Revista Engenharia de Interesse Social - FaEnge

Transcrição

Revista Engenharia de Interesse Social - FaEnge
Equipe
• Contatos
◦ Endereço Postal:
Faculdade de Engenharia de João Monlevade
Av. Brasília, 1304 - Bairro Baú
João Monlevade (MG) - Brasil
CEP: 35930-314
◦ Contato Principal:
Robson Lima
Telefones: +55 31 3859-3201/3202
E-mail: [email protected]
◦ Contato para Suporte Técnico:
Marcos Souza
Telefone: +55 31 3851-8845
E-mail: [email protected]
Equipe Editorial
• Editores
◦ Robson Lima, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
João Monlevade, MG, Brasil
◦ Gleicia Paulino, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
João Monlevade, MG, Brasil
• Coordenação Editorial
◦ Maike da Silva, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
João Monlevade, MG, Brasil
• Revisão de textos
◦ Erivelton Brás, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
João Monlevade, MG, Brasil
• Editoração de textos
◦ Priscila Silva, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
João Monlevade, MG, Brasil
Conselho Editorial
• Andreia Ribeiro Ayres
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
• Arminda Eugenia Marques Campos
Universidade Estadual Paulista – UNESP
• Luis Henrique Abegão
Universidade Federal Fluminense – UFF
• Maurício César Delamaro
Universidade Estadual Paulista – UNESP
• Diogo Luna Moureira
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Angel Rafael Arce Chilque
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Ivan Bursztyn
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
• Marcus Alvarenga Soares
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM
Comitê Avaliadores
• Adriele Prisca de Magalhães
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Agostinho Ferreira
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Alan Rodrigues Teixeira Machado
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Armando José Massucatto
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Breno Eustáquio da Silva
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Cassiano Souza Rosa
Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM
• Cecilia Silva Monnerat
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Cristiane Duarte Nascimento Araújo
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Daniele Cristina Gonçalves
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Dayse Zita Dudley
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UFRJ
• David Judson do Nascimento Azevedo
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UFRJ
• Denise Eliane Euzébio Pinto
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Evaneide Nascimento Lima
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Fabiana de Ávila Modesto
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Fernanda da Fonseca Diniz
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Fernando Neves Lima
Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI
• Geraldo Magela da Silva
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
• Glelson Pereira Marques
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Graziela Fátima Pereira
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• José de Arimatéia Lopes
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• José Henrique Oliveira
Fundação Roberto Marinho
• Júnia Soares Alexandrino
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Jussara Aparecida de Oliveira Cotta
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Laura Cota Carvalho
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
• Luciano José Pontes de Souza
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Lucília A. Linhares Machado
Universidade Federal de Ouro Preto- UFOP
• Marcelo Silva Pinto
Universidade Federal de Minas Gerais - UFM
• Marcus Alvarenga Soares
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM
• Marielle Hoalle Moreira Benevides Lage
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET
• Marlon Fernandes Ramos
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Millôr Godoy Sabará
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Priscila Caroline Albuquerque da Silva
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Rita de Cássia Mendes
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Rita de Cassia Monteiro Afonso
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
• Rita Elena Melian
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
• Rosenilson Pinto
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Savio Figueira Corrêa
Universidade Federal de Ouro Preto- UFOP
• Shisley Ramos Barcelos
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
• Simone Saviolo Rocha
Empresa de Pesquisa Energética – EPE
• Teresa Aparecida Soares de Freitas
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB
• Veríssimo Gibran Mendes de Sá
Dow AgroSciences
Editorial
Como difundir e enriquecer o conhecimento em um universo acadêmico
e científico em que se fala displicentemente de ações de inovação e de sustentabilidade? Eis um desafio estabelecido no mundo contemporâneo para
estudiosos e pensadores que, até pouco tempo, imaginávamos predominar
os ambientes das instituições de ensino superior.
Entretanto, como falar de inovação e sustentabilidade sem reconhecer
a necessidade de estabelecer raízes do saber intelectual, tácito ou empírico
como se fossem as de um Carvalho-roble que após viver momentos de extrema vulnerabilidade aos ventos e tempestades, estabilizam-se fortalecidas e profundas, nutrindo-se dos ricos elementos do solo para sustentar sua
majestosa árvore!? Ainda como um Carvalho-roble em germinação, a iniciativa de editar e publicar a Revista Engenharia de Interesse Social caracteriza-se por vislumbrar sua sustentabilidade como ferramenta de
domínio público para o enriquecimento dos estudos e das reflexões sobre os
conhecimentos gerados e adquiridos pelo ensino formal, em diálogo com os
elementos antropológicos, culturais, políticos, sociológicos e econômicos que
condicionam e, ao mesmo tempo, se vulnerabilizam perante as ações dos
métodos científicos e acadêmicos e das práticas dos profissionais formados
em nossas instituições de ensino superior.
Como uma iniciativa inovadora, esta Revista desafia o solo no qual se
nutre, por sua instabilidade e sua juventude, e viola as muralhas do conhecimento técnico e específico para reconhecer a riqueza de um universo
multi e transdisciplinar. Agradecemos a você por nos dedicar sua atenção
e esperamos despertar seu inconformismo e suas críticas que constituirão os
nutrientes necessários para a robustez e a beleza desse nosso Carvalho.
Tenham todos uma boa leitura!
Sumário
1. A argila bentonítica atuando como impermeabilizante em base de ateros sanitários
B. L. Farace; F. M. R. Silveira; F. N. de J. Guedes
reis001, p.1-12
2. Estudo do efeito corrosivo dos aços inox AISI 304 e microligado Hardox 600
em meios salino e ácido
Á. Diniz; C. S. Monnerat; F. N. De J. Guedes
reis005, p.1-9
3. Técnica de descarte. Uma análise do comportamento dos indivíduos e a
maneira de destinar seus resíduos
G. R. Leão
reis010, p.1-11
4. Tratamento de escória proveniente da redução da cassiterita visando à remoção de enxofre e o aproveitamento do tântalo F. G. Fagundes; G. O. C.
Rocha; G. M. Paulino
reis011, p.1-9
5. Estudo das consequências do planejamento do plano de fogo nas etapas subsequentes ao desmonte de rochas J. C. M. L. Soares; G. M. Paulino; P. H.
Barbosa; R. P. Lima
reis013, p.1-9
6. Rigidez locacional e os impactos socioeconômicos e ambientais da Mina de
Brucutu no Município de Barão de Cocais L. O. S. Araújo; C. S. de Morais
reis014, p.1-15
7. Os desafios de educar em valores na atualidade T. E. D. Ferreira
reis017, p.1-11
Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social
VOL. 1, NUM. 1, 2016
reis-001, p. 1-12
www.faenge.uemg.br
A argila bentonítica atuando como impermeabilizante
em base de aterros sanitários
The bentonite clay acting as waterproofing on the basis of landfill areas
B. L. Farace1,∗ ; F. M. R. Silveira2 ; F. N. De J. Guedes3
3
1, 2
Graduanda Engenharia de Minas, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade - MG, Brasil
Departamento de Ciências Exatas Aplicadas e dos Materiais, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade - MG, Brasil
∗[email protected]
Resumo
A regulamentação brasileira de aterros sanitários estabelece que a disposição de resíduos
seja feita no menor espaço possível, de modo que os danos à saúde pública e ao meio
ambiente sejam os menores possíveis. Devido às irregularidades no tratamento e
acomodação de resíduos, é necessário manter e garantir a impermeabilização das bases
de aterros. Esse estudo propõe, por meio de uma sistemática revisão, verificar como
ocorre a vedação com uso de argila bentonítica e quais os fatores influem na sua ação
impermeabilizante, a fim de avaliar a eficácia da sua utilização. Para fundamentá-lo,
artigos classificados de acordo com palavras-chave foram ponderados como elegíveis
e avaliados. Posteriormente, simulou-se um aterro, por meio do uso de baldes que
representavam valas. Assim, foram aplicadas: uma camada de argila, uma camada de
solo e chorume. Para comparar o grau de impermeabilização, foram usadas camadas
de argila de espessuras variadas, solo comum e esterilizado. Foram coletadas amostras
de chorume bruto e de líquidos percolados para a realização de ensaios e com os
resultados obtidos, tabelas foram confeccionadas para facilitar a interpretação. Ao
término, constatou-se que uma boa impermeabilização ocorreu com o emprego de 2,0
cm de argila ativada com uso de carbonato de sódio.
Palavras-chave: Impermeabilização, Argila Bentonítica, Aterro Sanitário.
....................................................................................
The Brazilian regulation for landfill estabilishes that the disposition of the solid waste must be done in
the shorter space possibly, remembering that it shouldn’t damage public healthy neather the environment.
Due to the amount of irregularities in the Brasilian’s system of waste treatment and accommodation, it is
really necessary to maintain and guarantee the waterproofing of the landfill foundation. This study aims,
throw a great revision, to analyse and to study how and what are the bentonite clay components and
properties, which allows and justify its waterproofing action. To support this review, many articles have
been considered, and - after a first classification with the keyword - it was ponderated as elegible and
evaluated. Afterwards, a landfill was simulated with a tub that represents a ‘ditch’ where layers of clay, soil
and manure were applied. In this process were used different thickness of clay’s layers and a commom type
of soil sterilized. Then some manure samples and percolated liquids were collected for the trials and the
results are shown in tables here. At the end it was observed that it is possible to obtain a good waterproof
property with 2,0 centimiters of activated clay and sodium carbonate.
Keywords: Waterproofing, Bentonite clay, Lanfill areas.
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
1 INTRODUÇÃO
O século XX foi caracterizado pela popularização do modelo de produção fordista
que contribuiu para a alteração do modo de consumo social. O consumo se intensificou e
a geração de resíduo também. Esse fato é um problema devido à existência de resíduos
em excesso e ao descarte inadequado dos mesmos, o que afeta a qualidade de vida das
populações e degrada o ambiente.
É preciso modificar o modo de acomodar os rejeitos. A necessidade da sociedade
moderna é sanar a problemática de imediato, ou pelo menos, reduzi-la a fim de evitar
maiores transtornos. Dessa forma, com o intuito de depositar os resíduos adequadamente sem
interferir nas camadas inferiores adjacentes, o atual estudo propõe a avaliação da viabilidade
do uso de argila bentonítica para manter a vedação na base do aterro sanitário, uma
alternativa que possui considerável duração e objetiva mitigar os impactos socioambientais.
Para isso, é preciso conhecer e analisar os valores atribuídos aos parâmetros de pH, sólidos
sedimentáveis, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio
(DQO), condutividade e presença de Escherichia coli.
Sabe-se que a argila é composta por minerais microscópicos e de elevada impermeabilidade. Por esse motivo, possui características singulares, como a facilidade de ser
moldada com água e a dificuldade de desagregação. Bentonitas são formadas por argilominerais, isto é, minerais constituídos por silicatos hidratados de alumínio e ferro, podendo
conter elementos alcalinos como: sódio, potássio e alcalinos terrosos (cálcio e magnésio).
As argilas podem apresentar-se na forma sódica, cálcica ou policatiônica, dependendo
de qual cátion é mais predominante em sua constituição interplanar (AMORIM et al.,
2006). São caracterizadas por pertencer ao grupo das Esmectitas, do qual fazem parte
a montmorilonita, entre outros e formadas pela desvitrificação e subsequente alteração
química de tufos e vidros vulcânicos. Este argilomineral controla a permeabilidade pela
hidratação, expansão e separação do espaço intercamadas entre as lâminas superpostas,
criando caminhos tortuosos, longos e obstruídos para o fluxo.
As placas da montmorilonita são pouco espessas, têm feição irregular e tendem a
se agrupar durante a secagem. O empilhamento dessas finas placas é realizado por forças
polares fracas e por forças de Van Der Waals, que variam inversamente com a distância
de separação entre as lamelas. As forças aumentam com a diminuição da distância de
separação entre as lamelas e vice-versa. O espaço entre as placas é chamado de galerias ou
de camadas intermediárias/interlamelares. Nele há água e cátions livres (como Na+ , Ca2+ ,
Li+ ) os quais são responsáveis pelo empilhamento da estrutura lamelar e são passíveis de
troca (BARBOSA, 2009).
A natureza dos cátions presentes pode determinar o comportamento da
argila, como por exemplo; se na estrutura estiverem presentes cátions
Na+ a argila pode se expandir e absorver água, enquanto que, se o
cátion for Ca2+ , a quantidade de água que penetra entre as lamelas é
limitada de modo que essas não se expandem e continuam unidas umas
às outras por interações eletrostáticas. Por sua vez, o cátion Ca2+ , ou
até mesmo outro cátion bivalente como o Mg2+ , proporciona ao meio
mais carga positiva e pode funcionar como um floculador, capaz de
unir as partículas (e não contribuir para sua separação), ao diminuir a
repulsão entre as mesmas (BARBOSA, 2009).
A elevada afinidade da bentonita com água e sua considerável capacidade de
expansão são propriedades que conferem resistência à passagem de água. Em condições
2
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
confinadas, as partículas expandidas são forçadas entre si para preencher os vazios entre as
partículas do solo, constituindo uma barreira contra a passagem do fluxo (GLEASON et
al., 1997 apud CAMARGO, 2012).
O grau de deformação da argila, até entrar em rotura, aumenta de modo progressivo
até certo valor em função do conteúdo de água. A água funciona como lubrificante que
facilita e permite o deslizamento das partículas umas sobre as outras sempre que há tensão
superficial (MEIRA, 2001).
A fim de cumprir a regulamentação brasileira de aterros sanitários, no que diz
respeito à forma de acomodar os resíduos, um dos materiais que tem esse potencial, como
dito, é a argila bentonítica, que além de ter alta plasticidade e capacidade de trocar cátions,
é pouco permeável, o que permite ser uma alternativa impermeabilizante aplicável em
aterros.
A seguir serão detalhados os materiais, métodos, ensaios e análises que foram feitos
para verificar a viabilidade da aplicação da argila bentonítica em aterros sanitários.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Simulação do aterro sanitário e coleta de amostras de solo e chorume
Para estudar a viabilidade da aplicação de argila bentonítica como impermeabilizante em aterros sanitários, foi realizada a simulação de um aterro, onde em valas,
representadas por vasos plásticos com 20 centímetros de diâmetro e 30 centímetros de
altura, que continham em seu fundo furos de 1 centímetro de diâmetro, foram aplicadas
camadas de argila de espessura variada (1,0 cm, 1,5 cm e 2,0 cm). Em seguida, adicionou-se
aos baldes solo comum e chorume bruto, ambos coletados no Aterro Sanitário do Consórcio
Público de Gestão de Resíduos Sólidos das cidades de Nova Era, João Monlevade, Rio
Piracicaba e Bela Vista de Minas, localizado entre João Monlevade e Rio Piracicaba, em
Minas Gerais.
A simulação do aterro foi realizada com a finalidade de executar os ensaios laboratoriais, seguindo a mesma metodologia para cada parâmetro:
- 1a análise: chorume bruto coletado no aterro.
- 2a análise: chorume após tratamento proveniente da vala que continha solo comum e
da vala que continha solo esterilizado, ambas com 1,5 cm de argila.
- 3a análise: chorume após tratamento proveniente da vala que continha solo comum e
da vala que continha solo esterilizado, ambas com 2,0 cm de argila.
- 4a análise: chorume após tratamento proveniente da vala que continha solo comum
e da vala que continha solo esterilizado, ambas com 2,0 cm de argila ativada com
carbonato de sódio.
2.2 Preparação do material a ser empregado nos ensaios e esterilização do
solo a ser utilizado para fins de comparação
Para realizar a comparação dos resultados sem que houvesse qualquer tipo de
influência dos microorganismos, foram utilizados dois tipos de solo: o solo coletado no
3
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Figura 1 – Esboço da simulação de aterro sanitário realizada.
aterro e, este mesmo solo, porém esterilizado a uma temperatura de aproximadamente
110o C por 40 minutos.
O solo esterilizado foi depositado nos baldes após secagem da argila e sua quantidade
bem como a do chorume despejado foram determinados obedecendo às proporções existentes
no aterro sanitário, seguindo as informações obtidas na revisão de literatura e na pesquisa
de campo realizada.
Ressalta-se que tais proporções foram disponibilidades pelo Consórcio Público de
Gestão de Resíduos Sólidos das cidades de Nova Era, João Monlevade, Rio Piracicaba e
Bela Vista de Minas e constitui-se como um arquivo privado.
A representação do experimento simulando as condições do aterro sanitário foi
ilustrada na Figura 1.
Antes de aplicar a argila em pó nos baldes, hidratou-se a mesma com água (Figura 2).
Sabe-se que com o manuseio abrupto, surgem nuvens de pó, porém a quantidade de pó
perdida é mínima, por isto durante 30 minutos ininterruptos, misturou-se de maneira
cuidadosa a argila bentonítica em pó à água até que a mescla adquirisse consistência
pastosa, tendente a semidura e não esfarelada. Após o descanso de 4 horas, repetiu-se o
processo e em seguida fez-se a sua aplicação nos baldes.
2.3 Utilização de água purificada, estudo do escoamento e avaliação da impermeabilização do argilomineral
Pelo fato de a bentonita ter uma hidratação diferenciada dependendo da natureza do
líquido em contato, cada vala, independente de conter solo esterilizado, recebeu 3,5l de água
ultrapurificada. Para obtenção dessa água, foi realizado o tratamento por osmose reversa,
que “é um processo que permite a remoção dos sólidos dissolvidos de um determinado
efluente por meio da filtração através de uma membrana semipermeável” (CLAAS; MAIA,
1994). O uso desse tipo de água em particular é o mais indicado por impedir a influência
da própria água nos ensaios realizados, já que o processo de osmose reversa é capaz de
separar a água de seus contaminantes, o que possibilita obter um resultado mais exato e
real.
Após este processo de purificação da água, a mesma foi imediatamente despejada
sobre o solo para que não houvesse alteração nos ensaios analíticos e após o escoamento, foi
coletada e destinada à análise laboratorial. Desta forma, a quantidade de água despejada
na hidratação foi suficiente para encharcar o solo e gerar um escoamento em quantidade
4
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Figura 2 – Foto ilustrativa do processo de ativação da argila bentonítica.
suficiente para ser analisada.
2.4 Coleta e envio do chorume bruto e dos líquidos percolados advindos das
valas de 1,5 cm de argila aos laboratórios terceirizados
O chorume bruto diretamente coletado no aterro sanitário foi destinado à realização
de ensaios em laboratórios terceirizados e especializados (inicialmente a Bioanálise e,
posteriormente, a Ecoar, ambos os laboratórios situados em João Monlevade) para avaliação
da presença de bactérias Escherichia coli e verificação dos valores para os parâmetros como
pH, sólidos sedimentáveis, DBO, DQO e condutividade.
Quanto aos líquidos resultantes da percolação, após o despejo da água, esses foram
coletados da vala que continha solo comum e da que continha solo esterilizado, ambas com
1,5 cm de espessura de argila em seu interior. O tempo esperado para a percolação total
do material destinado a coleta foi de 1 hora. O material foi armazenado em recipientes
etiquetados, esterilizados, hermeticamente fechados e, posteriormente, acondicionados em
caixas apropriadas, seguindo todos os procedimentos necessários adequados à amostragem,
sendo enviado aos laboratórios terceirizados anteriormente citados. Esse material percolado foi analisado com base nos mesmos seis critérios adotados para análise do chorume
bruto. Tais estudos foram executados dentro do prazo de validade estabelecido segundo a
metodologia da 21a edição do livro Standard Methods for the Examination of Water and
Wastewater (APHA, 2015), informada pelos laboratórios.
2.5 Recolhimento dos líquidos percolados provenientes das valas de 2,0 cm
de espessura de argila e posterior análise
Foram feitas novas análises e o material analisado foi o líquido que escoou coletado
da vala de solo esterilizado e da vala de solo comum, porém dessa vez as valas tinham camadas de 2,0 cm de argila bentonítica em seu interior. Decidiu-se, por meio de considerações e
estudos teóricos, avaliar nesse segundo momento, as características do material procedente
das valas com maior espessura de argila para verificar o grau e forma de ocorrência da
5
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
impermeabilização nesta situação. Os ensaios executados foram exatamente os mesmos
para que a comparação e, a partir dela, a interpretação e inferência de conclusões fosse
confiável. Além disso, as análises apresentavam conformidade com a metodologia da 21a
edição do livro Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA,
2015). Salienta-se que se utilizou o material proveniente do balde com 1,0 centímetro de
argila para avaliar as características do chorume.
2.6 Processo de ativação da argila bentonítica com uso de carbonato de sódio
De posse dos resultados das análises e com objetivo de otimizá-los, novamente,
recorreu-se à literatura especializada que guiou a realização do procedimento relatado a
seguir. A partir deste novo estudo teórico, realizou-se a ativação da argila bentonítica,
conforme ilustra a Figura 2, por meio do tratamento químico com uso de carbonato de
sódio (Na2 CO3 ), visto que a argila bentonítica apresenta predominância de íons cálcio,
ocorrendo troca catiônica e mudança dos cátions interlamelares de Ca2+ por Na+ , sendo
que o íon Na+ hidratou-se mais que o Ca2+ , conforme mostrado a seguir:
Bentonita Ca2+ + Na2 CO3 = Bentonita Na+ + CaCO3
(1)
Repetiu-se o mesmo processo para simulação do aterro sanitário, porém, desta
vez, borrifando na argila bentonítica aplicada em cada vala, uma solução de 250 mL de
carbonato de sódio com água.
Este procedimento de ativação foi feito para atender a necessidade advinda da
criteriosa análise dos resultados anteriores obtidos, assim sendo, a percolação anteriormente
avaliada não foi influenciada por essa ativação.
2.7 Recolhimento dos líquidos percolados das valas de 2,0 cm de espessura
de argila ativada e envio ao laboratório terceirizado
Das valas de 2,0 cm de argila ativada tanto de solo comum quanto de solo esterilizado,
foram coletados os líquidos escoados destinados às análises a serem feitas pelo laboratório
terceirizado especializado. A coleta do material foi feita com os devidos cuidados para
não comprometer as etapas seguintes de avaliação do estudo. A metodologia utilizada
foi a mesma dos estudos laboratoriais anteriores, 21a edição do livro Standard Methods
for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 2015) e o prazo de validade para
realização dos ensaios foi obedecido de modo adequado.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Comparação entre os dados e interpretação dos resultados
A partir da montagem da simulação do aterro sanitário e considerando os seis
critérios avaliados durante esse estudo, os vários resultados obtidos foram devidamente
analisados e discutidos.
3.1 Hidratação e expansão da argila
Tendo em vista que a função principal da argila é servir, neste caso, como barreira
hidráulica, a sua hidratação e expansão são parâmetros importantes para o seu bom
6
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
desempenho. Por esse motivo, antes de aplicada, a argila em pó foi inicialmente ativada
com água e, posteriormente, devido a eficácia comprovada em outros estudos (salientados
adiante), foi ativada com carbonato de sódio. Isso justifica-se, já que a bentonita contém
pequenos poros, o que implica na necessidade de pequenas dilatações para ser capaz de
servir como barreira.
A bentonítica possui partículas muito pequenas de silicatos de alumínio hidratado,
que se constituem como argilominerais, e apresenta um empilhamento de lamelas, exibindo
alta capacidade de troca de cátions. “A capacidade de troca catiônica é uma propriedade
muito importante das argilas, pois, pela troca de cátions pode-se modificá-las quimicamente,
influindo diretamente sobre suas propriedades físico-químicas. A hidratação dos cátions
interlamelares gera o acúmulo de moléculas de água no espaço interlamelar das argilas e seu
consequente inchamento, aumentando as distâncias interlamelares” (TEIXEIRA-NETO;
TEIXEIRA-NETO, 2009).
3.2 Ativação da argila com uso do carbonato de sódio (Na2 CO4 )
Inicialmente, a argila havia sido apenas hidratada com água, porém, baseando-se
na leitura de diversos artigos sobre a eficiência do uso da argila ativada como material de
vedação, resolveu-se testar a ativação da argila com o emprego de carbonato de sódio. Nesse
processo, a bentonita passa de cálcica para sódica e isso é fundamental para sua eficiência,
pois as bentonitas sódicas adsorvem água de modo contínuo, inchando e aumentando seu
volume até a completa esfoliação de suas lamelas em água, enquanto, as bentonitas cálcicas
não se esfoliam em suspensão aquosa, o inchamento que ocorre é pequeno e as partículas
precipitam rapidamente.
Embora a ativação de argilas bentonitícas cálcicas com carbonato de sódio não
permita obter especificamente as propriedades da argila bentonita sódica natural, devido
ao maior grau de pureza que essa apresenta, esse método possibilita a obtenção de um
material com características intermeadiárias entre a bentonita ativa e a não ativada.
O uso específico do carbonato de sódio se deve ao fato de que “a quantidade de
filtrado obtido em lama tixotrópica é influenciada pela presença do íon sódio nas camadas
octaédricas da argila, por isso a necessidade de ativar essas argilas com carbonato de sódio,
melhorando também outras propriedades como: inchamento e viscosidade” (CLAUDINO
et al., 2007).
3.3 Obtenção de resultados e sua interpretação
3.3.1
Análise do chorume bruto
As Tabelas 1 e 2 expõem os resultados dos ensaios realizados com o chorume bruto
após coleta no aterro sanitário.
Para os parâmetros particulares de pH e sólidos sedimentáveis, o chorume bruto
encontra-se dentro do padrão esperado (COPAM/CERH, 2008). Porém, pelo fato de os
valores obtidos para DBO e DQO estarem expressivamente elevados, conclui-se que o
chorume não está, de modo geral, em conformidade com o padrão de lançamento descrito
no capítulo V da normativa. Dessa forma, a impermeabilização deve ser significativa para
não permitir a passagem do conteúdo contaminado.
