A intervenção da arteterapia no resgate do feminino essencial

Transcrição

A intervenção da arteterapia no resgate do feminino essencial
UCB – Universidade Castelo Branco
INPG – Instituto Nacional de Pós-Graduação
Alquimy Art
Curso de Especialização em Arteterapia
Pós-Graduação lato sensu
A INTERVENÇÃO DA ARTETERAPIA
NO RESGATE DO FEMININO ESSENCIAL
Alessandra Noveletto Trapp
Joinville - SC
11
2007
ALESSANDRA NOVELETTO TRAPP
A INTERVENÇÃO DA ARTETERAPIA
NO RESGATE DO FEMININO ESSENCIAL
Monografia apresentada à UCB –
Universidade Castelo Branco, Convênio / INPG –
Instituto Nacional de Pós-Graduação e Parceria /
Alquimy Art, SP, como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Especialista em Arteterapia.
Orientador: Profa. Dra. Cristina Dias
Alessandrini
Joinville, SC
2007
12
TRAPP, Alessandra Noveletto
A intervenção da arteterapia no resgate do feminino essencial/
Alessandra Noveletto Trapp – Joinville; [s.n.], 2007.
41p.
Monografia (Especialização em Arteterapia) – UCB –
Universidade Castelo Branco, Convênio / INPG – Instituto Nacional de PósGraduação e Parceria / Alquimy Art, SP.
1. Arte terapia
2. Feminino
13
UCB – Universidade Castelo Branco
INPG – Instituto Nacional de Pós-Graduação
Alquimy Art
A INTERVENÇÃO DA ARTETERAPIA
NO RESGATE DO FEMININO ESSENCIAL
Monografia apresentada pela aluna Alessandra Noveletto Trapp ao curso de
Especialização em Arteterapia em 16/06/2007 e recebendo a avaliação da Banca
Examinadora constituída pelos professores:
__________________________________________________________
Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini, , Orientador
__________________________________________________________
Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Coordenadora da Especialização
__________________________________________________________
Prof. Esp. Danielle Bittencourt de Souza, Convidado
14
Agradecimentos
Agradeço à vida, e a tudo o que ela comporta, nesta rica e empreendedora
busca de ser si mesmo.
Às Deusas e a Deus, que me fizeram observar e apreender o quão rico é o
universo feminino e o quão maravilhoso foi me aprofundar nele.
Ao meu marido Giovani e à minha filha Giovanna, que me desafiam e me
instigam a crescer, construir, brincar, partilhar, amadurecer e sobretudo amar.
À minha família e amigos que são parceiros constantes nesta minha
caminhada, mesmo por vezes não entendo muito bem os motivos de minhas
escolhas.
Às minhas queridas amigas Silvia e Claudinéia que ousaram e acreditaram na
possibilidade de trazer este maravilhoso curso para nós joinvillenses.
Às minhas parceiras e amigas de estágio Andréia e Janine, as quais
compartilharam comigo do meu crescimento enquanto arteterapeuta, e que sempre
pude contar em todos os momentos, não só na construção do nosso saber, mas
também extra-estágio, permeando entre nós sobretudo o respeito o companheirismo
e a amizade.
Ao meu querido e especialíssimo grupo de estudo, sem o qual o aprendizado
não seria completo, não só o acadêmico, mas sobretudo o pessoal, aprendi e curti
muito com cada uma de vocês.
A Cristina, coordenadora do Alquimy Art, professora e orientadora, que nos
estimula e impulsiona a darmos saltos qualitativos na nossa vida, que soube acolher
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as nossas dúvidas e inquietações diante do novo e nos fortaleceu enquanto
arteterapeutas.
Aos queridos professores que possibilitaram com os seus ensinamentos, um
resgate não só de mim mesma, mas tornando-me uma profissional mais integrada
com a minha verdadeira essência.
Ao Consulado da Mulher que permitiu a realização do estágio, fornecendo
espaço físico e materiais apropriados para o perfeito andamento das oficinas do
Encontrarte.
As muitas e maravilhosas mulheres que participaram das oficinas do
Encontrarte, as quais compartilharam conosco esse caminho de encontro com a
arteterapia e consigo mesmas, e que fizeram parte da nossa história.
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RESUMO
Esta pesquisa estuda a psicologia do feminino através dos arquétipos de Deusa –
Mãe e outras deusas. Considera conceitos junguianos como Anima e Animus na
fundamentação e compreensão do estudo teórico, bem como posteriormente na
abordagem e aplicação prática. Reflete sobre as questões do feminino sob a
influência do patriarcado ainda hoje, e como acontece o resgate e a valorização
deste princípio. Descreve uma intervenção da arteterapia no projeto Encontrarte,
através das Oficinas Criativas, com grupo de mulheres (5 grupos de 10 mulheres
com idade entre 21 e 67 anos). Analisa através de diferentes atividades artísticas
como, argila, grafismo, histórias e personagens e outros recursos, o nível de
compreensão do princípio feminino para estes grupos. O resultado aponta para a
falta de conscientização e integração do princípio feminino no dia a dia destes
sujeitos. Conclui que o contato com a arteterapia auxilia significativamente no
reencontro da verdadeira natureza feminina, no processo de individuação da mulher.
Palavras-chave: Arteterapia – Feminino.
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ABSTRACT
This research studies the feminine Psychology through the archetypes of GoddessMother and others Goddess, rooted in Jung‟s concepts. It considers the concepts as
„anima‟ and „animus‟ in the theoretical basis as well as further on the approach and
practice. It reflects upon female understandings under the patriarch influence still in
effect nowadays and how the rescue and the valorization of this principle occur. It is
reported an art therapeutic intervention in a project called Encontrarte, with a group
of women (5 groups with women ranging from 21 to 67 years old). It analyzes
through different activities as: clay, drawing, stories and characters, the
comprehension level of this feminine principle. The final results point to the lack of
understanding and the integration of this principle in the day by day of these
individuals. It concludes that the contact with Art Therapy is an important help to find
again the very female nature in the process of individuation of the women.
Key words: Art Therapy – Feminine.
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SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................................................ 07
ABSTRACT.................................................................................................................... 08
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 10
2. JUNG, ANIMA E ANIMUS.......................................................................................... 15
3. O SAGRADO FEMININO – A DEUSA....................................................................... 20
3.1 OS PRINCIPAIS TIPOS DE DEUSAS................................................................. 26
3.2 O FEMININO NA NOSSA ÉPOCA...................................................................... 27
4. DESCRIÇÃO DE PESQUISA.................................................................................... 29
4.1 ESTUDO DE CASO............................................................................................ 32
4.2 RESULTADOS – NIVEIS DE RELAÇAO............................................................ 36
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.............................................................................. 40
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1 - INTRODUÇÃO
O início do processo de desenvolvimento profissional foi envolvido de
insegurança, indecisão e de certa forma pressionada pelo meio familiar. No ápice da
adolescência ou início da juventude, há uma expectativa de que você saiba de forma
clara e segura o que fazer da sua vida profissional. E, que você faça principalmente
a escolha certa. Certa para os outros, conforme a expectativa deles, de forma sutil,
porém deixando claro qual profissão apreciariam mais.
