológicas e culturais. A técnica prevê a obtenção de dados a partir de discussões atentamente acompanhadas onde os participantes expressam suas percepções, crenças, valores, atitudes e representações sociais sobre uma questão específica, num ambiente propício e não constrangedor. (WESTPLTAL, BÓGUS, FARIA, 1996). Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 usiness MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME 77 A essência do grupo focal consiste justamente na interação entre os participantes e o pesquisador, que objetiva coletar dados a partir da discussão focada em tópicos específicos e diretivos, por isso a denominação grupo focal (IERVOLINO e PELICIONI, 2001). Segundo as autoras, a coleta de dados através do grupo focal tem como uma de suas maiores riquezas basearem-se na tendência humana de formar atitudes e opiniões na troca interativa com outros indivíduos. Nesse sentido, ele contrasta com dados colhidos em questionários fechados ou entrevistas individuais, onde o indivíduo é convocado a emitir opiniões sobre assuntos que talvez nunca tenha pensado anteriormente. As pessoas, em geral, precisam ouvir as opiniões dos outros antes de formar as suas próprias, e constantemente mudam de posição (ou fundamentam melhor sua posição inicial) quando expostas à discussão em grupo. É exatamente esse processo que o grupo focal tenta captar. A análise dos dados oriundos do grupo focal foi realizada através da análise de conteúdo. “Esta é considerada apropriada quando o fenômeno a ser observado é a comunicação, e não o comportamento ou objeto físico” (MALHORTRA, 2006). Ao fim da análise da dimensão cognitiva foram identificados quais os significados compartilhados pelos atores da RAME, com relação a: (i) experiência em participação de redes de cooperação; (ii) aspectos que facilitam e dificultam o processo de cooperação; (iii) razões que levaram o empresário a participar da Rede; (iv) características que os empresários acreditam possuir em comum com os demais membros da Rede; (v) identificar se a cooperação do ator social ascendeu após sua entrada na Rede. 3. RESULTADOS A análise da dimensão cognitiva estudada através dos atores sociais da RAME e do conteúdo nela transacionados, também encontra no comportamento dos atores, uma influência causada por seus mapas cognitivos. A cooperação que os empresários objetivam alcançar através de suas networks, se dá quando esses atores compartilham o mesmo significado quanto aos conteúdos transacionados. Corroboram Régis, Bastos e Dias (2008), afirmando que a dimensão cognitiva é manifestada pelo compartilhamento de significados nas redes, qual seja, aquelas formas de pensamento comungadas entre os participantes da Rede. No processo de investigação dessa dimensão, tomou-se como base os significados compartilhados em cada um dos tópicos acima elencados, constituindo-se como esteio dos resultados da dimensão cognitiva. Os tópicos acima se constituem como categorias de apresentação de resultados, como se mostra através dos mapas cognitivos compartilhados pelos empresários da RAME para cada um desses tópicos. O mapa cognitivo das figuras a seguir analisadas foi obtido através da utilização do software Atlas.ti 6.1. Trata-se de uma ferramenta que tem por objetivo facilitar a análise qualitativa de dados textuais, ajudando na interpretação humana, agilizando de forma considerável nas atividades implicadas nas análises qualitativas e na interpretação destas ( JUSTICIA, 2005). Na categoria Experiência em participação em redes de cooperação (RAME) ficaram evidentes que as vantagens são maiores no aumento da cooperação, trazendo as percepções de vantagens quanto a esta participação, não fazendo vinculações quanto a obrigações e expectativas. O grupo focal apresentou relações diretas com oportunidades, ganhos coletivos (compras conjuntas), aumento da rede de contatos dos associados, aumento da confiança, aumento da demanda de serviços e aumento da confiança coletiva. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 78 MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Aumentar a cooperação {3-0} Realizar compras conjuntas {1-0} Ampliar relações interpessoais {1-0} Participar de feiras {1-0} Evoca a Evoca a Evoca a Evoca a Evoca a Evoca a Aumento da demanda de serviços {1-0} Evoca a Alcançar através da cooperação benefícios que não seriam possíveis individualmente (sucesso){2-0} Figura 1 – Mapa cognitivo sobre a experiência de participação em rede de cooperação (RAME). Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. A evocação de maior destaque apontada pelos atores sociais da RAME foi o “Aumento da cooperação” (3 evocações), seguida de “Alcançar, através da cooperação, benefícios que não seriam possíveis individualmente” (2 evocações); Participar de feiras, Aumento da demanda de serviços, Aumento da confiança coletiva, Ampliar relações interpessoais e Realizar compras conjuntas apresentaram (1 evocação). Para Franco (2009), um ambiente organizacional favorável à cooperação é aquele que se apresenta de forma mais distribuída do que centralizada. Quanto mais distribuída for uma rede social, mais oportuno será para o desenvolvimento do fenômeno da cooperação. Acredita-se ser a evocação de maior destaque “Aumentar a cooperação em virtude do modelo organizacional da RAME apresentar-se de maneira descentralizada”. Afirmando de maneira inversa, quanto mais centralizada for uma estrutura organizacional, mais ela gerará e incentivará a competição e seus bad feelings acompanhantes, como a desconfiança (FRANCO, 2009). Outra evocação de destaque neste tópico é Alcançar através da cooperação vantagens que não seriam possíveis individualmente, que segundo Carvalho et al (2003), as vantagens alcançadas mediante a cooperação podem aumentar o poder de negociação junto aos fornecedores, especialmente fabricantes, barganhando preços mais competitivos e prazos de pagamentos diferenciados, através de compras conjuntas, possibilitando alcançar o sucesso nas ações de cooperação. Participar de feiras, Aumento da demanda de serviços, Aumento da confiança coletiva, Ampliar relações interpessoais e Realizar compras conjuntas também foram falas destacadas pelos empresários da RAME. Nesta categoria, o grupo focal manifestou evidentes benefícios, oportunizados através da participação em redes de cooperação. A figura a seguir destaca exemplos de cada uma das evocações identificadas, apresentando frases dos atores participantes do grupo focal. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 usiness MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME 79 TERMO DEFINIÇÃO Ampliar relações interpessoais. “Eu acho que é muito importante, estar no meio de um tipo de sociedade de pessoas. Uma pessoa só é como uma andorinha, que só não faz verão. Tem que se reunir, discutir e fazer a partilha com todo mundo junto. Nosso crescimento não só foi o econômico, mas também como pessoa humana” (R15). Aumento da demanda de serviços. Realizar compras conjuntas. Aumento da confiança coletiva. “[...] pegar maiores serviços pras pessoas que estão participando. Acho que ajuda muito nessa parte”. (R6). “Participando de uma rede, a gente vai ganhar também naparte de compras conjuntas [...]” (R6). “Devagarzinho, trabalhando, mostrando resultados, com transparência é como se ganha a confiança dos participantes, é como podemos convencer e mostrar os benefícios” (R4). Alcançar através da “Se ele me procurasse eu ia dizer queatualmente, seguindo o nosso exemplo, cooperação benefí- formando uma rede de cooperação, provavelmente a gente não teria o mesmo cios que não seriam sucesso se eu tivesse sozinha” (R10). possoveis individualmente. Participar de férias. Aumentar a cooperação. “Muitas são as vantagens já conseguidas por nossa rede como viagens a feiras, nacionais e até internacional” (R6). “Eu daria todas as informações que meu amigo precisasse e diria que o pequeno tem que se ajudar, pra crescer, competir, aparecer no mercado. Quem é rico e tem condições, se junta pra aumentar o patrimônio” (R4). Quadro 2 – Experiênciasobre aparticipaçãoem rede de cooperação(RAME). Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 2, que trata do tópico “Aspectos que auxiliam no processo de cooperação”, foi analisado, apresentando os seguintes resultados: Comprometimento dos associados {3-0} Eliminação da concorrência predatória {1-0} Consultar a opinião dos associados {1-0} Transparência e amizade {1-0} Evoca a Evoca a Evoca a Evoca a Evoca a Evoca a Solidariedade social {1-0} Evoca a Evoca a Mudança comportamental {1-0} Transparência nos processos {1-0} Diálogo {1-0} Figura 2 – Mapa cognitivo sobre aspectos que auxiliam no processo de cooperação. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 80 MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Nesta categoria, o maior destaque apontado pelos atores sociais da RAME foi o Comprometimento dos associados (3 evocações), apontando para o engajamento nos processos organizacionais. Segundo Verschoore (2006), a gestão de redes de cooperação deve desenvolver ações que visem o compartilhamento de seus membros, como nas ações que envolvem os associados nos encontros e assembleias, a promoção de debates frequentes e produtivos e o estímulo à participação nas equipes de ação. Nas redes de cooperação em que os associados estão visivelmente comprometidos, os esforços individuais pelo crescimento conjunto são mais facilmente observáveis (MONCZKA et al,1998). Mostra-se ainda evidente nas evocações dos empresários a necessidade de Transparência e amizade nas relações constituídas na rede, Solidariedade social, Transparência nos processos, Diálogo, Mudança comportamental, Consulta à opinião dos associados e Eliminação da concorrência predatória. Putnam (2005) afirma que o capital social que se apresenta com altos níveis de confiança diminuem a probabilidade de oportunismo e reduz a necessidade de processos custosos. O grupo focal apresentou evocações que corroboram com a existência de capital social desenvolvido na RAME, capaz de dar sustentação aos processos de desenvolvimento local que se dá no bairro José Walter. Abaixo, a figura destaca exemplos de cada uma das evocações identificadas, apresentando falas dos atores participantes do grupo focal. TERMO Mudança comportamental DEFINIÇÃO “No começo geralmente é muito difícil e a coisa mais importante que a gente vê no início de um grupo é tentar estimular. É mesmo as pessoas se conscientizarem que precisam do outro pra crescer, pra se ajudar[...]” (R10). Eliminação da “É mesmo as pessoas se conscientizarem que precisam do outro pra crescer, pra concorrência se ajudar, não vendo o outro como um concorrente que vai lhe derrubar, mas predatória como um parceiro que vai lhe ajudar” (R10). Diálogo “Se a gente tivesse mais conversa entre a gente, então acho que tornava mais fácil nosso trabalho, talvez a gente conseguisse até mais venda porque esse trabalho quem está fazendo somos nós e se eu ganhar, os outros ganham também” (R6). Comprometimento “[...] porque no dia que eu não venho pra dar uma ajuda como eu estou dando dos associados agora pra RAME, vai facilitando nosso trabalho, que é conjunto. Aqui, um depende do outro pra dá certo”. (R6) Consultar a opinião “Eu não posso meter a cara e decidir as coisas isoladamente. Preciso ouvir os dos associados demais colegas, pedir a opinião deles e juntos, decidirmos o que fazer”.(R15) Solidariedade social “Eu vejo que a confiança, a cooperação, o respeito ao próximo, a solidariedade é que fazem os resultados aparecer e dar certo”.(R4) “Acredito que a primeira delas é a sinceridade das pessoas, pra dá credibilidade Transparência nos processos e confiança. Já participei de outros grupos de trabalho e lá o negócio era muito fechado, escondido. Todo mundo desconfiava do outro... é horrível trabalhar assim. É necessário que as pessoas sejam sinceras, amigas e confiáveis”. (R6) “Quando a gente começou este trabalho na RAME uma das coisas que nós semTransparência e pre falamos em nossas reuniões de avaliação é que devemos ser sinceros e amigos amizade uns com os outros”.(R8). Quadro 3 – Aspectos que auxiliam no processo de cooperação. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 usiness MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME 81 O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 3, que trata do tópico “Aspectos que dificultam o processo de estímulo à cultura da cooperação”, foi analisado, apresentando os resultados a seguir: Comportamento individualista {4-0} Não falar a verdade {1-0} Desunião {1-0} Evoca a Evoca a Evoca a Evoca a Evoca a Falta de diálogo {1-0} Evoca a Figura 3 – Mapa cognitivo sobre aspectos que dificultam o processo de estímulo à cultura da cooperação. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. Nesta categoria, o maior destaque apontado pelos atores sociais da RAME foi o Comportamento individualista (4 evocações), apontando para as dificuldades que podem limitar e/ou impedir o processo de estímulo à cultura da cooperação. Conforme Edwards (1991), a cooperação e a competição formam aspectos de um mesmo fenômeno relacional, que depende do contexto e do valor adaptativo de cada ação executada. Tais comportamentos estão a serviço de objetivos individuais que vão sendo formados em contextos de grupos determinados, que em dados momentos favorecem a cooperação e em outros, a competição. Desta feita, o empresário estará sempre maximizando suas possibilidades de adaptação ao ambiente, influenciado por uma cultura ou situação específica, favorecendo a expressão de comportamentos positivos relacionados às necessidades de bem-estar de outras pessoas, da mesma forma que contextos competitivos reforçam nos indivíduos a hostilidade e a agressão. Outras evidências elencadas pelos associados da RAME foram a Desunião, Falta de amizade e confiança, Falta de confiança, Falta de diálogo e Não falar a verdade (01 evocação). Tais fatores, apontados pelo grupo focal salientaram a importância dos processos de transparência e confiança mútua, existente entre os associados da rede, o que evitaria e/ou diminuiria os comportamentos individualistas do grupo. O quadro a seguir destaca exemplos de cada uma das evocações identificadas, apresentando falas dos atores participantes do grupo focal. