Jornal Alavanca setembro

Transcrição

Jornal Alavanca setembro
Jornal Espírita
USE
Intermunicipal de
Campinas
Alavanca
Edição N. º 511 - Ano 52
União das Organizações Espíritas Intermunicipal de Campinas - USEIC
Cristo, com ponto
de apoio no amor
divino, fez-se
ALAVANCA viva
e renovou o mundo
Agosto-Setembro de 2015
Casamento Gay
Não temos a posição do Espiritismo
sobre o casamento gay, porquanto o
assunto não foi abordado na Codificação,
mas podemos, com base na liberdade de
consciência preconizada pela Doutrina,
considerar o elementar: não há por que
opor-se a duas pessoas do mesmo sexo que
decidam viver juntas, independente do fato
de manterem ou não uma comunhão
sexual.
Observemos as questões abaixo, de O
Livro dos Espíritos:
Questão 200. Pergunta Kardec: Os
Espíritos têm sexo?
Responde o mentor: Não como o
entendeis, porque o sexo depende da
organização. Há entre eles amor e simpatia,
mas baseados na afinidade de sentimentos.
Questão 201. Pergunta Kardec: O
Espírito que animou o corpo de um homem
pode animar, em nova existência, o de uma
mulher e vice-versa?
Responde o mentor: Sim, são os
mesmos os Espíritos que animam os
homens e as mulheres.
Se os Espíritos não têm sexo como
morfologia, podendo reencarnar como
homem ou mulher; se o que há entre eles é
amor e simpatia, baseados na afinidade de
sentimentos, o que os impede de cultivar
um relacionamento afetivo com alguém do
mesmo sexo?
Qualquer par de homossexuais,
masculino ou feminino, indagado quanto à
natureza de seu relacionamento, nos dirá
que é muito mais uma questão de
comunhão afetiva do que carnal. Não fosse
por isso, não haveria razão para viverem
juntos.
Nessa condição, têm o direito de
formalizar em cartório a decisão, até por
uma questão prática, envolvendo sucessão,
herança, pensão, bens adquiridos em
comum… Antes a lei determinava que esse
contrato fosse celebrado por um casal.
Hoje, em muitos países, inclusive no Brasil,
essa exigência foi abolida.
Considerando a semântica, há
quem não admita a definição casamento
para esse contrato social. Não vejo por quê.
A língua portuguesa é muito generosa com
relação às suas expressões. Frequentemente apresentam vários significados, não
raro até aparentemente contraditórios. O
dicionário Houaiss diz, dentre outras
acepções, que casamento pode ser uma
associação ou uma aliança. Essas
expressões, por extensão, contemplam a
união entre duas pessoas do mesmo sexo,
registrada em cartório para os fins legais.
Só não podemos admitir um
casamento espírita, nos moldes das
religiões tradicionais, já que a Doutrina não
tem ritos nem rezas, nem ofícios nem
oficiantes. Aprendemos que todo ato de
comunhão com a espiritualidade é
eminentemente único e pessoal, um
assunto entre nós e a divindade.
Por isso, quem deseje pedir as
b ê n çã o s d i v i n a s p a ra u m a u n i ã o
matrimonial, para um filho que nasce ou um
familiar que desencarna, deve fazê-lo
pessoalmente, sem intermediação,
elevando o pensamento na prece contrita.
Demonstrando que o casamento gay
transcende a mera questão sexual, não raro
os parceiros, sejam do sexo feminino ou
masculino, adotam filhos, formando uma
família.
Há quem não aceite, sob a alegação
de que dois pais ou duas mães irão
confundir a cabeça da criança.
Atendendo a essa objeção, perguntase: o que é preferível, a criança
experimentar o trauma de crescer num
orfanato ou, pior, na rua, ou ser cuidada e
educada num lar formado por dois pais ou
duas mães? Considere, prezado leitor, algo
ponderável: pesquisas com crianças
educadas por gays revelam que não
apresentam dificuldades no relacionamento
Profissionais Librais,
Empresários Espíritas e Leitores:
o ALAVANCA precisa de vocês!
Estudos de marketing
mostram que profissionais e empresas
ligadas ao Espiritismo são vistos como
sérios e confiáveis, mesmo por pessoas
não espíritas. Da mesma forma,
espíritas são tidos como bons clientes.
O Jornal Espírita ALAVANCA
conta com vocês para continuar a
divulgar o Espiritismo.
• se você é profissional liberal
que atua em advocacia, psicologia,
fisioterapia ou outras atividades liberais
• se você é empresário de
setores como informática,
contabilidade, odontologia, salões de
beleza, farmácias homeopáticas,
Nesta Edição
produtos naturais, óticas e outros
setores
Anuncie no Alavanca e ajude a divulgar a
Doutrina.
O seu retorno será duplo:
primeiro, trabalhar com clientes
responsáveis; segundo, a satisfação de
contribuir com o melhoramento da
sociedade através da divulgação do
Espiritismo.
Para maiores detalhes entre
em contato com o ALAVANCA através do
e-mail [email protected] ou a
USE Intermunicipal de Campinas:
[email protected]
ou ainda pelo celular (19) 98152-9260
social. Muitas se saem até melhor nos
estudos.
Tudo o que a criança precisa é de um
lar ajustado, onde receba muito amor, não
importando se é educada por homo ou
heterossexuais.
Richard Simonetti
[email protected]
http://www.noticiasespiritas.com.br/2015/J
ULHO/08-07-2015.htm
Este artigo do nosso estimado
Richard Simonetti despertou várias dúvidas
que ele mesmo tratou de esclarecer no
texto abaixo:
Alavanca - Considerando a
liberdade que temos de escolher o sexo
antes da reencarnação, não teria sido
melhor escolher o que evitaria aquele
conflito (mulher com mulher, homem com
homem)?
Simonetti - A inversão
psicologia/morfologia é uma escolha do
Espírito, por entender essa experiência
necessária ou pode ser uma imposição da
Lei de Causa e Efeito para aqueles que se
transviaram. Admissível, também, que
Espíritos que mudam de sexo ao reencarnar,
após várias experiências como homem ou
mulher, podem encontrar dificuldade para
ajustar-se a essa mudança.
A - Não poderia essa atração por
pessoas do mesmo sexo ser uma tentação a
ser vencida pelo espírito reencarnante, a
título de prova ou expiação?
S - A pergunta está comprometida
com a ideia de que é um desafio ou pecado
sentir atração por alguém do mesmo sexo. O
que se condena é a promiscuidade,
igualmente condenável no heterossexual.
A - Além da afinidade espiritual,
não haveria, na maioria dos casos, um
desejo sexual?
S - Se for por tendência viciosa,
sim. Não é quando se trate de legítimo
conflito entre a morfologia e a psicologia.
Acredito que está segunda possibilidade é a
mais numerosa.
A - No estágio físico e humano em
que nos encontramos, a comunhão de duas
pessoas do mesmo sexo não seria contrária
à organização natural engenhada e
materializada por Deus para a multiplicação
dos seres?
S - Sim, se lidássemos apenas com
seres biológicos, não com Espíritos
encarnados que sempre enfrentarão
problemas de adaptação quando a
morfologia não corresponder à psicologia.
Consideremos, para efeito de
entendimento, que o Espírito tem sexo
quanto à psicologia, eminentemente
masculino se nele prevalecerem as
características de masculinidade ou
feminino se prevalecerem características
fe m i n i n a s , n o d e s d o b ra m e nto d e
experiências que levem à angelitude. O anjo,
espírito superior não tem sexo nem como
psicologia nem como morfologia. Nele há o
perfeito equilíbrio entre o melhor da
masculinidade e da feminilidade.
A - E se cada caso for um caso, ou
seja, se em alguns realmente se tratar de
expiação/provação e em outros não...
S - Realmente, cada caso é um
caso, mas dentro dos limites que envolvem a
evolução a partir de experiências
reencarnatórias em ambos os sexos.
Conviver é necessário
A co nv i vê n c i a é u m a d a s
necessidades do ser humano que mais
proporciona oportunidade de desenvolvimento moral.
Conviver bem com as pessoas que
nos amam é fácil. O desafio está em conviver
bem com pessoas que agem de forma
contrária aos nossos princípios, nos ofendem
e nos entorpecem com atitudes
desagradáveis, não demonstrando qualquer
desejo de mudança.
Entretanto, conviver é necessário.
Fomos estrategicamente inseridos
em nossos meios familiares, educacionais,
sociais, religiosos e profissionais para
convivermos com pessoas que julgamos
difíceis. Somente assim obteremos as
experiências importantes para a nossa
bagagem existencial.
Com o tempo, passamos a
compreender que as divergências, que são
comuns em todos os relacionamentos,
contribuem com o nosso crescimento
espiritual, pois desenvolvem virtudes
fundamentais para o nosso processo
evolutivo.
Diversas são as oportunidades
oferecidas e renovadas por Deus, em nosso
dia a dia, para efetivação desse progresso.
Por isso precisamos estar atentos para não as
desperdiçarmos.
Pesquisas têm apresentado
surpreendente crescimento das crises nos
relacionamentos conjugais, profissionais,
políticos, sociais e até religiosos. Qual seria a
maior causa dessa realidade desastrosa?
Talvez a falta de compreensão por cada um
de nós a respeito da premissa de que as
•Em Nome de Kardec , pág. 3
•Pesquisa sobre a Sobrevivência da Alma, pág. 4
•Precisamos de Inovação, pág. 6
dificuldades em nossas vidas não existiriam
se não necessitássemos delas.
Portanto, é imperioso que as
aceitemos e as aproveitemos, como o doente
aceita o medicamento amargo para sua cura.
Em nosso lar, no trabalho, em todos
os lugares, analisemos profundamente se
não somos nós que mais contribuímos com a
m a n i p u l a ç ã o m e n ta l d e e n e rg i a s
enfadonhas, que desarmonizam e
entristecem pessoas, prejudicando a
convivência sadia e amorosa.
Enxergamos facilmente os defeitos
e limitações dos outros, mas nos esquecemos
de que também somos imperfeitos.
Vamos agir diferente?
Dentre as virtudes que precisamos
desenvolver, há uma que, se bem
compreendida e praticada, impulsiona a
convivência pacífica: É a Alteridade.
Além de virtude, alteridade é a
atitude de aceitar os hábitos, costumes,
ideias ou desejos do próximo, contrários ou
diferentes dos nossos, envidando esforços
para que a convivência seja cada vez mais
harmoniosa.
Um dia, todos seremos perfeitos e
totalmente felizes, esse é o nosso destino.