Nesta época, particularmente, encontrava-me como quem fica parado frente a
uma bifurcação, não sabendo qual caminho seguir; após uma experiência com o
mundo das artes, especificamente o teatro, meu modo de pensar e agir havia
mudado de forma qualitativamente melhor, havia neste momento mais significado.
Marilyn Ferguson (2006, p. 67) enuncia que,
Tendo experimentado uma modificação positiva em suas próprias
vidas – mais liberdade, sentimento de afinidade e de unidade, mais
criatividade, maior capacidade de lidar com o estresse, uma noção
de sentido de vida, então você irá acreditar no processo de
mudança não somente a sua, mas que as outras pessoas também
podem mudar.
Embora, naquele momento estivesse vivenciando algo novo e majorante,
senti-me impelida a realizar o desejo do outro, e escolhi uma estrada a qual
realmente não tinha a menor idéia, ou melhor, consciência desta escolha.
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Porém, já no ensino superior, me envolvi com a vida acadêmica, não de
imediato, mas, comecei a me interessar e estar motivada pelo curso no terceiro ano
da faculdade, desenvolvendo com qualidade a minha formação em terapia
ocupacional.
Logo após ter concluído o curso, iniciei no mesmo mês minha vida
profissional, na área da saúde com pacientes portadores de necessidades especiais.
Embora acreditando estar realizada, algo havia ficado embutido, inacabado,cortado,
não trabalhado; parecia estar iniciando um processo de distanciamento de mim
mesma, algo como uma alienação.
Segundo Marilyn Ferguson (2006, p. 71):
A capacidade de bloquear a experiência é um beco sem saída
evolucionário. Em lugar de vivenciar e transformar a dor, o conflito e
o medo, frequentemente desviamos ou bloqueamos esses
sentimentos com uma espécie de hipnose involuntária.
Algo se perdeu, decodificou, hibernou, talvez tenha sido o modo como tudo
aconteceu, abrupto, uma mudança pendular, o abandono de um sistema fechado e
seguro, criativo (o teatro), por outro desconhecido e rígido (o acadêmico), não
ocorrendo a transformação, pois não houve
a integração destas informações
conflitantes.
Como bem exemplifica Marilyn Ferguson (2006, p. 71):
Durante uma existência, mais e mais tensões vão se acumulando.
Não há alívio, a consciência se reduz. A profusão de luz diminui ao
foco de uma lanterna. Perdemos a vivacidade das cores, a
sensibilidade aos sons, a visão periférica, a sensibilidade com
relação a outras pessoas, a intensidade emocional.
Meu desenvolvimento profissional segue de forma extremamente técnica,
reducionista, especialista, não reconheço por vezes aonde se encontra o potencial
criador, e por conseqüência a “minha” inspiração e expressividade não representam
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de forma efetiva a minha integralidade profissional. Embora, acumule participações
ativa em congressos, buscando estar atualizada na minha área profissional (terapia
ocupacional), aprimorando-me tecnicamente, sinto que a real inspiração, a
motivação para fazer o diferente, o que torna a experiência mais rica, com mais
significado, esta, se cristalizou.
O processo do fazer, tornou-se mecânico, automático, não intencional, não
emocional ou afetivo, apenas intelectualizado.
Segundo Fayga Ostrower (2005, p. 28):
Em cada atuação nossa, assim como também em cada forma
criada, existe um estado de tensão. Sem ele não haveria como se
saber algo como o significado da ação, sobre o conteúdo expressivo
da forma ou ainda sobre a existência de eventuais valorações.
E, é no processo de tensão psíquica que acompanha o fazer, que a
“intensidade” se dá de forma desproporcional. Onde ocorre um intenso pensar
(intelectual) e reduzida intensidade emocional (afetiva), resultando num nível de
afetação muito aquém do esperado.
Na busca de re-significar a minha vida profissional, fez-me buscar no curso de
especialização em arteterapia, muito mais do que um novo instrumento de trabalho,
procuro uma via unificadora entre mente (intelectual) e coração (intuição), algo que
gere um processo criador mais pleno, mais consciente, com significados mais
marcantes para a minha atuação profissional.
Deparo-me hoje, com a escolha e a justificativa do tema da monografia, e
vem à tona, de maneira muito forte a questão do feminino, os seus aspectos
integradores como um todo. O questionamento surgiu quando no ano de 2005,
amigas próximas engravidaram e, após terem os seus filhos, iniciaram um dilema
entre carreira, filhos, casa, estudos, etc. Iniciou-se um dialogo e uma reflexão
intensa sobre o papel da mulher nesta sociedade, suas conquistas, frustrações,
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jornadas duplas de trabalho, suas emoções, seu crescimento, suas mágoas, enfim
sobre a vida das mulheres dos seus trinta e poucos anos, nos dias atuais.
Acredito que esta escolha é uma demanda de ordem pessoal, que é para mim
mobilizadora no intuito de aprofundar e entender melhor o percurso da mulher como
força integradora no universo, nos dias atuais ou não.
Busco, conversando com professores do curso, outros profissionais e colegas
o modo como estaria abordando este tema, procurando ampliar a perspectiva do
feminino para mim, junto ao meu processo de individuação. Colhida algumas
informações, encontrei opções diversas, como a história da mulher na nossa
sociedade, os arquétipos femininos de Jung, ou as mulheres descritas por Tony
Wolff - a mãe, a hetaira, a média e a amazona) entre outras tantas sugestões
gentilmente a mim cedidas.
Nesse momento inicia-se a aventura de selecionar e aprofundar o
conhecimento neste universo chamado “feminino”. A questão então é, se as
mulheres conheceriam os vários papéis e aspectos que permeiam este tema.
Através da psicologia do feminino, com os estudos junguianos sobre o
feminino, as Deusas interiores, e o arquétipo da mulher selvagem, percebe-se o
quanto a mulher está desconectada deste princípio e polarizada pelo pensamento
linear lógico-racional, focado numa sociedade patriarcal.
Do “princípio feminino”, surge então uma estreita relação com o ser intuitivo e
o sensível (ou princípio receptivo), e uma atitude de espera paciente e confiante; de
permitir que um processo de amadurecimento chegue à plenitude; de submeter-se a
uma força posta em movimento, isto é o “princípio feminino da criação”. O deixar ir
com as forças criativas, o submeter-se a elas, expressa profunda crença na vida e
no estado de ser que não exige nenhum movimento a mais do que os necessários
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para ativar os próprios poderes em que se acredita. O feminino permitiria então que
as forças ativadoras percorressem o seu caminho em direção à plenitude,
integrando a força criadora, que gera, que nutre, que acolhe a vida.
A partir do desejo de resgatar conceitos do feminino (por meio dos
arquétipos), esta pesquisa busca explanar e aprofundar este princípio integrando-o à
arteterapia, de modo que, o princípio feminino do criar, do existir, do formar, do dar
vida à, possa alcançar a todos homens ou mulheres, no sentido de um entendimento
maior, e que provoque a germinação da consciência.
Para tanto o trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro capítulo
apresenta a concepção deste projeto, o desenvolvimento, as inquietações e
motivações para alcançar um entendimento maior sobre o universo feminino e como
resgatar essencial desse universo.
