MARP_2o Relatório de Progresso VF

Transcrição

MARP_2o Relatório de Progresso VF
União Africana
República de Moçambique
FÓRUM NACIONAL DO MECANISMO AFRICANO DE REVISÃO DE PARES
2° RELATÓRIO DE PROGRESSO SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DO
PROGRAMA NACIONAL DE ACÇÃO DO MECANISMO AFRICANO DE
REVISÃO DE PARES
(MARP)
Maputo, Dezembro de 2015
ÍNDICE
ACRÓNOMOS E ABREVIATURAS ............................................................................................ 3
PREFÁCIO ...................................................................................................................................... 6
AGRADECIMENTOS ..................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 8
SUMÁRIO EXECUTIVO ................................................................................................................ 9
AVALIAÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROCESSO DO MARP EM MOÇAMBIQUE ... 14
METODOLOGIA .......................................................................................................................... 15
AVALIAÇÃO DO GRAU DE PROGRESSO POR ÁREA TEMÁTICA ................................... 16
CAPÍTULO I DEMOCRACIA E GOVERNAÇÃO POLÍTICA .................................... 17
CAPÍTULO II GOVERNAÇÃO E GESTÃO ECONÓMICA ........................................ 37
CAPÍTULO III GOVERNAÇÃO CORPORATIVA ........................................................ 66
CAPÍTULO IV DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÓMICO ................................... 79
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 110
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ACRÓNOMOS E ABREVIATURAS
AAM
ACISE
AFRODAD
AFs
AGIR
AJVF
AOD
AT
ATM
AWEPA
BAU’s
BCI
BdPES
BM
BNI
BPI-EEF
BPQG
BVM
CAF
CAP
CAPAE
CEDSIF
CGE
CIP
CMC's
CNAQ
CNCS
CPO
CTA
DAF´s
DFID
DPIM
DUAT
E-Banking
EMAN
EMATUM
EN1
ENH
EP2
ERDAP
ESG
e-SISTAFE
FAE
FDD
FIFA
FMI
FMO
FPC
Action Aid Mozambique
Associação Comercial e Industrial de Serviços
Fórum e Rede Africana para Dívida e Desenvolvimento
Agregados Familiares
Programa de Acções para uma Governação Inclusiva e Responsável
Associação Jovens com Visão do Futuro
Ajuda Oficial ao Desenvolvimento
Autoridade Tributária de Moçambique
Automated Teller Machine
Associação de Parlamentares Europeus para África
Balcões de Atendimento Único
Banco Comercial e de Investimentos
Balanço do Plano Económico e Social
Banco de Moçambique
Banco Nacional de Investimentos
Banco Português de Investimento – Estudos Economicos e Financeiros
Balanço do Plano Quinquenal do Governo
Bolsa de Valores de Moçambique
Cadastro dos Funcionários e Agentes do Estado
Cadastro dos Pensionistas e Rendistas do Estado
Cadastro Provisório dos Agentes do Estado
Centro de Desenvolvimento de Sistemas de Informação
Conta Geral do Estado
Centro de Integridade Pública
Centro Multimédia Comunitários
Conselho Nacional de Avaliação da Qualidade do Ensino Superior
Conselho Nacional de Combate ao SIDA
Comissão do Plano e Orçamento
Confederação das Associações Económicas de Moçambique
Direcção da Área Fiscal
Departamento Britânico para o Desenvolvimento Internacional
Dívida Pública Interna Mobiliária
Direito de Uso e Aproveitamento da Terra
Serviço de Banca Electrónica
Estratégia para Melhoria do Ambiente de Negócios
Empresa Moçambicana de Atum
Estrada Nacional Nº 1
Empresa Nacional de Hidrocarbonetos
Escola Primária do 2º Grau
Estratégia da Reforma e Desenvolvimento da Administração Pública 2012-2025
Ensino Secundário Geral
Sistema de Administração Financeira do Estado (Electrónico)
Funcionários e Agentes do Estado
Fundo de Desenvolvimento Distrital
Fédération Internationale de Football Association
Fundo Monetário Internacional
Fórum de Monitoria do Orçamento
Facilidade Permanente de Cedência
3
FRELIMO
G20
GAMC
GAZEDA
GCCC
GFDRR
GFP
GMD
HIV
IBAN
IDE
IEC
IESE
IFAC
IFRS
IGF
IMM
INAS
INCAF
INE
INEFP
IoD
IOF
IPEME
IPI
IRPC
IRPS
ITIE
IVA
JUE
MARP
MASC
MDM
MDRI
MEF
MEGAS
MINEC
MIREM
MISAU
MMAS
MOZEFO
MPD
MPMEs
MT
NEPAD
NICs-SP
NUIT
OCAM
OCBs
ODM
OIIL
Frente de Libertação de Moçambique
Grupo de 20 Organizações da Sociedade Civil que participam no Observatório de
Desenvolvimento
Gabinete de Apoio a Mulher e Criança vítima de violência
Gabinete das Zonas Económicas de Desenvolvimento Acelerado
Gabinete Central de Combate à Corrupção
Fundo Global para Redução e Recuperação de Desastres do Banco Mundial
Gestão de Finanças Públicas
Grupo Moçambicano da Divida
Vírus de Imunodeficiência Humana
Número Internacional de Conta Bancária
Investimento Directo Estrangeiro
Informação, Educação e Comunicação
Instituto de Estudos Sociais e Económicos
Federação Internacional de Contabilistas
Normas Internacionais de Relato Financeiro
Inspecção-geral de Finanças
Iniciativa Maternidade Modelo
Instituto Nacional de Acção Social
Inquérito Continuo aos Agregados Familiares
Instituto Nacional de Estatística
Instituto Nacional de Emprego de Formação Profissional
Instituto de Directores de Moçambique
Inquérito do Orçamento Familiar
Instituto de Pequenas e Médias Empresas
Índice de produção industrial
Imposto sobre o Rendimento de Pessoa Colectiva
Imposto sobre o Rendimento de Pessoa Singular
Iniciativa Internacional da Transparência das Indústrias Extractivas
Imposto sobre Valor Acrescentado
Janela Única Electrónica
Mecanismo Africano de Revisão de Pares
Mecanismo de Apoio a Sociedade Civil
Movimento Democrático de Moçambique
Iniciativa de Perdão da Dívida Multilateral
Ministério de Economia e Finanças
Medição de Gastos em HIV e SIDA
Ministério de Negócios Estrangeiros e Cooperação
Ministério de Recursos Minerais
Ministério da Saúde
Ministério da Mulher e Acção Social
Forum Económico e Social de Moçambique
Ministério de Planificação e de Desenvolvimento
Micro, Pequenas e Médias Empresas
Metical
Nova Parceria para o Desenvolvimento de África
Normas Internacionais de Contabilidade do Sector Público
Número Único de Identificação Tributaria
Ordem dos Contabilistas e Auditores de Moçambique
Organização Comunitária de Base
Objectivo de Desenvolvimento do Milénio
Orçamento de Investimento de Iniciativa Local
4
OLE
OMM
ONGs
OSC
PAFA
PALOPs
PAPs
PARP
PARPA
PEC
PEN III
PES
PIB
PMEs
POS
PRSEIE
PSSA
PTV
PVHIV
REN
RENAMO
RM
RSE
SADC
SC
SIDA
SIMO
SISTAFE
SMN
SPEED
TARV
TB
TIC
TL
TVM
UE
UGB
UNICEF
US
USAID
VD
VOA
Órgãos Locais do Estado
Organização da Mulher Moçambicana
Organização Não Governamental
Organizações da Sociedade Civil
Federação Pan-Africana de Contabilistas
Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
Parceiros de Apoio Programático
Plano de Acção para a Redução da Pobreza
Plano de Acção de Redução de Pobreza Absoluta
Programas de educação comunitária
Plano Estratégico Nacional de Combate ao SIDA 2010/2014
Plano Económico e Social
Produto Interno Bruto
Pequenas e Médias Empresas
Point of Sale ou Point of Service
Política de Responsabilidade Social Empresarial da Indústria Extractiva
Pequenos Sistemas de Abastecimento de Água
Prevenção da Transmissão Vertical
Pessoas Vivendo com HIV
Rede Elétrica nacional
Resistência Nacional Moçambicana
Rádio de Moçambique
Responsabilidade Social Empresarial
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral
Sociedade Civil
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
Sociedade Interbancária de Moçambique
Sistema de Administração Financeira do Estado
Saúde materna e neonatal
Support Program for Economic and Enterprise Development
Tratamento Anti-retroviral
Tuberculose
Tecnologias de Informação e Comunicação
Timor Leste
Televisão de Moçambique
União Europeia
Unidade Gestora Beneficiária
Fundo das Nações Unidas para a Infância
Unidades Sanitárias
Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional
Via Directa
Voz da América
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PREFÁCIO
Moçambique apresenta o seu 2° Relatório de Progresso no âmbito do Mecanismo Africano de Revisão
de Pares num contexto é que está iniciativa emblemática da União Africana busca formas de se
revitalizar e alinhar-se aos novos desafios impostos pela Agenda 2063 da União Africana e os
Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas no domínio da boa governação
política e gestão económica.
O país continua a consolidar os seus processos democráticos e de exercício da cidadania, bem como
a encetar esforços para a manutenção da PAZ e Estabilidade Política. Estas accões combinadas têm
contribuído para um crescimento médio anual assinalável nos últimos anos na ordem de 7 % e sido
complementadas por uma gestão e governação económica prudente o que tem-se traduzido numa
melhoria substancial na prestação de serviços públicos básicos.
O presente relatório apresenta progressos alcançados nas várias áreas temáticas do MARP, mas
também identifica desafios que se colocam ao país sendo que estes só poderão ser ultrapassados
num ambiente de concórdia e diálogo permanente envolvendo esforços concertados entre as
instituições do Estado, organizações da sociedade civil, sector privado, confissões religiosas,
academia e demais actores sociais.
Por via deste relatório, Moçambique reitera o compromisso assumido em 2003 a quando da sua
adesão de traduzir, na pratica governativa os valores e os princípios do MARP e da NEPAD
consubstanciados no Estado de Direito democrático, gestão económica e corporativa prudentes
visando o desenvolvimento económico e social inclusivos, reforçados através de um processo
continuo, abrangente e participativo de auto-avaliação.
Em nome do Governo, gostaria de enaltecer os esforços empreendidos pelo Fórum Nacional do MARP
pela liderança demonstrada na elaboração do presente Relatório de Progresso, aos quadros do
Governo e demais organizações cívicas a escala nacional pela colaboração durante todo o processo.
Maputo, Dezembro de 2015
Adriano Maleiane
Ministro da Economia e Finanças
(Ponto Focal do MARP)
6
AGRADECIMENTOS
O Fórum Nacional do MARP tem o prazer de apresentar o 2° Relatório de Progresso no âmbito do
Mecanismo Africano de Revisão de Pares. Na linha do 1° relatório, as análises efectuadas cobrem o
espaço temporal de 2012 a 2014 e resultam do cruzamento de várias informações oriundas de
diversas fontes governamentais e não-governamentais detalhando os progressos alcançados e
identificando os desafios colocados ao país nos vários domínios do MARP.
Por esta via, gostaríamos de valorizar o papel desempenhado por Sua Excelência Armando Emílio
Guebuza, antigo Presidente da República de Moçambique na operacionalização do processo do
MARP em Moçambique e concomitantemente congratular Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, por
afirmar o seu apoio e, sobretudo o cometimento do país para com os princípios e objectivos do MARP.
Agradecemos igualmente o inestimável apoio recebido de Sua Excelência o Ministro da Economia e
Finanças na sua qualidade de Ponto Focal do MARP.
O nosso agradecimento estende-se às organizações da sociedade civil e cidadãos e quadros do
Governo a vários níveis pela disponibilidade que vem emprestando ao processo do MARP desde o
início da sua implementação no país e em particular durante as várias etapas que nortearam a
elaboração do presente Relatório de Progresso.
Aos Membros do Fórum Nacional do MARP e em particular aos responsáveis pelas áreas temáticas
vai um agradecimento especial, nomeadamente: Dr. Máximo Dias (Democracia e Governação
Política); Dra. Virgínia Videira (Gestão e Governação Económica); Reverendo Dinis Matsolo
(Governação Corporativa); e Prof. Dr. João Leopoldo da Costa (Desenvolvimento Sócio-Económico).
Finalmente, gostaríamos de agradecer as nossas Antenas Provinciais, a equipa do Secretariado
Nacional do MARP e ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) pelo apoio
concedido nos vários estágios da concepção e elaboração do 2° Relatório de Progresso do MARP.
Estamos convictos que o mesmo apoio continuará a ser prestado no novo ciclo do MARP que se
avizinha.
Prof. Dr. Lourenço do Rosário
Presidente do Fórum Nacional do MARP
7
INTRODUÇÃO
No âmbito do cumprimento das regras de procedimentos e funcionamento do Mecanismo Africano de
Revisão de Pares (MARP), que de entre outros, obrigam os países membros a apresentarem
regularmente relatórios de progresso em torno das recomendações do Painel de Personalidades
Eminentes do MARP incluídas no relatório de avaliação do país, Moçambique apresenta o seu 2°
Relatório de Progresso no âmbito do MARP.
Tomando como ponto de partida os desafios identificados no 1° relatório de progresso (2010-2012), o
presente relatório apresenta os progressos alcançados pelo país durante o período 2012-2014 e
identifica os principais desafios que se colocam ao país no domínio da Democracia e Governação,
Gestão e Governação Económica, Governação Corporativa e Desenvolvimento Sócio-económico que
são as áreas temáticas do MARP objecto de avaliação.
O relatório compreende três partes principais, nomeadamente: (i) Sumário Executivo; (ii) Avaliação do
Processo do MARP em Moçambique; e (iii) Avaliação do grau de progresso em relação as
recomendações do Painel de Personalidades Eminentes do MARP.
Ao cumprir este requisito, Moçambique reafirma mais uma vez o seu cometimento para com os valores
veiculados pelo MARP no sentido de tornar todos os processos de governação participativos,
transparentes e inclusivos, guiados por uma cultura de diálogo e prestação permanente de contas dos
governantes para os governados.
8
SUMÁRIO EXECUTIVO
Moçambique aderiu voluntariamente em 2003 ao Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP) e
posteriormente preparou o seu processo de auto-avaliação em 2007 tendo culminado com a
apresentação do seu relatório de avaliação em Junho de 2009 perante os seus pares na XI Cimeira de
Chefes de Estado e de Governo dos países membros do MARP. O seu primeiro relatório de progresso
foi apresentado em Janeiro de 2014 em Adis Abeba, Etiópia durante a XX Cimeira do MARP. O
presente relatório de progresso reporta os progressos registrados durante o período que vai de 2012
`a 2014, bem assim os desafios que são impostos ao país.
Durante esse período, Moçambique logrou alcançar avanços substanciais nas quatro áreas temáticas
do MARP conforme se sumariza a seguir:
Na área de Democracia e Governação Política, no quadro do aprofundamento dos processos
democráticos, o país realizou com sucesso as terceiras eleições autárquicas em 2013 e quintas
eleições presidências, legislativas e paras as assembleias provinciais em 2014, consideradas pela
União Africana e outros organismos internacionais como livres, justas e transparentes. No mesmo
contexto, com vista a promoção da educação cívica eleitoral, observou-se um esforço em crescendo
nesta matéria, tendo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) elaborado uma
estratégia intitulada “Massificação da Campanha de Educação Cívica” como forma de mobilizar os
eleitores a participar nas eleições de Outubro de 2014. Refira-se que a participação eleitoral tem sido
uma questão preocupante dos últimos pleitos eleitorais.
No âmbito da ratificação de Convenções e Tratados Internacionais, o país tem estado a assumir os
seus compromissos. Por exemplo, Moçambique ractificou em 2012 a Convenção Internacional das
Nações Unidas sobre a Protecção dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas
Famílias.
No que diz respeito a reinserção social dos antigos combatentes e desmobilizados, o país tem estado
a acelerar o processo de fixação de pensões e criação de mecanismos de apoio à formação
académica dos filhos de antigos combatentes e desmobilizados e concomitantemente criou a luz do
Decreto 72/2014, de 5 de Dezembro, o Fundo de Paz e Reconciliação Nacional. O referido Fundo tem
como objectivos promover a criação de empregos para os combatentes apoiar as suas iniciativas e
Projectos de desenvolvimento, fortalecer a sua capacidade de criação e gestão de negócios e
promover o associativismo no seu seio.
Registou-se igualmente um avanço importantíssimo no que concerne ao acesso às fontes de
informação por via da aprovação por consenso pela Assembleia da República, em Novembro de 2014,
da Lei de Acesso às Fontes de Informação. A aprovação desta lei abre espaço para um amplo acesso
a informação pelos vários sectores da sociedade e reforça a transparência dos processos governativos
obrigando os organismos públicos e entidades privadas que desenvolvem actividades de interesse
geral a prestar informações solicitadas pelos cidadãos. No domínio do controlo e combate a corrupção,
o país registou progressos no âmbito legislativo traduzido pela aprovação de leis que compõem o
pacote legal anti-corrupção incluindo o Código Penal e a Lei n° 35/2014, de 31 de Dezembro. O
Código Penal prevê uma tipologia de crimes que antes não tinham enquadramento jurídico, como o
tráfico de influências, os conflitos de interesses e o enriquecimento ilícito.
9
Não obstante os progressos registados na área de Democracia e Governação politica, desafios
urgentes se colocam ao país, como por exemplo, continuar a aprimorar o apuramento eleitoral
tomando em consideração que o processo continua a ser bastante problemático, sendo que a sua
credibilidade foi bastante contestada nas últimas eleições por alguns partidos políticos e por órgãos de
comunicação social, salvo algumas excepções.
Igualmente, continua a necessidade premente de afastar o potencial de eclosão e evolução de um
conflito armado no país, procurando-se mecanismos pacíficos e consensualmente acordados entre o
Governo e a RENAMO para se proceder ao desarmamento e reorientação cívica dos homens da
RENAMO obedecendo a um roteiro passível de ser monitorado por todas as forças vivas da sociedade
tornando o processo inclusivo, transparente e credível.
Mostra-se também necessário reforçar as bases de reconciliação entre os partidos FRELIMO e a
RENAMO, que permanecem frágeis, no sentido de se abandonar e eliminar gradualmente discursos,
atitudes e práticas que visam a descriminação e exclusão social o que invariavelmente coloca em
causa a reconciliação nacional e por conseguinte a Paz. E porque a reconciliação nacional tem uma
amplitude mais ampla, urge mobilizar e envolver os restantes partidos parlamentares e
extraparlamentares, bem como organizações cívicas e órgãos de comunicação social no sentido de
exercitarem e difundirem práticas e mensagens que estimulem a concórdia.
Em razão da sua natureza nefasta para a sociedade, o controlo e combate a corrupção deve continuar
a merecer uma atenção particular tanto a nível institucional, nomeadamente no reforço da capacidade
material, humana, financeira e de desempenho do Gabinete Central de Combate à Corrupção, como
na vertente legal no que diz respeito a implementação efectiva dos instrumentos legais que visam o
controlo e combate ao fenómeno. Duas áreas particulares que a sociedade moçambicana regista com
preocupação a sedimentação do fenómeno da corrupção situam-se a nível dos concursos públicos de
adjudicação de obras públicas que na sua óptica não têm sido executados de forma transparente, bem
como a gestão das empresas públicas, pelo que prevalece o desafio de se emitirem sinais claros no
sentido de eliminar esta percepção.
No que concerne á área da Gestão e Governação Económica, de entre outros, importa referenciar
que na primeira metade de 2014, o PIB nacional cresceu 8,2% face a igual período do ano anterior,
com fortes contributos da agricultura e indústria transformadora, apesar de um desempenho, inferior
ao esperado das indústrias extractivas (principalmente o carvão) e transportes, devido a algumas
limitações no sistema ferroviário que moderaram o crescimento económico ainda que no caso das
indústrias extractivas, o sector tenha registado taxas de crescimento comparativamente mais elevadas.
A segunda metade do ano ficou marcada por um crescimento de 6.7%, destacando-se o contributo do
comércio e da indústria transformadora. O PIB per capita, por sua vez foi mostrando uma evolução
positiva tendo passado de 661,2 dólares, em 2013, para 682,1 dólares em 2014. A taxa de inflação
média anual manteve-se em níveis historicamente baixos, de 2,56% em 2014, contra os 4,26%, de
2013. Esta redução foi apoiada, de entre outros factores, pelos seguintes: aumento da produção
interna, a estabilidade dos preços dos produtos básicos no mercado internacional e a manutenção dos
preços administrados.
O Orçamento do Estado para 2013 foi financiado em 69% por Recursos Internos e em 31% por
Recursos Externos, sendo que estas cifras em 2014 reduziram ligeiramente para 65% e 35%
respectivamente o que sugere contudo uma redução consistente da dependência em relação ao apoio
externo ao Orçamento do Estado. Por outro lado, vale notar que o volume das exportações de bens,
incluindo grandes projectos, atingiu cerca de 123.366,6 milhões de Meticais, equivalentes a 3.916,4
10
milhões de dólares, resultante da contribuição produtiva do tabaco, açúcar e algodão a nível dos
produtos tradicionais, carvão mineral, gás natural e energia eléctrica, a nível dos grandes projectos.
Concomitantemente observou-se em 2014 um incremento nas receitas correntes do Estado em cerca
de 3,1 pontos percentuais do PIB1 e as Despesas de Funcionamento superaram o nível alcançado no
exercício económico anterior em cerca de 2,2 pontos percentuais do PIB. Com este desempenho, o
país atingiu o indicador do rácio fiscal de 27% para os níveis de convergência da Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral (SADC). Por outro lado, Moçambique continua a registar um
crescimento e um processo de industrialização impulsionados pelos grandes projectos, muitos deles
na área de recursos naturais. Segundo os dados disponíveis no ano de 2014 a produção global de
minerais teve um crescimento na ordem dos 5,7% em relação ao ano de 2013, tendo contribuído para
este crescimento a produção de Carvão, Gás, Ouro, tantalite e areis pesadas.
Registe-se que no quadro da expansão do sector bancário, em 2014 entraram em funcionamento mais
52 instituições de microcrédito, passando para 285, e mais 52 balcões de bancos, elevando a
quantidade de agências bancárias em funcionamento para um total de 572 no território nacional. A
estes balcões, adicionam-se ainda 37 agências de micro-bancos e 8 agências de cooperativas de
crédito, totalizando 617 agências de instituições de crédito presentes em todas as capitais provinciais,
municípios, o que permitiu alargar a cobertura bancária de 63 distritos cobertos em 2013, para 69
distritos em 2014.
No domínio da integração regional, para além das medidas tomadas no âmbito do comércio externo
tendentes a acelerar a criação de um mercado regional livre, Moçambique continuou a envidar
esforços para o fortalecimento dos corredores de desenvolvimento, como um veículo de integração
regional. Neste contexto, o país organizou uma conferência internacional de alto nível sobre o
desenvolvimento de infra-estruturas na região, tendente a mobilizar 64 milhões de dólares num espaço
de tempo de cinco anos para projectos de desenvolvimento de infra-estruturas na região. Avançou-se
também com a supressão de taxas e revisão de tarifas, no âmbito do protocolo de serviços da SADC
Os desafios nesta área temática concentram-se em vários eixos designadamente: a necessidade de
uma transformação estrutural da economia que leve a um crescimento sustentado através da geração
de emprego e renda. Portanto, urge diversificar a estrutura económica, que passa necessariamente
pelo desenvolvimento de sectores diversos nos quais o país é potencial como por exemplo a
agricultura; Observância de uma gestão macro-económica prudente com ênfase para a dívida pública
e sua sustentabilidade; Incremento do acesso ao financiamento bancário, que continua a ser limitado,
sobretudo para as Pequenas e Médias Empresas (PMEs), bem assim a necessidade de mitigar o custo
do crédito; Desenvolver e melhorar a integração das PMEs e a agricultura de pequena escala por
forma a propiciar um crescimento inclusivo; Assegurar que a transformação económica de
Moçambique seja virada para actividades com mão-de-obra intensiva e que possam criar condições
para que os homens e as mulheres pobres tirem mais benefício do crescimento elevado da economia
Moçambicana; Alargamento da base tributaria e a alteração da estrutura das exportações; Redução do
desfasamento entre as taxas do Banco Central e as taxas dos Bancos comerciais uma vez que que os
níveis da taxas de juro são considerados elevados por parte das famílias, empresas ou singulares que
procuram o crédito bancário;
Na área da Governação Corporativa o país continuou com (i) o melhoramento do quadro regulador
da actividade seguradora com a produção de normas regulamentares e fiscalização; (ii) a
regulamentação do mercado de capitais, com destaque para a definição do regime jurídico e
1
Segundo o BdPES (2014) as receitas do Estado situaram-se em 29,2% do PIB em 2014.
11
regulamentação da colocação, subscrição, emissão e negociação das Obrigações de Tesouro, bem
assim da obrigatoriedade de as empresas de petróleo e gás estarem inscritas na Bolsa de Valores de
Moçambique (BVM); (iii) a regulamentação da expansão e modernização dos serviços financeiros
através do Decreto n.º 30/2014, de 5 de Junho, que estabelece as condições legais que permitem ao
Banco de Moçambique promover continuamente o desenvolvimento de um sector financeiro inclusivo,
nomeadamente através da expansão do acesso aos serviços financeiros a todo o território nacional, da
optimização da infra-estrutura de pagamentos através da ligação à Rede Única, Comum e Partilhada
de Pagamentos Electrónicos, de âmbito nacional, bem assim o alinhamento com as boas práticas no
âmbito da actividade de recirculação de numerário.
Como resultado de melhorias no ambiente de negócios o país conseguiu recuperar 15 pontos na
classificação do Doing Business passando para a posição 127º mercê dos avanços significativos na
melhoria da regulamentação sobre insolvência, simplificação dos procedimentos de registo de
propriedade e de acesso ao crédito, entre outros. Foi igualmente aprovada a Política de
Responsabilidade Social no sector Mineiro em 2014, instrumento do qual se espera que haja
harmonização, coordenação e integração das actividades das empresas neste âmbito ao nível local
(provincial e distrital) evitando descoordenação e actuação em acções de responsabilidades social de
forma ad hoc até então verificadas.
De entre outros, os desafios na área corporativa incluem a necessidade de incrementar a capacidade
de implementação de Códigos de Governação Corporativa; Criação de um Regulador Nacional de
Governação Corporativa independente para, de forma mais focada e orientada, liderar a produção de
um sistema de relatórios regulares sobre actividades de regulamentação, políticas, estratégias e
planos de acção para implementar os princípios fundamentais da supervisão e promover o
desenvolvimento do mercado de capitais no país; acelerar a implementação dos planos de acção
acordados entre os grupos de trabalho sectoriais da parceria Público-Privada.
No domínio do Desenvolvimento Sócio-económico, o país envidou esforços para garantir a
participação da juventude na criação de oportunidades de emprego e auto-emprego, para a elevação
da sua capacidade de intervenção no contexto do desenvolvimento nacional através do Fundo de
Apoio às Iniciativas Juvenis. Nos últimos anos, o sistema de educação tem vindo a introduzir reformas
indispensáveis para a melhoria do desempenho escolar dos alunos do Ensino Primário, com particular
destaque para a introdução do novo currículo, a distribuição do livro escolar, a afectação de recursos
às escolas, a formação de professores e de gestores educacionais e o incremento das acções de
supervisão pedagógica; A taxa líquida da escolarização da rapariga teve uma evolução positiva nos
últimos 4 anos e mais especificamente entre 2013 e 2014 onde evoluiu de 77.4% a 80% ultrapassando
a meta do quinquénio estabelecida (73%);
Observaram-se progressos nas seguintes áreas do combate ao HIV/SIDA: (i) aumento da cobertura
dos serviços de aconselhamento e testagem; (ii) detecção e tratamento de infeções de transmissão
sexual; (iii) expansão do programa de Prevenção da Transmissão Vertical; circuncisão masculina; (iv)
lobby, advocacia e envolvimento do sector privado na resposta a pandemia; e (v) expansão de
unidades sanitárias que administram tratamento anti-retroviral (TARV).
Registaram-se também avanços significativos no aumento da taxa de cobertura de água; saneamento
rural; no estabelecimento do quadro estratégico para massificação de energias renováveis; na
facilitação do acesso ao transporte ferroviário; na implementação de reformas para expansão da
cobertura da banca e disponibilidade de micro-finanças; expansão de acesso a tecnologias de
informação e comunicação (TIC) nas zonas rurais.
Não obstante estes progressos permanecem desafios atinentes, por exemplo, a qualidade e a eficácia
do processo de ensino aprendizagem nos níveis primários; necessidade de aumentar os valores
12
alocados para o Fundo de Apoio às Iniciativas Juvenis no domínio de emprego e auto-emprego de
modo que se cubra mais jovens e que os projectos financiados façam a diferença em termos de
melhoria das condições de vida dos jovens; o acesso a habitação condigna principalmente para jovens
ainda é um desafio com poucas evidências de sua superação; necessidade de melhorar as actividades
de colaboração entre programas de HIV e SIDA e tuberculose; o país precisa melhorar e muito a
qualidade de energia fornecida sobretudo a partir da Rede Nacional de Energia e aumentar para o
alcance quase que universal do acesso a energia para que as vantagens comparativas de acesso a
energia na promoção do desenvolvimento se efetivem plenamente; há a necessidade melhorar cada
vez mais a resposta `as calamidades naturais a dois níveis: i) melhorar o nível institucional de previsão
e gestão e capacidade técnica das instituições que lidam com estes fenómenos; e ii) trabalhar a nível
das comunidades de modo a restaurar a resiliência comunitária as catástrofes naturais. O país precisa
por outro lado, melhorar os seus equipamentos e sistemas de aviso prévio para as cheias.
O acesso à terra pelas populações rurais é uma questão cada vez mais preocupante e constituí um
desafio permanente para o país. O facto está indelevelmente relacionado com a entrada massiva de
investimentos nas áreas da indústria extrativa, mineração diversa, exploração de carvão, prospecção e
exploração de hidrocarbonetos e grandes projectos de agro negócio que se estão a instalar
particularmente nas zonas centro e norte do país.
13
AVALIAÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROCESSO DO
MARP EM MOÇAMBIQUE
Moçambique aderiu ao Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP) em 2003 tendo se
comprometido desde então na operacionalização do Mecanismo ao nível do país designadamente no
estabelecimento das estruturas de apoio ao processo com realce para a figura do Ponto Focal, Fórum
Nacional e o Secretariado do MARP.
Após a apresentação e discussão do primeiro relatório de avaliação durante os trabalhos da XI Cimeira
dos Chefes de Estado e de Governo iniciou-se um processo de divulgação do relatório e
implementação das recomendações do Painel de Personalidades Eminentes do MARP devidamente
sinalizadas nesse relatório.
Em Janeiro de 2014, Moçambique participou em Adis-Abeba, Etiópia na XX Cimeira do MARP e por
intermédio de Sua Excelência Armando Guebuza, antigo Chefe de Estado e de Governo, procedeu a
apresentação do seu primeiro relatório de progresso no âmbito do MARP (2010-2012) que de forma
corajosa aponta não apenas os progressos alcançados pelo País na construção de bases políticas,
económicas, legais e institucionais para a consolidação da Paz, da concórdia nacional e
desenvolvimento económico, mas também os desafios fundamentais do país a curto, médio e longo
prazo.
Por forma a adequar o Fórum Nacional do MARP ao modelo continental de organização e de
funcionamento, o país esta envolvido desde meados de 2015 não só na reestruturação do Fórum
Nacional, mas também num processo que visa conferir o seu reconhecimento jurídico por via de uma
resolução do Conselho de Ministros em linha para com as regras e procedimentos de funcionamento
do MARP.
Com a apresentação do segundo relatório de progresso no âmbito do MARP, Moçambique inicia um
novo ciclo que vai consistir na preparação e organização da sua segunda avaliação sendo que o país
está no contexto dos países africanos relativamente bem situados, se considerarmos que as questões
levantadas pelo relatório de avaliação do MARP estão bem identificadas através de outros
instrumentos que o exercício democrático permite compulsar com ênfase para agenda 2025.
Não obstante os progressos alcançados pelo país no processo de implementação do MARP persistem
desafios com destaque para à necessidade de continuar a envolver vários actores no processo,
designadamente os sectores públicos e privado e a sociedade civil em geral, principalmente no que se
refere a divulgação do MARP e seus benefícios para a promoção da boa governação política e
econômica no país.
14
METODOLOGIA
A elaboração do presente relatório consistiu na actualização do ponto de situação das recomendações
do Painel de Personalidades Eminentes do MARP constantes no relatório de avaliação do MARP e
que foram reportados do primeiro relatório de progresso (2010-2014).
As informações constantes neste relatório, bem como as consequentes análises resultam da
triangulação de informações geradas por instituições do Estado, organizações da sociedade civil e
organismos internacionais em torno das quatro áreas temáticos do MARP nomeadamente, Democracia
e Governação, Gestão e Governação Económica, Governação Corporativa e Desenvolvimento Sócioeconómico.
Seguindo as regras de procedimento do MARP, a informação foi posteriormente globalizada por cada
uma das quatro áreas temáticas do MARP e organizada sob formato de relatório preliminar. Em
seguida, procedeu-se a realização de seminários provinciais de auscultação a organizações da
sociedade civil e quadros dos governos provinciais com objetivo de validar a informação constante no
relatório preliminar e recolher contribuições.
Igualmente, procedeu-se ao envio do relatório preliminar ao Governo por intermédio do Ponto Focal
para eventuais comentários e contribuições a ser consideradas pelo Fórum Nacional do MARP
conforme determinam as regras do MARP. O relatório combina análises qualitativas e quantitativas,
identifica progressos e desafios que persistem e emergentes, cobrindo o horizonte temporal de 2012 a
2014 com raras excepções estendendo-se até o primeiro trimestre de 2015.
15
AVALIAÇÃO DO GRAU DE PROGRESSO POR ÁREA TEMÁTICA
Os capítulos que se seguem avaliam os progressos alcançados em cada um dos objectivos e os
desafios que se colocam em cada uma das áreas temáticas do MARP
16
CAPÍTULO I
DEMOCRACIA E GOVERNAÇÃO POLÍTICA
O presente capítulo reflecte sobre os progressos e desafios no que diz respeito a implementação das
recomendações do Painel de Personalidades Eminentes do MARP no período de 2013 à 2014 no
domínio da Democracia e Governação Política.
De notar que no período retro mencionado, o país realizou com sucesso as terceiras eleições
autárquicas em 2013 e quintas eleições presidências, legislativas e paras as assembleias provinciais
em 2014, consideradas pela União Africana e outros organismos internacionais como livres, justas e
transparentes.
Igualmente, Moçambique voltou a viver uma crise político-militar opondo o Governo e a RENAMO, o
maior partido da oposição. Esta crise política deu lugar a confrontação militar entre as tropas
governamentais e os homens armados da RENAMO em alguns pontos do país com maior incidência
na zona centro, tendo condicionado a transitabilidade ao longo da Estrada Nacional N°1 e a
paralisação da circulação de comboios que transportam minérios extraídos por empresas
multinacionais a operarem na zona centro-norte do país. Sublinhe-se que destes confrontos militares
resultaram vítimas civis e a destruição de bens materiais.
Em Setembro de 2014 as partes em confronto procederam a assinatura de um “Acordo de Cessação
de Hostilidades Militares” o que permitiu a realização das quintas eleições presidenciais, legislativas e
para as assembleias provinciais, em Outubro de 2014, voltando a colocar uma nova esperança sobre
uma Paz douradora no país.
Este capítulo tem como ponto de partida os nove (9) objectivos específicos que compreendem a
componente Democracia e Governação Política, nomeadamente:









Prevenção e redução de conflitos intra- e inter-Estados;
Promoção da Democracia Constitucional, incluindo a concorrência política periódica e
oportunidade de escolhas, Estado de Direito, Direitos dos cidadãos e a supremacia da
Constituição;
Promoção e defesa dos Direitos económicos, sociais, culturais e políticos;
Separação de poderes, nomeadamente a independência do poder judicial e um parlamento
efectivo;
Responsabilização, eficiência e eficácia dos funcionários do Estado e dos que detêm cargos
públicos;
Combate a corrupção;
Promoção e defesa dos Direitos das mulheres;
Promoção dos Direitos da criança e do jovem;
Protecção e promoção da defesa dos Direitos de grupos vulneráveis, incluindo os portadores
de deficiência, pobres, deslocados e refugiados;
17
Princípios, Padrões e Normas

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que Moçambique
realizasse uma avaliação abrangente sobre a compatibilidade da legislação com os padrões e
normas internacionais e que incluísse, entre outros, os seguintes aspectos: que fosse
desenvolvido um plano de acção com vista a resolver as áreas de conflito existentes entre a
Lei e as políticas moçambicanas e os padrões e normas internacionais (i); que fossem
ratificados os diplomas legais internacionais pendentes e implementados os que foram
ractificados pela Assembleia da República (ii); que fossem realizadas acções de formação de
profissionais do sistema judicial e legal sobre o impacto do direito internacional na Lei
moçambicana (iii); e que fosse criado um depositário de todos os acordos internacionais de
que Moçambique é signatário (iv).
1. As Convenções ratificadas pelo Parlamento segundo o artigo 18 da Constituição da República
vigoram na ordem jurídica interna após a sua publicação oficial e vinculam o Estado
moçambicano. Assim, as demais convenções Internacionais que o país ratifica tem na ordem
jurídica interna de Moçambique a mesma hierarquia que a legislação emanada pelo
Parlamento e pelo Governo e encontram-se hierarquicamente subordinadas a Constituição da
República2.
2. Em caso de conflito entre as Leis nacionais e as Convenções Internacionais, cabe ao
Conselho Constitucional a apreciação e declaração de inconstitucionalidade das leis de
acordo com a alínea a) do número do artigo 244 da Constituição. Em qualquer caso, toda e
qualquer lei ou convenção internacional que seja submetida para a aprovação ou ractificação,
só poderá ser aprovada caso não entre em contradição com o texto da Constituição (artigo
214 da Constituição da República); e existindo esse processo de aprovação inicial, significa
que toda a convenção rectificada pelo Estado Moçambicano quer através da Assembleia da
República quer através do Governo, se encontra em conformidade com a Constituição.
3. Em Junho de 2012 Moçambique ractificou a Convenção Internacional das Nações Unidas
sobre a Protecção dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas
Famílias dando seguimento a recomendação do Painel no sentido de se acelerar a
ractificação de diplomas legais internacionais pendentes.
4. No que concerne a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP que
sugere a criação de um depositário de todos os acordos internacionais de que Moçambique é
signatário, existe na Assembleia da República de Moçambique uma informação que é
produzida a cada sessão sendo que no fim de cada legislatura compilam-se todas as leis e
resoluções que a Assembleia aprovou3. A ratificação das Convenções e Tratados é feita
através de resoluções4.
2
IPEC (2013) Estudo Sobre a Aplicação das Convenções número 138 e número 182 da OIT e Suas Recomendações na
Legislação Nacional dos Países da CPLP. OIT/CPLP
3
A Assembleia da República tem uma divisão de Documentação Parlamentar que funciona em parceria com a Comissão
de Relações Internacionais da Assembleia da República. Por sua vez, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e
Cooperação possui uma repartição de Tratados Internacionais adstrita ao seu Departamento Jurídico.
4 Assembleia da República: Produção Legislativa da VII Legislatura (2010-2014) mimeo
18
Objectivo 1: Prevenir e reduzir os conflitos intra- e inter-Estados

