MONOGRAFIA DE CRIS FINAL
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MONOGRAFIA DE CRIS FINAL
1 UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO CRISTIANE REZENDE SANTOS DO ESTRESSE À AGRESSIVIDADE NO TRÂNSITO: Perspectivas dos Motoristas na Cidade de Aracaju-SE MACEIÓ- AL 2013 2 CRISTIANE REZENDE SANTOS DO ESTRESSE À AGRESSIVIDADE NO TRÂNSITO: Perspectivas dos Motoristas na Cidade de Aracaju-SE Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. Orientador: Prof. Dr. Liércio Pinheiro de Araújo MACEIÓ-AL 2013 3 CRISTIANE REZENDE SANTOS DO ESTRESSE À AGRESSIVIDADE NO TRÂNSITO: Perspectivas dos Motoristas na Cidade de Aracaju-SE Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. APROVADO EM ____/____/____ _____________________________________________________ PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO ORIENTADOR: _____________________________________________________ PROF. DR. MANOEL FERREIRA DO NASCIMENTO FILHO BANCA EXAMINADORA _____________________________________________________ PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA BANCA EXAMINADORA 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Deus, aos meus pais que sempre me deram força e coragem para seguir em busca dos meus objetivos. 5 AGRADECIMENTOS A Deus, por sempre iluminar meus caminhos, e por fazer com que mais esse sonho se realize, Agradeço a minha amiga Genamara por estar sempre junto comigo na realização desse trabalho. Aos meus irmãos por sempre me apoiarem e ao meu querido filho, que sempre está ao meu lado quando mais preciso! 6 [...] O trânsito está carente de conhecimentos técnicos, mas está, sobretudo, carente de respeito humano e de boas maneiras. O trânsito implica necessariamente o exercício e a prática de princípios morais e até religiosos. (Rozestraten & Dotta) 7 RESUMO No trânsito, a agressividade tornou-se um problema social que exige atenção da população e autoridades uma vez que a intolerância influencia diretamente nos casos de violência e acidentes. Nervosismo, estresse, desatenção são apenas alguns dos aspectos que leva o motorista a comportamentos agressivos. Desta forma, este estudo tem por objetivo identificar alguns dos fatores responsáveis pela agressividade no trânsito em Aracaju- Sergipe. Tratou-se de um estudo exploratório descritivo realizado no período de março/abril de 2013 junto a 80(oitenta) motoristas, escolhidos aleatoriamente que responderam a um questionário que permitiu verificar que os responsáveis pela agressividade no trânsito são o estresse, nervosismo e desatenção; os mais estressados são do gênero masculino; os mais agressivos são os mais jovens, com menos tempo de experiência no trânsito; não existe uma relação específica entre o grau de escolaridade e agressividade no trânsito; as discussões em trânsito estão mais ligadas às abalroadas; a motivação para agressividade é interna, pelo fato de haver uma tensão emocional. Desta forma, os dados conclusivos mostram cada vez mais a necessidade de uma educação mais efetiva no trânsito, com vistas à conscientização da realidade pelas pessoas que deve começar cada vez mais cedo, nas escolas, desenvolvendo um trabalho de valorização da vida, promoção do bem estar social, investimentos em projetos, que desde cedo, ensinem as crianças a uma conduta ética pacífica, principalmente porque traços do comportamento agressivo podem ser percebidos logo cedo, em suas representações cognitivas internas, que se formam em memória a partir do ambiente, bem como de repertórios de comportamento que, à força de utilizações frequentes, tornam-se altamente salientes. Palavras-chave:Agressividade; Comportamento; Estresse; Trânsito. 8 ABSTRACT In traffic, aggression has becomea social problem thatrequiresattentionof the population andauthoritiessinceintolerancedirectly influencesin casesof violenceand accidents. Nervousness, stress, inattentionare just someof the things thattakesthe driverto aggressive behavior. Thus, this study aims to identifysome of thefactors responsible forroad ragein Aracaju-Sergipe. This wasan exploratory descriptive studyconducted fromMarch / April2013along with80(eighty) drivers, randomly selectedrespondentsto aquestionnaire thathas shownthat those responsible forroad rageare stress, nervousness andinattention; the most stressedwere male, the most aggressiveareyoungerwith lessexperience timeintransit,there is nospecific relationship betweenschooling androad rage; discussionsin transitaremorelinked toalbaroadas, the motivationis internalaggression, because there isan emotional strain. Thus, conclusive dataincreasingly showthe need forbetter educationin traffic, with a viewto raising awarenessof realitybypeople whomust startat an earlier age, in schools, developing a workofvaluing life, promoting the wellwelfare, investmentsin projectsthatearly, teach childrenethical conductpeaceful, mainly becauseof aggressive behaviortraitsmay be perceivedearlyintheirinternal cognitiverepresentations, which are formedinmemory from theenvironment as well asfromrepertoires of behaviorsthatthe strength offrequentuse, become highlyprominent. Keywords: Aggression; Behavior; Stress; Traffic. 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 01 – Estatísticas de Acidentes de Trânsito no Estado de Sergipe, durante o ano de 2003.. .................................................................................... 18 Quadro 02 – Estatísticas de Acidentes de Trânsito no Estado de Sergipe, durante o período de Janeiro a Agosto do ano de 2013. .................................. 19 Quadro 03 - Diferenças entre homens e mulheres na direção veicular .................... 35 Gráfico 01 – Fatores responsáveis pela agressividade no trânsito, em porcentagem. ....................................................................................... 32 Gráfico 02 – Gênero mais agressivo no trânsito, em porcentagem. .......................... 34 Gráfico 03 – Percentual de motorista mais agressivo no trânsito.............................. 36 Gráfico 04 – Relação entre nível de escolaridade x agressividade no trânsito ......... 37 Gráfico 05 – Distribuição percentual do comportamento agressivo no trânsito. ........ 38 Gráfico 06 – Motivação para a agressividade ........................................................... 39 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 13 2.1 Legislação Brasileira de Trânsito ................................................................... 13 2.2 Acidentes de Trânsito ...................................................................................... 15 2.2.1 Os Acidentes de Trânsito em Aracaju e no Estado de Sergipe ................ 17 2.3 Comportamento Agressivo no Trânsito ......................................................... 21 2.4 O Estresse no Trânsito .................................................................................... 23 2.4.1 Do Estresse à Agressividade no Trânsito ................................................... 25 3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 28 3.1 Ética ................................................................................................................... 28 3.2 Tipo de Pesquisa .............................................................................................. 28 3.3 Universo ............................................................................................................ 29 3.4 Sujeitos da Amostra ......................................................................................... 29 3.5 Instrumento de Coleta de Dados .................................................................... 29 3.6 Plano para Coleta de Dados ............................................................................ 30 3.7 Plano para a Análise dos Dados ..................................................................... 30 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 31 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 40 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43 APÊNDICE ................................................................................................................ 46 ANEXO ..................................................................................................................... 