O segundo capítulo trata de conceitos relacionados aos arquétipos
junguianos, especificamente focado nos princípios femininos e masculinos, Anima e
Animus.
O terceiro e último capítulo trata do feminino e seus principais aspectos
históricos relacionados à Deusa – Mãe, numa época estabelecida pelo matriarcado.
Traz, também, de maneira breve as subdivisões da Deusa – Mãe, apontando as seis
principais deusas gregas. Continua com a importante reflexão sobre a mulher nos
dias atuais e a retomada do feminino essencial, bem como a sua especificidade,
buscando valorizar esse princípio.
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2 - JUNG, ANIMA e ANIMUS
O resgate do feminino passa, primeiramente, pelo entendimento do que
seriam os vários papéis que se internalizam, podendo ser chamados de arquétipos,
numa concepção junguiana na qual procura fundamentar-se esta pesquisa.
De uma maneira breve será descrito conceitos dos quais são de fundamental
importância para que se possa chegar com clareza aos arquétipos que trata dos
princípios femininos e masculinos, chamados de anima e animus.
Calvin S. Hall (1993, p. 32) aponta que Jung, chama de arquétipos “traços
funcionais do inconsciente coletivo, segundo ele, o inconsciente coletivo é a camada
mais profunda da psique e constitui-se dos materiais que foram herdados da
humanidade”.
Nessa camada existem traços funcionais como se fossem imagens virtuais,
comuns a todos os seres humanos, e prontas para serem concretizadas através de
experiências reais. É nessa camada que todos os seres humanos são iguais. A
existência do inconsciente coletivo não depende de experiências individuais, como é
o caso do inconsciente pessoal, porém seu conteúdo precisa das experiências reais
para expressar-se, já que são predisposições latentes.
Existem tantos arquétipos quantas as situações típicas na vida. Uma
repetição infinita gravou estas experiências em nossa constituição
psíquica, não sob a forma de imagens saturadas de conteúdo, mas
a princípio somente como formas sem conteúdo que representavam
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apenas a possibilidade de um certo tipo de percepção e ação.
(JUNG apud HALL, 1993, p. 34)
Alguns arquétipos têm importância tão grande na formação de nossa
personalidade e de nosso comportamento que Jung dedicou-lhes uma especial
atenção. São os arquétipos de persona, anima, animus, sombra e o eu, dos quais
serão focados o três primeiros.
Não há como passar diretamente para os conceitos de anima e animus, sem
antes esclarecer a face externa ou a persona.
Com o desenvolvimento da consciência, o ser humano, que é gregário por
natureza, necessita desenvolver algumas características básicas para a adaptação
social em contraste com seus instintos animalescos.
É a persona o arquétipo desta adaptação.
Segundo Fadiman e Frager (2004, p. 100), a persona “é a aparência que
mostramos ao mundo. É o caráter que assumimos; através dela nos relacionamos
com os outros”.
O nome vem da antiga máscara usada no teatro grego para representar esse
ou aquele papel numa peça e tem, para Jung, o mesmo sentido, ou seja, é a
máscara ou fachada aparente do indivíduo exibida de maneira a facilitar a
comunicação com o seu mundo externo, com a sociedade onde vive e de acordo
com os papéis dele exigidos. O objetivo principal é o de ser aceito pelo grupo social
a que pertence. (HALL, 1993)
A persona é muito importante, na medida em que dependemos dela em
nossos relacionamentos diários, no trabalho, na roda de amigos ou na convivência
com o nosso grupo.
Para Calvin S. Hall (1993, p. 37) enfatiza que como qualquer outro
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componente psíquico, a persona possui um lado benéfico e outro maléfico. Em seus
aspectos benéficos, a persona auxilia a convivência em sociedade, extremamente
importante em nossos atuais dias.
Este arquétipo também transmite certa sensação de segurança, na medida
em que cada um desempenha exatamente o papel dele esperado, da melhor forma
possível. Assim, espera-se de um médico que se comporte como tal, que atenda o
paciente e que o cure dos males que o atingem. De um bombeiro, que seja solícito e
enfrente sem grandes medos os incêndios, e assim por diante.
Calvin S. Hall (1993, p. 37) atenta para o papel da persona, por exemplo, um
médico não pode ser um médico o tempo todo. Em casa é o pai, o marido, o filho e
assim outras máscaras ele estará utilizando. Aqueles que são possuídos por sua
persona, tornam-se pessoas difíceis de conviver, são rígidos em sua persona e
exigem dos demais que se comportem igual a ele.
A persona serve também como proteção contra nossas características
internas as quais achamos que nos desabonam e, portanto, queremos esconder.
Segundo Calvin S. Hall (1993, p. 38)
Sendo a persona a face externa da psique, a face interna, a formar o
equilíbrio são os arquétipos da Anima e Animus. O arquétipo da
Anima, constitui o lado feminino no homem, e o arquétipo do Animus
constitui o lado masculino na psique da mulher. Ambos os sexos
possuem aspectos do sexo oposto, não só biologicamente, através
dos hormônios e genes, como também, psicologicamente através de
sentimentos e atitudes.
O homem traz consigo, como herança, a imagem de mulher. Não a imagem
de uma ou de outra mulher especificamente, mas sim uma imagem arquetípica, ou
seja, formada ao longo da existência humana e sedimentada através das
experiências masculinas com o sexo oposto.
Todo homem carrega dentro de si a eterna imagem da mulher, não a
imagem desta ou daquela mulher em particular, mas uma imagem
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feminina definitiva. Esta imagem é uma marca ou arquétipo de todas
as experiências ancestrais do feminino, um depósito, por assim dizer,
de todas as impressões já dadas pela mulher. Uma vez que esta
imagem é inconsciente, ela é sempre inconscientemente projetada na
pessoa amada e é uma das principais razões para atrações ou
aversões apaixonadas. (JUNG apud SILVEIRA, 1981, p. 68)
A primeira projeção da Anima é feita sempre na mãe, assim como a primeira
projeção de Animus é feita pelo pai. Por isso, é tão importante para o
desenvolvimento da Anima ou Animus a influência dos pais do sexo oposto ao da
criança.
Cada mulher, por sua vez, desenvolveu seu arquétipo de Animus através das
experiências com o homem durante toda a evolução da humanidade.
Embora, Anima e Animus desempenhem função semelhante no homem e na
mulher, não são, entretanto, o oposto exato.
A Anima, quando em estado inconsciente, pode fazer com que o homem,
numa possessão extrema, tenha comportamento tipicamente feminino, como
alterações repentinas de humor, falta de controle emocional.
Em seu aspecto positivo a anima, quando reconhecida e integrada à
consciência, servirá como guia e despertará, no homem o desejo de união e de
vínculo com o feminino e com a vida.
A valorização social do comportamento viril no homem, desde criança, e o
desencorajamento do comportamento mais agressivo nas mulheres, poderá
provocar uma Anima ou Animus subdesenvolvidos e potencialmente carregados de
energia, atuando no inconsciente.
Um Animus atuando totalmente inconsciente poderá se manifestar de maneira
também negativa, provocando alterações no comportamento e sentimentos da
mulher.
O Animus e a Anima devidamente reconhecidos e integrados ao ego,
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contribuirão para a maturidade do psiquismo.
