Revista "O Desembarque" n.º 18

Transcrição

Revista "O Desembarque" n.º 18
REVISTA N.º 18 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · JUNHO 2014
O DESEMBAR UE
trilogia poética
fuzileiros
4séculos
índice
ficha técnica
Editorial
Um Novo Mandato
3
Cultura & Memória
O DFE 12 volta ao Senegal – A perfeição do golpe de mão em Sanou
4
Cartas à Direccão
Carta de Francisco Pereira
5
Poemas de Augusto Beja e de Rogério dos Santos
5
Carta de José de Campos Luís
6
Eleições
Assembleia-Geral Ordinária e Eleitoral – 29 de Março de 2014
8
Entrevista
Almirante José Carlos Torrado Saldanha Lopes
11
António Marreiros – “Marujinho”( Sócio n.º 2314
14
Contos & Narrativas
Publicação Periódica da
Associação de Fuzileiros
Revista n.º 18 • Junho 2014
Propriedade
Associação de Fuzileiros
Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq.
2830-356 Barreiro
Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461
email: [email protected]
www.associacaofuzileiros.pt
Estórias por Contar – A propósito de uma evacuação
18
Guarda Avançada em Terras de Niassa
20
Castufo com sabor a leite de rosa
21
Edição e Redacção
Direcção da Associação de Fuzileiros
Director
José Ruivo
Opinião
Contribuir para a Paz
24
Um Patrono para os Fuzileiros?
25
Directores Adjuntos
Marques Pinto, Leão Seabra e
Benjamim Correia
Trilogia Poética
“4 Séculos de História” – Lançamento de DVD
26
Editor Principal
Marques Pinto
Almoço de Natal
O Almoço/Convívio de Natal – 14 de Dezembro de 2013
28
Cadetes do Mar
Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros
31
Corpo de Fuzileiros
Escola de Fuzileiros – Formação
37
Fuzileiros na Somália
41
Convívios
Companhia de Fuzileiros N.º 3 – Angola 1972/74
43
23.º CFORN volta à “Casa Mãe” – 40.º Aniversário
43
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12 – Guiné 1967/69
45
40.º Aniversário do 24.º CFORN
46
Delegações
Delegação de Vila Nova de Gaia
47
Eventos
Associação dos Veteranos e Combatentes do Oeste (AVECO)
Comemoração dos 40 anos do 25 de Abril (Lourinhã)
49
Obituário
51
Diversos
51
Colaborações
Delegações da AFZ,
LP, MP, CM, Ribeiro Ramos,
Miranda Neto, CMP, CCFZ, EFZ, BFZ,
Paulo Gomes da Silva e José Horta
Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Pedro
Gonçalves, Mário Manso e Lema Santos
Fotografia de Capa: Mário Manso
Arranjo: Manuel Lema Santos
Coordenação gráfica
e paginação electrónica
Manuel Lema Santos
[email protected]
Impressão e acabamento
GMT – A. Gráficos, Lda.
Rua Sebastião e SIlva, n.º 79, Piso O
Massamá – 2745-838 Queluz
Tel.: 214 382 960
Email: [email protected]
Tiragem
2.000 exemplares
Depósito legal n.º 376343/14
ISSN 2183-2889
Não reconhecemos qualquer nova forma de ortografia da
língua portuguesa mas, no respeito por diferente opção,
manteremos os textos de terceiros aqui publicados que
configurem outra forma de escrita.
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editorial
Um Novo Mandato
José Ruivo
N
o passado dia 29 de Março de 2014 foram eleitos novos corpos sociais, em Assembleia Geral, para o biénio 2014/2015, numa bem
participada Assembleia Geral e Eleitoral.
Quero aproveitar este primeiro editorial para levar ao conhecimento de todos, em especial dos que não puderam estar presentes, as
linhas principais do programa de acção da nova Direcção.
Na primeira linha de acção, refere-se a preservação dos valores de referência da Associação de Fuzileiros, no cumprimento dos seus
fins estatutários. Neste âmbito, a Direcção compromete-se a promover a salvaguarda, a conservação e o desenvolvimento de valores
como a camaradagem, a lealdade, a coragem, assim como a solidariedade entre os Fuzileiros.
De seguida surge o compromisso de consolidar e dar continuidade às previligiadas relações da Associação com a Marinha, em particular com o Corpo de Fuzileiros, assim como com o Município do Barreiro e respectivas Autarquias. No cumprimento deste desiderato, a
Direcção cumpriu já um programa de apresentação de cumprimentos ao CEMA, Almirante Macieira Fragoso, ao Presidente da Câmara
do Barreiro, Sr. Carlos Humberto Carvalho, ao Comandante do Corpo de Fuzileiros, CALM Cortes Picciochi e ao Director Geral da DGAM
(Direcção Geral da Autoridade Marítima), VALM Cunha Lopes. Ainda neste âmbito foram convidados, pela nova Direcção, para um almoço no restaurante da nossa Associação o Presidente da Câmara do Barreiro e os Presidentes das respectivas Juntas de Freguesia.
Uma das linhas de acção que considero mais importantes é a defesa dos interesses dos associados, uma vez que é a principal razão
da existência da Associação de Fuzileiros, procurando apoiar os sócios que se encontrem em maiores dificuldades quer no âmbito
social, económico ou da saúde, e promovendo e reforçando os laços de união entre todos aqueles que pertencem à grande família dos
fuzileiros.
Igualmente importante considera-se a preservação da memória dos fuzileiros, pelo que a Direcção irá desenvolver um projecto nesse
sentido, para que, quem quiser, possa relatar as suas estórias de modo a que estas memórias não se percam, uma vez que a passagem
do tempo é inexorável. Logo que possível, pretende-se que estas conversas sejam passadas a escrito e venham a constituir, mais tarde,
um livro de memórias.
Verificamos assim que a Direcção se propõe orientar os seus esforços segundo duas vertentes: uma componente de projecção externa,
promovendo o prestígio da Associação, visando prestar um serviço a Portugal, à Marinha e aos seus Fuzileiros, e outra componente de
projecção interna, mais voltada para a defesa dos interesses e elevação dos valores cívicos dos sócios e a promoção dos laços que a
todos devem unir, privilegiando aspectos como a solidariedade e a entreajuda.
Como objectivos prioritários salientam-se: a organização próxima (dia 5 de Julho) do “Dia do Fuzileiro” 2014, em parceria com o Corpo
de Fuzileiros, subordinado ao tema “O Fuzileiro do Futuro”; a realização de reuniões de trabalho com as diversas Delegações, com a
finalidade de as dinamizar e fortalecer a ligação entre si e com a Direcção Nacional; fomentar e apoiar a criação de novas Delegações
ou núcleos, de modo a que tenhamos uma cobertura nacional, trazendo mais fuzileiros ao nosso convívio.
“Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre”
José Ruivo
Presidente da Direcção
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cultura&memória
O DFE 12 volta ao Senegal
A perfeição do golpe de mão em Sanou
Paulo Gomes da Silva
N
o número 17 da revista, dei à estampa, a pp. 37-39, um artigo versando dois assaltos consecutivos do DFE 12 à Base
de Cumbamory, no Senegal. Foram as operações «Catanada»
e «Cocha». O artigo, comprimindo ao máximo os acontecimentos
num esforço de síntese muito apertada, resultou de uma investigação que há muito me propusera e em cujo âmbito acedi a elementos documentais. Apenas mencionei um ou outro. A seu tempo, que
será o tempo da desclassificação das fontes, a historiografia militar
de topo, de nível universitário, trará a lume tudo quanto a propósito
existe. Deste modo, tranquilizo alguns leitores benévolos, camaradas muito amigos, que me disseram que as operações abordadas
não interessariam a História Militar por inexistirem os respectivos
relatórios. Pois muito bem: a história faz-se de factos, não se faz de
relatórios e, ademais, pelo menos que se saiba, ninguém elaborou
o relatório da Batalha de Aljubarrota e, no entanto, ela aconteceu
e conhecemo-la quase pormenorizadamente. A crónica de Fernão
Lopes, guarda-mor da Torre do Tombo, não é nenhum relatório
militar, sabendo-se que, nalguns pontos, é fantasiosa, como no-lo demonstrou a historiografia militar mais recente e autorizada.
Insisto, portanto, em que, com relatório ou sem relatório, ninguém
duvida de que a Batalha de Aljubarrota ocorreu e dela decorreu a
selagem da independência nacional portuguesa. E porque ocorreu
é justamente o facto de haver ocorrido que mais importa. O mesmo – exactamente o mesmo – se diga das operações «Catanada»
e «Cocha», cujas provas primeiras, simultaneamente intuitivas e
tangíveis, radicam justamente no reconhecimento das suas designações. Posta esta sumária prestação de contas, continuemos,
até mais ver, a saga do DFE 12. Como se sabe, o golpe de mão
é uma operação ofensiva realizada de surpresa contra uma força
ou instalação inimiga e consiste na deslocação e progressão em
segredo até às proximidades do objectivo e no ataque fulminante
para aniquilar forças lá instaladas, destruir as instalações, quartéis,
paióis de armas e acampamentos ou colher informações através
de prisioneiros, documentos e equipamentos. Na Guerra do Ultramar, como se sabe também, as maiores probabilidades de sucesso
do golpe de mão obtinham-se
projectando forças especiais,
por via anfíbia ou por via heli-transportada, para muito junto
do alvo. Tratava-se, pois, de
uma operação militar perigosíssima, sobretudo num Teatro
de Operações (TO) como o da
Guiné ou, pior ainda, quando
realizada no interior do Senegal. Não se projectavam forças
na rectaguarda do IN. As forças
eram projectadas no próprio
cerne do IN, quantas vezes sem
apoio de fogos próximo, sem
preparação aéreo-naval prévia
Marinheiro Max Mine
e sem forças de reforço dos
4
grupos de assalto. E tanto mais perigosa ainda quanto é certo que
entre a força atacante e o objectivo mediavam problemas de cálculo relacionados com a baixa-mar e a preia-mar, a habitual proximidade de tarrafo e de lodo e, depois, a transposição de bolanhas
planas, abertas e desabrigadas, exactamente como nos mostra a
indústria cinematográfica norte-americana acerca do Vietname. Só
não podemos tomar por bons exageros tais como exibir fuzileiros
estadunidenses perseguindo vietcongues na noite cerrada da selva vietnamita em desenfreada correria e sem dispositivos de visão
nocturna. Isso não é possível. Ora, em Setembro de 1970, na sequência de intensíssima actividade em terra, o DFE 12 concebeu
um golpe de mão a uma outra grande Base do PAIGC no Senegal,
recentemente constituída na localidade de Sanou, situada a dois
quilómetros da fronteira Norte da Guiné, entre os marcos 131 e
132. Era a partir dessa Base que o IN atacava Barro com intensidade constante e infiltrava homens e armas em território guineense.
O DFE 12 penetrou no perímetro da Base por Bucaur, progredindo
através de uma selva densa e de uma bolanha alagadíssima. Surgiam timidamente os primeiros alvores do dia quando a cabeça
do Destacamento topou com uma sentinela adormecida com tanta
tranquilidade que havia descalçado as botas. Sentindo os fuzileiros
do DFE 12 mesmo em cima de si, de armas aperradas, a sentinela
acordou estremunhada, desatou numa correria de pavor, esquecendo as botas e disparando uns tiros instintivos e sem direcção,
instigados pelo medo natural. Os fuzileiros da secção dianteira foram no seu encalce, a fim de evitarem que a sentinela alertasse
os camaradas que ainda dormiam. Na correria, a secção descolou
do resto da unidade e chegou ao centro da Base, momento em
que eclodiu imediata, nutrida e feroz troca de fogo. Os soldados
do PAIGC resistiram tenazmente durante uma hora, erguendo uma
barragem de fogo elevada, concentrando disparos de bazuca. O
que defenderia o IN com tanto denodo? O facto é que o confronto,
dada a proximidade que se estabeleceu entre os combatentes de
ambos os lados, evoluiu quase corpo a corpo. Ao cabo de uma hora,
o IN silenciou as armas e debandou, deixando no local três mortos, uniformizados, e muito sangue espalhado, que não conseguiu
disfarçar, como habitualmente fazia. Abandonou também o maior
depósito de fardamento que o DFE 12 viu em toda a campanha da
Guiné, suficiente para equipar uma companhia, muitas granadas e
documentos. Eram visíveis as marcas das rodas de armas pesadas
que o IN, na fuga, conseguiu deslocar. O DFE 12, que não registou
mortos nem feridos, destruiu todo o material que não conseguiria
transportar, zarpou rumo a Bigene e daí para Ganturé. Este golpe
de mão, cumprindo os requisitos da surpresa, da rapidez e da eficácia absolutamente destrutiva, teve, como efeito imediato, o facto
de o PAIGC haver deixado de atacar Barro durante meses. No mês
de Outubro seguinte, o DFE 12 sofreu a sua única morte durante
toda a campanha: o Marinheiro Ulisses Pereira Correia, de alcunha
Max Mine, a quem se presta a devida homenagem.
Gomes da Silva
Sóc. Orig. n.º 2243
O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
cartas à direcção
Excelentíssimos Senhores,
Comte Lhano Preto, Doutor Marques Pinto, SMOR Gonçalves,
Digníssima Direção da Associação Nacional de Fuzileiros:
Sendo sócio desde 1996 - N.º 443 é a primeira vez que me dirijo desta forma à
Associação.
Permitam-me referir estes três nomes que fazem parte desta Direção, prestes a
concluir o seu brilhante mandato... entre muitos outros (camaradas e amigos de
longa data: Leal e Couto, camarada e recente amigo Sr. Soares… que privilégio!).
O Comte Preto, pela brilhante condução deste mandato que rapidamente se aproxima do seu termo; o Doutor Marques Pinto, pelo
contributo no bem-fazer da “Revista Desembarque” e o salto qualitativo que deu espelhando o trabalho desenvolvido por todos os
elementos que fazem parte dos corpos gerentes da Associação, assim como nos tem trazido os eventos dos seus associados, e o SMOR
Gonçalves, pela forma calma e serena que transmite no tratamento dos assuntos relativos aos sócios.
Serve o atrás exposto para agradecer a forma hospitaleira, como sempre recebem – apanágio da Marinha – e a forma carinhosa com
que receberam o meu convidado Senhor “marujinho” Marreiros já que, desde que o conheci (Julho 2013) anseio ver dado à estampa,
na nossa Revista, historiado o seu passado na Briosa.
Obrigado a todos (os corpos gerentes) por tudo o que têm feito nesta alteração radical que é hoje a AFZ, relativamente a um passado
não muito distante.
Deixo a mesma questão que há dois dias coloquei ao Sr. Presidente: – Não dá mesmo para continuarem mais um mandato?
Cordialmente,
Muito obrigado
Francisco Pereira
Eu Fuzo de 1961 Augusto Beja
Tomei a iniciativa de lembrar
Momentos dos velhos tempos
Antes dos meus olhos fechar
Aonde moras ó fonte dos amores
Da vida do sonho e da arte
Quisera esquecer ódios e rancores
Para tranquilo a teu lado namorar-te
Em 1961, como muitos outros
Eu podia optar pela emigração
Mas eu queria ser marinheiro
Queria servir a minha nação
Tu que te esquivas para te não verem
Com fintas maliciosas de estontear
Mesmo não sendo a pessoa que desejas
Sou a cobiça que no desejo faz despertar
Em 1961 cheguei à minha aldeia
Com a linda farda da marinha
Fizeram-me uma linda festa
E lá encontrei uma madrinha
Em 1963 fui ao Vale de Zebro
Tirar o curso de fuzo especial
Dura prova de sobrevivência
Fui preso no sul de Portugal
Foi preciso muita coragem
Para esse curso terminar
Devida às muitas exigências
Com a guerra no Ultramar
De seguida fui para Angola
Foi duro aquele último beijo
Antes de entrar no navio
Atracado no rio Tejo
Desejo-vos muita coragem
A todos os novos fuzileiros
Para mim eu muito aprecio
Vos sentir nossos herdeiros
1/03/2013
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A força do Amor (Rogério dos Santos - Sóc. Orig. n.º 139 )
Recordar é viver (Augusto Beja - Sóc. Orig. n.º 1687)
Jurei bandeira em 14/07 de 1961
Em Outubro de 61 nasci fuzileiro
Triste recordação de V.F. de Xira
Por ter perdido um companheiro
Sei que não mereço o teu apreço
Sei que perdi a tua amizade
Sei que não sou o que pareço
Da paixão dentro de mim sei que é verdade
Quero enxugar a fronte do teu rosto
Para que o brilho cubra de novo o teu olhar
Na graciosa fonte de que tanto gosto
Fazendo jorrar uma vida para amar
Quando por ti me enamorei
Louca paixão senti
Com carinho e beijos te prendei
Com a primavera a florir
Se tu fosses um fruto silvestre
Criado entre outeiros vales e riachos
Serias a guloseima campestre
Que bago a bago saboreava como amoras em cacho
sem data
5
cartas à direcção
Para:
Todos Vós, Filhos da Escola:
Com um grande e saudoso abraço.
A todos vos saúdo, qualquer que seja a patente, cor, ou religião, pois ao falar de Deus, eticamente devo
respeitar a intenção do próximo.
Então: Quis Deus, que no dia de hoje, desta forma, eu pudesse falar convosco, e mais nada um filho à casa
mãe “Marinha e Associação de Fuzileiros” voltasse.
Há anos que o desejava fazer, só que, eu tal como o faço agora, escrever pelo meu punho, durante largo tempo não o pude fazer, pois
o maldito Câncer tomou-me conta dos ossos, mas com o saber dos clínicos, enfermeiros, auxiliares, e Deus e Seus Santos, por de trás
de tudo isto, eis-me hoje e desta forma a falar com todos vós, para a partilha e a solidariedade com os irmãos que sofrem, e felicitando
os que têm muita e boa saúde e que ela seja sempre fiel companheira para vós.
Agora e também caso me seja permitido e aproveitando a boleia, sem desprimor para cada um de vós, faço questão e de forma respeitosa e carinhosa, abraçar todos os filhos da Escola que comigo estiveram no meu curso de FZE – Março a Setembro de 1967, sejam
Praças, Sargentos ou Oficias.
Saúdo Também e veementemente, os meus queridos e prezados comandantes, e Sargentos “melhor”: Oficiais, Sargentos e Praças,
que comigo estiveram cá nas unidades, Ultramar e principalmente no meu querido DFE Nº4, em Moçambique – 1967 a 1969 debaixo
de ordens desse grande “Caudilho – Lusitano” de nome soletrado “Egas” que de seu nome próprio se chama hoje e Deus queira que
por muitos anos, José Cardoso Moniz.
O que tudo atrás referi, e igualmente extensivo e admirável, à pessoa querida do Sr. Comandante Heitor Patrício que para mim, e pelos
feitos em navegação marítima, que meus olhos viram, e “in-loco” senti, “Açores 70/71” navio – “Porto-Santo”, foi para mim e continua
a ser, o melhor comandante em saber levar o navio a bom porto e sua tripulação sempre, sã e Salva.
Meus queridos amigos e filhos da escola, bem hajam por tudo, pela camaradagem, partilha, amizade e sobre tudo, por me terem aturado, desde comandantes, oficiais sargentos e praças.
Que Deus a todos vós abençoe, extensivo a vossas queridas famílias e com muita saúde e alegria para os bons convívios na casa da
nossa Família Naval.
Começa a mão a ficar cansada e eu a escrever à galinha.
Meus prezados amigos, o que quer que me aconteça, nunca haverá doença que me mate. Morro sim, porque Deus é que me chamou.
É com muita alegria e satisfação que de todos vós me despeço, e com um viva daqui e vós ai “Viva a nossa mãe Marinha” e que Deus
a todos abençoe assim a nossa querida Associação.
Um até sempre queridos filhos da Escola!
José de Campos Luís
Sóc. Orig. n.º 2340
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cartas à direcção
Notas da Redacção:
1. – Optámos por não “arranjar” o texto desta carta, para não lhe retirar a força que
consideramos ter.
2. – Pedimos autorização ao autor para publicar a carta que dirigiu à AFZ, tendo obtido a
seguinte resposta:
«… é um prazer muito grande partilhar a carta com a minha família, a família
fuzileiro, fico muito feliz».
PROTOCOLOS SUBSCRITOS PELA AFZ
(Com vantagens para os Sócios)
KéroCuidados
Open Smile
Presta Serviços a idosos e Famílias
Clínica Médica – Presta Serviços Médicos, inclui Méd. Dentista
Associação Recreativa e Desportiva Bons Amigos
(ARDBA)
Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas
Grupo Desportivo e Recreativo Unidos da Recosta
(GDRUR)
Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas
Editora Náutica Nacional, Lda.
(ENN)
Editora de Capitais privados – Edita a Revista de Marinha e também livros
Manuel J. Monteiro & Cª, Lda
(MJM)
Especializada na Comercialização de Electrodomésticos, representa as Marcas: Junex,
Vaillant, Gorenje, Dito Sama, Gisowatt e Stiebel Eltron
Funerária Central Vila Chã
Associação Nacional de Agentes de Segurança Privada
ANASP
30% desconto em todos os serviços
Formação e Credenciação
Ariston Thermo Group
ARISTON
Painéis solares e Bombas de calor, Termoacumuladores eléctricos, a gás e Esquentadores,
Caldeiras a gás
Casa de Repouso São João de Deus
Acolhimento em regime interno, possui dois estabelecimentos: Lagoa da Palha, Pinhal Novo
e Cabeço Verde, Barreiro
Casa de Repouso Quinta da Relva
Acolhimento de idosos, lar e cuidados continuados
MH Wellness Club
Motricidade Humana
Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer – Santo André, Barreiro
Kangaroo Health Clube
Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer – Quimiparque, Barreiro
GAMMA
Grupo de Amigos do Museu de Marinha
Universidade Lusófona
COFAC – Cooperativa de Formação e Animação Cultural – Lisboa e Porto 10% desconto
nas propinas
Universidade Lusófona
ISES – Instituto Superior de Segurança - Conferências
Funerária São Marçal
20% – Canha Montijo
SITAVA
Parque Campismo – Brejo da Zimbreira, Vila Nova Mil Fontes
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eleições
Assembleia-Geral Ordinária e Eleitoral
29 de Março de 2014
N
o dia 29 de Março de 2014 reuniu-se,
na sede da Associação de Fuzileiros
(AFZ) na Rua Miguel Paes n.º 25,
no Barreiro, a Assembleia Geral Ordinária
e Eleitoral da AFZ, sob a presidência do
Contra-Almirante José Luís Ferreira Leiria
Pinto, com a seguinte Ordem de trabalhos:
Apresentação e eventual aprovação do Relatório de Actividades e Contas do exercício
de 2013 e do Orçamento de 2014;
– Apresentação e eventual aprovação,
ao abrigo do Estatuto (Art.º 5.º) de propostas para Sócios Honorários, a título
póstumo, dos seguintes Sócios Originários: n.º 40, José Lopes; n.º 30, José
Armando Pacheco Ribeiro.