47 11 1 INTRODUÇÃO O estresse é considerado uma reação do organismo diante das ameaças inerentes ao ambiente, desencadeando em diversos casos eventos de agressividade (LIPP, 1994). Em Aracaju como em qualquer cidade do país, existe um quadro caótico de motoristas que se agridem mutuamente utilizando dos seus corpos para travar uma luta que nunca possui vencedores. Uma competição irreal, que existe somente na consciência dos impulsos instintivos. Desta forma, este estudo vem questionar acerca dos fatores responsáveis pela agressividade no trânsito em Aracaju. Uma importante forma de mostrar que o ser humano – motorista – diante dos seus atos costuma estabelecer a forma que o trânsito vai acontecer; as condições momentâneas determinam o comportamento de cada indivíduo no trânsito. As pessoas estressadas estão mais predispostas a eventos de agressividade complicando sua vida e as de outrem no trânsito. A partir daí é que se nota a grande importância da psicologia no trânsito na realização de testes que estudem o perfil dos futuros motoristas, na busca ideal para ser colocado no trânsito uma vez que estudos revelam em determinados condutores algumas características de personalidade agressiva para lidar com situações estressantes, comuns no trânsito. Detectar na prática os fatores de agressividade no trânsito pode servir de direcionamento no processo de avaliação psicológica dos motoristas. Também é uma forma de desencadear novos estudos que permitam compreender a validade de determinados testes que tem considerado como aptos motoristas inaptos. Sendo assim, o principal objetivo do estudo é identificar fatores responsáveis pela agressividade no trânsito em Aracaju. Como objetivos específicos pretendeuse: verificar se critérios como gênero e idade possuem ligação com a responsabilidade e prudência no trânsito; identificar em ordem de importância – estresse, desatenção, cansaço e nervosismo – quais tem influência maior nas agressões; e verificar nos comportamentos agressivos no trânsito, quais desencadeiam consequências mais sérias para ambas as partes. Estudos realizados por Monteiro; Gunther; (2006) afirmam que o comportamento agressivo de motoristas surge do histórico de comportamento 12 agressivo em outras instâncias da vida do sujeito. As causas geralmente são ambientes que estimulem a raiva e o estresse como muito barulho, calor, engarrafamentos e a sensação de anonimato, baixa fiscalização desencadeando sentimento de impunidade e um ambiente social que permite e até incentive esse comportamento, como é o caso dos outros condutores, amigos e familiares do agressor. Desta forma, tratar da agressividade é muito complexo porque a agressão em si envolve muitos determinantes, que vão desde a decorrência de sentimentos de insatisfações até frustrações, quando o indivíduo não consegue lidar de forma saudável com uma determinada condição. No trânsito, estas expressões de agressividade surgem desde os xingamentos até atos obscenos intencionais que inviabiliza a boa coletividade; atitudes arriscadas uma vez que os danos materiais decorrentes da má condução de veículos podem ser severamente danosos. Nesta perspectiva, este estudo não pretende esgotar o assunto, mas trazer para rol de discussões aspectos importantes acerca da agressividade, que deve ser tratada desde a infância, para que o futuro motorista possua equilíbrio e autocontrole emocional da condução do seu veículo. 13 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Nesta seção, estão dispostos os conceitos dos termos utilizados na revisão de literatura pertinente ao problema pesquisado, com os devidos comentários, interpretações e reflexões, para fins de atendimento aos objetivos propostos neste trabalho. 2.1 Legislação Brasileira de Trânsito A Lei n. 9.503 de 23 de setembro de 1997 traz o novo Código de Trânsito Brasileiro, que contempla 341 artigos que discriminam os instrumentos e condições para circulação de bens e pessoas no espaço físico brasileiro. Esta nova determinação trouxe um impacto positivo na regulação do trânsito, bem como diminuição do número de acidentes. Trata-se de uma substituição do código anterior de 1966, inovando em diversos aspectos como a pontuação na Carteira Nacional de Habilitação; a punição efervescente do condutor que for pego fazendo uso de álcool. Em dezembro de 2012 foi sancionada a Lei nº 12.760, que reforça a popularmente conhecida “Lei Seca” (nº 11.705/2008). Trata-se de uma alteração no Código de Trânsito Brasileiro que, além de aumentar o valor da multa administrativa (de R$ 957,69 para R$ 1.915,38, podendo dobrar em caso de reincidência no período de 12 meses), amplia as possibilidades de provas da infração de dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer substância psicoativa, as quais foram disciplinadas pelo Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) na Resolução nº 432 de 23 de janeiro de 2013. A direção de veículos sob os efeitos do álcool ou de outra substância psicoativa poderá ser atestada por meio de teste de etilômetro (“bafômetro”), exame de sangue/laboratorial, exame clínico, ou constatação pela autoridade de trânsito de conjunto de sinais que indiquem alteração de capacidade psicomotora. Além disso, poderão ser utilizados prova testemunhal, imagem, vídeo ou quaisquer outras formas de prova admitidas em direito. Nos casos em que os ocupantes não fazem uso do cinto de segurança, penalidades mais severas também são aplicadas, além do pagamento de multa existe a contabilização dos pontos. 14 Outra alteração importante relaciona-se com a Primeira Carteira Nacional de Habilitação, o condutor, após ser aprovado receberá apenas uma permissão para dirigir por um período de um ano, e somente após esse período, se nãohouver sido cometidas infrações graves ou gravíssimas ou reincidência de infrações leves, a licença permanente de direção é concedida. De forma geral, o novo Código de Trânsito Brasileiro vem enfrentando uma grande escala de violência nas estradas, uma forma de estancar os acidentes de trânsito. Porém, mesmo passados 16(dezesseis) anos suscita dúvidas e inspira críticas, principalmente no que concerne à deficiência da educação humanitária nas escolas e educação para o trânsito, bem como a falta de acompanhamento psicológico nos centros de formação de condutores. Apesar do código de trânsito brasileiro prever educação para o trânsito, na prática ela não ocorre de forma eficiente, gerando uma gama de motoristas que cometem acidente com frequência. Trata-se de um Código de Trânsito que deve ser ainda bastante aperfeiçoado, principalmente no que concerne à circulação das motocicletas e de veículos pesados uma vez que estes últimos motoristas ainda contam com a certeza da impunidade no cometimento de infrações de trânsito, usando de forma desmedida a faixa esquerda e saída abrupta para efetuar ultrapassagem, duas atitudes geradora de ira de trânsito. Além da questão de comportamento, fiscalização é precária, sendo comum o excesso de peso que torna os caminhões mais lentos e menos manobráveis, que passam a ser “obstáculos” móveis para os veículos leves, novamente gerando atritos que facilmente conduzem à ira de trânsito. Para Strickland (2008) também seria bem vinda a mudança no Código no que se refere à velocidade nas rodovias uma vez que muitos motoristas rodam com a velocidade tão baixa como metade da máxima indicada e isso costuma provocar irritação em quem quer seguir viagem normalmente respeitando o limite de velocidade. Em modernas rodovias de pista dupla multifaixa em que o limite é de 120 km/h, encontrar pela frente um veículo a 60 ou 70 km/h, e este se recusar ou demorar a ceder passagem, é capaz de gerar irritação e ira de trânsito. Uma mudança nesse sentido seria, segundo Strickland (2008) bem vinda, permitindo a autoridade de trânsito estabelecer velocidade mínima acima da norma atual e claramente sinalizada, conjugado com fiscalização sobre aqueles que relutam em dar ultrapassagem, que constitui infração pelo CTB. Isso realizado, o 15 efeito sobre a redução da ira de trânsito seria considerável. Em relação aos motociclistas, medidas severas também deveriam ser adotadas, principalmente porque este público encontra-se em primeiro lugar em número de acidentes. Eles são visivelmente observados usando a faixa de ciclistas, desviando por locais proibidos, subindo em calçadas. Uma medida importante poderia ser segundo Strickland (2008) o reestabelecimento do Art. 56, que foi vetado por Fernando Henrique antes que o instrumento legal fosse finalmente promulgado em 23 de setembro de 1997. O referido artigo proibia motocicletas ultrapassar entre dois veículos de quatro ou mais rodas, ou entre esses veículos e guia da calçada, nas cidades, ou barreira de proteção, nas rodovias. Uma medida que traria inúmeros benefícios a todo em virtude se ser aterrorizador o número de motocicletas passando em alta velocidade entre filas de carros parados ou em movimento e pior, tocando interminavelmente as buzinas. Medidas simples como estas poderiam evitar inúmeros acidentes de trânsito 2.2 Acidentes de Trânsito Segundo Who (2003, apud HOFFMANN; LEGAL, 2003), por volta do ano 2000 mais de 1,2 milhões de pessoas tiveram suas vidas interrompidas diante dos acidentes de transito, fazendo desta a nona causa de mais importante de morte no mundo. Porém, as previsões para 2020 e que estes índices estejam duplicados. Segundo o IPEA (2006) os acidentes de trânsito desencadeiam em custos sociais, ambientais, psicológicos e financeiros, levando em consideração a alta demanda de leitos hospitalares, faltas ao trabalho, indenizações, gostos materiais e impacto psicológico no acidentado e seus familiares. Os gatos com acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras consomem 1,2% do PIB brasileiro. O comportamento no trânsito é o grande responsável pelos acidentes no trânsito como o excesso