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RESUMO
de uár
Este artigo apresenta os resultados da aplicação de doze Entrevistas
s
Por Pauta realizadas junto ao público idoso, distribuído igualmente
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entre nas faixas de 60, 70 e 80 anos. Os resultados apontaram para
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diferentes usos, sempre em relação ao tipo de atividades que cada
segmento realiza no seu dia a dia. Aqueles ainda no mercado de
trabalho, aqueles que têm conhecimento e uso de equipamentos
informatizados e aqueles que ainda não reconhecem a importância
e capacidade da telefonia celular nos dia de hoje e seus benefícios
certamente apresentam uma comunicação homem-máquina com
diferentes níveis de eficiência. As representações icônicas e textuais
das funções representadas no menu principal de aparelhos Nokia
foram o enfoque.
Palavras-chave:
Significacação, elementos icônicos, comunicadores portáteis,
terceira idade
The interference of understanding of the signs
of phones for full communication by elderly
users.
ABSTRACT
This paper presents the results of applying the twelve interviews
conducted with older people, equally distributed between three
segments, about de sixties, the seventies and the eighties years.
The results pointed to different uses, always in relation to the type
of daily activities that each segment carries. Those who still work,
those who have knowledge and use of computerizes equipment and
those that do not yet recognize the importance, capacity and its
benefits of the mobile phones. Because of that, different levels of
efficiency in man-machine communication occurred. The textual
and ionic representations of functions at the main menu of Nokia
mobile phones were the focus.
Keywords:
Signification, iconic elements, mobile phones, elderly
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Introdução
O envelhecimento demográfico mundial é irreversível e
no Brasil isso não é diferente. Em 2025 o Brasil será o sexto
país no mundo em número de idosos. Com as projeções apontando para o número de 33,4 milhões de idosos (WHO, 2002),
justifica-se o interesse nos fenômenos e eventos relacionados
a este segmento da população.
Outro fenômeno evidente é a veloz e contínua evolução da
tecnologia da comunicação. Ferramentas de informática como
editores de texto, navegadores da internet, correio eletrônico,
formas de busca e etc são adicionadas aos dispositivos de
comunicação (ROYO, 2008:11).
De acordo com Siqueira (2008:191) “Nenhum processo tem
tido maior impacto no mundo moderno do que a digitalização
das comunicações e da eletrônica em geral, conduzindo à
convergência digital, ou seja, à fusão de serviços e produtos de
telecomunicações, informática, multimídia e de entretenimento
em geral.” O autor ainda acrescenta “A comunicação sem fio nos
assegura mobilidade, liberdade, flexibilidade, vantagens que
explicam o sucesso explosivo do telefone celular no mundo.”
As conexões sem fio, as redes Bluetooth, Wi-Fi e Wi-Max
interligam tudo de forma mais fácil oferecendo portabilidade recepção de diversos tipos de equipamentos como PDAs, laptops
e celulares com maior mobilidade – recepção de programas
em dispositivos móveis como celulares ou em veículos em
movimento como trens, ônibus ou carros. (SIQUEIRA, 2008:49)
Do antigo telefone fixo passamos ao atual celular de bolso,
pessoal, individual que permite a comunicação da maioria dos
lugares com conectividade. (SIQUEIRA, 2008:192)
O evento da Convergência Digital associa as tecnologias
da computação e da informação.
O formato digital de toda informação (por voz, dados,
textos, gráficos, imagem ou vídeo) pode ser armazenada,
processada, transmitida, codificada, decodificada quantas vezes
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forem necessárias e para qualquer lugar do mundo conectado.
Com os níveis de complexidade cada vez maiores surge o
fenômeno da “barreira da informática” especialmente entre as
faixas etárias mais altas. Isso ocorre graças à frustração do
usuário de não conseguir realizar sua tarefa e a perda da autoestima por culpar-se dessa incapacidade. (CYBIS, 2007:14)
Este avanço da tecnologia da comunicação modifica o
comportamento humano. O mundo pós moderno traz à tona
a conectividade 24h, a disponibilidade de seus usuários em
tempo integral, falta de privacidade e principalmente uma
exigência quanto ao imediatismo para soluções de problemas. Nessa linha, fica evidente a necessidade de comunicar-se
constantemente, mesmo para assuntos pessoais, sociais e não
meramente profissionais.
A importância da Comunicação
A necessidade humana de se comunicar é fundamental,
em se tratando da terceira idade, tem uma importância ainda
maior, pois este segmento da população conforme envelhece
sofre perdas impactantes em todos os aspectos da sua vida
que o empurram para a exclusão social (STAMATO, 2007). Além
de suas perdas físicas e cognitivas também vê diminuído seu
grupo social (familiares e contemporâneos morrem), faz-se necessário reconstruir o círculo de relações para sua própria segurança física e emocional.
De acordo com Zimmerman (2000) “A estimulação
social tem por base a comunicação, o intercâmbio afetivo, a
convivência e o sentimento de pertencer (sentir-se respeitado,
valorizado e aceito em seus grupos de convívio. Assim buscase descobrir, nessa pesquisa como adequar à interface da
comunicação digital via aparelhos de celular à população
atual de idosos cariocas.
Os problemas de comunicação nesta interação são de
três principais naturezas: Informacional, Comunicacional e
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Cognitiva. São descritos segundo MORAES & MONTALVÃO
(2010:23) como:
Informacionais: relacionados “à visibilidade, legibilidade,
compreensibilidade e quantidade de informação, priorização
e ordenação, padronização, compatibilização e consistência
de componentes sígnicos – caracteres alfanuméricos e
símbolos iconográficos – de sistemas de sinalização de
segurança ou de orientação, de painéis sinópticos, telas de
monitores de vídeo e mostradores manuais operacionais e
apoio instrucionais.”
Comunicacionais: relacionados“à articulação e padronização
de mensagens verbais por alto-falantes, microfone e
telefonia; qualidade de equipamentos e comunicação oral.”