– Eleição dos titulares dos Órgãos Sociais – Assembleia-Geral, Direcção Nacional, Conselho Fiscal e Conselho de
Veteranos.
Após usar da palavra o Presidente da Direcção, Lhano Preto, foram aprovados
– com parecer favorável do Conselho Fiscal, por unanimidade e com voto de louvor à Direcção cessante – o Relatório de
Actividades e as Contas do ano de 2013,
apresentado pelo Vice-Presidente Marques
Pinto, aqui se transcrevendo extratos da
respectiva introdução:
«Eu advogo o poder da palavra, contra a
palavra do poder» (Prof. Doutor Adriano Moreira Dixit
em entrevista a estação de televisão)
«Foi com pensamentos e palavras deste
Mestre insigne, de várias gerações e de
muitos quantos de nós o ouviram nas Universidades ou no extinto Instituto Superior
Naval de Guerra, cabeça superior de mais
de noventa anos, que abrimos os relatórios
de 2010 e de 2011.
O de 2012 evocou Miguel Torga, nas suas
“Palavras Soltas”.
Hoje voltamos ao Professor, fazendo votos
de que, sempre, no País e mesmo também
nas Associações como a nossa, o poder
da palavra se sobreponha às pequenas
palavras dos poderes que por acção ou
misteriosas omissões, tantas vezes tentam
impor-se.
Miguel Torga une-nos do alto das suas dunas olhando o Mar e a Terra e Adriano Moreira deveria unir-nos no Poder da Palavra
a todos quantos, nas pistas de lodo do Rio
Coina, as tratam por tu, ou olhando o mar,
os das gerações de 1986, das dunas de
Pinheiro da Cruz beneficiam do velho mas
único Protocolo que, com mais de 20 anos,
ainda permite às actuais gerações de fuzileiros e da nossa “Armada Anfíbia”, disfrutarem do privilégio de – embora em zona
da Justiça e não da Defesa – terem 1.600
hectares de terra e quatro quilómetros de
mar, para efectuar os seus exercícios.
Porque, por vezes, a memória dos homens
é curta evoco aqui uma grande figura dos
fuzileiros, que já não está entre nós, a
do Comandante do Corpo, Francisco Oliveira Monteiro que, na década de oitenta
do século passado – como o Tempo nos
tritura o nosso tempo (!) – se confrontou
com as dificuldades de encontrar espaço
para os seus “Fuzos” fazerem grandes
exercícios e o conseguiu com as ajudas
que habilmente solicitou. A maioria dos
titulares desta Direcção cumpriram o último ano dos seus dois mandatos e o novo
executivo poderá beneficiar de uma Associação organizada na base do seu “novo”
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O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
eleições
ordenamento normativo (Estatuto, Regulamento Geral Interno e Regulamento das
Estruturas e Serviços Centrais e Regionais) que necessitando já, porventura, de
algumas actualizações (porque os corpos
institucionais são dinâmicos e hoje como
nunca a alucinante velocidade tecnológica
e do Mundo exigem permanente acompanhamento) e de também uma sede social
renovada, de Delegações vivas e representativas e de uma situação financeira
confortável. Alguns de nós, quiçá uns com
algum sacrifício fazem a ponte, para que
a evolução se faça sem soluções de descontinuidade que apenas prejudicariam a
instituição que somos.
Cabe aqui referenciar os que no dia 29 de
Março de 2014 serão eleitos como titulares dos novos corpos sociais e, obviamente
desejar-lhes ainda maior sucesso do que
aquele que, pensamos, nós tivemos. Resta-nos apresentar contas à Assembleia-Geral e propor que sejam distinguidos, a
título póstumo, dois dos nossos melhores,
única forma que temos de, de algum modo
retribuir o muito que deram à Sua Associação e fazer votos de que muitos mais
emprestem a sua colaboração para que se
consiga guindar sempre mais alto o nome
e a imagem do Fuzileiro e da sua Associação Nacional.»
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Foram aprovadas, por unanimidade e aclamação as propostas da Direcção de elevação a Sócios Honorários, a título póstumo,
dos Sócios, José Armando Pacheco Ribeiro
(n.º 30) e José Lopes (n.º 40).
Foram eleitos em lista única apresentada pelos Mandatários, ao Presidente da
Assembleia-Geral, em 2 de Dezembro de
2014, que teve como primeiros subscritores os Sócios Originários: n.º 836, José
António Ruivo (candidato a Presidente da
Direcção), n.º 221, Carlos Alberto Marques
Pinto Pereira (candidato a Vice-Presidente)
e n.º 2279, Manuel Leão de Seabra (candidato a Vice-Presidente).
9
eleições
Organograma Figurativo
Órgãos e Respectivos Titulares da Associação de Fuzileiros Biénio 2014/2015
Mandatários
ALM
V. Matias
CMDT
A. Calvão
Mesa da Assembleia Geral
Presidente
CALM L. Pinto
V/Presidente
R. Abreu
3º Secretário
L. Rodrigues
2º Secretário
M. Santos
Conceição
1º Secretário
P. Carmona
Direcção
Presidente
J. Ruivo
4º Vogal
M. Conceição
V/Presidente
M. Pinto
5º Vogal
J. Ferro
2V/Presidente
M. Seabra
6º Vogal
E. Carmona
2º Vogal Supl.
A. Lourenço
1º Vogal Supl.
J. Pinto
3º Vogal
A. Couto
Tes. Nacional
J. Gonçalves
Sec. Nacional
B. Correia
3º Vogal Supl.
A. Pelado
4º Vogal Supl.
E. Jesus
Conselho Fiscal
1º Vogal
A. Cipriano
V/Presidente
J. Coisinhas
ário
M. Conceição
Presidente
J. Moniz
3º Vogal
F. Santos
2º Vogal
P. Oliveira
Conselho de Veteranos – Titulares Eleitos (Números 3 e 4 do Artº 14º do Estatuto)
J. Talhadas
C. Ferreira
J. Carvalho
10
J. Cardetas
alhadas
H. Videira
C. Brazão
A. Lourenço
C. Silva
E. Soares
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entrevista
Almirante
José Carlos Torrado Saldanha Lopes
O
Almirante José Carlos Torrado Saldanha Lopes concedeu-nos esta entrevista no
final do seu mandato, na qualidade de Chefe do Estado-Maior da Armada, a qual,
por vicissitudes várias, não pôde ser ainda publicada.
De qualquer forma, a Direcção de “O Desembarque” decidiu insistir em dá-la à estampa,
por várias razões.
Para além de se tratar de um Sócio Honorário da AFZ, esta figura da Armada constitui
uma das referências vivas da Marinha de Guerra de Portugal.
Os serviços que prestou, desde 1973, no exercício de múltiplas funções – designadamente, no Comando Naval, no Comando-Chefe das Forças Armadas nos Açores, no Estado-Maior da Armada, na Força Naval Permanente do Atlântico, na Missão Militar Portuguesa em Bruxelas, e no âmbito do treino operacional das fragatas da classe “Vasco da
Gama” de que foi o primeiro-oficial de ligação português ao “Flag Officer Sea Training”,
no Reino Unido, em 1991 – e, por último, no mais alto cargo da Marinha, o de seu Chefe
do Estado-Maior, configuram-no com um dos Chefes Militares que só não marcou mais
positivamente a Armada porque a comandou em época particularmente crítica, no cenário político-económico do País e em tempos de soberania limitada.
Saldanha Lopes foi promovido a Capitão-de-Fragata, em Fevereiro de 1992, sendo o
1.º Comandante da Esquadrilha de Helicópteros da Marinha, na Base Aérea do Montijo.
Tendo assumido o comando da Fragata “Corte Real”, em 14 de Novembro de 1996, participou na operação real de evacuação de civis e no restabelecimento da paz na Guiné-Bissau, em 1998 e também na operação “Allied Force”, no Kosovo, em 1999, integrado
na Força Naval Permanente do Atlântico.
Promovido a Oficial-General em 2006, assumiu os cargos de Sub-chefe do Estado-Maior
da Armada, de Comandante Naval e, cumulativamente, as funções de Comandante da “European Maritime Force” e, em 2010, o de
Chefe do Estado-Maior da Armada.
Foi agraciado com vários louvores e condecorações ao longo da sua carreira, de que se destacam cinco medalhas militares de “Serviços Distintos”, o grau de “Cavaleiro Ordem Militar de Avis”, duas medalhas militares de “Mérito Militar”, a medalha de “Mérito
Aeronáutico” e medalhas comemorativas das Campanhas de África.
“O Desembarque” (O Desemb.): O que levou o Sr. Almirante a optar pela Marinha de Guerra? Foi tradição familiar, vocação? Qual foi o
seu percurso de vida até ingressar na Escola Naval?
Alm. Saldanha Lopes (ASL): A minha vinda para a Marinha não aconteceu devido a tradição familiar mas sim por influência de amigos
no liceu D. João de Castro, que vieram visitar a Marinha. Nessa altura houve vários alunos do Colégio que em sucessivos anos entraram
na Marinha e foi um pouco atrás dessa ligação que vim visitar a Escola Naval. Pareceu-me um desafio e esse desafio fez-me seguir a
atual carreira.
A minha vida até então era a vida normal de quem andou na escola, no liceu D. João de Castro, e com uma vida repartida entre Lisboa,
Belém, Mafra, onde estão parte das raízes paternas, e Castelo Branco, onde estão as raízes maternas.
O Desemb.: Depois de promovido a Guarda-Marinha que cargos e/ou funções gostou mais de desempenhar?
ASL: A minha carreira foi uma carreira muito diversificada e muito completa e não consigo destacar cargos ou funções que mais tenha
gostado de desempenhar porque todos eles tiveram os seus próprios desafios e gostei de todos.
No entanto, todos os cargos de comando de navios no mar, obviamente, foram os mais significativos para mim. Recordo-me particularmente do conhecimento adquirido das operações quando estive embarcado em Moçambique, ainda no tempo da guerra colonial, e
também uma comissão que realizei em Cabo Verde que foram marcantes em início da carreira.
Mais recentemente o cargo que mais gostei de desempenhar talvez tenha sido o cargo de Comandante Naval, por ser o cargo mais
completo naquilo que é toda a vida operacional e as missões da Marinha, que estão na dependência do Comando Naval.
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entrevista
O Desemb.: Sabendo-se que foi Adjunto para as Operações, no Comando Chefe das Forças Armadas dos Açores, o que tem a dizer-nos
daquele arquipélago e da sua enorme zona marítima?
ASL: Nos Açores desempenhei o cargo de adjunto para as operações no Comando Chefe, em 1986 e 1987. Dessa comissão recordo
com especial entusiasmo a ótima ligação com todos os ramos das Forças Armadas, a Marinha, o Exército e a Força Aérea. Era um
pequeno comando conjunto mas que me deixou grandes memórias.
Gostei imenso dos Açores, das ilhas, fiquei ligado sobretudo a S. Miguel onde estava sediado o Comando Chefe, que era em Ponta
Delgada.
O Desemb.: Acerca da sua Missão em Bruxelas, o que tem a dizer?
ASL: A missão em Bruxelas foi uma missão muito interessante, que me permitiu o contacto, que já tinha tido ao longo da minha carreira
mas no mar, com a NATO, com a União Europeia, com as Marinhas de outros países, que fazem parte dessas organizações, e sobretudo
com a parte diplomática. Foi em Bruxelas que acompanhei e vivi toda a experiência e os acontecimentos do 11 de setembro de 2001,
as ligações diplomáticas e militares que se desenrolaram. Foi muito enriquecedor participar e assistir à relação entre a área militar e
a diplomacia, que é fundamental. Foi uma experiência marcante no aspeto pessoal e que se viria a demonstrar muito importante nas
funções desempenhadas não só na altura mas também nos cargos seguintes que desempenhei.
O Desemb.: Relativamente ao treino operacional das fragatas da classe “Vasco da Gama” de que foi o primeiro-oficial de ligação português ao “Flag Officer Sea Training”, no Reino Unido, em 1991, como foi a experiência?
ASL: Em Novembro de 1961 iniciei, na prática, a minha vida profissional embarcando no navio patrulha “S. Nicolau”.
Como referi anteriormente, têm sido vários os desafios que tenho tido e a experiência do treino operacional surgiu na sequência do
desempenho, durante um ano, das funções de oficial de operações da esquadra da NATO, ainda no tempo da Guerra Fria, que me deu
ligações a diversas Marinhas sobretudo a britânica, a alemã e a holandesa, que na época eram o expoente das Marinhas que operavam
no Atlântico. E de fato com a vinda das fragatas da classe “Vasco da Gama” foi um desafio muito grande ter iniciado este treino e
sobretudo ter estendido esse mesmo treino operacional mais tarde a todos os navios da Marinha.
O Desemb.: O Sr. Almirante foi também o 1.º Comandante da Esquadrilha de Helicópteros da Marinha, na Base Aérea do Montijo. Diga-nos alguma coisa dessa singular função?
ASL: Foi também um novo desafio, que surgiu na sequência da experiência adquirida na NATO, quando estive embarcado com navios
ingleses e alemães, que tinham helicópteros. Durante esse período adquiri uma experiência muito grande na operação daqueles aparelhos a bordo de navios.
Relativamente à Esquadrilha de Helicópteros no Montijo gostaria sobretudo de realçar a importante e sempre muito forte relação que
foi feita com a Força Aérea Portuguesa, o grande apoio que foi dado à edificação desta capacidade na Marinha e o superar de todas as
dificuldades que normalmente existiram na operação e na inserção dos destacamentos de helicópteros nos nossos navios.
O Desemb.: Sabemos que comandou uma Fragata que participou na operação de evacuação de civis e no restabelecimento da paz na
Guiné-Bissau, em 1998. De que forma é que essa experiência o marcou?
ASL: O comando da fragata “Corte-Real” foi bastante diversificado em termos de missões o que nos permitiu navegar bastante, navegámos mais de dois anos. Normalmente numa comissão de três anos a taxa de navegação é 50%, no máximo, e eu tive a oportunidade
de navegar bastante mais que isso.
Uma das operações em que estivemos envolvidos foi a da Guiné-Bissau. Foi uma missão complexa e variada pois a principal operação
já tinha decorrido durante um mês com quatro navios, a “Corte-Real” acabou por render esses navios na restante operação, quando já
havia menos civis a ser evacuados, a maioria já tinha sido retirada.
O nosso papel nessa fase consistiu sobretudo no apoio à embaixada e às conversações de paz que se realizaram a bordo do navio
português. Esta foi igualmente uma experiência muito gratificante por envolver as ligações com a CPLP, por nos permitir ajudar e
participar nas conversações, que foram cerca de quatro, que ao longo de dois meses se realizaram a bordo da fragata “Corte-Real”,
sempre algures no Rio Geba. E essa experiência foi algo de diferente que teve uma influência muito grande não só para o comandante
mas acredito também para toda a guarnição do navio.
O Desemb.: Tendo-se mostrado disponível para falar para um órgão de comunicação da Associação Nacional de Fuzileiros, como vê o
Corpo de Fuzileiros da Marinha de Guerra Portuguesa e o que prevê para esta força especial de elite?
ASL: O Corpo de Fuzileiros e os Fuzileiros têm uma longa história na Marinha. O Corpo de Fuzileiros foi desenvolvido numa determinada
vertente, as circunstâncias estão em permanente mudança e nós temos de encarar que estamos sempre em evolução, não podemos
ser estáticos no tempo porque tudo se vai modificando. Somos nós e as nossas circunstâncias.
O Corpo de Fuzileiros teve uma dimensão que era uma dimensão adequada para o nível de ambição de existência de um LPD na Marinha, que tarda em vir e que nos próximos anos não haverá, certamente, capacidade de existir.
Atualmente temos de nos centrar no que é necessário para as missões dos Fuzileiros, como parte da Marinha. E nesse sentido todos
nós e também o Corpo de Fuzileiros temos que nos adaptar à evolução natural que o País teve, condicionado por várias questões designadamente as de ordem económica, que são as que mais nos afetam hoje em dia.
Mas há que reforçar e salientar que as missões do Corpo de Fuzileiros continuam a ser extraordinariamente importantes e sobretudo
a ligação dos Fuzileiros às unidades navais são fulcrais no desenvolvimento de uma Marinha moderna e em permanente evolução.
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entrevista
O Desemb.: Estamos a terminar esta entrevista mas ainda pretendemos tocar no seu hobby. Sabemos que é um amante das artes de
Santo Huberto. Porque lhe dá prazer este desporto?
ASL: Eu tenho de fato o hobby da caça. Comecei por influência familiar, o meu Pai caçava e eu comecei muito cedo a caçar, aos 15
anos, e a desenvolver este hobby. Gosto particularmente do ar puro, tal como quando se está no mar, das caminhadas, do contacto com
a natureza pois caçar não significa só matar, caçar significa uma coisa muito especial que é de fato poder contactar com a natureza,
ver os animais selvagens no seu habitat e poder desfrutar destes momentos também com a família e amigos.
O Desemb.: Tendo assumido praticamente todos os cargos e funções de topo na Marinha, irá terminar a sua brilhante carreira como
Chefe do Estado-Maior da Armada. Como vê o País enquanto Chefe do Estado-Maior? E o que augura para o futuro da Marinha e de
Portugal?
ALS: O Chefe do Estado-Maior da Armada
hoje em dia tem dificuldades que certamente muito dificilmente se encontrarão
nas últimas décadas no nosso País, fruto
das dificuldades que Portugal atravessa.
Tem sido um desafio nestes três anos
pelas dificuldades que surgem e que nos
devem levar a pensar não isolados, como
Marinha, mas sobretudo a ter uma visão
global como Forças Armadas. O que realço nesta fase é o conjunto das Forças Armadas, o conjunto dos Chefes das Forças
Armadas e a forma como estes têm que se
portar e responsabilizar pelo seu pessoal.
Os aspetos da área do pessoal são os que
mais nos afetam, muito mais que os aspetos materiais. O material está relacionado
exclusivamente com o cumprimento da
missão, o pessoal também, mas este último desencadeia problemas que são muito externos à vida das Forças Armadas porque são
questões que envolvem as pessoas, as famílias e por isso são preocupações constantes.
O futuro da Marinha será o futuro de Portugal. Temos de ter uma visão positiva para o futuro do nosso País, o desenvolvimento tem de
existir e vai ter de existir. E se houver desenvolvimento em Portugal haverá desenvolvimento nas Forças Armadas. A Marinha tem uma
área de responsabilidade enorme, que é muito superior à área terrestre, cuja evolução temos de acompanhar pois temos responsabilidades e temos também recursos que poderão ser explorados mais tarde.
O Desemb.: A Assembleia-Geral, da Associação Nacional de Fuzileiros, de 23 de Março de 2013, decidiu distingui-lo como Sócio Honorário. Para quem é detentor de tantos títulos e condecorações poderá parecer de somenos importância mais esta “honraria”. Porém,
as mais das vezes, as coisas simples da vida são aquelas que emocionalmente mais nos tocam. Sente-se, de certa forma honrado por
ser Sócio Honorário da “sua” Associação de Fuzileiros, instituição que já conta com mais de 2.200 associados?
ALS: Dou especial importância a esta pergunta, o meu primeiro contacto com os Fuzileiros foi em Moçambique quando estava embarcado na Corveta “João Coutinho” em 1973 e fiz algumas operações no Norte de Moçambique com os Fuzileiros.
Nas ações em que pude participar recordo a especial ligação entre os Destacamentos de Fuzileiros e a corveta “João Coutinho”. Nessa
altura estava em Porto Amélia, hoje Pemba, e essa experiência deu-me uma dimensão, logo em início de carreira, muito grande e uma
ligação muito forte aos Fuzileiros, que se foi desenvolvendo ao longo de toda a minha carreira através da amizade com muitos camaradas. Fui testemunha de ações de combate, acompanhei de perto resultados de ações de combate e experienciei também esta vivência
e é esta vivência que leva a sentir-me bem com os Fuzileiros, leva-me a ter um enorme orgulho em ter muitos amigos nos Fuzileiros e
obviamente honra-me e emociona-me fazer parte da Associação Nacional de Fuzileiros.
O Desemb.: A nossa revista “O Desembarque” tem sofrido algumas alterações, pensamos que para melhor. Permita-nos o seu olhar
crítico.
ALS: Acompanho a revista “O Desembarque” com muito interesse, é uma boa revista e à qual desejo que continue o trabalho que tem
realizado até aqui no sentido de continuar a aproximar as pessoas, unindo as gerações de atuais e antigos fuzileiros, perpetuando a
boina azul ferrete.
O Desemb.: Muito obrigados Sr. Almirante.
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entrevista
António Marreiros
“Marujinho”(*) Sócio n.º 2314
(*) Designação dada pelo nosso Sócio Originário n.º 443, Francisco Pereira, autor de uma das “cartas à redacção”, camarada que nos apresentou esta
notável figura que terá conhecido numas férias, em Porto Santo.
A
ntónio Francisco Albino Marreiros nasceu em 15 de Junho de 1924, numa propriedade da freguesia
Enquanto 1.º Sargento
de Marmelete, nos contrafortes da Serra de Monchique. Sabemos que este ilustre Sócio Efectivo, um
jovem de 90 anos, brilhante na palavra e no pensamento, para além de marinheiro foi – ao longo da sua preenchida vida, cheia de
pequenas grandes estórias que fazem a história de uma personalidade em que o humanismo e a graça são pedras de toque – “oficial
de muitos ofícios”.
Encerrando em si uma biblioteca que vem enformando a sua “Universidade da Vida”, como seria bom desafiá-lo para contar, em pequenas palestras, as peripécias do seu Caminho, ensinando-nos muito do que ainda, todos temos para aprender.
Desde Enfermeiro da Armada – tendo prestado serviço, também, na Escola de Fuzileiros – até odontologista, piloto aviador, enfim, de
tudo fez um pouco na vida.
O que se pode dizer é que teve sucesso sobre sucesso, a que se seguirão – para que todos vejamos e os ainda mais jovens com ele
possam aprender – os segredos da sua sabedoria.
Nota da Redacção: Entrevista conduzida por Marques Pinto, Vice-Presidente da Direcção da AFZ
“O Desembarque” (O Desemb.): Diga-nos, Caro Consócio, onde nasceu e quando, no
ceio de que família e como decorreu a sua infância. Considera que teve uma infância feliz
ou com algumas dificuldades?
