Recursos Didáticos além do Power-Point

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Recursos Didáticos além do Power-Point
Recursos Didáticos além do Power-Point
Camillo Cavalcanti
Pós-Doutor em Ciência da Literatura pela UFRJ.
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus Vitória da
Conquista, sede. Ex-professor da Rede Federal Tecnológica no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia.
Recentemente, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) equipou
TODAS as salas de aula com Data-Show. O artigo é minha oportunidade de parabenizar
a iniciativa formalmente, com muita alegria, e discutir o impacto deste recurso didático
na sala de aula, segundo minha modesta experiência docente desde 1998, quando
ensinei voluntariamente no Pré-Vestibular Luz e Esperança, dos graduandos em Física
da Universidade Federal Fluminense e na monitoria em Letras da mesma instituição,
passando pelo Colégio Rei/Grupo GPI em 1999, diversos supletivos e colégios
pequenos, até o Instituto Federal (antigo Centro Federal de Educação Tecnológica /
CEFET) e o Magistério Superior.
De modo que minha fala é modesto apelo para um diálogo entre professores.
Quis apenas mostrar algumas alternativas ao Power-Point, tanto por este recurso carecer
na maioria das escolas brasileiras quanto também por desestimular, ao meu ver, a
interação/motivação do aluno.
O avanço das tecnologias nos seduziu, como professores, a buscar proveito de
recursos didáticos mais modernos para a sala de aula. De todos eles, parece óbvia a
predominância do Power-Point, chamado também, por metonímia ou catacrese, de
“slides”, em homenagem a tal recurso sofisticado na década de 1980.
Não considero o uso deste equipamento apropriado ao Ensino pensado dentro da
Complexidade: o Power-Point é retíleno e uniforme; curto e limitado. Quero ressaltar
nele algumas características negativas, que podem ser contornadas por outros recursos
didáticos. A primeira delas é o costume. Os alunos, familiarizados com o Power-Point
nas outras aulas, sentem falta, estranham o contexto, mesmo que certas estratégias
substituam o papel do Power-Point. Trata-se de uma “sensação de modernidade” ou
“mania de sofisticação”, que induz o aluno à opinião de que o professor é obsoleto, se
ainda usa folhas impressas. Docentes adeptos do Power-Point logicamente não são
responsáveis por esta indução baseada no pré-conceito.
Outro ponto negativo do Power-Point é que as imagens projetadas são estáticas,
reproduzindo a dificuldade da linguagem computacional com o improviso e a
imprevisibilidade. No Power-Point , alguns traços primários podem ser feitos com o
auxílio do mouse; porém, diante do mais complexo, precisa-se retirar a projeção da tela
cheia, transformar a imagem em arquivo do Paint brush, arriscar desenhos produzidos
precariamente com o auxílio do mouse e enfim devolver a projeção para tela cheia.
Piora no caso de curvas irregulares ou anotações motivadas repentinamente na prática
docente. Existe a alternativa da caneta digital, mas extrapola os limites do Power-Point,
além de ainda ser um equipamento muito caro para o professor, cujo salário ainda
remete o lap-top (notebook) ao mundo das quimeras. A solução seria projetar a imagem
no quadro branco, onde podemos riscar livremente, ao contrário da tela para a projeção.
Entretanto, isso sacrifica todos os apontamentos e esquemas escritos no quadro da sala,
que poderiam ser preservados para outras aulas e para se repensar o material.
O terceiro ponto negativo é a passividade do aluno diante da projeção. O PowerPoint foi desenvolvido para exposição de sentenças curtas. Destarte o aluno julga que o
tradicional “fichamento” ou anotações estão dispensados. Aliás, como escrever se a sala
está escura?
Resumindo, o Power-Point é um recurso didático que atenua a fixação de
conteúdos, pelo desestímulo ao registro escrito por parte do aluno.
É preciso reconhecer, por outro lado, a eficácia do Data-Show. Sua missão era
exportar imagens da tela do computador a um anteparo externo e muito maior. Por
exemplo, há sessões de cinema alternativo cuja imagem, projetada pelo Data-Show, se
assemelha muito à do projetor tradicional, pelo menos para o público leigo, como eu
mesmo.
Entretanto, a eficácia do Data-Show não vence as limitações operacionais do
computador, já descritas em parte neste artigo. Logo, este projetor irá apresentar
exatamente o que lhe é disponibilizado.
Na verdade, falta ao computador melhor interação homem-máquina, que permita
introjeção mais dinâmica de estímulos para além das letras. Querendo transpor esses
limites, muitos desenvolveram técnicas surpreendentes, como o desenho utilizando o
mouse. Mas o que está em jogo não é a capacidade humana em vencer desafios, e sim a
do computador em melhorar a recepção de estímulos.