O elevado valor de DBO encontrado na amostra de chorume bruto sinaliza a alta
quantidade de matéria orgânica presente no meio, o que possivelmente levou a decomposição
7
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Tabela 1 – Resultados dos parâmetros analisados para chorume bruto.
Chorume Bruto
Parâmetros
Padrão
Unidades
Resultado
pH
Sólidos sedimentáveis
DBO
DQO
Condutividade
6a9
Até 1
Até 60
Até 180
-
mL/L
mg/L
mg/L
-
8,4
0,2
604
4734
17971
Padrão estabelecido pela Deliberação Normativa Conjunta COPAM / CERH No 01
de 05 de Maio de 2008 - Efluentes. (Grau de confiança de 95,54% com fator de abrangência K=2). Fonte: Laboratório terceirizado especializado.
Tabela 2 – Resultados quanto à presença de E. coli para o chorume bruto.
Chorume Bruto
Parâmetros
Padrão
Unidades
Resultado
Bactérias Escherichia coli
-
MNP/100mL
12
Padrão estabelecido pela Deliberação Normativa Conjunta COPAM / CERH No 01
de 05 de Maio de 2008 - Efluentes. (Grau de confiança de 95,54% com fator de abrangência K=2). Fonte: Laboratório terceirizado especializado.
anaeróbia e comprometeu a qualidade do chorume analisado. Como observado na tabela,
o valor de DQO é superior ao de DBO e isso é esperado, tendo em vista que também se
oxidam por este método as substâncias não biodegradáveis. “Os elevados valores de DQO
e DBO sugerem que o chorume seja, na realidade, constituído por uma mistura daqueles
produzidos por lixos em diferentes estados de decomposição” (SISINNO; MOREIRA, 1996).
A relação entre DBO e DQO é indicativa da qualidade da água, já que avalia a
biodegrabilidade do tratamento do efluente. A razão entre esses dados de acordo com a
tabela acima é de aproximadamente 0,13, o que refere a um efluente de difícil tratamento
biológico, uma vez que o valor obtido é inferior a 0,2.
3.3.2
Análise do chorume após tratamento da vala com 1,5 cm de argila
A Tabela 3 mostra os resultados das análises a partir do chorume, após tratamento
proveniente da vala que continha solo comum e da vala que continha solo esterilizado,
ambas com 1,5 cm de argila.
Tendo em vista que as condições de avaliação e a espessura da camada de argila
bentonítica eram as mesmas para ambas as valas, a diferença existente entre os valores
observados, deve-se à distinção da natureza dos solos presentes em cada vala. A presença
de solo esterilizado em uma das valas impede a influência do solo nos resultados obtidos, o
que possibilita tê-los mais próximos do real.
Nos dois dados obtidos, o líquido percolado não está em conformidade com o padrão
estabelecido pela Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH MG. Para o chorume,
após tratamento da vala com solo comum, isso é explicado pelos elevados valores de sólidos
8
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Tabela 3 – Resultados analíticos para os percolados.
Chorume após tratamento
Parâmetros
Vala com solo comum
Vala com solo esterilizado
Escherichia coli
pH
Sólidos sedimentáveis
DBO
DQO
Condutividade
610000 MNP/100mL
8,3
10 mL/L
4,6 mg/L
335 mg/L
2176
92000 MNP/100mL
7,7
4 mL/L
293 mg/L
1105 mg/L
3851
Padrão estabelecido pela Deliberação Normativa Conjunta COPAM / CERH No 01
de 05 de Maio de 2008 - Efluentes. (Grau de confiança de 95,54% com fator de abrangência K=2). Fonte: Laboratório terceirizado especializado.
sedimentáveis e DQO, enquanto que para o proveniente da vala com solo esterilizado se
justifica nos valores consideráveis de sólidos sedimentáveis, DBO e DQO.
De acordo com a Tabela 3 de resultados obtidos, há uma pequena variação do
valor de pH do chorume bruto e do pH do chorume proveniente da vala que apresentava
solo comum, contudo, ambos se apresentaram ácidos. Para esse parâmetro, o valor que
apresenta maior diferença aos demais é o correspondente ao chorume derivado da vala de
solo esterilizado, porém, permaneceu ácido.
Outro fator importante é que embora as coletas tenham sido realizadas cuidadosamente, verificou-se o aumento da presença de Escherichia coli comparando o chorume
bruto (Tabela 1) a ambos os chorumes após o tratamento (Tabela 3). Isso pode ser explicado, nesse caso, com base no tempo decorrido entre a percolação e a coleta do material
que, provavelmente, propiciou a proliferação de bactérias no meio, já que as condições
de umidade, pH e temperatura eram favoráveis para permitir tal crescimento. Após o
armazenamento do material nos tubos esterilizados destinados à realização da análise, a
proliferação de bactérias cessa, pois o meio não permite.
Observando na tabela acima os valores relativos à presença de Escherichia coli para
os chorumes após tratamento, constata-se menor valor atribuído ao chorume proveniente da
vala que continha solo esterilizado, o que é justificável devido ao processo de esterilização
que, por eliminar a vida microbiológica existente no solo, impede a influência deste nos
resultados.
3.3.3
Análise do chorume após tratamento da vala com 2,0 cm de argila
Os valores dos ensaios feitos com uso do chorume após tratamento proveniente da
vala que continha solo comum e da vala que continha solo esterilizado, ambas com 2,0 cm
de argila são apresentados na Tabela 4.
Na situação apresentada, não foi detectada a presença de Escherichia coli no
chorume após tratamento proveniente da vala com solo esterilizado, enquanto para o da
vala com solo comum o valor é muito inferior ao correspondente na Tabela 3. Isso permite
afirmar que a impermeabilização nessa situação, em que se utiliza maior espessura da
camada de argila, foi mais eficaz, uma vez que os contaminantes ficaram retidos, como
proposto no estudo.
9
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Tabela 4 – Resultados analíticos para chorume percolado.
Chorume após tratamento
Parâmetros
Vala com solo comum
Vala com solo esterilizado
Escherichia coli
pH
Sólidos sedimentáveis
DBO
DQO
Condutividade
Temperatura
11 UFC/100mL
7,32
24 mL/L
28,9 mg/L
381 mg/L
1029,5 µS/cm
21,8o C
AUSENTE
7,11
6,5 mL/L
64,3 mg/L
192 mg/L
653,4 µS/cm
22o C
Fonte: Laboratório terceirizado especializado.
A condutividade auxilia também na explicação da satisfatória eficiência em vedação,
pois, verificando os resultados das Tabelas 3 e 4, nota-se redução expressiva do valor de
condutividade para ambos os chorumes coletados. Isso ocorreu devido ao fato de a bentonita
absorver mais água, já que possui maior espessura, propiciando uma expansão de modo
mais significativo, o que permitiu a existência de uma barreira de argila mais resistente e
impermeável, atendendo ao objetivo do estudo. Essa barreira foi a responsável por impedir
a passagem dos contaminantes e contribuir para o acentuado decréscimo da condutividade
hidráulica, que diminui pela influência do aumento da matéria orgânica presente no meio,
auxilia na retenção de água nos solos e é responsável, em grande parte, pelo aumento da
capacidade de troca catiônica do solo. Com o tempo, naturalmente, houve aumento da
matéria orgânica presente no chorume, já que se observa aumento em sólidos sedimentáveis.
3.3.4
Análise do chorume após tratamento da vala com 2,0 cm de argila ativada com carbonato
de sódio
A Tabela 5 exibe os resultados da análise laboratorial na qual utilizou-se chorume
após tratamento proveniente da vala que continha solo comum e da vala que continha solo
esterilizado, ambas com 2,0 cm de argila ativada com Na2 CO3 .
Tabela 5 – Resultados analíticos para o líquido percolado.
Chorume após tratamento
Parâmetros
Vala com solo comum
Vala com solo esterilizado
Escherichia coli
pH
Sólidos sedimentáveis
DBO
DQO
Condutividade
Temperatura
AUSENTE
7,71
110 mL/L
6,9 mg/L
59 mg/L
10422 µS/cm
23,4o C
AUSENTE
7,7
15 mL/L
2,1 mg/L
83 mg/L
5563 µS/cm
23,4o C
Fonte: Laboratório terceirizado especializado.
De acordo com a Tabela 5, nota-se ausência de Escherichia coli, o que é relevante,
pois a presença de contaminantes na água revela o risco do seu consumo e a necessidade
10
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
de adotar medidas de controle para melhorar sua qualidade, visando não comprometer
sua utilização bem como a contaminação do meio. Além disso, permite afirmar que a
impermeabilização foi efetivamente conseguida com sucesso, já que não há contaminantes
fecais.
Acredita-se que a ativação da argila bentonítica com uso de uma solução feita com
carbonato de sódio e água foi essencial para conseguir ausência de Escherichia coli, pois
esse foi o único procedimento diferente adotado entre os ensaios das amostras coletadas
para a última análise. Acredita-se, ainda, que o processo de ativação fez com que a argila
adsorvesse água continuamente e assim aumentasse seu volume até a total esfoliação de
suas lamelas em água, o que satisfez aos objetivos propostos neste projeto.
É importante ainda mencionar que a redução de acidez, assim como dos valores de
DBO e DQO que na Tabela 4 são altos, tendem, em geral, segundo a Tabela 5, a decrescer
expressivamente, devido à ocorrência da biodegradação da matéria orgânica (SISINNO;
MOREIRA, 1996).
4 CONCLUSÃO
Inicialmente, quando a argila havia sido apenas ativada com água, os resultados
não foram satisfatórios conforme o previsto. Assim sendo, após estudos e realização da
ativação da argila bentonítica com o uso de uma solução feita com água e carbonato de
sódio e aplicação em espessura de 2,0 cm, foi possível obter uma melhor impermeabilização,
satisfazendo, dessa forma, aos objetivos propostos.
O tratamento químico com Na2 CO3 permitiu a troca catiônica e mudança dos
cátions interlamelares de Ca2+ por Na+ . Isso possibilitou a bentonita passar de cálcica para
sódica, o que influenciou e justificou sua eficiência, uma vez que na estrutura passaram
a predominar cátions Na+, permitindo a argila se expandir e absorver água. Isso não
aconteceria se o cátion predominante fosse Ca2+ , pois a quantidade de água que penetraria
entre as lamelas seria limitada de modo que essas não se expandiriam.
A elevada capacidade de sorção, juntamente à condutividade hidráulica, evidencia
a capacidade de impermeabilização do solo ao material percolado. É preciso mencionar que
o bom desempenho da argila como barreira impermeabilizante depende da sua natureza,
da presença de um detalhado projeto executivo, da correta instalação e da adequada
fiscalização da qualidade de impermeabilização.
5 AGRADECIMENTOS
Agradeço a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais, fonte de
fomento do projeto de Iniciação Científica 06/2013 que instigou a redação deste trabalho
e, também, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado de Minas Gerais, por
permitir e disponibilizar espaço físico para o desenvolvimento das pesquisas e consulta ao
acervo bibliográfico. À orientadora que se mostrou muito presente em auxiliar e acompanhar
os estudos, além de sanar as dúvidas que ocorreram durante a sua realização.
11
Farace et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, L. V. et al. Estudo comparativo entre variedades de argilas bentoníticas de
Boa Vista. Revista Matéria, v. 11, p. 30–40, 2006.
APHA. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater.
2015. Disponível em: <https://www.standardmethods.org/>. Acesso em: 19 mai. 2015.
BARBOSA, E. M. C. Materiais mistos nanoestruturados baseados em argilas
bentonita e cobalto coloidal. 2009. 56 f. Dissertação (Mestrado em Química Aplicada)
— Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, 2009.
CAMARGO, K. R. Avaliação da condutividade hidráulica e da resistência ao
cisalhamento de misturas solo-bentonita: estudo de caso de um aterro sanitário
localizado em rio grande (rs). 2012. 85 f. Dissertação (Mestrado em Geotecnia) —
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2012.
CLAAS, I. C.; MAIA, R. A. M. Manual básico de resíduos industriais de curtume.
Porto Alegre: SENAI/RS, 1994. 664 p.
CLAUDINO, M. D. R. et al. Avaliação do potencial de impermeabilização de argilas
bentonítica natural (cálcica) e ativada (sódica) oriundas do município de Boa Vista - PB.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, XLVII., 2007, Natal. Resumos... Natal:
Associação Brasileira de Química, 2007.
MEIRA, J. Argilas: o que são, suas propriedades e classificação. [S.l.], 2001. 7 p.
MINAS GERAIS (COPAM/CERH). Deliberação Normativa Conjunta, no 01, de
05 de maio de 2008. 2008.
SISINNO, C. L. S.; MOREIRA, J. C. Avaliação da contaminação e poluição ambiental na
área de influência do aterro controlado do Morro do Céu, Niterói, Brasil. Cad. Saúde
Pública, v. 12, n. 4, p. 515–523, 1996.
TEIXEIRA-NETO, E.; TEIXEIRA-NETO, A. A. Modificação química de argilas: desafios
científicos e tecnológicos para obtenção de novos produtos com maior valor agregado.
Química Nova, v. 32, n. 3, p. 809–817, 2009.
12
Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social
VOL. 1, NUM. 1, 2016
reis-005, p. 1-9
www.faenge.uemg.br
Estudo do efeito corrosivo dos aços inox AISI 304 e
microligado Hardox 600 em meios salino e ácido
Study of the corrosive effect of AISI 304 stainless steel and microalloyed hardox 600 in saline
and acid solutions
Á. Diniz1,∗ ; C. S. Monnerat2 ; F. N. De J. Guedes3
1
Engenheiro Metalurgista, Autônomo
Departamento de Formação Geral, Cefet-MG, Timóteo - MG, Brasil
Departamento de Ciências Exatas Aplicadas e dos Materiais, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade - MG, Brasil
2
3
∗[email protected]
Resumo
O conhecimento do comportamento de determinado metal em um meio corrosivo ao qual o mesmo
estará exposto pode minimizar os problemas causados pela corrosão como desgaste e até ruptura do
metal. O presente trabalho dedicou-se a avaliar o desgaste de amostras de aço inoxidável AISI 304 e
o aço microligado HARDOX 600 expostos às soluções corrosivas de ácido sulfúrico e cloreto de sódio,
ambas a 3%. O aço HARDOX 600 contém grande parte dos elementos de liga também contidos no
aço AISI 304, porém em quantidades menores. As amostras foram analisadas e a corrosão pôde ser
quantificada. Foram medidas a voltagem e amperagem das soluções nos dias do experimento e na
semana subsequente, a massa das amostras também foi determinada, o que permitiu verificar a perda
de massa durante 28 dias. Durante os ensaios, foi feita a verificação semanal dos impactos corrosivos
nestes aços nos meios citados e pôde-se constatar que o comportamento corrosivo dos aços varia muito
em relação à porcentagem dos elementos químicos adicionados. Ao final do experimento foi observado
que o aço microligado não apresentou grande eficácia na resistência à corrosão como o aço inoxidável.
A redução de massa do HARDOX 600, exposto ao ácido, foi muito elevada quando comparada ao
aço inoxidável bem como ao HARDOX em meio salino. A coloração da solução em contato com o
aço inoxidável foi sensivelmente modificada na primeira semana, mas nas semanas seguintes não foi
percebida mudança. O aço microligado apresentou mudanças em todas suas amostras e em todas as
semanas, sendo esta uma característica da corrosão, mudança da coloração, formação de corpo de
fundo e assim a redução de massa e variação da voltagem e amperagem.
Palavras-chave: corrosão, inoxidável, microligado.
....................................................................................
This work was dedicated to assessing the wear of stainless steel AISI 304 samples and micro-alloyed steel
HARDOX 600 exposed to solutions of sulfuric acid and sodium chloride, both 3%. During the tests, a weekly
check of the corrosive impact in these steels was made and it could be noticed that the corrosion behavior
of the steels varies greatly in relation to the percentage of chemical elements added. The samples were
analyzed and corrosion could be quantified. Solution’s voltage and amperage were both measured on the
experiment days and on the following week, the samples mass were also determined, what allowed to check
the weight loss for 28 days. The Hardox 600 contains a large proportion of alloying elements which can
be also found in the AISI 304 steel, but in smaller quantities. The Corrosive environments have simulated
both saline and acidic atmosphere. At the end of the experiment, it could be seen that the micro-alloyed
steel did not show any effectiveness in corrosion resistance as the stainless steel did. The weight loss in
the HARODOX 600 due to the acid exposure was very high compared to the stainless steel samples. The
solution color in contact with the stainless steel was significantly modified in the first week, although this
change could not be perceived in the following. The micro-alloyed steel showed changes in all their samples
during all weeks, which can be considered a characteristic of corrosion, as changing color, precipitated
formation and thus the weight reduction and the variation of voltage and amperage.
Keywords: corrosion, stainless, micro-alloyed.
Diniz et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
1 INTRODUÇÃO
O aço é uma matéria prima indispensável na produção de vários aparatos utilizados
pela sociedade. Está presente no cotidiano em todos os momentos, é empregado nos meios
de transporte e comunicação, na infraestrutura, em equipamentos médicos e na maioria dos
produtos manufaturados existentes. Este material é reciclável e apresenta várias qualidades,
como grande resistência mecânica e condutividade elétrica, alta resistência ao calor e boa
maleabilidade. Chiaverini (2002) define aço como liga de ferro carbono, com até 2,11%
de carbono, podendo conter elementos químicos residuais oriundos da sua fabricação ou
adicionados propositalmente.
Elementos químicos são adicionados ao aço para melhoria de suas propriedades,
seja ela química, corrosiva, de resistência mecânica, variando de acordo com a aplicação
desejada. O desenvolvimento de novas ligas metálicas e a busca pela sua melhoria devem
ser contínuas, entretanto, vários fatores devem ser estudados e otimizados neste setor.
A corrosão é um assunto inevitável quando se trata dos metais e suas aplicações.
O Engenheiro Metalúrgico é o estudioso que tem o conhecimento das várias características
destes materiais, principalmente o aço. Analisando os metais quanto ao seu custo de
produção e manutenção, resistência mecânica e corrosão, segurança e disponibilidade no
mercado é possível obter informações para o entendimento do seu comportamento.
Vários metais podem ser estudados em relação a diferentes tipos de meios corrosivos,
esta é uma área de pesquisa ampla e diversificada, sendo assim sugestiva para a definição
dos aços para cada aplicação, uma vez que um dos grandes problemas na utilização de
materiais metálicos é a corrosão. Por ser um processo espontâneo e irreversível, a corrosão
é o principal responsável pelos altos custos de manutenção de peças e equipamentos
(GENTIL, 2011).
O estudo dos processos corrosivos é de fundamental importância, uma vez que
diversos fatores interferem nas reações de oxidação. O conhecimento do comportamento
de determinado material em um meio corrosivo ao qual o mesmo estará exposto pode
minimizar os problemas causados pela corrosão, como o desgaste e até a ruptura do metal.
Atualmente, se tem buscado soluções para minimizar os custos por meio da substituição de material ou, até mesmo, interrupções planejadas para manutenção de equipamentos.
Para tanto, o estudo dos efeitos corrosivos em aços visa a otimização de técnicas para
proteção à corrosão. Os ensaios em laboratório auxiliam na escolha por um material
metálico adequado a aplicação desejada, podendo-se definir o comportamento dos metais
nos diferentes meios corrosivos, com diferentes tipos de proteção superficial e observar se o
metal satisfaz às especificações do ensaio de corrosão (GENTIL, 2011).
O aço inoxidável é uma liga com baixa taxa de corrosão, podendo ser utilizado
em ambientes onde o material estará exposto a esta degradação. O aço microligado
HARDOX 600 é um aço utilizado na resistência ao desgaste. Este aço apresenta os mesmos
microligantes presentes nos aços inoxidáveis, que diminuem a taxa de corrosão, tais como
cromo (Cr), níquel (Ni) e molibdênio (Mo). Porém nos aços microligados estes microligantes
estão em quantidades consideravelmente menores (PANNONI, 2015).
Uma vez que a composição química dos aços altera as propriedades físicas, química
e mecânicas dos mesmos, o objetivo deste trabalho foi verificar o efeito corrosivo nos aços
inox AISI 304 (LEMOS et al., 2013) e Microligados HARDOX 600, em contato com solução
de cloreto de sódio - NaCl, 3% (m/v) e ácido sulfúrico - H2SO4 3% (v/v). E, a partir da
2
Diniz et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
perda de massa foi determinada a taxa de corrosão e penetração da corrosão dos aços nos
diferentes meios corrosivos.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Nos testes desenvolvidos neste projeto foram utilizadas amostras do aço microligado
HARDOX 600, cedidas pela empresa CoraCorthe – São Paulo/SP, e amostras do aço inox
AISI 304, cedidas pela Aperam – Timóteo/MG. Ambas foram imersas em soluções de
cloreto de sódio (NaCl) e ácido sulfúrico (H2SO4), ambas a 3%. Foram utilizadas seis
amostras de cada um dos aços analisados. Essas amostras foram divididas em quatro
grupos conforme descritos a seguir, e cada grupo era composto por três amostras.
- Grupo I: amostras de aço inox AISI 304 imersas em meio salino (NaCl);
- Grupo II: amostras de aço inox AISI 304 imersas em meio ácido (H2SO4);
- Grupo III: amostras de HARDOX 600 imersas em meio salino (NaCl);
- Grupo IV: amostras de HARDOX 600 imersas em meio ácido (H2SO4).
O processo corrosivo foi acompanhado semanalmente. Com auxilio de um multímetro foram determinadas a voltagem e amperagem das amostras em solução. Posteriormente,
retirou-se as amostras das soluções e realizou-se uma avaliação visual do processo corrosivo
das amostras. Outra variável analisada foi a variação das massas das amostras. Para
determinar a variação da massa, as amostras foram limpas e lixadas a fim de retirar a
massa depositada decorrente do processo oxidativo ocorrido nas mesmas. Em seguida foram
lavadas e secas em estufa por 30 minutos, a 80◦ C. Após resfriadas, determinou-se a massa
com auxilio de balança analítica.
Para melhor avaliar o efeito corrosivo das amostras foram realizados os cálculos da
taxa de corrosão. Considerando que a taxa de corrosão do material é descrita pelo cálculo
da perda de milésimos de polegada por ano (mpy) (GENTIL, 2011):
mpy =
onde:
W ·K
A·t·d
(1)
K = constante que vale 534;
W = perda de massa, expressa em miligramas (mg)= mgi -mgf ;
A = área do corpo de prova exposta (in2 );
t = tempo de exposição (horas);
d = densidade (para o aço vale 7,85 g/cm3 ).
Com os resultados dos cálculos, Gentil (2011) divide em 3 grupos os metais quanto
à sua taxa de corrosão:
3
Diniz et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
- Menor que 5 mpy, são metais que apresentaram boa corrosão, podem ser classificados
como bons para utilização nos meios em que foi testado;
- Entre 5 e 50 mpy, metais com alta taxa corrosiva, utilizado em ambientes que a
corrosão é tolerada;
- Maior que 50 mpy, metais pouco resistentes, uso não recomendado em ambientes
similares ao do teste realizado.
Os cálculos foram realizados para as amostras do experimento.
A taxa de penetração da corrosão (TPC) pode ser mensurada pela fórmula descrita
abaixo. E esta pode também ser um método comparativo para identificar a resistência à
corrosão dos materiais (GENTIL, 2011).
T P C(mm/ano) =
onde:
K ·W
d·A·t
(2)
K = constante que vale 87,6;
W = perda de massa, expressa em miligramas (mg)= mi -mf ;
A = área do corpo de prova exposta (cm2 );
t = tempo de exposição (horas);
d = densidade (para o aço vale 7,85 g/cm3 ).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As amostras foram previamente identificadas e determinadas as suas massas e área
superficial, descritas na Tabela 1.
A corrosão observada com mais intensidade foi pela formação de óxido de ferro
(Fe2 O3 , ferrugem) nas amostras do Grupo I e Grupo II. Esta degradação se mostra em
coloração marrom avermelhada, em partículas finas, que fica aglomerada do próprio material
e também na solução, gerando corpo de fundo no recipiente. Esta formação tem influência
do meio aerado e do sal/ácido colocados em contato. As reações ocorridas durante o
processo, gerando a corrosão são mostradas abaixo:
F e2+ + 2OH − → F e(OH)2
2F e(OH)2 + H2 O + 12 O2 → 2F e(OH)3
2F e(OH)3 → F e2 O3 · H2 O + 2H2 O
Uma precipitação foi observada em todas as amostras do Grupo II expostas ao
ácido (Figura 1). Não foi possível realizar sua quantificação, mas sua origem foi analisada
por meio de um Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) e mostrada posteriormente
no item 3.3 deste trabalho. Foi observada também mudança na coloração das soluções dos
Grupos I e II, que ficaram com a coloração marrom-avermelhadas por razão do óxido de
ferro III formado.
As amostras dos Grupos IV apresentaram uma mudança sensível na coloração da
solução, uma coloração azulada foi observada, mas somente ao final da 1a semana.
4
Diniz et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Tabela 1 – Relação de medidas físicas das amostras no 1◦ dia do experimento. Fonte:
Elaboração própria (2015).
Grupo
Amostra
Massa (g)
Área Total (cm2 )
Área Imersa (cm2 )
I
1
2
3
102,3308
99,4344
85,021
38,80
38,00
33,32
28,40
29,26
19,60
II
4
5
6
106,0565
105,2300
111,9465
39,20
39,20
41,16
19,60
20,40
16,82
III
7
8
9
9,9753
12,2610
12,1466
22,27
26,00
26,60
18,33
20,02
20,16
IV
10
11
12
11,8993
10,0640
12,9313
25,48
21,34
29,68
12,48
11,44
17,14
(a)
(b)
(c)
Figura 1 – Amostras do Grupo II após 1a Semana.