Fadimam e Frager (2004, p. 103) destacam que
Este arquétipo é dos reguladores mais influentes do comportamento.
Ele aparece em sonhos e fantasias como figuras do sexo oposto e
funciona como mediador direto entre processos conscientes e
inconscientes. Orienta-se sobretudo em direção aos processos
interiores, assim como a persona se orienta para o exterior.
Anima e Animus são responsáveis pelas qualidades das relações com
pessoas do sexo oposto. Enquanto inconscientes, o contato com estes arquétipos
são feitos em forma de projeções.
O homem, quando se apaixona por uma mulher, está projetando a imagem da
mulher que ele tem internalizada. É fato que a pessoa que recebe a projeção é
portadora, como dizia Jung, de um “gancho” que a aceita perfeitamente. O ato de
apaixonar-se e decepcionar-se, nada mais é do que projeção e retirada da projeção
do objeto externo. Geralmente o que se ouve é que a pessoa amada deixou de ser
aquela por quem ele se apaixonou, quando na verdade ela nunca foi, só serviu como
suporte da projeção de seus próprios conteúdos internos.
Fadimam e Frager (2004, p. 103) lembram que Jung chamou este arquétipo
de “imagem da alma”, por sua capacidade de nos colocar em contato com nossas
forças inconscientes, ele muitas é a chave para revelar a nossa criatividade.
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3 - O SAGRADO FEMININO – A DEUSA
De acordo com a teoria Junguiana, as deusas são arquétipos, o que vale
dizer, fontes derradeiras daqueles padrões emocionais de nossos pensamentos,
sentimentos, instintos e comportamento que poderíamos chamar de “femininos” na
acepção mais ampla da palavra.
Tudo que pensamos com criatividade e inspiração, tudo que acalentamos,
amamentamos, que gostamos, toda a paixão, desejo e sexualidade, tudo que nos
impele à união, à coesão social, a comunhão e a proximidade humana, todas as
alianças e fusões e também todos os impulsos de absorver, destruir, reproduzir e
duplicar, pertencem ao arquétipo universal do feminino.
Segundo Jennifer e Roger Woolger (1989, p. 15):
Uma deusa é portanto, a forma que um arquétipo feminino pode
assumir no contexto de uma narrativa ou epopéia mitológica. Num
conto de fadas esse arquétipo pode aparecer como princesa, rainha
ou bruxa”. Quando sonhamos ou fantasiamos,
nossa mente
inconsciente pode recorrer às imagens arquetípicas comuns a nossa
cultura, ao que Jung chamou de inconsciente coletivo.
É possível constatar o quanto tivemos longe destas poderosas simbologias
femininas, indo parar no outro lado do pêndulo, negando ou omitindo toda esta força
contida.
Ainda citando Jennifer e Roger Woolger (1989, p. 16):
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A psicologia acadêmica moderna, com seu amor pelas abstrações
masculinas, prefere usar a linguagem racional e espiritualmente
insensibilizante dos “instintos”, “impulsos” e “ padrões de
comportamento, palavras que não geram imagens na imaginação,
nem provocam lampejos de reconhecimento na alma.
Devido à inclinação fortemente racionalista de nosso sistema educacional,
tende-se a considerar os mitos antigos – as histórias dos deuses, deusas e heróis –
como bobagens supersticiosas, na verdade porém eles representam uma psicologia
altamente sofisticada que simplesmente não é expressa nos termos das abstrações
mecanicistas da psicologia acadêmica, e sim numa linguagem poética de imagens e
narrativas dramáticas.
Foi nos impingida uma distinção arbitrária entre a linguagem dura da ciência
(masculina) e a linguagem suave da literatura das artes e religião (feminina).
Historiadores da religião concordam que nas épocas da história da
humanidade em que a Grande Mãe era adorada, os seres humanos viviam em maior
harmonia consigo mesmos e com a própria força vital.
Na Mesopotâmia da Antiguidade, por exemplo, onde a Deusa Mãe era
conhecida com Inana (e na Assíria como Istar), ela era adorada como a própria fonte
de vida. Ela era o poder manifesto em toda a fertilidade e em todas as suas formas –
humana, animal ou vegetal. (WOOLGER, 1989, p. 20)
Anualmente, ela se unia ao deus-pastor Dumuzi (ou Tamuz), que encarnava
os poderes criativos da primavera. A morte dele no outono simbolizava o declínio
das estações, e a reunião de ambos na primavera representava a renovação da
terra. Mas o jovem deus era apenas agente da renovação, sendo a própria Deusa
Mãe quem o ressuscitava.
Para entendermos corretamente quem é esta divindade, tem que se voltar até
os primeiros povos da Terra. Quando os primitivos identificaram a mulher com a
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Terra e associaram a existência da Terra a poderes divinos, consideraram que o
poder que conspirou para que o Universo fosse criado era feminino. Como só as
mulheres têm o poder de dar vida aos outros seres, nossos ancestrais começaram a
acreditar que tudo tinha sido gerada por uma Deusa.
Como aponta Arcuri (2006, p. 18):
Buscar essa sintonia com a mãe Terra poderia ser uma forma
importante de harmonia em nossa sociedade, que não valoriza o
feminino, no qual as mulheres, para tornarem-se respeitadas,
procuram assumir posturas masculinas nos campos profissional,
cultural e social. Ao adquirir qualidades masculinas, como
autoritarismo, a mulher pode perder seu poder de acolhimento, de
ternura, de sentir prazer.
Em diversas partes do mundo a Grande Deusa Mãe é associada à Lua, já que
existia um poder maior que agia entre a mulher e a Lua.
Como bem lembra Erich Neumann (2000, p. 110):
A sabedoria lunar de dar tempo a alguém, de aceitar e amadurecer,
absorve todas as coisas em sua totalidade e transforma o que foi
absorvido, ao mesmo tempo que a si mesma. Está sempre
relacionada com a inteireza, com dar forma e realizar - isto é, criar –
e não devemos jamais nos esquecer que por sua própria natureza a
criação está ligada à consciência matriarcal, não porque a
consciência seja criativa, mas sim porque o inconsciente o é, e
porque toda realização criativa pressupõe todas as atitudes de
gravidez e da afinidade que reconhecemos como sendo
características da consciência matriarcal.
Todas as religiões primais viam no poder feminino a chave para o mito da
criação e assim o Universo era identificado como uma Grande Deusa, criadora de
tudo aquilo que existia e existiu.
Nesta época o respeito ao feminino e o culto aos mistérios da procriação
eram muito difundidos. Nas culturas primitivas a mulher era tida como a única fonte
de vida, tanto que os lugares onde ocorriam os partos eram considerados sagrados
e foram nestes lugares que surgiram diversos templos de veneração à Deusa.
Com o avanço da agricultura, a importância do solo passou a ser primordial e
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a Grande Mãe Terra (a Deusa) se tornou o centro de culto das tribos primitivas. As
mulheres eram consideradas responsáveis pela fartura das colheitas, pois eram elas
que conheciam os mistérios da criação. (DUREL, 2006)
Parece lógico para nossos ancestrais que o sistema de crenças fosse
centrado no feminino, pois as mulheres eram fonte de todo nascimento, morte e
regeneração.