António Marreiros (AM): Nasci, há longos anos (1924) numa propriedade de meus Avós,
da Freguesia da Marmelete do concelho de Monchique. O meu Pai era praça da GNR e
minha Mãe doméstica. Não tínhamos meios de riqueza mas eramos modestamente remediados. Os meus Pais tiveram três filhos: dois rapazes e uma menina. Naqueles montes onde nasci e nos arredores era o meu Pai a única pessoa que embora sem grande
escolaridade sabia ler e escrever. Aprendeu no Hospital da Estrela, onde, em 1911,veio
fazer a tropa ficando como auxiliar de um médico, o Sr. Dr. Sá Teixeira. Este médico teve
entre os seus filhos uma menina que o meu Pai dizia ter andado com ela ao colo. Esta
menina viria a ser a primeira aviadora portuguesa (vidé museu do ar). Foi a esta família que devemos muito daquilo que fomos: o meu
irmão foi ajudante e proprietário de uma farmácia, apenas com o 3.º ano do Liceu; eu fiz a Escola Industrial; e a minha irmã licenciou-se
em filosofia. Esta amizade com o casal Sá Teixeira durou para as nossas vidas.
As minhas memórias reportam-se a 1927. Aos três anos, na Vila do Bispo, no largo da Igreja lembro-me de ter visto a Camioneta da
Carreira: tinha cobertura de lona, a entrada era pelas traseiras, com estribo desdobrável, bancos frente a frente no sentido longitudinal,
faróis alimentados a acetileno (carbureto) e a buzina era constituída por uma pera de borracha. Mais tarde lembro-me de ter ido a Faro,
ao Cabo de São Vicente e de ver o mar. De Vila do Bispo fomos Ourique, daí para Portimão e depois para Lagos.
O Desemb.: E a fase da sua adolescência?
(AM): Em Lagos, fiz além da Escola Primaria a Escola Industrial, onde eramos obrigados a, uma vez por semana, fazer uma instrução
paramilitar para a Mocidade Portuguesa, no Regimento de Infantaria n.º 4. Com uma adolescência feliz, nunca fui muito acomodatício,
porventura, relativamente irreverente, embora educado. Caberá aqui, entre parêntesis, uma pequena história dessa minha irreverência.
Em determinada altura, maçado com a tal instrução paramilitar resolvi dizer ao Cabo que a ministrava: “eu hoje não faço”. Informado o
Tenente perante quem tomei a mesma posição foi-me pedida a minha identificação e a do meu Pai. Não tendo havido consequências
significativas (estávamos nos anos de 1936/1937) só em 1970, o meu Pai, então com oitenta anos, se referiu a esta história que fora
solucionada, na altura, a contento das duas partes. Embora, nessa época em Lagos se vivessem muitas limitações (só existiam cinco
automóveis particulares, embora existissem muitas fábricas de conservas de peixe) na cidade só havia um frigorífico particular que
trabalhava a gás já que a electricidade estava ligada entre o por do sol e a meia-noite!
De qualquer forma, a proximidade do mar concedeu-me alguns privilégios sobretudo podendo disfrutar de praia.
O meu espírito empreendedor permitiu-me também aprender, por mim próprio, a andar de patins e de bicicleta e construir, com algumas ajudas, um rádio a que se chamava “galena” que não necessitava de corrente eléctrica. Houve tempo em que fui trabalhar para
uma oficina de cromagem de um amigo do meu Pai, não deixando de estudar já que me matriculei em aulas noturnas.
O Desemb.: Sabemos que ingressou na Marinha de Guerra Portuguesa muito novo. Quais foram as suas motivações para fazer essa
opcção?
AM: Como já tive ocasião de dizer, fui morar para Lagos (é cidade desde o reinado de D. Sebastião) e fui morar para perto da Igreja de
S. Sebastião onde fiz as habituais convivências. (Nesta igreja fui baptizado, fiz a primeira comunhão e ajudei à Missa).
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entrevista
Guardo a lembrança de que, certo dia, depois de a subir à Torre da Igreja, (por volta do ano de 1934) veio à baía de Lagos uma esquadra
inglesa composta por cerca de cem (100) navios, de entre eles, os três maiores do mundo, na época: o HOOWD, o NELSON e o RODNEI.
Creio que esta visão me marcou para avida.
Posteriormente continuei a ver na baía, navios portugueses (os avisos de 1.ª classe Afonso de Albuquerque e Bartolomeu Dias, cada um
com o seu hidroavião, e os contratorpedeiros (destroyers) Lima, Tejo, Vouga, Sado e Douro. Também apareciam, por vezes, algumas
canhoneiras. Tive ocasião de visitar alguns. Antes da 2.ª Guerra Mundial, também lá apareciam navios de guerra alemães. A 2.ª Grande
Guerra Mundial começaria no fim do mês de Setembro de 1939. Creio que foi por esta data e razões que terá começado o meu “ciclo
da ARMADA”.
Nos fins do ano de 1940, apareceu uma publicação a anunciar a abertura para inscrição e para provas de admissão de alunos Marinheiros (3.º Alistamento). Tinha então 16 anos de idade. Pedi ao meu Pai autorização para me inscrever e ir fazer provas e inspecções.
Imediatamente, não pareceu ter reagido muito bem. Contudo depois aceitou, dizendo-me: “então vai, não quero que um dia digas que
estás mal por minha causa”.
Quando fui chamado para prestar provas em Vila Franca de Xira, Escola de Alunos Marinheiros, Quinta das Torres, (Fevereiro de 1941)
parti de camioneta para Lisboa, levando comigo 100 escudos que o meu Pai me entregou, depois de ter pago o bilhete de ida e volta.
E o dinheiro chegava, tendo eu resolvido ficar hospedado numa pensão na rua 1.º de Dezembro. Acabadas as provas, regressei a casa.
No dia 2 de Maio do mesmo ano, recebi uma carta informando-me que me devia apresentar na Escola de Alunos Marinheiros, às 08H00
do dia 5 de Maio de 1941. No dia 3 de Maio do mesmo ano, às 19H40 saí de Lagos num comboio (a carvão) e cheguei ao Barreiro às
08H00 da manhã! Fui para a mesma pensão. No dia 5/5/1941, lá me apresentei. Foi-me atribuído o n.º 316, de aluno. O grupo de alunos
deste alistamento foi de 100. Fui aluno marinheiro cerca de dois anos. E, até hoje, não mais deixei de pertencer à Armada.
O Desemb.: : Como se desenvolveu a sua carreira na Armada? Diga-nos por onde andou e que mundos percorreu.
AM: Ao cabo de cerca de dois anos de aluno, mais propriamente 22 meses, em Março de 1943, acabei o curso de máquinas, que na
época era denominado de fogueiro, com o posto de primeiro grumete. Fui para esta especialidade porque sempre gostei de máquinas.
Porém, como carreira era limitada pois apenas dava acesso ao posto de Cabo. Mais tarde resolvi concorrer ao curso de enfermagem.
Como grumete e depois como 2.º marinheiro, andei vários anos no contratorpedeiro Tejo. Tudo isto se ia passando enquanto decorria a
2.ª Guerra Mundial. Mas, para melhor falar por onde andei, voltemos ao tempo de aluno marinheiro: A 30 de Setembro os cerca de 90
alunos (de 16/17anos) que eramos, embarcámos no comboio para Lisboa, desembarcámos no apeadeiro do Areeiro e daí, de arma ao
ombro, fomos pelas ruas e avenidas da cidade de Lisboa rumo ao Arsenal da Marinha, para embarcar no Navio-Escola Sagres. Quando
chegámos a bordo, perguntaram aos alunos se algum tocava algum instrumento musical. Respondi “eu, o 316”. O 252, também tocava.
No dia 1/10/1941, pouco antes da partida do navio discursou Sua Ex.ª o Ministro da Marinha, Ortins Bettencourt que no final da sua
alocução disse o seguinte: “se pensam que vêm para cá para enriquecer, vão-se embora e montem uma mercearia”.
Largámos às 18H15 horas, rumo a Cabo Verde, S. Vicente e levámos oito dias até St.ª Cruz de Tenerife e outros oito dias até S. Vicente.
Em S. Vicente, no porto da cidade do Mindelo, fazíamos remo e aprendíamos marinharia e sinais, para além dos ensaios na charanga.
Aos domingos tocávamos no coreto, na praça principal da cidade. Eram noites muito movimentadas e muito divertidas.
Certo dia, numa Segunda-Feira de tarde, enquanto decorriam os trabalhos habituais, e a charanga ensaiava, como de costume, no convés do navio, perto do mastro “o grande”, ouviu-se um alarido que vinha da proa. Toda a guarnição acorreu, para ver o que se passava (a
charanga também parou de tocar e fomos ver). Aqui fica a história: Um sargento condutor de máquinas fez um grande anzol onde enfiou
cabeças de galinha e outros restos da refeição da véspera. O anzol pelos vistos tinha sido lançado e nele caiu um tubarão. O bicho foi
içado. Um oficial com uma espingarda deu-lhe um tiro. A bordo, foi aberto. Tinha no interior dois pequenos cães, cabeças de galinhas e
um rolo de arame! O tubarão foi medido e tinha 3,67 metros. A pele parecia lixa da mais grossa, e os dentes uma autêntica serra.
No dia 14/10/1941, saímos rumo ao Rio
de Janeiro. Lembro-me que era sábado.
O comandante, Capitão Tenente Marcos
Viera Garin, não quis sair na véspera por
ser sexta-feira e dia 13! O imediato era o
Capitão Tenente Santiago Ponces.
O percurso foi com vento, sem vento, com
mais ou menos vagas, com chuva, enfim
com todos os ingredientes do nosso Mar.
Ao passarmos pelo Equador, foram feitas
as tradicionais festas em honra de Sua
Majestade, o Rei dos Mares. Chegámos
ao Rio de Janeiro, 28 dias após a saída do
Mindelo. Entrámos na Baía de Guanabara e
fomos acostar ao cais, pertencente ao Touring Clube do Brasil, mesmo perto da praça Mauá e da Avenida Rio Branco.Fizemos
passeios, fomos a bailes, percorremos Copacabana, fui ao futebol no Maracanã, etc.
Todos os dias ao içar da nossa bandeira,
tocávamos o nosso hino nacional e em seguida o brasileiro e por fim uma marcha.
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Falando para “O Desembarque”
15
entrevista
Saímos do Rio para Cabo Verde creio que no dia 30/12/1941. A viagem e a estadia, de
novo no nosso arquipélago, decorreram com toda a normalidade. No regresso a Lisboa,
mais ou menos a meio do percurso, apanhámos uma tempestade forte, que ocasionou
ter-se partido o mastaréu do mastro o “grande”, onde estava amarrada uma das extremidades da antena do rádio. Houve muito trabalho do pessoal já experiente para reparar
a avaria.
Chegámos a Lisboa no dia 28/2/1942. Distribuídos por vários navios, eu fui para o aviso
Bartolomeu Dias. Este navio também tinha charanga, à qual aderi de imediato. Neste
navio fui ao Funchal e de novo a Cabo Verde (S. Vicente, Santo Antão e Praia). Regressado
a Lisboa passei para o Contratorpedeiro Lima, que tinha como comandante o Capitão Tenente Sarmento Rodrigues. Saímos para os Açores, a 7/7/1942, de tarde. No dia seguinte, cerca das 22 horas foram avistadas umas luzes, fracas e o navio aproximou-se. Eram
três embarcações com cento e onze náufragos (só havia uma mulher). Este grupo era
originário de três navios que tinham sido afundados pelos alemães. O último pertencia à
companhia Ávila Star. Quando estávamos a salvar os náufragos, foi visto na escuridão da
noite, o periscópio e parte da torre de um submarino. O comandante foi informado. Mandou carregar a peça “N~”. Era uma das peças de 120 mm. Estes náufragos andavam
Aos 19 anos (Set.º 1943), em Lagos, com os pais
no mar há três dias mas fomos informados de que havia mais náufragos. Procurámos
durante 24 horas e não os encontrámos. Rumámos, então, a Ponta Delgada onde entregámos os náufragos. Algum tempo depois,
soubemos que os outros tinham sido encontrados, mas em muito mau estado, pois foram salvos já com 21 dias de naufrágio. Mas
por coincidência foram também salvos por um navio nosso: o Aviso de 2.ª classe Pedro Nunes. De Ponta Delgada, fomos para o Faial.
O Desemb.: Sabemos que, quando esteve na Escola de Fuzileiros viveu uma pequena estória à volta de uma barraca à entrada da Mata
da Machada. Podemos ouvi-la?
AM: De facto participei numa pequena história na tal pobre barraca, na Mata da Machada que me chocou e
muito senti pela miséria que fui encontrar a que se juntava uma total falta de higiene. A história pode contarse assim: Dos quatro enfermeiros de dia que faziam parte do serviço de saúde na Escola de Fuzileiros só
ficava à noite um. Certa dia, junto à tardinha, estava de serviço e fui chamado pelo Oficial de Serviço que
me disse ter recebido, através do pessoal que fazia sentinela junto da estrada, a notícia de um casal com
um problema de saúde pedindo-me para ir ver o que se passava. Assegurando-se que eu tinha carta de
condução disse-me: “então leve aquele Jeep”. Assim fiz. Quando lá cheguei apareceu-me um pobre homem
à porta duma barraca de madeira, apresentando-me a mulher que se queixava com dor de garganta e
falava e respirava com dificuldade e quase total afónica. Pedi-lhes uma colher, baixei-lhe a língua e vi umas
enormes amígdalas, que mal a deixavam respirar. Vim para a rua e com o homem, perguntei-lhe se conhecia
ali algum médico, ao que me disse que sim. Disse-lhe então: “vá já chamá-lo, depressa e diga-lhe que fico
aqui à espera dele. Dias depois soube que a mulher tinha sido internada e salva de uma angina diftérica.
Enquanto 2.º Sargento
A pequena história serve para demonstrar a miséria que nessa época ainda se via, à volta de Vale do Zebro.
O Desemb.: Sabemos, também, que lá por voltas de 1924 teve a oportunidade e o privilégio de assistir a uma caçada às baleias, presumimos, que lá para as bandas dos Açores. Como foi essa aventura?
AM: Como anteriormente já referi, estive embarcado no Contratorpedeiro Lima sendo que, de Ponta Delgada rumámos para o Faial.
Quando íamos a chegar, à entrada do porto vinham a sair três potentes barcos a motor, rebocando cada um deles, algumas elegantíssimas baleeiras.
O Comandante Sarmento Rodrigues apercebendo-se de que iam à caça da baleia seguiu as embarcações. Pouco tempo depois começámos a ver à distância, os jactos de água e de ar provenientes da respiração das baleias. Os mestres dos barcos a motor, com um
gesto, pediram ao comandante que não se aproximasse muito. O pedido foi aceite. Os barcos a motor, a alguma distância das baleias,
largaram as baleeiras, que passaram a navegar à vela, até perto das baleias. Aí passaram a remos com o trancador já na proa (o
trancador é o homem que atira o arpão). Quando chegaram muito próximo de uma baleia, este arpoou o animal que se afundou e com
grande velocidade.
É este o momento mais perigoso da caçada: ao sentir-se arpoada, a baleia (cachalote) afunda-se e aumenta a velocidade: se o cabo do
arpão está mal enrolado ou apanha as pernas do trancador, lá vai o homem e se o cabo se prende a alguma parte da embarcação, esta
vai também. Aquele cabo tem de estar sempre com um enrolamento muito cuidado. Logo que a baleia deixa, vão recolhendo o cabo até
lhe poderem espetar uma lança, para a sangrar. Depois de caçarem o que for possível, as baleeiras vão-se embora à vela e os barcos
a motor rebocam as baleias para a fábrica onde lhes é extraído o óleo.
O Desemb.: Porque abandonou a Marinha?
AM: Boa pergunta Sr. Doutor mas de resposta não muito fácil. Como em tudo na vida há momentos em que temos de tomar decisões.
E foi o que fiz, mesmo sabendo que ainda não tinha feito o embarque de “promoção” a 1.º Sargento que sabia estar para breve. Eu e
minha mulher não tivemos filhos e, ponderando, preferi sair. Por vezes, na vida, temos de fazer sacrifícios e este certamente, foi um dos
maiores. Assumo, porém, a responsabilidade considerando que não fiquei a dever muito à Pátria: trabalhei 44 anos no meu consultório
de odontologista e dei 31 anos à Armada, dois anos dos quais a fazer consulta de estomatologia e na Escola de Mecânicos, na Quinta
das Torres.
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O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
entrevista
O Desemb.: Tudo isto tem a ver com a sua actividade de odontologista? Qual foi a sua formação e como e onde a desenvolveu?
AM: Certo dia, quando tive de embarcar para a promoção a 2.º Sargento, estava o navio em plano inclinado resolvi ir ao Centro de
Saúde falar com o Tenente Elói e com a Capitão-Tenente Jesué, ambos enfermeiros e odontologistas que exerciam funções no Alfeite,
revelando-lhes o meu interesse pela odontologia. Acharam muito bem mas havia que colher o consentimento do Médico-Chefe de
estomatologia, o Doutor Paiva e Costa, com quem falaram e que de imediato concordou e autorizou. Comecei a utilizar uns livros que
eles próprios me emprestaram que estudei com muita vontade. Anos depois abriu um Curso a nível nacional e – como já tinha acontecido com os meus antecessores – fui fazer exames teóricos à Reitoria da Universidade de Lisboa e as práticas no Hospital de S. João,
no Porto. E foi assim que me tornei enfermeiro odontologista e, posteriormente montei um consultório em Campo de Ourique, onde
trabalhei 44 anos!
O Desemb.: Conte-nos, por favor, algumas estórias da sua preciosa vida. Estórias a esmo (e devem ser tantas!) como lhe forem ocorrendo, ao correr da palavra ou da pena, como se costuma dizer.
AM: Um dia, na Índia quando fomos pela primeira vez a Bombaim apanhámos um ciclone durante quase 24 horas e pela primeira vez
enjoei completamente. Mas que me recorde foi a única.
Em Bissau, na Guiné, um belo dia, o Chefe da Artilharia perguntou-me se eu queria fazer carreira de tiro, uma vez que fazia parte do
pelotão de desembarque. Disse-me porém o Oficial: “Olhe que os terroristas não sabem que você é o Enfermeiro… Disse-lhe que não
percebia nada de tiros mas, lá fui. Fiz tiro de espingarda com razoáveis resultados e por último de FBP. Os alvos eram constituídos por
tábuas verticais e outras, em cima, na horizontal e, sobre estas, umas garrafas e latas de cerveja. Lá fui doseando os tiros de forma a
disparar apenas um ou dois de cada vez e não em rajada, como a maior parte dos camaradas faziam. Quando regressávamos ao navio
o Tenente disse-me: “então era este o homem que não percebia nada de armas”!
Sempre gostei de aviação. Em Lagos fui aprender a pilotar os Asa Deltas motorizados tendo adquirido um em sociedade com mais dois
colegas, para termos aulas e fazermos os exames. Depois de efectuados os exames teóricos, comecei as aulas práticas fazendo “o
primeiro solo”, a 10 de Junho de 1996. Fiz exame de pilotagem em 14 de Junho, na véspera dos meus 72 anos de idade. Mais tarde
comprei um “asa” só para mim e pouco depois um avião “bilugar” marca “Jabiru” tendo feito, a seguir, a respectiva adaptação.
Nas minhas viagens, em serviço ou em turismo corri, quase diria,
“meio mundo”. Vejamos por onde andei, para além dos locais já
citados ao longo desta conversa:
Irlanda do Norte: Landondery; Londres; Weimoss; Playmoss; Roterdão (mar do norte, em manobras internacionais); Vigo; Gibraltar; Tanger; Ceuta; Port Saíd; Canal do Suez; Aden; Goa: Mápuçá,
Londa, Quartalim, Agassaim, Pondá, Mormugão, Vasco da Gama,
Velha Goa, Ribandar e Mapoçá; Damão; Diu; Bombaím; Ceilão;
Madrid; Roma; Andorra; Veneza; Suíça: Chafausen, Quedas do
Reno, Montanhas de Stamam Rain e Iunfrau.
Com a Esposa, no seu asa-delta
O Desemb.: Sr. Marreiros, estamos a chegar ao fim da nossa conversa mas diga-me: porque tivemos a honra de contar consigo
como Sócio da AFZ?
AM: No Verão passado (2013) escolhi para passar uns dias de férias a Ilha de Porto Santo, onde tinha estado, pela primeira vez, em
1953, em serviço do navio. Tinha estado no Funchal em Abril de 1942 e posteriormente, voltei lá várias vezes mesmo de férias com a
minha Mulher. O ano passado cheguei a Porto Santo, só, e sem conhecer ninguém. Depressa me senti acompanhado por gente da nossa Armada: O Comt. Júlio Marinho e Esposa; o Comt. Rodrigues e Esposa e o Sargento-Mor Fuzileiro, Francisco Pereira, Esposa e Filha.
O grupo, que naturalmente se constituiu foi de excepção. Já em Lisboa, todos tiveram a amabilidade de me convidar para o seu convívio
mas o Casal Pereira não ficou pelo simples convívio pessoal: fez com que eu voltasse aos tempos navais, proporcionando-me alargar o
convívio à Associação dos Fuzileiros (instituição a que, imediatamente, me associei) e ao
seu Vice-Presidente, Dr. Marques Pinto que me desafiou para esta conversa..
O Desemb.: A nossa revista “O Desembarque” que se vem fazendo com muito idealismo, cremos que tem um nível e uma qualidade que não são vulgares em publicações de
instituições congéneres. Permita-nos o seu olhar crítico.
AM: “O Desembarque” desenvolve temas muito abrangentes e de natureza variada não
se quedando pelos assuntos militares mas alargando-se por temáticas de caracter intelectual, histórico, social, cultural e académico, o que pode certamente servir de exemplo
a muitas publicações.
O Desemb.: Agradecemos a sua disponibilidade.
AM: Agradecido sinto-me eu… Sinceramente. Eu é que me sinto honrado e agradecido
pela forma distinta e cordial, sincera e amiga, como sou convidado e recebido no seio de
tão nobre ramo da nossa Armada – os fuzileiros – através desta prestigiada Associação
e das sua revista “O Desembarque”.
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Em Goa
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contos&narrativas
Estórias por Contar
A propósito de uma evacuação
José Horta
N
a senda da minha crónica anterior, publicada na “O Desembarque” nº 17, de Novembro de 2013, venho, mais uma vez,
dar testemunho, em mais uma narrativa, dos tempos da velha Guiné. Não quero ser fastidioso. Provavelmente, para muitos
dos que me lêem, esses tempos pouco ou nada lhes acrescenta,
sendo certo que o tempo e os factos, vividos por cada um, apenas
aos que por tal passaram (o próprio e seus contemporâneos) lhes
desperta o interesse e o encanto, que a saudade cataliza. Contudo
e apesar de tudo, as novas gerações que me perdoem mas, o
traço que “velhos” e novos têm em comum é que todos somos
fuzileiros. Tal basta-me! O que se procura trazer aqui são histórias de fuzileiros, trechos vividos em tempos gloriosos, tal como
gloriosos são os tempos vividos e protagonizados, pelos fuzos,
em qualquer tempo e em qualquer lugar.
no mato ou na bolanha, no rio ou no mangal, como também na
sua unidade ou fora dela, capaz de dar a roupa e o pêlo, a própria
provisão de comida, na hora exata em que um seu semelhante
dela esteja necessitado. É espontâneo e verdadeiro, é leal, solidário e nobre de carácter, sobretudo no trato com os mais fracos.