Nas 2a , 3a e 4a semanas seguintes, os resultados foram similares aos medidos ao
final na 1asemana, as amostras do aço AISI 304 não apresentaram nenhum tipo de corrosão
visível, tendo apresentado uma redução de massa muito baixa (Tabela 2) e sem mudança
na coloração da solução.
As amostras do Grupo II, semanalmente, apresentaram corpo de fundo, redução
de peso considerável (Figura 2), o que não foi observado nas amostras dos demais grupos
estudados, conforme demonstrado na Tabela 2.
As amostras do Grupo II, imersas ao ácido sulfúrico, foram as que tiveram uma
redução de área imersa considerável ao final do experimento, conforme mostra a Tabela 3.
A corrosão foi mais ativa neste grupo por apresentarem uma maior formação de ferrugem
e redução de massa, ocasionando esta mudança em sua área.
Semanalmente, o processo oxidativo foi acompanhado através da variação da
5
Diniz et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Tabela 2 – Redução percentual de peso semanal (%).
Grupo
Amostra
1a Semana
2a Semana
3a Semana
4a Semana
I
1
2
3
0,04
0,04
0,05
0,06
0,06
0,05
0,04
0,06
0,05
0,05
0,26
0,06
II
4
5
6
2,26
2,27
2,00
1,87
1,86
1,61
1,92
1,91
1,65
2,00
2,00
1,72
III
7
8
9
0,02
0,02
0,02
0,01
0,00
0,00
0,01
0,02
0,01
0,00
0,00
0,00
IV
10
11
12
0,02
0,32
0,31
0,00
0,01
0,00
0,01
0,01
0,02
0,00
0,00
0,00
Figura 2 – Curva de redução de peso do Grupo II.
voltagem e amperagem. Pôde-se observar que passados cinco dias houve uma diminuição da
voltagem e amperagem das soluções, o que era esperado, pois uma vez iniciado o processo
de corrosão há consumo dos íons disponíveis em solução, alterando então a diferença de
potencial entre o metal e o meio corrosivo. Esta redução altera a taxa de corrosão, e por
isso foi necessária a troca das soluções a cada sete dias, afim de que ao final de vinte e oito
dias fosse possível obter respostas mais aproximadas de situações reais.
Após vinte e oito dias, as amostras foram retiradas, lavadas e secas em estufa. Foi
possível observar que as amostras do Grupo II, expostas ao ácido, apresentaram áreas
corroídas. Através de análises preliminares é possível inferir que seja corrosão alveolar e
com formação do óxido de ferro III (ferrugem) em grande parte da amostra imersa no
ácido.
Apesar de ambos os aços terem similaridade em relação aos seus microligantes
(cromo, níquel e molibdênio), a porcentagem destes na liga faz grande diferença. O aço
6
Diniz et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Tabela 3 – Percentagem de redução de área de amostras imersas em ácido sulfúrico
(H2 SO4 ).
Amostras
% Redução (Área Imersa)
4
5
6
10
11
12
10
10
9,6
-
HARDOX 600 apresenta níveis muito baixos destes elementos de liga, provavelmente,
seu ganho nestas porcentagens é apenas em relação à resistência ao desgaste, função em
que o HARDOX 600 é destinado e empregado com sucesso. Já o AISI 304, classificado
como aço inoxidável por ter a porcentagem de cromo acima de 10,5%, apresentou baixas
taxas de corrosão e pouca perda de massa. A resistência à corrosão é alta por razão da
alta porcentagem cromo e outras ligas presentes em sua composição, sendo este o grande
diferencial deste comportamento.
Os resultados mostraram que os aços do Grupo II são muito corrosivos ao ambiente
em que foi exposto, sua taxa de corrosão ficou acima de 50 mpy, taxas acima deste valor
são definidas como metais de pouca resistência a esta degradação (Tabela 4). Os aços do
Grupo I mostraram alta taxa de corrosão e os dos Grupos III e IV tiveram uma taxa abaixo
da máxima definida para metais de boa corrosão. Estes grupos são dos aços inoxidáveis e
provaram sua qualidade contra este fenômeno.
Tabela 4 – Resultados do cálculo da taxa de corrosão.
Grupo
Amostra
Taxa de Corrosão (mpy)
I
1
2
3
4,35
9,18
6,00
II
4
5
6
276,69
263,29
295,86
III
7
8
9
0,14
0,17
0,15
IV
10
11
12
0,23
1,97
1,62
3.1 Cálculos da taxa de penetração da corrosão
Os cálculos da taxa de penetração (Tabela 5) mostraram a maior taxa de penetração
para as amostras do Grupo II, o que confirma este grupo como o que sofreu maior influência
7
Diniz et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
corrosiva no experimento. Mostraram também a taxa quase nula para a penetração da
corrosão no aço inoxidável.
Tabela 5 – Resultados dos cálculos da taxa de penetração.
Grupo
Amostra
TPC (mm/ano)
I
1
2
3
0,114
0,241
0,157
II
4
5
6
7,254
6,903
7,757
III
7
8
9
0,004
0,004
0,004
IV
10
11
12
0,006
0,052
0,042
3.2 Análise da precipitação formada no Grupo II
Os aços HARDOX 600 apresentaram, semanalmente, uma precipitação na reação
com a solução ácida, com coloração esverdeada e aparência de espuma. A análise por
Microscopia Eletrônica de Varredura indicou que este precipitado foi originado da reação
do enxofre presente na solução do ácido sulfúrico. Esta análise indicou grande porcentagem
de oxigênio, ferro e enxofre, sendo assim, o precipitado é formado por óxidos, conforme
mostram a Tabela 6 e Figura 3.
Tabela 6 – Composição do precipitado formado. Fonte: Elaboração própria (2015).
Elemento
Wt%
Wt% Sigma
O
S
Fe
Ni
Total
65,81
13,89
19,54
0,76
100
0,34
0,19
0,30
0,14
4 CONCLUSÃO
No presente trabalho pôde-se observar, com destaque, a grande superioridade
do aço inox AISI 304 em relação ao aço HARDOX 600 quando se compara o efeito
corrosivo de amostras destes dois aços submetidas à ambientes salino e ácido. O aço
microligado, apesar de apresentar vários elementos de liga, que poderia apresentar alguma
variação no processo corrosivo, apresentou um desempenho não satisfatório em comparação
ao comportamento corrosivo do aço inoxidável. Novos estudos deverão ser feitos para
se comprovar a superioridade do aço inoxidável em relação ao aço carbono comum em
8
Diniz et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Figura 3 – Análise do precipitado formado no Grupo II.
processos corrosivos. Outro aço inoxidável, o AISI 440, martensítico de alto carbono, que
apresenta características similares às do aço HARDOX 600, poderá ser estudado para se
ter uma comparação quanto ao comportamento corrosivo, para em condições especificas
ser um possível substituto do aço inoxidável AISI 440.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHIAVERINI, V. Aços e Ferros Fundidos. 7. ed. [S.l.]: Associação Brasileira de
Metalurgia e Materiais, 2002.
GENTIL, V. Corrosão. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
LEMOS, G. V. B. et al. Avaliação da corrosão de um aço inoxidável austenítico após
nitretação a gás. PERSPECTIVA, Erechim, v. 37, n. 138, p. 7–13, 2013.
PANNONI, F. D. Aços Estruturais. 2015. Disponível em: <https://www.gerdau.com.
br/arquivos-tecnicos/12.brasil.es-ES.force.axd>. Acesso em: 05 abr. 2015.
9
Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social
VOL. 1, NUM. 1, 2016
reis-010, p. 1-11
www.faenge.uemg.br
Técnica de descarte. Uma análise do comportamento
dos indivíduos e a maneira de destinar seus resíduos
Disposal technique. A behavior analysis of individuals and how to allocate their waste
G. R. Leão1,∗
1
Departamento de Recursos Naturais, Ciências e Tecnologia Ambientais, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade MG, Brasil
∗[email protected]
Resumo
O objetivo que se apresenta o artigo é de caracterizar um problema de comportamento
que atinge os cidadãos brasileiros quanto à destinação do resíduo gerado e de identificar
uma compreensão social geral para essa especificidade. Analisa os motivos pelos quais
esse comportamento ainda é mantido, mesmo com tantas informações a respeito dos
prejuízos ambientais causados por atitudes negativas. A diferença entre as pessoas que
se preocupam com a natureza e aquelas que pouco se importam pode estar relacionada a
vários fatores como: cultura, escolaridade e educação familiar. Cada indivíduo tem uma
forma particular de tratar e descartar o resíduo produzido. Dessa forma surgem algumas
questões como: por que grande parte da população se preocupa com o meio ambiente,
mas simplesmente não atua a favor dele? Como o comportamento que prejudica o
ambiente natural pode ser modificado para outro que o preserve? A educação pode
ser a resposta, já que é um fator determinante na transformação do indivíduo, e só
ela é capaz de agir positivamente em atos comportamentais negativos enraizados na
sociedade. Por isso, esse trabalho descreve que a Educação Ambiental pode contribuir
para a diminuição de atitudes que impactam negativamente o meio ambiente, através
do desenvolvimento de atitudes significativas nos indivíduos, despertando assim, o lado
crítico, social e participativo do cidadão.
Palavras-chave: Resíduo. Comportamento. Educação Ambiental.
....................................................................................
This article aims to typify a behavior problem which affects the Brazilian citizens regarding the final
disposal of the waste generated and of identifying a general social understanding to this particularity.
Analyze the reasons in which this behavior is still maintained even with a lot of information concerning
the environmental damages caused by negative attitudes. The difference between the people who worry
about the nature and the ones who do not care can be related to several factors, such as: culture, school
background and family education. Each individual has a proper way to process and dispose the waste
produced. Therefore questions have been raised: Why does a big part of the population worry about the
Environment, but do not act in favor of it? How can this behavior of damaging the natural environment be
modified by another who preserves? The education can be the answer since it is a key factor in the individual
transformation, and only it is able to act positively in negative behavior implanted in society. Thereupon,
this study describes that the Environmental Education can contribute to the decrease of attitudes that
negatively impact the Environment through the development of meaningful attitudes in the individuals
arousing the critical, social and participative side of the citizen.
Keywords: Waste. Behavior. Environmental Education.
Leão., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
1 INTRODUÇÃO
O objetivo que se apresenta o artigo é de caracterizar um problema de comportamento que atinge os cidadãos brasileiros quanto à destinação do lixo gerado, de identificar
uma compreensão social geral para essa especificidade, além de descrever por qual razão
as pessoas jogam seus resíduos nas ruas, alterando e poluindo o meio ambiente. Por que
grande parte da população se preocupa com o meio ambiente, mas simplesmente não atua a
favor dele? Como o comportamento que prejudica o ambiente natural pode ser modificado
para outro que o preserve? Essas indagações expõem um problema que deve ser enfrentado;
para isso, a educação ambiental, seja no meio formal ou informal, pode e deve ser praticada,
para que assim, a sociedade possa conviver em um ambiente mais sadio e o meio natural
permaneça em equilíbrio.
A modificação do ambiente natural é evidente. Espaços e lugares que antes permaneciam livres dos acúmulos dos resíduos - tendo certa estabilidade - hoje se destacam
com grandes alterações como desmatamento, queimadas, excesso de poluentes atmosféricos
oriundos de veículos e indústrias. Nos ambientes urbanos, onde a poluição residual é evidente, o assoreamento dos rios e a impermeabilização do solo causam enchentes e enormes
prejuízos ambientais, econômicos e sociais.
Tais transformações acentuaram-se após o período da industrialização ou Revolução
Industrial. À medida que a economia crescia, a natureza sofria alterações em todas as vias,
água, ar e solo, e esta alteração perdura até os dias atuais. A este respeito Dias (2004,
p.379) salienta que:
Nossa irresponsabilidade em relação às redes interdependentes da vida –
mais os danos ambientais causados por desflorestamentos, diminuição de
espécies e mudanças climáticas – podem causar vários efeitos adversos,
incluindo colapsos imprevisíveis de sistemas biológicos críticos, cujas
interações e dinâmicas só entendemos imperfeitamente. A incerteza
quanto à extensão desses efeitos não deve servir de desculpa para a
complacência ou retardamento em enfrentar essas ameaças.
O presente estudo se justifica, já que o volume e a velocidade com que se alteram e
destroem os sistemas naturais da Terra são extremamente superiores à capacidade que o
indivíduo possui de modificar seus comportamentos culturais e sociais. Acrescenta-se a isso
o fato de que é praticamente imperceptível como as possíveis atitudes positivas podem
causar impactos nos ambientes, pois elas são pontos muito isolados quando se observa a
sociedade como um todo. Partindo desse pressuposto, Dias (2004, p.17) evidencia:
É óbvio que houve conquistas, mas estas estão sendo insuficientes para
provocar as mudanças de rumo que a velocidade de degradação ambiental
requer. A velocidade com a qual se devastam e se desequilibram os
sistemas que asseguram a sustentabilidade humana na Terra continua
infinitamente superior à nossa capacidade de gerar respostas adaptativas
culturais, principalmente em nível educacional.
A culpabilidade por toda modificação ambiental que está ocorrendo é eximida por
muitos, porém é preciso entender que a responsabilidade deve ser repartida entre todos:
os países desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos, as indústrias, o poder
público e todos os cidadãos de forma geral.
2
Leão., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
A legislação nos mostra que o resíduo não é mais responsabilidade do poder público,
mas passa a fazer parte do compromisso de todos, quem produz, transporta, vende e
compra. O cidadão passou a ter sua parcela de responsabilidade nos resíduos que produz,
portanto é ele quem deve direcionar seus resíduos para local apropriado.
A esse respeito, a Lei No 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, na Seção II, Art. 30 (BRASIL, 2012) declara que:
É instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos, a ser implementada de forma individualizada e encadeada,
abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes,
os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e
de manejo de resíduos sólidos, consoante as atribuições e procedimentos
previstos nesta Seção.
Quem colabora de maneira ativa e negativa não são as instituições, como as
indústrias, mas sim as pessoas que nelas trabalham, entretanto essas corporações acabam
por se responsabilizar, pois compete a elas administrar toda a logística de proteção e
preservação ambiental.
2 COMPORTAMENTO E DANO AMBIENTAL
Homens, mulheres e crianças se adaptam a comportamentos transmitidos por
gerações, incorporando, através do exemplo, maneiras de falar, andar, agir e comer, e
tomando para si características peculiares ou específicas de determinados grupos em que
estão inseridos.
Em se tratando desse comportamento, Mauss (2009, p. 404) esclarece:
Esses “hábitos” variam não simplesmente com os indivíduos e suas
imitações, variam, sobretudo com as sociedades, as educações, as conveniências e as modas, os prestígios. É preciso ver técnicas e a obra da
razão prática coletiva e individual, lá onde geralmente se vê apenas a
alma e suas faculdades de repetição.
Um exemplo de postura a ser observada é o modo como um soldado inglês ou
russo marcha, pois é bem peculiar os ombros alinhados, o nariz empinado, os olhos fixos, a
maneira de levantar as pernas, etc. Essas características ou métodos são incorporados no
momento da aprendizagem quando o recruta se alista no Exército.
Podemos diferenciar a marcha dos soldados por região, e para isso se faz necessária
à observação. A forma como cada grupo militar se porta durante a marcha pode nos mostrar
a qual região pertence ou mesmo qual foi sua influência, já que cada grupo/academia
possui sua particularidade e incorpora sua própria maneira de marchar.
Outro exemplo de como um modelo interfere no comportamento do indivíduo é o
tabagismo. Por anos, o hábito de fumar tornou homens e mulheres pessoas mais atraentes
quando acendiam um cigarro. O sexo oposto era atraído pelo gesto de puxar o maço do
bolso, a maneira de retirar o cigarro, a forma como era aceso, o tipo de isqueiro usado e o
charme na hora de puxar, tragar e soltar a fumaça.
Somente anos mais tarde, pesquisas vieram desmistificar essa atitude demonstrando
o real efeito do tabagismo, ou seja, seus malefícios à saúde. Houve grande mobilização
3
Leão., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
para que fossem tomadas atitudes mais severas contra o tabagismo, como a proibição de
comerciais e impressão, nas caixas de cigarro, de imagens que incentivassem o ato de fumar.
Campanhas educativas explicitaram o quão prejudicial poderia ser para a saúde o vício do
cigarro. Foram necessárias décadas para que o número de fumantes diminuísse.
Todavia, muitos danos já estavam efetivados, várias pessoas adquiriram o vício pelo
cigarro ainda jovens, ludibriadas pela falsa impressão de poder e superioridade. E, dessa
maneira, crianças e jovens, ao verem outras pessoas fumando, acabavam sendo atraídas
para o mesmo hábito, em busca de aceitação social, prazer e bem-estar.
Mauss (2009) descreve as várias formas de se fazer a mesma ação, porém diferenciada
pela técnica, explicitando como um mesmo ato pode se dar de diferentes formas.
Cada indivíduo possui uma maneira peculiar de tomar banho, alguns começam
a lavar a cabeça, depois, as orelhas; outros, porém, começam pelo pé, seguindo para os
braços, e outras técnicas diferentes a fim de se obter a mesma finalidade: deixar o corpo
higienizado.
Neste enfoque Mello (2011, p. 63) destaca que:
É possível dizer que há, também, escolhas culturais, já que nem todos os
povos, vivendo em um mesmo clima e vegetação, dão respostas idênticas
aos mesmos problemas da vida social.
Essa diferenciação das técnicas individuais origina-se na forma como foram assimiladas, por meio dos ensinamentos transmitidos pelas mais variadas fontes de informação,
como os pais, a família, a escola, as crenças, as convivências ou observação das técnicas
de outras pessoas, ou seja, o comportamento do indivíduo é adquirido por intermédio da
aprendizagem, é a aprendizagem por imitação.
Duarte (2008, p.20) define imitação como: “o uso intencional da ação de outro para
servir de guia a uma atividade própria, orientada a um objetivo.”. A autora complementa:
As principais questões subjacentes a esta longa e histórica polêmica
parecem reportar-se, em síntese, a três distinções: quando a imitação é
consciente ou inconsciente (reação); quando e como ela deixa de ser uma
reprodução exata do modelo e passa a promover uma ação inteligente,
isto é, passa a ser associada, estendida, modificada durante as novas
situações com as quais o sujeito imitador defronta-se; e finalmente,
distingue-se pelo aspecto que vai nos interessar especialmente aqui: o
tempo correlacional entre a ação do modelo e a realização do ato de
reprodução da ação pelo imitador.
Uma das formas de aprendizagem se dá pela observação e imitação do outro, ou
seja, de um modelo. Dessa forma, o processo de socialização passa, necessariamente, pela
observação, imitação e identificação com os modelos sociais.
Partindo deste pressuposto, pode-se observar como as pessoas comportam-se diante
do resíduo por elas produzido. Numa situação hipotética: uma criança tira o papel de uma
bala para chupar, e o que ela faz com ele? É possível presumir dois comportamentos: jogar
no chão ou guardar para jogar em uma lixeira.
Neste mesmo enfoque, pode-se citar como outro exemplo um adulto que anda na
calçada com um copo de suco: após tomá-lo, o que ele faz com o copo plástico? Aqui
também é possível prever tipos de comportamento, como jogar no chão, ficar com ele
4
Leão., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
na mão e esperar até encontrar uma lixeira, guardar na mochila para descartar em local
apropriado, etc.
Percebe-se que várias atitudes podem ser tomadas em relação ao resíduo produzido.
A questão é: o que leva as pessoas a terem posturas diferentes quanto ao seu descarte?
São muitos questionamentos e a técnica corporal do indivíduo pode nos trazer
melhor compreensão diante deles. A respeito de técnicas corporais Mauss (2009, p. 407)
esclarece:
Chamo de técnica um ato tradicional eficaz (e vejam que, nisto, não
difere do ato mágico, religioso, simbólico). É preciso que seja tradicional
e eficaz. Não há técnica e tampouco transmissão se não há tradição.
A técnica do corpo corresponde à maneira como os homens utilizam seus corpos
na sociedade, ou seja, sua maneira de andar, sentar, correr, falar, olhar ou o gestual
das mãos, dos braços, ombros, etc. Essas atitudes não são aleatórias, mas caracterizam
determinada sociedade, identificando-as, abrangendo, no âmbito do corpo, uma marca
capaz de estabelecer distinção entre aqueles que fazem parte ou não de determinada
sociedade.
Rodrigues (2000, p.132) comunga da mesma ideia sobre as técnicas corporais
quando afirma:
Ao abordar a educação do corpo sob tal perspectiva, teremos como
ponto de partida a antropologia maussiana, que nos instiga a observar
o uso do corpo como uma educação de técnicas, que são construídas
como resultado das relações entre o homem e a sociedade. É assim que
essa perspectiva antropológica apresenta-nos um instigante campo de
pesquisa, capaz de analisar as técnicas do corpo como um fato social,
fruto das condições estruturais de uma sociedade, mais propriamente de
uma cultura, determinantes no direcionamento do uso técnico do corpo.
Exemplos observados no cotidiano e que transformam a vida são assimilados e
passam a fazer parte do indivíduo até que ele aprenda novamente e incorpore outras
maneiras de se portar no ambiente. A esse respeito, Mello (2011, p. 38) esclarece que:
Todos, queiramos ou não, somos “educados” nas várias instâncias da
vida, ou seja, a educação em sentido amplo não prescinde de um locus
específico para ocorrer. Somos educados em casa, na família, com os
amigos, no clube, no trabalho e nos movimentos de que participamos,
como religioso, o sindical ou os movimentos sociais.
É visível que, em grandes centros urbanos, as pessoas simplesmente jogam em
locais inapropriados seu papel de bala, sua garrafa plástica ou o seu resto de alimento,
trazendo a poluição como consequência para o ambiente.
O ato de descartar de maneira inadequada o resíduo produzido traz ao próprio
homem consequências desastrosas. As enchentes que acometem as zonas urbanas são,
em grande parte, um reflexo do comportamento de “simplesmente jogar o resíduo na
rua”. Esse resíduo, quando não recolhido a tempo, entope os bueiros, fazendo com que
a água das ruas fique sem escoamento. Isso resulta em perdas de ordem material, como
móveis, eletrodomésticos, documentos, casa, carro, entre tantos outros pertences adquiridos
5
Leão., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
através de muito trabalho; e de ordem emocional, visto que muitos dos que perderam
tudo demoraram anos ou até mesmo “uma vida inteira para adquirir” seus bens e, então,
sentem-se derrotados. Ou seja, além do desequilíbrio ambiental e prejuízo econômico, há
também uma perda social.
É evidente que todos querem se livrar dos resíduos gerados, e o que difere as
pessoas é a forma como é realizado esse descarte, se é de uma maneira correta e ecológica
ou significa simplesmente dispensar em algum lugar, sem se pensar no destino e nos seus
resultados para a sociedade.
Se perguntarmos as consequências para o ambiente quando um bueiro entope, por
certo grande parte da população iria responder corretamente que a água das chuvas não
conseguiria escorrer e provavelmente haveria uma enchente. Mas se existe a informação e o
conhecimento sobre a consequência negativa da atitude tomada pelo indivíduo, por que
ainda se continua a agir da mesma forma?
O hábito adquirido ao longo dos anos, o de jogar o resíduo no chão, torna-se tão
automático que, mesmo quando estes indivíduos decidem mudar suas práticas, o costume
incorporado por vezes sobressai, e estes acabam por cometer a atitude repetidamente,
mesmo cientes das consequências negativas que tal ato acarretará.
A forma como jogam o resíduo e como aprenderam a fazer isso, seja por meio do
exemplo, do estudo ou da informação, é o que diferencia os cidadãos, pois vai refletir em
seu comportamento diante do mesmo objeto: o resíduo. O que se pode observar é que,
mesmo com o conhecimento sobre a maneira correta de direcionar seu material, a forma
ou técnica aprendida anteriormente pelo indivíduo é enraizada em seus costumes, fazendo
com que o processo de troca da técnica necessite de um tempo maior.
O costume de “jogar na rua” leva a pensar que é algo natural, ou seja, despeja-se
na rua automaticamente o material. Acaba por ser um “gesto impensado.” Mas se as
pessoas pensam, e é isso que as intitula como seres racionais, logo não deveriam ter esse
comportamento. Assim é a forma de descartar o resíduo atualmente.
Se pensarmos em uma época há 40 anos, perceberemos que não havia tanta
preocupação com os resíduos como hoje, nem com seu descarte adequado, pelo menos para
a grande maioria. Mesmo porque não possuíamos um volume exorbitante de materiais,
não havia os excessos de consumo e os produtos eram mais duráveis. Há também o fator
do crescimento populacional: quanto mais pessoas, maior é a demanda, o consumo e
consequentemente a produção do resíduo.
Em se tratando de consumo exagerado, Dias (2004, p. 19) conclui: “um mundo
repleto de sociedades que consomem mais do que são capazes de produzir e mais do que o
planeta pode sustentar é uma impossibilidade ecológica.”.
O procedimento que as pessoas utilizam para rejeitar o resíduo não pode ser
considerado inato, não pode ser simplesmente natural. Se os militares aprenderam a
marchar e jovens a fumar, as pessoas aprenderam a jogar o resíduo no chão.
Neste enfoque, a maneira como cada indivíduo realiza o descarte do resíduo também
sofre variação. Esta variação comportamental ocorre por vários fatores, assim, Michaliszyn
(2008, p. 53) explica:
Não podemos perder de vista o fato de que a cultura e a nossa formação
cultural interferem em diferentes aspectos de nossas vidas. Porém, ela
não pode ser compreendida como único fator a nos influenciar. Na
6
Leão., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
verdade, nossos comportamentos, crenças e juízos em sociedade também
são determinados por determinadas condições, ou seja, por fatores:
individuais, educacionais, socioeconômicos e ambientais.
Diante de tais considerações, pode-se dizer que o ato de descartar resíduo em
ambiente inapropriado é uma postura adquirida através dos ensinamentos transmitidos ao
longo das gerações.
