Aquele que habita no esconderijo do altíssimo, à sombra do
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Aquele que habita no esconderijo do altíssimo, à sombra do
Aquele que habita no esconderijo do altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza e Nele confiarei. (Salmo 91) SERVIÇOS SECRETOS E DEMOCRACIA NO CONE SUL: PREMISSAS PARA UMA CONVIVÊNCIA LEGÍTIMA, EFICIENTE E PROFISSIONAL Priscila Carlos Brandão SERVIÇOS SECRETOS E DEMOCRACIA NO CONE SUL: PREMISSAS PARA UMA CONVIVÊNCIA LEGÍTIMA, EFICIENTE E PROFISSIONAL Niterói, RJ 2010 © 2010, Editora Impetus Ltda. Editora Impetus Ltda. Rua Alexandre Moura, 51 – Gragoatá – Niterói – RJ CEP: 24210-200 – Telefax: (21) 2621-7007 Editoração Eletrônica: Editora Impetus Ltda. Capa: Rafael Brum Revisão de Português: Becker Programação & Textos Ltda. Impressão e encadernação: Sermograf Artes Gráficas Ltda. B819s Brandão, Priscila Carlos. Serviços secretos e democracia no Cone Sul : premissas para uma convivência legítima, eficiente e profissional / Priscila Carlos Brandão. – Niterói, RJ : Impetus, 2010. 336 p. ; 16x23 cm. ISBN: 978-85-7626-376-0 1. Serviço de inteligência – América Latina . 2. América Latina – Política e governo. I. Título. CDD- 343.8101 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução, salvo pequenos trechos, mencionando-se a fonte. A violação dos direitos autorais (Lei no 9.610/98) é crime (art. 184 do Código Penal). Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme Decreto no 1.825, de 20/12/1907. O autor é seu professor; respeite-o: não faça cópia ilegal. A Editora Impetus informa que se responsabiliza pelos defeitos gráficos da obra. Quaisquer vícios do produto concernentes aos conceitos doutrinários, às concepções ideológicas, às referências, à originalidade e à atualização da obra são de total responsabilidade do autor/atualizador. www.editoraimpetus.com.br DEDICATÓRIA Guapo mancêbado, Era assim que eu o chamava às vezes, brincando E ele sorria, sorrindo Aquele sorriso lindo, Sorrindo aquele sorriso brando. Manuel Brandão (in memorian ao brando Luciano Carlos Brandão) Dedico este trabalho aos meus pais e irmãos, Raquel, Luciano e Fabrício, e à minha princesinha Alice. Dedico às amigas Carlinha, Alê, Sassá, Fê e Gisa, simplesmente por acreditarmos que é possível. E dedico à minha “eminência parda”, Marco Cepik. AGRADECIMENTO Cada vez mais chego à conclusão de que elaborar “agradecimentos” é um dos processos mais difíceis que enfrentamos nesses ritos de passagem. Precisamente porque sempre corremos o risco de esquecer de citar alguém cuja colaboração tenha sido extremamente preciosa em nossa vida e trabalho, o que, infelizmente, ocorre com alguma frequência. Mas farei um esforço para que não falte ninguém e me desculpo antecipadamente diante de qualquer ausência identificada. Agradeço ao professor Eliézer Rizzo a oportunidade e confiança depositada, e à FAPESP, que permitiu o desenvolvimento da tese que deu origem a esse livro, em condições bem favoráveis. À minha “eminência parda”, o amigo Marco Cepik, agradeço as horas de discussão, os momentos de conflito e angústia compartilhados, assim como os de alegria e realização. Sua amizade, conhecimentos e serenidade no trato deste tipo de debate foram fundamentais para a consecução desta obra. Aliás, desenvolver pesquisa comparada sobre três países, abordando um assunto tão delicado, exigiu a mobilização de um verdadeiro batalhão de colaboradores. Tanto para o acesso ao material teórico sobre “intelligence studies”, quanto para o material empírico. Importantes foram os acessos possibilitados pela interlocução com o Center for Hemispheric Defense Studies (CHDS/Washington D.C), a quem agradeço, principalmente, nas pessoas de Thomaz Guedes da Costa e Salvador Raza. Também nos EUA agradeço às leituras, comentários e oportunidades oferecidos por Thomas Bruneau, diretor do Center for Civil-Military Relations da Naval Post Graduate School (CCMR/ NPS – Monterey/Califórnia), e Russel Swenson, diretor de pesquisas aplicadas do Joint Military Intelligence College (JMIC). No Brasil agradeço, em primeiro lugar, às queridas Gisele Silva, gestora junto ao Ministério da Defesa durante a administração Fernando Henrique; e a Márcia Lyra do Nascimento, Secretaria da Mesa do Senado, quem, ainda no ano de 2000, abriu meu caminho para a documentação relacionada