O Fuzileiro despreza a arrogância e não desdenha dos menos
aptos. É isso que vinca a sua superior virtude e os define pela
coragem e forma de estar e combater! São infantes do mar, dos
rios próximos e distantes. É deles que emergem… e é nas suas
margens, na praia deserta que, natural e inevitavelmente realizam o seu ideal bélico, o seu sonho de combate e a conquista de
merecidos louros. O Fuzileiro de tudo é capaz, saindo de si próprio
e da sua capacidade de combatente voluntarioso e destemido.
Ser Fuzileiro é, para mim, uma coisa intemporal! Não se é Fuzileiro uma vez, é-se sempre Fuzileiro, desde que se tenha alma
de Fuzileiro!!!
Foi assim que a meio duma radiosa manhã, num longínquo sábado de Março, do ano da graça de 1974, recebo ordem para fazer
escolta a um “comboio”, que sairia de Cobumba, às 13 horas e
desceria o rio Cumbijã, até ao cais de Cufar.
Desta vez sou a descrever-vos as peripécias vividas pelo autor e
outros companheiros, aquando de uma evacuação, “forçada”, no
rio Cumbijã, de um militar do Exército.
Na véspera, um ataque noturno e traiçoeiro, tinha feito alguns
estragos na guarnição militar de Cobumba. Não durou muito
tempo, mas fez mossa, em homens e material.
Passados, quase, quarenta anos, os pormenores do ocorrido há
muito se volatilizaram da nossa exaurida memória. Tal não constitui para mim, no entanto, motivo para não vos relatar momentos
em que a nossa (simples) condição de homens de fuzil, falam
mais alto que os meandros do tempo.
Por essa altura, mais de um grupo de assalto, do nosso
destacamento (DFE 5) reforçava a desfalcada companhia que
guarnecia Bedanda, na outra margem do rio, em posição frontal,
num local sobrelevado, mas cujo acesso só a maré alta o permitia,
dado que era o único meio de lhe aceder, a partir da margem.
Bedanda tinha sido atacada, dias antes, tendo estado sob fogo
intenso, durante mais de 10 horas, por elevado dispositivo de
combate inimigo, que incluiu viaturas blindadas, num período de
tempo fora do comum…
O Fuzileiro, na minha perspectiva, não é só aquele duro “graneleiro” que tudo abraça, que vai à luta e que encara o inimigo fixando-o nos olhos (Fuzz’lero pá, manga di fogo báxo…dizia de nós
o próprio inimigo*). O Fuzileiro é um combatente generoso, tanto
(*) Relato dos próprios elementos do PAIGC, proferidos na presença do autor, em duas ocasiões no pós 25 de Abril (Cafine e messe da Marinha, em Bissau).
Cafine. Eu e um pequeno saval
Largada de Vila Cacheu
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Ao ”leme” de um Z.III, numa patrulha do rio Cumbijã
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contos&narrativas
Chegámos ao cais de Cobumba, se bem me lembro, mais de 20
minutos antes da hora prevista. Estava presente o patrulha da
Marinha cujo nome se volatilizou nos sopros da minha memória
distante, da mesma forma que já não recordo o nome do seu comandante, facto que lamento. Estava também a ‘Nhominga’ (embarcação indígena, com considerável capacidade de carga, muito
utilizada no transporte de géneros de vária ordem, na via fluvial
e marítima) e diversas outras embarcações de menor registo. Em
terra e no momento de aportar ao cais, dois ou três magalecas de
tanga (calção), bota de lona e quico... Um deles interpela uma das
nossas praças, da seguinte maneira:
– “Então só agora é que aparecem?”
O (nosso) rapaz ouviu e sem responder, estupefacto e após breves
instantes, encolhe os ombros e faz um gesto na minha direção,
que tinha sido o último a desembarcar. O soldado olha para mim
e repete o que tinha perguntado. Eu, também meio surpreendido,
olho para ele e solto-lhe um sonoro – “O quê?”.
Já num tom mais ameno volta a perguntar-me porque é que só
agora vínhamos evacuar o ferido (…). Respondo-lhe que estava
ali para fazer uma escolta, não para evacuar feridos… Indaguei,
também, se o ferido era o mesmo do ataque da véspera (tivemos informação desse facto, logo após o referido ataque…) o
que estava em situação mais grave. Respondeu-me que sim e
eu afirmo-lhe que mais nada podia fazer e que eles teriam que
providenciar outro meio de evacuação. Mais, que ninguém nos
tinha solicitado nada e que estava convencido que o Exército já
teria resolvido o assunto, pois nada nos tinha sido comunicado,
nem pedido.
Posto isto, regresso à margem. Estava a chegar uma maca com
um ferido… Vinha a soro. Mando os dois companheiros do bote
distribuírem-se por outros e encaixámos a maca, com o ferido, no
fundo do meu bote, que conduzia. Largo imediatamente com a
recomendação, uma vez mais, do aviso para Cufar!...
Desço esse troço de rio a toda a velocidade e com uma imprecisa
noção da distância. Era longíssimo… e o percurso demorava uma
eternidade (achei eu!). Na minha ânsia de chegar pedia a Deus e
aos Santos todos, veementemente, que a viatura de Cufar não se
tivesse “esquecido” de nós. Era larga e extensa, a curva do rio
donde se vislumbrava o cais “prometido”. Lembro que, à medida
que a margem se abria, ao avistar (ao longe) o cais de Cufar e a
silhueta da viatura, nele postada, as lágrimas saltaram-me dos
olhos em, impertinente, catadupa. O que vale é que seguia só
com o ferido e, mais ninguém reparou na minha súbita e momentânea fraqueza.
Ao chegarmos, de pronto nos “desembaraçámos” do ferido, repus, quase em simultâneo, os companheiros no meu bote e, lestos, empreendemos a viagem de retorno. Atrasados, mas com
uma sensação indescritível no peito, com a alma lavada e em paz
com o mundo, lá cumprimos, mais uma vez, a nossa missão de
paz e solidariedade, mesmo num tempo de guerra.
Ainda hoje lamento não recordar o nome do navio e, sobretudo
isso, o nome do seu Comandante, a quem sempre fiquei reconhecido.
José Horta
Sóc. Orig. n.º 485
2TEN FZE/RN
Ao ver que nada conseguia, pela nossa parte, o soldado faz um
gesto largo e desabafa, alto e num tom de desespero – “É pá, o
rapaz ainda morre…”
Não gostei de ouvir aquilo, confesso que me tocou fundo. Olho
para o relógio e ainda faltava um pouco mais de um quarto de
hora…
Fixo o rapaz nos olhos e digo-lhe com convicção! – “Vais, rapidamente, buscar o ferido e avisem, sem falta, para Cufar que vamos
lá deixá-lo. Que tenham uma viatura no cais, pois não posso perder tempo, tenho uma escolta para fazer!”
Em Cufar, sede do CAOP, além de outros meios de socorro, tinham aeródromo, facto que permitia uma evacuação rápida para
Bissau, se necessário fosse. De seguida, vou a meio do rio, onde
estava fundeado a navio patrulha, falar com o Comandante de
todos os meios envolvidos. Era o que deviam ter feito em primeiro
lugar mas, não descortino porque não foi assim. Explico a situação ao Comandante e afirmo-lhe a minha determinação em fazer
a evacuação. Ainda tinha algum tempo, pedi-lhe para retardar um
pouco a largada do comboio… Iria a Cufar e, breve, regressaria
para fazer a escolta. Não foi boa a cara deste e impercetível a
sua resposta, mas penso que compreendeu, não tendo levantado
qualquer problema na altura e, sobretudo, depois…
LDG - a retirada
Sócio da AFZ
Participa,
colabora
e mantém
as tuas quotas em dia.
Manhã do dia 21/10/1974. Entrada no Tejo
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19
contos&narrativas
Guarda Avançada
em Terras de Niassa
Ramires da Palma Bonito
E
ra já noite aquando tudo aconteceu.
Íamos nós, uma secção de fuzileiros
especiais por mim comandada (sendo
eu então 2.º Sarg FZE) montar uma guarda
avançada no cimo dos morros a Sul da
casa do Administrador, no Cobué.
No dia 15 de Fevereiro de 1966 eramos
16 elementos, a minha Secção, (a secção Delta do DFE1) reforçada com uma
esquadra da metralhadora MG-42 e com
um cão de guerra. Eu seguia em 2.º lugar
no grupo, logo atrás do marinheiro fuzileiro especial Luís que conduzia, à frente, o
nosso cão de guerra pela trela.
Quando caminhávamos por entre espinheiros áridos e capim, na encosta, já
perto do local destinado a montar a emboscada eis que, de súbdito me foi dado
observar o cão de guerra que, por mais
uma vez esticando a trela com força, arrastava o marinheiro Luís consigo como
que querendo correr atrás de algo que não
fiquei a saber o que era. Admitimos porém
que pudesse ser o inimigo ou então algum
animal selvagem que, pressentindo-nos,
se punha em fuga.
Nesta situação de alarme, passado muito
pouco tempo, fizeram-se ouvir primeiro
uns “tiritos” e, de seguida umas rajadas
de armas automáticas.
que regressasse imediatamente com o
ferido ao Cobué. Em face da distância a
percorrer e o estado grave do “Olhão”,
o Comandante enviou ao meu encontro
o Enfermeiro Marcolino que, escoltado
por uma equipa de fuzileiros especiais,
trouxe uma maca do quartel e veio prestar
socorro ao ferido em pleno mato.
Não foi “pera doce” o nosso encontro.
O Comandante, via rádio, foi-me dando
instruções, designadamente, quanto ao
azimute que eu deveria seguir até à estrada (picada) de terra batida, que dava
acesso ao quartel, picada essa, por onde o
Enfermeiro veio ao nosso encontro.
E lá fomos nós, mato fora, transportando
o “Olhão” o melhor que podíamos e sabíamos.
Começámos por tentar improvisar uma
espécie de maca com casacos camuflados,
atados pelas mangas e apoiados em duas
G-3. Mas isso não deu bom resultado.
Depois, com os casacos atados a dois
paus arrancados dos arbustos, já correu
um pouco melhor, permitindo transpotar
o “Olhão” até à picada, em cima daquela
engenhoca.
Quando encontramos o Enfermeiro, ele
substituiu o garrote improvisado por outro
de borracha, adequado, para evitar mais
perdas de sangue. E o enfermeiro não
foi de cerimónias, dando-me o “chá”
chamou-me à atenção pelo facto de não
ter injectado morfina no ferido, ao que
respondi: “éh pá, ò “Marcóles”, na refrega
nem me lembrei da morfina que levava
comigo a tiracolo, no quite individual de
primeiros socorros”.
Após socorrido, pelo enfermeiro, o ferido
foi evacuado de lancha, do Cobué para
Metangula, na madrugada do dia seguinte;
e daí para Vila Cabral, de coluna militar,
onde o cirurgião do exército o esperava.
Posteriormente foi transferido para o
Hospital da Marinha na Metrópole.
Dos rumores, acerca da sorte que o
“Olhão” teve em escapar, contava a
“maralha” que, o cirurgião em Vila Cabral
terá querido saber, quem fora o médico
que laqueou a perna do ferido; ao que
os fuzos presentes informaram que não
tinha sido nenhum médico, mas sim um
enfermeiro da Marinha. Então o cirurgião,
em termos elogiosos, terá afirmado: “no
mato sem condições, salvou-lhe a vida”.
Ramires da Palma Bonito
Sóc. Orig. n.º 91
Logo constatei ter sido o pessoal que
seguia à retaguarda, quem por sua
iniciativa abriu fogo (o “Setúbal”, o “Bifes”
e o “Olhão”).
Quase em simultâneo, irromperam na noite, gemidos de dor. Imediatamente, indaguei e soube tratar-se do nosso Camarada
FZE “Olhão” que aflito gritava: - “ai que já
não posso jogar à bola”.
Fui o primeiro a chegar junto do ferido e
logo lhe fiz um garrote improvisado com
a minha rede mosquiteira, digamos que
às apalpadelas, atando-a na perna, por
cima do joelho, cujo gémeo se encontrava
praticamente despedaçado. Sensivelmente de 15 em 15 minutos ia-lhe aliviando o
garrote.
Entretanto, via rádio, com o meu PRC 216
entrei em contacto com o Comandante
do DFE 1, o então 1.º Tenente Costa
Campos, informando-o de que tínhamos
um ferido grave tendo-me ele ordenado
20
Almirante Reboredo e outras entidades militares, de visita ao DFE1 no Cobué, (1966)
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contos&narrativas
Castufo com sabor a leite de rosa
Elísio Carmona
C
orria o mês de Maio do Ano da Graça
de 1971. Ganturé. Base de Fuzileiros situada a 2/3 do caminho, mais
palmo menos palmo, entre Vila Cacheu e
Farim, para quem subisse o rio que tão
gratas recordações deixara ao Marinheiro E, que o sulcou em diversas escoltas a
comboios, a bordo das saudosas LDM’s.
Por esta altura, no período de serviço externo, o Marinheiro E cumpria, com o seu
pelotão, tarefas de reforço à segurança do
aquartelamento. Era assim na alternância cometida às Companhias de Fuzileiros destacadas no TO da Guiné: escoltas
simples, comboios de batelões, apoio em
Ganturé, no Período de Serviço Externo, e
segurança às INAB no Período de Serviço
Interno.
Ganturé. Duas cercas de arame farpado
a guardar, a partir do centro do perímetro. No ponto mais elevado, os edifícios
das secretarias das Unidades destacadas,
as Messes de Oficiais e de Sargentos, os
Postos de Sentinela, os Bunkers, a que
carinhosamente chamávamos Abrigos, o
Posto Médico, o Grande Barracão, o Parque de Combustíveis, a Horta, a Vacaria,
e já fora, junto ao rio, o Cais a que atracavam as embarcações que se aventuravam
pelas suas águas: batelões, LDM’s, LFP’s,
LFG’s e até LDG´s.
Por esta época, a vida, em Ganturé, era
a coisa mais pacata do mundo, feita das
rotinas que enchiam o dia-a-dia de cada
um: levantar, formatura com distribuição
de trabalhos, orientados para as limpezas
num navio de terra seca feito, sem descurar a preparação das valas para o escoamento das chuvas que não tardariam a
chegar, o almoço, o jogo de futebol de salão para o qual havia sempre voluntários,
a meia tarde, o jantar e lá pelas 23 horas o
recolhimento à dupla protecção do Abrigo,
por um lado, contra eventuais incursões
do IN, e por outro, do Mosquiteiro, que nos
punha a coberto dos ataques de melgas
ferozes e sedentas de sangue.
Digamos que a vida, a boa vida, já se tinha
instalado de novo e em força, diluídos os
últimos resquícios da noite do nosso desassossego, 22 para 23 de Abril, ainda tão
próxima e ao mesmo tempo tão distante,
perdida na bruma inexorável do tempo.
Nessa noite, pelas 23 horas, em apenas
15 minutos, e sem que nada o fizesse
esperar, Ganturé estremeceu de uma
ponta à outra: primeiro o intenso bombardeamento a Guidage, que fez correr toda
a gente para os Abrigos e à tomada das
necessárias medidas de segurança, cada
um no seu posto, depois as flagelações
mais ligeiras sobre Barro e sobre Bijene,
e, pelas 23.15, o ronco surdo, assustador,
dos foguetes lançados sobre a Base, que,
felizmente para nós, foram deflagrar todos
em pesadas explosões, na bolanha do outro lado do Cacheu.
Dos oficiais apinhados junto à porta que
dava para leste, quando o primeiro foguete
se anunciou, um deles, não se sabe quem,
inquiriu:
– Que barulho é este?
Uma pausa, os ouvidos e os olhos todos no
ar, o coração a acelerar, e o comandante:
– Mísseis, todos para dentro!
Todos? Bem, quase todos, que houve 2
que se escaparam do grupo, o Marinheiro
E e o Imediato, que contornaram a austera
e poderosa construção a correr na direcção da porta virada a norte. Porta precária
feita de um caixilho de madeira a suportar
um rectângulo de rede mosquiteira com
cujo trinco, um prego dobrado em L, o
Marinheiro E, com as pernas tremebundas, nunca mais atinava, o que terá levado
o Imediato a gritar:
– Vá depressa, caraças, antes que entremos os 3!...
Lá dentro, com as coisas a entrar na ordem,
passado o sobressalto, o Marinheiro E,
que se tinha apercebido apenas de um
camarada atrás dele, atirou:
– Olha lá, Imediato, quem é que vinha
atrás de ti?
E o Imediato:
– O foguetão, c’um caneco!...
Fosse como fosse todos os sentimentos,
os medos desatados pelos acontecimentos dessa noite eram coisa do passado e já
só, de vez em quando, e normalmente às
refeições – o efeito de grupo – se brincava
com a tremedeira das canetas do Marinheiro E. Provavelmente para esconder as
próprias…
Normalmente ao almoço, hora a que o
Imediato, um rapaz alto, seco de carnes,
de barba loira, cerrada, com laivos arruivados, ainda tinha ânimo para animar
a malta com as estórias imaginárias que
congeminava nas tardes em que um estranho torpor o tomava e o isolava meditabundo. Deixávamo-lo entregue a si
próprio e pronto. Acreditávamos, sim,
que era nessas estranhas meditações que
as estórias eram digeridas. Estórias que
metiam, sempre, quase sempre, gajas,
como aquela da actriz italiana, a filmar
Ganturé - messe de oficiais (edifício quadrado) e secretarias (comboio)
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21
contos&narrativas
– Caldo verde? A estas horas? E onde está
ele?
Ganturé - a horta
em Lisboa, uma brasa loiraça de derreter
o aço mais temperado, que num afamado
restaurante da Baixa alfacinha, o galou,
rendida ao brilho da farda, talvez, mas
seguramente ao garbo do senhor cadete
da Marinha de Guerra Portuguesa e lhe
mandou recado “às tantas no hotel X…”.
Pormenores do repasto? Não conto. Não
que não os tivéssemos escutado mil vezes, os tivéssemos esquecido, também
não por não acreditarmos neles, nos
pormenores, mas por respeito à própria
estória. Já a sabíamos de cor. Mas era o
que faltava! Bem bastava já… sei lá,… Só
acrescento que à boca pequena, sorrindo
concupiscentes, aventávamos entre um
encolher de ombros: “é um TS!…
– Passei pela arrecadação e dei com um
fogareiro a petróleo, da marca Hipólito. Há
batatas e cebolas na cozinha, da cantina
trouxe um chouriço e na horta há couves
que são um espanto. O que dizes?
mais ou menos a meio caminho, iam longe
de imaginar a surpresa que os esperava à
entrada da vilória: 3 Alferes, fardadinhos
dos pés à cabeça como se se dirigissem
para um desfile no qual comparecesse
SEXA o Senhor Governador, com a mão,
luva branca vestida, fizeram “ALTO!”, e
questionaram:
– Digo que “rebente quem se negue!”…
– Onde vão vocês?
E atiraram-se aos quefazeres para confeccionar o dito caldo.
E o Imediato:
Aceso o fogareiro, com o auxílio de álcool
desnaturado, para aquecer previamente
o barulhento espalhador, lembram-se (?)
panela com água ao lume, ingredientes lá
para dentro - migar as couves e fazer o
puré é que foi o cabo dos trabalhos, sem
as modernices de agora, pela falta de jeito e de prática - e 1 hora depois sorviam,
sentados e no meio de poucas falas e
com muito vagar, a saborosa sopa de todos os apetites. As palmadinhas sonoras
nas barrigas compostas e as risadinhas a
acompanhar - o “tens jeito, pá, o melhor
é mudares de profissão e ires para cozinheiro qu’isto de espingardas…” - diziam
isso mesmo, que estavam consolados e,
provavelmente, nesse instante, mesmo
Ganturé estaria a léguas de distância,
completamente esquecida.
– O quê?! Pá!, não façam isso…
Foi o Imediato o primeiro a regressar à
Base:
– Marinheiro E, toca a caminho de Bijene.
Vamos tomar um “castufo” ao Bar da
Magala.
Iam as coisas neste ritmo, todas encarriladas, quando numa dessas tardes, passado
o período das agonias, o Imediato se dirigiu ao Marinheiro E:
Como ordem de superior é ordem de superior, e como primeiro cumpre-se e depois é que se tosse, antes que aparecesse
algum impedimento já o Marinheiro E se
estava a instalar no assento do pendura
daquela carcaça a que, por simpatia, toda
a gente chamava jipe.
– Marinheiro E, pá, está-me a apetecer um
caldo verde…
Deixada para trás a Tabanca Nova,
aldeamento de controlo da população,
Ganturé - o abrigo
22
– Vamos tomar um “whiske” ao vosso bar.
– Porquê? Já não se pode? Acabou-se?
Ripostou o Imediato, com o Marinheiro E
sossegadinho no seu canto.
– É que… é que… nós nem sabemos
quem vocês são…
– Ess’agora, atirou o Imediato, surpreso.
– Olhem bem para nós, disse um dos “Alferozes”, e olhem para vocês. Para podermos sair do quartel para uma volta pelas
ruas de Bijene tivemos de nos fardar como
podem ver, botas engraxadas, camisa,
gravata, dólmen, com este clima, sim, e
vocês, sim, vocês… vocês são grumetes,
sargentos, oficiais?...
Olhámos. Realmente o nosso traje tinha
ficado todo lá em baixo, que não se podia
chamar às botas de lona a esconder as
meias, ao calção azul da ordem, à boina do
Imediato e ao quico do Marinheiro E farda
do quer que fosse. Ainda assim o Imediato
atreveu-se a falar da nossa aventura, e
com tanta ênfase o fez, “é só um café e um
castufozinho, já que estamos aqui…”, que
lá conseguiu a anuência dos camaradas do
exército, mas com uma condição:
– Bem, se forem interpelados por alguém
- imaginámos nós por algum superior - a
vocês nem o nosso faro vos passou pelas
narinas, certo! E não se demorem…
Cumprida a vontade do Imediato, bebido o
café com o respectivo acompanhamento,
Ganturé - posto de sentinela
O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
contos&narrativas
depressa se deu corda aos sapatos, ou às
botas, como soe dizer-se. E “refizeram-se” à estrada. Tranquilamente. Era isso
que o Marinheiro E sentia e pensava até
à entrada da Tabanca Nova onde o jipe
estacou.
– O que é agora, Imediato?
– Vem além a Rosa…
A Rosa era uma das nossas lavadeiras.
Aproximava-se de regresso a casa, bacia
de zinco à cabeça, filho escanchado nas
costas. Vinha carregada com a roupa lavada. Estrada fora veio-se aproximando,
aproximando, e quando a uns 10 metros
já guinava para a entrada da aldeia o Imediato, braço esquerdo apoiado na guarda
da porta do jipe, chamou:
– Rosa, anda cá…
A Rosa, rapariga jeitosa e bem roliça, mudou a direcção e aproximou-se da nossa
viatura, mão esquerda no bordo da bacia
para melhor se equilibrar, agachou-se
para escutar melhor.