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que fossem pagas com
urgência as pensões em divida aos antigos combatentes e que se apoie a sua reintegração (i);
que os quadros da RENAMO fossem desarmados (ii); que se definissem as bases de
reconciliação entre a FRELIMO e a RENAMO, pondo fim as políticas sociais e económicas
discriminatórias (iii) e que se retirem as células do Partido Frelimo das instituições públicas
(iv).
5. Sobre a matéria relativa ao pagamento de pensões e inserção social dos antigos combatentes
recomendada pelo Painel de Personalidades Eminentes do MARP como de carácter urgente,
registe-se que o Governo tem estado progressivamente a mitigar estas questões que de facto
constituem focos de descontentamento entre os antigos combatentes e desmobilizados tal
como reportado no 1° Relatório de Progresso do MARP (2010-2012) e que se traduziram na
altura em recorrentes manifestações públicas em que se reivindicava a celeridade na fixação
de pensões e seu ajustamento, bem assim uma integração social mais adequada.
6. Com efeito, e de modo a dar seguimento a estas preocupações, o Governo em 2013, por via
do Ministério dos Combatentes fixou 8.190 pensões sendo 4.827 para antigos combatentes e
3.363 para desmobilizados. Em 2014 registou-se um abrandamento tendo sido fixadas um
total de 4.672 pensões das quais 1.678 para antigos combatentes e 2.994 para
desmobilizados.5 No que concerne a Projectos para apoio a inserção social de antigos
combatentes e desmobilizados em 2013 foram financiados 312 Projectos dos quais 168 para
antigos combatentes e 144 para desmobilizados. Em 2014 o número de Projectos financiados
pelo Governo subiu para 318 dos quais 116 para veteranos e 202 para desmobilizados.6
Foram igualmente atribuídas em 2013 um total de 275 bolsas de estudos para o Ensino
Superior para os Combatentes e seus filhos. Em 2014 o número de bolsas atribuídas evoluiu
para 477.7
7. Não obstante estar-se a registar um progresso assinalável em relação a um passado recente
no que diz respeito a fixação de pensões e no alargamento do número de Projectos
financiados pelo Governo e dirigidos aos antigos combatentes e desmobilizados, bem como
na criação de mecanismos de apoio à formação académica de filhos de antigos combatentes
e desmobilizados, persiste o sentimento no seio deste segmento da população de que estes
benefícios carecem de celeridade na sua execução e pecam pela exiguidade dos valores
atribuídos (no caso das fixação das pensões), bem como encerram uma certa complexidade
(no caso da submissão de Projectos a serem financiados pelo Governo) e falta de informação
(no caso das bolsas de estudos).
8. Ainda no âmbito da integração social dos antigos combatentes e desmobilizados, o Governo
criou a luz do Decreto 72/2014 de 5 de Dezembro o Fundo de Paz e Reconciliação Nacional.
Este fundo substituiu o extinto Fundo de Inserção Social do Combatente. O referido Fundo
tem como objectivos promover a criação de empregos para os combatentes apoiar as suas
iniciativas e Projectos de desenvolvimento, fortalecer a sua capacidade de criação e gestão de
negócios e promover o associativismo no seu seio.
BdPES (2013) e (2014)
Idem
7 Idem
5
6
19
9. São beneficiários deste Fundo os combatentes da luta de libertação nacional, desmobilizados
de guerra do Governo e da RENAMO e os cônjuges sobrevivo dos beneficiários. O Fundo é
constituído por quatro membros designados pelo Governo, dois pela RENAMO e um
representante da Sociedade Civil, sendo que até ao momento foram empossados apenas 5
dos seus membros e já está em funcionamento. No entanto, vale notar que a RENAMO
boicotou a participação no Fundo alegadamente por este não ter sido constituído, na sua
óptica, com base no critério de paridade.8
10. No que diz respeito a questão do desarmamento da RENAMO reputada igualmente como
crucial pelo Painel de Personalidade Eminentes do MARP refira-se que não se registaram
progressos assinaláveis no período em que se centra a presente analise (2012-2014). As
divergências mantêm-se entre as duas partes, nomeadamente o Governo e a RENAMO,
sendo que está última tem resistido aos apelos do Governo no sentido de providenciar uma
lista exaustiva dos seus homens por forma a serem integrados nos vários ramos das Forças
de Defesa e Segurança sustentando que o processo deve ser precedido de um exercício em
que se definam primeiro e principalmente o modelo de integração que incluí as posições a
serem preenchidas numa base paritária.
11. De notar que o “diálogo político” entre o Governo e a RENAMO sobre esta e outras matérias
iniciaram em Novembro de 2012 no Centro Internacional de Conferencias Joaquim Chissano
em Maputo e estenderam-se até 2015 comportando cerca de 112 rondas9. Faziam parte da
agenda do “diálogo político”, para além das questões militares, os seguintes pontos: Pacote
Eleitoral, Despartidarização do Aparelho de Estado e Questões Económicas, sendo que foram
alcançados progressos no que respeita a revisão da legislação eleitoral e entendimentos
sobre a despartidarização do Aparelho do Estado prevalecendo um impasse sobre questões
militares conforme mencionado encontrando-se ainda por abordar as questões económicas.
12. Da análise que se pode fazer sobre o impasse em torno das questões militares
(desarmamento da RENAMO) que tem estado a prevalecer ao longo dos anos e que constitui
uma preocupação não apenas para a sociedade moçambicana mas também para comunidade
internacional, prevalece a ideia de que a manutenção de uma força armada pela RENAMO
tem como objectivo constituir um factor de pressão no quadro do rol de reivindicações que
amiúde vem colocando sobretudo em períodos pré, durante e pós eleitoral.
13. Todavia, esta ideia amplamente veiculada na sociedade tem sido sistematicamente rebatida
pela RENAMO que insiste que a manutenção desta força armada deriva de erros sucessivos
na implementação integral do Acordo Geral de Paz, que de entre outros, segundo a
REMAMO, preconizam que este Partido deve ter a sua segurança armada10, uma
interpretação considerada “bastante ampla” e de “má-fé” pelo Governo. Resulta que no auge
das contradições políticas entre o Governo e a RENAMO o país viu-se mergulhado num clima
de tensão político-militar que envolveu confortações entre forças da RENAMO e as Forças de
Defesa e Segurança que para além de terem condicionado a transitabilidade na Estrada
8
A RENAMO argumenta que sendo signatária do Acordo de Cessação de Hostilidades Militares seria normal que ela e o
Governo indicassem para o Fundo 3 membros cada. Por outro lado, a RENAMO alega também que está excluída da
direcção executiva do Fundo da qual pretende fazer parte incluindo o Conselho Fiscal.
9
O ‘’Dialogo Político” contou com a presença de observadores nacionais e para questões militares foi formada uma equipa
de observadores de países estrangeiros. A equipa designava-se de EMOCHIN.
10
Sobre está matéria a RENAMO remete ao no N° 8 do Protocolo V do Acordo Geral de Paz que na sua interpretação
estipula que “a RENAMO será responsável pela segurança pessoal imediata dos seus mais altos dirigentes. O Governo da
República de Moçambique concederá estatuto policial aos elementos da RENAMO encarregados de garantir aquela
segurança”.
20
Nacional N1 e na via-férrea Beira-Moatize resultaram em vítimas civis e destruição de bens
materiais.
14. O clima de Paz e estabilidade em Moçambique que foi interrompido por cerca de dois anos,
após intensas negociações deu lugar a que a 5 de Setembro de 2014 fosse assinado o
“Acordo de Cessação das Hostilidades Militares” que permitiu restabelecer a paz e realização
de eleições em Outubro de 2014 com a participação da RENAMO e do seu Líder. O Eng°
Filipe Jacinto Nyusi e a FRELIMO foram os vencedores destas eleições11. No seu discurso de
tomada de posse o novo Presidente reafirmou o seu compromisso com a paz, destacando-a
como sendo a condição primária para a estabilidade política, o desenvolvimento económico, a
harmonia e a equidade social. Igualmente assumiu o compromisso de dar primazia ao diálogo
construtivo e inclusivo para promoção da concórdia 12.
15. Tomando como base os eventos ocorridos e aqui descritos, fica evidente a existência de um
forte potencial de eclosão e evolução de um conflito armado a médio prazo no país, de modo
que mantêm-se o desafio urgente de se encontrar mecanismos pacíficos e consensualmente
acordados entre o Governo e a RENAMO para se proceder ao desarmamento e reorientação
cívica dos homens da RENAMO obedecendo a um roteiro passível de ser monitorado por
todas forças vivas da sociedade tornando o processo inclusivo, transparente e credível na
linha do compromisso assumido pelo Chefe de Estado aquando da tomada de posse no
sentido de dar primazia ao diálogo construtivo com todas as forças políticas e organizações
cívicas para promover a concórdia.
16. No que diz respeito a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP para
que se definissem as bases de reconciliação entre a FRELIMO e a RENAMO, vale notar que
este desiderato ainda permanece aquém do desejável. O progresso é lento, bastante lento e
prevalece na sociedade a percepção do extremar de posições entre certos sectores mais
recalcitrantes nos dois Partidos contaminando todo um esforço exercido no dia-a-dia em
várias áreas e latitudes por parte de membros mais conciliadores destes Partidos. Denota-se
ainda a prevalência de um discurso bastante agressivo e a prática da “”diabolização” do outro
de parte a parte sem excepção13.
17. Transcorridos 23 anos de Paz e julgando pelas atitudes e práticas persiste a percepção de
que a FRELIMO e a RENAMO continuam a conceber-se como “inimigos” e não “adversários
políticos”. Os inimigos eliminam-se, os adversários políticos permanecem, debatem ideais,
programas, políticas e agendas nacionais não obstante exibirem pontos de vista divergentes.
Portanto, as bases de reconciliação entre ambos permanecem frágeis, pelo que o desafio
para ambos os lados continua sempre presente no sentido de se abandonar e eliminar
gradualmente discursos, atitudes e práticas que visam a descriminação e exclusão social
colocando em causa a reconciliação nacional e por conseguinte a Paz, na medida em que
estas duas forças políticas são rigorosamente as mais representativas na sociedade.
18. Outrossim, porque a reconciliação nacional tem uma amplitude mais ampla urge mobilizar e
envolver os restantes partidos parlamentares e extraparlamentares, bem como organizações
cívicas e órgãos de comunicação social no sentido de exercitarem e difundir práticas e
11
Como é prática desde as primeiras eleições gerais em 1994 a RENAMO rejeitou os resultados finais alegando graves
irregularidades no processo. A maioria dos observadores internacionais incluindo a União Africana consideraram as
eleições livres, justas e transparentes.
12
Discurso de Sua Excia Filipe Nyusi Presidente da República por ocasião da sua investidura. 15.01.2015.
www.portaldogoverno.gov.mz/docs_gov/discursos/
13
É recorrente no léxico de quadros seniores de ambos os Partidos a utilização expressões degradantes na esfera pública
e no Parlamento, tais como “comunistas”, “ladrões”, “marginais”, “jihadistas” etc.
21
mensagens que estimulem concórdia. Em outras palavras, Moçambique não se pode dar ao
luxo de dar primazia aos promotores da intolerância14.
19. No que se refere a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP para que
se retirem as células do Partido Frelimo das instituições públicas, importa reiterar que a
matéria já foi definida na Lei da Probidade Pública aprovada em 2014. Contudo, elas poderão
ainda existir em várias instituições públicas, registando-se algum progresso no que diz
respeito a proibição do exercício de actividades políticas dentro das horas normais de
expediente pelos titulares dos órgãos do Estado e funcionários públicos.
20. A questão de fundo e o desafio que permanece é que se abandonem as atitudes e práticas
que imiscuem qualquer que seja o Partido nas questões de funcionamento da administração
pública com ênfase nos níveis mais abaixo da administração pública, nomeadamente Postos
Administrativos e Distritos (ex. uso de recursos e meios públicos por parte de funcionários e
dirigentes de instituições do Estado em missões marcadamente partidárias). Todavia, é
preciso notar que este exercício de “desmantelamento” de práticas e atitudes menos
profissionais, deve ser gradual, permanente e sobretudo pedagógico na medida em que o
problema é quase que “cultural” no funcionamento da administração pública moçambicana em
razão da sua história recente15.
Objectivo 2: Promover a Democracia constitucional, incluindo a concorrência política periódica
e oportunidade de escolha, Estado de Direito, Direito dos cidadãos e supremacia
da Constituição

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou que se introduzisse um
programa nacional de educação cívica para a promoção e respeito pelo Estado de Direito (i);
que fosse feita a actualização de todas as Leis ultrapassadas (ii); que fossem eliminadas as
práticas administrativas discriminatórias de modo a que todos partidos pudessem operar com
igualdade (iii); que se faça a compilação e revisão do registo de eleitores (iv) e se trate
devidamente o apuramento dos resultados eleitorais (v).
21. No que diz respeito a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP
relativa a introdução de um programa nacional de educação cívica para a promoção do
Estado direito, observa-se um esforço em crescendo nesta matéria, sendo que título
ilustrativo, o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) na cidade de Maputo
elaborou uma estratégia intitulada “Massificação da Campanha de Educação Cívica” com
forma de mobilizar os eleitores a participar nas eleições presidenciais e legislativas de
Outubro de 2014. Esta campanha consistiu na mobilização de agentes, apresentação de
programas televisivos e radiofónicos. Foram igualmente promovidos vários debates com
participação de jovens, líderes religiosos e outros na mobilização do eleitorado. Foram
igualmente promovidos debates relacionados com o ilícito eleitoral e sobre a documentação
14
No caso particular dos órgãos de comunicação social importa lembrar que o genocídio do Ruanda teve na “Rádio das Mil
Colinas” o seu principal órgão de difusão informativa que incentivou ódios e vinganças.
15
A “Declaração de Princípios sobre a Despartidarização do Aparelho de Estado” assinada a 3 de Julho de 2015 entre o
Governo e a RENAMO em sede do “diálogo político” no Centro de Conferencias Joaquim Chissano é um contributo
essencial em torno desta matéria.
22
necessária para a votação. Na cidade de Maputo este programa mobilizou cerca de 614 mil
eleitores inscritos nos cadernos eleitorais dos cerca de 700 mil previstos.16
22. A nível nacional os programas de educação cívica para as eleições de 2014 tiveram a duração
de 30 dias com a participação de 5000 agentes. No geral, os programas de educação cívica
do STAE tiveram lugar entre 12 de Dezembro de 2013 e o início da campanha eleitoral a 31
de Agosto de 2014. As principais mensagens centraram-se nos procedimentos de votação e
na participação do eleitorado. As actividades de educação eleitoral foram complementadas
por diversos eventos culturais como peças de teatro e danças tradicionais. Os anúncios de
informação ao eleitor foram emitidos no canal de televisão nacional. As mensagens eram
dirigidas aos jovens, mulheres e eleitores portadores de deficiências17.
23. De referir-se que a participação eleitoral tem sido uma questão preocupante dos últimos
pleitos eleitorais. Mais de metade de eleitores recenseados (55,27%) ignorou as eleições de
2009 e 201418. Dentre vários factores elencados para explicar a abstenção eleitoral, tem sido
enfatizada a questão da educação cívica, havendo a percepção de que a educação cívica tem
sido fraca e ineficaz19. Igualmente é destacado como contribuindo para a abstenção o fraco
papel dos partidos políticos na mobilização dos eleitores. Estes apenas têm intensificado as
suas acções nas vésperas do início das campanhas eleitorais.
24. No que concerne a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP no
sentido de se proceder a actualização da legislação eleitoral refira-se que foi revisto o pacote
eleitoral que tinha sido um dos pontos na mesa de negociações entre o Governo e a
RENAMO e que culminou com o “Acordo de Cessação de Hostilidades Militares”. Esta
reforma permitiu a inclusão de membros dos partidos políticos na Comissão Nacional de
Eleições (CNE). No entanto, prevalece a percepção em alguns segmentos da sociedade de
que a inclusão de membros de partidos políticos nos órgãos eleitorais pode contribuir
negativamente para a sua imparcialidade na tomada de decisões.
25. De sublinhar que a inclusão de membros da sociedade nos órgãos de administração eleitoral
foi considerada como uma alternativa a inclusão dos membros de partidos políticos nestes
órgãos No entanto, os últimos debates sobre a questão vieram mostrar que a sociedade civil,
através das organizações que a corporizam não está imune a influências político partidárias.
Os arranjos na composição da CNE não representam a melhor solução possível, mas sim a
solução viável para os partidos políticos que tem participado dessas negociações o que
demonstra que a desconfiança política continua bastante marcante na realidade
moçambicana.20
26. Em relação a competição política, as últimas eleições de 2013 (autárquicas) e 2014
(presidências, parlamentares e paras as assembleias provinciais) mostraram uma actuação e
conduta das forças de defesa e segurança que urge corrigir de modo a não difundir uma
imagem que pode colocar em causa a sua imparcialidade na forma de manter a ordem e
segurança e contribuir para solução de conflitos eleitorais. Foram registadas com
16
Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) (2013), Massificação da Campanha de Educação Cívica, STAEMaputo-cidade
17 UE (2015) União Europeia Missão de Observação Eleitoral Moçambique. Relatório Final
18 idem
19 Pereira, J & Nhanale, E (2014) As Eleições Gerais de 2014 em Moçambique: Análise de Questões Fundamentais. Open
Society Foundations.
20
A partidarização da CNE constituiu um revês nos esforços para a despartidarização dos órgãos da administração
pública.
23
preocupação situações de detenção de jornalistas, observadores e de delegados de partidos
políticos que não fossem do partido no poder.
27. Igualmente, foram registados casos em que alguns simpatizantes mais “voluntariosos”
incitaram a violência e não permitiram o desenvolvimento normal de actividades políticas de
alguns partidos políticos, bem como procederam a destruição de sedes e vandalização dos
seus materiais de propaganda, incluindo cartazes e bandeiras de partidos, tendo também se
observado a destruição de mesas de voto sobretudo a nível dos distritos. De notar que a
manifestação de alguma violência nestes processos degenera invariavelmente em conflitos
pós-eleitorais21.
28. Tomando como base os resultados das últimas eleições gerais de 2014 e as eleições
autárquicas de 2013 assistiu-se a emergência do MDM como terceira força política no país e a
um maior equilíbrio nos resultados eleitorais que podem indicar que a oposição passou a
ocupar um lugar mais relevante no espectro político por representar uma fasquia importante
do eleitorado.
29. A cobertura polarizada e partidária por parte dos órgãos de comunicação social marcou
igualmente as eleições gerais de 2014 e eleições municipais de 2013. Aparentemente os
órgãos de comunicação social públicos continuam a “privilegiar” o partido no poder não
obstante a legislação eleitoral exigir que os órgãos de comunicação públicos sejam
equilibrados22. Por outro lado, os órgãos de comunicação social privados são em grande parte
“tendenciosos” a favor da oposição. No que concerne as redes sociais de informação que são
uma oportunidade para obter informações mais diversificadas nota-se que os grandes actores
políticos estão cada vez mais presentes nestes meios de comunicação. Contudo é preciso
referir que a velocidade da informação de rede social é extremamente alta, muita gente lê uma
informação e nela pode acreditar, sem depois ter a oportunidade de assimilar uma correção. E
ela vai divulgar para centenas. E, de repente, uma informação caluniosa ou enganosa acaba
sendo digerida pela população como um fato real.
30. Quanto ao registo de eleitores prevalece ainda a questão de transparência na publicação e
disponibilização dos cadernos eleitorais para consulta pública. Concomitantemente, o
recenseamento eleitoral tardio condiciona a disponibilidade de tempo para os delegados dos
partidos políticos e observadores terem acesso aos dados actualizados.23 No mesmo âmbito,
o apuramento eleitoral continua a ser bastante problemático. A sua credibilidade foi bastante
21
Por exemplo, nas eleições de 2014 no dia da votação multidões de apoiantes da RENAMO atacaram 44 assembléias de
voto em Tsangano e 26 em Macanga na província de Tete, alegando que as mesmas já tinham sido adulteradas. Na cidade
de Nampula, apoiantes do MDM transportando um caixão do candidato presidencial da FRELIMO e entoando canções
contra a FRELIMO, marcharam na Praça dos Heróis no dia 25 de Setembro durante as cerimónias oficiais provocando
brigas entre os apoiantes da FRELIMO e MDM. Em Gaza, distritos de Chibuto, Xai-Xai, Chokwé e Macia nos dias 22 e 23
de Setembro a caravana do candidato presidencial do MDM foi atacada por apoiantes da FRELIMO. Incidentes similares
registaram-se em Chibuto onde simpatizantes do MDM foram atacados quando aguardavam pela chegada do seu
candidato (in: AWEPA, Boletim do Processo Eleitoral em Moçambique, N° 56 – 1 de Dezembro de 2014,pp7-8)
22
A Observação da União Europeia felicitou a RM, contudo foi crítica em relação a TVM e o “Notícias”. Na sua análise a
TVM atribuiu 64% da sua cobertura ao Eng° Nyusi e sempre abriu e terminou a sua cobertura eleitoral com uma referência
a ele; o Eng° Simango conseguiu 19% do tempo da TVM e Dhlakama 17%. O “Noticias” atribuiu 60% do espaço e as
posições mais proeminentes ao Eng° Nyusi, 23% para Dhlakama e 17% para o Eng° Simango.
23 EISA (2014) Missão de Observação Eleitoral às Eleições Presidenciais, Legislativas e das Assembleias Provinciais de 15
de Outubro de 2015. Declaração Preliminar: Sumário Executivo
24
contestada nas últimas eleições pelos partidos políticos e por órgãos de comunicação social,
salvo algumas excepções.24
31. A credibilidade do processo foi posta em causa em determinados locais pela falta de
confiança nos números usados para o apuramento, restrições temporárias ao acesso aos
delegados dos partidos políticos e observadores aos centros de apuramento e a informação.
Houve mesmo casos de existência de muitos editais considerados falsos e discrepantes25.
32. Todavia, é preciso não deixar de lado a dificuldade que prevalece de os partidos da oposição
terem meios e capacidade para participar efectivamente nas assembleias de voto. Por
definição as eleições são competitivas e os partidos políticos devem estar devidamente
preparados. A nova legislação eleitoral moçambicana coloca maior pressão sobre os partidos
para que acompanhem o processo eleitoral de perto com vista a evitar eventuais más práticas
e reclamações a posterior.
Objectivo 3: Assegurar a promoção e defesa dos direitos económicos, sociais, culturais e
políticos

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que se agilizasse a
aprovação da Lei de Acesso a Informação (i); que a Comissão Nacional dos Direitos Humanos
(CNDH) elabore e ponha em prática um programa nacional de educação cívica para o
conhecimento dos direitos que assistem aos cidadãos (ii); e se garanta uma polícia formada no
respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos (iii) e que haja um mecanismo de
reclamação e protecção para as vítimas de abusos e que os infractores sejam adequadamente
punidos (iv).
33. No geral a liberdade de expressão no país é um direito consagrado e as pessoas podem se
expressar livremente, contudo a liberdade de opinião tem sido amiúde ameaçada por
determinadas práticas observadas nos órgãos de comunicação social que por princípio devem
prestar um serviço público isento e imparcial. Há uma certa percepção na sociedade segundo
a qual o partido no poder busca formas de controlo dos órgãos de comunicação públicos,
como por exemplo a interferência na definição da sua linha editorial assim como pressão
sobre aqueles órgãos com uma linha editorial menos favorável a si. Em alguns debates
televisivos e radiofónicos nos órgãos de comunicação públicos denota-se que não se procede
a um certo equilíbrio na participação de analistas e outros intervenientes. Ou seja a
possibilidade do contraditório. Deste modo condiciona-se de alguma forma a liberdade de
expressão26.
24
Refira-se que instalou-se na fase final do processo eleitoral uma polémica sem fim em torno de editais que comportam os
resultados por assembleia de voto e que são reputados como um imprescindível elemento de prova, de tal forma que a sua
ausência levanta suspeições de toda natureza.
25 UE (2015) União Europeia Missão de Observação Eleitoral Moçambique. Relatório Final.
26
Vide UE (2015) União Europeia Missão de Observação Eleitoral Moçambique. Relatório Final, pág 25; Pereira, J &
Nhanale, E (2014) As Eleições Gerais de 2014 em Moçambique: Análise de Questões Fundamentais. Open Society
Foundations, pág 18 e 19. Contudo o IREX no seu relatório sobre o “Índice da Sustentabilidade da Mídia 2014”em
Moçambique refere que em relação a liberdade de expressão o país registou melhorias com a aprovação da Lei do Direito
a Informação. Igualmente afirma que a liberdade de expressão progrediu mais que a liberdade de imprensa. A liberdade de
imprensa e exercida através de SMS (mensagens), plataformas como o whatsapp, facebook ou com a participação dos
cidadãos em programas interactivos de rádio, televisão e, ainda, em cartas de leitores nos jornais, pag 5 -7.
25
34. No entanto, é de sublinhar que registou-se um avanço importantíssimo no domínio legislativo
por via da aprovação da proposta da Lei de Acesso as Fontes de Informação em Agosto de
2014, como resultado do envolvimento e pressão de diversas organizações da sociedade civil
ligada a questões de advocacia sobre o direito de informação. Finalmente, na sua quinta
Sessão Extraordinária, a Assembleia da República aprovou em Novembro de 2014, por
consenso, a Lei de Acesso as Fontes de Informação. A aprovação final desta lei abre espaço
para um amplo acesso a informação pelos vários sectores da sociedade e reforça a
transparência dos processos governativos obrigando os organismos públicos e entidades
privadas que desenvolvem actividades de interesse geral a prestar informações solicitadas
pelos cidadãos.
35. No que diz respeito aos progressos em torno da recomendação do Painel de Personalidades
Eminentes do MARP atinente a Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH),
nomeadamente para que este organismo ponha em marcha um amplo programa de educação
cívica para o conhecimento dos direitos que assistem aos cidadãos, é importante referir que a
Comissão enfrentou constrangimentos de vária ordem no seu estabelecimento e consequente
início de actividades após a sua criação em 2012. No entanto, vislumbram-se progressos
graduais designadamente na produção de materiais distribuídos ao nível das províncias, nas
escolas, sobre a Comissão e os direitos humanos, sendo que aguarda-se a elaboração do
Plano Estratégico da Comissão.
36. De entre os desafios urgentes da Comissão Nacional dos Direitos Humanos ressalta de
imediato a necessidade de divulgação e descentralização da Comissão para que todo cidadão
moçambicano tenha acesso a mesma para apresentar as suas preocupações sem precisar de
muitos formalismos. Outros sim, é necessário conferir poder jurisdicional à Comissão de modo
a que esta exerça com mais clareza as suas actividades utilizando o seu potencial de fazer
pressão e fiscalização para assegurar o cumprimento da lei.
37. No quadro da recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP no sentido
de se garantir uma polícia formada no respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos, é
preciso notar que há um esforço por parte do Governo em ministrar e reciclar os operacionais
da polícia em matérias de Direitos Humanos. Observa-se por exemplo uma redução mesmo
que ténue de casos de espancamentos e baleamentos de cidadãos na via pública
alegadamente por “balas perdidas”.
38. No entanto, o desafio permanece neste domínio na medida em que a maior parte dos
cidadãos não conhecem os seus direitos e aqueles que os violam não sabem também que
estão a violar. A título ilustrativo, há agentes policiais que entendem que proceder a detenção
de um cidadão sem seguir escrupulosamente a lei estão a fazer um bem para a sociedade
porque tal cidadão tem um “”perfil” de bandido. Depreende-se destes actos que tais agentes
da Polícia não sabem que estão a violar os Direitos Humanos. Há, portanto, a necessidade de
continuar a inculcar nos agentes noções básicas como por exemplo, não prender as pessoas
de forma arbitrária, não violar o domicílio das pessoas, não violar a privacidade das pessoas,
não torturar o cidadão.
39. Sobre os progressos a volta da recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do
MARP para que haja um mecanismo de reclamação e protecção para as vítimas de abusos e
que os infractores sejam adequadamente punidos, continua o desafio da necessidade da
regulamentação da lei 15/2012, de 14 de Agosto, que estabelece os mecanismos de
protecção dos direitos e interesses das vítimas, denunciantes, testemunhas, declarantes ou
peritos em processo penal, bem como a entrada em funcionamento do Gabinete Central de
Protecção da Vitima (PGR, 2015).
26
Objectivo 4: Garantir a separação de poderes, nomeadamente a independência do poder
judicial e um Parlamento efectivo

As recomendações apresentadas pelo Painel de Personalidades Eminentes do MARP foram
no sentido da despolitização da nomeação de juízes de forma a garantir a integridade do
poder judicial (i); formação dos operadores do sistema judicial em matérias de ética,
responsabilização e transparência (ii); trabalho dos parlamentares realizado a tempo inteiro
para disporem de mais horas para fiscalizar o executivo (iii); incrementar continuamente o
orçamento da AR para melhorar a sua actuação (iv) e melhorar as capacidades dos deputados
através da concessão de formação em matérias de análise de políticas públicas e fiscalização
(v)
40. Sobre a necessidade de despolitização da nomeação dos juízes referenciado pelo Painel de
Personalidades Eminentes do MARP, importa reiterar que a separação de poderes está
claramente consagrada na Constituição da Republica. No primeiro Relatório de Progresso do
MARP foi referido que o ingresso na Magistratura Judicial para além de outros requisitos
previstos no Estatuto dos Magistrados Judiciais e no Estatuto Geral dos Funcionários e
Agentes do Estado, está condicionada em curso específico de ingresso reconhecido pelo
Conselho Superior de Magistratura Judicial. Acresce o facto de a nomeação do Presidente e
Vice-Presidente do Tribunal Supremo carece de ratificação pela Assembleia da Republica,
que inclui uma audição aos nomeados em sede da Comissão do Assuntos Jurídicos e
Constitucionais. Ainda de acordo com a Constituição estes juízes, ainda que nomeados pelo
Presidente da República, são inamovíveis no seu mandato27.
41. Todavia, ainda que estes mecanismos visem formalmente estabelecer as garantias de
independência e imparcialidade dos Juízes do Tribunal Supremo, Conselho Constitucional e
outros, prevalece a percepção pública de existência de mecanismos informais e político
partidário que condicionam a actuação dos Juízes e outros operadores do sistema judicial.
Com efeito, tem-se assistido amiúde a um certo “voluntarismo pernicioso” de certos actores
chave do sistema judicial em relação ao Executivo mesmo em situações onde não se mostre
necessário. No entanto, é de enaltecer a bravura e profissionalismo que vem sendo
demonstrada por uma plêiade de jovens magistrados numa cruzada pela dignificação e
independência do judiciário. Os desafios mantêm-se!
42. No que tange a necessidade de os Parlamentares exercerem as suas actividades a tempo
inteiro como forma de disporem de tempo adicional para fiscalização dos planos e programas
do Governo conforme recomendado pelo Painel de Personalidades Eminentes do MARP, a
situação mantêm-se como referenciado no 1° Relatório de Progresso do MARP ou seja, o
trabalho dos parlamentares na AR ocorre em duas Sessões de 90 dias cada e no intervalo
27
O debate sobre a independência do poder Judiciário em relação ao poder Executivo tem suscitado diversas reacções por
parte de académicos, políticos e os respectivos magistrados. Tem havido propostas para a limitação dos poderes do
Presidente da República na nomeação de Juízes de topo por se entender que esta situação pode por em causa a
independência destes. Contudo há igualmente opiniões que defendem que a independência não está condicionada pela
forma de designação. Vide AfriMAP (2006) Moçambique: O Sector da Justiça e o Estado de Direito- Documento para
Debate. Open Society Foundation; O Pais 26.04.2013: Juízes Divergem quanto a Redução dos Poderes do Chefe de
Estado; Ucama, A. C.D. (2012) A independência do Poder Judicial- Um Desafio Para a Consolidação do Estado de Direito
Democrático em Moçambique? Tese de Mestrado UCP-UCM repositório.ucm.ac.mz/Antonio-Costa-David-Ucama.
27
entre as duas Sessões os deputados realizam trabalho político junto dos seus Círculos
Eleitorais.
43. No entanto, é preciso notar que o trabalho de fiscalização das actividades do executivo está
intrinsecamente associado a disponibilidade orçamental e não necessariamente a
disponibilidade de tempo. Portanto, o desafio consiste na alocação de recursos adequados
para o exercício condigno e profissional das actividades por parte dos parlamentares e que a
utilização desses recursos seja monitoravel a nível dos órgãos do Parlamento. A título
ilustrativo, e segundo alguns parlamentares, vezes ocorre ficar bloqueada a constituição de
comissões de inquérito para variadas matérias não somente pelo veto de determinado grupo
parlamentar mas também por alegada “falta de disponibilidade financeira” que em alguns
casos chega até a condicionar a produção legislativa. Do exposto, ressalta a necessidade de
não apenas incrementar mas também autonomizar o orçamento da AR28 reforçando a sua
independência com relação ao executivo conforme o estatuído na Constituição.
44. No entanto, não obstante a exiguidade de orçamento para responder cabalmente as suas
funções, a recomendação do Painel no sentido de se incrementar as dotações orçamentais do
Parlamento tem sido acolhida “positivamente” pelo Governo, de tal modo que o orçamento do
Parlamento regista uma evolução desde 2012. Os valores agregados em milhões de Meticais
são os seguintes: 2010: 2012: 163.035,04MT, 2013: 174.995,04MT; 2014: 236553,09MT.
45. No que tange a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP no sentido
de, por via de capacitações, melhorar-se as capacidades dos deputados em matérias de
análise de políticas públicas e fiscalização, referir que o progresso neste domínio ainda
permanece aquém do desejável e muito condicionado a financiamento de parceiros de
cooperação que entretanto tem apenas financiado capacitações em matérias de seu
interesse.
46. Todavia, um aspecto digno de realce e que vislumbra um futuro promissor no que diz respeito
ao funcionamento do Parlamento de forma mais eficaz e efectiva nos termos da Constituição
prende-se com a aprovação recente e por consenso do seu Plano Estratégico cobrindo o
horizonte temporal (2013- 2022). No referido plano estão identificados os principais desafios a
ter em conta a curto, médio e longo prazo, nomeadamente:

Reforçar a interacção da Assembleia da República com a sociedade;

Elevação e dignificação do Deputado na sociedade e no poder do Estado;

Aperfeiçoamento dos mecanismos e prestação de contas e responsabilização do
deputado perante o eleitorado;

Aprimoramento do processo de produção legislativa adequando as leis as dinâmicas
do desenvolvimento sócio-economico do país;

Reforço da capacidade e autonomia financeira da AR para proporcionar a AR recursos
e condições adequadas para a produção legislativa e a fiscalização da acção do
governo;
28
Autonomizar o orçamento da Assembleia da República implica criar mecanismos para que a sua execução ocorra
conforme as actividades planificadas e dentro do calendário e que os seus gestores não se deparem com os chamados
problemas de tesouraria ou liquidez do Ministério da Economia e Finanças (Tesouro).
28

Construção da cidadela parlamentar e das sedes das delegações provinciais do
Secretariado Geral da Assembleia da República;

Capacitação técnica dos deputados bem como a melhoria das suas condições de
trabalho e de acomodação;

Concepção de uma estratégia de comunicação e imagem que potencie as
Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e os meios de comunicação social
na divulgação das realizações da Assembleia da República;

Profissionalizar os Recursos Humanos do Secretariado Geral da Assembleia da
República;

Reforço da colaboração interinstitucional e a cooperação internacional
47. Os desafios referidos no parágrafo anterior foram estruturados em 5 eixos estratégicos
nomeadamente: i) a representação dos cidadãos; ii) produção legislativa; iii) fiscalização da
actividade do governo; iv) desenvolvimento institucional; e v) relacionamento interinstitucional
e internacional. Os mesmos eixos estratégicos estão desdobrados em 13 objectivos
estratégicos, os quais a Assembleia da Republica pretende implementar nos próximos 10
anos.
48. Todavia, passam apenas dois anos de vigência do Plano Estratégico o que ainda não permite
avaliar de forma efectiva os seus resultados. De todo modo, nota-se que o diagnóstico
institucional efectuado pelo Parlamento responde claramente aos desafios de contribuir para
uma maior independência e funcionamento efectivo do Parlamento.
Objectivo 5: Garantir a responsabilização, eficiência e eficácia dos funcionários do Estado e
dos que detêm cargos públicos

Quanto a este objectivo foram recomendações do Painel de Personalidades Eminentes do
MARP a necessidade de introdução de mecanismos de recrutamento com base no mérito no
sector público (i); aumento da capacidade de formação de mais funcionários do Estado (ii);
aumento do Fundo de Investimento de Iniciativa Local e garantia de que a sua concessão não
é feita com base em critérios políticos (ii); e reforçar o papel das autoridades tradicionais
atribuindo ferramentas para aplicação da Lei (iv).
49. No que diz respeito a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP
referente a necessidade de introdução de mecanismos de recrutamento com base no mérito
no sector público, sublinhe-se que as instituições públicas têm estado a aprimorar o processo
de recrutamento, incluindo a avaliação dos funcionários públicos a vários níveis da
administração pública por via do Sistema de Avaliação de Desempenho na Administração
Pública (SEGEDAP). No entanto, importa referir que em Agosto de 2014, a Inspecção
Administrativa do Estado (IGAE), um órgão sob tutela do antigo Ministério da Função Pública,
constatou um deficiente desempenho nas instituições públicas do país, causado pela falta de
implementação do SEGEDAP29.
29
AIM.02.08.2014
29
50. Por outro lado, não obstante a existência de instrumentos normativos para assegurar a
primazia dos princípios de meritocracia no sector publico, há a percepção pública de que
outros critérios informais se sobrepõem aos formalmente estabelecidos nos processos de
recrutamento e selecção de agentes e funcionários do Estado, pelo que tal como referido no
1° Relatório de Progresso do MARP, é preciso afastar esta percepção. Por forma a fazer face
a este desafio pode-se estudar e aprimorar o processo de recrutamento que vem sendo
adoptado com relativo sucesso pelo Banco de Moçambique e várias empresas do sector
privado em que basicamente o recrutamento permanece a cargo de uma empresa privada e
especializada na matéria, em coordenação com a divisão de recursos humanos da instituição
pública.
51. No que se refere a formação dos funcionários do Estado com vista a elevação das suas
capacidades, registam-se progressos a escala nacional neste domínio. Os Institutos de
Formação em Administração Pública (IFAPAs) e o Instituto Superior de Administração Pública
(ISAP) têm assegurado a formação nos níveis médios e superior respectivamente. No entanto,
importa referir que nos últimos anos tem aumentando significativamente a procura por parte
dos funcionários em participar de actividades de formação, todavia estas instituições tem
limitações a nível de recursos e capacidade de absorção de toda a procura sendo que o
desafio urgente prende-se com a necessidade de inverter este quadro. Outro desafio
concomitante, tem a ver com a necessidade de as instituições públicas harmonizarem o tipo
de curso frequentado pelo funcionário vis-a-vis os planos de formação e as funções
desempenhadas pelo funcionário na instituição.
52. No que concerne a recomendação do Painel para que se aumente o Fundo de Investimento
de Iniciativa Local e se garanta que a sua concessão não é feita com base em critérios
políticos, registe-se que ainda paira no seio das comunidades a percepção da existência de
uma certa discriminação na atribuição do Fundo em função da filiação partidária e também a
atribuição do financiamento as mesmas pessoas. Importa sublinhar que não obstante ter sido
uma medida de política arrojada e até alargada as autarquias com vista a potenciar projectos
de geração de rendimentos, produção de comida e aumento do emprego e a potenciação do
desenvolvimento local, os níveis de retornos dos fundos por parte dos mutuários permanece
baixo o que convoca o desafio da necessidade de revisitar o modelo de gestão deste Fundo.
Um aspecto digno de registo é que o Governo que tomou posse em Janeiro de 2015 reafirmou
o seu compromisso em manter está iniciativa e usar experiências passadas para melhorar a
gestão e inclusão no acesso a estes fundos.
53. Quanto a recomendação do Painel com vista a reforçar o reconhecimento do papel das
autoridades tradicionais, o Estado tem vindo a conferir o necessário reconhecimento a estas
autoridades e a envolve-las em várias iniciativas locais ligadas a educação e saúde. Contudo
ainda permanece a tentação de se fazer o aproveitamento político dos líderes tradicionais por
parte dos partidos políticos, sobretudo durante os períodos de campanhas eleitorais. O
reconhecimento do papel das autoridades tradicionais implica como desafio para o Estado a
médio prazo a criação de condições materiais visando uma efectiva dignificação da
Autoridade Tradicional.
Objectivo 6: Combater à Corrupção