3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PRÁTICA TRANSFORMADORA
O grande problema que afeta a sociedade moderna é a falta de cidadania, ou seja,
a individualidade das pessoas faz toda a diferença, seja ela de forma negativa, seja positiva.
O ponto a ser destacado é que a grande maioria das pessoas preocupa-se mais consigo
mesma do que com a sociedade como um todo. Estão mais centradas nas suas necessidades
e em seus confortos e, diante disso, esquecem que algumas atitudes possuem ligação direta
com a sociedade, provocando nela uma alteração.
Nesta perspectiva, faz-se necessária uma mobilização em busca da conscientização
coletiva para que as práticas negativas e ultrapassadas passem por uma ordem de mudança,
a fim de serem minimizadas no cotidiano do cidadão.
A educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte. Ela também vai se
desenrolando por meio de situações presenciadas e experiências vividas por cada indivíduo
ao longo da sua vida.
A este respeito, Justino (2011, p. 14) esclarece que: “a educação está inserida num
contexto mais amplo, no qual existem vários envolvidos no processo de aprendizagem além
do conteúdo, do professor e do aluno.”. Ela é, em todos os seus níveis, o ponto transformador
do indivíduo, e pode interferir diretamente no comportamento do cidadão, logo também
em suas técnicas corporais.
Dessa forma, é possível que atos de descarte incorretos podem ser substituídos por
práticas adequadas de eliminação do resíduo. Porém, esse processo deve ser incorporado
ao cotidiano das pessoas e transmitido às próximas gerações para que as crianças possam
tornar-se multiplicadoras. E a forma mais adequada para que esse processo ocorra é a
Educação.
Segundo Freire, Nascimento e Silva (2006), a Educação Ambiental é uma modalidade
do processo educativo voltada para a participação de seus atores, educandos e educadores,
na construção de um novo paradigma a ser incorporado, trazendo toda uma discussão sobre
as questões ambientais e as necessárias transformações éticas, de valores, comportamentos
e atitudes diante de uma nova realidade a ser construída.
Para tanto, a Educação Ambiental deve formar nos indivíduos uma ampla consciência crítica na interação que as relações sociais possuem com o meio ambiente. Ela deve
produzir o reconhecimento dos atores sociais, construindo neles valores que possibilitem o
entendimento da realidade em que vivem, de modo que possam atuar na natureza de forma
empoderada e ativa, em um procedimento de construção de valores (LOUREIRO, 2003).
A esse respeito, Loureiro (2003, p. 106) ainda esclarece que:
7
Leão., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
...a educação ambiental emancipatória pretende, como diz o próprio
nome, ampliar os espaços de liberdade de indivíduos e grupos que dela
participam, transformando as situações de dominação e sujeição a que
estão submetidos através da tomada de consciência de seu lugar no
mundo, de seus direitos e de seu potencial para recriar as relações que
estabelece consigo próprio, com os outros em sociedade e com o ambiente
circundante.
Neste enfoque, Dias (2004, p. 16) destaca:
Em nenhum período conhecido da história humana, ela precisou tanto
de mudança de paradigma, de uma Educação renovadora, libertadora.
Mais do que produzir painéis solares mais baratos, reciclar e dotar os
carros de células de combustível, em vez de petróleo, precisamos de
um processo mais complexo, que promova o desenvolvimento de uma
compreensão mais realista do mundo.
O papel da Educação Ambiental, nesse contexto, torna-se mais urgente.
Precisamos oferecer mais formação. A educação ainda “treina” a (o)
estudante para ignorar as consequências ecológicas dos seus atos.
Porém, a proposta que a Educação Ambiental oferece ainda não representa uma
força suficiente para interferir nesse movimento e modificar a sua trajetória de desestabilização. Mesmo porque sua influência, apesar do seu avanço, ainda é questionada, já
que existem muitos impedimentos para sua atuação, como os hábitos culturais dos povos,
hábitos estes que impõem limites para mudança de comportamento. Michaliszyn (2008, p.
41) esclarece:
O comportamento social é o resultado da maneira como organizamos as
relações sociais que estabelecemos e das regras de conduta e valores por
nós determinados e considerados como elementos fundamentais para a
construção da vida social, econômica e política.
Guimarães (2000, p. 28) afirma que há uma “necessidade de propor-se uma Educação
Ambiental crítica que aponte para as transformações da sociedade em direção a novos
paradigmas de justiça social e qualidade ambiental.”. A Educação Ambiental deve ser
praticada de fato em toda a sociedade, uma vez que já se encontram em discussão
problemas ambientais vivenciados por esta.
É necessário levar em conta que comportamentos adquiridos tornam-se enraizados,
e por vezes, é preciso modificá-los, porém essa transformação requer tempo para florescer.
Assim, para que tal mudança possa efetivamente acontecer, não se pode simplesmente transmitir conhecimentos. É preciso incorporá-los ao cotidiano das pessoas para que,
assim, possam ser assimilados.
Para que se torne efetiva, a aprendizagem deve ter significado. Neste enfoque, Salles
(2007) explica que a aprendizagem significativa “se dá quando uma nova informação se
relaciona com um aspecto relevante da estrutura do conhecimento do indivíduo.”.
Uma metodologia eficaz para transmissão de conhecimento ou de comportamento
é o exemplo, que, por meio das ações explicitadas pelo gesto ou pela linguagem corporal,
pode modificar o comportamento alheio.
A absorção de comportamentos dá-se por intermédio de determinados ensinamentos. O mais velho ensina o mais novo, por meio de livros, diálogos e debates, meios de
8
Leão., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
comunicação como cartazes, folhetos, guias, pela internet, entre vários outros meios de se
adquirir o conhecimento. Salles (2007, p. 38) continua: “para que ocorra aprendizagem
significativa, é preciso haver subsunçores (conceitos preexistentes), os quais por sua vez
necessitam do processo de ancoragem.”.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os hábitos das pessoas podem variar muito: entre participantes do mesmo grupo,
nos ambientes familiares, na sociedade, no processo educativo, de acordo com a necessidade,
com a convivência, moda, etc.
E dentre essas diferenças, percebe-se que existem especificidades das técnicas, pois
cada sociedade possui seus hábitos e peculiaridades, características que as definem e as
diferenciam de outras.
O conhecimento produzido é passado de geração a geração pelos membros mais
experientes da família, da comunidade ou seja do ensino informal e também no ensino
formalizado escolar. Nessas condições, nota-se que a criança aprende por meio da observação
e imitação dos exemplos de outras pessoas e faz com que este conhecimento apreendido
seja incorporado em seu cotidiano.
Deve-se ter em mente que não são somente as crianças que aprendem por meio
da observação e imitação, os adultos também passam por este estágio, porém para os
pequenos esta assimilação é um processo mais fácil. É necessário o ensino às crianças de
maneira efetiva, já que elas possuem uma faculdade de imitação muito grande. Esse ato
imitador pode ser incorporado de maneira ágil, diferenciando-as, de maneira geral, dos
adultos com seus velhos hábitos.
A educação é um fator determinante na transformação do indivíduo. Só ela é
capaz de agir positivamente em atos comportamentais negativos enraizados na sociedade.
Entretanto, para que a aprendizagem torne-se eficaz, é importante que ela tenha real
significado para o sujeito.
O método educacional não pode se restringir apenas à instituição escolar e à
família, ele deve ser realizado em todo o processo pelo qual o indivíduo interage, ou seja,
na sociedade em que ele está inserido.
Quando se fala em Educação Ambiental, deve-se comungar do mesmo pensamento.
Atitudes positivas em relação ao meio ambiente, como o descarte correto do resíduo, podem
e devem ser apreendidas no cotidiano das crianças por meio da imitação. Quando um
adulto tem posturas favoráveis em seus hábitos, esses são assimilados naturalmente pelas
crianças, logo elas os colocam em prática em seu cotidiano, favorecendo o todo.
O homem possui o poder de transformar a sua realidade e, consequentemente, a
de toda uma sociedade, mas, para isso, faz-se necessário que ele tenha contato com novas
possibilidades, que alterem sua concepção original.
Por fim, questões ambientais devem ser incorporadas ao cotidiano profissional e
familiar, de forma a repensar conceitos e atitudes que influenciem o meio. A Educação
Ambiental tem a chave para demonstrar às pessoas qual tipo de comportamento é necessário
para proteger a natureza em toda a sua ampla manifestação. Porém, há que se superar a
mera transmissão de conhecimentos ecologicamente corretos e as ações de sensibilização,
rompendo as armadilhas paradigmáticas e propiciando, não apenas aos educandos e aos
9
Leão., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
educadores, mas também a todos os indivíduos, uma cidadania ativa e positiva na sociedade.
Ela deve suscitar o desenvolvimento de atitudes significativas e participativas nos indivíduos,
despertando, assim, nos integrantes dos projetos e das atividades, o lado crítico e social do
cidadão.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Política nacional de resíduos sólidos
[recurso eletrônico]. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012. 73 p. (Série
legislação). Disponível em: <http://fld.com.br/catadores/pdf/politica_residuos_solidos.
pdf>. Acesso em: 10 out. 2014.
DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.
DUARTE, M. L. B. A imitação sensório-motora como uma possibilidade de aprendizagem
do desenho por crianças cegas. Ciências & Cognição, v. 13, p. 14–26, 2008. Disponível
em: <http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v13_2/m318226.pdf>. Acesso em: 12 out.
2014.
FREIRE, J. T.; NASCIMENTO, M. F. F.; SILVA, S. A. H. Diretrizes Curriculares
de Educação Ambiental: as escolas da Rede Municipal de Ensino de Salvador. 1. ed.
Salvador: SMEC, 2006. 164 p.
GUIMARÃES, M. Educação ambiental: No consenso um embate? 1. ed. Campinas:
Papirus, 2000.
JUSTINO, M. N. Pesquisa e recursos didáticos na formação e prática docentes.
1. ed. Curitiba: Ibpex, 2011.
LOUREIRO, C. F. B. Cidadania e meio ambiente. [S.l.]: Centro de Recursos
Ambientais – CRA, 2003. v. 1. 168 p. (Série Construindo os Recursos do Amanhã, v. 1).
MAUSS, M. As técnicas do corpo. In:
CosacNaify, 2009.
. Sociologia e Antropologia. São Paulo:
MELLO, A. Fundamentos sócio-culturais da educação. 1. ed. Curitiba: IBPEX,
2011.
MICHALISZYN, M. S. Educação e Diversidade. 1. ed. Curitiba: IBPEX, 2008.
RODRIGUES, R. Sociedade, corpo e interdições: contribuições do estudo de marcel
mauss sobre as técnicas do corpo. Revista da Faculdade de Educação Física
da UNICAMP, Campinas, v. 0, n. 4, p. 129–140, jan/jun 2000. Disponível em:
<https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=4&ved=
0CEEQFjAD&url=http%3A%2F%2Ffefnet178.fef.unicamp.br%2Fojs%2Findex.php%
2Ffef%2Farticle%2Fdownload%2F308%2F253&ei=vlpKVPjFA4-6ggTetoLoBw&usg=
AFQjCNGTlF32hmXPPRhnVwuo9D8P6qWFCQ&sig2=E5s2KKlJdsMFgfh5X3gk3w>.
Acesso em: 12 out. 2014.
10
Leão., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
SALLES, G. D. Metodologia do Ensino de Ciências Biológicas e da Natureza. 1.
ed. Curitiba: IBPEX, 2007.
11
Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social
VOL. 1, NUM. 1, 2016
reis-011, p. 1-9
www.faenge.uemg.br
Tratamento de escória proveniente da redução da
cassiterita visando à remoção de enxofre e o
aproveitamento do tântalo
Slag treatment from the reduction Cassiterite aimed sulphur removal and utilization of
Tantalus
F. G. Fagundes1,∗ ; G. O. C. Rocha2,† ; G. M. Paulino3,‡
3
1, 2
Engenheiro Metalurgista, Autônomo
Departamento de Recursos Naturais, Ciências e Tecnologias Ambientais, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade MG, Brasil
∗[email protected]; †[email protected]; ‡[email protected]
Resumo
O presente trabalho visa determinar um método de tratamento de uma escória com
elevado teor de Tântalo a fim de potencializar esse subproduto no mercado, reduzindo
assim a geração de resíduos no cenário industrial, causando ganhos tanto ambientais
como econômicos. A escória em estudo é proveniente da redução do minério Cassiterita,
encontrada na província pegmatítica de São João Del Rei, MG. Este minério quando
de origem pegmatítica possui teores consideráveis de Estanho e Tântalo, além destes
elementos, nesta região a Cassiterita apresenta também teor significativo de Enxofre,
elemento deletério na aplicação do Tântalo como liga. Este trabalho teve como objetivo
analisar a redução no teor de Enxofre da escória rica em Tântalo através do processo
de lixiviação ácida, utilizando como agente lixiviante o ácido clorídrico (HCl), com
concentração de 5%. Os resultados foram positivos e relevantes. Foi possível reduzir
o teor de Enxofre da escória em 60,22%, sem, contudo, remover grande quantidade
de Tântalo da mesma (9,28%). Os resultados obtidos abrem espaços para futuras
pesquisas visando a viabilização do processo em escala industrial a fim de agregar valor
econômico a escória proveniente do beneficiamento da Cassiterita.
Palavras-chave: Escória, Tântalo, Cassiterita, Enxofre, Lixiviação.
....................................................................................
This study aims to determine a method of treating a slag with high tantalum content to enhance this
by-product in the market, thereby reducing the generation of waste in the industrial scenario, causing
both environmental and economic gains. The slag in study comes from the reduction of the ore Cassiterite,
found in pegmatitic province of São João Del Rei, MG. This ore when pegmatitic origin has considerable
amounts of Tin and tantalum, in addition to these elements, in this region the Cassiterite also presents
significant content of Sulfur, harmful element in the implementation of Tantalum as an alloy. This study
aimed to analyze the reduction in the sulfur content of the slag rich in tantalum by the acid leaching process
using as leaching agent hydrochloric acid (HCl), with a concentration of 5%. The results were positive and
remarkables. It was possible to reduce the sulfur content of 60.22% in the slag, without however removing
loads of the same tantalum (9.28%). The results open spaces for future research aiming at the viability of
the process on an industrial scale in order to add economic value to slag from the processing of Cassiterite.
Keywords: Slag, Tantalum, Cassiterite, Sulfur, Leaching.
Fagundes et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
1 INTRODUÇÃO
O Tântalo (Ta) é um elemento metálico pertencente aos metais de transição,
geralmente, encontrado em forma de sólido metálico. É um metal raro que apresenta
somente 1,7 ppm na crosta terrestre, possui um elevado ponto de fusão, excedido somente
pelo Tungstênio e pelo Rhênio. Possui uma excelente resistência à corrosão e à intrusão
química, além de alta capacidade de condução elétrica. Essas características o tornaram
um elemento essencial na indústria de eletro-eletrônicos, na forma de capacitores, muito
empregados em telefone celulares, computadores, tela de televisão, câmeras filmadoras e
outros equipamentos eletrônicos (??). Sendo este setor o principal consumidor de Tântalo.
Outras aplicações importantes estão na aviação e no automobilismo, em turbina
a gás e equipamentos médicos. Uma característica importante para essas aplicações é a
resistência à corrosão. O Tântalo, juntamente com o Nióbio e o Titânio, apresenta grandes
afinidades com o Carbono tornando-se estabilizadores de estruturas formando carbetos
muito estáveis (??).
No que se refere às ligas metálicas, por ser muito resistente e exibir elevado ponto
de fusão, cerca de 3.800◦ C, o Carbeto de Tântalo (TaC) é utilizado em ferramentas de
corte, furadeiras e máquinas trefiladoras. As ligas especiais são utilizadas em motores a
jato, reatores nucleares e equipamentos onde é exigida alta resistência mecânica (SOUZA
et al., 2013).
O filme de óxido de Tântalo (Ta2 O5 ) é empregado como um material de revestimento
anti-reflexo para células solares de silício, devido a sua elevada inércia química, alto índice
de refração e um pequeno coeficiente de absorção. Ele também é utilizado em sensores
químicos e biológicos por ser sensível à alta variedade de componentes. Na utilização em
sensores químicos, destaca-se o sensor de pH e enquanto o sensor biológico destaca-se a
detecção de proteínas que se baseia na variação da capacitância dos filmes de óxidos, em
que anticorpos ou receptores estão ligados, durante a ligação do antígeno (SULTANOV,
2012 apud SOUZA et al., 2013).
Quanto às reservas deste mineral, segundo Pontes (2014), as reservas mundiais de
Tântalo em 2013, eram de aproximadamente 97 mil toneladas de metal contido. Sendo o
Brasil e a Austrália os países com as maiores reservas de tântalo do mundo, com 36% e
63% respectivamente, conforme mostra a Tabela 1.
Na região centro-sul do Estado de Minas Gerais encontra-se a Província Pegmatítica
de São João Del Rei, que abrange os municípios de Nazareno, São Tiago, Resende Costa,
Conceição da Barra de Minas (antiga Cassiterita), São João Del Rei e Coronel Xavier
Chaves (PEREIRA et al., 2011). Nesta região, destaca-se a presença de corpos pegmatíticos
mineralizados em Estanho (SnO2 ) e Tântalo (Ta2 O5 ) (TOLEDO, 2002), encontrados nos
minérios de Cassiterita, com teores de Óxido de Estanho (SnO2 ) que variam de 94,5% a
99%, o Tântalo toma parte nesta estrutura com valores de até 4,4% (PEREIRA et al.,
2008). Entretanto, testes feitos com difração de raio-x no Laboratório de Química da LSM
BRASIL S.A, MG, determinaram que também há teores expressivos de Enxofre.
A Figura 1 mostra o mapa geológico da Província Pegmatítica de São João Del
Rei, em MG, e a distribuição dos principais corpos pegmatíticos explotados na região.
Contudo, o Enxofre é uma impureza maléfica para elementos metálicos, decorrente
do fenômeno denominado fragilidade a quente, que diminui as propriedades mecânicas do
material. E essa fragilidade acontece em tratamentos térmicos ou durante a conformação
2
Fagundes et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Figura 1 – Mapa geológico da região entre as cidades de Nazareno e Coronel Xavier Chaves
mostrando a distribuição dos principais corpos pegmatíticos explotados da Província Pegmatítica de São João del Rei (modificado de Avila et al. (2003 apud
PEREIRA et al., 2011). Legenda: I - Greenstone belts: (A) Rio das Mortes e
(B) Nazareno. II - Peridotito-Piroxenito Forro. III - Piroxenitos/gabros (1 a 4).
IV - Dioritos/quartzo dioritos (5 a 8). V - Tonalito-Trondhjemito Cassiterita.
VI – Sub-vulcânicas félsicas parcialmente milonitizadas. VII - Trondhjemito
Tabuões. VIII - Granitóides paleoproterozoicos (9 a 13). IX - Rochas metassedimentares proterozóicas: Megassequências São João del Rei (Paleoproterozoico Estateriano), Carandaí (Mesoproterozoico) e Andrelândia (Neoproterozoico). X
- Falha transcorrente. XI - Mina ativa. XII - Mina desativada. ZCL – Zona de
Cisalhamento do Linheiro. (1) Gabro São Sebastião da Vitória, (2) PiroxenitoGabro Manuel Inácio, (3) Gabro Rio dos Peixes, (4) Gabro Rio Grande, (5)
Diorito Rio Grande, (6) Quartzo Diorito do Brito, (7) Diorito Brumado, (8)
Quartzo Monzodiorito Glória, (9) Granitóide Ritápolis, (10) Granitóide do Lajedo, (11) Granodiorito Brumado de Baixo, (12) Suíte Serrinha (Granodiorito
Brumado de Cima e corpos granofíricos), (13) Gnaisse Granítico Fé, (14) Mina
do Volta Grande, (15) Mina Minas Brasil, (16) Mina do Paiol, (17) Pegmatito
do Fundão, (18) Pegmatito Serra, (19) Pegmatito do Fumal, (20) Pegmatito
Olaria, (21) Pegmatito Penedo, (22) Pegmatito Mato Virgem, (23) Pegmatito
Sossego, (24) Pegmatito Cascalho Preto, (25) Pegmatito Cavalo do Buraco,
(26) Pegmatito Prainha.
3
Fagundes et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Tabela 1 – Reserva e produção mundial de Tântalo. Fonte: USGS: Mineral Commodity
Summaries (2014 apud PONTES, 2014). (1) o total das reservas do Mineral
Commodity Summaries (USGS: MINERAL COMMODITY SUMMARIES,
2014) foi corrigido com a informação do DNPM; (2) produção em metal contido
nas ligas de Ta; (3) reserva lavrável em metal contido somente das empresas em
operação. Não inclui o valor das reservas aprovadas pelo DNPM de empresas
que não estão em operação; (p) preliminar; (r) revisado.
Discriminação
Países
Reservas(1) (t)
2013(p)
Produção(2) (t)
2012(r) 2013(p)
%
Brasil
Ruanda
Congo (Kinshasa)
Nigéria
Canadá
Moçambique
Burundi
Etiópia
Austrália
36.190(3)
62000
118
150
100
63
50
39
33
95
-
185
150
110
60
50
40
30
10
-
29,13
23,62
17,32
9,45
7,87
6,30
4,73
1,58
-
TOTAL
97.387
648
635
100
mecânica e se deve à presença de sulfetos que possuem um baixo ponto de fusão (CECHIN,
2009). Esta impureza é nociva à aplicação do Tântalo como liga, sendo, portanto, interessante o emprego de um tratamento para a remoção do Enxofre durante o processo de
obtenção do Óxido de Tântalo.
Há de se considerar também que as empresas na busca em atender um mercado
cada vez mais exigente e competitivo, elas devem oferecer produtos de alta qualidade e
baixo custo de produção. Além da crescente preocupação ambiental, que tem motivado o
desenvolvimento de processos capazes de gerar menor volume de resíduos e/ou estudo de
processos produtivos capazes de tratar resíduos industriais, que podem ser fontes potenciais
de metais, com elevado valor econômico e aplicação tecnológica.
Dentro desse contexto, considerando que a escória resultante do processo de redução
da Cassiterita contém alta concentração de Tântalo, cujo elemento é nobre e de elevado
valor comercial, mas que também apresenta um teor de Enxofre, que pode inviabilizar a
comercialização do mesmo por causar danos aos produtos relacionados ao Tântalo, este
trabalho foi desenvolvido com o intuído de desenvolver um tratamento que reduza o teor
de Enxofre em escórias de Cassiterita, de forma que este subproduto tenha maior valor
agregado.
Este trabalho teve como objetivo analisar a redução do teor do Enxofre presente
em uma escória resultante do beneficiamento da Cassiterita, e rica em Óxido de Tântalo,
através do processo de lixiviação ácida, utilizando uma solução de ácido clorídrico (HCl),
na concentração de 5%.
4
Fagundes et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A fase experimental deste trabalho baseou nos testes realizados por Chaves (2004)
que testou processos de lixiviação em meios ácidos com ácido clorídrico (HCl), nas concentrações 5%, 10%, 15%, 20%, e ácido sulfúrico (H2 SO4 ), nas concentrações 10%, 15%,
20%, 40%, a fim de determinar a reatividade dos elementos Estanho, Zircônia, Nióbio e
Tântalo presentes em escória. O autor verificou em seus estudos uma maior concentração
de Tântalo, em forma de precipitado, nas concentrações de 5% e 10% de HCl.
Com base nos resultados de Chaves (2004), foi proposto no presente trabalho testar
somente o HCl, na concentração de 5%. Não foi proposto estudar o H2 SO4 , uma vez que
este pode fornecer Enxofre à escória.
2.1 Caracterização química da escória de cassiterita
A escória utilizada neste trabalho foi proveniente do beneficiamento da Cassiterita,
oriunda da Província Pegmática de São João del Rei, MG, reduzida com a adição do carvão
vegetal. A empresa mineradora é a LSM BRASIL S.A., MG.
Nessa empresa, a amostragem da escória é feita periodicamente por um profissional
da LSM BRASIL S.A., MG. A coleta das amostras é realizada através do método de
quarteamento.
Para o estudo, foi coletada uma pequena porção da alíquota final amostrada, a
qual denominamos de amostra padrão, que foi enviada ao Laboratório de Química da
empresa mineradora LSM BRASIL S.A., MG, para análise em difração de raio-x, com a
finalidade de caracterizar a composição química da escória. O restante da alíquota, a qual
denominamos amostra teste, foi pesada, determinando-se o peso de 80,33g. Esta amostra
teste foi utilizada para a realização do processo de lixiviação ácida.
2.2 Caracterização do processo de lixiviação ácida
Através das pesquisas realizadas em bibliografias, determinou-se que a lixiviação
ácida para remoção de impurezas causadas pelo Enxofre é ideal, devido à baixa reatividade
do Tântalo.
Os testes foram realizados no Laboratório de Química da LSM BRASIL S.A., MG,
e os seguintes materiais foram utilizados para o procedimento:
- 80,33g da amostra teste de escória;
- Agente Lixiviante - Ácido Clorídrico (HCl), em concentração 5%;
- Vidrarias e equipamentos: Becker, Suporte Universal, Garra para suporte universal,
Balão Kitassato, Funil de Buchener, Papel de Filtro Faixa Branca, Anel de Vedação,
Cadinho de Porcelana, Agitador de Placas, Bomba de Sucção e Estufa.
Para realizar o processo de lixiviação, foram preparadas 250 ml de uma solução de
ácido clorídrico, na concentração de 5%. Em um Becker foi adicionada a amostra de escória
e toda a solução ácida preparada (Figura 2(a)), cuja mistura foi agitada a aproximadamente
100 RPM em um agitador de placas, durante 48 horas (Figura 2(b)). A agitação tem como
função aumentar a cinética química da reação e simular um ambiente mais próximo do
real.
