Romantismo - História da Cultura e das Artes / História da Música

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Romantismo - História da Cultura e das Artes / História da Música
Romantismo
O Romantismo foi um movimento cultural que surgiu na Europae nos Estados Unidos da Américaa partir da segunda me
tade do século XVIII. O seu nomederiva de "romance" (história de aventuras medievais), que tiveram uma grande divul
gação no final de setecentos, respondendo ao crescente interesse pelopassado gótico e à nostalgia da Idade Média. Mui
to variada nas suas manifestações, esta corrente sustentavase filosoficamente em três pilares: oindividualismo, o subjetivismo e a intensidade.Contra a ordem e a rigidez intelectua
l clássica, os artistas românticos imprimiram maior importância àimaginação, à originalidade e à expressão individual, a
través das quais poderiam alcançar o sublime e o genial.
Arquitetura
O Romantismo, ligado à recuperação de formas artísticas medievais, acompanhada pelo gosto pelo exótico contido nas
culturas orientais, favoreceu arevivência e a mistura de vários estilos, como o românico, o gótico, o bizantino, o chinês
ou o árabe. Foi na Inglaterra que se verificaram as primeirasmanifestações da arquitetura romântica.O inglês Horace W
alpole tornouse um dos pioneiros do revivalismo gótico com a construção do palacete StrawberryHill, no terceiro quartel de setecent
os. O neogótico teve como grande impulsionador o filósofo John Ruskine manifestouse em inúmeros edifícios ingleses, deentre os quais se destaca o Parlamento de Londres. O gosto oriental marcou forma
lmente o Pavilhão Real de Brighton, construído em ferro por John Nash.Maistarde, e já no continente, surgiu o neobarro
co, que teve grande sucesso em França com os trabalhos de Charles Garnier (182598), dos quais se destaca aÓpera de Paris.Paralelamente ao revivalismo estilístico, a arquitetura do século XIX apresent
ou um outro vasto campo de desenvolvimento, proporcionadopelos novos materiais de construção surgidos com a indus
trialização, como o ferro e o vidro. Embora a Inglaterra tenha sido pioneira na utilização do ferropara a construção de e
struturas arquitetónicas, foi em França que esta tecnologia encontrou uma mais significativa expressão estética.
Artes Plásticas e Decorativas
Contrariamente à arquitetura, que conheceu o seu apogeu em Inglaterra, a pintura romântica encontrou um meio intele
ctual e criativo mais favorável nocontinente europeu, principalmente em Espanha, França e na Alemanha.Francisco Goy
a(17461828), pintor espanhol contemporâneo de David, foigrandemente influenciado por Mengs e por Tiepolo mas também po
r autores do período barroco como Velázqueze Rembrandt. As suas obras mais famosas,como o quadro Três de Maio de
1808, foram realizadas entre 1810 e 1815, os anos da ocupação francesa, e caracterizamse pelo sentido trágico dos temas,pelo colorido agresssivo e uma luminosidade dramática.
O francês Eugéne Delacroix(17981863), marcado pela cultura romântica inglesa, pinta grandes quadros épicos como a Liberdade Guiando o Povo(18301831)e cenas orientalizantes, como Os massacres de Scio, para os quais a viagem que realiza a Marrocos fornece infor
mações preciosas.
Na Alemanha, a pintura romântica atinge o seu apogeu com as representações visionárias e espiritualizadas da naturez
a, realizadas pelos alemães CasparDavid Friedrich (1774-1840) e Philipp Otto Runge (1774-1840).
Em Portugal, salientaram-se os pintores Tomás da Anunciação (1818-1879), o paisagista Cristino da Silva (18291877) e Francisco Augusto Metrass (18251861), estudante em Roma com o grupo dos Nazarenos e autor de quadros historicistas e naturalistas, de entre os quai
s se destaca a pintura "Só Deus".
A escultura romântica, desenvolvida em paralelo com a escultura neoclássica, não conheceu qualidade estética nem pro
jeção idênticas à da pintura damesma época. Protagonizada pelo francês Antoine Louis Barye (17961875), que transporta para a estatuária o espírito romântico do pintor Delacroix, dequem era amigo, realiza peças base
adas no estudo naturalístico e fortemente expressivo de animais selvagens, como por exemplo, a escultura O Jaguarde
vorando uma lebre.
No contexto português destacam-se os trabalhos de Soares dos Reis(18471889), como a estátua "Desterrado" e de Simões de Almeida (18441926), autordo grupo escultórico Génio da Liberdade, incluído no monumento do Marquês de Pombal em Lisboa.
Desaparecendo durante a segunda metade do século XIX, o romantismo inspirou alguns movimentos artísticos da centú
ria seguinte, como o Simbolismoe oExpressionismo.