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou a condenação vigorosa de
casos de “grande corrupção” (i); a publicação das declarações de bens dos altos funcionários
30
do Estado (ii); aumento da capacidade do Tribunal Administrativo (TA) na fiscalização das
declarações de bens (iii); aprovação de regras de ética para regular os negócios de
funcionários superiores do Estado (iv); e que se observe a definição de corrupção contida na
Convenção da UA contra a Corrupção e se adira ao Protocolo da SADC contra a Corrupção
(v).
54. Com relação a necessidade de condenação vigorosa de casos de “grande corrupção”, importa
referir que qualquer que seja o “tipo” de corrupção ela é perniciosa, corrói os valores da
sociedade e coloca em causa o desenvolvimento económico do país, pelo que deve continuar
a merecer uma atenção particular tanto a nível institucional, nomeadamente no reforço da
capacidade material, humana, financeira e de desempenho do Gabinete Central de Combate
à Corrupção, como na vertente legal no que diz respeito a implementação efectiva dos
instrumentos legais que visam o controlo e combate ao fenómeno. Os dados agregados
apresentados pela Procuradoria-Geral da República em 2013 e 2014 sugerem que começa a
haver uma maior propensão para as pessoas denunciarem os casos de corrupção nas suas
várias tipologias.
55. Duas áreas particulares que a sociedade moçambicana regista com preocupação os
fenómenos da chamada “grande corrupção” situam-se a nível dos concursos públicos de
adjudicação de obras públicas que na sua óptica não têm sido executados de forma
transparente, bem como a gestão das empresas públicas. Com efeito, no que concerne as
obras públicas os informes da Procuradoria-Geral da República mostram que tem aumentado
o número de casos de processos de desvios de aplicação, execução de contractos sem
submissão a fiscalização do Tribunal Administrativo, utilização directa de receitas, pagamento
indevido de subsídios, entre outras irregularidades. De imediato é preciso iniciar um processo
de remoção dos constrangimentos que originam o clima de desconfiança no processo de
selecção e contratação de empreitadas públicas.
56. Igualmente agiganta-se na sociedade uma percepção da existência de uma gestão pouco
criteriosa em algumas empresas públicas agravado pelo facto de estas não terem o hábito de
apresentarem as suas contas publicamente e de forma transparente na linha das boas
práticas do regime corporativo, pelo que como desafio há necessidade do Governo emitir
sinais claros no sentido de eliminar esta percepção.
57. Todavia, não obstante os vários desafios associados a questão da corrupção é importante
salientar que neste domínio o país registou um progresso assinalável traduzido pela
aprovação de leis que compõem o pacote legal anti-corrupção incluindo o Código Penal e a lei
n° 35/2014, de 31 de Dezembro. O Código Penal prevê uma tipologia de crimes que antes
não tinham enquadramento jurídico, como o tráfico de influências, os conflitos de interesses e
o enriquecimento ilícito. O desafio que se coloca situa-se na implementação destas leis e no
afastamento da percepção de que a lei só é aplicada quando o infractor é o cidadão mais
fraco e quando se trata de cidadãos poderosos as leis não são aplicadas.
58. No âmbito da implementação da lei de probidade pública foram desenvolvidas acções
organizativas para recepção, registo, arquivo, fiscalização, avaliação e actualização das
declarações de património. Neste contexto, foram instaladas Comissões Provinciais de
Recepção e Verificação em todas as procuradorias provinciais e da Cidade de Maputo e
criadas as condições necessárias para garantir a protecção das declarações de património,
nomeadamente, a adequação de salas específicas para o depósito e guarda das declarações.
31
Após a aprovação do modelo de declaração pelo Governo, através do Decreto n° 27/2014 de
6 de Junho, conceberam-se livros de registos específicos, que foram distribuídos por todas as
comissões de Recepção nas procuradorias provinciais. Paralelamente, foi concebido um
sistema informatizado para o tratamento de dados referentes a esta matéria.
59. Os desafios neste momento prendem-se com a necessidade de se prosseguir com as acções
de formação dos membros das comissões de recepção e verificação, bem como a divulgação
do modelo de declaração para o conhecimento por parte das entidades abrangidas por esta
obrigação.
60. O Tribunal Administrativo realizou actividades traduzidas no estudo e divulgação da Lei de
Probidade Pública, recepção das declarações de património dos magistrados do Ministério
Público, bem como no tratamento informatizado dos respectivos dados. Por seu turno, a
Comissão Central de Ética Pública prosseguiu acções de divulgação da lei de probidade
pública, abrangendo servidores públicos de nível central e local. No período em análise, foram
criadas 68 Comissões de Ética Pública como Resultado da acção de Coordenação
desenvolvida pela Comissão Central de Ética Pública, nos termos da lei. Persistem desafios
quanto a criação das Comissões de Ética ao nível dos órgãos centrais e locais, em particular,
nos distritos, estando a Comissão Central de Ética Pública a desenvolver esforços no sentido
de garantir a implementação da lei em todas as instituição30.
61. Apesar de todos avanços e medidas implementadas, ainda persiste a percepção de que a
declaração de bens por parte dos governantes ainda não é efectiva. Finalmente, importa
referir-se que não bastam apenas medidas é preciso entender a complexidade do fenómeno
da corrupção, o que torna o seu controlo e combate um desafio permanente tanto para o
Governo como para a sociedade no geral.
Objectivo 7: Promover e defender os Direitos das mulheres

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou a aprovação da Lei contra a
Violência Domestica e o lançamento de uma campanha multissectorial de sensibilização sobre
as causas da violência doméstica e modo de prevenção (i); capacitação dos sectores da
Polícia que lidam com casos de violência contra a mulher (ii); a inclusão na formação da
polícia de questões sobre violência doméstica e género (iii); o fortalecimento dos mecanismos
de prevenção para obstar o tráfico de mulheres, crianças e órgãos humanos (iv)
62. Foi aprovada a lei contra a violência domestica. Todavia persistem desafios quanto a sua
plena materialização. O último informe da PGR (2015) mostra um aumento da violência
doméstica contra a Mulher, tendo sido registados 23.659 casos (2014), contra 23.151 casos
(2013), representando um aumento de 508 casos. Quanto as vitimas, 11.669 são mulheres,
7.872 crianças e 4.118 homens. O informe aponta como causas possíveis dos crimes
relacionados a violência domestica, o consumo excessivo de álcool e drogas, a poligamia,
infidelidade, ciúmes, casamentos prematuros, divórcios, desemprego, hábitos culturais e a
vingança. Em face do aumento de casos registados, o informe indica que se impõem o reforço
30
PGR (2015) Informe Anual do Procurador-Geral da República a Assembleia da República. AR-VIII/Infor./39/01.04.2015
32
de medidas de prevenção, através de campanhas de educação cívica sobre a temática de
violência domestica com o envolvimento de todos segmentos da sociedade.
63. O Governo em 2013 no âmbito das acções no sector da Mulher e Acção Social realizou as
seguintes actividades: divulgação através de palestras, debates, e seminários os instrumentos
que protegem os direitos da mulher. Destacam-se a divulgação da Lei da Família, o Plano
Nacional contra a Violência, o Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento,
Protocolo à Carta Africana relativa aos Direitos da Mulher, a Convenção para a Eliminação de
Todas Formas de Descriminação Contra as Mulheres (CEDAW) e respectivo protocolo. Foram
realizados 1037 palestras, 42 debates e 31 seminários em todo o país31
64. Várias organizações da Sociedade Civil têm estado a colaborar com a polícia no âmbito da
advocacia, divulgação e defesa dos direitos humanos, principalmente das mulheres e
crianças. A organização Mulher e Lei na África Austral (WLSA) tem estado a colaborar com o
Ministério do Interior (MINT), através do Departamento da Mulher e da Criança, na formação
de agentes policiais em serviço nos Gabinetes de Atendimento da Mulher e Criança (GAMC).
Este programa insere-se num conjunto mais vasto de intervenções que incluem a elaboração
de programas e conteúdos de direitos humanos e produção de materiais em instituições de
ensino do MINT para a Escola Prática da Polícia e Academia de Ciências Policiais
(ACIPOL)32.
65. Esta formação desenvolvida pela WLSA tem como conteúdos programáticos apoiar os
agentes na: i) capacidade de reflectir sobre a natureza estrutural da violência de género; ii)
aquisição de habilidades necessárias para prevenir, reconhecer e tratar casos de violência de
género; iii) sensibilização para a necessidade do reforço na luta pela igualdade de direitos
entre mulheres e homens; iv) capacidade de aplicação da legislação que defende a igualdade
de género, adquirindo condutas e atitudes que consubstanciam uma perspectiva mais
democrática que vai além da função repressora da polícia33.
66. O tráfico de pessoas, em especial das mulheres e crianças, constitui um fenómeno complexo
que se manifesta de diferentes formas, atingindo dimensões que perturbam o sossego da
sociedade34. Várias acções têm vindo a ser levadas a cabo com destaque para formação em
matérias de tráfico de pessoas; campanhas de consciencialização e prevenção; divulgação da
lei de prevenção e combate ao tráfico de pessoas; identificação de focos de tráfico de pessoas
e a definição de planos e estratégias. Também há a destacar a cooperação com os países da
SADC no domínio de troca de informações e realização de investigações conjuntas 35.
67. Estas acções visam reforçar o reconhecimento e a promoção dos direitos das crianças e
mulheres em Moçambique. Um estudo sobre a matéria recomenda as seguintes medidas para
reforçar o combate ao tráfico de pessoas: “A capacitação da unidade anti-tráfico da polícia, da
inspecção do trabalho, e dos Gabinetes de Assistência às Mulheres e Crianças Vítimas
(GAMC) para investigação de casos de tráfico e disponibilização de protecção de curto prazo
às vítimas; expansão da disponibilidade de serviços de protecção para vítimas através do
aumento do financiamento ao Ministério da Mulher e Acção Social (MMAS) e ONGs;
31
GdM (2014) Balanço do Plano Economico e Social de 2013.
Loforte, A (2013) A formação como Desafio para a Melhoria do Atendimento as Vitimas de Violência de Género WLSA:
Outras Vozes. www.wlsa.org.mz
33 idem
34
PGR (2015) Informe Anual do Procurador-Geral da República a Assembleia da República. AR-VIII/Infor./39/01.04.2015.
35
idem
32
33
continuação da formação de oficiais da aplicação da lei na identificação de vítimas,
particularmente em postos fronteiriços”36
Objectivo 8: Promover os Direitos da criança e do jovem

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que se definam formas e
meios de reabilitar as crianças mais carenciadas eficazmente (i); que se fortaleça a
capacidade do Governo ao nível regional, nacional e provincial visando o combate ao tráfico
de crianças (ii); que se definam os meios de providenciar educação adequada para as
crianças, incluindo as que vivem em internatos (iii).
68. No âmbito da recomendação para criação de meios para a reabilitação de crianças
carenciadas, o Governo em parceria com as organizações da sociedade civil e organizações
internacionais tem estado a colocar esforços dignos de registo nesta tarefa. De acordo com
dados do BdPES de 2013, foram assistidas cerca de 71.652 crianças em centros infantis e
escolinhas comunitárias superando as metas anteriores. Foram igualmente identificadas e
encaminhadas crianças e jovens com deficiência para integração no ensino inclusivo e
especial num total de 3.986 a escala nacional.
69. Ainda no quadro desta recomendação do Painel foi inaugurado o Centro Educacional
Comunitário “Pfuka Dzixile”. Esta iniciativa se enquadra no “Projecto de Reforço à Justiça de
Menores: Fase de Consolidação”, do Instituto de Investigação Inter-regional sobre Crime e
Justiça da Nações Unidas (UNICRI) em parceria com o Ministério da Justiça. O Centro,
segundo o UNICRI, vai desenvolver actividades educativas e lúdicas dirigidas aos menores
em conflito com a lei e em situação de risco que terão sido identificados pelos psicólogos e
operadores sociais do Balcão Informativo do Hulene-B para uma correcta reabilitação e
reinserção na sociedade37.
70. Conforme referido, o esforço do Governo nestas matérias tem sido complementado por
organizações internacional tais como a UNICEF que tem estado a prestar assistência a
crianças em regime de reclusão. Em 2012, a título de exemplo, a UNICEF efectuou visitas aos
centros de reclusão de menores na província de Maputo. Cerca de 206 menores aguardavam
a transferência a partir de várias cadeias para o Centro de Reabilitação de Crianças em
Conflito com a Lei em Boane. Este centro foi concebido em 2011 para albergar 200 reclusos e
até 2012, o centro albergava 105 reclusos e estes frequentavam o ensino de alfabetização,
primário e secundário. O centro possui uma infra-estrutura nova, com celas bem conservadas
e camas decentes38.
71. Não obstante estes esforços coordenados em várias frentes e como reportado no primeiro
Relatório de Progresso do MARP o desafio é permanente e consiste basicamente na
expansão do atendimento `as crianças carenciadas e as que se encontram em Conflito com a
Lei a nível das províncias do país.
Relatório do Departamento de Estado sobre o Tráfico de Pessoas - Moçambique 2012.
http://portuguese.maputo.usembassy.gov/tip2.html
36
37
AIM. 25.07.2017
Krajnc, E & Miranda, A (2012) Jovens no Sistema Prisional da Província de Maputo.
www.unicef.org/mozambique/pt/media_10450.html
38
34
72. No que diz respeito a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP para
se fortalecer a capacidade do Governo ao nível regional, nacional e provincial visando o
combate ao tráfico de crianças, denota-se um esforço crescente do Governo visando estancar
este fenómeno cuja arquitectura da sua persecução por parte de redes criminosas tem estado
a ganhar elevada sofisticação. Várias campanhas têm sido levadas a cabo e o controle de
fronteiras em colaboração com os países vizinhos regista melhorias no que concerne a
passagem de menores. No entanto, a nível das províncias mantêm-se o desafio de reforço da
capacidade de actuação dos Governos locais (unidades policiais e outras) para fazer face a
este fenómeno.
Objectivo 9: Proteger e promover a defesa dos Direitos de grupos vulneráveis, incluindo os
portadores de deficiência, pobres, deslocados e refugiados

Foi recomendado pelo Painel de Personalidades Eminentes do MARP para que se ratifique a
Convenção sobre os Direitos e a Dignidade das Pessoas portadoras de Deficiência e se produza
legislação sobre a matéria (i); seja produzida legislação que tornem os edifícios públicos
acessíveis as pessoas portadoras de deficiência (ii); se introduza um sistema de aviso prévio para
a detecção atempada de calamidades naturais (iii);
73. No âmbito da implementação de acções com vista a promoção e protecção dos direitos das
pessoas portadoras de deficiência, o sector de acção social realizou 433 palestras em todo país
em 2013, com vista a divulgar os instrumentos que protegem os direitos da pessoa idosa.
Também foram realizadas 344 palestras para a divulgação dos instrumentos que protegem os
direitos da pessoa portadora de deficiência39.
74. Apesar da aprovação do Decreto 53/2008, de 30 de Dezembro, sobre acessibilidade a edifícios e
locais públicos, ainda persistem limitações na sua implementação. Em Moçambique ainda
constata-se uma fraca implementação da legislação específica sobre a acessibilidade e acções
concretas de nível local, pois verifica-se na maioria dos passeios a existência de pisos irregulares,
estreitos, desníveis e obstáculos o que torna difícil a acessibilidade para pessoas com mobilidade
reduzida40.
75. Ainda no quadro da promoção do Direito à educação foram identificadas e encaminhadas 3.986
crianças e jovens com deficiência para integração no ensino inclusivo especial (2013)41. Em 2014
o número de crianças e jovens encaminhados foi de 3463. Portanto, ainda persiste o desafio no
sentido de se encontrar meios para assegurar maior inclusão de crianças e jovens portadores de
deficiência.
76. No que concerne a Gestão das Calamidades Naturais, importa realçar que o país melhorou
significativamente a sua capacidade de resposta às situações de calamidades naturais. Na linha
dos esforços neste domínio, de entre outros, o Governo aprovou a lei 15/2014 de 20 de Junho
que estabelece o regime jurídico da gestão das calamidades. Neste documento está definido o
sistema de aviso prévio e seus componentes, assim como incluídas questões sobre o regime de
protecção especial as pessoas especialmente vulneráveis, tais como idosos, mulheres, crianças,
39
GdM (2014) Balanço do Plano Economico e Social de 2013
Fernando, A (2015) Ambiente e Acessibilidade Urbana em Moçambique, in Jornal Noticias 03.02.2015
41GdM (2014) Balanço do Plano Economico e Social de 2013
40
35
doentes e deficientes. Este regime inclui: i) direito a prioridade no acto de evacuação e
reassentamento; ii) direito à especial protecção, contra abusos durante o período de emergência;
e iii) direito a continuidade da educação.
77. Quanto aos grupos em situação de imigrantes vale a pena referir que as fragilidades que
Moçambique tem no controle das suas fronteiras estão a acrescer o número de imigrantes ilegais.
Contudo torna-se difícil encontrar formas de diferenciar imigrantes ilegais de refugiados, o que
reforça ainda mais a vulnerabilidades destes últimos. Paralelamente, muitos Moçambicanos têm
imigrado para a África Sul. Neste país os actos de Xenofobia tem criado muitas vítimas entre os
moçambicanos ai residentes. O Governo deve envidar esforços para actuar contra estas
situações e melhorar a protecção desses grupos vulneráveis.
36
CAPÍTULO II
GOVERNAÇÃO E GESTÃO ECONÓMICA
Este capítulo analisa os progressos alcançados na área de Governação e Econômica e seus desafios,
sem perder de vista os cinco objectivos desta área temática, nomeadamente:





Promoção de políticas macroeconómicas que assegurem um desenvolvimento sustentável;
Implementação de políticas macroeconómicas sólidas, transparentes e previsíveis;
Promoção uma gestão sólida das finanças públicas;
Combate a corrupção e o branqueamento de capitais;
Aceleração da integração regional através da participação na harmonização de políticas
monetárias, comerciais e de investimento.
De acordo com o primeiro Relatório de Progresso do MARP (2010-2012) no domínio da Governação e
Gestão Económica o país registou progressos dignos de realce, designadamente:















Alta taxa de crescimento económico;
Inflação controlada;
Tendência crescente das exportações;
Alargamento da base tributária como resultado de reformas fiscais com maior incremento de
receitas fiscais e contribuindo para uma notável redução da dependência do financiamento
externo;
Implementação de um conjunto de medidas para fortalecer a capacidade de trabalho analítico
subjacente às decisões e à gestão da política monetária que permitiu desenvolver um modelo
de projecções da inflação; bem como a melhoria nas intervenções nos mercados
interbancários e o mecanismo de comunicação das decisões de política;
Adesão do país a Iniciativa Internacional da Transparência das Indústrias Extractivas (ITIE);
Introdução dos diferentes Balcões de Atendimento Único (BAU’s) para a simplificação do
licenciamento, e a Janela Única Electrónica (JUE) para a facilitação do desembaraço
aduaneiro no comércio externo;
Criação do Banco Nacional de Investimentos (BNI) como Banco de Desenvolvimento com
capitais 100% públicos;
Criação de directrizes que orientam o processo de elaboração de planos e programas de
investimento no País;
Alargamento de pagamentos electrónicos via e-SISTAFE;
Introdução de e-Tributação para os impostos internos na sua fase piloto;
Criação do Centro de Desenvolvimento de Sistemas de Informação (CEDSIF), dentro do
Ministério de Finanças, para prestação de serviços no âmbito da implementação do SISTAFE;
Aprovação da Visão das Finanças Públicas 2011-2025;
Implementação do Projecto de Fronteira de Paragem Única de Ressano Garcia/Lebombo,
fronteira com a África do Sul, no âmbito da integração regional;
Simplificação dos procedimentos aduaneiros com a introdução de Declaração Abreviada, e
revisão do Regulamento de Desembaraço de Mercadorias.
37
Para além destes progressos, foram apontados alguns desafios que se colocavam ao país, como por
exemplo:



Ambiente de negócios não favorável para as Pequenas e Médias Empresas (PMEs),
particularmente devido a excessivas barreiras reguladoras, o elevado custo de financiamento,
a fraca qualificação de mão-de-obra e o fraco acesso aos mercados;
Insuficiência de infra-estruturas para operacionalização das Tecnologia de Comunicação e
Informação principalmente a nível distrital, o que limita, particularmente, o alargamento do
sistema electrónico de pagamentos; e
Necessidade de manter o esforço de redução da dependência externa;
Princípios, Padrões e Normas

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou ao Governo de Moçambique
para que desse orientações a cada um dos Ministérios para manterem registos adequados dos
padrões e normas adoptados e que estejam a ser implementados como uma base para a
monitoria adequada dos seus estatutos (i); que se criasse um centro depositário no Ministério
dos Negócios Estrangeiros destinado à documentação centralizada dos padrões, normas e
práticas adoptados e que estejam a ser implementados como uma base para a monitoria
adequada dos seus estatutos (ii).
78. Em relação às recomendações acima, o primeiro Relatório de Progresso constatou que o país
tem vindo a envidar esforços no sentido de criar órgãos para o depósito e gestão dos Tratados
e Convenções Internacionais assinados pelo país. Em relação a isto, foi criada, na Assembleia
da República, uma divisão de Documentação Parlamentar que trabalha em estreita ligação
com a Comissão de Relações Internacionais do Parlamento. Por sua vez, o Ministério dos
Negócios Estrangeiros e Cooperação criou uma repartição de Tratados Internacionais, dentro
do Departamento Jurídico. Os tratados internacionais estão publicados na seguinte página da
Internet: www.minec.gov.mz.
79. Apesar dos progressos registados, constatou-se que os Tratados e as Convenções não são
de fácil acesso público, particularmente pelas províncias, por estarem centralizados naquelas
unidades específicas criadas ao nível da Assembleia da República e Ministério dos Negócios
Estrangeiros e Cooperação.
80. No que se refere ao acesso a informação, importantes avanços foram registados com a
aprovação da Lei do Direito à Informação pela Assembleia da República, em 2014. A Lei
obriga os organismos públicos e entidades privadas que desenvolvem actividades de
interesse geral a prestar informações solicitadas pelos cidadãos. Ademais, a Lei obriga a que
informações de interesse público sejam disponibilizadas através de diversos meios legalmente
autorizados e que possam torná-la cada vez mais acessível ao cidadão, sem prejuízo das
excepções expressamente previstas.
81. Embora a Lei seja explícita em relação ao tipo de informação (planos de actividade e
orçamentos anuais; relatórios de execução; relatórios de auditoria; inquéritos; inspecção e
sindicância; relatórios de avaliação ambiental; actas de adjudicação de concursos públicos;
contractos celebrados; receitas e despesas), os instrumentos normativos revestem-se ainda
de maior interesse público e a prioridade na sua publicação fica subentendida nesta Lei.
38
Portanto, com a aprovação desta Lei, ficam criadas condições para que pessoas interessadas
tenham acesso mais fácil à informação das actividades do Governo.
82. Contudo, a aprovação da Lei não significa automaticamente que os Instrumentos Normativos
e as Convenções estarão à disposição do púbico, particularmente a pensar nos níveis
provinciais e distritais; é preciso que a Assembleia da República e o Ministério dos Negócios
Estrangeiros e Cooperação encontrem formas de descentralizar os Depositários, bem como
usem os espaços e meios ao nível sectorial e a diferentes níveis para a colocação das
Normas e Convenções que a si dizem respeito, nomeadamente através de informação directa
através de encontros quer pelo Governo quer pela Assembleia, no seu contacto com o
eleitorado.
83. Paralelamente, existe um potencial de tornar públicas as diferentes Normas e Convenções
usando as campanhas sectoriais relacionadas com a protecção dos Direitos das Pessoas
mais vulneráveis (crianças, idosos, deficientes, reassentados e desalojados, ecossistemas e
biodiversidade, etc.); o Governo também pode tomar como referências obrigatórias as Normas
e Convenções ao elaborar as metas dos seus planos, bem como ao produzir relatórios de
implementação, execução, progresso, avaliação de desempenho, etc.
84. Por sua vez, o Centro de Desenvolvimento de Sistemas de Informação de Finanças (CEDSIF)
desenvolveu e homologou internamente a aplicação do “Portal de Finanças Públicas”, como
espaço electrónico para a disponibilização de informações pertinentes e inerentes à gestão
das Finanças Públicas (informação estatística, notícias, vídeos, fotos, artigos, etc.), para
facilitar a interacção e disponibilização de informação ao cidadão. Mas, tem-se aqui o
constrangimento dos meios electrónicos não serem ainda do acesso e domínio da maioria dos
moçambicanos, particularmente ao nível dos distritos.
Objectivo 1:
Promover políticas macroeconómicas que assegurem um desenvolvimento
sustentável
A. Politica Macroeconómica, Estabilização e Crescimento

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para Moçambique realizar mais
esforços visando atingir um crescimento económico de base ampla que reduza a pobreza e as
desigualdades através do empoderamento das pessoas para que possam participar no
processo de crescimento através de emprego e da aquisição de habilidades e de bens de
produção (i); que se explore meios de reduzir a dependência em relação à Ajuda externa,
aumentando a mobilização nacional de recursos e racionalizando as despesas não prioritárias
(ii).
85. Em relação às recomendações propostas pelo Painel de Personalidades Eminentes do
MARP, o presente Relatório de Progresso constata realizações substanciais:
39
Tabela 1: Dinâmica do PIB por sectores (%)
Trimestral-2013
I
II
III
IV
Sector Primário
-2.4 8.9 1.2
5.2
Agricultura
-5.2 7.8 2.5
2.3
Pescas
4.7 -9.8 4.3
19.8
Ind. Extraç. Mineira
27.4 38.8 -9.5 17.6
Sector Secundário
7.9 7.1 6.7
-1.3
Industria Transformadora
9.6 7.7 3.2
-2.0
Electricidade Gaz e Água
5.5 -0.3 8.3
10.2
Construção
3.5 18.2 22.1 -10.9
Sector Terciário
14.1 10.7 8.5
1.0
Comércio e Serv. Reparação 35.9 24.8 16.5 -5.7
Hoteis e Restaurantes
6.4 1.9 9.4
6.0
Transp. e Comun.
9.5 9.6 9.5
5.5
Serviços Financeiros
32.4 24.8 16.3 -8.2
Alug. Imo. Serv. Prest. Emp. 5.9 5.6 5.9
6.7
Administração Publica
4.5 3.7 1.4
5.5
Educação
6.4 3.0 1.3
1.2
Saúde e Acção Social
-3.9 -5.9 -4.4
1.1
Outros Serviços
4.6 4.6 4.7
5.1
PIB (%)
8.2 10.7 7.3
2.6
Sectores de Actividade
Anual
2013
3.2
1.7
3.8
15.7
4.8
4.1
5.5
7.2
8.3
15.4
5.9
8.5
14.5
6.0
3.7
3.0
-3.3
4.8
7.1
Trimestral-2014
Anual
I
II
III
IV
2014
10.2 10.2 8.1 -1.1
7.3
9.7
5.6
0.6 -6.1
3.1
0.2 26.9 15.4 -27.5 3.4
21.7 42.7 63.2 45.5 43.7
7.6
5.4
8.3 -2.1
4.7
4.8
2.7
6.8 -4.3
2.3
8.1
8.7 13.1 -2.6
6.9
22.5 13.2 9.3 10.6 13.3
4.2
6.6
5.6
6.8
5.8
-2.8
8.5
7.7
5.4
4.8
11.9 9.8 -0.9 6.1
6.4
4.4
2.7
2.7
3.6
3.3
3.9
8.1
4.0 15.7 7.8
8.2
8.5
7.8
6.2
7.7
9.6
6.8
7.4
9.1
8.2
3.4
4.5
5.2
5.5
4.7
10.7 17.5 20.1 18.4 16.7
5.6
5.6
5.0
3.9
5.0
7.4
9.0
7.8
5.6
7.4

Na primeira metade de 2014, o PIB cresceu 8,2% face a igual período do ano anterior, com
fortes contributos da agricultura e da indústria transformadora, apesar do desempenho inferior
ao esperado das indústrias extractivas (principalmente o carvão), e transportes, devido a
algumas limitações no sistema ferroviário que moderaram o crescimento económico, ainda
que, no caso das indústrias extractivas, o sector tenha registado taxas de crescimento
comparativamente mais elevadas.

A segunda metade do ano ficou marcada por um crescimento de 6,7%, destacando-se o
contributo do comércio e da indústria transformadora. Esta melhoria foi também influenciada
pelo incremento da produção agrícola e do investimento directo estrangeiro no sector do
petróleo e gás, compensando o impacto dos baixos preços dos recursos naturais,
especialmente o carvão42. No entanto, o robusto crescimento económico do país, não se
traduz ainda em transformações estruturais, especialmente nos meios rurais, onde a base
produtiva de Moçambique continua em grande parte dependente dos recursos naturais, com
pouco impacto sobre as receitas públicas e o emprego.

Relativamente à evolução anual da actividade económica, este desempenho foi favorecido
pelo crescimento da produção do sector primário (7,3%), resultante, maioritariamente, da
expansão das indústrias extractivas em 43,7%. O sector terciário registou um desempenho
42
Segundo o Relatório de 2014 do Standard Bank, espera-se que a manutenção dos baixos preços do carvão e do
petróleo atrasem ainda mais o investimento nos sectores do carvão e do gás natural, orçados em múltiplos do PIB nacional.
Apesar disto, espera-se que Moçambique continue a crescer rapidamente, beneficiando de uma economia relativamente
diversificada e apesar da incerteza política dos últimos dois anos, o que teve um impacto negativo sobre o clima
empresarial e de investimento.
40
modesto com um crescimento de 5,8% reforçado pela evolução do ramo da Saúde e Acção
Social (16,7%). Administração Pública (8,2%) e Serviços Financeiros (7,8%). No que diz
respeito ao sector secundário, o ramo da Construção continua a registar o maior crescimento
anual (13,3%), acima dos ramos da electricidade, água e industria transformadora.

A taxa de inflação média anual manteve-se em níveis historicamente baixos, de 2,56% em
2014, contra os 4,26% de 2013. Esta redução foi em parte apoiada por importações mais
baratas da África do Sul, o principal parceiro comercial de Moçambique, devido a relativa
fraqueza da moeda sul-africana (Rand). No entanto, importa referenciar que a fraqueza da
moeda sul-africana em relação em relação a moeda moçambicana (Metical), não obstante
estimular as importações, significa a saída de divisas do país o que não é de todo desejável.

O volume das exportações de bens, incluindo grandes projectos, atingiu cerca de 123.366,6
milhões de Meticais, equivalentes a 3.916,4 milhões de dólares, resultante da contribuição do
tabaco, açúcar, algodão, carvão mineral, gás natural e energia eléctrica. No entanto, no
período em análise, não se registaram grandes alterações na estrutura de exportações,
havendo necessidade de diversificar as exportações para reduzir a vulnerabilidade da Balança
Comercial aos choques externos dada a rigidez das importações do país.

O PIB per capita, por sua vez foi mostrando uma evolução positiva tendo passado de USD
661,2 em 2013, para USD 682,1 em 2014. Pese embora tenha havido aumento deste
indicador, torna-se ainda pertinente encontrar mecanismos para fazer reflectir estes resultados
na vida das comunidades no país. Segundo o relatório do Banco Mundial sobre “Análise da
Despesa Pública de Moçambique (2014), 40% da população mais pobre beneficiou menos do
crescimento em relação a 20% da população mais rica. Isso resulta do fraco investimento
público nas camadas mais desfavorecidas principalmente em sectores prioritários (água,
saúde e educação).

De acordo com o Balanço do Plano Económico e Social de 2014, as despesas públicas para
áreas prioritárias do Plano de Acção para Redução da Pobreza (PARP) (educação, saúde,
infra-estrutura e agricultura) reduziram em quase 2% de 113.309,00 milhões de MT para
111.149,0 MT, correspondendo a redução do peso de 69,1% para 61,1% em 2014, apesar do
aumento da despesa total em 10,9%. O Orçamento do Estado para 2013 foi financiado em
69% por Recursos Internos e em 31% por Recursos Externos, sendo que estas cifras em 2014
passaram para 65% e 35% respectivamente (Conta Geral do Estado 2014; MEF). Portanto, é
evidente a redução que se esta a verificar na dependência externa do OE.
86. O país, também foi implementando acções em várias frentes com vista a reduzir a
dependência em relação à ajuda externa, a destacar43:



43
O controlo empreendido nas operações de venda de activos detidos por empresas
estrangeiras a operar no sector petrolífero, que resultaram na arrecadação de
18,054.2 milhões de MT do contravalor de 590.0 milhões de dólares americanos em
mais-valias, no período em análise;
A verificação e correcção contínua das Declarações Anuais de Rendimento e de
Informação Contabilística e Fiscal;
O maior controlo dos benefícios fiscais nos projectos de investimento inscritos nas
DAF´s;
Conta Geral do Estado 2014
41




As cobranças resultantes de acções de controlo e fiscalização, em sede das
auditorias; e
O controlo nas retenções de pagamentos ao exterior.
As acções inspectivas através da Inspecção Geral de Finanças, visando a
implementação da Circular e simultaneamente impulsionar o aumento da recolha da
receita; e
As acções de formação tendo como grupo alvo as unidades de cobrança da
Autoridade Tributária e instituições do Estado, a nível central, provincial e distrital que
arrecadam Receitas Próprias e Consignadas.
87. Para o sucesso das acções contidas neste ponto, espera-se que o Governo: (i) continue com
a campanha de educação fiscal junto as instituições financeiras responsáveis pela realização
de transferências de valores para o exterior e (ii) priorize pelo menos uma vez por ano visita
inspectiva de rotina as empresas nacionais e estrangeiras e não apenas quando há uma
denúncia.
88. Na área de gestão macroeconómica, segundo o relatório do PAPs (2013/2014) é reconhecido
o crescimento sólido e contínuo obtido pelo país a volta de 7,4%. No entanto, esse
crescimento continua a estar suportado pelo desempenho dos megaprojectos, sendo
necessário alargar a base das exportações do país. A importância do sector de recursos para
Moçambique não pode ser subestimada. Apesar de continuar a contribuir com menos de 4%
do PIB, manteve-se o maior contribuinte para o investimento directo estrangeiro no país ao
longo dos últimos 10 anos.
89. Em 2014, as Receitas correntes do Estado aumentaram em 3,1 pontos percentuais em
comparação do igual período do ano anterior. No mesmo período, as Despesas de
funcionamento aumentaram em 2,2 pontos percentuais do PIB. Com este desempenho, o país
cumpriu com o indicador chave para os níveis de convergência da Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral (SADC) que é o rácio fiscal de 27%44, uma vez que o
aumento do peso das Receitas correntes foi superior ao das Despesas de funcionamento,
registando uma melhoria no Saldo corrente, que passou de cerca de 5,8% do PIB em 2013,
para cerca de 6,6% em 2014.
90. Por outro lado, as Despesas de Investimento superaram o nível de realização de 2013 em
cerca de 1,2 pontos percentuais do PIB, tendo as Operações Financeiras Activas
incrementado em 0,9 ponto percentual. O crescimento das Receitas do Estado, face ao
comportamento das Despesas, permitiu que o Crédito Interno Líquido ao Governo diminuísse
em 0,06 ponto percentual do PIB. No entanto, os recursos financeiros disponíveis pelo Estado
continuam a não ser suficientes para fazer face as suas necessidades financeiras sem
recorrer a ajuda externa (Conta Geral do Estado 2014). Segundo o Balanço do PES de 2014,
os donativos para financiar o défice orçamental baixaram de 30.233,4 milhões de MT para
21.442,7 milhões de MT entre 2013 e 2014, enquanto que os créditos de 30.853,0 milhões de
MT para 18.783,1 milhões de MT. De notar que esta diminuição da ajuda externa poderá por
em causa o financiamento dos sectores prioritários que dependem em grande medida deste
tipo de financiamento (GMD, 2014b).
44
Veja-se o artigo sobre esta matéria publicado no Jornal Vertical de 17 de Fevereiro de 2015
42
Tabela 2: Equilíbrio Orçamental em (milhões MT).
Fonte: Relatório do BdPES (2014)
91. O acesso ao financiamento continua a constituir um constrangimento para o desenvolvimento
empresarial, principalmente para os operadores agrários e para as Micro, Pequenas e Médias
Empresas (MPMEs). Face a isto, o Governo adoptou nos últimos dois anos medidas de
política visando a expansão da rede bancária consubstanciado no alargamento dos serviços
bancários para os distritos assim como a construção de infra-estruturas que ligam os distritos
o que tem permitido a massificação dos serviços financeiros no país. Não obstante estes
esforços a reclamação da CTA e dos empresários parece estar a evoluir para um outro nível o
do custo do crédito o que sugere um desafio adicional para o Governo e o sector privado.
92. Entretanto, um assunto que tem estado a levantar polémica no país prende-se com a entrada
em funcionamento da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM) em 2013. Em causa está o
empréstimo de 850 milhões de dólares americanos contraído em 2013 no mercado
obrigacionista europeu e em que o Estado moçambicano serviu como avalista na operação.
De acordo com o Grupo Moçambicano da Divida (GMD)45 ainda não se sabe qual foi o estudo
de base que sustenta este endividamento e há receio que o critério aplicado para este
financiamento coloca em causa a transparência na gestão de finanças públicas e o
cumprimento rigoroso da lei orçamental 1/2013 de 7 de Janeiro no que diz respeito ao limite
de avales a conceder dentro de um exercício económico46.
93. No entanto, o Governo, explicou na Assembleia da República que está a negociar a
reestruturação da dívida de 500 milhões de dólares que assumiu pelo financiamento da
EMATUM, na qualidade de avalista de toda a dívida, enquanto o remanescente de 350
milhões de dólares deverá ser pago pela empresa. O empréstimo que o Estado assumiu
corresponde à compra de seis navios-patrulha e respectivo equipamento a um estaleiro
45
http://www.dw.com/pt/mo%C3%A7ambicanos-querem-ter-uma-palavra-a-dizer-sobre-d%C3%ADvida-p%C3%BAblica/a18445677 (consultado dia 31/10/2015 às 6h10)
46
De acordo com o Fórum de Monitoria do Orçamento (2015), o Estado Moçambicano emitiu avales no valor de
28.346.620,00 Mts para o financiamento da EMATUM, acima de 183.500.000,00 Mts como limite máximo estabelecido pela
lei 1/2013, de 7 de Janeiro, no seu art. 11.
43
francês, enquanto a dívida imputada à EMATUM corresponde à componente comercial do
empréstimo, destinado à compra de 24 atuneiros.47
94. Importa notar que na última década, isto é, depois do Perdão da Dívida Multilateral – MDRI,
contrariamente ao cenário que apontavam as previsões, a Dívida Pública do país evoluiu de
forma rápida, tendo crescido em 26,9% entre 2013 e 2014, atingido em 2014 um pouco mais
de USD 6,8 mil milhões, com as estimativas do tesouro a apontarem para cerca de 48,9 % do
PIB (contra 43,09% em 2013) e um rácio Serviço da Dívida/ Exportações de cerca de 37%,
3p.p abaixo do risco vermelho de sobre endividamento fixado pelo FMI e o Banco Mundial (de
40%). Esta situação pode colocar o país, a médio longo prazo, no risco de voltar a crise de
dívida enfrentada nos anos 80/90 (CGE 2014; GMD, 2015; AAM, 2015), estando perto do
limite dos indicadores de sustentabilidade da dívida fixados pelo Banco Mundial e FMI, num
contexto de inúmeras e desnecessárias isenções fiscais aos mega-projectos e grandes
capitais, particularmente na indústria extractiva, o que ao reavaliar os indicadores de
sustentabilidade da dívida pode ser compatível com uma pressão de insustentabilidade (GMD,
2014a).
95. Refira-se que entre 2013 e 2014 a dívida externa aumentou em 28,6% e a interna em 17,1%,
o que se explica pelo desembolso de novos empréstimos para o financiamento de projectos
de investimento. No entanto, a este ritmo de crescimento anual a divida pública tende a tornarse insustentável, sendo que o desafio que se coloca ao país, passa pelo Governo melhorar o
nível de receitas internas (CGE 2014). De acordo com o Relatório do Banco Mundial (2014), o
nível da dívida de Moçambique, maioritariamente composta pela dívida externa, subiu
continuamente e prevê-se que continue acima de 55% para o resto da década.
96. No entanto, segundo a explicação dada pelo Governo na Assembleia da República48, a dívida
pública moçambicana, estimada em cerca de 6.9 biliões de dólares americanos, é
“sustentável". O Governo argumenta que a dívida com a qual os moçambicanos se
preocupam “não é um problema”. Para o Governo, os 6.9 biliões de dólares significam que “se
dividirmos este valor por 17 biliões que correspondem ao PIB previsto para 2015, tem-se 40
por cento do valor, o qual ainda está dentro dos padrões internacionalmente aceites.
97. No que se refere composição da divida pública, nos últimos anos constata-se uma tendência
decrescente do elemento donativo associado às novas dívidas, o que significa que as novas
dívidas vão sendo contraídas cada vez mais em condições de mercado, o que aumenta ainda
mais o peso da dívida. Esta aceleração de novas dívidas contraídas é acompanhada de uma
redução dos períodos de maturidade e de graça e aumento das taxas de juros, o que
aumentam ainda mais a pressão (GMD, 2014a; World Bank, 2014). Portanto, a rápida
evolução da dívida e do peso da dívida pode transferir importantes recursos do financiamento
da melhoria do ambiente de negócios para o serviço da dívida e pode, ela própria, interferir
com a gestão dos principais indicadores macroeconómicos do país (taxa de crescimento
económico, inflação, câmbio, etc.), e deteriorar as condições de acesso ao crédito pelo sector
privado, dado o recurso crescente ao endividamento interno para o financiamento aos défices
de tesouraria que vão crescendo.
98. Entretanto, Moçambique continua a registar um crescimento e um processo de
industrialização impulsionados pelos grandes projectos, muitos deles na área de recursos
47
Intervenção do Ministro da Economia e das Finanças na Assembleia da República à 18 de Junho de 2015.
http://www.verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/52936-quantas-refeicoes-se-fazem-num-dia-com-64meticais-no-bolso-senhor-ministro (consulta dia 31/10/2015 as 6:21 horas)
48
44
naturais. Segundo os dados disponíveis no ano de 2014 a produção global de minerais teve
um crescimento na ordem dos 5,7% em relação ao ano de 2013, tendo contribuído para este
crescimento a produção de Carvão, Gás, Ouro, tantalite e areis pesadas.
99. Apesar de esforços assinaláveis nas várias frentes, conforme as realizações mencionadas
prevalecem desafios para o país que vão emergindo, com ênfase para os seguintes:
 A redução do financiamento externo (sobretudo a redução do peso da ajuda externa
para financiar o Orçamento do Estado) ou agravamento significativo das condições
actuais do endividamento externo;