Marija Gimbutas (Civilization of the Goddess), professora de arqueologia
Européia na Universidade da Califórnia em Los Angeles, descreve “a velha Europa”,
ou a primeira civilização da Europa. Datando de pelo menos 5000 anos atrás (talvez
até 25000 anos) antes do aparecimento das religiões centradas na figura masculina,
a velha Europa foi uma cultura “matrifocal”, sedentária, pacata, amante da arte, uma
cultura ligada a terra e ao mar que venerava a Grande Deusa.
A partir de uma certa época, a Europa passou por uma série de invasões do
Norte e do Leste. Esses invasores tinham uma cultura “patrifocal”, eram
inconstantes, guerreiros, ideologicamente orientados pelo céu e indiferentes a arte.
Segundo Nathalie Durel (2006)
Os invasores se julgavam um povo superior e sucessivas ondas de
invasões dos indo-europeus iniciaram o destronamento da Grande
Deusa (4500-4400AC). As deusas não foram completamente
suprimidas, mas incorporadas nas religiões dos invasores. Eles
impuseram a sua cultura patriarcal e sua religião bélica aos povos
conquistados. A Grande Deusa tornou-se consorte serviçal dos
deuses dos invasores. Os atributos e poder que originalmente
pertenciam a divindade feminina foram desapropriados e dados a
uma divindade masculina. A violação apareceu nos mitos pela
primeira vez e surgiram mitos nos quais os heróis do sexo
masculinos matavam serpentes, sendo este o símbolo da Grande
Deusa.
O que se constata ao investigar os cultos matriarcais é uma certa harmonia e
uma profunda segurança entre Mãe e seu Filho Amante. Relíquias arqueológicas
dos cultos matriarcais, que remontam a milhares de anos até o período Neolítico,
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sugerem séculos de mudanças ininterruptas em muitos povoados.
Apesar a ascensão das culturas guerreiras que prosperavam mais com a
conquista e a escravização, sabe-se que os cultos da Deusa Mãe sobreviveram e
floresceram até a época dos romanos.
As deusas locais eram facilmente assimiladas à adoração da Deusa
Mãe – Cibele na Ásia Menor; Ísis, primeiro no Egito depois em
Roma; Gaia na Grécia – por serem essencialmente a mesma
divindade, a deusa dos muitos nomes. Porém cada vez mais o
conflito entre os deuses guerreiros patriarcais e Deusa foi se
intensificando. O triunfo dos tempos modernos tornou-se o triunfo do
cristianismo e de um Deus Pai supremo. No final do Império
Romano do Ocidente, o cultos à Mãe haviam se torndado dispersos,
suprimidos, assimilados, distorcidos. (WOOLGER, 1989, p. 20)
Autoras feministas denunciam como o mal do “patriarcado” é precisamente o
que os junguianos criticam como sendo o modo pelo qual a civilização ocidental
acabou sendo unilateralmente ofuscada pelo arquétipo do Pai, à exclusão do
arquétipo da Mãe.
Segundo Jennifer e Roger Woolger (1989, p. 21):
Em nossa reverência exclusiva ao princípio paterno, em que
suprimimos ou menosprezamos o feminino, acabamos provocando
graves danos à nossa saúde psíquica individual e coletiva. Isso sem
mencionar a saúde física de nosso corpo e a do próprio planeta
Terra.
Porém, há sinais indicando que, espontânea e conscientemente o pêndulo
começa efetivamente a oscilar. A supremacia patriarcal vai manifestando sintomas
de falência espiritual em toda a parte, nas artes, na literatura, na política, nas igrejas.
Há sinais de um enorme ressurgimento do feminino, da consciência matriarcal. Um
chamado para o “retorno da deusa”.
É urgente, portanto que compreendamos a natureza e a condição dos
arquétipos femininos que estão despontando o inconsciente coletivo de nossa
cultura.
25
A primeira coisa que nota-se é que, como qualquer pessoa que foi
encarcerada, exilada e caluniada, as deusas, ao serem restauradas
na consciência como princípios psicoespirituais, frequentemente
parecem fracas, confusas, magoadas e feridas. Esses ferimentos se
devem ao tratamento áspero e cruel que receberam nas mãos da
repressão patriarcal: Afrodite envergonha-se de sua sexualidade;
Atena questiona sua capacidade de pensar; Hera duvida do seu
próprio poder; Deméter desconfia de sua fertilidade; Perséfone nega
suas visões; Ártemis não sabe interpretar sua sabedoria corporal
instintiva. Isso e muito mais, é o legado do exílio psíquico do
feminino. (WOOLGER, 1989, p. 21)
As deusas sofreram mágoas profundas, ferimentos que lhes foram infligidos
durante a longa história da batalha psicológica pela supremacia empreendida pelas
forças masculinas na cultura ocidental. Não importa se essas chagas surgiram pela
primeira vez com a hegemonia guerreira dos gregos antigos, com o imperialismo dos
romanos ou com o medo puritano do feminino e do corpo entre certas facções do
cristianismo.
As chagas das deusas não são novas, surgiram a quase três mil anos, no
período em que as culturas patriarcais começaram pela primeira vez a arrancar o
controle das culturas matriarcais mais antigas. Quando se examina as origens das
chagas de cada uma das deusas conforme é revelado em suas biografias míticas na
Grécia antiga constatamos exatamente os mesmos conflitos por trás das atitudes,
valores e prioridades que debilitam o poder e a confiança das mulheres de hoje.
3.1- OS PRINCIPAIS TIPOS DE DEUSAS
Segundo Jennifer e Roger Woolger, há seis dos principais arquétipos de
deusas que parecem ser mais ativos na vida das mulheres modernas e na
sociedade contemporânea.
26
As características podem assim ser resumidas (1989, p. 15):
 A mulher – Atena é regida pela deusa da sabedoria e da civilização; ela
busca a realização profissional numa carreira, envolvendo-se com
educação, cultura intelectual, justiça social e com política.
 A mulher – Afrodite é regida pela deusa do amor, e está voltada
principalmente para relacionamentos humanos, sexualidade, intriga,
romance, beleza e inspiração das artes.
 A mulher – Perséfone é regida pela causa do mundo avernal; ela é
mediúnica e atraída pelo mundo espiritual, pelo oculto, pelas experiências
místicas e visionárias, e pelas questões ligadas à morte.
 A mulher – Ártemis é regida pela deusa das selvas; ela é prática, atlética,
aventureira, aprecia a cultura física, a solidão, a vida ao ar livre e os
animais; dedica-se à proteção ao meio ambiente, aos estilos de vida
alternativos e às comunidades de mulheres.
 A mulher – Deméter é regida pela deusa das colheitas; ela é uma
verdadeira mãe-terra que gosta de estar grávida, de amamentar e de
cuidar de crianças; está envolvida com todos os aspectos do nascimento e
com os ciclos reprodutivos da mulher.
 A mulher – Hera é regida pela deusa dos céus; ela se ocupa do
casamento, da convivência com o homem,e, sempre que as mulheres soa
líderes ou governantes, de questões ligadas ao poder.
Para Jennifer e Roger Woolger (1989) enfatiza que não apenas uma, mas
várias das deusas, em diversas combinações, estão por trás do comportamento e da
configuração psicológica da mulher.
