Entrevista
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Entrevista
paladar P1 %HermesFileInfo:P-1:20120614: 14 A 20 DE JUNHO DE 2012 Nº 352 O ESTADO DE S. PAULO MESAS DO SEM FIM Paulinho Martins leva ao 6º Paladar – Cozinha do Brasil a cozinha sensual de Jorge Amado ● Pág. 2 estadão.com.br/paladar DIVULGAÇÃO É pura emulsão Água e óleo não foram feitos um para o outro. Mesmo assim vivem uma delicada relação de amor e ódio na maionese. Por isso, qualquer coisa pode fazê-la desandar. Nesta edição, o Paladar convoca chefs em defesa do molho mais perseguido do mundo (entre eles, Anne-Sophie Pic, autora desta maionese). Págs. 4 e 5 P4 paladar %HermesFileInfo:P-4:20120614: O ESTADO DE S. PAULO 14 A 20 DE JUNHO DE 2012 VOLÚVEL COMO ELA SÓ Fácil de fazer, fácil de passar do ponto – e talvez por esse capricho, tão deliciosa. Só não confunda a maionese caseira com a industrial Se você não andar na linha, vai desandar Lucineia Nunes Não se deixe enganar pela aparente simplicidade. Fazer maionese requer técnica, absoluto respeito às proporções, atenção às temperaturas e submissão cega à ordem de entrada de cada um dos ingredientes – apenas o ácido é livre, pode entrar logo no começo ou no fim. Eessessãosóalgunsdoscuidados necessários. Experimente sair da linha e vai acabar jogando tudo no lixo – a menos que teime emchamar demaionesea misturalíquida, outalhada,quevairestar no fundo da sua vasilha. O segredo da boa maionese é deixaracriatividadelongeemanter disciplina de quartel até ela estar pronta. Daí em diante, é permitido ousar, como você pode conferir nas receitas destas páginas e nos comentários de chefs brasileiros e estrangeiros. Leve, macia e de sabor sutil, a maionese caseira – feita com gemas, óleo e sumo de limão e consumidanomesmodia–nãoguarda nenhuma semelhança com o produtoindustrializadoqueacabou despertando preconceito e causando tanta antipatia. Pois pode apostar, quem não gosta de maionese é porque nunca provou o molho de origem francesa comoeledeveser:artesanalefeito com bons ingredientes. Amaioneseéumdosdezinjustiçados que o Paladar prometeu defender em manifesto divulgadonaúltimaediçãode2011.Lembra? A iniciativa começou com a adesão de Benny Novak, chefproprietário dos restaurantes Ici Bistrô, Tappo e 210 Diner, um apaixonado pela maionese. Quer endossar o movimento? Então, já para a cozinha – mas antes leia as dez questões fundamentais sobre a maionese. 3 Continue despejando o óleo em fio e batendo para emulsionar e dar estrutura ao molho. 4 Assim que ficar espessa pare de bater. Prove e, se necessário, acerte o sal. 1. Numa vasilha e com a ajuda de um batedor, misture bem 1 gema com 1 colher (sopa) de suco de limão (ou vinagre de vinho branco) e 1 pitada de sal. 2. Adicione 250 ml de óleo neutro aos poucos. Primeiro, quase em gotas, depois em fio. E batendo sem parar. Desafiando o ketchup Na terra do molho prêt-à-porter, o Empire Mayonnaise ganha adeptos com versões artesanais e inventivas José Orenstein / NOVA YORK O recém-inaugurado Empire Mayonnaise (sim, o “império da maionese”) cria e vende versões artesanais e inventivas do polêmico condimento, que ali tem status gourmet. São mais de 30 sabores, como wasabi, páprica, açafrão, trufas brancas, limão, castanha ou vadouvan (espécie de curry francês). Quem comanda o negócio é o chef Sam Mason, que trabalhava na cozinha do restaurante wd˜50, conhecido pelos inventivos pratos, ao lado dos sócios Benjamin e Elizabeth Valleau. “A coisa começou como uma brincadeira entre amigos. Observamos que havia um buraco no mercado. Há muitas opções de ketchup e mostarda num supermercado, mas quase nenhuma de maionese”, conta Mason. “E essas maioneses convencionais industrializadas e pasteurizadas são