Enquanto o Orçamento do Estado for deficitário, a possibilidade de emissão da Dívida
Pública Interna Mobiliária (DPIM) não poderá ser descartada49. No entanto, as
condições actuais de emissão da DPIM, em que a poupança financeira ainda é
escassa e as taxas de juro são elevadas, fazem com que o custo de contracção desta
dívida seja elevado tanto para o sector privado, como para o sector público (por causa
do impacto dos custos financeiros desta modalidade de financiamento do défice na
despesa pública). Em última análise, a DPIM pode resultar em aplicações não
produtivas de recursos, o que representa um custo adicional para a economia como
um todo. Portanto, o recurso a DPIM para financiamento do défice deve ser
minimizado. Para tal, será necessário aumentar a capacidade do Estado financiar as
suas despesas ao mesmo tempo que substancialmente reduz a sua dependência em
relação à ajuda externa e a fontes privadas de financiamento do orçamento.
 As alternativas sustentáveis à ajuda externa e à DPIM passam pela aceleração do
crescimento das receitas fiscais através da tributação interna. Logo, entre outras
acções é necessário rever as fontes de receitas que tem sido sub-exploradas, reduzir
os incentivos fiscais minimizando os que são redundantes, renegociar os contratos já
existentes com grandes projectos que beneficiam de largos incentivos fiscais, e ligar a
despesa pública directamente com a criação de condições para diversificação da
base produtiva, comercial, de investimento e de distribuição.
 A tensão político-militar que teve seu início em Junho de 2013 e se estendeu até ao
mês de Agosto de 2014 condicionou a circulação de pessoas e bens e por outro lado
exacerbou incertezas na execução de alguns projectos públicos e investimentos
privados nacionais e estrangeiros.
 As condições climatéricas adversas que provocam o esgotamento das reservas
alimentares dos Agregados Familiares e na venda excessiva de bens produtivos, e
que determina que a situação de Segurança Alimentar e Nutricional varie entre boa a
moderada.
 Apesar da melhoria registada, o acesso ao financiamento bancário, continua a ser
limitado, sobretudo para as Pequenas e Médias Empresas (PMEs), devido a um
conjunto de constrangimentos que estas unidades enfrentam e que dificultam ainda a
sua relação com a Banca. O nível de taxas de juros que é ainda elevado, constituindo
um dos factores que afecta o nível de acesso ao financiamento bancário.
49
Massarongo (2013)
45
 A nível do emprego: (i) o acesso ao financiamento continuou a constituir um dos
grandes constrangimentos para o desenvolvimento empresarial, principalmente para
os operadores agrários e para as Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs); e
(ii) de igual modo, a alocação de recursos financeiros para a expansão e
apetrechamento dos centros de emprego e de formação profissional, formação de
formadores e técnicos, capacitação e assistência empresarial, criação de incubadoras
empresariais e expansão de Centros de Orientação ao Empresário constitui um
grande constrangimento.
 Apesar do contexto económico favorável em 2014, permanecem, ainda, alguns riscos
económicos. A sucessão de baixos preços das matérias-primas, ou uma redução
ainda mais substancial, custos de transporte elevados, procura abaixo do esperado
na Europa ou desaceleração económica na China, poderão afectar os sectores
exportadores, adiando os investimentos planeados e, conseqüentemente,
desacelerando o crescimento económico do país.
 Face à instabilidade de preços dos recursos minerais, tanto o FMI, a Visão das
Finanças Públicas, bem como a Sociedade Civil (CTA, CIP, etc) recomendam a
criação do Fundo Soberano vindo dos lucros da exploração de recursos naturais do
país para fazer face à diminuição dos preços no mercado internacional e evitar a
“maldição” destes recursos. Este Fundo teria por objectivo principal a eliminação da
pobreza, e serviria para: (i) Protecção da economia Moçambicana de possíveis perdas
de competitividade resultado da apreciação da moeda nacional; (ii) Estimulo ao
desenvolvimento de políticas e investimentos na agricultura, infraestrutura,
desenvolvimento do capital humano através da educação, saúde e água e
saneamento via alocação de recursos ao orçamento nacional; e (iii) Protecção
intergeracional dos cidadãos Moçambicanos garantindo que a geração actual e as
gerações futuras beneficiarão dos recursos a serem gerados (SPEED, 2011).
B. Políticas do Sector Monetário e Financeiro

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou nesta área específica que se
fortaleça a capacidade de trabalho analítico subjacente às decisões e à gestão da política
monetária (i); que se introduzam medidas adicionais para ampliar e intensificar a expansão
dos serviços financeiros para as zonas ainda desprovidas do acesso destes serviços e reduzir
as taxas de juro (ii); que se reveja e se actualize os custos de transacções bancárias e outros
depósitos cobrados no geral e em particular as transacções das ATMs (iii); que se inicie o
processo de criação de um Banco de Desenvolvimento para facilitar o acesso ao crédito ao
empresariado local (iv); que se introduzam medidas adicionais para proteger a economia dos
impactos adversos da actual crise económica global (v).
100.Segundo dados do Banco de Moçambique, há a destacar o seguinte:

Em 2014 entraram em funcionamento mais 52 instituições de microcrédito, passando para
285, e mais 52 balcões de bancos, elevando a quantidade de agências bancárias em
funcionamento para um total de 572 no território nacional. A estes balcões, adicionam-se
ainda 37 agências de micro-bancos e 8 agências de cooperativas de crédito, totalizando
617 agências de instituições de crédito presentes em todas as capitais provinciais,
46
municípios, o que permitiu alargar a cobertura bancária de 63 distritos cobertos em 2013,
para 69 distritos em 2014. Embora tenha havido um crescimento, ele é ainda inferior as
necessidades pois continuam a existir zonas do país sem acesso a estes serviços o que
condiciona as poupanças, o financiamento e os serviços de execução do orçamento por
via directa pois esta constitui uma das condições básicas para a expansão do SISTAFE, a
qualidade dos serviços que prestam é também outro dos aspectos que é questionado.
Tabela 3: Cobertura da rede de instituições financeiras
Fonte: Relatório do BdPES 2014

O serviço de banca electrónica (e-Banking) conheceu uma evolução, reflexo do aumento
do acesso aos serviços financeiros pela população e pelos estabelecimentos comerciais,
conjugado com os desafios que se impõem ao país, decorrentes do crescimento da
própria economia.

Em Novembro de 2014, a taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência (FPC) foi
reduzida em 75 pontos base, passando para 7.5%, após esta ter sido mantida em 8.25%
durante os primeiros dez meses do ano. Esta redução foi justificada pela estabilidade de
preços ao longo do ano e pelas perspectivas de inflação de médio e longo prazo, num
contexto em que os preços das mercadorias estão em queda. Contudo, a taxa de juro da
Facilidade Permanente de Depósito e o coeficiente de reservas obrigatórias não sofreram
alteração ao longo de 2014, mantendo-se em 1.5% e 8.0%, respectivamente. Contudo, a
política seguida pelo Banco de Moçambique continua a não ser eficaz para obrigar os
bancos comerciais a baixarem o custo dos empréstimos no sistema financeiro.

O ano de 2013 constituiu ano piloto na aplicação da metodologia de Supervisão Baseada
no Risco. Esta abordagem possibilitou ao Banco de Moçambique ter uma melhor gestão
de recursos, alocando-os de acordo com o perfil de risco das instituições. Por forma a
implementar a metodologia do RBS, e com vista a estabelecer uma linguagem uniforme
entre as instituições de crédito e o supervisor em matérias de gestão de risco, foi
publicado o Aviso nº 4/GBM/13, de 24 de Maio, que estabelece as Directrizes de Gestão
de Riscos, bem como, a Circular nº 1/SCO/13, de 30 de Maio, que institui o quadro
analítico de Supervisão Baseada no Risco.
47

Em 2013 ocorreram no mercado primário, emissões da dívida pública e privada no valor
de 4.788 milhões de Meticais, dos quais 66% dos valores mobiliários emitidos
correspondiam ao valor da dívida pública. Entretanto, a emissão da dívida por privados
registou um aumento na ordem dos 100%, comparativamente ao ano anterior,
destacando-se significativamente em relação à dívida pública que aumentou somente
11,2%.

Igualmente em 2013, o Banco de Moçambique deu continuidade ao cumprimento das suas
atribuições na área de sistemas de pagamentos, tendo procurado assegurar o seu bom e
adequado funcionamento. Para tal no mesmo período, continuou a desenvolver
actividades ligadas à consolidação das infra-estruturas de pagamento e reforçou o quadro
regulamentar atinente ao sistema, tendo sido aprovados os seguintes normativos:
(i)
Aviso n.º 10/GBM/2013, de 31 de Julho, referente ao Regulamento sobre os
Requisitos Mínimos para a Abertura e Movimentação das Contas de Depósito
no Banco de Moçambique, derivado da necessidade de estabelecer os
requisitos mínimos de abertura, movimentação, bloqueio e encerramento de
contas de depósito em moeda nacional e estrangeira junto do Banco de
Moçambique;
(ii)
Aviso n.º17/GBM/2013, de 31 de Dezembro, sobre o Regulamento do
Subsistema de Compensação e Liquidação Interbancária, que revoga o Aviso
n.º 09/GGBM/2005, de 22 de Agosto, elaborado pela necessidade de
conformar a Lei n.º 02/2008 de 27 de Fevereiro e os instrumentos normativos
em vigor com alguns aspectos resultantes da evolução e modernização do
sistema de pagamento, tendo estabelecido o regime do funcionamento do
subsistema de compensação e liquidação Interbancária, que trata da
compensação electrónica de instrumentos de pagamento denominados em
moeda nacional, bem assim da liquidação financeira das operações
processadas através das redes electrónicas de pagamentos e da Bolsa de
Valores de Moçambique;
(iii)
Aviso n.º 18/GBM/2013, de 31 de Dezembro, que estabelece o Número
Internacional de Conta Bancária (IBAN), usado para a identificação e
validação de contas bancárias mantidas em Moçambique para a recepção de
fundos, através de transferências internacionais; e
(iv)
Circular n.º 2/EPI/2013, de 7 de Novembro, que aprova as Especificações
Mínimas dos Terminais de Pagamento a serem adquiridos a partir de 1 de
Janeiro de 2014, prevendo-se que todos os terminais de pagamento
obedeçam as especificações mínimas, que serão periodicamente actualizadas
pelo Banco de Moçambique em função da evolução tecnológica. Apesar
destes avanços contínua não haver supervisão forte sobre os agentes que
operam os terminais de pagamento, por exemplo, existem nas zonas rurais
alguns, agentes que cobram taxas aos clientes por estarem a fazer
pagamentos através dessas terminais.
101.Como resultado das acções referidas verificaram-se os seguintes resultados:

As Reservas Internacionais Líquidas registaram um saldo de 90.121 milhões de Meticais,
equivalente a 2.861 milhões de dólares, assegurando a cobertura de 4,1 meses de
48
importação de bens e serviços não factoriais, excluindo as importações de bens e serviços
dos grandes projectos;

A Base Monetária, em 31 de Dezembro de 2014, foi de 57.286 milhões de Meticais,
equivalente a um fluxo de anual de 9.748 milhões de Meticais e um incremento de 20,5%
em relação ao ano anterior, como resultado do aumento de notas e moedas em circulação
fora do sistema bancário. É importante que o Governo, continue a criar dispositivos legais
para reduzir a quantidade da moeda em circulação fora do sistema bancário, para evitar
situações indesejáveis no futuro.

O Crédito à Economia apresenta um saldo de 186.969 milhões de Meticais, equivalente a
um fluxo anual de 35.306 milhões de Meticais e um crescimento de 24,3% em relação ao
ano 2013. Este aumento da oferta da moeda deveria ser acompanhado com a baixa do
custo do crédito, o que não se verifica. Segundo o Banco ABC em Moçambique50, o
principal factor que determina as taxas de juro é o custo de mobilização de recursos.
Quando olhamos para o crédito, falamos também do respectivo risco, isto é, que tem que
ter um prémio para compensar este risco. Portanto, são estes dois factores que
determinam as taxas de juro de crédito. Por um lado, está o custo da mobilização de
recursos, isto é, porque os recursos que são passados para os mutuários são originários
dos depositantes e este tem de se fazer reflectir no custo da taxa de juro activa.
Adicionalmente, há o risco do crédito cedido aos mutuários, neste caso, aos agentes
económicos e às famílias que pode não retornar ao banco. Por isso, este risco atrai um
prémio e este reflete-se na taxa de juro, o que faz com que mesmo com aumento da
moeda, a taxa de juro baixe, mas não de forma significativa

O gráfico 1, que se segue, mostra que o crescimento anual do endividamento do sector
privado na banca nacional em Novembro de 2014, desacelerou (6,7 pontos percentuais)
comparado com o de Novembro de 2013, ao passar de 31,0% para 24,3%. Como
resultado, o saldo do agregado ascendeu para 186.969 milhões de meticais, o que reflecte
um aumento de 11.993 milhões (6,9%) em relação a Setembro último (Banco de
Moçambique 2015).
Gráfico 1: Crédito a Economia em 2014
Fonte: Relatório BdPES(2014)
50
http://opais.sapo.mz/index.php/entrevistas/76-entrevistas/33875--maturidade-do-nosso-sistema-financeiro-ainda-deixa-adesejar.html (consultado dia 31/10/2015 as 6:48 horas)
49
102.No que concerne a criação de um Banco de Desenvolvimento, refira-se que já foi criado BNI –
Banco Nacional de Investimentos, sendo que o seu impacto continua a não ser notório no país
em termos da sua actividade no desenvolvimento do país, pelo menos no período em que se
cinge a análise deste relatório (2012-2014). Em jeito de desafio o banco deverá apostar na
disseminação dos serviços que tem a oferecer e buscar mais parcerias para realização dos
investimentos na área de desenvolvimento.
103.Contudo, existem ainda constrangimentos a serem superados, nomeadamente:

Taxas de juro sobre operações activas que são ainda muito elevadas, e estas têm se
afigurado menos sensíveis aos impulsos do Banco Central. Isto mostra, portanto, que
existem outras variáveis mais preponderantes que explicam a fixação das taxas de juro
que é preciso abordar. Por exemplo, admite-se o facto de haver exageros do lado da
banca privada quanto à dimensão real do risco, questões que o Banco Central deve
acompanhar e evitar.

Em termos de distribuição territorial, até finais de 2013, a zona Sul do país concentrava
cerca de 60% de ATM, seguida da zona Centro e Norte com cerca de 25,14% e 17,90%,
respectivamente. Relativamente aos terminais POS, a tendência manteve-se, com
predominância para a zona Sul, seguida da zona Centro e Norte (70,07%, 18,31% e
11,63%). Igualmente nota-se a ausência ou fraca supervisão dos operadores nos novos
terminais de pagamento.
C. Política Fiscal
 O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou no quadro da Política Fiscal
para que se acelere o processo de adesão à Iniciativa Internacional da Transparência das
Indústrias Extractivas (ITIE), que visa garantir que a informação sobre os custos e as
receitas providenciada pelos mega projectos esteja disponível para escrutínio e verificação
do público (i); que se reavalie o regime regulador e fiscal para os megaprojectos de modo a
encorajar e facilitar investimentos, promover as actividades de exploração e remover os
impedimentos não necessários e os fardos reguladores excessivos e indevidos (ii); que se
consolide e torne mais eficazes as estratégias económicas e industriais de modo a
direccionar o seu enfoque (iii).
104.O primeiro Relatório de Progresso do MARP (2010-2012) constatou que foram criadas
condições para uma maior transparência e prestação de contas no sector extractivo na
sequência da adesão de Moçambique à Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva
(ITIE) em 2008 e como consequência em 26 de Outubro 2012 Moçambique foi declarado país
cumpridor pelo Conselho Internacional da ITIE, com a revalidação prevista para 2017.
105.Moçambique produziu o primeiro relatório de reconciliação de pagamentos e recebimentos no
âmbito da ITIE no primeiro trimestre de 2015, orientado pelo novo padrão de transparência51.
51
O novo padrão, aprovado em Maio de 2013, exige que o relatório inclua, para além das contribuições fiscais e nãofiscais das empresas, informação contextual sobre a indústria extractiva, concretamente: o quadro legal e o regime fiscal
aplicável à exploração dos recursos, sua contribuição para a economia nacional, participação do Estado nos projectos,
alocação e registo de licenças, propriedade beneficiária das licenças/projectos, esforços visando a transparência dos
contratos, dados da produção, exportações, preços e taxas de transporte dos recursos, bem como alocações das receitas,
50
De acordo com o CIP (2015a), pese embora os avanços na disponibilização de informação,
constata-se insuficiente transparência e contribuições fiscais insignificantes das empresas,
apesar das perspectivas optimistas apresentadas pelo Governo, provando que o sector
extractivo ainda tem impacto mínimo na geração de receitas, sobretudo pelos excessivos
benefícios fiscais, assim como na geração de empregos.
106.O potencial papel da ITIE, a iniciativa de transparência da indústria extractiva é uma
oportunidade para atacar em especial os problemas relacionados com o acesso a informação
detalhada e o problema do conflito de interesse. Contudo, a ITIE em Moçambique ainda está
na fase embrionária. Por exemplo, do ponto de vista de foco temático há um grande conflito
sobre a sua abrangência. Para além de que é necessário estender a ITIE para outros sectores
para além da mineração e hidrocarbonetos, outros aspectos ao longo da cadeia dos recursos
naturais devem ser abordados.
107.No prosseguimento da reforma legislativa na área económica, foram aprovados os seguintes
dispositivos legais (Conta Geral do Estado 2014):







Lei nº 25/2014, de 23 de Setembro, que aprova a Lei de Autorização Legislativa referente
aos Projectos de Liquefação do Gás Natural das Áreas 1 e 4 da Bacia do Rovuma;
Lei n.º 27/2014, de 23 de Setembro, que estabelece o Regime Específico de Tributação e
de Benefícios Fiscais das Operações Petrolíferas;
Lei n.º 28/2014, de 23 de Setembro, que estabelece o Regime Específico de Tributação e
de Benefícios Fiscais da Actividade Mineira;
Decreto-Lei n.º 2/2014, de 02 de Dezembro, que estabelece o regime jurídico e contratual
especial aplicável ao Projecto de Gás Natural Liquefeito nas Áreas 1 e 4 da Bacia do
Rovuma;
Diploma Ministerial n.º 5/2014, de 10 de Janeiro, que aprova as Instruções Específicas
sobre o Uso do Incentivo da Taxa Incidente sobre o Gasóleo;
Diploma Ministerial n.º 50/2014, de 4 de Abril, concernente a repartição das receitas
resultantes das rendas pagas pelos Concessionários;
Diploma Ministerial n.º 209/2014, de 05 de Dezembro, que designa a Empresa Nacional
de Hidrocarbonetos (ENH) entidade que, no âmbito do pagamento em espécie do imposto
sobre a produção do petróleo, deve receber o gás entregue pelo produtor a título de
imposto sobre a produção, pago em espécie e efectuar a gestão e administração do gás
natural resultante do imposto sobre a produção do petróleo pago em espécie pelas
Concessionarias.
108.Os dados disponíveis indicam que durante o ano de 2014 a produção global de minerais teve
um crescimento na ordem dos 5.7% em relação a 2013, tendo contribuído para este
crescimento a produção do carvão, gás, ouro, tantalite e areias pesadas. Nas receitas
cobradas em 2014, foram os sectores de Exploração de Petróleo e de Exploração de
Recursos Minerais os que tiveram maior contribuição, com o equivalente a 53,0% e 21,7% da
receita total dos Megaprojectos, respectivamente. Os sectores de Produção de Energia e os
Outros Megaprojectos contribuíram com o equivalente a 19,1% e 6,2%, respectivamente. No
entanto, o Governo, deve criar dispositivos legais para assegurar que as receitas das novas
descobertas de gás e minérios comecem a entrar nos cofres do Estado (BPI, 2015).
investimentos sociais e garantias concedidas pelo Estado para efeitos de financia- mento de um projecto, entre outros
elementos (CIP. 2015).
51
109.Relativamente a consolidação das estratégias económicas e industriais, destacam-se os
seguintes resultados:

Após uma queda acentuada do indicador de clima económico na segunda metade de
2013, o indicador parece ter iniciado uma tendência de subida ao longo de 2014, ainda
que a valores inferiores ao máximo registado em Maio de 2013 (107.04 pontos). No último
trimestre de 2014, pautado pelo período de eleições presidenciais, a estabilidade registada
do clima económico, comparativamente ao 3º trimestre, foi influenciada pela quebra de
confiança nas actividades de produção industrial e construção, embora compensada pelo
aumento da confiança no sector dos transportes, alojamento e restauração e de outros
serviços não financeiros. A estabilidade no sector da construção e as perspectivas mais
positivas nos sectores do comércio e transportes foram o impulso para a melhoria da
confiança dos agentes económicos (CGE 2014).

O índice de volume de negócios ficou marcado por uma estabilidade na segunda metade
de 2014, com excepção de Outubro, mês das eleições presidenciais, em que o indicador
sofreu uma queda de 15% face ao mês anterior, impulsionado pela quebra do indicador
para o comércio (-25% m/m). No entanto, no seguimento do ano, o indicador voltou a
recuperar para os níveis anteriores a Outubro.

O índice de produção industrial (IPI), em 2014, registou valores superiores aos do ano
anterior, com taxas de variação homólogas mais significativas na segunda metade do ano.
Apesar disso, Outubro e Dezembro registaram quedas em cadeia significativas, de -16.2%
e -13.7%, respectivamente.

Moçambique melhorou a sua posição no ranking Doing Business 2015, registando
melhorias consideráveis no acesso ao crédito e resolução de processos de insolvência. Os
dados do ranking Doing Business 2015, divulgados pelo Banco Mundial, colocam
Moçambique no lugar 127 num total de 189 economias (142º lugar em 2014).
110.Apesar das melhorias até ao momento registadas, há ainda a necessidade de um trabalho
adicional, no sentido de desenvolver os sectores de actividade não relacionados com os
recursos naturais, promovendo uma economia mais diversificada e capaz de crescer a taxas
mais sustentáveis. Torna-se, assim, importante implementar novas reformas estruturais, como
a supervisão de empresas públicas ou o reforço da supervisão das autoridades bancárias,
como é proposto pelo FMI.
D. Promoção do Investimento
 O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou no âmbito da promoção do
investimento para que se formule estratégias explícitas e abrangentes para fortalecer as
PME facilitando o acesso ao crédito e providenciando infra-estruturas e formação para estas
empresas (i); aumentasse a eficiência e a eficácia do Estado na prestação de serviço ao
sector privado, ao invés de meros incentivos fiscais (ii); e que se melhore e se fortaleçam os
Balcões de Atendimento Único através da redução dos requisitos e atrasos burocráticos (ii).
52
111.No quadro da implementação da recomendação do Painel no sentido de se garantir a
formulação de estratégias explícitas e abrangentes para fortalecer as PME facilitando o
acesso ao crédito e providenciando infra-estruturas e formação para estas empresas:

Ao longo de 2014, foram aprovados 517 projectos de investimento potencial para criar
45,130 postos de trabalho, sendo 486 projectos em regime normal e 31 em regime de
Zona Económica Especial e Zona Franca Industrial, no valor global de USD 7,374.8
milhões. A análise por sectores de 2014, mostra que a área de Energia é a que absorve
maior volume de investimento aprovado no país, o que deriva da aprovação dos projectos
das Hidroeléctricas de Boroma e Lupata, ao longo da Bacia Hidrográfica do Zambeze, na
província central de Tete, que totalizam US$ 1,645 milhões.
112.Sobre a recomendação do Painel para que aumentasse a eficiência e a eficácia do Estado na
prestação de serviços ao sector privado, destaca-se:

Em Novembro de 2014, a taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência (FPC) foi
reduzida em 75 pontos base, passando para 7.5%, após esta ter sido mantida em 8.25%
durante os primeiros dez meses do ano. Esta facilidade abre abertura para a redução da
taxa de juro dos empréstimos para as empresas. Contudo e como se tem vindo a realçar
ao longo do presente relatório estas medidas do Banco de Moçambique não tem tido
reflexo nas taxas de juro.

A taxa de juro média nominal praticada pelas instituições de crédito nas suas operações
activas, para a maturidade de um ano, incrementou 69 pontos base de Novembro de 2013
a Novembro de 2014, tendo passado de 20.25% em 2013 para 20.99% 2014 o que
demonstra um incremento de 0,74 ponto percentual, enquanto que a média das
operações passivas manteve-se nos 9.13%.
113.No que se refere a necessidade de melhoria e se fortalecimento dos Balcões de Atendimento
Único, para além da sua contínua expansão a escala nacional, foi lançado no país em 2014 o
projecto do Balcão Electrónico de Atendimento Único (e-BAU), uma plataforma integrada de
prestação de serviços ao cidadão. A implantação final do Balcão Electrónico de Atendimento
Único em todo o país vai reduzir o tempo, os custos, os índices de corrupção e procedimentos
na obtenção de licenças de actividades económicas, sobretudo para as Pequenas e Médias
Empresas.
E. Posição Externa
 O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou nesta matéria para que se crie
uma estrutura de incentivos direccionados para a ligação do processo de industrialização à
base em recursos do País de modo a criar fortes ligações em ambas as direcções (i); e que
se implementem as recomendações da Cimeira dos Chefes de Estado da União Africana de
Fevereiro de 2007 segundo as quais os Governos devem fazer a dotação orçamental de
pelo menos 1.0 % do total do PIB para o sector industrial (ii).
114.A semelhança do primeiro Relatório de Progresso do MARP (2010-1012) constatou-se que,
para garantir uma estrutura de incentivos direccionados a ligação do processo de
industrialização à base, foram sendo reabilitadas intensivamente as estradas primárias; foram
sendo reabilitados os corredores de transporte e foram projectadas infra-estruturas para
53
corredores de desenvolvimento; foram alargadas as escolas técnico-profissionais; foi
aprovado o Programa Integrado de Investimento; e foram produzidos relatórios de monitoria
sobre provimento de serviços cruciais para o desenvolvimento do Sector Privado, tais como,
estradas, sistemas de comunicações, electricidade e infra-estruturas.
115.Em relação à recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP atinente a
dotação orçamental equivalente a pelo menos 1% do total do PIB para o sector industrial, o
nota-se um constrangimento de Classificadores Orçamentais que não permitem identificar a
percentagem global dirigida para o sector industrial. Contudo, apurou-se que sectores como
infraestruturas e educação contribuíam para a criação de condições para o desenvolvimento
industrial e que, dessa maneira, era lógico assumir que recursos públicos alocados a estes
sectores contribuíam indirectamente para o desenvolvimento industrial, apesar da dificuldade
das classificações orçamentais em vigor no País não permitirem identificar a percentagem
dirigida para o sector industrial. Estimar o total de recursos que vão para o desenvolvimento
industrial é complexo, mas tal complexidade resulta do tipo de classificadores orçamentais,
designadamente, de tipo económico, funcional, orgânico e territorial. A recomendação acima
requer classificadores adequados, a exemplo do programático ora em fase piloto de
implementação. Assim sendo, mantêm-se ainda para o país o desafio de fazer a avaliação na
perspectiva funcional, em que se possa também considerar o contributo indirecto dos outros
sectores.
Objectivo 2: Implementar políticas macroeconómicas sólidas, transparentes e previsíveis
A. Reforma do Sector Público
 No domínio da RSP as recomendações do Painel de Personalidades Eminentes foram no
sentido de se fortalecer as capacidades da Comissão Inter-Ministerial para a Reforma do
Sector Público e a Unidade Técnica para a Reforma do Sector Público e que alie o processo
da reforma do sector público às necessidades do País a médio e longo prazo em termos de
capacidades (i); descentralizar mais autoridade para a mobilização de recursos a nível
provincial e distrital como parte do processo de descentralização e permitindo às
comunidades locais a apropriação do seu desenvolvimento económico (ii); alargar a base
tributária, aumente a eficiência da tributação e introduza uma maior transparência e
equidade no sistema tributário (iii); analisar não apenas as questões financeiras, auditorias
internas, mas também as questões dos atrasos verificados na implementação, os custos
excessivos e o impacto dos projectos (iv); continuar a fortalecer o sistema de consulta
popular e de participação na tomada de decisões de carácter económico (v); fortalecer as
capacidades de trabalho analítico subjacentes à planificação e às decisões económicas (vi);
transitar do orçamento dos programas para uma Gestão Integrada Baseada nos Recursos
(vii); garantir que os Deputados e os Círculos Eleitorais sejam capazes de articular com os
seus respectivos círculos e que sejam informados das políticas e actividades do Governo
(viii); assegurar a eficácia e a eficiência na gestão das Finanças Públicas e reforma tributária
(ix); e assegurar uma boa planificação, orçamentação formulação e supervisão de políticas
macroeconómicas (x).
54
116. Em relação à recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP para o
fortalecimento das capacidades da Reforma do Sector Público e sua ligação com as
necessidades do país há a destacar as seguintes acções:

Realização de 203 auditorias aos órgãos e instituições do Estado, correspondentes a
79,6% das 255 planificadas, tendo as restantes 52 sido iniciadas, mas não concluídas no
período em análise;

Recuperação dos justificativos da prestação de contas no montante de 103,7 milhões de
Meticais, o correspondente a 63,5% de um total de 163,3 milhões de Meticais, que não
foram apresentados pelas entidades auditadas pelo Tribunal Administrativo, no âmbito da
Conta Geral do Estado de 2012;

Desenvolvimento de uma plataforma informática de Gestão das Recomendações das
auditorias realizadas pelo Tribunal Administrativo, no âmbito da Conta Geral do Estado,
para permitir o devido acompanhamento pela Inspecção Geral de Finanças;

Emissão de 1.730 recomendações, no âmbito das auditorias realizadas em 2014, das
quais 1.094 já foram cumpridas e o remanescente encontra-se em processo de avaliação;

Realização de um seminário com vista à divulgação do Modelo Conceptual do Subsistema
de Controlo Interno e do papel do Gestor na implementação de um sistema de controlo
interno eficaz, no qual estiveram presentes 984 participantes, sendo 93 de nível central e
871 de nível provincial, entre ordenadores de despesa, auditores internos e agentes de
controlo interno;

Formação de 21.306 disseminadores de matérias fiscais e aduaneiras, a nível nacional,
sendo 7.188 da Direcção Regional Sul, 8.442 da Direcção Regional Centro e 5.676 da
Direcção Regional Norte;

Realização de 29 acções de formação e capacitação, das quais 9 na Área Técnica
Aduaneira, 8 na Área Técnica Fiscal, 10 na Área de Administração e Gestão e 2 na Área
Tributária Autárquica, abrangendo um total de 3.790 beneficiários, entre funcionários da
Autoridade Tributária e das autarquias locais, repartidos por todas as regiões;

Capacitação dos formadores e utilizadores do Módulo de Elaboração do Orçamento, dos
órgãos e instituições do Estado de níveis central, provincial e distrital;

Divulgação dos procedimentos sobre a Administração e Execução do Orçamento do
Estado de 2014 a todos os órgãos e instituições do Estado;

Expansão do e-SISTAFE para mais 452 Unidades Gestoras Beneficiárias, sendo 7 de
nível central, 32 de nível provincial e 413 sectores de nível distrital, dos quais 9 são de
Secretarias Distritais e 404 de serviços distritais;
117.Em relação ao reforço da capacidade da Assembleia da República na fiscalização dos actos
governativos, houve progressos em 2013 e 2014. Neste domínio, continuaram as acções de
capacitação aos deputados, sendo de destacar, em 2013, a capacitação dos deputados
membros da Comissão do Plano e Orçamento em matérias da Gestão de Finanças Públicas
(GFP), Boa Governação, Combate a Corrupção e Eficácia da Ajuda Externa, uma acção
apoiada pela Associação de Parlamentares Europeus para África (AWEPA). A Assembleia da
República tem reconhecido e defendido que para garantir a efectiva participação dos
55
deputados Moçambicanos no sistema de Gestão de Finanças Públicas (GFP), urge
estabelecer uma Rede Nacional de Parlamentares de Combate a Corrupção.
118.Além das capacitações, em 2014, a Assembleia da República beneficiou de pouco mais de
um milhão de Euros disponibilizados pela União Europeia (UE), no âmbito do Projecto de
Apoio aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor Leste (ProPALOP e TL),
que se destinaram a informatização da área legislativa do Parlamento e reforço do trabalho
dos parlamentares na fiscalização da actividade do Governo. O financiamento serviu também
para impulsionar o desenvolvimento de actividades das Comissões dos Assuntos
Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade, do Plano e Orçamento e dos Assuntos
Sociais, do Género, Tecnologia e Comunicação Social e do Gabinete da Mulher Parlamentar,
bem como de algumas unidades orgânicas do Secretariado Geral da Assembleia da
República.
119.Para fortalecer as capacidades da Reforma do Sector Público e a sua ligação com as
necessidades do país, destacam-se as seguintes acções desenvolvidas:

Aprovados e publicados dados sobre processos disciplinares, promoções, progressões e
mudanças de carreira, desligamento e aposentações, situação dos cartões de trabalho,
crachás, assistência médica e medicamentosa;

Formados e capacitados funcionários e agentes do Estado e Comissões de Avaliação de
Documentos a nível nacional, no âmbito da implementação do Sistema Nacional de
Arquivos do Estado;

Implementada a carta de serviços a todos os níveis (Central, Provincial, Distrital e
Municipal). Divulgação da Lei de Sindicalização na Função Pública, aprovada pela
Assembleia da Republica em Junho de 2014;

Formados técnicos das Autarquias Locais em gestão de Recursos Humanos, Finanças
locais, Património, Ordenamento Territorial e gestão de resíduos sólidos;

Realizadas inspecções aos OLEs, Autarquias, instituições subordinadas e tuteladas pelo
Ministério da Administração Estatal e participar em outras missões inspectivas;

Realizadas acções de Educação Cívica e Jurídica do Cidadão visando a elevação da
cultura cívica e jurídica com destaque em: direitos e deveres dos cidadãos; Normas de
Funcionamento da Administração Publica, Normas de execução orçamental; educação e
sensibilização dos adolescentes e jovens; penas alternativas a prisão, corrupção, violência
e droga, entre outras matérias relevantes;

Capacitados os Operadores dos Pólos de Registo de Funcionários e Agentes do Estado;
120.Na gestão das Finanças Públicas e reforma tributária, registraram-se os seguintes avanços:

Em 2014, a arrecadação da Receita do Estado situou-se em 156.243,6 milhões de MT,
equivalentes a 29.2% do PIB, sendo 153,357.7 milhões de MT (102.3%) de Receitas
Correntes e 2,885.9 milhões de MT (90.5%) de Receitas de Capital. De uma forma global,
este nível de realização representou um aumento em 2,4 pontos percentuais em termos
do PIB e um crescimento nominal de 23.7% face a igual período de 2013.
56

O nível de arrecadação alcançado foi impulsionado pelo comportamento observado nas
Receitas Fiscais que alcançaram uma realização de 102.1% do programa anual, e um
crescimento nominal de 25.5% face ao período homólogo de 2013.

Do lado fiscal, o total de receitas arrecadadas em percentagem do PIB, incrementou de
27,5% para 29,2% entre 2013 e 2014, continuando com a tendência de redução da
dependência externa do Orçamento do Estado.

Em 2010 foi imprimido um maior controlo no pagamento de uma das maiores rubricas do
Orçamento. Foi concebida e entrou em funcionamento uma aplicação informática para o
processamento e pagamento dos salários automático dos funcionários do Estado
designado de e-folha. Em 2013 a sua implementação foi consolidada o que permitiu que
em 2014, 75% dos funcionários do Estado já estivessem a ser pagos por esta
modalidade.