– O que é, sinhor Tinente?
O Imediato, com ela bem fisgada, deixou
descair o braço ao longo da porta e com a
mão esquerda deu um valente apalpão na
“nalga” direita da boa da Rosa. Que respondeu de imediato e antes que o Imediato pudesse acrescentar o que fosse, jogou
a mão livre, a direita, à mama e despejou
uma tremenda esguichadela de leite fresquinho na barba loira, cerrada, de laivos
arruivados do Imediato.
O Marinheiro E não teve tempo nem para
se segurar, que o jipe, conduzido pelo
Imediato, a escorrer leite da Rosa da sua
barba loira, cerrada e de laivos arruivados,
venceu a distância de uma aceleradela só,
estacou de supetão, e antes que pudesse,
sei lá, rir, sorrir apenas, já o Imediato desarvorava para parte incerta.
Apareceu para o jantar, certo de que iria ser
o bombo da festa, que o Marinheiro E tinha
adubado bem o caldo verde com todos os
condimentos conhecidos e desconhecidos
a que deitou mão.
A orquestra estava afinada e não foi surpresa nenhuma a primeira das bocas.
– Com que então, ó Imediato, “castufo
com sabor a leite, hein”?! – disse um.
– Com sabor a leite, sim, mas leite da
Rosa, acrescentou outro.
– E sabe a quê o “castufo” aleitado?
– E a barba, olhem a barba dele, tão branquinha que até parece que lhe nevou em
cima…
O Imediato, silencioso, sorria para dentro percebia-se pelo leve esgar dos lábios finos
que se adivinhava por baixo da barba cerrada.
Comeu de um trago só, e desandou. Que
isso de sabores de “castufos” com sabor
a leite da Rosa só ele é que tinha ficado a
saber e não estava disposto a dividir com
mais ninguém.
Ganturé - o jeep
A conversa foi esmorecendo ao sabor da
lentidão das horas. O reino da metempsicose percebeu, o Marinheiro E, pela vontade indómita de bocejar, gritava instante
por ele. Meteu-se a caminho do abrigo
e do seu mosquiteiro. No curto percurso
parou por uns segundos, alertado pelos
clarões que do lado do mar anunciavam
no seu fragor a chegada breve da Estação das Chuvas, com data no calendário,
como toda a gente sabe.
Recolhido nos seus aposentos, permita-se
o arroubo, arrumados os acontecimentos
do dia, inquiriu uma última vez “a que
saberá, afinal, um “castufo” com leite da
Rosa?”. Com a dúvida pertinente por desfazer, fechou os olhos e adormeceu.
Outono de 2013
Marinheiro E*
*O Marinheiro “E” é o Socio Originário N.º 1542, Oficial FZ
RN que integrou os efectivos da CF 11 que cumpriu uma
comissão na Guiné nos anos 1971/1972.
A VOSSA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS VIVE DAS VOSSAS QUOTAS
Prezados Camaradas:
Pela estima que temos por todos os Sócios, Fuzileiros ou não, aqui estamos de novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa participação.
Todos somos herdeiros de um património de que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições de levar em frente a tarefa a que nos
propusemos é determinante podermos contar com a quotização de todos nós, desta grande Família que, à volta da sua Associação se vai
juntando.
Temos a consciência de que o atraso no pagamento de quotas podem ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais
evidentemente ponderosas. Porém, para todas elas haverá uma solução desde que, em conjunto, nos dispusemos a resolver o problema.
Esperamos pela vontade e disponibilidade desta família de Fuzileiros no sentido de ultrapassarmos esta dificuldade já que as portas da
Associação e dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas.
Pensamos que uma das razões, de menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento. Para
obstar a isto aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, de 6 em 6 ou de 12 em 12 meses.
Já pensaram que o valor de um ano de quotas representa apenas cerca de quatro cafés por mês?
Por razões de custos – e desta vez será em definitivo – vamos suspender o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro à
Associação, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano.
Solicitamos a todos os Sócios que preencham o impresso para autorização de pagamentos das quotas por débito bancário, sistema
que é muito mais cómodo e evita o pagamento de quotas acumuladas. Informem-se junto do Secretariado Nacional (tel.: 212 060 079,
telem.: 927 979 461, email: [email protected])
Consideramos ser este um acto de justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não devem suportar as despesas dos que não pagam.
Cordiais e amigas saudações associativas.
A Direcção Nacional
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23
opinião
Contribuir para a Paz
António Ribeiro Ramos
H
á dias cruzei na estrada nacional com uma pequena coluna de Fuzileiros equipados para combate. Gostei de os ver!
Seguros e hirtos, deixando transparecer convicção pela galhardia da atitude. Não pude conter uma calorosa euforia interior
que me fez sentir naturalmente próximo, ainda que no silêncio e
na discrição do anonimato. Aquela imagem instalou-se na minha
memória visual por algum tempo, o suficiente porém para me levar
a mais uma demorada e já repetida reflexão, que se prende com a
necessidade de Portugal dispor de Forças Armadas equilibradas e
suficientes, à medida dos requisitos da actualidade. De uma maneira que parece clara, para um número demasiado alargado de
portugueses, o facto de o país não se encontrar em situação de
guerra declarada, pode alimentar a ideia de que os nossos meios
militares poderiam ser substancialmente reduzidos por razões
de natureza económica ou mesmo outra, até ao ponto de apenas
restarem as capacidades necessárias ao “policiamento” do nosso
espaço territorial, aéreo e marítimo. Esta é todavia uma teoria falaciosa porque parte de pressupostos estão basicamente desenquadrados da realidade, já que não levam sequer em conta a natureza
dos riscos e por vezes das ameaças que é necessário controlar ou
conter em favor da Paz e da segurança do país! Se não, vejamos:
As tecnologias modernas tornaram o mundo muito mais pequeno.
O que outrora se considerava risco apenas em caso de proximidade com a fronteira geográfica, pode configurar-se nos dias de hoje
a distâncias apreciáveis evoluindo facilmente logo a partir daí para
ameaças de facto que podem concretizar-se contra nós, se os países eventualmente visados não reforçarem as suas alianças e não
participarem no esforço comum de contenção desses riscos até
à distância que se tornar necessária, ou seja, até à sua “fronteira
longínqua”. Repare-se por exemplo que nos dias de hoje na força
naval da NATO que, inicialmente permanente para o Atlântico, é
agora designada por “Standing Nato Maritime Group 1” (SNMG1) e
já não está confinada apenas ao Atlântico. A tranquilidade e a segurança de que apesar de tudo se beneficia, que está muito longe
de ser um privilégio de todas as regiões do mundo, pode depender,
e depende largamente, desta capacidade que elimina uma grande
parte da nossa vulnerabilidade, mas que só é atingível com a participação de todos os países aliados e amigos, sendo necessário
portanto que também Portugal possa dispor dos meios adequados
para que assuma a sua parte possível neste esforço conjunto. Até
porque, por outro lado, a credibilidade internacional de Portugal
ficaria irremediavelmente comprometida se o país usufruísse de
benefícios para os quais em nada contribuísse.
Acresce ainda, que a história nos ensina que quando a capacidade
de reacção militar de um país, ainda que à sua dimensão, é posta em causa, o aproveitamento por parte de eventuais opositores
não se faz esperar, e até mesmo países supostamente amigos e
até aliados, nem sempre intercedem favoravelmente. Serve como
exemplo referir, levando embora em conta a mentalidade dominante na época, que entre Novembro de 1884 e Fevereiro de 1885
teve lugar a chamada conferência de Berlim que estipulava, entre
outras resoluções, que as ocupações dos territórios africanos para
serem consideradas efectivas, obrigavam ao conhecimento adequado e ao domínio de facto sobre esses mesmos territórios, não
dependendo o direito à sua posse apenas de se ter tido a primazia
sobre eles.
24
Consciente das nossas limitações a nível militar, para além disto e
em sequência, a Inglaterra lançou-nos um “ultimatum” segundo o
qual Portugal deveria entregar de imediato os territórios que detivesse no Malawi e no Zimbabwe, o que foi feito, embora mediante
uma negociação bem-sucedida para Portugal, que nos conferia a
posse de territórios alternativos. Mesmo assim, havendo razões
para se temer que o entusiasmo dos ingleses não terminasse
aqui, e de facto não terminou, sentiu-se a necessidade de reforçar
quanto antes a Armada até à medida do possível, tendo-se conseguido por subscrição publica, o que foi a todos os títulos notável
e exemplar, a aquisição do cruzador “Adamastor” construído para
Portugal em Livorno, na Itália em 1887, e que era para a época
uma unidade naval com um elevado valor militar que se manteve
por mais de duas décadas, embora ainda assim insuficiente para
suprir completamente as necessidades da Armada e do país.
Reduzidos na actualidade ao Continente, Açores e Madeira (onde
se incluem as Selvagens) apesar da vastidão da nossa ZZE, não se
pense que as preocupações com a defesa têm hoje menor importância do tiveram passado. Inesperadamente, o país pode ter que
se confrontar no mínimo com situações de “tomada de pulso” até,
como aconteceu com a Espanha no dia 18 de Julho de 2002 quando um pequeno grupo de militares de Marrocos ocupou o ilhéu de
Perejil, localizado a NW de Ceuta, e ali hasteou a bandeira do seu
país. A resposta espanhola não se fez esperar desencadeando a
operação “Romeo-Sierra” tendo a Armada assegurado o domínio
do mar, com a inclusão imediata da sua componente submarina
nas forças navais mobilizadas, possibilitando o desembarque de
tropas especiais no ilhéu, que ali restauraram o domínio espanhol.
Os Estados Unidos mediaram com êxito este conflito, que terminou
sem efusão de sangue, mas que teria provavelmente posto em
causa as possessões espanholas no norte de África, se a Espanha
não tivesse demonstrado na altura, capacidade militar suficiente.
Além disto em situações de acidente grave, de catástrofe, ou simplesmente de apoio às populações, as Forças Armadas são sempre um recurso precioso e imprescindível. Tomei conhecimento
preliminar da tragédia ocorrida na praia do Meco em Dezembro
passado, que envolveu um grupo de estudantes universitários,
quando me apercebi que tinha descolado da Base Aérea do Montijo (BA6), um dos nossos helicópteros “Merlin EH101”, que voava
em direcção ao oceano, bastante cedo, numa manhã cinzenta e
fria de final de Outono, e a um Domingo.
As capacidades das Forças Armadas, mesmo quando estas não
se encontram aparentemente envolvidas em nenhuma situação
particularmente crítica, garantem a persistência de um factor dissuasivo que podendo embora não ser sempre visível aos olhos de
todos, é constatável na prática pelo contributo de forma muito si­
gnificativa para a Paz, de que depende a prosperidade social, e
para a continuidade da Pátria. Além disso, há que levar em conta
que nada é para sempre. As realidades e as relações internacionais podem alterar-se. O correr dos tempos traz naturalmente mutações. Mas as capacidades mantêm-se quando existem de facto.
E é sempre com elas que se conta quando os novos tempos trazem
consigo novas realidades.
António Ribeiro Ramos
Sóc. Efect. n.º 1053
(Comt. MM)
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opinião
Um Patrono para os Fuzileiros?
Jorge M. Moreira Silva
N
a Instituição Militar, o patrono é, por
norma, uma figura tutelar associada
à história e às tradições – quando
existem – de um determinado comando,
órgão ou unidade, na maior parte das
vezes uma espécie de “pai fundador” e
quase sempre um modelo de virtudes e
fonte de inspiração para os membros da
entidade que o elegeu (não confundir com
a figura do padroeiro, de caráter mais religioso e espiritual1).
No caso da Marinha, temos no Infante
D. Henrique o patrono de toda a Corporação, embora a Escola Naval também
o reclame como seu patrono particular.
Ainda na Escola Naval, existe, desde há
muito, a tradição de atribuir um patrono
a cada novo curso incorporado. Depois há
os patronos dos navios de guerra – critério
atualmente aplicável apenas aos escoltas
oceânicos e aos navios ocenográficos –
que são, por definição, as personalidades
históricas com cujos nomes são batizados. Neste enquadramento, afigura-se um
pouco estranho que os Fuzileiros, como
corpo especial da Armada, com o seu riquíssimo, antigo e mui nobre historial, não
tenha ainda patrono atribuído.
Partindo, então, do princípio de que vamos
colmatar essa lacuna, põe-se, em seguida,
o problema da escolha. Se fosse feito um
inquérito aos antigos e atuais membros
do Corpo, é quase certo que a esmagadora maioria apontaria como “figura de
proa” o Vice-Almirante Roboredo e Silva
(1903‑1987), conhecido como “o pai dos
Fuzileiros” e o grande responsável pela
Vice-Almirante Roboredo e Silva
(1903-1987)
1
2
criação (ou antes “recriação”) desta força
anfíbia há mais de cinquenta anos – mais
concretamente em 1960 –, para que a
Marinha pudesse dar a devida resposta às
grandes perturbações que, na altura, começavam a agitar os territórios ultramarinos portugueses.
Se tivermos, porém, em conta que o venerando Almirante Roboredo é uma personalidade relativamente recente e que a
história dos Fuzileiros recua, pelo menos,
até 1621, ano em que foi criada a primeira
unidade permanente de infantaria de Marinha, o Terço da Armada Real, a figura do
fundador deste corpo militar, D. António
de Ataíde (1567-1647), 5.º Conde da Castanheira, emerge naturalmente como um
dos mais fortes “candidatos” ao simbólico
pedestal. Naturalmente, alguns poderão
argumentar que o Terço não tinha ainda
um caráter puramente naval, ao contrário
da Brigada Real de Marinha, que lhe sucedeu, após algumas evoluções intermédias,
em 1797. Nesse caso, poderemos juntar
ao leque de possíveis escolhas os nomes
do Ministro da Marinha que presidiu à
criação desta força, D. Rodrigo de Sousa
Coutinho (1755-1812), e do seu primeiro Inspetor, D. Domingos Xavier de Lima
(1765-1802), 7.º Marquês de Nisa, sob
cujas ordens a Brigada teve o seu batismo
de fogo, durante as campanhas do Mediterrâneo de 1798 a 1800.
Mas se a existência de um corpo militar
regular não for critério obrigatório nesta
escolha, nada nos impede de recuar às
grandes operações anfíbias da Expansão
D. Rodrigo de Sousa Coutinho
(1755-1812)
Almirante Marquês de Nisa
(1765-1802)
Portuguesa, nas quais sobressai, com
grande destaque, o vulto do grande Afonso de Albuquerque (1453-1515), conquistador de Goa e Malaca, terror do Índico,
Mar Vermelho e Golfo Pérsico e uma das
maiores personagens da nossa História.
Para complicar ainda mais, podemos, por
fim, debruçar-nos sobre o período dos batalhões expedicionários de Marinha, em
que os marinheiros, tornados infantes na
ausência de uma força especificamente
dedicada2, ajudaram a pacificar alguns
dos nossos territórios ultramarinos, sobretudo nos conturbados anos da I Guerra
Mundial, naquilo que foi um prelúdio, com
meio século de antecedência, à ação dos
Fuzileiros no Ultramar português. Neste
período particular, a figura mais emblemática será, provavelmente, a do heróico e lendário almirante Afonso Cerqueira
(1872-1957), que a 20 de agosto de 1915
comandou a carga do Batalhão de Marinha no celebrado combate de Mongua
(Angola).
Aqui ficam, pois, algumas humildes e bem
intencionadas sugestões, para o caso de,
um dia, os Fuzileiros decidirem escolher
um patrono que simbolize as virtudes que
os caracterizam e distinguem dos demais,
uma escolha que não será, decerto, nada
fácil.
... Ainda bem que não tenho de ser eu a
fazê-la.
Afonso de Albuquerque
(1453-1515)
Jorge M. Moreira Silva
Sóc. Efect. n.º 1053
(Comt. MM)
Vice-Almirante Afonso Cerqueira
(1872-1957)
Estas definições, puramente empíricas, são da exclusiva responsabilidade do autor.
A Brigada Real de Marinha fora extinta em 1832 e o Batalhão Naval, que lhe sucedera, em 1851.
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trilogia poética
Lançamento do DVD
“Fuzileiros Quatro Séculos de História (1621/2012)”
e Trilogia Poética
C
om a presença de representantes do CEMGFA, do CEMA, do
CEME e do CEMFA teve lugar, no passado dia 19 de Outubro,
o evento mais significativo e, seguramente, de maior nível,
do último ano de mandato da anterior Direcção da Associação de
Fuzileiros.
Por iniciativa deste executivo realizou-se um filme sobre a história dos Fuzileiros e lançou-se o respectivo DVD, com cerca
de 100 minutos de duração, intitulado «Fuzileiros – 1621/2012 –
Quatro Séculos de História». O filme, da autoria do jornalista Carlos
Santos, (que teve a colaboração da RTP) assessorado pelo antigo
Presidente da AFZ, Comt. António Mateus obteve, em relatos reportados às respectivas épocas, relacionados com a Guerra de África
nas diversas frentes (Angola, Guiné e Moçambique) a colaboração
de vários sócios importantes da nossa Associação que não será
despiciendo citar, por ordem das suas intervenções: Pascoal Rodrigues, Ludgero Santos Silva - o “Piçarra”, António Mateus, Pires
Dias, Carreiro e Silva, Lhano Preto, José Pinto, Vasco Brazão, Max­
fredo Campos. Para que isto fosse possível, connosco colaboraram,
também, o Comt. Martins de Brito, o Almirante Nuno Vieira Matias
(que foi combatente na Guiné, DFE 13, e Chefe do Estado Maior da
Armada) o Comt. Mário Tavares e, a fechar, o actual Comt. do Corpo
de Fuzileiros Contra-Almirante Cortes Picciochi.
Presentes nas cerimónias – que incluiu um agradável pôr-do-Sol –
muitos oficiais, sargentos e praças, fuzileiros e antigos fuzileiros e
suas famílias, na sua grande maioria Sócios da nossa Associação,
sendo que o Salão Polivalente da AFZ foi pequeno para acolher cerca de 120 convidados que foram, para além das entidades, sobretudo, os sócios e seus familiares.
Reproduzidos extratos do filme que foram relatados pelo autor,
Carlos Santos e por António Mateus, proferiu pequena alocução o
Presidente da AFZ, Lhano Preto.
O evento fechou com um espectáculo de grande nível intelectual
e artístico, da autoria da nossa associada e Adjunta do Chefe da
Divisão Cultural e da Memória, Dr.ª Laurinda Rodrigues.
Esta Senhora, Mulher, com “M” grande, dos sete ofícios (advogada,
psicóloga, grupanalista, poeta, compositora e, não sabemos que
mais…) tem três obras de poesia publicadas (“Vertigens do Ser
– do nada ao ser Esperança”, 2008; “Compassado”, 2012 e “As
Palavras do Tempo”, 2013). Ela própria, com a ajuda de músicos
decidiu musicar, em jeito de fado, alguns dos seus próprios poemas
que vem colocando na voz de várias fadistas/cantoras.
A AFZ teve o privilégio de assistir a um espectáculo inédito a que
autora chamou “Trilogia Poética”, cujo programa não resistimos à
tentação de transcrever, não lhe retirando demasiado o cunho que
a própria autora lhe imprimiu na respectiva formatação. A apresentação da autora foi feita pelo escriba destas linhas.
Marques Pinto
Vice-Presidente da Direcção
Autora dos Livros da “Trilogia Poética” (“Vertigens do Ser”, “Compassado”
e “As Palavras do Tempo”) e voz de dizer poemas: Laurinda Rodrigues
Voz de poemas cantados: Vânia Conde
Guitarra: Ricardo Parreira
Viola: Marco Oliveira
Programa
Fotos de Mário Manso
Poema dito: “Auto-Retrato” do livro “COMPASSADO” (página 9)
Poemas cantados:
– “É no Teu Rosto, Portugal” do livro “VERTIGENS DO SER” (página 64)
– “Português Marinheiro” do livro “VERTIGENS DO SER” (página 63)
Poema dito: “Quando um Homem Decide” do livro “VERTIGENS DO SER” (página - 77)
Poemas cantados:
– “Não Tenhas Medo da Morte” do livro “COMPASSADO” (página 79)
– “Deixa o Tempo” do livro “COMPASSADO” (página 41)
Poema dito: “À Volta de Uma Palavra” do livro “COMPASSADO” (página 67)
Poemas cantados:
– “Deixa” do livro “VERTIGENS DO SER” (página 42)
– “Nós” do livro “VERTIGENS DO SER” (página 41)
– “Eu Quero Ser Cachoeira” do livro “AS PALAVRAS DO TEMPO” (página - 20)
Poema dito: “Entrega” do livro “AS PALAVRAS DO TEMPO” (página 10)
Poemas cantados:
– “Voltou a Chuva” do livro “VERTIGENS DO SER” (página 28)
– “CANSEI” do livro “VERTIGENS DO SER” (páginas 10 e11)
(Convite ao público para dizer/declamar POEMAS de qualquer dos livros, à sua escolha)
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Fotos de Mário Manso
trilogia poética
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almoço de natal
O Almoço/Convívio de Natal
14 de Dezembro de 2013
Foto de Manuel Lema Santos
N
o passado dia 14 de Dezembro realizou-se o já tradicional
almoço/convívio de Natal da Associação Nacional de
Fuzileiros.
Mais uma vez se registou uma grande adesão a este evento que
juntou cerca de trezentos sócios, familiares e amigos da grande
família dos fuzileiros.
O local já habitual, a Quinta da Alegria em Penalva, é cada vez
mais pequeno para reunir tanta gente que “teima” em aumentar
todos os anos.
Fotos de Mário Manso
Com a boa vontade de todos – os fuzileiros são sempre pessoas de boa vontade – conseguiu-se albergar toda a nossa gente,
numa refeição primorosamente servida que teve, sobretudo, de
encontro e de amizade.
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almoço de natal
O calor humano que os fuzileiros tão bem sabem transmitir foi o
toque importante nesta emotiva manifestação de solidariedade.
Na mesa de convidados estiveram presentes os Presidentes da
Câmara Municipal e da Junta de Freguesia do Barreiro, antigos
e actuais Comandantes do Corpo, da Escola e da Base de Fuzileiros, outras personalidades de relevo para a nossa instituição e
Esposas, acompanhados pelos Presidentes e Vice-Presidentes da
Assembleia Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal da AFZ e por
titulares do nosso Conselho de Veteranos e Esposas.
A mesa das Delegações esteve, como sempre, muito bem representada, com os nossos Camaradas e Dirigentes do Algarve, Gaia
e Juromenha/Elvas.
Fotos de Mário Manso
No decurso das horas de convívio mataram-se saudades e
nostalgias, e brindou-se até som vivo de uma banda musical.
