Chlamydia trachomatis
Transcrição
Chlamydia trachomatis
Boletim Técnico ano 2 | número 11 | Abril 2011 Chlamydia trachomatis - Diagnóstico Laboratorial das Infecções Genitais Introdução A infecção por Chlamydia trachomatis representa uma das principais etiologias de doenças sexualmente transmissíveis. A clamídia é um patógeno exclusivamente humano, apresentando um ciclo de vida bifásico, em que há uma forma infectante, denominada de “corpo elementar” e outra, que representa a forma replicativa intracelular, denominada de “corpo reticular”. As apresentações clínicas mais frequentes são a cervicite e a uretrite, estando relacionadas às sorovares B e de D a K. Até dois terços das infecções genitais podem cursar sem manifestações clínicas ou com sintomatologia leve, a ponto de não estimular a procura pela avaliação médica. Infelizmente, essas infecções indolentes podem manter-se persistentes por meses ou anos, contribuindo para a perpetuação da cadeia de transmissão da doença e levando ao desenvolvimento de complicações, principalmente nas mulheres. Exames laboratoriais Os exames comumente empregados para o diagnóstico de infecções por clamídia são os testes sorológicos, os testes de biologia molecular e o exame de cultura microbiológica. A pesquisa direta por colorações citoquímicas, como o Giemsa, não deve ser utilizada para lesões genitais. Testes imunológicos Como para outros agentes infecciosos, há dois tipos básicos de testes sorológicos: pesquisa de anticorpos e pesquisa de antígenos. Pesquisa de anticorpos Os testes de pesquisa de anticorpos possuem grandes limitações para o diagnóstico laboratorial das infecções por clamídia. Apesar de uma razoável sensibilidade, apresentam reações cruzadas com outras espécies de clamídia e pouco poder discriminatório entre infecções ativas e pregressas. Ainda assim, podem ser úteis em infecções com maior comprometimento sistêmico, como o linfogranuloma venéreo, a pneumonia neonatal por clamídia e a doença inflamatória pélvica, quando é observada forte reatividade no teste IgM, juntamente com altos níveis de IgG. Existem inúmeras metodologias de testes sorológicos, algumas com valor apenas histórico, sendo que as mais utilizadas na atualidade são a imunofluorescência indireta (IFI) e os imunoensaios enzimáticos (EIA). Em decorrência dos diferentes substratos utilizados na confecção desses testes, os kits disponibilizados no mercado podem apresentar pouca reprodutibilidade entre si. Os EIA são muitas vezes preferidos pelos laboratórios, por permitirem a automação do processo de análise. Portanto, o teste sorológico não constitui um exame satisfatório para diagnóstico, triagem ou acompanhamento das infecções genitais não complicadas por clamídia. Como aplicação de primeira linha, encontra-se limitado, na atualidade, aos propósitos epidemiológicos. Pesquisa de Antígenos As metodologias mais empregadas para a pesquisa de antígenos são a imunofluorescência direta (pesquisa por anticorpos fluorescentes - DFA) e os imunoensaios enzimáticos. Ao contrário da IFI, a imunofluorescência direta, utilizando anticorpo monoclonal, representa uma técnica aceitável para o diagnóstico de clamídia em infecções uretral ou endocervical. Uma vantagem agregada da técnica é que a observação ao microscópio permite a avaliação paralela da qualidade da amostra. Os imunoensaios enzimáticos para pesquisa de antígenos estão disponíveis no formato ELISA e como dispositivos de teste rápido. Esses testes podem apresentar reatividade cruzada com outras bactérias gram-negativas presentes na amostra, o que ocasiona perda de especificidade. Porém, apresentam a vantagem de permitir uma abordagem terapêutica imediata nos casos sintomáticos. Ainda assim, nenhum teste rápido apresenta sensibilidade, até o momento, para ser indicado na rotina de triagem para clamídia. propiciar sensibilidade algo menor que as amostras endocervicais acondicionadas diretamente no meio específico do teste que será utilizado. Faz-se a observação que alguns testes biomoleculares, assim como alguns testes rápidos de pesquisa de antígeno, apresentam-se combinados com testes para N. gonorrhoeae, em decorrência da associação clínica e epidemiológica entre os dois agentes. Sumário Cultura O isolamento da clamídia na rotina laboratorial é realizado por cultivo celular, de forma similar a algumas técnicas utilizadas para isolamento viral. A clamídia não pode ser isolada por meios convencionais de cultivo, por ser um parasita