Então, para que nos atrasarmos?
Nesse contexto, compreendemos
que conviver bem com todos deve fazer parte
dos nossos planos!
Portanto, aceleremos nossa
marcha rumo à redenção.
James Warley Pereira Ribeiro
[email protected]
•Espiritismo e Política, pág. 6
•Cuidadeos Paliativos, pág. 7
•A Degeneração do Espiritismo, pág. 8
2
USE-Campinas
Jornal Espírita
Alavanca
Crise...de novo!
Editorial
O Brasil parece se especializar em
crise: ou ele é afetado por crises mundiais
ou elas são criadas aqui mesmo, como a
atual.
Parece que nossos administradores são bebês deitados eternamente em
berço esplêndido que não sabem que
mecanismos administrativos utilizar para o
engrandecimento da nação e o bem estar
de seu povo.
A impressão que temos ´que o
futuro do país é um constante revivescer
do velho passado de dificuldades ou, em
outras palavras, o passado tenebroso é
sempre o nosso presente. Será ele também
o nosso futuro como nação?
Vamos vivendo a passos de
caranguejos, um à frente dois atrás,
embora os bondosos espíritos nos
estimulem a ter fé e a acreditar que o
futuro será melhor.
Precisamos de paciência?
Precisamos ter fé em Deus? Precisamos
amar mais este país? Precisamos de mais
trabalho? Precisamos de mais civismo?
Precisamos de mais ética? Precisamos de
mais fraternidade? Sim, precisamos de
tudo isso para não desapontarmos os
espíritos dirigentes deste país e
implantarmos aqui, em nome do Mestre
Jesus, a Pátria do Evangelho.
Como as vezes anteriores, o
ALAVANCA se vê afetado por mais uma
crise econômica. E mais uma vez, nos
vemos privados do apoio financeiro para
divulgarmos esta Doutrina Consoladora.
Dirigentes, trabalhadores e
simpatizantes em geral, já sobrecarregados com as despesas de seus
Centros ou projetos assistenciais,
esquecem-se que a Doutrina precisa ser
levada a todos os cantos do planeta, seja
pelos meios digitais modernos, seja pelos
meios tradicionais de mídia, como jornais,
revistas, boletins etc. E, em qualquer caso,
é necessário um aporte financeiro que
deveria vir através de todos aqueles que se
dizem espíritas.
Agora modificamos o formato do
jornal. Desta vez reduzimos o número de
páginas e a qualidade do papel.
Se o jornal ficou menor em
tamanho, a Doutrina Espírita continua
engrandecida, bela, admirável, consoladora e racional como sempre foi nestas
páginas direcionadas à comunidade
espírita.
Assim, trazemos ao leitor o
esclarecimento de importantes assuntos
que têm suscitado muitas dúvidas e
perguntas, como a União Homoafetiva ou
Casamento Gay - como popularmente
ficou conhecido,
Outro assunto de extrema
importância que trazemos é sobre os
cuidados que devemos ter contra a
descaracterização da Doutrina em artigo à
página 8, A Degeneração do Espiritismo;
Na página 4, Alexandre F. da
Fonseca aborda as pesquisas sobre a
sobrevivência da alma;
Completamos a edição trazendo
Espiritismo e política; cuidados paliativos
pré-morte e outros assuntos não menos
importantes e atuais.
Continuando com a mesma
filosofia anterior, a USEIC – União das
Sociedades Espíritas Intermunicipal de
Campinas – continua a prestar auxílio e
orientações doutrinárias e administrativas
aos Centros que a procuram, bem como
promovendo eventos, cursos, seminários e
palestras com a finalidade de trazer novos
estudos – ou reciclar antigos - a toda
comunidade espírita da região.
A USEIC existe para promover e
divulgar o Espiritismo. Venha e faça parte
dessa corrente de Paz e Amor.
os acontecimentos não foram premeditados ou planejados por qualquer
corrente contrária ao Espiritismo.
O mesmo número ainda fala de
Parnaso de Além Túmulo e traz uma breve
biografia de Chico Xavier.
No número seguinte, nº 4131,
de setembro de 2015, a revista relata o
caso da carta psicografada por Chico
Xavier e que foi aceita num Tribunal
como prova que inocentou José Divino
Nunes, acusado de matar Maurício
Garcez Henrique em 8 de maio de 1976.
Na próxima edição, nº 4132, de
outubro de 2015, a Psychic News trará o
estudo das cartas psicografadas por Chico
Xavier pela AMESP.
Na Seara
A revista inglesa Psychic News
(www.psychicnews.org.uk), fundada em
1932, edição de agosto de 2015, nº 4130,
trouxe matéria sobre o ataque ao túmulo
de Chico Xavier e a morte do médium
Gilberto Arruda. A revista deixa claro que
Fale com o ALAVANCA: [email protected]
Dúvidas sobre Espiritismo: doutriná[email protected]
Leia e baixe a edição eletrônica do ALAVANCA para PC, Tablet e Smartphones
em www.alavanca.net.br - USECampinas: [email protected]
Expediente
Comissão Executiva da União das Organizações
Espíritas Intermunicipal de Campinas (USEIC)
Presidente: Cristina Helena Neves Bertuzzi
S.E.E. A Caminho da Luz
1° Vice-Presidente: Carlos de Paula – AJE-Campinas
2° Vice-Presidente: Paula Pilizario
S.E.E. A Caminho da Luz
Secretario Geral: Cláudio Silva – CEAK Campinas
1° Secretário: Luciano Mancilha – CEAK Campinas
2° Secretário: Valmir Vianna – CEAK Campinas
1° Tesoureiro: Genivaldo A. Gasparini
G.E. Nosso Cantinho-Paulínia
2° Tesoureiro: Maria Jose Antonietto – N.A.E.
Maria de Nazaré
Diretor de Patrimônio:
Vitor Ferreira – C.C. Vovô Nestor
Diretoria dos departamentos
Assessoria Adm.Jurídico: Carlos de Paula – AJE Campinas
Assessoria de Comunicação: Valmir Vianna – CAK
Campinas – Maria José Antonietto
N.A.E. Maria de Nazaré
Depto Ensino: Luciano Mancilha – CEAK Campinas
Depto Assistência Espiritual: Cláudio Silva
CEAK Campinas
Depto Mediunidade: Silvia H. B. Guimarães
Casa de Jesus
Depto Infância e Família: Paula Pilizario
S.E.E. A Caminho da Luz
Depto ESDE: James Harley – C.C. Vovô Nestor
Depto Livro: Giovanni Bruno – E.E. Armida Landini
Depto Eventos: Elaine Costa – C.E. Nosso Lar e
Genivaldo A. Gasparini – G.E. Nosso Cantinho
Depto Mocidade: Davyn Guimarães – C.E. Vovô
Nestor – Cristiane Kasi – C.E. Vovô Nestor
Depto Assistência Social – Yara Cecília Lopes
Jornal Alavanca – Editor – Giovanni Bruno
C.E. Arminda Landini
Apoio Organizacional: José Hélio – C.E. Nosso Lar
Rua Pedro Braga, 130 - Parque Itália
CEP 13036-315 Campinas - SP
Fone: 19 3028-7881
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ALAVANCA
Órgão de Comunicação Oficial da USEIC
Registrado sob o nº 1945, Liv. A-2, Fls. 447, de
17/06/1971, no Cartório de Registro de Pessoas
Jurídicas de Campinas
Editor: Giovanni Bruno
Jornalista Resp.: Jeverson Barbieri (MTb 26774)
Expedição: Francisca Dicena
Dúvidas, comentários e sugestões:
[email protected]
Website: www.alavanca.net.br
Tiragem: 1.500 exemplares
Aceitamos colaborações. Não devolvemos originais
enviados por escrito ou e-mail. Os artigos assinados
não expressam necessariamente a opinião da USEIC.
Todos os colaboradores deste jornal, escritores ou
não, são voluntários e não recebem nenhuma
remuneração.
GEEU – Grupo de estudos
Espíritas da Unicamp
No segundo semestre de 2015, as reuniões do GEEU
acontecem às quintas-feiras, na sala SM01, das 12:00 às 13:30 hs.
Contra os Príncipes
e as Potestades
O mais novo livro de Richard
Simonetti, Contra os Príncipes e as
Potestades, editora CEAC, relata de
maneira direta e numa linguagem
simples, como é característica do escritor,
os mecanismos sutis de ataque que o
plano espiritual inferior se utiliza para
desestabilizar os trabalhos espirituais das
casas espíritas.
“As experiências ali registradas
constituem estudo obrigatório para
grupos mediúnicos, estendendo-se a
pessoas interessadas em disciplinar a
própria sensibilidade, em favor de uma
existência equilibrada e feliz, isenta de
perturbadoras influências espirituais.”
https://sites.google.com/site/jeespiritas/
Jornal Espírita
Alavanca
USE-Campinas
3
Livro
Em Nome de Kardec
O livro Em Nome de Kardec,
lançado em julho de 2015 pela Vivaluz
Editora e de autoria do comunicador
Adriano Calsone, é uma obra que
merece a atenção de todo pesquisador
espírita.
Em um bem executado projeto
gráfico, a obra é um convite para se
conhecer aspectos pouco discutidos
sobre o movimento espírita francês
após o desencarne de Allan Kardec e
oferece elementos essenciais para se
compreender o porquê da fragilização e
drástica redução do número de adeptos
do Espiritismo na França.
O prefácio atribuído ao Espírito
Camille Flammarion é de excepcional
profundidade e coerência doutrinária. As
três páginas dessa mensagem já
deveriam ser, por si mesmas, objeto de
criteriosa e ponderada reflexão. Ao incitar
aqueles que se dizem espíritas para que
realmente o sejam, dimensiona-se a
responsabilidade que cabe aos adeptos
conscientes contra o misticismo, as
distorções sincréticas e os
desvirtuamentos em nome de uma
pretensa e subversiva modernização do
Espiritismo. Nessas poucas linhas,
captura-se o cerne do livro e abrilhanta-se
a obra.
Com uma redação fluente e
agradável, Calsone conduz o leitor por
cerca de 280 páginas a uma instigante
viagem ao final do século XIX, com ênfase
no período de 1873 a 1883.
Descortinando fatos históricos
fundamentados em adequada pesquisa
bibliográfica, o autor descreve a
infiltração das ideias teosóficas de
Blavatsky e de outros místicos no
movimento espírita francês e os
re s p e c t i vo s d e sv i o s c o n c e i t u a i s
provocados. Na era pós-Kardec, o
envolvimento com linhas ocultistas pelo
editor da Revista Espírita, Pierre Gaétan
Leymarie, favoreceu a disseminação de
conceitos esdrúxulos e contribuiu para
macular a própria identidade espírita
dessa publicação em nome da tolerância
à Te o s o f i a e a o e c u m e n i s m o
espiritualista.