Justamente por não sermos obrigados à adaptação ao computador, este deve ser
adaptado a nossos interesses. De tal sorte que alguns recursos para desenhos livres
surgiram no mercado, como o tablet, espécie de prancha onde o que desenhamos se
transpõe ao computador. Mas esta solução, frente ao baixo salário dos professores e à
falta de computadores na maioria das escolas brasileiras, permanece cara e pouco usada,
pelo menos no Brasil. Outra possibilidade é o touch-screen, a tela sensível ao toque,
utilizada em terminais de autoatendimento (os famosos caixas eletrônicos dos bancos).
Eis uma tecnologia mais cara ainda – e muito pouco usada.
O tablet, por ser tecnologia recente, falta em muitas instituições, dificultando a
inserção desse recurso didático na sala de aula. Por outro lado, o scanner, muito mais
antigo, já pode ser encontrado em muitos estabelecimentos de ensino. Tal equipamento
aparece como alternativa para solucionar dificuldades em transmitir ao computador os
estímulos de desenhos livres, um dos temas abordados nesse artigo. Por exemplo, podese “escanear” qualquer imagem, cabendo, então, ao professor montar imagens
pertinentes ao trabalho docente (esquemas, fluxogramas, gráficos, etc.). É possível
imprimir um texto, marcá-lo, anotá-lo, rabiscá-lo à mão livre, para depois finalmente
devolvê-lo ao computador, via scanner. A estratégia pode ser “arcaica” e “braçal” para
o universo digital, mas funciona muito bem: basta o professor levar os esquemas
prontos já digitalizados, ou mesmo dispor do scanner para assuntos incidentais.
Existem outros recursos didáticos, tradicionais inclusive, de grande eficiência
didática, como apostilas e questionários. Fui concursado para a Escola Municipal Conde
Pereira Carneiro em Irajá, bairro carente do Rio de Janeiro, capital. Lá, tive que lidar
com equipamentos considerados obsoletos, por exemplo o mimeógrafo, em pleno
século XXI. Nessa escola à margem da alta tecnologia, esquecida pelos sucessivos
governos, constatei, com a ajuda de meus colegas, que, embora penalizando o professor,
o mimeógrafo dá ao aluno um verdadeiro material (isto é, objeto físico) para estudar na
sala e em casa, oportunizando conteúdos suplementares ao livro didático. No sacrifício
docente, o mimeógrafo comprova sua eficácia pedagógica, mas nem sempre tecnológica
(além do esforço físico e até moral do professor em nome do aluno, o mimeógrafo
produz, com o tempo, textos esbranquiçados). Além disso, esse maquinário da galáxia
de Guttemberg é a única opção muitas vezes. Mas, por outro lado, esses antigos
materiais (isto é, objetos físicos) têm a vantagem do presentificar-se, isto é, realizar-se
fisicamente. Assim, o aluno pode guardar e levar para casa, estudando muito mais. A
interação do aluno acontece às claras, incontestavelmente. E o que dizer das imagens
virtuais às escuras, sumidas após a exibição? Confiar na anotação do aluno, frente a um
recurso que estimula a passividade, e ainda com luz apagada, não me parece a melhor
solução. Talvez pensando assim, vários professores optam por imprimir o arquivo
virtual (ppt), confirmando o apelo e a necessidade em materializar o recurso didático.
O segredo, como sempre, está no diálogo; na soma, nunca na subtração. O
professor deve conjugar o máximo de recursos necessários para otimizar o ensino,
facilitando o aprendizado. Nesse sentido, é fundamental unir às projeções de PowerPoint materiais escritos como impressões do arquivo ppt, esquemas “escaneados”,
apostilas e questionários.
Professor, qual o seu material didático?
RECURSOS DIDÁTICOS ALÉM DO POWER-POINT
RESUMO: O presente trabalho objetiva apresentar
ao professor recursos tecnológicos compatíveis com
o computador, abrindo um diálogo pedagógico nas
mais diversas áreas do conhecimento. A finalidade é
partilhar experiências docentes capazes de melhorar
o
ensino
como
aprendizagem,
fundamento
para
contextualizando
na
uma
boa
realidade
brasileira da Educação Básica, Tecnológica e
Superior.
Palavras-chave: Educação; Recursos Didáticos; Mídias
TEACHING
RESOURCES
BEYOUND
POWER-POINT
ABSTRACT: This article intends to show how
teachers and professors can take PC's technological
resources for education. The pedagogical dialogue is
openned, including all knowledge areas. The goal is
to share classroom experiences, in order to improve
the teaching, what's the base to good learning. The
The context is Brazilian reality, that means low cost
situations, even on Basic, Technological and High
School institutions.
KEYWORDS: Education; Teaching Resources; Medias