Cognitivos: relacionados “à compreensibilidade, consistência
da lógica de codificação e representação, compatibilização
de repertório, significação das mensagens, processamento
de informações, coerência dos estímulos, das instruções e
das ações e decisões envolvidas na tarefa, compatibilidade
entre a quantidade de informações, complexidade e/ou
riscos envolvidos na tarefa; qualificação, competência e
proficiência do operador.”
No âmbito de IHC – Interação Humano-Computador - bem
como Ergonomia Cognitiva, a compreensão do funcionamento
do sistema, a sua comunicabilidade e as ações do usuário conseqüentes desta compreensão são objetos de estudo. A verificação da compreensão dos ícones representativos de funções
pode e deve ocorrer através de estudos de Semiótica.
2.0 – Estudos de IHC – Interação Humano-Computador
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Segundo Preece et al (2007:28) “Design de Interação significa criar experiências que melhorem e entendam a maneira como as pessoas trabalham, se comunicam e interagem.”
Os estudos de IHC têm por objetivo desenvolver e aprimorar
sistemas computacionais nos quais os usuários possam realizar suas tarefas com segurança, eficiência e satisfação, ou seja
ofertarem Usabilidade.
No diálogo entre homem e máquina se evidencia a otimização da tarefa de ambos os lados ampliando as capacidades
de cada um.
Por um lado, o componente humano tem características que favorecem a tarefas com uso de criatividade, foco em
questões relevantes e tomada de decisões; já o lado computacional apresenta características que auxiliam o raciocínio humano através do armazenamento de dados, realização de cálculos, representações gráficas e análises mais rápidas. (SANTA
ROSA, 2010:13)
Entretanto elaborar uma interface que atenda a toda
variabilidade possível de usuário é uma tarefa difícil. Segundo
Jacob Nielsen apud Pak & McLaughlin (2011) entre as idades
de 25 e 60 anos o tempo necessário para completar tarefas
em sites aumenta 0,8% por ano de idade. A questão é se este
aumento se dá pela rápida evolução e mudanças da tecnologia
ou pelas perdas devido ao envelhecimento. É importante saber
o quanto a interface é responsável no aumento de tempo para
realização das tarefas contra o retardo do tempo devido à
inexperiência do usuário com este tipo de tarefa ou qualquer
outra variável (Pak & McLaughlin, 2011).
Embora a afirmação seja relacionada à interação com
sites através de desk-tops, conforme dito anteriormente,
a tecnologia digital como um todo tem convergido para
os celulares, estabelecendo assim um diálogo único com
estratégias muito semelhantes às da interação humanocomputador. Esse diálogo tem apresentado ruídos o que por
si só dificulta a interação desta população com este tipo
de equipamento. A comunicação plena durante a interação
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humano-máquina é fundamental para o alcance do objetivo
do usuário e da tarefa que realiza.
O design digital cria novos espaços que abrem novas
possibilidades para os usuários. Para isso o ser humano
criou a linguagem, ou seja, desenvolveu os próprios códigos
lingüísticos. Estes códigos são utilizados como ferramentas
de comunicação. “Projetar uma interface gráfica é criar uma
ferramenta de comunicação a partir da linguagem.” O respeito
a estes códigos torna a comunicação homem-máquina mais
cômoda, mais lógica e mais humana. (ROYO, 2008:75) Isso
também é usabilidade.
Conforme Santa Rosa e Moraes (2010:14) Usabilidade
é um atributo de todo produto – como a funcionalidade.
Usabilidade se refere a como uma pessoa interage com o
produto.
De acordo com Nielsen (2003), Usabilidade também se
refere à facilidade de uso durante o processo de design. Desta
forma projetos de design visando usabilidade são centrados
no usuário. Entende-se isso considerar o elemento humano
como ponto de partida, como componente fundamental deste
sistema.
Assim se projeta produtos com base nas necessidades,
características, linguagem, identificação, capacidades e
dificuldades humanas. Esta filosofia aponta para uma profunda
compreensão do público usuário.
Há diversos estudiosos de Usabilidade que criaram
critérios e diretrizes a serem seguidos durante o processo
de design de produtos entre eles Nielsen, Bastien & Scapin,
Schneiderman e Jordan. Apesar de pequenas diferenças entre
os critérios e entre diretrizes criadas, há uma convergência
no que se refere a alguns itens relacionados à linguagem e
comunicação, são eles:
Necessidade de conhecimento do modelo mental do
usuário em questão;
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Minimização de erros;
Uso da linguagem do usuário na comunicação homemmáquina;
Manter usuário informado sobre o status do sistema e quais
as tarefas e procedimentos que o usuário está a utilizar;
Ofertar mensagens de erro compreensíveis;
Redução de sobrecarga cognitiva ou seja facilitar
a aprendizagem, diminuir a memorização, oferecer
visualização das funções necessárias etc
2.3 – Ergonomia X Semiótica
As diretrizes e critérios de usabilidade evocam a importância da comunicação no processo de interação homem- máquina.
De que forma se usa um sistema que não fala a língua
do usuário? Certamente ele perderá muito do seu tempo e em
processos mentais tentando descobrir o significado dos signos
constantes no feedback do sistema tais quais ícones, termos e
mensagens. Sem a devida compreensão do significado e função
de cada componente informacional o usuário possivelmente
incorrerá em erros.
Saussure, o mestre da Semiótica Estruturalista, com base
na lingüística e seus códigos definiu Signo como “uma entidade
de dupla face – significante e significado.
Onde “significado” é uma imagem mental, um conceito
e uma realidade psicológica (...)“está relacionado à atividade
mental de indivíduos no seio da sociedade”
(...) “O signo exprime idéias”
Continuando este raciocínio definiu Semiótica como “a
ciência que estuda a vida dos signos no quadro da vida social”
É a ciência que determina em quê consistem os signos e
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quais as leis que os regem.