Calsone pontua a luta de Amélie
Gabrielle Boudet, a respeitável viúva do
professor Rivail, para manter a
integridade da Revista Espírita. Nessa
empreitada, a Sra. Kardec contou com o
apoio de sua valorosa e combativa amiga,
Berthe Fropo, a qual publicou em 1883
um corajoso opúsculo intitulado Beaucup
de Lumiére (Muita Luz), no qual
denunciou a descaracterização da Revista
Espírita e questionou a lisura intelectual
de seu editor, Leymarie, cada vez mais
místico e adepto da deturpação
roustainguista.
Um dos argumentos habilmente
utilizados pelos místicos para justificar as
adulterações doutrinárias foi uma suposta
necessidade de atualização dos princípios
e informações apresentados pela equipe
do Espírito da Verdade à Kardec. Segundo
os místicos, uma década (!) após o
desencarne do Codificador, o Espiritismo
deveria dar um passo além e não se
dogmatizar abrindo-se à modernidade
representada pela Teosofia. Esse
argumento, entretanto, esbarrava em
uma contradição lógica, pois os místicos
queriam que os adeptos abraçassem
antigos conceitos típicos de escolas
orientalistas iniciáticas como se fossem
novos, justamente os ultrapassados e
nebulosos conceitos que a clareza e a
objetividade do Espiritismo haviam
pulverizado!
A influência teosófica e de
outras linhas espiritualistas em
diferentes adeptos auxiliam o leitor a
seguir as pistas que contribuíram, ainda
que não exclusivamente, para dividir,
enfraquecer e esvaziar o movimento
espírita francês.
Em uma época marcada pela
enxurrada de lançamentos com
questionável conteúdo doutrinário, o
livro Em Nome de Kardec vem em boa
hora, não somente pela ótima pesquisa
histórica feita por Adriano Calsone de
uma fase muito pouco estudada do
Espiritismo, mas por colaborar
diretamente para a compreensão de
seus reflexos até hoje. Certamente, é
u m a l e i t u ra re co m e n d a d a a o s
pesquisadores e aos espíritas em geral.
Marco Milani
Diretor do Departamento do Livro da USE
– Estado de São Paulo
http://educadorespirita1.blogspot.com.br/
Papiros importantes
Um livro de Herminio C.
Miranda que gostei muito foi o
“EVANGELHO DE TOMÉ – Texto e
Contexto”, da Editora Arte e Cultura, Rio
de Janeiro, 1991. Posteriormente, ele foi
publicado por outra editora com uma
leve alteração no título – O EVANGELHO
GNÓSTICO DE TOMÉ.
Assevera Miranda que os
manuscritos do Mar Morto foram
descobertos em uma caverna, na Judeia,
em 1947, pertenciam a uma
comunidade essênia estabelecida em
Q u m ra m , s e n d o a n t e r i o re s a o
nascimento de Cristo.
Esses manuscritos versam
sobre as crenças, rituais, hábitos e
costumes dos essênios. Há quem afirme
que Jesus pertencia a essa sociedade
secreta, mas isto nunca foi comprovado.
No entanto, os documentos
mais polêmicos não são os do Mar
Morto, mas aqueles encontrados em
Nag-Hammadi, no Egito, em uma urna
de barro. Esses sim são polêmicos.
Os textos, chamados de logion
(plural de logia – lembretes – num total
de 52), foram escritos em língua copta,
pertenciam eles a uma comunidade
gnóstica e são contemporâneos à fase
formadora das doutrinas cristãs, porém
há controvérsias quanto à data precisa.
Talvez eles tenham sido enterrados às
pressas por causa das invasões persas,
pois estes já haviam destruído uns
s e i s c e nto s m o ste i ro s p e r to d e
Alexandria.
Foi a partir de 1955 que
começaram a ser editados livros sobre os
tais manuscritos.
O documento mais importante
é, sem dúvida, o Evangelho de Tomé (não
aquele que duvidou do Mestre, mas
outro Tomé, talvez irmão de Jesus).
Já se conheciam alguns fragmentos
desse evangelho em grego, descobertos
em 1890.
Trata-se de lembretes para
serem utilizados em palestras ou
debates, são destinados a um grupo
menor de pessoas e com preparo
suficientes para entendê-los.
Em muitos trechos percebemos
que o Cristo fala na condição de espírito,
após a morte na cruz.
Possui o Evangelho de Tomé
símbolos e imagens secretas ou iniciáticas
e Miranda fornece-nos algumas chaves
para se entender certas partes, no
entanto, tem ele a humildade de dizer
quando não consegue, realmente,
compreendê-los.
Afirma ele algo muito interessante: é
mister levar em conta que as línguas
envelhecem e o copta, por exemplo, nem
é usado mais. Pergunta Miranda: será que
daqui a uns dois milênios o povo
entenderá as expressões que usamos
hoje?
O texto ainda não está
estabilizado numa tradução definitiva e
possui, infelizmente, mutilações
irrecuperáveis como, por exemplo, falta
de palavras, frases e até páginas inteiras.
Sofreu, com o tempo, modificações,
interpolações e amputações e Miranda
nos aponta quais são eles.
O interessante na obra de
Hermínio C. de Miranda é que acabamos
entendendo melhor as palavras de Jesus
(que muitas vezes nos parecem
estranhas), ajuda-nos ela a entender os
símbolos que o Mestre utilizava e fica
claro que Jesus sempre falou em dois
níveis, a saber: numa linguagem exotérica
(para o povo, exterior) e numa linguagem
esotérica (fechada), isto é, endereçada
aos iniciados.
Há algumas logion (lembretes)
que são bastante semelhantes a trechos
dos evangelhos que conhecemos.
A obra de Hermínio de Correa
Miranda nos dá uma boa noção do que foi
o movimento gnóstico. Durou ele cerca de
um século e meio – 120 a 240 d.c.
Os gnósticos desafiavam a
autoridade dos bispos (houve 13 em
Jerusalém antes do bispado ser
estabelecido em Roma) e também
contestavam aspectos doutrinários.
Gnose é sinônimo de
conhecimento, visto como um processo
permanente de autoiluminação, que não
pertence nem se subordina à nenhuma
corrente filosófica ou religiosa, porque as
transcende.
O termo gnose é encontradiço
em muitas civilizações antigas, no
entanto, gnosticismo já se refere a um
movimento particular.
Os gnósticos, por exemplo,
identificaram em Jesus Cristo o ser que já
havia chegado aos patamares superiores
da autoiluminação.
Qual era o objetivo precípuo
desses chamados gnósticos? Era um
retorno a Deus, isto é, um retorno às
origens, à luz de onde saímos.
O conhecimento é um
instrumento da perfeição e deve ser visto
como algo que cobriu-se com o véu do
esquecimento quando o ser humano
deixou de ser um com Deus para
mergulhar na matéria (batismo de água).
O que é esse batismo da água?
Trata-se da união do ser ao corpo físico,
gerado no organismo feminino por meio
do mergulho na água (líquido amniótico).
Já o batismo do espírito é o mergulho do
ser na própria intimidade mais profunda,
uma redescoberta de seu próprio ser, em
outras palavras, uma autognose.
Miranda afirma que para os
gnósticos, os seres humanos dividem-se
em três categorias, que são a saber: os
hílicos ou materiais, para estes é utilizado
o termo “filho da mulher”. Notem que
Jesus também utilizava esse termo; em
segundo lugar, os chamados psíquicos e,
finalmente, os pneumáticos ou espirituais
ou “Filho do Homem”. Termo também
bastante utilizado pelo Mestre. O Cristo,
por exemplo, encontra-se nesta categoria.
Mas, por que esses manuscritos
de Hag-Hammadi provocarão tanta
polêmica?
Miranda assevera que
justamente porque revelam coisas que
muita gente insiste em não aceitar, como
por exemplo a reencarnação, e,
outrossim, os chamados fenômenos
parapsicológicos, a comunicação com os
mortos, a mediunidade e, muitas vezes, o
sentido verdadeiro das palavras de
Jesus.
No decorrer do livro, Miranda
cita quais foram os catedráticos que
escreveram sobre este assunto e
mostra também onde ele, o autor,
concorda ou não com eles.
A obra discorre também sobre
outros textos, afora os de Tomé.
Sabiam, caros leitores, que Maria
Madalena também escreveu um
evangelho? Os apóstolos, ciumentos,
machistas, não deram muita atenção a
ele.
À guisa de conclusão diria que
os manuscritos de Nag-Hammadi e os
do Mar Morto certamente provocarão
uma revolução nos meios religiosos.
São eles, de fato, um achado
arqueológico muito importante.
Fabiano Possebon
([email protected])
Comece pelo Começo
Conheça o Espiritismo, pélas obras básicas
da Codificação de Allan Kardec.
Desde 1857, revelando com bom senso.
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Espírita Estadual no Conselho
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Campinas
USE-Campinas
4
Jornal Espírita
Alavanca
O que o email, as redes sociais e a sobrevivência da alma têm em comum?
Estamos vivendo a era da
informação[1]. Assim como aqueles que
nasceram nas décadas de 60 e 70 achariam
estranho viver num mundo sem geladeira,
aqueles que nasceram nas últimas duas
décadas achariam igualmente estranho
viver num mundo sem a internet. Os
avanços da tecnologia levaram ao
desenvolvimento de aparelhos que
processam, armazenam e transmitem uma
grande quantidade de informação. Como
consequência, a comunicação entre
pessoas distantes se tornou algo comum e
fácil.
Como toda ferramenta de
natureza material, essa facilidade de
acessar informação tem um lado positivo e
negativo. O lado positivo é em si o acesso
mais fácil à informação e a facilidade de se
comunicar com quem está distante. O lado
negativo consiste da existência e facilidade
de acesso à informação enganosa e uma
certa invisibilidade de nossos interlocutores
na internet.
Mas, o que isso teria a ver com a
sobrevivência da alma? Por incrível que
pareça, existem alguns aspectos em comum
entre os meios de comunicação modernos
como o email e as redes sociais, e a forma de
comprovação da existência e sobrevivência
da alma.
