James Bond e a Guerra Fria - Faculdade Santa Marcelina

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James Bond e a Guerra Fria - Faculdade Santa Marcelina
Publicação do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina / Ano 12 - Nº 35 / 1º Semestre 2012
James Bond e a Guerra Fria
Luiz Felipe de Barros Rosa
Quando foi criado, em 1953, por Sir
Ian Lancaster Fleming, James Bond era um
herói de um país que vivia um momento ainda
grandioso. Embora tivesse perdido a Índia,
em 1947, por decisão do Partido Trabalhista,
a vitória contra a Alemanha, na Segunda
Guerra Mundial, e a coroação da Rainha
Elizabeth II, fortalecia seu o status de grande
potência.
A Guerra Fria, tensão bipolar entre
Estados Unidos e União Soviética,
contribuíam para deixar a Inglaterra como
uma potência menor, mas Ian Fleming
idealizou um herói britânico capaz de ser ele,
e não o americano, o responsável por salvar o
mundo. Assim acontece em muitas de suas
histórias, como, por exemplo, quando Bond
acaba com o plano de Hugo Drax de jogar
uma bomba atômica contra Londres (no livro
007 Contra o Foguete da Morte, de 1955) e
salva os Estados Unidos quando Goldfinger
planejava roubar o Fort Knox, no livro de
1959.
Muitos dos vilões, como Drax e
Goldfinger, são membros da SMERSH,
acrônimo de SmiertSpionam, “Morte aos
Espiões”, em russo, que figurava como a
grande responsável pelos planos contra a
Inglaterra e os Estados Unidos nos livros da
década de 1950, a exceção de 007 – Os
Diamantes São Eternos. A SMERSH, aliás,
realmente existiu, como aponta inclusive
dossiê da CIA (Agência Central de
Inteligência dos Estados Unidos) sobre o
serviço de espionagem russo, era uma parte
do NKVD (Comissariado do Povo para
Assuntos Internos), que depois seria
substituído pela famosa KGB (Comitê de
Segurança do Estado), criada em 1954.
Na década seguinte, Fleming mudou a
origem do mal nos livros de Bond e Ernst
StavroBlofeld passou então a figurar como o
maior vilão da história. De origem eslava, era
o líder da SPECTRE (SpecialExecutive for
Counter-Intelligence,
Terrorism,
RevengeandExtortion), que substitui a
SMERSH, e o responsável pela morte da
única esposa de 007, a Condessa Tereza
diVicenzo, Tracy, no livro 007 - A Serviço
Secreto de Sua Majestade.
No entanto, a grande relevância do
personagem viria apenas com a sua chegada
ao cinema, em 1962, com 007 Contra o
Satânico Dr. No, iniciando assim a maior
série cinematográfica de todos os tempos.Na
década em que o Império Britânico seria
desmembrado, Bond luta contra a SPECRTE,
que figura nos filmes como a responsável
pelos planos diabólicos que pretendiam gerar
desde caos econômico no Ocidente até uma
nova Guerra Mundial. Era evidente que os
produtores de 007 não estavam interessados
em colocar a URSS como responsável pelos
atos contra a Inglaterra e os Estados Unidos,
assim, por vezes é a China Comunista que,
mesmo de forma indireta, financia e incentiva
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Publicação do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina / Ano 12 - Nº 35 / 1º Semestre 2012
os vilões, o que perdura até o reconhecimento
de Pequim, por Richard Nixon, na década
seguinte.
Com a diminuição da tensão entre
URSS e EUA, na década de 1970, ponto alto
do período da détente, ou distensão, durante o
governo Nixon, o que se observa é um
período de forte afastamento do tema, com
filmes cada vez menos politizados. O auge da
aproximação é marcado por “007 – O Espião
que me Amava”, de 1977, quando, não só não
há conflito entre as duas potências, como elas
ainda cooperam, com James Bond e a Major
AnyaAmasova, de codinome XXX.
A tensão apenas retornaria à série de
cinema na década de 1980, quando Bond
passa a lutar diretamente contra comunistas
soviéticos. É o que se observa em “007 –
Somente para seus Olhos”, de 1981, “007
contra Octopussy”, de 1983 e “007 – Marcado
para a Morte”, de 1987. Nos três filmes é o
comunismo soviético, com seus agentes e
militares megalomaníacos e loucos, que
ameaça a Terra e não mais a China comunista,
nem a SPECTRE, agência terrorista que
desaparece completamente com a saída de
Sean Connery do papel, em 1971. Cenário
que condiz com o aumento da tensão,
especialmente durante a presidência de
Ronald Reagan, que elevou os investimentos
militares norte-americanos e não hesitou ao
definir a União Soviética como o “Império do
Mal”, em discurso de 1983.
Logo, o que se observa com clareza
nos filmes, é um movimento pendular de
aproximação e afastamento da temática da
Guerra Fria, que coincide sobremaneira com a
política dos Estados Unidos, seguida em larga
medida pela Inglaterra, em relação à União
Soviética.
Além disso, é interessante notar que
James Bond, até hoje, é um herói de um país
que perde parte de seu status de potência com
o desmembramento do Império Britânico, na
década de 1960, mas que não figura apenas
como um agente secreto apto a defender o
mundo arriscando sua vida por seu país e sua
Rainha, e sim, um herói capaz de defender o
ideal Capitalista, os Estados Unidos e os
valores ocidentais.
Luiz Felipe de Barros Rosa é graduado em
Relações Internacionais pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).
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