de velocidade, uso de celular, ultrapassagens e dirigir sem o cinto de segurança. Rozestraten (1998) afirma que não raro, o fator humano é o principal responsável por acidentes. São diversos os fatores, condições e condutas que desencadeiam o acidente propriamente dito, é um complexo de relações entre o condutor, o veículo e a via, as determinações ambientais e culturais. Afirmam Hoffmann; Legal (2003), que pesquisas apontam que boa parte dos acidentes é desencadeada por falhas 16 humanas que está acima de componentes como veículo e via. Esses erros podem ser delineados em três categorias principais: erros de identificação-percepção; erros de tomada de decisão, inteligência; e erros de execução de manobras, que envolve as habilidades psicomotoras. Os acidentes de trânsito, além de consistir em óbito também são responsáveis pela ocorrência de morbidade, aí, incluídas lesões em variados graus de extensão e magnitude, incapacidades permanentes e temporárias, seqüelas, dor e sofrimento para as vítimas e seus familiares em todo o mundo. Esses acidentes provocam danos de gravidade e acometem preferencialmente jovens em idade produtiva (OLIVEIRA; MELLOJORGE, 2008). As falhas humanas mais comuns repousam em causas físicas (fadiga, falta de energia, defeitos sensoriais); causas psíquicas (pressa, falta de atenção, agressividade, competitividade); busca intencional de riscos e emoções intensas; condutas interferentes e as distrações, a experiência por excesso ou falta, a respeito do veículo ou da via; estados psicofísicos (uso inadequado de álcool, fármacos, sonolência, depressão e estresse) (HOFFMANN; LEGAL, 2003). Andrade (2007) considera que o convívio das pessoas em vias públicas, quando não levados em consideração acabam tornando o trânsito mais violento e propenso a acidentes. Porém, muitos condutores procuram cometer infrações apesar da aplicação da lei. Os acidentes e trânsito são abrangentes, envolvem pessoas, veículo, animais e via. Trata-se de um acontecimento repentino, inesperado, imprevisto e imprudente, que pode ser causado pelo chamado fator humano. Presa (2010) afirma que diversos autores concordam que um acidente pode ser resultado de uma série de fatores combinados, mas apontam o fator humano como principal causa. Um dos fatores apontados como causa de acidentes é a combinação entre álcool e direção, sobretudo, porque diminuí a capacidade de rendimento, provocando sentimento contrário do condutor, representado por autoconfiança, falsa sensação de segurança que aumenta a tolerância ao risco e interfere na tomada de decisões (HOFFMANN; GONZÁLEZ, 2003). A ingestão de álcool pelo motorista deteriora a sua atenção, diminui a sua capacidade visual, sua capacidade de processamento das informações é afetada, sem considerar o tempo de aumento da reação. Duailibi; Pinsky; Laranjeira (2010) tratam dos inúmeros efeitos que o álcool traz na vida dos motoristas, salientando as 17 alterações no comportamento do condutor, diminui a noção de perigo, perde parte do seu nível de consciência, sua capacidade de avaliação crítica é reduzida, alterações em sua capacidade de julgamento, suas habilidades sensório-motoras são comprometidas e, principalmente o aumento da tolerância em situações de risco. No uso de álcool, a evolução clínica progressiva é marcada por episódios repetidos de embriaguez, seguidos geralmente por característicos sintomas de abstinência, e por períodos de interrupções do uso de álcool. O CID-10 define Síndrome de Dependência como um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, no qual o uso de uma substância ou uma classe de substâncias alcançam uma prioridade muito maior para um determinado indivíduo que outros comportamentos que antes tinham maior valor. Assim, o uso do álcool é responsável por aumentar índices de violência uma vez que os efeitos farmacológicos do álcool sobre o cérebro seriam responsáveis por aumentar o comportamento agressivo e prejudicar áreas cerebrais responsáveis pela tomada de decisões e controle dos impulsos. De forma geral, existe a grande necessidade de reduzir os acidentes de trânsito no Brasil, uma missão dos órgãos gestores de trânsito e transportes. Apesar do aumento do rigor da legislação, o bom sendo ainda continua na contramão, o que denotado pouquíssimos investimentos na área de educação. 2.2.1 Os Acidentes de Trânsito em Aracaju e no Estado de Sergipe Aracaju, a capital do menor Estado do Brasil, localiza-se na região nordeste e fica a 345 Km da cidade de Salvador. É uma das primeiras cidades planejadas do país, construída com o objetivo de tornar-se capital. No dia 17 de março de 1855, através da resolução de número 13, o povoado de Santo Antônio do Aracaju foi elevado à categoria de cidade, tendo como mentor intelectual da mudança o então presidente da província Inácio Barbosa. Com urbanização tipicamente colonial, Aracaju oferece aos olhos dos sergipanos e visitantes uma arquitetura requintada, como a da Catedral Metropolitana, que levou 13 anos para ser construída. Esta jovem cidade de pouco mais de um século de existência possui praias de grande beleza e povo hospitaleiro. Ao caminhar pela capital sergipana 18 uma das atrações que a cidade apresenta é a Ponte do Imperador, obra encomendada em 1860 para a visita de Dom Pedro II, construída sobre o Rio Sergipe. Servindo hoje apenas como mirante, pois não leva a lugar algum. Outra atração turística é o Museu Histórico e Geográfico da cidade. A proporção que a cidade cresce e se apresenta como a capital da qualidade de vida, cresce o número de habitantes e consequentemente o número de veículos automotores. Dados do Detran/Sergipe (2013) mostram que no ano de 2003 na capital do estado foram licenciados uma média de 83.463 (oitenta e três mil, quatrocentos e sessenta e três) veículos. Já no ano de 2013, até o mês de julho, foram licenciados 96.844 (noventa e seis mil, oitocentos e quarenta e quatro). Isso sem levar em consideração os veículos inadimplentes e sem licenciar. Há um aumento crescente da frota, Legislação mais rigorosa, mas ainda falta todo um processo educacional. No espaço de 10 anos cresceu o rigor legislacional, mas os acidentes continuam em proporções alarmantes e ceifando inúmeras vidas a cada ano. Os quadros 01 e 02 mostram as estatísticas dos acidentes no estado de Sergipe no prazo de 10(dez) anos, de 2003 a 2013. O ano de 2003 registra uma média anual de 3.961 (três mil, novecentos e sessenta e um acidentes), uma média de 330,33 mensal. Para o ano de 2013, até o mês de agosto já foram registrados 1.818 (mil oitocentos e dezoito), uma média mensal de 226,75. Quadro 01 – Estatísticas de Acidentes de Trânsito no Estado de Sergipe, durante o ano de 2003.. ESTATÍSTICAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO EM 2003 CLASSIFICAÇÃO BOAT/JUSTIÇA Mês BOAT/CPTRAN CPRV Total VOLANTE Janeiro 166 133 0 299 Fevereiro 171 136 0 307 Março 143 136 0 279 Abril 175 163 0 338 Maio 188 171 0 359 Junho 141 163 0 304 Julho 175 157 0 332 19 Agosto 180 161 0 341 Setembro 197 175 0 372 Outubro 171 198 0 369 Novembro 171 169 0 340 Dezembro 167 154 0 321 Total 2045 1916 0 3961 159,67 0,00 330,33 Média Mensal 170,67 Fonte: Detran/SE, 2013. Quadro 02 – Estatísticas de Acidentes de Trânsito no Estado de Sergipe, durante o período de Janeiro a Agosto do ano de 2013. ESTATÍSTICAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO EM 2013 CLASSIFICAÇÃO BOAT/JUSTIÇA Mês BOAT/CPTRAN CPRV Total VOLANTE Janeiro 88 113 72 273 Fevereiro 89 117 78 284 Março 102 143 68 313 Abril 92 160 48 300 Maio 91 114 32 237 Junho 93 114 22 229 Julho 93 6 18 117 Agosto 53 8 4 65 Total 701 775 342 1818 87,13 96,88 42,75 226,75 Média Mensal Fonte: Detran/SE, 2013. Isto significa que ainda não houve um combate efetivo neste setor até porque vem se perdendo um pouco o controle devido ao aumento de mais de 300% no crescimento do número de motocicletas no período de 2000 a 2011. Algumas medidas educativas vêm sendo adotadas no estado, o Departamento Estadual de Trânsito, através da Coordenadoria de Educação para o Trânsito/DETRAN/SE desenvolve ações educativas que são direcionadas para a conscientização e preservação da vida no trânsito e devem ser vistas como o meio mais eficaz de reduzir acidentes a médio e longo prazo. 