à Comissão de Controle da Atividade de Inteligência/ CCAI, do Congresso Nacional. Ao ex-ministro Alberto Cardoso, agradeço a amabilidade e paciência que sempre me dispensou. Ao promotor Denilson Feitoza agradeço o permanente estímulo à pesquisa nesta área, e o apoio à publicação desta obra. No Brasil, assim como na Argentina e no Chile, agradeço a todas as pessoas que me cederam entrevistas e documentos, mas seria muito injusta se não destacasse algumas delas. No Chile, agradeço, em especial, a colaboração acadêmica do professor Guillermo Holzman, de Carolina Sancho, e do Capitão de Fragata (R) José Cáceres Gonçalvez. E na Argentina, por fim, agradeço especialmente a atenção e a “hospitalidade” de Jayme Garreta e Luiz Tibilletti nos escritórios do SER2000, a colaboração de minha querida Elizabeth Jelin, do parceiro de pesquisas José Manuel Ugarte, e de Eduardo Estevez, Marcelo Saín e Mariano Bartolomé. Mas este livro também não é resultado apenas de contribuições intelectuais. Essenciais também foram os apoios de Amauri e Carol, Carlinha e Júlio, Villalta e Lucinha, Nélia, Vovó Zuli, Alessandra Carvalho, Shirley e Luiz Oitavo, Matheus, Gian, Kati e o nosso querido Henrique, Expedito e cia., em especial Alane e Marcelo, Fabrício e Raquel, tias Mela e Rosilene, Sarah, Wagner Duduch e Ziara. Por fim, e em especial, ao Álvaro, que foi amigo e companheiro em todas as aventuras e desventuras desse nosso sonho, apenas o fato de ele existir e de ter estado ao meu lado durante todos aqueles momentos de angústias e alegrias, já é motivo de agradecimento. E se a isso agrego o fato de se tratar de um cuidadoso leitor, delicado crítico e permanente amparo em meio aos milhões de dúvidas que surgiram durante a elaboração da tese, fico sem palavras para expressar meus sentimentos de gratidão. Agradeço ainda a colaboração da minha equipe de pupilos, a quem sou muito grata: Juliano Meira Furtado, Silmária Fábia Souza, Gabriel Casela, Nathália Ananias, Kátia Silas, Luciana Lage, Daniel Coelho, Robson Júnior, Gislayne Sampaio e Anelise Fernandes Coelho. E por fim, agradeço aos companheiros do CEIG, em especial Vladimir Patuléia Brito e Rodrigo Roda Porto, por toda a disponibilidade nesta reta final. Como comentário final apenas quero deixar registrada a minha responsabilidade por todas as gafes cometidas neste texto. A AUTORA PRISCILA CARLOS BRANDÃO é doutora em Ciências Sociais com ênfase em Processos Políticos Contemporâneos, pela Universidade Estadual de Campinas, mestre em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense, e historiadora pela Universidade Federal de Ouro Preto. É professora adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista em temas relacionados à gestão na área de defesa e inteligência clássica e de segurança, além de trabalhar com temas referentes às relações civis-militares no Cone Sul. Também desenvolve função de consultora junto aos governos estaduais e federal, no processo de organização dos sistemas de inteligência de segurança, tendo sido responsável por conduzir os trabalhos de elaboração da Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública. Atualmente desenvolve pesquisa sobre a implementação do Sistema Brasileiro de Inteligência de Segurança Pública/SISP no país. Priscila é coordenadora do Centro de Estudos de Inteligência Governamental e também é autora do livro “SNI e ABIN: uma leitura dos serviços secretos brasileiros ao longo do século XX”, de vários artigos nacionais e capítulos de livros em coletâneas internacionais referentes ao tema. APRESENTAÇÃO DA SÉRIE A atividade de inteligência é essencial ao desenvolvimento e à preservação do Estado Democrático de Direito brasileiro. Todos os países economicamente desenvolvidos, com democracias consolidadas, possuem serviços de inteligência responsáveis, legais e fortes. Há uma imensa “massa de informações” com a qual o Estado tem de lidar cotidianamente, seja quanto à execução de ações específicas, seja quanto ao estabelecimento de suas políticas e estratégias institucionais. No Brasil, o princípio constitucional da eficiência (art. 37, caput, da Constituição da República) veda que o Estado trabalhe com essa “massa de informações” de forma meramente empírica, com desperdício de recursos humanos, materiais e financeiros. O Estado deve utilizar-se de métodos, técnicas e ferramentas adequados