No âmbito da Gestão das Finanças Públicas foi dada continuidade ao desenvolvimento da
aplicação do Módulo de Arrecadação de Receitas (e-Tributação), finalizando o
desenvolvimento das funcionalidades da Fase I do iva/ispc e Processos Comuns. Assim
foi possível implantar a realização do piloto nas Direcções de Área Fiscal (DAFs) do Bairro
do Jardim e da Manhiça, e posterior implementação do sistema nas DAFs do Xai-Xai,
Massinga, Quissico, Ponta de Ouro, Inhassoro e Xipamanine (CEDSIF, 2015).
121.No tocante à integração sectorial entre o sistema de planificação e orçamentação, entre 2013
e 2014, registaram-se desenvolvimentos positivos. Por exemplo, no Subsistema de Controlo
Interno, concluiu-se a revisão e a aprovação pelo Conselho de Ministros do Estatuto Orgânico
da Inspecção Geral de Finanças, bem como o desenvolvimento e homologação interna da
aplicação do PORTAL de Finanças Públicas, como espaço electrónico para a disponibilização
de informações pertinentes e inerentes à gestão das Finanças Públicas, o que se espera que
facilite a partilha de informação com outras instituições em matérias de gestão de Finanças
Públicas e mais.
122.Enquanto isso, na Reforma da Contabilidade Pública, foi elaborada uma proposta preliminar
das Normas e Plano de Contas baseadas nas Normas Internacionais de Contabilidade do
Sector Público (NICs-SP) que devem servir de base para a revisão da Lei do SISTAFE e do
actual Plano Básico de Contas da Contabilidade Pública.
123.Contudo, persistem desafios de promover uma devida integração sectorial entre o sistema de
planificação e orçamentação, bem como de reforçar de reforçar o feedback e prestação de
contas em espaços de consulta a todos os níveis.
124.Em relação ao fraco cumprimento das orientações do Guião dos Observatórios de
Desenvolvimento, foi aprovado, em 2013, o novo “Guião de Orientação dos Observatórios de
Desenvolvimento”, com um relançamento dos compromissos e obrigações dos actores de
desenvolvimento envolvidos, no que tange, principalmente, à observância dos prazos, de
modo a haver uma sintonia aceitável com o processo de planificação pública, mas também
para a articulação dos Observatórios a diferentes níveis para a sua realimentação. Embora a
aprovação do Guião actualizado tenha representado avanços notáveis, a sua implementação
ainda se depara com os mesmos constrangimentos anteriores, designadamente, o não
cumprimento de prazos e a falta de articulação entre os Observatórios a diferentes níveis.
125.O debate actual aponta duas razões principais que devem ser corrigidas: Primeiro, o facto de
o Guião não ter uma força legal de implementação coerciva; segundo, o facto da hospedagem
57
dos Observatórios estar ao nível no Ministério da Economia e Finanças, mas a sua liderança
ao nível das províncias estar nas mãos dos governadores, que não prestam contas ao
Ministério da Economia e Finanças, mas sim ao Ministério de Administração Estatal e Função
Pública.
B. Coordenação das Políticas
 O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que se realizasse uma
revisão abrangente do sistema de distribuição dos fundos para os vários distritos destinados
à produção de alimentos e à criação do emprego com vista a tornar este sistema mais
transparente, equitativo, eficaz e sustentável (i); e que se capacitasse os Conselhos
Consultivos na planificação de projectos, especialmente na identificação e elaboração de
projectos (ii).
126.Em relação à recomendação respeitante à distribuição de fundos, o primeiro Relatório de
Progresso (2010-2012) constatou que o Governo estava a dar primazia a descentralização
orçamental para o Distrito como pólo de desenvolvimento económico e social, em
conformidade com o quadro do PQG 2010-2014. No âmbito da capacitação dos Conselhos
Consultivos, apurou-se na altura que várias sessões de capacitação e formação iam sendo
realizadas, e que entre as quais se destacavam a capacitação de membros dos Conselhos
Consultivos na identificação e elaboração de projectos, tanto pelo Governo como por
diferentes ONGs.
127. Não obstante estes progressos importa notar que ainda prevalece uma deficiência
generalizada no fluxo de informação sobre o destino que se dá aos fundos, para não falar dos
seus resultados imediatos. Um outro problema está no reembolso, que deve ser encarado
como o principal desafio. Aparentemente a baixa taxa de reembolso dos fundos distritais está
ligada à produtividade dos projectos, e a motivação dos beneficiários para reembolsar. Muitos
dos projectos estão a passar por uma fase difícil, devido aos planos de negócio pouco claros e
a fraca gestão.
128.Portanto, o Governo tem o desafio de fazer com que o fundo seja rotativo e os beneficiários
precisam se comprometer a fazer o reembolso. Alem disso as taxas de juros precisam ser
superiores que a inflação, sob o risco de os fundos se depreciarem ao longo do tempo.
Objectivo 3: Promover uma gestão sólida das finanças públicas
A. No âmbito de Políticas

Para o presente objectivo, foram recomendações do Painel de Personalidades Eminentes
do MARP ao país para que se orientasse o processo de elaboração de planos e programas
de investimento e das PME de modo a garantir a sua conformidade com os objectivos de
industrialização do País (i); continuar a fortalecer e a consolidar a expansão da
implementação do Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE) (ii);
harmonizar e implementar as regras e medidas de programação, execução e avaliação dos
58
recursos do sector público (iii); continuar a consolidar e a melhorar as reformas introduzidas
no sistema tributário (iv); e continuar a melhorar a estrutura da administração tributária com
vista a torná-la mais eficiente (v).
129.Em 2014 houve sobre cumprimento da meta anual da execução da despesa pela Via Directa
(VD), fixada em 65,0%, tendo sido alcançado 67,83%. Contribuiu para esta execução a
expansão do e- SISTAFE, a expansão do e-Folha e o pagamento de salários pela Via
Directa (VD) (CEDSIF, 2015).
130.Deu-se continuidade a expansão do e-SISTAFE para 453 Unidades Gestoras
Beneficiárias (UGBs) no ano 2014, sendo 7 de nível central, 32 de nível provincial e 414
sectores de Nível Distrital, (dos quais 10 são de Secretarias Distritais e 404 de serviços
distritais);
131.Prosseguiu-se com a expansão do pagamento de salários e remunerações através da Via
Directa, tendo sido pagos em Dezembro do ano em análise 247.117 Funcionários e Agentes
do Estado (FAE) na situação de activo no e-CAF e e-CAPAE, o que corresponde a 84,58% de
um total de 292.243 neles registados. Dos FAE pagos pela VD, 218.812 tiveram os seus
salários processados e pagos através do e-FOLHA, o que corresponde a 75,0% do total dos
FAE;
132.Houve também a constituição do arquivo electrónico de processos de pensionistas, tendo sido
digitalizados 32.636 processos, bem como implementação do Módulo do Património do
Estado, através da concepção das aplicações informáticas do Catálogo de Bens e Serviços e
Cadastro de Fornecedores, integradas no e-SISTAFE.
B. Monitoria e Prestação de Contas sobre as Receitas e Despesas
 O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que se desenvolva e se
implemente subsistemas que facultem informação atempada e credível sobre os
orçamentos e o património dos órgãos e instituições do Estado (i); e se envide mais
esforços com o objectivo de garantir que os relatórios financeiros do Governo sejam
acessíveis ao público em geral, especialmente aos que se encontram nas zonas rurais (ii).
133. No que concerne a disponibilização de informação atempada e credível sobre os orçamentos
e o património dos órgãos e instituições do Estado há que realçar a criação de páginas
eletrônicas dos Ministérios com informação, por exemplo, relativa a execução do Orçamento
do Estado. Todavia, um desafio a considerar seria que no processo de execução do
Orçamento do Estado sejam visualizados os níveis de execução em comparação com os
orçamentos inicialmente propostos.
134.Para garantir que os relatórios financeiros do Governo sejam acessíveis ao público em geral,
especialmente aos que se encontram nas zonas rurais, o Ministério da Economia e Finanças
lançou a iniciativa de simplificação do orçamento e disponibilização em pequenas brochuras
na forma de Orçamento Cidadão. Para, além disso, o mesmo Ministério publica
atempadamente relatórios sobre a execução do Orçamento do Estado, tendo em vista permitir
o acompanhamento da utilização dos fundos públicos pelos cidadãos.
59
135.A nível da gestão das finanças públicas:

A cobrança das Receitas não Fiscais (incluindo receitas consignadas) teve uma
realização de 91.9% face ao programado, um crescimento nominal de 17.7% em
relação a 2013, tendo as receitas próprias alcançado um nível de realização de
157.9%, resultante do aumento do nível de entregas e recitação dos valores cobrados
pelas Instituições do Estado aos níveis central e provincial.

As Receitas de Capital registaram um nível de realização de 90.54% e um
decrescimento nominal de 20.4%, quando comparado com 2013.

Segundo a Autoridade Tributaria de Moçambique, no que tange aos contribuintes, até
ao dia 29 de Dezembro, o número total de contribuintes cadastrados atingiu a casa
dos 3.250.330, contra 2.628.968 contribuintes alcançados em 31 de Dezembro de
2013. Em termos anuais, para uma meta de 600.000 NUITS, foram atribuídos a escala
nacional, um total de 623.304. Em termos de cadastro anual, ultrapassou-se até o dia
29 de Dezembro, os 3.8% a meta estabelecida. O cadastro Global acumulado até a
mesma data ultrapassou em aproximadamente a 0.70%, a previsão acumulada (que
inclui a meta de 2014).

Estão a ser construídas novas infra-estruturas para melhorar as condições de
funcionamento e conferir maior comodidade aos contribuintes no cumprimento das
obrigações fiscais (1º Bairro Fiscal da Beira, Posto Fiscal e de Cobrança da
Autoridade Tributária de Moçambique em Boane, instalações da Delegação da AT da
Cidade de Maputo, etc.)

Em Dezembro de 2014, realizou-se o curso, na Cidade de Maputo, de formação de
cerca de 50 mulheres, membros da Organização da Mulher Moçambicana (OMM), e
um grupo de cerca de 15 mulheres jovens pertencentes à Associação Jovens com
Visão do Futuro (AJVF), como disseminadoras em matérias fiscais e aduaneiras.
C. Fiscalização das Operações Fiscais do Governo

Foi recomendado pelo Painel de Personalidades Eminentes do MARP para que se
fortaleçam as capacidades do Parlamento em termos de fiscalização das finanças públicas
(i); e se garanta uma acção vigorosa de seguimento dos relatórios das unidades de
auditoria interna e externa e dos relatórios do Tribunal Administrativo e do Parlamento
sobre a gestão das finanças públicas (ii).
136.Em relação à recomendação do Painel para a fiscalização das finanças públicas pelo
Parlamento, constata-se que continuam as visitas de fiscalização sectorial pelas Comissões
da Assembléia da República e a respectiva elaboração de relatórios de recomendações; as
comunicações elaboradas pelas Assembléias Provinciais à Comissão do Plano e Orçamento
da Assembléia da República sobre a fiscalização da execução do Plano e do Orçamento do
Estado ao nível da província; bem como as resoluções da Assembléia da República sobre a
Conta Geral do Estado.
137.Quanto à recomendação para que se exerça uma acção vigorosa de seguimento dos
relatórios das unidades de auditoria interna e externa e dos relatórios do Tribunal
60
Administrativo e do Parlamento sobre a gestão das finanças públicas, observa-se que na
Inspecção Geral de Finanças (IGF) foi desenvolvido um sistema de gestão e
acompanhamento das recomendações de auditorias realizadas pela IGF e do Relatório e
Parecer do Tribunal Administrativo à CGE. Através do Fórum de Monitoria de Orçamento
(FMO) - uma plataforma das Organizações da Sociedade Civil focalizada na área de Gestão
de Finanças Públicas, foi reforçado o trabalho da fiscalização do Parlamento através da
Comissão do Plano e Orçamento (CPO) no que respeita as finanças públicas. A Sociedade
Civil emite anualmente as suas contribuições nesta matéria junto a esta Comissão.
138.Igualmente foi desenvolvida uma plataforma informática de Gestão das Recomendações das
auditorias realizadas pelo Tribunal Administrativo, no âmbito da Conta Geral do Estado, para
permitir o devido acompanhamento pela Inspecção Geral de Finanças;
D. Descentralização Fiscal

A principal recomendação do Painel de Personalidades Eminentes neste domínio foi no
sentido de se acelerar o processo de descentralização fiscal de modo a que as
comunidades locais se possam apropriar do seu desenvolvimento económico.
139.No âmbito da descentralização fiscal foi introduzida em 2005 a Iniciativa de alocar 7 milhões
de MT a cada distrito, tomando o distrito como Polo do desenvolvimento. Mais tarde foi
disponibilizado outro fundo identificado como Orçamento de Investimento de Iniciativa Local
(OIIL) e desde 2009 através do decreto nº 90/2009 como Fundo de Desenvolvimento Distrital
(FDD),disponibilizado para os 128 distritos. Através da iniciativa dos 7 milhões foram
financiados entre 2010 e 2013 a nível nacional, mais de 50 mil projectos, orientados para a
produção de comida e geração de rendimento, proporcionando a criação de mais de 188.828
empregos em todo o País (Balanço Plano Quinquenal, 2015).
140. Em relação ao progresso na extensão do SISTAFE, entre 2013 e 2014, houve importantes
progressos a registar, como por exemplo:

A continuidade da estruturação e operacionalização do funcionamento do CEDSIF, através da
aprovação do seu Regulamento Interno e criação de delegações em 8 Províncias com vista a
dar apoio mais atempado aos utilizadores do SISTAFE;

A promoção de acções de formação e reciclagem de técnicos do sector público em matérias
ligadas ao e-SISTAFE;

A expansão do e-SISTAFE para mais Unidades Gestoras Beneficiárias (UGB’s) aos níveis
central, provincial e distrital;

O alargamento da abrangência do e-Folha para mais Instituições.
Objectivo 4: Combater à Corrupção e o Branqueamento de Capitais

Para o presente objectivo foram recomendações do Painel de Personalidades Eminentes
do MARP para que se providenciem recursos humanos e financeiros suficientes às
61
instituições estabelecidas para o combate à corrupção, incluindo o fortalecimento do
GCCC (i); instituir um processo aberto na nomeação e nos mecanismos de nomeação do
Director do GCCC de modo a garantir consenso em relação a um candidato (ii); concluir e
divulgar as sentenças referentes a todos os grandes casos de corrupção pendentes no
tribunal e os que não tenham sido devidamente instruídos (iii); implementar e aplicar
mecanismos adequados e eficientes de protecção de testemunhas (iv); estabelecer um
mecanismo de responsabilização fora do Governo, como por exemplo, uma comissão
parlamentar de selecção em que estejam representados todos os maiores partidos
políticos para nomear e garantir que o PGR seja uma pessoa independente e com um
certo grau de integridade que será devidamente protegida enquanto estiver no exercício
das suas funções (v); realizar um estudo detalhado sobre o branqueamento de capitais no
País com vista à formulação de uma política e à criação de um mecanismo para resolução
do problema (vi); e desencadear uma campanha nacional continuada de sensibilização
sobre a corrupção e disseminação de Leis anti-corrupção a todos cidadãos (vii).
141.No que concerne ao domínio de combate a Corrupção e matérias correlacionadas foi
aprovado o Código Penal pela Assembléia e promulgado pelo Presidente da República no ano
2013. Foram também organizados diferentes cursos de formação para os quadros técnicos
das instituições sujeitas ao dever de comunicação e das entidades responsáveis pela
aplicação da Lei.
142.Sobre a recomendação do Painel atinente ao reforço de recursos humanos e financeiros das
instituições para combate à corrupção, foram realizadas as seguintes acções:

Concluída em 2011 com sucesso a implementação da Estratégia Global da Reforma do
Sector Público que resultou na melhoria geral da prestação de serviços ao nível da
Administração Pública, tendo sido aprovada a Estratégia da Reforma e Desenvolvimento
da Administração Pública 2012-2025 (ERDAP) e a respectiva Abordagem de Combate á
Corrupção como instrumento de continuidade das acções de reforma.

No quadro da promoção da ética, disciplina e integridade na Administração Pública,
e implementação da Lei de Probidade Pública, foram criadas nas instituições públicas a
nível nacional as Comissões de Ética e aprovados os planos sectoriais de combate a
corrupção. Estas comissões têm como objectivo assegurar a moralidade, transparência,
imparcialidade e respeito na gestão do património do Estado . De notar que a lei da
Probidade Pública visa acabar com situações de conflito de interesse e prevê o
alargamento da obrigatoriedade da declaração dos bens dos dirigentes do Aparelho do
Estado de Moçambique. A nova lei aplica-se a membros do Governo, da Assembleia da
República, Juízes, Procuradores, a todos os níveis, funcionários públicos, membros dos
Governos provinciais, distritais e ainda dos municípios. Uma lei que pretende defender os
interesses da maioria da população face aos abusos de uma minoria e elevar a
transparência entre os servidores públicos, permitindo a consulta pelo público das
declarações de bens dos servidores públicos, alterando assim o anterior regime, em que
esses documentos eram apenas do conhecimento das instituições judiciais.

Capacitados os Observatórios de Desenvolvimento e os Conselhos Consultivos Distritais
com vista ao fortalecimento da participação da sociedade civil na monitoria da acção do
Governo no combate á corrupção;

Aprovados e divulgados os resultados da segunda pesquisa sobre governação e
62
corrupção que demonstram o impacto das acções do Governo no combate á corrupção;

Criada a Carreira de Inspecção Administrativa do Estado e aprovados os respectivos
qualificadores profissionais, tendo sido actualizado o Manual de Procedimento da
Actividade de Fiscalização e Inspecção Administrativa do Estado e o Guião do inspector;

Realizadas acções inspectivas através da Inspecção Geral de Finanças;

Realizadas acções de formação tendo como grupo alvo as unidades de cobrança da
Autoridade Tributária e Instituições do Estado, a nível central, provincial e distrital que
arrecadam Receitas Próprias e Consignadas;

Implementado o Módulo do Património do Estado, através da concepção das aplicações
informáticas do Catálogo de Bens e Serviços e Cadastro de Empreiteiros e
Fornecedores, integradas no e-SISTAFE.
143.No âmbito do Reforço da Capacidade da Inspecção Geral Administrativa do Estado, foi
desenvolvida e implementada a Estratégia da Actividade de Fiscalização e Inspecção
Administrativa do Estado, tendo sido capacitados 1.650 inspectores a nível nacional e
realizadas 211 inspecções sendo: 45 nos Órgãos Centrais, 164 nos órgãos locais e 02 nas
representações Diplomáticas. Aprovado o Regulamento da Actividade de Fiscalização e
Inspecção Administrativa do Estado (Balanço Plano Quinquenal, 2015).
Objectivo 5: Acelerar a integração regional através da participação na harmonização de
políticas monetárias, comerciais e de investimento

Neste domínio foram recomendações do Painel de Personalidades Eminentes: facilitar o
comércio, particularmente para os pequenos operadores do comércio externo, através de
mais acções de educação e de disseminação de informação sobre os regulamentos de
importação e exportação (i); criar condições nos postos fronteiriços e simplificar as
medidas onerosas de conformidade para facilitar a interacção com os outros Países (ii);
articular com os Governos parceiros para aperfeiçoar os seus requisitos de importação e
exportação de modo a que estejam adequadas às necessidades dos pequenos
operadores do comércio externo (iii); introduzir rapidamente o posto único de travessia
fronteiriça para garantir que os benefícios que resultem do comércio regional mais livre
fluam para o País (iv); implementar uma estratégia do turismo coerente, especialmente em
relação ao Campeonato Mundial da FIFA 2010 na África do Sul (v); divulgar os resultados
a nível nacional, através de reuniões públicas e seminários (vi); definir e reforçar as
estratégias para reduzir o custo de fazer negócios (vii); e promover a integração regional
(viii).
144.No âmbito da integração regional, entre 2013 e 2014, o país continuou empenhado no
desenvolvimento de infra-estruturas e melhoria do ambiente de negócio. O Ministério dos
Negócios Estrangeiros e Cooperação (2014) refere que a transformação dos corredores em
efectivos corredores de desenvolvimento e, no âmbito disso, o desenvolvimento de infraestruturas nacionais e a melhoria da qualidade de serviço prestados ao longo de estradas, nos
63
portos e o ambiente de negócios de um modo geral são cruciais para que o país promova e
tire vantagens da integração regional.
145.Assim, no domínio da integração regional, para além das medidas tomadas no âmbito do
comércio externo tendentes a acelerar a criação de um mercado regional livre, Moçambique
continuou a envidar esforços para o fortalecimento dos corredores de desenvolvimento, como
um veículo de integração regional. Neste contexto, o país organizou uma conferência
internacional de alto nível sobre o desenvolvimento de infra-estruturas na região, tendente a
mobilizar 64 milhões de dólares num espaço de tempo de cinco anos para projectos de
desenvolvimento de infra-estruturas na região. Avançou-se também com a supressão de taxas
e revisão de tarifas, no âmbito do protocolo de serviços da SADC. Contudo, segundo o
Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (2014), tudo o que está a ser feito requer
financiamento, para além de que a perda de receitas pela eliminação de taxas e direitos deve
encontrar uma compensação; as questões financeiras têm sido um dos maiores entraves.
146.Após a análise de cada um dos pontos que constituem este pilar apresenta-se de seguida e
de forma resumida os constrangimentos e desafios emergentes, que devem ser monitorados
para o reforço das realizações constatadas e para evitar que os mesmos passem a obstruir ou
reduzir os impactos dos progressos que o país vai conseguindo em diferentes frentes da
Governação e Gestão Económica, nomeadamente:
a) Necessidade de uma transformação estrutural da economia que leve a um
crescimento sustentado através da geração de emprego e renda. Portanto, urge
diversificar a estrutura económica, que passa necessariamente pelo
desenvolvimento de sectores diversos nos quais o país é potencial como por
exemplo a agricultura.
b) Baixo acesso ao financiamento bancário, que continua a ser limitado, bem como o
custo do crédito sobretudo para as Pequenas e Médias Empresas (PMEs);
c) O desenvolvimento e melhor integração das PMEs e a agricultura de pequena
escala são cruciais para o crescimento inclusivo. Porém estes ainda encontram
barreiras resultantes do limitado ambiente legal e administrativo, escassez de
mão-de-obra qualificada, deficiente acesso aos serviços financeiros e falta de
infra-estruturas adequadas, sobretudo nas zonas rurais. Assim, persiste o desafio
de assegurar que o crescimento e a transformação económica de Moçambique
sejam virados para actividades com mão-de-obra intensiva e que possam criar
condições para que os homens e as mulheres pobres tirem mais benefício do
crescimento elevado da economia Moçambicana;
d) Alargamento da base tributaria e a alteração da estrutura de exportações;
e) A avaliação na perspectiva funcional, em que se deva também considerar o
contributo indirecto dos outros sectores;
f) Redução do desfasamento entre as taxas do Banco Central e as taxas dos
Bancos comerciais como problemas estruturais, dado que os níveis da taxas de
juro são considerados elevados por parte das famílias, empresas ou singulares
que procuram o crédito bancário O Banco de Moçambique deve criar políticas ou
medidas que terão impacto directo na redução das taxas de juros aplicadas pelos
64
bancos comercias, dado que a redução das taxas directoras não estar a ser uma
política com um grande impacto nas taxas de juros;
g) Expansão de vias de acesso dos serviços financeiros continua um grande desafio
para os Bancos comerciais, dado que se deparam de problemas de vias de
acesso, energia, o que de certa forma influencia na decisão das instituições
financeiras. O Governo tem como desafio a construção de infra-estruturas, vias de
acesso, e a expansão da rede elétrica nos pólos de desenvolvimento.
h) Acompanhamento persistente dos níveis da dívida, interna e externa, para evitar
que os seus níveis se tornem insustentáveis.
65
CAPÍTULO III
GOVERNAÇÃO CORPORATIVA
O presente capítulo aborda questões relacionadas a área temática de Governação Corporativa. Este
domínio é tido como um conjunto de processos, costumes, políticas, instituições e toda a
regulamentação que condicionam a gestão empresarial. O conceito inclui as relações que se
estabelecem entre os diversos actores (os stakeholders) envolvidos (accionistas, os administradores e
o Conselho de Administração, funcionários, fornecedores, credores, Estado) e os objetivos pelos quais
a empresa se orienta.
O conceito assenta no pressuposto de que os gestores das empresas devem geri-las de forma
económica, eficiente, transparente e responsável para que os accionistas, seus proprietários, tenham o
valor da sua empresa e dos seus investimentos maximizado e tenham o domínio das transacções
realizadas. Esta ideia está subjacente na formulação do Código de Conduta ou de Governação
Corporativa de Moçambique (IoD, 2011) que enfatiza o papel dos sócios, do conselho de
administração, do conselho fiscal, do comité de auditoria, da auditoria interna, da auditoria externa,
dentre outros elementos importantes como a gestão do risco, comunicação e sustentabilidade.
Ora, o sector privado moçambicano é esmagadoramente composto por micro, pequenas e médias
empresas (98.7% do numero total – IPEM, 2015) que, como se sabe, possuem número de
trabalhadores que varia entre mínimo de 4 (para as micro empresas) e máximo de 100 (para as
médias empresas)52 e quase todas geridas pelos respectivos proprietários. Segundo um estudo do
SPEED (2015), as PME nacionais são em grande medida caracterizadas por mão-de-obra de baixa
qualificação, gestão financeira ineficiente, limitada de capacidade de planeamento e visão estratégica
operando num contexto de infra-estruturas públicas pouco satisfatórias, corrupção e complexidade dos
processos públicos.
Nestas circunstâncias, parece contra-senso esperar que pequenas, micros e médias empresas
possuam órgãos sociais como conselhos de administração, fiscais, etc, sendo esta uma característica
de grandes empresas. Isto sugere a priori que é necessário pensar-se numa outra forma de estruturar
o ordenamento da governação corporativa para o empresariado moçambicano.
Na primeira avaliação de progresso do País no âmbito do MARP atinente ao período de 2010 `a 2012
o domínio da Governação Corporativa foi o considerado como o que encerrava mais desafios por ser
novo e incipiente em termos de difusão e implementação. Os avanços até então conseguidos neste
domínio referiam-se (i) à criação do Código de Governação Corporativa; (ii) ao melhoramento do
quadro legal da actividade seguradora; e (iii) à aprovação de normas de facilitação da prática das
actividades económicas, com realce para Lei da Concorrência; Lei da Defesa do Consumidor; Lei da
Insolvência e Lei do Mecenato. Entretanto, a implementação do Código de Governação Corporativa
52
Classificação de empresas: (i) Micro empresa aquela com menos de 4 trabalhadores ou com um volume de nego cio
anual inferior a 1.2 milhoes de meticais; (ii) Pequena empresa com o numero de trabalhadores compreendido entre 5 e 49 e
volume de negocios entre 1.2 e 14.7 milhoes de meticais; (iii) Media empresa com o numero de trabalhadores
compreendido entre 50 e 100 e o volume de negocios superior a 14.7 e inferior a 29.97 milhoes de meticais; e (iv) Grande
empresa - Empresa com o numero de trabalhadores superior a 100 e volume e nego cios superior a 29.97 milhoes de
meticais.
66
carecia de definição de uma estratégia para a sua operacionalização e o ambiente de negócio, medido
pelo Doing Business, demonstrava deterioração, passando da posição 132º em 2010 para 139º em
2012.
No período que mediou a primeira avaliação de progresso e esta (2013 `a 2014), o país continuou com
(i) o melhoramento do quadro regulador da actividade seguradora com a produção de normas
regulamentares e fiscalização; (ii) a regulamentação do mercado de capitais, com destaque para
definição do regime jurídico e regulamentação da colocação, subscrição, emissão e negociação das
Obrigações de Tesouro, bem assim da obrigatoriedade de as empresas de petróleo e gás estarem
inscritas na BVM; (iii) a regulamentação da expansão e modernização dos serviços financeiros através
do Decreto n.º 30/2014, de 5 de Junho, que estabelece as condições legais que permitem ao Banco de
Moçambique promover continuamente o desenvolvimento de um sector financeiro inclusivo,
nomeadamente através da expansão do acesso aos serviços financeiros a todo o território nacional, da
optimização da infra-estrutura de pagamentos através da ligação à Rede Única, Comum e Partilhada
de Pagamentos Electrónicos, de âmbito nacional, bem assim o alinhamento com as boas práticas no
âmbito da actividade de recirculação de numerário.
Depois da derrapagem no ranking do Doing Business no período de 2010 à 2012, as condições do
ambiente de negócio no país continuaram a deteriorar-se tendo atingido em 2013 a sua pior posição
desde que participa do ranking (146º lugar). Em 2015, o país conseguiu recuperar 15 pontos,
passando para a posição 127º mercê de avanços significativos na melhoria da regulamentação sobre
insolvência, simplificação dos procedimentos de registo de propriedade e de acesso ao crédito, entre
outros. Outro avanço digno de menção foi a aprovação da Política de Responsabilidade Social no
sector Mineiro em 2014, instrumento do qual se espera que haja harmonização, coordenação e
integração das actividades das empresas neste âmbito ao nível local (provincial e distrital) evitando
descoordenação e actuação em acções de responsabilidades social de forma ad hoc até então
verificadas.
A avaliação de progressos nesta área temática percorre os cinco objectivos atinentes,
designadamente:
1. Promover um ambiente favorável e um quadro regulador eficaz para actividades económicas;
2. Assegurar que as corporações actuem como bons cidadãos corporativos quanto aos Direitos
Humanos, responsabilidade civil e sustentabilidade ambiental;
3. Promover a adopção de normas de boa ética comercial na prossecução dos objectivos da
corporação;
4. Assegurar que as corporações tratem com justiça todos interessados nela, incluindo
accionistas, empregados, comunidade e fornecedores; e
5. Assegurar a responsabilização das corporações, directores e funcionários.
Princípios, Padrões e Normas
 O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou que Moçambique nomeie um
Regulador Nacional de Governação Corporativa que possa supervisionar o desenvolvimento do
mercado de capitais.
147.Tal como constatado na primeira avaliação, regulação e supervisão do mercado de capitais
67
continuam da responsabilidade exclusiva do Banco de Moçambique. A evolução do mercado é
ainda lenta. Quinze anos depois da criação da Bolsa de Valores apenas 17 empresas estão
cotadas, um número abaixo da média da região da SADC actualmente de 25 empresas.
Entretanto, avaliações das empresas normalmente feitas em Moçambique indicam que, do
ponto de vista de capital mínimo, muito mais que 17 empresas estão em condições de serem
cotadas no mercado de capitais, número que varia entre 88 e 95, no caso das 100 maiores
empresas (KPMG, 2012) e de 23 empresas, no caso das 100 melhores PMEs (BCI, 2014).
148.Este subaproveitamento do potencial existente é explicado pela (i) limitada disponibilidade de
informação financeira; (ii) ausência de intermediários independentes da Bolsa e conflito de
interesses; (iii) fraca adesão de empresas aos produtos do mercado de capitais por receios de
vária ordem (exposição das suas contas a maior escrutínio público, abertura do seu capital a
outros accionistas) e ao desconhecimento das vantagens deste mercado; e (iv) fraca
disseminação/divulgação da informação, mesmo ao nível dos bancos comerciais que tendo a
missão de actuar como intermediários da bolsa deveriam estar melhor preparados para
transmitirem aos seus clientes (Banco de Moçambique, 2015).
149.A criação de uma entidade nacional independente recomendada pelo Painel de
Personalidades Eminentes do MARP é também do interesse e recomendado pelo Banco de
Moçambique (2015) que entende que as funções de supervisão actualmente estão dispersas
entre o próprio Banco de Moçambique e o Ministério de Economia e Finanças. Aliás, o Banco
de Moçambique é extensivo nas recomendações nos âmbitos legal e institucional e de
dinamização das transacções de valores mobiliários para tornar o mercado de capitais mais
profundo e contributivo na economia nacional.53
150.Apesar destes constrangimentos, ao nível regulamentar há alguns avanços. Foram criados os
seguintes dispositivos legais: (i) Decreto nº 5/2013, de 22 de Março, que estabelece o regime
jurídico das Obrigações de Tesouro; (ii) Lei nº 21/2014, de 18 de Agosto (Lei de Petróleos),
que estabelece a obrigatoriedade das empresas de petróleo e gás estarem inscritas na BVM;
(iii) Diploma Ministerial nº 90/2013, de 10 de Julho, que regulamenta os aspectos técnicos
relativos à colocação, subscrição, emissão e negociação das Obrigações de Tesouro; (iv)
Regulamento nº 1/GPCABVM/2013, de 27 de Março, que estabelece os montantes mínimos
para a admissão na cotação; e o Decreto n.º 30/2014, de 5 de Junho, que estabelece as
condições legais que permitem ao Banco de Moçambique promover continuamente o
desenvolvimento de um sector financeiro inclusivo, nomeadamente através da expansão do
acesso aos serviços financeiros a todo o território nacional, da optimização da infra-estrutura
de pagamentos através da ligação à Rede Única, Comum e Partilhada de Pagamentos
Electrónicos, de âmbito nacional, bem assim o alinhamento com as boas práticas no âmbito
da actividade de recirculação de numerário.
53
Incentivar o surgimento de operadores independentes de bolsa que não sejam os bancos; Completar o quadro normativo
visando a operacionalidade dos Fundos de Investimento; Criar incentivos necessários para a existência de fundos e
sociedades de capital de risco; Aprimorar os mecanismos para a protecção dos acionistas e pequenos investidores; Criar
Condições regulamentares para que as Agências de Notação Financeira possam desempenhar o seu papel a nível micro;
Obrigatoriedade de cotação em bolsa das instituições que operam em áreas sensíveis da economia, nomeadamente,
bancos e algumas sociedades financeiras e empresas de exploração mineira; Emissão Regular de Obrigações do Tesouro
com maturidades longas independentemente das necessidades para o financiamento do défice; Estabelecimento de
normas que obriguem as empresas a auditarem e publicarem as suas contas; Implementação de um programa de
Educação Financeira de âmbito nacional; Publicitação dos vários tipos de títulos e opções de financiamento existentes na
BVM; Disseminação regular do calendário de emissões de Obrigações do Tesouro; e a médio prazo, construir e divulgar no
fecho de cada sessão, o índice do mercado bolsista de Maputo.
68
151.Portanto, a ausência de um Regulador Nacional de Governação Corporativa independente é o
verdadeiro desafio para, de forma mais focada e orientada, se liderar a produção de um
sistema de relatórios regulares sobre actividades de regulamentação, políticas, estratégias e
planos de acção para implementar os princípios fundamentais da supervisão e promover o
desenvolvimento do mercado de capitais no País.
152.O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou ainda que Moçambique defina
um modelo apropriado de Governação Corporativa através da adopção de um Código
Nacional de Governação Corporativa. Sobre esta matéria importa notar que o Código de
Governação Corporativa elaborado pelo Instituto de Directores de Moçambique (IoD) e o
Código de Ética para o Sector empresarial estão em disseminação através do seu sítio de
internet e promoção de debates sobre temas como (i) Construindo o Sistema Nacional de
Integridade; (ii) Pacto de Integridade Empresarial contra a Corrupção; (iii) Responsabilidade
Social Empresarial; (iv) Conflito de Interesses; (v) Boa Governação e Desenvolvimento, para
citar alguns exemplos. A disseminação do Código da Ética do sector Empresarial já resultou
na aderência das seguintes empresas: BCI, SA; British American Tobbaco; Catucha Trading;
Cowi Moçambique; Deloitte; GC Trading, Lda; MozaBanco; Standard Bank; Stema e Banco
Único (www.iodmz.com).
153.No que diz respeito a recomendação do Painel Personalidades Eminentes do MARP no
sentido do país aumentar as capacidades e padrões de implementação de códigos e políticas,
é preciso notar que continua-se a não se observar progressos dignos de realce. É sabido que
a capacidade de implementação de Códigos de Governação Corporativa por parte das
empresas passa necessariamente por uma operacionalização dos códigos de tal forma que os
agentes económicos estejam claros sobre a sua composição e o que se espera que cada
agente económico/empresa faça, sobretudo no que respeita ao modelo de reporte, seja ele
financeiro ou não financeiro. Infelizmente até ao momento não se identificam evidências
materialmente convincentes de aumento de capacidades e padrões de implementação de
códigos e políticas.
154.Sobre a necessidade de o país aumentar a advocacia e o reconhecimento público de padrões
profissionais através da criação de centros de educação cívica a nível provincial para lidar
com a necessidade de informar e educar o público mantêm-se progressos moderados,
sobretudo ao nível de espaço público da mídia (TV, Rádio e Jornal). Efectivamente, os
debates na mídia sobre a temática da governação corporativa ganham nos últimos momentos
certa relevância (ex. MOZEFO). As Universidades por seu turno aprimoram cada vez mais os
seus curricula na tentativa de alinhar os programas educativos à demanda de mercado.
155.A Ordem dos Contabilistas e Auditores de Moçambique desenvolveu um programa de
formação cuja implementação resultou na formação de 11 formadores distribuídos pelas três
macro-regiões do País (Norte, Centro e Sul) e de 1.253 membros em matérias de Ética,
Contabilidade Financeira e Fiscalidade. Porém, os espaços de debates continuam confinados
aos grandes centros urbanos, prevalecendo, assim o desafio de criação de mais centros de
educação cívica dos agentes económicos e da sociedade civil sobre aspectos de Governação
Corporativa ao nível provincial e distrital.
156.No que concerne a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP para
que Moçambique dê consideração urgente à futura Lei de Mercado de Capitais, de preferência
com um regulador separado para desenvolver, regular e assegurar a eficiência e eficácia do
mercado de títulos no País, importa reiterar que o Banco de Moçambique continua a acumular
69
as funções de regulador e supervisor do Mercado de Capitais. Ao nível legislativo, no período
de 2013 a 2014, conforme anteriormente mencionado foram aprovados a Lei nº 21/2014, de
18 de Agosto (Lei de Petróleos) que estabelece a obrigatoriedade das empresas de petróleo e
gás estarem inscritas na BVM; o Decreto nº 5/2013, de 22 de Março que estabelece o regime
jurídico das Obrigações de Tesouro e o Diploma Ministerial nº 90/2013, de 10 de Julho que
regulamenta os aspectos teóricos relativos à colocação, subscrição, emissão e negociação
das Obrigações do Tesouro.
157.O mercado de capitais continua sem registar avanços dignos de menção. Ele continua sendo
pequeno e dominado pelas Obrigações de Tesouro que representam, em termos médios,
cerca de 68,8% do total das obrigações desde a criação deste mercado, seguidos das
obrigações corporativas com 27,2% e do papel comercial com 4,0%. No período de 2013 a
2014, o número de empresas cotadas aumentou em três, sendo duas empresas e um banco
comercial. Assim, o número passou de 14 empresas em 2012 para 17 em 2014. Portanto,
158.Em termos de exigências à aplicação do Código de Governação Corporativa às empresas
cotadas na bolsa, ainda não se nota o envolvimento do regulador a fazer qualquer tipo de
recomendação, exigência ou iniciativa que possa induzir essas empresas à sua
implementação. Entretanto, foi um avanço importante a eleição do tema “O Papel do Mercado
de Capitais na Dinamização da economia Nacional” para o XXXIX Conselho Consultivo do
Banco de Moçambique em Janeiro de 2015. O documento base de discussão deixou
recomendações para o Governo cuja implementação poderá dinamizar o mercado de capitais
e garantir o cumprimento desta recomendação.
159.Foi criada uma Central de Valores Mobiliários e está em funcionamento. No âmbito
regulamentar foram aprovadas Normas Operacionais e Procedimentos da Central de Valores
e feita prospecção de Sistemas de Negociação usados pelas outras Bolsas de Valores do
mundo com objectivo de adquirir e implementar um novo Sistema de Negociação de Valores
Mobiliários (BdPES 2014).
160.Quanto à divulgação do Mercado de Capitais, o país está a avançar consideravelmente,
sendo notória a veiculação de informações através de órgãos de comunicação social, com
relevo para a TV e jornais escritos. Para além da publicitação através destes meios, durante o
período de 2013-2014 o País (i) aprovou o Programa de Educação Financeira destinado a
todos os intervenientes do Mercado de Capitais; (ii) publicou e distribuiu o Relatório de
Desempenho do Mercado; (iii) criou operadores especializados em Obrigações de Tesouro; e
(iv) realizou campanhas de divulgação que alcançou 4.500 pessoas e 80 empresas (BsPES
2013), colocando o país a 90% e 80% das metas estabelecidas pelo PES 2013,
respectivamente (BdPES 2013 e 2014).
161.Quanto a separação da Bolsa de Valores do aparente controlo directo do Ministério das
Finanças para que possa ser verdadeiramente independente, nenhum progresso foi
identificado, pois os administradores da BVM são ainda nomeados pelo Ministro da Economia
e Finanças.
162.No que tange a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP para que
Moçambique providencie assistência técnica a Inspeção de Seguros de modo a fortalecer o
cumprimento das IFRS54 vale notar que registam-se progressos do ponto de vista de produção
54
International Financial Report Standards (Normas Internacionais de Relato Financeiro)
70
de instrumentos regulamentares e actividades de supervisão. No período em análise foram
supervisionadas 28 empresas, sendo 6 seguradoras e 22 correctoras. Foram elaborados e
aprovados pela Inspeção de Seguros avisos sobre (i) separação de contas de correctora de
prémio por estes cobrados; (ii) procedimentos adoptados relativos à taxa de supervisão com
vista a cobrança coerciva; (iii) os limites do valor de capital em risco no âmbito de microseguro; (iv) normas técnicas que aprovam o modelo de relato financeiro dos fundos de
pensões e respectivos anexos. Foi igualmente produzido um relatório do mercado de seguros
(BdPES 2014).
Objectivo 1: Promover um ambiente favorável e um quadro regulador eficaz para
actividades económicas
 O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que se acelere a
implementação dos planos de acção acordados entre os grupos de trabalho sectoriais da parceria
Público-Privada (i); que se crie uma Central de Risco de crédito fora do BM, que seja propriedade
e gerido pelo sector privado, conferindo dessa forma, uma atmosfera mais neutra para mais fácil
aceitação por parte deste sector (ii); que se aumente a emissão de obrigações do tesouro/títulos
de dívida pública com maturidades variadas para produzir uma "curva de rendimento" a usar pelo
sector privado para testar o desempenho dos preços a quem emite instrumentos de dívida privada
para o mercado (iii); que se ofereça incentivos fiscais para atrair mais admissões na Bolsa (i.e.
cancelar ou deferir impostos de empresas resultantes da aplicação das IFRS) e impulsionar o
mercado secundário através da eliminação ou redução de taxas sobre os lucros resultantes da
negociação de títulos da bolsa e redução de impostos sobre os dividendos de empresas cotadas
em bolsa (iv); que se torne os direitos à terra no campo (prédio rústico) transferíveis nos mesmos
termos que acontece com a terra urbana (prédio urbano), de acordo com um registo, tendo a
pessoa a quem foi transferida a terra de assumir automaticamente qualquer obrigação da pessoa
que a transferiu (v).
163.No que concerne a recomendação do Painel no sentido de se acelerar a implementação dos
planos de acção acordados entre os grupos de trabalho sectoriais da parceria PúblicoPrivada, sublinhe-se que no período em análise (2012-2014) não houve avanços significativos
ou materialmente substantivos. Com efeito, numa matriz de 118 acções acordadas entre o
Governo e o Sector Privado viu-se apenas 16% de acções (19 acções) concretizadas num
período de dezoito meses. Entretanto, neste período foi aprovada a Estratégia para Melhoria
do Ambiente de Negócios 2013-2017.
164.O novo Governo parece assumir com muita responsabilidade a tarefa de tornar o ambiente de
negócio mais favorável a julgar pela recente revisão do calendário dos encontros anuais
passando de dois para quatro, sem incluir os encontros sectoriais. Espera-se, portanto, que
com o aumento da frequência dos encontros entre o Governo e o Sector privado haja mais
celeridade no tratamento das questões da matriz, produzindo resultados concretos que
resultem no posicionamento de Moçambique em lugares cimeiros do ranking do Doing
Business ao nível regional.
165.O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou ao país para que a criasse
uma central de risco privada e que operasse fora do Banco de Moçambique no pressuposto
de que seria de aceitação fácil e que permitiria melhor selecção e premiação dos mutuários
em função do seu risco real. Na última avaliação não foram registados quaisquer avanços,
71
tendo sido referida a existência de uma proposta de Lei sobre as centrais de informação de
crédito em Moçambique (regime privado) submetida pelo Banco de Moçambique ao Governo
para a devida apreciação. O BdPES 2014 refere-se à criação de uma Central de Valores
Mobiliários não havendo referência a uma central de risco separada do Banco de
Moçambique.
166.O Painel recomendou ainda para que Moçambique aumentasse a emissão de obrigações do
tesouro/títulos de dívida pública com maturidades variáveis para produzir a curva de
rendimento a usar pelo sector privado para testar o desempenho dos preços a quem emite
instrumentos de dívida privada para o mercado. Esta recomendação contínua sem avanços
significativos. O rácio de capitalização em proporção ao PIB é de cerca de 6% contra a média
de 30% da SADC (excluindo a África do Sul) o que sugere que o mercado de capitais
moçambicano apresenta reduzida habilidade de mobilizar capital para projectos de
investimento55. Com efeito, embora as taxas de juro médias de financiamento no mercado de
capitais sejam de 10pp inferiores à média do sistema bancário (Banco de Moçambique, 2015)
e entre 88 e 95 empresas das 100 maiores empresas (KPMG, 2012) e 23 das 100 melhores
empresas (BCI, 2014) estão em condições de serem cotadas no mercado de capitais (do
ponto de vista de capital mínimo), apenas 17 empresas estão cotadas na BVM, significando
um aumento de 3 empresas de 2012 a 2014.
167.Se considerarmos que ao nível regulamentar houve algum progresso, então, o país deveria
investir na disseminação regular do calendário de emissões de obrigações de tesouro durante
os exercícios económicos, tendo presente que o Ministro que superintende a área de
Finanças fixa por Diploma, e até 31 de Março de cada ano, o calendário (Decreto nº 5/2013,
de 22 de Março), com o intuito de aumentar o número de participantes no mercado de
capitais.
168.O Painel também recomendou para que o país oferecesse incentivos fiscais como forma de
atrair mais admissões na Bolsa. A avaliação anterior não registou avanços significativos uma
vez que não se registou nenhum aumento de admissões na Bolsa, nem grandes alterações na
capitalização bolsista, no geral, e nem nas transacções do mercado secundário. Em 2013
foram admitidas e cotadas na Bolsa 6 valores mobiliários nomeadamente 5 títulos de Papel
Comercial e 1 emissão de Obrigações de Tesouro (BdPES 2013) e em 2014 foram admitidas
e cotadas 15 títulos (BdPES 2014). Até finais de 2014, o mercado secundário não continha
nenhuma empresa cotada, existindo, deste modo, a necessidade de potenciar e incentivar as
empresas, sobretudo as PME que constituem a alavanca de crescimento da economia e são
responsáveis pela geração da maior parte de emprego.
169.O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que se torne os direitos à
terra no campo transferíveis, tal como acontece com a terra urbana. Prevalece a dificuldade
prática de carácter interpretativa na materialização desta recomendação devido aos
formalismos que a sua implementação exige e também devido às diferentes interpretações
que a Lei de Terra ainda suscita, sobretudo quando conjugado com a Lei do Solo Urbano,
conforme referido na primeira avaliação. O desafio consiste em prestar uma atenção especial
na sua interpretação para melhor clarificação sendo que não foram identificadas evidências de
esforços de melhorar a interpretação para colmatar a dificuldade existente para tornar os
direitos à terra no campo transferíveis, tal como acontece com a terra urbana. Entretanto, vale
a pena registar que no início de 2015 o novo Governo lançou a campanha Terra Segura que
consiste em aumentar a atribuição de DUAT, incluindo nas zonas rurais.
55
Banco de Moçambique, 2015
72
170.Entretanto, no âmbito da promoção e atracção de investimentos, em 2014 Moçambique
também focalizou a dinamização do desenvolvimento das zonas de crescimento acelerado (no
Vale do Zambeze), destacando-se as seguintes actividades: (i) estabelecimento de 4 centros
de prestação de serviços agrários, um posto de fomento agrário e construção/reabilitação de 4
sistemas de rega para facilitação do desenvolvimento de pequenas e médias empresas
agrárias; (ii) criação de duas delegações do GAZEDA nas províncias de Sofala e Zambézia;
(iii) financiamento de 8 instituições de crédito (dois bancos comerciais, dois microbancos e
quatro instituições de microfinanças) como forma de promover e impulsionar a expansão de
serviços financeiros para as zonas rurais.
Objectivo 2: Assegurar que as corporações actuem como bons cidadãos corporativos
quanto aos Direitos Humanos, responsabilidade civil e sustentabilidade
ambiental