horríveis.” Antes de abrir a loja ao público, em abril deste ano, no Brooklyn (564 Vanderbilt Ave.), eles vendiam suas maioneses artesanais em mercados e feiras de produtos orgânicos. Agora, preparam tudo entre uma apertada cozinha-laboratório e uma sala refrigerada a 5˚C, onde fazem a mistura e guardam os ingredientes. As porções são vendidas em potes de vidro peque- nos, já que a validade dessa maionese artesanal é de apenas quatro meses. As industriais chegam a durar nove meses. O chef advoga que há espaço para variar. “Tem que arriscar, mesmo na maionese clássica. Usar vinagre balsâmico no lugar do branco, diferentes óleos ou azeites, substituir o vinagre por champanhe. Quanto maior a acidez melhor o gosto final”, diz. Atualmente ele está testando maioneses de umeboshi e de gengibre. Para elaborar os sabores, deixa os ingredientes misturados ao óleo por um ou dois dias. Faz então uma filtragem para, em seguida, bater – na mão ou com batedeira – junto com as gemas, o vinagre e o sal. As maioneses artesanais vêm atraindo curiosos, gourmets e a mídia nova-iorquina, o que dá a Mason a certeza de que em breve terá concorrência. Ele estuda reduzir o número de sabores para aumentar o volume de produção, comprar uma batedeira maior, e já acertou com uma grande rede de supermercados especializada em orgânicos. Se ele já conseguiu converter alguém que entrou na loja dizendo odiar maionese? “Acho que já, alguns”, diz. “Não posso dizer que eles saem daqui adorando maionese. Mas pelo menos passam a gostar. Muita gente odeia porque associa maionese àquela coisa industrializada, de cheiro horrível, sabor enjoado que comia na infância. Eu tento mostrar aqui que maionese não é aquilo. É uma simples mistura de quatro ingredientes que todo mundo come: ovos, azeite, vinagre e sal.” QUESTÕES DE BASE 12 3 4 5 67 89 10 1. Como fica melhor: na mão ou na batedeira? O método não faz diferença: batedor de arame, mixer, batedeira ou liquidificador têm o mesmo resultado. Mas os eletroportáteis funcionam melhor para grandes quantidades. “Faço a receita clássica com óleo aromatizado de legumes antes de acrescentar outros ingredientes” Fábio Barbosa, chef do La Mar Pimenta rocoto Tempere 200g de maionese com 50g de pasta de rocoto (comprada pronta) 2. Por que a bateção tem de seguir uma ordem? Para que o molho adquira a textura adequada e não desande. Primeiro se bate a gema, que é uma estrutura rica em proteína, gordura e lecitina, a substância facilitadora da emulsão. A ela se adiciona o vinagre, que é o ácido responsável pela estabilização, e o sal. Só depois que essa base estiver homogênea é que se mistura o óleo, em fio, lentamente e sem parar de bater, para dar estrutura ao molho. 3. Como engrossar a maionese? Quanto mais óleo, mais firme e densa a maionese fica. 4. E como se faz para deixá-la fluida? Basta adicionar uma colher (sopa) de água, suco de limão ou qualquer outro líquido (para aromatizá-la), com o molho já pronto. 5. Agora, o perigo: o que faz a maionese desandar? Ingredientes fora da proporção. Ingredientes frios demais ou quentes na hora de preparar a emulsão. Adicionar o óleo rapidamente, de uma só vez. Usar ovo velho. Não bater o suficiente. Azeitonas pretas Misture 200g de maionese, 20g de pasta de azeitona preta, 10 ml de suco de limão e 2g de sal 6. Quando desanda, dá para consertar? Nem sempre é possível salvar. A primeira tentativa é adicionar uma colher (de sopa) rasa de água. Harold McGee ensina outro truque em seu livro Dicas Para Cozinhar Bem: “Pegue uma gema fresca, vá batendo e acrescentando a ela, aos poucos, o molho talhado”. Se não der certo, o jeito é recomeçar. estadao.com.br Maionese sem ovo. Veja como ela é feita pelo chef Pablo Pavón. Ainda