Eryk Rocha lança hoje, no site da SerTaoBras, Viaje por un sol
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Eryk Rocha lança hoje, no site da SerTaoBras, Viaje por un sol
E STA D O D E M I N A S 8 CARLOS HERCULANO LOPES [email protected] ● S E X T A - F E I R A , ‘‘ 6 D E M A I O D E 2 0 1 1 CULTURA ● SEGUNDA-FEIRA - Alcione Araújo ● TERÇA-FEIRA - Fernanda Takai ● QUARTA-FEIRA - Fernando Brant ● QUINTA-FEIRA - Frei Betto ● SEXTA-FEIRA - Carlos Herculano Lopes ● SÁBADO - Cyro Siqueira ● DOMINGO - Affonso Romano de Sant’Anna A mulher abriu um sorriso e respondeu, já mais à vontade: ‘É a Rádio Favela, e esse é o programa Bolerolerolero’ ’’ A taxista Não são raras as vezes em que, estando a serviço, alguém dá sinal para o táxi e, quando vai ver, é um ex-aluno. A alegria é geral, a e corrida passa depressa. “Mas não pense que é fácil lidar com adolescentes, principalmente com meninos. Eles me chamavam de sargentão e, enquanto estive naquela escola, levava todos na conversa, nunca fiz nenhuma ocorrência”, confessou Neusa, usando o velho jargão policial. Motorista classe E, que lhe dá o direito de dirigir carretas, sua única bronca nas ruas – mas não é sempre que ocorre – é com motoristas de ônibus estressados. Às vezes, eles insistem em fechar seu carro, avançar o sinal, obstruir o trânsito. “Alguns são piores que os motoqueiros. Só que estes são mais vulneráveis, e quase todos os dias a gente vê um caído no asfalto”, disse. Tem outra coisa: com olho treinado, além de ter um sexto sentido apurado, Neusa não costuma entrar em enrascadas – conhece um malandro de longe. “Deu sinal, vi que não é boa bisca, não tem essa. Sigo em frente”. Outra coisa que enche aquela mulher de orgulho, deixando-a toda prosa, é quando algum passageiro, sobretudo se for de fora, elogia o serviço de táxi de Belo Horizonte. Aí, estufa o peito, vira a cabeça, se o cujo estiver no banco traseiro, e dispara: “Somos considerados os melhores do Brasil “. Mas aí, quando eu ia comentar, ela fez sinal de silêncio e aumentou o volume do rádio. Era Bienvenido Gandra, que no Bolerolerolero atacava de Besame mucho, enquanto o carro, suavemente, parava em frente ao meu prédio. Noite destas, com prenúncios de chuva, aconteceu de eu dar sinal para um táxi e, para minha surpresa, estar uma mulher ao volante. Fato raro em Belo Horizonte, como de resto em todo o país, onde nesse tipo de serviço os homens predominam. A princípio, depois dos cumprimentos de praxe, e as perguntas “para onde o senhor vai?”, “qual caminho quer seguir?”, ficamos calados. O trânsito, àquela hora, estava mais calmo, e no rádio do carro, bem baixinho, uma música romântica dava o tom. Muito bonita, comentei, para puxar assunto. A mulher abriu um sorriso e respondeu, já mais à vontade: “É a Rádio Favela, e esse é o programa Bolerolerolero, que ouço todas as noites, estando ou não dirigindo. É uma terapia para mim”. Daí em diante, e enquanto durou nossa corrida, a conversa rolou fácil, e a motorista, depois de dizer que se chamava Neusa, contou também, com uma ponta de orgulho, que há mais de 40 anos está na praça, onde todo o mundo a conhece. “Os colegas me chamam de Tiazinha, porque eu gostava de usar óculos escuros”. Disse ainda que, em paralelo, teve duas outras profissões: numa primeira fase trabalhou na Polícia Civil, onde ficou um bom tempo, para em seguida ser transferida para a Secretaria de Educação. Passou a exercer uma nova função, a de inspetora de um colégio, à qual também se adaptou. NA REDE FESTIVAL Eryk Rocha lança hoje, no site da SerTaoBras, Viaje por un sol. Filme mostra um dos principais meios de transporte da periferia do Peru Uma volta de motokar FOTOS: ONG SERTAOBRAS/DIVULGAÇÃO CARLOS HERCULANO LOPES Um dos mais populares meios de transporte do Peru, o motokar –veículo de três rodas no qual podem andar duas pessoas, além do condutor, à moda dos riquixás