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que se desenvolvam Planos e
Orientações Nacionais de Responsabilidade Social, para identificar áreas específicas onde as
empresas possam participar na responsabilidade social (i); que se realce a Governação
Corporativa e indicadores de boas práticas (transparência, responsabilização, responsabilidade
social, etc.) em levantamentos nacionais, tais como avaliação das "100 maiores empresas"
realizado pela empresa KPMG para encorajar a sua adopção pelas empresas (ii); e que se
introduzam reformas para oferecer mais serviços aos seus membros (iii).
171.Relativamente à recomendação do Painel para que se desenvolvam Planos e Orientações
Nacionais de Responsabilidade Social, para identificar áreas específicas onde as empresas
possam participar na responsabilidade social, refira-se que em 2014 o Governo aprovou, na 4ª
Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, a Política de Responsabilidade Social
Empresarial da Indústria Extractiva (PRSEIE).
172.A PRSEIE propõe alcançar quatro objectivos: (i) Estabelecer como a RSE no sector extractivo
de recursos minerais capacidade que possa contribuir para a redução da pobreza e
desenvolvimento sustentável; (ii) Estabelecer o enquadramento no qual a indústria extractiva
de recursos minerais e todas as partes interessadas podem desenvolver programas de RSE
práticos e realistas, que reflictam os objectivos de desenvolvimento do governo de
Moçambique; (iii) Assegurar maior harmonização entre os planos de desenvolvimento local
definidos pelo governo e o investimento social realizado pelas empresas no âmbito da sua
RSE; (iv) Associar a prática da RSE no sector extractivo de recursos minerais em
Moçambique `as melhores práticas internacionais (MIREM, 2013, pp. 23).
173.A PRSEIE é nova não tendo ainda produzido resultados perceptíveis. Espera-se que o Estado
desenvolva e implemente mecanismos de monitoria e avaliação da implementação dos planos
de responsabilidade social empresarial. De um modo geral, o Estado tem o desafio de
assegurar a integração e a coordenação das acções de RSE nos planos públicos, ao invés de
criar processos paralelos. Finalmente, é preciso estar-se ciente de que a existência de uma
PRSEIE por si só não é condição suficiente para que as empresas invistam em
desenvolvimento local e que, mesmo se o fizerem, estas nem sempre resultarão em
desenvolvimento sustentável.
73
174.No que diz respeito à recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP de se
passar a realçar a Governação Corporativa e indicadores de boas práticas em levantamentos
nacionais, este desiderato permanece ainda como um desafio tal como a tradução do Código
da Governação Corporativa para aspectos práticos e acções concretas. Infelizmente não
foram identificados progressos dignos de menção. As duas importantes publicações sobre o
desempenho e perfil das empresas em Moçambique, nomeadamente as 100 Maiores
Empresas (KPMG, 2012) e das 100 Melhores PMEs (BCI, 2014) foram concebidas nos
moldes habituais não incluindo elementos de Governação Corporativa ou de Ética na sua
avaliação.
175. A finalizar notar que questões de melhoria de ambiente de negócio têm sido privilegiadas pelo
Governo e pela comunidade empresarial. Recentemente, o Governo aumentou o número de
encontros anuais com a CTA de 2 para 4 para além dos encontros sectoriais o que oferece
mais oportunidades de diálogo para melhorar vários aspectos de reformas no sector público
para fornecer mais serviços. Registam-se progressos em acções de disseminação do Código
de Governação Corporativa, mas não há evidências práticas, concretas e sistematizadas de
sua implementação pelas empresas. Quanto ao Código de Ética Empresarial os progressos
são lentos, tendo oficialmente aderido dez empresas.
Objectivo 3: Promover a adopção de normas de boa ética comercial na prossecução dos
objectivos da corporação

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que se faça campanhas
nacionais de consciencialização para promover a ética nos negócios, ética no trabalho, ética
individual e integridade, respeito pelos sistemas, eficiência e eficácia, importância da salvaguarda
do património nacional e conflito de interesses (i); que se promova a educação dos accionistas e
disseminação de informação para empoderar os accionistas a apreciarem e reclamar os seus
direitos, mas igualmente importante reformar os seus deveres para com as corporações (ii); que se
crie o Instituto dos Contabilistas para promover a auto-fiscalização através da observância das
IFRS e as boas práticas nas corporações (iii); que se faça formação para os "média" para reforçar
a sua capacidade investigativa na promoção de normas de ética nos negócios (iv); e que se apoie
a CTA a assegurar a auto-regulação em Moçambique entre os seus membros (vi).
176.Relativamente à recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP com vista a
aumentar o conhecimento público na adopção da boa ética nos negócios e aplicar boas
práticas através da realização de campanhas de sensibilização e educação sobre a ética em
várias áreas das actividades económicas, conflito de interesses e sobre os direitos dos
accionistas, importa referir que de 2013 à 2014, organizações como o IoD, o CTA e o CIP
envolveram-se muito na promoção de painéis de debates proferidas por especialistas
nacionais e estrangeiros sobre temas tais como: transparência e integridade nos negócios,
sistema nacional de integridade, pacto de integridade nos negócios contra a corrupção, papel
dos conselhos de administração das empresas, direitos e obrigações dos sócios e
funcionamento das Assembleias Gerais, Boa Governação e Desenvolvimento.
177.A primeira avaliação de progresso não encontrou registo de acções realizadas para a
implementação da recomendação do Painel respeitante à educação dos accionistas, bem
como ao seu empoderamento na apreciação e exigência dos seus direitos e na sensibilização
sobre as suas obrigações. Entre 2013 e 2014 foi visível o trabalho de educação dos
accionistas sobre os seus direitos, obrigações e funcionamento dos Conselhos de
74
Administração. Igualmente houve formações no concernente à questões de ética e integridade
nos negócios, conflito de interesses, responsabilidade social empresarial, Boa Governação e
Desenvolvimento (www.iodmz.co)56.
178.Entre 2013 e 2014 a Ordem de Contabilistas e Auditores de Moçambique (OCAM) registou
grandes progressos e há expectativas de que a médio prazo o País possa colher frutos da
contribuição desta organização na melhoria da qualidade e confiança sobre as informações
financeiras das empresas, aliás um aspecto também correlacionado com o mercado de
capitais como foi referido.
179.A OCAM completou a constituição dos órgãos do corpo directivo e desenvolveu um conjunto
de acções com destaque para: (i) elaboração do Plano Estratégico 2014-2020; (ii) implantação
das Delegações das Regiões Norte (Nampula) e Centro (Beira); (iii) formação de onze
formadores que se distribuem pelas três macroregiões do País e formação de 1.253 membros
da agremiação o que representa 46% dos 2.710 membros existentes na base de dados; (iv)
interacção com a academia difundindo através de palestras o papel da OCAM e a utilidade
social da profissão o que já tem permitido que algumas universidades submetam os seus
curricula para parecer da Ordem; (v) interacção com a Autoridade Tributária de Moçambique
(ATM) participando nas sessões do Conselho de Fiscalidade que valeu à OCAM, através do
Bastonário, um assento permanente e a preparação de um Memorando que visa regulamentar
matérias ligadas à organização da parte processual dos Contabilistas no sentido de não
permitir que indivíduos não devidamente credenciados submetam demonstrações financeiras
para efeitos fiscais; (vi) assinatura de Memorando de Entendimento com o Instituto de
Pequenas e Médias Empresas (IPEME) que permitiu a participação da OCAM na avaliação
das 100 Melhores PME; (vii) desenho e implementação de um programa de formação de
magistrados fiscais tendo beneficiado 15 magistrados; e (viii) produção de instrumentos
regulamentares da Ordem, designadamente: Manual de Procedimentos Administrativos e
Financeiros; Regulamento Disciplinar; Código de Ética. Estão em curso processos de afiliação
a organizações profissionais internacionais, tendo sido admitido à PAFA (Federação PanAfricana de Contabilistas)57, passo importante para aderir à IFAC (Federação Internacional de
Contabilistas)58.
180.A OCAM tem neste momento muitas frentes abertas que deverão ser concretizadas no curto e
médio prazo no âmbito do seu Plano Estratégico. Essas actividades deveriam ter
acompanhamento e acarinhamento do País, pois podem contribuir significativamente na
melhoria da imagem do País no que concerne à qualidade e confiança das demonstrações
financeiras das empresas com adopção dos padrões internacionais.
181.O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou igualmente neste objectivo, a
realização de acções de formação orientadas para os media para reforçar a sua capacidade
investigativa na promoção de normas de ética nos negócios. Há percepção de algum
progresso na formação destes sobre vários aspectos de governação, destacando-se nas
áreas de migração digital, mentoria em jornalismo investigativo, mentoria em jornalismo
económico. A produção e distribuição do Guia intitulado “Explorando Dados de Petróleo: Um
Guia para Repórteres” que poderá incentivar a divulgação e cobertura especializada na área
de petróleos, produzindo-se reportagens de qualidade (www.irex.org.mz)59. A aprovação da
56
Acesso efectuado a 6 de Maio de 2015.
Pan African Federation of Accountants.
58 International Federation of Accountants.
59 Acesso a 8 de Maio de 2015.
57
75
Lei de Direito de Acesso à Informação60 pode estimular o jornalismo investigativo.
182.Quanto ao fortalecimento da CTA, várias são as acções visíveis que a confederação tem
estado a promover no âmbito da Governação Corporativa, onde se destaca o seu
protagonismo na promoção de aspectos de ética empresarial e na pressão no sentido de se
melhorar o ambiente de negócio no País.
Objectivo 4: Assegurar que as corporações tratem com justiça todos interessados nela,
incluindo accionistas, empregados, comunidade e fornecedores

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que se incorpore os direitos
dos accionistas, responsabilidades dos directores e protecção dos accionistas minoritários no
Código Comercial (i); e que se aumente o conhecimento público do novo Código Comercial
através de "workshops" públicos e palestras (ii).
183.No que diz respeito a incorporação dos direitos dos accionistas, responsabilidade dos
directores e protecção dos accionistas minoritários no Código Comercial, a primeira avaliação
de progresso registou avanços significativos e, efectivamente o país continua a trilhar uma
boa reputação no âmbito da protecção dos accionistas, como fruto das profundas reformas
realizadas na legislação sobre investimentos com o intuito de atrair mais investimentos. O
quadro nº 1 abaixo ilustra posição de vantagem que Moçambique goza na região da África
Sub-Sahariana relativamente à protecção dos investidores minoritários, à regulação do conflito
de interesse e à eficiência da estrutura de governação.
Tabela 1: Índices de Governação Corporativa
Descrição do Índice
Moçambique
África SubSahariana
Gap
2015
2014
Índice de transparência corporativa (0-9)
1.5
1.5
3.2
-1.7
Índice de eficiência da estrutura de governação (0-10.5)
4.5
4.5
3.2
1.3
Índice de governação dos accionistas (0-10)
4.0
4.0
4.4
-0.4
Índice de protecção dos investidores minoritários (0-10)
5.2
5.2
4.6
0.6
Índice de regulação do conflito de interesse (0-10)
Fonte: Doing Business 2015
6.3
6.0
4.8
1.5
184.Não obstante o bom posicionamento do país na maioria dos indicadores de governação
corporativa no que concerne a este objectivo, questões como a transparência corporativa e
governação dos accionistas estão abaixo da média da região da África Sub-Sahariana, de
acordo com o Doing Business 2015. A primeira avaliação deixou alerta para o país prestar
atenção especial à questão de protecção dos accionistas minoritários e da responsabilidade
60
Lei nº 34/2014, de 31 de Dezembro.
76
dos directores das corporações. A melhoria do índice de regulação do conflito de interesses é,
em parte, reflexo dos esforços de incrementar a responsabilidade dos directores e espera-se
também que contribua para o incremento da transparência corporativa.
185.No que diz respeito a divulgação do novo Código Comercial progressos assinaláveis foram
alcançados, aliás, este novo Código Comercial já está em implementação no país.
Objectivo 5: Assegurar a responsabilização das corporações, directores e funcionários

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou para que se definam parâmetros de
responsabilização nas corporações, começando com o funcionamento dos conselhos (i); que se
crie instituições profissionais locais, por ex. Instituto de Gestão do Pessoal; Instituto de
Contabilistas (ii); que se adopte um conjunto de regras e princípios em que uma massa crítica de
profissionais seja formada (iii); e que se emende o Artigo 43 do Código Comercial sobre a
publicação de registos financeiros (iv).
186.No que concerne a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP
relacionada com a definição dos parâmetros de responsabilização nas corporações, é digno
de registo a aprovação da Política de Responsabilidade Social Empresarial da Indústria
Extractiva (PRSEIE) em 2014. Entretanto, para que este assunto seja abrangente às
empresas de outros sectores tudo depende da operacionalização do Código de Governação
Corporativa, sobretudo nos pontos sobre a nomeação dos órgãos de gestão e sobre as suas
responsabilidades.
187.Quanto à recomendação do Painel para a criação de instituições profissionais locais, a
primeira avaliação de progresso registou oito instituições61 que, efectivamente até este
momento, continuam sendo as mais expressivas na melhoria do quadro legal, na sua
implementação e monitoria bem assim na governação em geral. Elas têm igualmente
contribuído na educação, por meios de formações a grupos de profissionais e estudantes e
também via palestras sobre temas específicos de vária natureza. Por outro lado, no que diz
respeito aos aspectos relacionados com a Governação Corporativa, parte destas associações
profissionais tem estado a ser bastante activa na concepção, interpretação e implementação
do Código de Governação Corporativa a ser aplicável em Moçambique, embora se esteja
ciente do longo caminho que ainda há por percorrer no que respeita à sua implementação e
supervisão.
188.No que concerne a questão de adopção de um conjunto de regras e princípios em que uma
massa crítica de profissionais seja formada, é de realçar que algumas acções têm sido
registadas via formações e debates ao nível das associações profissionais. Por exemplo, a
OCAM regista progressos significativos na formação dos seus membros e todos os
profissionais da área. Para além deste exemplo, é evidente o ânimo com que as associações
profissionais se têm envolvido de forma directa nos debates sobre os assuntos de
especialidade da sua área e contribuindo para a governação do País.
As instituições profissionais referidas na primeira avaliação são as seguintes: CTA – Confederação das Associações
Económicas, IoD – Instituto de Directores de Moçambique, Associação dos Auditores Independentes, Associação
Moçambicana de Avaliação de Impacto Ambiental, Associação de Economistas, Ordem dos Advogados, Ordem dos
Médicos e Ordem dos Engenheiros.
61
77
189.Sobre a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP no sentido de se
proceder a emenda do artigo 43 do Código Comercial (art. 36 no actual Código) para a
inclusão de outros documentos fundamentais na listagem dos documentos obrigatórios,
nomeadamente, a Demonstração de Resultados, a Demonstração dos Fluxos de Caixa e o
Mapa de Alteração dos Fundos Próprios, não se registaram progressos.
78
CAPÍTULO IV
DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÓMICO
Este capítulo aborda a área temática de Desenvolvimento Socioeconómico. São destacados os
progressos alcançados neste domínio entre 2013 e 2014 face às recomendações do Painel de
Personalidades Eminentes do MARP e relembrados os desafios identificados no primeiro Relatório de
Progresso do MARP (2010-2012).
190.A área temática de Desenvolvimento Socioeconómico no contexto do Mecanismo Africano de
Revisão de Pares (MARP) persegue os seguintes objectivos: 1) promover a autoconfiança no
desenvolvimento e criar capacidade para o desenvolvimento sustentável; 2) acelerar o
desenvolvimento socioeconómico para atingir o desenvolvimento sustentável e erradicação da
pobreza; 3) reforçar as políticas, mecanismos de execução e resultados nas áreas sociais
chave, incluindo educação e combate ao HIV/SIDA e outras doenças contagiosas; 4)
assegurar o acesso água, serviços sanitários, energia, finanças, Tecnologias de Informação e
Comunicação, habitação e terra para todos os cidadãos especialmente os pobres; 5) efectuar
progressos no sentido de igualdade de género em todas as áreas de preocupação, incluindo o
acesso da rapariga A educação a todos os níveis; e 6) encorajar a participação alargada no
desenvolvimento por todos interessados e a todos os níveis.
191.O primeiro Relatório de Progresso no âmbito MARP que analisou os progressos registados
entre 2010 e 2012 destacou inúmeros avanços observados pelo país durante esse período
nomeadamente nas áreas de crescimento económico, educação, saúde e ação social com
destaque para: 1) crescimento contínuo da economia em média de 7% ano; 2) esforços
empreendidos na inversão da pirâmide da educação alargando acesso - aumento de efectivos
- ao ensino de nível secundário, técnico; 3) aprovação e implementação de Regulamentos e
Estratégias para a retenção da rapariga no ensino primário e secundário e seu encorajamento
para a formação vocacional incluindo o Programa de Produção Escolar; 4) redução da
transmissão vertical do HIV de mãe para filho; 5) provação da Lei da Violência Doméstica, sua
divulgação, implementação e introdução de matérias sobre violência nos curricula de
formação dos agentes da lei e ordem.
192.Todavia, o mesmo relatório realçou desafios urgentes colocados ao país neste domínio, a
serem reavaliados na presente análise de progresso, designadamente: 1) a necessidade de
afastar a desconfiança de que, com a entrada de grandes investimentos estrangeiros o
acesso a terra por parte da população encontrar-se-á em perigo; 2) promover-se habitação
social a população, sobretudo para os jovens, uma vez que a habitação é ainda acessível
apenas a uma pequena minoria; 3) melhoria da qualidade de educação adoptando-se uma
perspectiva construtiva e positivista; 4) envolvimento das várias lideranças comunitárias e
encarregados de educação por forma a inverter gradualmente a tendência actual de abandono
de raparigas da escola; 5) reduzir o número de novas infecções pediátricas por HIV, aumentar
o acesso a profilaxias eficazes em mulheres grávidas HIV positivas e a redução de mortes
maternas por HIV; e 6) implementar na íntegra a Declaração de Maputo no quadro da NEPAD
que sugere que se afecte 10% do Orçamento de Estado para a agricultura.
79
Objectivo 1: Promover a auto-confiança no desenvolvimento e construir capacidade para o
desenvolvimento Sustentável.

O Painel de Personalidades Eminente recomendou ao país a: (i) Começar imediatamente a
explorar formas e meios de ir reduzindo ao longo do tempo a dependência do País da Ajuda
externa preparando uma estratégia de saída da ajuda convenientemente articulada; (ii)
Reforçar a implementação da Declaração de Paris sobre a Eficácia da Ajuda com vista a
reforçar a apropriação pelo País das políticas de desenvolvimento e das actividades da Ajuda
externa.
193.No que concerne ao desafio da redução da ajuda externa, importa referir que o volume total
de Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (APD) tem-se mantido relativamente estável nos últimos
anos não obstante uma ligeira contracção do Apoio Directo ao Orçamento (Apoio Geral ao
Orçamento + Apoio Orçamental Sectorial). Em 2014, Moçambique recebeu dos Parceiros de
Apoio Programático (+Membros Associados), um total de USD 1.9 mil milhões em ajuda para
o desenvolvimento (dos quais cerca de USD 644 milhões em Apoio Orçamental Directo).
194.Outrossim, a consolidação das reformas tributárias tem reforçado significativamente a
eficiência da administração fiscal, permitindo o alcance de ambiciosas metas de arrecadação
de receitas. Mercê deste esforço, os rácios de dependência do país em relação à ajuda (em %
das despesas, das receitas e do PIB) têm reduzido de forma consistente. A dependência
orçamental em relação ao financiamento externo baixou de 56% em 2008 para 35% em 2014.
A ajuda orçamental representa actualmente menos de 3% do PIB e menos de 10% da
despesa pública total.
Tabela 1: Peso Relativo das Componentes Interna e Externa no Orçamento do Estado
% OE
Componente
Interna
Componente
Externa
Recursos
Totais
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014* 2015** 2016** 2017**
44%
47%
56%
58%
61%
69%
65%
71%
73%
74%
56%
53%
44%
42%
39%
31%
35%
29%
27%
26%
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
100%
100%
* Lei Orçamental
** Projecções do Cenário Fiscal de Médio Prazo (CFMP) 2015 – 2017
Fonte: MEF
195.No entanto, vale notar que persistem desafios no que diz respeito à previsibilidade e a
transparência da ajuda externa em Moçambique. Entretanto, parece mais premente a
necessidade de uma maior harmonização do fluxo dos recursos externos com os desafios
nacionais de desenvolvimento. Mesmo dispondo de uma estrutura consolidada de diálogo
conjunto entre o Governo e Parceiros, recursos externos para Moçambique continuam a fluir
em grande medida fora dos sistemas nacionais de Gestão de Finanças Públicas, implicando
um fraco alinhamento com a programação do Governo, facto que indicia potenciais
ineficiências na alocação de recursos.
196. A seguir são identificados desafios para limitar tendências de dependência da ajuda externa:
(i) a recorrência sempre crescente ao endividamento externo para o financiamento de défice
80
nos últimos anos mostrando a necessidade de se moderar o ritmo de endividamento; (ii)
necessidade de melhorar a capacidade da gestão da dívida implementando a Estratégia de
Médio Prazo para a Gestão da Dívida Pública e; (iii) continuar a médio prazo a modernizar a
administração tributária.62
197.Refira-se que a Parceria de provisão do apoio orçamental em Moçambique tem estado nos
últimos anos sob várias pressões quer ao nível doméstico quer ao nível internacional.
Entretanto, nos últimos 5 anos ao contrário de outros Países africanos (onde o Apoio
Orçamental já foi suspenso), há indícios de que a existência de uma estrutura consolidada de
diálogo Governo – Parceiros, tem conferido ao mecanismo de Apoio Orçamental em
Moçambique, uma notável resiliência a essas pressões.
198.Em relação ao desafio de eficiência dos mecanismos de coordenação entre Governo e
parceiros e a necessidade de redução de custos de transação dos processos de avaliação
inerentes, o país e os seus parceiros na Revisão Anual de 2013 consolidaram a
implementação da estrutura dos grupos de trabalho tendo envolvido 12 grupos temáticos
distribuídos de acordo coma estrutura do Plano de Ação para a Redução da Pobreza (PARP).
Este plano tem três grandes objectivos, nomeadamente: (i) aumento da produção e
produtividade agrária e pesqueira; (ii) promoção de emprego e (iii) desenvolvimento humano e
social, acrescidos de pilares de apoio, nomeadamente: (iv) macroeconómica, (v) governação,
(vi) assuntos transversais. Os grupos de trabalho temático foram compostos por
representantes do governo, parceiros de apoio programáticos e membros de organizações da
sociedade civil.
199.Outro elemento digno de realce para a melhoria da eficiência dos mecanismos de
coordenação com parceiros foram os progressos registados no alinhamento entre os recursos
providenciados pelos parceiros através de Fundos Comuns e Planos Estratégicos Sectoriais
incluindo a intervenção dos parceiros no apoio as províncias.63
200.Estes desenvolvimentos não deixam de lado a necessidade de se prestar mais atenção aos
seguintes aspectos: (i) o incremento da proporção do apoio programático em relação à ajuda;
(ii) o cumprimento do calendário de desembolsos do Apoio Geral do Orçamento bem como do
apoio programático para não influenciar negativamente o princípio de previsibilidade; (iii)
canalização da ajuda pública ao desenvolvimento através da Conta Única do Tesouro; (iv) a
necessidade de reduzir as missões que escalam o país vistos os custos de transação
associados e; (v) reduzir o número de Unidades Paralelas de Implementação de Projectos.
201.De todo modo está quase concluído a concepção do novo Memorando de Entendimento com
os Parceiros para os próximos cinco anos, esperando-se que reequilibre as várias
preocupações que vem sendo levantadas em relação à funcionalidade do mecanismo de
diálogo da Parceria, abrindo boas perspectivas para o Apoio Orçamental em Moçambique.
62
A dinâmica da evolução da Dívida pública do país, bem como a sua sustentabilidade são amplamente discutidos no
Capítulo II (Governação e Gestão Económica).
63
Aide-Memoire Revisão Anual de 2013
81
Objectivo