Considerando “a língua um sistema de signos que exprimem idéias, é confrontável com a escrita, ritos simbólicos, sinais militares, língua dos sinais dos surdos-mudos etc”. (SAUSURRE, 1916 apud ECO, 2009:9)
Charles Sanders Peirce (1839-1914), foi além, também
considerado pai da Semiótica, pretendia uma teoria geral da
representação. A Semiótica está para a lógica, esta é uma lógica da descoberta, para tal, consiste em três processos mentais: a Dedução (necessidade), a Indução (generalização) e a
Abdução (hipótese). A base desta lógica se encontra nas menores unidades da linguagem, o “Signo”. “Um signo é aquilo
que sob determinado aspecto representa algo para alguém.
Vai ao encontro de alguém, criando na mente desta pessoa
um outro signo. O signo é uma representação de seu objeto.”
(PEIRCE, 2000 apud MACIEL, 1997:5). E ainda de que “o fato
de que toda idéia é um signo junto ao fato de que a vida é
uma série de idéias prova que o homem é um signo.” (PEIRCE,
CP 5.314, 1931 apud NöTH, 2009:61). Peirce continua “o mundo inteiro está permeado de signos, se é que não se componha exclusivamente de signos.” (PEIRCE, CP 5.448, 1931 apud
NöTH, 2009:62).
Dos signos que compõem o mundo, pode-se dizer que
sob este prisma o design de um objeto diz respeito às significações que o homem/usuário dá a ele a partir do seu representamem que leva ao próprio “objeto” e culmina no chamado
“interpretante”. Peirce criou estes três componentes básicos
para o entendimento de um signo. São eles Signo, Coisa Significada e Cognição Produzida na Mente. (PEIRCE, CP 1.372,
1931 apud NöTH, 2009:65).
Nojima in Coelho (2008:83) esclarece este processo de
significação dos Signos.
“O Signo corresponde ao resultado da relação entre três
elementos correlatos: uma manifestação perceptível, o objeto
que é por ela representado e uma determinação mediadora
como forma ordenada de um processo lógico.”
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A Significação é o resultado produzido sobre o usuário
(receptor) pelo Signo.
O Significado é o efeito experimentado no meio do
percurso, quando o receptor busca na sua consciência subjetiva,
uma aproximação do significado, uma analogia com o que se
tem de familiar daquele objeto ou mensagem em questão.
“O significado de um Signo é sempre outro Signo, donde se pode concluir
que a semiose se faz por relações triadiáticas.”
REPRESENTAMEM
OBJETO
INTERPRETANTE
1. O Signo
2. O Signo está no lugar do
Objeto especificamente em
relação à idéia que se faz
dele, o representa;
3. Só existe na mente do
receptor e não no mundo
receptor e não no mundo
exterior;
4. Objeto Perceptível;
5. Significante;
6. Um Pensamento;
7. Veículo do Signo que
internaliza algo externo.
1. A Coisa Significada;
2. Algo que o Signo
representa;
3. Pressupõe uma
familiaridade, veicula
informação ulterior ao
próprio objeto;
4. Coisa Material do
mundo da qual se tem um
conhecimento perceptivo
ou imaginário;
5. Uma coisa singular ou
uma classe de coisas;
6. Uma representação
mental do objeto;
7. Um objeto real;
1. Cognição Produzida;
2. Significação ou
Interpretação do Signo;
3. Signo mais
desenvolvido, cria o
Interpretante, que se torna
um Signo;
4. Algo criado na mente do
intérprete;
5. O próprio resultado
“O Significado se concretiza na medida em que é usado nas trocas
comunicativas.” (NOJIMA IN COELHO, 2008:84)
De acordo com BOTELHO & NOJIMA (2011) a partir da
prática projectual, onde são transferidos diversos ‘sentidos’ ao
objeto de Design estabelece-se relações e processos dialógicos que culminam no estabelecimento de forma, função e
utilidade segundo o contexto cultural, político e econômico
dos envolvidos.
No Design a construção da linguagem dos produtos está
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diretamente relacionada ao processo de significação expresso
acima. Produtos/ Funções/Comunicações/Mensagens criadas
por designers ganham maior projeção e aceitação de seu público quando conseguem materializar as idéias e significações
próprias deste grupo de usuários.
“Essa manifestação semiótica confere à construção dos significados e,
conseqüentemente, à apreensão dos efeitos que esses possam produzir,
a comunicabilidade exigida e desejada.” (NOJIMA IN COELHO, 2008:84)
As Entrevistas Por Pauta
Com base no processo de semiose descrito e interesse na
verificação de usabilidade, especificamente com relação à comunicação entre celulares e idosos, o presente trabalho apresenta os resultados obtidos em doze Entrevistas Por Pauta realizadas entre abril e maio de 2011, junto a idosos brasileiros.
O objetivo da aplicação desta técnica foi de natureza
exploratória de forma a vivenciar um primeiro contato com
esta população e a sua relação com o aparelho celular.
Aqui os resultados especificamente ligados às questões de
compreensão/significação dos ícones do menu principal serão
apresentados.
Quais são as funções utilizadas pelos idosos;
Quais representações iconográficas que se referem a essas
funções;
Qual a significação que têm o aparelho de celular para o
usuário idoso.
As Entrevistas Por Pauta foram divididas em quatro áreas
de questionamento: Perfil, Uso, Motivação e Relações Sociais.
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O perfil dos entrevistados apresenta as seguintes
características: pessoas de ambos os sexos, a partir de 60 anos,
residentes na cidade do Rio de Janeiro, proprietários e usuários
de celular há mais de um ano, escolaridade mínima com
segundo grau completo e níveis diferentes de experiência com
computação. Foram homens e mulheres de diferentes faixas
etárias de 60, 70 e 80 anos. Dois homens e duas mulheres de
cada faixa etária.
No grande tema “uso”, alguns questionamentos foram
levantados como quais as funções que conheciam, quais as
que usavam, se poderia demonstrar uma utilização, como
avaliavam a comunicação com o celular e se seus termos e
elementos icônicos eram compreensíveis.
