LANÇAMENTOS

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LANÇAMENTOS
ESTADO DE MINAS//PENSAR
S Á B A D O ,
1 5
D E
N O V E M B R O
D E
2 0 1 4
POESIA É
L A N Ç AM E N TO S
5.
REPORTAGEM
compaixão
Com O perdão imperdoável, a poeta Maria Carpi escreve
sobre os abismos e as aleluias luminosas da alma humana
BERTRAND BRASIL/REPRODUÇÃO
ARAGUAIA –
HISTÓRIAS DE
AMOR E GUERRA
De Carlos Amorim
Editora Record,
504 páginas, R$ 58
Um dos mais
importantes
movimentos de
resistência armada à
ditadura civil-militar, a
RECORD/REPRODUÇÃO guerrilha do Araguaia
ainda é pouco
conhecida dos brasileiros. O motivo é a censura
instalada em torno da ação militar que dizimou
dezenas de jovens ao sul da Amazônia,
destruindo até mesmo documentos que
dariam origem a uma eventual “história
oficial”. O repórter Carlos Amorim dedicou
10 anos à pesquisa sobre o conflito e revela,
com base em entrevistas e relatórios secretos,
as motivações ideológicas, os personagens, a
forma de organização, os erros estratégicos e
até mesmo uma inusitada história de amor
durante a guerrilha.
LITERATURA
ROMÂNTICO,
SEDUTOR E
ANARQUISTA
De Ana Maria Machado
Editora Companhia
das Letras, 140 páginas,
R$ 34,90
Sucesso de público,
inclusive fora do Brasil,
desde os primeiros
romances, só com o
CIA DAS LETRAS/REPRODUÇÃO
tempo Jorge Amado
passou a ser reconhecido e respeitado pela
crítica. O livro de Ana Maria Machado é uma
exceção nessa história, ao assumir desde o
começo o prazer como fundamental na leitura.
A autora passa em revista as qualidades
narrativas do autor, destaca sua capacidade
como contador de histórias, o realismo de seus
personagens e discute pontos cruciais em seus
livros, como “a fartura de visões e a opulência
de recursos” em Tenda dos milagres, ou as
frequentes crenças de que o futuro pode e
deve ser melhor.
A
Em seu novo
livro de
poemas,
Maria Carpi se
aproxima da
experiência
religiosa para
falar da dor,
da alegria e
do perdão
ANDRÉ DI BERNARDI BATISTA MENDES
OS POEMAS
DE MARIA
CARPI
DESCANSAM
PERTO DAS
MISERICÓRDIAS
DE ADÉLIA
PRADO
poeta gaúcha Maria Carpi acaba de lançar, pela Editora Bertrand Brasil, O perdão imperdoável. Por meio de uma poesia forte, ela
mostra que o perdão é um dos sentimentos
mais complexos do ser humano. Ela propõe
uma reflexão a respeito do amor e questiona:
estarão as pessoas prontas para amar e serem
amadas? A poeta coloca o dedo na ferida ao
falar de culpas e remissões.
O livro ilustra os diversos tipos de perdão
com que cada um se depara na vida, desde o
nascimento até a morte. Ela fala, por exemplo, do alívio do autoperdão, do sentimento de paz que transborda diante deste fogo estranho: “Precisei/ envelhecer para perder/ todas as metáforas. E saber/ que o céu é aqui, bem perto,/
onde se pode ainda perdoar”.
Maria Carpi faz o impossível. Ela agrega em cada verso, dentro
de cada poema, uma confluência absurda de sentidos onde cabem várias estradas possíveis. Esta poeta de mão cheia escreve
com todo o tamanho de um coração varrido de senso e sentido.
Cabem sentimentos, existem sentimentos que atormentam
tanto, existem situações extremas que só podem ser ditas através da poesia. Encarar de frente este bicho de sete cabeças exige
força, preparo, coragem e desprendimento, para melhor agarrar,
para melhor captar, para assim abraçar com braços de gente tudo que cabe no mundo. E o mundo é grande, como já disse
Drummond. Transparecem, escorrem dos textos de Maria Carpi doses de carinho.