20 O trabalho de conscientização dirigida à comunidade é da mais alta relevância e, qualquer que seja o investimento que nele se faça, há um retorno compensador. O cidadão transforma-se em parceiro do DETRAN/SE à medida que pratica e difunde os preceitos de segurança no trânsito (DETRAN/SE, 2013). Os cursos oferecidos voltam-se à reciclagem dos condutores, em cumprimento ao Código de Trânsito Brasileiro, Cap. XVI, Art. 268, complementado pela Resolução 168, de 14 de dezembro de 2004, o DETRAN/Se realiza, regularmente, cursos de reciclagem, com 30 horas, nos turnos da manhã e noite, no período de fevereiro a dezembro, para condutores infratores, inclusive para aqueles que têm mais de vinte (20) pontos na sua CNH, com o objetivo de submetê-los a uma reavaliação da conduta e habilidade no trânsito (DETRAN/SE, 2013). Existe também os cursos relativos à Primeira Habilitação que tem como objetivo oferecer acesso à formação do cidadão carente que busca adquirir a primeira Carteira Nacional de Habilitação (CNH) disponibiliza o curso através da Escola Pública de Trânsito de Sergipe (EPTran). Este curso proporciona a formação necessária que lhes permita encontrar-se com a realidade do trânsito de maneira consciente, equilibrada, eficiente e nela agir como cidadão responsável (DETRAN/SE, 2013). No estado também funcional projetos, como o Trânsito nas Escolas, que visa contribuir com o trabalho dos profissionais da área de educação, com conhecimentos básicos e fundamentais relativos à educação para o trânsito. Este é desenvolvido nas escolas da capital e dos municípios do Estado de Sergipe, da rede pública e privado, em parceria com as Diretorias Regionais de Educação (DRE’s) e Secretarias Municipais de Educação, onde o Detran/SE fornece material pedagógico com conteúdos, atividades e materiais educativos relacionados ao trânsito, a fim de repassar para as instituições de ensino (DETRAN/SE, 2013). O acompanhamento do programa é feito através de visitas e reuniões periódicas, nos órgãos de ensino envolvidos no processo. O Departamento Estadual de Trânsito de Sergipe (DETRAN/SE), através da Coordenadoria de Educação para o Trânsito (COET), desenvolve o Programa Transitando nas Escolas com o objetivo de repassar informações básicas sobre o convívio no trânsito aos alunos das escolas públicas, das redes estadual, municipal e particular, visando mudanças de comportamentos nas vias públicas e, assim, minimizar o índice de acidentes (DETRAN/SE, 2013). 21 Também são ministradas palestras educativas com distribuição de material educativo em escolas, empresas e instituições, para crianças, adolescentes, motoristas e motociclistas, com o objetivo de orientá-los sobre comportamentos e hábitos que levem à preservação e a qualidade de vida. Campanhas educativas são realizadas no carnaval, volta às Aulas nas escolas, faróis acesos, dia das mães, idosos, caminhoneiro, dia do motorista, dos pais, festejos juninos e a Semana Nacional de Trânsito. Apesar dessas ações, projetos, programas, palestras existirem não vem dando conta da real necessidade de conscientização para o trânsito. 2.3 Comportamento Agressivo no Trânsito O comportamento agressivo é ancestral e qualquer um numa situação de agressão consegue identificar uma pessoa agressiva apenas pelo modo como se comporta mesmo quando nada mais se sabe sobre ela e até imaginar, perante um dado quadro normativo, uma punição adequada para um ato de violência. Desta forma, tratar sobre o comportamento agressivo espera-se encontrar um nível pelo menos razoável de consenso acerca da sua definição. O impulso de agressividade pode ser usado para atacar, provocar ou se defender, e a maneira como isso vai ser expresso, varia de pessoa para pessoa dependendo de seu estilo de vida, sua cultura, seus valores, tornando-se atos socialmente aceitos ou não. No trânsito, a individualidade impera, os condutores não gostam de dividir esse espaço que é público, e às vezes atacam e provocam (TEBALDI; FERREIRA, 2004, p. 21). Menezes (2003) considera o comportamento agressivo como qualquer ação que tem por objetivo ferir o outro física ou verbalmente. Nos dias de hoje, a agressividade é um tema recorrente pela sua presença constante na mídia. Segundo Almeida (2003) no trânsito, os motoristas com maior risco de acidente geralmente apresentam indicadores de agressividade e maior dificuldade de controlar seus impulsos nervosos. Para Oliveira (2008) o impulso agressivo funciona como um atacar, provocar assim como uma forma de defesa. A maneira como vai ser expressa essa agressividade depende de estilo de vida, cultura e valores. 22 Considera Oliveira (2008) que o impulso agressivo funciona como forma de atacar, provocar, bem como funciona como uma forma de defesa. Porém, a maneira como isso vai ser expresso varia de pessoa para pessoa, dependendo do seu estilo de vida, sua cultura, seus valores, tornando-se atos socialmente aceitos ou não. Monteiro; Gunther (2006) realizou um estudo acerca das emoções dos motoristas no trânsito e os resultados apontaram que quanto menor o conjunto dos índices de raiva na direção, menores os de erros e violações de motoristas; os baixos índices de raiva na direção relacionam-se com baixos índices de agressividade. Finalmente, baixos índices de agressividade são relacionados com baixos índices de erros e violações de motoristas. Monteiro; Gunther (2006) complementam que no trânsito os motoristas precisam ter equilíbrio e o autocontrole emocional na condução dos seus veículos para que se tenha uma boa convivência no trânsito que é um local que exige concentração, atenção e cautela devem reger as decisões e interações, sendo fundamental o controle dos impulsos. Rodrigues (2012) salienta que no trânsito os homens costumam ser mais agressivos, estas diferenças entre os homens e mulheres não se manifestam somente a nível físico, mas existe diferenças em termos de desequilíbrio comportamental, metabolismo, agilidade, atos impensados, pressa e orientação. A agressividade no comportamento, a visão distorcida e o excesso de autoconfiança são outros elementos que se tornam presentes e, se o deslocamento for em percurso muito longo, o sono também contribui para agravar ainda mais a situação. É importante destacar que as mudanças são radicais e os condutores alteram seu modo de agir perante a sociedade e a família, agindo de maneira totalmente diferente do que normalmente fariam se estivessem sóbrios (PANICHI; WAGNER, 2006). Situações em que normalmente teriam um comportamento prudente no trânsito, respeitando as regras de circulação, transformam-se, quando sob efeito de drogas. Quando o indivíduo agressivo também está sob o efeito das drogas, conflitos considerados banais são motivos suficientes para gerar discórdia, e levam aquele cidadão a envolver-se em brigas e discussões que acabam em tragédias no trânsito (PANICHI; WAGNER, 2006). Pesquisas realizadas por Rozestraten (2003) argumentam que qualquer 23 acidente no trânsito é um ato de violência. Para o autor uma das principais causas do comportamento agressivo e violento no trânsito pode ser a frustração, como por exemplo, parar a cada semáforo, sendo impedido de prosseguir ou mesmo quando o motorista da frente não dá partida, impedindo a passagem. Estas não são causas únicas. Lamounier (2005 apud LAMOUNIER; RUEDA, 2005) desenvolveu uma pesquisa utilizando o Método de Rorschach com motoristas infratores que se envolveram em acidentes de trânsito com vítimas fatais e motoristas que não possuíam histórico de infrações e/ou acidentes. Os dados indicaram que os motoristas que se envolveram em acidentes eram mais agressivos, apresentaram uma maior sobrecarga de estresse persistente em relação aos demais, mostrandose mais vulneráveis à situações de tensão e estresse. Dessa forma pode haver uma relação entre agressividade, estresse e acidentes de trânsito. Tebaldi; Ferreira (2004) acentuam que a agressividade no trânsito acabou tornando-se um problema social trazendo falta de segurança a todos os que compõem o trânsito. Acrescenta ainda o autor, que o veículo ao lado se torna o adversário e a agressividade inerente a toda competição é acentuada pelo estresse, é como se o corpo reagisse de forma mais instintiva, e aí, os princípios de civilidade, fruto da cultura humana, desaparecem. 2.4 O Estresse no Trânsito Panichi; Wagner (2006) argumenta que este tipo de comportamento envolvendo o estresse e o trânsito pode causar acidentes. Ainda argumentam que os traços mais marcantes de risco relacionado a acidentes voltam-se à: sensações intensas por meio do uso de drogas, agressividade, hostilidade, impulsividade, labilidade emocional, comportamento delinquente e motivação antissocial. À noite, as taxas de acidentes aumentam, como também a sua gravidade. O indivíduo pode se sentir estressado no momento em que passa por um processo de tensão diante de uma situação de desafio, por ameaça ou conquista e expressar assim resultados positivos ou negativos. O estresse e suas consequências estão sujeitos a diversos fatores: a pessoa, o ambiente, a circunstância e a convenção entre eles. Um estímulo estressor leva sempre a uma resposta, é o que afirma Limongi-França; Rodrigues (2005). 