3.2- O FEMININO NA NOSSA ÉPOCA
De uns anos para cá, esta se vivendo uma profunda transformação da
identidade feminina no planeta inteiro, mesmo quando ocorrem algumas regressões
27
e sobressaltos a caminhada vai firme. Mesmo se nada está ainda definitivamente
conseguido, o caminho está aberto e a cada dia vai se conquistando mais espaço.
Segundo Maria Ângela M. M. Ferreira (2006, p. 31) considera,
A autonomia, a liberdade, o desejo de expressão e a capacidade de
acolhimento como essência do feminino. Evidentemente, a
capacidade da mulher de cuidar, acolher e nutrir o desenvolvimento,
sem apressar o curso das coisas, faz parte de seu mundo interno.
Mas, quando essas características são mal interpretadas, como de
fato foram, podem ser usadas contra a própria mulher, fazendo dela
um ser fraco, submisso e incapaz. Essa submissão foi uma
imposição do patriarcado e a mulher acabou incorporando essa
característica que deixou marcas profundas na sua personalidade.
A absorção da mulher pelo patriarcado existe ainda como uma mutilação da
verdadeira essência feminina, mas as coisas estão a mudar.
Hoje, o desabrochar da mulher passa por uma etapa que se pode chamar de
“mulher-pesquisadora”, que aprende a entender de um modo diferente as
mensagens da vida. Esta evolução no caminho da transformação leva por várias
etapas dentro de um mundo interno e convida a descobrir os planos mais profundos
da personalidade feminina através de uma visita nas "camadas escuras da psique.”
Cada vez mais, as mulheres irão dar a luz a elas mesmas em consciência.
Quanto maior o número de mulheres conscientes, mais o feminino
terá espaço para se desenvolver de forma verdadeira, com
características que são do próprio feminino. E, assim, a mulher
poderá recuperar um lugar de importância que lhe foi tirado, mas
que é dela por merecimento, um lugar ao lado do homem, com
direitos e valores próprios. (FERREIRA, 2006, p. 42)
As mulheres de poder, as combatentes e as vitoriosas, precisam regar seus
corações, sair da aridez mental, da intelectualização e da corrida a eficácia. A nossa
tarefa é a de domar com consciência a poderosa beleza do feminino, precisamos
humanizar-nos e reequilibrar o poder da Deusa interior.
Perder e reencontrar, pois, perdeu-se a unidade com a Grande Deusa e seus
poderes.
28
Descobriram-se as misérias e também as grandezas da servidão, ousou-se a
revolta e sofreu-se as divisões, convencidas que o saber ou intelecto eram
primordiais. Achou-se que a liberação da mulher passava pela igualdade de direitos
com os homens (de fato, a igualdade de votos, de salários, de reconhecimento, de
valorização são ainda primordiais). Pegou-se o poder da espada e fechou-se o
coração.
Betty Friedan citada por Colasanti (1981, p. 194) diz: ”Lutamos pela igualdade
em termos de poder masculino, sem perguntar o que a igualdade entre homem e
mulher significa realmente”.
É chegado o momento de reaprender a abri-lo com a proteção da força
interior. Porém, a busca hoje é por descobrir e valorizar, integrar, a especificidade
feminina e, relacioná-la com o mundo atual. O momento de descobrir quem
realmente somos e o que se quer de verdade, o que sentimos no íntimo do nosso
ser feminino.
E isto, pode ser feito por meio de extensas escavações psíquicoarqueológicas das ruínas do mundo subterrâneo feminino.
É o momento do grande encontro com o arquétipo da Grande Deusa Mãe,
para ajudar nesta caminhada.
29
4- DESCRIÇÃO DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada em uma Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público, uma entidade sem fins lucrativos, filantrópica, de utilidade pública, lançada
em 2005.
Essa organização tem como missão o desenvolvimento da cidadania nas
mulheres, por meio do acesso à informação e à educação permanente, oferecendo a
oportunidade de emancipação e a conquista de uma vida melhor, mais digna e feliz.
Todas as atividades oferecidas são gratuitas, pois são realizadas por
voluntários. Dentre estas atividades, ministramos uma oficina de arteterapia
chamada “Encontrarte”. Foram atendidos cinco grupos com 10 (dez) mulheres cada,
sem restrição de idade, atendendo uma diversidade de faixas etárias, que variavam
entre 21 a 67 anos. A oficina acontecia uma vez por semana, com 1h30mim de
duração, por um período de dois meses cada grupo, que se apresentaram de uma
forma bastante heterogênea, com mulheres buscando espaço no mercado de
trabalho, aposentadas, donas de casa, estudantes, divorciadas, casadas, solteiras,
mães e avós.
O papel da mulher tem se modificado ao longo dos tempos e tem sido
recriado, constantemente, conforme as exigências e as necessidades da sociedade
na qual está inserida, desde o papel inicial de submissão onde o ponto de referência
era o outro e não ela própria, exercendo muito bem o papel de mãe acolhedora,
rainha do lar e boa esposa até o papel da busca de conhecer qual é o seu
verdadeiro referencial, quais são seus gostos, escolhas, etc. Enfim, o resgate de sua
autonomia.
30
Saímos de um estado que, embora insatisfatório, embora
esmagador, estava estruturado sobre certezas. Isso foi ontem. Até
então ninguém duvidava do seu papel. Nem homens, nem muito
menos mulheres. Jamais passou pela cabeça da minha avó a
suspeita de que poderia ter sido profissional tão brilhante quanto
meu avô, e gostado disso. Mas essa certeza nós a quebramos, para
poder sair do cercado. (COLASANTI, 1981, p. 14)
A proposta desenvolvida neste trabalho é a busca da autonomia e do
autoconhecimento. Centrar-se em si próprio, dar forma às emoções e materializar os
sentimentos com o auxílio de recursos artísticos.
Tem também como objetivo aprofundar e entender melhor o percurso da
mulher como força integradora no universo, resgatando aspectos psicológicos do
princípio feminino.
A arteterapia ajuda o individuo a desenvolver gradualmente sua capacidade
de lidar com conceitos e situações importantes que a vida apresenta, revelando o
interno, aquilo que geralmente configuram aspectos desconhecidos do eu íntimo e
profundo, o Self.
A expressão artística é, por si, um caminho para a expressão daquilo que não
está consciente, mas que faz parte de nós. Ela é um excelente meio para o
conhecimento dos processos que se desenrolam na obscuridade do inconsciente.
O arteterapeuta estabelece conexões entre as imagens emergentes do
inconsciente e a situação emocional que está sendo vivida pelo indivíduo.
Para alcançar esse objetivo, foi utilizada a metodologia de oficina criativa,
criada pela professora Cristina Dias Allessandrini, organizada em cinco etapas:
sensibilização, expressão livre, elaboração da expressão, transposição de
linguagem e avaliação.
A sensibilização desencadeia um estado interno de relaxamento, é o
momento que o indivíduo estabelece um contato com ele mesmo, esquecendo o
31
mundo externo. Nesse primeiro contato, o indivíduo se abre para a experiência que
está por vir, preparando seu universo interior para a criação.