2:
Acelerar o Desenvolvimento Socioeconómico para
Desenvolvimento Sustentável e Erradicação da Pobreza.
Alcançar
o
O Painel de Personalidades Eminente recomendou a Moçambique para que: (i) afecte 10% do
seu orçamento para a agricultura em linha com a Declaração de Maputo da NEPAD; (ii)
reforce o sistema de Monitoria e Avaliação para verificar o progresso no cumprimento das
metas no PARPA e ODM; (iii) trate da questão do desemprego no seio da juventude através
do desenho de programas adequados de promoção de emprego; e, iv) aumente a consciência
nacional sobre a importância da proteção social nos processos de redução da pobreza.
202.Entre 2011 e 2012, na prossecução deste objectivo e como reportado no primeiro Relatório
de Progresso do MARP, registraram-se progressos expressos num maior cometimento do
Governo em aumentar recursos para o sector da agricultura; no reforço do sistema de
monitoria e avaliação para verificar avanços e cumprimento de metas do PARP e ODMs
através da integração dos indicadores da matriz estratégica do PARP de forma no Plano
Económico e Social e nos respectivos Balanços. Esta integração do PARP e ODMs resultou
na incorporação de um capítulo específico que analisa o progresso dos ODMs no PES e
BdPES. Adicionalmente, este maior cometimento do Governo revelou-se pelo estabelecimento
de políticas estratégicas para fazer face ao emprego de jovens e na elevação da consciência
nacional sobre a importância da proteção social nos processos de redução da pobreza.
203.Contudo, foram identificados desafios prementes nas áreas de: i) monitoria e avaliação em
especial no alinhamento das matrizes de monitoria do PARP e o PES e monitoria dos ODM; ii)
resultados consistentes e tangíveis na área de emprego para jovens; iii) maior apropriação
político-programática do tema da proteção social, implementação efectiva das leis adoptadas
e maior cobertura em termos de beneficiários
204.Em relação ao desafio do país aumentar recursos para a área de agricultura, Moçambique
continuou a registar progressos limitados entre 2013 e 2014 no sentido de alocar cada vez
mais recursos do Orçamento do Estado (OE) para o sector de agricultura em linha com a
Declaração de Maputo da NEPAD que preconiza a alocação de 10% do OE ao sector. Com
efeito, os recursos alocados ao sector agrário reduziram nos dois anos em avaliação, de 4%
em 2013, para 3% em 201464.
205.Estes dados não somente mostram dificuldades de se alcançar a cifra de 10% com a qual o
país se comprometeu na Declaração de Maputo da NEPAD, como também ilustra as grandes
dificuldades de se poder implementar com sucesso o Plano Estratégico para o
Desenvolvimento do Sector Agrário 2010-2019 que estabelece um objectivo de crescimento
do sector na ordem dos 7% anuais. É quase certo que com os investimentos feitos via volume
de recursos alocados ao sector nos últimos anos dificilmente se vão despoletar as mudanças
necessárias para tornar competitiva e sustentável a segurança alimentar e a renda dos
produtores agrários como almeja o Plano.65
64
Em caso de tomar-se em conta toda cadeia de valor do ramo da agricultura eventualmente esta proporção pode assumir
outros valores. No entanto, a Declaração de Maputo concentra-se apenas no sector agrário de persi e é sobre isso que a
análise é feita.
65
Ministério da Agricultura (2010) Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Sector Agrário. PEDSA 2010-2019,
Maputo, Março de 2010 & Mogues, Tewodaji & Benin, Samuel (2012) Public Expenditure in Agricuture in Mozambique.
82
206.No que diz respeito ao alinhamento das matrizes de monitoria do PARP e o PES e monitoria
dos ODM. A informação disponível não permite aferir os progressos registados em termos de
alinhamento dos indicadores multissectoriais a nível central. No que concerne ao nível distrital
há evidências de progressos na operacionalização de Sistema de Monitoria do
Desenvolvimento Distrital (SMoDD) implantado em 128 distritos que produzem relatórios
anuais de desempenho distritais.
207.Quanto a monitoria do grau de cumprimento dos ODMs o país regista progressos moderados.
Os Relatórios dos ODMs são alimentados por Inquéritos realizados pelo INE, principalmente o
IOF; IDS, MICs, INSIDA. O último relatório oficial elaborado pelo então MPD data de 2010 e
foi basicamente alimentado pelos resultados do IOF 2008/09, MICS 2008 e INSIDA 2009.
Devido a ausência destes relatórios de 2010 até esta parte não foi possível elaborar um
relatório exaustivo do progresso dos ODMs. Contudo, em 2013, com base nos dados do IDS
2011 foi possível actualizar parte dos indicadores constantes dos ODMs, mas este documento
de actualização não foi publicado.
208.No entanto, tem-se incluído desde 2013 no balanço do PES anual uma avaliação de carácter
geral sobre progresso dos ODMs usando indicadores de produto de matrizes estratégicas dos
Planos governamentais. A informação é relevante mas não é muito sistematizada e não
fornece elementos mais aprofundados e analíticos sobre as tendências, factores que facilitam
e/ou limitam o desempenho e as potencialidades de determinado indicador atingir ou não a
meta. Adicionalmente, com este modelo não se consegue ter uma ideia da evolução dos
indicadores que segundo sua natureza não se podem recolher numa base anual.
209.Com vista a colmatar os constrangimentos de disponibilização atempada de informação, o INE
é referenciado como tendo desenvolvido e estando a implementar um Inquérito Continuo aos
Agregados Familiares (INCAF) que serviria de ferramenta principal no acompanhamento dos
programas de desenvolvimento nacional incluindo providenciar informação para a produção
do relatório de progresso dos ODMs. Nas fontes acedidas não há referência ao progresso
desta actividade, há sim uma actividade planificada de realização do Inquérito de Orçamentos
Familiares 2013/2014 e a elaboração do documento preliminar da 4a Avaliação Nacional da
Pobreza e Bem-Estar.
210.O desafio reside na sincronização do calendário estatístico com o calendário de planificação;
Os dados dos Inquéritos devem estar disponíveis quando os principais instrumentos de
planificação do Governo estão na fase de avaliação; Manutenção regular do período e da
realização dos principais inquéritos nacionais. Pela demora na realização do IOF não temos
como avaliar o alcance dos ODMs mesmo estando-se nas vésperas do final da
implementação (2015) da agenda do desenvolvimento de milénio.
211.No que tange a questão de fazer face ao desemprego no seio da juventude por via do
desenho de programas adequados de promoção de emprego, o país registou progressos
mistos na implementação desta recomendação. No âmbito da implementação da Estratégia
de Emprego e Formação Profissional o país registou progressos assinaláveis em termos
de implementações no domínio do trabalho e integração de candidatos no Mercado de
trabalho; todavia não registou progresso em termos de edificação de um sistema de
What Investiments are Required for Technical Change, an what Drivers Investiments Decisions? Working Paper 3.
Mozambique Strategy Support Programme. International Food Policy Research Institute, December 2012
83
informação que permita aferir o impacto desses progressos na faixa etária prioritária que são
os jovens.
212.De forma geral e de acordo com os dados da tabela que se segue a implementação de várias
ações no domínio do trabalho permitiu a integração de 1.212.945 candidatos ao Mercado de
trabalho entre 2010/2014 ultrapassando se a meta quinquenal de 873.818. O sector privado
contribuiu com cerca de 70% do total de postos de emprego e os restantes 30% são do sector
público.
Tabela 2 – Evolução de Postos de Emprego Criados 2010/2014
Fonte: Balanço do Plano Quinquenal do Governo 2010/2014, p 73
213. Registaram-se igualmente progressos no alargamento da cobertura da segurança social para
os trabalhadores por conta própria, que representam uma porção significativa da população
activa no país, bem como a provisão da formação profissional nas zonas rurais através da
afectação de unidades móveis que até 2014 totalizavam 8, bem como a aprovação do Decreto
nº 35/2013, de 2 de Agosto, que regulamenta os estágios Pé-Profissionais, visando a melhoria
dos níveis de empregabilidade dos jovens graduados dos diferentes subsistemas de educação
e a Lei nº 23/2014, de 23 de Setembro, que faz com que Moçambique transite de um sistema
de educação profissional baseado na oferta para outro orientado pela demanda do mercado
do trabalho.
214.O país envidou esforços para garantir a participação da juventude na criação de
oportunidades de emprego e auto-emprego, para a elevação da sua capacidade de
intervenção no contexto do desenvolvimento nacional. Através do Fundo de Apoio as
Iniciativas Juvenis entre 2010/2014 foram financiadas 2.473 projectos juvenis dos 3.000
planificados (82%) o que terá contribuído para criação de emprego e auto-emprego para 7.332
jovens facilitando o surgimento de jovens empresários e seu cada vez maior envolvimento em
processos de desenvolvimento nacional. Foram igualmente formados 1.691 jovens em matéria
de elaboração de projetos e gestão de negócios; formados 4.133 jovens em cursos
profissionalizantes em coordenação com INEFP e realizadas 862 feiras de orientação para o
trabalho e realizados fóruns de diálogo com os jovens sobre a problemática de emprego.
215.Apesar dessas realizações permanece porém o desafio de se aumentar os valores alocados
para o fundo das iniciativas juvenis no domínio de emprego e auto-emprego de modo que se
84
cubra mais jovens e que os projectos financiados façam a diferença em termos de melhoria
das condições de vida dos jovens.
216.Ao nível do trabalho e emprego existe ainda o desafio de se dispor de informação estatística
que responda às necessidades de uma planificação mais consistente e ajustada as
necessidades dos diferentes grupos sociais e etário. Por exemplo, o Balanço do Plano
Quinquenal do Governação faz alusão que no domínio do trabalho entre 2010/2014 foram
inseridos no emprego 1.212.945 pessoas sem a devida desagregação por faixa etária e
sectores de integração.
217.A revisão conjunta entre o Governo e seus parceiros para 2011 já alertava para estes desafios
no sentido de provisão de informação mais estruturada em termos de equilíbrio de género
com relação ao emprego na medida em que os dados providenciados para além de indicar
uma larga maioria de beneficiários homens não indicavam as razões das diferenças entre
homens e mulheres e muito menos apresentam elementos que permitam perceber em que
zonas (províncias, cidade/campo) estes empregos foram criados.66
218.Vale notar que a promoção de emprego sustentável depende do desenvolvimento das médias
e pequenas empresas que por sua vez dependem de um ambiente de negócios favorável.
Apesar do aumento de postos de trabalho ser uma prioridade claramente definida pelo
Governo o volume de recursos alocados para actividades que concorrem para este objectivo,
continua abaixo das necessidades dificultando a materialização dos planos de formação
profissional e vocacional previstos bem como os serviços de assistência técnica e financeira
das pequenas e médias empresas. Esta é uma capacitação considerada relevante tendo em
conta os desafios e as oportunidades tanto de emprego como de negócios que os grandes
projectos mineiros, energéticos e de transportes em desenvolvimento no país representam. 67
219.No concernente ao desafio da consciencialização do papel proteção social nos processos de
redução da pobreza, o país registou um significativo reconhecimento da importância da
Protecção Social nas agendas de desenvolvimento e da importância das políticas de
segurança social básica pela inscrição do assunto no Pilar de Capital Humano do PARP III e
pela implementação da Estratégia Nacional de Segurança Social Básica (2010/2014) que
trouxe uma maior percepção pública da assistência social como um factor promotor de
desenvolvimento económico e social.
220.Para demonstrar a apropriação da agenda da proteção social, o país interveio nas seguintes
componentes: i)Transferências sociais monetárias por tempo indeterminado; ii) Transferências
sociais por tempo determinado; iii) Serviços sociais de Acção Social; iv) Trabalhos Públicos no
quadro da Acção Social Produtiva.
221.Com vista a incrementar a consciencialização sobre a matéria o Ministério da Mulher e da
Acção Social de Moçambique, juntamente com os seus parceiros, organizou em Junho 2014,
em Maputo a Conferência Internacional “Investir na Protecção Social Básica é Investir no
Capital Humano”. O evento teve como objectivo ouvir especialistas nacionais e internacionais,
quadros do sector da Acção Social e parceiros de cooperação sobre temas ligados à
Protecção Social Básica, tais como: a Protecção Social no Mundo; a Protecção Social e
66
67
Aide-Memoire. Revisão Anual 2013, 2 de Maio de 2014
Idem
85
Espaço Fiscal; a Coordenação como elemento central para garantir a eficácia e eficiência do
sistema de protecção social.
222.Em 2014 o Governo de Moçambique estabeleceu novos objectivos de desenvolvimento para a
protecção social no documento da Estratégia Nacional de Desenvolvimento 2015-2035,
aprovado em Julho de 2014. O documento define os principais eixos de intervenção
estratégica do Governo Moçambicano e a melhoria dos níveis de proteção social que é
identificado como pilar fundamental do desenvolvimento do capital humano e um elemento
essencial para superar os desafios de desenvolvimento em Moçambique. O documento
defende que devem ser reforçados os mecanismos de proteção e segurança social de modo a
dar resposta às necessidades da população mais vulnerável e dos trabalhadores
aposentados.
223.Esse investimento deverá visar, sobretudo, as pessoas idosas, com deficiência, com doenças
crónicas e crianças, que não possuem capacidades para, por si próprias, assegurar uma vida
digna. O documento estabelece ainda uma matriz de indicadores e metas de desenvolvimento
para o período 2015 a 2035; definindo como indicador de desenvolvimento a taxa de
agregados familiares pobres e vulneráveis que beneficiam de proteção social básica, e a meta
respetiva de aumento dessa taxa de 9 para 75 por cento.68
224.Com o objectivo de aumentar o impacto dos programas de assistência social básica, o
Governo incrementou sucessivamente o orçamento destinado ao pacote dos programas e dos
valores dos escalões dos subsídios, permitindo, por um lado, a expansão dos mesmos e, por
outro, a manutenção do poder de compra dos beneficiários. O valor mínimo das transferências
era de 70 meticais (2.3 USD) em 2007 e subiu para 270 meticais (8.3 USD) em 2013.
Acrescentou-se 25% para cada dependente do beneficiário directo (até máximo de 4
dependentes) tendo se alcançado em 2013 (16.6 USD) por agregado; e cerca de 90% do
orçamento dos programas é proveniente de fundos do Estado. Ainda neste pilar as
intervenções do país incluíram a assistência e proteção aos grupos populacionais em estado
de pobreza e sem capacidade para o trabalho e promoção de autoemprego e geração de
rendimento através da integração nos trabalhos públicos e iniciativas de geração de
rendimentos dos Agregados Familiares em situação de pobreza e vulnerabilidade, com
prioridade para os agregados familiares
chefiados por mulheres, pessoas com
deficiências e com crianças com problemas de desnutrição (PASP).
225.Apesar destes progressos os seguintes desafios e factores críticos devem merecer atenção
particular: i) aumentar a cobertura dos beneficiários dos programas de Segurança Social
Básica (até 2014, apenas cobriam 15.76% dos agregados familiares em situação de pobreza;
ii) fragmentação de programas; iii) necessidade de expansão e redimensionamento para
garantir maior eficiência e eficácia; iv) financiamento para garantir a expansão das
transferências sociais, através do Orçamento de Estado; v) incremento na capacidade
operacional das instituições que implementam os programas de segurança social básica,
especificamente, MMAS e INAS; vi) melhoria de mecanismos de coordenação eficientes para
a implementação dos programas da ENSSB; vii) advocacia efectiva que garanta um
entendimento profundo dos objectivos da protecção social como instrumento de promoção de
68
GoM (2014) Estratégia Nacional de Desenvolvimento (2015-2035)
86
um crescimento económico inclusivo; vii) fortalecimento de procedimentos relacionados com a
elegibilidade dos grupos alvos, redução de erros de inclusão e exclusão.69
226.O desenvolvimento socioeconómico sustentável do país está igualmente dependente da
capacidade de gestão do desafio das mudanças climáticas e fazer face às calamidades
naturais. Moçambique esta em 3° lugar na lista dos países africanos mais sujeitos a riscos
relacionados com calamidades naturais e esta em 43° lugar, a nível mundial, entre 173
países. Devido a sua localização na costa sudeste da África e a jusante de vários rios
importantes, Moçambique é um país considerado extremamente propenso a desastres
naturais recorrentes, nomeadamente cheias, tempestades tropicais, secas e terramotos. Nove
dos seus rios nascem em países vizinhos, o que requer uma boa coordenação transfronteiriça
para os alertas de aviso prévio. Sessenta por cento da população vive ao longo da costa,
sendo, portanto vulnerável a tempestades tropicais.70
227.No período em análise (2013-2014) o país registou as terceiras maiores cheias depois das
observadas em 2000/2001 e das segundas no Centro do país em 2007/2008. A estação
chuvosa de 2013 assemelhou-se a do ano 2000 em termos da altura das águas, mas teve um
impacto muito menor na população em parte devido à resposta às calamidades. O sul de
Moçambique foi novamente devastado: 30 pessoas morreram em consequência directa das
cheias na bacia do rio Limpopo, e cerca de 186.000 foram evacuadas. Os danos estimados
excedem USD250 milhões dos quais 50 por cento foram danos causados na rede de estradas
e 30 por cento no sector agrícola. Um estudo do Fundo Global para Redução e Recuperação
de Desastres do Banco Mundial (GFDRR) indica que os ganhos económicos do país são
significativamente prejudicados por eventos hidrológicos e climáticos recorrentes estimandose que os prejuízos económicos resultantes destes eventos atingem em média 1,1 por cento
do Produto Interno Bruto (PIB) por ano.
228.Agrava ainda o facto das catástrofes naturais, como as cheias e os ciclones terem um impacto
de longa duração que afecta desproporcionalmente os mais pobres uma vez que reduzem as
despesas em cerca de 32 por cento e contribuem com mais de 2 pontos percentuais para a
taxa de pobreza. Ao se depararem com um desastre, as famílias pobres são muitas vezes
obrigadas a sacrificar os seus interesses a longo prazo para satisfazer necessidades
imediatas, como por exemplo, retirando as crianças da escola para que estas participem em
trabalhos domésticos, ou vendendo/consumindo o seu capital produtivo. A longo prazo, estes
mecanismos de sobrevivência fazem com que os agregados familiares fiquem cada vez mais
pobres e mais vulneráveis. Estes efeitos adversos podem transmitir-se a gerações futuras
através do seu impacto na educação ou na saúde.71
69
http://www.saspen.org/conferences/mozambique2014/PT_PPT_MINISTRY_SASPEN_FES_WORKSHOP_SOCIALPROTECTION-MOZAMBIQUE_SEP01-02-2014.pdf & http://www.ipc-undp.org/pub/port/IPCPolicyResearchBrief14.pdf
acessados a 17 de Agosto de 2015
70 UNICEF (2014) Mudanças Climáticas e Calamidades Naturais in Situação das Crianças em Moçambique 2014. Maputo:
UNICEF Moçambique 2014 acedido em http://sitan.unicef.org.mz/ aos 15 de Agosto de 2015
71
GFDRR & INGC (2014) Moçambique. A recuperação das Cheias Recorrentes 2000-2013. Estudo de Caso para o
Quadro de Recuperação em Desastres. Série de Estudos de Casos Nacionais. Global Facility for Disaster Reductions and
Recovery/World Bank Group/Europe Union/UNDP, Agosto de 2014.
http://www.recoveryplatform.org/assets/publication/GFDRR/countryCS2014/Mozambique%20%28Portuguese%29_Septemb
er%202014.pdf acessado a 18/08/2015
87
229.A resposta para além das acções de recuperação tem sido focalizada na redução da
vulnerabilidade por meio de reassentamento as populações o que não é sustentável bem
como em ajuda de emergência fornecendo bens diversos. Neste modelo de resposta, o
oportunismo e as oportunidades ou alternativas económica inexistentes tem constituídos uma
parte critica do processo de recuperação sustentável: as pessoas optam por se realocar
quando os ganhos socioeconómicos são entendidos; mas também podem optar por continuar
a viver em zonas de risco de inundações (inseguras) quando as oportunidades econômicas
nas novas comunidades são frágeis. Algumas famílias optam por continuar a cultivar as suas
terras nas planícies dos rios (propensas a cheias), embora também trabalhem em machambas
nas novas zonas de residência [redução de riscos]72. A própria pobreza entra em interação
viciosa com as mudanças climáticas, ela limita a capacidade das famílias de se prepararem,
responderem e recuperarem dos desastres naturais, já que a população pobre, por falta de
alternativas, envolve-se em práticas de subsistência prejudiciais ao ambiente, nas quais se
inclui a agricultura de corte e queima e o corte indiscriminado de árvores para a obtenção de
carvão vegetal ou combustível. Com isso, os menos favorecidos são também os mais sujeitos
e os menos capazes de resistir aos desastres naturais e de lidar com as suas
consequências.73
230. As previsões indicam que a incidência de calamidades naturais parece estar a aumentar.
Dados indicam que nos anos 80 foram 8 acontecimentos, na década de 90 foram 7 e após o
ano 2000 já foram mais de 0, situação que indica que a realidade pode se deteriorar-se nas
próximas décadas em termos de consequências. De acordo com relatório do UNICEF sobre
situação da criança que inclui análise das mudanças climáticas, prevê-se que, até 2050, o PIB
moçambicano seja entre 4% e 14% mais baixo do que as previsões de referência, se não
forem tomadas medidas de adaptação para responder às mudanças climáticas. Calcula-se
ainda que os picos de cheias nos rios Limpopo e Save subam numa magnitude de 25% com
algumas zonas do Norte a registarem cheias mais frequentes. E, incluindo-se o crescimento
rápido da população, no cenário, prevê-se ainda que a disponibilidade de água per capita
reduza nas bacias dos maiores rios em cerca de 15%. Tanto o retrato actual como as
previsões demandam que o país considere a gestão e mitigação das calamidades naturais
como uma das grandes ameaças para todas as perspectivas do desenvolvimento.74
231.Face aos desafios há a necessidade de melhorar a resposta às calamidades naturais a dois
níveis: i) melhorar o nível institucional de previsão e gestão e capacidade técnica das
instituições que lidam com estes fenómenos; e ii) trabalhar a nível das comunidades de modo
restaurar a resiliência comunitária as catástrofes naturais. O país precisa melhorar os seus
equipamentos e sistemas de aviso prévio para as cheias.
232.A nível institucional as acções incluem: promover a sensibilização sobre o risco de cheias,
divulgação de informação sobre cheias às comunidades sobre perigo de cheia;
desenvolvimento e manutenção de um sistema de previsão e alerta de cheias; envolvimento
das comunidades na recolha de dados e sistemas de alerta de cheias; e estabelecer um
sistema de vigilância de cheias incluindo comunicações.75
233. A nível comunitário a restauração da resiliência implica um trabalho com as estruturas
comunitárias sistematizando o conhecimento secular, endógeno e tradicional sobre como as
72
Idem
Idem
74 UNICEF, op. cit
75 HR Wallingford (s/d) Livro de referência de estratégias sustentáveis para mitigar os impactos das cheias. Maputo: DFID
73
88
populações ao longo do tempo responderam as cheias sem ajudas, um manancial de saberes
entretanto enfraquecido pela massificação da ajuda ao desenvolvimento em forma de ajuda
de emergência. A restauração destes mecanismos pode ser uma porta de entrada para o
desenvolvimento de estratégias mais sustentáveis de mitigação das cheias incluindo redução
dos níveis de risco e vulnerabilidade.
Objectivo 3: Reforçar as Políticas, os Mecanismos de Prestação e Resultados nas Áreas
sociais chave de Desenvolvimento Social, incluindo a Educação e a luta
contra o HIV/SIDA e outras doenças transmissíveis.

O Painel de Personalidades Eminentes do MARP recomendou a Moçambique para que: (i)
realize uma revisão exaustiva da estrutura de pirâmide da educação para alargar o acesso ao
ensino de nível secundário e técnico, e terciário; (ii) estabeleça orientações sobre os padrões e
monitoria de qualidade para os sectores da educação e saúde; (iii) estabeleça um quadro
integrado multissectorial para a luta contra o HIV/SIDA, Tuberculose e Malária; (iv) traga para
a linha da frente da luta contra o HIV/SIDA líderes tradicionais, religiosos e outros fazedores
de opinião nas comunidades; (v) envolva activamente os jovens e as mulheres na luta contra o
HIV/SIDA; (vi) tome as medidas necessárias para alargar e intensificar a cobertura de DOTS,
envolvendo as comunidades e capacitando os centros de saúde para prestarem serviços de
qualidade de diagnóstico e de laboratórios.
234.O primeiro Relatório de Progresso do MARP (2010-2012) destacou avanços na: (i) revisão
exaustiva da estrutura de pirâmide da educação para alargar o acesso ao ensino de nível
secundário e técnico, realçando a expansão dos efectivos no ensino secundário geral e
Técnico junto com as reformas em curso no sector da educação como a introdução currículos
de formação assentes em competências; (ii) no domínio da monitoria da qualidade no sector
da educação e saúde com o estabelecimento do Conselho Nacional de Avaliação da
Qualidade do Ensino Superior (CNAQ) e do Programa de Humanização e Melhoria da
Qualidade dos serviços de saúde; (iii) implementação do Plano Estratégico Nacional de
Resposta ao HIV e SIDA 2010/2014 e operacionalização da Política Nacional da Malária
(incluindo testagem de vacina); (iv) envolvimento de actores como jovens e autoridades
comunitárias na luta contra HIV e SIDA.
235.Foram considerados desafios na área do desenvolvimento socioeconómico para o período
subsequente os seguintes: (i) fraca qualidade do ensino em Moçambique; (iii) melhoria da
qualidade de serviços de saúde e elevação do nível de satisfação dos utentes; (iv) maior
investimento no combate as grandes endemias (HIV e SIDA, Tuberculose e Malária) e
melhoria da coordenação inter-sectorial no combate ao HIV e SIDA; (v) integração das
intervenções de controlo do HIV e TB e capacitação das comunidades rurais no âmbito de
uma resposta localizada ao HIV e SIDA.
236.Em relação ao desafio da qualidade do ensino ao longo dos últimos anos, o sistema de
educação tem vindo a introduzir reformas indispensáveis para a melhoria do desempenho
escolar dos alunos do Ensino Primário, com particular destaque para a introdução do novo
currículo, a distribuição do livro escolar, a afectação de recursos às escolas, a formação de
professores e de gestores educacionais e o incremento das acções de supervisão
pedagógica, entre outras. Todavia, há sinais de que a qualidade do processo de ensinoaprendizagem não está a melhorar manifestada pela percepção e evidencias de que há
89
muitas crianças que no fim do 1° ciclo, do Ensino Primário (5a classe) ainda não conseguem
ler e escrever.76
237.Uma das grandes preocupações neste domínio é a preparação insuficiente das crianças para
o processo de aprendizagem no ingresso na primeira classe. Ao nível do ensino pos-primario
a qualidade ainda e mais prejudicada pela expansão explosiva da rede escolar, a qual não e
acompanhada por um nível suficiente de investimentos, particularmente nas áreas de
formação de professores, aquisição e distribuição de livros e materiais didáticos, entre outros.
238.Esta realidade do sector da educação é corroborada pela recente análise sobre a situação da
criança feita pelo UNICEF em 2014. A análise reconhece que depois de uma expansão
enorme da escolarização primária, os progressos no acesso a escola e na conclusão do
ensino primário estagnaram nos últimos anos e o nível de aprendizagem dos alunos e baixo.
A taxa bruta de conclusão do ensino primário reduziu ligeiramente desde 2008. As taxas de
aprovação, em declínio, e estudos sobre a aprendizagem dos alunos mostram que os alunos
do ensino primário estão a aprender pouco em termos de competências básicas, quer na
escrita, quer na aritmética. Apesar do progresso impressionante na construção e acesso a
escola e no recrutamento de professores desde 2004, ainda metade das crianças que iniciam
o ensino primário não o termina, e há crescente preocupação com o nível de aprendizagem. A
disponibilidade de escolas e de professores ainda constitui uma barreira a escolarização no
EP2 e especialmente no ensino secundário nas zonas rurais mais distantes.77
239.A avaliação da qualidade da Educação básica na óptica dos Beneficiários realizada pela
sociedade civil em finais de 2011 corrobora com a situação preocupante do sector. Esta
concluiu que a qualidade dos serviços de educação é deficitária como consequência de ação
conjunta de factores inter-relacionados em várias dimensões: (i) o ambiente sócio cultural
educativo; (ii) a prática pedagógica na escola; (iii) a avaliação da aprendizagem dos alunos;
(iv) a gestão escolar participativa; (v) a formação e as condições de trabalho dos profissionais
da escola; ao ambiente físico escolar; e (vi) acesso, permanência e sucesso na escola
240.De forma geral, a avaliação concluiu que o problema da qualidade resulta da fraqueza de
comunicação entre as várias estruturas da educação e entre estas e a comunidade, sobretudo
com os encarregados de educação; deficiente funcionamento dos Conselhos de Escola que
nem sempre são representativos e cumprem o seu papel e às percepções desvalorizativas da
educação em que os alunos reprovam e desistem da escola por não sentirem que a educação
faz grande diferença em termos da sua ascensão social ou económica, preferindo ganhos
imediatos à frequência às aulas.78
241.Para fazer face ao desafio da qualidade de ensino, o país através do então Ministério da
Educação desenvolveu e iniciou a implementação do Plano Estratégico da Educação
2012/2016 cujos objectivos principais são: (i) assegurar a inclusão e equidade no acesso e
retenção na escola; (ii) melhorar a aprendizagem dos alunos; e (iii) garantir uma boa
76
Análise da Situação do Plano Estratégico da Educação 2012-2016. Aprovado pelo Conselho de Ministro a 12 de Junho
de 2012
UNICEF (2014) Situação das Crianças em Moçambique 2014. Maputo: UNICEF Moçambique 2014 acedido em
http://sitan.unicef.org.mz/ aos 15 de Agosto de 2015
78
CESC (2011) Avaliação da Qualidade dos Serviços da Educação Básica na Óptica dos Beneficiários. Resultados do
Estudo. Maputo, 11 de Agosto de 2011. Disponível em
http://www.mept.org.mz/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=60&Itemid=48 acessado a 01 de Maio de
2015
77
90
governação do sistema de educação. Em termos de qualidade a preocupação centra-se na
eficácia do ensino aprendizagem.
242.Visando melhorar a qualidade da aprendizagem, sobretudo no ensino primário, o Plano dá
uma maior atenção ao desenvolvimento da primeira infância, na perspectiva de integrar o préprimário no Sistema Nacional de Educação (0-5 anos); o Plano prevê continuar a melhorar a
qualidade e relevância do ensino pós-primário dando enfoque à melhoria dos processos e
condições de ensino-aprendizagem, bem como ao aumento da capacidade da sua gestão;
atenção particular é dada à relevância e à diversificação dos programas e currículo oferecidos,
em termos da sua capacidade de dar resposta às necessidades da economia e,
particularmente, das indústrias emergentes; prevê ainda um maior enfoque à diversificação e
uso de diferentes modalidades de ensino. Para assegurar uma melhor implementação dos
programas do sector, enfoque será no desenvolvimento e na gestão dos recursos humanos,
promovendo uma boa governação do sistema e dos seus recursos, através de um melhor
controlo interno em termos da implementação correcta dos planos do sector.79
243.Em relação ao desafio da melhoria da qualidade de serviços de saúde e elevação do nível de
satisfação dos utentes, tal como referido anteriormente, em 2007 o Ministério da Saúde
(MISAU) iniciou a implementação de uma importante iniciativa visando a humanização e a
melhoria da qualidade dos serviços de saúde materna e neonatal (SMN), denominada
“Iniciativa Maternidade Modelo (IMM)”.
244.Esta iniciativa, que materializa o “Plano Nacional para a Melhoria da Qualidade e
Humanização dos Serviços de Saúde Materna e Infantil-SMI”, utilizando a abordagem de
gestão e reconhecimento dos serviços com base em padrões de desempenho (GRBP) que
inclui a actualizacão técnica do pessoal nas várias áreas de atenção a saúde materna e
neonatal, a medição sistemática do nível de qualidade e humanização dos serviços e o
reconhecimento dos progressos alcançados nas unidades sanitárias (US) selecionadas.
Inicialmente este processo abrangeu 18 US em 6 das 11 Províncias do País. Após 6 meses as
US duplicaram o seu nível de qualidade e a maioria triplicou após um ano. A partir desses
resultados o MS decidiu, em 2009, expandir este processo para as 34 maiores maternidades
do país, sob o lema “Iniciativa Maternidades Modelo” com o objectivo de promover: Gestão
Humanizada dos serviços, Assistência humanizada e de qualidade e o Envolvimento
comunitário.80
245.A avaliação realizada à iniciativa revelou que até ao presente registou-se como principais
progressos: 1) implementação progressiva de práticas humanizadas e baseadas em
evidências durante a assistência ao parto; 2) reorganização dos serviços para garantir a
privacidade das mulheres; e 3) permissão de acompanhante em algumas unidades sanitárias.
246.Os principais desafios identificados são: 1) limitados recursos humanos; 2) falta de
medicamentos essenciais e equipamentos; 3) problemas de infraestrutura; 4) escassos
materiais de Informação, Educação e Comunicação (IEC) e de normas actualizadas unidades
sanitárias; 5) problemas de atitude e comunicação.
247.Com base na experiência de Moçambique, as principais recomendações para a
implementação de processos de melhoria da qualidade e humanização de serviços incluem:
Ministério da Educação (2012) Plano Estratégico da Educação 2012-2016. Aprovado pelo Conselho de Ministro a 12 de
Junho de 2012, pp 32/38
80
MISAU (2013) Iniciativa Maternidade Modelo. Boletim Informativo Trimestral N 1. Janeiro a Março de 2013. Maputo:
Ministério de Saúde. Direção Nacional de Saúde Pública. Departamento da Saúde da Mulher e da Criança
79
91
envolver pessoas com poder de decisão; definir e implementar padrões de desempenho;
investir em reconhecimento dos progressos; assegurar monitoria sistemática; identificar e
divulgar histórias de sucesso; reconhecer esforços das pessoas envolvidas; e assegurar a
expansão de forma progressiva e sustentável.81
248.No que concerne ao HIV e SIDA esta pandemia continua sendo uma das grandes ameaças ao
país e que teve importantes recomendações do Painel de Personalidades Eminentes do
MARP. No ano 2010, o Governo de Moçambique aprovou o Plano Estratégico Nacional de
Combate ao HIV e SIDA (PEN III, 2010/2014), um instrumento referencial e orientador para os
investimentos dos sectores e parceiros que se engajaram na resposta nacional ao flagelo do
HIV e SIDA em Moçambique. Este documento foi parte integrante da agenda de Governação
do País, vinculando-se ao Programa Quinquenal do Governo (2010-2014). Transcorridos
cerca de 3 anos de sua vigência, o Secretariado Executivo do Conselho Nacional de Combate
ao SIDA (CNCS) e parceiros reconheceram a necessidade de se proceder a uma avaliação
holística do desempenho do PEN III82.
249.Os resultados da avaliação da implementação do PEN III destacaram um desempenho misto
realçado por uma redução do financiamento para a resposta em geral, a focalização da
resposta em actividades meramente biomédicas, a despeito de investimento na componente
de prevenção, fragilidades nos subsistemas de coordenação, monitoria e avaliação. A redução
do financiamento teve efeito negativo nas componentes de prevenção e comunitária, o que
resultou em que grande parte das organizações nacionais, sobretudo as de base comunitária
(ONGs, OCBs), desaparecesse ou perdessem, sobremaneira, as suas estruturas
organizativas e capacidades funcionais.
250.De forma específica, observaram-se progressos nas seguintes áreas: (i) aumento da
cobertura dos serviços de aconselhamento e testagem entre 2012 e 2013; (ii) detecção e
tratamento de infeções de transmissão sexual; (iii) expansão do programa de Prevenção da
Transmissão Vertical; circuncisão masculina; (iv) lobby, advocacia e envolvimento do sector
privado na resposta a pandemia; e (v) expansão de unidades sanitárias que administram
tratamento anti-retroviral (TARV).
251.Por outro lado foram consideradas áreas de fraco desempenho e, por conseguinte como
desafios: (i) a redução do risco e vulnerabilidade em especial entre jovens e mulheres; gestão,
logística, distribuição e monitoria do preservativo; (ii) prevenção de HIV em populações
chaves de elevado risco; (iii) integração do HIV e SIDA nos planos sectoriais da função
pública; (iv) acesso de crianças ao tratamento anti-retroviral; (iv) actividades colaborativas
entre programas de HIV e SIDA e tuberculose; (v) cuidados domiciliares e apoio a pessoas
vivendo com HIV (PVHIV); (vi) ligação entre HIV e segurança alimentar; e (vii) coordenação,
monitoria e avaliação e mobilização de recursos.
252.No que diz respeito a recomendação do Painel de Personalidades Eminentes do MARP para a
redução da transmissão do HIV e SIDA de mãe para filho, a presente avaliação nota que a
expansão do programa de Prevenção da Transmissão Vertical (PTV) constitui um dos maiores
progressos registados nestes 3 anos de vigência do PEN III. O programa iniciou em 2002 em
81
VAZ, Maria da Luz (s/d) Humanização e Melhoria da Qualidade dos Serviços de Saúde Materna e Infantil em
Moçambique: Avanços e Perspectivas!
82
CNCS (2014) Relatório de Avaliação do Plano Estratégico Nacional de Resposta ao HIV e SIDA - PEN III (2010-2014).
Maputo, Agosto de 2014
92
8 unidades sanitárias, em 2010, a sua expansão atingiu 909 (86%) das 1.063 unidades
sanitárias com serviços de consultas pré-natais.
253.Nos anos subsequentes o programa foi registando os mesmos progressos alcançando 1.213
US a fazer PTV, cerca de 150 US acima da meta do quinquénio 2010/2014. Em termos de
resultados, a prevenção da transmissão da mãe para o filho aumenta exponencialmente a sua
cobertura. Progressos importantes foram também registados a nível programático e de
advocacia política para PTV: em 2012, foi desenvolvido o Plano Nacional de Eliminação da
Transmissão Vertical do HIV 2012/2015. Em Junho de 2013, foi iniciada a implementação da
Opção B+ (TARV Universal para mulheres grávidas e lactantes) no país, que deve ser
oferecida apenas em US a oferecer TARV.
254.Desafios persistem em relação à melhoria das actividades colaborativas entre programas de
HIV e SIDA e tuberculose. Embora se tenha verificado um progresso relativo à proporção de
doentes com TB aconselhados e testados para HIV, os desafios mantêm-se em relação ao
despiste atempado de TB a todos os doentes com HIV e do HIV a todos doentes com TB e o
consequente manejo imediato e adequado de casos co-infeccao TB/HIV.
255.De 2010 a 2013 a proporção de casos de TB aconselhados e testados para HIV evoluiu de
88% para 95%. A implementação da abordagem de “paragem única” está a contribuir para
uma maior complementaridade das intervenções. No entanto há desafios para se cobrir todos
os co-infectados que necessitam de TARV na medida em que se estima que estes ascendem
a cerca de 82 mil, enquanto apenas cerca de 25% (20.400) estão a ser beneficiados, o que
sublinha a importância do aumento da detecção de casos de TB e a posterior provisão de
TARV nos casos de co-infecção. Em 2014 o MISAU desenvolveu o Plano Estratégico e
Operacional para
o Controlo da Tuberculose 2014/2018 e o Plano de Envolvimento
Comunitário em Tuberculose 2014/2018 que tem como prioridade a componente de Coinfecção TB/HIV de modo a que mais pacientes com co-infecção tenham acesso ao
Tratamento Anti-retroviral.
256.No que concerne à malária, outra das grandes endemias e principal causa de mortes em
Moçambique, continua sendo uma grande preocupação do país. Embora a percentagem de
mulheres grávidas que recebem pelo menos duas doses de TIP dentre as utentes das
consultas pré-natais continue a subir ao longo dos anos (13.5% em 2010 para 36% em 2013),
o país continua a registar um número bastante elevado de casos, tanto de pessoas doentes,
internadas, como daqueles que perdem a vida vítimas da doença, principalmente em menores
de 5 anos.
257.O grande desafio para o país nesta matéria consiste em continuar a assegurar a
implementação de intervenções que reduzam, no máximo possível, os actuais índices da
prevalência de malária no país. São opções estratégicas: continuar a distribuição de redes
mosquiteiras tratadas com insecticidas; realizar as campanhas de pulverização domiciliária
(que vem ocorrendo sem consistência necessária) e ações de prevenção administrando o
tratamento intermitente preventivo com sulfadoxina pirimetamina.
258.Quanto ao financiamento do Governo moçambicano a resposta ao HIV e SIDA continua baixo
embora aumente nos últimos anos. Com a implementação do PEN III houve um maior
cometimento do Estado Moçambicano para um crescente aumento da provisão de recursos
para a área de saúde e particularmente para cobrir as necessidades financeiras na área do
HIV e SIDA. Os resultados da implementação do Plano através de evidências que o relatório
93
da Medição de Gastos em HIV e SIDA (MEGAS) reporta no rastreio da despesa pública
investida na área de saúde e do HIV e SIDA, em particular, mostra um investimento baixo e
estacionário em algumas áreas e uma total ausência de alocações públicas noutras áreas
chave, como são os casos do Tratamento Antiretroviral.
259.De acordo como o relatório as fontes financeiras externas, essencialmente as contribuições
bilaterais directas, agências multilaterais e organizações sem fins lucrativos, foram
responsáveis por 95% das despesas nacionais no combate ao HIV e SIDA no período 2010 –
2011 (entre 2007 e 2008 representavam 94% e 96%), Os recursos públicos domésticos foram
4.8% (US$ 10.1 milhões) e 5.2% (US$ 13.4 milhões) do total dos gastos respectivamente em
2010 e 2011 e os privados domésticos cerca de 0.1% em ambos os anos. Contudo, ainda
assim, há um esforço e cometimento para com a resposta traduzida na assunção do
financiamento das actividades levadas a cabo pelo CNCS, ainda que numa proporção
bastante pequena para a dimensão e demanda da resposta nacional em Moçambique.
Desafios existem na mobilização de recursos junto de um sector de investimentos que tende a
florescer – o da indústria extractiva, que arrastam consigo massas laborais e que tendem a
trazer efeitos colaterais sérios nos domínios da saúde e no caso vertente de Moçambique em
ITS, HIV e Tuberculose.
Objectivo 4: Assegurar o acesso à água, saneamento, energia, finanças, mercados,
tecnologias de informação e comunicação, habitação e terra para todos os
cidadãos, especialmente os Pobres nas áreas Rurais.