Entre os celulares apresentados, das marcas Nokia,
Samsung, LG, Motorola, BlackBerry e Iphone da Apple. Apenas
os usuários da faixa entre 60 e 70 anos fazem uso de aparelhos
tipo Smartphone e uso da internet. Seis dos doze participantes
usam um aparelho celular da marca Nokia cujos elementos
icônicos neles encontrados no menu principal são:
Representação da função “Configurações”.
É representada graficamente por um
desenho em 3D da metade de uma ferramenta
prateada (simulando metal) tipo Chave Allen,
de uso manual. A chave tem sua estrutura
emergindo do fundo escuro, da direita para
a esquerda, em posição de uso. Ao selecionar
esta função a ferramenta se amplia e se movimenta sobre o
própria cabeça, de baixo para cima duas vezes, apertando uma
porca, como em funcionamento real. Abaixo da imagem uma
abreviação do termo “Configuração” como um texto explicativo:
“Configurs”
Passados 10 segundos da sua seleção, surge uma
mensagem explicando esta função:
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“Inclui configurações relacionadas a chamadas, celular e
segurança.”
Representação da função “Contatos”.
É representada graficamente por
um desenho em 3D de uma caderneta
azul de telefones, disposta verticalmente
em perspectiva com a lombada voltada
para trás no lado esquerdo. Apresenta-se
entreaberta com folhas da cor branca, sob fundo escuro. Cada
aparelho oferece fundos de diferentes cores a disposição da
escolha do usuário, quando a função é selecionada há um
destaque do tom da cor original neste fundo em relação aos
demais.
A capa da caderneta tem um fone (de telefone fixo de
disco) recortado na diagonal com os dispositivos de fala e
audição voltados para a direita e para baixo. Ao selecionar
a função, a caderneta se amplia, abre e fecha as páginas e
rotaciona seu eixo se posicionando levemente enviesada,
agora expondo sua lombada ao invés de suas folhas. Abaixo
da imagem um termo explicativo: “Contatos”
Passados 10 segundos da sua seleção, surge uma
mensagem explicando esta função:
“Permite salvar e editar contatos bem como informações
relativas ao contato para o celular.”
Representação da função “Registros”.
É representada por um desenho em 3D
de duas setas em direções opostas, uma para
cima da cor azul turquesa e contorno em
branco e outra para baixo da cor verde limão e
mesmo contorno em branco. A seta verde vem
em primeiro plano à esquerda, a seta azul no segundo plano
e à direita. Estão ambas em perspectiva onde se vê a lateral
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direita da seta azul. Na ponta da seta verde, há um reflexo
da mesma sobre o fundo escuro, como se fosse um piso, um
limite. Ao selecionar a função ambas as setas se ampliam e
giram cada qual sobre o próprio eixo de cima para baixo (em
relação á seta azul). Realizam uma volta de 360° e invertem a
direção virando-se para a esquerda.
Abaixo da imagem um termo explicativo “Registro”.
Passados 10 segundos da sua seleção, surge uma
mensagem explicando esta função:
“Inclui os números das chamadas telefônicas mais
recentes, destinatários das mensagens mais recentes e
durações de chamadas.”
Representação da função “Organizador”.
É representada por um desenho em
3D de um calendário (folhinha) branco com
números em laranja, o número do dia ampliado
e o restante do mês em números menores. O
calendário apresenta um espiral branco como
elemento de união das folhas.
O calendário está em perspectiva o lado esquerdo (com
o número grande) está mais distante que o lado direito, deste
visualiza-se a largura das folhas reunidas. Ao selecionar a
função o calendário se amplia e inverte de plano. Duas folhas
são passadas uma depois da outra com mudança do número
30 para o 20 e de volta ao 30, fazendo uma alusão à passagem
do tempo. Passa a se apresentar voltado para o lado direito,
com o número fixado em 30 (grande) no primeiro plano e os
pequenos em segundo.
Abaixo da imagem uma abreviação do termo “Organizador”
como um texto explicativo: “Organiz.”
Passados 10 segundos da sua seleção, surge uma
mensagem explicando esta função:
“Contém recursos que ajudam você a organizar as tarefas
diárias.”
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Representação da função “Galeria”.
É representada por um desenho de duas
metades de um rolo de negativo de filme
fotográfico. Apresenta-se em perspectiva com
uma nota musical em vermelho à direita e à
frente do negativo.
As laterais do negativo se apresentam iluminadas pela
cor branca, destacando o cinza chumbo do negativo e suas
perfurações. A face frontal do negativo está voltada para o
lado esquerdo.
Ao selecionar a função o negativo se amplia e realiza um
giro de 180° da direita para a esquerda fixando a face frontal
agora voltada para a direita. A nota musical simultaneamente
se amplia, gira 180° com o negativo em seguida gira novamente
outros 180° na outra direção e se reposiciona à frente do
negativo.
Abaixo da imagem um termo explicativo “Galeria”.
Passados 10 segundos da sua seleção, surge uma
mensagem explicando esta função:
“Permite gerenciar arquivos de imagem e de áudio. Você
pode armazenar os arquivos em pastas predefinidas ou criar
pastas pessoais.”
Representação da função “Web”.
É representada por um desenho em 3D do planeta
Terra com a água em azul turquesa e a terra em verde
bandeira. A esfera apresenta o oeste da África, parte
do Oceano Atlântico e o Nordeste da América do Sul e
Sudeste da América Central e do Norte. Ao selecionar
a função, o Globo se expande levemente e dá uma volta de
pouco mais que 360°, da direita para a esquerda, se fixando
com as Américas centralizadas no Globo.
Abaixo da imagem um termo explicativo “Web”.
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Passados 10 segundos da sua seleção, surge uma
mensagem explicando esta função:
“Permite o acesso ao browser e aos aplicativos da web.”