Se no livro O herói desvalido a poeta “transcende para dentro”, desafia, ameaça, e coloca amorosamente “a lâmina a um
palmo das veias da palavra, da pulsação da palavra”, em O perdão imperdoável ela vai além, também ultrapassa, excede, até
chegar ao outro, até chegar ao cerne de si mesma.
Maria Carpi não tenta dissecar, não tenta soluções ou ainda
explicações para tudo que cabe em seus poemas: e nem poderia. Como apaziguar um sol que despenca, que reside na boca
desta poeta pronta? Certos sentimentos são inexoráveis. O perdão é nosso, é humano. O amor, como também as intempéries,
as injúrias. Nos protege, nos versos de Maria, uma “milícia celeste”. Os poemas de Maria Carpi dormem, descansam perto das
intensidades, perto das misericórdias de Adélia Prado.
A escritora ensina: o perdão não tem precedentes. O perdão
acorda e vai dormir conosco. Cresce aquele que perdoa, libertase o perdoado. Perdoar é rápido e rasteiro. Mas é preciso fé e foco, alma e muita, muita paciência e esperança. Aquele que perdoa não sabe o que faz, mas pressente. O perdão reinaugura fidelidades, pois no bem no fundo ainda existem resquícios de
algo bom. O coração daquele que perdoa se transforma numa
flor incendiada.
“Há que se perdoar/ o amigo que nos traiu// e muito mais o
amigo/que nos salvou.” Deveria ser natural: uma pessoa ajudando a outra. Maria Carpi disponibiliza toda sua sensibilidade. Poesia é isso. Ela nos ensina a vermos melhor, nos ensina outro tipo
de mandamento. Um chamado todo feito de delicadeza. É preciso “não perdoar a falta, mas o julgamento”.
“A respiração do perdão,/ sopro boca a boca,/ a tudo invade e
movimenta/ as folhas da árvore// da vida e do livro.” Perdoar
exige a destreza dos samurais. Perdoar é o mesmo que fulminar.
Aquele que perdoa detona o outro com um punhado de rosas.
Perdoar ativa mecanismos, perdoar inventa
engrenagens de fazer vento e amplidão. Todo perdão começa por dentro. Míssil ao céu,
este processo de escolhas difíceis agrega a cada patamar um processo indescritível de
amor, de amores. Parece bobo, parece fácil?
“Deus continuará a ser/ escrito e perdoado.”
ABISMOS “Há que se perdoar a injúria// e
muito mais a inocência/ que ofereceu o rosto/ à injúria.” O livro de Maria Carpi, como toda sua poesia, é fruto de meditações. Certas
situações são incontornáveis. A poesia é uma
delas. Esta poeta brinca com fogo ao pronunciar, ao escandir o seu verbo que se torna bonito, quando surgem palavras vindas do mais profundo. E neste abismo existem
lâmpadas e luzes de uma intensidade razoável, simples, de medir o infinito.
“Apenas podemos perdoar/ o nome do nascimento.” Maria
Carpi deve ser religiosa. No sentido mais amplo da religiosidade
e com tudo que isso implica. A poeta fala dos caminhos de Deus
e suas moradas. Trata-se de um processo que visa, que exige nada menos que a liberdade. O perdão é o primeiro passo. A compaixão é uma espada que fere ao inverso. A compaixão é uma
lâmina que transfigura, que tira leite das pedras, que lapida a palavra, a ponto de vermos o verso pronto.