para lidar com as informações necessárias ao desempenho de suas finalidades constitucionais, superando a fase individualista e amadorística de seus agentes públicos e políticos e alcançando a racionalidade gerencial exigida pelo princípio constitucional da eficiência. Os modelos estatais de inteligência constituem uma certa ordenação, adequação e organização de métodos, técnicas e ferramentas de gestão da informação e do conhecimento, especialmente destinados ao processo decisório estatal. Nessa linha, a inteligência de Estado (ou inteligência “clássica”) é voltada, especialmente, para o assessoramento do processo decisório. Por exemplo, nos termos legais, o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) tem a finalidade de fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional (art. 1o da Lei no 9.883/1999), possuindo, como órgão central, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Todavia, sendo sobretudo método, a noção de inteligência de Estado passou a ser aplicada a órgãos públicos em geral, adequando-se a suas finalidades estatais específicas, especialmente no âmbito da segurança pública e da fiscalização. Isso ocorreu nos Estados Unidos da América, em que, até a Segunda Guerra Mundial, a atividade de inteligência era utilizada, basicamente, como inteligência “clássica”, ou seja, com fins militares (inteligência militar) e políticos. Entre 1900 e 1950, gradualmente, a inteligência criminal (criminal intelligence) obteve reconhecimento como ferramenta efetiva de combate ao crime, até que, em 1956, foi formada, com 26 agências estatais e locais, a Unidade de Inteligência de “Segurança Pública” (L.E.I.U. – Law Enforcement Intelligence Unit), que possui, atualmente, mais de 250 agências, nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e África do Sul. Esse mesmo processo tem ocorrido, atualmente, no Brasil, no qual desenvolvem-se as atividades de inteligência de segurança pública (denominação recente que abrange, por exemplo, a inteligência policial), inteligência ministerial (Ministério Público), inteligência fiscal, inteligência prisional/penitenciária etc. De maneira irreversível, apesar das resistências culturais e institucionais, a inteligência de segurança pública e, de modo geral, novas inteligências (como a ministerial, a fiscal e a prisional) têm firmado sua “dupla natureza”, como “inteligência estratégica” (processo decisório – natureza consultiva) e “inteligência tática” (produção de provas – natureza executiva), destinadas tanto à produção de provas para investigações e processos criminais, cíveis e fiscais (inteligência tática), especialmente em situações mais complexas como combate às organizações criminosas, programas de controle de crimes e defesa de interesses coletivos, quanto à produção de conhecimento destinado a processos decisórios estratégicos. Considerando que há vinte e sete unidades federativas no Brasil, cada uma com Polícia Civil, Polícia Militar, Ministério Público, Corpo de Bombeiros Militar, Sistema Prisional e Secretaria da Fazenda, além dos órgãos da União (Exército, Marinha, Aeronáutica, Ministério da Defesa, Abin, Secretaria da Receita Federal do Brasil, Ministério Público da União etc.) e dos municípios (Guardas Municipais), facilmente se verifica que há, desenvolvidas ou embrionárias, mais de 150 “agências” ou “serviços” de inteligência brasileiros, de que mais da metade surgiu ou desenvolveu-se nos últimos oito anos. Essa rápida expansão deve continuar nos próximos anos. A sociedade, a imprensa, os centros de ensino e pesquisa e o próprio Estado finalmente despertaram para essa nova realidade, com o que renovaram-se e ampliaram-se os questionamentos sobre a eficiência e a legalidade das atividades de inteligência, bem como sobre sua “capacidade” de respeitar direitos humanos e direitos fundamentais. Há uma verdadeira efervescência na área da inteligência, com realização de pesquisas acadêmicas, edição de estudos, surgimento de pós-graduações, publicação de longas reportagens críticas, declarações de importantes personalidades públicas (como as dos chefes dos Poderes da União), discussões legislativas no Congresso Nacional, imensa repercussão na mídia de ações estatais atribuídas à inteligência (como as da Polícia Federal e da Abin) etc. A prospectiva para a inteligência, nos próximos cinco a dez anos, indica