Representação
“Mídia”.
da
função
É representada por uma claquete
branca com as tradicionais listras
diagonais pretas passando da parte
superior da claquete à parte inferior.
No corpo da claquete (inferior) existem
três formas geométricas, um retângulo vertical dourado, um
triângulo dourado disposto de maneira a parecer uma seta
apontando para a direita e um círculo vermelho. Estas três
formas geométricas remetem às funções de “stop”, “play” e
“rec”. O equivalente a “Parar”, “Tocar” e “Gravar” da maioria dos
equipamentos eletrônicos de som e imagem. Ao selecionar
a função “Mídia” o desenho se expande, faz o movimento
tradicional do fechamento e abertura da claquete, os botões
(formas geométricas) se expandem e voltam ao tamanho
original rapidamente um após o outro, enquanto que a claquete
inteira gira para a direita até se fixar nesta nova posição. A
movimentação dos botões sugere o seu uso, exatamente como
o “bater” da claquete, que ocorre no início de cada nova cena
filmada.
Abaixo da imagem um termo explicativo “Mídia”.
Passados 10 segundos da sua seleção, surge uma
mensagem explicando esta função:
“Contém os recursos de multimídia e de entretenimento
disponíveis no celular.”
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Representação
“Aplicativos”.
da
função
É representada pelo desenho de quatro
monitores nas cores branco gelo (corpo) e azul
rei (tela); estão posicionados dois em cima e
dois embaixo. Todos em perspectiva voltados
com a frente para a esquerda e para baixo. O
primeiro em cima destaca-se do grupo flutuando levemente à
frente e acima dos demais. Ao selecionar a função os monitores
se expandem e giram todos simultaneamente da esquerda
para a direita enquanto todos, cada um por vez, se deslocam
para frente e para trás como se tivessem sido acionados e
saíssem da posição de espera.
Abaixo da imagem um termo explicativo “ Aplicativos”.
Passados 10 segundos da sua seleção, surge uma
mensagem explicando esta função:
“Inclui aplicativos e jogos pré instalados. Novos aplicativos
e jogos podem ser obtidos por download.”
 Representação da função “Mensagens”.
É representada pelo desenho em 3D de um
envelope fechado, amarelo ouro, com contorno em
branco. Está em perspectiva voltado com a face de trás
(fechamento) para a esquerda. Ao acionar a função,
o envelope se expande, gira sobre o próprio eixo
da direita para a esquerda enquanto abre e fecha a
abertura do envelope. Neste momento aparece internamente
um documento com pontos pretos que sugerem uma escrita. A
imagem se fixa direcionada para a direita.
Abaixo da imagem uma abreviação do termo “Mensagens”
como um texto explicativo: “ Mensags.”
Passados 10 segundos da sua seleção, surge uma
mensagem explicando esta função:
“Inclui opções para ler, criar e enviar mensagens.”
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Resultados da Entrevistas Por Pauta
Em relação às funções utilizadas pelos idosos:
Como primeiros resultados pôde-se evidenciar diferenças
de uso das funções dos celulares entre as três sub-faixas
etárias.
Aqueles na faixa de 60 utilizam o celular diariamente,
carregando consigo ao saírem e mesmo dentro de casa.
Fazem uso das funções de “agenda”, “envio e recebimento de
mensagens de texto”, “fotografia”, “filmagem”, “despertador”,
“calculadora”, “registros de chamadas variadas” e até “envio
e recebimento de e-mails” e a função mais utilizada ainda
é “envio e recebimento de chamadas telefônicas.” Esta faixa
demonstrou maior curiosidade em relação às funções
existentes em seus celulares, maior facilidade de navegação e
melhor compreensão da linguagem.
Comentário representativo: “Ligar , receber chamada e
receber torpedo, uso muito agenda.
Planilha Excel e Fotografia. Chegar no cliente e poder usar
essa planilha, mas tem uns números muito pequenininhos...
precisava de óculos...”
(...) “Uso menos filmagem e gravação de voz , só com minha
netinha. Calculadora eventualmente, mas é um problema... a
vista.”
”Não conheço todas as funções. Procuro entender as
funções que ele oferece, mas nem sempre consigo. Não sou
uma pessoa que tem muita paciência. Se você observar, os
manuais não são fáceis de ser compreendidos. Eu tenho os
manuais, mas eles são...” (e torceu o nariz).
“Você fazer uso total de tudo que o celular te permite é
realmente uma viagem, só na Sorbonne.”
Diferentemente daqueles da faixa dos 60, os idosos a
partir de 70 anos inicialmente demonstraram conhecer muito
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menos funções e as usam com menor freqüência que os mais
novos. Todos conhecem a função de “agenda” e/ou “mensagens
de texto”, outros fazem uso de “fotografia” e “serviço de
despertador”. Todos realizam “envio e recebimento de chamadas”
como a função mais freqüente. É importante informar que os
quatro participantes desta faixa, apesar de aposentados ainda
trabalham com remuneração.
Comentários representativos: “Esse aqui oferece ligar e
receber, uma agenda razoavelmente grande que eu ainda não
preenchi, eu continuo podendo inserir contatos à vontade,
eu normalmente insiro no chip, mas ele pode inserir aqui
nele também. Tem o despertador, eu tenho usado bastante o
despertador.”
“Receber e mandar mensagens de voz principalmente.”
“Eu acho que a tecnologia avançou com os jovens e eu digo
assim: a gente não sabe mais viver sem isso.” (...) “Para receber e
mandar mensagens de voz. Para escrever, eu respondo: OK por
escrito. E paro por aí. Meus filhos fazem isso com uma facilidade,
mas eu não Ah! Tem que ficar atento àquelas letrinhas... (...) as
letrinhas incomodam, não gosto de escrever. Prefiro falar com
as pessoas. Vejo quem ligou,...e para quem liguei...”