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES 82 TERMO Mudança comportamental Desunião Falta de amizade e confiança Falta de confiança Falta de diálogo Não falar a verdade DEFINIÇÃO “A primeira coisa é a pessoa ser individualista. Na hora a pessoa não tem consciência que pode somar ou não tirar do outro, mais enquanto isso não acontece... para um grupo chegar a ficar forte, a primeira coisa que tem que acontecer é uma integração. A pessoa deixar de pensar somente no “eu” e pensar no “nós”. Se eu botar em primeiro lugar só o “eu” no grupo, a opinião dos outros não tem que permanecer, prevalecer. A opinião de todos não é a minha individual... na hora que todo mundo tem essa consciência as coisas mudam.” (R10). “Desunião é a primeira delas, pois isto é algo que atrapalha os trabalhos num grupo”.(R6) “Falta de amizade, de confiança, de solidariedade pra mim dificulta estimular a cultura da cooperação, pois enquanto uns entendem a importância de se ajudar, outros já dificultam, porque não entendem a importância da cooperação”. (R15) Pra mim, a falta da confiança é o que mais atrapalha, pois sem ela não existe condições de ir muito longe, fazendo com que alguns comecem a desconfiar dos outros ”. (R4) “Pra mim é a falta das conversas sobre as dificuldades do grupo e seus trabalhos. Quando a gente se cala, não mais conversa, o grupo começa a perceber o surgimento dos conflitos e até chegar uma hora em que não mais se resolvem. Pra mim, a falta de conversa é a principal coisa que dificulta a cooperação.” (R4) “Penso eu que falar a verdade é muito importante num trabalho de cooperação. Aqui na RAME, sempre falamos o que pensamos e temos sido até hoje respeitadas, mesmo que nossas opiniões sejam diferentes umas das outras. Acho também, que não chegar a um acordo quando se tem opiniões diferentes no grupo atrapalha a cultura da cooperaão.” (R8) ) Quadro 4 – Mapa cognitivo sobre aspectos que dificultam o processo de estímulo à cultura da cooperação Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 3, que trata do tópico “Razões que levaram o empresário a participar da RAME”, foi analisado, apresentando os resultados abaixo: Ganhos econômicos {4-0} Organização social {2-0} Geração de emprego e renda {2-0} Evoca a Evoca a Evoca a Inclusão social {1-0} Evoca a Querer cooperar {1-0} Evoca a Evoca a Capacitação {1-0} Evoca a Intercâmbio de experiência {2-0} Figura 4 – Mapa cognitivo sobre as razões que levaram o associado a participar da RAME. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 usiness MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME 83 Nesta categoria, o maior destaque apontado pelos atores sociais da RAME foi Ganhos econômicos (4 evocações), Geração de ocupação e renda (2 evocações), Intercâmbio de experiência (2), Organização social (2), apontando os elementos motivadores que levaram o empresário a participar da RAME. Os benefícios da ação conjunta não se relacionam apenas com o enfrentamento da concorrência, mas também ao acréscimo de representatividade. Os ganhos de escala e de poder de mercado permitem às redes ampliar o potencial de barganha nas diferentes relações econômicas e possibilitam a realização de acordos comerciais em condições vantajosas (WAARDEN, 1992). Os empresários estão unidos buscando obter ganhos de produtividade (modernização do maquinário, processos tecnológicos e capacitação) que viabilizem a baixa dos preços para enfrentar a concorrência. O pressuposto é que a cooperação entre os associados e os fornecedores possibilite vantajosas negociações, ensejando inovações que elevem a lucratividade e os ganhos econômicos, preservando os empregos dos associados e a remuneração dos atores envolvidos. Os processos de cooperação desenvolvidos na RAME foram propiciadores de manutenção de sua posição de destaque nos empreendimentos no bairro José Walter, como também, ampliador de mercado, conquistando o cenário internacional. Destaca-se ainda Capacitação, Querer cooperar e Inclusão social (1 evocação). A RAME é vista pelos atores sociais como uma importante geradora de ganhos econômicos, o que possibilitou melhoria na qualidade de vida de seus associados. A figura abaixo destaca exemplos de cada uma das evocações identificadas, apresentando falas dos atores participantes do grupo focal. TERMO DEFINIÇÃO Ganhos econômicos “O outro motivo é o fato de poder ganhar um dinheirinho, o que complementa a Geração de emprego e renda Intercâmbio de experiência Organização social Capacitação Querer cooperar Inclusão social minha aposentadoria, ajudando nas despesas de casa [...]”. (R15). “Como o grupo começou comigo, a razão do início da RAME era mesmo pra gente ter uma renda, mas algumas pessoas não tinham muita ideia do que estava fazendo, começamos mesmo tentando sobreviver” (R10). “Trocar experiências e aprender novas técnicas de costura foi outra coisa que me puxou pra participar da RAME. Estava me sentindo ultrapassada, fora das novidades do meu setor. Estar na RAME foi maravilhoso pra mim, pois abriu muitas oportunidades pro nosso grupo” (R4) “Outra coisa que eu acho muito importante é porque a gente aprendeu a lutar pelas coisas, se organizar, buscar melhoras pra nossa comunidade” (R8). “Aqui já me aperfeiçoei muito, com os cursos oferecidos por nossos parceiros” (R9). “[...] e também crescer como pessoa, como ser humano, que gosta de trabalhar em grupo” (R10). “Foi pela oportunidade de exercer um trabalho depois dos quarenta anos”.(R8). Quadro 5 – Razões que levaram o associado a participar da RAME. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 5, que trata do tópico “Benefícios que o empresário obteve/obtém participando da RAME”, foi analisado, apresentando os resultados a seguir: usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 84 MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Intercâmbio experiências {2-0} Visibilidade social {1-0} Parceria {1-0} Evoca a Evoca a Evoca a Participação em eventos {1-0} Organização social {2-0} Evoca a Geração de emprego e renda {2-0} Evoca a Evoca a BENEFÍCIOS QUE OBTEVE/OBTÉM PARTICIPANDO DA RAME Acesso a mercado {1-0} Evoca a Participar de programas sociais {1-0} Evoca a Evoca a Evoca a Conhecimento tecnológico {2-0} Marketing {1-0} Figura 5 – Mapa cognitivo sobre beneficios que o empresário obteve/obtém da RAME. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. Nesta categoria, os maiores destaques apontados pelos atores sociais da RAME foram Intercâmbio de Experiência (2 evocações), Organização social (2 evocações), Conhecimento tecnológico (2), Geração de emprego e renda (2), apontando os elementos que propiciaram os atores sociais a obter benefícios. Verifica-se que as percepções dos empresários quanto aos benefícios obtidos ou por obter estão vinculadas a acesso a mercado, questões de cunho social e conhecimento tecnológico, podendo estes serem traduzidos como a possibilidade de ampliar a força da ação da RAME através da cooperação. Os benefícios da ação conjunta não se relacionam apenas ao enfrentamento da concorrência, ganhos de escala e de poder de mercado. Percebe-se existir na RAME uma boa articulação com seus parceiros institucionais, o que dá à associação uma referência de credibilidade, ao receber um maior crédito e reconhecimento por parte do público local, o que lhes garante maior legitimidade nas ações empresariais e redimensionamento da importância da empresa em seu ambiente (VERSChOORE, 2006). Destaca-se ainda a Parceria, Acesso a mercado, Marketing, Participar de programas sociais, Participação em eventos e Visibilidade social (1 evocação), tendo nesta última evocação, uma forte representatividade para os associados, sendo a RAME uma importante geradora de ocupação e renda no bairro José Walter, o que tem lhe rendido considerável destaque social. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 usiness MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME 85 O quadro abaixo destaca exemplos de cada uma das evocações identificadas, apresentando falas dos atores participantes do grupo focal. TERMO DEFINIÇÃO “Já participamos de missões fora do país com a RAME. Visitamos, conhecemos experiências fora do país como lojas de departamentos na área de moda feminina [...]” (R10). Organização social “Participar foi muito importante para mim. Nas nossas reuniões aprendi a dar a minha opinião, o que me fez sentir mais segura, exercendo minha cidadania, contribuindo também nas mudanças que acontecem no bairro”. (R8). Conhecimento “Hoje nós temos uma consciência muito grande do que a gente faz na área de tecnológico confecção, de conhecer tecido, de conhecer modelagem. Antes a gente pegava tecido branco com tecido preto cortava por cortar porque não tinha feito uma modelagem. Quando terminávamos a peça, ela encolhia e nós não sabíamos. Mas através de uma consultoria, ficamos sabendo dos detalhes, do porquê das coisas pra nós entendermos. Eu acho muito difícil hoje em dia poucas confecções, poucas pessoas saberem desses detalhes e a gente sabe, porque o tecido não dá o resultado final esperado, se eu cortei 50 peças iguais do mesmo molde, da mesma marca, do mesmo jeito... porque a de baixo ficou menor e a de cima ficou maior? Então nós temos uma explicação científica pra isso, nós aprendemos e a RAME deu essa oportunidade” (R10). Geração de emprego “Trazer emprego e renda para nosso bairro e participar do progresso de nossa comunidade foi pra mim os grandes benefícios pra gente”. (R9). e renda “Fomos apoiados pelo SEBRAE que financiou as viagens e participação nas Parceria feiras. Nós já temos experiência de participar de uma palestra direcionada pro nosso produto com grandes estilistas. Se a gente não fosse da RAME e parceiros do SEBRAE nem sonharia com isso, desses profissionais dedicarem um tempinho deles por mais que eles sejam pagos pra isso, dedicar um tempo a um grupo de bairro, de mulheres que não têm nome, nem fama. Então pra nós é uma das grandes vantagens que a gente já teve e continua tendo. A gente têm hoje parceria com outros órgãos que vêm aqui acrescentar, orientar todas nós, modelistas que fazem faculdade, que dão força pra gente, contribuindo, pra melhorar e aperfeiçoar nossas coisas” (R10). Acesso a mercado [...] como acesso a mercado, participando de feiras, de rodadas de negócios”. (R4). Marketing “[...] divulgar nosso produto pelo mundo” [...]. (R15) “Outro benefício é o fato de ser beneficiadas com casas populares, através de um Participar de projeto do Governo Federal” (R9). programas sociais Participação em “Alguns benefícios que a gente teve através da RAME foi a participação em eventos eventos, que a gente não tinham”. (R10). “Um dos grandes benefícios é que a gente é respeitado em nossa comunidade Visibilidade social e fora dela, como um grupo que tem dado certo e que é referência para o nascimento de outros empreendimentos no bairro”. (R6). Intercâmbio de experiência Quadro 6 – Benefícios que o empresário obteve/obtém participando da RAME. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010 . O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 6, que trata do tópico “Características que você acredita possuir em comum com os demais membros da RAME”, foi analisado, apresentando os seguintes resultados: usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 86 MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Respeito às diferenças {1-0} comprometimento {2-0} Amizade e cooperação {1-0} Evoca a Evoca a Evoca a Evoca a Cooperação e solidariedade {1-0} Evoca a Facilidade de se relacionar com as pessoas {1-0} CARACTERÍSTICAS ACREDITA POSSUIR EM COMUM COM OS DEMAIS MEMBROS DA RAME Evoca a Evoca a Querer melhorar de vida {1-0} Sentir-se dono da RAME {1-0} Figura 6 – Mapa cognitivo sobre as caracteristicas que o empresário acredita possuir em comum com os demais membros da RAME. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. Nesta categoria, o maior destaque apontado pelos atores sociais da RAME foi Comprometimento (2 evocações), seguido de Respeito às diferenças, Facilidade de se relacionar com as pessoas, Querer melhorar de vida, Sentir-se dono da RAME, Cooperação e solidariedade e Amizade e cooperação (1 evocação), sinalizando para os elementos que propiciaram os atores sociais a obter benefícios. Verifica-se nas percepções dos empresários que o comprometimento os remete a características comuns no grupo, sendo este fato um elemento aglutinador de interesses quanto ao crescimento e desempenho da RAME. As organizações, especialmente as redes de cooperação, perceberam ser necessário somar forças, descobrindo novas formas de otimizar seus recursos, criando tecnologias e gerando potencialidades, unindo esforços com outras organizações através de ações de cooperação e comprometimento. Através dessas ações, as empresas podem obter inúmeras vantagens, como: superar fraquezas, compartilhar riscos, ganhar economia de escala, gerar marketing agregado e exportar com maior facilidade. A simples união de empresas não assegura vantagens se não houver cooperação, comprometimento, eficiência no gerenciamento e empenho de todos os atores envolvidos no processo (GOMES, 1999). Destaca-se o quadro a seguir, com exemplos de cada uma das evocações identificadas, apresentando falas dos atores participantes do grupo focal. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 usiness MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAçÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAçÃO: O CASO RAME TERMO 87 DEFINIÇÃO “Somos comprometidos e empenhados em ver tudo dar certo, vestimos mesmo a camisa da RAME” (R9). “Respeitamos as diferenças do grupo e procuramos, através do diálogo, chegar a Respeito as um entendimento comum” (R6). diferenças “Pra mim, a característica que eu tenho em comum é ter a facilidade de me Facilidade de se relacionar com as pessoas. Eu ouço muito as pessoas, embora às vezes eu não relacionar concorde, mas aceito, entretanto, procuro articular e apaziguar o grupo quando há discórdia. Eu sou a pessoa que quando tem qualquer coisa, corro atrás de resolver a situação” (R10). Querer melhorar de “Acho que é querer crescer, melhorar de vida, continuar aqui na nossa comunidade, que é tão boa e tão amiga. Mesmo antes de trabalhar na RAME, nunca senti vontade vida de ir embora pra outro estado, como alguns vizinhos meus sentem.” (R8). Comprometimento Sentir-se dono da “Outra coisa que acho que é uma característica minha e do meu grupo é que a RAME gente se sente dono da RAME”. (R6). Cooperação e “Cooperação e solidariedade é algo que está muito presente na RAME.” (R15). solidariedade Amizade e “A amizade e a cooperação são características que mantem o grupo unido, em cooperação busca de objetivos comuns”. (R4). Quadro 7 – Características que o empresário acredita possuir em comum com os demais membros da RAME. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. O mapa cognitivo dos atores da RAME, apresentado na Figura 7, que trata do tópico “Como ocorreu o nível de cooperação após a entrada do associado na RAME”, foi analisado, apresentando os seguintes resultados: Aumentar a cooperação {3-0} Melhorou sua participação social {2-0} Evoca a Evoca a Evoca a Melhorou a cooperação e relações interpessoais {1-0} Melhorou e aprendeu coisas novas {1-0} Evoca a COMO OCORREU O NÍVEL DE COOPERAÇÃO APÓS A ENTRADA DO ASSOCIADO NA RAME Evoca a Melhorou através da convivência {2-0} Evoca a Melhorou a timidez e desenvolveu a liderança {1-0} Figura 7 – Mapa cognitivo sobre como ocorreu o nivel de cooperação após entrada do associado na RAME. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. Nesta categoria, os maiores destaques apontados pelos atores sociais da RAME foram Aumentou a cooperação (3 evocações), Melhorou através da convivência (2 evocações), Melhorou sua participação social (2 evocações), seguidas de Melhorou e aprendeu coisas novas, Melhorou a timidez e desenvolveu a liderança e melhorou a cooperação e relações interpessoais (1 evocação), apontando para “Como ocorreu o nível de cooperação após a entrada do associado na RAME”. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 88 MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Todos os participantes do grupo focal externaram aumento da cooperação e melhorias da convivência, da participação social, da aprendizagem, da timidez e desenvolvimento da liderança e das relações interpessoais, denotando que os associados internalizaram uma importante mudança comportamental em suas vidas, refletindo diretamente no trabalho e no convívio diário entre os mesmos. Mais uma vez a cooperação ganha destaque entre os atores sociais, reforçando que através desta perspectiva de cooperação os agentes participantes das redes trabalham com a noção de objetivos comuns, definidos em conjunto e perseguidos através de ações colaborativas. Franco (2009) afirma que, ao contrário do que sugere o senso comum, a cooperação não é uma característica intrínseca do indivíduo, inata ou construída pela sua formação. Tal fenômeno se desenvolve em função dos graus de distribuição e de conectividade da rede social em que esse indivíduo está inserido. Assim, uma rede horizontalizada por certo que favorecerá um maior intercâmbio de cooperação entre seus participantes. No quadro abaixo foram destacados com exemplos de cada uma das evocações identificadas, apresentando falas dos atores participantes do grupo focal. TERMO DEFINIÇÃO Aumentou a “Sem dúvida minha cooperação aumentou. Aqui pude aprender que juntos cooperação podemos transformar as coisas e melhorar de vida” (R15). Melhorou através da “Melhorou, através da nossa convivência do dia a dia, a forma de nos convivência respeitarmos, de nos tratarmos” (R4). “Aprendi que cooperando, formamos uma rede e que pode se beneficiar de Melhorou sua tantas vantagens para a associação e seus associados. Cooperando aprendi a lutar participação social Melhorou e aprendeu participação social Melhorou a timidez e desenvolveu a liderança pelas minhas coisas pessoais e coletivas” (R8). “Melhorou não só na RAME, mas também em casa com meus familiares, pois o que aprendi nos cursos, pude ensinar lá. Aprendi a ter paciência e saber ouvir.” (R6). “Melhorou 100%, eu acho, porque primeiro eu era muito tímida, então melhorei muito, porque hoje você me pergunta, eu respondo sem timidez e sem obstáculos e se você deixar eu passo o dia falando. Outra coisa que acho essencial é a liderança que eu aprendi a ter, ser uma líder, pois antes eu achava que ser uma líder era aquele que mandava e as pessoas obedeciam. Eu sei que não é isso. Hoje eu sou líder porque acredito que eu estando aqui a RAME funciona porque eu passo quinze dias fora, o andamento em nada deixa de acontecer porque quando eu saio a gente sempre se organiza”. (R10). Melhorou a “Eu acho que melhorou demais minha cooperação e isso me causou melhoras cooperação e as pessoais, pois eu era muito estressado e aqui eu me envolvo tanto nos relações interpessoais trabalhos que pra mim é uma terapia, passo o dia trabalhando, de bom humor, fico brincando com minhas colegas de trabalho. Então pra mim melhorou bastante” (R6). Quadro 8 – Como ocorreu o nível de cooperação após a entrada do associado na RAME. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa, 2010. Como se percebe, a dimensão cognitiva é manifestada pelo compartilhamento de significados na RAME, ou seja, aquelas formas de pensamento comungadas entre os participantes da rede (RÉGIS, BASTOS e DIAS, 2008). A cooperação se evidencia como um dos elementos de maior destaque, corroborando para o fortalecimento dos achados. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 usiness MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME 89 4. CONCLUSÃO A Rede Associada de Mulheres Empreendedoras (RAME), constituída por empresários do setor de confecção e artesanato, são micro e pequenos empresários que se organizaram em redes de cooperação e que se configura como um modelo diferenciado de cultura organizacional. Nesse modelo organizacional, a cooperação é um dos elementos norteadores do processo de desenvolvimento da RAME. O comportamento empresarial é outro aspecto que também recebe influências, afinal, redes de cooperação descentralizada possibilitam um novo agir comportamental, capaz de unir atores sociais em torno de objetivos e interesses comuns, como ganhos em escala, marketing conjunto, acesso a mercado, ampliar relações interpessoais, ganhos econômicos, intercâmbio de experiência e aumento da confiança coletiva. O elemento cooperação foi o mais evidenciado pelos atores sociais, o que aponta para o fortalecimento do comportamento coletivo em detrimento do individualista, pois é este um dos elementos desagregadores das relações sociais. A confiança precisa ser estabelecida para dar sustentação à cooperação. Sem aquela, dificilmente se dará esta. Cooperar pressupõe existência de confiança, de laços estabelecidos e de tempo, onde as relações construídas demostram esse grau de confiabilidade dos atores, através do exercício contínuo da reciprocidade, do respeito mútuo e das ações exercidas conjuntamente. REFERÊNCIAS CARVALHO, M. S.; GHISI, F.A.; MARTINELLI, D. P. Redes de compra: uma forma criativa de sobrevivência para pequenos e médios supermercados. In: Congresso Internacional de Economia e Gestão de Redes Agroalimentares, 4, 2003, Ribeirão Preto. CASTELLS, Manuell. A sociedade em rede. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. DILLY, Eliete Kunrath. O capital social em redes de cooperação: um estudo de caso da AUTO REDE. 2009. p. 168. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Administração) – Universidade de Caxias do Sul. EDWARDS, J. Cooperation end competition: Two sides of the same coin? The irish journal of psychology, 12, p.76-82, 1991. FRANCO, Augusto de. Carta Rede Social 170 (14/08/08). http://augustodefranco. locaweb.com.br/cartas_comments.php?id=255_0_2_0_C. Acessado em 29 de set. 2009. GOMES, Benjamin C. Estratégia em primeiro lugar. HSM management. Nº 15, ano 3, jul./ago., 1999. IERVOLINO, S. A.; PELICIONI, M. C. F. A utilização do grupo focal como metodologia qualitativa na promoção da saúde. Rev. EscEnf USP, v. 35, n. 2, p.115-21, jun, 2001. JUSTICIA, Juan Muñoz. Análisis cualitativo de datos textuales con ATLAS.ti 6.1. Universitat Autònoma de Barcelona. Noviembro de 2005. MONCZKA, Robert et al. Success factores in strategic supplier alliances: the buying company perspective. Decision sciences, vol. 29, nº 3, summer, 1998. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 90 MARIA ELIENE SOARES DE SOUSA, JOANA ANCILA PESSOA FORTE E DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. 4. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005. RÉGIS, Helder P. Construção social de uma rede informal de mentoria nas incubadoras de base tecnológica do Recife. 2005. 221 p. Tese (Doutorado em Administração) – Programa de Pós-Graduação em Administração. Departamento de Ciências Administrativas. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2005. RÉGIS, Helder P.; DIAS, Sônia M. C. e BASTOS, Antonio V. B. Articulando Cognição, Redes e Capital Social: um estudo entre empresários participantes de incubadoras de empresas. 30º Encontro da ANPAD – 23 a 27 de setembro de 2006 – Salvador/Bahia. SECRETARIA DO DESENVOLVIMENTO E ASSUNTOS INTERNACIONAIS DO RIO GRANDE DO SUL – SEDAI. Manual de Orientação dos Consultores do Programa Redes de Cooperação. Porto Alegre, 2004.CD. VERSCHOORE, Jorge Renato de Souza. Redes de Cooperação Interorganizacionais: a identificação de atributos e benefícios para um modelo de gestão. 2006. 253 f. Tese (Doutorado em Administração) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2006. WAARDEN, Frans van. Emergence and development of business interest associations: an exemple from the Netherlands. Organizations studies, vol.13, nº 4, 1992. WESTPLTAL, Marcia F., BÓGUS, Claudia M.; FARIA, Mara de Mello. Grupos focais: experiências precursoras em programas educativos em saúde no Brasil. Bol oficina Saint Panaman, 1996. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. Data de recebimento: 28/05/2010 Data de aceite: 20/06/2010 Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 73-90 • dez. 2010 usiness MAPAS COGNITIVOS E A ESTRUTURAÇÃO DE REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO: O CASO RAME 91 O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS Luxury Consumption: A Study of Values and Meanings in Bags Consumption by Brazilian Women Marlon Bruno Matos Paiva [email protected] Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes [email protected] Joana Ancila Pessoa Forte [email protected] Thiciane Mary Carvalho Teixeira [email protected] Alyne Oliveira do Vale [email protected] RESUMO Este estudo analisa os valores e significados presentes no consumo de bolsas de luxo por mulheres brasileiras. Tal acessório foi escolhido devido à sua marcante presença e valorização dentre os produtos de gama elevada. O fato de o Brasil encontrar-se entre os dez maiores mercados mundiais consumidores de produtos de luxo e o reduzido número de estudos acadêmicos relativos ao tema justificaram a realização deste trabalho. A metodologia empregada consistiu de uma abordagem qualitativa. Foram realizadas entrevistas em profundidade com consumidoras de bolsas de luxo residentes em Fortaleza. Para a escolha das marcas abordadas na investigação, buscou-se a colaboração de um especialista, conforme recomendação de Malhotra (2006). A técnica utilizada para tratamento dos dados foi a análise do discurso (Vergara, 2005). A pesquisa extraiu cinco valores – qualidade, atemporalidade, estética, segurança e distinção – e dois significados – poder e recompensa – no consumo de bolsas de luxo. PALAVRAS-CHAVE: Consumo de luxo; Valores; Significados. ABSTRACT This study examines the values and meanings present in the consumption of luxury handbags in Brazilian women. This accessory was chosen because of its strong presence and appreciation among the high-range products. This work is justified by the fact that Brazil find themselves among the top ten markets worldwide consumers of luxury goods and by the small number of academic studies about the topic. The methodology consisted of a qualitative approach. In-depth interviews were conducted with consumers of luxury handbags in Fortaleza. For the choice of usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 92 MARLON BRUNO MATOS PAIVA, DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES, JOANA ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE the brands covered in the research, we sought the assistance of a specialist, as recommended by Malhotra (2006). The technique used for data analysis was discourse analysis (Vergara, 2005). The study drew five values - quality, timeliness, aesthetics, security and distinction - and two meanings - power and reward - the consumption of luxury handbags. KEYWORDS: Luxury Consumption, Values, Meanings. 1. INTRODUÇÃO Desde o fim do século XX, o segmento dos produtos e serviços de luxo vem sofrendo uma grande mutação. As expectativas diante das marcas em geral e das marcas de luxo se deslocaram. À luz do pensamento pós-moderno, a relação de classes já não pode explicar a complexidade dos fenômenos sociais em geral. A sociedade hoje é identificada através de “tribos” múltiplas e efêmeras que assimilam e orientam as escolhas do grupo. Diante desses fatos, atualmente, o consumo busca trazer à tona diferentes significados, tais como: autoexpressão, partilha de emoções fortes, autenticidade, visão de mundo, estética e exaltação do universo (LIPOVETSKY & ROUX, 2005). Os produtos e serviços considerados de luxo são os que possuem maior capacidade de expressar tais sentimentos devido a seu alto significado simbólico, que possui maior peso que sua função utilitária (STREHLAU, 2004; GALHANONE, 2008). Atrelado a isso, os consumidores de hoje estão dispostos a gastar mais em determinadas categorias consideradas importantes em seu convívio social. O critério para selecionar tais produtos envolve tanto variáveis funcionais, tais como inovação funcional e tecnológica, quanto as características emocionais (SILVERSTEIN & FISKE, 2005). O aumento da renda disponível pelas classes médias, a crescente elevação do nível educacional, o fato de que casais estão casando mais tarde e tendo menos filhos, a baixa taxa de juros e o acesso ao crédito facilitaram a propensão do indivíduo em gastar mais em produtos utilizados para promover a confiança, autoestima e remediar angústias emocionais (PINTO, 2007). Com a elevação da renda da população e a redução das alíquotas de exportação em meados da década passada, o Brasil recebeu uma grande quantidade de marcas internacionais de luxo e vem crescendo significativamente, posicionando-se entre os dez maiores mercados globais de consumidores de luxo (PINTO, 2007; ALONSO, 2006). O objetivo deste trabalho constituiu-se em identificar os valores e significados presentes no consumo de bolsas de luxo por mulheres brasileiras. Tal acessório foi escolhido devido à sua marcante presença e valorização dentre os produtos de luxo e devido ao elevado número de marcas que o comercializam. Também é interessante perceber que a bolsa é um dos produtos que sofre maior variação em seus preços comparando-se com suas similares de marcas comuns. Este artigo organizou-se em cinco tópicos, além da introdução: o consumo de luxo, valores e significados no consumo de produtos de luxo, metodologia, resultados e conclusão. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 usiness O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS 93 2. O CONSUMO DE LUXO Considerando as especificidades do mercado brasileiro e a evolução das camadas da sociedade, Allérès (2000) e Castarède (2005) subdividem os bens de luxo em categorias distintas, separadas de acordo com sua raridade, tipo de fabricação, preço e modelo de comunicação. Quanto mais se utiliza a comunicação em massa, menos seletivo será o seu público, favorecendo a banalização e pirataria, e perdendo seu prestígio (STREHLAU, 2008). O Luxo Inacessível, também chamado de Produtos-Referência, pertencem às marcas de maior prestígio, muito estáveis e até mesmo imutáveis. São peças únicas ou em número muito limitado, destinadas à elite da população. Esses bens, geralmente, provêm do ofício da arte, como alta-costura, ouriversaria, pintura, escultura, arquitetura e artesanato. Sua comunicação é discreta. O Luxo Intermediário, ou Produtos-Moda, são mais contemporâneos e menos confirmados. Nesse nível encontram-se produtos sinônimos de elegância, refinamento e bom gosto, que estão mais para derivações do alto luxo e primeiras extensões das marcas de referência, tais como isqueiros (Cartier) e bolsas (Louis Vuitton). Possuem comunicação e distribuição seletivas. O Luxo Acessível, ou Sucedâneos, são produtos em série que compõem o universo do luxo e que possuem uma melhor relação preço-qualidade. São formados por itens de menor valor para aquisição, como vinhos, espumantes, acessórios esportivos e itens de perfumaria. Sua distribuição é bastante aberta e sua comunicação é bem elaborada (ALLÉRÈS, 2000; CASTARÈDE, 2005; GALHANONE, 2008; STREHLAU, 2008). Este trabalho enfoca o consumo de bolsas de luxo, que está categorizado dentro da categoria de luxo intermediário. Dirigido a uma classe muito bem provida e desejosa de manter sua distinção social, o luxo intermediário oferece produtos de excelente qualidade, difusão ampla, mas controlada, preços mais acessíveis e comunicação muito seletiva. Suas estratégias de marketing desenvolvem uma imagem de marca que corrobora com a raridade seletiva de seus produtos como meio de gerar fidelidade entre seus compradores. A identidade de um produto de luxo intermediário se baseia na criatividade e no conforto da imagem ou no reconhecimento de sua marca. Marcas como Louis Vuitton e Celine utilizam-se dessa estratégia (ALLÉRÈS, 2000). A política de distribuição de produtos de luxo intermediário está estreitamente correlacionada com o nível de raridade de seus bens. Os produtos de marroquinaria e bagageria possuem uma estratégia de distribuição seletiva onde os modelos são vendidos exclusivamente no circuito cativo de distribuição da marca ou os espaços reservados das grandes lojas seletivas (ALLÉRÈS, 2000). De acordo com Allérès (2008), o consumo preenche duas funções: satisfazer necessidades pessoais, respeitando uma ordem hierárquica preferencial, e pertencer a um grupo, isto é, situar-se socialmente. Esses dois níveis de atitude definem “estilos de vida” diferentes. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 94 MARLON BRUNO MATOS PAIVA, DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES, JOANA ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE As palavras cultura e consumo possuem uma forte ligação, visto que o consumo tornou-se a forma pela qual a sociedade passou a assimilar a própria cultura. Todo consumo é cultural, pois envolve valores e significados partilhados socialmente. Tudo o que se consome tem um significado cultural específico, através do qual o consumidor reproduz seu sistema de relações sociais (SLATER, 2002, apud D’ANGELO 2006). A aquisição de bens superiores, como os produtos de luxo, contribui para a “demarcação de classes” e a competição pelos seus emblemas. Diferenciar-se por escolhas de consumo é tentar atingir a maximização do rendimento distintivo por posses exclusivas (ALLÉRÈS, 2000). Tal fenômeno já acontecia nas sociedades tradicionais do século XVII, onde a utilização de algumas cores e determinados objetos era restrita por lei. Atualmente, a distinção social pode ser obtida com o uso de uma marca, não é necessário ter nascido com ela (STREHLAU, 2008). Conforme Castarède (2005), a clientela do luxo apresenta características próprias. Primeiramente, por dispor de recursos financeiros acima da média, e segundo, porque suas motivações diferem das outras: “é necessário atender a seus desejos, e não a suas necessidades, e atuar no plano tanto mental quanto material”. Uma característica marcante no mercado do luxo é seu alto grau de internacionalização. As empresas e suas marcas são conhecidas mundialmente no estrato social mais alto da sociedade, criando uma espécie de “linguagem própria” entre esse grupo. Países como a China, Rússia, Índia e Brasil estão sendo vistos como um importante mercado para tais grupos empresariais (STREHLAU, 2008). Desde o ano 2000, o mercado de bens de luxo no Brasil vem ganhando espaço no cenário mundial, com franco crescimento. (STREHLAU, 2008; CASTARÈDE, 2005; ALONSO, 2007). Tal desempenho colocou o Brasil entre os dez maiores mercados mundiais consumidores de produtos de luxo (ALONSO, 2007). Ele também é considerado o segundo mercado mundial para bens de luxo, em termos de potencial de expansão, representando 40% do mercado sul-americano desses produtos (GALHANONE, 2008). Embora não haja comum acordo sobre os limites do mercado, de quando um produto ou serviço pode ser considerado de luxo, um estudo listou as empresas que atuam no setor de luxo no Brasil, em um total de 170 companhias, indicando que marcas de origem brasileira estão mais presentes em hotéis, restaurantes e lojas (STREHLAU, 2008). Castarède (2005) estima que o país pode conquistar participação importante em diversas áreas do mercado de bens de luxo, dentre elas: o turismo de luxo, com seus magníficos hotéis, principalmente na cidade do Rio de Janeiro; a joalheria, pois o país é um dos maiores exportadores mundiais de pedras preciosas e possui grandes designers no ramo; e a marroquinaria, graças às cores e à qualidade do couro brasileiro, que desempenhará papel cada vez mais significativo na moda. As empresas de luxo brasileiras são jovens se comparadas às europeias. Apesar disso, em poucos anos, conseguiram desempenho surpreendente e expandiram seu negócio. Utilizando como exemplo apenas três grupos de luxo genuinamente brasileiros (Fasano, Daslu e H. Stern), geram 4.800 empregos formais diretos (mais do que 50% dos empregados de todas as fábricas da Ford no Brasil – 9,2 mil, em fevereiro de 2004), mostrando que a indústria nacional do luxo pode vir a colocar o país em outro estágio de desenvolvimento. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 usiness O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS 95 3. VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE PRODUTOS DE LUXO Valores representam crenças partilhadas ou normas de grupo internalizadas pelos indivíduos sobre a vida e os comportamentos aceitáveis (BLACKWELL, MINIARD e ENGEL, 2001, apud SCARABOTO ET AL, 2006). Alonso (2007) afirma que existe uma grande quantidade de definições sobre valores ajustadas ao objeto de estudo em que são empregadas, entretanto, a maioria dessas definições são fundamentadas no conceito de valores proposto por Rokeach (1973). ENGEL, BLACKWELL e MINIARD (2001, apud D’ANGELO, 2004 e ALONSO, 2007) dividem os valores em culturais e pessoais. Os valores culturais definem o comportamento “normal” em um grupo ou sociedade e são amplamente partilhados. Os valores pessoais refletem as escolhas do indivíduo a partir dos valores sociais e do sistema de valores a que está exposto. Entre os estudos brasileiros acerca do comportamento dos consumidores de bens de luxo, destacam-se o estudo de D’ANGELO (2004) acerca do consumo de vestuário e joalheria de luxo, que identifica quatro valores fundamentais que orientam o consumo de produtos de luxo no país: a qualidade intrínseca do produto, o hedonismo, a preocupação com a aparência pessoal e a distinção. • • • • Qualidade intrínseca: benefícios tangíveis apontados como preponderantes na busca do luxo; Hedonismo: o sentir-se bem e o prazer de todas as experiências de consumo; Preocupação com a aparência pessoal: fundamental para a consecução de objetivos profissionais e pessoais e garantia de bem-estar; Distinção: comparações entre o consumo idealizado (ao qual procura se associar) e o consumo indesejado (do qual procura se afastar). Um estudo posterior proposto por SCABAROTO (2006), através de análise quantitativa que sequenciou D’ANGELO (2004), destacou três valores pessoais no consumo brasileiro de bens de luxo: valorização pessoal, qualidade e sofisticação. • • • Valorização pessoal: capacidade de proporcionar benefícios emocionais e psicológicos aos consumidores, através de sensações, sentimentos e prazer obtidos com a compra ou uso do produto; Qualidade: os produtos de luxo são considerados um investimento, pois envolve a aquisição de bens de ótima qualidade, design diferenciado, melhor acabamento e maior durabilidade. Sofisticação: os produtos expressam uma imagem sofisticada, demonstrando o quanto o consumidor possui cuidados estéticos com seu visual, seu corpo e seu vestuário. A habilidade e conhecimento necessários para saber valorizar tais produtos é uma virtude dos detentores do “capital cultural”. Kleine III e Kernan (1991, apud SCARABOTO ET AL, 2006, D’ANGELO, 2004) conceituam significados como percepções ou interpretações de um objeto, conferindo-lhes sentido. São inerentemente subjetivos, simbólicos e psicológicos, dependendo essencialmente dos indivíduos que os atribuem. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 96 MARLON BRUNO MATOS PAIVA, DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES, JOANA ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE Apesar de ser muito redutor, se limitadas a essa única dimensão, as condutas do luxo são indissociáveis dos afrontamentos simbólicos entre os homens (LIPOVESTSKY & ROUX, 2005). Os artigos de luxo são comprados pelo que significam muito mais do que pelo que realmente são (DUBOIS, 1995, apud SCARABOTO, ZILLES, RODRIGUEZ & KNY, 2006). Ao contrário dos valores, que não estão necessariamente explícitos nas interações sociais, os significados são explícitos, pois existe um “rótulo” que os identifica (D’ANGELO, 2004). Os significados encontrados no consumo de vestuário e joalheria de luxo, por D’Angelo (2004), foram o prazer e a impulsividade. O prazer está ligado inclusive à sensação de “recompensa”, e a impulsividade como “compensação emocional”. Tais significados, extraídos dos relatos das experiências dos consumidores, não são necessariamente associados às práticas desejáveis. Scaraboto (2006) extrai três significados do consumo de luxo: hedonismo, adequação e distinção. • Hedonismo: os produtos de luxo exercem fascínio sobre aqueles que os consomem, podendo a aquisição ou uso de artigos de luxo serem rotulados como a concretização de um sonho. São aspectos intangíveis e simbólicos que proporcionam prazer, diversão, levantam o ego e o astral; • Adequação: os produtos de luxo atendem à necessidade de estar bem apresentado nos meios social e profissional. Em ambientes no qual convivem colegas e clientes de alto poder aquisitivo, o luxo é capaz de transferir uma imagem positiva e conferir maior credibilidade. Para muitos, o consumo de produtos de luxo acontece com tanta naturalidade (habitus), que não há preocupação em fazer parte ou ser aceito em determinado círculo social; • Distinção: os produtos de luxo são capazes de melhorar a imagem de quem os consome, conferindo conhecimento, desenvoltura cultural e elevando o status dos indivíduos. Eles permitem que as pessoas se diferenciem no meio em que convivem e em relação às demais pessoas. Se o “rótulo” é a maneira pela qual se podem acessar os significados que as pessoas atribuem, fica evidente que numa pesquisa qualitativa os significados são obtidos a partir da explicação dos mesmos nos discursos dos entrevistados, seja em um questionamento direto ou via análise conjunta do discurso (D’ANGELO, 2004). Scaraboto (2006) afirma que há autores que atribuem mais poder aos símbolos e imagens percebidos que aos produtos, durante o momento do consumo. A porção simbólica dos produtos é determinante e pode ser a razão primária para a sua compra e uso. Dessa forma, torna-se evidente a importância de estudar os aspectos simbólicos do consumo. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 usiness O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS 97 4. METODOLOGIA Esta pesquisa tem caráter exploratório. Segundo Vergara (2005), a pesquisa exploratória é realizada quando há pouco conhecimento acumulado e sistematizado em relação a determinado tema. O estudo em questão visa identificar variáveis presentes no consumo de bolsas de luxo por mulheres brasileiras. A coleta e análise de dados podem vir de fontes primárias e secundárias. Os dados primários são gerados pelo pesquisador a fim de solucionar o problema em pauta. Os dados secundários são coletados para fins diferentes do problema em pauta, mas podem ajudar a identificar, definir e desenvolver uma abordagem sobre o problema, formular uma concepção de pesquisa adequada, responder a certas perguntas, testar algumas hipóteses e interpretar os dados primários com mais critério (MALHOTRA, 2006). Os dados primários podem ser quantitativos ou qualitativos quanto à sua natureza. Enquanto a pesquisa quantitativa procura analisar estatisticamente os dados, à procura de quantificá-los, a pesquisa qualitativa proporciona melhor visão e compreensão do contexto do problema (MALHOTRA, 2006). A metodologia para o estudo em questão utilizou uma abordagem qualitativa, através de entrevistas em profundidade entre consumidoras de bolsas de luxo, residentes em Fortaleza – Ceará, que foram analisadas por meio da técnica de discurso. As frases importantes ou de impacto, discorridas durante as entrevistas, foram transcritas literalmente. Os trechos das entrevistas foram utilizados como ilustração dos resultados obtidos. Preservou-se a identidade das consumidoras entrevistadas, adotando nomes fictícios, porém, tal fator não causa perda de sentido em nenhum momento. A análise do discurso “investiga como o conteúdo é usado para o alcance de determinados efeitos. Assim, é importante verificar a forma pela qual se diz alguma coisa” (VERGARA, 2005 p.27). Entre suas principais características, podemos dizer que ela permite reconhecer tanto o que está explícito quanto o que está implícito na fala do entrevistado, não só o que se fala, mas como se fala. É uma interpretação do discurso produzido por outros, logo é subjetiva e exige habilidade do pesquisador para intensificar ou mitigar o que foi dito, observar aspectos comportamentais e registrar fatos relacionados à situação estudada. Uma importante característica da pesquisa qualitativa é que ela geralmente oferece descrições ricas e bem fundamentadas, além de explicações sobre processos em contexto e locais identificáveis. Ademais, como já citado, o método adotado é o mais adequado quando existe pouco conhecimento acumulado e sistematizado (VERGARA, 2005). Por serem feitas individualmente, as entrevistas em profundidade permitem uma melhor sondagem de cada entrevistado, onde é possível descobrir sensações subjacentes como valores, crenças e atitudes e obter compreensão detalhada sobre o comportamento (MALHOTRA, 2006). Seguindo as orientações de Malhotra (2006), as entrevistas foram realizadas individualmente, com perguntas que incentivam o respondente a falar abertamente de suas relações de consumo. Apesar da utilização de um esboço predeterminado, a ordem da formulação de perguntas acaba sendo influenciada pelas respostas do entrevistado. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 98 MARLON BRUNO MATOS PAIVA, DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES, JOANA ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE Malhotra (2006) diz ainda que a sondagem possui importância decisiva na obtenção de respostas significativas. Para tal, usou-se a impessoalidade para alguns questionamentos, com perguntas no estilo “O que você acha de uma mulher que...”, deixando as entrevistadas mais à vontade para falar abertamente sobre determinadas perguntas que poderiam ser constrangedoras se perguntadas diretamente. Para definição das marcas representativas no mercado de bolsas de luxo, foi utilizada a listagem proposta por D’Angelo (2001), relativa ao setor de adorno pessoal (vestuário e acessórios). Também foi realizada, no mês de novembro de 2009, uma entrevista com um especialista acerca do consumo de luxo no país. Nessa entrevista, tal listagem foi analisada juntamente com o profissional especialista no segmento de bolsas, que separou as principais marcas que possuem marroquinaria (bolsas e acessórios de couro) como seu produto principal. A listagem (Quadro 1) foi formada pelas principais marcas mundiais que trabalham no setor luxo e nenhuma marca brasileira foi considerada. Quadro 1– Marcas de Luxo Internacionais Consideradas no Estudo. Elaborado pelos autores. Segundo Malhotra (2006), os especialistas do setor são pessoas bem informadas a respeito da empresa e do setor onde atuam, que podem ser encontrados dentro ou fora da empresa, e ajudam a formular a pesquisa, através de insights e esclarecimentos. Além disso, eles podem contribuir com informações valiosas acerca da modificação ou reposicionamento de produtos existentes. 5. RESULTADOS Em relação aos objetivos principais da pesquisa, as análises permitiram identificar cinco valores e três significados presentes no consumo de bolsas de luxo. Os valores identificados foram a qualidade intrínseca dos produtos, o conceito de atemporalidade dos produtos e suas marcas, a estética e beleza que envolve as bolsas, a segurança e a distinção que as marcas proporcionam. Os significados encontrados foram as sensações de poder e recompensa envolvidas no consumo das bolsas. Os resultados são abordados a seguir. O primeiro valor citado por todas as entrevistadas foi a qualidade intrínseca das bolsas de luxo. Todas as respondentes afirmaram que um dos atributos que as pessoas mais valorizam nesse acessório é sua qualidade, que está diretamente atrelada à durabilidade do produto. As bolsas de luxo possuem melhor matéria-prima e acabamento, de forma tangível e visível. Logo, para as entrevistadas, não somente o valor conceitual está atrelado ao consumo de bolsas de luxo, elas são verdadeiramente melhores e por isso compensa investir um alto valor para sua aquisição. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 usiness O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS 99 “(...) Eu compro bolsas dessas marcas porque elas não se acabam.” (Nair, cerimonialista) “(...) Eu valorizo o tempo de vida da bolsa. Já que é uma peça cara, é bom que dure.” (Rebeca, estudante) Uma das entrevistadas contou, com muita satisfação, a história de uma de suas bolsas Louis Vuitton, comprada no ano de 1974. Ela relatou que há alguns anos, de tão gasta, sua bolsa quebrou dois zíperes e ela resolveu levá-la a uma das lojas Louis Vuitton em Paris. Chegando lá, sua bolsa foi tratada como uma verdadeira preciosidade. Como eles não podiam consertar no exato momento, ofereceram-se para entregar o produto em domicílio. Ao chegar a sua casa, na tarde seguinte, encontrou uma belíssima caixa embrulhada como nova e sua bolsa reparada dentro do pacote. Os fechos estavam todos novos, somente na alça havia sinais de desgaste. No conceito da entrevistada, este detalhe ajuda a tornar a bolsa ainda mais valorizada. Este valor também foi encontrado por D’Angelo (2004) em seu estudo sobre o consumo de produtos de luxo. Atrelado ao valor qualidade, surge um novo valor não citado nos produtos de luxo estudados por D’Angelo (2004), a atemporalidade. As respondentes afirmaram que as bolsas antigas são tão ou até mais valiosas que a última coleção. As consumidoras corroboram que esse conceito é tanto algo pessoal como social e dizem que isso é notado pelas outras pessoas na sociedade e até entre os vendedores das marcas de luxo. Uma delas afirma que, na Europa, os recepcionistas e garçons de restaurantes refinados são treinados para reconhecer tais peças. Outros produtos como roupas, calçados e perfumes possuem vida útil bem inferior ao que uma bolsa pode obter. Logo, este valor não foi encontrado nos estudos de outros bens de luxo, como os propostos por D’Angelo (2004) e Scabaroto et al (2006). “(...) A (bolsa) Louis Vuitton quanto mais velha mais chique.” (Nair, cerimonialista) “(...) e outro fator importante. Por exemplo, eu tenho uma Chanel que eu comprei há três anos atrás e eu tenho certeza que essa bolsa sempre vai continuar em alta e na moda.” (Rebeca, estudante) Apesar de todas as entrevistadas serem brasileiras, as mesmas afirmaram que no Brasil, usam-se bolsas de luxo pela moda, e compra-se por estação, referindo-se, no discurso, a outras mulheres. Somente uma das entrevistadas, mesmo citando a atemporalidade das bolsas, afirmou que realmente as compra por coleção ou estação. “(...) eu compro quando necessito. As brasileiras compram pela moda.” (Nair, cerimonialista) “(...) mas no Brasil valorizam a última coleção.” (Paola, empresária) usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 100 MARLON BRUNO MATOS PAIVA, DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES, JOANA ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE Todas as consumidoras relataram que raramente compram suas bolsas de luxo no Brasil. Elas aproveitam as viagens internacionais pra consumir tais produtos, principalmente na Europa e nos EUA. Uma das entrevistadas afirmou que a marca Louis Vuitton traz a sensação de “cidadãs globais”, onde você não faz parte de um país, mas do mundo. Possivelmente, esta é a razão das mulheres inquiridas não se compararem às brasileiras. O terceiro valor encontrado através da análise dos discursos foi a estética. As consumidoras valorizam as bolsas de luxo porque além de seu real valor agregado e padrão de qualidade, as bolsas apresentam uma aparência diferenciada e lançam as tendências futuras. As principais palavras que definiram este valor são: design, beleza, elegância, estilo e bom gosto. “(...) depois que você se acostuma com um padrão de acabamento, design, beleza, não dá pra usar as bolsas comuns.” (Paola, empresária) “(...) eu acho que se você já está com uma bolsa legal não é preciso mais nada.” (Rebeca, estudante) “(...) Eu tenho amigas que, quando chegam de viagem, põem tudo em cima da cama e chamam as outras para ver as novidades que trouxeram. Elas compram bolsas caras por que sabem que as amigas vão se admirar.” (Paola, empresária) Todas as respondentes afirmaram, em determinado momento da entrevista, a importância da beleza destes produtos, porém houve divergências entre a necessidade de complementos (como roupas ou sapatos) para utilização das bolsas. Uma das entrevistadas afirmou que “menos é mais. A bolsa já é suficiente.” Porém, algumas delas afirmaram que as bolsas de luxo reforçam a aparência e valorizam as roupas, e que devem ser utilizadas com algo de qualidade compatível, “mesmo que seja jeans e t-shirt” – afirmou outra consumidora. De toda forma, nota-se a importância estética das bolsas de luxo entre todas as mulheres, independente de sua forma de utilização. O valor segurança foi citado por todas as mulheres questionadas, de forma direta ou indireta. Esse valor está intimamente relacionado à interação social e ao sentimento de fazer parte de um grupo, no caso, a alta sociedade. “(...) quando você está com uma bolsa dessas marcas, as pessoas te olham diferente.” (Marina, odontologista) “(...) as marcas de luxo potencializam a autoestima. A sociedade pede isso. Em alguns momentos as pessoas têm que estar assim (utilizando produtos de luxo). (Rebeca, estudante) Ao perguntar se as respondentes acham que a marca torna o consumidor apto a transitar em determinados locais que teriam dificuldade de estar sem o uso das marcas, elas afirmaram: “(...) As outras pessoas notam. (...) e te dão até passagem.” (Nair, cerimonialista) Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 usiness O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS 101 “(...) no Brasil não. As pessoas não se ligam. Mas na Europa, com certeza. É um ingresso. Eu já cheguei a emprestar uma bolsa pra uma amiga porque eu sabia que com a bolsa que ela estava ela não ia entrar.” (Paola, empresária) A maioria das respondentes corroborou que a marca em si é um dos fatores que mais valoriza a bolsa de luxo. Apesar disso, quando o uso das mesmas se torna constante, isto se torna um fator indiferente. Assim como na pirâmide da hierarquia de necessidades proposta por Maslow, superadas as necessidades de segurança, aparecem as necessidades sociais e de autoestima, o que atrela o valor segurança ao último valor extraído nesta análise: a distinção. “(...) as bolsas de luxo são valorizadas porque são algo que poucos têm acesso.” (Silvia, socialite) “(...) eu acho as outras (bolsas) meio cafonas. Eu percebo a distinção.” (Paola, empresária) D’Angelo (2004) afirma que o capital cultural desempenha um importante papel na clivagem entre o consumo de luxo adequado e inadequado, e o define como o conhecimento dos detalhes e peculiaridades dos produtos de luxo, tanto na capacidade de analisar suas especificidades técnicas quanto estéticas superiores e tecnologia empregada. Uma das respondentes afirma que para se reconhecer bons produtos é necessário viajar muito, ver muito e, diz que, no Brasil, 90% das pessoas não reconhecem uma imitação. Outra entrevistada corrobora dizendo que quem tem bom gosto reconhece um bom produto no olhar. Ao serem questionadas sobre a transferência de atributos da bolsa de luxo para as pessoas que as usam, elas responderam: “(...) Eu acho que (os atributos) ficam... a pessoa é notada como possuidora de uma boa qualidade, ou bonita, ou valiosa, assim como a bolsa”. (Paola, empresária) “(...) os acessórios de luxo são referenciais de classe e elegância, diferenciação.” (Silvia, socialite) Encerrada a exposição dos valores atribuídos no consumo de bolsas de luxo por mulheres brasileiras, apresentam-se agora os significados extraídos da análise. O primeiro significado facilmente percebido na análise do discurso das entrevistadas foi a sensação de poder que o consumo dessas bolsas carrega. Nem todas as respondentes explicitaram tal sensação, mas a conversa sempre levava a situações onde esse significado estava implícito. A sensação de poder está intimamente ligada aos valores de segurança e distinção e inicia desde a compra do produto nas lojas dessas marcas até o uso e a transmissão de imagem que elas produzem. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 102 MARLON BRUNO MATOS PAIVA, DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES, JOANA ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE “(...) usando uma bolsa dessas, a mulher se sente poderosa, bonita.” (Marina, odontologista) Em relação à compra das bolsas, as consumidoras inquiridas afirmam: “(...) entrar em uma dessas maisons das marcas de luxo te faz sentir privilegiada, vivendo uma experiência que poucos têm a oportunidade de viver, é tratada como só uma minoria pode ser. (Paola, empresária) “(...) se a mulher não for segura, ela se sentirá intimidada, pois são avaliadas em detalhes mínimos. As vendedoras são experts em estilo e reconhecem num primeiro olhar o tipo de cliente.” (Silvia, socialite) A tonalidade de voz das entrevistadas no momento dessas respostas deixava notável o prazer que elas sentiam ao saber que podem entrar nesses estabelecimentos e serem reconhecidas como parte de uma elite. Também é notável pelo tom de voz o desprezo que algumas respondentes sentem em relação ao uso de falsificações. Uma delas contou uma história acerca de ser abordada por uma pessoa em uma festa de casamento que alegava que sua bolsa era falsificada. Ela contou que mostrou com prazer o certificado de autenticidade que acompanhava sua bolsa Chanel e o inquisidor saiu envergonhado de perto dela. A história é contada de maneira enfática e seu desfecho possui um tom triunfante e superior. O segundo significado extraído da análise das entrevistas foi o de autorealização. Este remete à sensação de vitória das consumidoras ao sentirem que atingiram com sucesso seus objetivos, hoje se consideram bem-sucedidas e, por isso, podem usufruir produtos de maior valor agregado. “(...) eu compro por que eu sinto que mereço, que venci na vida.” (Marina, odontologista) “(...) cheguei a um ponto em que eu posso me mimar.” (Paola, empresária) A partir da análise, detectou-se que o preço, embora não influencie na decisão de compra das consumidoras, é um elemento que simboliza a transição do sonho de consumo à fase de autorrealização das mesmas. “(...) eu sei que hoje eu posso comprar.” (Marina, odontologista) “(...) é caro, mas você acaba achando barato, pelo fato de você poder pagar.” (Paola, empresária) Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 usiness O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS 103 O significado recompensa, porém, não foi citado por todas as respondentes. Apesar de todas as entrevistadas pertencerem à classe A, foi entendido que a idade e a profissão influencia na visão de cada uma. 6. CONCLUSÃO A pesquisa exploratória, a fim de encontrar os valores e significados presentes no consumo de bolsas de luxo, extraiu cinco valores no consumo de bens originais, a saber: qualidade, atemporalidade, estética, segurança e distinção e dois significados, poder e recompensa. Os valores e significados relativos ao consumo de bolsas de luxo podem ser assim descritos: • Qualidade: as bolsas de luxo são consideradas bens duráveis e verdadeiramente melhores que bolsas “comuns”, o que justifica seu elevado custo de aquisição; • Atemporalidade: no conceito das entrevistadas, as bolsas de luxo nunca saem de moda e, as bolsas mais velhas são tão ou mais valorizadas que as bolsas da última coleção; • Estética: as bolsas de luxo transmitem elegância e bom gosto. Além disso, possuem padrões de acabamento, design diferenciado e lançam as tendências futuras; • Segurança: o uso de tais produtos eleva a autoestima e permitem suas usuárias a transitarem à vontade em determinados locais que percebem e, em determinadas situações, exigem o uso de determinadas marcas; • Distinção: utilizar produtos que poucos têm acesso gera sentimentos de diferenciação e referencial de classe; • Poder: aliado aos valores de segurança e distinção, o consumo de bolsas de luxo transmite uma imagem de poder e superioridade. O poder está associado à sensação de prazer e orgulho; • Recompensa: consumir tais produtos gera sentimentos de euforia e vitória, como sucesso pessoal e profissional, significando que a consumidora venceu na vida. Tais descobertas podem servir para manutenção do portfólio de consumidores de marcas de luxo, objeto de interesse para os gestores de tais marcas. Apesar de o estudo remeter somente a marcas internacionais, produtores nacionais que atuem no ramo de marroquinaria podem utilizar tais informações para inserir-se ou firmar-se no mercado de bens de luxo intermediário, principalmente pelo potencial de crescimento de tais produtos no país. A análise dos dados da pesquisa indicou que: • A qualidade intrínseca dos bens de luxo é de vital importância para este segmento, assim como a manutenção da branding, firmando as marcas como atemporais; • A originalidade e design presentes nos produtos formam seu diferencial. Logo, marcas brasileiras não devem buscar imitar as marcas europeias, mas desenvolver seus próprios padrões de autenticidade e reconhecimento; usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 104 MARLON BRUNO MATOS PAIVA, DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES, JOANA ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE • Os significados de poder e recompensa podem ser úteis na definição de estratégias de marketing, publicidade e propaganda. Algumas implicações são sugeridas para as marcas de luxo internacionais: • Visando atingir o significado percebido pelas consumidoras, ações publicitárias podem ser focadas na sensação de vitória, “Eu mereço!”; • A quantidade de consumidoras de bolsas de luxo em Fortaleza viabiliza a abertura de pequenas lojas próprias ou dentro de outras lojas consideradas de alto nível na cidade. A principal limitação do estudo refere-se ao caráter exploratório da pesquisa, que impede realizar generalizações. Entre outras questões investigativas e possibilidades de desenvolvimento de estudos, sugerem-se: Análise quantitativa entre os valores e significados percebidos no consumo de bolsas de luxo originais; Análise quantitativa entre os valores e significados percebidos no consumo de imitações e falsificações de bolsas de luxo; Comparação entre os valores e significados percebidos no consumo de bolsas de luxo por região demográfica do país; Comparação entre os valores e significados percebidos no consumo de bolsas de luxo entre países, em especial uma comparação Brasil x Europa; Estudo envolvendo somente as marcas mais citadas nas entrevistas – Louis Vuitton, Chanel e Dior; Estudo sobre a preferência de marcas de luxo internacionais a marcas nacionais; Estudo envolvendo as marcas de bolsas de luxo brasileiras; Estudo sobre branding e atemporalidade das marcas. REFERÊNCIAS ALLÉRÈS, D. Luxo...: Estratégias/Marketing. Rio de Janeiro: FGV, 2000. ALMANAQUE FOLHA DE SÃO PAULO UOL. Especial Moda, Disponível em <http:// almanaque.folha.uol.com.br/moda_index.htm>, acesso em 15 de janeiro de 2010. ALONSO, L. S. Valores, benefícios e atributos percebidos pelas consumidoras de perfumes de luxo: uma análise por meio do modelo de cadeias meio-fim. Curitiba: PUCPR, 2007. ALONSO, V. A Nova Geração do Luxo. In: HSM Management, vol. 56, p. 75-80, 2006. CASTARÈDE, J. O luxo: os segredos dos produtos mais desejados do mundo. São Paulo: Barcarolla, 2005. CAMPBELL, C. e BARBOSA, L. Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: FGV, 2006. COSTA, C. R. R.; SANT’ANNA, S. R. O “Legal” do Pirata: Um Olhar Sobre as Práticas de Consumo de Produtos Falsificados. Curitiba: EMA, 2008. D’ANGELO, A. C. Valores e significados do consumo de produtos de luxo. Porto Alegre: UFRS, 2004. FERREIRA, M. C. A Falsa Ilusão do Ter: Investigando os Tipos de Valor para o Consumidor de Falsificações. Rio de Janeiro: EnANPAD, 2008. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 usiness O CONSUMO DE LUXO: UM ESTUDO SOBRE VALORES E SIGNIFICADOS NO CONSUMO DE BOLSAS POR MULHERES BRASILEIRAS 105 FIEC ONLINE. Prodic apresenta diagnóstico do setor de confecções, disponível em <http://www.sfiec.org.br/fiec-hoje/novembro3/10/noticia1.htm>, acesso em 11 de setembro de 2009. FOLHA ONLINE. Moda/Estilistas – Miuccia Prada. Disponível em <http://www1. folha.uol.com.br/folha/especial/2005/moda16/mo1612200510.shtml>, acesso em 15 de janeiro de 2010. GALHANONE, R. F. Atitudes, emoções e comportamento de compra: um estudo com consumidores de produtos de luxo ou sofisticados. São Paulo: USP, 2008. HAIR, J.; MONEY, A.; BABIN, B. & SAMOUEL, P. Fundamentos de métodos de pesquisa em administração. São Paulo: Bookman, 2005. KRÁS, L. Antropologia, Moda e Consumo, disponível em <http://www2.uol.com.br/ modabrasil/leitura/antropologia/index.htm>, acesso em 04 de março de 2010. LIPOVESTSKY, G. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. LIPOVESTSKY, G. & ROUX, E. O Luxo Eterno: da idade do sagrado ao tempo das marcas. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. MALHOTRA, N.K. Pesquisa de Marketing: Uma orientação aplicada. Porto Alegre: Bookman, 2006. MUNDO DAS MARCAS. Mundo das Marcas, disponível em <http://mundodasmarcas. blogspot.com/>, acesso em 15 de janeiro de 2010. NEW LUXURY ITENS. Most Expensive Handbag Louis Vuitton, disponível em <http://www.newluxuryitems.com>, acesso em 04 de março de 2010. PARENTE, S. C. D. Uma visão sobre o consumo de luxo, disponível em <http:// sarabolseira.multiply.com/journal/item/10>, acesso em 04 de março de 2010. PENSO MODA. Penso História: Fendi, disponível em <http://www.pensomoda.com/ bases/bases3.php?Id=258>, acesso em 15 de janeiro de 2010. PIANARO, L. Estratégias de Marketing dos Produtos de Luxo no Mercado Brasileiro: Um estudo no segmento de vestuário e acessórios. São Paulo: MACKENZIE, 2007. PINTO, G. B. Consumo de luxo: um estudo exploratório de suas principais dimensões. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2007. SACKS. Marcas, disponível em <http://www.sacks.com.br/site/marcas.asp>, acesso em 15 de janeiro de 2010. SCARABOTO, D.; ZILLES F. P.; RODRIGUEZ, J. B. e KNY, M. A. Pequenos Luxos, Grandes Prazeres: Significados do Consumo e Valores dos Consumidores de Joalheria e Vestuário de Luxo. São Paulo: EMA, 2006. SERPA, E. Cresce consumo de luxo dos nordestinos, disponível em <http://blogs. diariodonordeste.com.br/egidio>, acesso em 04 de março de 2010. SHOPPING CIDADE DE JARDIM. Shopping Cidade Jardim, disponível em <http:// www.shoppingcidadejardimjhsf.com.br/default.asp>, acesso em 04 de março de 2010. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 106 MARLON BRUNO MATOS PAIVA, DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES, JOANA ANCILA PESSOA FORTE, THICIANE MARY CARVALHO TEIXEIRA E ALYNE OLIVEIRA DO VALE SIDRIM, A. E. G. As motivações de compra de vestuário infantil de marcas de luxo. Fortaleza: UFC, 2008. SILVERSTEIN, M. J. & FISKE, N. & BUTMAN, J. Trading Up: Why Consumers Want New Luxury Good – and How Companies Create Them. New York: Portfolio, 2005. STREHLAU, S. Marketing do Luxo. São Paulo: Cengage Learning, 2008. STREHLAU, S.; THEODORO, A. P. F. Valor para o Cliente de Artigos de Luxo Falsificados: Entre o Blefe e o Prestígio. São Paulo: EMA, 2006. TECLA SAP. Qual é o significado de “Glamour”?, disponível em <http://www.teclasap. com.br/blog>, acesso em 04 de março de 2010. VERGARA, S. Métodos de Pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 2008. VERGARA, S. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 2005. Data de recebimento: 28/05/2010 Data de aprovação: 20/06/2010 Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 91-106 • dez. 2010 usiness 107 COMPORTAMENTO EM RELAÇÃO AO DINHEIRO: O CASO DOS MICROEMPRESÁRIOS DO ESTADO DO CEARÁ Behavior in relation to money: The case of microentrepreneurs of the State of the Ceará Polyana Ximenes [email protected] Samuel Façanha Câmara [email protected] Elias Pereira Júnior [email protected] RESUMO Entender o significado do dinheiro para os indivíduos propicia uma melhor compreensão de como os fenômenos econômicos afetam a vida das pessoas e, por sua vez, como o comportamento destas pode influenciar na economia como um todo. As pesquisas sobre o significado do dinheiro para os indivíduos têm avançado nos últimos anos, buscando delimitar a estrutura cognitiva deste construto e variáveis a ela relacionadas. Este trabalho busca compreender as atitudes dos indivíduos, como empresários, em relação ao dinheiro, utilizando a Escala Ética do Dinheiro de Tang (1992), além de tentar verificar qual o significado do dinheiro sobre diferentes fatores que identificam características comportamentais desses indivíduos, tais como: obsessão, poder, orçamento, realização, avaliação, ansiedade, retenção (avareza) e não generosidade. Através de um teste empírico aplicado em microempresários foi possível demonstrar qual o verdadeiro significado do dinheiro. ABSTRACT To understand the meaning of the money for the individuals appeases a better comprehension of how an economical phenomena affects people’s life and, thereby, how their behavior exerts influence in the whole economy as a system. Several researches focused on the individuals’ significance of money have been advancing along the last years. They aim to delimit this subject’s cognitive structure and its related variables as well. Thus, this research has as purpose to perceive the individuals’ attitudes, as entrepreneurs, considering their relationship with money. It was applied Tang’s Ethical Scale of Money (1992). The study also verified the meaning of the money from the point of view of different variables able to identify in those individuals’ behavior, characteristics such as: obsession, power, budgeting, abilities, accomplishment, evaluation, anxiety, retention (greed) and a lack of generosity. The research was carried out through the application of an empiric test in small entrepreneurs when it was possible to demonstrate the true meaning of the money. 1. INTRODUÇÃO As Finanças Comportamentais são um ramo do estudo de finanças que tem como objetivo a revisão e o aperfeiçoamento do modelo econômico-financeiro atual, incorporando conceitos provenientes da Psicologia e da Sociologia para explicar as decisões financeiras dos indivíduos (MILANEZ, 2003). usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 108 POLYANA XIMENES, SAMUEL FAÇANHA CÂMARA E ELIAS PEREIRA JÚNIOR Conforme Arend e Cário (2003), as Finanças Comportamentais procuram explicar comportamentos irracionais por parte dos indivíduos em relação ao seu dinheiro, baseada na ideia de que os indivíduos estão sujeitos a vieses comportamentais que, muitas vezes, os afastam de uma decisão pautada na racionalidade. Portanto, as Finanças Comportamentais surgem como uma tentativa de aperfeiçoar o Modelo Moderno de Finanças, pela incorporação de estudos sobre o comportamento e a irracionalidade do homem acerca das suas decisões sobre o dinheiro. Os seres humanos são dotados de emoções e esta característica é verificada inclusive no tocante à sua relação com o dinheiro (MEDEIROS, 2005), pois segundo o estudo realizado por Kahneman em 1979, que consiste na Teoria do Prospecto, os indivíduos, mesmo sendo investidores, têm forte apego a bens recebidos como herança, mesmo que seja um grupo de ações que compõem uma pequena parte do seu portfólio, o que muitas vezes influencia na decisão de se desfazer desses bens, mesmo sabendo da certeza em receber grandes quantias. Assim, verifica-se como os indivíduos não são racionais ao lidar com dinheiro em diversas situações, contrariando a Teoria da Utilidade Esperada, que defende a preocupação do investidor apenas com o nível final de riqueza (MEDEIROS, 2005). Em relação ao processo de tomada de decisão pelo indivíduo quanto ao seu dinheiro, verifica-se que geralmente regras de bolso são utilizadas para processar os dados. Este processo nada mais é do que a simplificação necessária para chegar a decisões satisfatórias. Assim, as pessoas, além de utilizarem regras de bolso para tomarem decisões, recorrem geralmente àquelas que estão mais disponíveis do que outras, o que por si só já provoca certo viés em um processo de escolha (YOSHINAGA, 2004). Lim e Teo (1998) afirmam que pesquisas têm constatado que as pessoas que vivenciaram dificuldades de ordem financeira mudaram o seu comportamento em relação ao dinheiro sobre vários aspectos. Além disso, ficou constatado que indivíduos de diferentes origens e com diferentes experiências de vida visualizam o dinheiro de forma diferente. Reddy (1987) observou que as perspectivas e a maneira como os pobres gastam dinheiro difere bastante em relação aos ricos. Outros dois aspectos que segundo recentes pesquisas (FURNHAM, 1984; 1998) influenciam bastante nas atitudes dos indivíduos em relação ao dinheiro são o gênero e o lócus de controle. Lynn (1981) observou que os homens dão mais importância ao dinheiro e têm uma maior preocupação com as questões financeiras. No tocante ao lócus de controle, estudos como o de Lynn (1981) defendem que os indivíduos diferem nas suas atitudes em relação ao dinheiro de acordo com seus perfis. Segundo o autor, indivíduos que têm orientações internas acham-se responsáveis pelo que acontece na sua vida, o que reflete na maneira com que tomam resoluções em relação ao seu dinheiro quando comparados com indivíduos com orientação externa, pois já estes, não se acham responsáveis diretos pelos acontecimentos em suas vidas. Este trabalho tem como objetivo central verificar o comportamento de microempresários em relação ao dinheiro a partir de questionamentos diretamente relacionados a fatores que exprimem características comportamentais desses indivíduos. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 usiness COMPORTAMENTO EM RELAÇÃO AO DINHEIRO: O CASO DOS MICROEMPRESÁRIOS DO ESTADO DO CEARÁ 109 O presente trabalho está estruturado em cinco seções. A segunda seção trata da revisão da literatura sobre a teoria de Finanças Comportamentais. A terceira seção mostra os aspectos metodológicos utilizados. A quarta seção evidencia os resultados empíricos. A quinta seção traz as considerações finais e recomendações para trabalhos futuros. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 FINANÇAS COMPORTAMENTAIS Contrariando os princípios formadores da Moderna Teoria das Finanças que defendem que os agentes são racionais, avessos ao risco, e que utilizam a curva de utilidade para maximizar seu bem-estar (HAUGEN, 1999), apresenta-se às denominadas Finanças Comportamentais, discutindo e buscando explicar melhor alguns aspectos da teoria financeira, dentre eles a racionalidade dos tomadores de decisões. As Finanças Comportamentais têm mostrado que os tomadores de decisões percebem e dão valor às alternativas de risco de maneira diferente uns dos outros, que a forma como percebem o risco é significativamente díspar da forma racional defendida pelos modernistas, além de outros aspectos que, devido à complexidade da natureza humana, estão sujeitos a vieses comportamentais que, não poucas vezes os afastam de uma decisão pautada na racionalidade (CASTRO JUNIOR e FAMÁ, 2002). Os defensores da Moderna Teoria das Finanças são contrários aos argumentos relacionados aos vieses de comportamento existentes entre os tomadores de decisões. Segundo Bernstein (1997), nas situações de incerteza enfrentadas por tomadores de decisões, faz-se extremamente necessário, que os indivíduos ajam com a razão, para que assim, possam decidir-se da melhor forma. Afirmando ainda que os erros cometidos são considerados aleatórios, não havendo a presença de vieses comportamentais. Confrontando os pressupostos das Finanças Modernas, surge a Psicologia Cognitiva considerando o processo de tomada de decisão permeado por influências de fatores não triviais, como percepções, convicções e modelos mentais do próprio decisor, que acabam interferindo nas suas escolhas. (MACEDO JR, 2003). A partir da associação da Psicologia Cognitiva associada às tendências no processo de tomada de decisão, surge as Finanças Comportamentais, procurando compreender como os indivíduos pensam e decidem com relação ao seu dinheiro. Para dar suporte a esta teoria, temos a Psicologia Cognitiva, procedente da década de 1970, estudando o comportamento humano frente à tomada de decisões. A Psicologia Cognitiva procura compreender o que ocorre com as operações da mente. Com base nessas pesquisas, psicólogos, como D. Kahneman e A. Tversky aliaram a psicologia à economia na tentativa de explicar algumas falhas presentes nas Finanças Comportamentais (MEDEIROS, 2005). As Finanças Comportamentais ainda são um dos ramos mais polêmicos do estudo de Finanças, sendo contrária em muitos aspectos ao Modelo Moderno de Finanças, que pressupõe que os agentes são racionais. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 110 POLYANA XIMENES, SAMUEL FAÇANHA CÂMARA E ELIAS PEREIRA JÚNIOR Tal modelo, assim como qualquer outro, é uma tentativa de representação da realidade, quando esta se apresenta demasiadamente complexa. Neste caso, faz-se necessário a formulação de hipóteses e aproximações com o intuito de simplificar o todo que o modelo pretende representar, sem que isso prejudique sua fidelidade em relação ao mundo real. Uma das hipóteses mais resistentes do Modelo Moderno de Finanças é a ideia de que o homem (Homo economicus) é um ser perfeitamente racional que, no processo de tomada de decisão, é capaz de analisar todas as informações disponíveis e considerar todas as hipóteses para a solução do problema (HALFELD e TORRES, 2001). Essa hipótese, apesar de sua força, contradiz os resultados de diversos estudos realizados por psicólogos e psicanalistas de todo o mundo, que concluem que a racionalidade não é o centro ou a diretriz do pensamento humano (HALFELD e TORRES, 2001). As Finanças Comportamentais surgem nesse cenário como uma tentativa de aperfeiçoar o Modelo Moderno de Finanças. O campo de estudo das finanças comportamentais consiste na identificação de como as emoções e os erros cognitivos podem influenciar o processo de decisão dos indivíduos e como esses padrões de comportamento podem acarretar mudanças no mercado. De acordo com Halfeld e Torres (2001), o homem das Finanças Comportamentais não é totalmente racional. Essa normalidade implica um homem que age, freqüentemente, de maneira irracional, que tem suas decisões influenciadas por emoções e por erros cognitivos, fazendo com que ele entenda um mesmo problema de formas diferentes, dependendo da maneira como é analisado. As decisões tomadas de acordo com a formulação de um problema podem levá-lo a decisões distintas e como consequência, resultar em implicações econômicas relevantes. Nas finanças comportamentais, um dos aspectos mais analisados, em relação ao comportamento dos indivíduos é que suas decisões diferem bastante de indivíduo para indivíduo, pois as percepções em torno de uma situação são vistas de diferentes prismas (WEBER; HSEE, 1998). Assim, as decisões e as relações dos indivíduos com o dinheiro também diferem. Além disso, estudos anteriores constataram que, no que tange à organização do dinheiro (orçamento), os indivíduos demonstram pouca racionalidade. Tang (1992) analisou em seu estudo sobre a escala do dinheiro, diferentes aspectos em relação às atitudes das pessoas com o dinheiro e os agrupou primeiramente em três categorias: a) atitudes positivas e negativas em relação ao dinheiro, que é um componente afetivo; b) diferentes ideias e crenças sobre dinheiro, que é um componente cognitivo; c) orçamento, onde o dinheiro é utilizado como um componente comportamental. Atualmente, verifica-se um aumento das pesquisas voltadas ao comportamento das pessoas em relação ao dinheiro. Grande parte desse interesse decorre da conscientização da importância do dinheiro ser analisado como atributo diferenciador do indivíduo e como agente de influências no trabalho, na motivação, nas atitudes e nas ações (MITCHELL; MICKEL, 1999). Esse interesse em relação às atitudes voltadas ao dinheiro é bem refletido na emergente literatura que aborda o tema em comento, devido ao interesse em saber como os indivíduos veem o dinheiro, qual a sua relação com ele e qual a sua importância na vida das pessoas. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 usiness COMPORTAMENTO EM RELAÇÃO AO DINHEIRO: O CASO DOS MICROEMPRESÁRIOS DO ESTADO DO CEARÁ 111 Segundo Abelson e Prentice (1987), as maneiras pelas quais os indivíduos definem as suas relações com seus pertences materiais, refletem as suas gerais crenças e valores sobre dinheiro, que normalmente são influenciadas por experiências passadas. Diante disso, expomos que a presente pesquisa será feita com microempresários, e tem como propósito final chegar a uma conclusão sobre a existência de diferenças nas atitudes em relação ao dinheiro dentre aqueles que passaram ou não por dificuldades financeiras. Além disso, analisaremos se existem diferenças concernentes ao gênero e à faixa etária dos indivíduos no tocante às suas relações com o dinheiro. Dentro do tema abordado, a investigação também buscará avaliar de que forma estes relacionamentos influenciam o comportamento das pessoas. Nesse caso, tender-se-á a compreender como as características individuais estabelecem cada tipo de comportamento. Entende-se, assim, que a verificação de como os indivíduos se relacionam com o dinheiro, demonstrará se existem diferenças significativas de indivíduo para indivíduo. Além disso, poderá ser constatado se essas relações caracterizam certos perfis que poderão ser agrupados para posterior caracterização. A importância da presente pesquisa se dá pelo fato de que proporcionará uma visão de como o microempresário administra o seu orçamento, constatando a eficiência e a eficácia da sua gestão, além de proporcionar conhecimento acerca das carências dos microempresários e consequentemente abrindo portas para a concessão de investimentos por parte dos bancos de fomento, como forma de viabilização das políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da economia. 3. METODOLOGIA DA PESQUISA A presente pesquisa é de natureza aplicada e de cunho quantitativo, pois as informações de origem qualitativa, adquiridas através da investigação da opinião dos pesquisados foram transformadas em dados numéricos. Estes foram tratados através de software de análise estatística para gerar conhecimento sobre o universo local de microempresários da cidade de Fortaleza. Em relação ao seu objetivo, a pesquisa pode ser classificada como descritiva, já que visa apresentar as características de uma população determinada (SILVA; MENEZES, 2001). Do ponto de vista dos procedimentos técnicos de investigação, foram utilizadas pesquisas bibliográficas, principalmente material referente ao estudo das finanças comportamentais, além de levantamento, através da interrogação direta às pessoas cujo comportamento se deseja conhecer (SILVA; MENEZES, 2001) Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado um questionário survey, seguindo a escala de valor do dinheiro de Lim, Teo e Loo (2003). Essa escala já é um refinamento de outras escalas do gênero e capturam, inclusive, diferentes aspectos das atitudes dos indivíduos em relação ao dinheiro que não haviam sido capturadas por outras escalas, como a distinção entre os construtos Avareza e Orçamento (LIM; TEO; LOO, 2003). usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 112 POLYANA XIMENES, SAMUEL FAÇANHA CÂMARA E ELIAS PEREIRA JÚNIOR Assim, o questionário apresentou trinta e uma questões que foram divididas nos oito construtos a seguir (LIM; TEO; LOO, 2003): • OBSESSÃO, representando a preocupação dos indivíduos com pensamentos sobre dinheiro; • PODER, representando a crença das pessoas que dinheiro é uma fonte de poder; • ORÇAMENTO, que se refere à habilidade de usar dinheiro prudentemente ou economizá-lo; • REALIZAÇÃO, representando a percepção dos indivíduos de que o dinheiro é indicador de sucesso; • AVALIAÇÃO, referindo-se à utilização do dinheiro como meio de comparação com os outros; • ANSIEDADE, que reflete a inquietude do indivíduo ao relacionar-se com o dinheiro; • AVAREZA, referindo-se à tendência patológica de reter dinheiro; • NÃO GENEROSIDADE, que reflete a não propensão dos indivíduos a doarem dinheiro à caridade. Foi utilizada Análise Fatorial, por ser uma técnica estatística, que busca, através da avaliação de um conjunto de variáveis, a identificação de dimensões de variabilidade comuns existentes em um conjunto de fenômenos; o objetivo maior nesse tipo de análise é desvendar estruturas subsistentes, mas que não são observáveis sem um tratamento estatístico. Cada uma dessas dimensões de variabilidade comum recebe o nome de construto. Dessa forma, tentaremos descrever um conjunto de variáveis originais através da criação de um número menor de dimensões ou construtos. A partir da interpretação dos fatores, foi possível a identificação da existência de parâmetros na Análise Fatorial, que foram relacionados com os construtos das variáveis apresentadas. Desses relacionamentos, obtivemos as cargas fatoriais. Além da matriz de correlação, foram utilizados outros dois testes que nos permitiram avaliar se os dados originais viabilizariam a utilização da Análise Fatorial de forma satisfatória. Foi realizado o teste de Kayser-Meyer-Olkin (KMO), que indica o grau de explicação dos dados a partir dos construtos encontrados na Análise Fatorial. O outro teste utilizado foi o de esfericidade de Barlett, que indica se existe relação suficiente entre os indicadores para a aplicação da referida análise. Para que fosse possível a aplicação da Análise Fatorial, observou-se o valor de Sig. (teste de significância), para que o mesmo não ultrapassasse 0,05. Além disso, também foi procedida a verificação da confiabilidade por meio do coeficiente Alpha de Cronbach. No questionário utilizado, o construto Obsessão foi representado por sete questões, o construto Poder por cinco questões, o construto Orçamento e Realização por quatro questões, os construtos Avaliação, Ansiedade e Avareza por três questões e o construto Não generosidade por duas questões. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 usiness COMPORTAMENTO EM RELAÇÃO AO DINHEIRO: O CASO DOS MICROEMPRESÁRIOS DO ESTADO DO CEARÁ 113 O questionário também contou com um item sobre o gênero do respondente, além de um item sobre o ano de nascimento, um item sobre o estado civil, um item sobre a existência de filhos e, por fim, um item sobre a quantidade de filhos do respondente. As respostas variam numa escala Likert de sete níveis, que são ‘discordo totalmente’, ‘discordo quase totalmente’, ‘discordo parcialmente’, ‘não discordo, nem concordo’, ‘concordo parcialmente’, ‘concordo quase totalmente’, ‘concordo totalmente. A escala representa o quanto o pesquisado aceita ou não cada uma das 31 questões. O questionário foi aplicado entre microempresários varejistas do centro de compras do Mercado Central de Fortaleza/CE, na qual é composto por 550 lojas aproximadamente, algumas dessas, possuem donos coexistentes e está localizado no centro histórico da cidade, sendo uma das principais opções de compras no tocante ao artesanato local e produtos alimentícios regionais. O tamanho da amostra utilizada foi de 88 microempresários. Após a aplicação dos questionários, os dados foram analisados no software SPSS 15.0 para tratamento e obtenção de informações suficientes para conclusões acerca de conhecimentos úteis no estudo comportamental das finanças em relação aos microempresários cearenses. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA No universo pesquisado, a distribuição conforme o sexo ficou bem equilibrada, na qual 51,1% dos respondentes pertencem ao sexo masculino e 48,9% ao sexo feminino. A faixa etária entre os pesquisados ficou compreendida entre 20 e 80 anos de idade. Quanto ao estado civil, a maioria dos respondentes eram casados (75,00%), seguido de solteiros (15,92%), separados (04,54%) e viúvos (04,54%). 4.2. ANÁLISE DOS CONSTRUTOS Para análise dos fatores, realizou-se o teste KMO, em que o resultado foi considerado significante, tendo as respostas dos participantes normalmente distribuídas. Vale ressaltar que o valor ficou praticamente no limite sugerido por Hair et al. (1998), que é de 0,5. Os testes de KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) e de esfericidade de Barlett mostram que a Análise Fatorial pode ser aplicada ao conjunto de dados das variáveis de atitudes em relação ao dinheiro, evidenciando que existe correlação entre as variáveis estudadas (FIGURA 1). KMO and Bartlett´s Test Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy .509 Bartlett´s Test of Approx. Chi-Square Sphericity df Sig. 720.869 351 .000 Figura 1 – Teste de KMO e esfericidade. Fonte: Dados da pesquisa (figura extraída do SPSS). usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 114 POLYANA XIMENES, SAMUEL FAÇANHA CÂMARA E ELIAS PEREIRA JÚNIOR Realizou-se também a verificação da confiabilidade por meio do coeficiente Alpha de Cronbach para cada um dos construtos. O resultado da análise foi um valor de 0,721, o que garante a confiabilidade da amostra, já que ficou acima do mínimo recomendado na literatura especializada. O resultado da Análise Fatorial revelou, pelo critério de explicação da variância total dos dados considerados, que as questões se agruparam em 12 construtos, que neste caso explicam conjuntamente 72,30% da variância total. Com relação aos 12 construtos extraídos para análise de um total de 31 variáveis que mensuravam as tendências de atitudes em relação ao dinheiro, quatro construtos foram considerados como os mais relevantes, devido ao fato de explicarem mais individualmente a variância do que os demais. Tomando por base a pesquisa realizada por Lim, Teo e Loo (2003), verificou-se que em relação aos quatro primeiros construtos apontados, as variáveis agregadas guardam relação semelhante com a pesquisa dos autores, corroborando aspectos da sua pesquisa. Os construtos em comento são: Orçamento, Obsessão, Realização e Poder. O terceiro construto num universo de doze construtos encontrados foi o que agregou a maior quantidade de variáveis. Foram encontradas quatro variáveis relacionadas a ele. Após a Análise Fatorial e escolha dos construtos considerados mais relevantes, foram consideradas somente as variáveis mais importantes, ou seja, apenas aquelas em que os coeficientes fatoriais foram acima de 0,5 (HAIR et al., 1998). Desta forma, foram selecionados seis construtos dos doze apresentados pela Análise Fatorial (TABELA 1) e analisados a seguir. O Construto 1 foi nominado de “Orçamento” com a intenção de revelar comportamentos agregados. As variáveis deste construto confirmaram o estudo que os autores anteriormente citados defenderam. Segundo eles, pessoas com comportamento propenso ao orçamento em relação ao seu dinheiro possuem as seguintes atitudes: orgulham-se da sua capacidade em economizar dinheiro, controlar bem o seu dinheiro e costumam gastar muito bem o seu dinheiro. O Construto 2, foi denominado de “Segurança”, pois apresentou 3 variáveis correlacionadas de dois construtos distintos (Obsessão e Ansiedade), estas variáveis não mantiveram relação coincidente com o estudo de Lim, Teo e Loo (2003). A variável 10 trata a respeito dos indivíduos que sonham frequentemente com dinheiro e a variável 14 relaciona o sentimento de segurança que o dinheiro pode proporcionar, pois indaga especificamente “se o indivíduo acha que ele só pode realmente contar com o dinheiro em sua vida”. Essas variáveis estão relacionadas formando juntamente com outras o construto “Obsessão”, nos estudos dos autores supracitados. No entanto, a variável 31 indaga especificamente o seguinte: “comparado às outras pessoas você pensa em dinheiro muito mais do que elas?” demonstrando uma sensação de insegurança por parte dos indivíduos. Diante do exposto, a presente pesquisa concluiu que a posse do dinheiro acarreta um sentimento de segurança por parte dos indivíduos. O construto 3, que foi nominado de “Realização 1”, apresentou quatro variáveis correlacionadas, coincidindo em três dessas variáveis com um resultado encontrado pelos autores supracitados (variáveis 2, 6 e 29). Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 usiness COMPORTAMENTO EM RELAÇÃO AO DINHEIRO: O CASO DOS MICROEMPRESÁRIOS DO ESTADO DO CEARÁ 115 No entanto, encontrou-se outro construto, denominado “Realização 2”, que possui duas variáveis, que complementam o construto denominado “Realização 1”, tais variáveis mostram a relação entre o poder de realização do dinheiro e a capacidade de ganhá-lo. Nessas variáveis, encontraram-se traços de comportamentos e de pensamentos como: o dinheiro é visto como sucesso; a quantidade de dinheiro auferida por um indivíduo denota a sua habilidade e o seu esforço despendido; o dinheiro está diretamente ligado às realizações do indivíduo; o salário de uma pessoa revela o quanto ela é inteligente e, por último, que o dinheiro pode resolver os problemas de uma pessoa. O construto 4 relaciona variáveis coincidentes em relação às descritas pelo estudo em comparado. O construto em questão foi nominado “Poder” e relaciona atitudes como: o dinheiro é significado de poder, o dinheiro pode dar a você muitos amigos, você faria qualquer coisa, desde que não fosse ilegal, para conseguir dinheiro. 1 – ORÇAMENTO Variáveis 9 - Eu me orgulho de minha capacidade em economizar dinheiro. Coeficientes Fatoriais 0,6931 16 - Eu controlo meu dinheiro muito bem. 0,8334 26 - Eu gasto meu dinheiro com muito cuidado. 0,7704 2 – SEGURANÇA Variáveis 10 - Frequentemente eu sonho com dinheiro e sobre o que eu poderia fazer com ele. 14 - Eu sinto que o dinheiro é a única coisa com a qual eu posso realmente contar. 31 - Comparado às outras pessoas, eu penso em dinheiro muito mais do que elas. Coeficientes fatoriais 0,5105 0,7431 0,7475 3 - REALIZAÇÃO 1 Variáveis 2 - Eu acredito que a quantidade de dinheiro ganho por uma pessoa está intimamente relacionada com a sua a habilidade e esforço. 6 - Dinheiro é símbolo de sucesso. Coeficientes fatoriais 11 - Eu às vezes contribuo para caridade. 0,6177 29 - Dinheiro representa uma das realizações. 0,6205 0,6261 0,8005 10 - REALIZAÇÃO 2 Variáveis 8 - Eu realmente acredito que o dinheiro pode resolver todos os meus problemas. 22 - Eu acredito que o salário de uma pessoa revela muito sobre o valor de sua inteligência. usiness Coeficientes fatoriais 0,5724 0,8360 Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 116 POLYANA XIMENES, SAMUEL FAÇANHA CÂMARA E ELIAS PEREIRA JÚNIOR 4 – PODER Variáveis Coeficientes fatoriais 13 - Dinheiro significa poder. 19 - Desde que não fosse ilegal, eu faria praticamente qualquer coisa por uma boa quantia de dinheiro. 20 - O dinheiro pode dar a você muitos amigos. 0,5796 0,5590 0,7788 7 – RETENÇÃO Variáveis 21 - Mesmo tendo dinheiro suficiente, muitas vezes sinto-me culpado em gastar dinheiro em coisas tais como roupa. 28 - Muitas vezes digo “Não tenho dinheiro para comprar isso” independente de ter ou não o dinheiro. Coeficientes fatoriais 0,5229 0,6649 Tabela 1 – Variáveis por construto Fonte: dados da pesquisa. Na presente pesquisa, as variáveis relacionadas ao sétimo construto também apresentaram relação na pesquisa realizada por Lim, Teo e Loo (2003), só que no estudo dos autores havia três variáveis relacionadas ao mesmo construto que eles denominaram de “Retenção” (variáveis 7, 21 e 28). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através da análise do comportamento financeiro dos microempresários, pode-se perceber que a atitude do indivíduo em relação ao dinheiro difere de acordo com o contexto em que se encontra, já que alguns dados encontrados na pesquisa contrariam estudos realizados em outros países com indivíduos de culturas diferentes. Pode-se observar que divergências nos traços característicos do comportamento dos indivíduos, principalmente no tocante ao construto “Segurança” nomeado pelo presente estudo, possibilitou a verificação que, incertezas relativas à situação financeira do indivíduo, somadas a possíveis instabilidades econômicas do país, podem desencadear um sentimento de busca por “segurança”, pautado na inviabilidade de sobrevivência digna sem a posse de recursos pecuniários na sociedade contemporânea. Isso indica que o contexto em que os microempresários cearenses viveram e as emoções que passaram influenciam diretamente no comportamento financeiro do indivíduo. Este estudo permitiu verificar que os fatores que compõem o comportamento financeiro do indivíduo são influenciados pelas características da época em que vivem, sejam elas econômicas ou sociais. Trabalhos futuros poderiam investigar a relação do período econômico a que o indivíduo pertence e o seu relacionamento com o dinheiro tomando por base a conjuntura econômica vivenciada, podendo ser feita uma analogia com a Teoria dos Ciclos Econômicos de Schumpeter. Outro estudo poderia abordar a existência de diferenças entre faixas etárias e a sua relação com o dinheiro, como também as diferenças de gênero, a partir dos fatores arrolados. Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 usiness COMPORTAMENTO EM RELAÇÃO AO DINHEIRO: O CASO DOS MICROEMPRESÁRIOS DO ESTADO DO CEARÁ 117 REFERÊNCIAS ABELSON, R. P.; PRENTICE, D. A. Beliefs as possessions. Journal for the Theory of Social Behavior, Vol. 16, p. 223–250, 1987. ALVES, M. H. F.; TORRES, F. F. L. Finanças Comportamentais: Aplicações no Contexto Brasileiro. RAE, Vol. 41, N. 2, p. 64-71, São Paulo. Abril/ junho, 2001. AREND, M.; CÁRIO, S. A. F. Instituições, Inovações e Desenvolvimento Econômico. UFSC, Florianópolis – SC, 2003. BERNSTEIN, P. Against the Gods: the remarkable story of risk. New York: John Wiley & Sons, 1997. DE CASTRO JÚNIOR, F. H. F.; FAMÁ, R. As Novas Finanças e a Teoria Comportamental no Contexto da Tomada de Decisão sobre Investimentos. Cadernos de Pesquisas em Administração. São Paulo, Vol. 09, N. 2, abril/julho, 2002. FURNHAM, A. Many sides of the coin: The psychology of money usage. Personality and Individual Differences, Vol. 5, p. 95-10, 1984. FURNHAM, A. Attitudinal correlates and demographic predictors of monetary beliefs and behaviors. Journal of Organizational Behavior, Vol. 17, p. 373-88, 1998. HAIR, J.; ANDERSON, R.; TATHAM, R.; BLACK, W. Multivariate data analysis. 5. ed. Upper Saddle River: Prentice-Hall, 1998. HALFELD, M.; TORRES, F. F. L. Finanças comportamentais: aplicações no contexto brasileiro. Revista de administração de empresas, São Paulo, Vol. 41, N. 2, p. 64-71, abril/junho 2001. HAUGEN, R. A. Beast on Wall Street: how stock volatility devours our wealth. Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall, 1999. LIM, V. K. G.; TEO, T. S. H. Sex, money and financial hardship: an empirical study of attitudes towards money among undergraduates in Singapore. Journal of Economic Psychology, Vol. 18, p. 369-386, 1998. LIM, V. K.; TEO, T. S. H.; LOO, G. L. Sex, financial hardship and locus of control: an empirical study of attitudes towards money among Singaporean Chinese. Personality and Individual Differences, Vol. 34, p. 411-429, 2003. LYNN, R. The secret of the miracle economy. London: SAU. 1991. MACEDO JR, J. S. Teoria do Prospecto: Uma investigação utilizando simulação de investimentos. 2003. 218f. (Tese) Doutorado em Engenharia de Produção – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. MASUO, Diane M. Do Men and Women Perceive Money Differently? A Study of Asian and Asian American College Students. Papers of the Western Family Economics Association, Vol. 19, 2004. MEDEIROS, R. D. Efeito Doação, Efeito Disposição e Rentabilidade: uma Análise Empírica em Finanças Comportamentais. (Monografia). Curso de Graduação em Ciências Econômicas. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis – SC, 2005. usiness Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 118 POLYANA XIMENES, SAMUEL FAÇANHA CÂMARA E ELIAS PEREIRA JÚNIOR MILANEZ, D. Y. Finanças Comportamentais no Brasil. Trabalho elaborado para a disciplina de “Macroeconomia” IPE/USP, 2003. Artigo não publicado. MITCHELL, T. R.; MICKEL, A. E. The meaning of money: an individual-difference perspective. Academy of Management Review, Vol. 24, p. 568–578, 1999. REDDY, W. Money and liberty in modern Europe. New York: Cambridge University Press, 1987. SCHUMPETER, Joseph. A Teoria do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Abril Cultural (Coleção Os Economistas), 1982. SILVA, E. L. D.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. Florianópolis: 2001. 121 p. TANG, T. L. P. The meaning of money revisited. Journal of Organizational Behavior, Vol. 13, p. 197-202, 1992. YOSHINAGA, C. E.; DE OLIVEIRA, Raquel F.; DA SILVEIRA, A. M. ; BARROS, L. A. C. Finanças Comportamentais: Uma Introdução. In: VII SemeAd – Seminários em Administração, FEA-USP, 10 e 11 de agosto de 2004. WEBER, E. U.; HSEE, C. K. Cross-cultural differences in risk perception, but crosscultural similarities in attitudes toward perceived risk. Management Science, Baltimore: Institute of Management Sciences, Vol. 44, N. 9, p.1205-1217, set., 1998. Data de recebimento: 05/04/2010 Data de aprovação: 15/05/2010 Revista FFBusiness • Fortaleza • v. 8 • n. 8 • p. 107-118 • dez. 2010 usiness