E não faltou, também, a alegria das Senhoras e das Crianças que
transmitiram ao ambiente beleza ternura e dignidade.
Disseram breves palavras de boas-vindas os Vice-Presidentes
da Direcção; o Comandante do Corpo de Fuzileiros, com quem
estamos sempre de braço dado e costas com costas, dirigiu-se
a todos os presentes e também aos ausentes desejando um Bom
Natal e um bom ano de 2014.
Fechou a série de pequenos discursos o Presidente da Direcção
da AFZ que formulou, também, votos de Boas-Festas e agradeceu
à equipa directiva e aos Sócios o seu voluntarismo, tudo quanto
deram à AFZ e a forma como desinteressadamente o fizeram.
De facto, só equipas de particular valia constituídas por verdadeiros voluntários puderam conferir à Associação o prestígio, o
nível de cortesia e o calor humano tão presentes nesta verdadeira
instituição que, como tal se prolongará para além dos homens.
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Fotos de Mário Manso
almoço de natal
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cadetes do mar
Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros
A
Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros, apoiada financeiramente pela nossa Associação e com pessoal voluntário, da AFZ,
vem desenvolvendo importantes actividadades no ano lectivo de 2013/2014 que os respectivos Comandante e Mestre da Unidade
nos têm sistematicamente relatado. Para informação mais clara e pormenorizada transcreve-se a seguir o essencial dos textos
que nos têm chegado, subscritos por José Talhadas Comandante da Unidade e sócio originário n.º 95 da AFZ e Afonso Brandão, Mestre
da Unidade e sócio originário n.º 1833 dando-se à estampa alguns dos correspondentes registos fotográficos.
O jovens são habitualmente transportados para e da Escola de Fuzileiros na viatura da nossa Associação.
Cabe qui uma referência ao Grupo de Amigos do Museu de Marinha (GAMMA), com o qual subscrevemos protocolo, instituição que teve
a iniciativa da constituição dos Cadetes do Mar, e ao Corpo e Escola de Fuzileiros, sem a colaboração empenhada dos quais não seria
possível dar execução ao projecto.
A 1.ª e 2.ª actividades dos nossos Cadetes do Mar Fuzileiros foram descritas na edição 17.ª da nossa revista “ O Desembarque”.
3.ª Actividade
16/11/2013
C
onforme calendário de actividades programadas para o dia
16 Novembro, o encontro com os Cadetes realizou-se como
sempre, na Estação Fluvial do Barreiro. Quando chegamos
com a viatura, já lá estavam eles, trajando de uniforme azul com
o símbolo da Associação de Fuzileiros.
tema relacionado com a Guerra do Ultramar, com o título “Uma
história de vida“, relatando a sua experiência através do seu testemunho. Ao longo do seu discurso deu a conhecer a sua dramática luta pela sobrevivência, depois de ter sido ferido com cinco
tiros, e ter lutado durante 14 horas pela vida, até ser encontrado.
Uma história de resistência, em que uma vez mais ficou demonstrado, que nunca se deve desistir, mesmos nos momentos mais
adversos da vida.
Depois de almoço, os alunos dirigiram-se para a Unidade de
Meios Desembarque, onde os cadetes do 1.º ano aprenderam a
montar um bote Zebro III.
Seguidamente, auxiliados pelos camaradas do 2.º ano, transportaram os botes para o rio. Como marinheiros de antanho, traçaram rotas, sulcando as águas do velho rio Coina, com disciplina
e denodo, em sintonia, com remada forte, enfrentando a corrente
contrária que se fazia sentir para montante. O patrão do bote,
aluno do 2.º ano ia marcando a cadência, como um marinheiro
experimentado, (Hipo, hopi, Hipo, hopi) assim, conseguindo manter o ritmo dos remadores, como nas “galeras gregas”, e o velho
zebro III lá ia sulcando as águas do rio, até que chegou ao cais da
Escola de Fuzileiros.
Depois dos cumprimentos habituais, seguimos em direcção à E.F.
À nossa espera encontrava-se o Senhor Oficial de Dia, que deu
as boas vindas em nome do Comando da Escola. De seguida,
foi transmitido ao cadete mais antigo quais as instalações
que estavam destinadas para a Unidade, com a seguinte
recomendação: que no final da instrução, as deixassem limpas
como as encontraram.
A Instrução iniciou-se com a Disciplina de Aptidão Física, “treino
em circuito”, ministrada pelo formador de Educação Física da Escola de Fuzileiros, e dirigida pelo oficial coordenador das Actividades dos Cadetes do Mar, Senhor 1.º Tenente Pedro Dias.
A 2.ª aula da manhã: “Disciplina de Cerimonial Naval”, onde foram abordados vários temas de regulamentação militar. Seguidamente, os alunos assistiram a uma palestra apresentada pelo
Senhor Sargento FZ na Reforma, José Manuel Parreira, sobre o
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cadetes do mar
Depois, seguiu-se o prazer supremo, quando os jovens cadetes
experimentaram a velocidade de um motor fora de borda de 50
cavalos, primeiramente agarrados a tudo que lhe parecia uma
“pega” do bote com receio de serem jogados pela borda fora.
Depois, já mais confiantes, saboreando o prazer sublime da
velocidade e finalmente, a sensação suprema de conduzirem um
bote Zebro III.
Pareciam velhos Fuzileiros a sulcar as águas do rio Cacheu, Zaire,
ou do Lago Niassa.
No final, aprenderam a desmontar e a arrumar os botes nos seus
hangares.
Uma tarde inesquecível, que proporcionou mais conhecimentos
na sua formação de Cadete do Mar e que faz jus ao seu lema –
“Valor, Lealdade e Mérito”.
4.ª Actividade
7/12/2013
representação de Portugal, actividade cultural e a data do seu
falecimento.
Os alunos da 2.ª Esquadra, acompanhados pelo seu formador,
dirigiram-se a outra secção do Museu, com a finalidade de estudar uma das guerras mais longas no decurso da História Portugal. A Guerra do Ultramar, conhecida hoje como Colonial, que
decorreu entre 1961 a 1974, nas Províncias Ultramarinas de Angola, Guiné e Moçambique.
C
onforme calendário de actividades programadas para o dia 7
de Dezembro, efectuou-se o encontro às 13:30 horas, com
os Cadetes no Museu da Marinha.
A formação foi baseada no estudo de dois temas diferentes:
para os alunos da 1.ª Esquadra, (1.º Ano) foi escolhido o tema
sobre os “Heróis Marinheiros da 1.ª Guerra Mundial”, e para
os alunos da 2.ª Esquadra, (2.º Ano) foi sobre os Fuzileiros na
Guerra do Ultramar 1961/1974.
A formação baseou-se nos seguintes temas: as causas da
guerra, Renascer dos Fuzileiros, os acontecimentos em
Angola, 1.º curso de Fuzileiros, instrução, constituição dos
Destacamentos Fuzileiros Especiais e das Companhias e
Pelotões de Fuzileiros Navais, equipamento e armamento
utilizados e meios navais que os apoiavam.
No final da visita de formação ao Museu, as duas Esquadras
reuniram-se com os seus formadores na sala de estudos. Foi
realizado um resumo sobre cada um dos temas abordados, e
foram esclarecidas algumas dúvidas apresentadas pelos alunos.
No final foram trocados cumprimentos de despedida e votos de
Boas Festas entre Formadores e os Cadetes.
Os alunos foram acompanhados pelos respectivos Formadores
dos Cadetes do Mar, nos temas de estudo que o acervo histórico
do Museu de Marinha nos proporciona.
O estudo foi baseado nos Heróis Marinheiros distinguidos pelos actos de bravura, decisão, coragem e espirito de sacrifício praticados
em combate, na defesa das Províncias Ultramarinas de Angola e
Moçambique, contra as Forças alemãs, até ao final da guerra.
Os Cadetes tomaram conhecimento, sobre as causas, efeitos
e consequências nessa época com a entrada de Portugal na
1.ª Guerra Mundial, e o poderio militar distribuído pelos Países
que fizeram parte deste conflito.
Foi escolhido por cada aluno o seu Herói Marinheiro. Deste modo,
foi possível adquirir mais informações sobre cada personagem:
como o ingresso na Escola Naval, início da carreira militar, funções
exercidas de comando, condecorações, cargos diplomáticos em
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cadetes do mar
5.ª Actividade
18/1/2014
N
o sábado, 18 de Janeiro de 2014, às 14.00 horas, os
Cadetes iniciaram as actividades programadas, na Fragata
“D. Fernando II e Glória”, no Núcleo Museológico Naval de
Cacilhas.
A sua 5.ª actividade iniciou-se com a abordagem de dois temas
já programados: para os cadetes da 1.ª Esquadra (1.º Ano) tema
sobre os “Heróis Marinheiros da 1.ª Guerra Mundial”, e para os
Cadetes da 2.ª Esquadra (2.º Ano) foi dada a conhecer a Nomenclatura do Navio e demonstrados exercícios da Arte do Marinheiro.
Sobre os Heróis Marinheiros da 1.ª Guerra Mundial, os cadetes
apresentaram os seus trabalhos referentes aos heróis escolhidos e
que se notabilizaram neste conflito, tais como: Azevedo Coutinho,
Afonso Cerqueira, Carvalho de Araújo e Oliveira e Carmo.
A Marinha, nesta guerra, distribui-se entre missões de escolta a
navios mercantes, transporte de tropas para a França, e Ultramar
Português e fiscalização das águas portuguesas em zonas tempestuosas e infestadas de submarinos alemães, destacando-se o
combate travado pelo NRP “Augusto Castilho” contra o submarino
Alemão U139.
A nossa Marinha, também participou no esforço de guerra com
um Batalhão de Marinha, em Angola e Moçambique contra as
tropas Alemãs, em que muitos marinheiros sacrificaram as suas
vidas em defesa da Pátria. Pelos feitos destes bravos marinheiros
e dos seus actos heroicos em combate, o Estandarte da Escola de
Tecnologias Navais (ETNA), sucessora do Corpo de Marinheiros
da Armada, ostenta 2 condecorações da Ordem Militar da Torre
de Espada e 2 Medalhas de Cruz de Guerra.
Os Cadetes do 2.º ano tiveram a oportunidade de se familiarizar
com a estrutura de um navio, aprendendo deste modo a
conhecer, que a parte mais importante do mesmo é o casco. É
dentro do casco que estão instalados a máquina, os alojamentos
do pessoal e todas as outras componentes do navio, assim como
o seu esqueleto interior chamado ossada, onde se encontram as
peças mais importantes: quilha, roda de proa, cadaste, baliza,
longarinas, vaus e pés de carneiro.
Seguidamente foi feita uma demostração de variadíssimos nós
e voltas para os mais diversos fins, sendo os mais vulgares, nó
direito, nó de escota, lais de guia, assim como a volta de fiel e
voltas falidas.
Por último, contámos com a presença de dois alunos da Escola Naval que foram convidados para testemunhar as suas experiências
enquanto alunos desta Instituição tão importante da nossa Marinha.
Foi uma oportunidade dos Cadetes Mar Fuzileiros, poderem ouvir
jovens quase de a sua idade, descrever as suas experiencias, feitas de dedicação e sacrifício e, principalmente, de força de vontade para alcançar os objectivos a que se propuseram – terminar
o curso e saírem Oficias da Armada. Foi certamente uma lição
que os Cadetes do Mar Fuzileiros não irão esquecer já que, por
vezes é mais fácil passar a mensagem quando ela é transmitida
de jovem para jovem.
Os alunos da Escola Naval conseguiram com seu discurso de incentivo, deixar um conhecimento mais profundo sobre a Escola
Naval fazendo jus ao lema “TALENT DE BIEN FAIRE”.
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cadetes do mar
6.ª Actividade
(15/2/2014)
Aprenderam a distinguir a direcção de origem, direcção do
zero ou de referência normalmente utilizada, direcção norte, e
deste modo, a conhecer o norte geográfico, magnético e cartográfico.
Seguiu-se a apresentação da Bússola magnética, a sua
constituição, a introdução da declinação magnética, assim como
as preocupações na sua utilização.
Depois do almoço, os alunos dirigiram-se para o exterior da Escola (Mata da Machada), onde reiniciaram as aulas práticas sobre
cartografia, colocando em execução os conhecimentos teóricos
adquiridos anteriormente.
C
onforme calendário do dia 15 de Fevereiro, os alunos apresentaram-se na Estação Fluvial do Barreiro e foram transportados pela viatura da Associação para a Escola de Fuzileiros.
À chegada, foram recebidos pelo Senhor Oficial de Dia da Unidade,
que lhe deu as boas vindas, seguindo de imediato com os seus
Formadores para as instalações que lhe estavam destinadas.
Os alunos devidamente uniformizados, dirigiram-se para a
Parada da Unidade, onde se realizou a primeira formação,
sendo ministrado o exercício prático de Cerimonial Naval, onde
executaram individualmente várias funções de comando, ao nível
de secção e pelotão, sempre supervisionado pelo formador dos
Cadetes do Mar.
Aprenderam a localizarem-se no terreno, a orientar a carta, e
seguir direcção de azimutes. Seguidamente, os formadores
elaboraram um percurso e juntamente com os alunos, percorreram
um itinerário, ajudando-os no esclarecimento das dúvidas que por
vezes surgiram.
Por último, realizou-se a formação na área de apoio escolar
(História), sobre o tema “O Dever da Memória” em homenagem
aos heróis que defenderam Portugal.
As actividades de Formação terminaram às 17.00 horas,
apresentando os cadetes, cumprimento de despedida aos
Formadores da Escola de Fuzileiros.
Seguidamente, os alunos receberam formação sobre Cartografia
da responsabilidade do formador da Escola de Fuzileiros. Iniciou-se esta disciplina, com a leitura e interpretação de cartas Topográficas, aprendendo o Sistema de coordenadas geográficas,
topográficas, militares, e UTM (Universal Transverse Mercator).
A partir do conhecimento de Quadrícula, da escala e dos sinais
convencionais duma carta, aprenderam a identificar e localizar
acidentes naturais no terreno.
Também, estudaram a configuração do terreno; relevo, cota,
altitude, curva de nível, declive, linhas de água e outros sinais
convencionais que uma carta apresenta.
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cadetes do mar
7.ª Actividade
1/3/2014
Foi aberto um espaço de tempo para questões e esclarecimentos
dos temas apresentados durante a sessão teórica de abordagem
à liderança.
Depois de almoço, os alunos reiniciaram área de Liderança
(pratica) na execução de tarefas em zonas e locais apropriados e
de responsabilidade do DFCO, nesta Escola.
N
o sábado dia 1 de Março de 2014, realizou-se a 7.ª actividade na Escola de Fuzileiros. Os alunos tinham em calendário
para esta data, formação na área de Ciências Militares na
disciplina de Liderança. Matéria sempre aguardada com muito
interesse por parte dos alunos e dos seus formadores.
Depois de uma breve palestra do formador da unidade sobre a
importância desta disciplina, a qual será útil para o futuro dos
alunos no desempenho de cargos civis ou militares. Acrescentando também que, a área de liderança fortalece os conhecimentos
básicos na realização de tarefas do cotidiano da vida. Aprendendo
técnicas que certamente lhes servirão para ultrapassar diferentes
formas de actuar em situações difíceis e na aprendizagem de liderar um grupo.
Foram realizadas diversas tarefas de Liderança, onde foram
colocados em prática os conhecimentos adquiridos pelos alunos
durante a aula anterior. Observou-se o Perfil de Competência no
desempenho da realização da tarefa atribuída a cada aluno.
Briefing – Como transmitir a informação de uma forma lógica e
fluente, comunicar de forma clara e assertiva, definir a tarefa, a
informação de recursos e as limitações existentes.
Planeamento e Organização – Definição de funções, a atribuição
de recursos e avaliação da compreensão de cada elemento das
suas funções no grupo.
Execução – a coordenação, motivação e dinamismo do apoio ao
grupo, o cumprimento do planeamento, a gestão do tempo e as
limitações de segurança.
De briefing – análise dos pontos negativos e positivos, os
resultados obtidos pelo grupo e igualmente a sua própria
autocritica na execução das tarefas efectuadas.
Esta aula de Liderança (teórica) ministrada pelo formador SAJ
FZ Carlos Beja, efectuada nas instalações do DFCO da Escola de
Fuzileiros, foi abordada as diversas formas de a exercer: “autoritária, democrática e a inócua”.
Suportada através de pequenos filmes, ajudando a compreender
cada uma de essas formas. Foi igualmente dado a conhecer as
Características e o Perfil de Competências, que um líder deve reunir para executar determinadas tarefas: comunicação oral, saber
ouvir, capacidade de planear e organizar, capacidade de dirigir,
capacidade de adaptação, auto confiança, auto domínio, espirito
de colaboração, iniciativa e dinamismo. Foi igualmente exemplificado pelo formador, a importância de obter estas caractisticas
para determinação de um líder
8.ª Actividade
5/4/2014
N
o passado sábado dia 5 de Abril de 2014, realizou-se a 8.ª e
última Actividade da Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros,
no âmbito do Calendário anual de Formação, na Escola de
Fuzileiros.
A actividade iniciou-se com a Disciplina da Aptidão Física. Os
Cadetes mais antigos já tinham experimentado a dificuldade da
travessia da Pista de Lodo, de se movimentarem nela, no espírito
de sacrifício que tinham de estar imbuídos para ultrapassar as dificuldades, como por exemplo; transportar um objecto volumoso,
auxiliarem um camarada em dificuldades físicas, incentivar na
transposição de obstáculos inopinados, tudo aquilo que os mais
novos ainda não conheciam.
Mas desta vez, eles iriam experimentar todas essas sensações
sentidas pelos seus camaradas mais antigos, acompanhados por
eles e pelo seu Formador da Escola de Fuzileiro.
Depois do aquecimento físico de preparação muscular/articular e
psicológico que sempre se realiza antes do início de esta prova,
os cadetes iriam pela 1.ª vez sentir a dificuldade em ultrapassar
alguns obstáculos da pista. De início, os mais novos sentiram-se
receosos, mas, depois da demonstração e das palavras de incentivo do seu formador que os acompanhava, souberam ultrapassar
os obstáculos com segurança, terminando com o sentimento do
dever cumprido e com a confiança redobrada de poderem enfrentar outras dificuldades.
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cadetes do mar
Seguidamente, os cadetes tiveram uma reunião com os seus
Formadores, para apresentarem dúvidas e esclarecimentos sobres
as várias matérias aprendidas durante este ano de Formação
prestes a findar e, na preparação de um programa tentativa e
datas para as próximas actividades do ano 2014-2015.
Depois do almoço, realizou-se a entrega ao Serviço de
Abastecimento, do uniforme n.º 9 (verde), que foi utilizado pelos
cadetes durante ano de Formação na Escola de Fuzileiros.
Seguiu-se a realização na Parada da EF, do ensaio para o Dia do
Cadete do Mar, inserida na cerimónia de homenagem aos que
combateram por Portugal, a realizar no dia 10 Maio, onde esteve
presente o Director de Instrução do Corpo de Cadetes do Mar.
Na sala de aulas do Batalhão de Instrução da EF, os cadetes
apresentaram os seus contributos históricos para a exposição a
efectuar no Dia dos Cadetes do Mar, com temas alusivos a esta
cerimónia. Foram feitas algumas correções e sugestões para a
melhorias dos trabalhos já efectuados.
Depois de terem terminado as actividades, os cadetes apresentaram os seus agradecimentos e despedidas ao representante do
Comando da EF, o Senhor 1.º Tenente Pedro Dias.
Transcrevem-se as palavras do Presidente da Direcção da AFZ, José Ruivo, que recolhemos de uma mensagem electrónica
que nos enviou dia 11 de Maio:
«Estive ontem na Escola de Fuzileiros na cerimónia do Encontro Nacional dos Cadetes do Mar.
Estiveram presentes o Presidente da Liga dos Combatentes, o Director do Museu Militar, o Presidente do GAMA, o presidente
da Comissão Cultural da Marinha e os comandantes do Corpo e Escola de Fuzileiros, entre outros. A cerimónia contou também
com os familiares dos cadetes.
A primeira parte foi a cerimónia própriamente dita, na parada, junto ao monumento, em que foram homenageados os nossos
heróis – o Corpo de Cadetes, era comandado pelo CMG RES Franco Facada, da Comissão Cultural de Marinha.
A segunda parte foi uma visita à exposição que os diversos grupos realizaram e na qual apresentaram os seus projectos.
Penso que é um trabalho muito meritório aquele que está a ser feito com aqueles jovens, alguns filhos de camaradas nossos.
Com o fim do serviço militar obrigatório, considero que estas iniciativas são um pequeno/grande contributo para a educação dos
nossos jovens nos valores de cidadania - o seu Lema é VALOR, LEALDADE E MÉRITO.
O Talhadas e o Afonso, em particular, estão de parabéns pelo excelente trabalho realizado».
INFORMAÇÕES/PEDIDOS/RECOMENDAÇÕES DA DIRECÇÃO
Endereços Electrónicos
A Direcção Nacional da AFZ solicita a todos os Sócios que possuam endereços electrónicos (email) o favor de os remeterem ao Secretariado
Nacional ([email protected]) para facilitar as comunicações/informações que se pretende assumam a natureza de constantes e
permanentes.
Assim, estarão os Sócios sempre informados, em tempo quase real, de todas as regalias de que poderão usufruir, bem como das datas e
locais dos convívios e eventos, da iniciativa da Associação ou dos Associados.
Documentos de despesa com saúde
A Associação de Fuzileiros, através do seu Secretariado Nacional, disponibiliza aos seus associados o serviço de recepção e
encaminhamento, para os serviços competentes, dos documentos de despesas com saúde.
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corpo de fuzileiros
Escola de Fuzileiros
Formação
“A
Escola de Fuzileiros (Fig. 1) é uma unidade em terra da Marinha, que tem por missão principal a formação profissional do pessoal da Marinha para o desempenho de
funções próprias da classe de Fuzileiros” competindo-lhe por esta via assegurar a
formação militar-naval, sociocultural e científico-tecnológica, dos níveis 2 e 3 de certificação
de qualificação profissional, adequada ao desempenho das funções próprias das categorias
de sargentos e praças, da classe de fuzileiros e, no aplicável, da classe de manobra e serviço,
a formação militar-naval, sociocultural e científico-tecnológica dos oficiais dos Regimes de
Contrato e de Voluntariado da classe de fuzileiros, colaborando ainda na formação dos oficiais
da classe de fuzileiros, no domínio da sua formação inicial e contínua. Para além disso a Escola
de Fuzileiros assegura a formação militar-naval básica das praças da Marinha (recruta) e
toda a formação em transportes terrestres da Marinha.
Fig. 1 - Brasão da Escola de Fuzileiros
A estrutura operativa da formação da EF compreende o Diretor Técnico-Pedagógico, que exerce também o cargo Comandante do Batalhão de Instrução (Fig. 2), um Centro de Recursos e os Departamentos de Formação Geral (DFG), Operações, Armas e Sensores (DFOAS),
Comportamento Organizacional (DFCO) e Transportes Terrestres (DFTT).