Quando nos comunicamos com
uma pessoa por email ou através das redes
sociais, podemos perguntar o que garante
que a pessoa com quem estamos nos
comunicando é, de fato, quem pensamos
que seja? O que nos dá certeza de que quem
assina o email ou dá nome à uma página da
rede social é quem achamos que seja? Da
mesma forma, podemos perguntar o que
garante que um nome que assina uma
mensagem mediúnica é, de fato, da
personalidade que, quando encarnada,
respondia pelo mesmo? Veremos que a
resposta para esses dois tipos de
questionamento é essencialmente a
mesma: através da análise do conteúdo da
comunicação.
Para embasar nosso estudo,
citamos um importante trabalho de
pesquisa espírita que foi apresentado no 9º
Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores
Espíritas[2] (9º ENLIHPE) em Agosto de
2013. Para quem não conhece, existe um
grupo formado por vários estudiosos e
pesquisadores espíritas chamado Liga de
Pesquisadores Espíritas3 (LIHPE), que
anualmente realiza um encontro onde
estudiosos do Brasil inteiro podem
apresentar trabalhos de pesquisa espírita
ou de interesse espírita. Não é um encontro
grande como os congressos espíritas mais
conhecidos pois o número de pessoas que
realizam pesquisas espíritas ainda é bem
pequeno em nosso movimento. Quem
quiser conhecer melhor a LIHPE e os
trabalhos apresentados, são convidados a
visitar o site do grupo[3].
O trabalho a que nos referimos é
i nt i t u l a d o “O q u e é p e s q u i s a r a
sobrevivência?”, de autoria de Silvio S.
Chibeni. Um artigo[4] (em inglês) e um
vídeo[5] da apresentação de Chibeni sobre
o tema podem ser acessados através dos
links das refererências 4 e 5 deste artigo.
Basicamente, Chibeni esclarece que as
evidências sobre a sobrevivência da alma
não podem se basear em elementos de
natureza material, que são efêmeros e se
transformam segundo as leis da matéria,
mas sim em características inteligentes
associadas à personalidade desencarnada.
Para explicar isso, Chibeni descreve as
definições de vários filósofos do passado
para o conceito de “identidade pessoal”. O
que determina que uma pessoa é ela e não
outra? Não se trata de definir um número
para cada cidadão como o Registro Geral ou
Cadastro de Pessoa Física. Se trata do
reconhecimento de características que
podemos chamar de espirituais, que
pertencem ao ser inteligente e não
dependem do seu corpo como seus
pensamentos, sentimentos, emoções,
personalidade, etc.
Vejamos como isso se aplica ao
reconhecimento de uma mensagem por
email. Ao recebermos um email, a primeira
coisa que fazemos é identificar o emissor
através do nome ou do código que
representa seu endereço de email. Se é um
nome ou endereço de pessoa conhecida,
criamos uma expectativa natural de
encontrar um determinado assunto no
conteúdo. Daí, abrimos o email e lemos a
mensagem. O que nos dá certeza de que, de
fato, a mensagem é da pessoa conhecida?
Afinal, ela não está presente, não está
visível, e o acesso que temos é apenas ao
pensamento codificado por ela na
linguagem usada na mensagem. Ao ler a
mensagem, interpretamo-la de acordo com
o conhecimento que temos da pessoa. Isso
é bem óbvio mas para deixar claro a ideia
que pretendemos ressaltar, considere uma
situação muito comum. Um dos problemas
da internet é a existência de vírus e
programas de computador maliciosos.
Alguns deles, se apoderam de alguns
endereços de email e, automaticamente,
enviam mensagens para a lista de contato
desses endereços. Suponha que nosso
endereço esteja na lista de contatos de uma
pessoa conhecida que teve seu computador
infectado com esse tipo de programa
malicioso. Ao recebermos a mensagem
enviada pelo virus, identificamos a origem
da mensagem pelo nome ou código do
email da pessoa conhecida. Mas ao abrir o
email e observar o conteúdo da mensagem
com atenção, na grande maioria dos casos,
identificamos que ela não foi emitida pela
pessoa conhecida, muito embora o
endereço de email seja dele(a). Ao ler
emails, portanto, nós identificamos o
emissor não apenas pelo nome ou código
de email, mas pela coerência entre o
conteúdo da mensagem e o que
conhecemos da pessoa.
Nas redes sociais, a mesma coisa
acontece. Quando uma pessoa conhecida
posta uma notícia, uma mensagem, uma
foto, etc. analisamos o conteúdo da
postagem e verificamos se está coerente
com a personalidade da pessoa. Mas, como
programas maliciosos também agem nas
redes sociais, quando uma postagem em
nome da pessoa conhecida é estranha,
conseguimos inferir que a postagem não é
dele(a).
No caso da verificação da
sobrevivência da alma, Kardec foi o pioneiro
no reconhecimento da importância de se
realizar esse mesmo tipo de análise. O
capítulo XXIV de O Livro dos Médiuns[6]
(LM) é dedicado ao estudo da identidade
dos Espíritos. Já no primerio item (255),
Kardec afirma que
“A questão da identidade dos
Espíritos é uma das mais
controvertidas, mesmo entre os
adeptos do Espiritismo. É que,
com efeito, os Espíritos não nos
trazem um ato de notoriedade e
sabe-se com que facilidade
alguns dentre eles tomam
nomes que nunca lhes
pertenceram. Esta, por isso
mesmo, é, depois da obsessão,
uma das maiores dificuldades do
Espiritismo prático.”
Notem que, em poucas palavras,
Kardec enumera problemas semelhantes
aos que facilmente podem ocorrer no
recebimento de emails e mensagens pelas
redes sociais, através da internet. Ao dizer
que os Espíritos “não nos trazem um ato de
notoriedade” Kardec se refere à dificuldade
de identificar um Espírito da mesma forma
como identificamos as pessoas. Afinal, não
nos é sempre possível “ver” o Espírito e
mesmo quando podemos vê-lo, através da
mediunidade, nem sempre a visão
mediúnica é garantia de identificação.
Aproveitando a analogia com a informática,
alguns Espíritos, assim como os chamados
hackers, tentam se fazer passar por outrem
em razão de interesses menos dignos. No
item 257 do LM Kardec comenta:
“Muito mais fácil de se
comprovar é a identidade,
quando se trata de Espíritos
contemporâneos, cujos
caracteres e hábitos se
conhecem, porque,
precisamente, esses hábitos, de
que eles ainda não tiveram
tempo de despojar-se, são que
os fazem reconhecíveis e desde
logo dizemos que isso constitui
um dos sinais mais seguros de
identidade.” (Grifos em negrito,
meus).
Aqui vemos Kardec utilizar o
conceito de “identidade pessoal” que os
filósofos estudaram no passado. Kardec foi
o primeiro pesquisador a aplicar isso na
investigação da sobrevivência da alma[4].
Os caracteres e hábitos pessoais da pessoa
que desencarnou é que permitirão ser
ele(a) reconhecido(a) pelas pessoas que
o(a) conheciam. Como Kardec diz, esses
sinais são os “mais seguros de identidade”.
Para Kardec, os elementos de
“identidade pessoal” são mais importantes
que detalhes de natureza material nas
comunicações, como a caligrafia ou
assinatura idênticas as da pessoa
desencarnada:
“Igualmente se pode incluir
entre as provas de identidade a
semelhança da caligrafia e da
assinatura; mas, além de que
nem a todos os médiuns é dado
obter esse resultado, ele não
representa, invariavelmente,
uma garantia bastante. Há
falsários no mundo dos
Espíritos, como os há
neste. Aí não se tem, pois, mais
do que uma presunção de
identidade, que só adquire valor
pelas circunstâncias que a
acompanhem. O mesmo ocorre
com todos os sinais materiais,
que algumas pessoas têm como
talismãs inimitáveis para os
Espíritos mentirosos. Para os
que ousam perjurar ao nome de
Deus, ou falsificar uma
assinatura, nenhum sinal
material pode oferecer
obstáculo maior. A melhor de
todas as provas de identidade
está na linguagem e nas
c i r c u n s t â n c i a s f o r t u i t a s .”
(Grifos em negrito, meus).
A caligrafia e a assinatura são
marcas de natureza material. Assim como
há pessoas que são capazes de imitá-las
com perfeição, Espíritos existem que
também podem fazer isso. Kardec não
considera, portanto, a caligrafia e a
assinatura como provas absolutas de
identidade, e diz que elas têm valor
somente quando os critérios de “identidade
pessoal” acompanham a mensagem. O
mesmo ocorre com os métodos de
comunicação pela internet. Mensagens
maliciosas podem chegar em nome dos
nossos conhecidos, sem que eles as tenham
enviado. Mas, cabe a nós o cuidado com
todas as mensagens que recebemos por
emails e outros meios de comunicação.
Voltando ao começo do capítulo
XXIV do LM, há uma obser vação
interessante de Kardec com relação à
identificação de Espíritos de personalidades
antigas:
“A identidade dos Espíritos das
personagens antigas é a mais
difícil de se conseguir, tornandose muitas vezes impossível, pelo
que ficamos adstritos a uma
apreciação puramente moral.
Julgam-se os Espíritos, como os
homens, pela sua linguagem. Se
um Espírito se apresenta com o
nome de Fénelon, por exemplo, e
diz trivialidades e puerilidades,
está claro que não pode ser ele.
Porém, se somente diz coisas
dignas do caráter de Fénelon e
que este não se furtaria a
subscrever, há, se não prova
material, pelo menos toda
probabilidade moral de que seja
de fato ele. Nesse caso,
sobretudo, é que a identidade
real se torna uma questão
acessória. Desde que o Espírito
só diz coisas aproveitáveis,
pouco importa o nome sob o q u a l
as diga.” (Item 255, Grifos e m
negrito, meus).
Suponha que um professor se
utilize da internet para encaminhar
mensagens e textos a seus alunos. Se o
conteúdo das mensagens for estranho,
pueril, ofensivo, certamente que os alunos
considerarão que a mensagem não pode ter
sido enviada pelo professor, mas sim por
a l g u m h a c ke r. D a m e s m a f o r m a
procedemos com relação à mensagens
assinadas por personalidades antigas.
Assim como os alunos não tem informação
sobre a vida pessoal do professor, não
temos acesso aos dados da vida e
identidade pessoais de determinados
Espíritos que nos enviam mensagens. Mas,
como esclarece Kardec, numa mensagem
instrutiva, o importante é a natureza do
conteúdo. Sobre os Espíritos superiores,
Kardec diz:
“À medida que os Espíritos se
purificam e elevam na
Jornal Espírita
Alavanca
hierarquia, os caracteres
distintivos de suas
personalidades se apagam, de
certo modo, na uniformidade da
perfeição; nem por isso,
entretanto, conservam eles
menos suas individualidades. É
o que se dá com os Espíritos
superiores e os Espíritos puros.