“Tem foto, mas também não uso; a agenda tem poucos
nomes, porque eu ligo pouco, não me interessa muito. O celular
é um pouco impessoal. Eu quero ligar para um parente em
Portugal e dizer que eu vou ser avô, mas não por email, eu
quero ouvir a voz, quero um contato mais direto.”
“Eu sei, mensagens, o das chamadas, o do despertador,
esse aqui WiFi é pra internet, não é? Mas eu nunca usei. Aqui,
agenda de contatos, hoje em dia eu sei porque uso há muito
tempo. Vamos ver, chip, eu nem sei o que é.”
Já os da faixa de 80 anos apresentaram uma resistência à
compra/aquisição e uso de aparelhos celulares. De uma forma
geral afirmam ter-lhe sido imposto pelos familiares (filhos e
netos), através da alegação de “maior segurança” e “facilidade
de comunicação”. Apresentam um comportamento inusitado,
mas que vem ao encontro do evento da rejeição ao aparelho.
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Nem sempre saem com seus celulares, os esquecem em casa
e muitas vezes os mantém desligados, seja dentro de casa,
seja na rua. Ligam o aparelho quando desejam realizar uma
chamada. Acessam mensagem de texto e as lêem, mas nem
todos sabem como escrever uma mensagem ou responder
aquela que receberam. Reconhecem a importância do celular,
o acham uma facilidade. Mas em casa utilizam somente os
telefones fixos. As funções que admitiram conhecer são de “ligar,
desligar” o aparelho, realizar e atender a uma chamada, mas
buscam o número das chamadas que fazem pela caderneta de
telefone física, desconhecem “contatos ou agenda”, ou sabem
da existência, mas não sabem como utilizá-las.
Comentários representativos: “Quer ver? Eu sei que tem...
acha aí pra mim o telefone...meu filho me ensinou... é agenda.”
“ Quando chega uma mensagem ele avisa. Aí eu abro e
leio. Isso é fácil.”
“Quando eu recebo, meus netos, né, você sabe... aí eu só
respondo “OK”... isso dá, eles ficam sabendo que eu vi.”
A grande maioria entre todas as faixas reclamou, ou
comentou a respeito do tamanho das letras e números. Por vezes
no teclado, por vezes na tela. “Chegar no cliente e poder usar
essa planilha, mas tem uns números muito pequenininhos...
precisava de óculos...”
A maioria entre as três faixas informou ter maior
dificuldade para as letras do que para os números. Passaram
a impressão de evitar escrever mensagens de texto devido a
esta dificuldade e principalmente devido ao teclado de três
letras por tecla.“Tem que ficar atento àquelas letrinhas.(...) as
letrinhas incomodam, não gosto de escrever. Prefiro falar com
as pessoas.”
Resultados a respeito da compreensão das representações icônicas
em relação às suas funções
Quanto aos aspectos de compreensão das mensagens
do sistema, da significação dos elementos icônicos e do
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conhecimento sobre a navegabilidade sugerem relacionar-se
ao nível de experiência do usuário com a informática.
“Houve um avanço muito grande na facilitação, na descodificação do uso desses ícones, não é uma coisa tão complicada. Os ícones da informática, do computador eu reconheço no
celular...”
Sendo as duas linguagens bastante semelhantes senão
únicas nos dias de hoje, faz sentido aqueles com nenhuma ou
pouca experiência com computadores não compreenderem os
termos como “menu”, “configurações”, “aplicativos”, “mídia” ou
“web”.
Entre os doze entrevistados, seis fazem uso de celulares
Nokia que apresentam os elementos icônicos descritos
anteriormente.
Destes seis, dois estão na faixa dos 60, dois na faixa dos
70 e dois na faixa de oitenta anos Em todas as faixas um de
cada gênero.
Quanto à compreensão dos elementos apresentados, todos
compreendem perfeitamente apenas a função de “Mensagens”.
Estabelecem facilmente a relação entre o Representamem e
o Objeto gerando o Interpretante desejado pelos designers.
Relacionam carta, documento, texto à “Mensagem”. A
Representação gráfica evidencia perfeitamente a função que
representa.
Outras representações também alcançam as três faixas,
porém com uma compreensão parcial do seu significado. São
elas ‘Contatos” confundido por dois deles com “Agenda de Atividades” e “Organizador” que alguns relacionam pura e simplesmente à sub-função de “Calendário”.
Quanto a “Contatos” é a segunda representação melhor
compreendida, muitas vezes reconhecida como “Agenda de
Contatos”, mas como dito anteriormente o termo “Agenda” leva
a outros Interpretantes como a sub-função de “Notas“, que se
encontra embutida no “Organizador”.
Esta última função oferece muitas outras sub-funções
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como “Despertador”, “Notas”, “Calculadora” e ”Cronômetro
entre outros. O Interessante é que este mesmo grupo usa o
“Despertador” com grande freqüência, principalmente os da
faixa de 70 e 80, mas não relacionam a representação a esta
sub-função. A representação da função “Organizador” como um
calendário reduz em muito a compreensão da amplitude das
sub-funções ali embutidas.
Em terceiro lugar vem a compreensão da representação
da função “Galeria”. Aqueles das três faixas compreendem
como “Arquivos Fotográficos”. Mesmo caso de redução do
Interpretante que a função “Organizador”. Entretanto o grupo
de 60 e 70 tem uma compreensão mais ampla que alcança as
sub-funções “Arquivos de Vídeo”, “Arquivos de Música” e os de
60 anos “Arquivos de Áudio”.
Em seguida vêm duas representações, aquelas referentes
às funções de “Configurações” e “Mídia”. A faixa de 80 anos
desconhece por completo, não correlaciona a representação
ao significado.
“Configurações” é melhor compreendida pela faixa de
60 e por aqueles de 70 com maior experiência com outros
celulares, em especial os Smartphones. Embora não relacionem
a ferramenta à função principal e sub-funções, sabem para o
que servem e a sua importância na personalização do aparelho.
O termo explicativo mesmo que em abreviação torna-se mais
importante que a representação neste caso.