5
Fagundes et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
(a)
(b)
Figura 2 – (a) Amostra teste de escória em contato com a solução de HCl. (b) Amostra
teste de escória + solução de HCl no agitador de placas.
Após a agitação, a mistura foi filtrada, utilizando papel de filtro faixa branca de
especificações de 25 nanômetros e teor de cinzas de 0,00014. O procedimento ocorreu a
vácuo com pressão de -200mmHg.
O material sólido retido no papel de filtro foi colocado em estufa e submetido a
uma temperatura de 120◦ C, por 24 horas. Após esse tempo, foi deixado para esfriar no
dessecador, até atingir a temperatura ambiente. Após secagem, este material sólido foi
pesado e usado para a realização de ensaio de difração de raio-x, com a finalidade de
determinar a quantidade de Enxofre e Tântalo presente na amostra.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra padrão de escória submetida a testes de difração de raio-x apresentou a
composição química mostrada na Tabela 2. Observa-se que a escória de Cassiterita tem
elevado percentual de óxido de Tântalo, sendo relevante o desenvolvimento de tecnologias
capazes de agregar valor a este subproduto na mineração.
Já a amostra teste de escória (de 80,33g), de mesma composição química da amostra
padrão (Tabela 2) e que foi submetida ao processo de lixiviação ácida, apresentou um peso
de 74,47g, após o referido processo, e, também, apresentou uma percentagem de Tântalo e
Enxofre de 26,96% e 1,15%, respectivamente (Tabela 3).
Este resultado mostra que houve redução de Enxofre na escória, o que é desejável,
uma vez que esse elemento reduz a qualidade da escória. Por outro lado, houve pouca
remoção do Tântalo na escória, o que também é desejável, uma vez que o Tântalo é o
elemento que agrega valor a escória.
6
Fagundes et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Tabela 2 – Composição da amostra padrão da escória. Fonte: elaboração própria.
Elemento
% do elemento presente na escória
Óxido de Tântalo (Ta2 O5 )
Enxofre (S)
Óxido de nióbio (Nb2 O5 )
Dióxido de estanho (SnO2 )
Óxido férrico ou hematita
Dióxido de silício ou sílica (SiO2 )
Dióxido de titânio (TiO2 )
27,55
2,68
4,08
6,36
4,39
15,7
1,23
Tabela 3 – Peso da amostra teste de escória antes e após a lixiviação ácida e o percentual
de Tântalo (Ta2O5) e Enxofre (S) após o processo de lixiviação ácida. Fonte:
elaboração própria.
Amostra da escória
antes da lixiviação ácida
Amostra da escória
após a lixiviação ácida
Ta2 O5
g
S
%
80,33
74,47
26,96
1,15
Elaborado pelos autores.
Ao comparar a quantidade, em peso, de Tântalo e Enxofre na amostra de escória
sem sofrer lixiviação ácida com a quantidade encontrada na amostra submetida à lixiviação
ácida (Tabela 4), verificou-se que a quantidade de Enxofre caiu consideravelmente, passando
de 2,15g para 0,86g, uma redução de 60,22%. Já para o Tântalo, que é o elemento de
interesse, houve uma redução de apenas 9,28% na amostra.
Tabela 4 – Comparação entre amostra de escória sem sofre lixiviação ácida e a amostra de
escória submetida ao processo de lixiviação ácida. Fonte: elaboração própria.
Elemento
Quantidade do
elemento na
amostra de
escória sem
lixiviação ácida
Quantidade do
elemento na
amostra de
escória após
lixiviação ácida
g
Enxofre
Tântalo
2,15
22,13
Redução do
elemento na
amostra com
a lixiviação ácida
%
0,86
20,08
60,22
9,28
Elaborada pelos autores.
Os resultados foram considerados satisfatórios em relação à redução dos elementos,
mesmo com uma leve diminuição no teor de Tântalo (9,28%). Houve uma expressiva
redução no percentual de Enxofre na escória (redução de 60,22%). Isto mostra que a
lixiviação ácida como tratamento da escória foi viável no sentido de melhorar a qualidade
e agregar valor comercial deste subproduto gerado na mineração da Cassiterita.
7
Fagundes et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Em um mercado mais exigente, as empresas têm a missão de oferecer um produto
de melhor qualidade com menor custo. Sendo interessante aperfeiçoar este processo a
fim de atender grandes produções. Neste sentido, o aprofundando em pesquisas visando
analisar a cinética das reações e a influência da variável tempo no processo de lixiviação
são fundamentais.
Considerando uma escala industrial, o fator tempo pode ser um empecilho no
processo produtivo da empresa, sendo este um fator extremamente importante a ser
pesquisado para avaliar a viabilidade técnica de utilização da lixiviação ácida em grande
escala.
4 CONCLUSÃO
O presente trabalho adotou uma metodologia de pesquisa científica acadêmica com
o objetivo de separar e analisar o elemento Enxofre de uma escória com alta concentração
de Tântalo, proveniente da redução da Cassiterita, visto que o Enxofre é prejudicial na
comercialização e utilização do Tântalo.
Houve uma redução considerável de Enxofre e uma baixa interferência na concentração de Tântalo na escória de Cassiterita através do processo de lixiviação ácida com
HCl, aumentando a qualidade e o valor agregado deste subproduto.
A grande competitividade do mercado exige que a linha produtiva seja cada vez
mais eficiente aproveitando todos os recursos da empresa com produtos de alta qualidade e
com menor custo possível. Contudo, para atingir as expectativas industriais é necessário
aprofundar em pesquisas que foquem os fatores que aceleram o processo como a cinética
das reações e o tempo, visto que estes influenciam na produtividade e na redução dos
custos.
5 AGRADECIMENTOS
À LSM BRASIL S.A., de São João Del Rei, MG, empresa do grupo AMG Mineração,
pelo apoio logístico para execução deste trabalho.
À professora Gleicia Miranda Paulino pela colaboração na análise e discussão dos
resultados.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CECHIN, A. C. S. Classificação automático de inclusões em aço. 2009. Disponível
em: <http://www.pucrio.br/pibic/relatorio_resumo2009/relatoria/dcmm_materiais/
aline_chirstina.pdf>. Acesso em: 23 out. 2014.
CHAVES, P. Ensaios preliminares para reciclagem de escória da indústria do estanho. In:
JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 12., 2004, Rio de Janeiro. Resumos... Rio
de Janeiro: CETEM/MCT, 2004. p. 1–10.
8
Fagundes et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
PEREIRA, R. M. et al. Determinação da gênese da cassiterita com base na sua composição
química e inclusões minerais: ocorrências no sul e no sudeste brasileiro. Revista
Brasileira de Geociêcias, São Paulo, v. 38, n. 2, p. 246–252, 2008.
PEREIRA, R. M. et al. Stocks heiderquartzo-moscovíticos e pegmatíticos na zona de
cúpula do granitóide Ritápolis, Região de São João Del Rei, Minas Gerais. In:
.
Anuário do Instituto de Geociência. Rio de Janeiro: [s.n.], 2011. v. 34, n. 2, p. 59–69.
PONTES, E. P. Tântalo. In:
v. 34, p. 112–117.
. Sumário Mineral. 1. ed. Brasília: DNPM, 2014.
RODRIGUES, A. F. da S. Tântalo. In:
. Mineração de Rochas e Minerais
Industriais. Brasília-DF: Cidade Gráfica e Editora Ltda., 2009. v. 1, cap. 6, p. 493–515.
SOUZA, R. M. F. de et al. Tântalo: Breve histórico, propriedades e aplicações. Educación
química, México DF, v. 24, n. 3, p. 343–346, 2013.
TOLEDO, C. L. B. Evolução geológica das rochas máficas e ultramáficas no
Greenstone Belt Barbacena, região de Nazareno, MG. 2002. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/doc/230495909/Provincia-Pegmatitica-de-Sao-Joao-Del-Rei>.
Acesso em: 22 out. 2014.
9
Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social
VOL. 1, NUM. 1, 2016
reis-013, p. 1-9
www.faenge.uemg.br
Estudo das consequências do planejamento do plano
de fogo nas etapas subsequentes ao desmonte de
rochas
Study of the consequences of blasting planning in the stages following rock blasting
J. C. M. L. Soares1,∗ ; G. M. Paulino2 ; P. H. Barbosa3 ; R. P. Lima4
2, 4
1
Engenheiro de Minas, Autônomo
Departamento dos Recursos Naturais, Ciências e Tecnologias Ambientais, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade MG. Brasil
3
Graduando em Engenharia de Minas, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade - MG, Brasil
∗[email protected]
Resumo
Na mineração, para a extração dos recursos minerais, são necessários um robusto empreendimento
que associado à característica do minério como um bem não renovável, faz com que nas diversas
operações de sua cadeia produtiva sejam realizadas atividades cada vez mais planejadas. Uma das
operações da mineração que pode ser muito bem trabalhada é a que envolve a extração do minério, o
chamado desmonte de rochas. Esta operação consiste em explodir o maciço rochoso e reduzi-lo a uma
granulometria desejável para se realizar as atividades subsequentes ao desmonte. O objetivo deste
trabalho é apontar quais os fatores que ocorreram no planejamento do plano de fogo da mineradora
AMG-Mineração, situada em Nazareno/MG, a ponto de melhorar a qualidade do desmonte, e analisar
qualitativamente e quantitativamente o impacto desse planejamento nas atividades subsequentes a
operação de desmonte de rocha (escavação, carregamento e transporte, uso do rompedor e britagem
primária). Foram estudados os dados e tabelas fornecidas pela AMG-Mineração para conhecimento
dos principais itens trabalhados que foram: razão de carga, altura do tampão, malha de perfuração
(espaçamento e afastamento), sequenciamento das detonações e porte das detonações. Através de
análises dos dados e das informações coletadas, observou-se que granulometria do material gerado no
desmonte favorece as etapas subsequentes. E, em consequência, ocorre aumento da produtividade nas
etapas de escavação, carregamento e transporte, com a redução das horas trabalhadas do rompedor
e da elevação da produção da britagem primária em cerca de 20%..
Palavras-chave: plano de fogo, granulometria, desmonte.
....................................................................................
For the extraction of mineral resources on mining operations, it is necessary a powerful enterprise, that,
associated with the fact that ore is a non-renewable resource, requires the assemblage of increasingly planned
activities in all the various operations in its production. One of the mining operations that can be worked
on in depth is the one that involves ore extraction, namely the rock blasting operation. This operation
consists of exploding the rock mass to a desired particle size for the stages the will follow the blasting of
the rock. The aim of this study is to determine which factors took place in in the blasting plan of AMGMineração Company, located in Nazareno/MG, as to increase the quality of the blasting; and analyze, both
qualitatively and quantitatively, the impact of such planning in the operations following the rock blasting
(excavation, loading and transporting, usage of the hydraulic breaker and primary crushing). It was taken
into consideration data and charts provided by AMG-Mineração for the evaluation of the main items such
as: powder factor, stemming height, spacing and burden, timing and blasting port. Through data analysis,
the information provided, it was possible to observe that the particle size of the material is related to the
stages that follow the blasting of the rock. And, as a consequence, there is an increase in productivity in
the stages of excavation, loading and transporting, in the reduction of the hours that the hydraulic breaker
had to operate, and an increase in the production of primary crushing in roughly 20%.
Keywords: blasting plan, particle size, blasting.
Soares et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
1 INTRODUÇÃO
A mineração é um dos principais ramos da economia e de grande utilidade para
o desenvolvimento tecnológico e humano. Levando em consideração que, para extração
dos recursos minerais, são necessários um robusto empreendimento e elevado investimento,
associado à sua característica de recurso não renovável, obrigatoriamente faz com que
nos diversos pontos de sua cadeia produtiva sejam realizadas atividades cada vez mais
planejadas e eficientes, como nas atividades de perfuração e desmonte de rochas.
O Desmonte de rochas consiste num conjunto de atividades coordenadas cujo
objetivo é extrair o bem mineral de interesse e adequá-lo quanto às exigências para
ocorrência das etapas posteriores. Tem como sua primeira etapa a perfuração, uma operação
que se realiza e tem como finalidade abrir furos com uma distribuição e geometria adequada
dentro dos maciços para alojar as cargas de explosivos e acessórios iniciadores (SILVA,
2009).
Assim, para ocorrência dos desmontes é necessária a realização do plano de fogo
que reúne e determina vários parâmetros como diâmetro das perfurações, afastamento e
espaçamento, inclinação dos furos, altura da bancada, profundidade dos furos, tampão,
entre outros. Assim, por meio desse conjunto de parâmetro e procedimentos técnicos
realizam-se os desmontes.
Segundo (BRITANITE, 2012), um plano de fogo deve ser simples, mas completo,
devido ao risco de erro. Um profundo conhecimento e entendimento dos requisitos de um
desmonte são essenciais para a segurança e o sucesso desse plano.
Levando em consideração essas circunstâncias, o problema que se apresenta é que se
o material desmontado possuir uma granulometria inadequada ou grande parte do volume
desmontado possuir tamanhos elevados ocorrerá uma maior dificuldade de realização das
atividades, de modo a provocar a necessidade de retrabalho, elevação das horas de trabalho
do rompedor, aumento da probabilidade de obstrução do britador primário, entre outros.
Para Otuonye (1985 apud MONTEIRO, 2013), um dos objetivos mais importantes
em qualquer operação de desmonte de rocha são a fragmentação e o lançamento. A
necessidade frequente de redução dos custos de mineração exige a avaliação continua de
desmontes em grande escala e em conjunto com o desenvolvimento de índices de medida
de fragmentação mais precisos.
A importância deste trabalho é notada por sua contribuição para uma maior
compreensão da elaboração do plano de fogo e o quanto a performance das etapas de
produção da mineração são interdependentes. Assim, este artigo tem como objetivo geral
demonstrar a influência da definição do plano de fogo para uma boa execução do desmonte
de rochas e a posterior elevação da produtividade das atividades subsequentes e, para tanto,
foi necessário estudar a elaboração do plano de fogo da mineradora AMG-Mineração e
averiguar qualitativamente e quantitativamente o desempenho das atividades subsequentes
ao desmonte de rocha na mina - escavação, carregamento e transporte, uso do rompedor e
a britagem primária após o planejamento ocorrido -, e assim determinar a influência do
mesmo.
2
Soares et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Figura 1 – Mapa geológico regional mostrando a distribuição dos principais corpos pegmatíticos explotados da Província Pegmatítica de São João Del Rei, MG.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho se dá mediante uma parceria com a empresa AMG-Mineração,
referência em mineração de Tântalo, que está localizada na região pegmatítica de São João
Del Rei - MG (Figura 1) e que abrange os municípios de Nazareno, São Tiago, Resende
Costa, Conceição da Barra de Minas (antiga Cassiterita), São João Del Rei e Coronel
Xavier Chaves (PEREIRA et al., 2011). Essa, por sua vez, forneceu as informações do seu
plano de fogo, entre outras necessárias, com grande auxílio da equipe de mina da empresa
e principalmente do Supervisor de Perfuração e Desmonte.
O projeto de pesquisa se deu, inicialmente, pelo contato com os funcionários
da empresa AMG-Mineração via e-mail e telefone por meio dos quais forneceram as
informações que serão apresentadas no decorrer deste trabalho. Em posse das informações
da empresa, deu se início aos estudos dos parâmetros do plano de fogo para compreensão dos
aspectos trabalhados no mesmo pela empresa e as posteriores consequências nas atividades
subsequentes. Uma vez que as atividades de perfuração e desmonte são fundamentais no
processo produtivo e qualquer atraso ou perda impacta diretamente no plano de produção
e, consequentemente, o planejamento financeiro da empresa (OPERAÇÃO. . . , 2014).
Para começo e melhor entendimento do projeto, foram estudados o plano de fogo
para ocorrência das detonações e seus respectivos parâmetros como, razão de carga, altura
do tampão, acessórios, direção das detonações, face livre, descontinuidades do maciço
rochoso, entre outros. E, em seguida, foi realizado um estudo das etapas subsequentes ao
desmonte de rochas: escavação, carregamento e transporte, uso de rompedor e britagem
primária.
Com maior conhecimento sobre o assunto, a equipe deu início a análise das informações da empresa AMG-Mineração. Como relatado pelo supervisor de perfuração
e desmonte, antes de aplicar o planejamento do plano de fogo a empresa apresentava
baixa produtividade, e em alguns casos chegava, até mesmo, a faltar minério na planta de
3
Soares et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Figura 2 – Planilha de controle do plano de fogo do pegmatito (minério). Fonte: AMGMINERAÇÃO (2013).
beneficiamento devido à dificuldade de extraí-lo na cava em função do baixo desempenho
dos desmontes. Também foi relatada uma alta relação estéril/minério, de 7,5, o que significa
que para a extração de 1 tonelada de minério é necessário retirar quase 7,5 toneladas de
estéril. Isso implica que o planejamento deve ser muito bom para poder atender a usina de
beneficiamento.
Para realização do planejamento adotou-se um software auxiliar desenvolvido pelo
Orica mining, chamado ShotPlus e algumas fórmulas e cálculos fornecidos pela literatura.
Através desses, foram realizadas algumas simulações de desmontes e determinados valores
para alguns parâmetros do plano de fogo, de modo a buscar obter desmontes mais eficientes.
Após essa predeterminação de valores, foi realizando-se os desmontes e através
da experiência da equipe ao analisar os desmontes, foi se determinando valores cada vez
melhores para elevação da qualidade dos mesmos. Assim, pode se afirmar que estes valores
determinados não são definitivos e podem ser continuamente modificados mediante as
análises dos desmontes e desempenho das atividades subsequentes.
Os principais parâmetros trabalhados podem ser observados na Figura 2 que mostra
planilha de plano de fogo da empresa e as informações das distâncias dos furos, área de
perfuração, diâmetro dos furos, subfuração (comprimento perfurado abaixo da base da
bancada), inclinação dos furos, cota da bancada, profundidade média dos furos, número de
furos, volume estimado do desmonte, densidade da rocha, razão de carga (R.C kg/m3),
altura da bancada, consumo de emulsão, quantidade de produtos/acessórios utilizados,
características da emulsão (densidade e temperatura), operador do caminhão da emulsão,
data e horário da detonação e numeração do desmonte. Como destacado na Figura 2, os
principais itens trabalhados foram: malha de perfuração (espaçamento e afastamento),
razão de carga (R.C kg/m3), altura do tampão e isso, consequentemente, afetou o porte
das detonações. Assim, pode-se evitar que o plano de fogo perdesse parte de sua energia
nas falhas das rochas.
4
Soares et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em decorrência do estudo do plano de fogo e determinado quais foram os parâmetros
modificados, pode-se averiguar a influência do mesmo nas atividades subsequentes descritas
abaixo. Levando em consideração que o planejamento foi realizado no final do primeiro
semestre de 2013, pode-se perceber as consequências do mesmo logo no segundo semestre
do mesmo ano.
3.1 Porte dos desmontes
A equipe de perfuração e desmonte até então realizava das Segundas as Sexta-feiras
desmontes em menores dimensões. Isto implicava em uma parada diária de uma hora na
produção da mina para retirada dos equipamentos da área e realização dos desmontes.
Depois do planejamento do plano de fogo, ela começou a realizar apenas duas
detonações por semana de portes maiores. Com isso, houve uma disponibilização de três
horas a mais na produção dos equipamentos da mina na semana, além de aumentar a
segurança dos trabalhadores, tendo um menor número de desmontes semanalmente.
3.2 Desempenho da escavadeira e carregamento e transporte
Devido a melhoria na qualidade do desmonte, foi obtido um material com granulometria mais adequada para o trabalho das escavadeiras, como se pode observar na Tabela 1.
Como foi dito anteriormente, o planejamento ocorreu no final do primeiro semestre de 2013
e ainda neste mesmo ano foi possível observar uma elevação efetiva da produtividade das
escavadeiras.
Houve um maior índice de enchimento da concha das escavadeiras (devido à
adequação/facilidade de trabalho com a granulometria do material gerado) que, consequentemente, permite que se tenha um número menor de pazadas para enchimento da caçamba
do caminhão que é carregado mais rapidamente para realizar seu trajeto para planta de
beneficiamento ou pilha de estéril.
Vale ressaltar que não foi possível elaborar uma tabela de carregamento e transporte,
uma vez que eram diversas frentes de lavra e como a DMT (Distância Média de Transporte)
se alterava, os resultados sofreriam alterações também. Contudo, pode-se prever, com a
produtividade de escavadeira (Figura 2), que o carregamento e o transporte também se
elevem pois ela depende diretamente do desempenho das escavadeiras.
3.3 Horas trabalhadas do rompedor
Com a elevação da qualidade do desmonte, foi reduzido também o número de
matacoes que são grandes blocos gerados e que não foram fragmentados pela detonação, o
que impossibilita a entrada do material nos britadores. Assim, necessita-se de uma nova
etapa de fragmentação, para redução da granulometria do mesmo e isso se dá com a adoção
de equipamento específico para desmontar os matacoes, que são os rompedores.
Pode-se analisar pela Tabela 2 que foram reduzidas as horas trabalhadas do
rompedor que, até então, frequentemente extrapolava a meta proposta de trabalho. E
pode-se também perceber na mesma tabela que houve uma redução nos gastos com o
equipamento em torno de 12% em relação ao semestre anterior devido à queda do número
de horas.
5
Soares et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Tabela 1 – Produção das escavadeiras 2013. Fonte: AMG-MINERAÇÃO (2013).
Produção das escavadeiras
Mês
Pergmatito (t/h)
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
298
301
295
303
330
342
343
336
337
384
372
403
Tabela 2 – Horas trabalhadas do rompedor x custo de trabalho. Fonte: AMG-MINERAÇÃO
(2013).
Acompanhamento mensal do rompedor – 2013
Mês
Horas trabalhadas
Gasto
Hora mínima
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
659,60
560,20
470,50
495,50
315,60
253,50
351,60
407,80
435,90
378,20
459,00
370,00
R$ 163.646,76
R$ 138.985,62
R$ 116.780,00
R$ 122.908,70
R$ 78.300,00
R$ 62.843,73
R$ 87.231,96
R$ 101.175,18
R$ 108.146,79
R$ 93.902,71
R$ 113.747,38
R$ 91.743,38
400
400
400
400
400
400
400
400
400
400
400
400
Custo Previsto
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
99.240,00
99.240,00
99.240,00
99.240,00
99.240,00
99.240,00
99.240,00
99.240,00
99.240,00
99.240,00
99.240,00
99.240,00
6
Soares et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Figura 3 – Vista superior do britador de mandíbulas.
3.4 Desempenho da britagem
A melhor qualidade do desmonte gerou um material com uma faixa granulométrica
mais adequada ao britador utilizado na usina de beneficiamento para britagem primária,
que é o britador de mandíbulas (Figura 3), juntamente com uma menor probabilidade de
parada do equipamento por obstrução. Sendo esta, segundo o Engenheiro de Minas do
setor de beneficiamento da AMG-Mineração, a principal causa, até então, de paradas do
britador.
Pode-se observar na Tabela 3, qual era o ritmo de produção da britagem primária
antes do planejamento do plano de fogo, tendo uma média de 140 t/h. E, após o planejamento ocorrido, pode-se averiguar uma elevação da hora trabalhada, tonelada britada
e, consequentemente, da tonelada/hora resultando uma média de 169 t/h, aumentando o
desempenho da britagem em torno de 20% (Tabela 3).
4 CONCLUSÃO
Neste trabalho foi possível analisar a influência de um bom planejamento do plano
de fogo nas atividades subsequentes da mineração, por meio da qual se pode perceber
claramente a interdependências das etapas de mineração e promover um maior desempenho
das atividades.
Depois da elaboração do novo plano de fogo houve um acréscimo de disponibilidade
semanal na produção/utilização dos equipamentos da mina de três horas, um aumento
da produtividade da escavadeira e, em consequência, do carregamento e transporte, uma
redução de gastos de 12% na utilização do rompedor (horas trabalhadas) e um aumento
da produção da britagem primária em cerca de 20%.
A análise realizada neste trabalho serviu para se ter um melhor controle e conheci7
Soares et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Tabela 3 – Desempenho da britagem primária antes do planejamento.
Acompanhamento mensal do britador primário - 2013
Mês
Horas trabalhadas
Ton. britada
Ton/hora
Ton. Meta
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
414,70
347,50
411,10
388,20
337,80
465,80
447,20
461,80
436,00
511,90
489,80
459,40
46049,00
40861,00
54308,00
57185,00
56469,00
76596,00
72232,00
78178,00
74236,00
87967,00
82422,00
78860,00
111,04
117,59
132,10
147,31
167,17
165,44
161,52
169,29
170,27
171,81
168,28
171,66
150,00
150,00
150,00
150,00
150,00
150,00
150,00
150,00
150,00
150,00
150,00
150,00
mento das variáveis trabalhadas. Observou-se a importância de como um bom planejamento
desde o início das etapas da mineração pode findar em um melhor desempenho nas etapas
que estão bem à frente. E de como o setor mina pode ajudar o setor usina da empresa e,
assim, caminhar para que sejam atingidas e, até ultrapassadas, as metas previstas pela
AMG-Mineração.
5 AGRADECIMENTOS
- Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PAPq), por ter proporcionado a execução do projeto de pesquisa;
- À empresa AMG-Mineração pelas informações fornecidas, em especial ao Bruno
Pinheiros, Supervisor de Perfuração e Desmonte da empresa e ao Antônio Carlos
Soares, Coordenador da Usina de Beneficiamento;
- À UEMG Campus João Monlevade;
- Aos professores e orientadores Gleicia Miranda Paulino e Robson Pereira de Lima.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMG-MINERAÇÃO. Relatório de produção anual. Nazareno, Minas Gerais, 2013.
BRITANITE. Manual básico de utilização de explosivos. Quatro Barras (PR),
Brasil, 2012.