cenários com significativas transformações: a) diante do deficit legal sobre a inteligência, vários aspectos da inteligência deverão ser regulamentados por lei stricto sensu, como leis ordinárias ou, possivelmente, até emenda à Constituição; b) novos “serviços de inteligência” continuarão a surgir, inclusive “sistemas” de inteligência constitucionalmente “autônomos” (como Ministérios Públicos, Poder Judiciário, Poder Legislativo e Municípios), demandando que a “Comunidade de Inteligência” se antecipe no planejamento de sua integração ou cooperação; c) a inteligência procurará justificar-se e adequar-se como método proporcional, controlável, eficiente e federativo-cooperativo, bem como desenvolver-se como método pluriagencial, interdisciplinar e interparadigmático, adequado a fenômenos complexos e dialéticos; d) a inteligência de segurança pública e novas inteligências firmarão sua “dupla natureza”, como “inteligência estratégica” (processo decisório – natureza consultiva) e “inteligência tática” (produção de provas – natureza executiva); e) a inteligência tenderá a atuar de forma cooperativa, seguindo a tendência mundial ao compartilhamento informacional; f) a inteligência aumentará sua participação em investigações criminais e civis, seja auxiliando ou integrando órgãos investigativos; g) a inteligência de segurança pública e outras inteligências orientadas para a investigação procurarão desenvolver e consolidar seu devido processo legal; h) a inteligência buscará padronização, inclusive com desenvolvimento de normas de qualidade e sistemas de certificação de qualidade; i) a inteligência buscará educação (capacitação, treinamento e aperfeiçoamento, permanentes e continuados), segundo parâmetros internacionais, mas adequada à realidade nacional atual e futura. Por exemplo, a Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais (FESMP/MG) lançou primeira Pós-Graduação brasileira de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública, que já está na terceira turma, tendo, como alunos, Delegados da Polícia Federal, Promotores de Justiça, Delegados da Polícia Civil, Oficiais da Polícia Militar, Agentes da Polícia Federal, Procuradores de Justiça, Procurador da República, Analistas da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Auditores Fiscais estaduais e federais, Analista do TCU, Juiz Federal, Juiz de Direito etc. A Editora Impetus, com o apoio da Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais (FESMP/MG), em face desses cenários de relevantes transformações, lançou a série brasileira sobre inteligência, denominada “Inteligência, Segurança e Direito”. A série “Inteligência, Segurança e Direito” objetiva contribuir para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da inteligência e da segurança, por meio da publicação de estudos, pesquisas, ensaios, manuais, cursos, tratados, coletânea de artigos e outras obras de qualidade, nacionais ou estrangeiros, produzidos por profissionais de inteligência e segurança, pesquisadores, professores, especialistas e estudiosos em geral. Ademais, a série também incorpora o novo campo de estudos e pesquisas do direito sobre a inteligência e a segurança. A série “Inteligência, Segurança e Direito” demonstrou sua vitalidade e relevância, já no lançamento de sua primeira obra, que foi um grande sucesso. Dr. Denilson Feitoza Coordenador da Série “Inteligência, Segurança e Direito” Presidente do Instituto Brasileiro de Inteligência Criminal (INTECRIM) Coordenador da Pós-Graduação de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública da Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais (FESMP/MG) Membro da International Association of Law Enforcement Intelligence Analysts (IALEIA) Ex-Secretário-Geral do Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNCOC) Ex-Coordenador do Centro de Segurança e Inteligência Institucionais (CESIN) do MPMG Ex-Coordenador Nacional do Grupo de Inteligência dos Ministérios Públicos Doutor em Direito e Procurador de Justiça PREFÁCIO O segundo volume da série “Inteligência, Segurança e Direito” é constituído pela obra “Serviços secretos e democracia no Cone Sul: premissas para uma convivência legítima, eficiente e profissional”, da professora Priscila Carlos Brandão. A doutora Priscila Carlos Brandão é nacionalmente reconhecida como pesquisadora dos serviços de inteligência. Sua