Ano Letivo 2012/2013
Segundo o Plano de Atividades de Formação da Marinha existem nesta Escola, cursos de
PAFM I – Formação Básica e Carreira – Especialização e cursos de PAFM II – Aperfeiçoamento.
Relativamente à formação de sargentos, o ano letivo 2012/2013 iniciou-se na ETNA –
Escola de Tecnologias Navais a 15 de outubro de 2012, com os Cursos de Formação de
Sargentos – CFS – de todas as classes de Marinha cabendo à Escola de Fuzileiros dar a
continuidade numa segunda e última fase, aos cursos das classes de Fuzileiros (FZ), de
Condutores (V) e de Manobra e Serviços (MS). Assim, concluída que foi a 1.ª fase do CFS,
apresentaram-se nesta Escola, a 10 de abril de 2013, os alunos dos CFS FZ, CFS V e CFS
MS, para dar continuidade e concluírem os respetivos cursos.
Fig. 2 - Brasão do Batalhão de Instrução
No que à formação de praças diz respeito, e após dois anos de interregno, iniciou-se
nesta Escola em 10 de janeiro, a 1.ª Edição 2013 do CFBP – Curso de Formação Básica
de Praças (recruta) de toda a Marinha, que após Juramento de Bandeira em 21 de fevereiro, aqui continuaram no CFP – Curso de Formação de Praças, os militares destinados
às classes de Fuzileiros e de Manobras e Serviços. A 8 de abril de 2013 iniciaram-se as
2.ª e 3.ª Edições do CFBP que concluíram a sua formação, com a cerimónia de Juramento
de Bandeira a 17 de maio.
Também no que diz respeito à formação de oficiais a 8 de abril de 2013 iniciou-se a 1.ª Edição do CFBO FZ – Curso de Formação Básica
de Oficiais Fuzileiros que foi concluído, com a cerimónia de Juramento de Bandeira a 17 de maio.
Após três dias de descanso, como na 1.ª Edição do CFP, os Cursos
de Formação de Oficiais (CFO FZ), CFP FZ e CFP MS, iniciaram os
seus cursos.
No que concerne a todos os cursos FZ ministrados nesta Escola
e como habitualmente, têm sido plenos de desafios e realizações
dos formandos, com particular destaque para a Recruta, com a
introdução aos Regulamentos, os primeiros passos na Ordem Unida (Infantaria – Fig. 3) e com os primeiros disparos no módulo de
Tiro, nas aulas de Armamento.
Com a passagem para o CFP – Curso de Formação de Praças
(Curso de Fuzileiro), a continuação das inevitáveis aulas de Educação Física, algumas já com o “aconchego” da G3 (Fig. 4), na
convidativa Mata Nacional da Machada ou não menos Pista de
Lodo e ainda as eternamente agradáveis primeiras remadas no
Rio Coina. Tudo isto complementado com módulos como Infantaria de Combate, Operações Terrestres e Anfíbias, Explosivos,
Minas e Armadilhas, Comunicações,...
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Fig. 3 – CFO - Aulas de IF com espada
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corpo de fuzileiros
Fig. 4 – Prova de 9Kms com lodo
Fig. 5 – Patrulhas de reconhecimento
Depoimento de um Grumete:
“Durante a semana realizámos o crosse de 6 Km com arma, na Mata da Machada. A prestação da Turma foi muito boa. Realizámos
também o teste prático de explosivos, onde tivemos que identificar vários materiais de explosivos e minas.
Efetuámos na carreira de tiro o percurso tático de Pistola Walther, onde a turma teve um bom desempenho. Realizámos também um
crosse de 9 Km com arma, que incluiu a travessia da pista de lodo.
Nas aulas de Comunicações tivemos o primeiro contato com os equipamentos de comunicações militares, mais concretamente com o
rádio PRC 525.”
Logo nas primeiras semanas, os exercícios práticos realizados no exterior aparecem, complementando a vertente teórica ministrada
na Escola. Os exercícios “Com Raça”, “Alfange”, também conhecido por “Largada” e a “Noite Escura” foram os primeiros realizados
pelos CFO e CFP. Neste último os formandos tiveram já contato com os equipamentos de Vigilância do Campo de Batalha utilizados pelo
Pelotão de Reconhecimento (Fig. 5), da Companhia de Apoio de Fogos.
Depoimento de um Cadete, após uma das primeiras noites passadas no “Mato”:
“Nesta semana, das diversas atividades realizadas, a mais interessante foi a palestra dada pelo Pelotão de Reconhecimento, na qual
podemos contatar com uma nova realidade de equipamentos, aprofundando os nossos conhecimentos na área dos equipamentos
utilizados no Corpo de Fuzileiros.”
Outro ponto alto dos Cursos de fuzileiros é o primeiro contato com o Rio e os botes tipo Zebro III (Fuzos) aprendendo a montar e a
desmontar os botes, assim como a remar. Estas aprendizagens irão ser marcantes e essenciais para desafios futuros, como são a
participação na Prova de Remo em Botes do Corpo de Fuzileiros e a sempre ansiada, atribulada e temível descida do Rio Sado.
O CFO, CFS e o CFP com o decorrer dos módulos vão aprimorando novos conhecimentos teóricos e práticos exercitando técnicas,
táticas e procedimentos, como manobras de contato com fogo real (diurnas e noturnas), entrada tática em posição de armas de apoio
– MG3 e Carl Gustaf, estabelecimento de postos de observação, transposição de campos minados, lançamento de granadas de mão,
reabastecimentos táticos, técnicas de sobrevivência e combates em áreas edificadas.
Isolados ou em simultâneo, os cursos vão ultrapassando e dando sequência a módulos cada vez mais exigentes, com as surpresas
a surgir enriquecendo o espírito de grupo e de sacrifício, tão invejados por quem nos conhece e aqui não passa. São os exemplos de
exercícios “Socinco Tridente” e “Finalmente” realizados pelos três cursos.
Como vem acontecendo desde o ano de 1978(1) as áreas de Grândola, Melides, Pinheiro da Cruz e Península de Troia têm sido palco da
maioria dos exercícios práticos de todos os cursos de fuzileiro.
“Bujarrona 1201” e “Finalmente 1201” (Fig. 6), no âmbito do programa de formação da Escola, a quem se associou o estágio de
cadetes fuzileiros da Escola Naval são mais alguns exemplos. O primeiro exercício visou avaliar os formandos na matéria ministrada
no módulo de Operações Terrestres – Patrulhas de Combate. Durante dois dias os alunos planearam e conduziram vários golpes de
Fig. 6 – Exercício Finalmente
(1)
Os exercícios decorriam anteriormente, nas proximidades de Aveiro: S. Jacinto e Rio Vouga
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corpo de fuzileiros
mão e emboscadas, demonstrando a capacidade que os fuzileiros possuem de aplicar a
sua iniciativa e ação ofensiva, de um modo controlado, no momento e local apropriado.
Terminado o exercício “Bujarrona 1201” e quando todos ansiavam pelo regresso a casa,
os formandos foram capturados e feitos prisioneiros. Chegava desta forma o exercício
“Finalmente 1201”, o mais temido de todos. Aqui sentiram as dificuldades pelas quais
passam os prisioneiros de guerra. Após 48 horas de interrogatório contínuo e de um
tratamento físico e mental muito exigente, foi-lhes facilitada uma fuga assistida e a respetiva evasão para linhas amigas, mas não sem antes necessitarem de aguardar numa
área segura, ao longo de cinco dias, onde, devido à falta de recursos necessitaram de
colocar em prática as técnicas de sobrevivência que aprenderam.
Os alunos fizeram fogueira de forma improvisada, para se aquecerem, cozinharem e
purificarem a água utilizada. Construíram os seus abrigos, caçaram e pescaram os seus
alimentos, sobreviveram mantendo-se aptos e aguardando pelo dia em que poderiam
tentar terminar a evasão e a consequente chegada à segurança da sua unidade.
Este exercício possibilitou aos alunos ganharem autoconfiança, autoestima e segurança
nas suas capacidades básicas de sobrevivência, ganhar o endurance, espírito de grupo
e de sacrifício fundamentais para um fuzileiro, só possíveis de alcançar, com uma sã
camaradagem!
Fig. 7 – Combate em áreas edificadas
“Milhafre”, “Contra-Ponto”, “Torpedo”, “Bujarrona”, “Antares” e “Escorpião” são ainda outros exercícios dos diversos cursos, cujos nomes provêm de operações militares
realizadas pelos fuzileiros em África e que agora são adaptados nesta Escola, como
exemplos.
Testemunho de um Grumete:
“No decorrer desta semana tivemos aulas teóricas e práticas como habitual e ainda o exercício ESCORPIÃO onde podemos pôr em
prática a teoria dada em CAE (Combate em Áreas Edificadas – Fig. 7) ganhando um certo automatismo e destreza, em todas as ações
que tomávamos e executávamos.
Não paramos quando estamos cansados, paramos apenas quando está feito!”
O CFS e CFG das classes de fuzileiro terminaram com o exercício “Mar Verde” (Fig. 8) abraçando a Península de Troia. Iniciaram com a
prova psicofísica da decida do Rio Sado em botes a remos iniciada em Alcácer-do-Sal. Continuaram com exercícios práticos executados
até à Lagoa de Melides através de patrulhas de reconhecimento e de combate, prática de orientação, manobras de contato, com a
prática de com fogo real. Posteriormente embarcaram numa vaga de botes simulando o movimento navio-terra desenvolvendo uma
incursão anfíbia com uma ação, com fogo real, sobre uma determinada posição. O exercício “Mar Verde” terminou com outra prova
mítica: a marcha dos 50 Km!
De enaltecer ainda o excelente trabalho que, a exemplo de todos os capelães que têm passado pela Escola de Fuzileiros, tem sido
realizado pelo Capelão Licínio.
Consegue aliar às suas aulas (Fig. 9), momentos de descontração
para os formandos, e ainda o apoio da sua sempre útil presença e
acompanhamento cívico dos formandos, em diversos exercícios,
sobretudo nos que acarretam maior dificuldade física e anímica,
elevando-lhes assim a moral.
As experiências adquiridas em novas missões, como na Bósnia-e-Herzegovina, em Timor-Leste e ultimamente no Afeganistão
têm trazido novas realidades.
Mas também a participação nas operações de combate à pirataria no Corno de África, as diversas missões de Evacuação de
Não-combatentes (NEO) realizadas pelos Fuzileiros e os apoios
à Proteção Civil, seja no patrulhamento em apoio do combate ao
flagelo dos fogos florestais, seja no apoio à população da Ilha da
Madeira aquando do aluvião aí ocorrido em 2010 e a que decorreu do apoio à população de Moçambique aquando das cheias no
Rio Save em 2000. Como consequência, os planos de curso têm
incorporado as boas práticas trazidas por estas experiências.
Fig. 8 – Exercício na Lagoa de Melides Mar Verde
Quando todos estes homens e mulheres, insignificantes na entrada da Escola de Fuzileiros, aquando da frequências dos cursos, dela
saírem para as unidades operacionais, cedo se habituarão a fazer coisas com muito significado, para a Marinha e para o País.
Não se pense contudo que a formação na Escola de Fuzileiros, se destina apenas ao CFBP e aos cursos de fuzileiros. Como atrás
referido e relativo ao PAFM I são ministrados ainda os CFS V, CFS MS e CFP MS. Mas, no entanto e como curiosidade, referir que os
anos letivos não se resumem ao PAFM I. No último ano letivo 2012/2013 efetuaram-se também 48 cursos relativos ao PAFM II – Aperfeiçoamento, destacando-se 33 ministrados pelo DFCO, 19 pelo DFTT e oito pelo DFOAS, através do Gabinete de Armamento e Tiro.
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corpo de fuzileiros
Como atrás foi referido, a seguir se descreve o exemplo de uma
das inúmeras operações militares efetuadas pelos fuzileiros em
África, que há muito vêm dando nome, aos exercícios dos cursos
da Escola de Fuzileiros:
Operação “Mar Verde”,
Guiné - novembro de 1970
Missão: Afundar as embarcações que o PAIGC tinha na cidade de
Conakry, na República da Guiné, libertar os militares portugueses
detidos nas prisões de Conakry e substituir o Governo daquele
país apoiando o Golpe de Estado a ser executado por elementos
da oposição.
“O grumete FZE Abu Camará eliminou silenciosamente a sentinela, o que permitiu a entrada a bordo das três vedetas P6. Abertas
as portas das cobertas foram lançadas granadas de mão ofensivas para o interior das mesmas, neutralizando as guarnições.
A equipa de assalto atravessou velozmente a ponte e invadiu os
restantes navios...
...
O grupo entrou de rompante pelo recinto, colocando-se em posição de enfiar a saída das casernas, enquanto alguns homens
corriam para a armaria. Apanhados de surpresa, os guardas-republicanos tentaram sair das casernas mas foram abatidos na
maioria, perdendo-se os outros na escuridão da noite. Ocupado o
campo, abriram-se as portas da prisão onde foram encontrados
cerca de 400 presos políticos que retomaram a liberdade no meio
de grandes manifestações de alegria.
...
A equipa Índia (10 homens) dirigiu-se para a central, eliminou duas
sentinelas, prendeu o encarregado da Central e obrigou-o a cortar
a luz da cidade.
40
Fig. 9 – Aula de Formação Cívica
...
A guarda do Palácio Presidencial, ao ver chegar os dez homens da
equipa Alfa, debandou em grande velocidade...
...
A equipa Zulu dividiu-se em três elementos: O primeiro comandado
pelo 1º. Tenente Cunha e Silva dirigiu-se imediatamente à prisão
“La Montaigne”, onde, depois de violenta escaramuça, eliminou a
respetiva guarda e libertou os 26 prisioneiros portugueses que lá
se encontravam.
CTEN Alpoim Calvão “De Conakry ao MDLP”
Colaboração da Escola de Fuzileiros
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corpo de fuzileiros
Fuzileiros na Somália
A
Para a Operação Atalanta 2013 – missão
da European Union Naval Force (EUNAVFOR 13) – foi indigitado o NRP “Álvares
Cabral”, um destacamento de Helicóptero
Lynx e duas equipas do Pelotão de abordagem, constituída por 2 sargentos e 8
praças do Batalhão de Fuzileiros Nº1.
Básico (PTB) do NRP “Álvares
Cabral”, onde se começou a
treinar as Táticas, Técnicas e
Procedimentos (TTP) de combate
à pirataria. Em setembro de
2012, o navio realizou um intenso
treino de 6 semanas no Portuguese
Operacional Sea Training (POST), em
Inglaterra. Durante o aprontamento
conjunto também se realizaram treinos
em terra: protecção de navio, acções
de abordagem com inserção por meio
combinados (por superfície através de
semi rígida e por helicóptero utilizando
a técnica de fast rope) e detenção e
processamento de indivíduos suspeitos.
O aprontamento das equipas iniciou-se em
fevereiro de 2012, com o Plano de Treino
Para além do aprontamento em conjunto
os militares da equipa de abordagem
s equipas de Fuzileiros do Pelotão de
Abordagem têm estado empenhadas
no combate à pirataria marítima no
mar da Somália e no Golfo de Aden desde
2009. Têm integrado as guarnições dos
navios da Marinha Portuguesa que atuam
sobre a égide da NATO e da União Europeia.
frequentaram o Curso de Sobrevivência,
Evasão, Resistência e Extracção (SERE),
(no Centro de Treino de Sobrevivência da
Força Aérea); o Curso Complementar de
Socorrismo e o Curso de Emergência em
Combate (no Centro de Simulação Médica
da Marinha – na ETNA) e o Curso de
Abandono de Aeronaves em Imersão (na
Esquadrilha de Helicópteros da Marinha).
No aprontamento interno foram treinadas múltiplas TTP das quais se destaca:
inserção, controlo e revista de embarcações suspeitas; combate em espaços
confinados; tiro de longa distância com
armas de precisão; inactivação de explosivos; natação de sobrevivência; técnicas
de luta corpo a corpo; proteção de navio
a navegar/atracado; recolha de prova e
planeamento.
Treino de tiro de manutenção dos padrões de prontidão operacionais com pistola metralhadora MP5
Equipa de abordagem na fase final de aproximação a uma jelbut dhow Iraniana
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Durante o trânsito do navio e em alto mar,
os fuzileiros insistiram no treino físico,
nas TTP de tiro, de inserção por meio
aéreo e de revista a compartimentos, de
forma a manter os padrões de prontidão
operacional.
Elemento da equipa de abordagem a distribuir chocolates durante a assistência médica a
uma jelbut dhow Iraniana
41
corpo de fuzileiros
Demonstração de uma infiltração da equipa de abordagem à comitiva chinesa
Já no mar da Somália, as equipas dos
Fuzileiros efectuaram 8 acções de abordagem a embarcações suspeitas, onde
colocaram em prática toda a formação e
treino que precedeu o embarque.
De destacar a abordagem que ocorreu no
dia 25 de abril, no Corredor Recomendado
de Tráfego Internacional (IRTC), ao largo
da Somália.
Surgiu de repente no radar uma embarcação suspeita e num instante ouviu-se o aviso “equipa de fuzileiros prepara
para abordar”. Em menos de 5 minutos
os fuzileiros aprontaram-se e formaram
para a projeção. Enquanto isso, o navio
tentava intensamente comunicar com a
embarcação com o intuito de estabelecer
comunicações. Enquanto isso receberam
o briefing do comandante com as suas intenções para a abordagem. Durante o embarque nas semi-rígidas, o chefe de equipa efetua uma última verificação à equipa,
que se manteve calma, pois estes são elementos que possuem muita experiência
neste tipo de operações; e alertou “atenção à segurança e cuidado na inserção na
embarcação!”. Rapidamente seguiram em
direção à embarcação suspeita. Já próximo repararam não haver um local seguro
para fixar a escada. Assim, com dificuldade, conseguiram colocar as escadas (tipo
poste de abordagem). Subiram a bordo e
ao chegar ao convés avistaram um aglomerado de pessoas, incluindo mulheres
e crianças sentadas no chão, em cima
de sacos de batatas e cebolas, à mercê
de condições meteorológicas agressivas,
aparentemente desidratados, com fome e
em condições sanitárias precárias.
O chefe de equipa abordou o mestre da
referida embarcação, questionando o que
faziam ali aquelas pessoas e se estava
tudo bem, ao que ele respondeu que eram
passageiros que vinham do Iémen para a
Somália. Havia no entanto um elemento da
sua tripulação que estava muito doente,
já sem capacidade para se levantar, e
42
Dois elementos da equipa de abordagem de segurança à tripulação durante a fase de revista
a uma “boum cargo dhow” Indiana
que dificilmente iria resistir até chegar a
terra. Perante este cenário foi informado
de imediato o Comando e ordenado aos
fuzileiros que fornecessem alguma da
sua ração de emergência às crianças que
tinham sinais de maior carência. O chefe
de equipa recebe, ainda, a informação que
seria enviada ajuda médica e alimentar
logo que possível.
Os fuzileiros portugueses tiveram, ainda,
oportunidade de trocar conhecimentos
com as equipas de abordagem da Suécia,
Finlândia, da África do Sul, da China e com
os Fuzileiros Moçambicanos.
Esta foi uma das abordagens que mais
marcou a equipa de fuzileiros, onde o
compromisso, o dever e a arte de bem fazer fomentaram o sentimento de que vale
a pena o sacrifício de estar longe do país
e da família.
A missão Atalanta 2013 trouxe um importante incremento em conhecimento e
experiência operacional através das missões reais e, ainda, dos intercâmbios com
forças internacionais.
Outra tarefa atribuída às equipas foi a de
segurança ao navio (tanto a navegar como
atracado). Em especial nas áreas mais perigosas como: o canal do Suez, ao largo
de Mogadíscio (durante a reunião de altas
Entidades Internacionais e Somalis que
se efetuou no NRP “Álvares Cabral”), nos
portos do Djibuti, de Mombaça, e de Pemba (durante a visita do Ministro da Defesa
de Portugal a Moçambique).
Com estes efectuou-se um exercício
conjunto de abordagem que serviu de
demonstração para os Ministros da Defesa
de Portugal e de Moçambique.
As equipas do Pelotão de Abordagem executaram todas as suas tarefas e missões
de uma forma exemplar, fruto da experiência e dedicação de todos os militares
que a esta unidade pertencem. Para o
sucesso do nosso engrandecimento contamos com o lema “Sempre Prontos”.
João Pinheiro
1SAR FZ
(Chefe de Equipa de Abordagem)
Militares de uma força de abordagem combinada (PELBOARD e Fuzileiros Moçambicanos) após uma demonstração de
capacidades aos MDN de Portugal e Moçambique
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convívios
Companhia de Fuzileiros N.º 3
Angola 1972/74
6 de Julho de 2013
A
CFZ n.º 3 – Vila Nova da Armada -– Angola 1972/1974,
unidade mista, integrando fuzileiros especiais, devido à sua
imensa área de acção, em zona 100% operacional, levou
a efeito mais um momento de confraternização com um almoço
convívio em Fátima, no dia 6 de Julho de 2013.
Iniciaram-se os abraços saudosos em frente à Capelinha das Aparições, local magistralmente escolhido para acolher esta grande
família, que são os Fuzileiros, e neste caso específico, a da CFZ 3,
e pedir à Virgem pelos que já partiram mas que, todavia, estarão
sempre connosco enquanto viveram os que cá estão.
Após os abraços, as apresentações às famílias (filhos e netos)
porque os cabelos já são poucos e brancos, dirigimo-nos a um
restaurante na zona onde pudemos dar largas à confraternização
e saciar o apetite com dois pratos “Bacalhau à mó“ e “Bife com
Champignons”, bem regados com um bom tinto da região.
Restaria a parte sempre mais difícil e sofrida: a despedida. Ficou
no entanto a promessa de que para o ano haverá outro convívio
na Guarda e, por isso, as despedidas, embora sempre sentidas,
tornaram-se mais suaves.
Estiveram presentes neste almoço, convívio, 47 militares e 50 familiares, totalizando uma “Família FZ” de 97 pessoas, que se espera
aumentada para 2014.
Fuzileiro uma vez fuzileiro para sempre
J. Silva Batista
Sóc. Orig. n.º 2138
23.º CFORN volta à “Casa Mãe”
e comemora o seu 40.º Aniversário
19 de Outubro de 2013
O
dia 19 de Outubro de 2013 foi a data escolhida pelos elementos do vigésimo terceiro curso de oficiais da Reserva
Naval (23.º CFORN FZ) para as comemorações dos 40 anos
da sua entrada na Marinha. A data foi consensual uma vez que,
dentro das disponibilidades apresentadas pela Escola de Fuzileiros, era a que mais se aproximava da data de início do Curso de
Fuzileiros, em 15 de Outubro de 1973.