8
Soares et al., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
MONTEIRO, L. C. B. Importância do planejamento do plano de fogo, na
melhoria da qualidade e produtividade do desmonte. 2013. Monografia
(Graduação) — Universidade Do Estado De Minas Gerais, João Monlevade, 2013.
OPERAÇÃO dita o ritmo da produção. O uso de softwares especialistas agiliza o
planejamento dos desmontes. Revista Minérios & Minerales, p. 16–23, 2014.
Disponível em: <http://www.minerios.com.br/Conteudo/Arquivos/Mat\%C3\%A9rias/
MM\%20364_SITE\%20\%282\%29.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015.
PEREIRA, R. M. et al. Stocks heiderquartzo-moscovíticos e pegmatíticos na zona de
cúpula do granitóide Ritápolis, Região de São João Del Rei, Minas Gerais. In:
.
Anuário do Instituto de Geociência. Rio de Janeiro: [s.n.], 2011. v. 34, p. 59–69.
SILVA, V. C. Curso de min 210 – Operações mineiras. Ouro Preto: Departamento
de Engenharia de Minas, 2009. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/antoniorf/
55131990desmontederochascomexplosivos/>. Acesso em: 20 mar. 2015.
9
Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social
VOL. 1, NUM. 1, 2016
reis-014, p. 1-15
www.faenge.uemg.br
Rigidez locacional e os impactos socioeconômicos e
ambientais da Mina de Brucutu no Município de
Barão de Cocais-MG
Locational rigidity and the economic, social and environmental impacts of Brucutu’s mine in
the city of Barão de Cocais-MG
L. O. S. Araújo1,∗ ; C. S. de Morais2,†
1
Departamento de Ciências Sociais, Humanas, Letras e Artes, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade - MG, Brasil
2
Engenheira de Minas, Autônoma
∗[email protected]; †[email protected]
Resumo
A mineração representa atividade de grande importância na economia nacional, sendo apoiada
por princípios do direito minerário que refletem a necessidade de extração dos bens minerais
num país que objetiva o crescimento econômico e desenvolvimento. Por sua vez, características
como a rigidez locacional justificam a geração de impactos ambientais e socioeconômicos por
parte da atividade mineira, já que demonstram que o bem mineral deve ser lavrado onde se
encontra, e não onde desejam a sociedade e o empreendimento. Isso pode representar um
grande problema no caso de municípios próximos, em que um deles recebe a maior parte dos
impostos arrecadados, prejudicando o outro. É fácil observar a dificuldade do município que
recebe a menor parcela dos impostos para evitar, controlar e corrigir os impactos gerados
pela mineração. No caso específico da Mina de Brucutu, nas cidades de São Gonçalo do Rio
Abaixo-MG e Barão de Cocais-MG, Brasil, pode-se perceber as diferenças entre os impactos
econômicos, sociais e ambientais advindos dessa atividade, o que demonstra uma diferença no
tratamento dado pela administração pública aos referidos impactos, como ilustra o artigo a
seguir. Além disso, é possível analisar os impactos ambientais causados pelo empreendimento
na cidade de Barão de Cocais, relacionando-os ao princípio da rigidez locacional, uma vez
que os impactos são absorvidos por Barão de Cocais, contudo, as arrecadações, em virtude
deste princípio, pertencem a São Gonçalo do Rio Abaixo.
Palavras-chave: mineração, rigidez locacional, mina de Brucutu.
....................................................................................
The mining activity has a great importance in the national economy, being supported by principles of mining
rights that reflect the need for extraction of minerals in a country that has as objective the economic growth
and development. On the other hand, characteristics such as locational rigidity justify the generation of
environmental and socioeconomic impacts arising from the mining activity, as they demonstrate that the
mineral should be extracted where it is and not where the society and enterprises want to. This can cause a
big problem in the case of municipalities nearby in which one gets the most taxes, harming the others. It is
easy to see the difficulty of the municipality that receives the least amount of taxes to prevent, control and
correct the mining impacts. In the specific case of Brucutu’s mine in São Gonçalo do Rio Abaixo-MG and
Barão de Cocais-MG, Brazil, it can be seen the differences between the economic, social and environmental
impacts generated, which shows a difference in the treatment given by the government to those impacts, as
shown in this following work. Furthermore, it is possible to analyze the environmental impacts caused by
mining activity in Barão de Cocais, relating them to the principle of locational rigidity, once the impacts
are absorbed by Barão de Cocais, in despite of the revenues, that because of that principle, belongs to São
Gonçalo do Rio Abaixo.
Keywords: mining, locational rigidity, Brucutu’s mine.
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
1 INTRODUÇÃO
No atual cenário de constante crescimento do setor minerário, tanto no Brasil
quanto principalmente no estado de Minas Gerais, faz-se importante a análise dos impactos
gerados pela atividade mineira, não somente nos municípios onde a mina está localizada,
mas também naqueles vizinhos.
A cidade de Barão de Cocais, objeto de estudo deste trabalho, vem sofrendo com
os impactos causados pela implantação da Mina de Brucutu, situada na cidade de São
Gonçalo do Rio Abaixo. Desde o início das atividades de instalação da mina, o Município
de Barão de Cocais apresentou crescimento desordenado, devido à chegada de diversos
trabalhadores, causando impactos ambientais e econômicos diversos. O grande problema,
no entanto, estava no fato de que a administração pública de Barão de Cocais precisava,
ainda, suprir as necessidades trazidas por este crescimento populacional, não contando
com nenhuma arrecadação de impostos oriundos da Mina de Brucutu.
Como visto, o artigo desenvolvido ressalta as cidades de Barão de Cocais e São
Gonçalo do Rio Abaixo, vizinhas, e que abrigam, em conjunto, uma das maiores minas de
minério de ferro da atualidade: a Mina de Brucutu. São Gonçalo do Rio Abaixo apresenta,
hoje, uma das maiores arrecadações da Compensação Financeira pela Exploração de
Recursos Minerais – CFEM, devido à produção minerária de Brucutu, o que trouxe
crescimento econômico à região. Barão de Cocais, por sua vez, por ser, na época das obras
de implantação da mina, a cidade mais bem estruturada, recebeu os trabalhadores e sofreu
os impactos desse crescimento populacional acelerado.
O objetivo, portanto, é analisar os pontos negativos e positivos que a concentração
dos royalties em poucos municípios pode causar, tendo em vista que, de acordo com o
princípio da rigidez locacional, a mina deve ser implantada e lavrada onde a natureza a
colocou e não onde os empregadores desejam. Vale ainda, a discussão sobre a concentração
desses royalties e os transtornos dos municípios vizinhos, não beneficiados financeiramente,
mas que dividem os impactos causados pela atividade minerária em âmbito social, econômico
e ambiental.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho foi elaborado por meio de revisão bibliográfica, análise de
artigos, livros e reportagens. Por se tratar de um assunto bastante específico, muitas
informações foram encontradas em textos locais, entrevistas e até mesmo cartas públicas
de empresas situadas nas cidades que são objeto de estudo.
A pesquisa levou em conta termos técnicos e suas especificações, retiradas de
conceituadas bibliografias, além de outros trabalhos acadêmicos. Numa etapa seguinte,
foi necessário contato direto com pessoas que trabalhavam dentro de órgãos públicos na
cidade de Barão de Cocais, para que fossem esclarecidos números e dados locais.
A partir daí, tais dados foram analisados, até que se verificasse sua relação direta
com o problema abordado, e de que maneira ela se dava. Foi importante, nesta fase,
demonstrar a relevância e a evolução de fatores menores associados ao problema principal,
de maneira que os mesmos o comprovassem.
2
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para discutir o tema e os problemas apresentados, além de buscar informações e
soluções possíveis, elaborou-se um referencial teórico que abrangesse os tópicos a serem
analisados.
3.1 Evolução da história da mineração
A evolução da história da mineração no Brasil iniciou-se com o processo de descoberta do país, uma vez que, impulsionados pelo desejo de desbravar e encontrar riquezas
minerais, os colonizadores portugueses adentraram pelo litoral. Germany (2002) afirma que
os primeiros garimpos ocorreram nas terras que dariam origem aos estados de Minas Gerais,
Goiás e Mato Grosso, de onde eram retirados metais valiosos como ouro, prata e cobre,
além de pedras preciosas como diamantes e esmeraldas. A partir daí, o comércio, o fluxo
de pessoas, a construção de estradas e o surgimento de novas cidades foram impulsionados,
gerando grande mudança estrutural no que diz respeito à sociedade, arranjo político, diversificação de serviços, desenvolvimento de regiões e até mesmo legislação. Neste cenário, as
regiões que concentravam as principais minas foram as que mais cresceram economicamente
e, por outro lado, sofreram com os impactos ambientais e socioeconômicos, como foi o caso
de Minas Gerais, que chegou a produzir cerca de “dois terços do ouro e boa parte das
gemas e diamantes extraídos no Brasil”. (ALVES, 2008, p. 28).
Fatos posteriores, como a criação da Escola de Minas na cidade de Ouro Preto, no
ano de 1876 (ALVES, 2008) e a criação de uma Secretaria de Estado denominada como
Ministério dos Negócios de Agricultura, Indústria e Comércio (SILVA, 1995), seguidas pela
origem do Departamento Nacional de Produção Mineral, DNPM (criado em 1934), e do
Ministério de Minas e Energia (criado em 1960), de acordo com Silva (1995), demonstraram
a crescente exploração da capacidade minerária do país, gerando cada vez mais espaço
para a mineração.
Vale lembrar que, tanto na Constituição de 1934, quanto na de 1967, o subsolo
seria de propriedade do proprietário do terreno, o que demonstra o caráter utilitarista
existente nesta fase da mineração nacional. A mudança ocorreu com a publicação da
Constituição de 1988, que “restabeleceu, em parte, as restrições à participação estrangeira
na exploração e aproveitamento de recursos minerais” (BRASIL, 1988) – introduzindo,
na legislação mineral, a ideia de protecionismo; além de definir como “bens da União:
os recursos minerais, inclusive os do subsolo” (BRASIL, 1988), assegurando participação
nos lucros da exploração aos proprietários, bem como ao Estado, ao Distrito Federal e ao
Município. Surge, a partir da Constituição de 1988, ainda, a ideia de Direito Ambiental,
que introduzia a sustentabilidade.
De acordo com a nova visão de responsabilidade ambiental e reflexão acerca
dos impactos ambientais gerados pela mineração, bem como das medidas preventivas e
corretivas a serem adotadas pelos empreendimentos mineiros e administração pública,
foram publicados pelo Ministério de Minas e Energia, em 2010, o Plano Nacional de
Mineração 2030, o PNM-2030 (BRASIL, 2011), e o Novo Marco Regulatório da Mineração
(BRASIL, 2013), que apresentam em comum, objetivos de incentivar investimentos no setor
e oferecer medidas de fiscalização da atividade.
3
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
3.2 Princípios do Direito Minerário
O surgimento e desenvolvimento do termo sustentabilidade no setor minerário
trouxe grandes mudanças, aliado à evolução da mineração em termos de legislação, estimulando a necessidade crescente de um Direito Minerário, ou seja, um ramo do Direito que
compreende “o estudo de normas e procedimentos destinados a permitir a transformação
dos recursos minerais em riqueza e conciliar os direitos e deveres do minerador, do Estado
e do superficiário com os princípios do desenvolvimento sustentável”. (FREIRE, 2010, p.
62)
É importante perceber que o Direito Minerário é constituído de princípios ou
fundamentos que o direcionam, estando estes quase sempre relacionados a princípios de
outras áreas, como é o caso do Direito Ambiental.
3.2.1
Princípio do Desenvolvimento da Mineração no Interesse Nacional
É notável o interesse do Estado no desenvolvimento do setor minerário nacional,
o que justifica investimentos e alterações legislativas neste setor. Quanto mais se investe
no desenvolvimento da mineração, mais o Estado ganha em arrecadação de impostos e
crescimento econômico de pequenas cidades, além do desenvolvimento indireto de setores
como construção civil e agricultura, por exemplo.
Nesse contexto, cita Guio:
O setor minerário consiste em atividade essencial ao desenvolvimento
econômico, com reflexos no incremento dos benefícios sociais advindos das riquezas obtidas e compartilhadas com a União, mediante o
pagamento da Compensação Financeira pela Exploração Minerária,
posteriormente repartida, percentualmente, entre os Estados, Distrito
Federal e Municípios e utilizada em prol da coletividade. (GUIO, 2012,
p. 1)
3.2.2
Princípio do Interesse Público na Transformação das Riquezas Minerais em Benefícios
Econômicos e Sociais
Este princípio complementa o anterior, dizendo que, não somente a arrecadação
financeira promovida pela venda dos bens minerais extraídos é interesse público, mas
também a promoção de benefícios sociais, ou seja, condições que garantam melhor qualidade
de vida à população.
De acordo com Guio:
A função social reveste a atividade minerária em nosso país, [. . . ] visto
que o setor movimenta a economia de forma significativa, com enorme
representatividade nas exportações, na geração de empregos e ainda na
comercialização interna de máquinas e equipamentos, engendrando a
circulação de riquezas. (GUIO, 2012, p. 1)
3.2.3
Princípio da Utilidade Pública da Mineração
De acordo com o Decreto Lei 3.365/41, em seu artigo 5o , alínea f: “Art. 5o
Consideram-se casos de utilidade pública: O aproveitamento industrial das minas e jazidas
minerais, das águas e da energia hidráulica” (BRASIL, 1988).
4
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Esse princípio orienta que a atividade mineira é considerada interesse coletivo por
ser essencial ao funcionamento do Estado, já que auxilia a União a transformar os recursos
minerais em benefícios econômicos e sociais, que serão convertidos à população de maneira
a garantir o desenvolvimento local.
3.2.4
Princípio da Função Social da Propriedade Mineral
Nascido a partir dos princípios da supremacia do interesse público sobre o privado
e do princípio da destinação do bem mineral ao uso geral, o princípio da função social
da propriedade mineral vem dizer que, mesmo que seja particular, toda propriedade deve
atender aos interesses sociais desde sua origem, ou seja, à coletividade. (POVEDA, 2007)
Para cumprir esse princípio, o empreendimento deve, de acordo com o art.47, inc.
VII do Código de Mineração, “não dificultar ou impossibilitar, por lavra ambiciosa, o
aproveitamento ulterior da jazida” (BRASIL, 1989), de modo a garantir que o bem mineral
seja aproveitado racionalmente e destinado ao uso geral da coletividade, sendo, este último,
a função social do bem mineral. Isto remete, ainda, ao termo sustentabilidade, uma vez
que busca aproveitar de maneira consciente os recursos naturais hoje, para que se possa
utilizá-los também futuramente.
Ainda segundo Poveda (2007, p. 52), “para o cumprimento efetivo da função social
da propriedade com vocação mineral o empreendedor deverá [. . . ] cumprir com outro
princípio fundamental do direito mineral [. . . ] que é a recuperação ou reabilitação da área
minerada”. Assim, os impactos econômicos e socioambientais gerados pela atividade devem
ser evitados, e, caso não seja possível, devem ser controlados e corrigidos.
3.2.5
Princípio da Recuperação e/ou Reabilitação da Área Degradada
O princípio da recuperação e/ou reabilitação da área degradada diz que toda
área ambientalmente impactada pela atividade de mineração deve ser recuperada ou
reabilitada quando do fim das operações, de maneira a garantir seu aproveitamento
posterior. É importante, no entanto, observar que em áreas impactadas pela mineração
torna-se praticamente impossível a recuperação, sendo viável técnica e economicamente a
reabilitação, termo “ligado à ideia de uso e ocupação do solo ou a uma relativa produtividade,
predefinida de acordo com um projeto de reutilização do local minerado: lazer, residencial,
comercial, industrial, dentre outros”. (KOPEZINSKI, 2000 apud POVEDA, 2007, p. 55)
De acordo com o art.19 da Lei n. 7805, de 18/07/1989, “o titular de autorização de
pesquisa, de permissão de lavra garimpeira, de concessão de lavra, de licenciamento ou de
manifesto de mina responde pelos danos causados ao meio ambiente” (BRASIL, 1989), ou
seja, quanto mais a empresa se preocupar em evitar e controlar os impactos gerados, menos
terá que se ocupar com a recuperação e/ou reabilitação, já que é sua a responsabilidade
pela área degradada.
3.3 A Rigidez Locacional
De acordo com Freire (2010, p. 51), “rigidez locacional significa que o empreendedor
não pode escolher livremente o local onde exercer sua atividade produtiva, porque as minas
devem ser lavradas onde a natureza as colocou” e isso provém do fato de que determinados
bens minerais se formam exclusivamente em determinados locais da crosta terrestre. Tal
característica justifica o fato de grande parte das atividades de mineração se localizar
fora dos centros urbanos, em cidades pequenas e afastadas, sem condições apropriadas de
5
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
suporte ao empreendimento, acrescida do fato de algumas regiões serem mais “ricas” em
bens minerais do que outras.
Além disso, a degradação ambiental em áreas de difícil recuperação posterior é
outro problema justificado pela rigidez locacional, bem como casos nos quais a mineração
pode ser “prejudicial” em âmbito social por estar situada em determinada região, por
vezes pequena e pouco desenvolvida, representando uma situação incômoda não só para
os investidores, mas também e principalmente para os moradores locais. Nesses casos, os
impactos sociais gerados serão tão preocupantes quanto os ambientais, já que a atividade
mineira é obrigada a ocorrer não no local onde é melhor para a comunidade, mas sim onde
encontram-se os bens minerais.
3.4 Impactos da Mineração nos Municípios Mineiros
Enriquéz diz que:
Como uma das mais antigas atividades produtivas exercidas pela humanidade, durante séculos a mineração movimentou e continua movimentando a economia de muitos povos. No entanto, ela também provocou e
ainda provoca graves distúrbios ecológicos e sociais nos espaços onde
ocorre. (ENRIQUÉZ, 2008, p. 109)
Por se instalarem, geralmente, em cidades pequenas, distantes dos principais centros
urbanos e comerciais, os empreendimentos mineiros levam consigo o desenvolvimento,
acompanhado, porém, por impactos ambientais, sociais e econômicos. Tais impactos são
gerados pela atividade de exploração propriamente dita e pelo crescimento local gerado a
partir dela, ou seja, além dos impactos diretos, geralmente ambientais, existem os impactos
ocasionados pela dependência da sociedade local com relação ao empreendimento, fator que
causa os impactos socioeconômicos. Quanto maior a dependência do município, maiores os
problemas causados pelos impactos gerados.
A análise prévia dos impactos é uma maneira eficiente de estudar e antecipar
possíveis problemas, buscando a tomada de medidas preventivas que evitem não somente a
degradação ambiental, mas também a socioeconômica. Esses estudos prévios devem ser
realizados antes do início das atividades de extração e precisam acompanhar toda a vida
útil do empreendimento, sendo alterados e atualizados quando necessário. Para casos em
que não seja possível evitar a geração de impactos, os planos de estudo devem contemplar
medidas de correção e amenização dos problemas, sempre estudados em momento anterior
ao início da exploração mineira, garantindo eficiência na recuperação que se busca promover.
3.4.1
Impactos Ambientais e a Rigidez Locacional nos Municípios Mineiros
De acordo com Ferreira e Monteiro (2012, p. 12), “a atividade minerária [. . . ] causa
impactos ambientais (visíveis e não visíveis) que atingem o meio biótico, com reflexos aos
meios físico e antrópico, uma vez que todos os elementos do ambiente estão interligados e
são dependentes entre si”. Ou seja, é impossível minerar sem que haja geração de impactos
ambientais, já que os bens minerais são extraídos do solo, causando a retirada parcial
ou completa da fauna e flora locais, além de atingir os cursos d’água, que poderão ser
alterados ou contaminados.
A já comentada rigidez locacional justifica tais impactos ambientais e, ainda, os
possíveis problemas para recuperação em áreas de difícil acesso ou Áreas de Preservação
6
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Permanente. Há casos em que os impactos ambientais poderiam ser reduzidos se a extração
ocorresse em outros locais.
No caso específico dos municípios de Barão de Cocais e São Gonçalo do Rio Abaixo,
pode-se perceber tal fato: como detém a maior parte dos impostos arrecadados (a CFEM
arrecadada por São Gonçalo do Rio Abaixo é cerca de cinco vezes maior em quantia do
que aquela arrecadada por Barão de Cocais, como demonstrado mais adiante na Figura 1),
a administração pública de São Gonçalo do Rio Abaixo possui melhores condições para
controlar os impactos gerados pela mineração, o que, no entanto, não se pode perceber com
a mesma facilidade em Barão de Cocais. Além disso, a construção de obras de apoio para
a Mina de Brucutu, próximas ao município de Barão de Cocais, cria impactos ambientais
muito significativos, prejudicando a população local. Podem ser citados, nesse cenário, a
interferência humana na fauna e flora locais, a alteração de relevo, a supressão de mata
nativa, além da contaminação de cursos d’água, impactos comuns causados pela mineração.
3.4.2
Impactos Sociais nos Municípios Mineiros
Além dos impactos ambientais, a mineração pode acarretar vários impactos sociais,
positivos ou negativos. Neste contexto, citam Ferreira e Monteiro:
A atividade minerária, embora essencial para o crescimento econômico,
possui inerente à sua natureza causar impactos negativos socioambientais e, caso a visão do seu exercício seja exclusivamente utilitarista, a
probabilidade de danos [. . . ] aumenta consideravelmente, bem como os
seus efeitos locais e globais. (FERREIRA; MONTEIRO, 2012, p. 15)
Por serem as empresas mineradoras obrigadas, na maioria das vezes, a se instalarem em cidades pequenas e sem oferta de mão de obra ou infraestrutura e suprimentos
necessários, um dos impactos negativos gerados é o grande número de pessoas e empresas
menores, vindas de outras regiões. Isso pode causar aumento de índices de criminalidade,
aumento no trânsito e no número de pessoas dependentes dos serviços básicos de saúde e
educação, além do perigo pela ocupação de áreas marginalizadas e de risco, devido à falta
de locais e planejamento adequados.
Por outro lado, o aumento de investimentos e recolhimento de impostos na cidade
pode, no caso de um bom planejamento por parte da administração pública, ser um grande
atrativo a instituições de ensino e capacitação, caracterizando investimento na mão de obra
local. Assim, percebe-se a importância, mais uma vez, dos estudos prévios, planejamento
e gerenciamento dos impactos causados, já que os mesmos podem ser minimizados e até
mesmo revertidos, quando bem “aproveitados”.
Os maiores impactos sociais causados pela mineração, no entanto, são percebidos
a partir do fechamento da mina, ou seja, da paralisação das atividades da empresa e do
fim do recolhimento de impostos, que alimentavam, ainda, o comércio, as instituições e
associações locais. Neste cenário, cita Enriquéz (2008) a respeito das chamadas “maldição
dos recursos” e “doença holandesa”, que demonstram como a presença privilegiada de
recursos minerais em determinada região pode prejudicar seu desenvolvimento, não somente
por promover a desvalorização dos outros setores da economia local, mas também por
incitar a dependência financeira da região.
7
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
3.4.3
Impactos Econômicos nos Municípios Mineiros
Além dos impactos ambientais e sociais, os impactos econômicos apresentam grande
influência na região do empreendimento minerário. Se o Município se torna socialmente
dependente do empreendimento, financeiramente a situação pode ser ainda mais grave no
caso da falta de planejamento por parte da empresa mineradora e da administração pública,
no que diz respeito a fontes alternativas de renda que não se relacionem diretamente com a
mineração. É importante, portanto, que o município seja o mínimo possível dependente do
empreendimento, de maneira que, ao fim de suas atividades, a saúde financeira da região
seja ao menos estável.
Neste contexto, vale observar o que cita Ludolf:
As localidades mineradoras [. . . ] são polos de atração de população por
conta da disponibilidade de empregos e da ampliação das possibilidades
de crescimento econômico em setores afins [. . . ]. Para garantir a realização desse crescimento e que a prosperidade do Município se prolongue
para além do ciclo exploratório da mineração, a participação do governo
se torna peça chave nesse jogo. (LUDOLF, 2011, p. 68)
Os aspectos positivos trazidos podem ser resumidos na geração de novos empregos,
melhoria no comércio regional, aumento de investimentos e recolhimento de impostos,
surgimento de pequenas empresas prestadoras de serviço, além de crescimento e desenvolvimento econômicos para a cidade e região. Por outro lado, a dependência financeira local em
relação ao empreendimento mineiro, traduz o principal impacto econômico. Vale observar
que “muitos dos Municípios do Brasil têm como principal fonte de arrecadação a CFEM,
não que seja o mecanismo mais eficiente na gestão ambiental, mas colabora de modo
decisivo no desenvolvimento dessas localidades” (LUDOLF, 2011, p. 73); ou seja, muitos
municípios encontram-se quase em situação total de dependência do empreendimento
mineiro, o que ressalta a relevância do estudo anterior que preveja e evite ou minimize
os impactos econômicos e socioambientais, propondo ainda medidas corretivas. No caso
de Barão de Cocais, a situação é ainda pior, já que o município não recebe os impostos
provenientes da Mina de Brucutu, sofrendo, no entanto, os impactos gerados.