24 Na vida diária, as reações provocadas pelo estresse são automáticas, mesmo quando existe a opção de defender-se ou fugir. Atualmente a maior parte das agressões ou ameaças têm caráter social ou psicológico, no entanto é o corpo quem sofre os efeitos reais. O aumento da tecnologia e o ritmo da sociedade estão causando uma dificuldade crescente em lidar com a vida. O estresse leva o ser humano a ficar hostil e impaciente, gerando prejuízo a sua capacidade de concentração e atenção, o que pode provocar aumento da pressão arterial e taquicardia e desencadear o acidente de trânsito, ou seja, a pressão psicológica dificulta a tomada de decisões em que o condutor precisa definir, de forma rápida, os procedimentos para evitar um acidente. Giulian et al (1998, apud ARAVENA, 1999) afirma que o estresse do motorista pode ser definido como uma série de respostas associadas com a percepção e avaliação ao dirigir assim como as demandas existentes ou perigos relativos para a habilidade de dirigir dos indivíduos. Esta é considerada uma síndrome complexa que repousa nas seguintes afirmações: uma resposta emocional; uma resposta fisiológica. Hennessy; Wiesenthal (1997, apud PRESA, 2002) realizaram estudos sobre estresse e concluíram que está se tornando uma síndrome típica em motoristas de grandes centros urbanos que usam o automóvel diariamente. Lipp (2007) afirma que o estresse ocorre com o tempo, depende da sua intensidade, duração e efeito cumulativo, pela ação de vários fatores estressantes num período de tempo. Uma das respostas ao estímulo estressor pode ser a agressividade. Tebaldi; Ferreira (2004) apontam que são vários os tipos de comportamento de um motorista que pode despertar a agressividade do outro: discussão que o motorista dá por meio de alguma encostada; acelerar para passar a tempo quando o sinal fica amarelo; ultrapassar em locais proibidos; sinalizar quando o motorista da frente se atrapalha ou demora. Baron; Richardson (1994) consideram que a raiva também está ligada a agressão, mas não a determina, bem como não é a agressividade que a determina também. Em termos de uma direção agressiva, Simaglia (2003) aponta que ela ocorre quando alguns condutores conduzem seu veículo colado ao veículo da frente; ultrapassa pela direita; costuram entre os veículos dando fechadas; avançam sinal vermelho ou trafegam pelo acostamento. 25 Desta forma, o impulso agressivo pode ser utilizado para atacar, provocar ou se defender, e a maneira como isso vai se expressar varia de pessoa para pessoa, dependendo do estilo de vida, sua cultura, seus valores, tornando-se atos socialmente aceitos ou não. No trânsito a individualidade impera, os condutores não gostam de dividir esse espaço que é público. Nesse contexto, não se pode desconsiderar a importância da psicologia do trânsito que tem a finalidade de estudar por meio de métodos científicos válidos o comportamento de motoristas e os fatores que os alteram, pode auxiliar de forma a minimizar o impacto desses fatores no contexto de trânsito (LAMOUNIER; RUEDA, 2005). As técnicas de avaliação psicológica são empregadas pelos psicólogos objetivando auxiliar a identificar adequações mínimas para o correto e seguro exercício da atividade de conduzir um veículo automotor, devendo tentar garantir a segurança do condutor, do trânsito e dos demais envolvidos (Conselho Federal de Psicologia - CFP, 2000 apud LAMOUNIER; RUEDA, 2005). Surge a necessidade dos profissionais de psicologia atuarem de forma preventiva e também preditiva durante o processo de avaliação, considerando os fatores internos e externos ao indivíduo que possam interferir na ação e reação do motorista em situações de trânsito, evitando dessa forma que se exponha a situações de riscos e a outrem, é o que apontam Lamounier; Rueda (2005). 2.4.1 Do Estresse à Agressividade no Trânsito O estresse pode ser considerado um fator decorrente das interações do sujeito e das influências sofridas pelo mesmo, levando em consideração determinantes ambientais, relação entre meios internos e externos, bem como a percepção do indivíduo em torno da sua própria capacidade de enfrentamento (DEJOURS, 1992). Sendo assim, as pessoas quando estressadas sentem aumentar a sua impulsividade e raiva, que pode ser considerado a elevação anormal do hormônio cortisol no organismo. Muitos motoristas que circulam diariamente pelas ruas sofrem por algum tipo de pressão, seja no trabalho, nos relacionamentos ou em outras áreas da vida o que contribui para que fiquem estressados tornando-os mais vulneráveis a um comportamento irracional (STRICKLAND, 2008). 26 James (2008, p. 01) identifica aspectos do ato de dirigir que contribuem para nossa frustração e níveis de estresse, incluindo: Imobilidade - o motorista fica preso, sentado atrás do volante de direção e não consegue aliviar fisicamente a pressão; Constrição - dirigir-se em ruas possui opções são limitadas, sempre dando a impressão de que as pessoas estão encaixotadas; Falta de controle - apesar de manter controle sobre o veículo, muitas outras variáveis, como o fechamento de pistas e o comportamento dos outros motoristas, estão completamente fora de controle; Invasão de território - como muitos animais, os seres humanos reagem negativamente quando sentem que seu espaço é ameaçado por outra pessoa; Negação e perda de objetividade - o ser humano tem a tendência de negligenciar as falhas e colocar a culpa nos outros; Imprevisibilidade - toda vez que o ser humano dirige, surgem situações inesperadas, como alguém entrando no tráfego bem a sua frente sem sinalizar. Isso faz com que dirigir seja mais estressante; Ambiguidade - como não há um modo culturalmente aceito de sinalizar um pedido de desculpas para o outro motorista, é fácil interpretar as ações de alguém como um sinal de agressão ou insulto. Desta forma, são diversas as situações que fazem com que o motorista estressado possa agir com agressividade. Quando um motorista reage com raiva em relação ao outro, o segundo motorista, por sua vez, reage negativamente e as emoções e as táticas agressivas aumentam, criando um ciclo vicioso. O estresse é um dos maiores problemas que leva a uma direção agressiva. Porém, muitos motoristas não consideram que um comportamento como buzinar ou mesmo mudar de faixa sem sinalizar seja algo agressivo. James (2008) divide a direção agressiva em três áreas: impaciência e desatenção que envolve o avanço ao sinal vermelho, não parar diante das sinalizações, bloquear cruzamento, andar em alta velocidade; luta de forças, que inclui o impedir alguém mudar de faixa e entrar na frente do outro, usar gestos e linguagem obscena para humilhar ou ameaçar outros motoristas; negligência e agressividade no trânsito, que incluem comportamentos como entrar em duelo com o outro veículo, imprimir em velocidades perigosas e usar o carro para cometer assalto à mão armada ou com o próprio veículo. Sendo assim, a direção agressiva dá margem para a violência absoluta no trânsito; do contrário, o equilíbrio e a calma evitam maior parte dos conflitos no trânsito. Manter o bom humor e o controle quando estiver dirigindo é importante forma de não se abater às reações agressivas dos outros motoristas. 27 Rozestraten (2000) considera importante os testes psicológicos para motoristas, mas ressalta que existe, na Alemanha, um crescente desenvolvimento de uma área chamada “Terapia de Trânsito,” sobre o qual houve uma exposição detalhada no Anuário de 1997, proveniente do consultório de Psicologia de Trânsito de Braunschweig. A terapia de trânsito não é só um curso para infratores mas uma sequência de horas terapêuticas para os motoristas que experimentam dificuldades em evitar as infrações, especialmente em relação ao uso de álcool e drogas. Os psicólogos de trânsito colocam como meta de seu trabalho: evitar as futuras infrações no trânsito (ROZESTRATEN, 2000, p. 01). Todo o processo de discussões ocorre de forma individualizada, junto ao psicólogo qualificado como terapeuta e a terapia de abordagem comportamental é continuada até que, na opinião do terapeuta, é improvável qualquer recaída em modelos antigos e errados de comportamento. Na média, uma terapia tem a duração de 20 sessões, divididas sobre seis meses. Esta terapia não é exclusiva para infratores e também pode ser utilizada para candidatos a primeira habilitação (ROZESTRATEN, 2000). Esta é uma importante experiência que permite demonstrar que no trânsito, o psicólogo não deve apenas viver de testes, mas de técnicas mais humanas, funcionais e efetivas que permitam uma maior efetividade no comportamento no motorista e, consequentemente a redução do número de acidentes. 28 3 MATERIAIS E MÉTODOS Este capítulo é dedicado à exposição do método, procurando descrever procedimentos adotados no desenvolvimento do trabalho. Constarão os elementos de que se necessitam e, ao mesmo tempo, explica a natureza, delineamento e procedimentos da pesquisa e do registro dos dados coletados. 3.1 Ética Esta pesquisa segue exigências científicas pautadas no Conselho Nacional de Saúde – CNS nº 196/96 do Decreto nº 93933 de 14 de janeiro de 1987 – a qual determina as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Desta forma, a identidade dos sujeitos participante da pesquisa foi preservada, visto que não existe a necessidade de identificar-se ao responder ao questionário. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram coletados dados a respeito de estresse e agressividade no trânsito para que se possa obter maiores informações sobre a população pesquisada. Os participantes da pesquisa foram informados sobre os objetivos, que não incorriam em nenhum tipo de risco, atendendo assim à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, que tem nos Comitês de Ética em Pesquisa com Seres Humanos o atendimento aos 4 princípios da Bioética, a saber, autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça. 3.2 Tipo de Pesquisa Neste estudo optou-se pela pesquisa exploratório descritiva. Exploratória pela inserção do pesquisador no campo, onde foi possível familiarizar-se com as características e peculiaridades do tema a ser explorado, para assim desvendar obtendo percepções, idéias desconhecidas e inovadoras sobre os mesmos. A análise de caráter exploratória, de acordo com Richardson (2004, p. 17), visa descobrir as semelhanças entre fenômenos, “os pressupostos teóricos não estão claros, ou são difíceis de encontrar. Nessa situação, faz-se uma pesquisa não apenas para conhecer o tipo de relação existente, mas, sobretudo para determinar a 29 existência de relação.” E é, também, uma pesquisa descritiva, porque para se chegar a determinado conhecimento procurou levantar características, descrições, requeridas pelos objetivos específicos. Nesse tipo de pesquisa também foi possível observar, registrar e analisar a situação-problema sem, entretanto, entrar no mérito de seu conteúdo. Quanto à abordagem dos dados, a pesquisa será quantitativa, pois além das interpretações e conclusões, mostra os gráficos representados estatisticamente, atendendo a necessidade de mensuração, representatividade e projeção. Segundo Richardson (2004, p. 149), diz que a abordagem qualitativa utiliza instrumentos específicos, os quais são capazes de estabelecer relações e causas, levando em conta mensurações. Com estes procedimentos, os resultados podem ser projetados para o todo, sendo generalizados. Este método torna possível estabelecer as prováveis causas a que estão submetidos os objetos de estudo, assim como descrever em detalhes o padrão de ocorrência dos eventos observados. 3.3 Universo A pesquisa foi realizada no município de Aracaju, especificamente junto a condutores escolhidos aleatoriamente e se dispuseram a responder o questionário. 3.4 Sujeitos da Amostra A amostra deu-se por conveniência, participando uma média de 80(oitenta) condutores de veículos automotores, homens, mulheres, com idades entre 18 e 65 anos, casados, solteiros, com escolaridade do Fundamental ao Curso de Especialização residentes no município de Aracaju-SE. 3.5 Instrumento de Coleta de Dados Os instrumentos de coleta de dados são importantes para obter dados que precisa para responder ao problema. Neste estudo, o instrumento utilizado foi o questionário, com perguntas fechadas e abertas, pelo fato de atingir um número de pessoas de uma só vez, pelo anonimato que se pode ter nas respostas, como 30 também permitir que as pessoas o respondam no momento que lhes pareça mais apropriado, sem expor os pesquisados à influência do pesquisador. A priori foi elaborado um questionário piloto com o objetivo de verificar o entendimento por parte dos entrevistados, independente do grau de escolaridade. Sendo assim, foi possível realizar as adaptações e os questionários foram distribuídos. Os participantes puderam respondê-los em suas residências, sem precisar se identificar. Os pesquisados foram incluídos na pesquisa através de contatos pessoais. 3.6 Plano para Coleta de Dados O questionário foi aplicado a 80(oitenta) condutores, homens e mulheres, por acessibilidade possível. O acesso a estas pessoas foi realizado presencialmente ou foram contactados por e-mail. 3.7 Plano para a Análise dos Dados Os dados foram analisados com auxílio do Excel para o tratamento estatístico com o objetivo de contar a frequência de um fenômeno e identificar as relações entre os fenômenos, sendo que a interpretação recorrerá a modelos conceituais definidos a priori.Como se trata de uma pesquisa de cunho quantitativo, os dados foram submetidos a uma análise univariada, abrangendo a análise de frequência de cada questão pesquisada, registrados em gráficos. 31 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Estudos realizados por Marín; Queiroz (2000) afirmam existir uma forte conexão entre a agressividade no trânsito, principalmente na população de adolescentes; a frustração tem provocado diferentes reações, dentre elas a agressividade manifestando desejo de segurança, novas experiências, compreensão, reconhecimento, justiça, levando muitas vezes o adolescente a comportamentos antissociais. Em se tratando do público já adulto Marín; Queiroz (2000) falam da agressividade como comportamento residual, aspirações de poder. Porém, em alguns indivíduos características infantis os fazem procurar por um instrumento que lhes permita multiplicar suas possibilidades físicas e o carro representa um prolongamento do corpo. Neste estudo, observou-se que uma das principais causas da agressividade no trânsito é a desatenção e o nervosismo dos motoristas, que também se encontra de forma mais efetiva em motoristas do sexo masculino. Existe sim uma falta de tolerância, a pressa para chegar ao destino de forma mais rápida, seguido do estresse que grande parte da população tem vivenciado é o que apontam 49% dos pesquisados. Em Aracaju, no dia a dia são presenciadas sérias situações de estresse no trânsito uma vez que nos últimos anos, tem crescido o número de veículos e o planejamento urbano não tem acompanhado em igual proporção, causando saturação dos espaços viários. Além disso, contribui a redução da velocidade de deslocamento monitorada pelas lombas eletrônicas e os chamados pardais, ruas alagadas em dias de chuvas, congestionamento constante, tem causado uma legião de motoristas e passageiros estressados, intolerantes e agressivos. O Gráfico 1 apresentados os resultados referentes aos fatores responsáveis pela agressividade no trânsito na observação dos participantes. Verifica-se que fatores como estresse, nervosismo e desatenção foram as alternativas primárias, como secundárias os pesquisados apontaram para o desejo de muitos motoristas em demonstrar habilidade com o veículo, o cansaço, o trânsito lento, problemas com a família, financeiros e amorosos, álcool, problemas de saúde, falta de conhecimento acerca 32 das leis, irresponsabilidade, negligência, desrespeito com o pedestre, sem contar o grande número de pessoas que dirigem mal. Gráfico 01 – Fatores responsáveis pela agressividade no trânsito, em porcentagem. Fonte: Dados da Pesquisa. Aracaju/SE. 2013. O estresse apresenta-se como um dos fatores determinantes da agressividade. O ser humano no mundo moderno está sujeito ao estresse seja no trânsito, contas a pagar, nas exigências do chefe, em algum plano que não deu certo, pressão social, doenças físicas como também no seu trabalho, principalmente quando exige mais do que o que você pode dar. Qualquer situação que produz uma resposta caracterizada como instabilidade emocional se constitui um agente estressor. Para Lipp (2007), o estresse se manifesta por meio de um processo desenvolvido através do tempo, o qual depende da intensidade, duração e efeito cumulativo, pela ação de vários fatores estressantes num período de tempo. Porém, não é possível generalizar um estímulo como estressor, ou seja, não é o evento em si, é como a mente interpreta o evento e lida com ele. De modo que, se as pessoas se constroem a partir do cotidiano, é neste nível que é possível compreender-se o processo de estresse, avaliando como a pessoa enfrenta as respostas do seu organismo e o ambiente onde está inserida. Desta forma, o estresse é compreendido como uma relação entre a pessoa e o grupo, seu contexto, e as situações às quais estão submetidas e que podem ser avaliadas como ameaçadoras ou que exigem um esforço maior que suas possibilidades, o que altera sua percepção de bem-estar e sobrevivência. Atuar 33 prevenindo e promovendo, no trabalho, relações e ambientes salutares, envolve a identificação e compreensão dos estressores, a significação destes pelos trabalhadores, possibilidades de resposta e enfrentamento que o contexto disponibiliza e os trabalhadores adotam. Estamos diante de cidadãos, sem histórico de mau comportamento social, mas que, em função do elevado grau de estresse, causado pelo trânsito e pela agitação da vida moderna, independente do grau cultural, podem se transformar em assassinos em potencial a qualquer instante, bastando que um motorista de ônibus não pare no ponto ou arranque bruscamente causando lesão ao passageiro ou mesmo uma pequena fechada no trânsito (COSTA, 2013, p. 01). Segundo Limongi-França; Rodrigues (2005) no estresse, as dimensões biológicas, psicológicas e sociais são totalmente interligadas. Quando uma das dimensões fica abalada, as outras, por consequência abalam-se, ou seja, tudo o que causa a quebra da homeostase interna, que exija alguma adaptação pode ser chamado de um estressor. Deste modo, a adaptação exigida de uma pessoa quando ela é promovida ou quando se envolve em um acidente, por exemplo, gera desgastes e pode ser considerado um processo de estresse. O estresse, na forma que tem sido utilizado, vem da física e, nesse campo do conhecimento, tem o sentido de grau de deformidade que uma estrutura sofre quando é submetida a muito esforço. Hans