A expressão livre utiliza-se de materiais artísticos variados, onde o indivíduo
experiência o contato e a sensação, percebendo as possibilidades do material. As
conquistas e frustrações criam forma e a dialética de suas ações se expressa
quando o indivíduo modela o que foi imaginado.
A elaboração da expressão é a observação da imagem realizada a partir de
um novo ângulo, mas ainda em um nível não verbal.
A transposição da linguagem é a passagem dos conteúdos emergidos pela
vivência para uma nova linguagem, verbal.
A avaliação é a conclusão que permite que a aprendizagem produzida seja
tomada consciente.
Esta metodologia, além de trabalhar o criativo, utiliza a arte como linguagem
para experiências, emoções e percepções, facilitando o contato com o interior,
resgatando a essência do indivíduo.
As Oficinas Criativas são construídas na perspectiva de completude
de uma proposta educacional. Cada ação é vivida profundamente, e
seu encadeamento é direcionado de modo que a cada momento o
indivíduo possa dar continuidade ao processo de descoberta,
expressão e elaboração de conteúdos pessoais significativos
(ALLESSANDRINI, 2002, p. 41).
Dentre os objetivos específicos da oficina “Encontrarte” destacamos: a
potencialização das funções cognitivas, sensório-motoras, perceptivas, emocionais,
imaginativas e intuitivas; a promoção das relações intrapessoais, com o objeto e
com a atividade proposta; o auxílio na integração do grupo; a estimulação do
desenvolvimento e do envolvimento com os projetos pessoais.
32
Ao final de cada oficina, foram feitos registros em relatórios, dos quais serão
retirados fragmentos que ilustram a fundamentação teórica. Dentre as participantes,
foi escolhida a participante D, para o estudo de caso.
4.1- ESTUDO DE CASO
A participante “D” ,uma mulher dos seus 60 anos, chegou para as oficinas do
Encontrarte de forma esfuziante, comunicativa , participativa, colaboradora, animada
e incentivadora das colegas. Encontrava-se separada, após um casamento de 30
anos, atualmente sem um companheiro fixo, mora sozinha, tem dois filhos (uma filha
e um filho), não exercendo nenhuma profissão no momento.
Aparentemente buscava um curso para que pudesse se conhecer melhor.
Entre as suas colegas, inicialmente demonstrava estar muito bem resolvida.
Para Fayga Ostrower (2005, p. 10)
Mais do que um simples ato proposital, o ato intencional pressupõe
existir uma mobilização interior, não necessariamente consciente,
que é orientada para determinada finalidade antes mesmo de existir
a situação concreta para a qual a ação seja solicitada. É uma
mobilização latente seletiva.
No final do primeiro encontro, a palavra de fechamento foi curiosidade, a
técnica utilizada foi a de recorte e colagem, onde selecionou e colou gravuras que
condiziam com o que estava aparentando (figuras: mulher bonita, bem arrumada,
segura, casa decorada e com plantas, não havendo figuras de outras pessoas que
representassem familiares ou amigos).
Mas, parece que algo foi despertado, algo que ainda não estava consciente,
que não havia sido percebido, e que foi emergindo de forma significativa no decorrer
das oficinas. Ficando neste primeiro encontro impressionada como os trabalhos
33
apresentados mostravam-se reveladores, inclusive intervindo nas falas das demais
colegas no momento que expunham os trabalhos.
Fayga Ostrower (2005, p.13) diz ainda:
A percepção delimita o que somos capazes de sentir e
compreender, porquanto corresponde a uma ordenação seletiva dos
estímulos e cria uma barreira entre o que percebemos e o que não
percebemos. Articula o mundo que nos atinge, o mundo que
chegamos a conhecer e dento do qual nós nos conhecemos.
Articula o nosso ser dentro do não-ser.
Então no segundo encontro, iniciou pedindo desculpas ao grupo por intervir
nas falas no momento da apresentação dos cartazes, por ter falado demais. Por
algum motivo, parecia envergonhada pela sua atitude anterior, e neste dia mantevese mais em silêncio, embora participativa. A técnica utilizada foi a construção de
uma mandala que representasse a trajetória de vida.
No momento da avaliação, foi relembrando fatos importantes e muito
significativos. Iniciou falando da sua infância, principalmente da relação com a mãe,
que não era afetuosa e demonstrava desprezo por ela, chamando-a de “feinha” junto
a outras pessoas. Trazendo ainda para adolescência e juventude, quando iniciou a
namorar, a mãe comentava para tratar muito bem o seu futuro esposo, pois este era
muito bonito para ela, e que não poderia discordar dele, para não incomodá-lo, pois
outro assim ela não acharia.
Toda essa atitude ostensiva e desqualificadora por parte da mãe, fez com que
desenvolvesse uma auto-estima baixíssima, muito insegura quanto ao potencial
feminino, anulando-se enquanto pessoa e enquanto mulher.
Segundo Clarissa P. Estes (1999, p. 56) “A psique de uma mulher pode ter
chegado ao deserto em virtude da ressonância, devido a crueldades passadas, ou
por não lhe ter sido permitida uma vida mais ampla a céu aberto”.
34
Lembrou ainda de forma perturbadora dos anos em que ficou casada, um
longo período de 30 anos, dos quais não soube o que era ter vontade própria, uma
relação totalmente castradora. Relata que quando se separou não sabia escolher
algo, qualquer coisa, não identificava o que gostava ou o que queria. Na mandala
pintou esta área da trajetória de preto.
Como traz Robert A. Johnson (2004, p. 33):
Quase todos os homens querem exatamente isso da esposa. Se ela
não fizer questão da consciência e proceder em tudo ao jeito dele,
reinará na casa uma paz perfeita. (...) São esses os ecos de uma
estrutura patriarcal primitiva, quando a mulher era subjugada pelo
homem. Ainda existem alguns resquícios desse mundo patriarcal em
nossos costumes, como, por exemplo, a mulher carregar o
sobrenome do marido. Eros insiste em que ela não lhe faça
perguntas nem o veja: são essas as condições do casamento
patriarcal. Como psique concorda, vivem no paraíso.
Retomando as “deusas”, foram profundas as mágoas que todas elas
sofreram. Ferimentos que lhe foram infligidos durante a longa história da batalha
psicológica pela supremacia empreendida pelo patriarcado. E a sua “deusa Afrodite”
estava marcada com muitas “chagas”. Mas certamente nesses encontros estava por
ser resgatado o princípio feminino.
No quarto encontro iniciamos as oficinas junguianas com o elemento “água”,
nesse momento o sujeito “D” encontrava-se introspectiva, fisicamente aparentava
cansaço e a sua face estava constantemente ruborizada, parecia estar com algo
preso ou como uma panela de pressão preste a explodir. Nesse percurso havia
mudado significativamente, demonstrava que coisas estavam sendo remexidas,
vasculhadas, analisadas, observadas, no mais profundo do seu ser.
Através da técnica de marmorização (água, tintas coloridas e pedaços de
cartolina) o sujeito “D” entrou então em contato com o sentimento.