dissertação de mestrado em Ciência Política e sua tese de doutorado em Ciências Sociais são sobre serviços de inteligência. Tem realizado vários projetos e pesquisas, seja para a universidade, seja para governos federal e estadual. Os serviços de inteligência têm sido objeto constante de reportagens, pesquisas acadêmicas, cursos de capacitação, cursos de especialização, seminários etc. A grande mídia chama a atenção, diariamente, para o desempenho dos serviços de inteligência. Pode-se dizer que há um verdadeiro boom da inteligência no Brasil. Desse modo, a obra da autora é bastante oportuna. Trata-se da versão editorial da tese de doutorado da autora, resultante de extensa e profunda pesquisa, inclusive com pesquisa de campo realizada na Argentina, no Chile e no Brasil. Portanto, a obra tem bastante rigor e a autora escreve com muita propriedade sobre o tema. Ao mesmo tempo, certamente em razão das habilidades como professora, a autora escreve com clareza, coerência e didatismo. A obra foi concebida como um estudo comparado sobre o processo de reforma das agências nacionais de inteligência civil na Argentina (Secretaria de Inteligência), no Brasil (Agência Brasileira de Inteligência) e no Chile (Agência Nacional de Inteligência), à luz dos processos de transição (democrática) e do novo cenário político internacional provocado pelo fim da Guerra Fria e pelo atentado, em 11 de setembro de 2001, às “Torres Gêmeas”. A autora procurou determinar se e em que medida o modo como as transições democráticas (com ênfase nos aspectos vinculados às relações civismilitares) foram realizadas afetou o processo de redesenho institucional destas agências, bem como se esse redesenho atendeu a critérios de legitimidade, controle público e profissionalização. Foram realizados dois tipos de análise – um estudo do processo histórico de institucionalização das três agências nacionais civis de inteligência e uma análise comparada dos graus de institucionalização alcançados por elas, considerando dados relacionados a três dimensões delas (mandatos legais, controle externo e profissionalização). Dentre os vários mecanismos de controle dos serviços de inteligência, capazes de conferir maior grau de legitimidade à inteligência (mídia, mandatos legais, Poder Judiciário, corregedorias internas às agências etc.), a autora considera o Poder Legislativo como o mais importante, o qual deveria ter, minimamente: “autoridade para aprovar o orçamento anual, para aprovar tratados internacionais e para requerer relatórios e informações ao Poder Executivo, poder para confirmar a nomeação de indivíduos indicados pelo presidente para certos cargos e a autoridade para convocar audiências e testemunhos, bem como para iniciar investigações sobre temas considerados relevantes.” É obra inédita, com capacidade de captar a atenção de variados leitores, como cientistas políticos, sociólogos, profissionais do direito, policiais, profissionais de serviços de inteligência, políticos, militares, cientistas sociais, administradores públicos e também leitores leigos interessados no tema. Enfim, trata-se de obra fundamental à discussão e compreensão dos serviços de inteligência no Cone Sul. Dr. Denilson Feitoza Coordenador da Série “Inteligência, Segurança e Direito” Presidente do Instituto Brasileiro de Inteligência Criminal (INTECRIM) Coordenador da Pós-Graduação de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública da Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais (FESMP/MG) Membro da International Association of Law Enforcement Intelligence Analysts (IALEIA) Ex-Secretário-Geral do Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNCOC) Ex-Coordenador do Centro de Segurança e Inteligência Institucionais (CESIN) do MPMG Ex-Coordenador Nacional do Grupo de Inteligência dos Ministérios Públicos Doutor em Direito e Procurador de Justiça O aforismo de Marx, de que as pessoas fazem sua própria história em circunstâncias que não necessariamente escolhem é particularmente verdadeiro para quem vive em países que passaram recentemente por uma experiência de autoritarismo. Ironicamente, o peso da história nesses casos é em geral diretamente proporcional à intensidade das celebrações de uma nova era quando a ditadura acaba. Em tal contexto, a história traz uma promessa radical de emancipação, ainda que por razões menos