Os da faixa de 70 têm uma noção superficial do que
significa a função “Mídia”. Acredita-se por conta do uso da subfunção “Fotografia” ou “Câmera Fotográfica”. Mas as demais subfunções de diferentes mídias não lhe são familiares. Há ainda
o caso de terem conhecimento da existência da “Filmagem” e
alguns da “Gravação de Áudio”, mas como não as utilizam, não
relacionam à representação através da claquete da sétima arte.
Acontece com esta representação exatamente como ocorre
com “Configurações”, o termo explicativo “Mídia” é um grande
indicativo do significado da representação e das funções ali
existentes. “Os ícones são muito claros: máquina fotográfica,
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calendário...já ferramenta não sei o que tem dentro...alguns
ícones são claros outros nem tanto.”
São menos claras as representações das funções
“Aplicativos” e “Registros”. Os elementos icônicos utilizados não
alcançam, sob o olhar do usuário, o significado das funções. No
caso de “Registros” o termo auxiliar torna-se fundamental para
uma primeira noção do que oferta. Os participantes de 60 e
um do grupo dos 70 navegam por esta função. Já “Aplicativos”
apenas dois da faixa dos 60 usam para acessar joguinhos
e jogar. Para aqueles usuários de pouca experiência com
celulares e/ou computadores nem o termo auxiliar cumpre o
seu papel explicativo. Não sabem do que se trata.
E finalmente a representação da função “Web” auxiliada
pelo termo explicativo não oferece grandes dificuldades para
s sua compreensão. Entretanto é uma das funções menos
utilizadas pelo grupo de idosos. Entre os participantes, a
metade do grupo de 60 e um integrante dos 70 a usam.
Foram vários os comentários a respeito da preferência
por celulares “simples”, “sem complexidade”, “com poucas
funções”. De uma forma geral não têm interesse ou paciência
para explorar e navegar pelo sistema e descobrir o que oferece
e como funciona. Creditam aos celulares menos complexos
a uma navegação mais simples, mais fácil de aprender e
que não necessita de manual para a sua aprendizagem.
Também relacionam a complexidade à função ‘Web”, ou seja
à conectividade para comunicação via e-mail ou redes sociais.
Resultados sobre a significação que têm o aparelho de celular para
o usuário idoso.
Dez em doze participantes não consideram mais o celular
um objeto de status. Acreditam que o período em que isso
aconteceu foi durante a chegada dos primeiros celulares no país,
quando ainda eram “tijolões” e no momento imediatamente
seguinte, quando todos os usuários os portavam pendurado à
calça, à vista de todos.
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Hoje vêem este aparelho principalmente como um facilitador, que pode gerar uma segurança maior no caso de se
conseguir utilizá-lo no momento da necessidade. Mas não creditam a ele a segurança plena. Aqueles da faixa de 60 ainda
o relacionam a trabalho, como uma ferramenta que viabiliza,
otimiza a resolução de diversos problemas mesmo no meio da
rua, o que garante agilidade e economia de tempo.
Comentários representativos: “Como eu te falei o
celular pra mim é uma ferramenta de trabalho. E hoje é uma
necessidade. Você tá na rua o carro enguiça você vai chamar o
reboque...já que a gente tem...acostumou com essa facilidade.”
“A gente antes não sentia falta. A gente não conhecia.
Hoje a gente não sai sem ele... sabe que é necessário, pode
fazer falta e eventualmente faz como esse dia... eu tive a necessidade.. no outro dia não, não consegui usar.”
“Eu gostaria de usar um que tivesse mais coisas, assim
que me lembrasse coisas durante o dia. (Tem uns com Bloco
de Notas ou uma agenda profissional que não é agenda de
contatos, que você anota as atividades, os seus compromissos,
como uma agenda mesmo de papel, só que...)”
Concordam que essa facilidade aproximou as pessoas de
suas relações devido à sua portabilidade, falar de qualquer
lugar, ou da maioria deles e devido a planos das operadoras
que oferecem vantagens para alguns números de sua escolha.
“Plano empresa.... facilidade de falar e de graça”.
Entretanto não consideram o celular capaz de ampliar a
sua rede de relações.
“Eu acho importante essa facilidade de comunicação.
Ainda me surpreendo com isso. Ainda com esse aparelho aqui
que eu achava humildezinho, náo é? Quanto ao relacionamento com pessoas, facilitou os contatos, sim, mas não ampliou o
número de pessoas que conheço.”
Interessante levantar a questão referente à dependência
do celular. Três quartos dos entrevistados não admitiram se
sentir dependentes dele. Mas muitos foram os comentários
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admitindo a dependência e até alguns contraditórios. Não se
sentem dependentes, mas não saem sem ele.
“Acho que criei dependência do aparelho. A gente começa
a usar e ele facilita a vida da gente, de certa maneira, porque
facilitou muita coisa, a gente vai criando dependência. Coisas
até boas e coisas até ruins, por exemplo, as vezes seria até
melhor não ficar querendo saber coisas que não adianta saber.
Então, sou dependente de celular, sim, e de computador, essas
coisas todas.”
“Eu acho que a tecnologia avançou com os jovens e eu
digo assim: a gente não sabe mais viver sem isso.”
“O celular traz segurança por um lado” (...) “então, tem os
dois lados. Tem o lado da vulnerabilidade, que ela teve que dar
o celular dela, teve que cancelar etc. E o lado da minha segurança ao saber que ele estava com a minha filha.”
“É, a gente fica, cria o hábito. Quando esquece... Quando
saio sem ele fico sem chão. O celular facilita (relata episódio
em que estava na rua e a mulher ligou pra ele de casa
acrescentando um item à lista de compras que havia lhe dado).”