receitas e aromatizações www.estadao.com.br/paladar Ervas Misture 200g de maionese com 50g de pasta de ervas (junte 100g de salsinha picada, 250 ml de óleo de milho, 30 ml de vinagre, 2g de cominho, 2g de orégano, 2 dentes de alho esmagados e 3g de sal) 7. É possível mudar ingredientes? Sim, mas o sabor será diferente. O óleo pode ser substituído por outras gorduras como azeite extravirgem, azeites aromatizados, óleos de castanhas ou nozes. A gema de galinha pode ser substituída por gema de ovos de outras aves, como pata, por gema pasteurizada e também por leite e derivados. O componente ácido pode ser trocado por suco de outros cítricos ou vinagres aromatizados. 8. Qual a diferença de usar gema crua e pasteurizada? A pasteurizada não é tão estável quanto a crua e exige um pouco mais de cuidado no preparo. Porém, o sabor e a textura são semelhantes. A pasteurizada é usada por chefs no mundo todo. 9. O que acontece se usar o ovo inteiro, não só a gema? A maionese ficará mais clara, brilhante e consistente. Mas usando só a gema ela fica mais delicada. 10. Vale mesmo a pena fazer maionese caseira? Sem dúvida. Em casa é possível determinar a qualidade dos ingredientes usados e controlar a quantidade de sal. Além de se poder temperar com o que quiser, como pimenta, mostarda, ervas, alho. O ESTADO DE S. PAULO Gema, óleo e muitos temperos Viajar na maionese pode ser bem variado: no Peru, ela leva ají. No México, pimenta. No Japão, wasabi e limão GRADUAÇÃO EM GASTRONOMIA “Amo maionese, especialmente com batatas cozidas e ervilhas verdes” Albert Adrià, do 41 Grados DIVULGAÇÃO Não é sempre que a maionese marca presença com sua fórmula mais simples. Ao contrário. Vai ganhando complementos, temperos e cores conforme a cozinha. Nas causas peruanas ela costuma ser combinada com ají. Apimentada, está nos ceviches e tacos do México. Nas mesas do Japão, surge temperada com wasabi, gergelim, limão yuzu e só perde para o shoyu. No moderno 41 Grados, em Barcelona, Albert Adrià, tempera a maionese com estra- gão, mostarda e limão. Carme Ruscalleda, do três estrelas Sant Pau, em San Pol de Mar, gosta de dar mais sabor e cor ao molho. “Faço maionese com ervas frescas, como salsinha, mostarda e manjericão, com pimentões assados, alho, azeitonas, especiarias”, contou em entrevista por e-mail. Por aqui, a contribuição gastronômica da maionese também extrapola os limites do hambúrguer. A combinação preferida de Rodrigo Oliveira, do Mocotó, é com pimenta-cumari e cebolinha-verde, que entra no final para manter sua crocância. “Fica uma delícia com porco, peixes e aves”, garante o chef. Fã de maionese, José Barattino faz experiências mudando os óleos na cozinha do Emi- liano. “Sugiro usar óleo de canola, oliva, linhaça, amendoim e até patauá”, diz. Leonardo Tavares, professor de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi sugere aromatizar a maionese com bebidas como saquê e conhaque. O chef Fábio Barbosa, do La Mar, combina ingredientes para modificar a textura da maionese, como pasta de azeitonas pretas, chimichurri e pimenta rocoto. Outro apaixonado pelo molho é Renato Carioni, do Così, que na infância ajudava a mãe a prepará-lo. “Maionese para mim é uma religião, detesto quando é mal feita”, diz o chef que preparou 120 quilos de maionese trufada para servir com os dois mil hambúrgueres de pato que vendeu durante a Virada Cultural, em São Paulo. O sucesso foi tamanho que o prato entrou no cardápio do restaurante. Com a maionese à parte, que fique claro, “para não esquentar ou escorrer pelo pão”. A pedido do Paladar, Renato Carioni e Fábio Barbosa prepararam as maioneses aromatizadas desta edição. / L.N. paladar P5 DIVULGAÇÃO FOTOS: FELIPE RAU/AE 14 A 20 DE JUNHO DE 2012 