transcendentais que aquelas que Marx tinha em mente. Ela é, simplesmente, o campo da próxima batalha em torno dos termos e dos legados dos regimes autoritários. Pablo Policzer (1998) LISTA DE ENTREVISTADOS ARGENTINA 16/10/2002 17/10/2002 17/10/2002 18/10/2002 19/10/2002 23/10/2002 23/10/2002 23/10/2002 24/10/2002 25/10/2002 25/10/2002 28/10/2002 28/10/2002 29/10/2002 29/10/2002 30/10/2002 01 e 05/08/2002 05/08/2002 09/08/2002 09/08/2002 08/10/2002 08/10/2002 10/10/2002 11/10/2002 Elizabeth Jelin Mariano Bartolomé Analista 1 José Manuel Ugarte Eduardo Estevez Marcelo Saín Gérman Montenegro Analista 2 Pablo Martinez Jaime Garreta Coronel Eduardo Gonzalez Villamonte Ricardo Colombo Mário Baizán Luis Tibiletti Miguel Pesce Luiz Alberto Somoza BRASIL General Alberto Mendes Cardoso Deputado Aldo Rebelo Coronel Castro Marisa Del´Isola Diniz CHILE José Cacerez Deputado Jorge Ulhôa Guillermo Holzman Carlos Gutierrez SIGLAS ARGENTINA AMIA Asociación Mutual Israelita Argentina CIDE Coordinación de Informaciones del Estado CIMG Coordinación de Informaciones del Ministerio de Guerra CIPN Coordinación de Informaciones de la Presidencia de la Nación CNI CONADEP CSI Central Nacional de Informaciones Comisión Nacional de Desaparición de Personas Consejo de Seguridad Interior DGPE Dirección General de Propaganda del Ejército DNII Dirección Nacional de Inteligencia Interna DOJ Dirección de Observaciones Judiciales ENI Escuela Nacional de Inteligencia ERP Ejército Revolucionário del Pueblo ESG Escuela Superior de Guerra FREPASO Frente Para un País Solidário GAS Gabinete de Análisis Superior IIFA Instituto de Inteligencia de las Fuerzas Armadas LDN Ley de Defensa Nacional LNI Ley Nacional de Inteligencia LSI Ley de Seguridad Interior PJ Partido Justicialista PNI Plan Nacional de Inteligencia PRN Proceso de Reorganización Nacional SICI Servicio de Informaciones del Comando Interior SIDE Secretaria de Informaciones del Estado SIDE SI Secretaria de Inteligencia de Estado Secretaria de Inteligencia SIE Servicio de Informaciones del Ejército SNI Sistema Nacional de Inteligencia SSM Servicio Secreto Militar Triple A Alianza Anticomunista Argentina UBA Universidad de Buenos Aires UCR Unión Cívica Radical UFITCO UNFT UNSAM Unidade Fiscal de Investigaciones Tributárias y del Contrabando Universidad Nacional de Tres de Febrero Universidad Nacional de General San Martín BRASIL ABIN AI 5 ARENA Agência Brasileira de Inteligência Ato institucional No5 Aliança Renovadora Nacional BNM Brasil Nunca Mais ASI´s Assessorias de Segurança e Informações CCAI Comissão de Controle da Atividade de Inteligência CDN Conselho de Defesa Nacional CEFARH CENIMAR CEP CEPESC Centro Federal de Aperfeiçoamento de Recursos Humanos Centro de Informações da Marinha Centro de Estudos e Pessoal do Exército Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança das Comunicações CFI Centro Federal de Inteligência CIA Centro de Informações da Aeronáutica CIM Centro de Informações da Marinha CIE Centro de Informações do Exército CIE Centro de Inteligência do Exército CISA Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica CMPOF COAF CODI´s CRE Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização Conselho de Controle de Atividades Financeiras Centros de Operações e Defesa Interna Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal CREDENA Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados CSPCCO Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado DI/SAE DNI Departamento de Inteligência da Secretaria de Assuntos Estratégicos Doutrina Nacional de Informações DOI´s Destacamentos de Operações Internas DSI´s Divisões de Segurança e Informações DSN Doutrina de Segurança Nacional. EMFA Estado Maior das Forças Armadas ESNI Escola Nacional de Informações ESG Escola Superior de Guerra EsIMEX Escola de Inteligência Militar do Exército FAPERJ Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. GSI Gabinete de Segurança Institucional MA Ministério da Aeronáutica MDB Movimento Democrático Brasileiro ME Ministério do Exército MM Ministério da Marinha MST Movimento dos Sem Terra N-SISA OAB OCEPNI PDN Núcleo do Serviço de Informações de Segurança da Aeronáutica Organização dos Advogados do Brasil Órgão de Controle e Fiscalização Externos da PNI Política de Defesa Nacional PNI Política Nacional de Inteligência PT Partido dos Trabalhadores PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro SADEN Secretaria de Assuntos de Defesa Nacional SAE Secretaria de Assuntos Estratégicos SECINT Secretaria de Inteligência da Aeronáutica SENAD Secretaria Nacional de Combate Antidrogas SG/CSN Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional SIM Serviço de Informações da Marinha SINDE Sistema de Inteligência de Defesa SISBIN Sistema Brasileiro de Inteligência SISP SISSEGINT SNI SFICI SRF SPEAI SSI/SFICI SSI UNB Subsistema de Inteligência de Segurança Pública Sistema Nacional de Segurança Interna Serviço Nacional de Inteligência Serviço Federal de Informação e Contrainformações Secretaria da Receita Federal Secretaria de Política, Estratégica e Assuntos Internacionais Secretaria de Segurança Interna/SFICI Subsecretaria de Inteligência Universidade de Brasília CHILE AGN ANEPE Academia de Guerra Naval Academia Nacional de Estudios Políticos y Estratégicos ANI Agencia Nacional de Inteligencia ASM Agrupación de Seguridad Militar BIC Brigada de Inteligencia Ciudadana BIM Brigada de Inteligencia Metropolitana BIR Brigadas de Inteligencia Regional CC Comando Conjunto CDN Comisión de Defensa Nacional de la Cámara de Diputados CONSUDENA Consejo Superior de Defensa CNI Central Nacional de Inteligencia CSN Consejo de Seguridad Nacional CSP Consejo Coordinador de Seguridad Publica DAÍ Departamento de Assuntos Internos dos Carabineros DICAR DICOMCAR Dirección de Inteligencia de Carabineros Dirección de Comunicaciones de Carabineros DID Dirección de Inteligencia de Defensa del Estado Mayor de la Defensa Nacional DIFA Dirección de Inteligencia de la Fuerza Aérea DIN Departamento de Inteligencia Naval DINA Dirección de Inteligencia Nacional DINE Dirección de Inteligencia del Ejército DIPOLCAR DIRINTA DISPI Dirección de Inteligencia de Carabineros Dirección de Inteligencia de la Armada Dirección de Seguridad Pública y Informaciones EIE Escuela de Inteligencia del Ejército EIN Escuela de Inteligencia Naval FPMR Frente Patriótico Manuel Rodríguez FRPL Fuerzas Rebeldes y Populares Lutaro JIPOL Jefatura de Inteligencia de la Policía de Investigaciones de Chile MJL Movimiento Juvenil Lutaro MIR Movimiento de Izquierda Revolucionária PC SENDET SICAR Partido Comunista Secretaria Nacional de Detenidos Servicio de Inteligencia de Carabineros SIFA Servicio de Inteligencia de la Fuerza Aérea SIM Servicio de Inteligencia Militar SIN Serviço de Inteligencia Naval SIRE Servicio de Inteligencia Regional UP Unión Popular OUTROS AM Aviso Ministerial CIA Central Intelligence Agency Dec. Decreto DL Decreto Lei DR Decreto Reservado Dec. “S” DS Decreto Secreto Decreto Supremo DEA Drug Enforcement Agency DIA Defense Intelligence Agency EM Exposição de Motivos EMCjt Exposição de Motivos Conjunta Expte Expediente FBI Federal Bureau of Investigation JSC Joint Security Staff JID Junta Interamericana de Defesa JMIC Joint Military Intelligence College KGB Komiter Gosudarstvennoi Bezopasnosti LC Lei Complementar MP Medida Provisória M.Pres. Mensagem Presidencial NSC National Security Council ONU Organização das Nações Unidas. OTAN Organização Tratado do Atlântico Norte PDL Projeto de Decreto Legislativo PIB Produto Interno Bruto PL Projeto de Lei RCM Relações Civis Militares SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................... 1 CAPÍTULO 1 SISTEMAS DE INTELIGÊNCIA, CONTROLE E PROFISSIONALISMO.............................................................. 13 1.1 Inteligência: Conceitos e Processos........................................................... 13 1.1.1. Inteligência e informação........................................................... 19 1.1.2. Ciclo de inteligência.................................................................... 25 1.1.3. Contraespionagem e ações encobertas..................................... 26 1.1.4. Inteligência e Segurança............................................................. 27 1.1.5. Sistemas organizacionais: uma visão geral............................... 28 1.2. Controle....................................................................................................... 34 1.3. Profissionalismo.......................................................................................... 42 1.3.1. Tipo de conhecimento requerido nas áreas de coleta e análise........................................................................ 