intracelular obrigatório. A principal técnica de isolamento utilizada é a cultura em monocamada de células da linhagem McCoy. As inclusões clamidiais podem ser observadas após 48 a 72 horas de incubação, sendo reveladas, ao microscópio, pela técnica de DFA. O teste apresenta especificidade próxima a 100%, embora seja menos sensível que as técnicas de amplificação de ácidos nucléicos, por encontrar-se sujeito a várias interferências préanalíticas. Também, apresenta limitações em relação à diversidade de amostras, não sendo aplicável à urina e com redução significativa da sensibilidade quando aplicada em material vaginal, justamente os materiais mais recomendados para rastreio na atualidade. Testes de Biologia Molecular Expediente Os testes de amplificação de ácidos nucléicos (NAAT) para pesquisa de clamídia constituem a ferramenta mais importante para diagnóstico e triagem da infecção genital pelo agente, na atualidade. As vantagens dessa metodologia não se restringem às suas altas especificidade e sensibilidade, mas também à sua aplicabilidade a uma maior diversidade de amostras. A sua desvantagem, ainda, é o seu maior custo, que vem se reduzindo progressivamente, já constituindo o teste de eleição para rastreio da doença nos países desenvolvidos. As amostras endocervicais propiciam a maior sensibilidade para os NAAT para clamídia. Porém, amostras vaginais, autocoletadas ou colhidas por profissional de saúde, aliam desempenho quase semelhante e com maior comodidade. As amostras urinárias de primeiro jato são também apropriadas, sendo que, em homens, são tão ou mais sensíveis quanto às amostras uretrais. Em mulheres, o material urinário apresenta sensibilidade pouco inferior às amostras cervicais ou vaginais, sendo reservado como opção alternativa, na impossibilidade da coleta vaginal. As amostras de citologia em meio líquido (CML) são também apropriadas para o processamento dos NAAT, embora possam Os testes de amplificação de ácidos nucléicos constituem o exame mais apropriado para diagnóstico e triagem das infecções genitais por clamídia, estando as técnicas de PCR disponíveis no Brasil. Na impossibilidade de sua utilização, a pesquisa de antígeno por DFA, a cultura e os testes moleculares não amplificados, como a captura híbrida, são opções, embora com desempenho inferior aos NAAT. Os testes rápidos de pesquisa de antígeno ainda necessitam de melhoria de desempenho, tanto na sensibilidade quanto na especificidade, para serem indicados como primeira linha, embora possam constituir opção de triagem em locais de poucos recursos. As recomendações norte-americanas orientam a triagem anual para clamídia em jovens sexualmente ativas, até os 25 anos de idade e durante a gestação, em qualquer idade. Homens com comportamento de risco para doenças sexualmente transmissíveis ou, mesmo, mulheres acima dos 25 anos com perfil de risco aumentado para infecções por clamídia, podem, eletivamente, ser submetidos à triagem periódica. A amostra de escolha para mulheres é a vaginal, por autocoleta ou por coleta assistida por profissional de saúde. Caso a mulher seja submetida ao exame especular para coleta citológica, sugere-se utilizar material endocervical, acondicionado em meio de transporte específico para o teste molecular. Se compatível com a metodologia, o meio destinado à citologia (CML) poderá ser empregado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Sexually Transmitted Diseases Treatment Guidelines. CDC MMWR – Vol. 59, RR-12. December 17, 2010. 2. Chlamydia trachomatis: UK Testing Guidelines 2010. Clinical Effectiveness Group – British Association for Sexual Health and HIV. 3. Laboratory Diagnostic Testing for Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae. Expert Consultation Meeting Summary Report. January 13-15, 2009 – Atlanta, GA. Presidente Executivo: Roberto Santoro Meirelles Assessoria Científica Dr. Adriano Marchi Assessoria Científica | Infectologista Editores: Betânia Moura | Flávia Pieroni | William Pedrosa Impressão: Parque Gráfico HP Tiragem: 8 mil CENTRAL DE RELACIONAMENTO COM CLIENTES (31) 3228 6200 www.hermespardini.com.br | [email protected] RT: Ariovaldo Mendonça - CRMMG 33477 Inscrição CRM: 356-MG
Documentos relacionados
GLEDSON BARBOSA DE CARVALHO INFECÇÃO
Chlamydia trachomatis é uma bactéria do tipo cocos, gram-negativa. Ela atua como parasita intracelular obrigatório de células eucarióticas, sendo incapaz de sintetizar adenosina trifosfato (ATP). I...
Leia mais