Literatura
O Romantismo entra na Literatura portuguesa com a publicação do poema D. Branca(1826) de Almeida Garrett. O ambi
ente político (lutas entre liberais eabsolutistas), o exílio deste, o seu temperamento, a época em que viveu, transforma
m o árcade que durante muito tempo se afirmou em Catão, na Lírica deJoão Mínimo, no Retrato de Vénus, quanto ao se
u conteúdo, e nos poemas Camõese D. Branca, na linguagem, no grande romântico das Folhas Caídase nogrande pionei
ro de uma linguagem coloquial, moderna, de Viagens na Minha Terra. Será, contudo, Alexandre Herculanoo grande inté
rprete do Romantismocom a poesia de cor histórica marcadamente atual da Harpa do Crentee com o romance histórico
(O Bobo, O Monge de Cister) decorrente na Idade Média,que constituirá o zénite do movimento literário. Porque mais tr
adicionalista, a Inglaterraestá na sua origem; depois, irrompe na Alemanhacom a peçadramática Sturm und Drang(Tem
pestade e Ímpeto), um grito de revolta contra o imperialismo napoleónico e uma afirmação de nacionalismo e, como tal
, omedievalismo, o regresso ao passado, o subjetivismo e, na sua sequência, o sentimentalismo. O subjetivismo dos filó
sofos alemães Kant, Fichte, SchellingeSchlegel conduz a um novo antropocentrismo. Por outro lado, o sentimentalismo
afirma-se com o domínio do coração nos românticos sobre o da razão nosclássicos. Da Inglaterravemlhe o gosto de uma paisagem solitária, luarenta, saudosa, com as ruínas musgosas e evocadoras. As Estaçõesde Thomp
son(172630) abrem caminho para a descrição da natureza saudosista, solitária, povoada de ruínas e cemitérios. O passado com
a sua poesia, as suastradições, serviu como reação ao Classicismoaristocrata. É este ambiente que propicia o clima em
que floresce a poesia e o romance de Walter Scotte é neleque se realiza a obra poética do insaciável aventureiro, revolu
cionário e sentimental Byron. Os nomes de Wordsworth, Macpherson, Coleridgee Shelleysãoainda de vulto no moviment
o romântico na Inglaterra. Do desencontro entre as formas espartilhadas do Classicismoe a ânsia de evasão dos românt
icosafirma-se o sentido da liberdade na Arte e, daí, o individualismo com Victor Hugo, o «escutate a ti próprio». O artista deixa de ser o imitador; pondo a suaimaginação a trabalhar, cria uma subrealidade e transmite o seu sentir e pensar. De imitador passa a criador. Albert Thibaudet considera o Romantismo com
o«a grande revolução literária moderna». É, também, uma atitude reativa em favor da pequena burguesia que orienta
o Contrato Socialde Rousseau(1762) e,depois, Emílio(1762); e, em Julie ou La Nouvelle Héloiseesboçase o passionalismo romântico. Embora a Françasó a partir de 1830 se abrisse definitivamenteao Romantismo, não há d
úvida de que Rousseau pode considerarse o seu primeiro ensaio na escola. Depois temos Chateaubriand com Atalae o Génio doCristianismo, Lamartine, Musset
, Victor Hugo, que escreve o prefácio do drama Cromwella proclamar a liberdade na arte, em guerra aberta com as nor
mas doClassicismo. Na Alemanha, Herder, Goethe, Hegel, Schillere Schlegel são os padrões mais sugestivos. Mas já os
irmãos Grimmtinham explorado a culturapopular: Wieland, no seu Oberon, põe o maravilhoso popular no lugar da mitol
ogia e Klopstock, em Messíada, também a rejeita. A liberdade na arte determinaa criação de novas formas o drama, o poema narrativo (Camões), o romance histórico; na poesia aparecem variadíssimas estruturas estróficas qu
eacompanham o pensamento com maleabilidade; a linguagem, com mais poder de transmissão, enriquece com uma si
mbologia nova e com um vocabulário maissugestivo e mais atual; afirmase o gosto pelo exotismo. Ao equilíbrio do Classicismoopõese, agora, a ansiedade da descoberta metafísica, quer se perca nodomínio horizontal das afeições humanas (Garrett), q
uer se dirija verticalmente na busca de Deus (Herculano, Soares de Passos, Antero de Quental). AoRomantismo interes
sam os temas grandiosos. Mas, por vezes, essa ânsia de infinito debatese dolorosamente, dramaticamente, com as suas limitaçõeshumanas, o que dá lugar ao desânimo. A mesma ânsia de li
berdade artística projetase na busca ansiosa de um mundo melhor, um mundo onde os homenssintam o domínio da justiça e se encontrem com
o irmãos. Todas as circunstâncias que propiciaram a nova corrente arrastaram consigo um acentuado pendorpara a ins
egurança, para a inquietação, para o desajustamento que os mergulha, ora num estado de melancolia, a qual, com Sch
openhauer, conduz aopessimismo niilista, ora num estado de revolta (Byron). Daí, portanto, um mundo literário cheio d
e paixões exaltadas, de traições, de malfeitores, deambientes terríficos e mórbidos, ou um mundo de sonho, vivido na s
olidão, em contacto com uma natureza turbulenta, alvoroçada, sombria, ao pôr do sol,durante a noite, nas estações ro
mânticas (outono e inverno), povoada de receios, de fantasmas, de visões terríficas, em oposição à natureza resplende
ntedos clássicos, com ninfas e faunos. De fundo de cenário que era, no Classicismo, a natureza, nos românticos, partici
pa, determina estados de alma. O "locusamoenus" cede lugar ao "locus horrendus".
Como referenciar este artigo: Romantismo. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
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