3.5 Principal Imposto Arrecadado pelos Municípios Mineiros
A CFEM é um dos maiores impostos provenientes da mineração, responsável
por, em muitos casos, mudar a vida econômica, social e ambiental dos municípios onde a
mineração se encontra instalada. Deste imposto, a maior parte, cerca de 65% da arrecadação,
é destinada ao município, ficando seu gasto restrito, impedido para pagamento de dívidas ou
gastos com quadro de pessoal, por exemplo; ou seja, o dinheiro proveniente da CFEM para
o município hospedeiro do empreendimento mineiro deve ser investido na comunidade local,
convertido em melhorias na infraestrutura, na preservação do meio ambiente, na saúde e
educação, de acordo com o que dizem os Estudos Técnicos da Confederação Nacional dos
Municípios. (CNM, 2012)
Para os municípios, o recolhimento de impostos como a CFEM é de grande
valia e pode financiar a minimização e correção dos impactos gerados pela atividade
mineradora. O problema está, no entanto, no caso dos municípios vizinhos, aqueles que,
mesmo não abrigando territorialmente os empreendimentos mineiros, sofrem com os
problemas trazidos pela mina, sejam eles ambientais, sociais ou econômicos. Por beneficiar
somente o município que abriga a mina explorada, impostos como a CFEM podem causar
8
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Figura 1 – Arrecadação da CFEM nos Municípios em Minas Gerais. (Fonte: IBGE (2013))
uma extrema concentração de royalties, ou seja, muito dinheiro acumulado em poucos
municípios beneficiados.
No ano de 2013, a cidade de São Gonçalo do Rio Abaixo, de acordo com a Figura 1,
encontrava-se como o quarto município de maior arrecadação no estado de Minas Gerais,
devido à extração de minério de ferro da Mina de Brucutu. Por sua vez, Barão de Cocais,
que na época era o nono município mineiro em arrecadação, recebia praticamente a quinta
parte do valor destinado a São Gonçalo do Rio Abaixo - lembrando que esse valor arrecadado
por Barão de Cocais era devido a outras minas menores que se localizavam na cidade, já
que a Mina de Brucutu não gerava impostos para Barão de Cocais.
Devido a situações como esta, encontra-se em discussão no Parlamento Federal
Brasileiro o Projeto de Lei PL 5807/2013, conhecido como Novo Marco Legal da Mineração,
que altera o atual Código Mineral, Decreto-lei no 227/1967, e, dentre os demais objetivos, propõe uma nova forma de cálculo e cobrança dos royalties da exploração mineral,
aumentando a participação do Estado nos resultados econômicos gerados pela mineração:
A CFEM passaria a incidir sobre a receita bruta das empresas mineradoras com alíquotas
de até 4%, e não mais entre 1% e 3%. (MALERBA; MILANEZ; WANDERLEY, 2012).
Com este aumento na arrecadação, seria interessante a criação de um fundo nacional
para auxílio aos demais municípios impactados pelas atividades mineiras, além daqueles
que as abrigam territorialmente. Neste contexto, citam Malerba, Milanez e Wanderley:
Enquanto a definição de pagamento dos royalties do petróleo reconhece
que os municípios vizinhos também são impactados (pela poluição, pelo
transporte, pelo aumento da população etc.), o mesmo não ocorre no
caso da mineração, que limita o pagamento aos municípios onde se
encontra a lavra. [. . . ] Existe uma forte concentração da CFEM em
alguns poucos municípios. (MALERBA; MILANEZ; WANDERLEY,
2012, p. 70)
Tal fundo serviria para apoiar os municípios vizinhos, impactados e afetados negativamente pela mineração, minimizando os efeitos causados e incentivando o desenvolvimento
9
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
de outras atividades que sirvam de suporte quando do fim das atividades mineiras na
região, tornando tais municípios menos dependentes. Assim, o montante recolhido em
royalties seria dividido também entre os municípios impactados pelas produções minerárias,
e não mais somente entre aqueles que abrigarem territorialmente os empreendimentos. Isto
ajudaria os tais municípios vizinhos, que, como no caso de Barão de Cocais, recebem os
impactos gerados pela Mina de Brucutu, mesmo não tendo a mina dentro do seu espaço
territorial.
3.6 História da Mineração na Cidade de Barão de Cocais
Barão de Cocais é um município mineiro, localizado no Quadrilátero Ferrífero
e que possui, em seu território e arredores, várias minas de ouro e ferro. A exploração
destas reservas proporcionou à região grande desenvolvimento da capacidade produtiva,
melhorias na infraestrutura local e crescimento econômico, além de crescimento urbano,
sendo este último explicado tanto pelo fator atrativo das atividades mineradoras, quanto
pela descentralização do crescimento populacional do Estado em direção aos municípios.
(ALVES; DINIZ, 2008)
Nas Figuras 2 e 3, abaixo, pode-se observar o crescimento econômico de Barão de
Cocais e sua relação com a produção mineral.
Nos limites territoriais da cidade encontra-se a Mina de Gongo Soco, indicada
abaixo na Figura 4, descoberta em 1967, ano em que foram avaliadas as reservas de
minério de ferro na região [. . . ] pela então São Carlos Minérios. Em 1989, os direitos
minerais desta mina foram adquiridos pela empresa Mineração Socoimex Ltda., e, em
seguida, foram iniciadas as atividades de lavra juntamente às instalações de britagem e
peneiramento do minério de ferro. A Vale S.A. adquiriu a Mina de Gongo Soco do Grupo
Santa Inês/Mineração Socoimex em 2001 e, então foram paralisadas as pesquisas para ouro
com foco na exploração de minério de ferro. (INNOCENTINI, 2003 apud NETO, 2008)
Até hoje, a Mina de Gongo Soco é a principal mina que contribui para o crescimento
econômico de Barão de Cocais, cidade que recebe, no entanto, impactos de outras minas
localizadas fora do seu território geográfico, tais como a própria Mina de Brucutu, situada
em São Gonçalo do Rio Abaixo, além das minas de ouro Córrego do Sítio I e II.
Figura 2 – Arrecadação da CFEM no Município de Barão de Cocais em 2006. (Fonte:
DNPM (2013))
10
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Figura 3 – Arrecadação da CFEM no Município de Barão de Cocais em 2013. (Fonte:
DNPM (2013)
Figura 4 – Mapa das cidades de São Gonçalo do Rio Abaixo e Barão de Cocais. (Fonte:
Google Maps (2015)
3.7 Mina de Brucutu
De acordo com informações adquiridas na compensação ambiental da Mina de
Brucutu, GCA/DIAP No 231/2013, este empreendimento está localizado no Município
de São Gonçalo do Rio Abaixo, na bacia do Rio Doce, sub-bacia do Rio Piracicaba, e é
uma mina de lavra a céu aberto. Os principais minerais processados até o momento são
a hematita, com o teor de 62,73% de ferro, e o minério itabirítico, com 48,61% de ferro.
As reservas lavráveis de Brucutu somam 609,6 Mt de minério de ferro por ano, e serão
movimentadas em média 32 Mt, com capacidade para até 40 Mt, gerando dois produtos: 8
Mt de hematita (finos) e 25 Mt de itabirito. A vida útil projetada para o empreendimento
é de 16 anos.
11
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
A Mina de Brucutu foi um grande projeto implantado na pequena cidade de São
Gonçalo do Rio Abaixo, município pouco desenvolvido e sem infraestrutura, porém que
concentrava uma das maiores reservas de minério de ferro do Brasil.
3.8 Impactos Causados pela Mina de Brucutu na Cidade de Barão de Cocais
A cidade de Barão de Cocais sofreu diretamente os impactos gerados pela implementação da Mina de Brucutu, mesmo sem abrigá-la territorialmente, como já citado
anteriormente.
Entre os efeitos sociais causados, o crescimento desordenado da cidade devido à
chegada de trabalhadores de empresas terceirizadas modificou o cotidiano da cidade, que
precisou se adaptar ao crescente fluxo de pessoas, ao aumento do custo de vida nos setores
imobiliário e alimentício, bem como ao aumento de índices de criminalidade, superlotação
de bancos, hospitais e demais serviços públicos. A chegada de cerca de 7.000 (sete mil)
novos habitantes, devido às atividades da Mina de Brucutu (ALVES; DINIZ, 2008), trouxe
novas realidades ao município de Barão de Cocais, conforme dados da Polícia Militar local
(2006), e houve um aumento considerável das ocorrências policiais, bem como do fluxo de
veículos, causando engarrafamentos e prejudicando o trânsito da cidade.
Por outro lado, de acordo com dados do Censo Demográfico de 2010, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa anual de crescimento da população
urbana de Barão de Cocais foi de 1,22%, entre os anos de 2001 e 2010. Acompanhando
este inchaço populacional, houve uma significativa redução da taxa de analfabetismo da
população de 15 anos ou mais de idade, de 9,3%, em 2000, para 4,7%, em 2010, o que
significa melhorias na educação do município, trazidas pelo aumento de investimentos na
qualidade do setor, levando, ainda, a um aumento do Índice de Desenvolvimento Humano
do Município, o IDH, que passou de 0,613, no ano 2000, para 0,722, no ano de 2010.
Levando em conta o crescimento econômico, cita Alves e Diniz:
Barão de Cocais apresentou um grande crescimento econômico nos últimos anos. [. . . ] O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 170%, saltando
de 59 milhões, em 1996, para 162 milhões, em 2002. O PIB per capita cresceu 161%, passando de R2650, 00 para RS6.920, 00, no mesmo
período. Barão de Cocais obteve [. . . ] um dos maiores crescimentos
econômicos de Minas Gerais. (ALVES; DINIZ, 2008, p. 86)
Na parte ambiental, Barão de Cocais vem sofrendo os impactos da construção da
Barragem Norte da Mina de Brucutu, que receberá o rejeito gerado pela usina da Mina de
Brucutu e está sendo construída dentro do território da cidade, na comunidade denominada
Brumadinho, causando desapropriações e transferências de antigos moradores locais.
A Barragem Norte terá 94% de sua área construída dentro do território de Barão
de Cocais, devendo cobrir uma área de 850 hectares de Mata Atlântica e afetar espécies da
região (CIDADEMAIS, 2008). De acordo com o Parecer Único SUPRAM No 007/2013,
a Barragem Norte terá capacidade de conter cerca de 307 milhões de m3 de rejeitos,
considerando a otimização da disposição na Barragem Sul, atualmente utilizada. O reservatório final da Barragem Norte ocupará parte das sub-bacias hidrográficas dos córregos
Laranjeiras, Torto/Brumadinho e Tamanduá, afluentes do Rio Una, afluente do Rio Santa
Bárbara, totalizando aproximadamente 360 ha de área diretamente afetada.
12
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Apesar dos impactos gerados inicialmente, tais como desvio de cursos d’água e
supressão de vegetação, as obras da barragem são necessárias já que, sem ela, a mina não
poderá dar continuidade às suas operações, prejudicando não somente o município de São
Gonçalo do Rio Abaixo, mas todo o país. É importante, no entanto, atentar para o fato
de que uma obra como esta pode trazer, além dos impactos iniciais, seríssimos problemas
ambientais e sociais no caso de um possível rompimento, devastando completamente a
fauna e flora locais e ameaçando completamente os cursos d’água e as vidas dos moradores
da região.
4 CONCLUSÃO
Neste trabalho, os municípios de São Gonçalo do Rio Abaixo e Barão de Cocais,
situados em Minas Gerais, foram estudados devido à exploração mineral presente e as
transformações trazidas por ela, exemplificadas pelo aquecimento econômico e transtornos
socioambientais. O principal empreendimento mineiro existente na região, a Mina de
Brucutu, impactou de maneira positiva e negativa as duas cidades, gerando, no entanto,
arrecadação de impostos somente para São Gonçalo do Rio Abaixo, único município que
abriga territorialmente a mina.
A pesquisa desenvolvida trouxe a percepção da importância da arrecadação de
impostos como a CFEM para os municípios que abrigam empreendimentos minerários e
sentem os impactos gerados por essa atividade, como foi o caso de São Gonçalo do Rio
Abaixo. É importante perceber, ainda, que os mesmos impactos acometem também aqueles
municípios vizinhos, que, caso não abriguem territorialmente o empreendimento mineiro,
não recolherão os impostos pertinentes.
Desta forma, algumas cidades podem se encontrar em situação de necessidade de
controle, minimização ou correção de problemas provenientes dos impactos gerados pela
mineração, sem, no entanto, receber os benefícios gerados por esta mesma atividade, como
é o caso de Barão de Cocais. Este município recebeu os impactos ambientais, sociais e
econômicos gerados pela Mina de Brucutu, porém sem arrecadação de impostos como a
CFEM, que, neste estudo de caso, contemplou somente São Gonçalo do Rio Abaixo.
A solução proposta neste trabalho abrange um projeto de lei que já está sendo
analisado, dentro do Novo Marco Legal da Mineração, e trata de uma maior arrecadação
da CFEM, o que possibilitaria a criação de um fundo nacional para contemplar aqueles
municípios vizinhos que, apesar de não abrigarem territorialmente os empreendimentos
mineiros, sofrem os impactos causados. Tal mudança pode ajudar esses municípios vizinhos
a melhorar sua infraestrutura, realizando projetos para controle e minimização dos impactos
oriundos da extração mineral. É preciso, no entanto, um planejamento eficiente e que vise,
além do desenvolvimento local, o incentivo a outras atividades, tornando a região menos
dependente exclusivamente da atividade minerária.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, A. N. Histórico e importância da mineração no estado. Revista do
13
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
Legislativo, Itaúna, n. 41, p. 28–32, jan/dez 2008. Disponível em: <http:
//dspace.almg.gov.br/xmlui/bitstream/handle/11037/1589/1589.pdf?sequence=1>.
Acesso em: 30 out. 2013.
ALVES, M. A.; DINIZ, A. M. A. O zoneamento morfológico funcional das cidades médias
mineiras: o exemplo de barão de cocais. Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. 20, p.
79–91, dez. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sn/v20n2/a05v20n2.pdf>.
Acesso em: 30 out. 2013.
BRASIL. Lei n. 7.805, de 18 de julho de 1989. Informações da Legislação. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Brasília, 20 jun. 1989. Disponível em: <http:
//www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=67&IDPagina=84&IDLegislacao=14>.
Acesso em: 02 nov. 2013.
BRASIL. Projeto de Lei 5.807, de 24 de junho de 2013. Dispõe sobre a atividade de
mineração, cria o Conselho Nacional de Política Mineral e a Agência Nacional de mineração
– ANM, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, 24 jun. 2013. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/proposicoesWeb/
prop_mostrarintegra;jsessionid=075603D76D6F37A7D36A4690A1377E9B.node1?
codteor=1101998&filename=Avulso+-PL+5807/2013>. Acesso em: 30 out. 2013.
BRASIL. Confederação Nacional de Municípios. Entenda a CFEM (Compensação
Financeira pela Exploração de Recursos Minerais). Estudos Técnicos, Brasília, v. 5,
p. 179–188, 2012. Disponível em: <http://www.cnm.org.br/portal/dmdocuments/ET%
20Vol%205%20-%2014.%20Entenda%20a%20CFEM.pdf>. Acesso em: 29 out. 2013.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil, Brasilia, 05 out. 1988. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/
constituicao1988.html/ConstituicaoTextoAtualizado_EC84.pdf>. Acesso em: 31 out.
2013.
BRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral. Arrecadações da CFEM
em Barão de Cocais e São Gonçalo do Rio Abaixo. 2013. Disponível
em: <https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_
arrecadadores.aspx>. Acesso em: 31 out. 2013.
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Plano nacional de mineração 2030 pnm 2030. Diário Oficial da União, Brasília, 2011. Disponível em: <http:
//www.mme.gov.br/documents/1138775/1732821/Book_PNM_2030_2.pdf/
f7cc76c1-2d3b-4490-9d45-d725801c3522>. Acesso em: 30 out 2013.
ENRIQUÉZ, M. A. R. da S. Maldição ou dádiva? Os dilemas do desenvolvimento
sustentável a partir de uma base mineira. Brasilia: Signus, 2008.
FERREIRA, A. B. de B.; MONTEIRO, F. X. Uma análise em busca da compatibilização
da atividade minerária e o equilíbrio socioambiental a partir do plano nacional de
mineração 2030. In: CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI/UFF, 21., 2012, Niteroi.
Direito Ambiental 2. [S.l.], 2012. p. 138–164.
FREIRE, W. Código de mineração anotado. 5 ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte:
Mandamentos, 2010.
14
ARAUJO; MORAIS., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE.
Infográficos: Dados gerais do Município Barão de Cocais. 2013. Disponível em:
<http://cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?codmun=310540>. Acesso em: 10 jan.
2016.
GERMANY, D. J. A mineração no Brasil. Relatório Final. Rio de Janeiro:
CTMineral - Secretaria Técnica do Fundo Setorial Mineral - Centro de Gestão
e Estudos Estratégicos - Ciência, Tecnologia e Inovação, 2002. Disponível em:
<http://www.finep.gov.br/images/a-finep/fontes-de-orcamento/fundos-setoriais/
ct-mineral/a-mineracao-no-brasil.pdf>. Acesso em: 30 out. 2013.
GOOGLE MAPS. 2015.
GUIO, L. B. A função social da atividade minerária. Jus Navigandi, Teresina, ano 17,
n. 3136, 1 fev. 2012. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/20998>. Acesso em: 1
nov. 2013.
LUDOLF, R. O. O mapa da mina: o tesouro e a sociedade. 2011. 115 f. Dissertação
(Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano) — Departamento de Ciências
Sociais Aplicadas, Universidade Salvador, Salvador, 2011. Disponível em: <http:
//www.slideshare.net//rafaludolf/o-mapa-da-mina-o-impacto-social-da-mineracao>.
Acesso em: 03 nov. 2013.
MALERBA, J.; MILANEZ, B.; WANDERLEY, L. J. Novo Marco Legal da
Mineração no Brasil: Para quê? para quem? 1. ed. Rio de Janeiro: Federação
de Órgãos para Assistência Social e Educacional - Fase, 2012. Disponível em:
<http://fase.org.br/wp-content/uploads/2012/09/Novo+Marco+Legal+da+Mineracao+
no+Brasil+-+FASE.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2015.
MINERADORA afirma que impactos serão minimizados. CidadeMais, João Monlevade,
10 jun. 2008. Disponível em: <http://www.cidademais.com.br/noticias/?id=20550>.
Acesso em: 26 out. 2013.
NETO, S. E. Avaliação mínero-geoambiental da mina de Gongo Soco para fins
de descomissionamento - Propostas. 2008. 202 f. Dissertação (Mestrado Profissional
em Engenharia Geotécnica) — Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto,
Ouro Preto, 2008. Disponível em: <http://www.nugeo.ufop.br/joomla/attachments/
article/11/paginasarquivos_16_95.pdf>. Acesso em: 01 set. 2013.
POVEDA, E. P. A eficácia legal na desativação de empreendimentos minerários.
1. ed. São Paulo: Signus Editora, 2007.
SILVA, O. P. da. A mineração em Minas Gerais: passado, presente e futuro.
Geonomos, Belo Horizonte, v. 3, n. 1, p. 77–86, jan/dez. 1995. Disponível em: <http:
//www.igc.ufmg.br/portaldeperiodicos/index.php/geonomos/article/view/217/196>.
Acesso em: 30 out. 2013.
15
Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social
VOL. 1, NUM. 1, 2016
reis-017, p.1-11
www.faenge.uemg.br
Os desafios de educar em valores na atualidade
Challenges of the education in values at present
T. E. D. Ferreira∗
Departamento de Ciências Sociais, Humanas, Letras e Artes, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade - MG, Brasil
∗[email protected]
Resumo
Todas as sociedades, ao longo da história, preocuparam-se em transmitir às gerações
mais jovens os valores locais, aqueles considerados significativos para a manutenção da
sua cultura e para a preservação da sua própria espécie. Assim sendo, podemos afirmar
que os valores são, em primeiro momento, uma herança cultural. Atualmente, a ideia
predominante é que as instituições escolares têm como encargo social formar as novas
gerações e preparar os adultos para a prática da cidadania e da democracia, assumindo
entre suas tarefas as questões referentes à educação em valores morais, complementando
uma função que, a princípio, deveria ser iniciada, cultivada e valorizada pela família.
Porém, muito se debate sobre uma suposta crise de valores éticos, acentuada pela
vivência em um mundo capitalista que prega a competição, a individualidade e o egoísmo.
Este artigo aborda um tema muito discutido e controverso da sociedade contemporânea:
a crise dos valores e a falta de ética nos mais diversos setores sociais. Partindo de
uma definição histórica do conceito de valor, o artigo expõe a sua relação com o
complexo processo de educação da personalidade humana e o papel nele desempenhado
pelas instituições escolares. Trata-se de uma revisão bibliográfica a respeito do tema,
apresentando importantes citações de filósofos, antropólogos, sociólogos, pedagogos e
psicólogos, que buscaram compreender um pouco sobre a estreita relação entre valor
ético, moral e educação.
Palavras-chave: valores, ética, moral educação.
....................................................................................
All societies throughout history were concerned about transmitting to younger generations the local values,
those considered significant for the maintenance of their culture and the preservation of their own species.
Therefore, we can say that the values are, at first, a cultural heritage. Currently, the prevailing idea is that
educational institutions have a social duty of forming new generations and preparing adults for the practice
of citizenship and democracy, assuming among its tasks the issues of education in moral values, complementing a role that should be initiated and valued by the family. However, there is a considerable debate about
an alleged crisis of ethical values, enhanced by capitalism that preaches the competition, individuality and
selfishness. This article addresses a widely discussed and controversial topic of contemporary society: the
crisis of values and the lack of ethics in various social sectors. From a historical definition of value, the
article sets out its relationship with the complex process of education of the human personality and the role
played by educational institutions. This is a literature review on the subject, and presents important quotes
from philosophers, anthropologists, sociologists, pedagogues and psychologists who sought to understand,
at least in pout, the close relationship between ethical value, moral and education.
Keywords:Values, ethics, moral, education.
Ferreira., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
1 INTRODUÇÃO
Todas as civilizações, em diversos estágios de desenvolvimento e de variadas culturas,
demonstraram, ao longo da história da humanidade, a preocupação em educar os mais
jovens de acordo com os valores considerados indispensáveis para a sua comunidade.
Aristóteles (2009), em sua “Ética a Nicômano”, no século IV a.C., afirmava que a virtude
intelectual é adquirida com o tempo, ao passo que a virtude moral é adquirida pelo hábito.
Segundo ele, a natureza não nos dá virtudes, mas sim a capacidade de adquiri-la e, essa
aperfeiçoa-se pelo hábito. Assim, (para o pensador) é praticando a justiça que nos tornamos
justos.
A importância de educar o homem em valores que sustentam a sociedade em
que vive e o significado dessa transmissão na conservação da própria espécie é objeto de
discussão, análise e reflexão em eventos educacionais brasileiros, de caráter nacional e
internacional. Como exemplo do argumento citado, pesquisa realizada pela autora sobre
os temas mais recorrentes dos últimos doze congressos e simpósios internacionais sobre
educação e formação de professores organizados pela Conexa Eventos, considerada a maior
empresa de Minas Gerais no setor, de 2010 a 2015, aponta o tema educar em valores
como presente em oito deles, de maneira direta ou diluído em outros temas relacionados.
A educação em valores constitui um objetivo de primeira ordem para a comunidade
mundial, o qual tem alcançado especial relevância a partir do final da década de 1990 do
século XX, tanto nos relatórios internacionais para organizações como a Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) e a Organização dos
Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), como na fala de
pesquisadores, professores, pais e até mesmo dos próprios estudantes. Segundo o Relatório
para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI,
No aspecto socioafetivo, espera-se que os indivíduos e a sociedade
comportem-se de acordo com os avanços civilizatórios. As mudanças
esperadas, neste último caso, relacionam-se com valores no campo da
moral e da estética. Espera-se que a educação promova convivência
harmoniosa, respeito mútuo, desenvolvimento, respeito pelas diferenças,
uso responsável dos recursos naturais, admiração pela beleza de criações
de arte e muitas outras virtudes que podem tornar a vida mais feliz
(DELORS et al., 1998, p. 11).
As famílias, as instituições sociais, a mídia e as escolas brasileiras, nos seus diversos
segmentos, reconhecem a estreita relação entre valores éticos, moral e educação. Entretanto,
na prática, o que se observa é um menosprezo em relação ao tema, tanto nos diálogos
familiares, quando ocorrem, quanto nos currículos e no quotidiano escolar. No Ensino
Fundamental, os problemas relacionados à ética ficam reduzidos a um recorte disciplinar
ou a algum tipo de atividade transversal proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Nos cursos de ciências exatas das universidades brasileiras, tomando como referência os
cursos de engenharia da Faculdade de Engenharia de João Monlevade - FaEnge/UEMG,
área de trabalho da pesquisadora, os debates sobre o tema, quando ocorrem, restringem-se
à disciplina de Sociologia e Filosofia. Assim, novamente referenciando Aristóteles quando
fala que é praticando a justiça que o homem aprende a ser justo, justifica-se, no interior
das próprias instituições de ensino brasileiras, tantas ocorrências de falta de respeito,
intolerância e preconceito de diversas naturezas.
As considerações inseridas neste artigo têm como referência parte do marco teórico
2
Ferreira., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
de uma pesquisa para tese doutoral1 em Educação da autora deste trabalho, em andamento,
e tem como objetivo resgatar o conceito de valor através da história, além de demonstrar
o papel dos professores na educação em valores, como parte de um processo amplo e
complexo que é o da formação e educação da personalidade humana.
2 A NOÇÃO DE VALOR ATRAVÉS DO TEMPO
Desde a Antiguidade, o termo valor foi usado para designar a utilidade de alguns
bens materiais ou o mérito de pessoas (GOERGEN, 2005). Segundo Lalande (1999), na
sua obra Vocabulário técnico e crítico da Filosofia, há muitos sentidos para o termo valor.
A Axiologia é a disciplina filosófica que estuda os valores. A palavra vem do grego “axis”,
precioso, valioso, e “logus”, estudo. Assim, significa a teoria crítica dos valores. O seu
uso filosófico começou com os estoicos que introduziram o termo no domínio da ética,
chamando de valor os objetos de escolhas morais. Sócrates foi o primeiro pensador a discutir
o termo. Ele incorporava o ideal de educador que acreditava que a moral não poderia
ser ensinada, fazendo com que os jovens percebessem que a virtude não decorre de um
processo racional de explicação de conceitos, mas de uma reflexão pessoal sobre as decisões
acertadas. Nos diálogos de Platão (2005), fica evidenciado que as principais virtudes são
os valores pessoais. Toda a ética de Aristóteles (2009) remete à phronesis, excelência ou
virtude de uma das partes da alma capaz de razão, e, como tal, uma possibilidade extrema
do humano, levando-o a agir sobre o mundo na busca da felicidade, fim último do homem.