Apenas um (homem de 64 anos) entre os doze participantes
admitiu o celular ter mudado a vida dele e dos demais:
“Acho que o celular altera, sim, e muito, bastante as
relacoes, porque o seu way of life atualmente é quase que 100%,
é totalmente connected, seja através de Facebook, de e-pages,
ou coisa que o valha, você tá constantemente entrando dentro
de um circulo, seja ele social, sexo-afetivo, voce tá sempre na
busca. O que se difundiu hoje em dia, as pessoas pararam de
ter uma relação téte-a-téte, pessoal, interativa e passaram a
ter uma comunicação eletrônica.”
6.0 Conclusão
Diante da opinião dos participantes das Entrevistas Por
Pauta pode-se afirmar que o celular definitivamente entrou
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na vida das pessoas para ficar, apesar da sua complexidade,
da navegação por vezes profunda e difícil, da compreensão
parcial de seus elementos icônicos e das funções disponíveis.
Os celulares dão alguma segurança a seus usuários, o
que lhes causa um “certo incômodo” ao sair sem ele. Devido
ao costume da facilidade do uso, como ocorre com os
computadores, os idosos mais jovens se sentem de alguma
forma dependentes destes aparelhos e não se vêem mais
vivendo sem eles e suas facilidades Porém os idosos da faixa
de 80 não se consideram dependentes dele, na sua maioria, e
apresentam um comportamento de acordo, utilizando-o apenas
como mais uma forma de comunicação tal qual o telefone fixo.
Não se aproveitam da sua portabilidade e mobilidade.
Os idosos das faixas de 60 e 70 anos vêm neste aparelho
uma ferramenta para a comunicação e a resolução de problemas
com ganho de tempo. São idosos ainda em produtividade.
Apesar de todas as facilidades ofertadas, procuram
adquirir aparelhos simples, de navegação fácil, que não
necessite ler manuais. Oito dos doze participantes usam
aparelhos realmente menos complexos. Mesmo assim as
três faixas, principalmente a terceira apresentam muitas
dúvidas e até desconhecimento da existência de funções e
incompreensão da significação da sua representação. Ou não
as compreendem ou compreendem um significado diferente
daquele para o qual o termo ou elemento icônico foi criado.
Aquelas representações gráficas do menu principal
dos celulares Nokia tem apenas na função “Mensagem”
uma representação (um envelope amarelo) que alcança seu
objetivo. É importante separar a compreensão apresentada
em relação aos elementos icônicos e aos elementos textuais
(termos auxiliares).
Evidenciou-se que aquelas funções que também existem
no mundo real ofertam uma compreensão muito maior e
mais rápida, por exemplo o envelope de carta para expressar
“mensagem”, uma máquina fotográfica para representar a
função “câmera”, uma agenda de telefones para a função
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“contatos” etc.
As funções relacionadas a processos eletrônicos,
informatizados são muito mais difíceis de correlacionar
com objetos físicos o que torna as representações icônicas
disponíveis incompreensíveis ou parcialmente compreensíveis.
Nestes casos os elementos textuais funcionam como uma
ajuda nesta comunicação homem-máquina e abrandam as
dúvidas. É o caso da termo “web” para a representação gráfica
do planeta Terra, o temo “contatos” para explicitar a agenda
não ser de atividades e sim de telefone, o termo “configurações
“ para tentar explicar a ferramenta, chave que a representa.
Interessante lembrar que em outros celulares “configurações”
pode ser também “ferramentas”. ‘Mídia” corresponde a este
caso, pois a claquete por si só não alcança a significação
proposta.
As funções de processos eletrônicos têm a origem dos
seus termos nas expressões de informática iniciadas pelos
computadores. Aqueles usuários de computadores, alguns
desde que surgiram no Brasil, têm uma compreensão menos
dificultada. Também foi possível perceber que após o aprendizado de como aquela função funciona e para o quê, memoriza-se o ícone e/ou o termo auxiliar e a sua significação passa
a ser compreendida num processo inverso.
Chapanis desde a década de 60 já afirmava que os usuários evoluem constantemente com uso cada vez mais aprofundado de suas máquinas e mesmo em um simples teste
de usabilidade ou pesquisa experimental seus participantes
terminam diferentes de quando o começaram.
Acredita-se que para promover curiosidade e conseqüente navegação exploratória nos seus respectivos celulares, os
elementos icônicos deverão representar objetos reais do dia
a dia, bem como seus termos auxiliares/titulares deverão correlacionar com tarefas familiares a seus usuários idosos. Percebe-se nitidamente que apesar de todo o estudo para chegar
a estas representações, elas ainda estão distantes do modelo
mental deste segmento de usuários. Sugere-se a aplicação de
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outras técnicas que aprofundem esta compreensão, inclusive
culminando com a emersão de sugestões de representações
e termos através por exemplo de grupos de foco com exposições de opções e liberdade para criação de novas representações.
Finalizando, para ofertar usabilidade é fundamental
ofertar também comunicação efetiva e para tal se faz
necessário favorecer a compreensão do usuário que passa pela
percepção, correlação e significação daquela representação
icônica ou textual em relação aos processos que a função é
capaz de realizar.
Ainda no momento exploratório da pesquisa se faz
notar que esta comunicação é ruidosa, o que desfavorece ao
uso pleno do aparelho. Há um direcionamento inicial para
a afirmação de que a dificuldade de compreensão inibe a
exploração e melhor aproveitamento do aparelho, o que fica
evidente em relação à faixa de 80 anos de idade.
Cabe de agora em diante aprofundar o conhecimento do
modelo mental destes segmentos de usuários para o alcance
de uma melhor interação homem-máquina através de uma
comunicação mais direta e mais evidente que inspire confiança
no sistema e auto-confiança. Seguro de si o usuário fica mais
propenso a se lançar num ambiente não muito familiar.
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SIQUEIRA, Ethevaldo. Para compreender o mundo
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ZIMMERMAN, G. Velhice e aspectos biopsicossociais.
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Revista Paradigmas. Santos: CEES – Centro de Estudos
Filosóficos de Santos, 1997
Disponível em:
parad12/p12.5.htm
24/07/11
http://www.paradigmas.com.br/
Acesso em

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