As comemorações decorreram de forma condigna, como era
devido, na “Casa Mãe” dos Fuzileiros que recebeu de braços
abertos os mancebos que há quarenta anos ali “bateram com os
costados”.
Para que conste, estes mancebos, depois cadetes, ingressaram
na Marinha a 30 de Agosto de 1973 e, terminada a formação na
área militar-naval na Escola Naval marcharam, então, para Vale
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convívios
de Zebro a fim de iniciarem a sua formação como Fuzileiros a que
já acima se aludiu.
Quarenta anos volvidos regressámos, quase todos, à casa mãe
para um reencontro inolvidável onde todos foram lembrados: os
que infelizmente já não estão entre nós, como é o caso dos camaradas Henrique Anjos e o João Cortez Pinto, e aqueles que, por
muito fortes razões pessoais, não puderam estar presentes.
Num lampejo, os abraços do reencontro esbateram os 40 anos
decorridos! Quase meio século!
Sentíamos que estávamos ali, que éramos dali, daquele espaço,
daquela gente……
As marcas do tempo não apagaram o carácter de cada um, a sua
maneira de ser, o seu sorriso, as suas expressões…. tudo como
dantes.
Estavam ali, de facto, os cadetes de há quarenta anos. Percursos,
vidas e até sortes diferentes mas estavam ali inteiros. Um pouco
mais moderados, talvez, mas a irreverência e a boa disposição ali
estava e reinava.
Foi com grande emoção que, lembrando e homenageando todos
os fuzileiros já falecidos, se depôs uma coroa de flores no monumento ao Fuzileiro e homenageados os que já nos deixaram,
visitados os locais mais marcantes pelo esforço e sacrifício, exorcizados os mitos e temores, foi deixada, assinalando a efeméride, uma placa gravada no memorial da Escola de Fuzileiros para
memória futura.
Uma palavra de agradecimento ao Comando do Corpo de Fuzileiros por ter autorizado este evento, ao Senhor Comandante
da Escola de Fuzileiros por se ter dignado a estar presente e ter
acompanhado os actos mais significativos com grande sensibilidade, ao Capelão Licínio pelas palavras sábias e atentas que
proferiu durante a missa comemorativa, á Secção de Protocolo
e ao Serviço de Abastecimento da EF pela colaboração prestada
sempre com grande disponibilidade e profissionalismo.
Obrigado a todos.
Benjamim Correia
Sóc. Orig. n.º 1351
O almoço “convivido” no mesmo local de
tantas outras refeições em comum foi,
também, um excelente momento de confraternização que propiciou, a alguns dos
participantes, a demonstração dos seus
excelentes dotes de oratória.
No final lá voltámos todos ao nosso quotidiano deixando para trás promessas de
futuros reencontros que certamente irão
ocorrer.
De assinalar a presença amiga de dois dos
três oficiais de outras classes de Marinha
que connosco fizeram o Curso de Fuzileiro
e que fizeram questão de partilhar estes
momentos de reencontro.
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convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12
Guiné 1967/69
2 de Novembro de 2013
R
ealizou no passado dia 2 de Novembro de 2013 mais um almoço/convívio do DFE – Guiné 1967/1969.
Celebrámos o 46.º aniversário da sua
fundação e, simultaneamente, o 36.º almoço/convívio que se realiza sempre no
primeiro sábado de Novembro.
Na Escola de Fuzileiros homenageámos
os que já partiram e os mortos em combate. Depois fizemos uma visita guiada
à Sala Museu do Fuzileiro.
Seguidamente rumámos com as Famílias à Quinta da Alegria onde se realizou
o nosso almoço/convívio.
Agradeço, em meu nome e do DFE 12,
a publicação deste evento na nossa
revista “O Desembarque”.
E assim se passou mais um dia em completa harmonia e camaradagem durante
o qual se mataram as saudades e se
contaram histórias de outros tempos.
Manuel Ramos
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Sóc. Orig. n.º 90
45
convívios
40.º Aniversário do 24.º CFORN
22 de Fevereiro de 2014
N
o passado dia 22 de Fevereiro de
2014 comemorou-se o 40.º Aniversário da entrada na Armada do 24.º
Curso de Formação de Oficiais da Reserva
Naval (CFORN).
O curso tinha 31 elementos e todos concluíram o curso.
Iniciou-se na Escola Naval em 21 de Fevereiro de 1974 e passámos em 16 de Abril
de 1974 à Escola de Fuzileiros, terminando no dia 6 de Setembro de 1974.
Jurámos bandeira dia 28 de Setembro de
1974.
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Este curso gerou 10 oficiais FZE´s.
Este curso gerou 7 oficiais que entraram
para o quadro e seguiram carreira nos fuzileiros: António Raposo, João Serra, Rui
Trigoso, Jorge Monteiro, Camilo Mendonça, António Martins e João Hermenegildo.
Eu, António Raposo, cadete 17/74 era o
chefe de turma.
O cadete 18/74 Carlos Cunha foi o primeiro
classificado do curso com 15,96 valores.
No passado dia 22 de Fevereiro de 2014,
reunimo-nos na EF com o seguinte programa:
– Deposição de coroa de flores em homenagem aos fuzileiros mortos, nomeadamente 4 do nosso curso;
– Descerramento de placa alusiva ao
curso no mural da EF;
– Visita ao Museu do Fuzileiro;
– Visita à “tabanca” e às pistas de combate e de lodo;
– Almoço convívio na sede da Associação de Fuzileiros.
António Raposo
Sóc. Orig. n.º 2140
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delegações
Delegação de Vila Nova de Gaia
3.º Aniversário e Almoço de Natal
de tempos passados e recordar os sons de guerra, finda a visita
procedeu-se à tradicional “foto de família”, sob a protecção da
estátua de D. Afonso Henriques.
Pelas 13:00, a comitiva deslocou-se para o Restaurante Salgueirinhos, em Grijó - Gaia, para a realização do Almoço-convívio
de Natal e 3.º Aniversário da DFZ’s Gaia, iniciando-se com um
agradável aperitivo ao ar livre, seguido de almoço. A DFZ’s Gaia
na pessoa do seu Presidente - FZ Henrique Mendes saudou os
convidados com as boas-vindas, fez-se um minuto de silêncio em
memória dos camaradas já falecidos, com o imediato «grito de
guerra dos Fuzileiros» principiado pelo Sarg. FZE Manuel Parreira
e correspondido pelos Fuzileiros presentes.
À
imagem dos anos anteriores, realizou-se no dia 7 de Dezembro de 2013, o Almoço-convívio de Natal e 3.º Aniversário da Delegação de Fuzileiros de Gaia (DFZG), organizado
pelos elementos da sua Direcção, comparecendo no evento 126
pessoas, sendo de destacar que 82 eram Fuzileiros.
A concentração da “Força-Tarefa” decorreu junto da sede da
DFZG, seguido de um breve convívio e recepção dos convidados
com um Porto de Honra.
Por volta das 11:00 procedeu-se à visita guiada ao Museu Militar do
Porto que, entre o seu espólio, cativou particular interesse aos Fuzileiros, a espada de D. Afonso Henriques “O Conquistador”, 1.º Rei de
Portugal, a colecção de miniaturas, armas e uniformes e, a réplica
das trincheiras da 1.ª Guerra Mundial, fazendo as delícias de miúdos
e graúdos, aliado à história do soldado Milhões e a sua “menina” uma metralhadora Lewis.
Como também já é habitual, também não faltaram os Fuzileiros
“fotógrafo de serviço”, SAJ FZ Rogério Pinho Silva e FZE Mário
Manso que, prontamente facultaram os seus registos fotográficos
no Facebook. Este ano a DFZ’s GAIA convidou um grupo musical,
os “R.B.A.” para animar o evento durante o almoço.
Parte dos convidados presentes na mesa de tribuna discursaram
pela seguinte ordem:
– FZ Henrique Mendes, Presidente da Delegação de Fuzileiros
de Gaia;
– Comandante Lhano Preto, Presidente da Associação Nacional
de Fuzileiros;
– Comandante Martins dos Santos, Comandante da Zona Marítima do Norte e dos Portos de Douro e Leixões;
– Eng. Vieira Azevedo, Vice-Presidente da Câmara Municipal de
Gaia;
– Almirante Cortes Picciochi, Comandante do Corpo de Fuzileiros.
Rodrigues Morais
Sóc. Aderente n.º 2082
Fotos de Mário Manso
No parque exterior do edifício do Museu apreciou-se diversas peças de artilharia, inclusivo uma peça simples Bofors de 40 mm
(equivalente às das antigas Lanchas de Fiscalização Grande e
de Desembarque Grande) que, a par das armas ligeiras do espaço dedicado a Guerra Colonial no “Pavilhão de Armas”, transportaram os Fuzileiros veteranos deste conflito para a memória
Após o almoço, café e digestivos, a “Força-Tarefa” reuniu-se e
cantou-se o Hino da Associação Nacional de Fuzileiros e os parabéns à DFZG, provou-se o bolo e decorreu a distribuição de
lembranças aos convidados, não faltou a já habitual boa disposição do humor do Sarg. FZE Manuel Parreira e seus compadres no
canto popular alentejano.
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47
delegações
Transcreve-se, com pequenas alterações, o discurso do Presidente da Delegação de Vila Nova de Gaia, Henrique Mendes:
«Minhas Senhoras e meus Senhores
Uma palavra de agradecimento e apreço ao Comandante Zona Marítima do Norte, CMG,
Martins dos Santos, por todo o seu empenho e cooperação com a nossa Delegação.
Muito obrigado por tudo.
Um agradecimento especial, também, à Presidente de Junta de Freguesia do Canidelo,
Dr.ª Maria José Gamboa, pela sua presença, que muito nos honra.
Agradecimentos ainda pelas presenças do 2.º Comandante Regional Norte da Policia
Marítima, Jorge Gonçalves e do 2.º Comandante Local da Policia Marítima de Leixões,
Sarg. Chefe Malveiro.
Camaradas:
Uma palavra de agradecimento á nossa Associação que este ano contribuiu com metade
do valor do transporte no Dia do Fuzileiro, beneficiando assim os nossos sócios.
Mais uma vez houve uma participação positiva como vem sendo apanágio da nossa
Delegação. Fizemo-lo com um enorme profissionalismo rigor e disciplina, coisa que
deve preocupar sempre quem ostenta a boina azul ferrete.
Da nossa parte, sempre estaremos disponíveis podendo a nossa Associação contar com
uma pronta resposta de espírito e corpo, quando e onde necessário. O lema é: “Onde
quer que nos chamem estaremos”.
Este ano, com a ajuda da nossa Associação e do comandante Zona Marítima do Norte CMG, Martins dos Santos estivemos prestes a
mudar de instalações, já que nos disseram que poderíamos ocupar um espaço na Associação de Canoagem, na margem do rio Douro,
instalações com melhores condições para vos receber com a dignidade de Fuzileiros que somos e merecemos, pois como sabem as
instalações onde nos encontramos são muito limitadas. O Presidente da Associação de Canoagem terá dito que sim e depois nunca
mais nos recebeu faltando assim grosseiramente á palavra, sem dar mais explicações.
No ano passado a Câmara de Gaia disponibilizou-nos umas instalações em Crestuma, as quais agradecemos. No entanto o local não
tinha as condições pretendidas por ser tratar do rés-do-chão de um prédio de habitação social.
Contudo a nossa luta na procura de umas instalações dignas continua. Não iremos desistir e contamos com o apoio da nossa
Associação, do comandante Zona Marítima do Norte, que tem sido incansável, da Câmara de Gaia e da Presidente de Junta de
Freguesia do Canidelo, Dr.ª Maria José Gamboa.
Estou certo que iremos conseguir um espaço digno para recebermos os nossos sócios e dar-lhes o conforto que eles merecem.
Contamos com a vossa preciosa ajuda.
Em tempos de crise, um ombro amigo e um abraço com amizade faz falta, acima de tudo de amizade sincera. A nossa Delegação é
isso mesmo. Teremos sempre um ombro amigo para todos vós e estaremos como sempre disponíveis para o que estiver ao nosso
alcance.
Ultimamente temos estado ao lado do nosso camarada e amigo Teixeira numa hora menos boa, pois a sua irmã está bastante doente.
Contribuímos com uma pequena ajuda para os seus tratamentos na Alemanha, mas acima de tudo com um abraço de amizade e
um ombro amigo, desejando as rápidas
melhoras a uma grande lutadora, Josefina Rufo.
Um mundo de soluções para o seu lar...
Um abraço de amizade, também, aos
nossos combatentes por tudo aquilo que
fizeram ao serviço de Portugal, lembrando
com saudade aqueles que partiram dando
a vida ao serviço da Pátria.
A Vós sócios, afectos à nossa Delegação, aos vossos familiares e amigos aos
membros da Direcção da AFZ endereço
também, um abraço de amizade, desejando-vos um Feliz e Santo Natal e um
próspero Ano, repleto de sucessos e muita saúde.
Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz de Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt
48
Vivam os Fuzileiros, viva PORTUGAL.»
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eventos
Associação dos Veteranos e
Combatentes do Oeste (AVECO)
Comemoração dos 40 anos do 25 de Abril (Lourinhã)
C
onvidado pela AVECO tive o privilégio
de partilhar, na qualidade de fuzileiro e de Sócio da AFZ, das cerimónias organizadas por esta Associação de
Combatentes, que promoveu uma série de
eventos, no sentido de enquadrar actos da
vida quotidiana da população, nas comemorações do quadragésimo aniversário do
25 de Abril.
Fotos de Mário Manso
Porque a nossa AFZ tem participado em
vários eventos a convite da AVECO, para
os quais somos quase sistematicamente
convidados valerá a pena um relato sucinto dos actos a que estive presente.
Logo pela manhã fez-se uma romagem ao
cemitério, para recordar os nossos entes
queridos fazendo preces a Deus, para que
descansem em paz.
De seguida assistimos à celebração de
uma Missa, na Igreja Nossa Senhora da
Anunciação (Missa de Acção de Graças)
em memória dos mortos nas guerras
d´África.
No final da Missa reuniu-se junto ao Monumento do Combatente, onde se juntaram a todos os convidados e a população
em geral, e prestou-se homenagem aos
Capitães de Abril, ali representados pelo
Tenente-General Jorge Silvério.
António Basto, Vice-Presidente da AVECO,
deu início à cerimónia, fazendo uma breve
reconstituição histórica da Revolução do
25 de Abril de 1974, recordando a canção,
“E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, que serviu de primeira senha à acção
militar e a canção ”Grândola Vila Morena”
(segunda senha) de Zeca Afonso.
Terminou o seu discurso, com a leitura de
uma Mensagem General Ramalho Eanes,
O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
enviada ao General Jorge Silvério, associando-se deste modo à homenagem que
a AVECO promoveu.
Seguiram-se mais dois discursos de
circunstância, proferidos por Fernando
Afonso Pereira de Castro, Presidente da
AVECO e pelo Eng.º João Duarte Anastácio
de Carvalho, Presidente da Autarquia,
tendo os dois oradores feito algumas
considerações acerca da Revolução,
convergindo para um ponto de vista
em comum: ”Os Capitães de Abril, ao
derrubarem uma ditadura de 40 anos,
restituíram a liberdade ao povo e, puseram
termo às guerras d´África, que duravam há
13 anos.”
O Presidente da AVECO concluiu o seu
discurso, dizendo: “As armas que fizeram
a guerra também nos trouxeram a paz e
a liberdade”. O Presidente da Autarquia,
deixou uma frase para reflexão: “Os soldados e marinheiros que fizeram “O 25 de
Abril”, não devem ser esquecidos”.
Em seguida, com as devidas honras foi
depositada uma coroa de flores junto ao
Monumento do Combatente.
49
eventos
O culminar das cerimónias, aconteceu
com um discurso do Tenente-General Jorge Manuel Silvério, que depois de agradecer a presença de todos os convidados de
honra, nos quais me incluíram, e de todas
as pessoas que ali estavam, prestando a
sua homenagem aos Capitães de Abril, a
determinada altura do seu discurso disse:
“Quem fez o 25 de Abril foi o povo. Mas
os soldados sempre estiveram presentes
na linha da frente nas batalhas da Independência de Portugal, nomeadamente na
batalha de São Mamede e na batalha de
Aljubarrota, entre outras”. E, apontando
para o Monumento do Combatente, com
alguma emoção, concluiu: “Os verdadeiros heróis são os mortos, que estão sempre presentes”.
O General Jorge Silvério foi aplaudido
com uma calorosa salva de palmas e,
a encerrar as cerimónias, ao som de
música, todos os presentes entoaram o
Hino Nacional.
Num Restaurante da região foi servido um
agradável almoço, onde tive a oportunidade conhecer e conversar com alguns dos,
também, convidados de honra, designadamente, com o Presidente da Autarquia
e com o General Jorge Silvério recordando, com este último, algumas das nossas
passagens durante a Guerra, por terras do
Norte de Angola e de Moçambique.
Do que me foi dado constatar, o Tenente-General Jorge Silvério, é pessoa simples,
de relacionamento fácil e de trato social
afável e, como me referiu “o General Ramalho Eanes, ex-Presidente da República
foi um combatente notável, colaborador
dedicado e amigo leal, cuja competência
e dinamismo incansáveis colocou sempre
ao serviço do País.” Parabéns à AVECO e
os meus agradecimentos pessoais e também em nome da AFZ, por nos ter reservado lugar de honra.
José Lopes Henriques
Sóc. Orig. n.º 938
CFR (R)
INFORMAÇÃO
Snack-Bar/Salão Polivalente
e de refeições
Informamos os nossos Associados que o Snack‑Bar da AFZ da nossa Sede Social está em pleno
funcionamento após obras de conservação/manutenção.
Daqui exortamos todos os Sócios a que frequentem a nossa/Vossa Sede, o Bar e o Salão Polivalente e de refeições e a que, os Camaradas
organizadores dos habituais Almoços/Convívios,
consultem sempre a AFZ e/ou o respectivo Concessionário do Snack-Bar, porque encontrarão,
por certo, condições de relação qualidade/preço muito favoráveis, para além de um ambiente
agradável e de muito nível, propício à realização
de eventos de qualquer natureza, em que as
nostálgicas saudades, as alegrias, a amizade,
a solidariedade, as nossas histórias e o espírito do fuzileiro se podem revelar em toda a sua
plenitude.
Sugerimos que as marcações de pequenos eventos ou os almoços/convívios sejam, em princípio,
marcados com a intervenção do Secretariado Nacional da AFZ (email: [email protected], tel.:
212 060 079; telem.: 927 979 461) por razões
que têm a ver com a programação dos eventos da
iniciativa da Direcção.
O Concessionário, cujo contacto telefónico é o
210 853 030, tem instruções para dar conhecimento à Direcção de todos os eventos e/ou convívios que venham a ocorrer na Sede Nacional, antes
de se comprometer na sua realização.
Saudações a todos os Sócios e suas Famílias.
A Direcção Nacional da AFZ
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O DESEMBARQUE • n.º 18 • Junho de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
obituário
Aqui se presta homenagem aos que nos deixaram
A Associação Nacional de Fuzileiros e a
nossa Revista “O Desembarque” apresentam sentidas condolências às Suas
Famílias, publicando-se as respectivas
fotografias que correspondem às que encontrámos, com menor ou razoável qualidade, nos nossos ficheiros.
Ricardo Pedro Simões Mateus
Sócio n.º 2142
13/01/1974 a 11/11/2013
Vasco Luís S. Quevedo
Pessanha
Sócio n.º 2035
21/10/1942 a 28/11/2013
Nuno Maria de Brito Viegas
Sócio n.º 996
18/09/1946 a 29/11/2013
Guilherme George Conceição
Silva
Sócio n.º 1643
23/01/1930 a 12/2013
António Lopes Pereira
Sócio n.º 596
26/09/1940 a 28/12/2013
Fernando Gaspar Timóteo
Sócio n.º 1223
18/08/1938 a 10/05/2014
António Manuel Alves
Sócio n.º 450
31/03/1953 a (?)
António da Silva Fernandes
Sócio n.º 601
20/03/1948 a 15/05/2014
Estes nossos Camaradas e amigos
conservar-se-ão sempre entre nós neste
Planeta e quando nos encontrarmos
noutros Mundos.
diversos
Donativos à AF
Nome do sócio
José Manuel de Carvalho
António Esperança
João Pedro da Luz
Cmdt. Mendes Fernandes
José Rodrigues
António Manuel Pacheco
José R. Filipe
Emanuel Sales
Hélder Pacheco
Manuel Vinagre dos Santos
N,º Donativo
34
479
1308
546
1778
816
65
1926
2149
336
40,00 €
20,00 €
10,00 €
80,00 €
10,00 €
10,00 €
10,00 €
10,00 €
10,00 €
20,00 €
Assinatura Anual
da Revista
Nome do sócio
Vitor Porto
Martinho Alves
Diamantino Rodrigues
João Santana
Manuel Teixeira
Mário Manso
N.º
1706
1837
1887
545
218
161
2014
10,00 €
15,00€€
10,00 €
10,00 €
10,00 €
10,00 €
Novos Sócios
Nome do sócio
Novos Sócios
N.º
Nome do sócio
N.º
Joaquim Francisco Lopes Martins
2296
Luís Miguel C. Pereira da Silva Paulo
2317
João Francisco Imaginário César
2297
João António Horta Gato
2318
Ana Maria Filipe Teixeira Costa
2298
Luís Filipe Pastor Liberato
2319
Carlos Manuel de Jesus Silva
2299
Luís Pereira Coutinho Sanches de Baêna
2320
Diamantino Espirito Santo Correia
2300
José António de Sousa Diogo
2321
José Manuel Glória Viana
2301
Daniel Fernando Silva Caetano
2322
José Ramos Veiga Gil
2302
Manuel Marcelino Viegas Catarino
2323
Manuel Jorge Ferreira
2303
Manuel Domingos Ventura Pinho
2324
Amadú Baldé
2304
José Manuel Santos Silva
2325
Fernando Borges Pereira
2305
António Faustino
2326
José Carlos Baptista da Costa
2306
Domingos Manuel David da Costa
2327
Joaquim Manuel Marques Sá Ferreira
2307
José Mendes Gomes
2328
Paulo Jorge Teixeira Vaz
2308
Henrique Matos de Carvalho
2329
Rodrigo Pinto dos Santos
2309
José Carlos Morais da Silva
2330
Celso Manuel de Oliveira e Silva
2310
Valter Santos Rosário
2331
Fernando Jorge Gomes da Silva
2311
Manuel Fernando Carreira
2332
António José de Sousa e Silva
2312
Manuel Francisco Ventura
2333
Alberto Manuel Amaral Neves
2313
Miguel Filipe Cabrelo Morgado
2334
António Francisco Albino Marreiros
2314
João Francisco Cachopo Laranjo
2335
Ludgero Jacinto Varela
2315
Jorge Manuel Agostinho Robalo
2336
Arménio Manuel Neves oliveira
2316
Manuel José Pimentel Moreira
2337
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