Para Aristóteles, a ordem, a vida e a racionalidade do mundo dependem de Deus. O
racionalismo é a característica fundamental da moral aristotélica e a virtude é vista pelo
filósofo como uma ação consciente segundo a razão. Mas, para ele, as virtudes éticas e
morais não são decorrentes apenas de uma atividade racional, como as virtudes intelectuais,
pois envolvem um elemento sentimental, afetivo, que, apesar de governado pela razão não
pode ser resolvido totalmente por ela.
Goergen (2005) destaca alguns pensadores que se dedicaram ao estudo do valor ao
longo da história. Ressalta que Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino e alguns filósofos
renascentistas pensaram a moral a partir do indivíduo. Afirma que na época moderna, o
pensador político inglês Thomas Hobbes (1588-1679) retoma a noção subjetiva de valor
ao dizer que ele não é absoluto, mas dependeria da necessidade de um juízo. Considera
que o filósofo iluminista prussiano Immanuel Kant (1724-1804) e o empirista inglês David
Hume (1711-1776) atribuíram à religião o ponto de vista avaliativo e à filosofia o ponto
de vista intelectual (explicativo) do conhecimento “noético” (do grego nous, mente). Já
Rousseau, na sua obra Emílio ou Da Educação 1992, propõe o retorno do homem ao estado
natural, livre das influências negativas da sociedade. Heinrich Rickert (1863-1936), alemão
de origem polonesa, menciona seis domínios de valor: a lógica, a estética, a mística, a ética,
a erótica e a filosofia religiosa. O filósofo aponta um bem para cada um desses domínios,
sendo respectivamente, a ciência, a arte, o uno/todo, a comunidade livre, a comunidade
do amor e o mundo divino. Já o intuicionismo de Max Sheler (1874-1936) aponta o valor
como objeto intencional do sentimento, assim como a realidade é o objeto intencional do
conhecimento. Para Nicolai Hartmann (1822-1950), os valores são relacionais, porque só
existem em relação ao homem, mas são imutáveis e absolutos, portanto, não são relativos.
O austríaco Christian Ehrenfels (1859-1932) definiu o valor como simples desejabilidade,
1
Tese de doutoramento em Educação pela Universidad SEK de Santiago do Chile, iniciada em janeiro de
2015, cujo título é “Los valores históricos en cuestión: desafios y problemáticas de la enseñanza actual
de la Historia para la juventud en Brasil”.
3
Ferreira., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
introduzindo a noção de possibilidade e dando origem ao relativismo dos valores. Na
concepção do psicólogo alemão Wilhelm Dilthey (1833-1911), os valores são determinados
pela história e reconhecidos pelo homem em determinadas circunstâncias. A mesma posição
foi defendida pelo alemão Max Weber (1864-1920) que atribuía à história o poder de criar
valores relativos. O filósofo e pedagogo norte americano John Dewey (1859-1952) definiu a
filosofia como sendo a crítica dos valores e afirmou que toda valoração inteligente é também
crítica. O psicólogo polonês Rokeach (1918-1988) definiu valor “como uma preferência
permanente para uma conduta concreta ou para um estado final de ser” (ROKEACH,
1973).
Para Goergen (2005), os caminhos do termo valor no mundo atual devem-se, em
parte, à produção do filósofo alemão Nietzsche (1844-1900) e à grande repercussão da sua
tentativa de inverter os valores ditos como tradicionais. A partir de sua obra, o conceito
valor tornou-se um dos temas centrais da Filosofia, em torno do qual gira sua discussão
moral. É nessa época que se estabelece a distinção entre o conceito metafísico ou absoluto
de valor (independente da relação com o homem) e o conceito empirista ou subjetivista
(inclui a relação com o homem e o mundo).
O sociólogo francês Emile Durkheim (1858-1917) foi o primeiro a desenvolver de
forma sistemática a ideia que a educação aparece estreitamente vinculada ao resto das
atividades sociais e a define como a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas
que ainda não estão maduras para a vida social, destacando o papel da família e dos
professores na transmissão dos valores importantes para a vida em sociedade (DURKHEIM,
1984, p. 13). Assim, “Durkheim identifica a educação com socialização, enquanto ação
unilateral dos mais velhos para os mais novos e enquanto determinismo do social sobre o
individual” (CARIA, 1992, p. 171). Para o sociólogo, de acordo com Caria (1992), essa
socialização metódica tem em vista realizar um certo ideal de homem que é, em certa
medida, o mesmo para todos os cidadãos, pois uma sociedade somente poderá sobreviver se
entre seus membros existir uma certa homogeneidade. Segundo o mesmo autor 1992, coube
aos franceses Bourdieu e Passeron 1987 o mérito de ultrapassar as limitações do conceito
durkheimiano de educação quando evidenciam que: os valores e o patrimônio cultural da
sociedade não são consensuais; as ações exercidas pelas famílias e pela escola nem sempre se
complementam harmoniosamente; a socialização é uma pedagogia particular, considerando
a família o lugar onde é mais consequentemente realizada.
O psicólogo cognitivo e educacional norte-americano, Gardner 2000, conceitua a
educação como um processo comprometido com a promoção de três princípios fundamentais:
verdade, bondade e beleza. Segundo ele, na busca da verdade as pessoas devem examinar
a vida nos planos físicos, biológicos e sociais, de acordo com a ciência. No âmbito da
beleza, devem produzir e apreciar criações que aprofundem o sentimento de admiração
pela vida e pelo mundo. No âmbito da bondade, deve-se buscar um desenvolvimento moral
correspondente aos avanços civilizatórios que garantam o respeito pelo outro.
3 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE E
SUA ESTRUTURA
O ponto culminante do estudo da psiqué está no estudo da personalidade humana
(LEYVA; MARTÍN, 2010). O processo de educação da personalidade é muito complexo e
diverso. Se pensarmos em um grupo de estudantes para os quais lecionamos, nos daremos
conta facilmente que cada estudante apresenta características pessoais que podem ser muito
4
Ferreira., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
diferentes, cada um terá seus próprios problemas, nem todos assimilam os conhecimentos
da mesma forma e a relação individual do professor com cada um deles não é a mesma. O
trabalho educativo, portanto, não será igual para todos e o professor, principalmente das
séries iniciais, deve antes de tudo, caracterizar a personalidade de cada aluno para poder
influir positivamente em sua educação.
Segundo Leyva e Martín (2010), a personalidade se adquire mediante um processo
que é condicionado histórico-socialmente, graças à atividade de cada ser humano, no
processo de comunicação com as demais pessoas. Ao nascer, o homem é simplesmente um
indivíduo pertencente à espécie humana e é através da interação com a realidade e de suas
relações sociais que define sua personalidade.
Definir uma personalidade própria significa não somente adaptar-se ao meio, mas
também atuar de maneira ativa sobre o mesmo, transformando-o e transformando a si
próprio.
A personalidade é um produto relativamente tardio no desenvolvimento do ser
humano e se manifesta definitivamente na fase adulta, porém, suas qualidades começam a
formar-se muito cedo, através de um processo que atravessa várias etapas da vida.
Os conteúdos psicológicos da personalidade são aqueles considerados essenciais
para um indivíduo, significativos em sua vida, e que, uma vez personalizados, determinam
o nível de autorregulação do comportamento, expresso de maneira individualizada em cada
pessoa.
Qualquer conteúdo da personalidade participa na função reguladora do comportamento humano e representa um determinado nível de integração entre o afetivo e o
cognitivo. Nesse sentido, Rey e Mitjans (1989, p. 19) afirmam que “ [...] o homem se em
unidades cognitivo-afetivas para regular todas as esferas de um comportamento”. De acordo
com os mesmos autores (1989), existem três níveis de integração dos conteúdos psicológicos
da personalidade:
A) As unidades psicológicas primárias, definidas por ele como “uma integração
cognitivo-afetiva relativamente estável que atua de maneira imediata sobre o comportamento, mediante situações vinculadas à sua ação reguladora” (REY; MITJANS,
1989, p. 20). Exemplos dessas unidades são os motivos, as atitudes, os estereótipos,
os traços da personalidade, as normas e os valores. Esses conteúdos se caracterizam
por serem conteúdos significativos e importantes para o sujeito, por possuírem uma
relativa estabilidade (dificilmente mudam), uma insuficiente reflexão, uma forte carga
emocional e por atuarem de maneira rápida, direta e imediata sobre a regulação do
comportamento de um indivíduo.
B) As formações psicológicas, que expressam um nível de integração dos conteúdos
psicológicos de natureza mais complexa e se apoiam em motivos que ocupam os
primeiros lugares da hierarquia motivacional. Os conteúdos adquirem um caráter
muito pessoal porque dependem da interpretação e elaboração de cada pessoa. São
conteúdos relativamente estáveis e se orientam para regular o comportamento através
de objetivos e estratégias a largo prazo. Entre esses conteúdos podemos destacar
o interesse, os ideais, a autovalorização, as intenções profissionais, a concepção de
mundo e o caráter.
C) Síntese reguladora, que expressa um nível superior de conteúdos psicológicos da
personalidade humana e se caracteriza pela integração das formações psicológicas
5
Ferreira., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
citadas anteriormente.
Assim, temos que as normas e os valores constituem conteúdos psicológicos de
primeiro nível, existindo uma estreita relação entre eles. As normas não são mais que
um conjunto de regras que expressam um modelo de conduta a seguir pelos membros
de um grupo em correspondência com os valores sociais que eles assumem. Portanto,
as normas definem ideias reguladoras do comportamento dos membros de um grupo
social, determinando o que devem fazer seus integrantes, que conduta se espera deles em
determinadas circunstâncias. Quando essas normas são interiorizadas, atuam de forma
direta e imediata na regulação do comportamento das pessoas de uma determinada
sociedade.
Quando falamos de valores, fazemos referência a determinados conteúdos que
expressam o significado que distintos objetos, situações e ideias têm para um sujeito. Essa
significação é tal que um valor se converte em um padrão que o indivíduo utiliza para
avaliar a pertinência ou não de sua conduta e de demais pessoas do seu grupo social (REY;
MITJANS, 1989).
4 A FORMAÇÃO DO SUJEITO MORAL
Segundo Goergen (2005), quando se impõe uma concepção relativa de valores,
porque os valores absolutos entraram em crise, não se reconhece mais a possibilidade de
soluções universais para os problemas morais. De acordo com o autor, isso não significa
a imposição da indiferença ou o relativismo diante das controvérsias morais. Do ponto
de vista educacional, que é o nosso objetivo como educadores, significa que o professor,
de qualquer segmento da educação, tem um papel muito importante ao proporcionar
momentos de reflexão entre os alunos, favorecendo sempre a discussão sobre quais são os
valores com os quais devem sentir-se comprometidos. No presente artigo, toma-se como
definição de moral “o conjunto de regras de conduta adotadas pelos indivíduos de um grupo
social que tem por finalidade organizar as relações interpessoais segundo os valores do
bem e do mal” (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 119). Da mesma maneira, “[...] entende-se
por ética como sendo a reflexão sobre a moral ou como sendo a parte da Filosofia que se
ocupa em questionar o conjunto de normas e regras morais de uma determinada sociedade”
(LIMA, 1984, p. 40).
Uma das principais características de uma compreensão moral é a percepção do
valor como processo e não como algo estático. Ele depende das experiências e do nível de
amadurecimento dos indivíduos. Por ser um processo complexo, a formação moral não
pode basear-se em qualquer tentativa de persuadir os jovens a, simplesmente, aceitar um
conjunto predeterminado de valores. A educação moral deve ser considerada como um
aspecto da educação integral. No sentido mais amplo, a educação busca formar um ser
humano capaz de lidar com o meio em que vive e com os outros, mas não é uma simples
adaptação. Segundo Puig (1988, p.24), a educação “não busca uma adaptação fixa, e sim
uma adaptação sempre inacabada, uma adaptação otimizante, crítica e evolutiva.” Goergen
(2005) assinala que em uma sociedade com tantas injustiças, é necessário refletir sobre a
orientação que desejamos dar ao processo de aprendizagem de nossos jovens alunos, levando
em consideração as particularidades e exigências do mundo atual, as características dos
estudantes, suas condições materiais e as peculiaridades de cada curso.
Aristóteles (2009) alegava que as condutas podem ser corretas ou equivocadas
por direito próprio. Piaget (1994) estudou esse assunto nas crianças e descobriu que a
6
Ferreira., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
consideração de intenções é uma postura moral mais madura do que basear-se simplesmente
nas consequências da conduta. A conduta é o primeiro elemento de nossa autonomia moral.
“As raízes da palavra caráter vêm do grego marcar e sugere uma proposta sobre a conduta
observável” (ABBRAGNANO, 1998, p. 116). À semelhança do citado autor (1998), aqui
será definido caráter como personalidade, isto é, como a tendência única e permanente de
um indivíduo atuar de um modo determinado e não de outra maneira.
De acordo com Goergen (2005), o homem só pode ser um sujeito moral porque
é indeterminado e livre. Se fosse programado como os animais, não se poderia falar
de moralidade. Mas a liberdade implica a capacidade de refletir sobre o processo de
aprendizagem e de dar a ele a orientação que desejamos. Assim, a educação moral é a
busca de um caminho pessoal para uma vida consciente, livre e responsável.
Ao educador, ressaltamos que sua influência deve contribuir para a formação de
sujeitos autônomos e conscientes, capazes de tomar atitudes e de fazer decisões na busca
de sua felicidade e realização pessoal, mas preservando interesses tanto individuais quanto
sociais.
Na atualidade, existe um interessante Programa de Educação em Valores Humanos
(PEVH), criado há cerca de trinta anos especialmente para o trabalho de educadores,
integrando filosofias e técnicas internacionais que visam ao estabelecimento de uma nova
realidade e uma ordem social mais humana, a partir do conhecimento (educação e instrução).
De acordo com Martinelli (1996), educadora, jornalista e uma das primeiras divulgadoras
do Programa no Brasil, ele propõe uma educação universalista, humanista e espiritual,
resgatando valores humanos presentes em todas as famílias, culturas e religiões. É a busca
pelo modelo de caráter de um ser humano universal, com consciência ampliada, sem
preconceitos e separatismos. União salutar entre os pensamentos ocidentais e orientais,
tal Programa já é adotado em escolas de 130 países que investem na educação em valores
humanos. Como exemplo brasileiro, o Campus Universitário Bezerra de Menezes, em
Curitiba, realiza um trabalho pedagógico com base nas propostas do PEVH.
5 OS VALORES ÉTICOS E O PAPEL DA EDUCAÇÃO
Ao se falar em valores éticos na atualidade brasileira, como conciliar ética às
questões como liberdade, escolha, autoconhecimento, respeito e diversidade?
Na sociedade brasileira, a família foi durante séculos a fonte de importantes valores.
Hoje, os filhos se distanciam mais cedo de seus parentes e pessoas externas ao convívio
familiar acabam tendo com eles um contato mais forte e uma influência mais ativa. Muitos
pais não conseguem demonstrar atitudes coerentes a serem exemplos positivos para seus
filhos. Com o passar do tempo e a mudança de hábitos, as instituições escolares brasileiras
foram perdendo lugar para outros espaços de socialização, o que pode ser constatado
na prática educativa de quase trinta anos da pesquisadora, nos diferentes segmentos
educacionais.
Segundo Dimenstein2 (2002), os jovens brasileiros, por sua vez, não acreditam mais
na representatividade dos políticos e no valor das eleições, decepcionados com a corrupção
e a desonestidade na política do país.
É papel importante de qualquer professor que se pretenda educador, considerar e
integrar em suas atividades curriculares questões ligadas a valores éticos, morais, sociais
2
Folha de São Paulo, São Paulo, 14/07/2002. Caderno Cotidiano, p. 10.
7
Ferreira., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
e culturais. Na sociedade brasileira, à semelhança da maioria das sociedades ocidentais,
educar é sempre educar para a cidadania e para a democracia, conceitos intimamente
ligados, já que a participação nas decisões políticas que caracteriza a democracia, através
do voto em eleições, plebiscitos e referendos, constitui direito e dever do cidadão brasileiro.
Por outro lado, se considerarmos a ética como o ramo da Filosofia que estuda as normas
que guiam as atitudes humanas, e a cidadania inclui direitos e deveres do cidadão, os
conceitos de ética, cidadania e democracia também estão estreitamente relacionados. No
Brasil, os direitos e deveres do cidadão estão estabelecidos pela Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Dentre os deveres do cidadão brasileiro, chamam a atenção
“respeitar os direitos dos outros cidadãos” e “educar e proteger os semelhantes” (BRASIL,
1988).
À semelhança de Sócrates com seus discípulos na antiga Atenas, os professores
de qualquer época podem ajudar seus alunos a buscar a solução de seus problemas,
questionando-os, desestabilizando-os momentaneamente, levando-os a uma tomada de
consciência sobre os problemas da atualidade, e a um posicionamento e uma ação sobre a
realidade social.
Em sua obra “Educação emancipação”, o filósofo e sociólogo alemão Theodor W.
Adorno examina a questão dos valores e da educação, sugerindo que esta última deve ter
papel importante na superação da barbárie, vista por ele como “[...] uma agressividade
primitiva, um ódio primitivo, ou, na terminologia culta, um impulso de destruição, que
contribui para aumentar o perigo de que toda a civilização venha a explodir” (ADORNO,
1995, p. 155).
Para Martinelli (1996, p. 18), “os valores absolutos são a verdade, a ação correta, o
amor, a paz e a não violência”. Para a autora (1996, p. 20), cada valor absoluto corresponde
a valores relativos, em um total de vinte, considerados por ela como os instrumentos
de aprimoramento da personalidade. Segundo a mesma autora (1996, p. 21), os valores
humanos na escola estão presentes na apreciação e assimilação do conhecimento de todos
os conteúdos a serem ensinados, vinculando o currículo escolar às circunstâncias da vida,
construindo uma consciência ética.
Freire (2003, p. 34) ressalta que o educador democrático não poderá jamais negar-se
ao dever de reforçar a capacidade crítica do aluno, sua curiosidade e vontade, afirmando
também que não há uma ruptura entre a fase da ingenuidade e da criticidade, mas uma
superação.
Os professores recebem, em suas salas de aula, alunos que já têm interiorizado um
conjunto de normas e valores. O sistema de valores está vinculado diretamente com a forma
de vida e com a sociedade. Assim, quando mudam as relações sociais e, principalmente,
as econômicas, novos valores se estabelecem. Esse fenômeno deve ser considerado pelo
professor para que ele possa aproveitar todas as oportunidades de conscientizar seus alunos
sobre o que é correto e incorreto nas suas ações.
Um aspecto fundamental na educação e na formação de valores é que, ao trabalhar
os conteúdos em sala de aula, os professores devem estabelecer relações com a vida, para
que tenha significado e valor para o aluno. Além do componente cognitivo, é necessário
trabalhar o afetivo, já que este componente é o que vincula a relação pessoal com o valor.
Segundo Pérez (2002), as ações autoritárias provocam reações de repulsa, submissão
ou dependência. Para ele, a orientação valorativa é assimilada em coerência com a vida
diária e através de ações responsáveis. O indivíduo deve participar sempre de sua própria
8
Ferreira., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
educação, desde criança. Devem ser oportunizadas situações para que isso ocorra, na família
e nas instituições de ensino. Nas escolas, é necessário um diálogo aberto e franco por parte
dos alunos e professores, baseado na confiança e no respeito.
Além do que foi exposto, caberia assinalar quais valores formar e desenvolver em
nossos alunos. Segundo Pérez (2002), não há uma resposta fácil, mas aparecem em primeiro
lugar aqueles promovidos e valorizados positivamente pela família, escola e sociedade para
estimular a formação e o desenvolvimento da criança e do jovem. Seriam os valores ligados
à família, ao humanismo, à solidariedade e à justiça, à identidade nacional e ao mundo do
trabalho.
Para que os professores consigam exercer uma influência mais direta em seus alunos
devem estar preparados para aprofundar e indagar quais são as suas necessidades, interesses
e inquietações. Devem procurar descobrir o que lhes preocupa, que aspectos da vida mais
lhe interessam e buscar canalizar essas informações em interação com o cotidiano da sala
de aula.
Finalmente, os professores de qualquer segmento da educação, devem promover
atividades onde o estudante encontre espaço para o protagonismo, além de estimular os
debates grupais, dando-lhes oportunidade de expressar suas ideias, seus critérios, seus
argumentos, seus sentimentos e suas aspirações. O educador e escritor Gabriel Chalita
afirma que [...] “as dificuldades, os conflitos, as guerras e a intolerância que gradativamente
se apoderam do mundo, são resultado dessa total inversão de valores que predomina na
sociedade, configurando um tempo em que até mesmo a esperança parece estar mais
escassa.” Assinala, ainda que “devemos estar conscientes da importância de nosso papel
como educadores, amparando, reerguendo e reavivando os sentimentos, valores e atitudes
que poderão renovar a confiança em dias melhores” (CHALITA, 2003, p. 11).
6 CONCLUSÃO
Na Idade Média, a ética era principalmente uma questão de imposição dos valores
da Igreja Católica que eram seguidos por uma população pobre, em sua maioria, sem
conhecimento suficiente para questionar.
A partir da Idade Moderna, o homem foi deixando gradativamente de enxergar os
dogmas católicos como o fundamento indiscutível das normas morais.
Atualmente, a busca por novas formas de legitimação de valores é uma preocupação
de estudiosos das áreas da Filosofia, Psicologia, Pedagogia, Política, Economia e Sociologia.
As inquietações alcançaram outras áreas como a Medicina, a Genética, a Comunicação,
dentre outras.
Educação e ética sempre estiveram relacionadas, mas a divergência entre a teoria
e a prática sempre foi nítida. Hoje em dia, apesar de todos reconhecerem a importância
da relação entre ética, moral e educação, não se percebe nas escolas, principalmente, no
ensino superior, uma preocupação com o tema, o que pode ser constatado na estrutura
curricular da maioria dos cursos de graduação, especialmente na área das ciências exatas.
Os valores éticos não podem estar ligados à imposição, a simplesmente seguir
regras. Pelo contrário, eles estão relacionados à liberdade do ser humano. Saber respeitar a
diversidade humana é um dos principais valores éticos e o que se vê, frequentemente, até
mesmo nas universidades, é o desrespeito, a intolerância e as atitudes egoístas.
9
Ferreira., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
É fundamental o papel dos professores na educação e na formação em valores
de seus alunos. É importante prepará-los para a autonomia, mas conscientes sobre os
problemas da atualidade e sabendo posicionar-se perante a realidade social. É necessário um
diálogo aberto por parte de alunos e professores, discutindo e valorizando seus interesses,
seus problemas e suas inquietações.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBRAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Petrópolis: Vozes, 1995.
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas da Filosofia. 2. ed. São Paulo: Gente,
2003.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômano. Tradução de Antônio de Castro Caieiro. São Paulo:
Atlas, 2009.
BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. A Reprodução: elementos para uma teoria do
sistema de ensino. Tradução de C. P. G. da Silva. Lisboa: Veja, 1987.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Promulgada em
05/10/1988.
CARIA, T. H. L. Perspectiva sociológica sobre o conceito de educação e a diversidade das
pedagogias. Sociologia, problemas e práticas, n. 12, p. 171–184, 1992.
CHALITA, G. Pedagogia do amor: a contribuição das histórias universais para a
formação de valores das novas gerações. São Paulo: Gente, 2003.
DELORS, J. et al. (Coord.). Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a
UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI. São Paulo:
Cortez. Brasília, DF: MEC: UNESCO, 1998. 89-102 p.
DIMENSTEIN, G.; MALULA, P.; SERRUF, J. Folha de São Paulo, 14 jul. 2002.
Caderno Cotidiano, p. 10.
DURKHEIM, E. Sociologia, educação e moral. Porto: Rés Editora, 1984.
FREIRE, P. Educação e Mudança. 12. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
GARDNER, H. The disciplined mind. New York: Penguin Books, 2000.
GOERGEN, P. Educação e valores no mundo contemporâneo. Educação e Sociedade,
Campinas, v. 26, n. 92, p. 983–1011, 2005. Especial out. 2005. Disponível em:
<http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 20 set. 2015.
LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da Filosofia. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
10
Ferreira., Revista Eletrônica Engenharia de Interesse Social, VOL. 1, NUM. 1, 2016
LEYVA, L. S.; MARTÍN, L. M. P. Lo cognitivo y lo afectivo de la personalidad. In:
La personalidad: diagnóstico de su desarrollo. [S.l.: s.n.], 2010. cap. 1, p. 8–54.
.
LIMA, L. O. O impasse na educação: diagnóstico, crítica, prospectiva. Petrópolis:
Vozes, 1984.
MARTINELLI, M. Conversando sobre educação em valores. São Paulo: Peirópolis,
1996.
PÉREZ, E. B. La educación en valores. Papel de la escuela. La Habana: ICCP,
2002.
PIAGET, J. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994. São Paulo:
Simmus, 1994.
PLATÃO. A República. São Paulo: Martín Claret, 2005.
PUIG, J. M. A construção da personalidade moral. São Paulo: Ática, 1988.
REY, F. G.; MITJANS, A. La personalidad, su educación y desarrollo. La Habana:
Pueblo y Educación, 1989.
ROKEACH, M. The nature of human values. New York: Free Press, 1973.
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou Da Educação. São Paulo: Bertrand, 1992.
11