“Amar demais escapa/ à tolerância do perdão humano.” O
perdão imperdoável não é um livro fácil de se ler. Este tipo de
poesia exige mais do leitor. Exige uma atenção especial, pois o
melhor dos poemas cabe nas dobras, nas entrelinhas. Maria Carpi não brinca quando esconde nos desvãos dos seus poemas pérolas e diamantes, mas também rosas e os seus pontudos espinhos. Não se trata de sabedoria, ou inteligência. Não que tudo isso seja prescindível. Pelo contrário. Mas a poesia de Maria Carpi
é feita de suspiros, de conhecimentos outros. Seu coração bate
num compasso de buscas e descobertas.
Perdoar auxilia vencidos e vencedores. Como disse o filho
de Maria Carpi, Fabrício Carpinejar, na orelha do livro: “Pois
amar é rápido, já perdoar é demorado. Amar é dar-se para alguém, já perdoar é anular a glória da vingança. Perdoar não
tem visibilidade, não tem vaidade, é a mais profunda solidão”.
Poesia é sinônimo de mãe. Os poemas de Maria Carpi nos recebem, de braços abertos.
Maria Carpi nasceu em Guaporé, é professora, advogada, defensora pública e autora de diversos livros, como As sombras da
vinha e O herói desvalido. Ganhou o prêmio Revelação Poesia/90, da Associação Paulista de Críticos de Arte, por seu livro de
estreia, Nos gerais da dor.
ARQUIVO PESSOAL
O PERDÃO IMPERDOÁVEL
●
●
De Maria Carpi
Editora Bertrand Brasil,
144 páginas, R$ 25
ECONOMIA
SURTANDO EM WALL
STREET – MEMÓRIAS
DE UM OPERADOR DO
LEHMAN BROTHERS
De Jared Dillian
Editora Zahar,
392 páginas, R$ 49,90
Um olhar crítico e
irônico daquele que
muitos jovens
consideram o um bom
ZAHAR/REPRODUÇÃO emprego. O autor,
ex-operador de um
dos maiores bancos de investimento dos EUA,
revela os bastidores da instituição e sua cultura
corporativa alucinada e muitas vezes cômica.
Dos escritórios do Lehman no World Trade
Center, na época do 11 de Setembro de 2001,
à sua derrocada financeira em 2008, o leitor
acompanha a trajetória ensandecida que
chega ao limiar da loucura. Dillian narra seu
mergulho no olho do furacão e conta como foi
ser um operador com transtorno bipolar
durante uma das piores crises da história do
mercado financeiro mundial.
SUSPENSE
EM NOME DO MAL
De James Oswald
Editora Record,
336 páginas, R$ 38
Primeiro volume da
série protagonizada
pelo detetive Anthony
McLean, passada em
Edimburgo. O corpo
mutilado de uma
jovem, vítima de um
RECORD/REPRODUÇÃO ritual macabro
ocorrido há 60 anos,
é descoberto no porão de uma mansão. Os
braços abertos, as mãos pregadas no piso de
madeira, os órgãos removidos e dispostos em
seis recipientes de vidro em torno da vítima.
Além disso, uma proeminente figura local é
brutalmente assassinada, um imigrante ilegal
corta a própria garganta em um bar no centro
da cidade, uma mulher se joga na linha do
trem e outras quatro pessoas são mortas de
forma violenta.
FOTOGRAFIA
A ARTE DO
FOTOGRÁFICO
De Roberto Signorini
Editora WMF Martins
Fontes, 246 páginas,
R$ 39,90
O estudo trata a
intensificação do
debate teórico sobre
a fotografia em torno
de duas questões
MARTINS FONTES/REPRODUÇÃO históricas: que relação
a imagem fotográfica
tem com a realidade; e qual é a contribuição
específica da fotografia para as artes visuais.
O livro é dividido em quatro capítulos. No
primeiro, o autor apresenta reflexões sobre
a relação entre fotografia e crítica de arte.
O segundo trata de fotografia e semiótica,
seguido de reflexões sobre fotografia e estética.
No capítulo final, Signorini estabelece um
diálogo entre fotografia e filosofia.

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