Nessa culminância, o nome que
tiveram na Terra, em uma das
mil existências corporais
efêmeras por que passaram, é
coisa absolutamente
insignificante. (...) Porém, como
de nomes precisamos para
fixarmos as nossas idéias,
podem eles tomar o de uma
personagem conhecida, cuja
natureza mais identificada seja
com a deles.” (Item 256, grifos
em negrito, meus).
Aproveitando o exemplo do
professor que envia mensagens aos alunos,
pode acontecer dele precisar viajar e, para
não deixar os alunos sem tarefa, pedir para
um colega, também professor, enviar outros
textos aos seus alunos em seu nome. Na
medida que o colega souber o que deve ser
enviado aos alunos, não há problema ele
fazer isso em nome do professor. Assim
ocorre com relação aos Espíritos superiores.
Seus pensamentos se tornam tão afins
USE-Campinas
entre si que se um deles toma um nome
conhecido para nós para assinar uma
mensagem, se o conteúdo da mensagem
tiver a coerência e a qualidade que se
espera da personalidade vinculada ao nome
assinado, então não há problema. Kardec
esclarece ainda mais a questão:
“O mesmo ocorre todas as vezes
que um Espírito superior se
comunica espontaneamente, sob
o nome de uma personagem
conhecida. Nada prova que seja
exatamente o Espírito dessa
personagem; porém, se ele nada
diz que desminta o caráter desta
última, há presunção de
ser o
próprio e, em todos os
casos, se pode dizer que, se não
é ele, é um Espírito do mesmo
grau de elevação, ou talvez até
um enviado seu. Em resumo, a
questão de nome é secundária,
podendo-se considerar o nome
como simples indício da
categoria que ocupa o Espírito
na escala espírita.” (Item 256,
grifos em negrito, meus).
Assim, vemos que a mediunidade
apresenta a intrigante questão da
identidade dos Espíritos que assinam as
mensagens. Ao centralizar essa questão na
análise do conteúdo das mensagens
mediúnicas, Kardec nos apresenta a forma
Campinas sedia 9º Festival
do Livro do Centro
Espírita Allan Kardec
Livros, CDs e DVDs terão descontos de
até 80%, com mais de 1.800 títulos à venda
O Centro Espírita Allan Kardec
(CEAK), de Campinas, realiza a nona
edição do Festival do Livro Espírita no dia
3 de outubro de 2015 (sábado). Com o
tema “A Transformação Através do
Conhecimento” a feira deste ano terá
mais de 1.800 títulos divididos entre
livros, CDs, e DVDs, e com até 80% de
desconto.
A divulgação da doutrina espírita
é o principal objetivo do evento, que tem
ainda o propósito de promover o
encontro entre colaboradores e
frequentadores do CEAK e outras casas
espíritas do estado de São Paulo e região.
O evento também incentiva o
voluntariado, a solidariedade e o trabalho
em equipe.
Todo o lucro da venda dos
produtos no Festival será revertido às
obras assistenciais do CEAK: creche Mãe
Luiza, no Educandário Eurípedes; Creche
Gustavo Marcondes, em Sousas; Casa de
Apoio à Vida; e Instituto Popular
Humberto de Campos.
O evento acontece no Ginásio de
Esportes do Educandário Eurípedes,
anexo à Panificadora Bambini, no bairro
Vila Nova. Haverá recreação infantil,
espaço kids e praça de alimentação. Os
visitantes vão poder participar de um café
literário e escritores autografarão livros
no evento.
O festival do livro espírita
acontece das 9h às 18h. A entrada é
franca e haverá estacionamento gratuito
no local. O evento é bianual, a última
edição foi realizada em 2013.
Mais Informações: (19) 2514-8763 ou
www.ceak.org.br/festivaldolivro
5
mais segura de trabalharmos a
mediunidade para nossa instrução e para
auxílio aos desencarnados sofredores. De
modo simples, basta agirmos da mesma
forma como com o recebimento de
mensagens eletrônicas: analisando o seu
conteúdo!
A importância da análise do
conteúdo das mensagens como forma de
reconhecimento da identidade de uma
pessoa, vai além da questão das mensagens
recebidas por vias eletrônicas. Uma pessoa
pode, através de técnicas de desfarce, se
fazer passar por outra, como nos trabalhos
dos dublês nos filmes. Ou, também, no caso
de gêmeos univitelinos. Nesses casos, a
aparência material pode nos enganar
facilmente. Só a aparência, portanto, não
permite distinguir quem a pessoa de fato é.
Apenas quando interagimos com elas
através da troca de ideias, analisando seus
pensamentos e o modo como se expressa, é
que podemos constatar quem ela é.
Enquanto alguns pensam que a
sobrevivência da alma é algo que a Ciência
ortodoxa um dia irá descobrir, a grande
verdade é que o Espiritismo já demonstrou
a existência e sobrevivência da alma. Como?
Aplicando esses critérios de
reconhecimento de identidade que hoje
aplicamos às diferentes formas de
comunicação eletrônica, Kardec foi capaz de
mostrar que a alma dos ditos mortos,
permanece viva e é capaz de se comunicar
com os ditos vivos.
Alexandre Fontes da Fonseca
Campinas – SP
Referências:
[1] Fonte: Wikipedia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Era_da_inf
orma%C3%A7%C3%A3o
Acessado em 21 de Junho de 2015.
[2] Fonte:
http://www.espiritualidades.com.br/Liga
/9_ENLIHPE_2013/9_ENLIHPE_2013_com
o_foi.htm
Acessado em 21 de Junho de 2015.
[3] Link: www.lihpe.net
Acessado em 21 de Junho de 2015.
[4] S. S. Chibeni, “Spiritism: An
experimental approach to the issue of
personal post-mortem survival”, artigo
apresentado no 9o ENLIHPE, São Paulo,
24 de Agosto de 2013. Link:
https://drive.google.com/file/d/0BzdGM
5lC6GhJdFFyMVhMOGJLVzg/edit?usp=sha
ring
Acessado em 21 de Junho de 2015.
[5] Link de acesso:
https://www.youtube.com/watch?v=GH5
cP0NeBlY
[6] A. Kardec, O Livro dos Médiuns,
Editora FEB, 62ª Edição, Rio de Janeiro
(1996).
Aparências e maledicências
A candeia do corpo são os olhos;
de sorte que, se os teus olhos forem bons,
todo o teu corpo terá luz . (Mateus, 6:22)
A maledicência e a crítica dura e
destrutiva são inadmissíveis no
comportamento do homem de bem.
Mesmo a simples discordância ou a mera
manifestação ruidosa em relação a pessoas
e ideias, devem ser conduzidas com muito
cuidado.
Não estamos falando,
naturalmente, do pensamento divergente
que, sinceramente, visa o aperfeiçoamento,
com base na excelência e no mérito.
Ainda nesses casos, espíritos
e l eva d o s co st u m a m reve st i r s u a s
observações com o algodão da tolerância e
a mansuetude da prudência. Falta-nos
autoridade moral para apontarmos defeitos
alheios. Além disso, quantas vezes nos
deixamos levar pelas aparências? E como as
aparências nos enganam...
Muitas vezes fazemos mau juízo
do próximo, julgamo-lo por seus erros e,
não raramente, nós é que estamos errados.
*****
A Semana de Arte Moderna,
também chamada de Semana de 22,
ocorreu em São Paulo. Apesar de ter sido
chamada semana, o evento ocorreu em três
dias - 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 -, no
Teatro Municipal de São Paulo. O evento
marcou época ao apresentar novas ideias e
conceitos artísticos.
No dia 17, o público presente, em
número reduzido, portava-se com respeito.
Até que o Maestro Villa-Lobos adentrou o
recinto...
Entrou de casaca, mas com um pé
calçado com um sapato e outro com
chinelo.
O público e a crítica interpretaram
a atitude como desrespeitosa. Vaiaram
impiedosamente o grande maestro.
Mais tarde, quando já não se podia mais
consertar o grande estrago, o maestro
explicaria que não se tratava de modismo.
Era apenas um calo inflamado.
*****
Como se reconhece um homem
de bem? Na resposta da questão 918 - uma
das mais importantes de O Livro dos
Espíritos -, Allan Kardec registra que o
homem de bem é indulgente para com as
fraquezas alheias, porque sabe que também
precisa da indulgência dos outros e se
lembra destas palavras do Cristo:
– Atire a primeira pedra aquele
que estiver sem pecado.
*****
A respeito da maledicência,
geralmente revestida da inocente fofoca,
Chico Xavier recomendava:
Devemos efetuar campanhas de
silêncio contra as chamadas fofocas,
cultivando orações e pensamentos
caridosos e otimistas em favor de nossa
união e de nossa paz.
No livro Por uma vida melhor,
Richard Simonetti adverte que indo pelas
aparências, em direção à maledicência,
agentes das sombras agem de forma
sofisticada.
Pa ra i m p e d i r q u e a a ç ã o
saneadora do Espiritismo progrida,
semeiam a discórdia e a separação a partir
da aparentemente despretensiosa fofoca, a
maledicência veiculada sem compromisso,
assim como quem vende pelo preço que
comprou.
*****
Aparência e maledicência andam
de mãos dadas, ainda mais se inspiradas
pela leviandade ou pela má intenção.
Espírita que sinceramente deseje
lutar contra suas más tendências deve
precaver-se contra esses perigos, ainda
mais se considerar que são armas prediletas
da espiritualidade inferior.
O que faria Chico em meu lugar?
Silêncio, orações, pensamentos caridosos e
otimistas previnem a desunião e nos
mantêm nossa consciência tranquila.
Finalmente, é preciso lembrar das
dores que já passamos simplesmente
porque outras pessoas foram movidas pela
necessidade de autoafirmação.
Se doeu em nós, doerá no outro!
Que tal nos lembrarmos da norma
básica que nos aconselha a fazer ao próximo
exatamente o que gostaríamos que
fizessem conosco?
Lembremo-nos do mandamento
maior que nos aconselha:
Tratai todos os homens como
quereríeis que eles vos tratassem.
Lucas, 6:31
Sidney Fernandes
[email protected]
6
USE-Campinas
Jornal Espírita
Alavanca
Precisamos de inovação
O grande pintor espanhol Pablo
Picasso costumava dizer: “eu começo com
uma ideia e aí ela se torna algo diferente”,
em uma clara demonstração que
transformações são inevitáveis – algumas
vezes difíceis de serem assimiladas e
praticadas, porém quase sempre
necessárias para nos adequarmos aos
novos tempos.