chineses – acaba de ser motivo da série Viaje por un sol, do cineasta Eryk Rocha. Patrocinado pela ONG mineira SerTaoBras, com sede em Arcos, o primeiro episódio, de um total de 12, estará disponível a partir de hoje no site www.sertaobras.org.br. A série, que será iniciada com o lançamento das micronarrativas El viaje e Mobilidad, continuará com a divulgação semanal, sempre às sextas-feiras, de novo capítulo. Para Eryk Rocha, filho do cineasta Glauber Rocha, realizar essa série foi experiência muito interessante. “A ideia central do projeto era justamente pesquisar esse meio de transporte peruano, ao qual tentei lançar meu olhar poético e sensorial, mas sem perder o viés informativo e sociológico”, diz. Autor, entre outros, do premiado documentário Pachamama, filmado no Peru, Brasil e Bolívia, para realizar Viaje por un sol o cineasta valeu-se também do fato de ter vivido durante seis anos em vários países latino-americanos. O título da série, que deverá ter uma versão também para o cinema, com duração de 52 minutos, foi inspirado no preço cobrado por cada corrida no motokar, ou seja: um sol, moeda peruana que equivale a aproximadamente R$ 0, 57. “Na capital, esse meio de transporte é usado principalmente nas periferias, pelas classes mais populares. Mas no resto do Peru, todo mundo anda de motokar”, diz Eryk Rocha. Preparando-se para lançar em agosto, no circuito comercial, o seu primeiro longa de ficção, Transeunte, filmado no Centro do Rio de Janeiro com atores de teatro, Eryk Rocha conta ainda, sobre Viaje por un sol, que foi também sua intenção mostrar uma realidade latino-americana de hoje. “Quis trazer o espectador para dentro de um motokar. Como se ele estivesse fazendo uma viagem” diz. Além de Viaje por un sol e Pachamama, Eryk Rocha, que nasceu em Brasília, em 1976, também já produziu, entre outros, os longa-metragens Rocha que voa, em 2002, e Intervalo clandestino, em 2006. É autor ainda do curtametragem Quimera, com o qual participou de vários festivais no Brasil e no exterior. Com seu novo longa, Transeunte, ganhou o Prêmio da crítica do Festival de Brasília, em 2010. VIAJE POR UN SOL Lançamento hoje no site www.sertaobras.org.br. Depois do sucesso de Pachamama, Eryk rocha lança na internet filme que convida a viajar pelo Peru Cinema brasileiro em Paris O longa-metragem Rio Zona Norte, dirigido por Nelson Pereira dos Santos em 1957, foi exibido na abertura do Festival de Cinema Brasileiro de Paris, no cinema Le Nouveau Latina, no Bairro do Marais. Homenageado desta edição do evento organizado por Katia Adler, o diretor, de 82 anos, confessou: “É muita emoção receber essa homenagem aqui em Paris”. E aproveitou para anunciar: “Acabei de terminar um filme sobre Tom Jobim, que é pura música”. Lembrou que era proibido mostrar as favelas do Rio na época em que fez Rio 40 Graus. “Diziam que era propaganda negativa para o cinema brasileiro”, lembrou, comentando a produção atual: “De todas as regiões do país surgem filmes extraordinários”. Ontem, em parceria com a União Latina, o festival promoveu debate sobre a obra de Nelson Pereira dos Santos. Além da presença do cineasta, participam da mesa MarieChristine de Navacelle, diretora do departamento audiovisual do BPI (Centre Pompidou), Guiomar de Grammont, escritora e professora de filosofia da arte na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), de Lisa Ginzburg, diretora de cultura da União Latina. “Nelson Pereira dos Santos é reconhecido pelos franceses como um dos maiores expoentes do cinema brasileiro”, diz Kátia Adler, que exibirá filmes célebres do diretor, como Jubiabá (1985), adaptação do romance de Jorge Amado (que está nas mostras dos dois homenageados), e Como Era Gostoso o Meu Francês (1971). Este ano, o festival chega este ano à 13ª edição e se consolida como o evento audiovisual brasileiro de maior prestígio no exterior.