46 1.3.2. Carreira governamental em inteligência................................... 47 1.3.3. Sistemas de formação profissional............................................ 48 1.3.4. Código de Ética Profissional....................................................... 49 CAPÍTULO 2 INSTITUCIONALIZAÇÃO, CONTROLE E PROFISSIONALISMO NO SISTEMA DE INTELIGÊNCIA ARGENTINO............................................................................ 53 2.1. Condições antecedentes............................................................................. 53 2.1.1. A institucionalização do regime militar argentino................... 53 2.1.2. Os serviços de informações civis e militares (1946/1983)........ 55 2.2. A Guerra das Malvinas e a transição contingencial.................................. 66 2.3. Legados ....................................................................................................... 78 2.3.1. Os Serviços de Inteligência civis e militares no processo de institucionalização do sistema argentino de inteligência. 1983-2001.......................................................... 78 2.3.2. O debate parlamentar................................................................. 81 2.3.3. Profissionalização da inteligência civil na Argentina............. 108 2.4. Conclusões................................................................................................. 118 CAPÍTULO 3 INSTITUCIONALIZAÇÃO, CONTROLE E PROFISSIONALISMO NO SISTEMA DE INTELIGÊNCIA BRASILEIRO.......................................................................... 123 3.1. Condições antecedentes........................................................................... 123 3.1.1. A institucionalização do regime militar brasileiro.................. 123 3.1.2. Os serviços de informações civis e militares (1927/1990)...... 125 3.2. Emenda Dante de Oliveira e transição compactuada............................ 131 3.3. Legados ..................................................................................................... 139 3.3.1. Os Serviços de informações civis e militares no processo de institucionalização do sistema brasileiro de inteligência. 1990-1999........................................................ 139 3.3.2. O debate parlamentar............................................................... 146 3.3.3. Comissão de Controle da Atividade de Inteligência – CCAI/Congresso Nacional........................................................ 152 3.3.4. Profissionalização da Inteligência Civil no Brasil................... 164 3.4. Conclusões................................................................................................. 175 CAPÍTULO 4 INSTITUCIONALIZAÇÃO, CONTROLE E PROFISSIONALISMO NO SISTEMA DE INTELIGÊNCIA CHILENO............................................................................... 179 4.1. Condições antecedentes........................................................................... 179 4.1.1. A institucionalização do regime militar chileno..................... 179 4.1.2. Os serviços de informações civis e militares no processo inicial de institucionalização (1973/1990).......................................................... 181 4.2. Clivagens e momentos críticos................................................................. 194 4.2.1. A derrota do plebiscito e a transição compactuada................ 194 4.3. Legados ..................................................................................................... 202 4.3.1. Os serviços de informações civis e militares no processo de redesenho institucional do sistema chileno de inteligência. 1990-2004........................................... 202 4.3.2. O debate parlamentar............................................................... 218 4.3.3. Profissionalização da inteligência civil no Chile..................... 241 4.4. Conclusões................................................................................................. 249 CONCLUSÕES FINAIS.................................................................................... 255 REFERÊNCIAS............................................................................................... 261 ÍNDICE REMISSIVO....................................................................................... 277