Centros Espíritas são instituições
que, de modo geral, têm uma tendência a
se manter dentro de padrões já
existentes, repetindo formatos muitas
vezes criados em época e realidade
diferentes.
Po r m o t i vo s va r i a d o s o s
trabalhadores acabam (quase sem
querer) por entrar na rotina existente na
instituição. Em algumas situações as
fórmulas se repetem porque foram
criadas por alguém considerado muito
importante para a Casa (como o
fundador, um médium reconhecido),
constituindo-se um “sacrilégio” alterá-la.
Em outros momentos a
repetição ocorre porque os
colaboradores não têm permissão de
opinar. Quando isso acontece podemos
observar duas situações: a primeira delas
é quando as pessoas não se sentem mal
com isso e até preferem esse tipo de
estrutura. Conheço uma pessoa que não
gosta de Casas Espíritas onde os
participantes são convidados a dar ideias,
preferindo aquelas em que os Dirigentes
ditam as normas e ela só tem que
obedecer – aliás, quando tentou fazer
parte de uma organização com
administração mais participativa, sentiuse mal e foi embora.
Pessoas assim dão continuidade
à rotina já existente sem questionar e/ou
dar sugestões. Claro que não há nada de
mal nisso, se todos estão felizes e
satisfeitos. Contudo, sempre fico
pensando nos possíveis talentos que
deixamos de descobrir e utilizar. Mas,
enfim, não deixa de ser uma forma
meritória de trabalho.
Quando a pessoa não pode
emitir opinião, existe também a
possibilidade de sentir-se incomodada
com a falta de espaço para participação e,
nesse caso, simplesmente ir embora,
buscando um outro local de trabalho ou,
em casos mais raros, continuar na
organização aguardando por um
momento onde poderá ser escutada e,
quem sabe, auxiliar em transformações
positivas para todos – já vi isso ocorrer,
com resultados muitos satisfatórios
também.
Além do que já foi exposto
anteriormente, a manutenção de
padrões nas instituições espíritas
também está associada ao fato do ser
humano ter uma grande tendência ao
comodismo gerando como resultado
muitos Centros Espíritas funcionando
com uma estrutura criada em (e para)
tempos passados.
É inegável o esforço de todos os
envolvidos para manter uma instituição
em funcionamento e é fato que a maioria,
dentro de suas possibilidades e objetivos,
obtém resultados satisfatórios. Mas isso
não significa que devemos nos fechar
para novas ideias.
As ideias são uma espécie de
semente para mudanças que podem ser,
sim, muito positivas. Sem elas não
podemos criar nada, mas o fato de ter
uma ideia na cabeça não garante
resultados.
É necessário compartilhar as
ideias, deixar que sejam fertilizadas com o
pensamento dos demais companheiros,
complementando-as e deixando-as
prontas para se tornarem realidade. Esse
processo de troca poderá revelar a
qualificação de cada membro da equipe,
seus estilos e capacidades, usando-as em
benefício do coletivo.
Mudar não significa que o que
foi feito anteriormente não era bom ou
não serve mais. Significa apenas que
podemos usar a experiência já adquirida
para alcarmos voos mais altos. Ademais,
só podemos mudar algo que já existe – e
se existe é porque foi e é importante.
Ou seja, não é desprestigiar o
que já foi, mas valorizar o que poderemos
conquistar. Com trabalho e tempo, o que
era apenas uma ideia poderá se
transformar em um projeto real que trará
resultados positivos a muitas pessoas,
incluindo os colaboradores e a instituição
que teve coragem de abrir espaço para a
inovação.
Martha Rios Guimarães
Espiritismo e Política
O Espiritismo não possui
dogmas. Não no sentido de que se possa
definir, categoricamente, pontos
incontroversos ou incontestáveis no
cotidiano humano. E isso não possui
relação com ser melhor ou pior
co m p a ra d o à s o u t ra s d o u t r i n a s
religiosas. É apenas diferente.
Por ter sido ditada pelos
Espíritos Superiores, tendo como
codificador o professor Allan Kardec,
seus ensinos partem das Leis Naturais,
criadas por DEUS, para que seja mantido
o equilíbrio na criação. E com relação à
parte moral, o Mestre Jesus é o guia e
modelo a ser seguido(1).
A fo r m a m a i s s i m p l e s e
complexa de resumir o Cristianismo e,
por consequência, a parte religiosa e
moral do Espiritismo se resume no
seguinte: amar a DEUS sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo.
Nesse ensinamento está a máxima
religiosidade (busca do Divino) e também
uma forma adequada de se viver em
sociedade para que se possa evoluir,
progredir.
Não sem razão, a primeira Lei
Natural é a de Adoração(2), a qual explica
a possibilidade de elevação a DEUS. Já a
Lei do Progresso(3) demonstra que uns
auxiliam os outros pelo contato social(4).
Por todas as razões acima, o verdadeiro
Espírita, resumidamente, é um religioso
mais tolerante; se esforça para fazer o
bem e reprimir as suas más
tendências(5); é um ser que busca o bem,
se esforçando para fazer todo o bem que
podia, tentando levar consolação aos
aflitos; é o que busca perdoar e relevar as
ofensas; não abusa dos bens que lhe são
concedidos; usa sua autoridade para
tornar menos penosa a situação dos
subalternos; como subordinado, tenta
cumprir com seus deveres etc(6). Ou
seja, tem como objetivo uma postura
melhor na sociedade, buscando aplicar o
que aprende em todos os momentos da
vida, não apenas na casa religiosa. É o
ideal de evoluir individualmente e
ta m b é m co nt r i b u i r p a ra co m a
sociedade.
Veja-se que mesmo com todos
os ensinos claros e firmes, muitos ainda
afirmam que alguns assuntos da
Doutrina Consoladora não devem se
“misturar” com assuntos puramente
“humanos”. A maior controvérsia?
Política... todavia, Bezerra de Menezes,
grande Espírita, médico e político,
ensina: “A política, como eu
compreendo não é uma especulação
dos homens, é uma religião. A religião
da pátria, tão sagrada e obrigatória
como o culto das verdades eternas que
constituem a religião de Deus”.
essalta-se que em momento
algum está se defendendo o debate
político-partidário, esse sim tão
pernicioso porque envolve sentimentos
e/ou interesses, por vezes,
completamente opostos. E isso deve ser
evitado para que não sejam criadas
vibrações desequilibradas.
Mas alguns questionamentos
p a ra q u e m e st i ve r l e n d o e s s a s
despretensiosas linhas: você sabe quais
são os três poderes da República? E o que
faz cada um deles? Sabe quais são as
quatro funções que integram o legislativo
nacional? As três funções que compõe o
executivo? Qual o número de vereadores
de sua cidade? E de deputados estaduais
e federais?
O q u e c a u s a v e r d a d e i ra
estranheza é o posicionamento de alguns
Espíritas na atualidade, transformando
debates que poderiam ser saudáveis, em
uma contenda puramente sectária.
Exemplo: discursos de que os
políticos/partidos são todos iguais e que
sempre foram corruptos e que, por isso,
não se pode questionar os atuais
representantes. Ora, esse pensamento
não poderia encontrar guarida entre
aqueles que pugnam, que trabalham
pelo progresso. Se estivéssemos na
época da escravatura, diriam que a
mesma não poderia ser abolida porque
todos sempre foram escravocratas? Se
estivéssemos na época da
Independência iriam contra porque o
país sempre foi uma simples colônia?
O debate que poderia ser
saudável é aquele proposto por Bezerra
de Menezes: algo cívico, em benefício do
país, da sociedade. É buscar uma conduta
na contramão dos desvios éticos e
morais; é buscar a satisfação e o bem
estar da sociedade e não apenas de seus
pares... é, enfim, melhorar e fazer
progredir os valores atuais, tão em
desequilíbrio, para algo superior.
Disso tudo surge uma
postura/conduta que está sendo
questionada por muitos: seria
c o n v e n i e n t e a l g u m a s
associações/sociedades Espíritas
aderirem publicamente a ações da
sociedade que visam combater a
corrupção? Oficialmente, alguns órgãos
de unificação declararam apoio às
10(dez) medidas contra a corrupção
criada pelo Ministério Público Federal(7).
Primeiro ponto: parece lícita a
participação de Espíritas em questões
sociais. Segundo ponto: como a iniciativa
do Ministério Público é política (solução
de certos problemas sociais) e não
partidária (que segue um partido),
objetivando efetivamente um fim
específico (fim da corrupção), também
parece não existir qualquer vedação para
o apoio dos Espíritas. Terceiro ponto: os
meios são adequados? Aqui entra o
ponto mais controverso, pois a causa é
válida e a consequência (resultado) é
necessária... mas são os meios que
causam maior preocupação. Explica-se.
As garantias Constitucionais são
primordiais para salvaguardar o Estado
Democrático de Direito. E suprimir
direitos para buscar um resultado
i m e d i a t i s t a p o d e t ra ze r g rav e s
consequências no futuro. Aqui é
necessário estudar com calma quaisquer
medidas para que os fins não justifiquem
os meios, os quais podem ocasionar
certos abusos para com os direitos
individuais. Lembre-se que deve existir
sempre isonomia, ou seja, a legislação é
aplicada a todos. Assim sendo, o mesmo
rigor que se deseja para o outro pode
recair sobre si mesmo no caso concreto.
Não é raro que alguns
operadores do Direito tenham condutas
e pensamentos meramente punitivistas,
buscando uma espécie de vingança
estatal. E talvez seja esse o principal
ponto de debate entre os Espíritas: uma
análise que vise não causar
desequilíbrios nos meios utilizados para
alcançar determinados fins (leis), pois
isso poderia trazer prejuízos à sociedade
ao invés de se alcançarem benefícios.
Porém, uma ressalva não pode
deixar de ser feita: quem participa desses
movimentos visando uma sociedade
melhor são os adeptos e não a Doutrina
Espírita. Uma coisa não pode ser
confundida com a outra. Quando
qualquer órgão de unificação ou
associação Espírita participar desse tipo
de movimento, deve restar bem claro
que o fazem por vontade própria e não
representando o Espiritismo. O fazem
porque são Espíritas e não em nome do
Espiritismo. São coisas distintas.
Portanto, salvo melhor juízo,
não parece existir impedimento sobre a
participação de grupos Espíritas na vida
social do país, salvo em questões
partidárias e sectárias, pois o objetivo
deve ser o bem social, o progresso. Mas
seria importante um amplo debate sobre
como fazer isso e os meios sobre essa
participação, tudo para que qualquer
decisão não vise gerar medidas
imediatistas que possam desrespeitar
direitos individuais, causado ainda
maiores prejuízos no futuro.