Selye utilizou esse termo para denominar o conjunto de reações que o organismo desenvolve ao ser submetido a situações que exige esforço de adaptação (LIMONGIFRANÇA; RODRIGUES, 2005, p. 23). O estresse é muito utilizado para expressar cansaço físico ou mental, havendo assim o entendimento de que se trata de reações físicas, psicológicas e comportamentais causadas por sinais eminentes do organismo que exige um esforço maior para se adaptar a determinadas situações. O estresse, na forma que tem sido utilizado, vem da física e, nesse campo do conhecimento, tem o sentido de grau de deformidade que uma estrutura sofre quando é submetida a muito esforço. Hans Selye utilizou esse termo para denominar o conjunto de reações que o organismo desenvolve ao ser submetido a situações que exige esforço de adaptação (LIMONGIFRANÇA; RODRIGUES, 2005, p. 23). O estresse é muito utilizado para expressar cansaço físico ou mental, havendo assim o entendimento de que se trata de reações físicas, psicológicas e 34 comportamentais causadas por sinais eminentes do organismo que exige um esforço maior para se adaptar a determinadas situações. Posteriormente, os pesquisados foram questionados acerca do indicativo de maior agressividade no trânsito, se este pertencia mais ao gênero masculino ou feminino. Os pesquisados apontaram que os homens manifestam em grandes proporções a agressividade, conforme resultados do gráfico 2. Gráfico 02 – Gênero mais agressivo no trânsito, em porcentagem. Fonte: Dados da Pesquisa. Aracaju/SE. 2013. Esta diferença entre os homens e mulheres não se manifestam somente a nível físico, mas existem diferenças em termos de desequilíbrio comportamental. O metabolismo, a agilidade, os atos impensados, a pressa, a orientação espacial, a necessidade de impor condições, de se julgar o dono do mundo são alguns fatores que dissocia o comportamento do homem e da mulher. Diferenças comportamentais do universo masculino e feminino fizeram com que pesquisadores da University of Virginia atrelassem o fato a condições genéticas e a ação dos estrogênios (RODRIGUES, 2012, p. 01). As mulheres possuem atitudes mais seguras, direcionadas e mais analisadas; os homens são tomados pela agilidade, pressa, e a própria compulsão para a velocidade. Esses fatores permitem entender homens e mulheres na direção veicular. Para justificar ainda mais estes achados, basta somente observar as estatísticas de acidentes de trânsito em Aracaju e por todo o Brasil, quando os homens assumem a direção veicular os acidentes são em grande medida de médios e graves e no caso das mulheres geralmente são leves. 35 Rodrigues (2012) que é Médico, Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina Ocupacional da ABRAMET - Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, traz algumas diferenças entre homens e mulheres na direção veicular, conforme aponta o Quadro 03: Quadro 03 - Diferenças entre homens e mulheres na direção veicular HOMENS MULHERES Status e poder Necessidade Exibicionista Humilde Negligente e imprudente Prudente e segura Sem medo Medo Não cauteloso Cautelosa Esquece a segurança Segura Acidentes médios e graves Acidentes leves Compulsão para velocidade Sem compulsão Impaciente Paciente Chegando ao estresse rápido Estresse a longo prazo Agride Não agride Intolerante Tolerante Não usa direção defensiva Usa direção defensiva Fonte: Rodrigues (2012). Complementando as ações irresponsáveis no trânsito que os pesquisados apontam em grande medida ser cometidas pelos homens estão: a não utilização da setas de sinalização, o trancamento de cruzamentos, e o estacionamento em locais proibidos. No gráfico 3, tem-se os resultados de um outro questionamento que foi acerca da idade dos condutores, os pesquisados salientam que os mais experientes são considerados mais responsáveis e menos agressivos, ou seja, quanto maior a idade, maior também a responsabilidade e a prudência dos condutores, considerando o veículo como um meio de locomoção. Onde a busca por emoção, adrenalina, presente nos jovens do sexo feminino torna-se um dos intervenientes para toná-lo mais corajoso, passando a mostrar-se capaz de arriscar. Normalmente os seres humanos dirigem assim como vivem. 36 Gráfico 03 – Percentual de motorista mais agressivo no trânsito. Fonte: Dados da Pesquisa. Aracaju/SE. 2013. Um pouco desta agressividade está voltada à cultura capitalista, ligada às facilidades que esse sistema nos proporciona. Tudo gira em torno do dinheiro, ou seja, o entregador quer entregar em tempo hábil sua encomenda, as crianças não podem chegar atrasadas à escola; as pessoas querem chegar ao trabalho e assim, muitas desculpas somam-se à agressividade no trânsito. O impulso de agressividade pode ser usado para atacar, provocar ou se defender, e a maneira como isso vai ser expresso, varia de pessoa para pessoa dependendo de seu estilo de vida, sua cultura, seus valores, tornando-se atos socialmente aceitos ou não. No trânsito, a individualidade impera, os condutores não gostam de dividir esse espaço que é público, e às vezes atacam e provocam (TEBALDI; FERREIRA, 2004, p. 21). A agressividade é um tema recorrente e, segundo os dados apresentados no gráfico 4, constata-se que não está diretamente ligada ao nível de escolaridade, mesmo de diferentes escolaridades, as pessoas tem se mostrado cada vez mais agressivas, o que mostra que a educação por si só não gera mudança no comportamento do motorista, mas deve haver um trabalho mais específico ligado a educação no trânsito. Neste contexto, Martins (2007) considera que a educação para o trânsito é uma forma de humanizar a realidade do trânsito, corrigindo os erros com campanhas educativas bem conduzidas e direcionadas pelos diversos meios de comunicação, valendo-se de estratégias diversificadas. Sendo que esta é uma educação que deve começar cedo, não apenas no momento de retirar a carteira de motorista; mas as crianças devem aprender a ser cidadãos, a lidar desde cedo com 37 a civilidade, o respeito aos outros e a cordialidade para a vida em sociedade. À medida que as crianças são orientadas para sua família a consciência de como um comportamento incorreto pode trazer consequências graves. Segundo Kutianski et al (2001), todo conhecimento adquirido na escola, com certeza é repassado para os demais membros da família, como também aos vizinhos e, às vezes, levado ao conhecimento da comunidade a que pertence. Gráfico 04 – Relação entre nível de escolaridade x agressividade no trânsito Fonte: Dados da Pesquisa. Aracaju/SE. 2013. O Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 7º) determina que todos meninos e meninas tem o direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas públicas sociais. No Código Nacional de Trânsito, o Capitulo VI, que trata da educação para o trânsito, o artigo 76 coloca que a educação para o trânsito deve ser promovida desde a pré-escola até o ensino médio, “por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação”. Quando na infância as crianças não são educadas para o trânsito, na vida adulta passam a não ter consciência e vivenciam no cotidiano a pressa para chegar ao destino, a bebida alcoólica ingerida momentos antes de dirigir; a desatenção ao volante, os carros em péssimas condições de uso, estradas esburacadas, enfim, tudo leva a acidentes horríveis, muitas vezes, com crianças sendo vítimas de adultos irresponsáveis. Dentre os comportamentos agressivos no trânsito, gráfico 5, os que apresentam um maior índice são as discussões por causa de batidas, aceleração 38 para passar em a tempo no sinal, a ultrapassagem em locais proibidos e correr atrás de motoristas que passou à frente. Gráfico 05 – Distribuição percentual do comportamento agressivo no trânsito. Fonte: Dados da Pesquisa. Aracaju/SE. 2013. Considera Oliveira (2008) que o impulso agressivo funciona como forma de atacar, provocar, bem como funciona como uma forma de defesa. Porém, a maneira como isso vai ser expresso varia de pessoa para pessoa, dependendo do seu estilo de vida, sua cultura, seus valores, tornando-se atos socialmente aceitos ou não. A disputa pelo espaço de circulação proporciona conflitos entre os participantes do trânsito. Esses conflitos podem ser físicos que são as disputas pelos espaços e políticos que envolve o interesse das pessoas ligados à sua posição no processo produtivo da cidade. Almeida (2006) considera que este desenvolvimento das cidades tem aspectos positivos e negativos, estes, degrada a qualidade de vida, aumenta o congestionamento, reduz a qualidade do transporte público, reduz a acessibilidade de pessoas aos centros urbanos, aumenta a poluição atmosférica, invasão de áreas residenciais e vivência coletiva pelo tráfego inadequado de veículos. Rocha (2005) considera que o ato de dirigir não está apenas ligado apenas a habilidades motoras e cognitivas. O ato de dirigir implica em regras, além de aprender a conduzir veículo é necessário aprender regras formais e informais requeridas para compreensão do que se passa no ambiente e antecipar-se à situações perigosas. 