O Painel de Personalidades Eminente recomendou que Moçambique: (i) assegure o acesso a
água fazendo que a proporção da população com acesso a água potável nas áreas rurais
cumpra o ODM de 70 por cento em 2015 no mínimo; (ii) melhorar o saneamento através do
reforço de capacidade dos Governos municipais para assumirem a responsabilidade total do
saneamento melhorado e, melhorar a formação do pessoal distrital, das organizações da
sociedade civil e de membros dos agregados familiares para a construção de latrinas
melhoradas nas áreas rurais; (iii) promova o uso de fontes de energia renováveis e acelere o
processo de electrificação especialmente nas áreas rurais; (v) assegure infraestruturas de
transportes; (vi) melhore o acesso à "Internet" e a outras facilidades de tecnologias de
informação tanto nas áreas urbanas como rurais para facilitar a disseminação efectiva de
informação; (vii) promove habitação e o acesso a terra para os cidadãos pobres rurais.
260.Registaram-se avanços significativos no aumento da taxa de cobertura de água; saneamento
rural; no estabelecimento do quadro estratégico para massificação de energias renováveis; na
facilitação do acesso ao transporte ferroviário; na implementação de reformas para expansão
da cobertura da banca e disponibilidade de micro-finanças; expansão de acesso a tecnologias
de informação e comunicação (TIC) nas zonas rurais.
261.No entanto, continuam a manterem-se como desafios: (i) o lento progresso do saneamento
urbano; (ii) baixa cobertura da água e saneamento em áreas rurais; (iii) melhoria da qualidade
da água disponibilizada pelos pequenos sistemas de abastecimento de água; (iv) assegurar
infraestruturas de transporte para melhor fluidez de excedentes de produção entre zonas
produtoras e de consumo incluindo transporte urbano; (v) progressos moderados na área de
94
habitação condigna; (vi) acesso a terra para populações rurais relacionados com grandes
investimentos económicos no país e; (vi) aumento da cobertura de TICs.
262.No respeitante ao desafio de alargamento da cobertura de água nas áreas urbanas, o país
através do sector de águas nos últimos anos investiu em novas ligações domiciliárias e
construção de novos fontanários públicos; reabilitação e expansão de sistemas de
abastecimento de água; expansão da rede de distribuição de água das cidades. Com relação
à necessidade de aumentar a cobertura de abastecimento de água potável nas zonas rurais e
vilas o investimento foi para a construção, reabilitação e expansão de Pequenos Sistemas de
Abastecimento de Água (PSSA); reabilitação e construção de fontes de abastecimento de
água dispersas (poços e furos equipados com bombas manuais); capacitação de operadores
dos sistemas de abastecimento de água rural em matérias de operação, manutenção e gestão
dos sistemas.
263.Os dados da tabela que se segue, ilustram que apesar de ter havido esse investimento os
progressos foram moderados e marcados de recuos e estagnação. Por exemplo, o número de
novas ligações domiciliárias atingiu 297.354 entre 2010/2014, mas mostra uma tendência de
evolução decrescente ao longo dos últimos anos (em 2011 foram feitas 82.118 novas ligações
que decresceram para 45.918 em finais de 2014, correspondente a 56%). O número de novas
fontes de águas construídas foi de 1.0157 entre 2010 e 2014, mas regista-se igualmente uma
tendência decrescente entre 2011 (2.546) e 2014 (139), como mostra a tabela. Melhorar e
suplantar estas tendências e aumentar a cobertura para se atingir o acesso cada vez mais
universal requer fortes parcerias entre o sector público, privado, comunitário e as
organizações não-governamentais bem como o melhor aproveitamento dos fundos
disponibilizados pela comunidade internacional.
Tabela 3: Progressos na Área de Água e Saneamento 2010-201483
Fonte: Balanço do Plano Quinquenal do Governo 2010-2014
264.Para a melhoria da área de saneamento, o país focalizou no aumento da cobertura nas zonas
urbanas que registara lentos progressos na última avaliação de progresso. As ações
implementadas incluíram: realização de programas de educação comunitária (PEC) através
de campanhas sobre boas práticas de higiene; capacitação dos serviços municipais de
saneamento (142 sessões); construção de latrinas melhoradas nas zonas periurbanas e
realização de campanhas de sensibilização.
83
Os dados relativos ao ano 2014 na tabela podem ser discrepantes com a análise descritiva devendo ser interpretados
com cautela. O Balanço do Plano Quinquenal é datado de Novembro de 2014 incluindo dados até 1o semestre do ano
quando os dados descritos baseiam-se no Balanço do Plano Económico e Social do Governo para o ano 2014 datado de
Fevereiro de 2015
95
265.Nas zonas rurais as ações para o aumento da cobertura do saneamento foram para o apoio
na construção de latrinas nas escolas e comunidades; formação de formadores na abordagem
de Saneamento Total Liderado pela Comunidade; uma abordagem que demonstrou sucesso
ao conduzir a um grande aumento na posse e uso de latrinas, na limpeza das latrinas; no
aumento da prática de lavagem de mãos, e ao tornar comum a prática de tratamento de água
nas comunidades onde ela foi introduzida84.
266.Para fazer face ao desafio da promoção do uso de fontes de energia renováveis e acelerar o
processo de electrificação especialmente nas áreas rurais o país continuou com a instalação
de sistemas solares em zonas rurais com prioridade para escolas e centros de saúde em
todas as províncias. No ano de 2014 conclui-se a instalação desses sistemas em zonas rurais
sem acesso a rede de energia elétrica em 30 vilas, 227 escolas, 269 centros de saúde e 11
edifícios administrativos; contribuindo para que entre 2010 e 2014 tenham sido eletrificadas
com base em sistemas voltaicos um total de 129 vilas e 16 edifícios públicos. Outro destaque
nas energias renováveis é o facto de ter sido construída a Fabrica de Fotovoltaicos Solares
em Boane. A energia com base em painéis solares tem sido uma opção de resposta a
demanda pela energia elétrica, particularmente nas zonas rurais.
267.Para além deste recurso, Moçambique continuou a expandir o acesso a energia através da
expansão da Rede Elétrica Nacional (REN) concluindo a eletrificação em 2014 de 7 sedes
distritais, 12 postos administrativos e 43 localidades. Estes resultados de 2014 contribuíram
para que entre 2010 e 2014 o país tivesse electrificado os 128 distritos dos 151 existentes. A
nível de cobertura nacional Moçambique permitiu acesso a energia elétrica a cerca de 10
milhões de pessoas a partir da REN e cerca de 3.6 milhões a partir dos sistemas fotovoltaicos
perfazendo um total de 45% da população moçambicana com acesso a energia.
268.Os progressos atingidos permitem criar oportunidades de negócio e de emprego, reduzir
custos operacionais para as actividades económicas e sociais, bem como melhorar a
qualidade da vida. Todavia, pese embora estes resultados alcançados, o país precisa
melhorar e muito a qualidade de energia fornecida, sobretudo a partir da REN e aumentar
para o alcance quase que universal do acesso à energia para que as vantagens comparativas
de acesso a energia na promoção do desenvolvimento se efetivem plenamente.
269.O acesso a habitação condigna principalmente para jovens ainda é um desafio premente com
poucas evidências de sua superação. No acesso a habitação, e mais particular na promoção
da construção de novas habitações, o país facilitou condições para que mais famílias e
pessoas tivessem a habitação condigna continuando com a demarcação de talhões (cerca de
289 mil) entre 2010 e 2014 e construir cerca de 75.261 habitações nas cidades e vilas. 85
270.Os objectivos do governo e as recomendações do Painel de Personalidades Eminentes do
MARP fazem referencia especifica a focalização e priorização deste objectivo para jovens e
habitação social e de baixo custo, todavia a informação disponível não permite aferir esses
progressos específicos – não há desagregação por faixa etária e tipo de habitação – o que
coloca como desafio o estabelecimento de um sistema de informação e monitoria mais sólido
e fiável para aferir o progresso deste objectivo. Outros desafios incluem a Elaboração do
Plano Estratégico para a área de Habitação e da Política e Estratégia da Indústria de
Construção de Materiais de Construção.
84
Unicef (2011) More than Water. Impact evaluation of drinking water supply and sanitation interventions in rural
Mozambique. Maputo, October 2011
85
GoM (2014) Balanço do Plano Quinquenal do Governo 2010-2015. Maputo, Novembro de 2014
96
271.No concernente a questão de se assegurar infraestruturas de transporte para melhor fluidez
de excedentes de produção entre zonas produtoras e de consumo o país registou progressos
mistos, destacando-se positivamente a componente de melhoria das condições de
transitabilidade de parte significativa da rede viária do país e mantendo-se enormes desafios
na área de desenvolvimento de sistemas de transporte. Na melhoria da rede viária entre 2010
e 2014 reabilitou-se 746.8 km de estradas e a asfaltagem de 1087.3 km de nível nacional.
Muitas das obras estão em curso, podendo os efeitos no aumento na circulação de bens e
mercadorias pelo país se efectivar posteriormente.
272.Porém apesar desses resultados são ainda inquietantes os seguintes aspectos que devem
merecer atenção especial na rede viária: (i) atrasos de obras; (ii) reabilitações de estradas
regionais que não ocorrem no período previsto; (iii) falta de manutenção da rede de estradas
classificadas através da manutenção de rotina e periódica; (iv) conservação das estradas
municipais e distritais e; a (v) qualidade das obras.
273.O desenvolvimento do sistema transportes tem sido lenta e variável ao longo dos anos
conforme ilustra a tabela abaixo relativa as suas taxas de crescimento. Entre 2010 e 2014 o
país adquiriu 280 autocarros com capacidade de 80 passageiros cada tendo aumentado o
transporte rodoviário de passageiros de 839.546.000 em 2009 para 1.006.972.000 em 2012;
construção três terminais rodoviários (2 em Maputo e 1 na Beira); introdução de transporte
público de passageiros nas linhas de Sena e Goba; aumento ligeiro do trafego ferroviário de
carga com reabilitação da Linha de Sena; conclusão da linha férrea Moatize/Nacala Velha via
Malawi.
Tabela 4 – Taxa de crescimento do sector dos transportes e comunicações
Fonte: Balanço do Plano Quinquenal do Governo 2010-2014, p 70
274.Com este ritmo de evolução da taxa de crescimento incluindo a qualidade de seu
desenvolvimento, a rede de transporte ainda está aquém de lograr constituir um elemento
determinante de coesão social e territorial, bem como da competitividade económica do país
como plasmado nos objectivos governamentais do país. Para além de partilhar parte dos
desafios com a rede viária, a questão de se tonar factor de competitividade económica é
critica no contexto dos grandes investimentos que o país vive.
275.Em Agosto de 2014 o III Conselho Empresarial Nacional, organizado pela Confederação das
Associações Económicas de Moçambique (CTA), discutiu os “Desafios para o
Desenvolvimento dos Serviços de Transporte e Logística no Contexto da Emergência dos
Recursos Minerais e Hidrocarbonetos” tendo concluído que o transporte de carga não satisfaz
a demanda que tem vindo a aumentar nos últimos anos devido essencialmente ao surgimento
de projectos de exploração de recursos minerais, gás e petróleo devido a constrangimentos
de vária ordem, com destaque para a fraca transitabilidade das vias, quadro regulamentar
97
desajustado, burocracia e onerosidade dos serviços portuários assim como a existência de
operadores informais. 86
276.Para o CTA, o advento dos projectos de exploração de recursos minerais, gás e petróleo
colocam novos desafios, o que requer uma nova visão estratégica para lidar com eles. A
melhoria de políticas no sector dos transportes e comunicações assim como a melhoria no
ambiente de negócios (exemplo, a redução dos custos de transação) são factores
indispensáveis para o aproveitamento de tais oportunidades. Por outro lado, as análises sobre
a competitividade a luz da grande expansão de exploração de recursos naturais em
Moçambique colocam os custos de transportes como tendo contribuição significativa no preço
de venda do produto, o que coloca desafios em perceber como os custos relacionados com o
transporte se irão alterar como resultado da grande expansão de exploração de recursos
extractivos, visto que o impacto nas margens pode ser significativo87
277.Especialistas na área de desenvolvimento logísticos que intervieram na série de conferências
de reflexão sobre desafios do futuro de Moçambique denominadas “Mozefo 2015” realçam a
necessidade de se prestar muita atenção para o desenvolvimento das vias férreas tendo a
importância que tem para o desenvolvimento do país. Com muita inquietação, tais
especialistas constataram com agravo a inversão da pirâmide dos transportes de carga: há 40
anos 80% do transporte de carga pesada e passageiros era feita por via férrea quando na
actualidade a situação se inverteu de tal forma que parte significativa da carga pesada
(incluindo algum escoamento de minérios) ocorre por via rodoviária com implicações para a
quantidade de carga que se transporta e para a danificação prematura das estradas
reabilitadas ou construídas, situação que acarreta desafios recorrentes da manutenção destas
infraestruturas num contexto em que o país manifestamente não tem capacidade e recursos
financeiros para tal.
278.No que concerne ao aumento da cobertura das TICs o país registou progressos assinaláveis
em termos de expansão da rede de telefonia móvel para todos os distritos do país; expansão
dos pontos de acesso as comunicações com alcance da meta quinquenal planificada, dos 25
Centro Multimédias Comunitárias (CMC's) para construir; expansão da Rede Electrónica
do Governo para ligar novos distritos; criação de novos portais dos governos distritais
ligados a rede do governo electrónico.
279.Apesar desses progressos Moçambique está entre os países com baixo acesso as TICs e
com taxa de internet menos desenvolvida em África apesar de ter sido o terceiro país do
continente a aderir ao uso das TICs e ter ajudado alguns países da região a aceder a esse
domínio. Os dados dessa evolução lenta indicam que no país o número de utentes de internet
aumentou de 30.000 para 613.000 entre 2000 e 2011 (representando 2.7% de penetração
numa população estimada em 22.9 milhões), para 1.333.375 usuários a 31 de Dezembro de
2013 (5.4% de penetração na população) e para 1.467.687 usuários (5.9% de penetração na
população) a 30 de junho de 2014. Esta taxa de cobertura de penetração de internet está
muito aquém da média africana (26.5%) e muito abaixo dos países da região Austral de África
como Malawi (70.5%), Madagáscar (74.7%), África do Sul (51.5%), Angola (22.5%), Tanzânia
86
http://www.speed-program.com/wp-content/uploads/2013/12/2013-SPEED-Report-013-Competitiveness-and-GrowthImpact-of-Mozambique-s-Resource-Boom-PT.pdf acessado a 10 de Maio de 2015
87 Idem
98
(15.3%) e Zâmbia (15.8%) e que alguns deles (Malawi e Tanzânia) beneficiaram de apoio
(assistência técnica e formação) de Moçambique para acederem as TICs. 88
280.Face ao desafio do alargamento dos serviços financeiros as zonas menos favorecidas do
país, promovendo a captação de poupança para dinamizar o investimento, o país registou
avanços significativos ao aumentar o número de distritos cobertos pela rede de balcões de
bancos, banca móvel e outras formas de serviços financeiros de 51 distritos em 2009 a 69 em
2014. As províncias desfavorecidas que mais se beneficiaram foram as de Maputo (7),
Inhambane (9), Zambézia (8) e Nampula (8). Mesma evolução positiva foi registada na
promoção de serviços de micro finanças, ao expandir ao nível nacional o número de
operadores de micro finanças no país, de 200 licenciados em 2010 para cerca de 572 ao nível
nacional até meados do ano 2014, como ilustra a tabela abaixo.89
Tabela 5 – Cobertura de Rede de Instituições Financeiras – Distribuição por Província
Fonte: Balanço do Plano Quinquenal do Governo 2010/2014, p21
281.O acesso a terra para as populações rurais é uma questão cada vez mais preocupante e
constituí um desafio permanente para o país. O facto está indelevelmente relacionado com a
entrada massiva de investimentos nas áreas da indústria extrativa, mineração diversa,
exploração de carvão, prospecção e exploração de hidrocarbonetos e grandes projectos de
agro negócio que se estão a instalar particularmente nas zonas centro e norte do país.
282.O país tem feito progressos assinaláveis em tornar o direito de posse e uso da terra seguro,
através de iniciativas de delimitação de terras comunitárias bem como de facilitação e
flexibilização a obtenção do título de direito e uso da terra conforme prevê a lei de terras, mas
ainda não são vistas como suficientes. Tanto o investimento na área da indústria extractiva
como na agricultura comercial, o problema de acesso a terra está presente na medida em que
a implantação destes grandes investimentos exigem enormes quantidades de espaço o que
tem gerado uma pressão contínua sobre a disponibilidade de terras, originando
reassentamentos involuntários das pessoas e em contextos em que os seus direitos sociais e
económicos não são assegurados. Estes investimentos têm muito impacto sobre os meios de
vida das populações e a terra é um dos principais bens e fontes de rendimento.
88
89
Para mais detalhes veja http://www.internetworldstats.com/stats1.htm acessado em 17 Agosto de 2015.
GoM (2014) Balanço do Plano Quinquenal do Governo 2010-2014. Maputo, Novembro de 2014
99
283.Na área da mineração onde as populações têm que ceder a terra há evidências de que os
processos de reassentamento estão a ter lugar com alguns sobressaltos, numa situação
caracterizada pela pobreza, um crescimento económico rápido, uma capacidade reguladora
limitada e uma pressão intensa sobre a disponibilidade de terra. O exemplo de Tete onde as
populações foram reassentadas involuntariamente para ceder o lugar a mina de Benga mostra
que elas sofreram enormes desvantagens. As várias formas de desvantagem que as
populações em Tete enfrentaram, incluem: maior insegurança alimentar e de água (falta de
água suficiente para as necessidades diárias e ma qualidade do solo); perda de oportunidades
económicas (sem fontes de rendimento num contexto de ausência de economia local); custos
suportados pelas famílias reassentadas (custos de transporte, manutenção de seus meios de
vida e suas redes sociais); fractura da comunidade (perda do sentimento de pertença e
quebra dos padrões de intercâmbio social); incertezas e acesso limitado à informação (sobre
novas técnicas agrícolas e questões pendentes); deficiências nos processos de mitigação; e
recuperação num ambiente de fraca capacidade.
284.A nova realidade impediu ainda mais a habilidade das pessoas, no que toca ao sustento a si
próprias e as suas famílias. Este cenário é agravado porque o Estado e os actores
empresariais não prestam contas adequadamente sobre os riscos de reassentamento, e não
há um programa abrangente e transparente de monitoria e avaliação para assegurar que
estes actores prestem contas.90
285.O debate nacional sobre as implicações dos grandes investimentos está muito focalizado nas
implicações em termos impossibilidade de tirar benefícios dessas oportunidades como a
ausência de mão-de-obra local qualificada na medida em que muitos desses projectos só
precisam de grandes quantidades de força de trabalho na fase de implantação, mão-de-obra
essa que é despedida em massa no início da fase de operação, mantendo os qualificados
nestas áreas que são normalmente estrangeiros e não locais. É, pois urgente e relevante que
o debate sobre estas implicações e as medidas as ser tomadas venham para a agenda
governativa actual de forma efectiva.
286.Para, além disso, como sugere a experiência, há necessidade de assegurar que os processos
de monitoria e supervisão ocorram; que haja uma avaliação dos riscos e divulgação pública
dos estudos relevantes; que verifique a disponibilidade e adequação de terra para
reassentamento, antes da emissão das licenças; que se apoiem os grupos da sociedade civil
para obter acesso à informação sobre os projectos de investimento; trabalhar com os
promotores de desenvolvimento para melhorar as actividades de compensação. Em outras
palavras, há que equilibrar o desenvolvimento e direitos humanos garantindo que os
imperativos de desenvolvimento nacional não venham à custa dos direitos e interesses das
populações locais.91
287.Finalmente há que realçar que ambas as situações mencionadas anteriormente –
investimentos na mineração e agricultura – se não monitoradas, tem o potencial de fragmentar
o tecido social, gerar frustrações e potencialidades de conflitos entre nacionais e estrangeiros,
entre “donos” da terra e investidores bem como entre “nacionais locais” e “nacionais vientes”
nesses locais, podendo até culminar no surgimento de focos de antagonismos e
recalcamentos incluindo comportamentos de xenofobia, etnicismo, racismo em relação aos
“estranhos”, não locais que passam a ser rejeitados, negados e culpabilizados de chegar e se
aproveitar da riqueza dos outros.
90
Lillywhite, S., Kemp, D. and Sturman, K., (2015). Mining, Resettlement and Lost Livelihoods: Listening to the Voices of
Resettled Communities in Mualadzi, Mozambique. Oxfam: Melbourne.
91 idem
100
288.Por outro lado, existe o potencial de conflito entre as pessoas e o Estado e/ou instituições que
o representam. A cada dia as pessoas estão aprendendo que os protestos públicos podem
trazer mudanças onde outros processos falharam, e existem tensões emergentes entre as
duas partes, sobre questões ligadas a gestão de expectativas e incertezas. Estas questões
precisam de monitoria cuidadosa e podem precisar de intervenção estratégica, antes das
tensões se agravarem.
289.Os desenvolvimentos actuais em volta do Programa Prosavana promovido pelos Governos de
Moçambique, Brasil e Japão; iniciativa que irá ocupar uma área de 14.5 milhões de hectares
de terra, em 19 distritos das Províncias de Niassa, Nampula e Zambézia constitui um exemplo
evidente. Os debates em volta da iniciativa denotam que ainda não existe clareza sobre os
benefícios para a população, o que faz com parte da sociedade civil do país encarre o
investimento com desconfiança e apreensão. Além desta iniciativa, investimentos na área de
agro negócio, projectos de produção de soja e de reflorestamento já existentes a norte de
Moçambique pertencente a investidores estrangeiros tem levantado preocupações do lado
das comunidades rurais que receiam perder a terra. Estes desenvolvimentos, em maior ou
menor escala, apresentam desafios às comunidades locais e aos governos, pelo potencial de
criar conflitos sérios e agitação persistente ligada a questões sociais, resultantes do
descontentamento das populações locais.92
290.Decisores políticos de Moçambique e Investidores internacionais devem selecionar e
implementar um conjunto claro e inequívoco de medidas que possa equilibrar as
necessidades de investimento com as necessidades sociais bem como os direitos
constitucionais e os anseios dos cidadãos do país.93 Nesse sentido, o investimento tem de
ser uma oportunidade com dois objetivos: manter a segurança de posse da terra pelas
comunidades e assegurar que os benefícios que o investimento traz são aproveitados pelas
mesmas.
291.Para além da necessidade de se aprimorar a legislação sobre a terra em Moçambique, devido
à dinâmica e aos contextos de mudanças, perante a maior procura de investimento e os
interesses entre investidores e comunidades há que debater-se igualmente o regime actual de
gestão de terra em Moçambique. A medida que o país se desenvolve questões relativas ao
regime de propriedade da terra assumem uma crescente importância social e política.
Oficialmente a terra é propriedade do Estado e não se vende, mas a prática tem demonstrado
que devido a distorções que foram ocorrendo ao longo do tempo, o regime de gestão e
propriedade da terra está mudando, desenvolvendo-se tanto nas zonas rurais como urbanas
um verdadeiro mercado de terras, facto que merece uma reflexão.
UNAC & GRAIN (2015) Os Usurpadores de Terras no Corredor de Nacala. Uma nova era de luta contra plantações
coloniais no Norte de Moçambique. Maputo. Fevereiro de 2015. https://www.grain.org/article/entries/5136-os-usurpadoresde-terras-do-corredor-de-nacala acesso a 16 de julho de 2015
93 Vines Alex; Thompson, Henry; Jensen, Soren Kirken and Azevedo-Harman, Elisabete (2015) Mozambique to 2018.
Managers, Mediators and Magnates. Chantam House Report. London: The Royal Institute of International Affairs, June
2015
92
101
Objectivo 5: Fazer progressos no que concerne à Igualdade do Género em todas as áreas
críticas, incluindo o acesso Igual à educação para todas as raparigas em
todos os níveis.

O Painel de Personalidades Eminente recomendou que Moçambique: (i) acelere e intensifique
a implementação de estratégias para reter a rapariga no ensino primário e secundário, as
encoraje a fazer formação vocacional como um instrumento estratégico para o
empoderamento das mulheres moçambicanas; (ii) acelere a promulgação da lei da Violência
Doméstica, que trata da violência baseada no género; (iii) desenvolva um programa a nível
nacional para dar formação às agências que aplicam a lei, assim como as comunidades sobre
questões de violência baseada no género; (iv) acelere a implementação do Plano Nacional
para o Avanço da Mulher e orçamentação sensível ao género; (v) reforce o papel efectivo da
participação das mulheres a nível local através de programas de formação que reforcem as
capcaidades de liderança das mulheres, confiança, advocacia e auto-estima; (vi) desenvolva
indicadores de monitoria do género para avaliar o progresso na integração do género e
orçamentação sensível ao género; e, (vii) acelere a implementação planos nacionais
desenvolvidos para pessoas vulneráveis melhorando os recursos afectados para o bem-estar
social.
292.Na prossecução deste objectivo, entre 2011 e 2012 Moçambique registou avanços em áreas
específicas como: definição de incentivos para a retenção da rapariga na escola através do
desenvolvimento da Estratégia de Retenção da Rapariga na Escola; combate a violência
doméstica (disseminação e implementação da legislação); reforço de capacidades de
liderança das mulheres; inclusão de aspectos de género em curricula de formação de agentes
de lei e ordem; participação da mulher na vida pública e esferas de decisão.
293.Desafios foram identificados no que concerne ao envolvimento das comunidades para fazer
face as práticas culturais que servem de barreira para a permanência da rapariga na escola
(casamentos prematuros, gravidezes precoces, falta de acompanhamento dos pais e
participação de líderes comunitários); contínua elevação da mulher no espaço público e esfera
de decisão a nível rural e; materialização efectiva da integração de assuntos de géneros nos
planos e sua orçamentação com sensibilidade ao género.
294.Moçambique registou avanços na escolarização das raparigas, mas permanece o desafio da
retenção da rapariga no ensino associado a práticas culturais que continuam a ser
identificadas com principais barreiras. Em 2013 o país iniciou a implementação do Plano
Estratégico da Educação (2012/2016) referido no objectivo 2 e este tem o acesso associado a
retenção como a sua primeira estratégia principal. As ações prioritárias implementadas entre
2013 e 2014 focalizaram estratégias para: encorajar o ingresso e retenção das raparigas nas
escolas; proteção de abusos sexuais, particularmente nos internatos; consciencialização
sobre a importância de educar a rapariga entre pais e membros da comunidade; promoção do
recrutamento de professoras; implementação de programas virados para a participação e
retenção dos alunos na idade certa incluindo o programa piloto na área de educação préescolar em 5 províncias (cobrindo 150 comunidades); expansão progressiva do Programa
Nacional de Alimentação Escolar com maior enfoque para as zonas rurais semi-áridas
(abrangendo 521 escolas); e continuar a criar incentivos para a retenção da rapariga no
102
ensino secundário geral através de sistema de isenção de propinas no ESG em particular as
raparigas desfavorecidas residentes nas zonas rurais.94
295.Para fazer face às práticas culturais que servem de barreira para a permanência da rapariga
na escola, o país investiu no envolvimento da comunidade na retenção da rapariga na escola
atacando as barreiras que raparigas enfrentam para concluir a escolarização em Moçambique.
O sistema de educação em parceria com OSC lançou uma campanha nacional contra a
violência contra a rapariga na escola incluindo integração de estratégias programáticas
especificas para combater a violência a nível nacional. Para, além disso, foram empoderadas
as raparigas para desfrutarem do direito a educação e participação num ambiente livre a
violência; sensibilização de pais, comunidades para reconheceram o valor da educação das
raparigas e proteger seus direitos em casa, na escola e comunidade; reforço das estruturas
comunitárias para promover apoio a longo prazo para a educação das raparigas e;
capacitação das raparigas para ação. 95
296.Os resultados demonstrados indicam aumento dos índices da matrícula, retenção na escola e
paridade de género. A taxa líquida da escolarização da rapariga teve uma evolução positiva
nos últimos 4 anos e mais especificamente entre 2013 e 2014 onde evoluiu de 77.4% a 80%
ultrapassando a meta do quinquénio estabelecida (73%).96 Contudo, a retenção persiste
sobretudo no ensino primário até a 7ª classe.
297.São desafios associados a retenção: i) entrada tardia que conduz a desistências; ii) altas
taxas de desistências anuais e inter-anuais na 5ª e 7ª classe (principalmente no centro e
norte); iii) a pobreza associada aos custos directos e indirectos para as famílias (despesas
com aquisição de cadernos, lápis, vestuário, etc., versus custos de oportunidade) mesmo
quando a educação é gratuita; iv) papéis de género (tarefas domesticas, tomar conta dos
irmãos); v) questões relacionadas com a sexualidade e a violência de género (gravidez e
casamento prematuro) e vi) acrescentado assédio sexual, maus tratos e castigos na escola. 97
298.As recentes constatações da análise sobre a situação das crianças em Moçambique reforçam
esses desafios. De acordo com o relatório do UNICEF, apesar de alguma melhoria nos
últimos anos, deficiências de conhecimento, atitudes e práticas, enraizadas nas tradições
culturais e em relações de género desiguais, são outros factores chave que influenciam o
bem-estar das crianças e permanência na escola. O documento chama a atenção para a
influência contínua de instituições e líderes tradicionais ao nível comunitário no que diz
respeito a formação de atitudes e práticas e realça o papel que os ritos de iniciação,
especialmente para as raparigas adolescentes no Norte e no Centro do país, desempenham
na formação das expectativas das raparigas relativamente ao seu papel na sociedade e na
formação das práticas reprodutivas.
299.Ressalta ainda que uma das consequências mais sérias continua a ser a elevada incidência
de casamento prematuro de raparigas, que contribui, por sua vez, para o início precoce da
actividade sexual e, conseqüentemente, para o enorme problema da gravidez na
94
GoM (2015) Balanço do Plano Económico e Social 2014. Maputo, Fevereiro 2015
(2013) Fim a Violencia Contra a Rapariga na Escola. Histórias de Sucesso, Setembro de 2013
GoM (2014) Balanço do Plano Quinquenal do Governo 2010-2014, Novembro de 2014
97 ActionAID (2013) Fim a Violência Contra a Rapariga na Escola. Histórias de Sucesso, Setembro de 2013
95 ActionAID
96
103
adolescência, com os seus efeitos devastadores na mortalidade em menores de 5 anos e
materna.98
300.Em relação ao estágio da implementação da lei da Violência Doméstica, que trata da violência
baseada no género, Moçambique vem registando progressos na implementação da Lei Sobre
a Violência Doméstica, mas com progressos mistos. Há cada vez mais consciencialização no
país e em diferentes extratos sociais sobre os direitos das mulheres; as próprias mulheres têm
conhecimento da lei e têm se socorrido dela para resolver diferentes eventos de violência
doméstica em que são vítimas; a nível político a violência doméstica de forma gradual começa
a fazer parte da agenda programática.
301.Para examinar o processo de implementação da lei, o país realizou a Conferencia Nacional
sobre a Violência de Género entre dos dias 28 e 29 de Novembro de 2012 juntando vários
profissionais que, em diversas instâncias, intervêm na resolução de casos de violência de
género, com objectivo reflectir sobre as condições de aplicação da Lei da Violência Doméstica
praticada Contra a Mulher (Lei nº 29/2009) avaliando os principais obstáculos na
implementação da lei e sugerir algumas formas de ultrapassá-los.
302.A reflexão identificou os seguintes constrangimentos institucionais, sociais e culturais que
interferem até na actualidade na aplicação da lei, nomeadamente: (i) a não efectiva
organização e preparação das instituições (Gabinetes de Atendimento a Mulheres e Crianças)
para fazer face aos procedimentos processuais, atendimento e assistência às vítimas de
violência doméstica, conforme a lei; (ii) a demora na resolução dos casos, agravando o
sofrimento da vítima ou obrigando-a a uma reconciliação não desejada; (iii) a não aplicação de
medidas cautelares em tempo útil e a ausência de serviços de apoio a vítima, acolhimento e
assistência psicossocial, o que leva as desistências; (iv) a demora na emissão dos relatórios
médico-legais, contrariando o princípio segundo o qual a violência doméstica é um caso de
urgência médica; (v) a falta de espaços físicos apropriados, para o atendimento personalizado
às vítimas de violência nas subunidades policiais; (vi) a não comparência da vítima e do
agressor, junto ao Ministério público; (vii) as vítimas que procuram as Unidades Sanitárias,
antes de irem à Polícia, raras vezes apresentam a queixa, mesmo quando aconselhadas pelo
profissional de saúde; (viii) constrangimentos sociais (a aceitação social de comportamentos
ilícitos pela comunidade, motivando a existência de casos de violência doméstica não
denunciados, o que dificulta a censura jurídica dessa conduta); (ix) constrangimentos culturais
(valores, hábitos e práticas que existem na sociedade moçambicana para além de práticas
obscurantistas); (x) fragilidades e dificuldades na recolha da prova associada a demora na
apresentação da queixa ou pela não existência de serviços de medicina legal; e (xi) a pouca
coordenação entre as principais instituições a todos níveis e a nível central.
303.Para uma efectiva implementação da Lei foi recomendada a necessidade de: (i) conceber um
modelo uniforme de controlo dos casos de violência doméstica, desde a denúncia até ao fim
do processo, com vista a evitar a disparidade de dados estatísticos, pois os casos que
chegam ao fim com punição, ou seja, o GAMC e as ONGs, não têm informação sobre o
desfecho dos casos encaminhados ao Ministério Público e ou ao Tribunal (como já previsto no
Mecanismo Multissectorial de Atendimento integrado à Mulher Vítima de Violência aprovado
em 2012); (ii) melhorar a elaboração dos autos de denúncia, que devem trazer elementos que
ajudam no esclarecimento dos factos apresentados; (iii) imprimir maior celeridade processual,
UNICEF (2014) Situação das Crianças em Moçambique 2014. Maputo: UNICEF Moçambique 2014 acedido em
http://sitan.unicef.org.mz/ aos 15 de Agosto de 2015
98
104
cumprindo-se com o carácter urgente na resolução dos casos de violência, de acordo com a
complexidade de cada tipo legal do crime previsto e punido na lei; (iv) definir mecanismos de
responsabilidade do Estado no apoio social e psicológico da vítima; (v) melhorar a forma de
elaboração do relatório dos Serviços de Medicina Legal; (vi) criar Centros Transitórios para
acolhimento das Vítimas de Violência Doméstica; (vii) estender a divulgação da lei nas
localidades, povoações e noutros aglomerados populacionais; e (viii) sublinhou-se a
necessidade de reforço da colaboração intersectorial e harmonização dos instrumentos de
trabalho, centrados na pessoa atingida por violência.
304.Sobre a elevação do estatuto da mulher e a implementação do Plano Nacional para o Avanço
da Mulher, Moçambique está implementado o seu 3° Plano Nacional para o Avanço da
Mulher, nos últimos dois anos foi continuada a construção de 6 Centros de Promoção da
Mulher (passando a ser 9) destinados a capacitação das mulheres em várias áreas e como
forma de facilitar o maior envolvimento da mulher nos domínios económico, político e social.
Os resultados dos dois últimos anos contribuíram para que o país tenha criado e
operacionalizado até finais de 2014, 128 Conselhos Distritais para o Avanço da Mulher que
estimular e acompanham a implementação de políticas e programas do Governo relativos a
mulher e género.
305.De referir-se que no biénio 2012 e 2014 foram realizadas Conferências Nacionais sobre
Mulher e Gênero, que são fóruns de discussão de assuntos sobre a Mulher e Gênero, bem
como a partilha dos progressos alcançados no combate à violência contra a mulher e a
rapariga, no empoderamento da Mulher e as principais questões que constragem a inserção
da Mulher e medidadas a serem implementadas.
306.No que concerne ao reforço das capacidades das mulheres, o país através do seu sector da
mulher e acção social continuou implementando intervenções seguindo a abordagem de apoio
de várias formas a associações de mulheres, tendo beneficiando cerca de 430 organizações
entre 2010 e 2014. As actividades das associações estiveram focalizadas no desenvolvimento
de actividades de geração de rendimentos com vista ao empoderamento económico da
mulher. Contudo, falta informação sobre o impacto que estas iniciativas de geração de
rendimento têm para elevação do estatuto e autonomia económica da mulher. Há igualmente
reconhecimento de progressos na integração das mulheres em fóruns de decisão e consulta
nível local, e outros que são compostos maioritariamente por mulheres, o que constitui um
bom sinal do seu sentimento de propriedade dos projectos bem como de participação nos
órgãos de tomada de decisão e consequentemente de empoderamento.
307.No que diz respeito ao desafio da integração de assuntos de género e orçamentação sensível
ao género, o sector do Governo responsável pela matéria desenvolveu indicadores, contudo a
materialização efectiva da integração dos assuntos de género nos planos e orçamentos não
tem tido avanços na qualidade desejada. Há informação de ações de capacitação de
mulheres em matéria de liderança, planificação e orçamentação na óptica de género que
cobriram 3.622 novas mulheres no último quinquénio mas sem evidências de integração
dentro do ciclo regular de planificação e implementação.
308.De certo modo, este investimento contribuiu para que pessoas e organizações
desenvolvessem a sua competência para fazer advocacia nas etapas principais de
planificação mas persiste o desafio de uma planificação e orçamentação verdadeiramente
integrada, incorporando assuntos e temáticas relacionadas com gênero no quotidiano das
intervenções.
105
Objectivo 6: Encorajar a Participação Ampla no Desenvolvimento de todos os
Intervenientes a Todos os Níveis.

O Painel de Personalidades Eminente recomendou que Moçambique: (i) inicie com programas
de capacitação para as comunidades locais e Organizações da Sociedade Civil para que
sejam capazes de participar de forma efectiva nos processos de planificação, implementação
e monitoria e avaliação, para uma melhor prestação de serviços; (ii) assegure a representação
e participação de todos os grupos nos processos de desenvolvimento; (iii) reforce o papel do
Observatório de Desenvolvimento para garantir que as opiniões dos cidadãos são tratadas de
forma adequada e que é dado o devido retorno; (iv) reforce a disseminação de informação e
sensibilização sobre as leis que promovem uma participação mais ampla.
309.O Relatório de Progresso do MARP 2011 e 2012 destacou desenvolvimentos limitados no
alcance deste objectivo. O país registou alguns avanços no alargamento da participação da
sociedade no debate relativo a implementaçao de políticas públicas, sobretudo no meio
urbano, manifesto pela participaçao em foruns de consultas sobre assuntos de interesse
especifico na área de desenvolvimento como os Observatórios de Desenvolvimento.
310.Os parcos resultados obtidos relacionam-se com desafios associados a fraca implementação
de programas de capacitação de OSC para monitorar implementação e prestação de serviços;
pouca representatividade dos diferentes grupos e pouco alargamento de espaços de
participação nas zonas rurais; fraca absorção dos diferentes pontos de vista nos fóruns de
consulta e participação; fraca capacidade técnica e financeira das OSC a nível distrital e
provincial e; existência de poucas initiciativas de consciencialização dos cidadãos em relação
aos seus direitos e necessidade de seu engajamento cidadão.
311.No que concerne ao desafio alargamento da participação do cidadão é de realçar que o país
tem feito progressos para tal. A participação do cidadão no desenvolvimento tem sido feita
através de actores não estatais através de fóruns de participação e auscultação criados e
institucionalizados como são os casos de observatórios de Desenvolvimento que intervêm a
nível central, provincial e distrital. Os Observatórios de Desenvolvimento (OD) é um fórum
consultivo e participativo entre o Governo a diferentes níveis e seus parceiros nacionais e
Internacionais para a promoção do desenvolvimento sócio-económico sustentável, no que
concernente à planificação, execução, monitoria e avaliação dos instrumentos de planificação.
312.Estes são vistos como espaços privilegiados de interacção e diálogo aberto entre o Governo,
as Organizações da Sociedade Civil e os parceiros visando a partilha de experiências. Suas
sessões ocorrem periodicamente e consituem o momento ímpar de partipação activa de todos
os actores de desenvolvimento, na busca de caminhos para a melhoria contínua da eficácia
dos processos de planificação, orçamentação e monitoria dos instrumentos de governação.
Normalmente a sociedade civil apresenta documento de posicao e contribuicao em que este
reflete as preocupações da população em relação ao desempenho dos sectores prioritários
refletidos nos objectivos e pilares do PARP.
313.Para além os Observatórios de Desenvolvimento que se desdobram a nível provincial e
distrital existem outras instâncias de participação do cidadão no processo de desenvolvimento
que são as plataformas de organizações da sociedade civil que servem de instâncias de
106
coordenação das suas actividades, de representação de umas para com as outras, trocas de
experiências e boas práticas de intervenção, partilha de resultados para fortificar interesses
das OSC. Este processo de alargamento da participação do cidadão tem sido catalisado pelo
processo de descentralização no sistema de governação iniciados nos anos 90’s e que visa
aproximar o Estado, suas instituições e seus serviços ao cidadão no nível local, bem como
criar espaços para sua participação através da criação e funcionamento de conselhos
consultivos que se desdobram nos diferentes níveis locais (distrito, posto administrativo e
localidade). No entanto, apesar dos Observatórios de Desenvolvimento constituir a plataforma
formal de participação o seu desempenho tem sido criticado pelo fato de a qualidade da
participação e intervenção não ser adequada (influenciada por dinâmicas de inclusão e
exclusão nas organizações da sociedade civil); pela fraca qualidade das propostas das OSC;
e pelo carácter não vinculativo das suas deliberações, o que demonstra a necessidade de se
aprimorar o formato da sua organização e funcionamento a todos níveis.
314.Em referência ao desafio de existência de poucas iniciativas de consciencialização e
promoção de engajamento da sociedade/cidadão na monitoria de serviços e facilitação do
desenvolvimento associada à fraca capacidade de organizações da sociedade civil, o país
regista alguns progressos, na medida em que nos últimos anos Moçambique, através de
fundos de parceiros, é palco de implementação de duas grandes iniciativas pro-sociedade civil
– o Mecanismo de Apoio a Sociedade Civil (MASC) e o Programa de Acções para uma
Governação Inclusiva e Responsável (AGIR) que combinam abordagens desenvolvimentistas
baseadas na articulação de três dimensões: governação democrática, direitos humanos e
participação com reponsabilizacao dos cidadãos.
315.O Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (MASC) é um projecto financiado pelo
Departamento Britânico para o Desenvolvimento Internacional (DFID), Cooperação Irlandesa
(Irish Aids) e Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que trabalha
com vista a melhorar a governação e prestação de contas aos cidadãos moçambicanos,
através do fortalecimento e diversificação do engajamento das Organizações da Sociedade
Civil (OSC) moçambicanas na monitoria e advocacia sobre a governação. O MASC apoia as
OSC para: i) desenvolver e aplicar conhecimentos na monitoria e advocacia em matéria de
governação; (ii) fortalecer capacidade organizacional e governação interna; (iii) terem acesso
a informação, contactos e oportunidades de aprender das experiências das outras OSC.
316.As análises sobre o Fortalecimento das capacidades das organizações da sociedade civil tem
demonstrado que o apoio em desenvolvimento de capacidades oferecido pelo MASC está de
um modo geral, a contribuir para: i) Melhoria da capacidade organizacional e da governação
interna; ii) Melhor entendimento das OSCs de instrumentos de monitoria e advocacia da
governação e início de diálogo com os governos locais; iii) Aumento do número de OSCs
envolvidas na acção de monitoria e advocacia da governação; iv) Melhoria da qualidade de
intervenção das OSCs na monitoria da governação e despertar da necessidade de actuação
em rede; v)Melhoria da ligação e confiança das comunidades em relação às OSCs; vi)
Exploração das Tecnologias de Informação e Comunicação e Uso dos Media para fazer
advocacia; vii) Maior participação das OSCs em fóruns de tomada de decisão e no
desenvolvimento de diálogo com as autoridades locais e governamentais; viii) Aumento da
sensibilidade das autoridades governamentais em relação às questões apresentadas pelas
OSCs; ix) Melhoria na prestação de serviços por parte dos servidores públicos e do Governo a
vários níveis.99
99
MASC (2014) Relatório Anual 2013. Maputo: MASC/AustralCowi
107
317.O programa AGIR na sua primeira fase foi um programa de cinco anos (2010-2014) financiado
por três doadores: Suécia, Dinamarca e Holanda. O programa tem acordos com quatro
organizações internacionais intermediárias, que têm parceria com 58 organizações da
sociedade civil (OSC) a nível nacional e local. O programa tem como objectivo geral: “uma
cidadania activa e forte, uma sociedade civil vibrante que participa e influencia os processos
democráticos, contribuindo para uma governação mais responsável, aprofundamento da
democracia, igualdade de género e direitos humanos em Moçambique”. A iniciativa era
constituída por subprogramas que cobrem: i) participação, responsabilização social e legal,
incluindo a monitoria do respeito pelos direitos humanos; ii) responsabilização social na
gestão dos recursos naturais e os direitos de terra das comunidades; iii) transparência e
responsabilização financeira e política; e iv) promoção do acesso à informação.
318.O programa apoiava as OSC locais que trabalhavam para: (i) fortalecer a participação pública
em processos de desenvolvimento; (ii) promover o acesso a informação; (iii) solicitar
prestação de contas ao governo; (iv) combater a corrupção; (v) monitorar políticas
governamentais; e (vi) promover o respeito dos direitos humanos, incluindo a igualdade de
género e direitos das crianças
319.A avaliação da sua primeira fase demonstrou que o programa foi relevante e providencia um
apoio necessário à sociedade civil moçambicana; que capacita as OSCs a advogar por
direitos, estado de direito, responsabilização e transparência; que com o AGIR, a sociedade
civil fortaleceu o seu papel como portadora das reivindicações colectivas sobre direitos
específicos e responsabilização dos portadores de deveres; que as organizações parceiras
foram capazes de apresentar reivindicações com base em evidências, combinando esforços
das organizações mais orientadas à pesquisa com as de uma orientação mais activista. A
avaliação constatou que os programas temáticos alcançaram muitos resultados ao nível dos
produtos (outputs) e que existem mudanças visíveis no comportamento dos portadores de
deveres, na própria sociedade civil e até certo ponto ao nível dos detentores de direitos. Estas
mudanças, na maioria dos casos, representam resultados intermédios. 100
320.Para além das iniciativas governamentais, nos últimos anos o país tem verificado a
implementação de iniciativas das organizações da sociedade civil (OSC) no contexto da
monitoria da qualidade dos serviços de educação e saúde. Neste contexto, um consórcio de
organizações da sociedade civil implementa no país desde 2012 e por um período de 5 anos o
programa “Cidadania e Participação – CEP” com a finalidade de elevar o engajamento do
cidadão na melhoria da qualidade dos serviços de saúde e de educação e contribuir no uso
eficiente dos recursos existentes no país.
321.A iniciativa vai centrar-se em acções conducentes a promoção do engajamento do cidadão e
OSC na prestação de serviços do sector de saúde e da educação (aos níveis primário e
secundário, em quatro províncias do país, nomeadamente Gaza, Nampula, Manica e
Zambézia) através de: (1) informação e capacitação dos cidadãos e organizações da
sociedade civil dos Distritos selecionados para que conheçam e possam exigir seus direitos à
saúde e à educação; (2) realização da monitoria da qualidade de serviços de saúde e
Holmberg , Annica; Macuane, José Jaime & Salimo, Padil (2014) Evaluation of thematic results achieved and
demonstrated within the Programa de Acções para uma Governação Inclusiva e Responsável – AGIR. Final
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108
educação prestados e engajamento com os provedores de serviços ao nível das unidades
para solução de problemas identificados; (3) advocacia junto aos provedores de serviços e
Governo nos níveis distrital, provincial e nacional para melhorar a prestação de serviços e
melhorar as políticas associadas.
322.Nesta área de alargamento da participação do cidadão no desenvolvimento os seguintes
desafios foram identificados: i) fraqueza técnica e organizacional das organizações de nível
distrital e local; ii) dificuldades das organizações da sociedade civil em se reunir regularmente;
iii) tendências de intimidação dos membros das OSC; iv) politização e instrumentalização dos
espaços e oportunidades reservados para o engajamento e participação do cidadão; vii)
capacidade em agir em rede por parte das organizações da sociedade civil.
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