Entrevista Anne-Sophie Pic, chef do Pic “Maionese para mim é uma religião – detesto quando ela é mal feita” Renato Carioni, chef do Così Alcaparra Misture 150g de maionese, suco de 1/2 limão, 1 colher (sopa) de cebola roxa picada e 1 colher (sopa) de alcaparra picada ‘Ela acompanha qualquer prato’ Tomate seco Misture 150g de maionese, 1 colher (sopa) de salsinha e cebolinha picadas, 1 colher (sopa) de tomate seco picado e 1 colher (sopa) de azeitona verde picada Anne-Sophie Pic defende o uso da maionese para harmonizar, equilibrar e enriquecer carnes e peixes, frios ou quentes Única chef mulher da França com 3 estrelas Michelin, AnneSophie Pic não dispensa maionese na cozinha de sua Maison Pic. Em entrevista por e-mail ao Paladar, ela conta como gosta de fazer e comer maionese. ● Como usa a maionese? Molhos frios são clássicos franceses. Uso-os para enriquecer sabores e equilibrar o gosto da carne e do peixe. Adocicada ou amarga, a maionese acompanha qualquer prato. ● Como você faz? Numa vasilha, misturo 1 gema com 1 colher (sopa) de mostarda. Mexendo vigorosamente, acrescento 250 ml de óleo de amendoim, devagar e sem parar. Quando dá ponto, tempero com sal, pimenta-do-reino moída na hora e 1 colher (chá) de vinagre de jerez. ● Coloca outros ingredientes? Gosto de misturar com creme de leite batido. Fica uma musseline, um molho aerado... Uma delícia com batatas assadas. Gosto de acrescentar ervas para incrementar meus pratos. Por exemplo, as ervas mistas do molho tártaro (que tem por base maionese) combinam com o gosto defumado da carne grelhada, enquanto a cebola dá um toque de frescor. Também faço maionese de manteiga clarificada no lugar do óleo, para acompanhar camarão e lagosta. DIVULGAÇÃO “A maionese é um molho delicado e elegante. Vai bem com carnes, peixes e vegetais, especialmente produtos magros e de textura firme” Carme Ruscalleda ● Qual a melhor harmonização com maionese? Peixe escaldado comido frio (salmão, bacalhau, merluza). ● Que pratos melhoram com maionese temperada? Gosto muito de maioneses com fatias de pepino em conserva, alcaparra e ervas mistas (salsinha, coentro e estragão). No verão, gosto de churrasco e molho tártaro com cubinhos de pepino e alcaparra, cebola e ervas mistas (salsinha e estragão). ● Qual a dica para fazer maionese em casa? A melhor dica é bater manualmente, não com batedeira. Mexa com regularidade e acrescente o óleo muito devagar. E gosto também de acrescentar 250 ml de água para deixar a maionese mais leve e macia. / L.N. “Para evitar salmonela, o jeito é pasteurizar a gema em casa: misture 1 gema com 1 colher (sopa) de suco de limão e água numa vasilha. Leve ao micro-ondas em potência alta até quase atingir o ponto de ebulição. Retire a tigela, mexa rapidamente com um garfo limpo e repita o aquecimento. Retire e mexa de novo até ficar morno” Harold McGee Agradecimento: Pablo Pavón e Bárbara Verzola, chefs do Soeta; Roseli Rossi, nutricionista da Clínica Equilíbrio Nutricional; Leonardo Tavares, professor de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi; Mari Hirata, chef; e Lourdes Hernández, cozinheira • Professores formados pela ADF • Currículo e instalações com padrão internacional • Chancela de Alain Ducasse, chef expert na educação em gastronomia, e de 28 restaurantes em 9 países por todo o mundo GRADUAÇÃO EM GASTRONOMIA DA ESTÁCIO, O SEGREDO DOS MELHORES CHEFS NA PREPARAÇÃO DE SUAS CARREIRAS. A ÚNICA FACULDADE DA AMÉRICA DO SUL COM PARCERIA COM A ALAIN DUCASSE FORMATION (ADF), UMA DAS MAIS RENOMADAS ESCOLAS DE GASTRONOMIA DA FRANÇA. MATERIAL DIDÁTICO EM UM TABLET*, SEM CUSTO. NOVO CAMPUS CHÁCARA FLORA - SP, MODERNO, COMPLETO E ESPERANDO POR VOCÊ. 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