39 Levando em consideração que o trânsito é motivado por pressões internas e externas, os pesquisados foram questionados se as maiores pressões que causam a agressividade vem do ambiente externo ou dos aspectos internos do motorista. Sendo assim, os pesquisados apontaram, principalmente, o aspecto interno (89%), conforme demonstra o gráfico 6. Gráfico 06 – Motivação para a agressividade Fonte: Dados da Pesquisa. Aracaju/SE. 2013. Parker et al (1998) em seus estudos ressalta que o descaso e a agressividade seriam características da personalidade que se mostram associadas a velocidade e comportamento infrator. Outro grande problema é a vulnerabilidade em adultos com personalidade imatura e o veículo passa a ser uma compensação das frustrações, uma segunda pele pelo indivíduo. Pessoa ou acontecimento capaz de provocar tensão emocional faz com que os organismos se adaptem as mudanças, que são os chamados fatores ou agentes estressores. Assim, o controle da agressividade dos motoristas requer um sistema nervoso sintonizado. Desta forma, sendo considerado o homem como um agente mais agressor, no trânsito ele não dever ser encarado apenas pelo seu gênero porque antes de tudo, é um ser político, social, que possui história, personalidade e interesses. 40 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS No trânsito em Aracaju existe uma grande disputa de espaço, uma luta acirrada perante os direitos de circulação. Neste espaço existem pessoas que se comportam de forma paciente bem como existem aqueles que se julga com mais direito à circulação de que os demais participantes do trânsito, ficando clara uma relação de competição e agressividade. Desta forma, este estudo se preocupou em identificar alguns dos fatores responsáveis pela agressividade no trânsito em Aracaju. O estudo permitiu perceber que os responsáveis pela agressividade no trânsito são o estresse, nervosismo e desatenção; os mais estressados são do gênero masculino; os mais agressivos são os mais jovens; não existe uma relação específica entre o grau de escolaridade e agressividade no trânsito; as discussões em trânsito estão mais ligadas às abalroadas; a motivação para agressividade é interna, pelo fato de haver uma tensão emocional. A alternativa para a resolução de parte destas questões está na educação que deverá ter por objetivo a promoção da conscientização da realidade pelas pessoas, questionando a naturalização dos fatos sociais, podendo ser compreendida de modo sistêmico. Além da educação, é importante considerar uma fiscalização mais eficaz, no sentido de reprimir e punir os infratores. Não se pode desconsiderar o fato de que muitos motoristas agressivos e que geralmente se envolvem em acidentes apresentam certo descontrole emocional sobre suas reações, dificuldade em controlar seus impulsos agressivos, demonstrando redução da sua compreensão nas questões do trânsito, bem como em aceitar normas e limites. Pessoas, as quais não tiveram o seu amadurecimento emocional processado. Parafraseando Vasconcelos, para entender o trânsito, portanto, não basta discutir os problemas do dia a dia (congestionamentos, acidentes), é preciso também analisar como o trânsito se forma, como as pessoas participam dele, quais são seus interesses e necessidades. Isso significa esforço para entender o trânsito “por trás” de suas aparências, dos seus fatos corriqueiros, na busca de uma Sociologia de trânsito. 41 A educação para o trânsito deve começar muito cedo, em casa, na escola e em outras formas de vida social uma vez existe a impressão de que esta educação somente começa quando se sente a necessidade de tirar a Carteira Nacional de habilitação – CNH, tudo é muito rápido, são aulas teóricas, práticas, exames que colocam a cada dia nas estradas bons motoristas, mas também uma infinidade de motoristas que contribuem para o caos no trânsito com suas atitudes de agressividade, desconhecimentos da Legislação ou o seu descumprimento, bebida, falta de atenção, eventos que podem ceifar diversas vidas. Apesar dos mais diversos incidentes que se vê na mídia e ao vivo no cotidiano, umas das formas mais eficazes para mudar a situação vigente é a educação, desde cedo, nas escolas, é necessário disseminar as regras de trânsito uma vez que as crianças são importantes na disseminação e aceitação de ensinamentos e condutas. Ensinar para o trânsito não é apenas passar normas e regras de circulação, mas desenvolver um processo de conscientização para tornar os motoristas responsáveis, autônomos e comprometidos com a vida. Cabe a toda a sociedade esta tarefa de educar. O problema do trânsito não é somente uma questão importante, mas essencial e não é apenas um problema particular dos centros urbanos; mas diante de suas características distintas devem ser abordados para atender a cada realidade. Destarte, a educação para o trânsito é uma forma de reduzir os altos índices de mortes, deficiências físicas e traumas psicológicos e traumas causados pelo comportamento irresponsável dos sujeitos no trânsito. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) em seu artigo nº 326 traz a Semana Nacional do Trânsito que é comemorada entre 18 e 25 de setembro. Nesta época em diversas capitais brasileiras ações são voltadas para a segurança e educação promovidas junto a população uma vez que a educação é um instrumento capaz de formar cidadãos mais conscientes e preparados para enfrentar a vida e o trânsito. Os agentes de trânsito na semana do trânsito realizam campanhas educativas com o objetivo de disciplinar pedestres e motoristas, principalmente sob o uso da faixa de segurança e o respeito as normas de trânsito. Trata-se de uma oportunidade de suscitar reflexões, conscientizando pedestres e condutores sobre a importância de respeitar ao outro no trânsito. 42 As multas, os pontos da CNH e a suspensão do direito de dirigir são formas de proteger o pedestre e melhorar a educação do motorista. Por outro lado, uma importante estratégia para melhorar o trânsito da a cidade é também instruir os pedestres, que cometem erros, prejudicam o trânsito e são também responsáveis por acidentes. Como cidadãos, as pessoas devem se mobilizar para exigir uma melhor manutenção das vias, eliminando buracos e sinalizando-as melhor sem criar a “indústria das multas”, intensificar a blitz nas principais avenidas da cidade, dobrar a multa para reincidentes, em casos mais graves a perda definitiva da habilitação, a parda do bem no caso de veículo envolvido em acidente; para agentes de trânsito envolvidos em corrupção aplicação de penas severas, principalmente a perda do status de funcionário público e a vistoria obrigatória de veículos que possuíssem mais de 5 anos. A mobilização da população como um todo, principalmente na população de base - nas escolas - é possível formar cidadãos, não bastando apenas ensinar Português e Matemática, é necessário ensinar normas básicas de convivência social e ética para que os alunos possam crescer adequadamente instruídos e por meio de uma educação que estará presente ao longo da vida. 43 REFERÊNCIAS ALMEIDA, N. D. V. 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BRASIL, Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997.Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Brasília: Senado, 1997. BRASIL, Lei nº 12.760, de 20 de dezembro de 2012.Altera a Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro. Brasília: Senado, 2012. COSTA, M. C. Estresse no trânsito gera deseducados e hiperagressivos. 2013. Disponível em: <http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/estresse-do-transito-geradeseducados-e-hiperagressivos>. Acesso em: 07 jul. 2013. DEJOURS, C. A loucura do trabalho: Estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez, 1992. DETRAN-SERGIPE. Disponível em: <http://www.detran.se.gov.br/novo_inicio.asp>. Acesso em: 22 jul. 2013. DUAILIBI, S.; PINSKY, I.; LARANJEIRA, R. Álcool e direção: beber ou dirigir. São Paulo: Unifesp, 2010. HOFFMANN, M. H.; LEGAL, E. J. Sonolência, estresse, depressão e acidentes de trânsito. In: HOFFMANN, Maria Helena; CRUZ, Roberto Morais; ALCHIERI, João Carlos (Orgs.). 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( ) Desatenção ( ) Nervosismo ( ) Estresse ( ) Falta de tolerância 2. Que outra causa você pode considerar como secundária em relação à agressividade no trânsito? 3. Indicativo de maior agressividade pertence ao gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino 4. Que ações de agressividade estão mais ligadas aos homens? 5. E às mulheres quais as ações agressivas que você considera mais comuns? 6. Qual o motorista que você considera mais agressivo: ( ) Mais jovem ( ) Mais experiente 7. Existe relação entre agressividade e nível de escolaridade? ( ) Há relação ( ) Não há relação 8. Dentre os comportamentos agressivos, quais têm sido considerados mais constantes: ( ) Discussão por causa de abalroadas ( ) Aceleração para passar no sinal ( ) Ultrapassagem em locais proibidos ( ) Correr atrás de motoristas que passaram à frente 9. A motivação para agressividade no trânsito é: ( ) Interna ( ) Externa 47 ANEXO 48