Carlos de Paula
(1) O Livro dos Espíritos, questão 625.
(2) O Livro dos Espíritos, Terceira Parte,
Capítulo 2.
(3) O Livro dos Espíritos, Terceira Parte,
Capítulo 8.
(4) O Livro dos Espíritos, questão 779.
(5) O Livro dos Médiuns, Parte Primeira,
Capítulo 03 – “Método”, item 28, 3.a
divisão.
(6) O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Capítulo 17 – “Sede Perfeitos”, item “O
homem de bem”.
(7) Sítio eletrônico do MPF:
<http://www.combateacorrupcao.mpf.mp.
br/10-medidas>. Acesso em 30/08/2015.
Jornal Espírita
Alavanca
USE-Campinas
7
Cuidados paliativos: cuidando na morte, humanizando o fim da vida.
No imaginário humano
desencarne é morte. Por mais que avance
o conhecimento da realidade espiritual, a
humanidade hoje vive o sonho da vida
eterna na estrutura física, sonho este
acalentado pelo desenvolvimento da
ciência, grande triunfo do renascimento e
do iluminismo que ao longo de quatro
séculos a partir do século XIV
descaracterizaram a finitude como
certeza, substituindo-a pela possibilidade
do prolongamento da vida ou adiamento
da morte. Os hospitais que hoje assistem
a luta pela vida são a evolução de
instituições que na idade média acolhiam
os doentes pobres ou abandonados e os
assistiam no seu desencarne, já que os
nobres desencarnavam em suas
residências assistidos pelos seus entes
queridos. Com o desenvolvimento da
ciência médica o desencarne cuidado aos
poucos se transformou no desencarne
medicado, encarado como algo a ser
curado.
A busca da cura como prêmio
possível relegou a morte à condição de
problema a ser vencido. O ser
fragmentado nos seus diversos sistemas
físicos a serem tratados viu a sua essência
resumida ao que fosse tecnicamente
acessível e modificável. Perdeu a sua
importância e passou a representar no
seu momento final o incômodo fracasso
que teima em ter necessidades etéreas.
Vários relatos de desencarnes e
sua problemática em relação à realidade
espiritual foram descritos nas obras de
André Luiz pela psicografia de Chico
Xavier. O caso de Cavalcante em Obreiros
da Vida Eterna publicado em 1946 ilustra
com detalhes este descompasso entre as
necessidades do doente que agoniza, os
critérios de valores adotados pela equipe
de encarnados e as dificuldades da equipe
espiritual no auxílio ao desencarnante.
Cavalcante na visão dos benfeitores
espirituais “perseverante trabalhador no
bem”, pressentindo o próprio desencarne
“experimentava funda sede de consolo,
necessitava coragem que lhe viesse do
exterior”. Atemorizado frente à morte,
num momento de lúcida análise de sua
trajetória naquela existência, buscava o
perdão da esposa que embora não
soubesse já se encontrava desencarnada.
Pelo péssimo estado vibratório em que se
encontrava não percebia a assistência
espiritual de Jerônimo e Bonifácio, amigos
espirituais que se desdobravam para
diminuírem o seu sofrimento. Ainda em
possibilidade de contato com o médico e
os religiosos encarnados que o assistiam
tudo o que obteve foi aflição e
desrespeito. Por fim, tamanho prejuízo
vibratório definiu a sintonia com as
imagens infernais sob a visão das quais
agonizou e desencarnou.
A despeito de todo o
desenvolvimento da ciência continuamos
desencarnando. Demoramos mais no
processo de doença e tanto a dor quanto
as possibilidades de crescimento
espiritual no período final da experiência
física se encontram ampliadas, mas
mudanças vão ocorrendo e respondem
aos novos tempos. Em 22 de junho de
1918 encarnou em Barnet no Reino Unido
o espírito carismático que veio a chamarse Cicely Saunders. Na Inglaterra póssegunda grande guerra, esta senhora
inicialmente enfermeira, formou-se em
assistência social e posteriormente em
medicina e através do seu trabalho com
pacientes no fim da vida cunhou as bases
do que hoje é conhecido como Cuidados
Paliativos ou Filosofia dos Hospices. Esta
nova abordagem se fundamenta na visão
multidimensional da dor, no seu aspecto
emocional, social, físico e espiritual, na
caracterização da unidade a ser acolhida e
atendida como composta por paciente e
familiares, e no trabalho multiprofissional
e interdisciplinar. Desencarnou em 14 de
julho de 2005, após longa vida de trabalho
e dedicação à causa da humanização do
fim da vida. Seu trabalho é mundialmente
conhecido e os Cuidados Paliativos são
reconhecidos como política pública de
saúde para acompanhamento de
pacientes em condição de terminalidade
e seus familiares pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) desde 1990,
recomendado e implantado em todos os
continentes. Em 2002 a OMS ampliou o
conceito dos Cuidados Paliativos
abrangendo pacientes ainda em fase de
tratamento de doenças potencialmente
fa t a i s , r e c o n h e c e n d o a g ra n d e
importância da visão holística do ser
durante todo o processo de adoecimento.
São princípios dos Cuidados Paliativos:
Promover o alívio da dor e de outros
sintomas desagradáveis, afirmar a vida e
considerar a morte um processo normal
da vida, não acelerar nem adiar a morte,
integrar aspectos psicológicos e
espirituais no cuidado ao paciente,
oferecer suporte que permita ao paciente
viver tão ativamente quanto possível até
o momento de sua morte, oferecer
suporte para os familiares durante a
doença do paciente e luto e oferecer
abordagem multidisciplinar a paciente e
familiares. Deve ser iniciado o mais
precocemente possível junto a outras
medidas de prolongamento da vida como
quimioterapia e radioterapia e incluir
todas as investigações necessárias para
melhor compreensão e manejo dos
sintomas.
Cicely Saunders nunca aceitou o
velho e surrado bordão “não há mais o
que fazer”, mas ao contrário, provou que
com amor há muito que fazer. Ao
considerar os familiares como
componentes do processo de
adoecimento e sofrimento nos abriu a
perspectiva de atuar de forma positiva
não apenas em relação ao doente, mas
também contribuir para o fortalecimento
dos laços de amor no núcleo familiar
através do apoio ao cuidador, prevenindo
o surgimento de novos doentes da alma.
Enfim Cicely Saunders trouxe a ciência até
o último instante da vida e nos ensinou
que ela é benéfica, enquanto houver em
nós respeito, compaixão e acima de tudo
amor.
Eliane Sampaio Vieira de Castro
Médica Cardiologista, Intensivista e
Paliativista.
Hospital Unimed Jundiaí.
Associação Médico Espírita de Campinas.
Jesus extraterrestre. E irmão maior de todos nós
Perdidos em um planeta azul e
pequenino no infinito do espaço, nós,
terráqueos, adoramos fantasiar sobre seres
extraterrestres. Remonta há tempos
imemoriais o primeiro homem a erguer os
olhos ao céu pontilhado de estrelas e se
perguntar se estaríamos sozinhos nessa
vastidão sem fim. Mais recentemente,
literatura, cinema, televisão e internet se
encarregaram de dar asas à nossa
imaginação. Por vezes, ficamos extasiados
com seres estranhamente simpáticos,
como o personagem do filme ET, o
extraterrestre, de Steven Spielberg.
Noutras, nos assustamos com criaturas
aterrorizantes, como o Predador que dá
nome ao filme estrelado por Arnold
Schwarzeneg ger. Seja amando ou
morrendo de medo, fato é que somos
fascinados por aliens.
C o l o ca n d o a fa nta s i a e o
entretenimento de lado, o Espiritismo lança
luz nova à escuridão sideral. Sem se furtar
de uma de suas principais características,
desmistifica a figura dos seres de outros
planetas. Do espaço não virão monstrinhos
s i m p á t i c o s c o m o E .T, n e m fe r a s
aterrorizantes como o Predador. Muito
menos anjos alados, de auréola sobre a
cabeça e harpa debaixo do braço. O Cosmo
é, sim, habitado e cheio de vida, conforme
atesta a Terceira Revelação. Contudo, nas
estrelas residem seres como nós, humanos.
Filhos de Deus.
Segundo lições dadas pelos
espíritos superiores ao codificador Alan
Kardec, na vastidão do espaço e seus
incontáveis mundos vivem nossos irmãos.
Alienígenas? Sim, podemos chamá-los
assim, visto que não habitam a Terra, mas
ainda filhos do mesmo Pai, como todos nós,
em marcha evolutiva rumo a purificação, de
acordo com as imutáveis, divinas e justas
leis do Criador.
Para quem ainda acredita na
ilusão de que Deus criou as estrelas e os
planetas para encher o céu de luz e entreter
o olhar dos humanos de nosso planetinha,
vale citar Kardec. Na pergunta 54 de O Livros
dos Espíritos, o codificador questiona os
espíritos superiores: "Todos os globos que
circulam no espaço são habitados?"
A resposta: "Sim, e o homem da
Terra está longe de ser, como crê, o primeiro
em inteligência, em bondade e em
perfeição. Todavia, há homens que se
creem muito fortes, que imaginam que
somente seu pequeno globo tem o
privilégio de abrigar seres racionais.
Orgulho e vaidade! Julgam que Deus criou o
universo só para eles”.
Sorte a nossa sermos filhos de um
Pai de infinito amor e bondade. Deus envia
seus filhos mais evoluídos, irmãos mais
velhos, para auxiliar a ascensão das crianças
espirituais. E quem são esses irmãos senão
habitantes de outros mundos? Em sua
misericórdia absoluta, Ele faz desse
intercâmbio a possibilidade de duplo
aprimoramento, pois aqueles destinados a
ensinar também aprendem. Não nos
esqueçamos que foram os degredados de
Capela os 'missionários' nos primórdios da
civilização terráquea. Seres de inteligência
desenvolvida e moral necessitada de
elevação, se viram obrigados a estagiar em
zonas inferiores até equilibrarem a balança
entre mente e coração.
Há, e sempre houve, entre nós, os
missionários na completa essência da
p a l a v ra . Ve r d a d e i r o s a b n e g a d o s ,
mergulham na carne sem a necessidade de
expiação. Deixam mundos onde a felicidade
alcança patamares sequer sonhados por
nós, pequeninos terráqueos na infância
perante o infinito, por amor. São eles, essas
entidades superiores, os alienígenas os
responsáveis pela condução da Terra.
E o maior desses extraterrestres é
Jesus.