Fazendo uma breve referência à tipologia junguiana Angela Philippini (1984,
35
p.18) lembra:
Nesta referência teórica identificam-se quatro funções psíquicas
básicas: pensamento, sentimento, sensação e intuição. De modo
geral, observa-se a dominância de uma destas funções (a função
superior no comportamento de cada indivíduo) em detrimento da
funcionalidade das outras. A estas funções psíquicas, Jung
correlacionou os quatro elementos básicos da natureza: ar, água,
fogo e terra e dois movimentos básicos para a orientação da energia
psíquica: movimento predominante para o mundo externo,
extroversão, e movimento predominante para dentro, introversão, da
própria vida psíquica.
Misturada as tintas na água, então o processo era o de passar o papel sobre
a água, fazendo o efeito marmorizado. O trabalho foi realizado com uma bacia para
cada duas participantes. O que ocorre, é que no seu papel predomina de forma
significativa a cor vermelha, ela refaz o processo com mais três pedaços de
cartolina, e novamente se tem o predomínio da mesma cor, o interessante foi
perceber que o trabalho da colega a qual compartilhava da mesma bacia era
colorido e as cores se misturavam harmonicamente.
No momento da apresentação, relatou primeiramente sob a forma estética:
que tentou misturar as cores, mexer na água, mas sempre que passava, estava ali
novamente à cor vermelha. Perguntou-se para ela, o que essa cor lhe remetia?
Então, houve uma catarse, ela começou a chorar compulsivamente, relatando que
“aquilo” parecia sangue, ou um vulcão cuspindo sangue, e era só o que ela
conseguia ver.
Indo buscar no dicionário de símbolos Chevalier e Gheerbrant (2005, p. 800),
traz como um dos significados para a palavra sangue: O sangue é considerado por
certos povos o veículo da alma; é também universalmente considerado o veículo da
vida; corresponde ainda ao calor vital e corporal, em oposição à luz, que
corresponde ao sopro e ao espírito.
Após, relatou que a sua mãe havia falecido há dois meses, e que lembrava
36
muito dela, que a relação delas sempre foi de muita hostilidade, e que ultimamente
pensava muito nisso, no quanto a sua mãe tinha lhe feito mal, sentia-se ainda com
medo, como se a mãe ainda tivesse algum poder sobre ela. Terminado o encontro
conversamos com ela para nos certificarmos que estava melhor e que poderia ir
embora com segurança.
Para Angela Philippini (1984, p. 20), “Em arteterapia, é o resultado da fusão
da energia psíquica de quem trabalha e do material expressivo utilizado, plasmando
formas, criando e recriando mundos obscuros ou esquecidos, expressando dores e
esperanças de vir a ser”.
Junto às lembranças da mãe, veio também o modo que se relacionava com a
sua filha, relatava que tinha dificuldade de dar afeto aos filhos, de modo particular,
com a filha a dificuldade era maior. Falou em determinado encontro que não
acreditava no amor de filha para mãe, acreditava que isso não existia. Uma outra
participante compartilhou do amor que sentia pela mãe, do imenso carinho que elas
tinham uma com a outra. A participante “D” ficou então em estado de reflexão.
Finalizamos os encontros com a construção do álbum pessoal, onde se
mostrou ainda “digerindo” tudo o que veio à tona, de modo tão rápido e revelador.
Ficando surpresa ao constatar o que havia descoberto, entrado em contato,
vivenciado, enfim explorado de modo tão inteiro aspectos do feminino que para ela
estavam enterrados ou esquecidos na alma e no coração.
Mostrava-se mais consciente do seu processo de busca, do seu vir a ser.
Refletiu nesse processo arteterapêutico toda fragilidade do seu princípio feminino e
a importância de resgatá-lo como parte do seu processo de individuação.
37
4.2 – RESULTADOS – NÍVEIS DE RELAÇÃO
Os aspectos afetivo-cognitivos, através dos quatro níveis de relações
estabelecidas pelo sujeito, permitiram perceber as mudanças ocorridas durante o
processo (ALLESSANDRINI, 2004, p. 118);
I.
Relação intrapessoal: da pessoa consigo própria;
II.
Relações interpessoais: de um sujeito com outro (s) sujeito (s);
III.
Relação com o(s) objeto(s): diversos materiais;
IV.
Relação com a tarefa: com a proposta de cada encontro.
Com base nessas categorias, descritas de modo a poder analisar as ações
dos sujeitos no decorrer da Oficina Criativa, criada por Cristina Dias Allessandrini,
descreveremos o perfil da participante “D” no início e término das oficinas, para
melhor ilustrar e fundamentar o estudo.
Níveis
Intrapessoal
Início
Término
Alegre,firme,equilibrado,ativo,coerente,
Triste, instável, pertubado, ativo,
comprometido,implicado,coordenado.
coerente, comprometido, implicado,
Coordenado.
Interpessoal
Respeitoso, flexível, objetivo,
Mantém resultado do inicio.
cooperativo,mente aberta,
Interdependente, criativo,
Receptivo.
Relação com objeto Reflexivo, cuidadoso, respeita,
Mantém resultado do início.
desapegado,investigador,
previdente,observador,interativo
Relação com a tarefa Curioso, disciplinado, presente, tranqüilo,
Curioso, indisciplinado (d) -
construtivo, articulador,autônomo,auto-
pertubado, presente,tranqüilo e
regulador
intranqüilo,construtivo e não
construtivo, articulador, autônomo
e não autônomo, auto-regulador
38
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de conscientização do papel da mulher na sociedade, bem como,
no processo de individuação, passa necessariamente pelo resgate do feminino
essencial.
É importante que ela se aproprie de sua verdadeira natureza, que saiba o que
aconteceu com ela, quais são seus sonhos, seus desejos na vida, para que se
conheça e reconheça.
A arteterapia e as oficinas criativas possibilitaram, através do processo
expressivo e criador, produções simbólicas, que retrataram múltiplos estágios da
psique, ativando e realizando a comunicação entre consciente e inconsciente.
A abordagem junguiana corrobora, partindo da premissa que os indivíduos, no
curso natural de suas vidas, em seus processos de autoconhecimento e
transformação, são orientados por símbolos. Sendo que estes emanam do self,
centro de saúde, equilíbrio e harmonia, representando para cada um o potencial
mais pleno. E na vida, o self, através de seus símbolos, precisa ser reconhecido,
compreendido e respeitado.
Pelo estudo de caso, pode-se constatar a falta em nossa vida espiritual e
psicológica da dimensão do princípio feminino, aquele sentido místico e profundo da
terra e de seus ciclos. Perdeu-se a ligação interior com aquele poder que era outrora
conhecido como a Grande Mãe de todos nós – a nossa Deusa Interior.
O mal do patriarcado ofuscado pelo arquétipo do Pai, à exclusão do arquétipo
da Mãe. Em nossa reverência exclusiva ao princípio masculino ou paterno,
acabamos por suprimir ou menosprezar o feminino, provocando danos à nossa
saúde psíquica individual e coletiva.
39
È de fundamental importância que a mulher se desenvolva de forma
verdadeira, com características que são da essência feminina, conscientizando-se
dos seus direitos e valores próprios.
Enfim, que o princípio feminino do criar, do existir, do formar, do dar vida à,
possa alcançar a todos os homens e mulheres no sentido de um entendimento maior
destes processos, para que provoque a germinação da consciência resultando numa
sociedade mais integrada e humana.
40
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