Para clarear esse ponto de vista,
Joanna de Ângelis, no livro Jesus e o
Evangelho - À luz da Psicologia Profunda psicografado por Divaldo Franco, explica
com clareza singular. "Jesus Homem, que
nunca se reencarnara antes na Terra,
apresenta-se-nos como o Ser integrado,
que houvera adquirido conhecimento e
amor e viera experimentar provações e
ultrajes, a fim de conseguir êxito a fim na
tarefa que Lhe fora confiada por Deus, como
administrador e condutor do Planeta em
que se hospedava."
Jesus, o mestre por excelência, é
filho de Deus como todos nós. Veio, após
cumprir todas as etapas de sua jornada
evolutiva, executar a missão de amor
designada pelo Pai. Veio para governar
nosso pequeno planeta azul, escondido na
Via Láctea, e conduzir seus jovens irmãos na
mesma trilha que ele mesmo traçara com
sucesso em outros mundos. Essa verdade
diminui a grandeza de nosso maior irmão
maior? Jamais!
Jesus não aportou ao nosso
mundo em uma nave intergaláctica. Em
sublime prova de amor e renúncia, reduziu
a própria luz e mergulhou nas sombras
densas da Terra para ser a luz do exemplo
vivo da Boa Nova. Com a simplicidade dos
sábios, revelou nossa origem divina e a
infinita bondade do Pai. Pregou o amor ao
próximo como o caminho para a felicidade
da vida eterna, a qual todos estamos
destinados. Para ensinar o amor, viveu o
amor incondicionalmente.
Passados mais de 2 mil anos,
ainda cambaleamos na estrada evolutiva.
Trôpegos em nossa própria sombra,
ensaiamos viver plenamente sob a luz das
verdades trazidas pelo Cristo. Aceitamos
seus ensinamentos, sim. Reconhecemos as
belezas do Evangelho. Mas árdua é a tarefa
de colocar o amor pleno no dia a dia.
Racionalmente, nenhum Cristão refuta a
verdade da irmandade em Deus. Duro é
conseguir perdoar nosso irmão quando ele
nos pisa os calos. “Perdoar 70 vezes 7
vezes”, como ensinou o Messias. A
mudança em nós, a autoiluminação é a
prova que devemos vencer para evoluir.
Para quem adora histórias de
aventura, com heróis lutando contra
criaturas de outros planetas, voltem a
atenção para as lições do extraterrestre
Jesus. Pois não existe maior prova de
coragem do que enfrentar o monstro que
reside em cada um nós. E quando a batalha
contra si mesmo parecer perdida, lembrese que Ele, o ser mais perfeito a pisar nesse
planeta, está, ainda hoje, ao seu lado. Ainda
hoje, enverga apenas a arma do amor.
Ainda hoje, como sempre, ama a todos, os
melhores e, especialmente, os piores. Ama
a todos porque somos irmãos, todos iguais
perante Deus, tenhamos nascido no
planeta Terra ou nas estrelas.
Rafael De Marco
8
USE-Campinas
Jornal Espírita
Alavanca
A degeneração do Espiritismo
Comparando a história do
Espiritismo com a do Cristianismo
Primitivo, podemos tirar algumas
conclusões importantes para a o futuro
da nossa doutrina e o do seu movimento
social.
O Cristianismo, cuja pureza
doutrinária do Evangelho e simplicidade
de organização funcional dos primeiros
núcleos cristãos foi conquistando lenta e
seguramente a sociedade de sua época,
sofreu com o tempo um desgaste
ideológico. Corrompeu-se por força dos
interesses políticos, financeiros e
institucionais. Os novos adeptos e seus
líderes, não conseguindo penetrar na
essência do Evangelho, que é
regeneração, ou seja, o mergulho
doloroso no mundo interior e a reversão
das atitudes exteriores, adaptaram o
mesmo às suas conveniências
psicossociais, atacando suas ideias mais
contundentes à moral animalizada,
alimentando os mecanismos de defesa da
mente, fazendo concessões às fraquezas
dos adeptos e desviando-os para o
comodismo dos disfarces rituais
exteriores. Repressão de forças
espirituais espontâneas e ideias
consideradas ameaçadoras ao clero,
como a mediunidade e a reencarnação; a
falsificação de tradições e a adoção do
sincretismo dos costumes bárbaros,
foram as principais estratégias dessa
clericalização do cristianismo.
O resultado de tudo isso é bem
conhecido: dois milênios de intolerâncias,
violências, atraso espiritual, perpetuação
das injustiças sociais, agravamento de
compromissos com a lei de ação e reação
e forte comprometimento da
regeneração do nosso planeta.
Com o Espiritismo não está
sendo muito diferente.
Apesar das advertências dos
Espíritos e do próprio Allan Kardec quanto
aos períodos históricos e tendências do
movimento, os espíritas insistem em
cometer os mesmos erros do passado. Os
mesmos erros porque provavelmente
somos as mesmas almas que rejeitaram e
desviaram o Cristianismo da sua vocação
e agora posamos de puristas ortodoxos,
inimigos ocultos do Espírito da Verdade.
Negligentes com a oração e a vigilância,
cedemos constantemente aos tentáculos
do poder e da vaidade. Desprezamos a
toda hora a ideia do “amai-vos e instruívos”, entendendo-a egoisticamente, ora
como fortalecimento intelectual
competitivo, ora como o afrouxamento
dos valores doutrinários. Não
conseguindo nos adaptar ao Espiritismo,
compreendendo e vivenciando suas
verdades, vamos aos poucos adaptando a
doutrina aos nossos limites,
corrompendo os textos da codificação,
ignorando a experiência histórica de Allan
Kardec e dos seus colaboradores,
trazendo para os centros espíritas
p rát i ca s d o g m át i ca s d a s n o s s a s
preferências religiosas, hábitos políticos
das agremiações que frequentamos e
mais comumente a interferência negativa
dos nossos caprichos e vaidades pessoais.
Como os primeiros cristãos, também
lutamos pelo crescimento de nossas
instituições, deixando-nos seduzir pelo
mundo exterior e imitando os grupos já
pervertidos, construindo palácios
arquitetônicos, cuja finalidade sempre foi
causar impressão aos olhos e a falsa ideia
de prestígio político; e dentro deles
praticamos as mesmas façanhas da
deslealdade, das rivalidades, das
p e rs e g u i çõ e s a o s d e s afeto s , d a
autoafirmação e liderança autoritária, de
crítica e boicote às ideias que não
concordamos.
E, finalmente, cultivamos uma
equívoca concepção de unificação,
esperando ingenuamente que a nossas
ideias e grupos sejam majoritários num
Grande Órgão Dirigente do Espiritismo
Mundial, do nosso imaginário, e muitas
outras tolices e fantasias que nem vale a
pena enumerar aqui.
E assim caminhamos, unidos em
nossas displicências e divididos nas
responsabilidades. Preferimos esquecer
figuras exemplares que atuaram na
Sociedade Espírita de Paris quando
ignoramos nossa história sabiamente
registrada na Revista Espírita. Deixamos
de lado líderes agregadores – ainda que
divergências normais e toleráveis
existissem entre eles – para ouvir e nos
deixar dominar por um disfarçado clero
institucional, comando por vozes
medíocres e ciumentas, figueiras estéreis,
sofistas encantadores e improdutivos,
enfim, velhas almas e velhas tendências,
vinho azedo e frutas podres em nossos
mais caros celeiros doutrinários.
Mas como evitar esse processo
de corrupção e, em alguns casos notórios,
de contaminação e má conduta? Como
reverter a situação para reconduzir essas
experiências para os rumos
verdadeiramente espíritas? O que fazer
com as más instituições, com os maus
dirigentes, os maus médiuns, maus
comunicadores, enfim os maus espíritas?
Devemos identificá-los e expulsá-los dos
nossos quadros? Devemos denunciá-los e
discriminá-los como fazia a Inquisição
com os acusados de heresia?
O que fazer com os livros que
consideramos impuros ou inconvenientes
ao movimento: devemos queimá-los em
praça pública, censurá-los em nossas
bibliotecas ou então deixar que a própria
comunidade espírita pratique o livre
arbítrio e aprenda a fazer escolhas
corretas e adequadas às suas
necessidades?
O Espiritismo foi certamente
uma doutrina elaborada por Espíritos
Superiores e isto nos deixa tranquilos
quanto ao seu futuro doutrinário. Mas o
seu movimento vem sendo feito por seres
humanos, espíritos ainda imaturos e
inexperientes. Isso realmente tem nos
deixado muito preocupados, pois
sabemos que, hoje, os inimigos do
Espiritismo estão entre os próprios
espíritas.
Dalmo Duque dos Santos
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/
dalmo/a-degeneracao.html
Onde está Deus que permite
atrocidades, como a que ocorreu
com o menino Aylan?
Associação de Divulgadores
do Espiritismo
Rádio e TV Espírita
www.adecampinas.org.br
Irena Sendler, mais conhecida
como o anjo do gueto de Varsovia, salvou
da morte mais de 2.500 crianças
condenadas pela insanidade de Adolf
Hitler e seus lunáticos aliados.
A polonesa abrigava crianças
que fugiam da guerra. Criativa, dizia aos
alemães que os pequenos estavam com
doenças contagiosas, como os guerreiros
não queriam conversa com
enfermidades, as crianças ficavam em
paz.
E ai Irena agia. Um saco de
batata, cesto de lixo ou caixa de
ferramentas em suas mãos eram abrigo
para esconder as crianças dos nazistas.
Um exemplo de amor em meio
aos tiros e granadas daquela nefasta
guerra...
Por isso, quando perguntam
onde está Deus que permite tamanha
atrocidade, como no caso do garoto Aylan
Kurdi, morto afogado após infrutífera
tentativa de fugir do caos de seu país com
a família, costumo dizer que Deus
manifesta-se pelo Homem.
Deus vive no coração de pessoas
como Irena Sendler, que fazem a
diferença neste mundo tão carcomido
pelo ódio e as guerras.
Pena que Aylan não encontrou
nenhuma Irena pelo seu caminho...
Sabem por que as guerras e o mal
triunfam neste mundo? Sabem por qual
razão crianças como Aylan sucumbem?
Simples a resposta, que é dada pelos
Espíritos superiores: Pela omissão dos
"ditos" bons.
Enquanto nos permitirmos, seja
pelo motivo que for, as guerras, crianças
como Aylan morrerão vitimadas pelo
ódio.
Talvez em nossos tempos
modernos faltem Irenas para salvar
Aylans.
Wellington Balbo

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